Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
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2°M2°M2°M2°MÓDULO DO CURSO DÓDULO DO CURSO DÓDULO DO CURSO DÓDULO DO CURSO DE E E E FFFFORMAÇÃO DE ORMAÇÃO DE ORMAÇÃO DE ORMAÇÃO DE EEEEDUCADORES E DUCADORES E DUCADORES E DUCADORES E EEEEDUCADORAS EM DUCADORAS EM DUCADORAS EM DUCADORAS EM CCCCONCEPÇÃOONCEPÇÃOONCEPÇÃOONCEPÇÃO,,,, PPPPRÁTICA RÁTICA RÁTICA RÁTICA SSSSINDICAL E INDICAL E INDICAL E INDICAL E MMMMETODOLOGIA DA ETODOLOGIA DA ETODOLOGIA DA ETODOLOGIA DA FFFFORMAÇÃOORMAÇÃOORMAÇÃOORMAÇÃO....
((((REGIÃO CENTRO REGIÃO CENTRO REGIÃO CENTRO REGIÃO CENTRO OOOOESTEESTEESTEESTE))))
Data: Data: Data: Data: 16 a 22 de setembro de 2007
Local:Local:Local:Local: Cesir
Endereço: Endereço: Endereço: Endereço: SMPW Quadra 1 Conjunto 02 Lote 02.
MATRIZ PEDAGÓGIMATRIZ PEDAGÓGIMATRIZ PEDAGÓGIMATRIZ PEDAGÓGICACACACA
Objetivo Geral:Objetivo Geral:Objetivo Geral:Objetivo Geral:
• Contribuir com a formação de militantes do MSTTR, de modo que aprimorem sua capacidade multiplicadora e potencializadora da ação formativa em suas áreas de atuação.
Objetivos Específicos:Objetivos Específicos:Objetivos Específicos:Objetivos Específicos:
• Socializar e aprofundar referenciais teóricos, políticos e ideológicos que fundamentam e alimentam os ideais e a luta
sindical e popular. • Re-avaliar e fortalecer a luta sindical, numa visão e ação sindical transformadoras, estimulando processos de mudanças de
atitudes, comportamentos e práticas individuais e coletivas, coerentes com as exigências de implementação do PADRSS. • Favorecer a experimentação, sistematização e apropriação de novas metodologias pedagógicas que realimentem a prática
formativa do movimento sindical. • Contribuir para a constituição de uma rede de formadores/as que assumam e implementem o projeto de formação do
MSTTR.
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EIXO TEMÁTICO: HISTÓRIA, CONCEPÇÃO, ESTRUTURA E PRÁTICA SINDICALEIXO TEMÁTICO: HISTÓRIA, CONCEPÇÃO, ESTRUTURA E PRÁTICA SINDICALEIXO TEMÁTICO: HISTÓRIA, CONCEPÇÃO, ESTRUTURA E PRÁTICA SINDICALEIXO TEMÁTICO: HISTÓRIA, CONCEPÇÃO, ESTRUTURA E PRÁTICA SINDICAL.... EIXOS PEDAGÓGICOS: PEDAGOGIA PARA UMA NOVA SOCIABILIDADE E MEMÓRIA E IDENTIDADE. EIXOS PEDAGÓGICOS: PEDAGOGIA PARA UMA NOVA SOCIABILIDADE E MEMÓRIA E IDENTIDADE. EIXOS PEDAGÓGICOS: PEDAGOGIA PARA UMA NOVA SOCIABILIDADE E MEMÓRIA E IDENTIDADE. EIXOS PEDAGÓGICOS: PEDAGOGIA PARA UMA NOVA SOCIABILIDADE E MEMÓRIA E IDENTIDADE.
Observação: utObservação: utObservação: utObservação: utilizar alinha do tempo como principal recurso pedagógico. ilizar alinha do tempo como principal recurso pedagógico. ilizar alinha do tempo como principal recurso pedagógico. ilizar alinha do tempo como principal recurso pedagógico. Dia/períodosDia/períodosDia/períodosDia/períodos Tema e SubTema e SubTema e SubTema e Sub----temas. temas. temas. temas. Objetivos Objetivos Objetivos Objetivos Metodologia Metodologia Metodologia Metodologia Responsáveis Responsáveis Responsáveis Responsáveis 16/09 (manha)
Até as 09:00h - Chegada dos/as estudantes
10:00h – Abertura - acolhida (dinâmica que
dialogue com o eixo memória e identidade)
� Conversa pedagógica sobre matriz do curso e sua lógica política
� Acordo de convivência � Organização das Equipes de
Trabalho �
Refletir sobre a vivência sindical, suas motivações, tempos e significados para a organização dos trabalhadores/as rurais.
Dialogar com o Itinerário do povo andarilho (Ingresso no mundo sindical e seus significados) considerar os tempos, motivações, fatos e significados.
Equipe de Estudantes do DF e Equipe Escola
Almoço Almoço Almoço Almoço Tarde 14:00h – Diálogo sobre a Política Nacional Diálogo sobre a Política Nacional Diálogo sobre a Política Nacional Diálogo sobre a Política Nacional
de Formação de Formação de Formação de Formação –––– PNF, PADRSS e Projeto PNF, PADRSS e Projeto PNF, PADRSS e Projeto PNF, PADRSS e Projeto Político Pedagógico.Político Pedagógico.Político Pedagógico.Político Pedagógico.
� Reapropriação do primeiro módulo: temas geradores e possíveis lacunas
� Socialização e atividades inter-módulo.
Construir pontes e identificar possíveis lacunas de um módulo para outro. Socializar os resultados das atividades inter-módulo e identificar aspectos a serem refletidos durante o módulo.
Mapa mental Mapa mental Mapa mental Mapa mental Cochicho e exposição Cochicho e exposição Cochicho e exposição Cochicho e exposição
Equipe EscolaEquipe EscolaEquipe EscolaEquipe Escola
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17/09 (Manha)
08:30h - Identidade soIdentidade soIdentidade soIdentidade social, ideologia e luta cial, ideologia e luta cial, ideologia e luta cial, ideologia e luta de classe.de classe.de classe.de classe.
� Desigualdade e luta de classe � Gênero, Raça e Etnia.
Compreender como são reproduzidas as relações desiguais.
Exposição dialogada e Exposição dialogada e Exposição dialogada e Exposição dialogada e reflexões em grupos reflexões em grupos reflexões em grupos reflexões em grupos
Edson CardosoEdson CardosoEdson CardosoEdson Cardoso Professor da UNB
12:30h Almoço Almoço Almoço Almoço
Tarde
14:30 ---- História do sindicalismo no mundo História do sindicalismo no mundo História do sindicalismo no mundo História do sindicalismo no mundo e no Brasil.e no Brasil.e no Brasil.e no Brasil.
� Contexto e significado da revolução industrial
� As primeiras formas de organização da classe trabalhadora
� As diferentes concepções existentes
Compreender como e porque surgiram as primeiras formas de organização da classe trabalhadora. Compreender o papel do sindicalismo no contexto histórico enquanto meio de transformação social.
Exposição dialogada Exposição dialogada Exposição dialogada Exposição dialogada
JeováJeováJeováJeová de Lima de Lima de Lima de Lima – assessor da CONTAG
18/09 (manha)
8:30h - A Organização dos A Organização dos A Organização dos A Organização dos trabalhadores/as notrabalhadores/as notrabalhadores/as notrabalhadores/as no Brasil: contexto e Brasil: contexto e Brasil: contexto e Brasil: contexto e significados significados significados significados
� Das primeiras lutas ao surgimento do sindicalismo rural
� A implantação da estrutura sindical no Brasil no contexto do estado novo.
� Concepção, características e conseqüência para a organização dos trabalhadores/as
� O sindicalismo durante e pós-ditadura militar. A criação da Contag, Fetags e STRs.
� A organização das mulheres no
Refletir sobre o contexto, as diversas concepções sindicais existentes, as formas de organização dos trabalhadores a as estratégias de lutas adotadas. Compreender a lógica e o porquê da intervenção do Estado na organização dos trabalhadores/as
Exposição dialogadaExposição dialogadaExposição dialogadaExposição dialogada com depoimentos intercalados. Retomar aspectos Retomar aspectos Retomar aspectos Retomar aspectos da apresentação do grupo.
Manoel JoséManoel JoséManoel JoséManoel José dos Santos – presidente da CONTAG. Jonas PereiraJonas PereiraJonas PereiraJonas Pereira – depoimento. Juacy da SilvaJuacy da SilvaJuacy da SilvaJuacy da Silva – fazer exposição dialogada.
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sindicalismo rural.
12:30h Almoço.Almoço.Almoço.Almoço.
