CONCLUSÃO
Não há como continuar mantendo, em pleno século XXI, uma figura de
bicho-papão rondando o cenário educacional. Mais do que acabar com o medo
da matemática, é preciso que a escola, os professores e psicopedagogos se
atualizem não somente em teorias e métodos, mas acima de tudo na
capacidade de lidar com as necessidades de seus alunos, de encantá-los de
modo a fazer com que se apaixonem pelo que aprendem, aí incluída a
matemática.
A professora Maria da Glória Lopes afirmou em seu livro Jogos na
Educação: criar, fazer, jogar (2002. p.18), que:
“A escola está engatinhando com a teoria construtivista, tomando corpo
pouco a pouco, mas a criança não pode esperar e está superando estes
avanços. Se a criança hoje parece ser mais esperta, desenvolve-se antes do
tempo, pois algumas habilidades foram estimuladas precocemente, é porque
tem permissão para expressar suas vontades e seu intelecto é muito mais
estimulado. Porém, ela tem diferentes formas de ansiedade, de medos e
insegurança com os quais o educador tem de estar preparado para lidar.
Não há como discordar desse argumento, pois é notório que o mundo
se agita e alcança a todo o momento novos estágios tecnológicos. Se a escola
e seus atores ainda continuarem atuando como se estivessem em épocas
passadas, isto pode trazer sérios prejuízos para a formação dos alunos. Nisto,
a mesma professora Maria da Glória Lopes também concorda quando diz que
“o desenvolvimento infantil precisa acontecer concomitantemente nas
diferentes áreas para que haja o equilíbrio necessário entre elas e o individuo
como um todo”.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
2
Utilizar jogos no ensino da matemática não é apenas uma necessidade
para que os alunos possam entender melhor a disciplina, ela torna-se mais
urgente diante do que o mundo vem proporcionando em avanço tecnológico e
também em dificuldades.
“Um dos pontos importantes para que o professor possa atualizar sua
metodologia é perceber que a criança de hoje é extremamente questionadora,
não engole os conteúdos despejados sobre ela sem saber por quê , ou,
principalmente para quê. Portanto, o professor deve preocupar-se muito mais
em saber sobre como a criança aprende do que como ensinar”. (Lopes, 2002.
p.22).
Os professores e psicopedagogos têm através dos jogos, uma nova e
valiosa forma para transmitir os conteúdos da matemática, superando os
problemas que dificultam a aprendizagem, inclusive o medo que os alunos têm
da disciplina. Agindo com novas formas de ensinar, aplicando os jogos nas
aulas, o que parece chato e enfadonho, o que inspira medo, isto pode tornar-se
dinâmico e prazeroso. Além disso, os jogos vão permitir ao professor e ao
psicopedagogo reconhecerem com mais facilidade o grau de aprendizagem
dos alunos, pois eles se mostrarão com muito mais autenticidade na aplicação
do jogo do que numa aula ou avaliação tradicional.
Além de tudo o que foi exposto, é importante ressaltar a idéia de que
educar é, também, “criar desafios, pois é a necessidade a mãe de todas as
soluções. Estimular a construção do conhecimento a partir das motivações
naturais e cada aluno, criando desafios adequados, passa a ser mais uma
entre as muitas responsabilidades” (Rizzo.1996. p.24).
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
3
BIBLIOGRAFIA
ALBUQUERQUE, Irene de. Metodologia da Matemática. Rio de Janeiro: Ed. Conquista, 1953. ANTUNES, Celso, Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2000. AZEVEDO, Edith D. M. Apresentação do trabalho Montessoriano. In: Ver. De Educação & Matemática no.3, 1979 (pp. 26 – 27) CASTELNUOVO, E. Didática de la Matemática Moderna. México: Ed. Trillas, 1970. da Teoria de Piaget. Trad. Maria Célia Dias Carrasqueira. São Paulo: Trajetória Cultural, 1991. CONTAS SEM CANSAÇO. Reportagem da Revista Nova Escola, edição 101, Editora Abril, abril de 1997. DOLLE, Jean-Marie. Para compreender Jean Piaget. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. ELKONIN, Daniil B. Psicologia do Jogo. São Paulo: Martins Fontes, 1998. KAMII, Constance. A criança e o número. São Paulo: Papirus, 2002. KAMII, Constance. DeVries, Rheta. Jogos em Grupo na Educação Infantil: Implicações LEONTIEV, Aléxis N. O desenvolvimento do psiquismo na criança. In: O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Horizonte Universitário, 1978. LINHARES, Célia Frazão Soares. A Escola e Seus Profissionais: Tradições e Contradições. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1989. LOPES, Josiane. Matemática; uma proposta de ensino a partir da teoria das inteligências múltiplas. Revista Nova Escola. Edição 101. Editora Abril, abril de 1997. LOPES, Maria da Glória. Jogos na Educação: criar, fazer, jogar. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2002. MACEDO, Lino. Et all. Jogos e Situações- Problema. Porto Alegre: Artmed Editora, 2000.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
4
OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky – Aprendizado e desenvolvimento:um processo sócio-historico. São Paulo: Scipione, 1997. PARONLIN, Isabela Cristina Hierro. Resolvendo a matemática. Artigo piblicado no site www.aprendervirtual.com, consultado em 10 de set. 2006. PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. 2.ed. Rio de Janeiro; Zahar, 1975. PINTO, Maria Alice Leite (org.). Psicopedagogia diversas faces, múltiplos olhares. São Paulo: Olho d’água, 2003. P0NCE, Aníbal. Educação e luta de classes. São Paulo: Cortez, 1985. PORTO, Olívia. Psicopedagogia Institucional, teoria, prática e assessoramento psicopedagógico. Rio de Janeiro: Wak, 2006. REPETÊNCIA é vilã no ensino do Rio. O GLOBO, Rio de Janeiro, 16 mar. 2003. p.25 REVISTA NOVA ESCOLA. São Paulo; mar. 2002. p.38 REVISTA NOVA ESVOLA. São Paulo; maio 1996. p.93. REVISTA PSIQUE, edição especial. São Paulo; 2007. p.41 RIZZO, Gilda. Jogos Inteligentes: A construção do raciocínio na Escola Natural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio, ou da educação. São Paulo: Difel, 1968. THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 7. ed. São Paulo: Cortez, 1996. USOVA, A. P. La ensenanza em el circulo infantil. Habana: Editorial Pueblo y Educacion, 1976. VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
5
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO 1
Jogos: Conceitos Gerais 10
1.1 - A Pedagogia Tradicional 10
1.2 - O papel dos jogos na Educação 11
CAPÌTULO 2
Matemática: Um Jogo Temido 19
CAPÍTULO 3
Jogos na Matemática: Um Recurso Contra o Medo 26
3.1- A Psicopedagogia Contribuindo Para os Eventuais
Bloqueios 44
CONCLUSÃO 48
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 50
ÍNDICE 52
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
6
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes
Título da Monografia: O Lúdico na Educação - Razões Psicopedagogicas
para a aplicação do lúdico no ensino da Matemática nas séries iniciais:
desmontando o falso medo da disciplina
Autor: Maria da Graça Mattoso Brandt
Data da entrega: 26/03/2007
Avaliado por: Maria Poppe
Conceito:
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
7
CAPÍTULO 1 – JOGOS: CONCEITOS GERAIS
Neste capítulo iremos abordar a busca de novos conhecimentos de
aprendizagem, mais adequados às necessidades de nossas crianças e ao
mundo como ele hoje se apresenta, procurando um novo referencial para a
educação, tendo em vista a gravidade dos problemas enfrentados não apenas
no setor educacional, mas também nas mais diferentes áreas do conhecimento
humano.
1.1- A Pedagogia Tradicional
A escola tradicional tinha como importante característica o fato de ser
essencialmente hierárquica. As relações entre aluno e professor davam-se em
uma situação de verticalidade onde o professor era a autoridade suprema do
conhecimento, que era transmitido e devia ser assimilado pelo aluno quer que
quisesse ou não. O sucesso escolar era medido pela quantidade de matéria
assimilada e pela conduta disciplinada do aluno, que consistia em não dar
demonstrações exteriores com respeito à qualidade ou quantidade do que lhe
era ministrado. Era, essencialmente, uma escola fechada para as novidades
porque baseava-se na tradição e media seus resultados pela sistematização do
conteúdo. O aluno considerado o mais brilhante era o que conseguia
demonstrar, nas provas e testes, a quantidade de formulas, datas e
“conhecimentos” que memorizou. As principais preocupações da educação
elementar eram a alfabetização e a religião. Os métodos, baseados no
autoritarismo, enfatizavam a memorização, o trabalho árduo e a disciplina, cuja
falta era punida severamente.
Com Rousseau deu-se a primeira grande revolução nas teorias
educacionais desde a Idade Média. Rousseau (1968) chamou a atenção para o
fato de que a criança não pode ser considerada um adulto em miniatura e
mostrou a necessidade de o mestre ajudar o aluno a crescer e a se
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
8
desenvolver de uma forma natural. Com isso, mudou a relação professor/aluno,
inspirando outros pesquisadores a continuar a revolução que iniciou, tais como
Pestallozi, Froebel, John Dewel e Maria Montessori.
A escola tradicional entendia, também, o ensino com sendo a mera
transmissão de conhecimentos, desconhecendo o papel do prazer e da
ludicidade no processo de escola/aprendizagem. Por outro lado, considerava
que aprender era coisa séria e brincar era outra atividade totalmente dissociada
do processo educacional. Conforme assinala Piaget (1975, p.193).
(...) a pedagogia tradicional sempre considerou o jogo como uma espécie de
alteração mental ou, pelo menos, como uma pseudo-atividade, sem
significação funcional e mesmo nociva às crianças, que ela desvia de seus
deveres.
Hoje em dia não podemos pensar em educação desprovida da ludicidade
necessária a um completo processo educacional. Torna-se, portanto, essencial
concluirmos o prazer ao ato de aprender e é no aspecto lúdico que vamos
buscar este prazer, que irá proporcionar ao educando a satisfação ideal para o
pleno desenvolvimento da aprendizagem e do conhecimento.
Entende-se, outrossim, que a escola deve ser um ambiente onde se
viabilize a socialização do conhecimento e as relações interpessoais, além de
possibilitar o incentivo ao trabalho em grupo, à busca de soluções coletivas a
troca de idéias e experiências.
1.2- O Papel dos Jogos na Educação
Procura-se, neste item, tecer algumas considerações acerca dos jogos
em geral e de sua aplicabilidade no processo educacional, baseando-nos
fundamentalmente nas concepções atuais da psicologia e pedagogia
modernas.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
9
Neste campo destacam-se vários teóricos, entre eles J. Piaget e L. S.
