Caderno de resumos do
III Encontro do Grupo de Estudo e Trabalho em
História e Linguagem: Política das narrativas políticas
FAFICH - UFMG
08, 09 e 10 de abril de 2014
Observação: Por um problema quanto ao login da Fafich junto à Biblioteca Nacional,
houve atraso na atribuição do ISBN e, consequentemente, na produção da ficha
catalográfica. Atualizaremos o presente caderno de resumos em 15 dias, já com ISBN e
ficha. Pedimos desculpas pelos transtornos.
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca
Prof. Antônio Luiz Paixão (Fafich-UFMG)
Reitor da UFMG
Prof. Dr. Jaime Arturo Ramírez
Diretor da Fafich
Prof. Dr. Fernando de Barros Filgueiras
Chefe do Departamento de História
Prof. Dr. Tarcísio Rodrigues Botelho
Coordenador do Curso de História
Profª Drª Adriane A. Vidal Costa
Comissão de Organização do III Encontro do GETHL
Alexandre Bellini Tasca
Isabella Batista de Souza
Luiz Arnaut
Márcio dos Santos Rodrigues
Renata Moreira
Warley Alves Gomes
Crédito da imagem da capa:
Esboço do mural iniciado primeiro no RCA Building e depois destruído O Homem na
Encruzilhada, Olhando Pleno de Esperança para um Futuro Melhor, 1932. Fonte:
KETTENMANN, Andrea. Diego Rivera: 1886-1957. Köln: Taschen, c2006.
Diagramação:
Márcio dos Santos Rodrigues
Apoio PAIE/UFMG
Pró-Reitorias Acadêmicas
Realização
GETHL
http://www.fafich.ufmg.br/hist_lingua/
O III Encontro do Grupo de Estudo e Trabalho em História e Linguagem
– Política das narrativas políticas objetiva criar um espaço multidisciplinar de
discussão, tendo como base a narrativa e seus modos de configuração. É assim
que a aparente repetitividade do nome do evento se dissolve, indicando
que toda narrativa é política, a despeito de sua intencionalidade ou demandas
próprias, e que toda política atua também por mecanismos narrativos, além de
que toda narrativa é engendrada por políticas internas. Política, notadamente,
assume aqui o seu sentido lato.
O Grupo de Estudo e Trabalho em História e Linguagem (GETHL)
debruça-se, de forma transdisciplinar, acerca de uma questão norteadora: como a
linguagem pode interferir no mundo? Neste ano, o GETHL voltou-se para a
temática da narrativa, buscando entendê-la em sua forma mais ampla, como um
veículo que permite interpretar a experiência humana e, mais do que isso, em
certa medida, criar realidades ou representações acerca do mundo.
O que é narrar? Aparentemente, uma das atividades mais comuns às
diversas populações humanas, ganha contornos diversos se a inquirimos por meio
de suas políticas. Para que e por quê narramos?
A narrativa é um modo de conformação de realidades, em que a passagem
do tempo está claramente configurada, mobilizando, para isso, elementos de
linguagem (imagética ou linguística). Nesse sentido, abre-se o leque de
entendimento e a narrativa sai do domínio exclusivamente ficcional ou mesmo da
narrativa histórica e passa a abranger a narrativa fílmica, quadrinística, relatos,
estudos, poemas e conjuntos de poemas, ou seja, quaisquer materiais linguístico-
imagéticos que mobilizem elementos para o contar.
Desse modo, entendemos que a linguagem narrada, mais do que desvelar um
mundo, contribui para sua criação, na medida em que nomeia práticas, configura
fazeres e, assim, constitui múltiplas realidades.
O evento é aberto ao público em geral, tendo seu público-alvo específico nos
profissionais das Humanidades (estudantes e professores das redes municipal,
estadual, federal e particular de ensino), de diferentes instituições e localidades.
GETHL
Simpósio Temático 1:
Conceitos e categorias das narrativas
Reúne trabalhos interessados nas diferentes categorias de narrativas, bem como
aqueles que versam sobre aspectos teórico-metodológicos necessários para a
análise de narrativas em diferentes campos do conhecimento, como a História ou
os Estudos Literários;
A Configuração da narrativa queirosiana e o contexto político português:
Alguns apontamentos de uma relação dialética
Virgílio Coelho de Oliveira Júnior (Doutorando em História pela UFMG/Bolsista Capes)
Em “Teoria Estética” (1968), Adorno destaca que a forma artística é conteúdo
social sedimentado. Em outras palavras: as linguagens artísticas são construídas e
reconstruídas de acordo com as formulações sociais em que se inserem.
Entretanto, se essas linguagens são produtos de um determinado contexto social,
elas são também produtoras de formas de se ver, sentir, narrar e edificar o real.
Com efeito, tomamos o romance “Os Maias” (1888), de Eça de Queirós (1845-
1900), com o objetivo de analisar as conexões entre a configuração da narrativa
queirosiana e o contexto político a ela associado. Até a década de 1870, Eça de
Queirós tinha como protagonista de seus romances a burguesia portuguesa,
considerada por ele afetada, superficial e despreparada para conduzir as reformas
que seriam necessárias para colocar Portugal nos “trilhos” da civilização. Com
essa perspectiva crítica, o autor colocava no centro das suas obras os dramas e os
dilemas dessa classe. Nos anos 1880, quando se anunciava a república em terras
lusitanas, e começava a se gestar vários movimentos contestatórios, Eça assumiu
uma postura revisionista, tendendo a apoiar mais claramente os projetos
monárquicos e centralizadores. A partir daí, as narrativas queirosianas
destacavam outra personagem: a aristocracia. Se nos primeiros romances do
autor, os desejos aristocráticos eram sinais de fraqueza da burguesia, a partir,
principalmente de “Os Maias”, ocorreu uma transformação nesses enredos. O
presente trabalho procurará demonstrar que não só as opções temáticas do
romancista estão dialeticamente relacionadas à dinâmica política e social
representada; mas também a nova configuração narrativa por ele edificada. Quais
os significados da desaceleração do tempo narrativo, por meio das crescentes
descrições densas? Pode-se relacionar a predominância do discurso indireto
(protagonismo do narrador), sobre os discursos direto (quando os personagens
conduzem a narrativa) e o indireto livre (mescla das vozes do narrador e dos
personagens), a uma nova forma de perceber e construir a realidade?
Palavras-chave: Eça de Queirós; a narrativa romanesca moderna; Portugal.
As representações publicitárias: estudo para utilização de anúncios comerciais
em uma abordagem histórica cultural do político
Marina Helena Meira Carvalho (Mestranda em História pela UFMG)
O presente trabalho analisa como as representações contidas nas propagandas
comerciais podem ser interessantes fontes para uma abordagem histórica cultural
do político. Elas, nutrindo-se de convenções partilhadas por uma comunidade de
sentido, muito mais que vender produtos divulgam ideias, sonhos, medos, modos
de vida, hábitos, opiniões, imagens, símbolos. Esse trabalho visa compreender
como os anúncios comerciais partem de um contexto determinado cultural, social
e histórico para, ao mesmo tempo, significar e construir. Entendemos, assim, os
publicitários como agentes históricos que, ao formularem representações,
concomitantemente partem de uma comunidade de sentido e se apropriam e
criam significações para o mundo que os circunda. Para isso, discutimos a
natureza das representações publicitárias enquanto fontes históricas, perpassando
pela historiografia referente às representações e à publicidade.
Palavras-chave: representação; propaganda; fontes históricas.
Guerra poética e temporalidade epidítica na querela dos antigos e dos
modernos (sécs. I-III d.C - 1688 - 2014)
Luiz César de Sá Júnior (Doutorando pela UFRJ/Bolsista CAPES)
A Histoire Poétique de la guerre entre les anciens et les modernes, publicada
por François de Callières em 1688, é um texto chave para discutir a famosa
querela ocorrida na França do século XVII. O objetivo da apresentação é propor
que este documento, lido do ponto de vista da técnica retórica, pode ser restituído
a seus significados mais verossímeis, ajudando-nos a demonstrar que os termos
“querela” “antigos” e “modernos” são anacrônicos e hermeneuticamente
inadequados. O trabalho procura sinalizar para a possibilidade de que, superado o
vício modernista por vezes presente nos estudos literários e na historiografia
quanto à “querela”, torna-se possível estudar as práticas letradas francesas em
questão de outro modo, a saber, como dispositivos retoricamente formulados
para emular textos greco-latinos, produzindo, com isso, um efeito de
descolamento do tempo presente (próprio do gênero retórico do epidítico e
afinado a parâmetros dispostos pelo discurso do sublime atribuído a Longino)
arquitetado para projetar os nomes dos melhores letrados da época de Callières,
juntos dos melhores “antigos”, ao futuro. Tratar-se-ia, eis o argumento em
síntese, da tentativa de criação retórica de narrativas ontologicamente
constituídas em torno da tópica do “letrado imortal”.
Palavras-chave: Retórica; Querela dos antigos e dos modernos; Ontologia.
História e narrativa em Paul Ricoeur
Breno Mendes (Mestre em História pela UFMG)
Neste trabalho buscaremos nos aprofundar na definição de narrativa cunhada
pelo filósofo Paul Ricoeur, sobretudo em sua trilogia Tempo e narrativa (3v.
1983-85). Para tanto, iremos nos deter em conceitos centrais do círculo
hermenêutico ricoeuriano como os de mímesis, prefiguração e refiguração da
experiência temporal. Por fim, analisaremos, de forma breve, a objeção do
historiador David Carr aos argumentos de Ricoeur. O pano de fundo de toda
nossa discussão será a relação entre a narrativa e o campo prático.
Palavras-chave: Paul Ricoeur; círculo hermenêutico; narrativa.
Literatura, realidade e ficção. Como se dá o diálogo das narrativas ficcionais
com a sociedade em que estão inseridas?
Matheus de Abreu Arruda (Graduando em Letras pela UFMG)
Essa comunicação é a primeira parte de um trabalho que pretende encontrar em
narrativas ficcionais um diálogo com as ideias anarquistas que circulavam na
Europa no século XIX. Mas até que ponto pode-se debruçar sobre obras literárias
com o intuito de olharmos para o mundo real? Com base nas teorias de Wolfgang
Iser e Antoine Compagnon, discutir-se-á essa relação entre as narrativas
ficcionais e o mundo real. Após essas considerações iniciais, trarei à luz do
debate as regras que, de acordo com Bourdieu, regem a produção desse tipo de
narrativa, tentando relacioná-las com o diálogo que a literatura mantém com as
ideologias presentes no tempo e no espaço de sua produção. Por fim pretendo
analisar as características intrínsecas do discurso literário que permitem tal
diálogo, buscando em Bakhtin as bases teóricas para essa discussão.
Palavras-chave: Narrativa; Ficção; Realidade.
Narração e ethos: as mulheres modernas em Panelinha: receitas que
funcionam (2012)
Julia Ferreira Veado
(Graduanda em Letras pela UFMG)
A proposta desta comunicação parte da constatação de que a narrativa pode
carregar uma dimensão argumentativa, de acordo com o trabalho de Ruth
Amossy (2005). Assim, pretende-se perceber como um relato de uma experiência
pessoal serve de base para formação de um ethos que cativa e convence o
auditório ao qual o sujeito se dirige. Em Panelinha: receitas que funcionam
(2012), Rita Lobo permeia seu manual culinário de pequenos textos nos quais
relata suas experiências pessoais, em geral relacionadas ao ato de cozinhar.
Através desse recorte, procurarei perceber como a autora, influenciada por
valores patriarcais, mas também por ideias e feministas, aborda com temas como
saúde, alimentação, maternidade, família, carreira e vaidade e como sua maneira
de dizer capta a atenção e a adesão de seu público.
Palavras-chave: Narração; ethos; gênero feminino.
Relações entre o método da apresentação histórica de Walter Benjamin e sua
ideia de tradução
Augusto Bruno de Carvalho Dias Leite (Doutorando em História pela UFMG /
Bolsista CAPES)
Walter Benjamin, em sua obra inacabada sobre as Passagens de Paris e no
Prefácio ao livro sobre o drama trágico alemão, levanta hipóteses sobre as
relações entre o método da apresentação e a natureza da linguagem humana e dos
objetos. Para seu pensamento, o método que ele convencionou chamar de
apresentação seria um método possível, precisamente, por imediatamente colocar
em diálogo o que está sendo apresentado e quem sensivelmente entra em contato
ou se choca (num vocabulário propriamente benjaminiano) com esta
apresentação em questão. O choque sensível entre a apresentação, tenha a forma
que ela tiver (ensaio, fragmento, imagem, alegoria), e o seu leitor, dar-se-ia por
um medium – meio material. Esse meio material, a linguagem, tem uma forma
própria que a natureza mesma da linguagem empresta ao receptor, precisamente,
pela via da tradução. A tradução, enquanto procedimento essencialmente
atualizador seria o método pelo qual a apresentação se daria. A ausência de
mediação daria lugar à tradução, natureza imediata e espontânea da linguagem,
“a linguagem mesma, sem mediações”. Ela, a tradução, seria um salto – Sprung –
não mediado dos limites materiais do objeto até os limites sensíveis de quem a
realiza, seu leitor. Esse salto atualizador seria a via do conhecimento promovido
pelo choque de uma apresentação. A apresentação histórica se realizaria da
mesma forma. E a ideia de tradução enquanto natureza essencial da linguagem é
peça chave para a compreensão deste método benjaminiano de se produzir
história.
