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ORDENAES
FILIPINAS
LIVRO
I
Nota
de Apresentao
MRIO
uo
DE ALMEIDA COSTA
FUNDAO CALOUSTE GULBENKIAN
i g i t i z e d
yGoo
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2/73
Esta
edio um a reproduo fac-simil
da
edio feita p or Candido Mendes de Almeida,
Rio de
Janeiro,
1870.
,76
R e s e r v a d o s t o d o s o s d i r e i t o s d e h a r m o n i a c o m a le i
E d i o
d a
F u n d a o C a l o u s t e G u l b e n k i a n
A v .
d e
B e r n a / L I S B O A
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N O T A D E A P R E S E N T A O
Com estareedio das Ordenaese Leis do Reino de
Portugal/Recopiladas
per mandado do
mvito
alto
catholico
e
poderoso Rei dom Philipe o Primeiro*('), d-se outro passo
valioso na divulgao de textos histrico-juricos fundamen
tais.
Tambm
agora
se tomam
necessrios alguns
esclarecimen
tos
introdutrios.
Antes de tudo, quanto inobservncia da linha
cronol
gica das
fontes dahistria do
direitoportugus.
sabido que,
para servir de complemento s Ordenaes Manuelinas, se
aprovou,
durante
o
reinado
de D. Sebastio, nos
comeos
de
569, uma colectnea da autoria de Duarte Nunes do
Leo(
2
), que reuniu, sob a forma de resumo ou excerto, leis
extravagantes e assentos da Casa da Suplicao. Porm,
merc
do interesserelativoda
referida
obra e da compilao
filipina,entendeu-seprefervelalterarasequnciada sua reedi
o.
Fica
assim encerrado o trpticode Ordenaes que defi
niu,
sem mudanas radicais, o quadro do sistema jurdico
nacional, desde asegundametade de quatrocentos at s codi
ficaes
modernas oitocentistas. No Brasil, essa substituio
completaapenas
se
operaria
com o Cdigo Civil de
96.
Faamosuma breve
resenha
sobreas OrdenaesFilipi
nas^). Destina-se,
essencialmente,
aos
leitores
menos ligados
histria dodireitoportugus.
( ' )
o titulo da edio princeps, de 1603. No original, o
c da palavra Ordenaes apresenta-se sem cedilha, assim
como o til est colocado entre o e e o s.
(
J
)
O nome deste jurisconsulto aparece tambm com as
variantes Duarte Nunes (ou Nunez) do (ou de) Lio (ou Liam).
(
3
)
Ver a nossa exposio sobre asOrdenaes, no
Dicion
rio deHistria dePortugal, dirigido por Joel Serro, vol. III, Lis
boa, 1968, pgs. 205 e segs., e em
Temas de
Histria
do Direito,
i g i t i z e d
y
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6
Coimbra, 1970, pgs. 61 e segs. separata do vol. X L I V do
Bole
tim da Faculdade de Direitoda Universidade de Coimbra),e, poste
riormente, Nuno
J .
Espinosa
Gomes
da Silva, Sobre
os compilado
res
das
Ordenaes Filipinas,
Lisboa, 1977 separata do n. 264 do
Boletim
do
Ministrio
da Justia).
i g i t i z e d y
oogle
A necessidade de reformadas Ordenaes Manuelinas
vinha sendo cada vez maisimperiosa. Elas no realizaram a
transformao jurdicaque o seu temporeclamava; e essa defi
cincia congnita
viu-se
agravada
peladinmicalegislativa, que
a evoluo das ideias e dascircunstnciasacelerou.
Chegaram-
se a organizar duas colectneas particulares de leis extrava
gantes posteriores a 1569. Portanto, a elaborao de novas
Ordenaes constituiu um facto natural de FilipeI, em cujo
reinado,alis, se tomaram outras providncias relevantes na
esferadodireitoe da sua
realizao. Recordemos
asubstituio
da Casa do Cvel, quefuncionavana cidade de Lisboa, pela
Relao do Porto, a que o mesmo monarca
concedeu regi
mento, e a entrada em vigor de uma lei de
reformao
da
justia.
Tem-se mencionadoum possvelaproveitamentopohico
da urgnciade
coordenao
e modernizao do corpo legisla
tivo.O
ensejo
permitiria a FilipeI
demonstrar
pleno respeito
pelasinstituies
portuguesas
eempenhoemactualiz-las
den
tro datradiojurdicado Pas.
De qualquermodo, ostrabalhos preparatrios da compi
lao filipina foram iniciados,segundo parece, entre 1583 e
1585. Tambm existem dvidas sobreosjuristas
intervenien
tes. Apontam-se comocertosJorge de Cabedo, Afonso Vaz
Tenreiro e Duarte Nunes do Leo. Talvez, no entanto,
outros tenham
colaborado.
As novas Ordenaes
estavam
concludas em 1595,
recebendoaprovao por Lei de 5 deJunho desse ano, mas
qu enochegoua produzir
efeito.
S no reinado de
Filipe
II,
atravsde Lei de 11 deJaneiro de 1603, iniciaram a sua
vigncia a mais duradoura que um monumento legislativo
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7
i g i t i z e d y
conseguiu
em Portugal.Declararam-serevogadas
todas
as leis
n oincludas na compilao, apenascom
ressalva
das transcri
tas emlivro conservado na Casa da
Suplicao,
das Ordena
es
da Fazenda e dos Artigos das Sisas. Porm, muitos
outros preceitos continuaram a receberaplicao prtica.
Conserva-senas OrdenaesFilipinaso sistema
tradi
cionalde
cinco
livros, subdivididos em
ttulos
epargrafos.A
distribuio bsica das matrias tambm no difere. E, pelo
qu e
toca ao contedo, patente que se
trata,
via de
regra,
de
um apura
reviso actualizadora
das Ordenaes Manuelinas.
A existncia de algumas normas de inspirao castelhana,
designadamente
derivadas
das Leis de
Toro, n o
retirao
tpico
carcterportugusdas Ordenaes Filipinas.
Apenas se
procedeu,
afinal,
reunio,
num
nico
corpo
legislativo, dos dispositivos manuelinose dos muitos subse
quentesqu ese mantinham emvigor. Squ eo trabalho nofoi
realizado mediante uma reformulao adequada das normas,
masaditandosimplesmente o novo ao antigo. Da,
subsistirem
preceitos revogados ou cados em desuso,
verificarem-se
fre
quentes
faltas
de clareza e, at,
contradies
resultantes da
incluso
de disposies
opostas
a outras que no se
eliminaram.
A ausnciade originalidade e os restantes defeitos men
cionados
receberam,
pelos fins dosculo
xviii,
adesignao de
filipismos
(*). E o termo
ficou.
Essas
imperfeies
encon
tram difcilexplicaoforada perspectiva de um respeito pro
positado
pelo texto manuelino.No seestaria em poca mar
canteda nossacultura jurdica. Contudo,
bastar recordar
os
juristas que,seguramente,
participaram
nos trabalhos prepara
trios para
reconhecermos
a sua capacidade de realizao de
obra
isenta,
quando
menos,
de
algunsdosgraves inconvenien
tes
assinalados.
(* )
Deve-se
a Jos Virissimo Alvares da Silva, Introduc-
o aoNovoCdigo, ou Dissertao Critica sobre a prinpal causa da
obscuridade do nosso Cdigo Authentico, Lisboa, 1780, pg. 6.
E n c o n t r a - s e nesta obra uma aguda crtica compilao filipina.
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8
(
5
) Ver. G. B r a g a da Cruz, O direito
subsidirio
na histria
do
direito
portugus, Coimbra, 1975, pgs. 251 e
segs.
separata do
tomo XIV da
Revista
Portuguesa deHistria).
(
6
)
No rostodessa edio figura a grafia Crasbeeck.
i g i t i z e d
y
Merece
destaque um aspectorelativoao
direito
subsidi
rio.
Nenhuma
modificao intrnseca
se produziu nos
critrios
depreenchimento
das lacunas da leiconsagrados pelas Orde
naes
Manuelinas. Em
todo
o caso, a matria que,
tanto
nestas como nas Ordenaes Afonsinas, se
encontrava regu
lada no
livro
II, passou
agora
ao
livro
III
(ttulo LXIV).
Isso
significa que deixou de serdisciplinadaa
propsito
das relaes
da
Igreja
com o Estado,
deslocando-se
parao
mbito
do
direito
processual.
Braga
da Cruz, argutamente, salientou que essa
transposio representa a ruptura da ltima amarra que
ligava
a questo do
direito
subsidirio ideia de umconflito de
jurisdies entre o poder temporal e o poder eclesistico.
Tomou-se,
em suma, um caracterstico problema jurdico,
independente
de qualquer conflito de
jurisdies.
Mudana
dengulonofortuita,
porquanto seinserianamentalidadeda
poca(
s
).
Sobreviveram as Ordenaes Filipinas Revoluo de
1640.
D.
Joo
IV, nesse prprio ano, sancionou
generica
mente
toda
a
legislao
promulgada durante o governo caste
lhano.
Em Lei de 29
deJaneiro
de 1643procederia expressa
confirmao
e revalidao das Ordenaes. O
monarca,
po
rm, manifestou
o desgnio,
nuncaconcretizado,
dedeterminar
a
sua
reforma,
como era
vontade
das Cortes.
As Ordenaes Filipinas
tiveram mltiplas
edies, o
que
no admira pela longa
vigncia,
j
salientada,
que
conhe
ceram
em Portugal e no Brasil. O autor da
Prefao,
includa no prtico do
livro
I, recorda que o exclusivo da
impresso das Ordenaes
comeou
por
pertencer
ao Mosteiro
de
S. Vicente de
Fora,
dos Cnegos Regrantes de Santo
Agostinho. A primeira edio das Ordenaes Filipinas saiu
daoficinade Pedro
Craesbeeck
6
), em Lisboa, com a
data
de
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9
1603. Houve ainda outras, antes de seconcedero mencionado
privilgio Universidade de Coimbra, no Alvar de 16 de
Dezembro
de 773. A ltima destas, a chamada Edio
Vicentina, por antonomsia, do tempo de D. Joo V e
distingue-a uma apresentao mais aparatosa.Seguiram-se
diversas ediesconimbricenses, de 1789 a 1865.
Chega-se
alturadejustificar o critrio que presidiu
escolha
do texto
para
fac-smile da
presente
reedio. Quanto
s Ordenaes Afonsinas e s Ordenaes Manuelinas,
utilizaram-se as edies da Imprensa da Universidade de
Coimbra.