Vigotsky e os investigadores soviéticos D. B. Elkonin, A. N. Leotiev, A. V.
Zaparoshetz e A. P. Usova. Estes últimos, elaborando as teorias originais de
Piaget e os experimentos de Montessori a respeito do papel que ocupam os
jogos no desenvolvimento e educação das crianças, organizaram propostas
para utilização dos jogos como recurso pedagógico nas creches e pré-escolas
da União Soviética na primeira metade do século passado.
Piaget, (apud, 1991), estabelece uma teoria sobre as quatro fases ou
estágios, através das quais, pela interação com o meio, o individuo constrói
estruturas mentais cada vez mais complexa-desde o nascimento até a idade
adulta-adquirindo aptidões para o raciocínio lógico. São eles:
*Sensório motor: é o estagio em que o bebê se encontra. Caracteriza-se
pela falta de representação mental (função semi óptica) dos objetos e pela
ausência de linguagem da criança. Neste estagio a atividade intelectual é de
natureza sensorial e motora, trabalhando com as percepções e ação, ou
deslocamento do corpo.
*Pré-Operatório ou simbólico: vai geralmente, dos dois aos sete anos de
idade. Neste período, aparece a função semi óptica e a criança torna-se capaz
de evocar os objetos em sua ausência, por meio da manipulação dos símbolos
mentais. As imagens são tratadas como verdadeiros substitutos dos objetos. É
a idade da “explosão lingüística”, do “faz de conta” e do egocentrismo. Nesta
fase o pensamento é extremamente lúdico, e a criança se utiliza do jogo
simbólico para transformar o real ao sabor de seus desejos do momento;
*Operatório concreto: vai, aproximadamente, dos sete aos doze anos de
idade. Surgem novas formas de organização intelectual, que completam as
construções mentais anteriormente esboçadas. A criança já se torna capaz de
distinguir seu ponto de vista do dos outros, libertando-se do egocentrismo
social e intelectual. A linguagem verbal é cada vez mais importante. Neste
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
10
estagio, constrói novos esquemas internos, ou operações, que serão aplicados
em sua relação com o mundo. Essas operações ocorrem somente em relação
a objetos concretos e situações reais.
*Operatório formal: é o período que ocorre por volta dos doze anos de
idade, quando se dá uma transformação fundamental do pensamento da
criança, que se liberta do objeto real e passa a construir teorias e reflexões,
baseando-se não mais sobre operações concretas e sim numa lógica abstrata.
Já se interessa pelas transformações sociais e relaciona-se socialmente com
um adulto.
Para Piaget (1975), dois conceitos são fundamentais para se entender o
papel do jogo como instrumento pedagógico: a assimilação e a acomodação,
que são essenciais no funcionamento da inteligência, estando presente em
todas as ações intelectuais.
A relação entre elas vai mudando e ocasionando uma série de
desequilíbrios ao longo dos diferentes estágios de desenvolvimento. O jogo
representa um momento em que essas funções não estão equilibradas,
predominando a assimilação sobre a acomodação. Na concepção piagetiana, o
jogo é definido como sendo “a assimilação quase pura, ou seja, pensamento
orientado pela preocupação dominante da assimilação individual” (Piaget,
1975, p.119).
Piaget (1975) classifica os jogos de acordo com a evolução das
estruturas mentais do ser humano, caracterizando três formas básicas de
atividade lúdica, de acordo com o estagio do desenvolvimento: os jogos de
exercícios, os jogos simbólicos e os jogos de regras.
• Jogos de exercícios: constituem a primeira forma de jogo do ser
humano; correspondem a atividade lúdica do período de
desenvolvimento sensório-motor, não supõe o pensamento nem
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
11
qualquer estrutura representativa especialmente lúdica. Põe em ação
um conjunto variável de condutas, mas sem modificar as respectivas
estruturas, traduzindo-se em gestos e ações que se repetem somente
pelo prazer funcional.
• Jogos simbólicos: são os que se seguem no processo de
desenvolvimento da criança, predominando na fase pré-operatória.
Consiste na representação de um objeto ausente que passa a ser
substituído por um elemento fictício, escolhido pela apreensão de uma
semelhança parcial com o objeto real, no processo caracterizado pelo
que Piaget chama de assimilação deformante, visto que, o vinculo entre
o significante e o significado é inteiramente subjetivo. De acordo com
essa concepção teórica, a criança vale-se do brinquedo para adaptar-se
a um mundo fictício e social que não compreende; dessa forma ela pode
reintegrar fatos, passado a representá-los em situações diferentes e,
assim, satisfazer seus desejos, equilibrando-se afetiva e cognitivamente.
• Jogos de regras: aparecem numa fase mais avançada do
desenvolvimento intelectual da criança, em que ela já é capaz de
diferençar e integrar diversos pontos de vista; estes jogos supõem
necessariamente relações sociais interindividuais, uma vez que para o
seu funcionamento é necessário estabelecer regras de comportamento
que são impostas pelo grupo. Desta forma, os jogos regrados
possibilitam um equilíbrio entre a assimilação do eu e a vida social. Os
jogos de regra são marcados pela presença do outro e, portanto, têm um
caráter coletivo; supõem características como a competição, o desafio e
a regularidade.
Vigotsky, juntamente com Elconin e Leontiev, considera o jogo dentro de
uma perspectiva biológica determinada, como um elemento construído sócio-
historicamente pelo individuo e que se modifica em função do meio cultural e
da época em que o sujeito está inserido.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
12
Uma idéia central para a compreensão das concepções de Vygotsky é a
idéia de mediação, na qual o homem opera com os recortes do real, através
dos sistemas simbólicos que recebe do meio social em que vive. O sistema
simbólico básico de todos os grupos humanos é a linguagem, que tem as
funções básicas do intercambio social e do pensamento generalizante.
Para Vygotsky (1989), o jogo constitui-se numa atividade infantil na qual
as crianças em grupo ou mesmo sozinhas, procuram compreender o mundo e
as funções humanas nas quais se encontram inseridas quotidianamente.
Vygotsky propõe o conceito de zona de desenvolvimento proximal,
fundamental para esclarecer o processo de desenvolvimento. Tal conceito
pode ser concebido como o processo resultante da inserção da criança em
atividades socialmente compartilhadas com outros e que, nas palavras de
Vygotsky (1989, p.97), caracteriza como.
“A distancia entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma
determinar através da solução independente de problemas, e o nível de
desenvolvimento potencial determinado através da solução de problemas sob a
orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes”.
Os estudos de Vygotsky, citados por Oliveira (1997), estão relacionados
principalmente às funções psicológicas superiores típicas do ser humano, ou
seja, a consciência, a memória, a imaginação, a deliberação e a decisão e a
intencionalidade, em contraposição às funções psicológicas elementares:
reflexos, automatismos, e a associações simples.
Quando Vygotsky discute o papel do lúdico, refere-se principalmente ao
jogo de “faz de conta”. Como é sabido, o comportamento das crianças
pequenas é fortemente determinado pelas características das situações
concretas em que se encontram. Na brincadeira de “faz de conta”, a criança
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
13
será levada a agir num mundo imaginário, onde a situação é definida pelo
significado estabelecido pela brincadeira e não pelos elementos reais
concretamente presentes. O jogo cria uma zona de desenvolvimento proximal
para a criança, pois além de ser uma situação imaginaria, é também uma
atividade regida por regras. São estas que fazem a criança agir de forma mais
avançada do que a habitual para a sua idade, pois, para brincar conforme
essas regras, a criança deve se esforçar para exibir um comportamento
semelhante ao de quem está imitando.
De acordo com Vygotsky (1989), o jogo fornece ampla estrutura básica
para criar um novo tipo de atitude da criança com relação ao mundo real. Por
meio deles é desenvolvida a ação na esfera imaginaria em situações de faz -
de- conta, o que possibilita a criação das intenções voluntárias e a formação
dos planos das motivações volitivas, ou seja, aquelas que dependem de sua
vontade. Por isso, os jogos constituem-se no mais alto nível de
desenvolvimento pré-escolar.
Segundo Leontiev, o jogo de “faz de conta” segue no período pré-
escolar, em que a criança já é capaz de desenvolver algumas atividades
essenciais, mas não pode, sozinha, satisfazer suas necessidades vitais de
sobrevivência ou de conhecimento do mundo real e simbólico onde se
encontra. De acordo com este autor (1978, p. 287),
(...) a idade pré-escolar é o período da vida da criança em que se abre pouco a
pouco à mesma, o mundo da atividade humana que a rodeia. Pela sua
atividade e, sobretudo, por seus jogos, que ultrapassam o quadro estreito da
manipulação dos objetos circundantes e da comunicação com os pais, a
criança penetra num mundo mais vasto de que se apropria de forma ativa.
Toma posse do mundo concreto enquanto mundo de objetos humanos com o
qual reproduz as relações humanas.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
14
Elkonin (1998, p.32), em seus estudos sobre o jogo, tendo por base as
formulações teóricas de Vygotsky, reafirma que o jogo é uma forma peculiar de
atividade infantil, e acrescenta uma importante contribuição quando apresenta
uma hipótese de que a unidade fundamental do jogo seria a situação
imaginaria, na qual a criança assume o papel de outra pessoa, realiza suas
ações e estabelece suas relações típicas. Afirma que o jogo tem como objeto o
adulto, suas atividades e o sistema de suas relações com as outras pessoas.
Em suas palavras:
“O fundamento do jogo protagonizado em forma descolada não é o
objeto, nem seu uso, nem a mudança do objeto que o homem possa fazer, mas
acima de tudo as relações que as pessoas estabelecem mediante suas ações
com os objetos; não é a relação homem-objeto, mas a relação homem-
homem”.
Usova (1976) defende o uso dos jogos espaços privilegiados, pois
acredita que estes têm um papel fundamental a desempenhar na Educação
Infantil, independentemente do jogo ter sido ou não criado com objetivos
pedagógicos. Para ele a utilização dos jogos ultrapassa o papel de um mero
instrumento de aprendizagem. O professor deve observar, participar,
enriquecer e incorporar o conteúdo do jogo espontâneo, sendo que todos os
jogos devem ser valorizados. A escola, por sua vez, deve aproveitar o
conteúdo do jogo das crianças como um recurso a serviço do processo de
ensino-aprendizagem, introduzindo-o na classe e incorporando-o ao conteúdo
pedagógico.
