centro detecnologiasalternativas
ZONA DA MATA
CENTRO DE TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS DA ZONA DA MATA
SISTEMATIZAÇÃO PARTICIPATIVA DA EXPERIÊNCIA DE CRIAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA
DO BRIGADEIRO (PESB), MG.
VERÔNICA ROCHA BONFIM
VIÇOSA – MINAS GERAIS SETEMBRO DE 2006
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ÍNDICE
página 1. APRESENTAÇÃO…………………………………………………………………............. 02 2. POR ONDE E COMO CAMINHAMOS... Metodologia da sistematização………………. 03
2.1 Principais fatores que motivaram a sistematização......................................................... 05 2.2 O objeto da sistematização (o quê sistematizar?)........................................................... 05 2.3 O objetivo geral da sistematização................................................................................. 05 2.4 Os objetivos específicos.................................................................................................. 06 2.5 Hipóteses......................................................................................................................... 06 2.6 Metodologia de ação....................................................................................................... 08
3. ERA UMA VEZ... O histórico do processo........................................................................... 16 3.1 O Processo de ocupação colonial e a Mata Atlântica regional………………………… 16 3.2 A proposta inicial de criação do PESB........................................................................... 22 3.3 O processo de criação e implantação do PESB.............................................................. 27
4. RESULTADOS E CONCLUSÕES SOBRE O PROCESSO................................................ 4.1 As políticas públicas governamentais e as unidades de conservação na Serra do Brigadeiro..............................................................................................................................
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4.2 Os conflitos..................................................................................................................... 43 4.3 A participação social....................................................................................................... 46 4.3.1 Gênero e geração......................................................................................................... 54 4.4 As estratégias utilizadas.................................................................................................. 55 4.4.1 Participação.......................................................................................................... 55 4.4.2 Adequação da produção do entorno com as estratégias de conservação............. 57 4.5 As articulações interinstitucionais................................................................................... 58 4.6 Os impactos da criação e implantação do PESB............................................................. 61 4.7 A construção da identidade e as perspectivas de continuidade do processo................... 66
5. APRENDENDO COM O CAMINHAR... Lições aprendidas ou recomendações do processo......................................................................................................................................
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5.1 Lições aprendidas pelos participantes da sistematização................................................ 73 6. SEMEANDO PELO CAMINHO... Plano de difusão dos aprendizados............................... 77 7. BIBLIOGRAFIA CITADA………………………………………………………………… 81 8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA………………………………………………………… 83 9. ANEXOS................................................................................................................................ 85
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1. APRESENTAÇÃO
Em setembro de 1996 foi criada, na Zona da Mata de Minas Gerais, uma Unidade de
Conservação (UC) de Proteção Integral que viria a ser o último remanescente contínuo de
Mata Atlântica no Estado. O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB), com área total
de 14.984 ha, foi criado a partir de um processo histórico envolvendo diferentes organizações,
com o objetivo de manter preservado um considerável fragmento do bioma na região. O órgão
gestor responsável pela administração do PESB é o Instituto Estadual de Florestas de Minas
Gerais (IEF-MG).
Após dez anos de criação do PESB, o Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata
(CTA-ZM), uma das organizações envolvidas nesse processo, propôs uma reflexão, junto com
alguns dos principais atores (sociais e institucionais) envolvidos nesta experiência, com o
objetivo de identificar os aprendizados acumulados ou as lições aprendidas. Para o CTA-ZM
as lições de uma experiência como esta, extraídas de forma participativa, podem contribuir
com a consolidação de um processo de criação, implantação e gestão no PESB, a partir da
participação social e com outros processos semelhantes.
A partir desse pensamento foi elaborado um projeto intitulado: Sistematização Participativa
da Experiência de Criação e Implantação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro
(PESB), realizado entre os anos de 2005 e 2006, tendo como proponente o CTA-ZM,
organização não-governamental que atua desde 1987 na área do Desenvolvimento Rural
Sustentável, junto à agricultores e agricultoras familiares da região, tendo como base
científica a Agroecologia1.
Os participantes desta sistematização foram:
- Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata - CTA-ZM; - Centro Mineiro para Conservação da Natureza (atual CBCN – Centro Brasileiro para a
Conservação da Natureza e Desenvolvimento Sustentável – CBCN); - Centro de Estudos Ecológicos e Educação Ambiental – CECO e Faculdade de Filosofia
e Letras de Carangola/Universidade do Estado de Minas Gerais – FAFILE/UEMG; - Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Araponga, Carangola e Miradouro; - Comunidades rurais do entorno do PESB em Araponga e Miradouro: Pereiras, Laia,
Boné, Nenéas, Tromba d’Anta, Serra das Cabeças e; Sapé. - Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais - IEF-MG; - Universidade Federal de Viçosa – UFV: Departamentos de Solos (DPS), Educação
(DPE) Engenharia Florestal (DEF) e Biologia Animal (DBA);
1 Agroecologia é o campo da ciência que tem como princípio geral, a valorização do conhecimento tradicional, dos agroecossistemas e da biodiversidade, através da ação coletiva e da utilização de práticas agrícolas ecológicas e sustentáveis sob o ponto de vista sócio-econômico, cultural e ambiental.
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2. POR ONDE E COMO CAMINHAMOS... Metodologia da sistematização:
Este capítulo não pretende realizar uma revisão bibliográfica sobre o tema, mas destacar
o referencial teórico que norteou o trabalho e as etapas realizadas pela equipe durante o
processo. Acredita-se que a construção metodológica empregada nesta experiência possa
contribuir, modestamente, para a realização de sistematizações em outras instituições,
observando as diferentes realidades institucionais e locais/territoriais, as quais a metodologia
será aplicada.
Não pretende-se com isso oferecer um pacote metodológico para que outras instituições
possam ter um modelo, mas sim, contribuir de alguma forma com alguns elementos a partir
do que vem sendo construído dentro da metodologia do CTA-ZM. É importante mencionar
que uma metodologia em construção incorre em erros e acertos devendo, portanto, ser sempre
revista e aperfeiçoada.
A sistematização do processo de criação e implantação do PESB utilizou uma
metodologia do CTA-ZM, adaptada para o caso específico. Esta metodologia vem sendo
utilizada com êxito pela entidade desde 2001 e tem como referencial teórico o “Guia
Metodológica para la Sistematización de Experiências em el S.R.” (DIEZ HURTADO, 2001),
um guia prático que narra as etapas de um processo de sistematização de uma experiência de
intervenção institucional no Secretariado Rural do Peru.
A análise que se pretende realizar com esse processo de sistematização, pressupõe
algumas etapas relevantes para a obtenção dos resultados esperados com a mesma. Para
efeitos da metodologia empregada pelo CTA-ZM, Sistematização Participativa é o processo
que vai desde a coleta, organização e estudo dos dados primários e secundários, até a
obtenção de conclusões que nos permita uma análise aprofundada acerca do processo ou
experiência que ocorreu e nos faça refletir sobre suas lições e/ou aprendizados. Esse
processo deve ser conduzido em conjunto com os atores envolvidos (ou os principais) com a
experiência e as lições devem subsidiar processos atuais e futuros.
Existem muitas dúvidas em relação a este tema e entre instituições governamentais e
não-governamentais o entendimento em relação ao que seja sistematizar, para quê, por que e o
quê sistematizar ainda é limitado ou pouco conhecido, por ser um processo relativamente
recente.
Para muitos sistematizar significa coletar e organizar uma base de dados coletados. Para
efeitos desse trabalho a sistematização pretende ser muito mais, o qual não exclui essa coleta
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e organização, mas também não reduz o papel da sistematização à apenas duas etapas. Estas
configuram-se apenas como primeiros passos para uma abordagem mais ampla.
DIEZ HURTADO (2001) define sistematização como “um processo de geração de
conhecimentos, vinculados a intervenções intencionadas ou a experiências de promoção de
desenvolvimento”. Segundo o autor o objetivo final de qualquer processo de sistematização é
recuperar as experiências desenvolvidas para convertê-la em uma fonte de conhecimento.
A lógica do processo de sistematização deve partir de uma experiência vivida e
pressupõe algumas etapas para a sua realização, os quais conduz a um produto. São elas:
1. Definir o que queremos aprender: consiste em uma definição do objetivo e formulação das
perguntas que pretendemos responder com uma sistematização;
2. Descrever nossa intervenção: re-escrever de forma ordenada a experiência a sistematizar,
ações, agentes e resultados. Pressupõe uma reconstrução e ordenamento de dados e
testemunhos sobre a base de categorias e premissas estabelecidas;
3. Assinalar fatores e tirar conclusões: consiste numa análise dos aspectos de nossa
experiência sobre o que temos escolhido trabalhar, assinalando relações causais entre os
mesmos, interpretando os dados e obtendo conclusões;
4. Destacar aprendizagens: refletir sobre a experiência e as conclusões tratando de assinalar,
compreender e explicar aquilo que nos ensina;
5. Redigir o documento final;
6. Elaborar e divulgar estratégias de difusão dos conhecimentos acumulados e os gerados,
bem como as lições aprendidas com a experiência.
A sistematização pressupõe um acúmulo de informação, seu processamento e a
reflexão sobre os resultados em diversos níveis: dos resultados; das conclusões e; das lições
que podemos obter a partir disso. Uma sistematização é um processo de aprendizagem que
deve problematizar e analisar criticamente nossa própria prática de promoção de
desenvolvimento.
Assim sendo, um processo de sistematização nada mais é que um exercício de auto-
reflexão que permite ampliar o impacto dos aprendizados da experiência de uma pessoa ou de
uma equipe ou de uma instituição orientando assim, outras pessoas envolvidas em
experiências semelhantes em outros âmbitos ou outros tempos.
A sistematização também pressupõe uma comparação entre períodos distintos sobre
uma dada experiência. É importante que a metodologia seja capaz de fazer uma ponte entre o
resgate do passado (antes), a análise do presente (durante) e a reflexão futura (depois) para
que assim, a sistematização contribua com a análise dos impactos de uma intervenção
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institucional ao longo de um determinado período. Essa análise comparativa gera novos
elementos para o aprendizado, o monitoramento e para o aperfeiçoamento da prática
institucional.
2.1 Principais fatores que motivaram a sistematização:
A presente sistematização foi motivada por alguns fatores que determinaram o
delineamento do seu planejamento e sua execução, quais sejam:
- A necessidade de resgate e registro da experiência;
- A contribuição para uma gestão participativa no parque;
- Uma melhor compreensão sobre o papel de cada ator na gestão do parque;
- A identificação de pontos positivos e negativos no decorrer do processo;
- A contribuição da experiência aos processos tradicionais de criação de Unidades de
Conservação de Proteção Integral;
- O levantamento dos principais conflitos existentes entre o PESB e o entorno;
- A contribuição da sistematização influenciando políticas públicas em áreas protegidas;
- A consolidação da experiência como uma referência nacional na criação e implantação
Unidades de Conservação de Proteção Integral;
- A contribuição da sistematização influenciando a população do entorno para a
participação no processo de gestão do PESB;
- A avaliação sobre o papel do CTA-ZM e os impactos da sua intervenção no processo;
- A contribuição da sistematização no debate sobre o envolvimento do entorno como
condição primordial para a sustentabilidade das áreas protegidas.
2.2 O objeto da sistematização (o quê sistematizar?)
A experiência de criação e implantação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro
(PESB) e a participação social nesse contexto, entre o período de 1993 – 2004 (ano da criação
do Conselho Consultivo).
2.3 O objetivo geral da sistematização
Analisar, de forma participativa, a experiência de criação e implantação do Parque
Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB) em todo o seu contexto (histórico, técnico,
processual e metodológico) para, em conjunto com os atores envolvidos com a experiência,
extrair lições aprendidas que possam contribuir com a consolidação de um processo de
criação, implantação e gestão do PESB a partir da participação social.
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2.4 Os objetivos específicos
Dentro do desenvolvimento do projeto buscou-se alcançar os seguintes objetivos
específicos:
Adaptar a metodologia de sistematização para o caso específico;
Sistematizar a experiência através de: pesquisa documental; levantamento de dados
primários e secundários; realização de visitas de campo; realização de entrevistas e
encontros;
Resgatar o histórico do processo;
Promover troca de experiência entre os envolvidos;
Identificar junto com s atores envolvidos as lições aprendidas;
Elaborar um plano de difusão dos aprendizados a acúmulos relacionados à
experiência.
2.5 Hipóteses
Algumas hipóteses levantadas a partir de reunião com técnicos do CTA-ZM,
proponente da sistematização, serviram de base para pensar a metodologia e orientar o foco
do trabalho, de acordo com as demandas. Essas hipóteses abaixo motivaram o processo de
sistematização:
i) O processo de criação e implantação do PESB foi participativo;
ii) Um processo participativo na criação e implantação de unidades de conservação é
mais eficaz para a conservação dos recursos naturais e para a promoção do
desenvolvimento sustentável do seu entorno;
iii) O processo de criação e implantação do PESB contribuiu para a construção de uma
identidade na região da Serra do Brigadeiro.
O objetivo dessas hipóteses foi orientar a sistematização para esse foco específico de
interesse, que é comum à experiência como um todo, tendo em vista a visão de futuro e a
contribuição desse debate para o manejo e conservação do parque a partir do (des)
envolvimento do seu entorno.
A metodologia prevê ainda a elaboração de uma matriz composta por eixos e
componentes. Esta matriz tem a função de correlacionar eixos mais abrangentes dentro do
processo, com temas associados a eles (componentes) e organizar a busca de informações,
junto aos atores envolvidos e nos documentos. Uma vez que o tema a ser sistematizado é
bastante amplo e podem ter diferentes enfoques, o objetivo da matriz é orientar a busca de
informações necessárias à sistematização, dentro da abordagem previamente determinada.
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A abrangência da sistematização de uma determinada experiência de intervenção pode
ser relativa a depender do tempo, suporte humano, físico e financeiro disponível e também do
acúmulo que essa experiência adquiriu, de forma a gerar aprendizados.
Na presente sistematização tomou-se o cuidado de não fazer desta algo muito
abrangente, mas sim coerente com o suporte dado pelo CTA-ZM, sem deixar de suprir as
demandas colocadas.
Para esta sistematização foi definida uma matriz contendo dois eixos e quatro
componentes (Quadro 1), correlacionando questões relevantes para a experiência em questão.
Cada cruzamento priorizado da matriz origina uma série de questões pertinentes à consecução
da sistematização, orientando dessa forma a coleta de dados e a análise posterior (ver
Exemplo 1).
Quadro 1 – Matriz de sistematização.
Exemplo 1 – Para o cruzamento A1 gerou-se, por exemplo, as seguintes questões:
Como se deu a participação social durante o processo de criação e implantação do
PESB?
Quais os conflitos decorrentes da proposta de criação do PESB?
A matriz delineada para a sistematização de experiência do PESB partiu de outras mais
abrangentes, de forma a atender ao objetivo traçado e às hipóteses levantadas. Uma matriz
muito abrangente corre o risco de conter eixos e componentes desnecessários ao que se quer
refletir, ou ainda, de se tornar repetitiva, incorrendo na busca de muitas informações que não
serão úteis posteriormente.
EIXOS COMPONENTES
A
PARTICIPAÇÃO SOCIAL E CONFLITOS
B
IMPACTOS (sobre a conservação e sobre a vida da
população) 1
ASPECTOS LEGAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS
GOVERNAMENTAIS
A1
B1
2 ESTRATÉGIAS UTILIZADAS
A2 B2
3 ORGANIZAÇÃO SOCIAL
A3
*-
*não priorizado 4
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE E ASPECTOS
CULTURAIS LOCAIS
A4
B4
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Em função das questões geradas, foram realizadas as etapas de levantamento de dados
primários e secundários. Em muitas das questões não foi possível obter resposta a partir da
bibliografia levantada, logo a matriz apontou também questões que necessitavam de uma
busca de informações para além da bibliografia reunida, como o caso das entrevistas.
Em se tratando de uma experiência cujo enfoque maior é a participação, a metodologia
não poderia ser de outra forma senão, participativa. Durante o período de planejamento,
visitas de campo, entrevistas, análise, extração de lições aprendidas e discussão/devolução das
lições a sistematização contou com a colaboração de técnicos/as, pesquisadores/as,
moradores/as do entorno e suas famílias, estudantes e instituições, nos diversos espaços
criados para este fim.
2.6 Metodologia de ação
1. Planejamento da Sistematização
O primeiro passo para realização da sistematização consistiu na realização um
planejamento geral (Anexo 1), no qual foram levantados pontos importantes antes de iniciar o
processo, tais como: i) cronograma de ações; ii) objeto (o que sistematizar); iii) objetivo (para
quê sistematizar); iv) levantamento de todos os assuntos (eixos centrais e aspectos mais
específicos) que pudessem ser relevantes no processo de sistematização; v) previsão
orçamentária; vi) levantamento de algumas questões relevantes; vii) elaboração de roteiro
para entrevistas com técnicos do CTA-ZM e lideranças para orientar o processo e incluir
demandas da entidade proponente (Anexo 2).
Em seguida foram realizadas entrevistas com técnicos do CTA-ZM e lideranças dos
agricultores/as. As entrevistas permitiram obter uma visão geral da experiência; mapear os
principais atores envolvidos; identificar as diferentes fases do processo; levantar demandas do
proponente que pudessem interessar à experiência como um todo.
Foi realizada uma reunião com a equipe técnica do CTA-ZM para apresentação do
planejamento e discussão da metodologia. A reunião possibilitou o aprofundamento sobre o
objetivo da sistematização; a definição da matriz (levantamento dos principais eixos
norteadores do processo); o levantamento de hipóteses e questões; a troca de experiência e; o
aprofundamento sobre as demandas do CTA-ZM para a sistematização e as demandas da
própria sistematização atendendo às expectativas gerais de uma experiência como essa.
Dentro dessa proposta a matriz elaborada, composta de eixos e componentes, norteou
todas as outras etapas abrangidas pela metodologia de ação para o caso da experiência de
criação e implantação do PESB que seguem descritas a seguir:
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2. Levantamento e organização de dados secundários
Foi realizada ampla consulta a fontes secundárias de informação e organização de todos
os materiais e documentos relativos ao processo existentes no CTA-ZM, tais como: relatórios
de atividades de campo e de reuniões; memórias de eventos e encontros; fontes bibliográficas
referentes à experiências semelhantes; teses, livros; documentos; anais de simpósios; mapas;
dentre outros, totalizando cerca de 67 referências bibliográficas. Esse apanhado bibliográfico
facilitou a visualização, de maneira mais generalizada, do processo enfocado e seu contexto.
Para melhor organização dos dados foi utilizado um aplicativo de organização
bibliográfica, o End Note, o qual possibilitou a catalogação de toda a bibliografia encontrada e
uma maior agilidade na busca das informações.
A sistematização também se ocupou de levantar documentos externos ao CTA-ZM,
porém não foram encontrados muitos materiais ou referências que pudessem auxiliar no
resgate da experiência. Isso demonstra uma limitação, mas como já foi explicitado a
sistematização é um processo recente para as organizações e, em muitas delas, não é hábito a
realização de relatos de eventos, organização e sistematização de informações relativas à sua
intervenção.
3. Levantamento de dados primários, destaque e comparação dos fatores e agentes
intervenientes:
Foram realizadas 18 entrevistas com os principais atores envolvidos com a experiência,
entre técnicos/as de organizações governamentais e não-governamentais e lideranças do
movimento sindical, visando a coleta de dados primários que pudessem ser confrontados com
os documentos. Foram elaborados dois roteiros semi-estruturados distintos, um para
entrevistas com técnicos e outro para moradores/as e lideranças do entorno (Anexo 3). Estas
entrevistas foram realizadas através de visitas de campo. Para tanto, foram estruturados
materiais, pesquisadas ferramentas participativas para facilitar a contribuição de todos/as.
Para as entrevistas além do roteiro semi-estruturado, foi confeccionado um Diagrama de Venn
(Figura 1) para auxiliar na análise das relações geradas pela experiência ao longo do processo,
destacando: o papel de cada ator (X, Y ou Z); a proximidade ou distanciamento entre estes e
entre os mesmos e a experiência (criação e implantação do PESB) e; a influência/importância
de cada ator em relação à mesma.
A sistematização teve o cuidado de apresentar à cada entrevistado/a metodologia que
estava sendo utilizada e ainda, de perguntar para estes/as se as demandas colocadas pela
sistematização atendiam ao conjunto das organizações no que diz respeito à experiência em
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Pequena Média Grande
questão. Não houve a necessidade de inclusão de novas demandas, de modo que a
metodologia conseguiu incorporar os principais temas relacionados à experiência como um
todo, não se restringindo às demandas pertinentes à intervenção ou vivência da entidade
proponente.
Todas as informações obtidas através das entrevistas foram tabuladas e organizadas
dentro dos cruzamentos da matriz, para facilitar a análise posterior. Essas entrevistas
trouxeram ainda novas informações à sistematização e geraram um processo inicial de
reflexão por parte dos/as envolvidos, a partir das questões colocadas.
Figura 1 – Diagrama de Venn
A confecção do diagrama teve algumas limitações, uma vez que foi confeccionado com
cada entrevistado e não em grupos. Essa limitação perpassou todo o trabalho, pois os
segmentos são representados por pessoas, sendo poucas as que tiveram inserção no processo e
condições, portanto, de contribuir. Assim, nem sempre a visão destes reflete o pensamento da
organização como um todo. Entretanto, elas se posicionaram no processo representando a
organização e assim o foi considerado na sistematização.
4. Organização, preparação e realização de encontros:
Durante o processo priorizou-se também a coleta de dados primários com moradores/as
do entorno do PESB, de forma coletiva. Nesse sentido, foram realizados 4 encontros reunindo
grupos de comunidades vizinhas ao parque em dois municípios, Araponga (Pereiras, Laia,
Boné e Nenéas; Tromba d’Anta e; Serra das Cabeças) e Miradouro (Sapé). Para os encontros
utilizou-se o roteiro para moradores/as, técnicas utilizadas em diagnósticos participativos
como a matriz histórica e dinâmicas que facilitaram o resgate histórico do processo; a troca de
experiência entre os/as participantes; a coleta dos dados e; a participação, reflexão e análise
dos participantes sobre a experiência vivida.
Níveis de importância/influência Experiência
ZY X
Criação e implantação
do PESB
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As comunidades foram selecionadas segundo alguns critérios: foram propositalmente as
mais isoladas das áreas urbanizadas; mais próximas (geograficamente) do parque e; residência
de moradores/as que vivenciaram o processo de criação e implantação do PESB. Esses
moradores tiveram papel fundamental na sistematização contribuindo com o resgate histórico,
através de relatos e com a análise do processo através da sua vivência.
Utilizou-se uma dinâmica de contação de histórias que contou com a colaboração dos
moradores/as mais antigos nas comunidades ou que vivenciaram o processo do PESB. Esta
dinâmica transformou a coleta de dados e o resgate histórico em momentos de mística e de
troca entre os mais antigos/as e os novos moradores/as; entre os que participaram e/ou
acompanharam o processo de criação e implantação do parque e os que estão chegando agora.
Foi trabalhada em cada comunidade a participação ativa de pelo menos um/a morador/a que
vivenciou o processo para que este/a conduzisse a dinâmica contando a história para os
demais, que participavam com perguntas e complementando informações, enquanto a equipe
intermediava e provocava questões pertinentes à sistematização, caso estas não surgissem ao
longo da dinâmica. Em todas as comunidades a dinâmica foi iniciada com música, momentos
de reflexão e uma oração conduzida por algum morador/a.
A matriz histórica (Quadro 2) cumpriu o papel de aprofundar temas relevantes
relacionados aos impactos (sobre a conservação e sobre a vida da população) em dois
períodos: antes e depois da criação do PESB. A matriz, desenhada no chão era confeccionada
com a contribuição dos moradores/as a partir de suas reflexões sobre os temas levantados.
Para simbolizar os elementos (variáveis) eram utilizados materiais diversos disponíveis no
próprio local, tais como: galhos, folhas, pedras, copos com água etc.
A sistematização e análise dos dados foram realizadas com base nas informações
geradas pela matriz, tendo em vista outras variáveis que, possivelmente, estão associadas ao
resultado da análise dos moradores/as sobre cada associação.
Quadro 2 – Modelo da Matriz Histórica confeccionada com moradores/as do entorno sobre
as formas de uso e apropriação dos recursos naturais por parte das famílias.
1996 ANTES (ano de criação do PESB) DEPOIS
ÁGUA MATAS BICHOS CULTIVO AGRÍCOLA
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A confecção da matriz não possibilita uma análise aprofundada sobre os impactos
dos/as moradores/as sobre a biodiversidade e o impacto da criação do PESB na vida destes/as,
uma vez que outras variáveis interferem no espaço e no tempo. Entretanto, a ferramenta
contribuiu para uma reflexão coletiva sobre os temas e sua evolução histórica em dois
períodos distintos, destacando a importância da criação do PESB para a conservação da
biodiversidade e seus impactos sobre a vida no entorno. Essa discussão pode contribuir para
uma maior compreensão sobre as formas de uso e apropriação dos recursos naturais por parte
dos/as moradores/as ali localizados, orientando ações relacionadas à conservação do território
como um todo em consonância com o pleno desenvolvimento do mesmo.