Ora, as
O rdenaesFilipinas
reproduzem a que se
deu
estampa no Brasil, em 1870, por
iniciativa
de Cariado
Mendes de AlmeidaC . Este eminentejurisconsulto
informa
ter consultado todas asedies anteriores, fixando o texto de
acordocom a primeira, de 1603, e a
nona,
de 1824. No
conjunto,trata-se da dcima quarta tiragem das Ordenaes
Filipinas,mas foi aprimeiraimpressa no Brasil,
numa
data
em quese
encontravam,
entrens, detodo revogadas.
Razes pertinentes
aconselharam
a opo. Desde logo,
estava assegurada a
fidedignidade
do texto, com o mrito de
resultar doconfronto deedies.Soinmeras as
notas
filol
gicas,
histricas
eexegticas.Procura-se descreverasorigens e
aevoluo das instituies. A propsito dos versos preceitos,
apontam-se as
suas
fontes. No faltam referncias aos plo-
mos, portuguesese brasileiros, que at ento os modificaram
ou
revogaram,
ao lado de
remisses precisas
de doutrina e de
jurisprudncia.Em
aditamento,transcreve-se
a legislao res
peitante aos
temas disciplinados nosvrios livros.
( ' ) Importa no confundir tal edio com uma
o u t r a ,
da
au t o r i a de Fernando H. Mendes de Almeida, OrdenaesFilipinas
Ordenaes e leis do Reino de
Portugal
Recopiladaspor
mandato
d'el
Rei D. Filipe, o Primeiro, So Paulo, vols. I
( 195 7) ,
II
( 1 9 6 0 )
e III
( 196 6 ) . Este trabalho, como se verifica, posterior promulgao
do Cdigo Civil brasileiro, foi elaborado numa pura perspectiva
histrico-jurdica, contendo tambm notas e remisses valiosas.
Mas s abrange os trs primeiros livros da compilao filipina.
i g i t i z e d b y
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10
(* )
Cndido
Mendes
de Almeida nasceu no Maranho, a
16 de Outubro de 1818, e faleceu no Rio de Janeiro, a 1 de
Maro de 1881.
Diplomado
pela Faculdade de Direito de
Olinda, desempenhou algunscargospblicos antes de se dedicar
advocacia. Tinha uma vasta cultura, para alm da sua especia-
i g i t i z e d yGoogle
Os materiais utilizados e citados so extensos:
Eles
comprovam o cuidado investido nas anotaes compilao
filipina.Patenteia-se ampla recolhade textos
legislativos,
de
correspondentesextractos,ndices cronolgicosou alfabticos ou
deconsagrados repertrios, de
colectneas
de jurisprudncia e
de dicionrios jurdicos. Regista-se bibliografia de autores
estrangeiros, mas digna de particular
relevo
a
ateno
pres
tada aosreincolas, desdeosculoxvi Mencionam-se,
inclu
sive,
publicaes
peridicasespecializadas.
Tais
elementos,de to
diversa
natureza, acham-se nor
malmente acompanhados
de observaes em que Cndido
Mendes
revela o seu estudo meticuloso e sagaz. Levou cinco
anos
a
coordenar
os
materiais reunidos
para esta edio,que
recebeu
o
ttulo
de
.Cdigo
Philippino ouOrdenaese Leis
do Reino de Portugal recopiladas por mandado D'El-Rey D.
Philippe /.
A obra visou, sobretudo, finalidades prticas.Na ver
dade,
se, em 1850, oBrasilteve um Cdigo
Penalquesubsti
tuiu o obsoleto livro V das Ordenaes,a promessa paralela
da rpida elaborao de um Cdigo Civil, avanada pelo
legis
lador constituinte,protelou-se
at 1916.
Entretanto,
vigoravam
os preceitos filipinos, com alteraes profundas devidas a
numerosos diplomas avulsos, mais ou menos dispersos.
Tomara-seembaraoso e
inseguro
o conhecimento exacto do
direito vigente. Impunha-se, pois, a sua
coordenao
com
petente.
Cndido Mendes de Almeidaconseguiu realiz-la.E s
isso
bastaria
para que se reunisse a distintos jurisconsultos
brasileiros que,pelos fins dosculo
passado
e incios do
actual,
formaram
uma pliade assinalada^). Os seus comentrios
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muito
influenciaram,
sem dvida, a
vida
jurdica,
tanto
no
plano doensinoe da doutrina, como no daactividade
forense
e
judicial.
Dobrados cento e quinze anos, as opinies histrico-
-jurdicas de Cndido
Mendes
vem-seamidesuperadas.A
exposio preambularque desenvolvesobrea
evoluo
das
fon
tes dodireitoportugusreflecteocunhometodolgico da poca
e no resiste crtica moderna.Todavia, a deficincia apon
tada no peminimamenteem causa as vantagens que esta
edio
das Ordenaes Filipinas leva a qualquer outra.
Acompanha-a,alis, comoapndice,umAuxiliar
Jurdico,
datado de 1869 ('). Tambm
nele
se
renem
valiosos
apoios
da investigao histrico-jurdica. Muito esforode pesquisa e
de
consulta
poupado aos
estudiosos
destes domnios.
A tudo
acresce
a
raridade
daobrano nosso pas. E, alm
disso, a presenteediopode assumir o
significado
de uma
homenagems
letras
jurdicas brasileiras, que notavelmente
lizao jurdica. Foi diversas vezes deputado, desde 1843, pas
sando a senador em 1871. Consultar Augusto V.
Alves S a c r a
mento Blake,
Diccionario Bibliographico Brazileiro,
vol. II, Rio de
J a n e i r o ,
1893, pgs. 35 e segs., Antnio Carlos Villaa, O
Sena
dor Candido Mendes,Rio de janeiro, 1981, e vrios autores reuni
dos na colectnea organizada por Aurlio Wander Bastos, Sena
dor Canado
Mendes
Homenagem
do Senado e da
Inteligncia
Brasileira,
Rio de
J a n e i r o ,
1981.
( ' )
A obra reproduzida em fac-smile consta, tal como se
editou, dedois grossos volumes (in 4.). Um deles inclui o texto
das Ordenaes Filipinas, abrangendo 1487 pgs., alm de 78
pgs., com a introduo e as indicaes legislativas e bibliogr
ficas do editor, e de mais 24 pgs. de suplemento a essas refe
rncias. O outro, que corresponde ao Auxiliar
Jurdico,
tem 835
pgs., antecedidas de 14 pgs. preliminares. Por motivos de
comodidade de consulta, no
r a r o
encontrarem-se exemplares
em que os encadernadores subdividiram aquele primeiro
volume. O mesmo se fez na presente reedio. A fim de assegu
ra r unidade coleco, procedeu-se montagem das Ordena
es Filipinas em trs volumes e do
AuxiliarJurdico
em dois.
i g i t i z e d b y
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12
MARIO JLIO DE ALMEIDA COSTA
Professor Catedrtico da Faculdade de
Direito
de Coimbra
e da Universidade Catlica Portuguesa
i g i t i z e d y
conciliaram
aspectos
essenciais
ia
tradio
europeiae portu
guesa
com as exignciasdos tempos modernos.Eis o pensa
mento
que surge
no termodestaapresentao sucinta.
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DIGO PHILIPPIISTO
ou
i g i t i z e d b y oogle
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oo
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D I G O P H I L I P P I N O
o u
O R D E N A E S
E
L E I S
DO
R E I N O DE P O R T U G A L
RECOPILADAS POR MANDADO
D E L - R E Y
D. P H I L I P P E I.
SEGUNDO A PRIMEIRA DE 1603, E ABONA DE
COIMBRA
DE UM.
A D D I C I O N A D A
CON
D IV E R S A S M O T A S M 1 L O L 0 0 1 C A S , H I S T R I C A S
L
E I I G E T I C A S ,
IM OUI SI
IND1 C O
AS
B I F F E R K K A S E N T R E A Q U E L L A S E D I ES
I A
V I C E N T I N A
DE
1747,
A
O R 1 0 E M , D E S E N V O L V I M E N TO
I
E X T I N C O
S I
C A D A
I N S T I T U I O , S O B R E T U D O
AS
D I S P O S I S l S
IOJI IM
D I S U S O
I
R K V O O A D A S ; A C O M P A N H A N D O
C A D A
P A R A G R A P U O
SUA
F O N T E , C O N F O R M I
OS
T R A B A L H O S
DI M O N S I N H O R J O t O U I M I O I E
D E C I M A Q U A R T A
E D I O .
F E R R E I R A U O M O
I DOS
D E S E M B A R G A D O R E S G A B R I E L P E R I I R A
DE
C A S T R O
K J O l O
F L b R O R I B E I R O ' ,
K I M
A D D 1 T A M E H T O
A C A D A
L I V R O
A
R E S P E C T I V A L E O I S I A C A O B B A Z I L I I I A
C O N C E R N E H T E
AS
M A T E R I A S C O D I F I C A D A S E M
C A D A UM,
S U I D O
Dt
O U O T I D I A N A C O N S U L T A ,
A L E M
DA
B I B L I O O R A P I I A D O S J U R I S C O N S U L T O S
OUE TI M
I S C R I P T O S O B R E
AS
M E S M A S O R D E N A E S D E S D E 1603
AT I
O f R I I A R T E .
POR
C A N D I D O
M E N D E S D E A L M E I D A
A D V O GA D O N I S T A C O R T E .
R I O D E J A N E I R O
TYPOGRAPHIA DO INSTITUTO PHILOMATHICO
68 RUA SETE DE SETEMBRO 68
4 8 T O
i g i t i z e d b y
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AO LEITOR
R M nmtm .
0 nosso Legislador constituinte fez ao Paiz no art. 17 9 18 da Consti
tuio a solemne promessa de, quanto antes, dota-lo comdous Cdigos,
um Criminal, e outro Civil, fundados nas solidas bases da justia e equ i
dade.
A primeira parte desta obrigao foi logo satisfeita com a Lei de 16 de
Dezembro de 1830 , que decretou o Cdigo Criminal vigente, o trabalho
mais importante da primeira Legislatura.
No obstante, no deixa de ser deficieutissimo, e exhibe em si a prova
de que foi elaborado com pressa, e sem a madureza que taes commetti-
mentos demando; maxime depois dos abalos por que o Paiz acabava de
atravessar.
Havia em verdade justificado motivo no aodamento do Legislador. Vi
gorava ainda o Cdigo Penal do antigo regimen, a Ord. do liv. 5, cuja
penalidade, sobre modo spera e anachronica, dava largas ensanchas ao ar
btrio de Juiz; mas que ainda seria supportavel, se no fosse acompanhada
do respectivo processo, inquisitorial , vexatrio, e avesso s doutrinas que
a Constituio inaugurava.
Aps vinte annos da promulgao deste Cdigo decretou a Lei n. 556
de 25 de Ju nho de 1850 outro, referente s matrias de commercio.