Não é muito afirmar que a Matemática é, ainda que isto seja uma
fantasia ou uma frase que pegou, uma disciplina que atormenta muitos alunos
desde as séries iniciais. É fácil ouvir alunos reclamando dessa disciplina,
embora haja alunos que se declarem apaixonados pelos números. Em sendo
assim, pensar uma maneira pratica e prazerosa de ensinar essa disciplina é
mais do que uma simples questão de modismo, é uma necessidade.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
15
As dificuldades encontradas por alunos e professores no processo
ensino-aprendizagem da matemática são muitas e conhecidas. Por um lado, o
aluno não consegue entender a matemática que a escola lhe ensina, muitas
vezes é reprovado nesta disciplina, ou então, mesmo que aprovado, sente
dificuldades em utilizar o conhecimento “adquirido”, em síntese, não consegue
efetivamente ter acesso a esse saber de fundamental importância.
CAPÍTULO 2 – MATEMÁTICA: UM JOGO TEMIDO
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
16
Neste capitulo iremos abordar o valor da matemática e os primeiros
registros de seu domínio; as dificuldades encontradas por alunos e
professores; a repetência; a necessidade de uma educação mais dinâmica. Os
educadores devem incluir em seu planejamento estratégias que possibilitem
aos alunos se situarem no tempo e no espaço, sem que se percam no
caminho.
O dicionário mais comum, aquele usado pelos estudantes nas diversas
escolas, define Matemática como sendo a “ciência das grandezas e formas no
que elas têm de calculável e mensurável, isto é, que determina as grandezas
umas pelas outras segundo as relações existentes entre elas”. O volume I da
Biblioteca da Matemática Moderna, em sua edição de 1971, escrita por
Agostinho Silva e por Antônio Marmo de Oliveira, afirma que a matemática tem
um caráter universal e muito amplo, tendo os primeiros registros de que se tem
notícia a data de IX AC., ocasião em que ela ainda engatinhava na Babilônia.
Desenvolvida pelos gregos, ela entra num período de ocaso, momento em que
os árabes dominam Alexandria e passam a ter o domínio sobre boa parte da
região que os gregos dominavam. Na Índia, os árabes encontraram um outro
tipo de matemática: a álgebra e a aritmética, além do número zero, algo novo
no sistema de numeração daquela época. Esse livro apresenta varias
informações históricas quanto à origem da matemática, mas não consegue
apresentar uma definição satisfatória do que vem a ser essa disciplina.
As dificuldades encontradas por alunos e professores no processo
ensino-aprendizagem da matemática são muitas e conhecidas. Por um lado, o
aluno não consegue entender a matemática que a escola lhe ensina, muitas
vezes é reprovado nesta disciplina, ou então, mesmo que aprovado, sente
dificuldades em utilizar o conhecimento “adquirido”, em síntese, não consegue
efetivamente ter acesso a esse saber de fundamental importância. É a
matemática se transformando em algo temido, num jogo onde os alunos se
transformam em reféns do próprio medo.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
17
O professor, por outro lado, consciente de que não consegue alcançar
resultados satisfatórios junto a seus alunos e tendo dificuldades de, por si só,
repensar satisfatoriamente seu fazer pedagógico procura novos elementos –
muitas vezes, meras receitas de como ensinar determinados conteúdos – que,
acredita, possam melhorar este quadro.
A revista Nova Escola (março 2002) p.38, publicou uma matéria onde
essa dificuldade em lidar com a disciplina é abordada. Segundo o texto, o
cotidiano das crianças camponesas tem muito a fornecer informações sobre a
matemática, situações que elas vivem sem maiores dificuldades e com pouca
formalidade. A reportagem afirma que essas crianças, ao usarem a linguagem
própria,
“fazem uma matemática peculiar, ligada às necessidades reais. Durante
o plantio, desenvolvem noções de geometria ao traçar e dividir canteiros.
Fazem estatísticas e cálculos ao contar e separar sementes. Finanças, ao
estabelecer preços para a produção. Lidam com volumes e proporção ao
estipular quantidades de adubo. Observam regularidades no crescimento e no
formato das plantas” (p.25).
Ainda que pareça que tudo será mais fácil para essas crianças, o texto
da citada revista acrescenta um alerta:
“Na escola, essas crianças costumam levar um choque. A matemática
que lhes é imposta mais parece grego. Trata dos mesmos temas, mas
despreza a informação que vem de casa. Tudo em nome do cumprimento de
um currículo ultrapassado, abstrato, baseado numa formalização proposta há
mais de 2000 anos. O resultado não poderia ser outro. O aluno cria aversão à
disciplina, não vê utilidade no que é ensinado e, é claro, vai mal”.
É a educação ignorando o conhecimento que cada aluno tem antes de
ingressar na escola, é a realidade sendo ignorada em prol de um sistema, de
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
18
um currículo e de uma metodologia que muita das vezes não colabora nem
com o professor e muito menos com o aluno. È o medo da disciplina surgindo.
Essa mesma reportagem tem muito a contribuir com esse argumento. Há
um parágrafo que comenta que esse fracasso não deve ser encarado como
exclusiva responsabilidade do aluno. A reportagem apresenta a afirmação do
professor Luiz Marcio Imenes, engenheiro civil, mestre em Educação
Matemática e autor de livros didáticos. Segundo ele, os erros são históricos. O
principal deles: gastar 95% do tempo das aulas fazendo continhas. “O ensino
deve estar voltado à resolução de problemas”, enfatiza Luiz Márcio (Nova
Escola, março. 2002).
A professora Célia Frazão Soares Linhares, (1989,p.37) afirma que:
“não é sem razão que a escola tem oscilado entre assumir funções
messiânicas- “suprindo” as deficiências da sociedade- ou reduzir-se às tarefas
do ensino, burocratizadas e tecnificadas de modo a objetar o homem,
alienando-o de si mesmo e de sua sociedade”.
Afastando-se do aluno em prol do cumprimento de um programa e de um
currículo, a escola contribui para que os índices de evasão e de repetência
sejam preocupantes, como vem demonstrando exaustivamente a imprensa.
Um exemplo disso é a reportagem do dia 16 de março de 2003, publicada no
jornal O GLOBO, onde se lê que “a repetência é vilã no ensino do Rio”. Nessa
mesma citada edição também foi publicado um editorial onde a Redação afirma
que
“a evasão brutal, que se desenha nas estatísticas, equivale a um
atestado de incompetência passado às escolas (...) Para onde correr? Não há
milagres. E nem a questão é tanto de dinheiro bruto: o Brasil está gastando
mais de 5% do PIB em educação – taxa comparável à de países
desenvolvidos”.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
19
Na reportagem sobre a repetência há uma afirmação do educador Celso
Niskier em que ele trata o assunto como sendo de urgência, pois há um desafio
do Estado, que é manter os alunos na escola. “Não adianta tirar as pessoas da
ignorância para levá-las a semi-ignorância”. Sem professores motivados e um
acompanhamento social, vamos continuar com índices altos de evasão. Do
jeito que está, o ambiente escolar não funciona”, afirmou Niskier.
Como se percebe, o problema não é exclusivo da disciplina Matemática,
é um problema da Educação. Mas é certo que, cada disciplina sendo melhor
trabalhada pelo professor, sendo mais atraente e prática, ela pode contribuir
para que essa situação venha a oferecer melhoras.
A necessidade de uma educação mais dinâmica não é uma novidade,
pois vários teóricos vêm apontando para isto não é de hoje. O livro “Jogos e
Situações Problemas” tem uma afirmação baseada em Jean Piaget que
assegura que
“é preciso adotar uma metodologia de ensino que considere o aluno
como um ser que pensa e pode aprender qualquer matéria desde que o
conteúdo trabalhado tenha algum significado ou possa remetê-lo a algo já
conhecido” (Macedo, 2000.p.33). É exatamente nesta abertura, visando
atender essa necessidade que a proposta do lúdico se enquadra no ensino da
matemática, no que concordam Constance Kamii e Rheta de Vries quando
afirmam, no livro Jogos em Grupo na Educação Infantil, que “nas folhas de
exercícios, os problemas já vêm impressos, e o professor escolhe qual dar dia
a dia. Nas lições e exercícios, a professora sabe tudo e é o único juiz do certo e
errado. Num jogo de cartas, ao contrario, a verdade vem das crianças”
(Kamii,1991.p.195).
A dissertação de Mestrado de Cheila Lessa Rodrigues, apresenta à
Universidade Federal Fluminense sob o titulo Matemática sem lápis e papel:
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
20
uma proposta sócio-construtivista para a alfabetização registrou uma conclusão
que identifica que as reprovações em matemática não foram devidas a um
insucesso das crianças, mas sim em um fracasso da escola ensinar. Eis uma
das razões que vem construindo um grande dragão na imagem que os alunos
fazem da matemática.
Também a psicopedagoga Isabela Cristina Hierro Paronlin, em artigo
publicado no site www.aprender virtual.com (03/08/2002), afirma que quem é
professor ou pessoa acostumada a andar nos corredores da escola,
certamente já ouviu, principalmente os jovens, “praguejando” que odeiam a
disciplina matemática. Segundo ela, “a matemática tem sido e continua sendo a
disciplina campeã dos impropérios”. No artigo citado, Isabel faz alusão à uma
pesquisa de rua realizada em Curitiba em 2002, em que fucou evidenciado que
o ódio pela matemática é significativo e a diferença para as outras disciplinas,
como Português e Física (em empate técnico), é de mais da metade.
A dificuldade com a disciplina desconsiderada, num primeiro momento,
que a questão dificultadora pode também encontrar-se no texto, no enunciado,
e que por isso deve ser lido e compreendido como uma espécie de diálogo,
uma interação entre leitor, um tipo de comunicação realizado através de um
sistema de signos, com uma unidade de sentido que se caracteriza por um
conjunto de relações, entre os quais se destacam a coerência e a coesão.
Portanto, é preciso considerar que a leitura é o ponto de partida para
compreender o sentido potencial do texto, e compreender não é a mesma coisa
que descobrir uma lei, descobrir um princípio que regulamenta um
acontecimento ou penetrar um pensamento objetivo e racional, simplesmente
porque estes impõem um modo de organizar a idéia sem abri-la para a
discussão. Compreender refere-se, sim, à possibilidade de organizar o mundo
e as coisas e constitui um estado básico do ser humano e é, em ultima
instância, não só uma ponte para a tomada de consciência, mas também um
modo de existir no qual o indivíduo compreende e interpreta a expressão
registrada pela escrita e passa a compreender-se no mundo.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
21
Assim sendo, o texto matemático deve ser o centro da vivência entre
professor e aluno, despontando como veículo para a discussão, para a
reflexão, ou criação de novas práticas, o que é muitas vezes esquecido, uma
vez que a leitura tornou-se um ato mecânico, sem a devida entonação e sem
significado. Nesse processo, o leitor constrói significados e não apenas os
capta, porque ele tem um papel ativo, não é mero receptor. Além disso, esse
papel exige dele um trabalho interpretativo no sentido de destacar aqueles
aspectos que serão apropriados pela compreensão. Por isso, pode-se dizer
que a interpretação “dês-cobre” aquilo que a compreensão projeta.