Tarde 14:00h ---- As concepções sindicais que As concepções sindicais que As concepções sindicais que As concepções sindicais que caracterizaram o sindicalismo da região caracterizaram o sindicalismo da região caracterizaram o sindicalismo da região caracterizaram o sindicalismo da região Centro Oeste.Centro Oeste.Centro Oeste.Centro Oeste.
Refletir sobre as características do sindicalismo rural na região Centro Oeste.
Mesa redonda e júri Mesa redonda e júri Mesa redonda e júri Mesa redonda e júri simulado simulado simulado simulado
GeraldinhoGeraldinhoGeraldinhoGeraldinho – presidente Fetag/MS; Jonas PereiraJonas PereiraJonas PereiraJonas Pereira/MT GO/DF ??
19/09 (manha)
8:30h ––––As Centrais Sindicais e a luta da As Centrais Sindicais e a luta da As Centrais Sindicais e a luta da As Centrais Sindicais e a luta da classe trabalhadora. classe trabalhadora. classe trabalhadora. classe trabalhadora.
� As Centrais Sindicais no Brasil e na região.
� As origens históricas da CUT � O MSTTR na CUT
Compreender a papel das centrais sindicais na luta da classe trabalhadora. Refletir sobre os princípios que motivaram a criação da Central Única dos Trabalhadores – CUT.
Mesa redondaMesa redondaMesa redondaMesa redonda com representantes da CUT/DF e CONTAG
RRRRejane ejane ejane ejane ----Presidenta da CUT/DF. Carmen Foro Carmen Foro Carmen Foro Carmen Foro –––– Vice Presidenta da CUT e Coordenadora da CNMTR da CONTAG.
12:00h AlmoçoAlmoçoAlmoçoAlmoço 19/09 (tarde)
8:00h –––– Contexto e perspectiva da Gestão Contexto e perspectiva da Gestão Contexto e perspectiva da Gestão Contexto e perspectiva da Gestão SindicalSindicalSindicalSindical
Refletir sobre a política de gestão, seus limites e desafios na atualidade.
Exposição Dialogada Exposição Dialogada Exposição Dialogada Exposição Dialogada
Juraci Moreira Juraci Moreira Juraci Moreira Juraci Moreira Souto Souto Souto Souto –––– Secretaria de Finanças e Administração da CONTAG.
20:00h 20:00h 20:00h 20:00h NOITE CULTURALNOITE CULTURALNOITE CULTURALNOITE CULTURAL
20/09 (manha)
DESCANSODESCANSODESCANSODESCANSO
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20/09 (Tarde)
14:00h ---- O sindicalismo na atualidade e O sindicalismo na atualidade e O sindicalismo na atualidade e O sindicalismo na atualidade e seus Desafios.seus Desafios.seus Desafios.seus Desafios.
� A organização sindical e sues desafios.
� A configuração regional - o Projeto Hegemônico e a Ação Sindical.
� Os espaços de poder � Relação campo e cidade
Refletir sobre o espaço regional na atualidade e os desafios da ação sindical.
Exposição dialogadaExposição dialogadaExposição dialogadaExposição dialogada
Gilberto Antonio Gilberto Antonio Gilberto Antonio Gilberto Antonio ViegaViegaViegaViegas s s s ---- UNIVAG
12:30h Almoço Almoço Almoço Almoço 21/09 (manha)
14:00h - A política nacional de formação A política nacional de formação A política nacional de formação A política nacional de formação –––– PNF PNF PNF PNF
� Os referenciais políticos e pedagógicos (PADRSS e PPP)
� A estratégia formativa e sua articulação interistitucional (Contag, Federações e STRs)
� Os sujeitos e a relação teoria prática.
Refletir sobre a ação formativa - seus princípios políticos e pedagógicos, estratégia formativa -, e sua relação com a organização e a ação política e sindical.
Rodas de ConversaRodas de ConversaRodas de ConversaRodas de Conversa
Equipe Escola Equipe Escola Equipe Escola Equipe Escola
12:00h Almoço Almoço Almoço Almoço 21/09 Tarde
14:00h ---- Dialogo pedagógico Dialogo pedagógico Dialogo pedagógico Dialogo pedagógico –––– atividades atividades atividades atividades interinterinterinter----módulo. módulo. módulo. módulo.
Dialogar sobre as atividades inter-módulo.
22/09 (manha)
Avaliação e sistematização Avaliação e sistematização Avaliação e sistematização Avaliação e sistematização Fazer avaliação do processo pedagógico vivenciado durante o módulo e sistematizar as principais questões apreendidas.
Oficina de avaliação e sistematização
Equipes de Estudantes e equipe Escola
Tarde Encerramento Encerramento Encerramento Encerramento
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Origem e papel dos sindicatos
Altamiro Borges1
Desde a divisão da sociedade em classes, após a superação da
comuna primitiva, a história das sociedades é marcada pela luta entre
explorados e exploradores. Isto ocorreu no sistema escravista, no modo de
produção asiático, no feudalismo e ocorre até hoje no capitalismo. É nesse
último sistema econômico, entretanto, que a luta de classes atinge a sua
plenitude.
O Sindicato, objeto de nosso estudo, é um fenômeno típico desse
sistema. Ele só surge no modo de produção capitalista. A palavra surge do
francês - syndic - que significa “representante de uma determinada
comunidade”. Com a queda do feudalismo na Europa, num longo processo
iniciado a partir do século 17, a sociedade se divide claramente em duas
classes. De um lado, a burguesia, dona dos meios de produção - instalações,
máquinas, matérias primas etc. O termo burguesia deriva de burgos, que
eram as pequenas localidades nos arredores dos feudos, onde viviam os
comerciantes e os artífices - os germes dos futuros industriais. Do outro, o
proletariado, desprovido de tudo, obrigado a vender a sua força de trabalho
aos capitalistas. A expressão proletariado vem do latim da antiga Roma e
designa os cidadãos que viviam à beira da miséria e que tinham uma prole
numerosa.
Lênin, dirigente da revolução russa de 1917, sintetiza de maneira
simples as características desse sistema. “Denomina-se capitalismo a
organização da sociedade em que a terra, as fábricas, os instrumentos de
produção etc., pertencem a um pequeno número de latifundiários e
capitalistas, enquanto a massa do povo não possui nenhuma ou quase
nenhuma propriedade e deve, por isso, alugar sua força de trabalho. Os
latifundiários e industriais contratam os operários, obrigando-os a produzir
tais ou quais artigos que eles vendem no mercado. Os patrões pagam aos 1 Jornalista
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operários exclusivamente o salário indispensável para que estes e suas
famílias mal possam sub-existir. Tudo o que o operário produz acima dessa
quantidade de produtos necessária a sua manutenção, o patrão embolsa
isso: isso constitui o seu lucro. Portanto, na economia capitalista, a massa do
povo trabalha para os outros, não trabalha para si, mas para os patrões, e o
faz por um salário. Compreende-se que os patrões tratem de reduzir o
salário, quanto menos aos operários, mais lucro lhes sobra. Em
compensação, os operários tratam de receber o maior salário possível para
poder sustentar sua família com uma alimentação abundante e sadia, viver
numa boa casa e não se vestir como mendigos. Portanto, entre patrões e
operários há uma constante luta pelo salário”.
É dessa luta cotidiana, inerente ao capitalismo, que surgem as
primeiras formas de organização dos trabalhadores. Elas nascem como
resultado do esforço espontâneo dos operários para impedir ou atenuar a
exploração. Não aparecem por inspiração de “subversivos”, como a burguesia
propaga, mas sim por uma necessidade natural dos que vivem de salário.
Para elevar os seus lucros, o capitalista necessita extrair o máximo de mais-
valia, que é o trabalho excedente não repassado ao operário na forma de
salário.
Essa é a lógica do sistema, em que a concorrência leva os
empresários a uma incessante busca por maiores lucros - com a redução dos
custos operacionais e a elevação da produtividade. Por sua vez, os
trabalhadores têm a necessidade de lutar pela diminuição da taxa de mais-
valia, pelo aumento do seu poder aquisitivo, e por condições humanas de
trabalho. Nessa luta, o operariado conta com a vantagem de se constituir em
grande quantidade.
Para cumprir esse papel, os sindicatos se tornam centros
organizadores dos assalariados, focos de resistência à exploração capitalista.
Num primeiro momento, eles vão congregar os operários das oficinas e das
fábricas, os que produzem diretamente as riquezas - o setor dinâmico da
sociedade capitalista. Posteriormente, com o desenvolvimento do próprio
sistema, eles se generalizam, atingindo outros setores econômicos. Para
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Marx, “se os sindicatos são indispensáveis para a guerra de guerrilhas
cotidianas entre o capital e trabalho, são também importantes como meio
organizado para a abolição do sistema de trabalho assalariado”.