J era tempo para o estudo e organisao do Cdigo Civil, que 0 Legis
lador constituinte promettra organisar quanto antes. A nova Sociedade
educada nas doutrinas da Constituio reclamava-o com anciosa solicitude,
despeito das difculdades vencer em obra de tanto vul to.
No somos dos que acredilo que um Cdigo signifique o effeilo da
decadncia das luzes e da sciencia do Direito, como j o disse algu m,
respeito dos de Roma.
Pensamos com outros que a palavra Cdigo implica uma ida de
adiantamento, de progresso nos Povos; acred itamos que he a ordem que
succede confuso, a civilisao ba rbaria.
Acreditamos lambem, que um Cdigo, em qualquer ramo de Legislao,
importa a fixao de uma epocha, em que se mostra a alte rao que tem
havido nas idas, nos costumes e no modo de viver de qualquer Nao, de
que a lei codificada he a melhor e a mais assignalada expresso.
No desconhecemos as difculdades de um Cdigo Civil, especialmente
na presente epocha; difculdades que no reputamos insuperveis. Mas
tambm entendemos que a obra que merecer o cunho legal, deve revestir-
se no s de sabedoria, mas de convenincia, opportunidade e madureza.
E , para conseguirmos tal desideratum, he desculpvel a demora que t iver
por fundamento o esforo de acer tar e de aperfeioar.
i g i t i z e d
b y
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16/73
T l
J ao sentido de dotar o Paiz de um Cdigo Civil assignalou-se um
dos nossos mais distinctos Mestres do nosso Direito, que occupou a pasta da
Justia, provocando com o Dec. n.
2318^ de
22 de Dezembro de 1858 o
estudo e organisao de um tal t rabalho, que soube confiar a uma das
eminncias da Jurisprudncia Patria.
O projecto, por ella el aborado , j foi sujeito ao exame de uma douta
Commisso, cujos estudos foro interrompidos por causas que o publico
conhece.
He de presumir que o Governo, tanto como a Nao, empe
nhadoem levar ao fim to elevado commettimento faarecomea-los.
O que nos legou o antigo regimen com este nome no passa em geral
das Ords. dos livs.3 e 4* com o subsidio do Direito Romano, e as Leis o
actos
do Governo que se foro segu indo reclamo das circumstancias no
espao
de 267 annos, atravez de revolues politicas esociaes, que em
to largoprazo tem succedido.
Compulsar uma tal Legislao, que deve se r por todos conhecida, he
de colossal difliculdade ainda para os que se dedico o seu estudo. He
indispensvel muita tenacidade, e hercleo alento para conseg ui-lo. Um
Governo desvelado e patritico, frente da Sociedade que dirige, deve es
forar-se
por minorar, seno extinguir este mal.
Diz-se
de Calgula, um dos tyrannos mais insensatos c engenhosos da
antiga Roma, quepara evitar que os Cidados conhecessem as Leis, orde
nava que as respectivas taboas fossem
penduradas
no ponto o mais al to.
Leisconfusas e numerosas por colleccionar, ou imprimir, e ainda em
Colleces
difficeis de possuir e de consultar, satisfazem com mais efficacia
o ideal daquelle monstro.
Portanto, no estado cm que presentemente se acha nossa Leg islao
Civil,
atlentos os embaraos com que se luta para se levar bom termo,
e em tempo curto o Cdigo que d esejamos ; pareceu-nos que, como
remdio provisrio, no seria mal recebida pelos cultores d e . nossa
Jurisprudncia uma edio das nossas Ordenaes, isenta de erros, e acom
panhada
em resumo e integ ra/mente da Legislao subsequente que alte
rou, declarou ou alargou o circulo das suas disposies.
Consultamos com esse propsito todas as edies das Ordenaes desde
a
primeira de 1603 at a ultima de 1865, demorando-nos no estudo das
principaes a
Vicentina
de 17 47 , e a de Coimbra de 1824, organisada pelo
D r. Jos Corra de Azevedo Morato, Lente substituto de
Leis
da mesma
Universidade, o mais distinclo revisor daquel le Cdigo. Na compilao da
Legislao extravagante recorremos as melhores Colleces, ainda que
despendemos algum tempo com as outras,
tendo
s por alvoacertar.
Para tornar menos afanoso o labor da consul ta e exame do respectivo
texto,
fizemos o empenho que nossas foras permitlio,
tendo
sempre em
mira a juventude que cursa nas Faculdades de Direito, e que alis dispe
era seu-tirocnio de to limitado tempo.
Assim, alem das fontes prximas que se encontrar no fim de cada
paragrapho, acharo os estudiosos, nos lugares competentes, notas phi-
lologicas, histricas e exegeticas; e, como commentario, por extenso ou
em resumo, o que expendero os nossos Ju ris tas discursando sobre cada
um, segundo o que nos pareceu mais adaptado, e conveniente intelli-
gencia daquelles paraquem nos disposemos trabalhar . Nessas notas se
se acho concisa mas claramente enunciadas todas as obras, com indicao
do tomo e pagina, dos Jurisconsultos antigos ou modernos que com o as
sumpto mais ou menos se occuparo.
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17/73
VII
E is a razo desla publicao; e parece que s por si nos justificar aos
olhos dos Juizes mais competentes e severos.
M as dir-se-ha, se o Direito Civil das Ordenaes est encerrado nos
livros 3* e 4% e em alguns titulos dos livros
K
e 2' , que utilidade haver
na publicao de disposies revogadas, e em desuso ?
A esta
objeco
respondemos, que uma obra truncada perde grande
parte do seu merecimento ; acerescendo que as
Leis
obsoletas, em desuso,
ou revogadas conservo ainda o valor histrico, servindo muitas vezes
o seu conhecimento para a intel ligencia ainda das Leisque se acho em
vigor, contendo algumas mui s doutrina,e excellentes princpios de Direito,
teis de saber.
No he portanto um estudo de simples erudio e de ornato, tem sua
importncia como o do Direito Romano, e das
Leis
estranhas ao nosso Pa7,
sobre tudo em relao ao mesmo Cdigo Philippino to difflcil de rompre-
henso em muitos dos seus paragraphos.
I I .
- H i s t o r i e d a L e g i s l a o P o r t u g - u e z a , e d e s e u s C d i g o s a t
a
p o e n a d a I n d e p e n d n c i a . O D i r e i t o R o m a n o .
O Direito Civil Porlugu ez encerrado nas Ordenaes Philippinas contem
dous elementos, a Legislao
nacional,
frueto das idas, opinies, c cos
tumes da populao em dTerentes epochas; e a
Romana,
considerada
Direito Commum, tanto a que foi incorporada, como a que o Legislador
considerou subsidiaria.
No ser indifferenle ao estudo do Direito Ptrio dar neste lugar, ainda
que perfunctoriamenle, uma ida da historia dessa Legislao que tanla
influencia
exerco, e ainda exe rce na dos Povos civilisados, afim de po
dermos apreciar o modo, e a epocha em que veio influir e dominar no
nosso Direito.
Parece-nos
entretanto escusado remonlarmo-nos, para apanhar o Tio
dessa historia, aos primeiros sculos do Poder Romano, tempos quasi
que inteiramente desconhecidos, ou sob a influencia da lege nda; de R
mulo, fundao do regimen Consular : ainda que a historia, sob a f do
JurisconsultoPomponio, aponte uma Compilao feita na epocha de Tar-
uinio o Soberbo, pelo Pontfice mximo
Sexto
Papirio, denominado Jus
ive Papirianum, commentado na epocha de Cicero pelo Jurisconsulto
Granio Flvio.
Tomamos o nosso ponto de partida do Cdigo chamado Leis das Doze
Taboas,
uma das conquistas do Povo Romano sobre o Patriciado depois
da expulso dos
Reys,
no anno 300 da fundao de Roma.
Sabe-se pela historia, ainda que hoje contestada pela critica moderna,
que trez Patricios foro mandados Grcia para compilarem a respectiva
Legislao,
afim de se fazer a applicao em Roma. Esses enviados trouxe-
ro uma cpia das
Leis
Atticas, e Hermdoro, desterrado de Epheso, para
explica-las; por cujo servio uma estatu a lhe foi erigida na cidade eterna.
Deste exemplo se v que a codificao de uma Legislao no he,
como
pretende certa esela, o effeito da decadncia das luzes, e da scien-
c ia do Direito em uma Nao.
A codificao da Legislao de qualquer Estado, como j notamos, re -
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V IH
presenta de ordinario uma pocba, em que se tem realizado uma revo
luo
nos costumes e ideas de um Povo.
O primeiro Cdigo de que os. tempos histricos do noticia he o que
Moyssescrevo no
Sinai,
os dez
Natidamentos
da Lei de
Dos,
dados
no
momento em que a tribu de Israel ia constituir um povo ; e ningum ou
sar dizer que a codificao de uma tal Legislao significasse a decaden
c ia das luzes e da sciencia do Direito.
A s
Leis
de Minos, de Lycurg o e de Soln, que ero codificaes das
Leis
dos Povos da raa Hellenica no constituio uma pocha de decadencia
dessa raa, depois to illustre na historia da humanidade.
Depois
que Roma fez a conquista de grande parle da It alia, consolidou-a,
e poz-se a frente dos povos Latinos e Etruscos, a pocha azada para
assimilar estas populaes sob o seu regimen foi quando mandou com
pilar no estrangeiro as Leis chamadas das Doze Taboas, que impoz a essas
populaes de origem e costumes differentes.
F o i esta uma pocha no de decadencia, mas de progresso, de conso
lidao de seu dominio.
Augmentando este dominio com acquisio de territorios fra e
dentro da Italia, o Cdigo dasDoze Taboas lornou-se insufficienle ; e em
quanto durou o trabalho da conquista do Mundo Romano no tempo da Re-
publica, e nos primeiros sculos do Imperio, difficil seno impossvel era
uma codificao da Legislao, no obstante o largo estadio decorrido.
Esse trabalho appareco logo que a paixo das conquistas cessou, e
tratou-se de organisar e conservar o territorio conquistado, sujeitando-o
uma s Legislao, e com uma lngua official, a Latina.
F o i o Imperador Adriano quem comprehendo essa necessidade, tra
ando os limites do Imperio, que elle julgou definitivos.
Promulgou-se nessa pocha, pode-se dizer, o segundo Cdigo Romano o
Edicto Perpetuo, obra do JurisconsultoSalvia Juliano.
Comearoa ter valor asLeis ou decises do Prncipe (Constitutiones
Principum) sem a dependencia da approvao do Senado ou do Povo ; c
como consequncia desta revoluo em
Legislao,
o titulo, o privilegio de
Cidado Romano foi conferido todos os habitantes do Imperio.
