CONSTRUINDO PONTES ENTRE GERAÇÕES: DESENVOLVENDO A RESPONSABILIDADE SOCIAL ENTRE JOVENS E IDOSOS
Building bridges between generations: developing social responsability between young and old
Victória dos Santos Ferrazoni – [email protected] em Psicologia – UNISALESIANO LINS
Peterson Merlugo – [email protected] em Psicologia – UNISALESIANO LINS
Rafaela Diogo Martins – [email protected] em Psicologia – UNISALESIANO LINS
Orientador (a): ProfªMs. Liara Rodrigues de Oliveira – UNISALESIANO LINS – [email protected]
RESUMOEste artigo apresenta os resultados obtidos a partir da experiência de Estágio Básico em Psicologia realizado no Centro de Formação do Mirim de Lins- SP. Tendo como objetivo unir gerações, começando pela adolescência e a terceira idade, proporcionando um encontro desses adolescentes com idosos do Asilo São Vicente de Paulo de Lins – SP, com o intuito de promover a responsabilidade social, cidadania e cooperação. Será abordada a questão da adolescência na atualidade e como os jovens se posicionam perante a vida, a realidade atual da terceira idade e contemplando ambas as gerações, abordando as habilidades sociais e a responsabilidade social e suas contribuições para gerar valores positivos em jovens e idosos, promovendo a saúde e qualidade de vida através da construção de um novo olhar de ambas as partes. Obteve-se resultados positivos durante a realização do estágio e no encontro com idosos, foram desenvolvidas atividades como dinâmicas, apresentação de filmes, jogo cooperativo e no encontro final atividades com artes, teatro e música envolvendo os adolescentes e os idosos.
Palavras-chave: adolescentes, idosos, habilidades sociais, responsabilidade social.
ABSTRACT
This article will show the results and discussion obtained from the Basic Core Stage IV Mirim held at the Training Centre of Lins - SP. Aiming to unite generations , beginning with adolescence and old age, in order to promote social responsibility , citizenship and cooperation.It will address the issue of the current adolescence and as young people position themselves towards life , the current reality of old age and contemplating both generations will discuss social skills and social responsibility and their contributions to generate positive values in young and elderly , promoting health and quality of life by building a new look to both parties.
Keywords: teenagers, Elderly people , Social Skills , Social Responsibility.
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INTRODUÇÃO
O projeto Construindo Pontes consiste em unir diferentes gerações a fim de
promover trocas de experiências. O projeto foi desenvolvido com adolescentes da
instituição Centro de Formação do Mirim de Lins – SP, e visou prepará-los para
vivenciar um contato aproximado com outra geração, no caso, idosos do Asilo São
Vicente de Paulo de Lins – SP.
Os objetivos desse projeto de intervenção realizado pelos estagiários foram
promover a interação entre as gerações, buscando desenvolver habilidades sociais
como a cidadania, a responsabilidade social, o respeito e o amor ao próximo e
valores humanos.
O projeto também teve como intenção servir de motivação para futuros
trabalhos ou projetos, além de ser inspiração para a vida de todos os envolvidos.
A metodologia foi baseada em 10 encontros com os jovens, onde foram
realizadas atividades, envolvendo dinâmicas, confecção de fantoches, vídeos sobre
idosos e ajuda ao próximo e rodas de conversas, como uma preparação para o
encontro com os idosos.
O projeto foi baseado em estudos teóricos sobre a adolescência, a terceira
idade, a responsabilidade social e o desenvolvimento de habilidades sociais.
1 ADOLESCÊNCIA
A adolescência é sempre vista como uma fase de grandes conflitos e
transformações, e também um período de notáveis alterações físicas e psicológicas
na vida de uma pessoa. Porém, não há uma definição específica em si que a
caracterize em um consenso no âmbito da psicologia para esse período de
desenvolvimento humano, é possível recorrer a diversos autores e suas definições,
tais como Piaget e Erikson, porém, deve-se levar em conta que essas várias
definições são consoantes à adolescência e suas oscilações.