Cabe ressaltar que esses encontros tiveram um papel relevante para além da
sistematização, pois retomou, nessas comunidades, o debate sobre o parque que estava
esquecido desde a mobilização para a criação do mesmo; proporcionou uma reflexão coletiva
importante sobre a experiência tanto para o processo de sistematização, quanto para a gestão
participativa da Unidade de Conservação; trouxe às comunidades informações relacionadas à
questões atuais, tais como: mineração no entorno; gestão do PESB e entorno e; Território da
Serra do Brigadeiro e; trouxe para o debate a situação e função das outras categorias de
Unidades de Conservação criadas como as Áreas de Proteção Ambiental (APA’s) e sobre o
ICMS Ecológico.
O ICMS ecológico, imposto que gera receitas para os municípios que possuem áreas
inseridas em Unidades de Conservação, constitui-se motivo de muita polêmica entre
moradores/as que não vêem este benefício sendo revertido para as comunidades.
Todas essas informações, já em discussão há algum tempo tornam-se novidades para as
comunidades. Estas são carentes de qualquer tipo de informação que circula no PESB e
entorno.
5. Análise e destaque de conclusões de todo o processo
Todas as informações resgatadas e/ou levantadas sobre a experiência foram tabuladas e
sistematizadas dentro dos cruzamentos (eixos x componentes) gerados pela matriz. Isso
facilitou a organização dos dados coletados, a análise posterior e as associações feitas entre os
temas levantados a partir da sistematização.
Essa análise preliminar, gerada a partir dos dados primários e secundários, resultou num
documento-base contendo as principais conclusões sobre a experiência de criação e
implantação do PESB. Essas conclusões são reflexões gerais relacionadas à experiência como
um todo, fruto de uma análise da sistematização sobre todos os temas gerados.
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Como parte do trabalho de revisão metodológica, foi realizada uma reunião com a
equipe técnica do CTA-ZM para apresentação e discussão do material preliminar e da
metodologia para o encontro final. Foi apresentado um resgate histórico da experiência,
utilizando a técnica da linha do tempo, confeccionada pela sistematização, incluindo outros
eventos relevantes ao tema em âmbito nacional e internacional.
A linha do tempo é uma técnica participativa que auxilia o resgate histórico de uma
determinada experiência ou processo junto com os envolvidos, tendo em vista duas variáveis:
os períodos (em anos, meses ou dias) e os eventos mais significativos que possam reconstituir
a história. Essa linha do tempo foi discutida e revisada com a equipe que contribuiu, também,
com a inclusão de novos eventos que ainda não haviam sido incorporados. Posteriormente, foi
realizada, em grupo, uma leitura do documento-base com as conclusões preliminares, as quais
foram discutidas nos grupos e depois em plenária.
Essa reunião resultou na contribuição da equipe para a revisão do documento-base, bem
como para a reflexão e levantamento de novas conclusões sobre o processo. Foram
ressaltados pontos de dúvida; informações adicionais foram sendo incorporadas e; a discussão
apontou a necessidade de maior aprofundamento em determinados temas.
O objetivo do documento-base foi subsidiar a etapa seguinte de extração de lições.
Como forma de facilitar a compreensão as conclusões foram apresentadas por temas, que
foram definidos, tendo em vista os principais elementos da análise, quais sejam:
1. As políticas públicas governamentais e as unidades de conservação na Serra do Brigadeiro;
2. Os conflitos;
3. A participação social;
3.1 Gênero e geração.
4. As estratégias utilizadas;
4.1 Participação;
4.2 Adequação da produção do entorno com as estratégias de conservação.
5. As articulações interinstitucionais;
6. Os impactos da criação e implantação do PESB;
7. A construção da identidade e as perspectivas de continuidade do processo.
6. Extração de lições aprendidas
O último encontro da sistematização consistiu na extração de lições aprendidas sobre o
processo. Para efeitos desta metodologia, entende-se por lições aprendidas um conjunto de
recomendações geradas a partir de reflexões sobre uma determinada experiência vivida. Tais
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recomendações são direcionadas ao próprio processo de intervenção institucional, como
forma de melhorar a sua prática e também ao público de interesse. Elas podem ser tanto
positivas (relacionadas ao que foi bom), quanto negativas (relacionadas ao que não foi bom) e
remetem a uma experiência local/territorial, tendo em vista os processos vividos por aquele
grupo ou organização.
Para este encontro foram organizados e preparados materiais descritivos e dinâmicas
que possibilitaram uma participação ativa e qualificada dos/as participantes.
O Encontro foi dividido em três momentos:
1. Resgate do histórico do processo apresentando a linha do tempo;
2. Leitura do documento-resumo das conclusões da sistematização;
3. Extração de lições.
1. Resgate do histórico do processo apresentando a linha do tempo.
Foi apresentada a linha do tempo do processo confeccionada a partir dos relatos e
documentos. Após a apresentação foi aberta a discussão para que o grupo pudesse contribuir
incorporando novos eventos que não foram apontados na linha ou retificando informações. O
resgate histórico da experiência resultou na linha do tempo geral da experiência, com a
contribuição de todos os atores envolvidos na sistematização. Contribuiu ainda para que o
público pudesse relembrar, num contexto coletivo, fatos históricos vivenciados pelos
diferentes atores e/ou grupos, subsidiando a etapa seguinte.
2. Leitura do documento-resumo das conclusões da sistematização.
Foi apresentado ao grupo o documento-base contendo as principais conclusões da
sistematização, sobre cada tema gerado. Este material foi lido em grupos que foram divididos
por segmentos: agentes governamentais; atores sociais da organizações não-governamentais e;
autores sociais locais. A leitura do material se deu de forma coletiva, discutindo e destacando
as contribuições (novas conclusões; discordâncias e dúvidas). A plenária foi conduzida com a
apresentação de cada grupo acerca das discordâncias e contribuições para cada tema. O
objetivo desse momento não foi consensuar, mas provocar discussão, reflexão, troca de
experiências e subsidiar o momento seguinte. Como resultados foi possível obter as
conclusões do processo incorporando contribuições do grupo de atores envolvidos.
3. Extração de lições.
O último momento do encontro consistiu na manutenção dos mesmos grupos, os quais
trabalharam no sentido de refletir sobre as lições e aprendizados do processo dentro da
vivência de cada um. Foram apresentadas duas perguntas geradoras para a reflexão e extração
de lições: a) O que podemos recomendar à outras experiências, organizações ou processos
15
semelhantes? e; b) O que faríamos se fôssemos começar tudo de novo? A partir daí, os grupos
foram para o debate refletindo sobre os aprendizados que podem ser replicados em outros
espaços e aprendizados visando melhorar a prática de cada ator social e institucional
envolvido. Após o debate foi realizada uma plenária final com a apresentação de cada grupo
por meio de tarjetas, seguida de breve discussão. Todas as lições apresentadas foram acatadas
pelo coletivo, não surgindo discordância sobre nenhuma, de modo que o resultado final foi
um conjunto de lições deste grupo de atores envolvidos, a partir de reflexões sobre a
experiência vivenciada.
7. Elaboração de um plano de difusão:
Tão importante quanto sistematizar uma experiência vivida por uma organização,
pessoa ou grupos organizados, é criar condições para que os conhecimentos e os aprendizados
adquiridos pelos atores sociais e institucionais envolvidos sejam multiplicados em outros
espaços ou lugares. É também contribuir para que estes aprendizados sejam replicados e/ou
compartilhados com outros atores que vivenciam processos semelhantes.
O processo de sistematização para ser completo deve se comprometer com a elaboração
de estratégias e confecção de materiais de disseminação dos resultados e das lições
aprendidas. Essa etapa compreende o último passo da sistematização.
Entende-se que a metodologia de sistematização utilizada é um processo de geração de
conhecimentos e, portanto, deve ser multiplicado, replicado, disseminado e/ou compartilhado
com diferentes públicos de interesse, tais como: organizações governamentais e não-
governamentais; agências financiadoras; técnicos/as; pesquisadores/as; estudantes;
moradores/as do entorno de Unidades de Conservação; dentre outros.
A metodologia de sistematização que o CTA-ZM vem utilizando prevê a elaboração de
um plano de difusão que, nada mais é que, um planejamento dos produtos possíveis que
podem ser elaborados a partir do documento final da sistematização e seus respectivos
públicos interessados.
Para efeitos desta sistematização o plano de difusão apresentado no item 6
(SEMEANDO PELO CAMINHO... Plano de difusão dos conhecimentos) abrange, além dos
possíveis produtos e públicos aos quais se destinam, o objetivo, o prazo para confecção e
entrega e a previsão de itens orçamentários associado à cada produto.
Em termos metodológicos é importante frisar que, dentro das inúmeras possibilidades
de produtos que podem surgir, a elaboração e confecção dos mesmos devem estar
relacionadas ao objetivo e disponibilidade de tempo e de recursos humanos e financeiros.
16
3. ERA UMA VEZ... O histórico do processo:
Nos debates sobre a conservação e uso dos recursos naturais fica muito evidente a ênfase
sobre as conseqüências da degradação ambiental provocadas pela ação dos seres humanos sem,
no entanto, que estes debates aprofundem, da mesma maneira, sobre as raízes históricas desses
problemas ou suas causas. Nesse resgate podem estar localizadas não justificativas para a
degradação irracional dos seres humanos para com a natureza, mas, sobretudo, elementos que
venham contribuir para uma melhor compreensão sobre o tema. Desse modo, é bem possível que
este seja tratado não apenas com medidas paliativas, mas com alternativas preventivas e
verdadeiramente efetivas para a conservação dos recursos naturais.
Para compreender como ocorreu o processo de criação e implantação do PESB, faz-se
necessário um resgate da experiência, tendo em vista os antecedentes históricos nos quais a
mesma se localiza. Para tanto, esse capítulo se ocupa em:
relatar (sem maiores aprofundamentos) o processo de ocupação e colonização da
região e suas implicações na degradação evolutiva da Mata Atlântica ali existente;
resgatar o projeto original de criação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro
(PESB) e;
resgatar o histórico de criação e implantação do PESB, a partir do envolvimento
de diferentes atores (sociais e institucionais)1.
Foi traçada uma linha do tempo (Anexo 4) da experiência, incluindo eventos paralelos
considerados relevantes ao tema. Essa linha do tempo foi apresentada e debatida com o grupo de
atores envolvidos na sistematização no encontro final, realizado em julho de 2006. A partir da
contribuição do grupo novos elementos puderam ser incorporados à linha, bem como a correção
de algumas informações.
3.1 O Processo de ocupação colonial e a Mata Atlântica regional
Segundo consta em alguns documentos até meados do século XVII não se tem registros
de exploração na região. Acredita-se que por fatores de ordem natural, tais como: a densa
cobertura vegetal; os terrenos montanhosos e íngremes e; a presença de índios e por fatores
1 Para efeitos desta sistematização os atores sociais e institucionais envolvidos estarão agrupados segundo BARBOSA (2005): i) autores sociais locais referindo-se às classes marginalizadas, tais como, os agricultores/as e suas organizações, moradores/as do entorno; ii) atores sociais das organizações não-governamentais e; iii) agentes governamentais.
17
políticos, tais como: o medo de desvio do ouro e a conseqüente proibição de trânsito nestas
regiões. Nessa época, consta que só se aventuravam por estas brenhas os grandes facínoras e os
criminosos políticos à procura de refúgio (CTA-ZM, 2003).
Até meados do século passado a ocupação da parte ocidental da serra estava restrita a
povos indígenas. Nesse período a estrada real ligava os municípios de Ouro Preto e São João
Batista do Presídio (atual Visconde do Rio Branco), passando pelo povoado de Santa Rita do
Turvo (atual Viçosa), por uma trilha aberta em uma floresta densa (SAINT-HILAIRE, 1822
citado por GJORUP, 1998).
Segundo GJORUP (1998) tanto o corte de árvores quanto o trânsito fora desta trilha eram
proibidos pelo governo, com o objetivo de controlar o contrabando de metais preciosos,
principalmente o ouro da região de Ouro Preto. Algumas populações negras se refugiaram em
áreas próximas à serra em conseqüência desse isolamento.
De acordo com FONTES et al, 2000, na porção ocidental encontram-se remanescentes de
populações negras, trazidas para o trabalho nas minas, e dos antigos Puris, indígenas que
habitaram toda essa região.
O primeiro arraial fundado do lado ocidental da serra tinha o nome de Arraial dos
Arrepiados, a atual cidade de Araponga, em função da Serra dos Arrepiados (referência aos
índios que ocupavam a região).
O núcleo primitivo de Araponga se formou por volta de 1810 (IGA, 1982 citado por
GJORUP, 1998) em conseqüência da descoberta de jazidas de ouro na região que logo vieram a
se esgotar, deixando a mesma em situação de abandono, de modo que a vila só volta a crescer
(lentamente) no início do século XX (CTA-ZM, 2003). O arraial permaneceu ligado ao município
de São João Batista do Presídio e Januário de Ubá até 1871, quando foi incorporado a Santa Rita
do Turvo. Em 1886, o distrito passou a chamar-se São Miguel de Araponga; em 1938 foi
incorporado ao Município de Ervália, ao qual ficou subordinado até 30 de dezembro de 1962,
quando foi criado o município de Araponga e a vila, então, foi elevada à categoria de cidade.
(GJORUP, 1998).
O lado oriental da serra teve um histórico de ocupação distinto. A região constitui-se um
caminho natural entre as Serra do Caparaó e do Brigadeiro (GJORUP, 1998). Nela encontram-se
descendentes de migrantes europeus que chegaram no início do século XX (FONTES et. al.,
2000). Esta região foi o caminho preferencial dos exploradores que partiam de Juiz de Fora em
18
direção ao interior do Quadrilátero Ferrífero e às áreas do Caraça e do Alto Rio Doce na época
áurea da mineração no estado (GJORUP, 1998; FONTES et al, 2000).
De acordo com MOURA (2006) a região da Zona da Mata foi colonizada por mineiros,
brancos e negros. Um século depois, segunda metade do século XIX, o objeto das migrações
muda do ouro para o café, mas continua privilegiando os egressos da região central de Minas que
pudessem disponibilizar o indispensável para o início de atividades: capital e mão-de-obra.
A massa escrava na região mineradora é destinada ao cultivo do café e ocorre na região
um processo de aculturação do negro processada na região central da Província. A linguagem, a
religiosidade, os bailados, a música dos negros ainda presentes na cultura negra da Zona da Mata.
(MOURA, 2006). A colonização da região é, portanto, marcada pela exploração dos recursos
naturais (inicialmente ouro e madeira) e humana (principalmente índios e negros).
Com esse histórico de ocupação e colonização, FONTES et. al. (2000) ressalta que a
população da região tem raízes culturais diversas e, em algum momento do passado não muito
remoto, viveram conflitos intensos. Para BARBOSA (2005) é o reflexo de uma identidade da
serra que o autor denomina amerindiafricana, trabalhadores e trabalhadoras rurais, cujas raízes
denotam uma cultura influenciada por ameríndios, afro-brasileiros e euro-descendentes.
Durante a Revolução de 30 acontece na região novo processo migratório dos europeus
para a região que passa a ser utilizada como refúgio de tropas. Os europeus chegando ao porto de
Santos e, não encontrando as terras que lhes havia sido prometida, desloca-se para o entorno da
Serra, num novo momento de colonização, onde lá encontram as populações já estabelecidas nas
serras (Barbosa, c.p. encontro final da sistematização, 2006).
A vegetação predominante na região é a Floresta Tropical Atlântica Montana, com alta
pluviosidade e alta incidência de epífitas, como bromélias e orquídeas (LEONI, 1995 citado por
COSENZA & VENÂNCIO, 2000), além dos campos montanos situados acima de 1.500m de
altitude. Atualmente estima-se que exista apenas 10% de florestas não-perturbadas ou com
poucas alterações antrópicas, localizadas nos grotões úmidos e nas porções íngremes da serra,
principalmente na região denominada “Brigadeiro”, no extremo norte do parque (COSENZA &
VENÂNCIO, 2000).
A região possui atualmente um dos últimos fragmentos da Mata Atlântica com grande
extensão de florestas contínuas no Estado de Minas Gerais localizado no Parque Estadual da
Serra do Brigadeiro (PESB). A sua área é distribuída entre florestas de encosta (floresta
19
estacional semidecidual submontana), campos naturais (campos de altitude ou montanos) e áreas
de transição, nas quais são encontradas espécies de árvores de grande valor comercial como cedro
(cedrela fissilis), canjerana (Cabralea canjerana), jequitibá (Cariniana legalis), canela (Ocotea
sp.), óleo-vermelho ou copaíba (Copaifera langsdorffi), bicuíba (Virola sp.), ipês (Tabebuia sp.),
dentre outras (COSENZA & VENÂNCIO, 2000).
O PESB também é refúgio de espécies da fauna em risco de extinção, como é o caso do
muriqui ou mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoides), maior primata do continente americano e
o maior mamífero endêmico do Brasil. O PESB representa, portanto, uma das mais importantes
áreas para a preservação desta espécie, pois foram registrados grupos localizados em regiões
distintas do parque, o que pode representar uma das maiores concentrações deste primata em
Minas Gerais (CTA-ZM, 2003).
O PESB é considerado uma área - chave (key area) para a conservação das aves da região
neotropical (SIMON et. al., 1999 citado por CTA-ZM, 2003), tendo em vista as várias espécies
de aves mundialmente ameaçadas de extinção que nele ocorrem e por ser uma considerável área
de um dos ecossistemas mais devastados do planeta.
A riqueza de sapos, rãs e pererecas encontradas até o momento, associada a novos táxons
e espécies raras e/ou ameaçadas de extinção, demonstra a importância da Serra do Brigadeiro na
manutenção e preservação de várias espécies de anfíbios ainda pouco conhecidas na região
sudeste do Brasil (CTA-ZM, 2003).
O PESB ainda possui uma extensa rede de drenagem, com inúmeras cachoeiras, sendo um
divisor de duas importantes bacias hidrográficas para o Estado de Minas Gerais, as bacias do Rio
Doce e do Rio Paraíba do Sul.
Esses são alguns dos atributos que fazem dessa Unidade de Conservação uma das áreas
prioritárias para a preservação no Estado de Minas Gerais. No contexto da região existe,
portanto, um patrimônio ambiental e cultural que deve ser considerado nas estratégias de
conservação.2
O início do processo de degradação da Mata Atlântica na região não difere do histórico
nacional quando da ocupação e colonização do Brasil com a chegada dos portugueses. O período
2 Ressalta-se aqui a diferença conceitual entre preservação e conservação. As diferentes concepções e visões a respeito da relação ser humano e meio ambiente determinam conceitos distintos entre preservar (manter em estado natural e isolado da ação humana) e conservar (utilizar sem destruir; admite-se o ser humano como componente integrado a esse ambiente).
20
foi marcado com a derrubada de áreas extensas de florestas para a ocupação, colonização,
exploração e habitação, de forma, desordenada e sem a preocupação necessária com a
sustentabilidade ambiental (FONTES et. al., 2000).
Em 1500, quando os primeiros europeus chegaram ao Brasil, a Mata Atlântica cobria 15% do território nacional, área equivalente a 1.306.421 Km2, abrangendo 17 estados brasileiros (SCHÄFFER & PROCHNOW, 2002). Atualmente o bioma está reduzido a cerca de 5% de sua área original em função do histórico de degradação e utilização de forma insustentável e irracional. Segundo estes autores, configura-se como o segundo ecossistema mais ameaçado de extinção do mundo, perdendo apenas para as quase extintas florestas da ilha de Madagascar na costa da África.
A floresta original nesta região vem sendo alterada desde 1800, quando se inicia o
processo de ocupação colonizadora da região por motivos da exploração do ouro. Nessa época,
existia uma extensa cobertura vegetal na Zona da Mata de Minas Gerais, integrando a Mata
Atlântica. Após a exploração do ouro a atividade agrícola substituiu parte da vegetação florestal,
através da pecuária de corte extensivo e a cafeicultura. Os índios que ocupavam a região foram
sendo aniquilados gradativamente, em decorrência da exploração de minério primeiramente e
pela ocupação das matas para lavouras de café, posteriormente.
GJORUP, 1998 citando SAINT-HILAIRE (1822) relata que havia no início do século
XIX uma paisagem quase que totalmente coberta antes da ocupação humana na região.
Por volta de 1800 a preocupação com as questões ambientais era incipiente, e nem mesmo existia o termo sustentabilidade situando esta preocupação no presente e remetendo-a à uma visão de futuro. O pensamento ambientalista no Brasil, segundo PÁDUA (1997) surge entre 1820 e 1920, caracterizado por possuir uma preocupação política sem necessariamente se restringir à esta, se expressando assim, por várias correntes. O pensamento deu origem à um movimento que viria influenciar toda a discussão ambiental no país até os dias atuais.
Com o declínio do ciclo do ouro, os embargos à atividade mineral, o esgotamento das
jazidas e a dificuldade de ocupação de novas áreas ocupadas pelos índios, muitos mineradores
que acumularam capital passaram a investir na agricultura e pecuária nos anos de 1800. A
produção de café passou a ser a principal atividade da Zona da Mata e o desmatamento da região,
segundo MOURA (2006), foi feito com violência da encosta ao espigão, com machado, fogo e
técnicas rudimentares. O objetivo era a terra para plantar café, sem olhar para os efeitos daninhos
no futuro. Não faltaram protestos contra tal devastação, principalmente dos viajantes
21
estrangeiros. Mas o resultado foi o crescimento vertical da curva populacional (em número de
habitantes) da Zona da Mata de 1822 a 1920:
Ano Número de habitantes na Zona da Mata mineira
1822 20.000 1872 250.000 1890 430.000 1920 840.000
Fonte: adaptado de MOURA (2006).
A produção cafeeira, em arrobas, foi a seguinte:
Ano Produção cafeeira, em arrobas, na Zona da Mata mineira
1839 243.473 1860 688.946 1880 5.357.920 1900 104.196.176
Fonte: adaptado de MOURA (2006).
Com a retirada da floresta os sistemas produtivos foram ficando cada vez mais frágeis
devido a exportação, perda de nutrientes e a deficiência na ciclagem dos mesmos e erosão. Aos
poucos as lavouras de café foram sendo substituídas por pastagens e culturas anuais voltadas para
a subsistência dos/as agricultores/as, tais como milho, feijão, arroz, cana-de-açúcar e fumo
(GOMES, 1986 citado por FERREIRA NETO et al., 1998).
No passado recente, foi implantada uma agricultura com base na chamada Revolução
Verde que, de acordo com SANTOS et. al, (2005), foi um processo de modernização agrícola por
meio do qual os países pobres puderam aumentar a produção e a produtividade da sua agricultura.
Esse processo de mudança se assentou no chamado “pacote tecnológico”, ou seja, um conjunto
de recomendações técnicas que incluíam o uso de sementes melhoradas geneticamente, a
motomecanização e o uso intenso de insumos químicos.
Esse modelo implantado pela Revolução Verde criou dependência tecnológica e levou à
descapitalização de agricultores/as familiares (GOMES, 1986 citado por FERREIRA NETO et
al., 1998), fazendo com que os/as mesmos/as ocupassem os já escassos remanescentes da floresta,
à procura de solos férteis (FERREIRA NETO et al., 1998), gerando um grave problema
ambiental, uma vez que essas áreas, pelas características físicas e topográficas da região,
22
configuram-se Áreas de Preservação Permanente (APP’s) de acordo com o Código Florestal de
1965.
De 1950 a 1970 ouve uma intensa exploração florestal causada pela empresa siderúrgica
Belgo-Mineira que utilizava madeiras nobres para alimentar os altos-fornos de carvão, agravando
ainda mais a situação de devastação da Mata Atlântica na região. Todo esse histórico culminou
na redução, em área e espécies, da floresta original que, atualmente, é constituída por florestas
secundárias em diferentes estágios de regeneração (COSENZA & VENÂNCIO, 2000).
Em 1960 é criada a Escola Nacional de Florestas em Viçosa, MG e a região, caracterizada
por um conjunto de montanhas que recebia vários nomes regionais, passa a ser visitada por
professores e pesquisadores. A partir dessas visitas estes passam a denominar a área de Serra do
Brigadeiro, alguns dizem que em função de uma antiga fazenda localizada na região e que
pertenceu à um militar da aeronáutica, outros dizem que em função de brigas, disputas e de um
passado de violência associado à região.
Os pesquisadores observam a degradação evolutiva da Mata Atlântica regional e nasce daí
uma preocupação ambiental que culmina na proposição de ações voltadas para a preservação do
bioma.
3.2 A proposta inicial de criação do PESB
A proposta de criação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB) remete à década
de 70. Dois professores/pesquisadores do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade
Federal de Viçosa (DEF/UFV), Elmar Alfenas Couto (também capitão da Polícia Militar) e
James M. Dietz propuseram, na ocasião, a criação de um Parque Estadual na região. Ambos eram
vinculados ao Centro Mineiro para a Conservação da Natureza (CMCN), organização não-
governamental (ong) ambientalista, sediada em Viçosa, MG.