He mesmo nessa pocha que comea.e termina embreve a idade de ouro
chamada da Jurisprudencia Romana, em que florescero os Julianos, Pom-
ponios, Caios ou Gaios, Papinianos, Ulpianos, Paulos, e Modestinos.
Quasi todos escrevero obras de Jurisprudencia em rel ao ao famoso o
Edicto perpetuo,
sobre
tudo
Ulpiano.
Desde que se passa o reinado de Alexandre Severo at Constantino,
em que comea a decadencia do Imperio, e mesmo at Justiniano no sexto
sculo,
quando
j grande parte do Occidente da Europa era preza dos
povos Germnicos, Godos, Borgu inhes, e Francos, soffro a Leg islao
muitas alteraes.
Esse
estado de couzas impunha a necessidade de uma codificao na
Legislao, por isso se tinha feito importante revoluo nas idas, nos
costumes e nas circumstancias do Paiz.
Assim
quando Diocleciano dividi o Imperio era quatro grandes par-
cellas,
regidas por dous Augustos edous Cezares, appareco o Cdigo Gre
goriano,
assim chamado do Jurisconsulto que organisou-o. E ra uma com
pilaodas Constituies ou Leis dos Imperadores desde Adriano at Gal-
lieno ou Diocleciano ; a qual foi ampliada por Hermgenes, ou Hermo-
geniano at a pocha da asceno de Constantino, e pouco depois.
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IX
Esles
dousCdigos, ou antes compilaes no tinho o caracter de
Leis,
mas nem por isso deixaro de ter aulhoridade entre os que estudavo e
praticavo a Jurisprudencia.
A elevao de Constantino forma na historia do Imperio Romano, uma
epocha de summa importancia, pela revoluo radical que houve nosprin
cipiosdo Governo, ou antes na rel igio dos Imperantes, predominando o
Christianismo, anteriormente perseguido, sobre o Paganismo, culto a t
ento dominante e perseguidor.
Estasimples alterao produzio, tanto nos costumes,como na Legislao,
mudanas extraordinarias; mas os effeitos dessa reforma somente se sen
tiro com mais
eflicacia
nos reinados que se seguiro.
Assimno reinado de Theodosio II o Moo tornou-se necessrio codi
ficar-se a Legislao. Estava completa a revoluo inaugurada por Cons
tantino, o Mundo Romano em menos de 120 annos eslava christianisado ;
o
Imperio dividido tendo por capites Roma e Constantinopla; alm de
que os accommeltimentos dos barbaros invasores tanto nas regies do Da
nubio, como na Europa Occidental de que j se havio em grande parte
apossado, alteraro toda a economia do Estado, e o modas
vivendi
das po
pulaes. Era indispensvel no s codificar, mas harmonisar a legis lao,
n'uma situao politica inteiramente nova.
F oi em 429, que por um Edicto solemne dirigido ao Senado de Constan
tinopla, se ordenou essa compilao, aulhentica, das Leis dos Imperadores
desde Constantino at essa pocha, conhecida por Cdigo Theodosiano.
Oito Jurisconsultos dos mais dislinctos , numero que foi depois
elevado dezeseis, cuja frente brilhava Anliochus, personagem consular,
que por suas luzes e experiencia no
exerccio
dos cargos de Queslor e de
Pretor, oceupava em Constantinopla posio mui elevada.
Nesta compilao pz-se de lado as Leis imperiaes anteriores pocha
de Constantino, coleccionadas nos Cdigos e Gregoriano e Hermogenmno,
por isso que o mesma Imperador abrogando as formulas e solemnidades an
tigas dera Jurisprudencia novo aspecto, e inutilizara grande parte das
anteriores instituies.
O Cdigo Theodosiano, posto que comeasse organisar-se em 429,
tevegrande interrupo em consequncia das desordens causadas pela he-
rezia de Nestorio, e os deplorveis acontecimentos do Concilio de Epheso :
mas recomeado o trabalho por influencia da Princeza Pulcheria, irm de
TheodosioII , terminou no espao de trez annos em Fevereiro de 43 8,
quandofoi promulgado para ter fora de Lei, como logo teve, nos dous Im
perios do Oriente e do Occidente.
Neste Cdigo, a que se foro additando Novlas, ou
Leis
extravagantes,
sobresahem no poucos defeitos,como era natural ,sendo feito e co-ordenado
cmespao de tempo to limitado. Notando-se, que a despeito de sua qualifi
caode Cdigo aulhentico com fora de Lei, nem por isso deixaro as deci -
soes
dos Jurisconsultos
(Responsa Prudentum)
de continuar com o valor de
oulr'ora
;0
que no deixou de complicar para diante a Jurisprudencia, visto
como, depois da separao de Roma, ou antes do Imperio do Occidente,
bemdifficil era distinguir quaes ero os principios da Jur isprudencia
cls
sica em vigor, dos que no ero.
No inlervallo que vai do reinado de Theodosio II ao de Justiniano, ou
pocha da publicao do Corpus Jris no anuo de 534, isto he, depois de
decorrido um sculo, mui importantes acontecimentos tinho alterado
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X
a Legislao, tanto no Imprio Romano subsistente, como na parle oceu-
pada
pelos Brbaros vencedores.
Theodorico,
chefe dos Ostrogodos, apossando-se da Itlia promulgou ahi
um Cdigo, que sujeitou tanto a populao Romana conquistada*, como
a Gothica vencedora.
Foi no anno de 500 que se publicou oEdicto de Theodorico, em cujas
disposies abundavo as
Sentenas
de Paulo, considera las o Manual pra
tico daquelles tempos.
Poucos annos depois, em 506, os Visigodos que se havio apossado da
Gallia Narboneza, e da Hespanha, paradireco da populao Romana sob
seu domnio, promulgaro outroCdigo denominado Lex Romana, oconhe
cido na historia por Hreviarinm Alaricinnum, ou Aniani, do nome do refe
rendrio.
O exemplar que chegou nossos dias hc dirigido pelo referendrio
Anianus,ii Timotheo, um dos Condes do Reino.com o decreto do Rey Alari
co
II , ao Conde Palatino Goyarico, que se diz o anlhor da da, em rujo
decreto senarratodo o histrico desse factum.
He
huma
obra mais extensa, e mais importante que o
Edicto
de Theodo
rico, no obstante comprehender sob sua jurisdico to somente a
populao Romana, vencida.
Sob
o dominio dos Borguinhes, a mesma populao lambem alcanou
hum Cdigo chamado Lei Gombelta, do Rey Gondebaud, ou Papiniuni lrs-
ponsa, como o appellida Cujacio na edio que pulilcou em 1586. Ksle
Cdigo inferior ao precedente, hecomludo melhor que oEdicto de Theodo
rico
; mas todos mais ou menos apoiavo-se nos trabalhos dos antigos J u
risconsul tos Romanos, e nos Cdigos Gregoriano e Hermogeniauo, e sobre
tudo no Theodosiano; que he largamente aproveitado com as Xovellas de
Theodosio II, e seus suecessores, at Severo, pelo hreviarium Aniani.
Foi depois da promulgao desles Cdigos na Europa occidenlal, j no
sujeita
ao Poder Romano, que se fez a compilao .lustinianea.
Deve-se ao celebre Jurisconsul to Triboniano, inni valido do Imperador
Justiniano, a ida dessa famosa compilao, que hoje chamamos
Corpus
Jris Civilis.
Nessa epocha nada restava no Oriente dos costumes originrios de
Roma,diz um Jurisconsul to, seno algumas palavras, algumas recordaes,
e muitos vicios- O Grego era a lingua geralmente fallada, o Lalim quasi
inteiramente esquecido no uso vulgar.
A
sciencia do Direito em decadncia, e a abundncia das Leis con
corria
ainda mais para obscurec-las, era um chos.
Para confeccionar essa obra monumental , e que s por si faz a gloria do
reinado de Justiniano, escolheu Triboniano collaboradores eminentes nas
Academias de Constantinopla, e na to cel ebre de
Brvlo,
na Phenicia,
paizque j linha dadoao
mundo
lilpiano.
O Cdigo
[Codex]
foi o trabalho que primeiro encetaro os Compilado
res, cujo systema consislio em colligir todas as
L e i s ,
os decretos e res-
criptos dos Imperadores, christos e pagos.
A disposio das matrias fez-se de conformidade com o Edicto perpetuo
de Adriano.
O Codex, decretado em 528, foi concludo com extrema rapidez, e pro
mulgado no mez de Abril do anno seguinte, 5 2 9 ; sendo ao mesmo tempo
revogados os Cdigos Romanos precedentes.
Seguio-seoDiqsto ou Pandertns, no anno de 533. Denominou-se assim
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esta obra, distribuda em 50 livros e 422 ttulos, por que abraava toda
a Jurisprudncia Romana; eDigestopor que as leis ero ahi classificadas ou
dispostas com melhotlo
Este
predicado com razo lh'o contesta Isamberl na sua
Historia de
Jus
tiniano,
no lhe reconhecendo nem ordem, nem methodo ; dizendo que as
decises ali compiladas, ora isoladas, ora approximadas, formo um chos
de disposies, que ha dez sculos so o tormento dos Jurisconsultos de
todos os paizes.
So
as
Pandectas
vasta compilao de leis anteriores, e decises de Juris
consultos
[Responsa Prudt>ntum),qae
posteriormente fez esquecidas as fontes
da Legislao Romana, laes como as
Leis
das Doze Taboas, o Edicto de
Pretor, e os traballios de Papiniano, Ulpiano, Paulo, e outros.
A obra das Institutos, modelada pelas que escreveu Gaio ou Caio, no
interesse do ensino do Direito, foi confiada Trboniano,Theophilo e Doro-
tbeo.
Elias tornaro-se o compendio do estudo do Direito nas Academias
Romanas, e o foro depois nas Universidades e Escolas de Direito da meia
idade, e ainda nos tempos modernos.
No anno de 534 fez-se liuma nova edio do
Cdigo,
a nica que chegou
at nossos dias ; porquanto Justiniano, tendo at ento promulgado perlo
de duzentas leis, exigio que fossem inscriptas e incorporadas no Cdigo,
nos lugares convenientes.
NoCdigoassim reformado, foro as matrias divididas em doze livros,
e 106 lilu los, comprehendendo as Constituies ou leis de 56 Imperadores,
desde Adriano.
A promulgao deste Cdigo fez-se com a maior solemnidade possvel;
publicando-se em todas as Igrejas do Imprio, e remel teiido-se a cada Ma
gistrado hum exemplar.
As
leis posteriores este acto, promulgadas em todo o lempo que
durouainda o reinado de Justiniano (27 annos), foro collgidas sob o titulo
de Novellas ou Authenticas, em numero de 168, e viero a constituir o
Direito novo (Jus novissimum).
Foi
este o ultimo Cdigo Romano, e de todos o mais importante, e
mais celebrado.