Berço do capitalismo
Os primeiros sindicatos nascem exatamente na Inglaterra -
considerada o “berço do capitalismo”. Foi nesse país que se realizou a
primeira revolução burguesa da história - dirigida por Cromwell, em 1640.
Após muitas marchas e contramarchas, a burguesia se consolidou no poder,
acumulou capital e pode realizar a primeira revolução industrial - no século
18. O capitalismo inglês vai viver a partir daí um intenso processo de
desenvolvimento, com a superação do trabalho artesanal, posteriormente da
produção manufatureira e, a partir da introdução de novas máquinas, com o
surgimento das grandes fábricas. É nesse momento, meados do século 18,
que o capitalismo encontra plenas condições para se expandir e virar o
sistema predominante.
O desenvolvimento do capitalismo deixará evidente a contradição
desse sistema. Para extrair a mais-valia, fonte dos lucros, a burguesia
inglesa imporá jornada de trabalho que atingiam até 16 horas diárias. Os
salários serão os mais reduzidos e as condições de trabalho, as mais
precárias. Com o objetivo de atrair mão-de-obra livre, ela promoverá os
famosos “cercamentos” no campo, nos séculos 17 e 18, expulsando os servos
das glebas rurais para torná-los “homens livres”, aptos ao trabalho
assalariado. Nesse período, são constituídos enormes contingentes de
desempregados nos centros urbanos, que Marx chamará de exército
industrial de reserva, como forma de baratear o custo do trabalho através da
concorrência.
A introdução das novas máquinas, que representa a consolidação
definitiva desse novo modo de produção, também agravará as contradições
entre capital e trabalho. Através desses novos instrumentos, a burguesia
golpeia os artesãos e suas corporações, que tinham grande poder de
barganha. Com as máquinas, ela não necessita mais de mão de obra
especializada do artesão, pode introduzir a mulher e o menor no mercado de
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trabalho, com salários mais aviltados e em piores condições de trabalho. Leo
Huberman, no livro “História da Riqueza do Homem”, descreve esse brutal
processo de rebaixamento do nível profissional. Ele cita, por exemplo, o
depoimento de uma criança de 11 anos a uma comissão do parlamento
inglês, em 1816: “Sempre nos batiam se adormecíamos. O Capataz
costumava pegar uma corda da grossura do meu dedo polegar, dobrá-la e
dar-lhe em nós. Trabalhei toda a noite, certa vez”.
Todas essas condições de exploração, próprias do novo sistema
econômico, vão gerar resistências entre os explorados. Esse processo de luta
passará por longas experiências. As greves e os sindicatos, por exemplo, não
aparecerão num estalo de dedos. Antes, a classe operária passará por um
longo processo de aprendizado até encontrar as formas mais eficientes de
luta e concluir que sua união é fundamental para se contrapor ao poder do
patronato. Um das principais formas de luta foi o Luddismo, também
conhecido como o movimento dos quebradores de máquinas. Inexperiente, a
jovem classe operária viu nas máquinas o seu principal inimigo. Afinal,
aparentemente a máquina é que era responsável pelo desemprego dos
trabalhadores especializados, pela inserção da mulher e do menor nas
fábricas em condições degradantes etc.
O termo Luddismo deriva do nome do operário têxtil Ned Ludd,
que trabalhava numa pequena oficina em Nottingham, cidade próxima de
Londres. Segundo pesquisas, esse operário destruiu totalmente os teares
mecânicos da fábrica num sinal de revolta contra os efeitos da Revolução
Industrial. Sua atitude, apesar de individual, refletia o estado de espírito dos
artesões. Em pouco tempo, seu gesto foi imitado em várias cidades da
Inglaterra e atingiu também a França. “Entre 1811 e 1812, os Luddistas
espantaram a burguesia”, informa José Cândido Filho, autor do livro “O
Movimento Operário: O Sindicato e o Partido”. O parlamento Inglês, que
nunca tratara da questão operária, discutiu o assunto e aprovou, em 1812,
uma lei que punia com a pena de morte os “quebradores de máquinas”.
A legislação repressiva não conteve o Movimento Luddista, que
quatro anos depois foi retomado com novas máquinas quebradas em
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Londres, Glasgow, Newcastle, Preston, Dundee e outras cidades. Segundo
José Cândido, os Luddistas ingleses costumavam cantar uma música que se
tornou conhecida, quando quebravam as máquinas. “De pé ficaremos todos/E
com firmeza juramos/Quebrar tesouras e válvulas/E arrasar todas as
máquinas”. A revolta operária repercutiu também entre a intelectualidade da
época, que passou a dar maior atenção às condições de vida e de trabalho do
proletariado. Dessas primeiras lutas da classe operária nasceram belos
escritos e poemas, como o de Shelley, “Os homens da Inglaterra”,
reproduzido no livro de Leo Huberman, “A História da Riqueza do homem”.
Aos poucos, entretanto, o Luddismo começou a ser superado
como forma de luta da jovem classe operária. Mas experiente, ela constatou
que não era a máquina a sua inimiga, mas sim o uso que o patrão fazia dela.
Que era um erro se contrapor ao desenvolvimento do próprio conhecimento
humano, expresso os avanços da tecnologia. O movimento dos quebradores
de máquinas também caiu no isolamento diante da sociedade, reduzindo-se a
pequenos grupos de trabalhadores que destruíam máquinas e espancavam os
cientistas que as inventavam. A própria burguesia que num primeiro
momento aprovou a pena de morte, começou a dar sinais de assimilação
dessa forma de luta. É nesse período que se generalizava o seguro de
patrimônio na Inglaterra e alguns patrões inclusive são flagrados destruindo
suas máquinas para adquirir outras mais modernas.
Outra forma de luta que será utilizada na infância da classe
operária, será o boicote - palavra que deriva do nome de um oficial inglês
encarregado de administrar os negócios do conde Erne, da Irlanda, Sir
Boycott era conhecido por seus métodos truculentos no tratamento com os
empregados. Ele se recusava a negociar e os trabalhadores passaram a fazer
o mesmo, propondo que os moradores do povoado não consumissem os
produtos do Conde Erne. Este teve um grande prejuízo e afastou o oficial
inglês do cargo. A sabotagem também será usada nesse período como
mecanismo de pressão dos trabalhadores por seus direitos. O termo tem
origem francesa e significa "tamanco". Os operários franceses usavam esse
tipo de calçado para danificar as máquinas, emperrando a produção.
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O salto na ação desse jovem proletariado vai se dar com o
recurso da greve - uma forma de luta mais avançada para pressionar o
patronato. Segundo José Cândido, “A origem do termo, liga-se à Praça da
Greve (place de grève), atualmente praça do Hotel De Ville, em Paris.
Quando desempregados ou para tratarem de assuntos relativos ao trabalho,
os operários costumavam reunir-se ali. Faire grève (fazer greve) significava,
portanto, reunir-se na praça da greve. A greve foi o recurso de luta de maior
eficácia nesse período, tanto na Inglaterra, como nos demais países em que
o capitalismo foi introduzido. Esse recurso se espalhou pelo mundo, sendo
encarado de diversas formas. Para alguns, defensores da manutenção do
sistema capitalista, como simples mecanismo regulador do mercado de
trabalho. Para outros, no caso dos Anarquistas, como um fim em si mesmo.
“A greve é tudo”, dirá Bakunin - um dos principais teóricos do movimento
ácrata.
Já para os revolucionários, a greve será vista como uma das
principais armas na luta de guerrilha entre capital e trabalho e como
poderoso instrumento de elevação da consciência e do nível de organização
do proletariado. O dirigente da revolução russa de 1917, Vladimir Ilitch
Lênin, escreveu um texto sobre as greves.
Sindicato Clandestino
É nesse processo da luta que a classe operária sentirá a
necessidade de se organizar. É dele que surgirão os sindicatos que na
Inglaterra têm o nome de trade-unions - que significa união de ofício, de
profissões. Essas jovens entidades de trabalhadores não terão as mesmas
características dos sindicatos atuais - que conquistaram o reconhecimento
legal, têm sedes, diretores afastados e gozam do direito de negociar com o
patronato. Pelo contrário. No século 17, período de surgimento das trade-
unions, elas serão clandestinas, com muita dificuldade de atuação. A
burguesia verá nelas um grande perigo. Seu temor é que elas unam o grande
número de trabalhadores, até aqui dispersos e vivendo em concorrência
entre si pelo emprego. Há registro de associações de trabalhadores com
caráter sindical desde 1699. Nesse ano em Londres, uma greve dos operários
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têxteis assustou o governo e a jovem burguesia - que ainda se constituía
enquanto classe. É só no século 18, quando a revolução industrial tomou
impulso na Inglaterra, que os sindicatos vão se generalizar para evitar seu
crescimento, o parlamento inglês aprova em 1799 a combination law, a lei
sobre associações que proíbe o funcionamento de sindicatos.