Palavras-chave: Walter Benjamin; História; Tradução.
Uma abordagem sócio-histórica da relação entre as noções de gêneros e tipos
do discurso
Gustavo Ximenes Cunha (Doutorando em História Social pela UFRJ /
Bolsista CAPES)
Este trabalho apresenta uma abordagem teórico-metodológica para o estudo da
relação entre gêneros do discurso e tipos do discurso. A abordagem,
desenvolvida em Cunha (2013), parte da hipótese de que essas noções são de tal
modo imbricadas que cada gênero possui tipos específicos. Assim,
diferentemente do que postulam abordagens contemporâneas sobre os tipos de
discurso, os tipos não são transversais em relação aos gêneros, não se
sustentando a ideia de que em todo e qualquer gênero o tipo narrativo, por
exemplo, caracteriza-se como um mesmo conjunto de traços linguísticos ou
referenciais. Para verificar a validade e o alcance da hipótese que subjaz à
abordagem defendida neste trabalho, fornecemos, inicialmente, evidências de que
as teorias que concebem os tipos e as sequências como esquemas (linguísticos ou
referenciais) universais não resistem à análise de uma sequência narrativa
simples. Após evidenciar a inconsistência dessas teorias, propomos, em seguida,
a abordagem mencionada, que tem como objetivos contornar os problemas
inerentes a elas e permitir elucidar aspectos ainda desconhecidos do
funcionamento dos gêneros e do modo como deles nos valemos para alcançar
fins específicos. Neste trabalho, evidências a favor da abordagem delineada serão
buscadas em estudo sobre o tipo narrativo do gênero reportagem.
Palavras-chave: tipos de discurso; gêneros do discurso; tipo narrativo da
reportagem.
Simpósio Temático 2:
Narrativa e Política
Reúne trabalhos preocupados com o imbricamento entre narrativa e o universo da
política, em diferentes contextos históricos. O foco recai sobre o modo como a
narrativa é ou foi instrumentalizada para fins políticos, configurando-se como
uma forma de poder e/ou resistência;
A linguagem da resistência: os panfletos antinazistas da “Rosa Branca”
Anna Carolina Schäfer (Mestranda em Língua e Literatura Alemã pela USP/Bolsista FAPESP)
A presente comunicação terá como tema central os panfletos produzidos e
distribuídos pelo grupo de resistência ao nacional-socialismo que se
autodenominava “A Rosa Branca” (alemão: Die Weiße Rose) e era formado
sobretudo por jovens universitários de Munique. Em uma sequência de seis
panfletos, enviados anonimamente pelo correio ou distribuídos veladamente na
cidade de Munique entre meados de 1942 e fevereiro de 1943, o grupo narrou
atos criminosos cometidos pelos nazistas e conclamou a população alemã à
resistência. Opositores do nazismo por convicções políticas, religiosas e morais,
seis membros do grupo foram presos pela Gestapo e condenados à morte pelo
Tribunal do Povo nazista. Os panfletos da Rosa Branca são hoje testemunhos da
resistência alemã ao nacional-socialismo, tema ainda muito pouco divulgado no
Brasil, e foram traduzidos para o português durante o projeto desenvolvido na
Universidade de São Paulo que culminou na publicação da obra “A Rosa Branca:
a história dos estudantes alemães que desafiaram o nazismo” em 2013. Nesta
apresentação, destacaremos características marcantes da linguagem dos
panfletos, as quais estão profundamente relacionadas ao contexto em que eles
foram produzidos e constituíram um desafio à tradução desses textos. São elas,
por exemplo, o nível rebuscado de sua linguagem – atribuído ao público-alvo
para o qual foram redigidos inicialmente: a “elite intelectual de Munique” – e as
abundantes intertextualidades (referências implícitas e explícitas a textos
bíblicos, filosóficos e literários).
Palavras-chave: resistência; panfletos; Rosa Branca.
A modernidade no discurso político: A Assembleia Legislativa e o governo JK
em Minas Gerais
Maria Elisabete Gontijo dos Santos (Especialista em Estudos Ambientais pela PUC-MG/ Escola do Legislativo)
Maria Beatriz Gontijo dos Santos (Mestre em Linguística pela UFMG/ Escola do Legislativo)
A comunicação trata da forma como foi implantada a proposta de modernização
apresentada pelo governo JK em Minas Gerais, no período de 1951 a 1955, e
seus diversos significados para sociedade essencialmente agrária de então. Para o
desenvolvimento do trabalho, as autoras utilizaram-se da análise de discursos dos
parlamentares na Assembleia Legislativa mineira, bem como do exame de
documentos da época. Em 2013, foi lançado o livro de mesmo nome, editado
pela ALMG, resultado do estudo realizado por elas no âmbito da Escola do
Legislativo.
Na primeira parte, apresentaremos o quadro político, econômico e social em que
se deu a eleição do governador Juscelino Kubistchek e o resultado de suas
propostas modernizantes. Posteriormente, analisaremos o impacto dessas novas
políticas no parlamento mineiro. A partir de seus discursos apresentados pelo
rádio e os realizados pelos parlamentares mineiros, em 1951, a comunicação
detalha as diferenças de linguagem adotadas pelos defensores e pelos opositores
à modernidade proposta. Anos mais tarde, com a eleição de JK para a Presidência
da República, esse debate passa a dominar o discurso político nacional.
Palavras-chave: Discurso; política; modernidade.
A narrativa exemplar e o comportamento político em Tácito
Mamede Queiroz Dias (Mestrando em História pela UFOP/Bolsista CAPES)
O objetivo desta comunicação é apresentar as relações entre a narrativa
(narratio), as personagens (exempla) e o comportamento político a partir do
historiador latino Cornélio Tácito (55/57-120 d.C.), que escreveu suas obras entre
o final do século I e meados do século II. Com isso, temos em vista entender
melhor a importância atribuída por Tácito a alguns indivíduos da elite senatorial
romana e o cenário político do Principado em que o historiador viveu.
Palavras-chave: Narratio; exempla; Tácito.
A arquitetura da repressão: as narrativas nos inquéritos policiais militares
César Nardelli Cambraia (Doutor em Filologia e Língua Portuguesa/Professor da FALE-UFMG/CNPq)
Francielle Alves Vargas (Graduanda em Letras pela UFMG/Bolsista CNPq)
Paula Carvalho Tavares (Graduanda em Letras pela UFMG/Bolsista CNPq)
Thaynara Nascimento Santos (Graduanda em Letras pela UFMG/Bolsista PROGRAD)
Um dos instrumentos utilizados pela ditadura militar vigente entre 1964 e 1985
no Brasil para reprimir qualquer manifestação de dissidência ideológica era o inquérito
policial militar (IPM). Esse procedimento gerava processos com documentação para
subsidiar condenações daqueles que não sucumbissem ao estado totalitário e à sua
ideologia. Nesta comunicação, pretende-se discutir dois aspectos dos processos dos
IPMs pertencentes ao Acervo do DOPS-MG, para melhor compreender sua arquitetura:
(a) a tipologia dos documentos que faziam parte de cada processo e (b) os critérios
utilizados ao longo dos documentos para legitimar a atividade repressiva. O segundo
aspecto, cerne desta comunicação, pode ser inferido da documentação através
especialmente das diversas narrativas presentes nos diferentes gêneros textuais, tais
como termo de perguntas ao indiciado, termo de inquérito de testemunha, termo de
declaração, etc. Também interessam a esta discussão as instruções para os inquéritos
policiais e IPMs, documentos que serviam de guia de procedimentos na realização de
um IPM e de seu processo. No anexo 3 da instrução presente no documento BR
MGAPM,XX DMG.0.0.646 do Arquivo Público Mineiro (como aditamento do decreto
no 53.897, de 27 de abril de 1964), por exemplo, constam diretivas tanto claramente
ideológicas como “Opinião sobre o comunismo no Brasil” quanto absurdamente
tergiversantes como “Opinião sobre o voto do analfabeto”. No anexo 4 do mesmo
documento, encontram-se fórmulas textuais prontas para serem usadas nos processos,
como “TENDÊNCIAS: Conhecido por suas tendências comunistas” e “ATIVIDADES:
Defendeu a realização do comicio do dia 13 de março de 1964 bem como as ideias nele
debatidas”, indicando assim que as narrativas não eram construídas para cada
investigado, mas sim que os investigados eram enquadrados em narrativas formulaicas
pré-fabricadas.
As narrativas do Hip Hop através da música rap: resistência e visão de mundo
Paulo Renato Souza Ienczak (Mestrando em História pela UFPel)
Narrativa é um recorte específico de determinado ocorrido/fábula/crônica em
espaço de tempo e contexto próprio, transmitido através de algum meio
comunicativo, seja oralmente, seja através do papel com escritos, meio digital,
quadrinhos, cinema, música, entre outros. A música é transmitida oralmente,
mais especificamente o canto, e este pode ser fixado e reproduzido em diversas
mídias, como cds, dvds, bem como em meio digital em formato MP3 entre
outros. A música que faz parte da cultura / movimento hip hop é o rap, gênero
que consiste em rimas versadas no ritmo de um instrumental eletrônico ou
acústico. O rap possui diversos estilos de narrativa, muitas vezes se utilizando
destas para transmitir uma mensagem, protesto, ou relato cru de uma situação
vivida pelos intérpretes das músicas rap, ou testemunhado por estes. Pretendo
com meu trabalho investigar como as narrativas das músicas rap utilizam-se de
histórias, fábulas, ou simplesmente protestos mais diretos para assim inserir o
movimento e seus adeptos em discussões sobre questões como a desigualdade
social, racismo, baixa autoestima na periferia, política, e uma série de outros
assuntos. Assim procedendo os produtores da cultura hip hop utilizam sua arte
como forma de resistência, à valores que para os mesmos são vistos como
degradantes, ou fazendo frente à situações e atores sociais que são muitas vezes
apresentados inimigos a serem combatidos. Além do protesto social e outros
inúmeros assuntos abordados através das narrativas contidas nas letras de rap, e
também por meio das imagens veiculadas em videoclipes, é criado um universo
que se reproduz, aonde roupas, modos de andar, falar e gesticular, bem como
outras posturas e atividades são afirmadas e reproduzidas, delimitando a partir
dessa comunicação a identidade interna do grupo e também sua imagem perante
a sociedade. Partirei do pressuposto de que a partir de narrativas próprias do
grupo é que este conquista seu espaço na sociedade.
Palavras-chave: Hip hop; narrativa; resistência.
Aspectos da história da Guerra de la Triple Alianza em tempos de Stroessner
Bruna Reis Afonso (Graduanda em História pela UFMG)
O regime Stroessner é considerado uma das mais longas e autoritárias ditaduras
da América Latina, Alfredo Stroessner Matiauda (1912- 2006) governou o
Paraguai de 1954 a 1989, 35 anos, dentro das estratégias para legitimar-se e
permanecer no poder fez uso de um discurso fortemente anticomunista e também
mobilizou a história através do resgate da memória dos grandes heróis nacionais,
principalmente a de Solano López, procurando associar sua imagem a daquele
que era considerado o grade herói da Guerra. Durante seu governo ocorreram
duas importantes reformas educacionais com o apoio da Unesco e da AID -
Agência Norte Americana para o Desenvolvimento Internacional - que visavam a
modificar a estrutura do sistema educacional desde as construções escolares até o
currículo. Tendo em vista a mobilização da história de maneira a justificar o
regime, bem como os aportes feitos no sistema educacional, os manuais escolares
tornam-se fontes privilegiadas para a compreensão da construção do lopizmo,
entendido como um dos elementos fundamentais da propaganda stronista, e das
projeções sobre passado, presente e futuro que permeiam as versões oficiais
sobre um evento traumático como a guerra do Paraguai, o maior conflito sul-
americano durante o século XIX, contada aos jovens. Com este objetivo serão
estudados manuais destinados a etapa básica do nível médio, publicados a partir
da reforma educacional ocorrida em 1973, conhecida como Innovaciones
educaionales. A escolha desses manuais deve-se a abordagem mais profunda que
é dada a temática nessa etapa da formação escolar.