Savigny,
na sua Historia do Direito Romano, na meia idade, emille sobre
o
Corpus
Jris a seguinte opinio que compartilhamos :
Se se comparti com as instituies barbaras as compilaes de Just i
niano, no nos podemos guardar de certo sentimento de admirao; toda
via, consideradas em si mesmas, merecerio ainda nossa estima e nosso
reconhecimento.
Semduvida a fora creadra foi recusada ao sculo de Justiniano ; os
Jurisconsultos que trabalhavosob suas ordens, devero ainda procurar as
fontes em numa litteratura culta, estranha de seu prprio Paiz
[o Oriente).
No meio de tantas circumstancias desfavorveis, sua escolha foi to
feliz e to hbil, que depois de 1300 annos, apezar das lacuna da historia,
suas compilaes represento quasi por si s o espirito do Direito Romano
inteiro, que nenhum sculo livre de preveno poded'ora avante repellir a
influencia deste excel lente e profundo desenvolvimento do Direito.
Dir se-ha que essa escolha fora oeffeilodo acaso, e no do saber e da
intelligencia
? Por nica resposta remello os Contradictores aos Cdigos que
nos deixaro os Gdos e Borguinhes.
No se pode sem contradizer a historia, objectar que o Cdigo
Jusli-
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X I I
nianeo he obra dos Romanos, e que os outros Cdigos so obra dos
Brba
ros ; porquanto no Imprio do Occidente, em Roma, e nas Gallias, as leis
foro compiladas pelos Romanos, e no por Godos ou Borguinhes.
Temos at aqui considerado o Direito de Just iniano em re lao
sciencia,
mas o seu fira era puramente pratico, e he sob este ponto de vista
que se deve consideraras prprias Constituies de Justiniano.
Sem
duvida
o seu mrito he desigu al; mas muitas apresento numa
vista
completa do assumpto, e correspondemjustamente ao seu fim.
Quando ellas parecem revolver e demolir o antigo Direito, muitas vezes
no so seno a expresso racional das mudanas.que por si mesmas se intro
duziro sem a interveno do Legislador. Ainda aqui a comparao he em
proveito de Justiniano. Em verdade suas Leis, maxime as do Cdigo, con
frontadas com os Edictos do Cdigo Theodosiano, e sobre tudo as Novellas
q ue o acompanho, so mui superiores na frma e no fundo.
O plano de Justiniano consistia em encerrar em
duas
obras principaes,
os fragmentos exirahidos dos Jurisconsultos e das Leis.
A primeira, i. e., as Pandectas, devia, como he natural e de razo,
conter as bases do Direito. Desde as
Doze Taboas
era esta a primeira obra
que, s, independente de qualque r ouira, podia servir de centro commuui
ao complexo da Legislao.
Neste sentido, he permittido considerar, depois das Doze Taboas, as
Pandectas como o nico Cdigo verdadeiramente completo, ainda que a
Legislao ahi oceupe menos lug ar que o dogma, e a deciso dos casospar
ticulares.
Em vez das regras insufficientes de Valentiniano III , achamos ali, dis"
postas por ordem de matrias extractos tirados litle ralmente dos escr ipto
s
de huma multido de Jurisconsultos.
O Cdigo foi tambm organisado sob um plano mais vasto que os pre
cedentes (refere-se tanto aos dos Brbaros, como aos dos Romanos).
Justiniano tinha ali reunido os Edictos e os Rescriptos. O seu propsito
estava preenchido com essas
duas
obras; no se deve pois considerar as
Institutos
como huma terceira compilao, independente daquellas
duas
(Digesto e Cdigo); mas como hum livro elementar destinado a lhes servir
de introduco.
Em summa as
Novellas
encerro complementos posteriores, addices
isoladas ; e foro as circumstancias que impediro que no pparecesse no
l im do reinado de Justiniano, uma terceira edio do Cdigo, em que se-
rio por certo incorporadas as Novellas de permanente intere sse.
Destas datas se v que tendo a Lusitnia, como as outras provncias
daHespanha.passado ao domnio dos Brbaros desde o principio do 5 sculo
( 4 0 9 ) , no voltando mais ao Poder Romano, nunca o Cdigo Thsodo-
siano,
nem o
Corpus Jris
tivero fora de Lei ali; nem naquel las po-
chas
podio propagar-se o seu conhecimento e estudo.
Na Lusitnia, os primeiros Brbaros de origem Germnica que ali se
estabelecero por conquista foro os Alanos, que pouco se demo
raro desbaratados por Wallia, Rey dos
Visigodos,
em 418, seguindo-se os
Vndalos que passaro logo para Africa em 429, e depois os Suevos e
Visigodos.
O s
Suevos commandados por Hermanerico, estabel ecero-se ali desde
4 0 9 , e conservaro-se tanto na Lusitnia como na Galliza at 585,quando
os Visigodos, que j se achavo de posse da maior parte da Hespanha os
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XIII
subjugaro no reinado de Leovigildo. Assim se conservou o paiz al
a cpocha da conquista Sarracena em 7 11 .
Portanto o Direito Romano que vigorava na antiga Lusitnia no con
sistia, antes do
Edicto Perpetuo,
seno em differenles privilgios e direitos
concedidos a diversas cidades, provavelmente Colnias Romanas, ou ele
vadas esse gro, e posteriormente o mesmo Edicto, eos Cdigos Grego
riano
e
Hermogeniano.
Pelo que respeita au
IluoiloxUina,
promulgado depois da conquista dos
Suevos, no teve entrada e fora de Lei no paiz, seno depois da con
quista
Yisigolhica
em 58 5, no que se havia codificado e incorporado no
Breoiariwn Aniani, que , como j vimos, somente aproveitava popula
o Romana, ou no Sueva e Visigolhica.
E bem que Jus tiniano no seu reinado rehouvesse pela espada victoriosa
de seus generaes
Belisrio
e Narss.uma boa parle do Imprio do Occidente,
arrancada aos Ostrogodos, Hrulos e Vndalos, a Itlia e Africa, nunca
conseguio a He spanha; e por isso a sua Legislao manteve-se por algum
tempo nesses paizes, e principalmente na Itlia meridional (Duas Sicilias),
que os Normandos por ultimo foro conquistar ; o que em parle expl ica a
legenda da descoberta em Amalli da sua compilao.
E m outro lugar diremos c o m o n
Curpus
Juri* peneirou e influiu no
nosso Direito.
I I I .
L e i a V l s i g o t h l e i M , o U i r e i i o C a n n i c o , e
o
C a t l l g o I M
S*t *
P a r t i d a s .
No domnio Visigolhico na Pennsula Ibrica havioduasnaes, dous
povos.
O s conquisladores que e ro um composto de Alanos, Vndalos,
Sue
vos eVisigodos,e os conquistados em que entravo os indgenas Celliberios,
Canlabrios, Lusitanos, e um mixlo dePhenicios, Carlhaginezes eRomanos;
populao que se repulava
Romana,
porquanto de ha muito vivia e regia-se
pela Legislao desse grande Povo.
A conquista Visigolhica impz a estes um Cdigo que fez organisar, e
que j conhecemos
o B r e v i a r i u m A lar icianum
ou
Aniani;
mas os conquis
tadores regio-se por
Leis
peculiares, ou antes por seus uzos e costumes
a l
o reinado de Chindaswindo em 65 2, que revogando aquelle Cdigo,
fez organisar outro denominado Fuero
Jusgo,
em Lalim Frum Judicum,
a
que sujeitou toda a populao dos seus Estados.
Maistarde seu filho Receswindo completou esse tr abalho , acrescen-
lando-lhe as leis promulgadas ou reformadas por seu antecessor Eurico
a l E'giza, com fragmentos de Le gislao, cuja origem he desconhecida,
exlrahidos provavelmente dos costumes das antigas tribus Germnicas.
O
Fuero Jusgo,
assim reorganisado, foi distribudo em 12 livros e por
ordem de matrias, comprehendendo 54 ttulos e 585 artigos ou paragra-
phos. E para que se propagasse bem o seu conhecimento no se podia
vender exemplar algum por mais de doze soldos, sob pena de cem aoutes,
igualmenle applicados ao comprador, e ao vendedor.
Devia ser importante, nessa epocha, semelhante quantia, hoje corre s
pondente a 100 r s.paraqu e um exemplar desse Cdigo, em copia manus-
crpla,
pois no havia ainda Imprensa, podesse ser assim laxado.
O
Fuero
Jusgo dominou na Hespanha christ por muitos sculos, pouco
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xiv
importando para o nosso caso a Legislao Musulinana, nunca acceita e
sempre repel lida pela populao ad versa; at a reforma da Legislao
no reinado de Fernando III, o Santo, em 1250, um dos Prncipes mais
eminentes que teve aque lle Paiz, por suas virtudes privadas, politicas e
guerreiras.
M as essa reforma, que produsio o Cdigo chamado das Siete Partidas,
real isou-se no reinado seguinte de seu filho Affonso X, cognominado o
Sabio, em 126 0.
Segundo um escriptor, o Fwro Jusgo bem que abolisse expressamente
o Direito Homano, assim como os antigos foros ou costumes, o complexo
de suas disposies revela uma mo Romana.
Mo pouca* Nozesos artigos so calcados sobre Edictos Imperiaes, e
em vez de distinguir os povos segundo a sua origem, suas disposies
applico-se totalidade do territrio.
O s
territrios Portuguezes.dependentes do Reino de Leo,logo que foro
tomados aos Mouros, e recebio a populao enrista, ficavo naluralmente.e
pelos antigos hbitos, sujeitos estaLegislao, inaxime ao Fnero de Leon,
mandado
observar em Portugal pelo Concilio de Coyana, e alguns privi
lgios [fordes), que, por circumslancias especiaes, oblinho algumas po
voaes importantes.
Referindo-se ao
Fuero Jusgo,
diz Caetano do Amaral na sua Memoria
sobre a Historia da Legislao, ecostumes de Portugal o segu inte:
E ste Cdigo, que bem podemos chamar Romano-Gothico que
primeira vista se nos affigura Romano j na lngua em que est escr iplo,
e na sua mais geral diviso, j na sua mesma natureza do Cdigo Univer
sa l
do Imprio ao avesso do uso dos Brbaros, e em infinitas das suas
disposies *mas que ao mesmo tempo na ndole da Legislao, e no
gosto da escriplura bem deixa transluzir a barbaria do tempo e dos
aulhores que o formaro.
Este Cdigo de cujas ordenaes se aproveitaro ainda outras gent es ;
que srvio de base aos Cdigos Hespanhes, de algum dos quaes em razo
da visinhana assas depois participamos prefere-se ao das
Sete Partidas);
e que sobre tudo deixou muitas razes da Legislao no terreno de Por
tugal , que em tantos lugares vege tou ; deve ser um digno objecto da
nossa considerao.
