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Atualidades Ornitológicas Nº 135 - Janeiro/Fevereiro 2007 - www.ao.com.br

Giorgio de Baseggio que já foram obtidas variedades negras, tanto Itália nas plantas como nos animais. Alguns exem-

plos: Nas plantas variedades negras em rosas, Prefácio tulipas, violetas, dálias, Daucus carota, Eusto-

Apresento-me: sou ornitólogo e criador ma russelliatum, Hydrangea macrophilla, Pe-com muitas dezenas de experiências diretas. largonium, Leucadendroon, Ageratum, Ra-Pretendo resumir os resultados das minhas nunculus etc. Nos animais variedades negras cansativas pesquisas que têm a finalidade de em muitíssimas espécies: gatos, cavalos, por-dar vida a um verdadeiro canário negro uni- cos, cães, coelhos etc. Nas aves: muitas varie-forme. Há 69 anos crio pássaros, desde crian- dades negras nas galinhas, pombos, patos, gan-ça. Criei canários de várias raças, periquitos sos etc. Muitíssimas são as espécies silvestres ondulados, pássaros insetívoros e granívoros de aves completamente negras e isto demons-etc. Sou um docente de zootecnia e tenho uti- tra que a plumagem e a pele eumelânicas nas lizado meus conhecimentos zootécnicos (ge- aves são compatíveis com a vida e a saúde e, as- is, particulares condições ambientais (por ex. nética, alimentação, ambiente, profilaxia das sim, as epidermes e penas ricas de eumelanina excesso de umidade) etc. Tais canários negros, doenças, reprodução etc.) aplicando-as às (eu), tornando-as mais fortes e mais resistentes assim, depois de uma ou duas mudas, retorna-aves de gaiola e viveiro. Até hoje escrevi 14 li- que as com pouca ou sem eumelanina (eu): tan- vam à sua plumagem normal.vros sobre canários de todas as raças, sobre to é verdade que em diversas espécies com plu-fringilídeos indígenas e exóticos, sobre ploce- As principais causasídeos e estrildídeos, sobre híbridos. Nos últi- Se até hoje um verdadeiro canário negro, mos 40 anos me dediquei a fundo ao estudo, à com as eumelaninas (eu) geneticamente es-reprodução em pureza e à hibridação das espé- tabilizadas e transmissíveis à descendência, cies dos esplêndidos pintassilgos (americanos ainda (pelo que se sabe) não foi conseguido e eurasiáticos) aos quais dediquei muitos arti- e não está difundido no mundo, é devido a gos e seis livros (“Cardellino eurasiatico”, muitas causas que, a seguir, enumero e co-“Cardellini e Lucherini”, “Allevamento dei mento as principais.Carduelidi”, “Ibrido logia” “Allevamento 1 – Hipóteses erradas. Foram feitas, nos úl-dei Fringillidi”, “Fringillidi speciali”), des- timos decênios, em várias partes do mundo, crevendo as minhas detalhadas experiências e muitas hipóteses (erradas) que sustentavam os meus estudos e pesquisas. No livro “Frin- a impossibilidade de se chegar a um canário gillidi speciali” eu também descrevi detalha- negro e aquela mais difundida (mostrada em damente, as pesquisas que superam trinta anos diversos periódicos) é de que: a) As altas do-para realizar o “verdadeiro canário negro”. A ses de eumelanina não permitem a vida; b) O seguir resumo as minhas experiências que po- excesso de eumelanina eu e a carência de feo-dem levar à criação de pássaros totalmente ne- melanina (feo) criam graves desequilíbrios gros e férteis que ficam a um só passo para se hormonais incompatíveis com a vida; c) Não obter um canário negro como um corvo. é possível a vida numa ave com muitas eu e

ausência de feo; d) O canário apresenta mui-Um pouco da história tas estrias que se opõem à expansão e ao alar-