A leitura é mais eficiente quando o leitor conhece as características, os
tipos de estrutura própria do texto cuja leitura vai iniciar. Quanto mais se
conhece as convenções do gênero textual, mais fácil é abordar o texto com
segurança. Se o aluno entender as peculiaridades de cada texto e notar que
um texto matemático tem números, letras que simbolizam incógnitas, palavras
específicas que são usadas naquelas circunstâncias e uma determinada
estrutura física, vai entender mais facilmente a intenção daquele texto.
Como conseqüência, percebe-se muitos adolescentes e adultos dizendo
que não conseguem aprender matemática, mas ao serem questionados acerca
de suas tentativas de aprendizagem, constata-se que não se submeteram aos
vários procedimentos que essa aprendizagem requer. Pode-se afirmar que
muitos se quer tentam aprender ou resolver uma situação matemática, posto
que se colocam em estado emocional de negação e acabam sem estrutura
lógicas disponíveis e instrumentos acadêmicos adequados para o desempenho
com sucesso, da tarefa proposta.
Uma outra questão que, apesar de sua aparência antiga, continua viva
entre os educadores que ensinam matemática diz respeito ao pensar. É
comum ouvir dos professores que eles consideram que o grande desafio da
matemática é ensinar os alunos a pensarem, a desenvolverem o raciocínio
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
22
lógico. Ou ainda que a dificuldade que por vezes os alunos apresentam para
aprender matemática está relacionado ao fato de eles possuírem uma baixa
habilidade de pensamento.
Então, é preciso considerar tanto a leitura quanto a habilidade em pensar
como sendo duas ferramentas que o professor vai precisar ensinar o aluno a
usar, pois somente assim ele vai poder começar a adquirir condições de evoluir
no aprendizado da disciplina.
O Jornal do MEC em sua edição de março de 2002 apresenta uma
reportagem de Elaine Daher sob o titulo “Mentes Brilhantes” abordando o
problema do ensino de matemática ao Brasil. O texto começa fazendo menção
a um filme – Uma mente brilhante – que conta a historia do matemático John
Nash,prêmio Nobel de Economia de 1994. Segundo o texto, no Brasil o desafio
que envolve a matemática é diferente do que acontece em outros países e do
que aborda o filme citado. “Em teses gerais, os estudantes do ensino
fundamental e do ensino médio têm tido péssimo desempenho na matéria. Os
professores não são bem formados, os salários não são bons, atualmente o
prestigio social do professor do ensino básico é pequeno e o numero de alunos
cresceu muito. Tudo isto nos conduz a um problema serio de competência do
ensino”, analisa Jacob Palis, diretor do instituto de matemática Pura e Aplicada,
órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia”.
Para Jacob Palis (1999), a matemática é considerada a matéria mais
difícil pelos estudantes porque os professores não sabem ensinar aquilo que,
na verdade, eles próprios não sabem muito bem. Para ele, quem entende é o
professor que adora, que tem paixão pela disciplina. Segundo opinião de Palis,
a matemática desenvolve o raciocínio lógico, fundamental para todas as áreas
do conhecimento, fundamental até para a resolução dos problemas cotidianos
comuns, de um cidadão.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
23
CAPÍTULO 3 – JOGOS NA MATEMÁTICA:
UM RECURSO CONTRA O MEDO
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
24
Neste capítulo iremos abordar o aspecto lúdico de jogar; trabalhar
primeiramente com situação concreta na escola para que depois possa
desenvolver a abstração. Dar aos aprendentes uma formação educativa:
honestidade, companheirismo, atividade de simpatia ao vencedor ou ao
vencido, respeito às regras estabelecidas. O recurso contra o medo é obtido
através das interferências do psicopedagogo que busca emoção e prazer nas
atividades lúdicas.
Além do aspecto lúdico de jogar e brincar, brinquedos industrializados ou
feitos com sucata, que envolvem habilidades numéricas, de medidas ou
espaciais, podem se transformar em excelentes recursos estratégicos nas
aulas de matemática. Eles permitem o desenvolvimento do trabalho em grupo,
da linguagem oral e escrita, de diferentes habilidades de pensamento (
observar, comparar, analisar, sintetizar) e de conceitos matemáticos (quatro
operações, frações, números decimais).
Constance Kamii (1991) afirma que
“as crianças têm uma tendência forte, natura, de se envolver em jogos
de grupo. Todas as professoras de 1º grau sabem que a atividade favorita das
crianças no recreio são os jogos. Uma rápida visita às lojas de brinquedos
durante a época de Natal também nos convence de que jogos como damas e
loto são muito procurados. Os adultos também procuram pares para jogar
tênis, futebol, bridge, xadrez e boliche como recreação”. (p.50)
Sendo assim, nada mais justo que se procure empregar jogos na
educação. Os jogos, além da componente competitiva, funcionam como
modelos de situações reais ou imaginárias. Há jogos dos mais variados tipos,
desde os de simples sorte (dados e loterias) até os de mais sofisticadas
estratégias, como o xadrez. Muitos deles podem ser estudados do ponto de
vista matemático, e outros têm regras que “obrigam” os jogadores a fazer
raciocínios do tipo lógico-matemático.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
25
O jogo, por sua característica, não é um comportamento especifico, mas
uma situação na qual esse comportamento adquire uma significação
especifica. Vê-se que o jogo supõe comunicação e interpretação. Para que
essa situação particular se crie, há uma decisão da parte dos jogadores,
decisão de participar do jogo, mas também de organizá-lo de acordo com
modalidades particulares. Sem livre escolha, isto é, possibilidade real de
decidir, não há mais jogo, e sim sucessão de comportamentos que têm sua
origem fora do jogador. Se um jogador de xadrez não é livre para decidir sua
próxima jogada, não é mais ele quem joga. Se uma criança não é livre para
decidir que sua boneca deve ir dormir, não é mais ela, de modo idêntico, quem
brinca. O jogo surge então, como um sistema de sucessões de decisões. Esse
sistema se expressa através de um conjunto de regras, pois as decisões
constroem um universo lúdico partilhado ou partilhável com os outros.
Nesse sentido, o jogo é um espaço social, já que não é criado por
natureza, mas após uma aprendizagem social e supõe uma significação
conferida por vários jogadores (um acordo). O jogo é lugar de experiência
específica quanto à linguagem e, dessa maneira, ele é suporte de
aprendizagem.
Na verdade, se o jogo pode concorrer com o sucesso da educação, isto
é, devido ao fato dele passar a idéia de que se opõe ao trabalho, a todo
trabalho, e, portanto, a esta forma especifica de trabalho que se constitui o
trabalho escolar. Aristóteles já dizia que para poder trabalhar é necessário
relaxar, reconstruir forças. O jogo, notadamente sob suas formas motoras, é
um dos meios para isso. Também é possível captar o interesse da criança pelo
jogo, colocando-o a serviço da educação.
A matemática tem mesmo um ramo, a Teoria dos Jogos, que estuda
situações nos quais opõem dois jogadores com objetivos antagônicos e em que
o resultado da ação de um deles depende do comportamento do outro. Trata-
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
26
se de uma disciplina que está inserida inclusive nas atividades mais
corriqueiras de nosso cotidiano.Cabe ao educador desvincular-se do
comodismo que traz um livro didático e mergulhar no maravilhoso mundo que
cerca a criança, na sua realidade, aproveitando cada oportunidade para sugerir
atividades que envolvam o raciocínio lógico-matemático de maneira efetiva e
prazerosa.
O professor nem sempre tem clareza das razões fundamentais pelas
quais os materiais ou jogos são importantes para o ensino-aprendizagem da
matemática e, normalmente são necessários, e em que momento devem ser
usados. Mas é importante que o docente tenha em mente o que explica kamii
(1991) quando afirma que “os jogos em grupo têm a vantagem de estimular
ações físicas e encorajar as crianças a manter-se mentalmente ativas”. Se a
proposta é tornar a educação mais atraente para facilitar a aprendizagem da
matemática, nada mais certo que tornar o aluno um participante ativo desse
processo, pois esse é o começo da garantia do sucesso da iniciativa.
Geralmente costuma-se justificar a importância dos jogos apenas pelo
caráter “motivador” ou pelo fato de se ter “ouvido falar” que o ensino da
matemática tem de partir do concreto ou, ainda, porque através deles as aulas
ficam mais alegres e os alunos passam a gostar da matemática. Entretanto,
será que podemos afirmar que o material concreto ou jogos pedagógicos são
realmente indispensáveis para que ocorra uma efetiva aprendizagem da
matemática?
Pode parecer, à primeira vista, que todos concordem e respondam, sim a
pergunta. Ma isso não é verdade. Um exemplo de uma posição divergente é
colocada por Carraher & Schilemann, ao afirmarem, com base em suas
pesquisas, que “não precisamos de objetos na sala de aula, mas de objetivos
na sala de aula, de situações em que a resolução de um problema implique a
utilização dos princípios lógico-matemáticos a serem ensinados”. (p.179). Isto
porque o material “apesar de ser formado por objetivos, pode ser considerado
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
27
como um conjunto de objetos “abstratos” porque esses objetos existem apenas
na escola, para a finalidade de ensino, e não tem qualquer conexão com o
mundo da criança”. (p.180). Ou seja, para estes pesquisadores, o concreto
para a criança não significa necessariamente os materiais manipulados, mas
as situações que a criança tem que enfrentar socialmente.
As colocações de Carraher & Schilemann servem de alerta: de que não
se pode responder sim aquelas questões sem antes fazer uma reflexão mais
profunda sobre o assunto. Com efeito, sabe-se que existem diferentes
propostas de trabalho que possuem materiais com características muito
próprias, e que os utilizam também de forma distinta e em momentos diferentes
no processo ensino-aprendizagem. Qual seria a razão para a existência desta
diversidade?
Na verdade, por trás de cada material, se esconde uma visão de
educação, de matemática, do homem e de mundo, ou seja, existe, subjacente
ao material, uma proposta pedagógica que o justifica. O avanço das discussões
sobre o papel e a natureza da educação e o desenvolvimento da pedagogia,
ocorrida no seio das transformações sociais e políticas contribuíram
historicamente para as teorias pedagógicas que justificam o uso na sala de
aula de materiais “concretos” ou jogos fossem, ao longo dos anos, sofrendo
modificações e tomando feições diversas.