Palavras-chave: Guerra do Paraguai; Manuais escolares; Regime Stroessner.
Berlin Alexanderplatz e a narrativa das utopias
Maria Edith Maroca de Avelar Rivelli de Oliveira (Doutoranda em História pela UFOP)
Este trabalho se propõe a uma leitura da obra Berlin Alexanderplatz de Alfred
Döblin, intentando destacar a habilidade desta narrativa em representar, através
da fábula de Franz Biberkopf, a trajetória do povo alemão rumo às utopias, no
período entre as dua grandes guerras do século XX: desde a experiência
traumática do primeiro conflito (1814), até a desilusão com as grandes utopias do
século XX, que redundaria no segundo conflito em 1939. O personagem
Biberkopf transita entre as utopias e religiões de seu tempo, sempre em busca de
uma salvação que não encontra em nenhuma delas. Sua existência errante reflete
criticamente as ilusões e desilusões da Alemanha entre guerras em sua busca de
uma redenção utópica.
Palavras-chave: Berlin Alexanderplatz; Utopias políticas; literatura e política.
Bernardo Élis: lendo os ermos e os gerais
Pauliane de Carvalho Braga (Mestranda em História pela UFMG/Bolsista CNPq)
Esta apresentação propõe-se a analisar as obras do escritor goiano Bernardo Élis
publicadas durante as décadas de 1950 e 1960. Localizando o autor dentro de
uma intelectualidade pecebista, que à época elaborava reflexões inéditas sobre o
campo brasileiro, examinaremos as contribuições específicas do autor para o
tema, assim como os pontos em que sua obra convergia e/ou divergia dos
postulados do Partido Comunista Brasileiro.
Palavras-chave: Partido Comunista Brasileiro; Bernardo Élis; Reforma Agrária.
Concepções políticas nos primórdios do Islã: Um estudo comparado entre o
Alcorão e as hadiths
Paulo Renato Silva de Andrade (Mestrando em História pela UFMG)
As construções discursivas em torno da legitimidade da sucessão de Muhammad
na comunidade islâmica do século VII compõem, até hoje, as fundações da
teologia política islâmica. Diante do problema prático da sucessão, e das
complicações imediatas envolvidas, coube aos diferentes grupos políticos buscar
respaldo posterior para suas posições nas fontes de maior autoridade que podiam
encontrar: a palavra de Deus, os exemplos de Seu Profeta, além da comunidade
em que ele viveu. As narrativas, posteriormente construídas nesse esforço,
tenderam a atribuir retrospectivamente à época da vida do Profeta problemas a
ela externos. Desse modo, pretendemos apresentar um estudo comparado sobre a
temática da sucessão no Alcorão – entendido como, além de o núcleo da religião
islâmica, um documento autêntico da primeira comunidade islâmica – e as
hadiths, relatos tradicionais a respeito da primeira comunidade – porém
compostos, em maioria, ao menos um século depois - e que ainda compõem parte
da literatura canônica islâmica e sua teologia. A partir dessa investigação, fica
claro em que medida a construção narrativa possibilita modelos de
inteligibilidade distintos, que buscam responder questões que dizem mais
respeito aos autores dessas narrativas que aos objetos que eles buscam abordar, e
que veem a ter consequências políticas, sociais e culturais extremamente
duradouras e determinantes.
Palavras-chave: Islã; Muhammad; Política.
Entre orientações técnicas e discursos implícitos: conhecimento prático
explícito e orientações anti-libertinas implícitas no Tratado das Abelhas
Bruno Vinícius Leite de Morais (Mestrando em História pela UFMG/Bolsista CAPES)
Esta comunicação busca visualizar nos manuais técnicos, estimulados pela Coroa
Portuguesa para as Minas Gerais na virada para o oitocentos, um discurso
político de reafirmação do poder régio demonstrado implicitamente sob uma
linguagem de orientação técnica voltada para o mundo rural. Os manuais são
abordados, portanto, como um espaço de orientação prática, mas também como
local para a proliferação de um discurso político moralizador de maneira
implícita. O caso trabalhado, o Tratado das Abelhas, escrito por Francisco de
Faria e Aragão e publicado em 1800, é visto como portador de um discurso
crítico à ideias de libertinos e iluministas, compartilhando dos interesses do
ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho, em meio a um contexto de proliferação
de ideias revolucionárias nas próprias Minas, conforme percebido pelos
governantes através das inconfidências. Para tal abordagem, será trabalhado não
apenas os discursos e linguagens presentes no manual tratado como estudo de
caso, mas também o contexto político do período e os objetivos e aspectos da
casa literária que o produziu, a efêmera “Arco do Cego”. A proposta de análise
da linguagem implícita acima citada será ancorada, sobretudo, nos estudos de
história social da linguagem propostos por Peter Burke na obra A arte da
Conversação e nas contribuições teóricas dos estudos de cultura política,
produzida por nomes como Serge Berstein, Eliana Dutra e Rodrigo Patto Sá
Motta, entre outros.
Palavras-chave: Minas Gerais colonial; Manuais técnicos rurais; Política
colonial e literária portuguesa.
Humor, humorismo e humoristas no Brasil: Das entrelinhas da literatura ao
politicamente (in)correto
Rony Petterson Gomes do Vale (Doutor em Linguística do Texto e do Discurso /
Pós-doutorando em Estudos Linguísticos pela UFSJ/
Bolsista CAPES/PNDP)
Resumo: Neste trabalho, procuramos traçar um panorama do humorismo e dos
humoristas no Brasil do final do século XIX ao início do século XXI, dando
especial relevância ao modo como as condições sociais, políticas, tecnológicas e
mercadológicas influenciaram a organização do campo discursivo do humor.
Desse modo, discutimos, num primeiro momento, como o desenvolvimento da
imprensa no Brasil gerou uma especialização de outros campos discursivos como
o midiático e o publicitário, que, de certo modo, absorveram os primeiros
humoristas brasileiros. Todavia, nesse mesmo período, vislumbramos as
primeiras “rixas” entre humoristas e literatos, delimitando os espaços próprios do
que é literatura (a ABL) e do que é humor (as “zonas suburbanas” da literatura)
no Brasil, pois: “a preocupação de todo escritor era parecer ser grave e severo. O
riso era proibido”, muito embora a anedota e a piada gerassem um certo sucesso
perante o público (cf. o caso de Mendes Fradique). Novos avanços, no entanto,
viriam a criar uma espécie defesa da profissão. Com o teatro de revista, o rádio, o
cinema e, por fim, a televisão, o humor passa a ser visto como produto de
consumo, gerando renda e empregos. Com efeito, os humoristas procuram se
diferenciar daqueles que fazem ri a todo custo – os “risistas”. Por último,
analisamos como as novas mídias criadas no fim do século XX e início do século
XXI e as sensíveis mudanças sociais influenciaram no fazer humor no Brasil, a
saber: i) a internet e as redes sociais e o contato, por vezes, direto entre humorista
e público; ii) o politicamente (in)correto, espécie de “censura branca”, gerador de
processos jurídicos não somente baseados em motivações moralistas mas
também financeiras; e iii) a influência americana do stand-up, que, em solo
brasileiro, abriu a porta dos fundos do humor com a possibilidade de excessos de
todos tipos.
Palavras-chave: discurso humorístico; campos discursivos; mudanças
discursivas.
Invenção do passado: narrativa republicana da História do Brasil nos poemas
republicanos (Brasil, 1870-1889)
Luiz Arnaut (Doutorando em História pela UFMG/
Pesquisador do GETHL)
O projeto de instituir a República foi acompanhado pela invenção de um passado
no qual esta aparecia como desdobramento lógico. O projeto e expectativa do/no
porvir, vocábulo e ideia recorrente nos poemas, informou e foi informado pela
re-escrita da História do Brasil até aquele momento. Os poemas, quando
colocados em série, são passiveis de serem tratados como narrativa, mesmo
quando individualmente não trazem a passagem do tempo como uma de suas
marcas. A elaboração do projeto republicano aconteceu in medias res,
implicando na elaboração de ficções concordantes (Kermode) sobre as origens e
o porvir da História do Brasil. O presente trabalho busca analisar essa releitura e
invenção presentes no conjunto dos poemas.
Palavras-chave: República; Império; Poemas.
La Carmagnole: uma narrativa política do peuple
Allysson Fillipe Oliveira Lima (Graduando em História pela UFMG)
A primeira definição por mim encontrada em um glossário para a palavra
Carmagnole aponta para um tipo de casaco curto. Em 1792, durante a Revolução
Francesa, a Carmagnole passa a designar também uma música, uma dança, uma
forma de expressão dos revolucionários, ela passa a conter uma ideia, torna-se
um símbolo revolucionário. Nesta pesquisa o foco recai sobre o que a permite
circular entre o peuple, que tipo de questionamento ela pode propor e quais
práticas ela poderia engendrar. O estudo da Carmagnole passou pela intenção de
compreendê-la enquanto música popular, portanto com traços específicos
capazes de potencializar a sua capacidade de circular informações e propor
questionamentos em uma sociedade parcialmente alfabetizada como era a
francesa do final do século XVIII. Tive como fontes teóricas principais autores
como Hannah Arendt, François Furet, Jean-Jacques Rousseau, entre outros, dos
quais procurei extrair conceitos que me permitissem considerar aspectos da
Revolução Francesa, como o papel do peuple dentro dela, principalmente ao ditar
o seu ritmo e introduzir a questão social aos debates revolucionários; bem como
os sans-culottes, personagens que teriam sido a própria incorporação, articulação,
e prática daquilo que foi anunciado nos versos da música. Proponho, portanto,
com esse projeto, que a Carmagnole é o peuple da França. Ela traz à tona a
miséria e o desejo pela luta. Ela conquista aliados pela “compaixão” e aumenta o
seu coro. Seduz através do dever de se lutar pela questão social, pelo irmão, pela
necessidade da pátria. A Carmagnole é a expressão da emoção em meio ao
racionalismo ilustrado. É, assim, como expressão desse sentimento de
“compaixão” que ela se permite circular e engendrar práticas políticas durante a
Revolução Francesa.
Palavras-chave: Música; Carmagnole; Revolução Francesa.
Narrando Áfricas: ações e discursos em torno da criação de uma universidade
de integração entre Brasil e África
Viviane de Souza Lima (Graduada em Comunicação Social pela UFC)
O trabalho proposto ao Simpósio Narrativa e Política objetiva refletir sobre a
movimentação histórica em torno da criação da Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), localizada na cidade de
Redenção, Ceará, e sua proposta de promover a cooperação acadêmica e cultural
entre o Brasil e países membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa
(CPLP) – Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé
e Príncipe e Timor Leste. A Unilab se insere na política internacional adotada
pelo Governo Lula (2003 - 2010) de aproximação do Brasil com os chamados
Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palops). Dentro da proposta do
Simpósio, as ações e discursos em torno da criação da Unilab externam
falas/narrativas históricas que, em profusão, misturam-se em tempo e espaço
envolvendo Brasil e África em um mesmo universo, supostamente em sintonia
plena a partir da vinculação comum a um repertório luso que estaria unificado
pelo idioma, ancorado em uma trajetória semelhante de colonização portuguesa.
É nesse contexto que se pensa criticamente a legitimação de ações de vitimização
para com a África Lusa, desencadeadas por Brasil e Portugal na propagação de
discursos assim legitimados. Apresenta-se a África – a que fala a língua
portuguesa – idealizada, violentada pela colonização e pela escravidão, a ser
redimida pelos antigos colonizadores, antenados a um contexto modernizador,
dispostos a contribuir para uma reparação desse passado, a partir da construção
de novos rumos. A Unilab surge como concretude de tal discurso por ser uma
instituição de ensino superior que, no Brasil, inscreve-se em uma região que se
quer notabilizar pela primazia de ter libertado os escravos antes mesmo da
proclamação oficial de 1888. Tem-se uma narrativa do passado, amparada na
memória histórica sobre a escravidão, apropriada para novos projetos políticos,
por onde se adequam discursos e ações no jogo de temporalidades, sustentados
no repertório da Cultura, de sentido político e com sentidos de história social que
aponta para novos contextos.
Palavras-chave: África; educação; escravidão.
