COMO REESCREVERO SEU ARGUMENTO
EM DEZ PASSOS
(versão longa)
por
JOÃO NUNES
1
Carregue aqui para assinar a minha newsletter e receber regularmente artigos,
notícias, e outros recursos relacionados com a escrita para os diversos media.
“A primeira versão de qualquer coisa é uma merda.
Ernest Hemingway
Reescrita é apenas o nome do meio da escrita .
Francis Ford Coppola
Na terça feira, 23 de Maio de 2000 , às 16:27, sentei-
me para escrever ‘Little Miss Sunshine’. (...) Terminei a
primeira versão às 21:56 de sexta feira, 26 de Maio.
Depois passei um ano a reescrever.
Michael Arndt
2
Introdução
Terminou a primeira versão do seu guião? Parabéns! Já fez mais do que 90% dos candidatos a guionistas.
Mas ainda há muito a fazer; nem pense em mostrar o seu guião sem primeiro passar pela fase da reescrita.
Praticamente todos os autores concordam que a reescrita é uma fase indispensável do processo criativo,
independentemente da plataforma para que escrevem. James Michener, por exemplo, gaba-se de ser o
melhor “reescritor” do mundo.
Enquanto na escrita da primeira versão seguimos normalmente o instinto, o coração, e deixamos a
inspiração fluir livremente, na reescrita aplicamos os processos analíticos para corrigir, focar e ampliar
todo o potencial do nosso argumento.
Por muita vontade que tenha de ouvir outras opiniões, nunca dê a ler a ninguém, especialmente a um
profissional, um guião com que não esteja 100% satisfeito: não há uma segunda oportunidade para
causar uma boa primeira impressão.
3
A reescrita
O segredo de uma boa reescrita é não querer corrigir tudo ao mesmo tempo.
Fica mais fácil, e é mais proveitoso, se passarmos várias vezes pelo guião, abordando um determinado tipo
de problemas de cada vez. É como se, em cada etapa, colocassemos uma lente diferente no nosso olhar,
para filtrar uma e só uma faceta do trabalho.
Também teremos melhores resultados se conduzirmos o processo de reescrita do geral para o particular.
Primeiro enfrentamos os grandes problemas e fazemos as alterações mais significativas. Só depois
atacamos os detalhes e afinamos os pormenores.
Não adianta estar a corrigir os diálogos de uma cena para mais tarde eliminar essa mesma cena. Mais vale
decidir primeiro se ela faz falta (o geral) e, em caso afirmativo, corrigir então os diálogos (o particular).
Vejamos então o que tem de fazer, passo a passo.
4
1 - Repouso
A primeira etapa de uma boa reescrita é não fazer nada.
Deixe o seu guião descansar durante algumas semanas - duas no mínimo. Este tempo de espera tem duas
vantagens: dá-lhe a perspetiva necessária para poder ler o seu guião com olhos limpos; e renova o seu
entusiasmo pelo projeto.
Aproveite para descansar, celebrar e começar a pensar noutros projetos. Um bom argumentista tem
sempre mais de um projeto em movimento, em fases distintas. Esta pode ser a altura certa para começar a
procurar ideias ou fazer pesquisa para o seu argumento seguinte.
É também permitido gabar-se junto da família, amigos, Facebook e Twitter.
Ao fim deste período de repouso, que lhe irá dar uma visão mais distanciada e imparcial do seu trabalho,
siga sem piedade as etapas seguintes.
5
2 - Leitura geral
Não recomece imediatamente a escrever. Imprima uma cópia em papel, arranje uma caneta vermelha,
arranje um lugar calmo e reserve algumas horas só para si.
Em primeiro lugar, dê uma leitura completa ao seu guião, de um só fôlego. Pode tomar algumas notas de
problemas que lhe saltem logo à vista, mas não deixe que isso tire o ímpeto da leitura.
O objetivo é sentir o ritmo, o balanço e a progressão natural da estória. No fim desta primeira leitura deve
ter a percepção clara da fluência da sua narrativa, e uma ideia geral dos grandes problemas que vai ter de
enfrentar.
Dê a si próprio mais um ou dois dias de reflexão, e faça uma segunda leitura, com o intuito de tomar notas
sobre esses grandes problemas. O que nos leva ao terceiro passo.