Até o século XVI, por exemplo, acreditava-se que a capacidade de
assimilação da criança era idêntica à do adulto, apenas menos desenvolvida. A
criança era considerada um adulto em miniatura.Por essa razão, o ensino
deveria acontecer de forma a corrigir as deficiências ou defeitos da criança. Isto
era feito através da transmissão do conhecimento. A aprendizagem do aluno
era considerada passiva, consistindo basicamente em memorização de regras,
fórmulas, procedimentos ou verdades localmente organizadas. Para o
professor desta escola-cujo o papel era de transmissor e expositor de um
conteúdo pronto e acabado- o uso de materiais ou objetos era considerado
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
28
pura perda de tempo, uma atividade que perturbava o silêncio ou a disciplina
da classe. Os poucos que o aceitavam e utilizavam o faziam de maneira
puramente demonstrativa, servindo apenas de auxiliar a exposição, a
visualização e memorização do aluno. Exemplos disso são: o flanelógrafo, as
replicas grandes em madeira de figuras geométricas, desenhos ou cartazes
fixados nas paredes...Em síntese, estas constituem as bases do chamado
“Ensino Tradicional” que existe até hoje em muitas de nossas escolas.
Já no século XVII, este tipo de ensino era questionado. Comenius (1592-
1671) considerado o pai da Didática, dizia em sua obra “Didática Magna”
(1657) que “...ao invés de livros mortos, por que não podemos abrir o livro vivo
da natureza? Devemos apresentar a juventude as próprias coisas, ao invés das
suas sombras” (Ponce, 1985.p.127).
No século XVIII, Rousseau (1727-1778), ao considerar a Educação como
um processo natural do desenvolvimento da criança, ao valorizar o jogo, o
trabalho manual, a experiência direta das coisas, seria o precursor de uma
nova concepção de escola. Uma escola que passa a valorizar os aspectos
biológicos e psicológicos do aluno em desenvolvimento: o sentimento, o
interesse, a espontaneidade, a criatividade e o processo de aprendizagem, às
vezes priorizando estes aspectos em detrimento da aprendizagem dos
conteúdos.
É no bojo dessa nova concepção de educação e de homem que surgem,
primeiramente, as propostas de Pestalozzi (1746-1828) e de seu seguidor
Froebel (1782-1852). Estes foram os pioneiros na configuração da “escola
Ativa”. Pestalozzi acreditava que uma educação seria verdadeiramente
educativa se proviesse da atividade dos jovens. Fundou um internato onde o
currículo adotado dava ênfase à atividades dos alunos como canto, desenho,
modelagem, jogos, excursões ao ar livre, manipulações de objetos onde as
descrições deveriam preceder as definições; o conceito nascendo da
experiência direta e das operações sobre as coisas [ pp.17-18].
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
29
Posteriormente, Montessori (1870-1952) e Decroly (1873-1932),
inspirados em Pestalozzi iriam desenvolver uma didática especial (ativa) para a
matemática. A médica e educadora italiana, Maria Montessori, após
experiências com crianças excepcionais, desenvolveria, no inicio deste século,
vários materiais manipulativos destinados a aprendizagem da matemática.
Estes materiais, com forte apelo a “percepção visual e tátil”, foram
posteriormente estendidos para o ensino de classes normais. Acreditava não
haver aprendizado sem ação:
“Nada deve ser dado a criança, no campo da matemática, sem primeiro
apresentar-se a ela uma situação concreta que a leve a agir, a pensar, a
experimentar, a descobrir, a daí, a mergulhar na abstração
(Azevedo,1979.p.27).
Entre seus materiais mais conhecidos destacamos: “material dourado”,
os “triângulos construtores” e os “cubos para composição e decomposição de
binóculos, trinômios”
Decroly, no entanto, não põe nada na mão da criança materiais para que
ela construa, mas sugere como ponto de partida fenômenos naturais (como o
crescimento de uma planta ou a quantidade de chuva recolhida num
determinado tempo, para por exemplo, introduzir medições e contagens). Ou
seja, parte da observação global do fenômeno para, por analise, decompô-lo.
Castelnuovo (1970) denomina o método Decroly de “ativo-
analitico”enquanto que o de Montessori de “ativo-sintetico” (sintético porque
construtivo). Em ambos os métodos falta, segundo Castelnuovo, uma “certa
coisa” que conduz a criança a indução própria do matemático, é com base na
teoria piageteana que aponta para outra direção: A idéia fundamental da ação
é que ela seja reflexiva.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
30
Que o interesse da criança não seja atraído pelo objeto material em si ou
pelo ente matemático, senão pelas operações sobre o objeto e seus entes.
Operações que, naturalmente, serão primeiro de caráter manipulativo para
depois interiorizar-se e posteriormente passar do concreto ao abstrato.
Recorrer a ação, diz Piaget, não conduz de todo a um simples empirismo, ao
contrario, prepara a dedução formal ulterior, desde que tenha presente que a
ação, bem conduzida, pode ser operatória, e que a formalização mais
adiantada o é também [4,pp.23-28].
Assim interpreta Castelnuovo, o “concreto” deve ter uma dupla finalidade:
“exercitar as faculdades sintéticas e analíticas da criança”; sintética no sentido
de permitir ao aluno construir o conceito a partir do concreto, analítica por que,
nesse processo, a criança deve discernir no objeto aqueles elementos que
constituem a globalização. Para isso o objeto tem de ser móvel, que possa
sofrer uma transformação para que a criança possa identificar a operação- que
é subjacente [4,pp.82-91].
Resumindo, Castelnuovo defende que “o material deverá ser artificial e
também ser transformável por continuidade” (p.920. isso porque recorrermos
aos fenômenos naturais, como sugere Decroly, nele há sempre continuidade,
porém, são limitados pela própria natureza e não nos levam a explorar, isto é, a
idealizar o fenômeno por outro lado, podem conduzir à idéia de infinito, porém
lhes faltam o caráter de continuidade e do movimento (p.92).
Para contrapor ao que acaba de ser visto, seria necessário citar algumas
palavras sobre outra corrente psicológica: o behaviorismo, que também
apresenta sua concepção de material e principalmente, de jogo pedagógico.
Segundo Skinner, a aprendizagem é uma mudança de comportamento
(desenvolvimento de habilidades ou mudanças de atitudes) que decorre como
resposta e estímulos esternos, controlados por meios de esforços. A
matemática, nesta perspectiva, é vista, muitas vezes, como um conjunto de
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
31
técnicas, regras, formulas e algoritmos que os alunos têm de dominar para
resolver os problemas que o mundo tecnológico apresenta.
Os métodos de ensino enfatizam, além de técnicas de ensino como
instrução programada (estudo através de fichas ou módulos instrucionais) o
emprego de tecnologias modernas audiovisuais (retroprojetor, filmes, slides...)
ou mesmo computadores.
Os jogos pedagógicos, nesta tendência, seriam mais valorizados que os
materiais concretos. Eles podem vir no início de um novo conteúdo com a
finalidade de despertar o interesse da criança ou no final com o intuito de fixar
a aprendizagem e reforçar o desenvolvimento de atitudes e habilidades.
Para Irene Albuquerque(1953) o jogo didático “..;serve para fixação ou
treino da aprendizagem, é uma variedade de exercícios que apresenta
motivação em si mesma, pelo seu objetivo lúdico... Ao fim do jogo, a criança
deve ter treinado algumas noções, tendo melhorado sua aprendizagem” (p.33).
É preciso observar também a importância dada ao jogo na formação
educativa do aluno. “...através do jogo ele deve treinar honestidade,
companheirismo, atitude de simpatia ao vencedor ou ao vencido, respeito as
regras estabelecidas, disciplina consciente, acato as decisões do juiz...” (Idem,
p. 34).
Esta diversidade de concepções acerca dos materiais e jogos aponta
para a necessidade que o docente tem de ampliar sua capacidade reflexiva a
esse respeito.
Com isso, o que precisa ficar evidenciado é que, antes de optar por um
material ou um jogo, deve-se refletir sobre essa proposta político-pedagógica;
sobre o papel histórico da escola, sobre o tipo de aluno que se quer formar,
sobre qual matemática acreditar-se ser importante para esse aluno.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
32
O professor não pode subjugar sua metodologia de ensino a algum tipo
de material porque ele é atraente ou lúdico. Nenhum material é valido por si só.
Os materiais e seu emprego sempre devem, estar em segundo plano. A
simples introdução de jogos e atividades no ensino da matemática não garante
uma melhor aprendizagem desta disciplina.
É com alguma freqüência que pode ser observado em alguns
professores uma mistificação dos jogos ou materiais concretos. Até mesmo na
revista “Nova Escola” esta mistificação, pode ser percebida como mostra o
seguinte fragmento: “Antes a matemática era o terror dos alunos. Hoje... as
crianças adoram porque se divertem brincando, ao mesmo tempo que
aprendem sem decoreba e sem traumas...” Mariana Manzela (8 anos) confirma
isto: “é a matéria que eu mais gosto porque tem muitos jogos” [No.39, p. 16].
Ora, que outra função tem o ensino de matemática senão o ensino da
matemática? É para cumprir esta tarefa fundamental que lança-se mão de
todos os recursos que estão disponíveis.
Ao aluno deve ser dão o direito de prender. Não um “aprender”
mecânico, repetitivo, de fazer sem saber o que faz e por que faz. Muito menos
um “aprender” que se esvazia em brincadeiras. Mas um aprender significativo
do qual o aluno participe raciocinando, compreendendo, reelaborando o saber
historicamente produzido e superado, assim, sua visão ingênua, fragmentada e
parcial da realidade.
O material ou o jogo pode ser fundamental para que isso ocorra. Neste
sentido, o material mais adequado, nem sempre, será o visualmente mais
bonito e nem o já construído. Muitas vezes, durante a construção de um
material o aluno tem a oportunidade de aprender matemática de forma mais
efetiva.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
33
Em outros momentos, o mais importante não será o material, mas sim, a
discussão e resolução de uma situação problema ligada ao contexto do aluno,
ou ainda, à discussão e utilização de um raciocínio mais abstrato.