O homem há muito tem pensado em obter gamento delas para a plumagem inteira.canários totalmente negros como um corvo. A 2 – Métodos de pesquisa errados. A) Incapa-magem clara ou branca, as extremidades das rê-paixão para realizar variedades de cor negra cidade técnica da correta utilização dos exem-miges e das timoneiras são negras (por ex. em sempre esteve muito difusa, tanto é verdade plares negros ou enegrecidos que apareceram; certas espécies de gaivotas). Apesar do homem

b) Uso, na hibridação, de pássaros genetica-já ter obtido muitas variedades totalmente ne-mente distantes do patrimônio hereditário do gras em muitas espécies e raças de aves do-Serinus canaria; C) Emprego de variedades de mesticadas (por ex. existem galinhas com uma cores do canário doméstico não apropriadas.plumagem de um magnífico negro reluzente), 3 – Ambientes e alimentações errados. ainda hoje não foi conseguido no canário, pelo Por ex. Locais inadequados para se manter que eu saiba. Mas canários totalmente, ou par-saudáveis delicados pássaros negros (pin-cialmente negros ou muito escuros já nasce-tassilgos sul-americanos) a serem usados; ram em diversas partes do mundo. Mas, com alimentos contaminados ou com carências e controle mais acurado, ditos canários surgiram desequilíbrio alimentares.após várias causas: desequilíbrios alimentares 4 – Carência de fundos: Falta de meios fi-(carência ou excesso de determinados princípi-nanceiros para continuar as pesquisas e ex-os nutritivos), administração de substâncias periências.pigmentantes negras, desequilíbrios hormona-

As possibilidades de se obter o verdadeiro canário negro

Carduelis atratus macho (foto Honorio G. Pelegri)

Giorgio de Baseggio

Um canário inteiramente negro nascido na Itália em 1965, junto a outros três irmãos, todos negros (exceto um com

uma mancha clara no flanco). Todos filhos de canário canela marfim.

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5 – Hostilidade dos pessimistas: Muitos tal modo a transmitir aos canários domésti-pesquisadores foram desencorajados a em- cos a eumelanina negra. Depois de atentas preenderem e/ou continuarem pesquisas e observações posso, a seguir, fazer uma lista experiências diante da hostilidade de al- (pesquisas bibliográficas em livros e perió-guns que sustentam (erroneamente) que um dicos em um século, em diversos países da canário negro jamais será obtido. Europa e das Américas do Norte e do Sul)

das espécies utilizadas.Os pessimistas e os “possibilistas”

Como sempre acontece nas coisas huma- Lista de espécies negras (ou com nas, existem os pessimistas (que negam partes negras) usadas na hibridação qualquer possibilidade de se dar vida a um (com * indico as espécies que deram verdadeiro canário negro) e os possibilistas, híbridos férteis com canário)os quais acham que, mais cedo ou mais tarde Hypochera chalybeata, Serinus alario um canário verdadeiramente negro será rea- (*), Volatinia jacarina, Carduelis atratus lizado. Os pessimistas não devem ser leva- (*), Carduelis xanthogastra (*), Carduelis teis: 100% de híbridos machos e entre 95 a dos em consideração, já que nunca se viu no psaltria (*), Carduelis notatus (*), Cardue- 98% dos híbridos fêmeas. De fato, acasalan-mundo um pessimista obter qualquer coisa lis magellanicus (*), Carduelis uropygialis do-se um F1 (macho ou fêmea), nascido da válida na vida. Já os possibilistas se dividem (?), Tiaris fuliginosa (*), Serinus pusillus espécie de pintassilgo X com a espécie de em dois grupos: a) aqueles que acham que (*), Junco hyemalis, várias espécies do gê- pintassilgo Y para a outra espécie remanes-um canário negro pode aparecer somente nero Sporophila, várias espécies do gênero cente do pintassilgo, todos os F1 são férteis, através de uma mutação genética que esten- Amaurospiza, várias espécies do gênero dando vida a R1 vitais. Isto demonstra a da a eumelanina sobre toda a plumagem; b) Oryzoborus, Melopyrrha nigra. grande afinidade entre todas as 19 espécies aqueles que, ao contrário, pensam que um ca- de Lucarinos existentes (NT: Lucarinos são Pelas minhas experiências conduzidas nário negro possa ser realizado mediante hi- os pintassilgos americanos, que antes per-por mais de duas décadas de hibridação, as bridações entre canários e espécies de pás- tenciam ao gênero Spinus; Cardelino são os únicas espécies que deram resultados muito saros de plumagem negra. Pessoalmente não verdadeiros Carduelis,os euroasiáticos). positivos, ou seja, híbridos negros férteis excluo que, com o tempo, se possa realizar Também as espécies norte-americanas: Car-uma mutação que expanda a eumelanina ne- duelis tristis, C. pinus, C. lawrencei e C.