6
3 - Enredo
Como vimos antes, as primeiras reescritas que fizer (note bem o plural) devem começar do geral para o
particular. Primeiro a floresta, depois as árvores.
Abra o documento no seu processador de texto favorito (o CeltX é uma boa opção) e grave uma nova
versão. Chame-lhe como quiser, mas certifique-se de que vai criando versões novas para cada etapa da
reescrita, ou sempre que fizer uma alteração mais radical. O tempo que perder a estruturar os seus
arquivos agora vai poupar-lhe dores de cabeça mais à frente.
Nesta fase pode ser necessário fazer grandes alterações à sua estória. Pode até ser necessário mudar
radicalmente a ideia original, se esta não estiver a funcionar. Isto quererá dizer que não trabalhou o
suficiente na fase da gestação da ideia. Mas menos mal - ainda está a tempo de corrigir isso.
Por vezes será necessário mexer em sequências completas, especialmente nos momentos chave. Por
exemplo, encontrar um arranque novo, ou um final diferente. Não tenha medo de experimentar.
7
Estas são algumas das questões que deve colocar a si próprio:
• A premissa básica é forte? Pode ser melhorada, ou apresentada com mais clareza?
• A questão dramática está clara e é apresentada suficientemente cedo?
• Quais são os pontos mais fracos do enredo?
• Há erros de lógica na estória?
• Há lugares comuns, ou cenas roubadas de outros filmes?
• Todas as cenas são necessárias e suficientes? Ou algumas podem ser eliminadas, ou anexadas, sem
prejuízo da narrativa?
• Pelo contrário, faltam cenas para clarificar algum ponto da estória?
• As cenas estão bem encadeadas, e sucedem-se com fluência? Ou são episódicas e desligadas?
• Há surpresas e reviravoltas suficientes?
8
Esta é a altura certa para avaliar o ritmo da estória, procurar segmentos desnecessários ou mais
aborrecidos, detetar as falhas no encadeamento das sequências, etc.
Pode também ser necessário fazer alguma pesquisa adicional para esclarecer aspetos da estória ou
melhorar a credibilidade de algumas cenas.
Seja absolutamente honesto consigo mesmo; se tiver dúvidas em relação a algum aspecto, não descanse
enquanto não tiver a certeza de que não consegue escrever uma alternativa melhor.
Repito: não tenha medo de experimentar. Se mantiver um bom arquivo de versões da reescrita, pode
sempre voltar a uma versão anterior, ou combinar o melhor de duas versões numa terceira.
9
4 - Personagens principais
Esta fase da reescrita, que podemos classificar como a das grandes decisões, também é a altura certa para
fazer mudanças profundas nos personagens.
Certifique-se de que está bem claro quem é o seu protagonista, e o que o move em toda a estória. Se não
tem um protagonista forte, interessante, multidimensional, rico e contraditório, está a perder uma grande
oportunidade de dar interesse ao seu argumento.
Pense nos protagonistas dos filmes de que mais gosta. O que é que lhes interessa neles, que possa trazer
para o seu argumento? A ideia não é copiar, mas identificar o que o toca a si, e transpor isso para os seus
personagens.
Também aqui, não tenha medo de fazer experiências. Coloque grandes questões, mesmo que decida não
as explorar: talvez o protagonista ideal seja um outro personagem, ou deva ser mulher em vez de homem,
ou motorista em vez de professor universitário.
10
Analise igualmente os objetivos e motivações da cada personagem central, incluindo o antagonista. Um
bom filme depende tanto do elenco complementar como da força do protagonista.
Estas são algumas das questões que deve colocar:
•Tenho o protagonista certo? Ou outro personagem pode tomar o seu lugar vantajosamente?
•O meu protagonista é fascinante? O que lhe falta para o ser?
•As suas motivações são fortes, claras e coerentes? Porque é que ele embarcou nesta estória?
•Sente-se urgência e pressão nos seus comportamentos?
•Os seus comportamentos são coerentes e credíveis ao logo de toda a estória?
•As suas transformações (no caso de as haver) são compreensíveis e justificadas? Tem um arco de
transformação suficientemente claro?
Repita estas questões para o antagonista e restante elenco principal.