O lugar da memória e da política no romance da Revolução Mexicana
Warley Alves Gomes (Mestre em História pela UFMG/
Pesquisador do GETHL)
A partir da década de 1920 o governo pós-revolucionário mexicano buscou
incentivar a fomentação de uma “cultura revolucionária”, que incorporasse os
elementos considerados representativos da Revolução Mexicana: a coragem, a
virilidade, a violência revolucionária, a cultura popular e indígena. Na literatura
observou-se a formação de um subgênero que ficou conhecido como “romance
da Revolução Mexicana”. Vários textos autobiográficos ou memorialísticos
foram incorporados nesse subgênero. O objetivo deste trabalho é analisar alguns
desses textos, buscando mostrar as relações estabelecidas entre essas narrativas e
a política mexicana durante a década de 1930, considerando as divergências e as
proximidades entre seus autores e os ideais do governo mexicano no período
proposto. Os autores escolhidos para a análise são: José Ruben Romero, Nellie
Campobello e José Vasconcelos, todos atuantes na burocracia mexicana na
primeira metade do século XX.
Palavras-chave: Revolução Mexicana; História; Literatura
Orvil: a história “posta em forma” pelo Exército Brasileiro (1985-1988)”
Mauro Eustáquio Costa Teixeira (Doutorando em História pela UFOP/Bolsista CAPES)
O Orvil é um livro produzido pelo Exército Brasileiro durante o governo Sarney,
contendo a versão das Forças Armadas sobre a luta armada de esquerda e a
repressão policial-militar nos anos 1960 e 1970. Nossa comunicação pretende
analisá-lo enquanto uma narrativa idealizada para se contrapor àquelas
produzidas por ex-guerrilheiros ao longo da primeira metade da década de 1980.
Os comandantes militares consideravam fundamental o controle da memória
coletiva acerca do passado recente, no sentido de legitimar a tutela militar sobre
o Estado de Direito que começava a ser construído, bem como impedir o
fortalecimento de partidos e organizações de esquerda. No Orvil, essas metas
foram perseguidas através da negação taxativa das acusações de tortura e
execuções, bem como da imputação aos comunistas de permanentes intenções e
ações antidemocráticas. Para levar a cabo esta análise, utilizar-nos-emos das
formulações de Jörn Rüsen, buscando identificar as principais dimensões que,
segundo este autor, se fazem presentes nas culturas históricas. No caso do relato
produzido pelo Exército, a dimensão política se materializa na tentativa de se
construir uma narrativa global e oficial da violência política do passado; a
estética se revela na alternância entre diversos estilos narrativos, conforme o
objetivo de cada passagem do texto; e a cognitiva se reflete numa visão de tempo
histórico que faz empréstimos junto a concepções cíclicas de história e à visão da
história como magistra vitae. Através destes elementos, o comando do Exército
procurava utilizar a história como armamento em sua luta pela preservação do
poder acumulado durante os anos da ditadura militar.
Palavras-chave: militares, cultura histórica, transição brasileira
“Respirar o amor aspirando liberdade”: representações sociais e políticas em
narrativas da axé-music e do pagode Lenon Augusto Luz de Moraes
(Graduando em História pela UFMG)
Bruno Vinícius Leite de Morais (Mestrando em História pela UFMG/Bolsista CAPES)
Esta proposta de comunicação sugere uma análise, ainda que preliminar, de
representações sociais produzidas e veiculadas a partir das construções narrativas
das canções populares das vertentes pagode e, sobretudo, axé-music. Estas
obtiveram amplo sucesso a partir do final da década de 1980, mas são ignoradas
pela crítica especializada e historiografia num duplo preconceito envolvendo
questões estéticas e o receio para com a “história do tempo presente”. A hipótese
é que as canções, enquanto um construto social, traçam representações de mundo
que podem ser uma rica fonte para o historiador. Se as maneiras de narrar a
recorrente temática de amor e desamor (representativas das modificações sociais
ocorridas após as revoluções sexual e comportamental do século XX) podem ser
interessantes objetos para o historiador social, outras canções apresentam
instigantes questões ao historiador do político. É o caso do “axé-socialista”
Vermelho, destaque na interpretação de Márcia Freire (posteriormente regravada
por Fafá de Belém e utilizada como propaganda pelo Partido dos Trabalhadores),
Xibom bombom, gravada pela banda “As meninas”, que denuncia a desigualdade
social imperante no Brasil, ou Deus é brasileiro, sucesso com a banda Terra
Samba. Esta última canção parte de um corriqueiro dito popular que expressa um
aspecto do nosso ideal de brasilidade, o referido no título, para denunciar
mazelas sociais e problemas cotidianos do cidadão pobre no Brasil. As
referências teóricas serão diversos estudos da historiografia sobre as
peculiaridades da narrativa expressa em canções, como os de Marcos Napolitano,
Santuza Naves, Miriam Hermeto e Paulo César de Araújo (principalmente, por já
analisar as construções narrativas das canções chamadas “bregas” ou “cafonas”,
também produzidas pelo grupo social excluído economicamente), contribuições
da linguística para o estudo da canção popular feitos por Luiz Tatit e José Miguel
Wisnik, a noção de “brasilidade” articulada por Marcelo Ridenti (2010) e estudos
próprios da teoria social brasileira.
Palavras-chave: Axé-music; Representação social; Imaginário político.
Santidade política e política hagiográfica na Ordem dos Frades Menores
(séculos XIII-XIV)
Felipe Augusto Ribeiro (Mestrando em História pela UFMG)
Este é um trabalho de História Medieval. Mais precisamente, ele trata das
hagiografias (narrativas póstumas, em forma escrita, sobre vidas de personagens
com fama de santidade) produzidas pela Ordem dos Frades Menores entre os
séculos XIII e XIV, nas várias cidades da Península Itálica. O texto se preocupará
em investigar o boom de produção hagiográfica no período, levado a cabo
particularmente pela Ordem. Partindo da premissa de que o esse gênero retórico,
a princípio voltado ao convencimento de cunho religioso, foi largamente
empregado pela Ordem para forjar a própria santidade, a reflexão levará em
conta duas hipóteses: 1) as narrativas santorais teriam se multiplicado conforme
se tornava necessário resistir ao crescente rigor dos processos canonizatórios
(que reconheciam, legitimavam e universalizavam os santos e seus cultos) e à sua
centralização, de forma exclusiva, nas mãos dos papas e de suas cúrias; e 2)
como o público dessas hagiografias eram os próprios frades, a intenção dos
dirigentes da Ordem, ao encomendar e promover essas narrativas, seria
instrumentalizar seus membros com a legitimidade necessária (atribuída ou
corroborada pela santidade) para que exercessem o poder de regulação social
urbana que se esperava deles. Enquanto o papado se esforçou em controlar a
oferta de santidade –, ou seja, a quantidade de canonizações – para a Ordem e,
por conseguinte, o seu poder de autopromoção e intervenção social, estes fizeram
muitas demandas por novos santos, requerendo não só a abertura de processos
canonizatórios, mas também redigindo uma infinidade de compilações
hagiográficas que ora narravam santidades já reconhecidas por suas
comunidades, ora as criavam e as propunham a este público. O objetivo da
comunicação, portanto, é explorar o lugar e o papel político das hagiografias. O
resultado esperado é que se explicite a sua função instrumental para a
intervenção política do clero nas comunidades urbanas.
Palavras-chave: História Medieval; Hagiografia; Ordem dos Frades Menores.
Sete Olhares sobre o Purgatório de Dante: Um ensaio sobre o discurso dos pecados
capitais e seus reflexos na sociedade do século XIV-XVI
Albert Drummond Lopes (Mestrando em Ciências da Religião pela PUC-MG/
Bolsista PROSUP)
O presente ensaio propõe uma análise histórico-social através do discurso por trás da
literatura de Dante Alighieri. Desde a Antiguidade Clássica com Aristóteles, passando
pelos padres do deserto, Gregório o Grande e finalmente São Tomás de Aquino que os
vícios humanos despertaram interesse dentro da doutrina cristã. No entanto somente no
século XIII durante o quarto Concílio de Latrão que a confissão dos pecados se torna
obrigatória e a necessidade de definir, classificar e caracterizar os males humanos
retorna. Iconografias, discursos confessionais e principalmente a literatura foram
responsáveis por um pensamento culpabilizador do homem medieval/moderno. Entre
essas literaturas se encontra a Divina Comédia, um texto fantástico que materializa o
imaginário acerca do além túmulo, contudo somente no segundo livro O Purgatório que
Dante nos oferece sete olhares sobre os vícios humanos os classificando por ordem de
maior gravidade. Os sete pecados capitais tiveram sua popularidade reforçada com a
Divina Comédia e que para Jeromé Bashcet eles não só encabeçavam a lista das piores
ofensas a Deus como também se responsabilizavam por sete principais pilares sociais.
Trabalhando com autores como São Tomás de Aquino, Jacques Le Goff, Jean
Delumeau e Jeromé Baschet pretendo compreender como foi o reflexo dos sete pecados
capitais dentro da sociedade através da literatura de Dante Alighieri.
Palavras-chave: Purgatório; Dante; Pecados Capitais
Simpósio Temático 3:
Narrativas em imagens
Reúne trabalhos preocupados com os modos pelos quais imagens (em sequência
ou não) colocam em cena o contar. Aqui serão encaixados estudos sobre
narrativa fílmica ou quadrinísticas e mesmo sobre narrativas em obras de artes
plásticas;
A diversificação dos mecanismos narrativos em histórias em quadrinhos
Lucas de Sousa Medeiros (Mestrando em História pela UFU)
A narrativa quadrinhistica durante o seu processo de desenvolvimento e
maturação, no século XIX e XX, se diferencia da literatura e das “belas artes”, se
constituindo em uma linguagem própria e consequentemente construindo para si
um conjunto de mecanismos construtores de sentido que necessitária de um
domínio à parte daquele utilizado para compreender uma narrativa escrita ou uma
imagem abstrata. O sentindo de temporalidade está intimamente imbricado a
narrativa em quadrinhos, desde seu mecanismo básico, o quadro intercalado por
espaços vazios, até em experiências estéticas mais complexas que precintem do
quadro. As histórias em quadrinhos modernas, tal qual o cinema não podem ser
dissociadas de um esquema de produção industrial que definiu regras e padrões
estéticos e narrativos e que de forma mais ou menos direta, guiou a evolução
dessas mídias. Propondo recuperar a historicidade desse meio e intercala-lo ao
aparecimento, diversificação e uso dos principais mecanismos estéticos e
literários dos quadrinhos, compreender como essa linguagem adquire autonomia
e o campo de possibilidades que oferece aos estudiosos da narrativa.
Palavras-chave: Histórias em Quadrinhos; Narrativa; Mecanismos Narrativos
As representações do 11 de Setembro e das políticas antiterroristas nas
histórias em quadrinhos da Marvel Comics
Victor Callari (Mestrando em História pela UNIFESP)
O presente artigo analisa as representações dos atentados terroristas ao World
Trade Center e das subsequentes políticas antiterrorismo adotadas pela
administração Bush tipificadas no chamado Ato Patriótico e presentes nas
histórias em quadrinhos da Marvel Comics que revigoraram o mercado editorial
estadunidense e levantaram questões referentes ao embate entre liberdades civis e
atuação do Estado, além de apresentar uma reflexão teórica sobre as
especificidades metodológicas no estudo da arte sequencial.
Palavras-chave: Histórias em Quadrinhos; 11 de Setembro; representações.
Crítica Social e Política no romance gráfico "O Cavaleiro das Trevas" de
Frank Miller
Rodolfo Grande Neto (Graduando pela Universidade Estadual do Centro-Oeste)
O trabalho busca compreender a relação entre a construção narrativa do romance
gráfico“O Cavaleiro das Trevas” (escrita por Frank Miller, com desenhos do
mesmo em parceria com Klaus Janson e cores de Lynn Varley) e o contexto que
foi produzido. O mundo ficcionalizado, descrito em “O Cavaleiro das Trevas”, é
baseado nas experiências que Miller e em seu olhar sobre os Estados Unidos da
década de 1980, sendo a obra uma representação de suas percepções sobre a
sociedade, o direcionamento político da Era Reagan e a Guerra Fria. Parte-se do
pressuposto de que a narrativa criada pelos três autores por meio da linguagem
dos quadrinhos pode se caracterizar como uma narrativa política em amplos
sentidos: desde a militância em estabelecer os quadrinhos como produção
artística até a crítica política no sentido lato.
Palavras-chave: Arte Sequencial; Era Reagan; Guerra Fria.
Eco no campo: o mito do herói de Joseph Campbell e a mitificação de Umberto
Eco nos super-heróis.
Edson Wilson Mendes de Almeida (Secretária de Estado de Goiás - Colégio Estadual Complexo 10)
Em seu estudo acerca do herói, Joseph Campbell exemplifica que todo herói
possui um mito inicial, uma jornada cerca de desafio e autoconhecimento,
preparando-o para a sua aventura. Seja na literatura, no cinema ou nos
quadrinhos, esta estrutura pode sofrer algumas mudanças, mas permanece
representada. Os super-heróis apresentados neste artigo não estão distantes desta
afirmativa. Mas personagens com anos de publicação precisam manter uma
estrutura que o seu leitor logo a identifique, uma mitificação estudada por
Humberto Eco, ao qual seu texto aborda exatamente o Super-Homem. Mas
mudanças podem ocorrer, principalmente com o intuito de vender mais revistas.