A violência da burguesia se dará em vários terrenos. No campo
legal, elas serão proibidas. A primeira lei que garantirá a livre associação dos
trabalhadores só será aprovada em 1812, na câmara dos Lordes, em
Londres. Além de usar o aparato policial do Estado para reprimir essas
entidades, a burguesia inglesa - e posteriormente de outros países - também
utilizará as milícias privadas. Os jagunços, que hoje são uma marca do
campo em nosso país, já foram muito usados pelo patronato nos centros
urbanos. Alguns se tornaram famosos como o bando Pinkerton, dos EUA -
uma poderosa agência de pistoleiros contratada para reprimir greves e
assassinar lideranças operárias.
Para se proteger dessa violência, no inicio as trade-unions agem
totalmente na clandestinidade. As reuniões são secretas; não há sedes
sindicais, campanhas massivas de sindicalização, nem mesmo negociação
direta com o patronato. Algumas trade-unions inclusive formulam “códigos
de participação”, com normas para garantir a sobrevivência da entidade. Elas
fixam a triagem dos trabalhadores que devem ser convidados para as
reuniões clandestinas. A entidade dos têxteis, por exemplo, prevê um
período de observação de dois anos para avaliar se o trabalhador não é
dedo-duro, infiltrado do patrão. Só depois ele é convidado a participar das
reuniões. O seu código fala também de justiçamento dos delatores,
compondo um braço armado para amedrontar os traidores em potencial.
Aos poucos, no entanto, as trade-unions inglesas vão se
consolidando. Elas dirigem mais greves, maiores protestos. Deixam o
patronato num dilema. Já que são proibidas, o empresário não tem como
negociar em momentos de greve. Isso gera grandes prejuízos,
principalmente quando não há estoques e surgem encomendas de produtos.
Diante desse crescimento das lutas operárias, é que o parlamento da
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Inglaterra irá aprovar, em 1824, a primeira lei sobre o direito de organização
sindical dos trabalhadores. Essa conquista permitirá um poderoso aumento
da força do sindicalismo. Em todos os ramos industriais formam-se trade-
unions. Também surgem as “caixas de resistências” para apoiar
financeiramente os grevistas.
O outro avanço nesse período será a organização de federações
que unificam várias categorias. Em 1830 é fundada a primeira entidade geral
dos operários ingleses - a associação nacional para a proteção do trabalho.
Ela reunirá têxteis, mecânicos, ferreiros, mineiros e outras profissões.
Chegará a ter cerca de 100 mil membros e editará um periódico, A Voz do
Povo. Na vanguarda do movimento operário inglês dessa época estarão os
têxteis, principalmente os da concentração industrial de Lancashire. Em
1866, com o avanço da industrialização em outros países, será realizado o
primeiro congresso internacional das jovens organizações de trabalhadores
de vários países. Ela representará um grande salto na unidade dos
assalariados, que será materializado com a fundação da associação
internacional dos trabalhadores (AIT), também conhecida como a primeira
internacional.
Apesar de possibilitar um avanço da organização sindical, a lei de
1824 é contraditória, tendo duas características distintas. Em primeiro lugar,
reflete a própria pressão organizada dos trabalhadores. Em segundo,
também indica uma mudança estratégica da burguesia inglesa. Tanto que a
lei foi aprovada na câmara dos Lordes, que reunia apenas a aristocracia
inglesa. Com ela a burguesia procura novos métodos para controlar o
movimento operário. Ela não poderia abandonar o seu projeto de dificultar a
luta e a união dos trabalhadores - fundamental para sua sobrevivência
enquanto classe.
Como não era mais possível proibir as trade-unions, ela adota
novos meios de interferir. Como a história vai demonstrar, mesmo
legalizados, os sindicatos podem ser reprimidos. Neste período, muitos
industriais pressionarão os operários exigindo a renúncia formal à
participação das trade-unions, como forma de garantir o emprego. A força
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policial continuará a ser acionada, deixando um rastro de sangue em toda a
trajetória do movimento sindical. A legalização também permitirá identificar
as lideranças, o que pode facilitar o trabalho de cooptação e corrupção -
processo muito usado até hoje pelo patronato. Além disso, é possível
implantar toda uma legislação de controle dos sindicatos - como a que existiu
no Brasil após o governo de Getúlio Vargas.
Ainda nesse período, fruto da experiência concreta, o proletariado
também desenvolverá a luta política, superando a pressão apenas por
reivindicações de caráter econômico e específico. Surge o movimento cartista
na Inglaterra, que representou um salto na ação operária. O nome deriva de
uma “carta”, elaborada em 1837-38, em que os trabalhadores reivindicam
maiores liberdades políticas: direito de voto para todos, abolição do sistema
pelo qual só podiam se candidatar os que tivessem renda, voto secreto etc.
Em seu conteúdo, o cartismo já expressara a luta por liberdades
democráticas e socialistas. Ele será duramente reprimido - com inúmeros
cartistas, sofrendo processo criminal - de “alta traição” - e muitas
condenações.
Em outros países, o proletariado participará de ações políticas,
sendo a mais célebre participação na Comuna de Paris. Essa foi a primeira
experiência em que a classe operária alcançou o poder político. Sua duração
foi curta - de fim de março a fins de maio de 1871. Num primeiro momento,
a sede do novo poder se instalou na Câmara Federal dos Sindicatos franceses
que também era o local de reuniões da sessão parisiense da AIT. Essa
experiência, que não se alastrou e serviu de base para novos estudos dos
marxistas, foi violentamente reprimida. As tropas do exército francês, que
pouco antes havia sido derrotadas e tornadas prisioneiras pelos alemães,
foram libertadas e colocadas a disposição do governo da França, de Thiers,
por ordem e Bismarck. A burguesia superava as suas divergências para
esmagar o movimento operário. A luta contra a comuna durou uma semana.
Mais de 14 mil combatentes foram mortos na guerra ou foram sumariamente
fuzilados; 5 mil operários foram deportados e outros 5 mil encarcerados.
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O próprio Karl Marx, um dos idealizadores da AIT, já havia
apontado essa necessidade de ação política ao proletariado. “O fim imediato
dos Sindicatos concretiza-se nas exigências do dia a dia, nos meios de
resistência contra os incessantes ataques do capital”. Numa palavra, na
questão do salário e da jornada de trabalho. Essa atividade não só é
justificada, como necessária. Não podemos privar dela enquanto perdure o
modo atual de produção. Ao contrário, é preciso generalizá-la, fundando e
organizando sindicatos em todos os países. Por outro lado, os Sindicatos,
sem que estejam conscientes disso, chegaram a ser o eixo da organização da
classe operária. “Se os sindicatos são indispensáveis para a guerra de
guerrilhas cotidianas entre o capital e o trabalho, são também importantes
como meio organizado para a abolição do próprio sistema de trabalho
assalariado”.
Papel dos Sindicatos
Nessa primeira fase de existência, o sindicalismo vai demonstrar
que é um instrumento indispensável para os assalariados. Com a expansão
do capitalismo, que se torna o sistema predominante a partir do século
passado, os sindicatos vão se espalhar pelo mundo. Deixam de ser um
fenômeno na Inglaterra. Num processo dialético, em que o capital impera,
suas contradições aparecem, as lutas operárias têm início e,
conseqüentemente, surgem os sindicatos. Todos os avanços sociais, mesmo
que pequenos ou parciais, serão fruto dessa luta e da formação dos
sindicatos. Nada será dado de mão-beijada pelo capital; nada cairá do céu.
Cada nova reivindicação apresentada pelos trabalhadores representa, num
primeiro momento, a redução da taxa de mais-valia do patrão. Por isso,
depende de luta, de pressão organizada. A história da legislação trabalhista
no mundo será a história da luta de classes, em que os sindicatos jogarão um
importante papel.
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PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA LUTA DOS TRABALHADORES E NO
MOVIMENTO SINDICAL
Maria Valéria Junho Penna2
Em 1872, ainda durante o Império, foi realizado o primeiro
recenseamento da população brasileira. Naquele ano, constatou-se que ela
era composta, por 9.700.187 pessoas, das quais 4.694.943 eram mulheres e,
dessas, 689.998 mulheres escravas. Mais de cem anos depois, o Censo
Demográfico de 1980 mostra que a população brasileira é de 119.070.865
pessoas, das quais 59.146.099 do sexo feminino. Mas às diferenças; é claro,
não são apenas demográficas e numéricas: em 1888 extinguiu-se a
escravidão, um, ano após proclamou-se a República, o país industrializou-se
alterou-se a composição de sua população com a absorção intensa da
imigração espanhola, italiana, alemã e japonesa; formou-se um proletariado
urbano rural e a classe média assumiu claros contornos sociais e políticos.