11
5 - Estrutura
Como já referi várias vezes no Curso de Guionismo, a estrutura é a forma como apresentamos os
acontecimentos dramáticos que consideramos essenciais para contar a nossa estória, a ordem e a
importância que lhes atribuímos no nosso guião.
Se considerarmos que o enredo é a carne dramática da nossa estória, e se os personagens são o sangue
que lhe dá vida, a estrutura é o esqueleto que aguenta tudo no lugar e dá solidez e eficácia à nossa
narrativa.
Por alguma razão um argumentista respeitado como William Goldman escreve que “GUIÕES SÃO
ESTRUTURA” (assim mesmo, com maiúsculas e tudo).
Um argumento clássico e bem estruturado tem três atos - explicação, complicação e resolução - e cinco
momentos chave - o detonador, viragem para o segundo ato, meio, viragem para o terceiro ato, e clímax.
Se necessário leia o Curso de Guionismo para entender melhor estas noções.
12
Estas são algumas das questões que deve colocar para avaliar a estrutura do seu guião:
• Esta é a melhor estrutura para este enredo? Ou outra serviria melhor a narrativa?
• O argumento está no tamanho adequado (90 a 110 páginas)?
• Conseguimos identificar bem os três atos? Estão na proporção certa (±25%-50%-25%)?
• Os momentos chave são suficientemente compreensíveis? Aparecem no momento certo da estória?
• O detonador não demora demasiado a surgir? E a passagem para o segundo ato?
• Acontece alguma coisa de muito importante mais ou menos a meio do guião?
• A passagem para o terceiro ato está bem demarcada?
• E o clímax, está no momento certo? Ou a estória ainda se arrasta depois dele?
Não tenha medo de mexer na estrutura. O fato de haver um princípio, meio e fim não quer dizer que eles
tenham de surgir exatamente por essa ordem.
13
6 - Personagens e enredos secundários
Resolvidas as grandes questões, é altura de começar a analisar a estória com uma malha mais fina.
Uma boa maneira de o fazer é começar por avaliar o impacto dos enredos e personagens secundários. Se
forem poucos, o guião pode parecer pobre; se forem demais, pode ficar confuso
• Os personagens secundários contribuem para a estória principal ou são meras distracções?
• Mesmo que apareçam por pouco tempo, estão bem definidos e são interessantes?
• Correspondem a arquétipos fortes, ou são simplesmente estereótipos?
• Podemos eliminar, ou combinar personagens secundários?
• Quais são as suas motivações, as estórias em que eles são o protagonista?
• Vamos conseguir interessar bons atores para interpretar estes personagens secundários?
14
• Os enredos secundários acrescentam alguma coisa à estória ou são dispensáveis?
• Contribuem para uma melhor compreensão dos personagens?
• Têm um princípio, meio e fim bem definidos, ou ficam pendurados?
• Encaixam de forma equilibrada com o enredo principal, sem distrair dele?
• Os personagens e enredos secundários ajudam a tornar mais claro o tema da nossa estória?
Uma boa maneira de analisar os enredos secundários é usar o método dos cartões, escrevendo cada cena
num cartão individual, e identificando os vários enredo secundários com cores diferentes. Por exemplo,
azul para o enredo principal, verde para o enredo amoroso, vermelho para o enredo do antagonista, etc.
Dessa forma pode avaliar visualmente os desequilíbrios da sua estória. Usando o exemplo anterior, se de
repente detetar uma longa sequência de cartões verdes, sem qualquer azul pelo meio, isso pode querer
dizer que está a esquecer o enredo principal durante demasiado tempo.
O CeltX também tem boas ferramentas para ajudar nesta fase da reescrita.
15
7 - Cenas
Por esta altura talvez seja boa ideia imprimir uma cópia limpa da versão mais recente do guião e voltar a
lê-la com uma caneta vermelha e um marcador para sublinhar. Gosto de árvores tanto como qualquer
outra pessoa, mas ainda não encontrei softwares que dêem a mesma satisfação nesta tarefa.
Com base nesta leitura e notas, passe então à análise das cenas individuais. Cada uma é uma miniestória
que deve contribuir para o todo mas sustentar-se por si mesma. Certifique-se de que cada cena tem a
duração necessária e suficiente. Comece-a o mais tarde possível, e termine-a o mais cedo que conseguir.