Mudanças estas que aparentemente retiram a mítica do herói, alterando suas
condições e para ao final da aventura tudo retornar a condição mítica.
Palavras-chave: Mito do herói; Mitificação; Super-herói.
Nacionalismo nas Histórias em Quadrinhos: Pátria, Super-heróis e imaginário
político nos EUA (1940-1941)
Márcio dos Santos Rodrigues (Mestre em História pela UFMG / DMTE-FaE-UFMG/
Pesquisador do GETHL)
A comunicação tem como objetivo analisar o significado político de alguns
ícones das Histórias em Quadrinhos criados nos Estados Unidos, nos anos de
1940 e 1941. Tais ícones – super-heróis, mais especificamente – são alusivos aos
símbolos nacionais norte-americanos (como, por exemplo, a bandeira e a águia
norte-americana) ou, então, ao processo de emancipação desse país como nação
no século XVIII. Pretendo construir um entendimento sobre como esses super-
heróis se inseriram no contexto em que foram criados, isto é, o momento de
entrada dos Estados Unidos na Guerra contra o Eixo. Além do ícone mais
conhecido desse contexto, o Capitão América, considero outros super-heróis,
cuja construção imagética e a forma como agem, do ponto de vista narrativo,
dialogam com repertórios simbólicos dos Estados Unidos. Avalio o modo como
essas produções constroem e veiculam ideias como nação e pátria. Parto do
pressuposto de que essas ideias não seriam estanques – justamente por serem
configuradas na e pela maneira como a narrativa dos quadrinhos se entrelaça nos
diferentes sistemas de concepção do mundo social. Analisar esse entrelaçamento
nos permitirá compreender como os quadrinhos se inserem num debate mais
amplo sobre as questões políticas de sua época. Como suporte teórico-
metodológico, utilizarei a definição de imaginário do sociólogo e filósofo Pierre
Ansart, para quem toda sociedade é constituída por um “conjunto coordenado de
representações, um imaginário, através do qual ela se reproduz e que designa em
particular o grupo e a ela própria, distribui as identidades e os papéis, expressa as
necessidades coletivas e os fins a alcançar” (ANSART, 1978, p.21-22).
Considero também as reflexões apresentadas em Captain America and the
Nationalist Superhero: Metaphors, Narratives, and Geopolitics (2012) e em
Popular Culture, Geopolitics, and Identity (2010), ambas escritas por Jason
Dittmer, e as discussões sobre iconografia política desenvolvidas pelo historiador
italiano Carlo Ginzburg, na coletânea Medo, reverência, terror (2014).
Palavras-chave: Nação; Pátria; Super-heróis.
O Código de Produção para o cinema norte-americano das décadas de 1920 e
1930: a quem pertencem as imagens dos filmes?
Geovano Moreira Chaves (Doutorando em História pela UFMG/Bolsista CAPES)
Em 1927, os representantes do “Motion Picture Producers and Distributors of
America, um grupo que visava a “controlar” algumas situações relacionadas ao
cinema nos Estados Unidos, lançaram uma resolução intitulada “práticas justas”.
Uma parte desta resolução destacou uma série de situações que não mais
apareceriam nos filmes dos membros desta associação, independente da forma
como poderiam ser tratados. Entre as situações, destacam-se palavrões; cenas de
nudez ou algo que sugerisse isso; tráfico ilegal de drogas; perversão sexual;
escravidão branca; miscigenação; sexo; doenças venéreas; cenas de parto real;
órgãos sexuais de crianças; ridícularização do clero; ofensa intencional para
qualquer nação, raça ou credo. Uma outra parte destacou os filmes que deveriam
ser tratados com cuidados especiais por retratarem cenas de brutalidade, métodos
detalhados de crimes, aplicações da lei, utilização da bandeira, operações
cirúrgicas, entre outros. No entanto, muitos se convenceram da necessidade de
algo que fosse mais consistente e respeitado do que a lista, algo que levasse em
conta o problema da moralidade em entretenimentos públicos. Desta forma, foi
elaborado um código sistemático de aplicações específicas para os princípios
morais relevantes aos problemas envolvidos na produção de filmes. Este
documento foi aceito pela indústria de cinema norte-americana em março de
1930, e ficou conhecido como “Código de Produção”. Para este trabalho,
elucidaremos o processo de criação e formação do “Código de Produção”,
tentando demonstrar como ele foi fundamental para a consolidação da “Legião da
Decência” na década de 1930 nos EUA, e como esta instituição influenciou o
Papa Pio XI a escrever uma encíclica para o cinema.
Palavras-chave: Cinema; História; Código de Produção.
O discurso do Humordaz entre a grande imprensa e a imprensa alternativa:
humor e política na década de 1970 em Belo Horizonte
Guilherme Borelli Araújo (Graduado em História pela PUC-MG)
Minha proposta de comunicação tem como objetivo precípuo discutir sobre o
emprego do humor como estratégia discursiva no contexto político da Ditadura
Militar no Brasil, mais especificamente em meados da década de 1970 em Belo
Horizonte, mediante a análise de textos e imagens do Humordaz. Publicado
originalmente no jornal Estado de Minas, em 1975, o Humordaz era uma coluna
de humor de periodicidade semanal composta por editoriais, cartuns, charges,
histórias em quadrinhos, caricaturas, poemas, textos e frases. Em 1976,
almejando maior liberdade e a independência institucional com relação ao Estado
de Minas, os idealizadores do Humordaz publicaram o Almanaque do Humordaz,
revista alternativa de periodicidade mensal que também agregava editoriais,
cartuns, charges, histórias em quadrinhos, poemas, textos e frases. Desse modo,
veiculado tanto pela grande imprensa quanto pela imprensa alternativa, o
Humordaz foi um caso raro, senão único, de circulação entre dois veículos de
comunicação essencialmente díspares. Nesse contexto, a comunicação procura
debruçar-se sobre essa peculiaridade do Humordaz por meio de uma comparação
entre seu discurso encontrado no Estado de Minas e no Almanaque. O objetivo é
analisar os respectivos estilos de publicação, além de identificar suas
características específicas, comuns e complementares. Vale ressaltar que a
discussão abrange, também, a Teoria Clássica do Riso, cuja premissa básica
consiste na afirmação de que a alegria despertada pelo riso inevitavelmente
estaria acompanhada por sentimentos de desprezo, reprovação e sarcasmo. No
caso do discurso humorístico do Humordaz, seu desprezo voltava-se,
principalmente, contra o regime militar. Cabe destacar que, enfrentando a dura
realidade da censura, os autores do Humordaz recorreram - a exemplo de muitos
outros ao longo da história -, aos subterfúgios da ironia, da metáfora e do humor
para empreenderem suas críticas, verdadeiras manifestações políticas de oposição
e resistência simbólica ao regime militar. Por fim, cumpre lembrar que a
comunicação deverá abordar, ainda, uma breve trajetória profissional e política
dos autores do Humordaz, com o objetivo de demonstrar a atuação política destes
sujeitos em outros periódicos e contextos, revelando posicionamentos e
militâncias.
Palavras-chave: Discurso político-humorístico; Ditadura Militar; Imprensa.
O instante pregnante e a construção do tempo nas artes
André Pereira de Carvalho (Doutorando em Sociologia pela UFMG)
Este trabalho tem por intenção abordar dois pontos específicos: como se constrói
a ideia do tempo nas artes e qual a importância desta construção para a narrativa.
Ao analisar obras do cinema, das histórias em quadrinhos, pintura e da fotografia,
abordo como a noção de tempo é construída de maneiras diferentes, e como
produz significados próprios, com suas técnicas específicas por cada modalidade
artística. Ao explicar como o tempo é retratado de maneira não acidental, mas
intencional, pelo artista, busco desvendar a construção de uma narrativa bastante
específica pelos autores através do conceito do instante pregnante, como descrito
por Jacques Aumont. Tal conceito explica como um determinado momento
recortado no tempo possui um potencial de significados simbólicos que
transbordam do recorte de tempo restrito onde ele se enquadra. Tentarei
demonstrar essas estratégias de construção narrativa desde o cinema, onde
buscarei mostrar a existência de uma construção deliberada do tempo para
produzir significado, passando pelos espaços entre quadros das histórias em
quadrinhos e sua importância na narrativa, a possibilidade de produzir diversos
significados complexos e interrelacionados na pintura, até a fotografia, e sua
possibilidade de exprimir muito mais significados do que se fosse apenas um
momento congelado no tempo.
Palavras-chave: Discurso; tempo; arte.
O “ser-tão” de Guimarães Rosa e de Marily da Cunha Bezerra: diálogo
interartístico
Karla Alessandra Nobre Lucas (Mestranda em Letras pela UFPA)
O romance Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa, notabiliza-
se pela tematização do tempo em seus desdobramentos no caráter
memorialístico/reflexivo de Riobaldo, numa simbólica travessia pelas veredas
existenciais de um “ser-tão” que supera os limites de tempo e de espaço e se
confunde com a essência humana: “Sertão é o sozinho. [...] Sertão: é dentro da
gente.” (ROSA, 1956, p. 305). O presente estudo se insere, com base nos
referidos pressupostos, na proposição de uma leitura comparatista do romance
rosiano e de uma de suas adaptações cinematográficas, o curta-metragem: Rio
de-Janeiro, Minas (1991), de Marily da Cunha Bezerra. Nos termos de Jeanne-
Marie Clerc (1994, p. 236), a literatura comparada é a arte de aproximar os textos
literários de outras formas de expressão e do conhecimento, a fim de que possam
ser descritos, compreendidos e melhor desfrutados. Assim, depreende-se que o
diálogo entre as diferentes linguagens, literária e fílmica, não se detém na mera
verificação do grau de aproximação ou de “fidelidade” de uma arte sobre a outra,
antes os princípios que regem a composição das diferentes formas de expressão
artística, aqui revisadas, tornam-se responsáveis pela originalidade, tanto do texto
literário, quanto de sua transposição para outras artes, e, assim apontam para um
complexo de características que dizem respeito as especificidades que permitem
“pensar a criação das obras [...] como dois extremos de um processo que
comporta alterações de sentido” (XAVIER, 2003, p. 61).
Palavras-chave: “Ser-tão”; Guimarães Rosa; Marily da Cunha Bezerra.
O uso do discurso e do humor como reconfiguração para identidades: Porra,
Mauricio!
Frederico Augusto dos Santos Ângelo (Especialista em Comunicação pela UFMG)
O advento das novas tecnologias, a comunicação mediada por computador, o
crescimento do uso de redes sociais por indivíduos em todo o mundo e a
facilidade de publicar conteúdos diversos na internet são temas que agora se
fazem presentes nos estudos em comunicação. Neste artigo, abordamos o uso das
redes sociais e da Comunicação Mediada por Computador para estudar os
discursos de humor no tumblog Porra, Mauricio. Assim, definimos como
objetivo analisar de que forma o discurso de humor pode mudar o contexto das
histórias em quadrinhos da Turma da Mônica. Para isso, a metodologia usada foi
o levantamento bibliográfico, a análise da rede a partir dos princípios de Hering e
Ostrom e a observação não-participativa.
Palavras-chave: Discurso; humor; identidade.
Quando Telenovela fala sobre política: o caso de Fogo sobre Terra (1974-
1975)
Gabriela Silva Galvão (Mestranda em História pela UFMG)
No contexto de Ditadura Militar Brasileira (1964-1985) as artes se tornaram uma
das poucas vozes públicas de contestação ao regime vigente. Embora sofressem
censura, muitos filmes, peças de teatro e instalações artísticas retratavam a
realidade que o país vivia de forma mais clara para o público geral que a
imprensa. Sendo assim, o objetivo da presente comunicação é mostrar como se
dava a abordagem de questões políticas nas telenovelas exibidas no período.
Trataremos em especial a obra "Fogo sobre Terra" exibida entre 1974 e 1975
pela Rede Globo com autoria de Janete Clair. Nesse caso específico,
mostraremos como o roteiro da telenovela criticava claramente uma das
principais realizações do governo ditatorial - a construção da Usina Hidrelétrica
de Itaipu - e de que forma o texto e o subtexto eram percebidos pelo
Departamento de Censura a Diversões Públicas (DCDP). Palavras-chave:
telenovela; ditadura militar; censura
O passado de hoje: aspectos do temor nuclear na narrativa da Liga da Justiça.