Cada sociedade e cultura cobra dos indivíduos uma preparação para a vida
adulta e o desenrolar dessa fase varia de acordo com o contexto social em que está
inserido.
Podemos considerar, então, que a adolescência é uma fase típica do
desenvolvimento do jovem de nossa sociedade. Isso porque uma sociedade
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evoluída tecnicamente, isto é, industrializada, exige um período para que o jovem
adquira os conhecimentos necessários para dela participar. Essa concepção parece
correta, já que o adolescente precisa, para enfrentar determinadas profissões, de
uma preparação muito mais avançada que a das sociedades primitivas. Mas não se
pode dizer que todo adolescente de nossa sociedade passa pelo mesmo processo,
já que uma boa parte das tarefas de um adulto não exige um tempo muito longo de
preparação. (BOCK, A. M. M.; FURTADO, M.; 2003).
É necessário entender a adolescência também como um processo de
construção sobre condições histórico-culturais especificas. Devemos: “entender a
adolescência como constituída socialmente a partir de necessidades sociais e
econômicas dos grupos sociais e olhar e compreender suas características como
características que vão se constituindo no processo [...] Os modelos estarão sendo
transmitidos nas relações sociais, através dos meios de comunicação, na literatura e
através das lições dadas pela Psicologia” (ANDRIANI, BOCK & OZELLA; p; 171;
2001).
Entende-se que a adolescência é um período onde já se começa a traçar
planos para o futuro, sejam esses planos profissionais, pessoais ou sociais. É
necessário proporcionar a esses jovens momentos de reflexão, sobre quem desejam
ser, sobre a sociedade em que estão inseridos e sobre altruísmo, a fim de auxiliá-los
na busca autoconhecimento e construção do futuro.
Compreendendo a adolescência como um processo individual a cada um, não
se pode negar a grande influência da sociedade sobre os adolescentes. O que
muitas vezes é transmitido aos jovens é que o mundo é um lugar sem boas
perspectivas, que não há mais nada a ser feito, ou seja, um mundo de
desesperança. Porém, é importante ressaltar a esses jovens que o futuro será
construído por suas mãos e que eles serão os adultos e idosos do amanhã, além de
mostrar a eles que a realidade social existe, porém, é possível haver mudanças e
transformações a partir da participação desse jovem como ator social da própria
história.
O adolescente internaliza o que está em sua realidade através do que
aprende e o que recebe do meio irá nortear sua personalidade, por isso a relevância
em proporcionar para esses jovens aprendizagem sobre temas que não estão
acostumados a discutir para justamente criar reflexões que possam vir a
proporcionar mudanças de atitudes e pensamentos.
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2 TERCEIRA IDADE
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), idoso é todo indivíduo com
60 anos ou mais, porém é preciso levar em conta que às vezes a idade não
acompanha o envelhecimento físico, ou seja, a idade cronológica não é um
marcador de vida e pode haver variações quanto à idade e a situação física e
psicológica dos indivíduos.
Envelhecer é um processo gradativo onde ocorrem mudanças fisiológicas e
psicológicas ao longo do tempo. Na nossa sociedade os idosos são vistos de uma
forma negativa, como alguém improdutivo, inútil, que não tem mais proveito. Porém,
os idosos também são relacionados à sabedoria e experiência, pois já viveram
muitos anos de vida.
É notável que a velhice é uma fase da vida estigmatizada, onde o idoso é
vítima de preconceitos e olhares que deixam de lado suas particularidades e
experiências de vida e somente levam em conta o corpo mais velho em que vivem.
O Estatuto do Idoso em vigência no Brasil deixa claro que é direito do idoso o
convício social, a cidadania, a cultura, o esporte, o lazer, a dignidade e o respeito.
Portanto, é direito de todos os cidadãos assegurarem aos idosos um convívio social
saudável e não a exclusão social.
Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Art. 3o É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
É fato que o crescimento da população idosa é algo que faz parte da nossa
realidade global atual, além disso, os jovens de hoje serão os idosos que irão fazer
parte desse percentual amanhã.
A compreensão desse aumento populacional é o ponto chave para
compreender que os idosos fazem parte da sociedade e eles não são uma
população a parte dos jovens. Essa visão menos inclusiva é típica dos jovens
contemporâneos, visto que as casas que cuidam de idosos, asilos, estão cada vez
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mais lotadas e o descaso com essa população é visível, um simples exemplo é a
preferência em ônibus e transportes públicos, pouquíssima vezes levada em conta.
De acordo com as estimativas das Nações Unidas, esse segmento em 2011
representava 1,6% da população mundial e as projeções indicam que passará para
4,3% em 2040. Nesse mesmo ano representará 20% da população idosa (60 anos
ou mais).
Os idosos na população mundial totalizavam aproximadamente 800 milhões
de pessoas, o que representava 11% da população. Em 2050, as projeções
apontam para um contingente de mais de 2 bilhões de idosos, o que constituirá 22%
da população.
No Brasil, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), em uma pesquisa recentemente divulgada em dezembro de 2014, a
população brasileira vem envelhecendo rapidamente, tanto em função do declínio da
fecundidade quanto da mortalidade. Esta última variável tem influência direta no
aumento da longevidade dos brasileiros. Em 1980, de cada mil pessoas que
atingiam os 60 anos, 656 não chegariam aos 80 anos. Em 2013, de mil pessoas com
60 anos, 427 não completariam os 80 anos, representando 229 óbitos a menos. A
expectativa de vida aos 60 anos, que era de 16,4 anos em 1980, passou para 21,8
anos em 2013, acréscimo 33,0%. Ou seja, em 2013, um brasileiro com 60 anos de
idade viveria, em média, até os 81,8 anos, sendo 79,9 anos a média para os homens
e 83,5 anos para mulheres.
Em uma matéria publicada na Revista Exame em 2014 por Beatriz Souza, diz
que a tendência é que, até 2040, 30% da população brasileira seja composta por
idosos. O problema é que o Brasil não está devidamente preparado para este novo
perfil populacional. (Revista EXAME.COM, 2012).
Com a proposta de intervenção, os estagiários visam desencadear a
aproximação entre jovens e idosos, podendo gerar aprendizado através dessa nova
interação social, principalmente aos jovens. O envolvimento em situações sociais é
apontado como um importante fator para o desenvolvimento de habilidades sociais
(CABALLO, 2003).
A presença do outro é necessária para que o comportamento socialmente
hábil seja manifesto e aprimorado. Assim, ambientes nos quais há um maior número
de pessoas podem eliciar maior número de interações sociais. (HOHENDORFF,
2009).
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Considerou-se relevante estimular o jovem a estar diante da velhice, a fim de
promover a resignificação da sua percepção sobre o envelhecer, visto que essa
etapa da vida é rodeada de preconceitos e exclusão social, busca-se atribuir novos
valores a esses jovens e também aos idosos aprendizagem sobre respeito ao
próximo, cidadania e empatia. Esse novo olhar para as gerações mais velhas pode
contribuir até em auxilio nas relações familiares e também para uma construção de
um novo olhar para o mundo.
No caminho em direção à fase da velhice, em decorrência de inúmeros fatores
culturais contemporâneos, os contatos sociais tendem a rarear, isto é, assiste-se a
um progressivo esvaziamento de papéis, fato que determina no idoso um crescente
isolamento ou recolhimento ao espaço doméstico. Os idosos precisam ser
estimulados a interagir produtivamente com todas as faixas etárias. É o idoso quem
mais poderá ajudar na quebra dos preconceitos existentes, pois poderá dizer sobre
a adaptação necessária frente às mudanças físicas e sociais da adolescência e do
processo de envelhecimento. O idoso é visto pelos mais jovens como alguém sem
expectativas de vida, sem maiores oportunidades na sociedade e que acaba sendo
alienado ao que lhe é proporcionado, sendo muitas vezes ligado à visão de
incapacidade física e doença. (GVOZD & DELLAROZA, 2012).