E em nota referindo as confirmaes que teve esta Legislao em diffe-
renles reinados, depois de Pelayo, acerescenta :
Garibay no liv. 11 cap. 22 do seu Compend io Histrico refere que
El-Rey D. Affonso VI, filho de D. Fernando, o Magno, primeiro Rey de
Castells,
quandoganhou Toledo, entre os muitos privilgios, que deu
esta Cidade, o primeiro, e principal foi, que os seus pleitos fossem
jul
gados pelas leis deste Livro.
Quanto os Reys de Arago as observaro tambm e addiccionaro,
se pde ver em Pedro Pilhou na Epistola dedicatria do Cdigo das
Leis Visigolhicas.
Depois de Villadiego, nas Advertncias previas ao
Faero
Jusgo,
fazer
meno de algumas das referidas confirmaes das Leis Golhicas pelos
diversos Reys das Hespanhas, acerescenta :
Y asi aun que en general se mandaron guardar estas Leyes en Espana
por los Reyes restauradore s del ia en diversos tiempos : con todo eso en
particu lar cada Provncia Ciudad asi como yba restaurando do poder
de Mros, acostumbrava pedir, y procuraba g anar, por particu lar privile-
i g i t i z e db y
7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)
25/73
X V
gi o ymandado differentcs (ianquezas, y libertades
(a que llamavan Fueros),
y estos tenian por Leyes, confirmadas por tos Reyes, de quien recehian la
raerced, co n que se governaban.
Cousa se melhante se pode dizer de Portugal (como seu tempo mos
traremos), mas com a differena, que em Portugal, depois de estabelecida
a Monarchia, comearo a derogar aos Foraes particulares com
Leis
geraes,
e no foro buscar para fundamento destas o Cdigo das
Leis
Visigolhicas
(como succedo
na
Hespanha).
A par do Fuero Jusgo, e do Direito consuetudinrio, exis tia o Direito Ca
nnico,
que se infiltrava, e juxlapunha a Legislao Civil, em vista da orga-
nisao pecul iar dos Estados organisados depois da dissoluo do Im
prio Romano. E nisto havia jus to fundamento; por que o elemento Ec-
clesiastico, predominante por suas luzes, no se podia inspirar seno
daquel le Direito, na direco que fora obrigado dar uma sociedade to
rudimental , como era a da Europa no comeo da meia idade. .
Desta
sorte, como se achavo no Estado entrelaados e unidos o Civil e o
Ecclesiastico,
as decises dos Conclios Provinciaes H espanhes, maxime
os de Toledo, ero observadas como se fossem promulgadas pelos
dous
Pod er es : nenhuma separao definida havia, seno a que resultava das
funces peculiares que exercio o Clero, e o Rey.
No Estado Visigolhico tornou-se isto mui saliente por impulso dos
prprios Reys, no interesse de se conservarem por largo tempo e paci
ficamente no throno. Dahi a grande importncia desses Conclios to cele
brados na meia idade ; como bem o faz comprehende r um escriplor, que
pela sua linguagem he insuspeito ao Poder Civil, e cujas palavras aqui re
produzimos :
Viro pois os Reys Godos que nada era mais capaz de segurar os
seus interesses, que asdecises dos Conclios : que estes devio logo ser
as suas Cortes, ou Estados Gera es: assim tem o maior cuidado em os con
vocar j de toda a Nao, j de alguma Provncia : e sua vz e mando
confesso os Bispos que foro congregados.
Confesso assim ell es mesmos, como os
Reys,
que o motivo destas
c nvocaes he muitas vezes, alem do interesse da Igreja, o do Es tad o: e
assim o provo, mais efflcazmenle que as expresses, os mesmos factos :
alli
se prescrevem com effeito as
Leis
fundamenlaes para a successo do
throno, e regimento dos -que e lle devem su bir : all i se confirmo de
facto as deposies, e enthronisaes dos Reys, e se defende a sua vida e
interesses -. alli se ordena, e reforma a Le gi sl a o: alli finalmente se
conhece dos crimes mais gr ave s; e dos negcios, que influem tanto no
Direito Publico, como no particular.
Assistem de ordinrio os grandes da Corte, quem o Rey dirige ta m
bm a pal avra; e por fim subscrevem os Decretos: assiste muitas vezes o
R e y ; prope a matria, e com variedade de expresses commelle o que
tem ou projectado, ou ordenado j ao ju zo e deciso, j modificao, c
simples approvao dos Bispos: e estes da sua parle ora enuncio os
Decretos, como de
mandado
do Rey, ora como determinao do Concilio ;
e lhes procuro sempre a firmeza da Regia authoridade , a qual o Pr n
cipe presta; ou seja com uma simples su bscrpo, ou como Lei conlir -
matoria, que promulga, e em cuja sanco as vezes accummula s penas
civisasecclesiastics;da mesma sorte que os Padres o fazem nos seus Decre
tos . Eis aqui a imagem dos Conclios das Hespanhas no reinado dos Godos.
No lhes chamem embora Cortes, os que por estas entendem Juntas
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26/73
X V I
regu lares dos Trez Estados do Re ino; pois que na realidade ero Juntas
Ecclesiasticas dos Bispos, que sempre foro contados entre os Concilios, e
a
que se devio muitos Decretos dogmticos e disciplinares, cujo assumpto
era o que na convocao principalmente se expressava: mas permil to
que lhes doem aquelle nome os que com elle s querem significar, que os
Reys Gdos se servio dos Concilios dos Bisposj>ara melhor estabelecerem
muitas cousas; mais attenlos ao bom exilo das decises, que escrupulo
sos
na competncia do Tribunal. E que, ou obscurecidos pela ignorncia,
os confins
do Sacerdcio e do Impr io, ou
confundidos
pela convenincia,
se accumulavo com effeito aqui osdous Poderes, e as matrias ell es
sujeitas ' vindo a ser estes Concilios (e no s os Nacionaes, mas ainda os
Provinciaes), numa das fontes assim do Direito Ecclesiastico das Hespanhas,
como do Direito Civil dos Visigodos, de que tratamos.
Mas,
:
ndependeiteda aco e influencia destes Concilios, a i portancia
do Direito Cannico era grande na Pennsula Ibrica, j desde o
4 Sculo,
de que he testemunha o Concilio de Elvira do anno de 303 de nossa era,
e outros congregados em Tarraiona, e em Braga.
Esta
importncia cresco com a publicao das
Decretaes
de Graciano nos
fins do SculoX I I , de que ha muitos e notveis documentos em prova,
desde o comeo da Monarchia Portugueza, que escusado seria aqui notar.
Portanto, Portugal separando-se do Reino de Leo desde 1 1 3 9 , nem por
isso
deixou de observar a Legislao Visigolhica com as alteraes feitas na
metrpole de que dependia, como o Fusro Real, a Leidei Estlo, o Fuero
de
Leon,
e outras, que os successores de Affonso Henriques foro alterando
em um ou outro ponto, conforme pedio as circumstancias.
O Cdigo das Sete Partid-is, assim denominado da respectiva diviso,
bem que fosse promulgado em Caslell a, tempo que Portugal era inden-
pendente no reinado de D. Affonso II I , teve nesse Paiz fora de lei, no
obstante a resisleucia que lhe fez a Cleresa, e se deprehende do art. 34 da
respectiva Concordata com o Rey D. Pedro I , do anno de 1360.
O Cdigo das Sete Partidas, era o contraposto do Fuero Jusgo, pois as-
signalava a adopo completa do Direito Romano do
Corpus
Jris,
que pela
primeira vez penetrava com tanta vantagem no solo hispano. Dahi a re
pugnncia que lhe linha o Clero em Portu gal.
E posto que em tal Legislao se houvesse incorporado em suas dispo
siesas Leis do
Fuero
Real e dos
Estillos
ou Direito Consuetudinrio,
modificativos
da legislao do Fuero Jusgo, o domnio das doutrinas do
Corpus
Jris era evid ent e; como bem demonstra um escriptor de nosso
sculo,
quando assegura que as disposies deste Cdigo ero no fundo
mais Romanas que Hespanholas, sem embargo da lngua em que foi publi
cado, sendo com just ia alcunhadas Leis Romanas traduzidas em Hes-
panhol.
Pois, accrascenta o mesmo escriptor, o que no dito Cdigo se propz El-
R e y D. Fernando II I, oSanto, que, j o tinha lembrado, e encommendado,
ainda que s fosse acabado no tempo de seu filho D. Affonso IX ou X ; foi
traduzir,
e fazer mais familiares as
Leis,
e Direito
doCodigo,
e
Pandectas
de
Justiniano,
de que, pela maior parle, e exactamente se compe, com mais
algumas cousas tiradas dos Costumes, Ordenanas, e Foraes de Castella,
em que lambem em parte terio infludo o Direito Ante-Justiniano, que
nas Hespanhas se linha natural isado mais : com o que ficaro algumas das
Justinianeas,
modificadas e interpretadas, conforme o pedia a razo porque
o
mesmo Cdigo se formou ; e natural isadas fie sort e, que no inculcaro
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b y
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27/73
XVII
Unlo a sujeio do Imprio Romano, por cujo principio, diz Faria,
aquelles Prncipes prohibiro o uso das ditas Leis.
Mas a.
repugnncia que sentio o Clero e a Nobreza pela Legislao deste
Cdigo, era o maior incentivo para bem acolh-la o Poder
Real,
e os
Ministros que o cercavo, enthusiastas do novo Direito, que se ensinava
co m grande renome nas Universidades de Bolonha e de Pariz.
O novo Direito alargava o poder e prerogalivas da aulhoridade Real; l
se achava inscrip laa celebre mxima de Ulpiano,quod Principi placuit,
Legis habet vigorem, queessas Legislaes cuidadosamente admittiro.
A primeira Dynastia que reinou em Portugal era de origem Franceza,
e os Ministros que mais influiro nos seus conselhos ero Juristas daquella
nacionalidade, que foro Pennsula procurar fortuna. Alumnos da Uni
versidade de Pariz ou de Bolonha, quasi lodos, aspiravo a demolira antiga
Legislao impondo aos Povos modernos a que fora codificada por
Triboniano.
Travou-se a lula contra o antigo Direito, e contra todas as instituies
que delle dimanavo. Na proscripo ero envolvidos o Direito Feudal, o Ca
nnico, o Consuetudinrio consignado nos
Foraes,
e a Lei mui celebrada
sob o nome de Avoenga, relativa ao direito de prelao, e de resciso na
venda dos bens da famlia, direito sob outra forma ainda conservado na
Ing late rra. Lula secul ar, mas mantida pelo PoderReale seus Juristas com
a
maior tenacidade, o que lhes assegurou o definitivo triumpho.