Já que “os jogos representam atividades tão prazerosas e interessantes
fora da sala de aula, vale a pena trazê-las para dentro da classe e tornar a
educação mais compatível com o desenvolvimento natural da crianças” ,
conforme afirma Kamii (1991. p. 47), não há razão para deixa-lo de fora do
processo ensino-aprendizagem, pois trata-se de recurso valioso e pratico, no
que concorda Celso Antunes (2000. p. 17) quando considera que “o jogo, em
seu sentido integral, é o mais eficiente meio estipulador das inteligências. O
espaço do jogo permite que a criança (e até mesmo o adulto) realize tudo
quanto deseja”. Quando entretido em um jogo, o individuo é quem quer ser,
ordena o que quer ordenar, decide sem restrições. Graças a ele, pode obter a
satisfação simbólica do desejo de ser grande, do anseio em ser livre.
Socialmente, o jogo impõe o controle dos impulsos, a aceitação das regras mas
sem que se aliene a elas, posto que são as mesmas estabelecidas pelos que
jogam e não imposta por qualquer estrutura alienante. Brincando com sua
espacialidade, a criança se envolve na fantasia e constrói um atalho entre o
mundo inconsciente, onde desejaria viver, e o mundo real, onde precisa
conviver.
Os amigos já sabiam da importância do brincar no desenvolvimento
integral do ser humano. Aristótetes quando classificou os vários aspectos do
homem, dividiu-os em homo sapiens (o que conhece e aprende) homo fober (o
que faz, produz) e o homo ludens (o que brinca, o que cria). Em nenhum
momento, im dos aspectos sobrepujou o outro como mais importante ou mais
significativo. Na sua imensa sabedoria, os povos antigos sabiam que mente,
corpo e alma são indissolúveis, embora tenham suas características próprias.
A capacidade de criar abstrações, de usar palavras para representar e
interpretar realidade, é típica do homo ludens, é uma variação do termo em
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
34
latim ludus, que designa “brincadeira” e também “jogo”, dando origem, entre
outras palavras, ao adjetivo “lúdico”. O dicionário registra essa expressão em
português como sendo um adjetivo que carrega o significado referente a jogos,
brinquedos, divertimentos, passatempos. Mais do que isso, lúdico se refere ao
jogo enquanto componente do comportamento humano.
A era capitalista com seu enfoque na produtividade e no lucro a qualquer
preço, passou a valorizar os atributos intelectuais e físicos em detrimento dos
valores espirituais tais como: sensibilidade, criatividade, senso estético
solidariedade, altruísmo, idealismo e humor. Isso colocou o jogo num plano
inferior quando o assunto é educação, desvalorizou-o e lançou-o no plano
exclusivo da diversão, quando ele também carrega em si características
possíveis de serem aproveitadas na educação.
O grande trunfo das atividades lúdicas, é o fato de elas estarem
centradas na emoção e no prazer, mesmo quando o jogo pode trazer alguma
angústia ou sofrimento. Nesses casos, quando a criança exprime emoções
consideradas negativas, ela funciona como uma “catarsis”, uma limpeza da
alma, que dá lugar para que outras emoções mais positivas se instalem.
Sentimentos como raiva, tristeza ou frustração fazem parte da vida diária de
cada um. Poder exprimi-los através de um jogo, uma brincadeira, não só trará
alívio do fardo, como ensinará a utilizar o humor de forma a fortalecer a
resiliência do individuo. Chutar uma bola ou virar cambalhota podem ser
maneiras saudáveis de lidar aquela adrenalina concentrada no organismo e
que, muitas vezes, não permite que haja a concentração adequada nas
atividades mentais, incluindo aí o aprendizado.
Assim considerando, a utilização do jogo na matemática é uma saída
possível e eficaz não só para garantir o aprendizado da disciplina, mas também
para jogar por terra a imagem geradora de medo que vem sendo construída ao
longo do tempo.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
35
O jogo deve ser usado na educação matemática obedecendo a certos
níveis de conhecimento dos alunos tidos como mais ou menos fixos. O material
a ser distribuído para os alunos deve ter uma estruturação tal que lhes permita
dar um salto na compreensão dos conceitos matemáticos. A criança, coloca
diante de situações lúdicas, apreende a estrutura lógica da brincadeira e, deste
modo, apreende também a estrutura matemática presente. Desse modo, o jogo
na educação matemática vai se justificando ao introduzir uma linguagem
matemática que pouco a pouco será incorporada aos conceitos matemáticos
formais, ao desenvolver a capacidade de lidar com informações e ao criar
significados culturais para os conceitos matemáticos e estudo de novos
conteúdos.
Aplicando-se o lúdico na matemática, o aluno vai ganhando, além de um
aprendizado facilitado, uma instrumentalizaçao que dá a ele um maior poder de
raciocínio para o enfrentamento e para a busca de solução de diferentes
situações-problema com que ele se depara no seu dia-a-dia.
Foi assim, resolvendo problemas práticos e envolvendo a quantificação
da realidade, ora contando ora medindo, que o ser humano, através da história,
fez e continua fazendo matemática.
Fazer matemática é estabelecer relações, elaborar e comunicar
estratégias de resolução de problemas, argumentar, procurar defender e
validar seu ponto de vista, reformular ações a partir dos erros, antecipar e
verificar resultados, agir, enfim, como produtor de conhecimentos e não como
mero reprodutor, como aquele que não resolve, mas também é capaz de
propor problemas.
E nessa construção de uma capacidade de entender a matemática a
partir de pontos reais, dos jogos e situações do cotidiano, precisa começar bem
cedo, logo nas séries iniciais, e porque não dizer, até mesmo na Educação
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
36
Infantil. Essa postura, além de facilitar a aquisição de conhecimentos na
disciplina, será uma contribuição para que sejam formados cidadãos
autônomos, conscientes, reflexivos, críticos e transformadores.
Cabe, portanto, às escolas e aos educadores sistematizarem um
trabalho em matemática carregado de significados para a criança que, ao partir
dessa matemática que ela já faz, intuitivamente brincando, jogando e
resolvendo problemas na sua relação com o meio, possa ser mobilizada para
um pensar a sua realidade e a construir o conhecimento matemático de modo
consistente e com pleno entendimento.
Desde muito cedo, as crianças estão em contato com a matemática nas
suas atividades cotidianas fora da escola. Elas demonstram uma aquisição
informal, espontânea quanto a conceitos matemáticos, envolvendo
compreensão numérica, noções sobre espaço e grandezas. Essas
aprendizagens realizadas fora do contexto escolar são muito variadas e
construídas conforme o ambiente sócio-econômico e cultural.
Os adultos podem ter esquecido o valor dos brinquedos, não o valor de
aquisição, mas aquele que a criança dá para cada um dos objetos que ela
admira e brinca.Pode parecer uma afirmação pueril, mas a criança, enquanto
brinca, está entrando em contato com o mundo, está começando a manuseá-
lo, a entende-lo. Talvez seja por esse motivo que o famoso cientista Albert
Einstein tenha assegurado que “brincar é a mais elevada forma de pesquisa”.
O professor não pode desconsiderar esse potencial que está a sua disposição,
que pode ser utilizado não somente para facilitar a compreensão da disciplina,
mas para tornar mais dinâmica e humana a aula.
O filósofo grego Platão tem uma frase que demonstra esse lado humano,
essa coisa especial que o jogo e o brinquedo têm, a de despertar reações em
que as pessoas se apresentam como são, onde a camuflagem originada da
timidez e do medo não é tão fácil de ser utilizada. Talvez tenha sido por isso
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
37
que Platão tenha afirmado que se pode aprender mais sobre uma pessoa em
uma hora de brincadeira do que uma vida inteira de conversação.
A atual conjuntura educacional precisa colocar o aluno como centro do
processo ensino-aprendizagem, e não atuar somente na valorização do
conteúdo. É preciso aproveitar todo tipo de riqueza didática, seja jogo ou não,
para propiciar um encantamento, para apresentar um conhecimento ao aluno
que o valoriza como ser humano, que o prepare para uma vida-fora da sala de
aula-que a cada dia fica mais competitiva. Dentro desse contexto, o jogo se
aplica perfeitamente bem, pois ele permite a confrontação de pontos de vista,
pois isto é algo que está sempre presente, alem de ser uma forma de atividade
particularmente poderosa para estimular a vida social e a atividade construtiva
da criança.
Constance Kamii afirma, no livro A criança e o número (2002. p.62), que
quando se ensina número e aritmética sem querer ensinar-se que a verdade
somente pode partir da orientação do professor. Isto, segundo Kamii, faz com
que a criança aprenda a ler no rosto do professor sinais de aprovação ou
desaprovação. Tal inspiração reforça a heteronomia da criança e resulta numa
aprendizagem que se conforma com a autoridade do adulto. Não é desta forma
que as crianças desenvolverão o conhecimento do numero, a autonomia, ou a
confiança em sua habilidade matemática. ”Piaget opunha-se vigorosamente a
essa forma de ensino em que o bloqueio emocional que muitos estudantes
desenvolvem em relação à matemática é completamente evitável”.
(Kamii,2002. p.62).
Ainda segundo Kamii no livro acima citado, os jogos em grupo são
situações para a troca de opiniões entre as crianças. Neles as crianças são
motivadas a controlar a contagem e a adição dos outros, para serem capazes
de se confrontar com aqueles que trapaceiam ou erram. “Corrigir e ser corrigido
pelos colegas nos jogos é muito melhor que aquilo que porventura possa ser
aprendido através das paginas de cadernos de exercícios” (Kamii,2002.p. 63),
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
38
e isso acontece em virtude das crianças estarem mentalmente muito mais
ativas e críticas nos jogos em grupos, o que possibilita que aprendam a
depender delas mesmas para saber se o seu raciocínio está correto ou não.
Os progressos das crianças podem ser atribuídos ao fato de que,
mediante a utilização dos jogos, cria-se um espaço novo, o espaço onde a
criança desenvolve a pratica do pensar. Isso porque, nas situações problema
engendrada pelo jogo, o raciocínio das crianças foi desafiado, desencadeando
mecanismos de regulação compensatória. Tais mecanismos intervêm no
processo de “equilibração”, responsável pela construção das estruturas
mentais que possibilitam ao ser humano conhecer e aprender.
“Aqueles velhos problemas de matemática, do tipo ”Joãozinho comprou
duas laranjas e três maçãs...”, muitas vezes enjoam as crianças”, é assim que
começa a matéria sobre o jogo didático apresentado na Revista Nova Escola
de abril de 1997 (página 41). Sob o titulo “Contas sem cansaço”, o texto da
revista apresenta informações sobre como um tabuleiro de papel e dados
puderam facilitar a aprendizagem de matemática em alunos da Educação
Infantil e do 2º ano de Ensino Fundamental. A alternativa apresentada foi um
tabuleiro de números onde os alunos podem exercitar a operação de adição.