3 HABILIDADES SOCIAIS E SUAS CONTRIBUIÇÕESNão se pode negar que as pessoas passam a maior parte de suas vidas
envolvidas em interações sociais vividas na sociedade. De acordo com Caballo
(2003), o envolvimento em situações sociais é apontado como um importante fator
para o desenvolvimento de habilidades sociais.
As habilidades sociais, logo, aparecem como um conjunto de capacidades e
comportamentos que competem a cada um, podendo ou não ser desenvolvidos
durante sua vida ao longo de todas as interações sociais que se envolvem. As
habilidades sociais são várias, alguns possuem mais habilidade em determinada
área, diferente de outro. Podemos afirmar que as habilidades sociais se
desenvolvem naturalmente a partir dos muitos tipos de interações sociais, levando-
nos a compreender que em cada indivíduo se aflora de uma forma particular.
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Para Caballo (1991), comportamento socialmente habilidoso implicaria as
seguintes capacidades: iniciação e manutenção de conversações; falar em grupo;
expressar amor, afeto e agrado; defender os próprios direitos; solicitar favores;
recusar pedidos; fazer e aceitar cumprimentos; expressar as próprias opiniões,
mesmo os desacordos; expressar justificadamente quando se sentir molestado,
enfadado, desagradado; saber desculpar-se ou admitir falta de conhecimento; pedir
mudança no comportamento do outro e saber enfrentar as críticas recebidas. As
situações onde estas respostas podem ocorrer são muitas e variadas, como, por
exemplo, ambientes familiar, de trabalho, de consumo, de lazer, de transporte
público, de formalidade etc. (SILVA-BOLSONI, 2002).
Outros autores definem as habilidades sociais mais amplamente e permite
compreender o quão amplo elas podem se tornar, podendo ser moldadas através da
personalidade de cada indivíduo, levando em conta suas particularidades, seus
comportamentos, seu contexto de vida, histórico e cultural, além de contexto
situacional.
Estudos detalhados sobre as HS indicam que essas podem ser agrupadas em
classes e subclasses de maior ou menor abrangência. As classes/subclasses
propostas são as seguintes: habilidades de comunicação, compreendendo os
comportamentos de fazer e responder questionamentos, dar e receber feedback,
iniciar, manter e encerrar conversas, bem como elogiar alguém; habilidades de
civilidade, que incluem comportamentos de apresentar-se, cumprimentar, dizer por
favor e agradecer, além de habilidades satisfatórias para o enfrentamento ou defesa
de direitos ou de cidadania, tais como expressar opinião, discordar, falar com
autoridades, expressar desagrado, etc.; habilidades empáticas e de expressão de
sentimento positivo; além de duas classes mais abrangentes chamadas de
habilidades sociais profissionais e habilidades sociais educativas. (DEL PRETTE &
DEL PRETTE, 2006).
Tais habilidades são aprendidas, e o nível de desempenho varia em função
do estágio desenvolvimental e de variáveis situacionais e culturais (DEL PRETTE;
DEL PRETTE, 1999).
É importante citar as habilidades sociais na intervenção proposta por esse
artigo, pois, a adolescência é uma fase onde as respostas perante as situações são
moldadas e reforçadas, é um período onde o jovem está construindo sua história e
quem quer ser futuramente, um período permeado por tomadas de decisões e
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posicionamentos perante a cobrança do futuro, logo, é nessa fase em que o jovem
irá internalizar os valores positivos e negativos que recebe e irá ajudá-los nessa
construção de si mesmo.