No fim do sculo 43 e comeo do decimo quarto lavrava na Europa esse
enlhusiasmo ou antes esse furor pelo Direito Romano, maxime em Frana,
depois das lutas sustentadas pelos Papas contra os Imperadores da Caza da
Suabia. ballida a hydra n'um ponto resurg ia em outro, e de onde era me
nos esperadol
D .
Affonso I II , que vivera por muito tempo em Frana consorciado com
a
Condea de Boulogne, transportara para Portugal todas as tradices que
al i bebra. Fcil em promessas, foi ainda mais fcil em recusar-se a cum
pri-las, lutando contra uma excommunho que somente se submelteu a
hora da morte.
F oi no seu tempo que floresco o Mestre ou Dr.
Jacobe
das
Leis
[ex Le-
gibus), famoso pelo compendio que organisou modo das Institutos, para
o ensino e propagao do Direito Romano do Corpus
Jris,
escrito e coor
denado no Portuguez daquellas ras; e bem assim D. Gomes.Dontor em Leis
e Cnego de Zamora. Ero estes Jur isconsu ltos successores de oulros , to
influentes como elle s nos cargos de Justi a que exercero nos precedentes
reinados, como D.
Joo
Pecu liar e os Mestres Alberto, Leonardo e Vicente,
Deode Lisboa, Domingos, Arcediago de Santarm, Pedro, Chancellcr-Mr,
Fernando, e Paio, Chantre da S do Porto ; Francezes, Ita lianos, ou Hespa-
nhes, formados em Pariz, Bolonha e Pdu a.
' Ero lodos propagandistas e enthu siastas do novo Direito, que j em
Castella tinha lido to valioso triumpho no Cdigo ou Leis das Sete
Partidas.
No seguinte reinado de D. Diniz, as cousas no correro melhor: conti
nuou a lula entre os
dous
elementos que se digladiavo.
O Rey que tinha por progenitor a Affonso I I I , e pelo lado materno
descendia do promulgador daquelle Cdigo, Affonso o Sabio ; augmentou
ainda o empenho pela propagao do Direito do Corpus
Jris.
E para pou
par aos Portuguezes o incommodo e despezas de viagens, bem custosas
naquellas ras, fundou a Universidade de Lisboa
( 1 2 8 9 ) ,
que depois passou
i g i t i z e d
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V J O C V
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XVIII
para Coimbra ( 1 3 0 8 ) ; ordenando o ensino do mencionado Direito, e para
esse
liin mandou vir Professores das mais acreditadas
Escolas.
Inlluio no seu conselho l>. Domingos Jard o, formado in
utroque jure,
Chanceller-Mr, havendo occupado as mitras de Evora e Lisboa, 1).
Joo
Martins, Cnego de Coimbra, Martim Pires, Chantre de Evora, e o Mestre
Joo dasLeis,
to decantado neste re inado, como fora Mestre Jacobe, que
j
acima notamos.
Este e outros Ju ris tas gozavo de tanta importancia que suas decises
Unho fora igual s dos Romanos
[Uesponsa Prudentum),
nas epochas de
Augusto e de Adriano.
Koi neste reinado que o Cdigo ouLei das
Sele
Partidas
foi traduzido
em Portugu ez, em razo da grande nomeada que logo leve, e da
fcil
np-
plicaoque podia ter, e com effeito teve em Portu gal.
Porm, assevera um escriptor, nada concorreu mais para a grande ati-
thoridade e uso que j linha, e continuou a ter o Direita
de Justiniano,
como
a traduco que do Cdigo ou
Leis
das Partidas mandou fazer o
mesmo Senhor Rey D. Diniz, sendo, como j esl dito acima pela maior
parle formado do mesmo Direito.
V.
mais adiante arerescenta :
Posta por tanto j a existencia da dita traduco, lembra natu ral
mente , que o Senhor Rey D.Diniz, querendo e propondo-se augmentar
a nossaLegislao, ainda ento diminuta, o enriquecer a nossa Lingua-,
se lembrou, que sendo aquellas Leiscompostas pela maior parle do Direito
Justinianeo,
j mais escolhido, e accommodado aos costumes da Hes-
panha, preenchio bem o seu fim.
E daqui se segue o presumir-se, e achar-se com effeito, que o dito
Cdigo pelas ditas qualidades mereco entre ns por aquelles lempos, e
pelos seguintes a authoridade de
subsidiario,
e ser como tal observado ;
de alt ribu ir-se com razo ao mesmo Senhor Rey o determina-lo assim
expressame nte , e que por isso s>:- movesse mais a faz-lo traduzir na
Lingua vulgar, em que quiz e determinou fossem dahi por diante escrip
i a s
todas as
Leis
do Re ino : entre as quaes, mesmo no dito Livro, e
em alguns outros de I-eis e Posturas antigas, se acho escripias e tradu
zidas algumas das mesmas Partidas, provavelmente anles da sua tradu c
o
geral.
Estas
asseres so reforadas com o facto do art. 24 da Concordia de
Elvas
de
1 3 6 0 ,
de que j fizemos meno ; bem
como
de uma Proviso de 13
de Abril de 1361 dirigida Universidade de Coimbra pelo Rey D. Pedro 1,
em que se determina ao respectivo Conservador que, no julgamento dos
feitos entre os Estudantes e outras pessoas do Reino, se guiasse pelo
Direito que aprendio nas Aulas, e no pelos livros e
Leis das
Partidas.
O que no succederia, prenota ainda o mesmo escriptor, se as ditas
Partidas
no estivessem sendo a regra dos Ju izes em subsidio, na falia
das
Leis
Patrias
ainda com preferencia
s Romanas, que em varias cousas
interpretaro, modificaro, e ampliaro.
He sem
duvida
porem, que o principio, e razo maior de
tudo
foi
o
grande credito, e authoridade do Direito de Justiniano, que com mais
justia se fez transcendente as
Leis
das Partidas, em que elle fora, e se
achava reduzido melhor, e mais proveitosa ordem.
Conhecida a marcha que teve a Legislao Portugueza al a epocha
em que reinou D.Diniz, e a fundao da Universidade de Coimbra, vejamos
a
direco que seguio at a organisao do primeiro Cdigo Portuguez.
i g i t i z e d b y
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29/73
X I X
IV.
i g i t i z e d b y
O a
C a d i g o sP o r t u g u e s e s A i T o n s I n o , M a n o e l t n o , S e b o s t l a m i e o
e
P h l l i p p l n o .
Do
reinado de D. Diniz em diante continuaro as cousas no mesmo p
em matria de Legislao, mas sempre crescendo de importncia o Direito
Romano do
Corpus
Jris,
e a influencia dos que el le se applicavo; ento
j em crescido numero por haver na Patria uma Universidade.
Nos reinados de D. AITonso IV e D. Pedro I , j se exigia expressa
mente que, paraos cargos de Magistratura de cer ta importncia, fossem
nomeados os kterados e entendudos, pois assim ero os Juristas conhe
cidos.
Havia ento abundncia de personagens desta classe letrada, e no Con
selho do Re y ero poderosos e influentes. Os mais notveis, que havio
adquirido honrosa nomeada, ero designados pelo gro, nome de baptismo
e o appellido das
Leis
(ex Leg ibus). A historia no os commemra de outra
sorte.
Mestre
ou
Muglster
Joo,
Vicente, Pedro, Gonalo,
Vasco
das
Leis,
ou das
Regras,
e ex
Regulis,
appellido com que tanto se celebrisou no
reinado de I).Joo I o Dr. Joo Fernandes de Argasou das Regras, ou
MestreJoo ex Regulis.
Figuraro nestes dous reinados como Chancel leres-mres os Mestres
Joo, Vicente, e Gonalodas
Leis,
e por tanto mui considerados no Con
selho do Rey.
Na epocha de
D .
Fernando I o movimento foi ascend ente em pr das dou
trinas do
Corpus
Jris.
A Universidade Porlugu eza voltando de Coimbra
paraLisboa, foi augmenlada com novos Professores, ou Ldores, mandados
contractar no estrange iro. Parece que o
padro
dos estudos tinha baixado
cm
demasia,visto como os Portugu ezes.que podio faz-lo,preferio ir cur
sar o Direito emoutras Universidades de incontestada celebridade como as
dc Paris e de Bolonha, onde ensinava o famoso Bartholo, um dos orculos
da sciencia, de quem
Joo
das Regras s ufanava de haver sido discpulo.
No deixando este Prncipe herdeiro masculino,^ e havendo sua filha
desposado um Prncipe de Casle lla, sua herana foi disputada por diffe-
renles prelensores.
D .
Joo, Mestre da Ordem militar de Aviz, filho bastardo de D. Pedro I,
pe-se frente de uma revoluo que lhe assegura a posse da Coroa,
depois que a fortuna o secundara na batalha de Aljubarrota.
Dous homens eminentes o auxilio efficazmente. No campo da batalha
Nuno Alvares Pereira, e nas Cortes, e enlre o povo
Joo
das
Regras,
como
a Historia o designa, Mestre
Joo
ex
Regulis,
com o seu saber, e com sua
poderosa eloquncia.
A ' luta das espadas e das lanas suecede a das let ras. Travou-se
grande comball e entre os .Jurisconsultos leg itimistas, c os vencedores ;
entrando lambem os Castelhanos na arena, em pr da filha de D. Fernando
e de seu consorte.
Estas questes exalto os nimos das populaes, excitadas sobretudo
pelos Juristas, que ganhavo no Paiz elevada preeminncia.
A independncia de Portugal dos Reinos visinhos de Leo e de Caslella
ainda se no reputava completa, se a Legislao desses Paizes no fosse
inteiramente abandonada, proscripla; organisando-se um Cdigo Nacional,
puramente
Porluguez,
o ideal dos Juris tas patriotas ou revolucionrios.
7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)
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X X
Diz-se que a lembrana desse Cdigo foi toda de
Joo
das Regras,
ento Chanceller-mr do Reino, com extrema preponderncia nos Conse
lhos do Re y. Com esse propsito, assegura-se , que o eminente Jur iscon -
sulto publicara uma traduco em lingua vulgar do
Corpus
Jris
com as
glossas de Accursio e deBarlholo, o qual, com o Direito Cannico, foi pre
ferido ao do Cdigo O U Leis das Partidas.
Essa
traduco,
cuja
existncia alis alguns contesto, e outras obras
que j havio, foro preparos para a organisao do
Cdigo
denominado Af-
fonsino, por haver sido publicado no reinado de D. Alfonso V.
Diz-se que a Nobresa e a Burguesia reunidas em Cortes o reclamaro com
instancia, maxime o terceiro Estado, onde os Ju ris tas abundavo. Infeliz
mente
Joo
das Regras, fallecendo em 1 4 0 4 , no pde levar a effeito o in
lento, que outros execu taro com mais fortuna no reinado do neto de D.