psaltria) são verdadeiros Lucarinos e não gra pela plumagem inteira do canário; porém Cardelinos, como asseguram diversos auto-considero que dita mutação muito dificil-res e ornitólogos também nas modernas mente poderá aparecer e, se aparecer, sabe-classificações. De fato também todas as qua-se lá quando isso acontecerá. Ao invés acho tro espécies norte-americanas citadas levan-que o caminho da hibridação, embora difí-tam as penas das cabeças, movimentos típi-cil, seja aquele capaz de realizar um canário cos somente dos lucarinos e isto não aconte-negro em tempos não muito distantes. E o ca-ce com os “verdadeiros cardelinos” (Cardu-minho da hibridação é aquele que eu empre-elis carduelis); além disso todas as 19 espé-endo há cerca de 30 anos, e que tem me per-cies de lucarinos emitem cantos e sons entre mitido obter resultados entusiasmantes, sur-si muito semelhantes. Assim as 18 espécies preendentes, como resumirei mais adiante. foram somente Carduelis atratus, Cardue-de lucarinos americanos (Américas do Nor-lis psaltria, Carduelis xanthogastra. Não te, Central e do Sul) são todos “verdadeiros Espécies utilizadas na pesquisa pude usar o Carduelis uropygialis devido a lucarinos, junto ao lucarino euro-asiático. Já há alguns decênios tenho consultado impossibilidade de possuir pássaros vivos Tudo isto acima também foi confirmado pe-as revistas especializadas na pesquisa de ex- (mas acho que o C. uropygialis dê um grau lo estudioso da evolução das aves, Prof. periências de hibridação entre canários (de de fertilidade dos híbridos semelhantes Antonio Arnaiz-Villena, diretor e presidente ambos os sexos) e espécies de pássaros indí- àqueles do C. atratus, sendo estas duas espé- do Departamento de Imunologia e Biologia genas e exóticos usados pelos criadores

cies semelhantes entre si). As únicas espé- molecular da Faculdade de Medicina da Uni-cies que acho boas para transferência do pig- versidade Complutense de Madrid. Villena, mento negro para o canário são as quatro criador de pintassilgos americanos e conhe-mencionadas acima, às quais se pode juntar cido estudioso dessa evolução dos fringilí-o Carduelis cucullatus. O pintassilgo-da- deos, utilizando o DNA-mitocondrial para venezuela serve como “ponte de passa- apurar o grau de afinidade entre as várias es-gem” entre C.atratus e o Serinus canaria, pécies, depois dos seus estudos e pesquisas como explicarei mais adiante. sobre a evolução dos lucarinos e dos carde-

linos, escreveu uma relação científica: “De-A filogênese dos pintassilgos ve ser refeita e atualizada a classificação ci-

Em seguida aos meus estudos evolucio- entífica das quatro espécies norte-nísticos sobre todas as espécies de pintassil- americanas: Carduelis pinus, C.psaltria, gos americanos (18 espécies) e o Carduelis C. lawrencei e C. tristis devido serem elas os spinus, apurei que todas as 19 espécies de verdadeiros lucarinos e não cardelinos, co-pintassilgos derivam de um único antepas- mo muitos erroneamente acreditam”. Todos sado da América do Norte: um pintassilgo estes argumentos sobre filogênese dos luca-antigo semelhante ao Carduelis pinus. Isto é rinos e cardelinos estão amplamente descri-demonstrado pelo fato que todos os híbri- tos no meu livro “Cardellini e Lucherini”,

com a finalidade de obter híbridos férteis de dos (F1) entre as citadas 19 espécies são fér- nova edição, Mondo degli Uccelli, 2003.Carduelis psaltria macho

(foto: Doriano Belotti)

Carduelis cucullatus fêmea (foto Franco Pontiggia)