Não é difícil compor o material, pois os tabuleiros são feitos com cartolina ou
mesmo papel sulfite. Os dados podem ser obtidos com mais facilidade, mas
também podem ser montados com cartolina. Para marcar os pontos serão
necessários bolas de papel, feijões ou botões de roupa. O tabuleiro tem de ser
riscado com duas retas na vertical e outras duas na horizontal, devendo
numerar os quadrados de 1 a 9. Após isso, deve-se dividir a turma em grupos
de duas a cinco crianças e dá a cada um dos grupos um tabuleiro e dois dados.
Os próprio alunos decidem quem começa, em que ordem cada um terá a vez
de jogar e qual deles vai anotar os pontos. Cada um joga os dados ao mesmo
tempo e escolhe uma casa a ser ocupada de acordo com as possibilidades
oferecidas pelos números que saíram. Após cada jogador colocar sua peça no
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
39
tabuleiro, enquanto, num papel à parte, uma criança do grupo anota os pontos
das demais.
As casas do tabuleiro são preenchidas pelo jogador que pode marcar no
tabuleiro o numero que saiu em um dos dados e desprezar o outro ou fazer a
soma das duas expressões e preencher o espaço devido. Ao fazer isso, o
aluno exercita a operação da adição. Se os dois números que saíram e a soma
deles já estiverem marcados, a criança perde a vez. Se a soma dos dois
algarismos for maior do que nove, o jogador não pode escolher a adição, tendo
de optar por um dos dois algarismos. O jogo acaba quando o tabuleiro será
todo preenchido.
A edição da Revista Nova Escola de maio de 1996 apresenta uma
matéria sob o titulo “Tiras de papel desatam nós dos decimais” apresentando a
historia da Escola Santo Inácio em que os alunos do quarto ano entendem com
relativa facilidade o conceito de números decimais. Segundo a reportagem,
mais complicado para as crianças “é realizar operações com esses números e
saber exatamente por que e onde colocar a virgula. Para evitar a decoreba da
clássica regrinha que manda contar casas para determinar o lugar da virgula,
as professoras usam um material simples e eficiente: tiras de cartolina
coloridas”.Com um metro de comprimento e dez centímetros de largura, cada
tira representa uma categoria de número: a faixa laranja a unidade; a azul, que
deve ser dividida em dez quadrinhos iguais, representa os decimais; a
vermelha, recortada em cem tirinhas, simboliza os centesimais. Segundo
conclusão da reportagem, o melhor de tudo é que os alunos não têm
dificuldade para determinar a virgula.
Para quem tem dificuldade para ensinar a disciplina e não consegue se
dar bem com a literatura a respeito da utilização dos jogos na matemática, foi
lançado no começo do ano de 2000 um recurso a mais, trata-se do filme em
vídeo “O Brincar e a Matemática”. Nesse material fica claro que brincadeiras
que eram comuns na infância de muitos professores podem, alem de divertir,
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
40
ensinar matemática aos estudantes de hoje. É o caso dos jogos de amarelinha
e das bolinhas de gude. Com as bolinhas, por exemplo, se pode ajudar as
crianças a desenvolver o raciocínio e aprimorar as quatro operações
aritméticas. A pratica se torna simples com a utilização da Teoria das Múltiplas
Inteligências em sala de aula. Isso é o que ensinam as professoras Kátia
Cristina Stocco Smole, Maria Ignez Diniz e Patrícia Cândido, oportunizando
através do material aulas que contribuem para afastar a famosa decoreba dos
seus alunos. Entendendo melhor alguns conceitos, eles passarão a se
interessar mais pelo estudo da disciplina, deixando de lado aquela imagem de
bicho-papão que a matemática ganhou ao longo desses difíceis anos de
equívocos na abordagem.
A mesma Kátia Stocco Smole, mestra em matemática, é uma das
personagens da Revista Nova Escola de abril de 1997 em que Josiane Lopes
apresenta a matéria “Matemática uma proposta de ensino a partir da teoria das
inteligências múltiplas”. O texto afirma que o programa adotado pelo instituto
Salesiano Dom Bosco, da rede particular de ensino da cidade paulista de
Americana, fez uso da concepção cientifica da mente conhecida como Teoria
das Múltiplas Inteligências. Essa teoria sustenta que cada individuo possui
tipos de inteligência que, em linguagem comum, chamamos de dons,
competências ou habilidades. No aprendizado, segundo essa teoria, um ou
mais tipos de inteligência da criança podem ser usados como “rotas
secundarias” para ajudá-la a desenvolver outra inteligência – a matemática, por
exemplo.
Segundo Kátia Smole, que é especialista em inteligências múltiplas,
“essa teoria é muito rica e contribui efetivamente para a educação, pois
proporciona uma visão mais completa do aluno, valorizando as diferenças
individuais” (Lopes, 1997). Segundo explica a reportagem, as faculdades
intelectuais denominadas de rotas secundárias podem facilitar o aprendizado
da matemática, pois permite explorar varias vertentes didáticas e lúdicas para
que isto se torne realidade. Assim é que o jogo de amarelinha, os mosaicos de
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
41
papel, o teatrinho com tangram, a construção de maquetes, a utilização das
medidas e a gincana de números podem ser recursos agradáveis e práticos
para que o aprendizado da disciplina fique mais facilitado.
Curiosamente, embora a competência lógico-matematica seja tão
valorizada, o ensino da matemática costuma ser problemático. “Acredita-se que
o aprendizado matemático decorra basicamente de explicações claras do
professor, analisa Kátia. “Mas a clareza não é imediata para o aluno sem o
exercício sistemático do pensar”, complementa Kátia.
A proposta, então, é oferecer aos estudantes condições de usarem suas
habilidades específicas para chegar ao pensamento matemático. “A formação
de um conteúdo matemático envolve muitas relações”, lembra Kátia,
complementando que é diversificando as atividades para integrar as
inteligências que o professor vai permitir ao aluno olhar várias vezes uma
mesma inteligência.
Na pratica, o programa implantado por Kátia Smole junto com os
professores do Instituto Dom Bosco se traduz em atividades nas quais os
conteúdos são desenvolvidos de modo a integrar as demais habilidades. “Não
se trata de um novo currículo, mas de um conjunto de estratégias para o
ensino, explica Kátia. O planejamento deve ser cuidadoso para incorporar
outras competências sem perder de vista o objetivo matemático”, afirmou Kátia.
O resultado disso, segundo a reportagem, é que “o índice de repetência
na disciplina caiu praticamente a zero, pois as crianças não estranham que se
cante ou dance para aprender matemática, pois elas reagem à disciplina de
forma muito diferente, sem ansiedade” (Lopes,1997).
3.1-A Psicopedagogia Contribuindo Para os Eventuais
Bloqueios
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
42
O ensino da matemática é uma necessidade impreterível em uma
sociedade cada vez mais complexa e tecnicista, na qual é difícil encontrar
espaços em que essa disciplina não tenha interferido.
O assessoramento psicopedagógico pode ajudar a entender a lógica
matemática da seguinte maneira:
*Ajuda na detecção do fracasso e, sobretudo, das causas que o
produzem, não se deve tanto a deficiências ou patologias individuais, mas a
aspectos que estão em relação tanto com as crenças e expectativas sociais
como com as formas de ensino.
*Orientação para conhecer as características psicológicas dos alunos,
suas formas de aproximação com o conhecimento matemático, à natureza dos
erros que cometem etc.
*Orientação para melhorar as estratégias de ensino e de aprendizagem e
de avaliação na sala de aula.
*Orientação à equipe de professores para elaborar o Projeto Curricular
da Área.
O psicopedagogo que lida com a aprendizagem deve estar sempre em
busca de ferramentas que possam auxiliá-lo no trabalho com a aprendizagem.
Mesmo diante da resistência do aprendiz em mudar seus esquemas de
ação, o mediador não deverá desistir, e sim colocar-se numa posição de
acolhimento. Esta atitude contribui algumas vezes para a tomada de
consciência de processos e de possibilidades de mudanças.
A psicopedagoga Olívia Porto, (2006), afirma que:
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
43
“A escola pode ser este espaço de desenvolvimento da habilidade
imaginativa por meio de experiências que estimulem a experimentação, a
exploração e a criação. É conhecendo, explorando e criando que as crianças
se constituem enquanto sujeito.” (p.50)
“Tanto na clínica quanto na instituição, o psicopedagogo atua intervindo
como mediador entre o sujeito e sua história traumática, ou seja, a história que
lhe causou a dificuldade de aprender. No entanto, o profissional não deve fazer
parte do contexto do sujeito, já que ele está contido em uma dinâmica familiar,
escolar ou social. O profissional deve tomar ciência do problema de
aprendizagem e interpretá-lo para a devida intervenção. Com essa atitude, o
psicopedagogo auxiliará o sujeito a reelaborar sua história de vida,
reconstruindo fatos que estavam fragmentados, e a retomar o percurso normal
de sua aprendizagem. Assim o trabalho clínico do psicopedagogo se completa
com a relação entre o sujeito, sua história pessoal e sua modalidade de
aprendizagem. Já o trabalho preventivo, pretende “evitar” os problemas de
aprendizagem, utilizando-se da investigação da instituição escolar, de seus
processos didáticos e metodológicos etc. Enfim, analisa a dinâmica institucional
com todos os profissionais nela inseridos, detectando os possíveis problemas e
intervindo para que a instituição se reestruture.” (p.109).
Uma atuação psicopedagógica não se constrói da noite para o dia. É um
processo de reorganização e ressignificação do docente, um exercício
constante e infinito.
Maria Alice Leite Pinto (org.), (2003), afirma que:
“Todo diagnóstico psicopedagógico é uma investigação, uma pesquisa
do que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta esperada. É o
esclarecimento de uma queixa do próprio aluno, da família, da escola. Trata-se
do não aprender, do aprender com dificuldade ou lentamente, do não-revelar o
que aprendeu, do fugir de situações de possível aprendizagem. Nessa
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
44
investigação, pretende-se obter uma compreensão global da forma de aprender
do sujeito e dos desvios que estão ocorrendo nesse processo.” p.70
O saber enxergar e aceitar a diversidade do outro, assim como encontrar
tempo e espaço para escutá-lo, vem a ser condição de aprendizagem e de
desenvolvimento saudável. Nesse sentido também, a construção da própria
identidade da psicopedagogia e do psicopedagogo depende do valor que é
dado à aprendizagem em equipe, sempre aberta a transformações de seu
tempo.
Não podemos ignorar o contexto sociocultural do ambiente de ensino-
aprendizagem e, mais do que isso, perceber-se a necessidade de o
psicopedagogo colaborar ativamente para melhorar as condições sociais de
seu meio numa participação mais efetiva.