Joo I , sendo Regente do Reino de p. Pedro, Duque de Coimbra, em 1446
ou 1447 , como parece mais presumvel.
A obra foi commett idaao Dr. ou Mestre
Joo
Mendes.Corregedor da Corte,
como
se v no liv. 1 1 prefacio dessas Ordenaes, ignorando-se a data :
assim como no se sabe quaes as Cortes em que os Fidalgos e Povos pediro
por vezes a organisao do Cdigo; mas no ser destituda de fundamento
apresumpo, de que o encargo foi confiado ao Dr.
Joo
Mendes, depois da
morte de
Joo
das Regras em 1 4 0 4 ; podendo-se calcular que nessa primeira
compilao
gastou-se perto de quarenta annos pouco mais ou menos.ou de
vinte a contar das Cortes de Lisboa de 1427, as penltimas convocadas
por D.
Joo
I, fallecido em 14 33 ; por quanto foi por esses tempos ( 1 4 2 2 ) ,
que se fez uma grande reforma em Portugal, a substituio da era de Cesar
pela de Chrislo ; e uma reforma podia l er despertado ou animado outra de
tanto alcance, e to necessria.
Cumpre notar que o empenho de levar-se
effeilo
o Cdigo Nacional
era de longa data, pois no prefacio das mesmas Ordenaes se diz, que
s e ellas no foro acabadas em tempo de D.
Joo
I, a causa foro
alguns empachos,
que se
seguirom.
Fallecendo o Dr.
Joo
Mendes nos primeiros tempos do reinado de
D .
Duarte, escolho este Monarcha para continuar a obra encetada ao
D r. Ruy Fernandes, pessoa mui competente, e que j figurava com dis-
linco
no seu Conselho. A este Jurisconsul to coube a honra de termina-la
co m
o auxilio do Dr. I.opo Vasques, Corregedor de Lisboa, e dos Dezem-
bargadores do Pao Luiz Martins e Ferno Rodrigues.
0 Cdigo Affonsino, publicado em 1446 ou 47 , lie por si s um acon
tecimento notvel na Legislao dos Povos Chrislos. Foi um incontestvel
progresso, e revela os adiantamentos que Portugal tinha feito em Juris
prudncia, como outros respeitos.
O
padro
ou modelo deste Cdigo foi em verdade.quanlo a doutrina,
o
Corpus
Jris;
e quanto ao methodo e disposio das matrias, asDe
cretais do Papa Gregorio IX. E, posto que precedido de quasi dons sculos
pela
Lei das Partidas,
he na opinio de abalisados Ju risconsultos, tra
balho differente e muito superior.
Considerada a epocha em que foi promulgado o Cdigo Affonsino, esle
trabalho he um verdadeiro monumento. E he para lastimar que no fosse
logo
dado
a estampa, d istando to pouco a sua publicao da epocha em
que a arte divinal da imprensa fora descoberta, ou, em 1450, quando Gul-
temberg e seus scios conseguiro pela primeira vez imprimir uma obra
inteira.
g t z e d
b yGoogle
7/23/2019 Candido Mendes - Autores (r)
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X X I
EsteCdigo no foi impresso seno em 1 7 9 9 , durando como lei apenas
oespao de 65 a 70 annos,quando foi promulgado o Cdigo Manoelino.
Tornou -se por tanto um documento pouco conhecido no Paiz, e inte i
ramente ignorado no resto da Europa.
A ' esta circunstancia se pode em parle altribuir o que diz Bentham no
c a p . 31 da suaobra
Vista
geral de um Corpo completo de Legislao,
quando
assegura que o Cdigo mais antigo da Europa era o Dinamarquez
de 1683, seguindo-se o
Sueco
de 17 34, o Frederico ou
Prussiano
de 17 51,
e linalmente o
Sardo
de 17 70 .
Estas indicaes moslro a ignorancia em que estava Bentham, e E.
Dumont, o edicior de suas obras, acerca da prioridade dos Cdigos Eu ro
peos,
visto como, antes da publicao do Dinamarquez, j em Portugal se
havia promulgado trez Cdigos completos.e um incompleto[o
Sebastianico)
de 1466 a 1603.
A
circunstancia de ser ou no completo, favorece ainda os Cdigos
Porlug uezes, que o so tanto quanto o permitlio as luzes da epocha em
que foro organisados, e o Philippino muito mais que o Dinamarquez, em
vista da succinla apreciao que de suas materias fez Bentham.
He certo que nenhum dos Cdigos Porluguezes contm a
legislao
fun
damental de Estado, por que no a teve de principio, alm da Bulla-Mant-
festis probatum do Papa Alexandre (II, publicada em 23 de Maio de 1179,
confirmando em D. Affonso Henriques o Ululo de Rey de Portug al .
Legislao oriunda das pretendidas
CdresdeLa/nAjfo.heapocrypha;
e
sendo fabricada depois do Cdigo Affonsino, no podia ser ento codificada.
Regiaal ento o Direito Consuetudinario de accordo com o Cannico, que
era seguido e praticado em outros Estados da Pennsula.
M as nos Cdigos Porlu guezes encontra-se a Legislao administrativa,
fiscal,
civil,
commercial, criminal, militar, florestal, e al a municipal ;
bem como a das relaes entre a Igrejae o Estado.
Pela
confuso que havia do administrativo co mo jud icial , no estavo
descriminadas as funces dos empregados, mas nem por isso deixavo de
estar definidas.
Fallo em todos, formularios dos contractos, de disposies de bens, e
dos differentes processos; mas existem disposies descrevendo as diversas
formas por onde podia-se, com alguma segurana, redigir laes actos.
O Cdigo Affonsino, como Cdigo completo, dispondo sobre quasi
todas as materias da administrao de hum Estado, foi evidentemente o
primeiro que se publicou na Europa, e assignala huma epocha importante.
Neste Cdigo restringi-se a Legislao Feudal, e Consuetudinaria ;
revogou-se a Lei chamadada
Avocnga,
de que j acima demos huma ida,
e deu-se ganho de causa Legislao do Corpus Jris, que foi equiparada
Cannica, que alis s podia prevalecer nas materias em que houvesse
peccado.
Esta Codificao he o ponto em que a Legislao Feudal teve de parar
pela onda das novas idas, e reformas que emprehendia a Realeza para
firmar o seu completo predominio.
No ero decorr idos ainda sessenta annos, e reinando D. Manoel,
assentou-se, mais no interesse da Realeza, do que no das outras institu i
es,
reformar-se aLegislao existente a pretexto de melhor codifica-la.
No heexplicvela causa desta nova
codificao
em to limitado espao
de tempo, seno no ardor dos Juristas em fazer predominar na Le gis lao
aJurisprudencia do
Corpus
Jris, e no empenho do Poder
Real
em forta-
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b y
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lecero regimen absolu to fazendo-o primar sobre as antigas liberdades do
Povo Portuguez. O Rey D. Manoel deslumbrado pelas descober lasda ndia
e da America, e com a felicidade que em
tudo
o acompanhava, entendeu
que nada podia no futuro melhor ass ignal ar o seu reinado do que huma
Legislao cunhada com o seu nome.
F oi
el le quem deu seno os ltimos, os mais decisivos golpes no Feu
dalismo.
He este o caracter da sua Legislao, e dos actos mais significativos do
seu reinado.
A
organisao do novo Cdigo foi resolvida no anno de 1 305 , e levava
por'pretexto reformar e reduzir melhor ordem o Cdigo de D. AITonso V.
A Carla Regia de 0 de Fevereiro de 1506 encarregou desse commellimenlo
ao Chancelle r-mr do Reino o Dr. Ruy
Botto,
com o Licenciado Ruy da
Gra,
Dezembargador do Pao, e o Bacharel
Joo
Cotrim, Corregedor do
Civel da Corte, conhecidos como famosos Legislas, segundo o testemunho
de Duarte Nunes de Leo.
O trabalho destes compiladores foi terminado em breve praso; por
quanto no anno de 1512 ou 13 sob a reviso de
Blto,
o Chancelle r-Mr,
fo i a obra impressa em Lisboa por Joo de Kempis, com o addila-
menlo das sentenas e Fores recommendado na Carla de 9 de Feverei ro
supra mencionada. Em 1514 fez-se outra impresso mais correc ta e
accrescentada.
M as
a compilao sendo feita com tanta pressa obrigou a novo exame,
que foi confiado aos Dezembargadores
Joo
Cotrim, Pedro
Jorge, Joo
de
Faria
e Chrislovo Esteves. E o Cdigo, assim emendado, foi publicado em
1 1 de Maro de 1521, ainda em vida do Rey que o authorisra; e he o
Cdigo Manoelino que conhecemos, que depois alcanou mais duas edi
es
no reinado de D.
Joo
III em 1526 e
1 5 3 3 ,
e outra no de D. Sebastio
em 1565.
Este Cdigo no seu plano e distribuio geral das malerias segue o
systema adoptado no precedente, de quem se afasta j omiltindo os nomes
dosauthores das
Leis,
j alterando a ordem da collocao dos lilu los , e a
distribuio dos artigos ou paragraphos, e de tal forma que pareco uma
nova leg islao e no compilao systematisada de leis precedentes.
M as o furor de leg islar ou codificar parece que invadi este sculo, em
que tudo como que exigia reforma ou transformao. E assim, reinando
D .
Sebastio, mais uma codificao se levou
effeito,
para consummar o
triumpho da Legislao do
Corpus
Jris, e do absolutismo Real.
No pouco concorro para esta effervescencia a reforma da Universi
dade de Coimbra no reinado de D.
Joo
I I I , em 1537, que para este fim
fizera,
como
seus predecessores, convidar em outros Estados Professores
de saber incontestado. Mas nesta epocha ainda predominavo na Juri s
prudencia Romana as opinies de Barlholo e Accursio, e a importancia que
depois adquiri a Escola Cujaciana ainda era desconhecida.
A nova compilao do reinado daquel le Principe , que denominaremos
Cdigo
Sebastianico,
no teve o alcance das primeiras.
Duarte Nunes de
Leo,
Jurisconsu lto de nomeada e Dezembargador da
Caza
da Suppl icao, encarregado desse trabalho, colligio e recopilou to
somente as
Leis
extravagantes posteriores ao Cdigo Manoelino.
Este trabalho, revisto pelo Regedor Loureno da
Silva
e outros Juris
consultos,
foi approvado por Alvar de 14 de Fevereiro de 15 (19 , tendo
fora de Lei. Foi o Cardeal D. Henrique, quando Regente do Reino, que
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ordenara a compilao, sendo o pretexto invocado a existncia de muit