F1 fértil (Carduelis atratus X Canário negro-marrom)

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As minhas experiências de hibridação estéreis se acasalados a canários. 3) férteis se Depois de muitos anos de cuidadosas ex- acasalados a lucarinos puros para outras 3 es-

periências de hibridação, apurei os seguin- pécies de lucarinos.tes graus de afinidade (ao Serinus cana-ria) com os seguintes híbridos : Nota importante

Das minhas experiências de muitos anos Alguns caminhos percorríveis de hibridação, apurei que: “Invertendo os

sexos das próprias duas espécies – macho Pelo exame dos meus resultados de hibrida-de espécie A x fêmea de espécie B e macho ções entre as quatro espécies de pintassilgos de espécie B x fêmea de espécie A – seja a (lucarinos) indicadas na tabela precedente, morfologia e seja o grau de fertilidade po-acasaladas ao canário doméstico (tanto no cru-dem mudar, também quando se trata de F1 zamento direto ou no recíproco, ou seja, ma-proveniente das mesmas duas espécies”. cho da espécie A x fêmea da espécie B e, vice-Isto acontece na grande maioria das hibri-dações e isto deve ser sempre considerado nas experiências dos acasalamentos. Assim, na pesquisa, efetuar sempre tanto o acasalamento direto (macho A x fêmea B) como o acasalamento recíproco (macho B ta denominação “negro-marrom”. Se o x fêmea A); isto permite se individualizar marrom existe na plumagem dos melânicos os híbridos com maior fertilidade. clássicos, a terminologia “negro-marrom” é

Exemplo: Constatei, depois de diversos mais apropriada. Se, pois, um dia aparecer o anos de experiências de hibridação, que os “verdadeiro canário negro”, todas as termi-F1 machos nascidos de macho C. cuculla- nologias hoje adotadas nos canários de cor tus x fêmea Serinus canaria assemelham- deveriam ser corrigidas, readmitindo o mais se mais à espécie lucarino vermelho, mas correto “negro-marrom”. O canário ne-

versa, macho B x fêmea A, o resultado é que: somente de 40 a 50 machos em 100 são fér- gro uniforme atualmente não é mais uma 1) A espécie Carduelis xanthogastra é a espé- teis se acasalados à canária. Enquanto da hi- utopia e muitos criadores podem começar cie geneticamente mais afim da espécie Seri- bridação entre macho Serinus canaria x fê- pelo caminho da busca do canário negro, nus canaria, enquanto dos seus F1 machos fo- mea C. cucullatus assemelham-se mais ao seguindo as várias estradas que detalhada-ram férteis entre 60 a 80 acasalados a canári- canário e de 80 a 90% dos F1 machos são mente escrevi no meu último livro Fringil-as. 2) Enquanto a espécie Carduelis atratus é férteis se acasalados com a canária. lidi speciali; algumas delas mostro a seguir.aquela geneticamente menos afim à espécie (somente 20 a 30 híbridos em 100 são férteis Quais são as variedades de Caminho n°1acasalados a canário, principalmente depois cores dos canários a se utilizar? Através do pintassilgo-da-venezuela do 2º , 3º ou 4º ano de vida, enquanto muitos Obviamente é necessário se usar canários (Carduelis cucullatus). Pode-se obter pin-F1 amadurecem suas gônadas numa idade com as seguintes mutações, escolhendo-se tassilgo vermelho-negro para ser acasala-mais madura), enquanto as remanescentes ou- os exemplares mais escuros, na ordem: 1) do a canários muito escuros (por ex. ônix, tras duas espécies Carduelis cucullatus e C. cobalto, 2) ônix, 3) negro-marrom mosa- cobalto). Obtém-se lucarino vermelho-psaltria são medianamente afins em 50% à es- ico (bronze), provenientes da Itália, com es- negro acasalando-se: macho C. atratus x fê-

trias muito compridas, 4) negro-marrom pécie Serinus canaria (ou seja, em 100 F1 ma- mea C. cucullatus e também macho C. cu-(verdes) muito escuros, 5) lizard, mas so-chos acasalados com canária, cerca de 50% se- cullatus x fêmea C. atratus. Os F1 (todos mente os exemplares escuros (plumagem rão férteis). Mas todas quatro espécies menci- férteis em ambos sexos) podem ser utiliza-muito escura).onadas são muito úteis na transferência da eu- dos nos seguintes modos:

Sou contrário à denominação da C.O.M. melanina negra do exótico para o canário, uti- A) Macho F1 (C. atratus X C. cucullatus) (Confederação Ornitológica Mundial), ado-lizando com bom senso (alguns exemplos são X fêmea C. atratus = filhos: R1 machos e fê-tada por diversos países, que chama os caná-mostrados mais adiante). A espécie mais rica meas.rios de melânicos (ex.: verde, canela) de “ne-em eumelanina é o C. atratus em ambos os se- B) Macho F1 (C. cucullatus X C. atratus) x gros”, ao invés da tecnicamente mais corre-xos; mas esta espécie é aquela menos afim ao fêmea C. atratus = filhos R1 machos e fême-

canário. Então é necessário acasalá-la a uma as.das outras 3 remanescentes espécies de lucari- C) Machos F1 (A ou B) x fêmea de canário nos (C. xanthogastra, C. psaltria,C. cuculla- (por ex. ônix, cobalto) = filhos R1 machos e tus): todos os F1 entre as várias espécies de lu- fêmeas. Os R1 podem ser acasalados com:carinos são férteis em ambos os sexos se aca- a) R1 X C. atratus = R2salados a outras espécies de lucarinos. Todos b) R1 X C. cucullatus = R2os F1 C. atratus X outras espécies de lucari- Estes são alguns exemplos de acasalamen-nos ficam com uma plumagem predominan- tos. Acasalando F1,R1,R2 entre si e com os temente negra. Acasalando os F1 a C. atratus pintassilgos-da-venezuela puros é possível ob-obtém-se R1 férteis negros com escassas áre- ter-se os pintassilgos vermelho-negros. Isto as mais claras. Estes R1 são negros, férteis, ge- já foi obtido pelo autor e por outros criadores.neticamente mais afins dos lucarinos puros pa- Obtidos os pintassilgos vermelho-ra espécie Serinus canaria.O acasalamento de negros , estes são acasalados aos exempla-R1 negro x canário permite obter-se filhos de res mais escuros dos canários (ver acima os três tipos: 1) férteis se acasalado a canários. 2) números 1-2-3-4-5).

F1 fértil (Carduelis xanthogastra X Canário negro-marrom)

Carduelis cucullatus com melanina negra(foto Honorio G. Pelegri)

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Os pintassilgos vermelho-negros deri- tra/negro. Os esquemas dos acasalamentos 1-vados dos cruzamentos e re-cruzamentos 2-3 indicados no caminho n° 1 são os mes-entre C. atrata X C. cucullatus e vice-versa, mos, mas substituindo pelos derivados dos sendo filhos de duas espécies de lucarinos, pintassilgos vermelhos os derivados negros são seguramente férteis se acasalados a ou- nascidos da hibridação e re-cruzamentos en-tras espécies de lucarinos; enquanto so- tre C. atrata X C. xanthogastra e vice-versa. mente uma percentagem deles permite se O caminho 2 deve dar, em comparação ao ca-obter F1 férteis acasalados a canários. minho 1, resultados melhores e menos demo-

Como as mutações do canário cobalto e rados, devido a três fatos: A) A maior afinida-ônix são recessivas em relação ao negro- de genética entre C. xanthogastra e canário. marrom ancestral, é presumível que dita re- B) A maior percentagem de híbridos e deriva-cessividade se mantenha também acasalan- dos férteis. C) A mais elevada quantidade de do-os a pássaros negros (por ex. pintassil- melanina negra nos híbridos e seus derivados.go vermelho-negro) derivados de duas ou mais espécies de lucarinos. Considerações técnicas