Mario Marcello Neto (Mestrando em História pela Universidade Federal de Pelotas/
Bolsista CAPES)
Este trabalho pretende discutir as formas como a narrativa da animação Liga da
Justiça (2001-2004) e Liga da Justiça Sem Limites (2004-2006) é construída,
discutindo os aspectos que envolvem o temor nuclear e seus meandros. Para tal, é
preciso destacar alguns elementos que compõe o contexto de produção destas
animações, bem como a forma pela qual esta narrativa foi construída. Para isso,
recorremos a HARTOG (2013) quando este evoca a noção de presentismo para
se referir à forma de ver o tempo da sociedade contemporânea, na qual vê no
presente o seu limite, com um passado renegado (que não nos ensina nada) e um
futuro de nublado, que em não apresenta um progresso, algo positivo. Dentro
deste contexto, principalmente pós o fim da Segunda Guerra Fria (HALLIDAY,
1985), as tensões causadas entre os dois blocos conflitantes, socialista soviético e
capitalista estadunidense, essas tensões foram elevadas a uma corrida
armamentista nuclear que colocaram em alerta até mesmo setores da
historiografia, como E.P. THOMPSON (1985) que abandona, temporariamente,
sua dedicação à história, para militar junto ao Movimento Pacifista. Esses
elementos do século XX são perceptíveis nas animações supracitadas, utilizadas
como um suporte em que contém suas expressões político-ideológicas é preciso
ver estes meios não apenas como puro entretenimento, mas sim como elementos
dotados de significados, etnocentrismo, questões políticas entre outras. Além
disso, a animação traz consigo uma constante na sua narrativa que é a exposição
sobre o medo e os malefícios da nuclearidade na sociedade contemporânea, algo
que pretendemos discutir ao longo deste trabalho.
Palavras-chave: Temor Nuclear; Presentismo; Guerra Fria.
Simpósio Temático 4:
Políticas das narrativas históricas
Reúne trabalhos atentos à relação entre narrativa, História e memória.
A Copa de 1950 e os mitos da derrota
Elcio Loureiro Cornelsen (Professor Associado II da FALE-UFMG/
Doutor em Estudos Germânicos pela Freie Universität Berlin, com Pós-Doutorado em Estudos
Organizacionais pela FGV-EAESP e em Teoria e História da Literatura pelo Instituto de
Estudos da Linguagem pela Unicamp)
Nossa contribuição visa a uma análise da construção narrativa dos mitos da
derrota em torno do último jogo da Copa de 1950, disputado entre as seleções do
Brasil e do Uruguai em 16 de julho, data em que a celeste olímpica se tornou
bicampeã mundial de futebol. Sem dúvida, aquela partida representa um
momento singular na história do futebol brasileiro, tido como “a nossa catástrofe,
a nossa Hiroshima” (Nelson Rodrigues), a “maior tragédia” (Geneton Moraes
Neto) que transformou o Maracanã no “maior velório da face da Terra” (Betty
Milan) frente ao “silêncio mortal de duzentos e vinte mil brasileiros” (Mario
Filho), um “silêncio ensurdecedor” (José Miguel Wisnik), “el más estrepitoso
silencio de la historia del fútbol” (Eduardo Galeano). Sem dúvida, a memória
discursiva que se constrói sobre a derrota da seleção brasileira em 1950 é
perpassada pelo trauma. Nesse sentido, baseados na teoria do testemunho, nossa
intenção é avaliar em termos discursivos não só o quê, mas, sobretudo, como,
décadas mais tarde, várias testemunhas oculares daquela partida, e mesmo seus
protagonistas, os jogadores, enunciavam, através da memória, suas versões sobre
aquele fatídico 16 de julho de 1950 e seus desdobramentos. Se, por um lado, a
memória surge como “um fenômeno individual, algo relativamente íntimo,
próprio da pessoa” (Michael Pollak) e, portanto, está sujeita a flutuações,
lacunas, supressões e silenciamentos, ela também é coletiva, como já apontava
Maurice Halbwachs nos anos 1930. Para formar o corpus de análise, adotamos os
seguintes materiais: os textos das entrevistas com os jogadores da seleção
brasileira, publicados em 2000 no Dossiê 50: os onze jogadores revelam os
segredos da maior tragédia do futebol brasileiro, de Geneton Moraes Neto e,
respectivamente, os relatos de testemunhas oculares daquela partida, publicados
em 2013 na obra Maracanazo: tragédias e epopeias de um estádio com alma,
organizada por Teixeira Heizer.
Palavras-chave: Copa de 1950; Maracanazo; mito da derrota.
Alfredo Camarate e a construção de Belo Horizonte: história, literatura e
modernidade
Thiago Carlos Costa (Mestrando em Estudos Literários pela UFMG)
O presente projeto visa a contribuir com os estudos e propor reflexões sobre a
extinção do Arraial de Belo Horizonte e a construção da Nova Capital. O
objetivo geral desse projeto de pesquisa é a leitura aprofundada e contextualizada
das crônicas de Alfredo Camarate publicadas no Jornal Minas Gerais em 1894.
Analisando o objeto de estudo as noções de história, modernidade, tempo e
espaço, proposto por Benjamin e observa-se a cidade como um texto, o relevante
não consiste em tentar descobrir o verdadeiro Arraial do Belo Horizonte, mas
observa-o através do olhar de cronista estrangeiro Alfredo Camarate e a partir daí
estabelecer um diálogo com uma rede de significados presente no seu texto.
Palavras-chave: Literatura, História, Modernidade
A importância da narrativa nas redes sociais que influenciaram o
desenvolvimento do movimento migratório na cidade de Governador Valadares
Luciovane Batista Lopes (Mestrando no curso de pós-graduação strictu senso
em Gestão Integrada do Território pela UNIVALE/
Bolsista FAPEMIG)
O objetivo do trabalho é analisar a histórica incidência do fenômeno
migratório na cidade de Governador Valadares, influenciado pelas redes que
utilizaram como mecanismo principal a narrativa para a difusão de informações.
A narrativa acerca da experiência de Valadarenses que moraram nos
Estados Unidos da América (EUA) por meio de cartas, telefones, entre outros,
iniciou na década de 60, em Governador Valadares, um movimento migratório
intenso para os EUA. Com a evolução tecnológica, essas narrativas obtiveram
novos caminhos que as permitiram circular com maior velocidade, aumentando o
fluxo de informação o que resultou no aumento dos migrantes. Estabeleceu-se
uma rede em que as narrações indicavam não só como partir, mas, também como
estabelecer-se na terra de destino.
A experiência de vida dos primeiros migrantes incluíam em suas
narrativas não só as oportunidades econômicas oferecidas pelo EUA, mas
detalhava as minúcias das inovações eletrônicas que, na década de 60, eram
desconhecidas pelos valadarenses o que aguçou a curiosidade pelo ineditismo das
informações.
Governador Valadares marcou o início de uma fase, sendo referência em
toda pesquisa de migração internacional, como a cidade de onde saíram os
primeiros migrantes para o EUA. Apesar de não ser único fator, a rede foi um
dos principais estímulos do fenômeno migratório na região, utilizando da
narrativa para fomentar e difundir as informações que solidificou o processo.
Assim, pretende-se abordar a narrativa em uma perspectiva histórica, com
ênfase na sua contribuição para o desenvolvimento e estabelecimento das redes e
como parte da evolução de um fato social.
Palavras-chave: migração; narrativa; rede social.
Alô Ticoulat Guimarães X Austregésilo Carrano Bueno: duas narrativas
biográficas
Aline Lemos Feier (Mestranda pela PUC-GO/Bolsista CAPES)
A narrativa biografia é um gênero literário em evidência nos últimos anos.
Podemos adotar como exemplo uma série delas, mas neste estudo que tem como
objetivo a releitura da psiquiatria no Paraná, tomaremos como escolhidos a
biografia de Austregésilo Carrano Bueno (1957 – 2008), indivíduo que
contribuiu para a Reforma Psiquiátrica em nosso país, biografia intitulada Canto
dos Malditos deu origem ao filme Bicho de Sete Cabeças, e a outra biografia
adotada para o estudo é a do médico psiquiatra Alô Ticoulat Guimarães (1903 –
1985) que trabalhou nos hospitais e sanatórios psiquiátricos do Paraná, dentre
eles o Sanatório Bom Retiro o qual Carrano teve sua primeira internação. Duas
biografias que contam paralelamente as suas histórias um pouco da psiquiatria no
Paraná sob ângulos díspares.
Palavras-chave: Alô Ticoulat Guimarães; Austregésilo Carrano Bueno;
Psiquiatria.
Apontamentos sobre a escrita da crítica de arte em Belo Horizonte nos anos 60
Valdeci da Silva Cunha (Mestre em História pela UFMG)
A proposta de comunicação busca apresentar alguns apontamentos preliminares
sobre as formas de escrita da crítica de arte e suas conexões com a História da
Arte no Brasil e o narrar de seu tempo histórico. Serão selecionados alguns de
seus representantes que tiveram atuação nas mídias impressas, como jornais,
suplementos, revistas ou em manifestos, como Frederico Morais, Márcio
Sampaio, Mari'Stela Tristão, Olívio Tavares de Araújo, Celma Alvim, dentre
outros, com o intuito de verificarmos quais os significados dessa atividade em
suas práticas discursivas e em seus posicionamentos políticos. A análise parte,
basicamente, de duas constatações: 1) a década de 1960 foi um período de fértil
produção crítica no campo das artes plásticas, que acompanhou, e ao mesmo
tempo contribuiu (para), a produção das chamadas neovanguardas artísticas,
situadas, em grande medida, nos movimentos Concretista e Neoconcretista,
localizados no eixo Rio/São Paulo; e 2) a crítica situa-se em um lugar de
indefinição, ora entendida como colunismo social, gênero literário ou crônica de
arte, ora como militância política ou ensaio filosófico. Interessa a este estudo, a
partir de uma visão panorâmica e provisória, discutir e apontar possibilidades
para se pensar tanto a escrita da história quanto a iluminação de novas aporias a
partir da produção crítica como fonte. Assim, e não menos importante, repensar
as relações construídas e estruturadas entre as narrativas de sua prática e os
objetos de onde emanam, as artes plásticas.
Palavras-chave: Crítica de arte; Belo Horizonte da década de 60; Práticas
discursivas.
A releitura de Baltasar Lopes sobre o movimento claridoso: os embates pela
memória na década de 1980
Taciana Almeida Garrido de Resende (Mestranda em História pela UFMG)
Este trabalho pretende discutir a ressignificação feita pelo escritor e poeta cabo-
verdiano Baltasar Lopes (1907-1989), na década de 1980, sobre o papel e a
importância da revista Claridade frente à colonização portuguesa em Cabo Verde
entre as décadas de 1930 e 1950. Publicação veiculada em território insular e em
Portugal entre 1936 e 1960, à Claridade é comumente oferecido o lugar de
primazia na constituição da identidade nacional cabo-verdiana, interpretação
comumente realizada no pós-independência, e reiterada por alguns dos próprios
escritores que nela contribuíram. Baltasar Lopes, conhecido como o principal
fundador da revista, formulou declarações contrastantes entre seus artigos da
década de 1930 e aqueles publicados em 1980. A comparação é reveladora de
uma ação dicotomizante das relações entre Portugal e Cabo Verde, em tese
engendradas pelo movimento claridoso, mas que não se confirmam pela
documentação. Assim, o trabalho com a memória e a ressignificação das práticas
sociais realizadas por este intelectual podem evidenciar questões importantes no
arquipélago independente.
Para a comparação, serão mobilizados artigos publicados em jornais cabo-
verdianos entre 1931 e 1956 em comparação às declarações do intelectual
concedidas ao pesquisador francês Michel Laban em 1985 e o texto de
apresentação em comemoração do cinquentenário do primeiro número da revista
Claridade, em 1986.
Palavras-chave: Revista Claridade; Baltasar Lopes; Cabo Verde
A Representação da Europa no Ensino Secundário Cabo-Verdiano
Francisco Osvaldino Monteiro (Mestre em História e Teoria da Educação pela USC-Espanha
Professor do ISCJS – Cabo Verde;
Professor do IUE – Cabo Verde)
É importante ressalvar que nas antigas colónias europeias o fim da dominação
política não deve ser confundido com o fim de todas as formas de influências e
mesmo dominação. Esta influência pode ser questionada a partir da análise do
sistema educativo. Tendo dito isso, parece ser pertinente analisar como esses
países representam a “Europa”, nos seus respetivos sistemas educativos. Cabo
Verde pode ser um bom exemplo para analisar este fenómeno. Assim, o objetivo
fundamental do presente estudo foi o de compreender como a Europa é
representada no Ensino Secundário Cabo-verdiano. Para a sua concretização,
combinou-se os métodos qualitativo e quantitativo. As principais conclusões
apontam para: (i) o sistema educativo cabo-verdiano (Ensino Secundário) tem
construído uma imagem da Europa fundamentalmente caracterizada pela
harmonização de Cabo Verde com a Europa; (ii) as “representações” da Europa
que os alunos do ensino secundário cabo-verdiano incorporam diversas
características.