Na questão da terceira idade, as habilidades sociais aparecem como meio de
retomar sentimentos e comportamentos sociais que passam despercebidos nessa
fase, como a capacidade de empatia, de comunicação, de compreensão do próximo
e de se expressar, pequenos comportamentos importantes a fim de reforçar aos
idosos que ainda possuem um lugar nessa sociedade.
4 RESPONSABILIDADE SOCIALQuando se fala de responsabilidade social, entra-se em contato com um
termo muito utilizado no mundo dos negócios e empresas, sendo um ramo utilizado
para disseminar vínculos entre empresas e sociedade objetivando disseminar um
desenvolvimento saudável de ambos. No ramo empresarial, a responsabilidade
social acaba se resumindo na maioria das vezes em uma obrigação para com a
sociedade.
Porém, a responsabilidade social é mais que uma mera obrigação, ela deveria
ser considerada um estilo de vida entre as pessoas que globalizam o mundo e não
somente algo colocado em prática ao redor dos muros de empresas a fim de
possuírem boa imagem. Contudo, a verdade é que se não colocada como um dever,
a responsabilidade social não é praticada a boa vontade, pois, ela se esbarra em
questões que tocam no individualismo e valores sociais individuais. Ou seja, cada
pessoa olha o mundo de uma forma, algumas com o olhar mais coletivo, buscam o
bem estar de todos, outros com o olhar mais individualista, visando apenas o próprio
bem estar, logo, a responsabilidade perante o social se esbarra também com a
empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro e de compreender a situação
em que se encontra.
Ao se considerar o termo responsabilidade, especificamente na Psicologia
Social, observa-se que os estudos a respeito centram-se em dois enfoques
diferenciados, a saber: responsabilidade social e responsabilidade pessoal. A
primeira significa “atuar sem buscar benefícios para si ou para as pessoas do seu
grupo de pertença, independente das consequências que isso possa ter” (GOUVEIA
& ALVES, 1993, p. 50).
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Segundo Waterman (1981), é um compromisso primeiro consigo, com
independência das normas sociais. De acordo com esta perspectiva, que
reconhecidamente se pauta em uma visão eminentemente individualista, na
responsabilidade pessoal, ainda que exista influência daquilo que é considerado
socialmente aceito, o ator age segundo o que ele determina como meta ou se
compromete a fazer. Portanto, esperar-se-ia que as pessoas que apresentassem
responsabilidade pessoal se orientassem por valores que pusessem ênfase na
liberdade do indivíduo. (GOUVEIA & ALVES, 1993, p. 50).
Conclui-se que a pessoa responsável socialmente primeiramente é
responsável pessoalmente e compreende sua liberdade perante a sociedade, essa
compreensão o coloca como atuante por si mesmo e não somente por algo que é
previsto socialmente como obrigação, logo, ele escolhe ser responsável na
sociedade em que vive.
Correlacionando a responsabilidade social com os objetivos desse artigo,
pontua-se que a responsabilidade social poderia ser compreendida também como
cooperação social e porque não ser considerada uma habilidade social? Pois,
envolve interações com o próximo e a nossa disposição em compreender o social e
a próximo, a partir justamente das interações, quanto mais interajo com esse social,
mais o compreendo e mais busco a cooperação a fim de proporcionar um ambiente
de bem estar no meio em que vivo.
A compreensão do próximo e do contexto social do próximo foi um dos
objetivos da intervenção proposta entre adolescentes e idosos, unindo duas
gerações para que possa promover valores como respeito, empatia, cidadania,
ajuda ao próximo, amizade, cooperação, aprendizagem e comunicação,
conhecimento, bem estar.
5 METODOLOGIA E RESULTADOS
Durante o estágio de núcleo básico foram realizados 10 encontros com os
adolescentes, com média de duração de 2 horas em cada encontro, totalizando 24
horas de vivência em campo. Houve participação em média 13 alunos, sendo 5
meninas e 8 meninos.