Assim: Mas os criadores-hibridadores, que cri-1) pintassilgo vermelho-negro X cobalto am canário negro-marrons, não pensem = filhos: todos negro/cobalto (ou seja, ne- que basta colocar um exótico negro (C. gros portadores de cobalto). atrata) num criadouro de canários e espe-2) negro/cobalto X cobalto = filhos: 50% ce dos delicados pássaros. Com o tempo, rar obter F1 vitais e férteis. Em 99% dos ca-negro/cobalto; 50% cobalto em posse de diversos exemplares puros, sos o exótico negro, muito delicado e sem 3) negro/cobalto X pintassilgo vermelho- destinar alguns à hibridação com canários anticorpos (que os canários domésticos negro = filhos: 50% negro (homozigoto); domésticos, adotando as cautelas sanitári-têm), se colocado num local com canários 50% negro/cobalto (não distinguíveis). as e de criação descritas nos citados livros.(ou outras espécies domésticas, como dos

Como acima esquematizado, um caná- diamantes mandarins, periquitos ondula-rio negro é potencialmente obtenível. Considerações científicas deduzidas dos etc.) depois de pouco tempo adoece

Resultados semelhantes podem ser obti- das experiências diretas de hibridaçãodos utilizando-se, no lugar do cobalto a mu- Como o Carduelis atrata é a espécie de pin-tação ônix. tassilgo com a mais alta concentração de eu-

melanina negra e – o que é mais importante – Canários com tríplice atitude dita melanina se estende por 4/5 da pluma-

A um pintassilgo vermelho-negro é possí- gem em ambos sexos (ao invés, as fêmeas de vel também acasalar-se uma canária ene- outras espécies negras de lucarinos são cin-grecida “3”, ou seja, com tríplice atitude ge- za-marrom-esverdeadas), o C. atrata é a espé-nética, obtida da reunião, em um só sujeito, cie mais apropriada para transferir a maior de 3 fatores: negro-marrom/cobalto/ônix. quantidade de “genes para o negro” aos caná-É conveniente se formar uma linhagem escu- rios. A eumelanina negra é “portadora” de ca-ra de canários com tríplice atitude de am-

racteres polifatoriais (hereditariedade quanti-bos os sexos, para acasalar a pintassilgo ver-

tativa); portanto é necessário “transferir” a melho-negro macho e fêmea. Selecionar os

maior quantidade de genes para o negro do descendentes sempre mais negros. gravemente, fica com abdome vermelho e C. atrata para espécie Serinus canaria. Po-

inchado e com esterno saliente (cortante) rém como, pelas minhas experiências de hi-Caminho n°2

devido a atrofia dos músculos peitorais, bridação, somente 20 a 30 % dos F1 machos Através do Carduelis xanthogastra.

plumagem muito fofa com ou sem dificul- (C.atrata x Serinus canaria e vice-versa) Finalidade: obter C. xanthogastra/negro

dade respiratória. Depois de pouco tempo são férteis (geralmente a partir do 2°, 3° ou 4° (nascido de hibridação e re-cruzamento entre

o pássaro morrerá. O pintassilgo negro de- ano de idade etc.), é aconselhável não fazer C. atratus X C. xanthogastra), quase todos

verá ser colocado em local distante daque- hibridação direta entre as duas espécies (ma-negros, acasalando-se a canários muito escu-

le onde estão os canários e devem ser trata- cho C. atrata X fêmea Serinus canaria e vi-ros (por ex. ônix ou cobalto); ou a canários dos com alimentos apropriados e com par- ce-versa), mas é necessário “transferir” os ge-“3” (tríplice atitude): ver caminho n° 1.ticulares técnicas de criação, bem descri- nes do negro de origem C.atrata ao canário Seguir os mencionados procedimentos indi-tas no livro Fringillidi speciali ou no livro interpondo uma outra espécie de lucarino (C. cados para obter o pintassilgo vermelho-Cardellini e Lucherini”. Com as avança- psaltria,C. xanthogastra ou, no pior, C. cu-negro, substituindo para isso o C. xanthogas-das técnicas descritas nestes livros é possí- cullatus ) que seja geneticamente mais afim à vel obter numerosa prole sã de casais de espécie Serinus canaria. Isto para aumentar pintassilgos reproduzidos em pureza (en- o percentual de F1 (lucarinos X canários e vi-tre a mesma espécie). Não sub-valorizar os ce-versa) férteis se re-acasalados ao canário. conselhos de adotar particulares técnicas Deve-se levar em conta que também a fêmea avançadas de criação (alimentos apropria- C. xanthogastra tem a mesma potencialida-dos, cuidados profiláticos, determinadas de genética para o negro do respectivo ma-desinfecções etc.) bem descritas nos dois cho, embora a sua plumagem seja predomi-mencionados livros (que são o resultado nante de um verde-cinza-amarelado. Isto é de mais de 40 anos de criação com os deli- muito importante, já que é possível utilizar a cadíssimos lucarinos americanos). Em ca- fêmea C. xanthogastra a acasalar com ma-so contrário será inevitável a morte preco- chos de outras espécies de lucarinos negros