Cada cena deve ser indispensável, implicar uma transformação na estória ou nos personagens, forçar
escolhas e determinar as cenas seguintes. Estas são algumas das questões que pode colocar:
• Esta cena é mesmo necessária? O que acontece se a eliminar?
• A dinâmica interna, conflitos e tensões desta cena estão claros?
16
• Os motivos e objetivos de cada personagem percebem-se bem?
• Há conflito? Qual é? Quem quer o quê? O que o impede de o conseguir?
• Qual a transformação dramática que se opera entre o início e o fim da cena?
• Esta cena está boa para aparecer no trailer do filme? Posso afiná-la nesse sentido?
• Como estão escritas as descrições? São sucintas ou arrastam-se?
• A linguagem usada para descrever a cena é visual e cinematográfica?
• Só estão descritas ações que podem ser vistas ou ouvidas, ou há coisas que não são filmáveis?
• O estilo de escrita é concreto mas também evocativo e inspirador?
• Os parágrafos têm a dimensão adequada? Dão uma boa noção do ritmo da cena?
• A página está visualmente equilibrada? Ou tem “tinta” a mais?
17
8 - Diálogos
Sobre os diálogos poderia ser escrito um livro completo (e já o foram vários). Todos recordamos grandes
frases, expressões marcantes, conversas fascinantes que ouvimos em filmes: “Ó Evaristo, tens cá disto?”;
“Deste, já não há mais.”; ou “Are you talkin’ to me?”
O seu objetivo é conseguir que os seus personagens também tenham uma quota parte de diálogos
memoráveis.
Os diálogos podem comecar a ser revistos em paralelo com a reescrita das cenas, mas devem merecer
pelo menos uma revisão completa só focada neles. Será melhor ainda se fizer várias revisões focadas nos
diálogos de cada personagem.
Um programa como o CeltX permite criar relatórios de falas para cada personagem, dando-lhe a
possibilidade de os avaliar de forma independente. Isto permite, por exemplo, detetar mudanças no estilo
de vocabulário, na forma como se dirigem uns aos outros, no ritmo e na síntaxe que usam.
18
Estas são algumas das questões que deverá colocar em relação aos diálogos:
• Estão na proporção certa para o género de filme e para as caraterísticas dos personagens?
• Têm um subtexto rico, ou são demasiado literais?
• Soam naturais ou são muito rebuscados e literários?
• São escorreitos e interessantes?
• Tem o ritmo certo?
• São adequados à época e local do filme?
• Cada personagem tem uma voz própria e distinta?
• Essa voz reflete as suas origens sociais e geográficas, a sua história e circunstâncias?
• As falas de um mesmo personagem são coerentes ao longo do argumento, acompanhando o seu arco de
transformação (quando existe)?
19
9 - Formato
Chegamos finalmente aos pormenores. Mas não caia na tentação de os descurar porque podem, em última
instância, determinar a percepção que os leitores do guião vão ter em relação ao seu trabalho.
O formato como o guião é apresentado é um dos detalhes que mais depressa definem o nível de
profissionalismo dos autores. Quando um argumentista não respeita as convenções praticadas no
mercado, ou é porque não as conhece, ou porque as despreza. Nenhum dos casos é bom.
O formato também é importante porque, teoricamente, cada página deve corresponder a um minuto de
filme. Isso só é conseguido respeitando as práticas de formato já consagradas.
Certifique-se sempre do seguinte:
• A primeira página inclui apenas o título, nome do autor e dados para contato?
• A formatação usada está correta de acordo com os parâmetros do seu mercado?
20
• É usada apenas a fonte Courier 12?
• Cada elemento (cabeçalho, acção, personagens, etc...) tem as margens e espaçamentos certos?
• Foram respeitadas as formas certas de indicar os cabeçalhos, personagens, diálogos, etc?
• A primeira aparição em cena de cada personagem está destacada em maiúsculas?
• Foram respeitadas as formas corretas de indicar sons, efeitos especiais, vozes off, transições entre cenas,
telefonemas, montagens e sequências de cenas?