Nos primeiros encontros o objetivo principal era conhecer a instituição e os
alunos da instituição, o Centro de Formação do Mirim de Lins - SP, após isso traçar
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diante das observações, estratégias, como dinâmicas e atividades, para serem
desenvolvidas durante os encontros.
As primeiras dinâmicas aplicadas, durante os três primeiros encontros,
tiveram como objetivo a interação entre o grupo de alunos e entre os estagiários, a
fim de criação de vínculo entre os envolvidos.
As posteriores dinâmicas e atividades realizadas, com início no quarto
encontro, tinham como foco o envolvimento dos alunos com o projeto “Construindo
pontes” o qual foi apresentado pelos estagiários desde o primeiro encontro.
Foram reproduzidos vídeos a fim de gerar reflexões nesse grupo de jovens,
foi apresentado o documentário “Quem se importa?”, o vídeo “Fazer o bem sem
olhar a quem” e uma reportagem que foi exibida no Programa Fantástico
(11/09/2015), a reportagem mostrava um asilo que funcionava também como creche
e como esse contato entre diferentes gerações poderia contribuir para ambos os
envolvidos.
Outra atividade desenvolvida foi à confecção de fantoches pelos alunos com o
objetivo de realizar um teatro para ser apresentado aos idosos. Durante os
encontros também foi aplicado um jogo cooperativo (Jogo: Persona), visto que os
adolescentes mostraram-se desanimados, o jogo visou maior aproximação dos
estagiários com os adolescentes e que o vínculo construído durante os encontros
anteriores não fosse desfeito.
Outra estratégia criada diante dessa observação de desânimo dos
adolescentes foi à reprodução de um teatro de fantoches, desenvolvido por um
estagiário voluntário, a fim de ser um modelo para os adolescentes, motivando-os
novamente para aquela atividade. O estagiário voluntário apresentou um teatro de
fantoches sobre o tema paciência, encenando uma conversa entre um idoso e um
jovem.
Foram realizados ensaios com os fantoches com as histórias “Pinóquio” e
uma história criada por um dos adolescentes “A bruxa da montanha”, e também
ensaios com violão e música, que se mostrou um grande interesse dos
adolescentes, junto aos estagiários os alunos escolheram músicas sertanejas para
cantar no dia da visita dos idosos.
O último dia de estágio foi realizado um encontro entre as duas gerações,
adolescente e idoso. Um grupo de idosos do Asilo São Vicente de Paula de Lins –
SP fizeram uma visita ao Centro de Formação do Mirim de Lins - SP para um café
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da manhã e para participar de algumas atividades desenvolvidas pelos alunos com o
auxílio dos estagiários.
O encontro aconteceu no período da manhã e estavam presentes 13 alunos
da turma e 2 adolescentes voluntários que também fazem parte do Centro de
Formação Mirim de Lins - SP, o encontro também contou com dois voluntários,
sendo um auxiliando com as músicas tocadas no dia, e outro um estagiário
voluntário.
Os adolescentes ajudaram na arrumação do café da manhã e após a
chegada dos idosos, foram recepcioná-los. Os adolescentes foram incentivados
pelos estagiários a sentarem ao lado dos idosos e conversar com eles enquanto o
café estava sendo servido. A maioria aderiu aos incentivos, no entanto dois deles
não, optando por sentar isoladamente.
Após o café foram realizadas atividades de desenho, em uma mesa foram
dispostos desenhos, folhas, lápis de cor e giz de cera, idosos e alunos
permaneceram pintando e desenhando por um grande período. Concomitante a esta
atividade foi desenvolvida a atividade com músicas, sendo tocada e cantada pelos
próprios adolescentes. A penúltima atividade realizada foi um teatro por parte do
estagiário voluntário, que abordou o tema idoso e adolescente, além de falar de
respeito ao próximo e empatia.