Palavras-chave: representação da Europa; educação; educação secundária (pós)
colonização.
Campo de Concentração do Tarrafal de Santiago, em Cabo Verde, e os presos
políticos
Paulina Livramento Pina Maia (Bolsista CAPES-AULP)
Michel Avelino Carvalho Frederico (Bolsista CAPES-AULP)
Com o presente trabalho, pretendemos analisar qual era o objectivo do Estado
Novo pela construção, em 1936, do campo de concentração do Tarrafal de
Santiago, em Cabo Verde, o seu funcionamento em relação aos presos políticos
que por ali passaram, durante o regime Salazarista, trabalhando em específico,
com narrativa do quotidiano dos presos. Pretendemos também reflectir sobre as
razões do seu encerramento, 1954, e sobre a sua reativação (1961-1974), tendo
em conta que, nessa reativação, estiveram envolvidas outras políticas
Salazaristas.
Palavras-chave: Presos políticos; campo de concentração do Tarrafal;
Reativação.
Cipriano Barata entre a esperança e o desengano: a narrativa pública e a
memória de si
Alexandre Bellini Tasca (Mestrando em História pela UFMG/
Pesquisador do GETHL)
Pensar a História envolve pensar os seres humanos em sua relação social, relação
essa que se estabelece na passagem do tempo e em um espaço físico. Uma breve
reflexão permite-nos uma rápida associação entre a História e a narrativa.
Entendendo a narrativa como forma de expressão humana na qual um enredo é
mobilizado através de índices de passagem do tempo, podemos nos utilizar
duplamente dela: primeiro como objeto de estudo, uma vez que mobiliza
elementos que são comuns à História. Em segundo lugar como resultado do
trabalho de elaboração do historiador, que ao articular seus documentos e
analisa-los, muitas vezes acabar por estabelecer uma narrativa acerca de seu
objeto de estudo.
Atento a esta relação, pretendemos realizar um estudo a partir três documentos
específicos: os Diários das Cortes de Lisboa, a “Declaração que alguns deputados
pelo Brasil, nas Cortes de Portugal, que de Lisboa se passaram à Inglaterra” e o
“Manifesto à Bahia de Todos os Santos por um deputado às Cortes Gerais
Constituintes de Portugal. Cipriano José Barata de Almeida. Com algumas notas.
Desengano para Brasileiros e Europeus residentes no Brasil.”. Nosso objetivo é
buscar compreender como o ex-deputado, representante da província da Bahia às
Cortes de Lisboa, Cipriano Barata, construiu uma memória acerca de sua atuação
nas Cortes ao trazer para o público seus manifestos. Para isso iremos focar na
contraposição entre os registros feitos pelo taquigrafo nos sobreditos Diários e as
narrativas produzidas pelo baiano. Com isso esperamos, não somente
compreender o processo de elaboração da memória através da narrativa, mas
também como tais narrativas se inserem em um contexto de intensa disputa
política no que diz respeito à emancipação/criação de uma suposta nação
brasileira.
Palavras-chave: Independência; narrativa; memória.
Edições marginais e construção narrativa: a influência do material impresso
no ethos marginal
Renata Moreira (Doutora em Estudos Literários pela UFMG/
Professora do CP-UFMG/
Pesquisadora do GEHTL)
A geração marginal dos anos 1970 teve este nome a ela atribuído, em parte,
como resultado da questão editorial. Seu circuito de produção levava em conta a
impressão e distribuição alternativas, à margem das grandes editoras. Nesse
sentido, o marginal dos anos 70 – em oposição aos marginais dos 90/2000, por
exemplo –, não encontra no discurso poético especificamente a explicação do seu
nome de batismo, mas nos diversos trânsitos a que sua obra se submeteu ou –
como nos interessa avaliar – nos julgamentos que a crítica promoveu a partir
desses indícios, gerando uma narrativa acerca do movimento, que o categorizou e
localizou dentro do cenário dos estudos literários. Pretende-se, então, neste
trabalho, indicar como a formação do ethos do escritor marginal dos anos 70
deveu-se em muito a uma construção narrativa que partiu, sobretudo, da relação
intrínseca efetuada pela crítica entre a produção material e a identidade do
grupo.
Palavras-chave: Geração marginal; Circuito editorial; Narrativas do campo
literário
Há outros Griots: Outros olhares sobre a África nos Quadrinhos
Savio Queiroz Lima (Mestrando em História pela Uneb)
O artigo pretende tecer reflexões historiográficas sobre três produções em
quadrinhos no mercado internacional e nacional com temática africana. A
realidade mítica, cultural e social de três terrenos africanos são apresentadas e
comentadas nas leituras de três obras em quadrinhos: Sundiata – O Leão do Mali
de autoria do quadrinhista Will Eisner, O Apanhador de Nuvens – Uma aventura
no país Dogon de autoria dos franceses Béka e Marko e Aya de Yopugon, da
escritora costa-marfinense Marguerite Abouet e do francês Clement Oubrerie.
Propõe uma reflexão das mudanças ocorridas no mercado quando o assunto é
representação da realidade africana através dos discursos nos quadrinhos, nas
realidades sociais e culturais do Mali, para os dois primeiros casos e da Costa do
Marfim no último. Utilizando-se de conceitos como Representação e Imaginário,
as obras supracitadas são relacionadas com estudos multidisciplinares que os
objetos, através de seus discursos, exigem.
Palavras-chave: História da África contemporânea; História em Quadrinhos;
Representação.
Invenção do policial: narrativas do passado e identidades policiais
Lucas Carvalho Soares de Aguiar Pereira (Professor de história do IFMG/Betim,
Doutorando em História social pela UFRJ)
Estudos sobre história da polícia vêm se consolidando como campo significativo
nas pesquisas historiográficas, paulatinamente, desde a década de 1980.
Recentemente, esses trabalhos têm deslocado o foco de análise da polícia como
instituição para o policial como sujeito, que é fruto de uma determinada
sociedade e que compartilha determinados costumes. As origens sociais e
questões como identidades, treinamento e as sociabilidades são temáticas dessa
produção historiográfica, que abre espaço, consequentemente, para discussões
sobre as relações entre a polícia e a cultura. Estudos de história cultural têm
mobilizado diferentes fontes e noções para analisar não mais somente as
intervenções da polícia na cultura, como a repressão às manifestações religiosas
populares, por exemplo, mas também para estudar o papel da cultura na produção
de determinadas práticas e identidades policiais, como a recorrência de
determinadas formas de violência policial. Neste trabalho abordo a produção
memorialística de policiais militares mineiros, a partir da década de 1960,
incluindo no rol da documentação consultada uma produção historiográfica de
caráter oficial e outra de caráter acadêmico. A partir de um exercício de
comparação entre essas diferentes instâncias de saber, pretendo, assim, observar
o lugar da narrativa sobre o passado na construção de identidades dos policiais
mineiros, por um lado, e na aglutinação de coesão, solidariedades e distinções
entre praças e oficiais, por outro. Finalmente, analisando determinadas
explicações dadas para consolidação da força policial no estado de Minas Gerais
e para sua atuação em determinados “eventos históricos” regionais e nacionais,
almejo identificar processos de legitimação de uma identidade policial nesses
processos narrativos.
Palavras-chave: História e memória; identidades; cultura policial.
Os discursos e as práticas de inclusão digital
João Augusto Neves Pires (Mestrando em História pela UFU/
Bolsista CAPES)
O presente trabalho visa contribuir no debate sobre a inclusão digital no Brasil.
Parte-se das investidas feitas durante o governo Lula (2003-2010) para
compreender de que maneira as articulações com os poderes estabelecidos,
nacional e internacionalmente, no que tange às políticas de inclusão digital.
Através das análises do campo político aprofundo as reflexões sobre os discursos
e ações assumidas por órgãos supranacionais e as reverberações nas políticas do
governo petista, como também demonstro como foi se consolidando os projetos
de inclusão digital durante o governo Lula. Entendo que, como pontua Bourdieu
(2011), na política, “dizer é fazer, quer dizer, fazer crer que se pode fazer o que
se diz e, em particular, dar a conhecer e fazer reconhecer os princípios da di-
visão do mundo social.” Nesse sentido, os discursos e as práticas na área de
inclusão digital, quando analisados revelam diferentes propostas e trajetos
políticos que ganharam sentido e significância na ordem social e foram usados
como capital político para barganhar poderes.
Palavras-chave: Inclusão digital; Capital político; governo Lula.
Portugueses e Botocudos: narrativas e sujeição criminal no Brasil Colônia
Alessandro da Silva Leite (Mestre em História Social pela FADILESTE)
O trabalho, ora proposto, busca, por meio de uma abordagem interdisciplinar,
tecida nas fronteiras das ciências sociais e da psicanálise, informar aspectos
teóricos e metodológicos do reconhecimento e interpretação das pistas, dos
indícios e elementos históricos, sociais, antropológicos e psíquicos nas narrativas
sobre o Outro. Nesse sentido, toma para exercício algumas narrativas que, na
colônia, contribuíram para a representação simbólica dos Botocudos como
categoria social perigosa, metaforizada na figura do selvagem, do invasor, do
bárbaro e do criminoso. Tais elementos, pistas e indícios estão presentes nos
relatos de viajantes, nas correspondências e nos documentos régios e
contribuíram para a construção da subjetividade e identidade dos Botocudos de
maneira fragmentada e deteriorada. Dessa forma, as narrativas serviram de
justificativas para o uso de “tecnologias disciplinares” pelo poder político
institucionalizado. Por meio de medidas autoritárias, as tecnologias visaram ao
extermínio, simbólico e real, dos Botocudos pela catequese, aldeamento e
escravização, e da guerra justa.
Palavras-chave: Botocudos; narrativas; sujeição criminal.
Sem a justiça a República “virá a ser uma confusão babilônica de muitas
vontades, como aquela de muitas incógnitas línguas”
Débora Cazelato de Souza (Doutoranda em História pela UFMG/Bolsista CAPES)
Em 1745, o tabelião de Vila do Carmo (Mariana/MG) certifica que o juiz de fora
José Caetano Galvão de Andrada recebeu a notícia de que “(...) pessoa particular
tinha feito em nome do povo desta cidade umas petições contra os ministros
destas Minas (...)”. Os irmãos Bernardes – autores da petição – acusavam, dentre
outras coisas, que os ministros levavam mais salários do que os taxados no
regimento. Dessa maneira, entra em cena o governador mineiro com um parecer
acerca da administração da justiça exercida naquela localidade. O objetivo dessa
comunicação é apresentar a carta do governador Gomes Freire de Andrada.
Recheada de informações e frases em latim, o governador inicia sua missiva
falando sobre a justiça no universo colonial. É importante destacar que a carta,
além de conter o parecer sobre a petição dos irmãos Bernardes, apresenta outros
pontos ao que era determinado aos ministros que serviam ao Rei. Em outras
palavras, o que se quer dizer é que carta de Gomes Freire além de abordar sobre a
petição dos irmãos foi também um momento privilegiado para apontar assuntos
que prejudicavam o andamento da administração e justiça exercidas por
magistrados reais. Diante disso, o juiz de fora em atuação da época, também
apresenta outra carta a respeito da queixa dos moradores. Há incongruências
entres as informações prestadas pelo juiz e pelo governador em ambos os
pareceres. As cartas apresentam tensões típicas dos conflitos jurisdicionais e,
sobretudo pistas significativas sobre a atuação dos ministros régios, sugerindo
que as condições coloniais estimulavam a prática de excessos.
Palavras-chave: Administração da justiça; Vila do Carmo; Gomes Freire de
Andrada.
Simpósio Temático 5:
Políticas das narrativas literárias
Reúne trabalhos preocupados como gêneros poético-ficcionais se configuram em
termos narrativos.
A Narrativa na Formação Docente: Professoras e a escrita literária
Cristina Maria Rosa (Doutora em Educação pela UFRGS/
Docente na FaE/UFPel)
Com o objetivo de oportunizar a estudantes de Pedagogia um encontro profícuo
com a narrativa literária e com seus elementos constituidores além da
necessidade de produzir um texto no gênero, a proposta inicial foi evidenciar
que todos somos herdeiros da arte de contar, pois nascemos em uma família que
possui história própria, imbricada em muitas outras: histórias, famílias,
narrativas. Primeiro oralmente, nem sempre por escrito, através da narrativa
familiar nos é possibilitado criar vínculos com a cultura que nos cerca e, desse
modo, aprender e ensinar uns aos outros: sobre nós mesmos e sobre a espécie
humana. Em segundo lugar, buscou-se compreender, usar e usufruir da estrutura
textual típica do gênero narrativo. Se a narrativa é “um modo de conformação de
realidades, em que a passagem do tempo está claramente configurada,
mobilizando, para isso, elementos de linguagem”, como não saber/aprender a
escrever? Como resultado, criamos um e-book intitulado Cobras, Quintas,
Laranjas: Narrativas Literárias, a partir de um projeto desenvolvido na
disciplina Metodologia da Alfabetização ofertado à Licenciatura em Pedagogia
(FaE/UFPel), cujos procedimentos tiveram início com o estudo do gênero
literário. Após, houve a leitura do conto Cobras no Laranjal (ROSA, C.