Nos longínqüos 1872, as mulheres compunham aproximadamente
45% do que o Censo considerava trabalhadores e, então, como agora, não se
considerou as donas de casa nesse conjunto. Das mulheres que trabalhavam
oficialmente, a agricultura empregava 25%, os serviços domésticos 33%. No
entanto, se observarmos o total de pessoas absorvidas, naquela ocasião,
tanto nos· serviços, quanto na indústria, constataremos que elas eram
mulheres em sua maioria. De fato, as mulheres eram dominantes na
prestação de serviços pessoais· (81 % do total de pessoas no setor);
contudo, diferentemente de agora, eram 78% ,dos trabalhadores industriais:
Elas perdiam para os homens na agricultura, que' consistia na atividade
econômica mais importante.
O que esses dados do século passado mostram é que muitas
mulheres trabalhavam, embora parte substancial, desse trabalho fosse
realizada dentro da família, como donas de casa e serviçais domésticas.
Política e economicamente, a família, a propriedade territorial e a escravidão 2 Este texto foi distribuído pela Nalú Farias da SOF, durante o Curso de Formação de Educadores/as em Concepção Prática Sindical e Metodologia da Formação, realizado pela ENFOC/CONTAG.
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eram eixos do mesmo fenômeno, o latifúndio, com sua produção voltada
para o mercado externo. No latifúndio, sinhás e escravas eram partes da
mesma comunhão doméstica. Às fazendeiras, embora sob o jugo masculino e
interminavelmente explorando as escravas, cabia, não obstante,
desempenhar várias ocupações: supervisionava e controlava todas as ativi-
dades caseiras, como cuidar das crianças, cozinha e costura e, ainda, a
produção de sabão e velas, freqüentemente comercializados nas vilas mais
próximas. No caso das mulheres escravas, elas partilhavam, desde
pequenas, com as crianças do sexo masculinas, as tarefas mais duras e
pesadas, tanto domésticas quanto na agricultura. Elas roçavam plantavam e
colhiam algumas cultivavam ainda, alimentos em pequenos pedaços de
terras que vendiam e assim, logravam comprar sua liberdade.
Na periferia da grande propriedade territorial estavam os
antepassados dos atuais bóias-frias: homens e mulheres pobres e brancos,
sem propriedade, e que, eventualmente, eram incorporados às atividades do
latifúndio: Nesse grupo, disperso pelo território brasileiro e desprovido de
terras, as mulheres ficavam com o encargo dos filhos, freqüentemente
abandonados pelos pais, dedicando-se ao comércio ambulante de
mercadorias feitas em casa, à prestação de serviços pessoais como costura
ou cozinha e, finalmente, à prostituição. A mulher taboleira, por exemplo,
teve origem nesse pequeno comércio ambulante, onde se vendia sonhos,
café torrado, flores, refrescos, cestos, palmitos, aves, milho assado, bolo,
angu, etc.
Foi também no século passado que tomou impulso a constituição
de um campo de trabalho fundamental para a jovem de classe média: o en-
sino primário. Inicialmente, o ensino era uma esfera de atividades masculina,
mesmo porque, até o inicio do século XIX, um conjunto de medidas legais
restringia o acesso das mulheres às escolas e, portanto, à habilitação
profissional. Apenas em 1827 surgiu a primeira regulamentação que permitia
às mulheres freqüentarem o ensino elementar, mas apenas esse. As
primeiras Escolas Normais (a da Bahia, fundada em 1835, e a de São Paulo,
fundada em 1836) destinavam-se exclusivamente a rapazes. Não podendo
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ser alunas, não podiam ser professoras. Aos poucos, no entanto, as vagas
foram se abrindo às mulheres e, finalmente, em 1871, reorganizou·se o
ensino de formação para o magistério, aceitando-se a participação feminina,
desde que com um currículo específico que incluísse bordado branco, em filó,
de matizes, flores de contas e aplicação, cortes de roupas brancas e lisas.
Como se sabe, as restrições progressivas ao tráfego negreiro, a
libertação de escravos sexagenários, a Lei do Ventre livre, começaram a
configurar uma crise na oferta de mão-de-obra e a estimular o comércio
interno de escravos, principalmente em direção às regiões fluminense e
paulista, para absorção nas lavouras de café. No mesmo período, expandiu-
se a cultura do algodão em São Paulo e surgiram as primeiras fábricas
têxteis. Em resumo, a expansão econômica da lavoura para exportação
provocou uma crise na lavoura para o abastecimento interno e uma demanda
não suprida por mão-de-obra. A longo prazo, promovida pelo Estado em
estreita conexão com os empresários, a imigração européia seria a solução
para a questão da força de trabalho nas lavouras de exportação e consumo
interno e, ainda, para a indústria em expansão. A curto prazo, mulheres e
crianças das periferias pobres das cidades forneceram os primeiros braços
para essa indústria.
MULHERES E CRIANÇAS NA FÁBRICA
O panorama da convivência das mulheres e crianças com as
fábricas foi, desde o início, desolador: viviam nelas, trabalhando uma jornada
de até dezesseis horas diárias, dormindo e se alimentando entre máquinas;
eram obrigadas, após incontáveis horas de trabalho, a aprender corte e
costura e, freqüentemente, não faziam jus a nenhum salário. As condições de
trabalho supunham, ainda, a sujeira, a insalubridade, os espancamentos e
estupros.
À medida que o século XX se avizinhava, vilas operárias foram
sendo construídas, os homens - freqüentemente imigrantes estrangeiros -
passaram, paulatinamente, a substituir as mulheres nas oficinas, os salários
generalizaram-se no interior da indústria, iniciando-se o hábito de paga-
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mento diferenciado entre os sexos, com os homens recebendo salários
maiores que as mulheres.
Uma operária, Luzia Ferreira de Medeiros, da fábrica têxtil Bangu,
no subúrbio do Rio, contou como eram as condições de trabalho já depois da
virada do século: "Entrei para a fábrica Bangu no período da primeira guerra
mundial com sete anos de idade. Iniciava o trabalho às seis e terminava por
volta das 17 horas - sem horário para almoço de definido. Era o critério dos
mestres o direito de comer e tendo ou não tempo para almoçar, o salário era
o mesmo. Isso, evidentemente, depois de passada a fase do trabalho
gratuito, que chamavam de aprendizado. Não tínhamos lugar para comer. As
refeições eram feitas entre as máquinas. A Penas uma pia imunda servia· nos
de bebedouro. Nunca recebíamos horas extras, mesmo trabalhando além do
horário estabelecido. Mestre Cláudio fechava as moças no escritório para
força-la à praticar relação sexual. Muitas moças foram prostituídas por
aquele canalha. (Em Edgar Rodrigues, Alvorada Operária.)
O fato é que as mulheres: além de estarem submetidas, como os
homens trabalhadores, a condições de trabalho corrosivas, diferentemente
desses, ainda sofriam maus tratos corporais e auferiam salários mais baixos.
Dados de 1912, do Departamento Estadual do Trabalho de São Paulo,
revelam que foram visitadas, para confecção de um relatório, fábricas que
contavam com 1.943 trabalhadores brasileiros, 7.499 estrangeiros e 862 de
nacionalidade ignorada. Dos 10.304 recenseados, 6.80I eram do sexo
feminino. A jornada de trabalho iniciava-se por volta das cinco e meia da
manhã e terminava treze horas depois. O salário médio das mulheres era
bastante mais baixo que o dos homens: o salário médio masculino na fiação
era de 4$500 réis e o das mulheres, 2$000 réis. Na seção de acabamento,
em média, os homens recebiam 4$900 réis e as mulheres recebiam 3$000
réis.
O PROTESTO FEMININO
No entanto, por mais dramática que fosse a vida da mulher
operária, dividida entre seus afazeres domésticos e a longa jornada do
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trabalho assalariado, esse fato não a fez abdicar da sua capacidade de reação
à injustiça e da ação política. No Brasil, no início do século, anarquistas e
socialistas foram os arquitetos da questão social - uma questão de polícia
para o Estado. Assim, foi no interior desses dois movimentos que as
mulheres procuraram demarcar um território para sua luta. Porque luta
houve. O jornal A Terra Livre, de tendência anarquista, foi o veículo utilizado
pelas costureiras das confecções para articular suas demandas e organizar
seus sindicatos. Dois manifestos, assinados por Teresa Cari, Teresa Fabri e
Maria Lopes, ficaram célebres. Neles, por exemplo, podia-se ler: "Devemos
demonstrar, enfim, que somos capazes de exigir o que nas pertence; e se
todas forem solidária, se todas nos acompanharem nessa luta, se nos derem
ouvidos, nós começaremos por desmascarar a cupidez dos patrões
sanguinolentos". (A Terra Livre, 19.07I 906.)