Os idosos interagiram em todas as atividades, desenhando e pintando,
comendo, cantando, rindo e conversando. A última atividade desenvolvida foi o
embelezamento das idosas, que tiveram suas unhas pintadas pelas alunas
voluntárias.
Os adolescentes optaram por não apresentar o teatro de fantoche ensaiado
anteriormente, o que foi compreendido pelos estagiários.
O mais interessante no encontro foi observar a dedicação dos adolescentes
ao desenvolver as atividades, mesmo que com receio no início, após o
entrosamento deles com os idosos, os mesmos demonstraram muita alegria e
dedicação com o que estavam fazendo.
Um ponto importante é que ao final do encontro, com o clima de despedida
que se instalou e a notícia que os estagiários estariam finalizando o estágio, alguns
adolescentes choraram e abraçaram os estagiários, se mostrando tristes, outros
agradeceram e outros ainda mesmo que timidamente, disseram que foi um dia muito
produtivo.
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Por parte dos idosos também a sensação foi muito positiva, já que eles
agradeceram inúmeras vezes pelas atitudes, pelo dia divertido e por fazê-los
sentirem tão especiais naquele dia. Os estagiários contaram ao final com o feedback
da assistente social que acompanhava o grupo de idosos, agradecendo pela atitude
e pontuando o quão é importante para os idosos esse momento diferente em contato
com novas pessoas.
CONCLUSÃO
O projeto Construindo Pontes buscou proporcionar aos jovens e idosos a
possibilidade de internalização de sentimentos e valores positivos, respeito, ajuda ao
próximo, amizade, aprendizagem, cidadania, responsabilidade social, empatia,
cooperação, comunicação, além um momento de bem-estar.
Aos jovens os objetivos eram de proporcionar interação com uma geração
diferente, visando à construção de um novo olhar sobre o próximo, no caso, um
novo olhar aos idosos e a velhice. Compreende-se a importância de mostrar aos
jovens valores positivos que os auxiliaram na construção do que serão futuramente
e na construção da sua visão de mundo.
Aos idosos, o projeto buscou proporcionar um momento diferente de sua
rotina no Asilo São Vicente de Paulo de Lins – SP, com um momento interação com
pessoas de uma diferente faixa etária, com o objetivo de resgatar valores
esquecidos e desmistificar a visão atual da velhice, de que idosos não possuem
mais seu lugar na sociedade, mostrando justamente o contrário, que os idosos
possuem o seu lugar e merecem ser tratados com respeito e cidadania.
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REFERÊNCIAS
ANDRIANI, Ana; BOCK, Ana. et al. Org. OZELLA, Sergio. Adolescências construídas. São Paulo: Cortez, 2003.BRASIL, LEI No 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Brasília, 1o de outubro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.BOCK, Ana. et al. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 14ª ED. São Paulo: Saraiva, 2008. GVOZD, Raquel; DELLAROZA, Mara S. G. Velhice e a relação com idosos: o olhar de adolescentes do ensino fundamental. Rev. bras. geriatr. gerontol. vol.15 no.2 Rio de Janeiro, 2012.GOUVEIA, V.; VASCONCELOS, T., et al. A dimensão social da responsabilidade social. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 8, n. 2, p. 123-131, 2003.HOHENDORFF, Jean V. Habilidades sociais e adolescência: um estudo entre classes econômicas. Tese Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT). Disponível em: https://psicologia.faccat.br/. Acesso em: 20/08/2015. LOBOISIERE, Paula. Mundo terá mais de 1 bilhão de idosos em dez anos, diz ONU. EXAME.COM, Publicado em 01/10/2012 às 09h18. Disponível em: http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/mundo-tera-mais-de-1-bilhao-de-idosos-em-dez-anos-diz-onu. Acesso em: 20/03/2015. SILVA - BOLSONI, Alessandra T. Habilidades sociais: breve análise da teoria e da prática à luz da análise do comportamento. Interação em Psicologia, 2002, 6 (2), p. 233-242.
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