Dois híbridos F1 férteis (macho Carduelis cucullatus X fêmea C. atratus)

Tetrahíbrido fértil obtido pela mistura de4 espécies: Carduelis atratus - C. xanthogatra

- C. spinus e Serinus canarius obtido por Rafael Martinez (foto: H. Gimeno Pelegri)

Carduelis xanthogastra macho (foto Doriano Belotti)

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e/ou a machos de canários e os híbridos de se- ma tirosinase favorece a polimerização e, em muitíssimas espécies de plantas (rosa, tuli-pa etc.) mediante hibridações, cruzamentos, xo masculino herdarão a mesma quantidade também através de uma oxidação, os monô-re-cruzamentos e acuradas seleções. Se os flo-de negro que possam herdar se, ao invés, se meros se concatenam entre si formando um ricultores realizaram tantas maravilhas botâ-utilizam os C. xanthogastra: do sexo mascu- polímero, ou seja, uma espécie de cadeia que nicas, seguindo os caminhos das hibridações lino. Além disso, pode acontecer que, usando constitui a eumelanina (pigmento negro). Se e seleções, não há nenhum motivo que tam-fêmea C. xanthogastra X macho canário (co- numa mutação genética, o gene correspon-bém os criadores de pássaros não devam se-balto ou ônix) se obtenha um maior percen- dente à tirosinase reduz ou impede a ação da guir semelhantes estradas. Sabemos hoje que tual de híbridos F1 (e derivados) férteis. enzima, não acontece a polimerização, não as seguintes espécies de lucarinos america-Assim, deve-se tentar SEMPRE tanto o aca- se obtém a melanina, mas uma substância de-nos: C. atrata, C. psaltria, C. xanthogastra salamento direto (macho lucarino X fêmea la derivada, chamada feomelanina que con-são espécies mais ou menos negras e todas canária) como o acasalamento recíproco fere à plumagem uma tonalidade marrom.três têm dado híbridos férteis não somente (macho canário X fêmea lucarino). Assim, A eumelanina pode ser: a) eumelanina pela hibridação exótico X exótico (todos es-

em seguida aos resultados de hibridação aci- negra intensa (com multi-monômeros e tes F1 são férteis entre ambos os sexos), mas ma indicados, é necessário interpor, entre as concentrações de polímeros); b) eumelani- também entre exótico X canária e vice-espécies C. atrata e a espécie Serinus cana- na cinza; c) eumelanina marrom; d) eu- versa (hibridação direta: macho espécie A X ria, uma outra espécie de lucarino com plu- fêmea espécie B - e hibridação recíproca: magem negra, mas que seja geneticamente macho espécie B X fêmea espécie A devem mais afim do patrimônio hereditário do caná- sempre ser tentada porque apurei que inver-rio. Como indicado no apresentado caminho tendo os sexos das duas espécies obtém-se hí-2, o percurso mais rápido e mais eficiente pa- bridos diferentes não só do ponto de vista ra se obter o canário negro, é um dos seguin- morfológico, mas também, freqüentemente, tes: 1) macho C. atrata X fêmea C. xantho- do ponto de vista do grau de fertilidade.gastra = F1 X C. atrata = R1 X canário (co-balto ou ônix). 2) macho C. xanthogastra X Conclusãofêmea C. atrata = F1 X C. atrata = R1 X ca- Atualmente com a real disponibilidade de nário. Sucessivamente escolher os derivados híbridos e seus derivados negros férteis, re-mais negros R1, R2 etc., re-acasalando-os a alizados por muitos criadores e pelo que aqui canários escuros (ônix ou cobalto) selecio- escreve, o que vamos ter? Talvez um canário nando os exemplares mais negros. negro se forme sozinho, surgindo do nada