Conjuntamente ao apelo em nome dos' "direitos", vinham
reivindicações mais concretas e imediatas, mas não menos importantes,
exigindo melhores salários e menor jornada. Ao mesmo tempo muitas
mulheres encabeçaram alguns dos mais importantes movimentos grevistas
do período.
Em 1901 e 1903, na Álvares Penteado, paralisaram o trabalho em
protesto contra as condições de trabalho e os salários; na mesma época, na
Companhia Industrial de São Paulo, fizeram uma paralisação contra a
diminuição de tarefas; em 1902, na Anhaia, em São Paulo, entraram em
greve por solidariedade a uma companheira despedida; em 1903, na
Cruzeiro, no Rio de Janeiro, pelas mesmas razões, com o agravante de que a
operária em questão, recém-parida, fora dispensada pelo mestre que a
engravidou; em 1906 e 1907, em fábricas por todo o país, pela diminuição
da jornada.
Em 1917, as mulheres pararam os trabalhos nas Fábricas
Matarazzo, Fábrica de ligas Peterson, Fábrica de tecidos Mariângela, Fábrica
de cigarros Trajano; e em 1919, em Porto Alegre, tecelãs da Cia. Têxtil Rio
Grandense, Companhia de Fiação e Tecidos Porto-Alegrense e trabalhadoras
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da fábrica de chapéus F. C. Kessler & Cia., participaram de nova greve geral
por aumento de salário, além das havidas no Rio e em São Paulo.
MULHERES ENTRAM PARA OS SINDICATOS
Embora houvesse inúmeros fatores freando a participação
feminina na vida sindical..,. de um lado, a relutância masculina em aceitá-Ias
como companheiras e, de outro, as exigências de sua dupla jornada de
trabalho que não Ihes deixava tempo para a política - ainda assim, existem
numerosos registros mostrando que um esforço considerável nessa direção
foi realizado: não apenas vários sindicatos femininos foram fundados, quanto
há evidências de freqüência de mulheres, inclusive discursando, em alguns
congressos operários. ,
Dos sindicatos constituídos, um dos mais importantes foi a União
das Costureiras, Chapeleiras e Classes Anexas, com sede na rua Senhor dos
Passos, no Rio de Janeiro, onde já funcionava a União dos Alfaiates da
mesma cidade. Â União foi fundada por 50 operárias e sua primeira medida
foi deflagrar uma greve pela redução da jornada de trabalho a oito horas
diárias. Uma de suas inspiradoras, Elvira Boni, lembra que o trabalho come-
çava às 8 h da manhã, terminando às 19 h, isso "quando a dona do atelier
não prorrogava a jornada até às 20 ou 22 horas, sempre pelo mesmo
salário". (Em Edgar Rodrigues, Alvorada Operária.)
Por sua vez, em alguns Congressos Operários, sua presença foi
destacada. No 2º Congresso Operário do Rio Grande do Sul, realizado em
1920, lima operária delegada, de nome Alzira, discursou sobre as condições
do trabalho feminino, destacando como essas eram tão árduas que impediam
um companheirismo mais vigoroso como o dos homens na vida sindical:
“Quando tomamos conta que a jornada de trabalho é de 8 horas e mais,
pois ainda há casas em que se trabalham 14 a 16 horas, como por exemplo
as chapeleiras, costureiras sob medida, etc., podemos ainda lembrar o
estado de ânimo em que se encontram nossas irmãs, que após tão fatigante
trabalho em troca de um mísero salário ,tem necessidade de fazer seus ser-
viços domésticos. Como já disse, a maioria é composta por mães de
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famílias, necessitando sustentar os seus e ampará-los contra as misérias da
vida (...) " (Em Edgar Rodrigues, Alvorada Operária.)
De fato, embora a presença de mulheres não tenha sido usual nos
Congressos, sendo mesmo obstaculada em alguns casos, desde as primeiras
reuniões de trabalhadores formou-se um certo consenso sobre quais
deveriam ser as condições de seu trabalho extra-doméstico. Uma resolução
do 3º Congresso Operário Brasileiro, realizado entre 23 e 30 de abril de
1920, resume esse consenso: "O 3º Congresso Operário, confirmando as
resoluções do 1º Congresso quanto à situação do elemento feminino no meio
proletário, aconselha vivamente as associações obreiras a se esforçarem para
interessar diretamente as operárias na vida sindical, preocupando-se com a
sua educação social e intelectual e para que se estabeleça no trabalho um
ambiente de respeito, repelindo as brutalidades dos patrões e encarregados
de serviços intensificando-se a campanha no sentido de que para elas seja
abolido o trabalho noturno e o seus salários sejam equiparados aos dos
homens."
A demanda por uma legislação especial, de caráter protetor,
embora discutível para muitos em virtude dos embaraços que terminou por
causar para a contratação e a carreira das mulheres, acabou por prevalecer
e, em 1932, foi reconhecida pelo Estado, pelo Decreto 21.417, que tanto
proibia seu trabalho noturno, quanto criava condições mais favoráveis à
gravidez e estabelecia o princípio do salário igual para trabalho igual.
AS MULHERES COMO FORÇA DE TRABALHO
O censo demográfico de 1920 mostrava que então 1.434.000
mulheres trabalhavam oficialmente, apresentando 15% da força de trabalho.
Deste total de mulheres trabalhadoras, 42% estavam na agricultura, 31 %
na indústria (inclusive em serviços de reparação) e 26% em serviços.
No entanto, tomando o total de pessoas trabalhando nos diversos
setores da economia, constata-se que, na agricultura as mulheres eram 9%
da força de trabalho; na indústria de transformação 36%; na prestação de
serviços, 81 %. Comparando os dados de 1872 com os de 1920, a conclusão
mais importante é que, à medida que a indústria se expandiu, diminuiu a
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participação das mulheres no seu interior. Outras informações demonstram
que, não obstante esse decréscimo, elas permaneceriam, desde então, em
torno da metade do proletariado têxtil e seriam majoritárias no setor de
confecções.
Assim, vale a pena lembrar que durante toda a década dos vinte,
e no início dos anos 30, principalmente ma condição de tecelãs e costureiras,
elas militaram no movimento dos trabalhadores: a título de exemplo,
eclodiram greves na Fábrica de Tecidos Santa Maria, em Sorocaba, em I 922
no mesmo ano, no Rio, participaram da tentativa de uma greve geral da
categoria: em 1925, bordadeiras, costureiras e trabalhadoras de fábricas de
fósforos em Niterói deram testemunho em A Classe Operária sobre suas
condições de trabalho e salários e tentaram ganhar a solidariedade masculina
para suas reivindicações; fizeram greves na Fábrica de Tecidos Irmãos
Tognato, em São Bernardo, em 1931.
PIONEIRAS DA LUTA SOCIAL
Algumas mulheres destacaram-se na vida pública e em sua
participação junto às organizações operárias. Dentre várias, cabe destacar
Maria Lacerda de Moura, Isabel Ferreira Bertolucci e Bertha Lutz.
Maria Lacerda de Moura; mineira de Manhuaçu nascida em 1877,
professora e escritora, organizou a Vila Dom Viçosa, em Barbacena, na qual
22 casas foram construídas para favelados e, ainda, fundou a Liga Contra o
Analfabetismo. Convidada para discursar na Federação Operária Mineira,
afirmou na ocasião: "A questão social, a questão do bem-estar para todos
resume-se no seguinte: 1º) Formar um núcleo de resistência feminina, cujo
objetivo será protestar contra a escravidão da mulher, trabalhar para a
reivindicação de seus direitos e para sua emancipação mental. 2.°) Pregar e
exigir a educação popular, a instrução obrigatória, a educação racional
feminina por todo o país. 3.°) Trabalhar para a criação de uma ou mais
universidades femininas, sob esses moldes, a fim de preparar o pequenino
exército das trabalhadoras que deverão sair para o interior em demanda de
outras mulheres de boa vontade, educando-as num sonho de Paz futura para
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toda a gente. 4.°) Abrir escolas do caráter e da boa vontade, escolas que
despertem a iniciativa, escolas de força moral, porquanto é a força moral que
conduz o mundo no dizer de Binet. 5.°) Promover o estudo da psicologia das
forças ancestrais, da higiene, da fisiologia, da educação e da ética, das ciên-
cias enfim, da filosofia, das artes - para o conhecimento da humanidade e
das leis evolutivas em favor da beleza e da perfeição dos costumes. 6.°) Tra-
balhar pela juventude e pelo exemplo para dar à criança, fazendo crescer na
juventude a necessidade de ideal mais amplo - de justiça e eqüidade entre os
homens. 7.°) Falar, pregar e protestar contra as mentiras convencionais,
contra a hipocrisia protocolar, detestar a política. 8.°) Pregar a Paz, abominar
a guerra, ampliar o amor à Pátria, fazê-Ia atravessar as fronteiras e olhar a
Humanidade de uma só vez, abrangendo as nacionalidades como membros
da família humana".