As contribuições da psicopedagogia são essenciais por possibilitarem
redimensionamento da própria práxis educativa construindo referenciais
teóricos e práticos que facilitam a compreensão da própria complexidade
presente no ato de ensino e aprendizagem.
A psicopedagoga Edith Rubinstein (2007), afirma que:
“O psicopedagogo é um “garimpeiro”, que busca nas diferenças o que o
sujeito da aprendizagem possui de melhor, essa é uma das nossas principais
funções. A riqueza está justamente no contraponto e nas contradições. Cabe
ao profissional um olhar sensível, capaz de identificar facilmente diferentes
tipos de diversidade: física, de ritmo, de pensamento, de comportamento, de
altura. A tarefa de identificar as diferenças não é simples.” p.41
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
45
CONCLUSÃO
Não há como continuar mantendo, em pleno século XXI, uma figura de
bicho-papão rondando o cenário educacional. Mais do que acabar com o medo
da matemática, é preciso que a escola, os professores e psicopedagogos se
atualizem não somente em teorias e métodos, mas acima de tudo na
capacidade de lidar com as necessidades de seus alunos, de encantá-los de
modo a fazer com que se apaixonem pelo que aprendem, aí incluída a
matemática.
A professora Maria da Glória Lopes afirmou em seu livro Jogos na
Educação: criar, fazer, jogar (2002. p.18), que:
“A escola está engatinhando com a teoria construtivista, tomando corpo
pouco a pouco, mas a criança não pode esperar e está superando estes
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
46
avanços. Se a criança hoje parece ser mais esperta, desenvolve-se antes do
tempo, pois algumas habilidades foram estimuladas precocemente, é porque
tem permissão para expressar suas vontades e seu intelecto é muito mais
estimulado. Porém, ela tem diferentes formas de ansiedade, de medos e
insegurança com os quais o educador tem de estar preparado para lidar.
Não há como discordar desse argumento, pois é notório que o mundo
se agita e alcança a todo o momento novos estágios tecnológicos. Se a escola
e seus atores ainda continuarem atuando como se estivessem em épocas
passadas, isto pode trazer sérios prejuízos para a formação dos alunos. Nisto,
a mesma professora Maria da Glória Lopes também concorda quando diz que
“o desenvolvimento infantil precisa acontecer concomitantemente nas
diferentes áreas para que haja o equilíbrio necessário entre elas e o individuo
como um todo”.
Utilizar jogos no ensino da matemática não é apenas uma necessidade
para que os alunos possam entender melhor a disciplina, ela torna-se mais
urgente diante do que o mundo vem proporcionando em avanço tecnológico e
também em dificuldades.
“Um dos pontos importantes para que o professor possa atualizar sua
metodologia é perceber que a criança de hoje é extremamente questionadora,
não engole os conteúdos despejados sobre ela sem saber por quê , ou,
principalmente para quê. Portanto, o professor deve preocupar-se muito mais
em saber sobre como a criança aprende do que como ensinar”. (Lopes, 2002.
p.22).
Os professores e psicopedagogos têm através dos jogos, uma nova e
valiosa forma para transmitir os conteúdos da matemática, superando os
problemas que dificultam a aprendizagem, inclusive o medo que os alunos têm
da disciplina. Agindo com novas formas de ensinar, aplicando os jogos nas
aulas, o que parece chato e enfadonho, o que inspira medo, isto pode tornar-se
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
47
dinâmico e prazeroso. Além disso, os jogos vão permitir ao professor e ao
psicopedagogo reconhecerem com mais facilidade o grau de aprendizagem
dos alunos, pois eles se mostrarão com muito mais autenticidade na aplicação
do jogo do que numa aula ou avaliação tradicional.
Além de tudo o que foi exposto, é importante ressaltar a idéia de que
educar é, também, “criar desafios, pois é a necessidade a mãe de todas as
soluções. Estimular a construção do conhecimento a partir das motivações
naturais e cada aluno, criando desafios adequados, passa a ser mais uma
entre as muitas responsabilidades” (Rizzo.1996. p.24).
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
48
RESUMO
Em meio às discussões a respeito de novos métodos de ensino e aprendizagem, há
um problema que vem atormentando a vida de docentes e alunos em todos os lugares
não é de hoje: o medo da matemática. A disciplina ganhou jeito de bicho-papão, o que
vem dificultando a aprendizagem desde as primeiras séries do Ensino Fundamental.
Mas eis que uma realidade igualmente antiga se configura como sendo a solução para
eliminar essa insegurança que reina no mundo da Matemática. Trata-se da possibilidade
do uso didático dos jogos no ensino da disciplina, situação não somente real, mas que já
vem sendo aplicada com sucesso por alguns docentes e pesquisadores pelo mundo
afora. O texto da monografia se propõe apresentar argumentos viáveis para garantir que
a utilização do recurso do jogo pode contribuir para desmontar o falso mito do medo da
disciplina sendo esse um recurso didático facilitador do processo de aprendizagem nas
séries iniciais do Ensino Fundamental, ao mesmo tempo em que proporciona aos alunos
uma experiência educacional rica e divertida, funcionando como um eficiente
estimulador das inteligências, uma vez que se trata de uma possibilidade de lidar com
elementos que são uma metáfora da vida.
INTRODUÇÃO
O processo educacional vem sendo questionado e submetido a
transformações em decorrência das novas descobertas que ocorrem nas
ciências humanas, biológicas e sociais. No que concerne a psicopedagogia, o
papel da transmissão de conhecimento vem sendo sujeito a várias discussões
no sentido de achar a resposta para as seguintes questões: o que ensinar,
porque ensinar e como ensinar.
Novos métodos de ensino vêm sendo testados, com a finalidade de não
somente transmitir conteúdos, mas criar condições para que se desenvolva no
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
49
educando a autonomia, o pensamento crítico e criador, a iniciativa e a
capacidade de resolver os problemas com que poderá enfrentar na vida
cotidiana. No caso específico da Matemática, não são poucas as pessoas que
afirmam ter medo dessa disciplina. Certamente este é um problema que tem
sua origem nos primeiros momentos da educação escolar, quando o professor
apresenta um pouco mais sobre os números e suas aplicações.Esta maneira
de encarar a disciplina vai crescendo com o aluno, assim como vão crescendo
também a maneira de como supera-las, no que resulta num aprendizado
deficiente.
Dentre os inúmeros problemas de Matemática que os alunos têm de
resolver, aqueles exercícios comuns em qualquer fase do estudo da disciplina,
há um que o professor e o psicopedagogo precisam direcionar: como tornar o
ensino da matéria mais prazeroso aos alunos? Como melhorar o ensino da
Matemática nas séries iniciais, fazendo com que a disciplina não seja
reconhecida como aquela barreira quase intransponível para a maioria dos
alunos? Como dinamizar e tornar mais prática a aprendizagem, aproximando-a
do cotidiano? Essas são perguntas que o professor dessa disciplina procura
responder e que este trabalho desenvolve procurando demonstrar que mais do
que simples jogos ou atrativos didáticos, a utilização do lúdico no ensino da
Matemática pode ser um recurso eficiente para que se estabeleça, desde os
momentos iniciais da atividade educacional, uma visão correta dos principais
conceitos da disciplina, fazendo com que os alunos possam aprender enquanto
se divertem com ela. Esse trabalho fará uso de reflexões e experiências
psicopedagógicas já existentes em livros e relatos escritos com o fim de dar
subsídios aos argumentos que serão apresentados.
Um dos objetivos é demonstrar o falso mito do medo da disciplina,
desenvolvendo argumentos quanto à importância da utilização dos jogos no
ensino da Matemática como sendo um recurso didático facilitador do processo
de aprendizagem nas séries iniciais do Ensino Fundamental, ao mesmo tempo
em que proporcionam aos alunos uma experiência educacional rica e divertida,
funcionando como um eficiente estimulador das inteligências, uma vez que se
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
50
trata de uma possibilidade de lidar com elementos que são uma metáfora da
vida.
Mais do que facilitar o aprendizado, o lúdico pode significar a eliminação
de um medo e a superação de barreiras, transformando a disciplina numa
ferramenta que os alunos guardarão para sempre. Defender a utilização do
lúdico no ensino da Matemática implica em oferecer aos alunos uma
oportunidade de aprendizagem em que testar, representar, pensar e buscar
uma conceitualização o possibilitará a manipular o real para chegar ao
concreto.
Ensinar a disciplina implica em diversificar as representações, levar para
a sala situações reais em que a Matemática se aplique, oferecer aos alunos a
possibilidade de “tocar” os números, de vivenciar com os sentidos os conceitos
e detalhes que a envolvem. Essa pode se a saída para a dificuldade que
muitos têm com a disciplina, a porta de entrada para que conheçam o mundo
da Matemática, reconhecendo que ela é simples e tem aplicação no cotidiano.
Então, além de eliminar a imagem do “bicho-papão que a disciplina carrega, o
processo educacional se enriquece e contribui para tornar a escola um local
aprazível, isto sem considerar que o jogo tem maior identificação com a criança
do que a maioria dos métodos comuns de ensino, o que gera uma
oportunidade de maior desenvolvimento dos alunos no que diz respeito à
interação social, fazendo-a perceber o valor dos outros e das regras.
Eliminando-se o medo da disciplina, ganha-se em rendimento na
aprendizagem e somam-se valiosos pontos para a vida. Em termos práticos,
ganham os alunos e ganham os docentes, pois as aulas serão mais profícuas e
agradáveis, tornando mais fácil e aprazível o trabalho do professor.O ensino da
Matemática com o uso de jogos, sempre que isso for possível, é mais
compatível com o desenvolvimento da criança e contribui significativamente
para prepara-la para as atividades de quando for adulto.
A monografia está dividida em três partes, compreendendo:
A primeira, que se segue à introdução- onde faz-se a delimitação do
estudo, as características metodológicas e os motivos que levam a estudar o
assunto- compreende uma resenha do pensamento de diversos estudiosos.
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
51
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO
Razões Psicopedagógicas para a aplicação do lúdico no ensino
da matemática nas séries iniciais: desmontando o falso mito do
ensino da disciplina
Por: Maria da Graça Mattoso Brandt
Orientador
Prof. Maria Poppe
Rio de Janeiro
2007
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
52
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO
Razões Psicopedagógicas para a aplcação do lúdico no ensino
da matemática nas séries iniciais: desmontando o falso medo
da disciplina
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em
Psicopedagogia.
Por: Maria da Graça Mattoso Brandt
Exemplo de configuração de monografia A Vez do Mestre
53
AGRADECIMENTOS
...aos meus filhos Sergio e Michelle...