Ilustrações e Projeto Gráfico de Guilherme Pereira. Pelotas: Editora da UFPel,
2009) e, dele, a seleção de palavras significativas como mote para a escrita de
novas narrativas, realizadas pelas estudantes. As correções de gênero, sugestões
literárias, revisão textual, ilustração, diagramação e finalização do e-book
couberam à docente e outros profissionais (arrolados no produto final). Com 48
páginas, ilustrado e disponibilizado aos autores através de mídia digital, o e-book
tem fins didáticos e não é comercializável. Os resultados da proposição –
conhecimento do gênero literário e produção de escritas para integrar o e-book –
indicam que futuras professoras tendem a valorizar o literário quando se
defrontam com a necessidade de produzi-lo.
A Margem da Alegria: políticas literárias de Portugal
Isabella Batista de Souza (Graduanda em Letras pela UFMG/Pesquisadora do GETHL)
O objetivo do trabalho é avaliar de que modo A Margem da Alegria, obra de
Ruy Belo é uma tentativa de (re)significação da literatura portuguesa no cânone
literário ocidental. Para tanto, consideramos o tratamento conferido pela obra à
história de Inês de Castro e Dom Pedro. A forma como os amantes portugueses
são mobilizados na obra beliana acaba produzindo uma releitura sobre o par
amoroso por excelência do Ocidente: Tristão e Isolda. A partir dos próprios
recursos literários e de teóricos como Denis Rougemont, a investigação
questionará os usos dessa releitura, bem como as questões políticas envolvidas na
tessitura do livro, já que o mesmo foi lançado no ano da Revolução dos Cravos e
remete à forma da epopeia (com 10 divisões). Pretende-se entender de que modo
a história/narrativa de Pedro e Inês é politizada com a criação de A Margem da
Alegria.
Palavras-chave: literatura ocidental; literatura portuguesa; Inês de Castro.
De um conto a um livro: A VELHA, A MOSCA E A NARRATIVA
Roberta Bohns Tavares (Graduanda em Pedagogia pela UFPel / Bolsista do PET)
Cristina Maria Rosa (Doutora em Educação pela UFRGS/
Docente na FaE/UFPel)
A narrativa está presente em nossas vidas desde a tenra idade, e durante
nossa existência constantemente ouvimos histórias e narramos acontecimentos.
Por ser oriunda da tradição oral e por sermos exímios contadores de histórias, a
escrita de uma narrativa foi uma das propostas desenvolvidas em 2012,
integrando a Disciplina Optativa Literatura Infantil I, do Curso de Pedagogia da
Universidade Federal de Pelotas. Na referida disciplina aconteciam estudos
teóricos sobre a Literatura Infantil, com o objetivo maior de formar professores
leitores para atuarem nas escolas como mediadores da leitura literária. A
proposta desenvolvida teve como objetivo promover, entre as estudantes, um
contato profícuo com a narrativa enquanto gênero literário, com a possibilidade
de escrever se utilizando da estrutura narrativa além de inventar ou mesmo relatar
acontecimentos pessoais ou familiares para experienciar, por escrito, o que se faz
oralmente cotidianamente. A metodologia adotada para a escrita das narrativas,
foi: a) leitura, pela professora, do conto “A velha que engoliu uma mosca”,
inserido no livro “Histórias para Ler na Cama”, de Debi Gliori (São Paulo: Cia
das Letrinhas, 2007); b) seleção de palavras significativas dentro desse conto e
distribuição aleatória das mesmas para as alunas; c) invenção de novas
narrativas, pelas alunas, que contivessem as palavras escolhidas; d) leitura da
narrativa escrita pelas alunas, na sala de aula, às colegas; e) digitação da mesma e
envio à professora; f) correções de gênero e sugestões literárias pela professora;
g) revisão final da língua portuguesa. Como resultado do trabalho desenvolvido,
e com o objetivo de integrar as escritas criadas, as narrativas elaboradas pelas
alunas foram organizadas em um livro impresso, orientado pela professora da
disciplina, e editado pela Editora da UFPel. Lançado em 2012, o livro possui o
seguinte ISBN: 978-85-7192-862-6, e tem como público as professoras leitoras.
Palavras-chave: Narrativa literária; Leitura Literária; Formação de Professores.
Entre Macumbas e Candomblés: a importância das obras de Jorge Amado
para a divulgação nacional das religiões afro-brasileiras
Maíra Leal Corrêa (Graduanda em Ciências Sociais pela UFMG /
Bolsista PET - Ciências Sociais)
O artigo tem como objetivo defender a importância das obras literárias de Jorge
Amado para a divulgação das religiões afro-brasileiras nacionalmente, em um
período marcado pelo preconceito e pelas invasões policiais em terreiros para
apreensão de imagens de divindades e fechamento dos mesmos. Com base nas
teorias da Antropologia da Literatura, mostro como as descrições de festas,
rituais, invasões policiais e as reações geradas nos frequentadores dos terreiros
podem ser, dentro de um limite, aproximadas às etnografias, compactuando com
seus objetivos de mostrar a uma maioria como a cultura de dada comunidade
tradicional pode ser entendida e respeitada (por meio de uma tentativa de
tradução de categorias tradicionais nos termos usados por esse grupo
majoritário). Discuto, ainda, a importância desse processo literário-antropológico
como uma defesa de Jorge Amado aos - e forma resistência política dos -
praticantes das religiões afro-brasileiras em um contexto de extrema
marginalização de seus costumes e, por fim, como essa ampla divulgação ajudou
na popularização de tais religiões a partir da década de 1960.
Palavras-chave: Religiões Afro-Brasileiras; Jorge Amado; Antropologia da
Literatura
Grande Sertão e o barco de Rosa: a linguagem como aporia, a linguagem
como solução
Lorena Lopes da Costa (Doutoranda em História pela UFMG / Bolsista CAPES)
A comunicação pretende apresentar uma hipótese e refletir sobre ela, qual seja: a
linguagem de João Guimarães Rosa, especificamente em Grande Sertão:
Veredas, defrontar-se-ia com a crise da linguagem e da representação modernas,
mas faria do problema sua própria solução. Ela encontraria em si mesma, um
caminho incerto para problematizar a linguagem enquanto nomeadora da
realidade. Se confirmada a hipótese, a narrativa rosiana, então, poderia ser
pensada enquanto argumento à asserção de que toda e qualquer representação
está destinada a falhar.
Palavras-chave: Grande Sertão: Veredas; Linguagem; Representação.
Narrativa e ideologia linguística em duas obras de Mário de Andrade
Jonathan Fleck (Mestrado pela University of Texas - Austin/
Bolsista Professional Development Award - Comp Lit, UT-Austin)
Uma releitura crítica da obra do romancista, poeta, etnomusicólogo e intelectual
Mário de Andrade (1893-1945) revela a relação carregada entre a narrativa
literária e a representação política. O bem conhecido romance Macunaíma (1928)
foi lido tradicionalmente como uma subversão literária do status do “português
escrito” elevado por cima do “brasileiro falado.” Uma obra bastante menos
comentada, A Gramatiquinha da Fala Brasileira (1925-1932?) compreende
umas observações incompletas e pouco sistemáticas das variações da fala diária
brasileira. Estas duas obras são de gêneros diferentes – uma é um romance e a
outra um comentário etnolinguístico – porém, um estúdio cuidadoso ilumina
profundos pontos de contato textuais e extratextuais. O atual projeto utiliza a
teoria das “ideologias linguísticas” (Schieffelin, Woolard & Kroskrity 1998,
Kroskrity 2000, Bauman & Briggs 2003) para efetuar uma análise
transdisciplinar, abordando metodologias tanto dos estudos literários quanto dos
estudos sociolinguísticos. Reconhecendo a contestação andradeana de uma então-
entrincheirada hierarquia linguística, mantenho que os escritos analisados
revelam uma ideologia que privilegia algumas formas da fala por cima de outras.
Ao mesmo tempo que as obras de Andrade desafiam o domínio normativo do
português europeu, também mistificam novas configurações de poder e disputas
sobre a representação cultural do Brasil dos anos 1920 e 1930.
Palavras-chave: Mário de Andrade, ideologias linguísticas, sociolinguística
Narrativas em movimento: lugares políticos na linguagem do Corpo de Baile
de Guimarães Rosa
Danilo Almeida Patrício (Doutorando em História pela UFMG/Bolsista FAPEMIG)
Gênova, Itália, 1965, “Primeiro Congresso de Escritores Latino-
Americanos”. Em um dos momentos, os escritores “debatiam sobre a política em
geral e o compromisso político do escritor” (LORENZ, 1973, p. 318). João
Guimarães Rosa demonstra-se inquieto e em seguida deixa a sala. A atitude tem
repercussão durante e depois do Congresso, suscitando debates sobre uma
suposta ausência de política na literatura do escritor, conforme debatido na
entrevista do artista concedida ao alemão Günter Lorenz.
A comunicação aqui apresentada, refletindo sobre tal assertiva, questiona
esse ponto de vista propondo reflexões a partir das narrativas presentes em Corpo
de Baile, publicado pelo autor em 1956. Considerando enredo e personagens,
lançam-se olhares sobre a produção ficcional como modos de dizer que são
políticos, abertos a novas questões a partir da linguagem. Escrituras políticas em
lugares históricos que, mais do que uma manifestação restrita a um presente, na
superfície de entendimento, como o do Congresso em questão, elabora-se em um
material artístico complexo que se recusa a explicar, inscrevendo-se na criação
em movimento.
Como narrativa principal que percorre a obra, identificável nas mais de
800 páginas, o livro narra a história do menino Miguilim, que em “Campo
Geral”, primeira novela matriz, habita com a família um lugar longínquo da
cidade, o Mutum, de onde parte para a cidade levado por um médico, em
permissão da mãe. A família da criança e outros personagens dessa história
espalham-se pelas demais narrativas, seis, que se entrecruzam. A feitura das
narrativas, pesquisa e criação, produzem uma escritura que conta histórias
através da estória artística. Trata-se de um caminho de escolha política, que ao
mesmo tempo se volta para práticas políticas vividas no tempo, “de todos os
tempos”, como disse Drummond em suas Confissões Mineiras. Política da arte
tecendo movimentos políticos vislumbrados nas posturas, modos de vida.
O Mágico de Oz: a influência dos mitos e alegorias na construção do
pensamento político e cultural da modernidade
Stéfany Sidô Ventura (Graduanda em Ciências Sociais pela UFMG)
A literatura é responsável pelo cumprimento de uma importante função social,
pois expressa, reaviva, cria e recria mitos, estórias, histórias que alimentam
padrões culturais, sociais e políticos influenciando os modos de presença do
poder e da resistência. O Mágico de Oz foi escritor em 1900 por L. Frank Baum.
Inicialmente voltado para o segmento infanto-juvenil o livro acabou se tornando
um clássico literário. De acordo com a perspectiva de Bettelheim (1979), um
conto clássico inicia-se com uma situação mundana que contém algum problema
e logo após entra em um mundo com situações fantásticas nas quais os
acontecimentos tem fortes significados simbólicos. Neste sentido, o Mágico de
OZ contempla este tipo de narrativa.
A mais famosa obra de Baum alcançou reconhecimento mundial, popularizou-se
e ultrapassou as expectativas de público por seu caráter fantástico e maravilhoso
que integra elementos da magia, da ordem da natureza, bruxos, territórios e
populações sobrenaturais e extraordinárias. Narrativas e obras literárias com este
teor são produzidas e frutificadas ao longo dos séculos. A partir da revisão
bibliografia de demais trabalhos produzidos sobre o Mágico de Oz (Littlefield,
1964; Martins, 2008) e principalmente seguindo os estudos produzidos sobre as
raízes medievais (Le Goff, 2007;2009; Soares, 2012; Bloch, 1993) proponho-me
a refletir sobre a iconografia, lendas, mitos o simbolismo dispostos tão
fortemente na obra de Baum. Em uma análise do texto e contexto o esforço será
no sentido de revelar como o Mágico de Oz remonta as origens, certas formas de
poder, resistência e formação de comportamentos e pensamentos sociais e
políticos presentes no cotidiano.
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