Desde a criação da Escola Nacional de Florestas, em Viçosa, MG, na década de 60,
professores e técnicos passaram a visitar a região e observar atributos importantes da mesma,
relacionados aos recursos hídricos, à fauna, ao solo e à flora. Observaram ainda a devastação das
matas da região e a destruição do habitat de espécies da fauna, muitas delas em extinção
(COUTO e DIETZ, 1980). Desde a década de 50 a empresa multinacional Belgo-Mineira
explorava de forma intensiva as matas nativas da região para abastecer os fornos de carvão das
suas usinas siderúrgicas.
23
Na época a preocupação com o que viria a ser um dos últimos remanescentes de Mata
Atlântica do Estado, culminou em várias tentativas de criação de uma Unidade de Conservação
que fosse capaz de conservar uma área representativa do bioma.
Em decorrência do ritmo acelerado em que se encontrava o desmatamento na área onde se
localizava a Fazenda do Brigadeiro, colocando em risco diversas espécies de árvore de alto valor
econômico, surgiu a primeira iniciativa legal de preservação da Mata Atlântica naquela região. O
ato de devastação provocou uma série de protestos que chegaram à Presidência da república, em
forma de denúncias e informações, gerando o Decreto n.º 1.493, de 09 de novembro de 1962,
declarando como protetoras as florestas nativas, de propriedade privada, existentes na Serra do
Brigadeiro (CAVALCANTI, 1971 citado por COUTO & DIETZ, 1980). Nesse mesmo período
foi criado o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF-MG), que passou a regular o
uso dos recursos naturais, fiscalizar crimes ambientais e administrar as unidades de conservação
no Estado.
Apesar do decreto, o desmatamento continuou até que foi embargado em 1970,
contribuindo para preservar uma considerável área de mata original equivalente a 1.300 ha que
constituem a Fazenda do Brigadeiro (COUTO & DIETZ, 1980).
Em 1972 acontecia a Conferência Nacional das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, repercutindo internacionalmente e influenciando a criação do primeiro órgão ambiental brasileiro, a Secretaria Especial de Meio Ambiente, em 1973 (SANTOS et. al., 2005).
Durante o ano de 1975 os dois pesquisadores do CMCN/UFV realizaram as primeiras
visitas à região com o objetivo de propor a criação de uma Unidade de Conservação.
Influenciados pelo modelo norte-americano de criação de unidades de conservação, após
visita aos Estados Unidos da América (EUA) e também por experiência anterior na criação de
uma Unidade de Conservação na região norte do Brasil, os pesquisadores, incentivados pelo Profº
Roberto da Silva Ramalho, então presidente do CMCN na época e vinculado ao DEF/UFV,
propuseram a criação de um Parque Estadual na Serra do Brigadeiro. Segundo Couto, c.p.
(entrevista concedida em 2005), a visita aos EUA proporcionou a possibilidade de conhecer a
forma correta de se criar estas unidades.
24
O histórico das Áreas Protegidas remete ao período do início da civilização, no qual os povos reconheceram a existência de sítios geográficos com características especiais e tomaram medidas para protegê-los. Esses sítios estavam associados a mitos, fatos históricos marcantes e à proteção de fontes de água, caça, plantas medicinais e outros recursos naturais. O acesso e o uso dessas áreas eram controlados por tabus, normas legais e outros instrumentos de controle social (MMA, 2001).
Observaram e coletaram dados especialmente sobre a vegetação e a fauna silvestre,
levantaram a situação fundiária e também coletaram informações de moradores e fazendeiros da
região. Estas informações coletadas apontaram a existência de cerca de 400 famílias residindo
nos 32.500 ha em que se pretendia criar o parque e, por conta das limitações legais relativas ao
uso da terra na localidade, chegou-se à conclusão de que a única decisão racionalmente viável
seria a criação do parque. O uso da terra para fins agropastoris não seria permitido devido a
região possuir vegetação declarada como preservação permanente, de acordo com o código
florestal de 1965 (COUTO e DIETZ, 1980).
Segundo Couto, c.p. (encontro final da sistematização realizado em 2006), houve ainda, um
abaixo-assinado coordenado pelo Profº Virgílio Andrade, também vinculado ao CMCN na época,
o qual coletou cerca de 10.000 assinaturas favoráveis à criação do referido parque.
A primeira Unidade de Conservação criada no mundo foi o “Yellowstone National Park” ou o Parque Nacional de Yellowstone, nos E.U.A, em 1872, portanto, essa Unidade de Conservação inaugura o conceito moderno de criação dessas áreas. Os objetivos que levaram à criação desse Parque foram: a preservação de atributos cênicos, a significação histórica e o potencial para atividades de lazer (MMA, 2001).
No Brasil, a primeira iniciativa para a criação de uma área protegida ocorreu em 1876, como sugestão do Engº. André Rebouças (inspirado na criação do Parque de Yellowstone) de se criar dois parques nacionais: um em Sete Quedas e outro na Ilha do Bananal. No entanto, data de 1937 a criação do primeiro parque nacional brasileiro: o Parque Nacional de Itatiaia (MMA, 2001).
A escolha da categoria parque não se apoiou em estudos técnicos aprofundados. Na época
não havia muitos debates sobre categorias de Unidades de Conservação ou distinção clara entre
parques e reservas e a discussão girava em torno destas duas categorias, de modo que o PESB foi
proposto a partir de alguns estudos. Entretanto, estes foram incipientes na época, uma vez que a
discussão sobre categorias de Unidades de Conservação, em âmbito nacional e mesmo
acadêmico, ainda era algo muito recente. Segundo Couto, c.p. (entrevista concedida em 2005) a
25
categoria se justificava por uma questão de tradição, uma vez que no Brasil sempre se criou
parque, tais como: Parque Nacional do Itatiaia, Parque Nacional do Pantanal, Parque Estadual do
Rio Doce, dentre outros.
O pesquisador afirma que chegou a mudar a categoria proposta de acordo com a
credibilidade dos termos, tais como reserva florestal, reserva biológica etc., no âmbito do debate
sobre unidades de conservação no Brasil sem que, no entanto, fosse modificado o conteúdo da
proposta. Acredita-se que mais tarde as características físicas, o potencial turístico da região e a
possibilidade do uso público foram se tornando as principais justificativas para definição da
categoria parque.
Até a aprovação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, o SNUC, o Brasil baseava-se no Plano de Unidades de Conservação apresentado pelo IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal) no final da década de 70 e no Regulamento Nacional de Parques para a criação e gestão de suas unidades de conservação (LIMA, 2003).
Em 1976 de posse desses dados levantados Couto e Dietz elaboram um roteiro de sugestões
para a criação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro. Essa proposta original abrangia uma
área de 32.500ha que, segundo os pesquisadores, seria o mínimo para a efetiva conservação. O
critério utilizado delimitava uma cota de 1.000m de altitude para os limites físicos do parque,
abrangendo o total de área citada. Na época, segundo Couto c.p. (entrevista concedida em 2005)
não se previa o problema fundiário que isso causaria, uma vez que, levantamentos realizados
indicavam uma situação fundiária favorável, pois dados da RURALMINAS determinavam que
60% da área eram terras devolutas, o que foi fortemente contestado mais tarde por agricultores da
região. Em contrapartida, as lideranças dos agricultores afirmam que a RURALMINAS considera
todas as terras que o proprietário não tem o título regular como sendo devolutas e na região
existem várias situações como esta, mas com famílias inteiras morando nessas áreas.
Nesta proposta descartou-se qualquer possibilidade de tensão social provocada por
desapropriações, sendo colocado que toda a possível mão-de-obra disponível seria absorvida pela
cafeicultura, a qual encontrava-se em franco desenvolvimento na Zona da Mata e indicava
perspectivas de obtenção de melhores salários e uma vida mais digna (COUTO & DIETZ, 1980).
26
Em 1981 é criado o Conselho Nacional de meio Ambiente (CONAMA), configurando-se como uma instância coletiva de tomada de decisão e representando um marco na política ambiental brasileira devido o seu caráter legislativo (SANTOS et. al., 2005).
Em 1988 o Governo do Estado de Minas Gerais promulga uma lei autorizando a criação do
PESB. Para os pesquisadores, idealizadores da Unidade de Conservação, a ocupação agrícola na
região onde hoje se localiza o PESB, ocorreu no intervalo de tempo entre a proposta de criação
(1980) e a promulgação da lei autorizativa para a criação (1988), dando lugar à pequenas e
grandes propriedades rurais que produzem principalmente café (Couto, c.p., entrevista concedida
em 2005).
A proposta original de criação do PESB se sustentava em dois eixos, um ecológico e outro
sócio-cultural, para justificar sua importância. O primeiro deles dado pelas condições
topográficas da serra, que fazem dela uma região ecologicamente distinta das demais áreas
circunvizinhas, propiciando a existência de exemplares da fauna e flora de grande importância
por serem espécies típicas da Mata Atlântica ou por estarem incluídas na lista de animais
brasileiros ameaçados de extinção. Além disso, é colocada, na época, a importância de conservar
a área com vistas ao treinamento dos futuros engenheiros florestais estudantes da Universidade
Federal de Viçosa - UFV, no manejo racional de matas naturais e da fauna que ali se encontra.
De acordo com COUTO e DIETZ (1980) a justificativa sócio-cultural baseou-se,
sobretudo, no potencial turístico da área apontando para os enormes lucros provenientes desta
atividade em todo o mundo e para a consonância com os objetivos conservacionistas. Assim, a
proposta original tinha como objetivos:
Preservar uma amostra representativa do ecossistema da Zona da Mata de Minas
Gerais com seus recursos genéticos associados;
Fornecer uma área adequada para a investigação científica;
Manter um ponto de referência para medir alterações no ambiente da Zona da
Mata;
Fornecer uma área na qual o turismo, baseado no uso não consumptivo dos
recursos da Zona da Mata.
A proposta trazia o modelo de decreto-lei e descrevia ainda sugestões para o processo de
implantação e gestão do parque, com orientações para zoneamento, elaboração de plano de
manejo, administração e fiscalização.
27
3.3 O processo de criação e implantação do PESB
A elaboração da proposta original por Couto e Dietz em 1976 contribuiu para que, em
1988, o governo do Estado de Minas Gerais promulgasse uma lei autorizando a criação do PESB,
a Lei Autorizativa n.º 9.655 de 20 de julho de 1988. Essa lei propunha que os limites inferiores
do parque estivessem na cota de 1.000 m de altitude, abrangendo uma área de 32.500 hectares,
nos quais havia pequenas propriedades rurais produtivas que seriam, inevitavelmente,
desapropriadas.
A área envolvia os municípios de Muriaé, Miraí, Miradouro, Araponga, Abre Campo,
Sericita, Fervedouro e Ervália. Mais tarde o município de Pedra Bonita passaria a fazer parte dos
municípios envolvidos na área do PESB no lugar do município de Abre Campo, emancipando
deste enquanto distrito.
O projeto original, de acordo com Couto, c.p. (entrevista concedida em 2005) sofreu
oposição num primeiro momento pela empresa Belgo-Mineira, que teve sua exploração de
madeira embargada para a criação do PESB (década de 70) e posteriormente pelas organizações
ligadas aos movimentos sociais que lutaram pela redução da área do parque em favor do direito
sobre a posse da terra pelas famílias que ali residem.
Em 1988 é aprovada a Constituição da República Federativa do Brasil, uma conquista do processo de mobilização social em favor de uma sociedade mais democrática e um marco no contexto das políticas sócio-ambientais no Brasil. Segundo SANTOS et. al. (2005), a Constituição de 1988 foi responsável por institucionalizar princípios e normas pautadas em conceitos como participação e controle social, refletindo um conjunto de aspirações da sociedade civil no que diz respeito à participação e à transparência na gestão política do país. Representou, também, avanços na área ambiental ao dedicar um capítulo inteiro ao meio ambiente, inter-relacionando o mesmo aos capítulos da ordem econômica e social.
Em 1993, o IEF-MG iniciava os estudos para a criação efetiva e implantação do Parque,
contratando para isso, serviços da Faculdade de Filosofia e Letras de Carangola, vinculada à
Universidade do Estado de Minas Gerais (FAFILE/UEMG) e o Departamento de Biologia
Animal (DBA) da UFV, para efetuarem os levantamentos do meio biótico e a empresa de
consultoria ENGEVIX para fazer os estudos do meio físico. Durante o período não foi realizada
consulta aos moradores/as da área por parte das entidades responsáveis pelos estudos e não era de
conhecimento das mesmas a realidade histórico-social na qual a Unidade de Conservação seria
28
criada, embora todo o processo seja anterior à Lei do SNUC/2000, a qual prevê a obrigatoriedade
de consulta pública precedendo a criação dessas áreas.
Em 1991 inicia-se as discussões sobre a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, o SNUC. De acordo com LIMA (2003) diversas leis antecederam o SNUC com o intuito de instituir novas categorias de unidades de conservação ou normatizar seu processo de implantação e gestão como as citadas a seguir: Lei 4.771/1965 – Institui o Código Florestal, prevendo a criação de
Parques Nacionais, Reservas Biológicas e Florestas Nacionais; Lei 5.197/1967 – Dispõe sobre a proteção da fauna, reafirmando a
criação das Reservas Biológicas; Lei 6.513/1977 – Dispõe sobre a criação de Áreas Especiais e de Locais
de interesse Turístico; Lei 6.902/1981 – Dispõe sobre a criação de Estações Ecológicas e
Áreas de Proteção Ambiental; Lei 6.938/1981 – Dispõe sobre a política Nacional do Meio Ambiente,
enfatizando a criação de Áreas de Proteção Ambiental, de Relevante Interesse Ecológico e Reservas Extrativistas; Lei 7.804/1989 – Institui a categoria Reserva Extrativista; Lei 98.897/1990 – Disciplina e normatiza as Reservas Extrativistas; Lei 98.914/1990 – Regulamenta as Reservas Particulares do Patrimônio
Natural.
Em 1992 acontece a Conferência das nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad), realizada no Rio de Janeiro, também conhecida como Eco-92 ou Rio-92. Esse encontro se constituiu o maior evento de caráter intergovernamental do gênero, reunindo representantes de 178 países, 102 chefes de Estado, cerca de 4.000 organizações não-governamentais com o objetivo de elaborar um programa de ação para implementar o desenvolvimento sustentável (GAMA, 2003 citado por SANTOS et. al., 2005).
Ainda em 1993 as notícias sobre a criação do parque utilizando o critério da cota 1.000m já
começavam a surgir dentro da UFV e através de jornais e boletins que circulavam em municípios
abrangidos pela proposta.
Nesse período o IEF-MG realiza o primeiro curso livre na UEMG (nível de pós-graduação
lato sensu), para técnicos da instituição, em administração e gestão de Unidades de Conservação,
sinalizando a preocupação com a capacitação dos funcionários com esse fim.
No final de 1993 o CTA-ZM, organização não-governamental sediada em Viçosa e com
atuação na Zona da Mata, junto com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Araponga,
um dos municípios abrangidos pela área do parque, realizaram um Diagnóstico Rural
29
Participativo (DRP) 3 com o objetivo de traçar um plano de trabalho para o STR daquele
município. O DRP apontou várias demandas em diferentes áreas, uma delas relacionada à área
ambiental tratava-se da necessidade de conservação dos recursos naturais água e solo. O assunto
sobre a criação do parque surgiu a partir daí e lhe é conferida tamanha importância dentro do
DRP que passa a ser uma prioridade para o STR de Araponga, dentre tantas outras demandas.
A busca por maiores informações sobre a criação do parque surgiu como demanda do DRP,
uma vez que, entre as principais preocupações a criação do mesmo e a ameaça de
desapropriações suscitavam nos/as moradores/as a demanda por informações sobre o futuro de
suas vidas, levantando questões relevantes e urgentes sobre o que iriam fazer; como iriam
sobreviver; para onde iriam as famílias, dentre outras.
O DRP de Araponga apontou o questionamento sobre a criação do PESB tendo em vista as bases originais, abrangendo terras produtivas e ocupadas por agricultores/as familiares. Muitos/as destes/as questionaram: “porque melhorar a terra se vamos perdê-la?”, ou, “porque cuidar da terra se vão criar bicho nela?” (Seu Neném, liderança de Araponga, c.p., entrevista concedida em 2005).
As organizações ligadas aos movimentos sociais criticavam a proposta acusando-a de defender a natureza em detrimento da população: “Vocês defendem os macacos e prejudicam os homens” (Couto, c.p., entrevista concedida em 2005).
A partir do DRP de Araponga as organizações ligadas aos movimentos sociais assumiram o
compromisso de buscar maiores informações a respeito da criação do parque juntamente com o
STR local. Estas eram de difícil acesso e não estavam sendo disponibilizadas à sociedade,
conflitando com a urgência que a mesma demandava. Iniciava-se então, um processo intenso de
busca de informações junto ao IEF-MG paralelo à mobilizações comunitárias e pressões sobre
instituições do poder público.
O critério da cota de altitude levou uma demanda de nível municipal para uma esfera micro-
regional, pois a criação do PESB na cota 1.000m acarretaria problemas de ordem fundiária e esta,
por sua vez, implicaria em impactos negativos nas esferas econômica, cultural, social, política e
ambiental para todos os oito municípios do entorno.
3 O DRP pode ser definido como uma família de enfoques e métodos dirigidos a habilitar a população rural a compartilhar, aumentar e analisar seu conhecimento sobre sua vida e condições, para planejar e agir (CHAMBERS, 1994 citado por SANTOS, 2005).
30
O DRP de Araponga marcou o início da participação social nas discussões sobre a criação e
implantação do PESB. A partir daí começou a mobilização para reverter os limites, pois havia
muitas famílias acima da cota 1.000m. Nasce então, um processo de mobilização intenso a partir
do CTA-ZM e STR de Araponga e que, posteriormente, é ampliada com uma articulação
envolvendo outros STR’s da região, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pólo FETAEMG
(Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado de Minas Gerais) e alguns professores/as
da UFV ligados aos Departamentos de Solos e de Educação (DPS e DPE, respectivamente),
como estratégia para somar forças contra a proposta original de criação. Organizações religiosas
também intercederam divulgando as informações nas comunidades.
A ameaça de desapropriação suscitou a discussão sobre a criação da Unidade de
Conservação e sobre a participação popular neste contexto, de modo que organizações
pertencentes aos movimentos sociais da Zona da Mata e de moradores/as do entorno
mobilizaram-se para buscar esclarecer em que fase se encontrava o processo de implantação do
Parque, reivindicar e garantir direitos sobre a posse da terra e pela participação dos moradores/as
no mesmo. Nesse período o CTA-ZM, os STR’s e parceiros fizeram uma ampla mobilização,
com escolha de representantes das comunidades, para acompanhar todo o processo.
Em junho de 1994 com o objetivo de esclarecer sobre a criação do PESB e suas
conseqüências para a região e apontar soluções, foi realizada na sede do CTA-ZM em Viçosa,
MG uma reunião para avaliação de alternativas para a conservação da Serra do Brigadeiro, fruto
do processo de mobilização das organizações ligadas aos movimentos sociais. Estavam presentes
representantes de comunidades rurais da Serra do Brigadeiro, STR’s de Araponga, Carangola,
Ervália, Miradouro e Muriaé; FETAEMG; CPT; pesquisadores da FAFILE/UEMG e da UFV;
CTA-ZM; representantes de deputados estaduais; escritórios central e regionais do IEF-MG e;
Prefeitura Municipal de Miradouro (CTA-ZM, arquivos internos).
Essa reunião marcou a primeira oportunidade de debate entre os vários segmentos
atuantes na área de abrangência do PESB e o IEF-MG, e culminou em resultados importantes
para o processo. O órgão ambiental, na ocasião, relatou a preocupação com o ambiente natural,
esclareceu sobre a Lei Autorizativa/1988 e a cota altimétrica e informou sobre a existência de
estudos preliminares que estavam em curso, relacionados aos meios biótico e abiótico e de
estrutura fundiária. Foi uma primeira oportunidade dos demais participantes colocarem para o
IEF-MG suas compreensões, expectativas e preocupações relacionadas à questões como: a cota
31
de 1.000m; as possíveis desapropriações dos/as moradores/as; o uso dos recursos florestais e
naturais; a ausência, quase completa, de participação na condução do processo; o modelo de
conservação almejado para a área, dentre outros (CTA-ZM, 1994a).
Como encaminhamentos da reunião, visando promover a participação social no processo,
criou-se uma comissão formada pelo IEF-MG, CTA-ZM, STR’s de cada município e DPS/UFV
para a elaboração de trabalhos de campo e relatório da área sócio-econômica relativa às
populações direta e indiretamente afetadas pela criação do parque na Serra do Brigadeiro.
Outro encaminhamento importante foi formação de um grupo de trabalho composto pelo
IEF-MG, CTA-ZM, STR’s, FETAEMG, CPT e representantes dos municípios. Este grupo seria
uma primeira iniciativa de construção de um futuro conselho consultivo que acompanharia o IEF-
MG na administração do parque, tendo a função de efetuar estudos, discutir e deliberar todos os
assuntos relativos à Serra do Brigadeiro (FERREIRA NETO et. al., 1998; CTA-ZM, 1994).
A comissão realizou o levantamento sócio-econômico e ambiental, identificando, entre
outros, o número de famílias inseridas na cota 1.000m e o consumo médio de recursos naturais
pelas famílias. Relatos constam que existiam de 400 a 700 famílias na área abrangida pela cota
altimétrica. Paralelo a isso o IEF-MG continuava os levantamentos físico e biótico que somados
ao levantamento sócio-econômico, subsidiariam a implantação do PESB. Segundo FERREIRA
NETO et. al. (1998), para a realização desse trabalho foram realizadas 22 reuniões, envolvendo
632 moradores/as distribuídos em 54 comunidades.
Em setembro de 1994 é realizada uma segunda reunião na sede do CTA-ZM, com o
objetivo de dar continuidade às ações. A mesma contou com a presença de diferentes segmentos,
membros dos STR’s de Carangola, Araponga, Visconde do Rio Branco, Miradouro e Muiraé,
CPT, CTA-ZM, pesquisadores da UFV, escritórios central e regionais do IEF-MG, Fundação
Ford e CMCN. Na ocasião o IEF-MG apresentou os dados finalizados e os resultados
preliminares do trabalho de implantação, ainda em andamento. A ENGEVIX apresentou dados
levantados que confirmavam a necessidade de estratégias de conservação da vegetação na região
(CTA-ZM, 1994b).
Esse foi um momento importante e estratégico para que as organizações pudessem
apresentar propostas alternativas relativas às bases da criação e implantação do parque, tendo
como referência dados concretos, estudos e levantamentos que respaldavam a discussão. A
ENGEVIX, com base nos dados levantados, sugeriu a criação do parque numa área de
32
aproximadamente 11.000ha. O CTA-ZM contextualizou aspectos sócio-econômicos da região, a
partir dos dados referentes ao estudo realizado junto ao IEF-MG, STR’s e DPS/UFV e de outros
trabalhos realizados pela entidade anteriormente, apontando os principais problemas e as
possíveis soluções (CTA-ZM, 1994b).
As pesquisas que vinham sendo realizadas por pesquisadores da UFV, em parceria com o
CTA-ZM, foram fundamentais para respaldar os argumentos das entidades mobilizadas contra a
criação do parque na cota 1.000m e propor redefinições no desenho, mais factíveis com a
realidade local. Pesquisas desenvolvidas por Guilherme Barcellos Gjorup, vinculado ao
Departamento de Solos (DPS) e Fernando Silveira Franco, vinculado ao Departamento de
Engenharia Florestal (DEF), com proposições no planejamento e uso da terra e nas delimitações
do parque, tais como: implantação de faixa tampão com manejo sustentável, através da criação de
APA’s no entorno e; implantação de Sistemas Agroflorestais (SAF’s), em conjunto com
agricultores familiares, contribuíram para proposição de alternativas para as famílias residentes
no entorno do PESB.
Como encaminhamentos a reunião definiu: agenda de trabalho; definição de uma parceria
entre IEF-MG, STR’s e CTA-ZM através de “Convênio para implantação do parque e futuro
plano de manejo do parque e seus entornos”, na forma de minuta de proposta; criação do grupo
de trabalho e definição da composição, envolvendo representantes dos STR’s, das organizações
não-governamentais da região de abrangência do parque, FETAEMG, IEF-MG, prefeituras e
instituições de ensino superior, tendo em vista a criação do Conselho Consultivo posteriormente à
criação do parque (CTA-ZM, 1994b).
Nesse mesmo ano de 1994 foi realizada em Muriaé, município abrangido pela área do
parque, uma audiência pública da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, na qual a criação do
PESB é colocado na pauta para discussão, devido à urgência e à demanda por maiores
informações. Nessa audiência todas as informações levantadas foram apresentadas com o
objetivo de informar sobre o que vinha acontecendo e comprometer o poder público na luta para
evitar a expulsão dos/as agricultores/as para as periferias das grandes cidades. As organizações se
posicionavam em favor da criação do parque, mas contrários à expulsão de agricultores/as de
suas terras.
A partir daí as informações tornaram-se mais acessíveis, mas sempre transcorrendo sob
muita pressão social para garantir a participação. A criação do PESB passou a ser rediscutida
33
para além dos gabinetes do IEF-MG. Este designa um funcionário específico para a criação e
gestão do PESB e a partir desse período começa a surgir uma mudança de concepção dentro da
instituição, em relação à criação de Unidades de Conservação: mais aberta à participação social.