ou de uma improvável mutação? Falta so-Mas resultados apreciáveis podem se con-mente dar mais alguns passos que aqueles seguir usando-se no lugar do C. xanthogastra dos nossos predecessores, tendo bem presen-também o C. psaltria ou, se não disponível, te as realizações positivas obtidas até agora e também o C. cucullatus (esta espécie é aquela evitando-se os erros do passado. Além disso, menos rica em negro, mas é aquela mais dis-não se deve escutar os muito pessimistas ponível no mercado europeu e aquela melhor que, sem ter feito as corretas experiências de adaptada à vida em cativeiro). Detalhes apro-hibridação-re-cruzamento e seleções genéti-fundados sobre o exposto e outros caminhos cas, falam absurdos, impossibilidade, inven-para a busca do verdadeiro canário negro es-cionices e irrealidades como foi dito na pri-tão descritos no livro “Fringillidi speciali”. meira parte deste artigo e como detalhada-Até hoje estes e outros caminhos descritos no mente comentei no livro “Fringillidi specia-citado livro permitiram se obter exemplares to-li”. Observadas as fotos aqui mostradas (fo-talmente negros e férteis (ver fotos), que pa-tos de pássaros negros férteis) e pode-se dar recem verdadeiros canários negros, mas só o conta que vale a pena tentar a fascinante pes-melanina negro-azulada (com “difração são de 80 a 85%. Basta continuar com estes quisa do verdadeiro canário negro, talvez da luz” e reflexos azuis).acasalamentos, unindo somente os sujeitos seguindo os muitos conselhos e argumentos com eumelanina negra a mais uniformemente descritos no citado livro. Se um dia um ver-Esquema muito simplificado da difusa na plumagem, e o canário negro será dadeiro canário negro for realizado, pense melaninogênese (formação da melanina)uma meta atingível e não mais uma utopia.na enorme possibilidade de transladar o ne-Tirosina à tirosinase à DOPA à gro para outras variedades de cor (por ex. to-DOPA-quinona à DOPA-cromo à dihidro A melanogênesepázio, ardésia, opalino etc.) e também para 5-6 indol (monômero) à indol 5-6 quinona Melanogênese significa formação da mela- outras raças de canários (já imaginou um fri-(monômero) à polimerização (tirosinase +

nina. A melanogênese é um fenômeno com- sado ou um yorkshire todo negro?) Além dis-oxidação) à eumelanina (polímeros).plexo constituído por uma seqüência de rea- so, na pesquisa de um canário negro poderia Se uma mutação genética impede a poli-ções que levam do aminoácido tirosina (ou aparecer da novidade (por ex. canários cinza merização, do monômero dihidro 5-6 indol á c i d o b e t a - p a r a - h i d r o x i f e n i l - lavanda) que revolucionaria por inteiro o se forma feomelanina como segue:aminopropiônico) até o pigmento melanina. campo da canaricultura. Frangos, pombos, DOPA-quinona à cisteína à cisteinil-Tais reações acontecem particularmente nas gansos, patos etc. negros foram realizados há DOPA à feomelanina (marrom)células da pele, chamadas melanócitos. A ti- muito tempo: porque isto não pode acontecer O aminoácido cisteína joga um impor-rosina, por obra da enzima tirosinase, é também com o canário doméstico?tante papel na formação da feomelanina.transformada em DOPA (dihidroxifenil ala- nina), depois oxidada em dopa-quinona, de- Giorgio de Baseggio A pesquisa de um verdadeiro canário pois dopa-cromo, assim se origina o indol (di- (e-mail: [email protected] )negro é um desafio entusiasmantehidro 5, 6 indol) que é uma molécula seme- No campo da floricultura os especialistas lhante a um 8 (monômero) entortado. A enzi- cultivadores obtiveram a variedade negra Tradução: PSF

Desenho padrão do canário cinza “ardésia”e negro (desenho G. de Baseggio)


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