Isabel Bertolucci celebrizou-se pelo seu "Manifesto à Mulher
Paulista", publicado em A Plebe, em 03/12/1932, por ocasião do movimento
constitucionalista. Segundo ela própria, sua origem social estava na classe
dos que tudo produzem e nada possuem. No seu manifesto procurou,
ultrapassando sua condição social e dirigir-se a todas as classes de mulheres,
de forma a persuadí-Ias de sua crença pacifista e da imoralidade das
guerras.
Bertha Lutz, já em 1919, juntamente com Olga de Paiva Meira,
representou o Brasil no Conselho Feminino Internacional, da Organização In-
ternacional do Trabalho, em cuja Primeira Conferência foram aprovados os
princípios "de salário igual, sem distinção de sexo, para o mesmo trabalho; e
a obrigação de caia Estado organizar um serviço de inspeção, incluindo
mulheres, a fim de assegurar a aplicação das leis e regulamentos para a
frr0teção dos trabalhadores". Em 1922, fundou a Federação Brasileira Para o
Progresso Feminino, em cujo estatuto se esclareciam seus objetivos:
Promover educação da mulher e elevar seu nível de instrução;
Proteger as mães e a infância;
Obter garantias legislativas e práticas para o trabalho feminino;
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Auxiliar as boas iniciativas das mulheres e orienta-Ias, na escolha
de urna profissão;
Estimular o espírito de sociabilidade e de cooperação entre as
mulheres e interessá-Ias pelas questões sociais e de alcance público;
Assegurar à mulher os direitos políticos que a nossa Constituição
lhe oferece e prepará-Ia para o exercício inteligente desses direitos;
Estreitar os laços de amizade com os demais paises americanos, a
fim de garantir a manutenção perpétua da Paz e da Justiça no Hemisfério
Ocidental.
Em 1936, Bertha passou a integrar a Câmara Legislativa Federal,
como suplente da vaga deixada por outro Deputado, elaborando, na ocasião,
o Estatuto da Mulher, apresentado por ela e pela Deputada Carlota Pereira de
Queiroz. O Estatuto ampliava a licença especial na época do parto para três
meses; concedia à trabalhadora o direito de dois períodos diários para
amamentação, de meia hora cada um, durante os seis meses iniciais de vida
do bebê; reduzia de 30 para 20 o número de empregadas no local de
trabalho cuja presença exigia creches. Com o golpe de 1937 e o Estado
Novo, fechado o Congresso, as reivindicações de Bertha Lutz tiveram de
esperar por melhores oportunidades, e algumas delas somente foram
concedidas em 1962.
Mas outras mulheres, de extrações ideológicas e partidárias
diversas, procuraram igualmente organizar-se, participando da vida pública.
Em 1934, como parte da Aliança Nacional libertadora, fundou-se a União
Feminina que, no entanto, em 1935 foi considerada ilegal, assistindo-se à
prisão de várias de suas integrantes. Por sua vez, durante a II Guerra
Mundial, organizou-se o Departamento Feminino da Liga de Defesa Nacional,
cujos objetivos, além de recolher dos nativos e roupas para os soldados,
eram, no âmbito do estritamente econômico, lutar contra os aumentos no
custo de vida e, no âmbito do político, combater o nazi-fascismo e sua
influência no país.
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PARTICIPAÇÃO FEMININA NO PÓS-GUERRA
Terminada a guerra, promoveu-se um encontro nacional de várias
associações femininas, com representantes de vários estratos sociais,
incluindo mulheres de classe média, operárias e faveladas. Nessa ocasião,
duas delas, participando do Primeiro Congresso Internacional de Mulheres,
em Paris, ressaltaram em discurso os males do fascismo e a necessidade de
proporcionar-se instrução política às mulheres, "a fim de possibilitar-lhes
participação efetiva nos movimentos de combate à guerra e aos regimes de
força". (Idem.) Todo esse esforço acabou por resultar, em 1949, na
constituição da Federação das Mulheres do Brasil, que consistiu em forte
impulso para outros núcleos locais, freqüentemente organizados em comitês
de bairros.
No final dos anos 40 e durante a década seguinte, a participação
feminina foi intensa no movimento contra a carestia: no então Distrito
Federal, onde se fundou a Associação Feminina, mais de mil mulheres se
congregaram para, nas palavras de uma estudiosa, "lutar pela solução dos
problemas especificas dos bairros, pela paz, contra a elevação do custo de
vida, pelos direitos das mulheres, pela defesa e proteção da infância".
(Idem). Também vale a pena ressaltar o papel que elas cumpriram na
organização do movimento de anistia para aquelas pessoas perseguidas ou
presas pelo Estado Novo.
Embora as mulheres tenham participado de formas variadas, da
dinâmica do movimento operário no período pós Estado Novo, destaca-se seu
desempenho na greve de 1953, em São Paulo, que paralisou
aproximadamente 300 mil trabalhadores e, cuja comissão central a tecelã
Mariana Galgaitez terminou por integrar. Na ocasião, várias outras grevistas
foram indiciadas em processos por sua presença em piquetes. (Ver José
Álvaro Moisés, Greve de Massas e Crise Política, Ed. Polis, São Paulo). De
fato, a greve teve como origem a luta pelo aumento do salário mínimo,
congelado desde 1951 e desvalorizado pelos constantes aumentos no custo
de vida (que Celso Furtado estima como sendo de 50% entre 1949-52). A
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greve de São Paulo não foi isolada e dados coletados por José Álvaro Moisés
lhe permitiram falar em 264 paralisações no período 1951-1952, eclodidas
em todo país, cujas principais motivações eram a necessidade de aumentos
nos salários, pagamento de salários atrasados, solidariedade, melhores
condições de trabalho e, em número menor, bonificação de Natal e o protesto
contra a carestia.
Os Censos Demográficos de 1940 e 1950 continuavam, então,
acusando queda da participação feminina na indústria e sua persistência na
prestação de serviços pessoais. Em 1940, o trabalho industrial das mulheres
caíra para 26.4% e em 1950 para 23.9% do total de trabalhadores.
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HISTÓRIA DO MOVIMENTO SINDICAL3
De 1964 aos nossos dias
O golpe militar de 1964 colocou às escuras os movimentos sociais
e grevistas que tiveram grande atuação no período 1959/1963. As fortes
repressões não permitiram que entre 1964 e 1977 houvesse praticamente
nenhuma greve ou outras formas quaisquer de manifestação.
Os trabalhadores e trabalhadoras enfrentaram, desde a
instauração da ditadura militar no Brasil em 1964, uma forte repressão às
organizações que lutavam contra as políticas salariais que arrochavam o
poder de compra e as condições de vida de toda a classe. O governo ditador
procurou atacar as cúpulas dos sindicatos realizando intervenções nas
organizações, desmantelando as estruturas já construídas anteriormente e
impedindo qualquer tipo de articulação dos operários que intuísse a formação
de um grupo opositor organizado.
Mas, mesmo sobre forte pressão os trabalhadores e trabalhadoras
se organizam e realizam, em 1967, a II Conferência Nacional de Dirigentes
Sindicais, marcando posição contrária à política de arrocho salarial e
buscando construir junto aos operários as comissões sindicais de
trabalhadores e trabalhadoras. No entanto, mesmo com a manifestação
contrária de alguns grupos de trabalhadores e trabalhadoras que paralisavam
isoladamente algumas fábricas afrontando e contestando a política
econômica do governo militar ditador, a luta sindical perdurou durante um
grande período do pós-64 sem atingir plenamente os seus objetivos.
O movimento dos trabalhadores e trabalhadoras organizados em
sindicatos ainda conseguiu causar grandes problemas para os ditadores em
1968, sobretudo, com a greve dos trabalhadores e trabalhadoras da Belgo
Mineira em Contagem-MG, e com os metalúrgicos de Osasco que, com um
3 Cartilha de Formação CNTE. Jones Dori Goettert
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forte sindicato, desempenharam um papel importante na organização das
ações dos trabalhadores e trabalhadoras.