Ainda em 1994, representantes do CMCN e do DEF/UFV se afastam (ou se vêem
afastados) do processo de criação do PESB, refletindo uma perda importante ao deixar de
contribuir com o mesmo.
A continuidade na implantação do PESB também ocorreu com muita discussão e
envolvimento das organizações. Em 1995 as comunidades rurais passam a reivindicar a
implantação dos marcos na demarcação do PESB, uma vez que causava (e ainda causa) muita
confusão a definição dos limites físicos do parque. Em julho de 1996 a identificação dos limites
físicos e sua redefinição envolveu IEF-MG, CTA-ZM, agricultores residentes na área, STR de
Araponga e o IGA (Instituto de Geociências Aplicada). Essa etapa envolvendo agricultores foi
importante para desmistificar um pouco a ameaça de que o parque iria incorporar terras
produtivas.
Para o início do processo de demarcação foi formada uma comissão composta por
representantes do CTA-ZM, STR’s e IEF-MG com o objetivo de discutir com cada agricultor,
vizinho ao parque, os limites do mesmo. A metodologia da demarcação incluía uma identificação
dos pontos através de visitas de campo aos agricultores; levantamento de parâmetros dos
agricultores; pesquisa às cartas do IBGE; realização de sobrevôos pela área e; caminhamento. Os
pontos eram visualizados e determinados por elementos da paisagem e acidentes geográficos. A
definição das coordenadas geográficas destes pontos foi realizada posteriormente pelo IGA e
IEF-MG, o que até hoje gera dúvidas, uma vez que os marcos não foram implantados até o
fechamento deste documento.
Foram sucessivas reuniões que, apresentadas aqui de forma resumida e representadas nos
eventos determinantes, contribuiu para que a proposta original de criação do parque na Serra do
Brigadeiro fosse revista. Em 27 de setembro de 1996 foi aprovado o decreto n.º 38.319, pelo
Governo do Estado de Minas Gerais (Gestão do Sr. Eduardo Azeredo) e IEF-MG (Gestão do Sr.
José Carlos de Carvalho), legalizando a criação do PESB com área total de 13.210 ha,
considerando aspectos ambientais e sócio-econômicos e com a participação social nas
redefinições de seus limites e processo de gestão (CTA-ZM, arquivos internos).
34
Após a criação do parque iniciaram-se as discussões sobre a sua gestão. As organizações
continuaram animando o processo e pressionando o órgão gestor para que a elaboração do plano
de manejo fosse participativa, de forma a manter vivos os anseios e expectativas da comunidade
do entorno, da comunidade científica e do órgão gestor, ao mesmo tempo em que garantisse a
observância da legislação específica (FONTES et. al, 2000).
Fatores de ordem sócio-econômica e ambiental motivaram, à princípio, a proposição de
criação de outras Unidades de Conservação no entorno do PESB, tendo em vista a possibilidade
de favorecer a subsistência dos agricultores/as nessas áreas; evitar as desapropriações e; criar uma
zona tampão no entorno do PESB. Infelizmente a idéia original foi interrompida por razões
políticas e econômicas. Após a criação do parque várias Áreas de Proteção Ambiental (APA’s)
foram criadas em seu entorno por iniciativa de prefeituras locais, visando o recolhimento do
ICMS ecológico. A primeira delas foi a APA de Araponga no mesmo ano de criação do PESB.
Em julho de 1997 o CTA-ZM e os STR’s de Araponga, Muriaé, Miradouro e Carangola
(que também atendia o município de Fervedouro) realizaram um DRP abrangendo 8
comunidades distribuídas nesses 4 municípios da Serra do Brigadeiro, com o intuito de avançar
nas propostas técnicas para conciliar a conservação dos recursos naturais com o desenvolvimento
rural a partir das demandas das populações do entorno do parque.
O diagnóstico foi o primeiro levantamento abrangente, realizado no entorno do parque após
sua criação. Coletou informações sobre as comunidades rurais, relevantes para a futura gestão do
parque e sua relação com o entorno, tais como: a história; os problemas; a relação das
comunidades com os recursos do parque; o que pensam sobre o futuro após a criação do mesmo;
dentre outros. O DRP também levantou sugestões das comunidades e traçou planejamento de
trabalho junto aos STR’s e moradores/as (CTA-ZM, 1997).
Como desdobramento desse DRP foi realizado pela pesquisadora Cláudia de Carvalho
Mello, um estudo em nível de mestrado, junto ao Departamento de Biologia Vegetal da UFV
(DBV/UFV), com apoio do CTA-ZM e STR’s, qualificando e quantificando os recursos naturais
e serviços utilizados pelas famílias tanto fora quanto dentro do parque. Esse estudo foi
extremamente relevante para levantar dados sobre o consumo médio das famílias e sua demanda
por taquara, lenha, madeira para mourão e construções, água, trilhas, dentre outros e apontar o
nível de significância dos impactos causados pelos/as moradores/as sobre o uso dos recursos
naturais.
35
O DRP de 1997, bem como esse estudo, contribuiu para as discussões posteriores sobre o
processo de gestão do parque e na proposição de alternativas mais concretas e factíveis com a
realidade rural do entorno do PESB, visando minimizar a pressão antrópica sobre o mesmo, sem
comprometer a integridade e dignidade da população local. Foi relevante também dentro de uma
discussão que é bastante polêmica sobre o impacto causado pelo uso dos recursos naturais pelas
comunidades rurais que estão localizadas na região e que dependem destes para sobreviver. Por
outro lado, o uso dos recursos pode causar impactos à biodiversidade local e por isso a
importância do debate.
Segundo BARBOSA (2005) criação do PESB, traz à tona uma questão a ser colocada: serão
os autores sociais que ali residem, confrontantes do Parque ou vizinhos que cuidam das Serras?
Para o autor, a preocupação técnica faz com que esses autores sociais sejam compreendidos
apenas como confrontantes do Parque.
Após esse DRP as ações relativas à gestão do parque são paralisadas pelo conjunto das
organizações envolvidas. Em 1999 o IEF-MG se encontra diante do maior desastre ambiental
ocorrido no PESB até hoje, um incêndio criminoso de grandes proporções que durou cerca de 15
dias, consumindo aproximadamente de 25% da área do parque.
Somente em julho de 2000 as discussões sobre a continuidade nas ações relativas ao parque
são retomadas, a partir da iniciativa do CTA-ZM convocando as demais organizações da
sociedade civil. Num esforço conjunto entre IEF-MG, CTA-ZM e UFV é realizado em Viçosa,
MG, entre os dias 10 e 14 de julho, um Simpósio intitulado: “Parque Estadual da Serra do
Brigadeiro e Entorno: contribuições para a elaboração de um plano de manejo integrado e
participativo”. Esse evento marca o início do debate sobre a gestão do PESB de forma
participativa.
Para atender ao objetivo o simpósio reuniu 129 participantes entre organizações
governamentais (órgãos ambientais, instituições de ensino e pesquisa, órgãos de assistência
técnica e extensão rural) e da sociedade civil (ong’s, STR’s, agências de cooperação
internacionais, representantes de comunidades rurais do entorno).
O simpósio foi mais uma estratégia de retomar o debate e a mobilização em favor da
participação social. Foi um evento marcante e relevante dentro da experiência do PESB.
Representou simultaneamente: a oportunidade de troca de experiências; o confrontamento de
idéias e ideais; o planejamento de trabalho visando a gestão participativa do parque; o exercício
36
da democracia; a diversidade de visões e interesses sobre o mesmo processo; a oportunidade de
um debate amplo acerca do uso e manejo dos recursos naturais; uma mudança de postura e um
amadurecimento das organizações que saíram do embate direto para o campo do diálogo; dentre
outros.
Em 18 de julho de 2000 é instituído o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) através da Lei n.º 9.985, estabelecendo critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação.
Após a realização do simpósio houve mais um período de paralisações quando o IEF-MG,
por motivos internos, não conseguiu dar prosseguimento aos encaminhamentos acordados ao
final do evento. Após 2 anos decorridos o CTA-ZM inicia nova articulação junto ao IEF-MG e
demais organizações para retomar as ações.
Entre 1997 e 2000 quando são retomadas as discussões sobre a gestão participativa do
PESB há um período de transições no CTA-ZM relacionadas à equipe técnica, bem como
estratégias e conjunto das ações orientadas por uma avaliação interna, o que pode ter contribuído
para essa paralisação, uma vez que a entidade vinha assumindo uma espécie de animação do
processo.
Em 2002 o IEF-MG apresenta uma proposta de prosseguimento da elaboração do plano de
manejo, tendo em vista a falta de recursos financeiros por parte do órgão para o cumprimento das
ações. A partir daí é criada e coordenada pelo órgão gestor uma equipe de trabalho paritária,
formada por representantes do poder público e da sociedade civil organizada e que tem como
função dar início à elaboração do plano de manejo do PESB, de forma voluntária, a partir da
organização de dados, levantamentos e estudos já realizados e da coleta de novos dados
pertinentes à etapa preliminar. A metodologia utilizada foi o roteiro para elaboração de planos de
manejo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA.
O processo novamente é paralisado. Por um lado, há uma acomodação do conjunto de
organizações envolvidas para retomar o processo diante das suas atribuições e dinâmicas internas
e por outro, uma certa morosidade por parte do IEF-MG em encaminhar as ações, em função de
transições internas e dinâmica da instituição. Esse compilado de informações levantadas serviria
de material preliminar para a elaboração do plano de manejo.
37
Em 2003 o CTA-ZM, numa tentativa de reanimar o processo, convoca mais uma vez as
demais organizações envolvidas, denominadas Colegiado do PESB, culminando numa audiência
pública entre estas, o IEF-MG e a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
de Minas Gerais (SEMAD). Na ocasião as organizações apresentaram um resgate histórico do
processo, destacando os ciclos de mobilizações e desmobilizações; entregaram todo o material
produzido para subsidiar o plano de manejo para o IEF-MG e para a SEMAD e; questionaram o
papel dessas organizações no processo e relataram o sentimento geral da falta de reconhecimento
legítimo do órgão gestor sobre sua importância na cooperação e construção de um processo
participativo na Serra do Brigadeiro.
A audiência resultou num comprometimento público do IEF-MG e da SEMAD para com o
grupo de atores presentes e envolvidos com o processo e na proposição do Conselho Consultivo
do PESB.
Ao final de 2003 o IEF-MG designa uma nova gerência para o PESB. Em 17 fevereiro de
2004 o Conselho Consultivo do PESB é instituído através da Portaria 021 do IEF-MG, composto
por 36 membros, sendo 18 efetivos e 18 suplentes, com representantes dos diversos segmentos,
inclusive dos moradores/as, representando uma conquista das organizações ligadas aos
movimentos sociais. Os conselheiros/as tomam posse em abril desse mesmo ano.
Durante as discussões houve muita resistência do órgão gestor que defendia uma
composição com menor número de participantes, justificando um melhor funcionamento e sem
representantes de comunidades, uma vez que os STR’s já possuíam assento. A proposta do IEF-
MG foi parcialmente acatada com o cuidado de constituir um conselho com uma composição
razoável, entretanto, garantindo uma maior representatividade possível e o espaço legítimo para
os/as moradores/as, uma vez que estes/as nem sempre estão representados nos STR’s de seus
municípios e, em muitos casos, possuem seus representantes comunitários.
A representatividade aqui mencionada, nessa primeira composição do conselho consultivo
do PESB, reflete um histórico de participação e envolvimento de diversos segmentos junto ao
IEF-MG desde as primeiras discussões para a criação da Unidade de Conservação. Esta
representatividade se configura, portanto, muito mais em função de um histórico de
comprometimento dessas organizações com a criação do parque e ações de desenvolvimento no
seu entorno, do que por interesses posteriores à criação da unidade ou necessidade de
contemplação de todos os setores da sociedade dentro do conselho.
38
Os exemplos de implantação e funcionamento de conselhos consultivos em parques no
Brasil são incipientes, uma vez que o processo é relativamente recente e em construção, portanto,
o IEF-MG enquanto órgão responsável vem atuando muito mais no exercício do aprendizado
dessa construção. Diante desse esforço de aprendizado, muitos limites estão colocados. Várias
ações têm sido desencadeadas pelo órgão gestor sem consulta prévia aos conselheiros/as,
causando muita indignação entre estes/as. Isso reflete, ao mesmo tempo, inexperiência e
dificuldade do Estado para lidar com processos participativos que promovam maior controle
social nos espaços públicos. Por outro lado, há que se considerar as limitações institucionais do
órgão em relação à transições internas; dinâmica institucional e; recursos humanos e financeiros
escassos, frente à urgência da sociedade por respostas às suas demandas.
Em 2004 é firmado um convênio entre o Governo de Minas Gerais e o banco alemão KFW, no âmbito do projeto PROMATA, que visa ações para promover a proteção da Mata Atlântica no Estado. O projeto prevê, entre outros, recursos para a implantação e gestão do PESB através da implementação de obras de infra-estrutura; da contratação de funcionários (em convênio com prefeituras municipais); a regularização fundiária; a demarcação do PESB e; a elaboração do plano de manejo.
Entre 2004 e 2005 várias ações pertinentes à continuidade na implantação do PESB foram
realizadas, embora nem sempre com o envolvimento direto dos/as conselheiros/as nas discussões
sobre o futuro e gestão da unidade ou participação na tomada de decisões.
No ano de 2004 os conselheiros/as elaboraram o regimento interno do conselho consultivo e
iniciaram com o IEF-MG algumas discussões sobre a continuidade nas ações de implantação do
PESB com os recursos advindos do PROMATA.
Em 2005 o IEF-MG deu prosseguimento à implantação do PESB realizando algumas ações
relativas à obras de infra-estrutura tais como: alojamentos, refeitórios, centro de educação
ambiental e pesquisa, sede administrativa e portarias; contratação de funcionários, via convênio
com prefeituras do entorno e; encaminhamento de ações para regularização fundiária. Ao final de
2005, saiu um novo decreto de demarcação do PESB com área total de 14.984 ha, fruto das ações
de regularização fundiária encaminhadas pelo IEF-MG.
Até o início de 2006 o processo continuava seguindo uma dinâmica estabelecida desde o
início: cíclica, com picos de mobilizações e períodos de paralisações e desmobilizações
recorrentes no decorrer. Entretanto, as organizações sempre presentes, reforçando a importância
da participação social na criação, implantação e gestão do PESB de maneira efetiva e não apenas
39
para compor um espaço de gestão criado por determinações legais ou para respaldar ações
predeterminadas pelo órgão gestor.
Cumprindo com o planejamento proposto junto ao PROMATA, o IEF-MG inicia
efetivamente a elaboração do plano de manejo do parque em novembro de 2005 pela empresa
Taniguchi Consultoria, responsável pela coordenação geral do plano e pela parte administrativa e
pela Ambiente Brasil Centro de Estudos (ABCDE), uma organização não-governamental,
responsável pelos estudos bióticos e abióticos do plano. O conselho consultivo vem
acompanhando as ações desde então, participando ativamente das discussões e enfrentando novos
desafios colocados.
Ainda que a fase de gestão do PESB esteja em andamento, com várias ações já realizadas e
em discussão, a mesma não será objeto de estudo desta sistematização. Entende-se que por ser
um processo recente, a gestão do PESB ainda não possui um acúmulo que possibilite uma
reflexão mais aprofundada acerca do seu histórico, processos e metodologias, que venham
contribuir com a extração de lições aprendidas acerca dessa fase.
É necessário, portanto, que outros estudos e novas sistematizações sejam realizadas,
posteriormente, como forma de complementar o trabalho e incorporar novas análises, bem como
reflexões institucionais e coletivas e a respeito da criação, implantação e gestão do PESB,
visando contribuir com a continuidade do processo de forma participativa e com outras
experiências semelhantes, relacionadas ao tema.
40
4. RESULTADOS E CONCLUSÕES SOBRE O PROCESSO
A sistematização procurou analisar todas as informações levantadas a partir de documentos,
entrevistas, reuniões e encontros com alguns dos principais atores envolvidos com a experiência
de criação e implantação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB). Essa análise
pretende apontar algumas conclusões sobre o processo, tendo em vista os fatores que motivaram
esta sistematização; as hipóteses elaboradas no início do trabalho; os objetivos; as questões
formuladas a partir do conjunto de cruzamentos da matriz apresentada no item 2 (Por onde e
como caminhamos...) e; o conjunto das informações levantadas.
Procurou-se ainda, observar dentro da experiência de criação e implantação do PESB,
objeto deste trabalho, os impactos da mesma, analisando períodos distintos correspondentes à
antes, durante e depois da experiência.
Todas as conclusões geradas pela sistematização foram apresentadas e discutidas pelo
conjunto de atores envolvidos com a experiência no Encontro Final da Sistematização: lições
aprendidas. Desse modo, contém neste capítulo conclusões da sistematização com consenso entre
os atores envolvidos e sem consenso entre os mesmos. As conclusões apontadas pela
sistematização que foram desconsideradas pelo grupo geral foram retiradas do documento e
descartadas pela sistematização.
As conclusões serão apresentadas por temas, como forma de facilitar a análise e separadas
em conclusões com consenso e conclusões sem consenso, contemplando assim, os diferentes
olhares do grupo. Cada tema contém uma breve apresentação.
4.1 As políticas públicas governamentais e as unidades de conservação na Serra do Brigadeiro:
A região, caracterizada por um conjunto de serras com nomes diversos, é comumente
denominada Serra do Brigadeiro, especialmente por pessoas de fora daquele lugar. Esta Serra
abriga algumas unidades de conservação, que foram criadas, de modo geral, para promover a
proteção dos remanescentes florestais do bioma Mata Atlântica ali existentes e o
desenvolvimento sustentável da região.
O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB), criado em 1996 com 13.210 ha,
configura-se como uma das mais importantes unidades de conservação de proteção integral da
41
Zona da Mata de Minas Gerais, por abrigar o último remanescente contínuo de Mata Atlântica do
Estado e nesse, várias espécies da flora e da fauna, muitas das quais em extinção no País.
Após a criação do PESB outras unidades de conservação foram surgindo no seu entorno4,
todas de uso sustentável. Atualmente são 08 Áreas de Proteção Ambiental (APA’s) criadas
legalmente, localizadas nos municípios de Araponga (01), Divino (02), Ervália (01), Fervedouro
(01) e Muriaé (03) e 03 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN’s) criadas
legalmente, localizadas nos municípios de Fervedouro (02) e Muriaé (01). Além dessas citadas,
existem 02 APA’s e 01 RPPN no município de Rosário da Limeira que, atualmente, está inserido
no contexto do entorno a partir de uma política territorial por estar localizado em área de
abrangência do PESB e exercer influência direta sobre o mesmo.
Nenhum dos municípios do entorno do PESB possui Conselho Municipal de
Desenvolvimento Ambiental - CODEMA e as ações voltadas para a conservação do meio
ambiente são ainda muito localizadas e pontuais nessa esfera.
A forma como o PESB e, particularmente as APA’s, foram concebidos, bem como o que
separa a teoria para a criação dessas áreas da prática, foram analisados pela presente
sistematização. As conclusões são dadas a seguir:
Conclusões com consenso:
- A proposta original de criação do PESB protagonizada pelo CMCN, Escola Superior de
Florestas e Polícia Militar. A mesma foi influenciada pelas experiências anteriores com criação
de Unidades de Conservação, visitas realizadas pelos dois pesquisadores do CMCN aos EUA e
pelo modelo norte-americano de criação de unidades de conservação;
- O PESB foi proposto a partir de critérios ecológicos, que se resumiam às condições topográficas
e ao potencial florístico e faunístico associado e critérios sócio-culturais, que se resumiam à
potencial turístico. Estes critérios foram válidos, porém restritos e desconsideravam a realidade
do entorno e o conjunto das inter-relações (sociais, políticas, ambientais, culturais e econômicas)
existentes ali;
4 Entorno, para efeito desta sistematização, é entendido como o espaço determinado pelo conjunto de relações e interelações sociais, políticas, culturais, ambientais e econômicas, que circundam o PESB, inseridas num contexto de municípios, comunidades rurais e outras unidades de conservação adjacentes.
42
- A categoria da unidade de conservação foi definida a partir de alguns estudos. Entretanto, estes
foram incipientes na época, uma vez que a discussão sobre categorias de unidades de
conservação, em âmbito nacional e mesmo acadêmico, ainda era algo muito recente;
- O processo de criação do PESB iniciou-se, legalmente, por ação do Governo Estadual através
da Lei Autorizativa n.º 9.655/88. O abaixo-assinado (10.000 assinaturas) antecedendo a criação
caracteriza, nesse momento, uma participação por consulta, por parte da população do entorno
sem, no entanto, envolver diretamente a mesma no processo de criação do PESB;
- Fatores de ordem sócio-econômica e ambiental motivaram, à princípio, a proposição de criação
de outras unidades de conservação no entorno do PESB, principalmente APA’s: a possibilidade
de favorecer a subsistência dos agricultores/as nessas áreas; evitar as desapropriações e; criar uma
zona tampão no entorno do PESB;
- A proposição inicial da criação de APA’s foi interrompida pela forma como o processo de
criação dessas áreas foi conduzido. As APA’s foram criadas pelas prefeituras, após a criação do
PESB, de forma oportunista, guiada por razões políticas e econômicas;
- As organizações, de modo geral, não tiveram oportunidade de participar e contribuir com o
processo de criação, implantação e gestão das APA’s, de modo que estas viessem cumprir com os
objetivos propostos;
- As organizações envolvidas com o processo de criação e implantação do PESB não deram
prosseguimento à discussão sobre as APA’s e sua importância no contexto sócio-econômico e
ambiental da região, durante o período;
- As APA’s no entorno do PESB, tais como foram concebidas, bem como a situação atual em que
se encontram: sem regulamentação e sem implantação (ausência de planos de gestão e formação
dos conselhos de gestão), não vêm contribuindo efetivamente para a conservação da
biodiversidade, nem para o desenvolvimento região. No município de Divino encontra-se uma
exceção, pois foram instalados conselhos gestores em suas APA’s, ao final do período abordado
pela sistematização, o que se constitui um processo de implantação em andamento;
- O recurso advindo do ICMS ecológico se, obrigatoriamente por lei, fosse revertido para o
desenvolvimento sustentável das comunidades do entorno, poderia contribuir com o desafio de
conciliar a conservação ambiental com bem-estar da população local;
- As organizações envolvidas com o processo de criação e implantação do PESB não priorizaram
a importância da criação de CODEMAS representativos e atuantes. Estes poderiam contribuir
43
com uma participação mais ativa dos municípios nas discussões sobre a gestão ambiental local e
regional;
- O processo de criação e implantação do PESB conseguiu ampliar direta e indiretamente o
debate sobre gestão ambiental para além da unidade de conservação, a partir da participação de
alguns atores em eventos em âmbito estadual e nacional e inserção dos STR’s e representantes de
comunidades rurais nesse debate. Entretanto, houve limitações, uma vez que a ampliação do
debate para o entorno ocorreu com pouca relação entre o parque e o mesmo. O parque discutia
internamente (para dentro) enquanto o entorno discutia externamente (para fora), ambos de
maneira isolada, de um modo geral. A questão das APA’s também foi um limitante na ampliação
do debate em nível regional.
Conclusões sem consenso: não tiveram.
4.2 Os conflitos:
A criação do PESB surgiu com algumas características potenciais para o surgimento de
conflitos, tais como:
- a proposta foi elaborada sem consulta pública prévia;
- os estudos técnicos foram pouco aprofundados e dados de modo isolado da realidade
local/regional;
- a realidade histórico-social na qual a população estava inserida não foi aprofundada nos
levantamentos preliminares;
- o projeto foi conduzido inicialmente sem o envolvimento da população local;
- oito municípios e diferentes organizações governamentais e da sociedade civil atuantes na
região estavam envolvidas diretamente, contribuindo para a existência de diferentes
conflitos de interesse;
- a área proposta abrangia região explorada por empresa siderúrgica multinacional;
- dentre outras;
Todas essas características contribuíram para que o processo de criação e implantação do
PESB decorresse em meio a conflitos de diferentes ordens: política, ideológica, social, ambiental,
econômica e cultural. O processo inicial de criação do PESB, nesse sentido, não difere do
histórico de criação e implantação de unidades de conservação no Brasil, cuja categoria
44
corresponde à Proteção Integral. Em geral, a condução desses processos têm causado efeitos
negativos devido à uma série de fatores que são desconsiderados no decorrer, tais como:
- A importância da consulta popular, ou seja, o processo é concebido de fora para dentro,
não parte de uma reflexão coletiva interna ao local;
- A exclusão das comunidades do entorno nos debates e espaços de decisão,
desconsiderando a importância da participação social e a capacidade de contribuição dessas
populações nas estratégias de conservação.