Escrever um argumento torna-se uma experiência muito mais agradável e fluida quando não temos de nos
preocupar com o formato e nos podemos concentrar na estória e nos personagens.
A maneira mais fácil de o conseguir é usando sempre um processador de texto especializado, como o
Final Draft ou o já mencionado CeltX.
21
10 - Gramática e ortografia
Por fim, corrija a construção das frases, e reveja as “gralhas”.
Não descure este último aspecto — um guião mal escrito e cheio de erros de ortografia (como já vi alguns)
tem um ar muito pouco “profissional”. O trabalho de um escritor só chega ao público final depois de
passar pelas mãos de editores e revisores. No seu caso, essa responsabilidade é apenas sua.
A primeira etapa é usar o corretor ortográfico do seu programa. Não há desculpa para deixar passar
palavras mal escritas quando o erro está sublinhado a vermelho.
Mas não confie apenas no corretor automático. Uma palavra pode parecer bem escrita, mas ser errada para
o fim pretendido. Por exemplo, se escrever “com sigo” o corretor não vai perceber que deveria ter escrito
“consigo”.
Um bom truque, que aprendi na revisão de textos publicitários, é ler as frases de trás para diante. Dessa
forma abstraimo-nos do sentido das frase e focamos exclusivamente as palavras.
22
Finalmente
Um último conselho: durante todo o processo de reescrita, não se esqueça de se colocar sempre no papel
do leitor e, principalmente, do espectador do filme.
Uma das principais tarefas do argumentista é gerir o fluxo de informação da estória, e decidir o que é
revelado, e em que momento.
O espectador pode saber mais do que os personagens, o mesmo que os personagens, ou menos do que
os personagens. Isso afeta a forma como ele interpreta a estória, e é sua competência gerir essa
informação.
Em cada cena, interrogue-se sempre sobre o que é que os espectadores sabem e o que é que lhes falta
ainda descobrir.
Pense também nas emoções que eles deveriam estar a sentir, e no que pode fazer para reforçar essas
emoções.
23
Conclusão
Quando achar que, sozinho, já não consegue melhorar o seu argumento, está na altura de pedir ajuda
externa.
A primeira coisa a fazer é registá-lo no organismo público competente. Em Portugal é o IGAC, no Brasil é o
Escritório dos Direitos Autorais de cada Estado.
Depois de registado, dê então o argumento a ler a algumas pessoas da sua confiança. É importante que
tenham a capacidade de interpretar um guião, pois este tem um formato muito próprio. Também é
fundamental que sejam honestas e não o poupem nos comentários. Conte com algum tempo para esta
etapa, pois não é fácil arranjar a disponibilidade necessária para fazer uma leitura atenta de um guião.
Quando receber os comentários, numa conversa ou por escrito, prepare-se para alguma surpresas. Quem
lê um guião sem ideias feitas vai descobrir aspectos - positivos ou negativos - que lhe podem ter
escapado.
24
Não é obrigado a aceitar todas as críticas e sugestões que lhe sejam feitas, mas não adianta muito dar a
ler um guião se depois adotar uma atitude defensiva em relação aos comentários.
O escritor Neil Gaiman diz a este respeito: “Quando as pessoas te dizem que alguma coisa está mal, ou não
funciona para elas, estão normalmente certas. Quando te dizem exatamente o que está mal, ou como o
arranjar, estão normalmente erradas.”
Mantenha o espírito aberto e agradeça a cada leitor o tempo e energia dispendidos.
Depois, repita este processo as vezes que forem necessárias. Cada reescrita é uma oportunidade para
melhorar o seu argumento.
Chegará um momento em que não vai conseguir rever mais nada. Só nesta altura deverá colocar o seu
argumento nas mãos de um produtor, com a segurança de estar a mostrar o seu melhor trabalho.
Boas (re)escritas.
João Nunes
25
26
Este documento foi escrito e produzido por João Nunes,
e publicado gratuitamente no site http://joaonunes.com.
O texto reflete apenas as opiniões do autor.
Todos os direitos são reservados.
Pode ser impresso para uso e consulta particular,
mas não pode ser vendido nem integrado
em qualquer outro texto ou publicação.
Só pode ser distribuído após autorização do autor,
obtida através do site.
© João Nunes 2011