- Em muitos casos, o pouco ou nenhum conhecimento do órgão responsável pela criação e
implantação, sobre a realidade histórico-social das comunidades localizadas na área de
abrangência da unidade de conservação a ser criada;
- Aplicação de dispositivos de restrição e punição quanto ao uso dos recursos naturais e
serviços que, para as comunidades residentes da unidade ou do entorno, sempre estiveram
disponíveis sem, no entanto, a apresentação de alternativas para as demandas dessas populações;
- A carência de projetos que visem a promoção do desenvolvimento sustentável, de forma
autônoma, por parte das comunidades envolvidas;
- Dificuldades relacionadas à regularização fundiária como as possíveis desapropriações e a
morosidade das indenizações;
- A perda do vínculo da população com o lugar de origem quando desapropriada;
- Dentre outros.
Muitos desses conflitos estão associados à disputas de interesse e poder. Também existiram
conflitos relacionados à diferentes conceitos sobre áreas protegidas e sua inter-relação num
contexto de desenvolvimento sócio-ambiental de uma região.
Algumas conclusões referentes conflitos associados à experiência do PESB são descritas a
seguir:
Conclusões com consenso:
- Alguns dos principais desencadeadores de conflitos relacionados à experiência do PESB
(antes e depois da criação) foram:
45
ANTES DEPOIS - a possibilidade de desapropriações dos moradores/as, devido o critério da cota 1.000m; - falta de circulação e disponibilização de informações; - informações falsas e/ou distorcidas e especulações diversas; - as mobilizações da população do entorno motivadas por um certo “terrorismo”, gerado com a possibilidade de desapropriação.
- ausência de regularização fundiária; - limitações quanto ao uso dos recursos naturais e serviços, como as trilhas; - falta de circulação e disponibilização de informações; - informações falsas e/ou distorcidas e especulações diversas; - apropriação do lugar por pessoas de fora para a exploração do turismo; - a questão dos recursos advindos do ICMS ecológico, que não é revertido para o desenvolvimento do entorno;
- Houve conflitos de interesse entre as diferentes organizações durante o processo;
- Existe, de modo geral, uma desinformação sobre o que são as APA’s e sua importância no
contexto sócio-econômico e ambiental da região e isso, somado ao fato dessas áreas não terem
sido efetivamente implantadas, é responsável por gerar conflito entre as comunidades rurais do
entorno e o poder público municipal;
- A origem dos conflitos esteve e ainda está associada à pelo menos, duas correntes de
pensamento acerca do debate sobre áreas protegidas no Brasil, uma mais conservacionista e outra
mais sócio-ambientalista;
- Diferentes concepções de conservação e desenvolvimento entre os grupos foram responsáveis
por conflitos ao longo do processo;
- A existência dessas diferentes concepções de conservação e desenvolvimento constituiu-se
aspectos positivos e negativos para a experiência, uma vez que houve um aprendizado coletivo
baseado na complementaridade dos dois discursos, mas também a existência de conflitos
decorrentes dessas diferenças, respectivamente;
- As instituições governamentais, em geral, são mais conservadoras e fechadas e isso, muitas
vezes, as leva a tomar atitudes imperativas e a centralizar papéis e informações. A cultura
institucional do IEF-MG o levou a assumir tal postura perante as ações relacionadas ao PESB,
gerando uma série de dificuldades e impedimentos relacionados a fatores, tais como: o
comprometimento das comunidades rurais com conservação do PESB; a promoção da
participação social; o desenvolvimento sustentável do entorno; a imagem e respaldo do órgão
gestor; as relações de parcerias e articulações interinstitucionais; dentre outros;
46
- A postura assumida pelo órgão gestor na região também gerou uma série de conflitos. O papel
que o IEF-MG vinha desempenhando estava restrito à um órgão de fiscalização, mais punitivo
que educativo, refletindo ressentimentos entre a população. Essa postura também está associada à
falta de experiência ou mesmo de técnicos integrados à área social e à escassez de recursos
financeiros e humanos recorrente nos órgãos governamentais;
- Mesmo com muitas limitações inerentes a um órgão governamental, o IEF-MG esteve aberto ao
diálogo desde o início, o que diferencia esta experiência de tantas outras semelhantes.
- Quando a população é informada e participa cresce o comprometimento da mesma com a
conservação da área e, conseqüentemente, muitos conflitos associados são mitigados ou mesmo
eliminados.
Conclusões sem consenso:
- Os principais desencadeadores de conflitos depois da criação do PESB, estavam associados a
fatores, tais como:
- continuidade na implantação e gestão do PESB de forma centralizada pelo IEF-MG;
-falta de reconhecimento do papel do Conselho Consultivo do PESB por parte do IEF-MG;
- O IEF-MG desconsiderava a realidade histórico-social na qual as famílias do entorno
estavam inseridas.
4.3 A participação social:
Um dos eixos dessa sistematização é a participação social, tamanha é sua importância na
discussão sobre áreas protegidas e, em especial para efeitos dessa sistematização, no caso do
PESB. Como ponto de partida foram levantadas as seguintes hipóteses relacionadas ao eixo em
questão: i) o processo de criação e implantação do PESB foi participativo; ii) um processo
participativo na criação e implantação de unidades de conservação é mais eficaz para a
conservação dos recursos naturais e para a promoção do desenvolvimento sustentável do seu
entorno.
A reflexão sobre essas hipóteses pode gerar aprendizados importantes que visam contribuir
com o debate sobre áreas protegidas, especialmente as Unidades de Conservação de Proteção
Integral, e suas relações com populações localizadas no interior ou entorno das mesmas. Para
tanto, se faz necessário, preliminarmente, discorrer sobre o tema e definir um conceito para
participação social no contexto dessa sistematização como referência para a discussão.
47
O tema participação é algo muito abrangente e está relacionado à práticas coletivas que
podem se dar de maneiras diversas. Existem diferentes conceitos para esse termo e um mesmo
conceito pode ter inúmeras interpretações.
Essa discussão acerca da participação não é algo recente, existem inúmeros estudos
dedicados ao tema. Entretanto, no histórico de criação e implantação de Unidades de
Conservação no Brasil, especialmente aquelas inseridas no grupo Proteção Integral, caso do
PESB, a participação é um elemento novo. Na verdade, somente após o SNUC, em 2000, surge a
obrigatoriedade de consulta pública para a criação dessas áreas e a participação social na gestão
das mesmas, resultado de muitos fóruns de debate que se sucederam ao longo dos anos 90.
Na época da criação do PESB não havia muitas referências sobre processos participativos
relacionados às áreas protegidas no Brasil, portanto, a experiência foi cercada de erros e acertos.
Entretanto, participativo ou não para os envolvidos, a experiência inaugura um modelo inédito de
criação e implantação de unidades de conservação de proteção integral no país, uma vez que a
experiência antecede o próprio SNUC e não existe histórico semelhante em outras Unidades de
Conservação inseridas neste grupo, criadas no mesmo período.
Existem diferentes opiniões, entre os envolvidos, acerca do processo de criação e
implantação do PESB ter sido participativo ou não. Essa divergência dentro de um mesmo grupo
de entrevistados, decorre de diferentes conceitos de participação entre os atores e a vivência de
cada um no processo e externo a ele.
Para a maior parte dos envolvidos (~61%) o processo foi participativo por motivos, tais
como: conseguir envolver e comprometer vários segmentos, incluindo moradores/as do entorno;
criar espaços democráticos de debate e; socializar as informações. Para um outro grupo (~17%) o
processo foi participativo em termos, uma vez que se deu em momentos pontuais e não em todas
as fases do processo. E para alguns (~17%) o processo não foi participativo, pelos seguintes
motivos: o fato não envolver todos os segmentos, caracterizando um movimento entre
organizações com interesses afins; por ser visto como um movimento externo ao processo de
criação do PESB; e pela dificuldade, em muitos momentos, de estabelecer diálogo com o Estado.
Este era feito sempre sobre pressão popular. Houve ainda um entrevistado que não se manifestou
a respeito (~5%).
48
As APA’s criadas no entorno do PESB possuem um histórico negativo de modo geral, uma
vez que foram criadas em função de interesses políticos e econômicos e não vêm cumprindo com
os seus objetivos. A participação social nesse contexto também foi analisada.
Para efeito desta sistematização o conceito de participação adotado será baseado nos
princípios e ensinamentos de Paulo Freire, portanto participar é: exercer o direito de fazer parte
de uma determinada ação, a partir da reflexão e tomada de consciência crítica de sua realidade,
de modo a contribuir com a transformação da mesma, exercendo sua cidadania enquanto sujeito
do processo. A participação nesse contexto deve ser uma ação indissociável de processos
contínuos de formação e deve ser pensada como um exercício de cidadania e de democracia.
Ocorre ainda, em função da construção de uma experiência e não da dinâmica, disponibilidade ou
predisposição dos atores locais (pessoas/organizações locais ou atuantes no local).
A participação tratada aqui, é vista como um tipo de ação social e, portanto, pode ser
orientada por diferentes motivos e/ou interesses de cada grupo: afetivo, econômico, político,
social, cultural, ambiental, religioso etc.5
Sabe-se que nenhum processo participativo ocorrerá para todos os seus participantes num
mesmo nível e intensidade no decorrer de uma determinada ação. Tendo em vista essa
característica, comum a esses processos, a sistematização, num esforço de identificar os tipos de
participação que ocorreram na experiência de criação e implantação do PESB, utilizou a
classificação de PRETTY e PIMBERT (2000) para caracterizar o envolvimento dos atores em
períodos distintos. A mesma define uma tipologia cujos componentes orientam a ação
participativa, como mostra o Quadro 3 a seguir:
5 Para efeitos dessa sistematização participação social terá referência à participação dos atores sociais no contexto da experiência e estes, por sua vez, estão divididos em atores sociais das organizações não-governamentais e os autores sociais locais.
49
Quadro 3 – Tipos de participação e seus respectivos componentes: Tipos de Participação Componentes de cada tipo
Participação passiva - as pessoas participam após aviso do que está para acontecer ou que já aconteceu; - a informação é unilateral através de uma administração ou projeto; - a informação que é socializada pertence apenas aos profissionais externos; - as reações dos participantes não são consideradas.
Participação como extração de informação
- a participação se dá através de questionários ou sistema similar de coleta de dados; - os participantes não têm poder e/ou oportunidade de influenciar os procedimentos; - os dados da pesquisa ou projeto não são compartilhados;
Participação por consulta - as pessoas participam sendo consultadas; - agentes externos definem os problemas e as soluções a partir do que foi levantado e podem modificá-lo de acordo com a reação dos participantes; - agentes externos não são obrigados a considerar a visão dos participantes; - não há compartilhamento na tomada de decisão.
Participação por incentivos materiais
- as pessoas participam oferecendo ou recebendo recursos materiais, financeiros etc.; - a participação ocorre geralmente até a existência dos recursos.
Participação funcional - as pessoas formam grupos para coincidir objetivos predeterminados relacionados ao projeto; - o envolvimento tende a acontecer depois que grandes decisões já foram tomadas; - as instituições tendem a ser dependentes de incentivadores externos, mas podem tornar-se independentes.
Participação interativa - as pessoas participam em análises conjuntas que conduzem a planos de ação e à formação de novos grupos locais ou no fortalecimento dos já existentes; - tende a envolver metodologia interdisciplinar que busca múltiplas perspectivas e faz uso de aprendizado sistemático e estruturado; - os grupos assumem o controle das decisões e os participantes adquirem o interesse em manter as estruturas e a prática.
Automobilização - as pessoas participam tomando a iniciativa para tomadas de decisão, independente de instituições externas; - pode ou não existir conflitos relacionados à distribuição não eqüitativa de recursos e poder.
Fonte: adaptado de PRETTY e PIMBERT (2000).
A sistematização chegou à algumas conclusões nesse sentido, buscando analisar não só a
participação social de maneira geral, mas também, como se insere ou não nesse contexto, o
equilíbrio de gênero e geração. As conclusões descritas à seguir são fruto de uma reflexão sobre
os dados levantados e de uma análise comparativa entre a experiência do PESB e outras Unidades
de Conservação de Proteção Integral - categoria Parque - criadas no Brasil no mesmo período.
Conclusões com consenso:
- No período da elaboração da proposta original houve consulta popular, através de abaixo-
assinado, portanto, a experiência de criação do PESB foi participativa neste momento antes da
criação. Entretanto, não houve muito alcance da população do entorno;
50
- O DRP de Araponga, realizado pelo CTA-ZM e STR local, foi o ponto de partida para a
participação social no processo, pois motivou a mobilização e envolvimento da sociedade durante
a criação do PESB, especialmente a população do entorno. A partir desse momento, outros atores
sociais e institucionais passaram a se envolver diretamente com a criação do PESB, junto ao IEF-
MG, CMCN e DEF/UFV, tais como: outros STR’s da região; alguns professores/as ligados ao
DPS/UFV e DPE/UFV; CPT; FETAEMG; A;R. e; CECO (FAFILE/UEMG);
- O processo de criação e implantação do PESB, devido à sua dinâmica, com muita
descontinuidade, obteve avanços pouco significativos, de modo geral, na promoção de uma
cultura de participação ativa e qualificada entre os/as moradores/as do entorno. Em alguns
momentos a participação dos/as moradores/as foi passiva;
- O processo incorporou algumas organizações que mantinham algum tipo de interesse no
mesmo;
- Alguns dos principais motivos pelos quais algumas organizações se retiraram do processo
foram:
-concepções diferentes dos demais em relação ao processo e/ou;
-a cultura institucional mais conservadora e/ou;
-a dinâmica interna das organizações dificultando a permanência e continuidade dos
seus representantes;
- O processo gerou, também, um sentimento de exclusão que pode ser localizado ou não, o qual
reflete que a saída de uma organização ou de um ator num processo como esse, pode ser
motivada por diversos fatores. Estes merecem atenção, pois podem ser indicadores importantes
dos diferentes desafios e limites colocados para o grupo de atores envolvidos na construção de
um processo participativo. - O processo pode ter contribuído para elevar a auto-estima dos envolvidos/as, especialmente
moradores/as do entorno, a partir do envolvimento destes/as nos espaços de debate criados;
- O processo também pode ter contribuído para reduzir a auto-estima dos moradores/as do
entorno nos espaços de debate criados, nos quais predominou a discussão técnica não priorizando
a construção de uma metodologia que permitisse a participação efetiva dos/as agricultores/as e
quando o processo, em alguns momentos, desconsiderou ou não valorizou o conhecimento
popular;
51
- Grande parte dos fatores que contribuíram para dificultar ou mesmo impedir a participação
social, se deu de modo geral, de forma despropositada, decorrente da falta de experiência e da
cultura institucional das organizações;
- Alguns dos principais fatores que contribuíram para dificultar ou impedir a participação social
antes, durante e depois da criação do PESB são apresentados no Quadro 4:
Quadro 4 - Principais fatores que contribuíram para dificultar ou impedir a participação social antes, durante e depois da criação do PESB.
ANTES DURANTE DEPOIS
- a atuação e postura do IEF-MG mais rígida neste momento; - a falta de circulação de informações; - a distância e o isolamento das comunidades dificultando a circulação de informação e a comunicação; -a dificuldade de organização e de prática de participação das comunidades do entorno; -a falta de capacitação dos/as envolvidos/as, especialmente moradores/as; -a dificuldade de deslocamento de algumas organizações para as reuniões e encontros; -as especulações sobre a criação e o terrorismo em torno das desapropriações; -a falta de compreensão sobre a importância do processo; -a dificuldade de aproximação e o não envolvimento de algumas organizações com o entorno; - a dificuldade dos moradores/as e a ansiedade do CTA-ZM levando este a tomar frente, em alguns momentos e, conseqüentemente, restringindo a participação.
- a estrutura das reuniões e discussões técnicas, algumas vezes inibindo a participação dos moradores/as do entorno; - a falta de circulação de informações; - a distância e o isolamento das comunidades dificultando a circulação de informação e a comunicação; - a ausência de clareza, entre os atores envolvidos a respeito do papel do outro no processo; -a dificuldade de organização e de prática de participação das comunidades do entorno; -a falta de capacitação dos/as envolvidos/as, especialmente moradores/as; -a desconfiança das pessoas sobre o processo, pois muitas acreditavam que não adiantava participar porque era tudo politicamente manipulado; -os interesses divergentes nas próprias comunidades, pois alguns concordavam em vender as áreas para o Estado outros não; -a falta de pessoal e de infra-estrutura de algumas organizações; -as disputas geradas por conflitos de interesse; -a falta de compreensão sobre a importância do processo; -a falta de disponibilidade (tempo, recursos humanos e financeiros) para participar. -a dificuldade de aproximação e o não envolvimento de algumas organizações com o entorno; - a dificuldade dos moradores/as e a ansiedade do CTA-ZM levando
-a estrutura das reuniões e discussões técnicas, algumas vezes inibindo a participação dos moradores/as do entorno; - falta de circulação de informações; -a distância e o isolamento das comunidades dificultando a circulação de informação e a comunicação; -a falta de capacitação dos/as envolvidos/as, especialmente moradores/as; -a dificuldade de deslocamento de algumas organizações para as reuniões e encontros; -a dinâmica do processo orientada pela dinâmica institucional do IEF-MG, incorrendo em muitos momentos de paralisação, reduzindo o interesse de participação das pessoas; - as diferentes dinâmicas internas das organizações envolvidas; -a falta de pessoal e de infra-estrutura de algumas organizações; -as disputas geradas por conflitos de interesse; -a falta de compreensão sobre a importância do processo; -a falta de disponibilidade (tempo, recursos humanos e financeiros) para participar. -a dificuldade de aproximação e o não envolvimento de algumas organizações com o entorno;
52
este a tomar frente, em alguns momentos e, conseqüentemente, restringindo a participação.
- Existiram limitações acerca da participação, de modo geral (social e institucional), no processo
de criação e implantação do PESB, que são comumente identificadas nos processos
participativos, tais como:
-envolvimento de intensidade flutuante;
-oscilação entre participantes;
-grande participação por parte de alguns e nenhuma por parte de outros;
-diferentes níveis de participação e esta nem sempre qualificada;
-ausência de segmentos considerados importantes para o processo;
-nivelamento da população local simplificando suas diferenças, étnicas, de gênero,
classe, geração etc.
- Com base nos graus de mobilização, autonomia (nível de conhecimento, recursos humanos e
financeiros), e iniciativa das pessoas envolvidas, pode-se identificar diferentes tipos de
participação social em fases distintas, como descreve o Quadro 5 a seguir:
53
Quadro 5- Os tipos de participação identificados durante a experiência, de acordo com as fases e períodos distintos.
Fases/Períodos Tipos de Participação Observações
- Projeto original (1980);
- Participação por consulta.
- participação de uma amostra da população por meio de abaixo-assinado;
- Lei Autorizativa (1988);
- - baseada no projeto original; não houve consulta pública mais abrangente;
Antes da criação
- Estudos preliminares do IEF-MG (1993).
- Participação passiva e; funcional.
- participação passiva de muitos moradores/as x participação ativa dos técnicos e lideranças.
- DRP Araponga e desdobramentos (1993);
- Participação funcional; interativa e automobilização.
- participação ativa das organizações ligadas ao movimento social; inserção de novos atores e fortalecimento do grupo de atores envolvidos.
Durante a criação
- Reuniões; levantamento sócio-econômico (1994 – 1996)
- Participação funcional, interativa e automobilização.
- participação ativa de representantes de moradores/as e participação ativa de técnicos e lideranças.
- Simpósio (2000); - Participação funcional e interativa;
- participantes de diversos segmentos entre organizações governamentais (órgãos ambientais, instituições de ensino e pesquisa, órgãos de assistência técnica e extensão rural) e da sociedade civil (ong’s, STR’s, agências de cooperação internacionais, representantes de comunidades rurais do entorno); participação de representantes de moradores/as foi de passiva à ativa; participação ativa de técnicos.
Depois da criação
- Formação e instalação do Conselho Consultivo (2004...).
- Participação funcional;
- mobilização das organizações para a formação do conselho consultivo;
- Os diferentes entendimentos sobre participação orientam a opinião dos envolvidos sobre o
processo ter sido ou não participativo;
- Numa experiência com a do PESB, envolvendo diretamente 8 municípios confrontantes com o
Parque, não existe a possibilidade de uma participação efetiva de 100% da população e/ou de
todos os segmentos atuantes na região. Da mesma forma, a participação não será no mesmo nível
e nem na mesma intensidade para todos que se envolverem. Sempre haverá aqueles mais
disponíveis (tempo, infra-estrutura, recursos humano e financeiro) mais dispostos ou mais
interessados em participar;
- A sistematização conclui que: a experiência de criação e implantação do PESB, ainda que com
limitações, foi participativa de modo geral, tendo em vista o histórico da participação social e
54
quando comparada com outros processos de criação e implantação de unidades de conservação de
proteção integral no Brasil (particularmente a categoria Parque), criadas no mesmo período.
4.3.1 Gênero e geração:
- O debate sobre equilíbrio de gênero e geração passou desapercebido no processo antes e durante
a criação do PESB. A cultura institucional das organizações envolvidas e a falta de experiência
(técnicas, metodologias e estratégias) relacionada à questão de gênero e geração contribuíram
para que não houvesse equilíbrio na participação de homens, mulheres e jovens;
-Fatores de ordem cultural são os principais responsáveis por não haver um histórico de
participação de mulheres nas organizações envolvidas;
- Os temas tratados pelo processo de criação e implantação do PESB como, a questão fundiária
(antes da criação), a demarcação dos limites físicos (durante a criação) e a gestão (depois da
criação) podem ter contribuído para que não houvesse motivação à participação ou uma
participação passiva quando havia, entre as mulheres. Por uma questão cultural, são assuntos
tratados comumente pelo homem, tido como chefe da família;
- CTA-ZM contribuiu para inserir a discussão sobre gênero e geração e para a inserção de
mulheres e jovens, moradores/as do entorno, no processo depois da criação do parque,
correspondente ao final do período estabelecido pela sistematização. A contribuição destes/as foi
pouco significativa nos espaços institucionais, mas muito relevante nos espaços comunitários;
Conclusões sem consenso:
- Em alguns momentos, especialmente em 2000 (após o Simpósio) e entre 2003-2004 (durante a
criação do Conselho Consultivo e início da sua gestão) a atuação e dinâmica institucional do IEF-
MG contribuíram para a fragmentação do grupo de atores envolvidos e, conseqüentemente, para a
fragilização da construção de um processo participativo. Houve ausência de liderança no
encaminhamento das ações demandadas pelo Simpósio e, posteriormente, tomada de decisões
sem o conhecimento ou consulta ao Conselho já criado e atuante;
- Durante a formação e instalação do Conselho Consultivo do PESB (2004), identificou-se os
tipos de participação passiva e por consulta. A primeira formação para o conselho gestor foi
encaminhada e comunicada, pelo IEF-MG, ao grupo de atores envolvidos. Posteriormente, depois
55
de instituído e com o conselho já atuando, os membros não interferiam na tomada de decisão e,
muitas vezes eram consultados, apenas depois de definidas as ações pelo órgão gestor;
- Algumas organizações ou atores que poderiam ter contribuído com o processo, foram excluídos
do mesmo.
4.4 As estratégias utilizadas: No decorrer do processo de criação e implantação do PESB, percebe-se a existência de
estratégias, colocadas em prática pelas organizações envolvidas, para facilitar ou promover a
participação social. Por outro lado, também existiram fatores que determinaram a exclusão ou
saída de alguns segmentos.
A sistematização investigou, junto aos atores envolvidos, quais foram as principais
estratégias responsáveis pela inclusão e conseqüente participação social, bem como se existiram
estratégias ou mesmo fatores que resultaram na exclusão/saída ou que dificultaram a participação
social.
Estratégias relacionadas à legislação e às propostas visando adequar a produção do
entorno com os objetivos de conservação também foram analisadas.
Das organizações envolvidas, poucas conseguiram atuar no sentido de propor estratégias e
desenvolver ações concretas para adequar a produção do entorno com a conservação da região.
Segue abaixo, algumas conclusões destacadas sobre as estratégias utilizadas na
experiência de criação e implantação do PESB diante do que foi anteriormente explanado:
Conclusões com consenso:
4.4.1 Participação:
- A mobilização popular tem sido desde a criação do PESB, uma estratégia importante para a
inclusão dos/as moradores/as no debate. A pressão popular com esse fim, também foi eficaz em
alguns momentos. Entretanto, algumas estratégias de pressão popular, utilizadas pelas
organizações ligadas aos movimentos sociais para promover a participação social, algumas vezes
contribuíram para um ambiente de tensão entre a população local e o órgão gestor;
- A liderança do CTA-ZM na promoção da participação social no processo contribuiu, de certa
forma, para uma acomodação das organizações e para o surgimento de novos protagonistas no
decorrer do mesmo;
56
- O IEF-MG, ainda que sob forte pressão exercida pelas organizações sociais, inaugurou uma
atitude inédita no histórico de criação de unidades de conservação de proteção integral no Brasil,
ao ouvir e discutir os questionamentos e reivindicações de organizações e moradores/as
localizados ou atuantes na área em questão;
- A sistematização conclui que: um processo participativo na criação e implantação de unidades
de conservação é mais eficaz para a conservação dos recursos naturais e para a promoção do
desenvolvimento sustentável do seu entorno. A consolidação da criação do PESB sem prejuízos
para a conservação ambiental e resguardando o direito dos moradores/as do entorno à permanecer
em suas propriedades e a comparação com outros processos de criação e implantação de unidades
de conservação de proteção intergral no Brasil (particularmente a categoria Parque), no mesmo
período, nos quais não houve participação social, confirmam a conclusão.
- As organizações envolvidas não conseguiram elaborar, conjuntamente, estratégias para
reintegrar ao grupo, aquelas que se afastaram e/ou se sentiram excluídas e que poderiam ter
contribuído com o processo. Por outro lado, houve algumas estratégias isoladas nesse sentido;
- O debate incipiente e a falta de experiência das organizações contribuíram para que não
houvesse estratégias específicas para a inclusão de mulheres e jovens antes e durante o processo.
Depois da criação do PESB, entre 2002 e 2004 houve pequeno avanço no debate sobre gênero.
Entretanto, nenhuma organização avançou no sentido de propor estratégias específicas para a
participação de jovens em nenhuma fase do processo;
- Algumas das principais estratégias que favoreceram ou facilitaram a participação social foram:
-os diagnósticos realizados;
-os fóruns de discussão estabelecidos no decorrer do processo: reuniões; eventos
nacionais, estaduais e regionais e; encontros comunitários;
-o apoio do CTA-ZM tanto em assessoria, quanto metodológico e logístico aos STR’s e
moradores/as;
-a pressão sobre o IEF-MG exercida principalmente pelos STR’s e CTA-ZM;
-a contribuição da mídia e de alguns professores/as do DPE e DPS da UFV e
pesquisador da FAFILE/UEMG favorecendo a divulgação e sensibilização;
-a identificação dos limites físicos do PESB envolvendo moradores e favorecendo uma
aproximação destes com a unidade de conservação e com o IEF-MG;
57
-as visitas de conscientização e sensibilização de agricultores/as realizadas pelo IEF-
MG, CTA-ZM e STR’s no entorno;
- o processo de construção das propostas agroecológicas realizado pelo CTA-ZM e
parceiros no entorno do PESB e inserção da produção sustentável sob os princípios da
agroecologia no debate conservacionista;
-as discussões entre a população, IEF-MG e Polícia Florestal favorecendo uma certa
aproximação, especialmente com os agricultores/as, pois as duas instituições são vistas
apenas como órgãos fiscalizadores pelas comunidades rurais. Muitos moradores/as
ainda confundem as duas instituições.
-Os diversos espaços criados no decorrer do processo, contribuíram para favorecer e democratizar
o debate;
- O processo de mobilização social desencadeado trouxe contribuições importantes para garantir
a própria criação da unidade de conservação;
- As estratégias, ora favorecendo, ora dificultando a democratização do debate, bem como a
participação social, foram sendo construídas ao longo do processo, fruto do aprendizado coletivo;
4.4.2 Adequação da produção do entorno com as estratégias de conservação
- A proposição de criação das APA’s, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento
sustentável da área de entorno e funcionar como zona tampão do parque, foi a primeira estratégia
pensada para adequar os objetivos da conservação com a produção do entorno, durante a criação.
Entretanto, a criação das APA’s (depois da criação do PESB) não cumpriu com a sua finalidade
porque nunca foram efetivamente implantadas;
- Poucas organizações possuíam estratégias concretas para adequar os objetivos da conservação
com a produção do entorno, por não terem experiência ou por não terem um enfoque de atuação
voltada para esse fim. Alguns destaques foram os projetos desenvolvidos pelo CTA-ZM, STR’s e
alguns professores do DPS/UFV e DPE/UFV durante todo o processo e o IEF-MG através do
PROMATA, ao final do período;
- As estratégias de proteção da Mata Atlântica protagonizadas pelo IEF-MG na região foram, de
modo geral, concentradas no PESB antes e durante o processo. Não houve uma visão sistêmica
por parte do órgão gestor de uma estratégia voltada para a região (PESB e entorno). Depois da
criação (2004), com o PROMATA, surge uma iniciativa nesse sentido;
58
- A estratégia de criação do PESB para garantir a conservação de áreas relevantes à
biodiversidade, na região, foi necessária e eficaz. Entretanto, a conservação ambiental não deve
ser restrita apenas à área do parque;
- As ações desencadeadas pelo IEF-MG e demais organizações envolvidas para adequar os
objetivos da conservação com a produção do entorno foram mais pontuais e isoladas não estando
articuladas com políticas públicas locais ou com as estratégias de desenvolvimento sustentável já
existentes no entorno. Ao final do período houve uma tentativa de aproximação entre o
PROMATA/IEF-MG, alguns STR’s do entorno e o CTA-ZM;
- O turismo, tanto rural quanto ecológico, de forma sustentável, configura-se como uma das
principais estratégias para conciliar a conservação ambiental com o desenvolvimento do entorno.
A sustentabilidade nesse sentido deve estar pautada em alguns princípios, tais como; a
agroecologia; a autonomia, apropriação e bem-estar dos moradores/as locais; a geração e
diversificação de emprego e renda; a ocupação de mão-de-obra local; a valorização da cultura
regional e; a conservação dos recursos naturais;
- A agricultura agroecológica e práticas produtivas mais sustentáveis como os SAF’s, integrados
ao conjunto da propriedade rural, constituem-se estratégias eficazes para adequar a conservação
ambiental com a produção do entorno, tendo em vista a realidade sócio-econômica e ambiental da
região;
Conclusões sem consenso:
- Não existiram estratégias contrárias à participação social ou elaboradas propositadamente para
dificultá-la, mas sim fatores que contribuíram para tal;
4.5 As articulações interinstitucionais:
As articulações interinstitucionais pré-existentes ou geradas a partir e ao longo do processo
de criação e implantação do PESB foram responsáveis por promover o próprio processo. Essas
articulações, ora se configurando com mais sólidas e permanentes, ora como mais frágeis e
pontuais, foram fundamentais para desencadear o processo de mobilização antes da criação do
PESB que, por sua vez, resultou na participação social no decorrer da criação e implantação do
parque.
As relações que foram se estabelecendo ao longo do processo, muitas vezes foram
responsáveis, também, por gerar uma série de conflitos, especialmente de interesse, entre as
59
diferentes organizações. A forma como estas se posicionam, o papel que assumem dentro de um
processo desse tipo e como essa atuação é vista pelo outro determinam, consolidam ou segregam
essas relações.
Acredita-se, também, que muitos destes conflitos sejam frutos de diferentes visões;
interesses; culturas institucionais e; concepções orientando processos, estratégias, ações e
metodologias.
Por outro lado, as contradições existentes entre as instituições envolvidas foram importantes
para amadurecer o processo. A experiência do PESB contribuiu para criar e fortalecer uma
articulação entre diferentes organizações governamentais e da sociedade civil, com diferentes
visões, interesses e práticas, mas atuando em função de um objeto comum, caracterizado pelo
PESB e seu entorno.
Tendo em vista esses aspectos e o que foi analisado pela presente sistematização, seguem
algumas conclusões a respeito desse tópico:
Conclusões com consenso:
- O papel que cada organização assume dentro do processo está diretamente associado ao
histórico, perfil da mesma e seu poder de influência, sendo que esta atuação, muitas vezes, está
associada à posições conservacionistas ou sócio-ambientalistas;
- As organizações envolvidas, tanto as que se inserem num contexto mais conservacionista
quanto as que se inserem num contexto mais sócio-ambientalista, foram influenciadas pelo
movimento ambientalista. O contrário também ocorreu, pois tais organizações também
influenciaram o mesmo;
- As articulações entre as organizações ocorridas antes, durante e depois da criação do PESB
foram caracterizadas pela existência de grupos distintos, influenciados por diferentes correntes de
pensamento (conservacionista e sócio-ambientalista). Tais grupos, foram se agregando por
afinidades, inter-relacionando uns com os outros e estiveram ligados ao processo de preservação
e sustentabilidade na região da Serra do Brigadeiro, a partir de diferentes concepções sobre
conservação e desenvolvimento (Figura 2).
60
Figura 2 - Diagrama ilustrando a articulação interinstitucional no processo de criação e implantação do PESB.
- As articulações interinstitucionais foram responsáveis por promover a participação, tanto social
quanto institucional, em diversos momentos e também por gerar uma série de conflitos entre as
diferentes organizações, especialmente conflitos de interesse;
- As motivações que orientam a entrada, permanência ou saída de uma determinada organização
num processo como esse, estão diretamente relacionadas aos interesses; focos de atuação;
oportunidade e/ou; disponibilidade (tempo, recursos humanos e financeiros) de cada organização;
- A forma como as organizações se posicionaram, o papel que elas assumiram dentro do processo
e como essa atuação foi vista pelo outro podem ter determinado, consolidado ou segregado
relações;
Processo de Criação e
implantação do PESB
CTA
STR’s
DPS; DPE UFV
MORADORES
IEF-MG
UFV
DEF; DBA; DBV
CMCN
FAFILE/UEMG
Outros atores atuando de maneira periférica, sem importância/influência direta no processo para o período: Prefeituras do entorno; Emater; outras ONG’s da região (Amigos de Iracambi e Bioproteção); alguns STR’s (Sericita, Pedra Bonita e Ervália ).
* FT; AR = FETAEMG - Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado de Minas Gerais; Associação Regional do Trabalhadores Rurais.
CECO
CEB’S; CPT
IGA ENGEVIX
*FT; AR
c o n s e r v a c i o n i s a
s ó c io - a m b i e n t a l.
61
- As contradições entre as instituições envolvidas foram importantes para amadurecer o processo;
- As articulações interinstitucionais que se deram a partir da experiência do PESB avançaram
para além da mesma, sendo, atualmente, responsável por muitos projetos e ações que acontecem
na região.
Conclusões sem consenso: não tiveram.
4.6 Os impactos da criação e implantação do PESB:
O projeto original de criação do parque, tal como concebido, se tivesse sido implantado na
cota 1.000m e conduzido sem discussão com a população, teria causado um impacto negativo de
proporções imensuráveis, com algumas conseqüências, tais como:
-a desapropriação de cerca de 400 (COUTO e DIETZ, 1980) a 700 famílias (CTA-ZM,
1997);
-o êxodo rural para as periferias das grandes cidades;
-a revolta da população local com rebatimentos para a área do parque, principalmente com
incêndios criminosos;
-o risco de vida tanto para as populações, quanto para técnicos do IEF-MG;
-a invasão de terras adjacentes;
-a fome assolando famílias inteiras por não terem onde produzir;
-a paralisação da produção de alimentos no meio rural;
-as áreas urbanas sem abastecimento de alimentos;
-o aumento de violência nas áreas urbanas;
-a ocupação de favelas nos centros mais próximos;
-o desolamento das famílias por não saberem para onde ir ou o que fazer;
-a perda do vínculo familiar com o lugar de origem;
-a erosão cultural na região;
-a degradação ambiental de forma generalizada na região;
- dentre outros.
Felizmente o projeto original culminou numa proposta mais coerente com a realidade
regional, garantindo a criação do PESB, sem danos para a preservação ambiental ou para a
população local. Entretanto, o processo de criação e implantação do PESB foi responsável por
62
causar impactos tanto positivos quanto negativos na vida dos moradores/as do seu entorno. Tais
impactos refletem, atualmente, uma relação que precisa ser analisada entre as comunidades rurais
ali localizadas e a unidade de conservação em questão.
Os impactos gerados a partir do processo ocorreram tanto sobre a conservação da
biodiversidade na região, quanto sobre a vida das populações. É reconhecida a importância do
parque na redução de impactos negativos decorrentes das atividades antrópicas, especialmente a
exploração dos recursos naturais sem políticas adequadas de manejo que primem pela
sustentabilidade da área em questão.
A atuação da Belgo-Mineira, por exemplo, é vista como a principal responsável por
mudanças nas formas de produção e na relação do/a agricultora/o com a terra que abandonou suas
propriedades e o cultivo de subsistência partindo para a extração de madeira. Essa exploração da
empresa na região gerou degradação ambiental, desemprego e dependência econômica.
A criação do PESB gerou, entre outros, impactos de ordem sócio-econômica na vida da
população local. O parque à medida que trouxe uma série de benefícios à conservação ambiental
com reflexos na vida dos moradores/as, também impôs uma nova forma de uso e ocupação do
solo, com impactos na organização produtiva da região. Muitas propriedades tiveram suas áreas
produtivas reduzidas por estarem dentro dos limites do PESB; o uso dos recursos naturais foi
limitado e colocou os moradores/as em situação ilegal quando realizado na área da unidade de
conservação. Esses fatores, somados a outras variáveis tais como: a atuação da Belgo-Mineira na
região; a minifundização; alterações climáticas ao longo dos anos; o histórico de uso e ocupação
do solo da região; oscilações do mercado; dentre outros, foram responsáveis por alterar a forma
como agricultores/as vêm produzindo no entorno do PESB.
No que tange a legislação, houve contribuições relevantes para o debate local/regional,
estadual e nacional a partir da experiência do PESB e do conjunto de experiências que estavam
acontecendo no entorno do mesmo.
Por ser inédito no Brasil o caso do PESB inaugurava, naquele momento, uma discussão
sobre processos participativos na criação, implantação e gestão de unidades de conservação.
Foram vários os debates, nos quais algumas organizações tiveram a oportunidade de apresentar a
experiência local/regional, tendo esta se tornado referência nesses espaços.
No âmbito local/regional o evento mais significativo foi o Simpósio intitulado “Parque
Estadual da Serra do Brigadeiro e entorno: contribuições para elaboração do plano de manejo
63
integrado e participativo”, ocorrido em 2000. O evento, realizado pelo IEF-MG, CTA-ZM e UFV
inaugurou uma discussão sobre a gestão participativa do PESB, reunindo um público amplo e
diversificado, tais como: moradores/as do entorno; técnicos/as; pesquisadores/as; organizações
governamentais e não-governamentais; instituições de ensino e estudantes.
Na esfera estadual ocorreram debates junto ao IEF-MG, com contribuições para a
reformulação da Lei Estadual de Florestas (n.º 10.561/91) no que diz respeito à recuperação de
Áreas de Preservação Permanente (APP’s) e Reservas Legais (RL’s) com Sistemas Agroflorestais
(SAF’s). A experiência do PESB também foi levada para vários debates em nível nacional,
incluindo as discussões que subsidiaram a elaboração do SNUC.
A sistematização ressalta algumas conclusões, a seguir, de acordo com o que foi analisado:
Conclusões com consenso:
- O processo contribuiu para um amadurecimento geral entre as organizações e comunidades
rurais envolvidas na sistematização, acerca da importância das áreas protegidas. Atualmente
existe um razoável consenso entre as organizações e comunidades rurais sobre a importância das
unidades de conservação e do papel que estas cumprem na preservação, conservação e
manutenção da biodiversidade; no uso sustentável dos recursos e; no desenvolvimento regional;
- Os debates acerca da criação de unidades de conservação de proteção integral no Brasil,
especialmente os que antecederam e subsidiaram a elaboração do SNUC, impactaram
diretamente o processo local/regional na época da criação do PESB. Os principais impactos
diretos desses debates foram as contribuições nas discussões sobre:
- manejo e uso sustentável dos recursos naturais;
- a conservação ambiental tratada de forma integrada com o desenvolvimento
sustentável;
- a participação social nas estratégias de conservação ambiental;
- a valorização da cultura e do conhecimento das populações locais sobre a diversidade
biológica e manejo tradicional dessas áreas;
- dentre outros.
- O processo local, por ser inédito, contribuiu para o debate nacional acerca do papel das
populações residentes das unidades de conservação ou moradoras do seu entorno, na conservação
dos recursos naturais nessas áreas. As principais contribuições diretas foram relacionadas
principalmente à:
64
- importância de um processo de mobilização popular e de uma organização social pré-
existente, que potencialize a participação social;
- importância da participação da população precedendo a criação das unidades de
conservação e na gestão das mesmas e que esta seja exercida de forma integrada com o
entorno;
- o envolvimento da população em todo o processo refletindo na garantia de criação e
maior conservação da área;
- as propostas agroecológicas conciliando a conservação com desenvolvimento
sustentável (Ex. SAF’s).
- O parque, em sua institucionalidade, significa um novo ator, um elemento novo para as
comunidades rurais localizadas na Serra do Brigadeiro. Desse modo, o PESB vem se integrando
aos poucos à vida existente naquela realidade local;
- Com a criação do PESB, configurou-se uma sobreposição de territórios geográficos, na qual o
parque, enquanto uma área institucional (unidade = PESB), se insere num contexto mais amplo
de uma região (pluralidade = Serra do Brigadeiro). Essa sobreposição implica, muitas vezes,
numa visão de conservação polarizada e não sistêmica;
- A relação entre PESB e entorno oscilou entre momentos de tensão, integração, cooperação e
distanciamento durante o processo de criação e implantação do PESB;
- A relação parque e entorno foi amadurecendo gradativamente ao longo do processo a visão das
comunidades sobre o uso dos recursos nas três fases, de modo geral:
-antes da criação: menor conscientização; uso dos recursos naturais de forma
despreocupada com a sustentabilidade em longo prazo e; maior liberdade pelo fato de não
existir o PESB restringindo o uso dos recursos e exigindo maior fiscalização.
-durante a criação: conflitos associados ao uso dos recursos naturais e serviços advindos do
parque; restrição ao uso dos recursos naturais e serviços racionalizando a relação entre
moradores/as e a natureza.
-depois da criação: maior conscientização; medo da legislação imposta pela criação do
PESB; uso dos recursos naturais de forma mais preocupada com a sustentabilidade em
longo prazo.
- O desejo de conservação efetiva do meio ambiente, por parte das organizações e comunidades
envolvidas na sistematização é consenso, não se restringindo à área do parque;
65
- Há um amadurecimento entre as organizações no que tange ao reconhecimento relativo à
necessidade de conservação paralela à necessidade de desenvolvimento, de forma sustentável, das
populações do entorno;
- Surge pós-criação uma complementação dos discursos conservacionista e sócio-ambientalista
entre as organizações envolvidas na experiência do PESB;
- O sonho e perspectiva de futuro em relação ao PESB advindos das comunidades rurais do
entorno, especialmente as mais isoladas e próximas aos limites físicos do parque, estão
igualmente associados ao desejo de conservação ambiental em consonância ao desenvolvimento
rural, mas a prioridade é a demanda por melhoria na qualidade de vida de maneira geral;
- A atuação da Belgo-Mineira na região, antes da criação do PESB, enfatizou uma cultura de
exploração (madeireira e humana), subserviência e assistencialismo herdada da época da
colonização da região, com graves conseqüências, tais como: a miséria; a prostituição; a
exploração sexual e; a degradação dos valores tradicionais. Essa cultura ainda agrava uma
problemática que se estende ao parque, no que tange à grande expectativa dessas comunidades
rurais de que este corresponda, suprindo todas as demandas por infra-estrutura e serviços básicos.
A exploração madeireira pela Belgo-Mineira foi a maior responsável pela degradação ambiental
da região antes da criação do PESB e até os dias atuais;
- Por outro lado, em decorrência dessa subordinação causada por vários fatores históricos,
surgiram grupos de resistência à mesma na região.
- Em decorrência dessa carência de apoio, projetos, serviços e infra-estrutura, muita degradação
ambiental ainda acontece por parte das comunidades rurais, especialmente nas faces norte e sul
do parque. Essas áreas são justamente aquelas as quais os STR’s ainda não conseguiram
desenvolver uma ação mais efetiva junto às comunidades rurais;
- Projetos voltados para a conservação do PESB e para o desenvolvimento sustentável do seu
entorno, de forma articulada, podem ser mais efetivos para cada fim, do que quando tratados de
forma isolada.
- O parque influenciou uma nova forma de uso e ocupação do solo, com impactos na organização
produtiva da região e na relação do/a agricultora/o com a terra ao longo dos anos, provocados,
também, por outras variáveis, tais como: a ação da Belgo-Mineira na região; o próprio histórico
de uso e ocupação do solo da região antes da criação do PESB; o processo de minifundização ao
longo do tempo; alterações climáticas; oscilações do mercado; etc.
66
- Os impactos da criação do PESB se dão não apenas do entorno para a unidade de conservação
(fora para dentro; impactos sobre a conservação da biodiversidade), mas também, da unidade de
conservação para o entorno (dentro para fora; impactos sobre a vida da população);
- Se o PESB foi criado na região é porque existia área significativa preservada pelos
moradores/as locais até então, sendo que fatores como legislação, topografia, dentre outros
também podem ter sido responsáveis pela preservação ambiental regional.
- Agentes externos, tais como: visitantes, turistas e empresas de exploração de recursos naturais
(madeira e minério) também são responsáveis por contribuir com a degradação ambiental na
região. A mineração constitui-se, atualmente, a maior ameaça à conservação da sócio-
biodiversidade no entorno do PESB após a criação do mesmo, colocando em risco não só o meio
ambiente, mas o turismo, agricultura, dentre outros;
- O uso dos recursos naturais pelas comunidades rurais se configurou como uma forma de
exploração com impactos pouco significativos para a biodiversidade regional. Entretanto, se esta
exploração continuasse, em longo prazo poderia causar impactos significativos nesse contexto.
- Se não fosse a criação do PESB outras ações de exploração dos recursos naturais na região
poderiam colocar em risco a biodiversidade regional em curto, médio e longo prazo;
- A criação do PESB e suas limitações quanto ao uso dos recursos naturais e serviços advindos do
mesmo, promoveu uma maior consciência sobre a importância da conservação ambiental,
fazendo com que os agricultores/as criassem formas alternativas de se trabalhar a produção a
partir das dificuldades enfrentadas.
Conclusões sem consenso: não tiveram
4.7 A construção da identidade e as perspectivas de continuidade do processo:
A presente sistematização buscou, de modo não tão aprofundado, visto que o tema é por
demasiado complexo e demanda um estudo sociológico mais abrangente, elementos que
pudessem confirmar ou não uma terceira e última hipótese que orienta essa sistematização: iii) o
processo de criação e implantação do PESB contribuiu para a construção de uma identidade na
região da Serra do Brigadeiro.
A sistematização investigou junto aos atores envolvidos e buscou analisar, no conjunto dos
dados e referência bibliográficas sobre o tema, quais elementos a experiência de criação e
67
implantação do PESB trouxe para a região, influenciando aspectos culturais locais e contribuindo
para a construção de uma identidade nesse contexto.
Algumas conclusões a esse respeito serão apresentadas, como modesta contribuição à
análise do conjunto do trabalho, numa perspectiva futura de gestão participativa e integrada do
PESB e entorno.
Faz-se necessário primeiramente, compreendermos o (s) conceito (s) de identidade. Esta se
refere a algo que nos diferencia em relação ao outro, o que nos caracteriza como pessoa, sujeito
individual ou como grupo social, sujeito coletivo. Ela pode ser definida pelo conjunto de papéis
que assumimos ou que nos são dados ao nascermos ou ainda, que desempenhamos ao longo da
vida. É determinada pelas condições sociais às quais estamos sujeitos e à uma função que
exercemos de acordo com tais condições.
Para CASTELLS (2006) identidade também pode ser compreendida como a fonte de
significado e experiência de um povo, com base em atributos culturais relacionados que
prevalecem sobre outras fontes. Ao mesmo tempo em que ela pode ser definida pelo conjunto de
papéis, a mesma não se deve confundida com os mesmos, pois estes determinam funções
enquanto que a identidade organiza significados. Estes, por sua vez, são resultantes de um sujeito
individual que se coloca dentro do contexto das relações sócio-culturais tornando-se, também,
coletivo.
Ao afirmarmos que possuímos uma identidade seja nos referindo em relação ao outro ou a
um determinado grupo o qual estamos inseridos, estamos admitindo uma certa originalidade, que
significa ao mesmo tempo semelhança e diferença. Segundo GADOTTI (2006) existe uma
relação de igualdade que cimenta um grupo, igualdade válida para todos os que a ele pertencem.
Porém, essa mesma identidade que unifica um determinado grupo pela semelhança, se define em
relação a algo que lhe é exterior, à medida que o diferencia de outros grupos. Há uma relação
entre o interno (semelhança) e o externo (diferença).
A construção da identidade ocorre em contextos sociais específicos, nos quais estão
inseridos aspectos culturais, ambientais, econômicos e políticos. Para PRAXEDES (2006) essa
construção não deve ser pensadas sob o ponto de vista unidirecional e estático, mas numa
perspectiva relacional e dinâmica, ou seja, como resultante das relações sociais que ocorrem no
cotidiano dos atores sociais, e não como propriedades intrínsecas compostas por uma essência
imutável.
68
A noção de território, presente num contexto mais recente do PESB, também é objeto de
análise na construção dessa identidade, ainda que não seja papel da sistematização aprofundá-la.
O conceito de território é relevante nesse sentido para compreendermos a questão da construção
da identidade no contexto territorial da experiência do PESB.
Existem diferentes conceitos para o significado de território e FLORES (2006) citando
RAFFESTIN (1993) considera uma distinção entre espaço e território, no qual o primeiro está
relacionado ao patrimônio natural existente numa região definida. Por outro lado, o conceito de
território se incorporaria a apropriação do espaço pela ação social de diferentes atores. Em outras
palavras, o conceito de território incorpora o jogo de poder entre os atores que atuam num
espaço. Como resultado desse jogo de poder se define uma identidade relacionada a limites
geográficos, ou ao espaço determinado. O território surge, portanto, como resultado de uma ação
social que, de forma concreta e abstrata, se apropria de um espaço (tanto física como
simbolicamente), por isso denominado um processo de construção social.
FERNANDES (2006) ressalta que o território é, ao mesmo tempo, uma convenção e uma
confrontação. Exatamente porque o território possui limites, possui fronteiras, é um espaço de
conflitualidades, ou seja, são formados no espaço geográfico a partir de diferentes relações
sociais, onde a contradição, a solidariedade e a conflitividade são relações explicitadas quando
compreendemos o território em sua multidimensionalidade.
TIZON (1995) citado por FLORES (2006) destaca um sentido antropológico, onde
território é o ambiente de vida, de ação, e de pensamento de uma comunidade, associado a
processos de construção de identidade. Nesse sentido, se percebe o território construído como um
espaço de relações sociais, onde há o sentimento de pertencimento dos atores locais à identidade
construída, e associada ao espaço de ação coletiva e de apropriação, onde são criados laços de
solidariedade entre esses atores (BRUNET, 1990 citado por FLORES, 2006).
ALBAGLI (2004) citado por FLORES (2006) caracteriza uma noção de territorialidade,
onde as relações sociais e a localidade estão interligadas, fortalecendo o sentido de identidade, e
refletindo um sentimento de pertencimento. Para o autor essa compreensão é fortalecida
condicionando a questão da territorialidade às normas sociais e valores culturais variando, dessa
forma, tanto de sociedades para sociedade como de um período para outro.
Há ainda no contexto do PESB uma identidade cultural que, segundo BOFF (2006), está
intimamente ligada à uma realidade especificamente humana, criada a partir de intervenções
69
sobre si mesmo e sobre a natureza. Intervenções estas responsáveis pelo habitat (morada)
humano.
Para GADOTTI (2006) não é possível falar em identidade cultural sem nos atermos à
identidade étnico-cultural, pois, ao falarmos de identidade de uma cultura, temos que localizá-la
num determinado tempo e espaço e no interior de um grupo étnico. Nesse sentido, BARBOSA
(2005) ressalta que as questões ambientais locais devem aprofundar questões sócio-étnico-
culturais históricas.
Para este autor, especificamente em relação aos povos que habitam aquelas serras na
região, existe uma identidade que se determina na fusão de ameríndios, afro-brasileiros e euro-
descendentes, o que o autor chama de identidade amerindiafricana. Atenta, ainda, para a questão
da desintegração da identidade pela globalização e pós-modernidade, o que vem causando,
historicamente, uma erosão e homogeinização cultural dos povos.
A sistematização não procurou aprofundar as raízes étnicas-culturais que ocorrem na região
da Serra do Brigadeiro, pois não é objeto da mesma localizar e analisar as diferentes identidades
que estão em constante processo de construção e que podem emergir a partir de um estudo como
esse.
A seguir, algumas conclusões acerca da construção da identidade no processo de criação e
implantação do PESB:
Conclusões com consenso:
- O processo do PESB agrega diferentes atores sociais e institucionais de maneira isolada ou em
grupos. Estes, por sua vez, estão vinculados à organizações distintas, tanto formais quanto
informais, tanto da sociedade civil como do governo, algumas advindas de contextos sociais
distintos;
- A análise da construção da identidade no processo de criação e implantação do PESB não deve
se dar de forma isolada do conjunto de elementos que podem interferir direta ou indiretamente
nessa construção. Diversos fatores podem interagir com esse contexto, tais como:
-o processo histórico de colonização e de exploração humana e mineral na região;
-as influências européia, indígena e afro-brasileira determinando relações, costumes,
cultura etc.;
-as diferenças culturais e étnicas entre os povos da Serra em regiões distintas;
70
-as relações sociais estabelecidas secularmente na região;
-a ação da Belgo-Mineira e seus impactos sócio-econômico, cultural e ambiental;
-a inserção do CMCN/DEF/UFV na região protagonizando a criação do PESB;
-os movimentos sociais locais advindos das Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s)
orientando dinâmica (s) de organização social;
-a intervenção do CTA-ZM e STR’s contribuindo para uma cultura de participação;
-a intervenção e contribuição das demais organizações;
-as diferentes culturas institucionais interagindo com várias culturas pré-existentes na
região;
-a inserção do IEF-MG na região regulando o uso dos recursos naturais e serviços e
inaugurando um processo inédito em temos de unidades de conservação de proteção
integral no Brasil;
-a constituição da Serra do Brigadeiro enquanto território e objeto de política pública
governamental;
-dentre outros.
- Todos esses fatores fazem parte desse contexto sócio-cultural, no qual as organizações
envolvidas com a criação e implantação do PESB estão inseridas. São elementos de um contexto
que é dinâmico. Pertencem a um passado e a um presente e estão dialogando constantemente com
o futuro e com os novos elementos responsáveis pelas transformações da sociedade e da cultura;
- O processo foi responsável por: aglutinar diferentes atores em função de um objeto comum: o
PESB e seu entorno; criar e fortalecer articulações interinstitucionais e uma rede de atores que se
identificam e se aproximam por uma série de afinidades e/ou interesses e; reintegrar organizações
que romperam relações no decorrer do mesmo, ainda que não conseguisse reintegrar outras que
se afastaram ou que se sentiram excluídas;
- A criação do PESB desencadeou uma série de projetos e ações, caracterizando a unidade de
conservação como um eixo aglutinador e transformando a região num espaço territorial de
desenvolvimento;
- Existem grupos de atores envolvidos no processo do PESB que se assemelham e se diferenciam
por interesses, ideologias, projetos de desenvolvimento etc. Estes mesmos grupos estão inseridos
num processo histórico e inédito de criação, implantação e gestão de uma unidade de conservação
de proteção integral na região. Isso os caracteriza e os unifica enquanto grupo que como tal,
71
possui um papel dentro de um contexto social, político, ambiental, cultural e econômico na região
da Serra do Brigadeiro;
- O Território da Serra do Brigadeiro, enquanto objeto de política pública de desenvolvimento
territorial do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), constituído em 2003, emerge de
uma construção social que é fruto do processo de criação, implantação e gestão do PESB. A
construção da identidade num contexto territorial, portanto, se constitui a partir de um processo
que é ao mesmo tempo complexo e desafiador e está diretamente relacionada às suas relações
histórico-culturais;
- A alteração no modo de vida das populações em decorrência da criação e implantação do
parque refletiu a inserção de novos costumes e práticas na realidade local dos moradores/as do
entorno do PESB e, conseqüentemente, impactou aspetos culturais seculares e a(s) própria (s)
identidade (s) que vinha (m) sendo construída (s) ali. Essas transformações em decorrência da
criação do PESB, também são responsáveis por influenciar essa construção, mas não de maneira
isolada;
- Especialmente os povos mais próximos dos limites do PESB, mais isolados e localizados em
pontos mais altos, se identificam mais com o lugar onde vivem do que com o parque e sua
institucionalidade. Estabelecem ali uma relação ambivalente com a mata, às vezes boa e às vezes
ruim e com comunidades vizinhas do entorno. Entretanto, o parque também tem sido responsável
pela construção de uma identidade entre esses povos.
- Num mesmo território, como é o caso da Serra do Brigadeiro, encontram-se diferentes
identidades em processo constante de formação e de transformação, dependendo do contexto que
se pretende investigar;
- Tendo em vista essa análise, a sistematização conclui, remetendo-se particularmente ao grupo
de atores envolvidos com a experiência, que: o processo de criação e implantação do PESB tem
contribuído para a construção de uma identidade na região da Serra do Brigadeiro. A experiência,
em conjunto com fatores históricos, sociais e culturais, foi responsável por contribuir para a
construção de uma identidade entre os atores envolvidos com a mesma e por trazer novos
elementos e impactar não só aspectos culturais específicos da região, mas também políticos,
econômicos e ambientais;
- Três formas e origens de construção de identidades refletem, de modo sucinto, um processo
evolutivo e de amadurecimento entre as organizações envolvidas com a experiência do PESB:
72
Identidade legitimadora: o Estado, através do IEF-MG, se inserindo num contexto
local para a criação do PESB, reforçando uma relação de dominação em relação aos
autores sociais locais;
Identidade de resistência: os atores sociais das organizações governamentais e os
autores sociais locais se posicionando e se articulando, de maneira contrária às
imposições do Estado, criando resistências com princípios diferentes ou opostos;
Identidade de projeto: os atores envolvidos (sociais e institucionais), através de
uma articulação interinstitucional consolidada, construindo uma nova identidade
frente ao processo e a partir deste. Identidade esta, em permanente processo de
construção.
- Como grupo esses atores (sociais e institucionais) envolvidos, possuem um papel nesse
processo que deve caminhar para uma continuidade, numa perspectiva de gestão participativa e
integrada do PESB e entorno. Enquanto um grupo articulado no contexto de um território os
limites geográficos e relacionados à conflitos de interesse e poder não devem sobrepor à uma
construção que antecede a própria constituição do território.
- A construção da identidade nesse grupo deve ser capaz, nesse sentido, de avançar na
identificação, mitigação e busca de soluções para os conflitos existentes e os que vão surgindo;
na inserção de novos atores sociais e institucionais e; na busca por projetos e ações que
promovam a conservação ambiental aliada ao pleno desenvolvimento da região de forma
sustentável, buscando reforçar o sentimento de solidariedade e de pertencimento desses atores no
processo;
- A construção da identidade nessa perspectiva ultrapassa as fronteiras de um território
constituído não por uma política pública governamental, mas pelo próprio grupo articulado a
partir da experiência de criação e implantação do PESB.
Conclusões sem consenso: não tiveram.
73
5. APRENDENDO COM O CAMINHAR... Lições aprendidas ou recomendações do processo:
A experiência de criação e implantação do PESB gerou uma série de aprendizados que
refletem o acúmulo tanto individual, quanto coletivo de diversas organizações envolvidas.
Esses aprendizados serão organizados na presente sistematização, em forma de lições
aprendidas ou recomendações ao público de interesse. A definição de lições aprendidas está
detalhada no item 2 (POR ONDE E COMO CAMINHAMOS... Metodologia da
sistematização) do documento.
Este capítulo refere-se ao que uma experiência de mais de dez anos, que reuniu
diferentes atores sociais e institucionais pode gerar de aprendizado contribuindo, portanto,
com a continuidade do próprio processo e com outras experiências semelhantes.
As lições destacadas neste capítulo fazem parte de uma reflexão geral da sistematização,
realizada em conjunto com algumas das principais organizações envolvidas na experiência,
em encontro realizado em julho de 2006.
As lições foram extraídas durante o encontro, por segmento, como forma de facilitar e
aprofundar a reflexão e vivência de cada grupo (agentes governamentais, atores sociais das
organizações não-governamentais e autores sociais locais), contudo, serão aqui apresentadas
de forma geral, uma vez que refletem uma vivência que é, sobretudo, coletiva. Estas lições,
apresentadas a seguir, refletem orientações e/ou recomendações deste grupo para experiências
ou processos semelhantes, tendo em vista as particularidades de cada local.
5.1 Lições aprendidas pelos participantes da sistematização:
- Deve-se realizar um estudo prévio e aprofundado para a escolha da categoria de unidade de
conservação a ser criada;
- As Unidades de Conservação devem ser criadas de forma integrada com o entorno
(população local, outras áreas protegidas, ações e projetos em desenvolvimento etc.) e
construir previamente acordos e consensos com os atores sociais e institucionais envolvidos;
- É importante que o grupo de atores envolvidos leve em consideração não só a realidade na
qual a experiência se localiza, mas as identidades pré-existentes e os possíveis impactos sobre
elas;
- É imprescindível que sejam estabelecidos diálogos com as famílias moradoras do entorno
e/ou residentes da área em questão sobre a criação da unidade de conservação;
74
- Pensar estratégias mais eficazes de comunicação e divulgação das informações sobre a
criação da unidade de conservação se faz fundamental, para manter a população animada,
inserida no processo e para garantir a qualidade das informações que circulam;
- É importante que o grupo de atores envolvidos seja capaz de ouvir as pessoas que menos
aparecem e que podem contribuir quando e de onde menos se espera;
- Os conflitos que irão surgir no decorrer da experiência não devem ser negados ou
minimizados. É importante que o grupo envolvido reconheça a existência dos conflitos e
busque explicitá-los e solucioná-los da melhor maneira possível, garantindo espaços para que
isso seja possível;
- É importante que os atores envolvidos permaneçam participando e contribuindo com a
construção do processo participativo, superando as divergências e limitações e estabelecendo
diálogos com menos tensão;
- Precedendo a criação dessas áreas, especialmente no caso das unidades de conservação de
proteção integral, é necessário um estudo aprofundado a respeito das demandas das
comunidades rurais do entorno sobre os recursos naturais ali existentes. A partir desses
estudos o órgão gestor deve fomentar a produção desses recursos dentro das propriedades
rurais, tendo em vista a realidade local e o suprimento dessas demandas;
- É importante realizar e/ou incentivar estudos identificando os fragmentos de mata já
existentes no entorno da unidade de conservação, bem como a elaboração de planos de
manejo visando regular o uso sustentável dos recursos naturais nessas áreas;
- Deve-se incentivar apoiar e/ou promover processos de gestão ambiental comunitária, nos
quais as famílias tenham autonomia e se apropriem dos recursos naturais de forma sustentável
e a partir dos conhecimentos que vêm acumulando secularmente;
- É fundamental que os responsáveis pela criação da unidade de conservação e o grupo de
atores envolvidos conheçam, respeitem e valorizem as culturas existentes no entorno e os
elementos que fazem parte da mesma. O uso de plantas medicinais, os locais de reza, as
formas de cultivo, os conhecimentos tradicionais, dentre outros;
- Os processos de criação, implantação e gestão de unidades de conservação de proteção
integral devem reconhecer a importância do processo participativo e da mobilização social
nesse contexto;
- Deve-se ter compromisso com a continuidade dos processos. Para tanto, é importante a
formação de uma instância de articulação que seja reconhecida pelos atores envolvidos, na
qual estes possam se fazer realmente presentes; que tenha o papel de animar o processo e; que
75
tenha legitimidade perante o órgão gestor, de modo que a demanda não tenha que partir
apenas deste;
- O grupo deverá estar sempre atento às mudanças internas nas organizações ou grupos, de
modo que isso não incorra na descontinuidade dos trabalhos;
- A conservação de uma determinada área para ser eficiente deve ser conduzida a partir de
processos participativos.
- É importante que o grupo envolvido esteja aberto para o imprevisto, para o inusitado, para as
diferentes visões e posicionamentos e que incorpore novos atores (sociais e institucionais) no
decorrer;
- O órgão gestor não deve esperar que a sociedade demande pela participação na criação,
implantação e gestão dessas áreas. O mesmo deve liderar a promoção do processo
participativo de forma contínua;
- É preciso construir parcerias (relações mais sólidas em torno de um projeto) e/ou alianças
(relações mais pontuais em torno de um objetivo comum) para buscar soluções frente aos
problemas relacionados ao entorno, de modo a não sobrecarregar o órgão gestor;
- É preciso despertar na comunidade o valor do trabalho do órgão gestor, e o valor da unidade
de conservação, trazendo a população local para dentro do processo;
- A regularização fundiária deve ser vista como uma prioridade na implantação da unidade de
conservação. O processo deve ser discutido com cada família, visando conciliar as
expectativas da mesma com a implantação da unidade de conservação, sem prejuízos morais
ou financeiros para as famílias;
- É importante que o governo (Municipal, Estadual ou Federal) responsável, garanta à unidade
de conservação funcionários em número suficiente para manter sua integridade e que as
populações do entorno tenham preferência nessa contratação. A unidade de conservação,
desse modo, gera ocupação de mão-de-obra local, renda e contribui para integrar as famílias
do entorno nas estratégias de conservação da área;
- Deve-se promover processos de formação e capacitação de moradores/as através de
intercâmbios com outras experiências semelhantes;
- A questão de gênero e geração deve ser trabalhada desde o início, de modo que o processo
incorpore a participação de mulheres e jovens em todas as fases;
- Deve-se garantir que os mecanismos de regulamentação das APA’s sejam aplicados de
forma efetiva e que o ICMS ecológico seja utilizado de forma correta, ou seja, em benefício
da gestão ambiental do município e da população do entorno da unidade de conservação.
- ...
76
Muitas outras lições estão embutidas nas falas, nos relatos, nas reflexões individuais e
coletivas que ocorreram durante a sistematização e que a mesma procurou sintetizar neste
capítulo da forma mais clara possível.
Muitas ouras lições ainda estão por vir, pois “o aprender se faz ao caminhar”.
77
6. SEMEANDO PELO CAMINHO... Plano de difusão dos aprendizados:
Como visto no item 2 do documento (POR ONDE E COMO CAMINHAMOS...), o
plano de difusão compreende a última etapa do processo de sistematização.
De acordo com SOUZA et al. (2005) a difusão dos produtos da sistematização objetiva
socializar os aprendizados e acúmulos ocorridos durante a experiência sistematizada e pode
ser instrumento capaz de influenciar ações e decisões, tanto no plano individual quanto
coletivo, inclusive políticas públicas voltadas para o (s) tema (s) no (s) qual (is) a experiência
se insere.
O plano de difusão da presente sistematização, portanto, refere-se aos produtos que
podem auxiliar na disseminação de aprendizados e conhecimentos construídos pelo grupo de
atores envolvidos, a partir experiência sistematizada. Os produtos visam, em curto prazo,
influenciar outros espaços, organizações e/ou atores que vivenciam processos semelhantes.
Em médio e longo prazo, os produtos visam influenciar políticas públicas municipais,
estaduais e federais, voltadas para as áreas protegidas, em especial, as unidades de
conservação de proteção integral.
Foram previstas algumas ações visando a disseminação dos resultados e aprendizados
da experiência de criação e implantação do PESB, tais como:
Confecção de material para registro (documento final);
Divulgação dos resultados obtidos através de eventos (seminários, congressos,
encontros etc.);
Devolução e discussão das lições nas comunidades rurais por meio de encontros
comunitários;
Produção de materiais diversos para publicação, tais como: artigos científicos;
artigos para revistas; tese em nível de doutorado; livro; cartilhas voltadas para
moradores/as do entorno do PESB e STR’s;
Divulgação através de vídeo.
Tendo em vista essas inúmeras possibilidades é importante mencionar que, nem todas as
ações são necessárias para atender a disseminação e que a escolha de uma ou outra se dará em
função do objetivo e da disponibilidade de tempo e de recursos humanos e financeiros.
Durante o processo de sistematização já estão sendo realizadas algumas ações visando a
disseminação do processo e seus resultados parciais. A experiência foi apresentada no I
Congresso Mineiro para a Biodiversidade (Combio), realizado pela Secretaria de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais
78
(SEMAD/IEF-MG) com apoio do Governo do Estado, em abril de 2006, na Expominas, em
Belo Horizonte, MG. A palestra intitulada: “Sistematização da experiência de criação e
implantação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB): participação e conflito em
uma unidade de conservação de proteção integral na Zona da Mata de Minas Gerais”, fez
parte de uma roda de debate sobre áreas protegidas, educação e participação e será publicada
nos Anais do Combio. O evento teve como propósito reunir idéias e colher resultados, para a
elaboração de uma proposta de diretrizes que pudesse nortear a implementação da Política de
Proteção da Biodiversidade em Minas Gerais.
No final de 2005 foi elaborado e aprovado um artigo científico, de mesmo título, a ser
publicado nos Anais do I Simpósio Nacional sobre Áreas Protegidas, evento realizado pela
Sociedade de Investigações Florestais (SIF) e Universidade Federal de Viçosa em novembro
de 2005, na própria universidade, em Viçosa, MG.
Outro evento foi o I Simpósio sobre o Bioma Mata Atlântica: recuperação, conservação
e desenvolvimento, realizado pelo Centro Brasileiro para Conservação da Natureza (CBCN),
em Junho de 2005, na Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa, MG. Na ocasião foi
proferida palestra dentro do tema: Atividades antrópicas e seus impactos nas unidades de
conservação do bioma Mata Atlântica. A palestra intitulada: “Parque Estadual da Serra do
Brigadeiro (PESB), MG: uma ilha cercada de gente por todos os lados ou uma unidade de
conservação integrada com o entorno?”, teve como propósito contribuir com o debate a
partir dos resultados preliminares da presente sistematização.
Além desses eventos a sistematização também é parte de uma tese em nível de
doutorado, a ser defendida ainda este ano, no Departamento de Engenharia Florestal da
Universidade Federal de Viçosa (DEF/UFV). Assim sendo, a experiência também vem sendo
discutida e divulgada no âmbito do espaço acadêmico desta instituição.
Segue abaixo (Quadro 6) o planejamento realizado para a difusão dos resultados e
aprendizados da presente sistematização:
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79
Quadro 6 – Planejamento da difusão da sistematização da experiência de criação e implantação do PESB.
O quê ?(produto)
Para quê? (objetivo)
Para quem? (público) Quando? (prazo)
Previsão de itens orçamentários *
Documento final Registro documentário da sistematização
CTA-ZM – proponente da sistematização; atores envolvidos na mesma; financiadores e; demais interessados.
Final de julho de 2006. - Cartucho de impressora; - Papel A4.
Eventos (seminários, congressos, encontros etc.)
Divulgação; troca de experiência; influenciar o debate nestes espaços.
Público de interesse e variado, presente nestes espaços.
No decorrer da sistematização e após o término.
- Transporte; - Hospedagem; - Alimentação. (Vai depender de cada evento)
Encontros comunitários
Retorno e discussão das lições para moradores/as envolvidos e comunidades do entorno; troca de experiência; divulgação; influenciar a participação destes/as no processo de gestão do PESB e entorno.
Comunidades rurais do entorno do PESB.
Após o término da sistematização, preferencialmente dentro das discussões de elaboração do plano de manejo em curso.
- Transporte da equipe; - Lanche para os participantes; - Material didático.
Artigos científicos e/ou para revistas da área
Reflexão teórica; correlação com a prática vivenciada; difusão no meio acadêmico; influenciar o espaço acadêmico.
Público acadêmico; organizações que atuam na área e demais interessados.
No decorrer da sistematização a após o término.
- Cartucho para impressora; - Papel A4.
Cartilhas Disseminação, informação e formação em nível “micro” (local/territorial).
Agricultores/as moradores/as do entorno do PESB e suas organizações.
Após o término da sistematização.
- Diagramação; - Tiragem.
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Livro Disseminação, informação e
formação em nível “macro” (estadual e nacional).
Organizações envolvidas; financiadores; organizações externas.
Após o término da sistematização.
- Revisão ortográfica; - Diagramação; - Edição; - Publicação.
Tese em nível de doutorado
Reflexão teórica; correlação com a prática vivenciada; difusão no meio acadêmico; influenciar o espaço acadêmico.
Público acadêmico e demais interessados.
Até setembro de 2006. - Cartucho para impressora; - Papel A4; - Revisão ortográfica.
Vídeo Disseminação; informação; formação; influenciar outras experiências.
Público diverso de interesse, especialmente organizações que atuam na área.
Após o término da sistematização.
- Material para filmagem; - Transporte; - Hospedagem; - Alimentação; - Diagramação; - Sonorização; - Editoração.
* o dia de serviço do coordenador/a e/ou equipe de apoio não foi contemplado.
81
7. BIBLIOGRAFIA CITADA
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6. CAMPO, J.B.. Parque Nacional de Ilha Grande: re-conquistas e desafios/organizado por: João Batista campo. Maringá: IAP- Instituto Ambiental do Paraná. 2 edição, 2001. 118p. :il.
7. CAPOBIANCO, J.P.R., RAMOS, A.. Unidades de Conservação no Brasil: aspectos gerais, experiências inovadoras e a nova legislação (SNUC)./ Organizadores: Adriana Ramos, João Paulo R. Capobianco. Seminário interno 25 e 26 de abril. 1996. São Paulo: ISA- Instituto Socioambiental. 1996.205p.
8. CASALI, V.W.D.. Parque Estadual da Serra do Brigadeiro: percepção, uso e estratificação ambiental./ organizador: Vicente Wagner Dias Casali. Viçosa: UFV. 2001. Relatório Final. 164p.
9. DRUMOND, M.A. Participação comunitária no manejo de unidades de conservação: manual de técnicas e ferramentas.Belo Horizonte: Instituto Terra Brasilis de Desenvlvimento Sócio-ambiental, 2002. 81p. : il.
10. FARIA, A.A.. Uma visão do município de Araponga – MG: informações sobre o diagnóstico realizado. Viçosa: CTA-ZM. 1994 (documento interno). 43p.
11. FARIA, J.L.. Conflitos e participação da sociedade civil na instalação do comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce. Tese de Mestrado, Viçosa: UFV, 2004. 145p.
12. GEILFUS, F.. 80 herramientas para el desarrollo participativo: diagnóstico, planificación, monitoreo, evaluación. IICA-GTZ, San Salvador, El Salvador, 2000. 208p.
84
13. GUITJ, I. Monitoramento participativo: conceitos e ferramentas práticas para a agricultura sustentável. Metodologias participativas: Rio de janeiro: IIED: AS-PTA. 142p.
14. HOLLIDAY, O.J.. Para sistematizar experiências. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 1996. 213p.
15. LIMA, G.S.. Criação, implantação e manejo de unidades de conservação no Brasil: estudo de caso em Minas Gerais. Tese de Doutorado, Viçosa: UFV, 2003. 76p. :il.
16. MAIRENA DURAN, R.F.. A participação dos atores na formulação do Plano de Desenvolvimento Rural no município de Tombos – MG. Tese de Mestrado, Viçosa: UFV, 2001. 140p.
17. MANNIGEL, E. PARAÍSO, L.B., PARREIRAS, C.P.. Participação como estratégia para resolução de conflitos na gestão de três unidades de conservação ambiental da Mata Atlântica em Minas Gerais. In: II Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Anais... Fortaleza: Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação: Fundação o Boticário de proteção à Natureza: Associação Caatinga. 2002. 1v. 22 a 26 de setembro p. 433-441.
18. MATTES, A. O Diagnóstico Rural Participativo como instrumento de envolvimento das unidades de conservação com seus entornos. Belo Horizonte: Projeto Doces Matas. 1999. 59p.
19. MILANO, M.S.. Unidades de conservação: atualidades e tendências/ Organizador: Miguel Serediuk Milano. – Curitiba: Fundação O Boticário de proteção à natureza, 2002. 224p.
20. PINTO, J.B.. Planejamento participativo: rito ou prática de classe? Vozes, Revista Cultura. v, LXXXI. nº 01. Jan/Fev. 1987. p 71-89.
21. SOARES, M.C.C., BENSUSAN, N., FERREIRA NETO, P.S.. Entorno de unidades de conservação: estudo de experiências com UC’s de Proteção Integral. Rio de Janeiro: FUNBIO, 2002. 112p.
22. TAFUR, J.C.. Ordenando y analizando: uma metodología para la sistematización. Lima: ETC Andes. 25p.
Sistematização da Experiência de Criação e Implantação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB)
PLANEJAMENTO
A- Cronograma
MESES ETAPAS M A M J J A S O
1ª etapa: Planejamento: -elaboração de um cronograma de ações; -entrevistas com técnicos do CTA para definição dos objetivos a partir das expectativas institucionais; -elaboração de um plano para a sistematização; - seleção e preparação da equipe de apoio; -elaboração de projeto de pesquisa para bolsa do estagiário;
2ª etapa: Execução do plano: -pesquisa documental interna e externa; -organização e arquivamento dos dados (End Note); -elaboração de roteiro de entrevistas; -realização de visitas de campo e entrevistas; -preparação e realização de eventos coletivos; -tabulação dos dados;
3ª etapa: Elaboração do documento final: -elaboração do documento;
4ª etapa: Difusão -elaboração do plano de difusão; -confecção e difusão dos produtos.
B – Definição da sistematização 1. Objeto (o quê sistematizar?):
- Experiência de criação e implantação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB) entre o período de 1993 – 2004 (ano da criação do Conselho Consultivo).
2. Objetivo (para quê sistematizar?):
- Analisar, de forma participativa, a experiência de criação e implantação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB) em todo o seu contexto (técnico, processual e metodológico) para, em conjunto com os atores envolvidos com a experiência, extrair lições aprendidas que possam contribuir com a consolidação de um processo de criação, implantação e gestão do PESB a partir da participação social.
Sistematização da Experiência de Criação e Implantação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB)
3. Eixos (aspectos centrais da sistematização) e componentes associados: Iª matriz
EIXOS
COMPONENTES
A
PARTICIPAÇÃO SOCIAL
B
ASPECTOS LEGAIS
C
ESPAÇO RURAL/ TERRITORIAL
D
INTERVENÇAO INSTITUCIONAL
E
IMPACTOS
1-CONFLITOS
2-ESPAÇOS DE DEBATE (local/territ./nac.)
3-METODOLOGIAS
4-RELAÇÕES ESTABELECIDAS (articul.)
5. UC’s EXISTENTES (PESB, APA’s, RPPN’s)
6. PROJETOS/PESQUISAS
7. BIOMA MA
8. GESTÃO DA UC
9. TERRITÓRIO SB
10. ASPECTOS AMBIENTAIS
11. ASPECTOS SÓCIO-CULT.
12. ASPECTOS ECONÔMICOS
13.USO MANEJO E APROPRIAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS
14.CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
15. POTENCIALIDADES DO TERRITÓRIO
16. DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL
17. POLÍTICAS PÚBLICAS
18. INTERV. INSTITUCIONAL
19. ENTORNO
Matriz reduzida Eixos Componentes
A PARTICIPAÇÃO
SOCIAL
B ASPECTOS LEGAIS
C ESPAÇO RURAL/
TERRITORIAL 1-ESPAÇOS DE DEBATE (local/territ./nac.) A1 B1 C1 2-RELAÇÕES ESTABELECIDAS (articul.) - - C2 3. UC’s EXISTENTES (PESB, APA’s, RPPN’s)
A3 B3 C3
4. PROJETOS/PESQUISAS A4 - C4 5. TERRITÓRIO SB A5 - C5 6. INTERV. INSTITUCIONAL A6 B6 C6
Sistematização da Experiência de Criação e Implantação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB)
- Algumas questões que a sistematização deverá responder:
Observação: as questões serão elaboradas a partir dos cruzamentos priorizados na matriz
C – Considerações operacionais SISTEMATIZAÇÃO 1. Que informações necessitamos?
Informações sobre o processo como um todo: documentos, mapas, registros de eventos, encontros, reuniões, visitas...
2. Que informações já temos? Informações referentes ao período de 1993-2004 arquivadas no CTA.
3 Que informações precisamos conseguir? Antecedentes históricos sobre o processo de criação do PESB; documentos externos ao CTA; respostas às questões levantadas pela matriz;
*4. Como vamos conseguir? *5. Onde e como vamos ordená-las? *6. Como vamos processar e/ou analisar? RECURSOS HUMANOS E FINANCEIROS 7. Quem vai trabalhar na sistematização? Uma equipe de sistematização com a coordenação de 1 técnica do CTA.
8. Por quanto tempo? 8 meses.
9. Como dividiremos as tarefas? - Coordenação da sistematização: 1 técnica do CTA – 10 dias/mês. -Apoio no levantamento, registro, organização e tabulação dos dados; contribuição nos momentos coletivos: 1 estagiário – 12h/semana. - Orientação externa: membros colaboradores do CTA.
10. Como vamos promover e facilitar a participação dos atores envolvidos?
- Ver item D.
11. Quanto de R$ tem disponível? ~ R$ 20.000,00 *vide anexo: organograma de planejamento.
Sistematização da Experiência de Criação e Implantação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB)
Organograma de planejamento:
D – FERRAMENTAS PARTICIPATIVAS: Proposta de metodologia para o levantamento, processamento e tabulação dos dados; entrevistas e encontros: 1. Levantamento dos dados secundários: - análise documental interna do CTA: relatórios, arquivos digitalizados (back’ups); - análise documental externa: IEF, CECO, STR’s e UFV (CMCN/DEF e DPS); - inclusão e organização referências documentais no software End Note.
2. Processamento e tabulação dos dados: - seleção e organização em pastas identificadas; - organização em arquivos no computador; - tabulação dos dados da matriz.
3. Entrevistas: - elaboração de roteiro de entrevistas com técnicos do CTA para levantamento de expectativas e definição do objetivo;
BIBLIOTECA CTA
BACK’UPS CTA
DOCUMENTOS EXTERNOS
MOMENTOS COLETIVOS
VISITAS DE CAMPO
DEFINIÇÃO DO ROTEIRO
DEFINIÇÃO DOS ENTREVISTADOS
MORADORES/AS
OUTRAS ORGANIZAÇÕES
CTA
ENTREVISTAS
- ORGANIZAÇÃO: END NOTE - PASTA DOCUMENTOS
- TABULAÇÃO - PASTA ENTREVISTAS
- TABULAÇÃO - PASTA MOMENTOS COLETIVOS
PRODUTOS DA SISTEMATIZAÇAO: documentos, tese, vídeo, cartilha, eventos...
SISTEMATIZAÇÃO ANÁLISE
DOCUMENTAL
Sistematização da Experiência de Criação e Implantação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB)
- elaboração de questões para subsidiar a matriz de sistematização (roteiro de entrevistas);
-roteiro de visita de campo (mapeamento das entidades/pessoas que serão entrevistadas): IEF, UFV (CMCN/DEF e DPS), CTA, STR’s Araponga e Miradouro, moradores/as do entorno, CECO, Paulão, Guiga, ... .
4. Momentos Coletivos: - planejamento com o uso de algumas ferramentas participativas que possibilitem: resgate e troca de experiência e construção de novos conhecimentos entre os diferentes atores envolvidos no processo.
Encontro 1: com o objetivo principal de recuperar e registrar a trajetória da experiência. Terá como público alvo organizações da sociedade civil e do governo (STR’s, UFV, CECO, IEF, CTA...) que participaram do processo. Será realizado no CTA ou UFV e penso que poderão ser aplicadas as seguintes ferramentas participativas: a) Linha do Tempo - para resgatar a história considerando a cronologia e o desdobramento dos eventos e atividades realizadas, refletindo e discutindo a seqüência, a intervenção e a participação dos envolvidos; b) Matriz Histórica – para contribuir com correlações, comparações e análise da evolução em longo prazo, considerando indicadores-chave de determinados temas e assuntos mais relevantes e inclusive fenômenos; c) diagrama de venn para analisar as relações estabelecidas e as articulações interintitucionais importantes para o processo.
(uma primeira idéia era fazer esse primeiro encontro em dois momentos: um somente com as organizações da sociedade civil e outro com as organizações do poder público, mas ainda estou em dúvida).
Encontro 2: são oficinas de conclusão com os dois grupos. Terá a função de analisar as conclusões levantadas a partir das etapas anteriores e fomentar a extração coletiva de lições aprendidas posteriormente. Serão encontros separados por grupos (sociedade civil e poder público), cuja dinâmica será conduzida sob forma de leitura de textos, análise de digramas, gráficos, observação de mapas de relações e discussão em plenária, finalizando com o registro coletivo através de painéis dos pontos mais importantes. Os locais serão CTA e UFV.
Encontros 3: com moradores/as em 3 comunidades da Serra. O objetivo é subsidiar a sistematização com impressões e olhares dos moradores/as do entorno do parque sobre a experiência e fomentar o debate nas comunidades. As metodologias utilizadas serão: confecção de mapas com moradores/as. Através destes mapas verificar a compreensão sobre o processo, resgatar com eles/as o histórico, analisar a relação que estabelecem com o parque, os impactos da criação na vida das pessoas e a importância da participação social na conservação dos recursos naturais. Esses encontros seriam nas comunidades.
Encontro 4: extração de lições aprendidas com a experiência. Participam as organizações envolvidas com o processo. O encontro será no PESB;
Seminário de devolução das lições: para divulgar para o público da Serra do Brigadeiro as lições aprendidas por todos os envolvidos com a experiência. O objetivo é socializar os resultados da sistematização e continuar fomentando o debate para possibilitar novos aprendizados a partir das lições e dos novos desafios colocados. O seminário seria no próprio PESB, com a participação dos envolvidos com a sistematização na construção metodológica e apresentação;
Sistematização da Experiência de Criação e Implantação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB)
Algumas questões já levantadas: Participação:
Como se deu a participação social e como esta contribuiu com o processo em questão?
Quais as estratégias utilizadas pelas organizações (verificar quais) para potencializar a participação?
Houve estratégias utilizadas pelas organizações (verificar quais) para dificultar ou até mesmo impedir a participação? Quais?
Quais foram os mecanismos que favorecem a participação social nesse processo? ... Conflitos:
Quais são e como mitigar os conflitos associados ao tema? Como lidar com os diferentes interesses e visões dos diversos atores envolvidos? Onde se encontram os limites e as potencialidades nesse processo?
Quais são os mecanismos que podem favorecer o diálogo entre diferentes organizações?
...
_______________________________________________________________________________________ Sistematização da Experiência de Criação e Implantação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro
(PESB)
ANEXO 2
ROTEIRO PARA CONVERSA COM TÉCNICOS/LIDERANÇAS DO CTA VISANDO SUBSIDIAR O PROCESSO DE SISTEMATIZAÇÃO DA
EXPERIÊNCIA DE CRIAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO BRIGADEIRO (PESB)
1 – Desde quando acompanha os trabalhos no parque? 2 – Relato sobre a experiência (conhecimento sobre o processo). 3 – Verificar se o processo possui picos de mobilização. Destacá-las no tempo e
espaço (Verificar a existência de eventos marcantes que não devem ficar de fora e merecem atenção especial;eventos significativos para a entidade).
4 – Perceber quais foram as intenções iniciais do CTA (= agricultores/as e suas
organizações?) e quais são as atuais. Tentar compreender a evolução das demandas em relação ao processo ao longo do tempo para verificar avanços ou não.
5 – Que tipo de lições/aprendizados o CTA espera tirar de um processo como
esse? (Objetivar que tipo de aprendizado e que utilidade a sistematização de um processo de mais de uma década pode trazer).
6 – Alguma recomendação ou sugestão para o desenvolvimento deste trabalho. 7 – Algum parceiro importante ou pessoa para a busca de mais informações.
1
ANEXO 3
ROTEIRO PARA ENTREVISTAS COM TÉCNICOS
Como foi o processo de criação / implantação do PESB?
Quando surge a proposta? Como ela é formulada? (porque a categoria parque?).
Quais os conflitos decorrentes da proposta de criação do PESB?
O processo de criação e implantação do PESB foi participativo? Por quê?
Houve a participação de mulheres no processo? Como, quando, por quê?
Quais as estratégias utilizadas para a inclusão de mulheres e jovens?
Qual o histórico de participação de mulheres e jovens nas organizações envolvidas?
O que é um parque na sua visão?
Importância da existência dessas áreas para você? Por quê?
O que motivou (por quê) sua entidade a participar?
Qual o principal interesse do grupo em relação ao debate e ao parque?
Como é a relação parque e entorno na sua perspectiva?
Quais as estratégias utilizadas para favorecer / facilitar a participação? (depende da visão de cada um sobre o que é participação)
Quais as estratégias que dificultaram / impediram a participação?
Qual a contribuição do processo para o debate acerca da atuação das populações do entorno da UC’s na conservação dos recursos? Quais as estratégias para contribuir com este debate?
Qual a contribuição dos debates sobre legislação relacionada a UC’s para o processo?
Quais as estratégias utilizadas para incluir a participação social nos aspectos legais da criação / gestão de UC’s? Quais os impactos?
Como se deu a participação social no processo de criação e implantação das outras categorias de UC’s?
Como se dá a participação social na aplicação/gestão dos recursos advindos das UC’s (ex: ICMS ecológico, compensações ambientais etc.)?
Quais as estratégias utilizadas para adequar a produção do entorno com os objetivos de conservação? Quais os impactos?
Como se dão as relações interinstitucionais no espaço rural/territorial? (como elas atuam e como esta atuação é vista pelo outro); contextualização dos atores no processo.
Como deveria ser a criação e implantação de um parque para você?
Visão de futuro sobre o PESB (como sonha que seja o parque)?
2
ANEXO 3
ROTEIRO PARA ENTREVISTAS COM LIDERANÇAS E MORADORES
Qual o histórico da comunidade: nome, primeiros moradores, como viviam, se gostam etc...(construção da identidade por diferentes atores e categorias (rural/urbano, idosos/jovens, mulheres/homens)
Como foi o processo de criação / implantação do PESB?
Como foi a proposta de criação?
Quais os conflitos decorrentes da proposta de criação do PESB?
O que teria acontecido se persistisse a cota 1.000m na definição dos limites do PESB?
O que é um parque na sua visão?
Importância da existência dessas áreas para você. Por quê?
O processo de criação e implantação do PESB foi participativo? Por quê?
Houve a participação de mulheres no processo? Como, quando, por quê?
Quais as estratégias utilizadas para a inclusão de mulheres e jovens?
Qual o histórico de participação de mulheres e jovens nas organizações envolvidas?
O que motivou (por quê) sua entidade a participar?
Qual o principal interesse do seu grupo em relação ao debate e ao parque?
Como é a relação parque e entorno na sua perspectiva?
Quais as estratégias utilizadas para favorecer / facilitar a participação? (depende da visão de cada um sobre o que é participação)
Quais as estratégias que dificultaram / impediram a participação?
Como se deu a participação social no processo de criação e implantação das outras categorias de UC’s?
Como se dá a participação social na aplicação/gestão dos recursos advindos das UC’s (ex: ICMS ecológico, compensações ambientais etc.)?
Qual a contribuição para o debate acerca da atuação das populações do entorno da UC’s na conservação dos recursos? Quais as estratégias para contribuir com este debate?
Existiam mais animais, mais água, etc. antes da criação?
Como era a agricultura e a produção antes e depois da criação?
Qual o histórico e formas de uso e apropriação dos recursos naturais por parte dos moradores/as? Qual a importância de tais práticas para a conservação da Mata
3
Atlântica no entorno e no PESB? (O processo de degradação dessas áreas ao longo do tempo x a conservação das mesmas pelas comunidades do entorno).
Quais as estratégias utilizadas para adequar a produção do entorno com os objetivos de conservação? Quais os impactos?
Como se dão as relações interinstitucionais no espaço rural/territorial? (como elas atuam e como esta atuação é vista pelo outro); contextualização dos atores no processo.
Como deveria ser a criação e implantação de um parque para cada um/a?
Visão de futuro sobre o PESB (como sonha que seja o parque?).
1
ANEXO 4
Anexo 4 - Linha do tempo apresentando o histórico de criação e implantação do PESB, incluindo antecedentes históricos e alguns eventos, em âmbito nacional e internacional, relevantes ao tema.
Século XVI: 1872 1876: Entre Séc. XVIII e XIX Dec 30: 1937
Processo de ocupação colonial da região; exploração de ouro, índios e negros.
Criação da primeira UC do mundo, o Yellowstone National Park nos Estados Unidos.
O engenheiro André Rebouças sugere a criação de uma área protegida na Ilha do Bananal e outra em Sete Quedas, constituindo-se as primeiras iniciativas para criação de uma UC no Brasil.
São instituídas importantes leis na área ambiental: código florestal e código das águas (1934), código de pesca (1938), código de mineração (1940)...
Criação da primeira UC no Brasil, o Parque Nacional do Itatiaia/RJ.
Exploração da floresta nativa pela Belgo-Mineira; desmatamento na Faz. do Brigadeiro; expansão agrícola (lavouras de café, pastagens etc.);
1950-1970 1960 1962 1972: 1974-1976 1975
Criação da Escola Nacional de Florestas; visitas de pesquisadores da UFV à região.
...
Decreto n. 1.493, o qual declara como protetoras as florestas nativas de propriedade privada existentes na região da “Serra do Brigadeiro”.
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente realizada em Estocolmo.
Os professores e pesquisadores da área de fauna silvestre, ligados ao CMCN/UFV, Elmar Couto e James Dietz, fazem as primeiras visitas à região e passam a denominá-la de Serra do Brigadeiro, já com o propósito da criação de uma UC.
Surgimento do pensamento ambientalista no Brasil.
Processo migratório dos europeus para a região; região utilizada como refúgio de tropas na Revolução de 30.
Criação do IEF-MG.
Aprovado o projeto de lei para a criação da estrada que liga Araponga a Fervedouro passando por dentro do Parque.
2
...1976 1981 1987 1988 (20 de julho) 1991
Couto e Dietz elaboram uma proposta para a criação de uma UC na região intitulado: “Sugestões para criação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro”. A proposta previa a criação de uma UC de Proteção Integral com área total de 32.500 ha, utilizando como critério a cota 1.000m de altitude. As justificativas se baseavam em fatores ecológicos e sócio-culturais.
Governo do Estado de Minas Gerais autoriza a criação do PESB com base no projeto original através da Lei n. 9.655.
IEF-MG inicia os primeiros estudos para encaminhar implantação do PESB, contratando a FAFILE/UEMG e o DBA/UFV para estudos do meio biótico e a empresa de consultoria Engevix para estudos do meio físico.
CTA-ZM e STR realizam DRP em Araponga visando um plano de ação para o STR local; início do processo de participação social na criação e implantação do PESB com uma articulação envolvendo CTA-ZM, FETAEMG, CPT, STR’s e alguns professores/as da UFV (DPS e DED).
Início do processo de mobilização pelo CTA-ZM e STR’s.
Aprovada a Constituição da República Federativa do Brasil.
É criado o CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente.
Abaixo-assinado coordenado pelo Prof.º Virgílio Andrade para a criação do PESB.
1992 1993 Final de 1993 1994
Seminário de apresentação da proposta e do abaixo-assinado com 10.000 assinaturas para a criação do PESB, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais.
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro(Eco/92); Início da tramitação e discussão do Projeto de Lei 2.892 instituindo o SNUC.
Início das discussões sobre o SNUC.
IEF-MG realiza primeiro curso livre na UEMG – Carangola (nível de pós-graduação lato sensu) para capacitação de técnicos da instituição, em administração e gestão de UC’s.
O IEF designa um funcionário específico para a criação e gestão do PESB.
...
3
...
1994 1994 (junho) 1994 (setembro) 1994 (julho) final de 1994 1995...
CTA-ZM e IEF-MG realizam levantamentos sócio-econômico e ambiental, identificando nº de famílias inseridas na cota 1.000m, o consumo médio de recursos naturais pelas famílias etc.
Audiência pública da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, em Muriaé, na qual a criação do PESB é colocado na pauta para discussão.
Estudos da Engevix, dados do IEF-MG e Pesquisas de Guilherme Gjorup (DPS/UFV) e Fernando Franco (DEF/UFV); surgimento de uma nova proposta baseada nos princípios da participação.
Proposta de limite físico pelo IEF-MG; proposta de zoneamento pela FAFILE/UEMG.
1ª reunião na sede do CTA, reunindo representantes de comunidades rurais da Serra do Brigadeiro, STR’s de Araponga, Carangola, Ervália, Miradouro e Muriaé, FETAEMG, CPT, pesquisadores da FAFILE/UEMG e da UFV, CTA-ZM, representantes de deputados estaduais, escritórios central e regionais do IEF-MG e prefeitura municipal de Miradouro.
2ª reunião na sede do CTA-ZM com a presença de diferentes segmentos, membros dos STR’s de Carangola, Araponga, Visconde do Rio Branco, Miradouro e Muiraé, CPT, CTA-ZM, pesquisadores da UFV, escritórios central e regionais do IEF-MG, Fundação Ford e CMCN.
CMCN e DEF/UFV se afastam (ou se vêem afastados) do processo de criação do PESB.
Inicia-se uma mudança de concepção na forma de criação de UC’s por parte do IEF-MG.
Reivindicação das comunidades para a implantação dos marcos na demarcação do PESB.
4
... Decreto n.º 38.319 de criação do PESB com 13.210 ha, considerando aspectos ambientais e sócio-econômicos e com a participação social nas redefinições de seus limites.
1996 1996 (setembro) 1997 (julho) 1999 2000 (julho) 2002
CTA-ZM realiza DRP abrangendo 8 comunidades distribuídas em 4 municípios na Serra do Brigadeiro; Pesquisas realizada por Cláudia de Carvalho Mello (DBV/UFV) qualificando e quantificando os recursos e serviços utilizados pelas famílias, tanto fora quanto dentro do parque.
Simpósio realizado pelo IEF-MG, CTA-ZM e UFV intitulado “Parque estadual da Serra do Brigadeiro e Entorno – contribuições para elaboração do plano de manejo integrado e participativo”; início do
Instalação do Conselho Consultivo do PESB.
Instituição do SNUC através da Lei n.º 9.985.
Demarcação dos limites do parque pelo IEF-MG e IGA, com o envolvimento do CTA-ZM e STR’s.
... 2003 (julho) 2003 (novembro) 2004 (abril) 2004 2005 2005 (novembro)
É firmado um convênio entre o Governo de Minas Gerais e o banco alemão KFW, no âmbito do projeto “PROMATA”, que visa ações para promover a proteção da Mata Atlântica no Estado
Elaboração do regimento interno do conselho consultivo do PESB pelos conselheiros/as de forma participativa.
Audiência pública entre as organizações envolvidas com o processo, denominadas Colegiado do PESB, o IEF-MG e a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (SEMAD).
O IEF-MG dá prosseguimento à implantação do PESB realizando algumas ações relativas à obras de infra-estrutura tais como: alojamentos, refeitórios, centro de educação ambiental e pesquisa, sede administrativa e portarias; contratação de funcionários, via convênio com prefeituras do entorno e; encaminhamento de ações para regularização fundiária.
O IEF-MG inicia efetivamente a elaboração do plano de manejo do parque contratando a empresa de consultoria Tanigushi, responsável pela coordenação geral e parte administrativa do plano e a Ambiente Brasil Centro de Estudos (ABCDE), uma organização não-governamental, responsável pelos estudos bióticos e abióticos, com a participação do conselho consultivo.
...
Criada a primeira APA no entorno do PESB, no município de Araponga.
Incêndio de grande proporção no PESB.
Início do processo de regularização fundiária.
Nova gerência do PESB
5
Cadastro das
famílias confrontantes do Parque.
2005 2005 (dezembro)
Decreto de demarcação do PESB com área total de 14.984 ha.