As ações do governo também se tornavam duras em relação a
qualquer manifestação ou postura de contestação, por mais “irrelevantes”
que fossem. Em 1969, o Ministro Jarbas Passarinho através de um decreto
intervém em vários sindicatos, afastando os seus dirigentes que, em sua
opinião, não conseguiram disciplinar as entidades com a ordem social
vigente4.
Essa situação de perseguição de lideranças e de intervenção nas
entidades por parte do governo ditatorial continuou, mas sem eliminar
totalmente o “germe” da subversão que se manteria vivo e crescente até o
final dos anos 70, quando as manifestações ganham as ruas e o interior das
fábricas.
Por outro lado, é importante registrar o papel que a União
Nacional dos Estudantes (UNE) desempenhou nesse período. A UNE, fundada
em 1937, tem logicamente desempenhado um papel importante na história
política nacional. Em vários momentos dessa história, principalmente num
passado recente, firmou-se como uma entidade de força política na
coordenação das mobilizações e ações dos estudantes.
No período pós-60, em que o país viveu um momento político e
econômico conturbado, com a manifestação constante do operariado e com a
insatisfação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais exigindo reforma
agrária, a UNE procurava demarcar as suas posições ideológicas
considerando, é claro, a diversidade interna dos grupos que a compunham,
mas comungando com os ideais de transformação social (o que pouco tempo
depois colocaria a entidade na mira dos ditadores).
Apesar das suas várias tendências internas, que claramente se
posicionavam contrárias ao regime ditatorial militar imposto em 1964, e
mesmo sendo formada em grande parte por estudantes de classe média, um
pouco distantes da dura realidade vivida pelos trabalhadores e trabalhadoras,
a UNE se uniu aos demais oposicionistas à ditadura (como o PCB, PSB, PTB, 4 Cf. SANTANA, 2001.
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FPN, Confederação Geral dos trabalhadores e trabalhadoras e as Ligas
Camponesas), trilhando em conjunto o caminho da luta pela
redemocratização.
A posição da UNE frente ao governo continuou sendo a de
desaprovação, organizando manifestações e sofrendo uma violenta repressão
como resposta, que procurava remodelar e enquadrar o movimento
estudantil na “nova ordem social” ditada pelos militares5.
A perseguição e repressão sobre os estudantes, sindicalistas,
trabalhadores e trabalhadoras e intelectuais, acentuou-se drasticamente com
o Ato Institucional número 5, o AI – 5, de 1968.
O AI-5 anulou o Estado de Direito no Brasil firmando um governo
de direita autoritário. Suas práticas, agora, estavam institucionalizadas;
práticas de repressão política contra todos aqueles que pudessem ser
enquadrados ou que se caracterizassem minimamente como subversivos,
como inimigos da ordem estabelecida. Uma ordem que não trouxe para a
maior parte da população, e claramente para a grande parte da classe
trabalhadora, nenhuma melhora em suas condições de vida6.
Ao fechar o Congresso e instituir um bi-partidarismo que forjava
uma falsa idéia de democracia com o MDB como “oposição” consentida à
ARENA, partido do governo, a ditadura militar demonstrava ainda mais sua
truculência e arbitrariedade. Já para os militantes de esquerda envolvidos em
ações políticas, manifestações e organizações contrárias à ditadura, o AI - 5
instaurou a prisão arbitrária, a violência sem limites, à tortura e, em diversos
casos, o assassinato.
Mas, mesmo durante esse período vários sindicatos tentaram,
mesmo que timidamente, orientar as bases para continuar reivindicando e se
contrapondo às políticas de arrocho salarial, através da organização no “chão
das fabricas” fazer frente ao processo de controle sobre o aumento de
salários baseado no AI-5.
5 Cf. SANFELICE, 1986. 6 Cf. SEGAL, 2001.
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As greves começaram a ressurgir no ano de 1978, quando os
trabalhadores e trabalhadoras, já no máximo de sua condição de exploração
e percebendo o momento político favorável, começam a se manifestar e a
exigir melhorias no salário que possibilitassem a melhoria das suas condições
de vida e de trabalho. Essas manifestações aconteciam e continuaram
seguindo esta lógica durante algum tempo, nos momentos de negociação de
salários (a data base de cada categoria), que passou a ser o momento mais
propício para o enfrentamento político, que também procurava abarcar
outras questões, além das salariais.
As greves passaram a ter um crescimento anual considerável,
envolvendo cada vez mais categorias de trabalhadores e trabalhadoras e
tendo à frente os operários das fábricas produtoras de automóveis, os
metalúrgicos. Nascia o “novo sindicalismo”. A partir de 1978, constitui-se um
amplo movimento social de massas, de democratização interna, de inserção
no processo de luta da democracia, de confronto com os limites impostos
pelo autoritarismo no Brasil ao pleno exercício da cidadania dos
trabalhadores e trabalhadoras. O “novo sindicalismo” extrapolava, portanto,
“o terreno de suas funções sindicais, e redefiniu-se em face do conjunto de
agentes que, no Brasil, lutam pela democracia: fala-se hoje, abertamente,
que os trabalhadores e trabalhadoras são a espinha dorsal do movimento
democrático brasileiro”, porque sem eles qualquer “abertura” ou
“liberalização” apenas reconstruiria o círculo vicioso da crise do regime
autoritário7.
As manifestações dos trabalhadores e trabalhadoras que se
avolumam no final da década de 70, e que tem o ABC paulista como palco
inicial, estão ligadas não só à resistência política contra a ditadura, mas
também se contrapõem às investidas político-econômicas do capital que
arrochavam os salários e aumentavam a exploração do trabalho.
O acontecimento primeiro desse período de grande movimentação
foi à greve dos trabalhadores e trabalhadoras da Saab-Scania, com início em
12 de maio de 1978. Os operários enfatizavam que a empresa não havia 7 MOISÉS, 1982, p. 31.
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cumprido o acordo de readmissão de trabalhadores e trabalhadoras
dispensados em protestos anteriores, em 1977. O movimento alastrou-se
extrapolando o ABC e chegando a outros municípios como São Paulo e
Osasco, acabando por atingir outros setores da economia, mesmo com a
decisão do Tribunal Regional do Trabalho de considerar a greve ilegal.
Estas manifestações continuariam crescendo durante o ano de
1979, de forma a aumentar a participação e a atuação dos trabalhadores e
trabalhadoras na política nacional. Com a greve iniciada em 1978 o
movimento expande-se e ganha força em outros estados brasileiros,
alcançando Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Contudo, é em
seu “centro nervoso”, o ABC paulista, que o movimento dos trabalhadores e
trabalhadoras assume outros patamares, indo além das questões trabalhistas
dos primeiros movimentos e estabelecendo a bandeira da democratização
política do país8.
No início de março de 1979, os trabalhadores e trabalhadoras do
ABC entram em greve: são por volta de cinqüenta mil trabalhadores e
trabalhadoras parados. A greve estende-se para o interior e o governo a
declara ilegal; mesmo assim os trabalhadores e trabalhadoras mantêm a
posição e conseguem novas adesões ao movimento que se espalha para o
interior, e em alguns dias são mais de 170 mil trabalhadores e trabalhadoras
parados. Com o passar de dias de greve o Ministério do Trabalho resolve
intervir na negociação, elaborando propostas que não convencem os
trabalhadores e trabalhadoras. O governo, então, declara a intervenção nos
sindicatos e deflagra uma série de confrontos em praça pública entre
trabalhadores e trabalhadoras e policiais. O movimento continua até o dia 27
de março quando os trabalhadores e trabalhadoras resolvem aceitar a
proposta feita pelo patronato, que estabelecia o prazo de 45 dias para
negociação de um piso satisfatório.
A insubordinação dos sindicatos e o crescimento do movimento
grevista, que continua nos anos 80 do século XX, tiveram então como grande
elemento aglutinador da classe trabalhadora a questão salarial. A inflação 8 Cf. SANTANA, 2001.
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crescente combinadas ao baixo rendimento dos salários deteriorava as
condições de vida dos trabalhadores e trabalhadoras, que viam o seu poder
de compra diminuído a cada mês. É nesse momento de agitação e de
organização dos trabalhadores e trabalhadoras que surgem a Central Única
dos trabalhadores e trabalhadoras - CUT e o Partido dos Trabalhadores e
trabalhadoras - PT, sinalizando para uma nova forma de sindicalismo.
O PT surge como instrumento necessário de organização e de luta
dos trabalhadores e trabalhadoras na política nacional; contudo, sempre
articulado a outras formas de luta organizada como os sindicatos e demais
associações populares, sendo a participação dos sindicalistas o elemento
fundamental para a formação e a caracterização do partido. Segundo Ozai da
Silva (2000), essa afirmação pode ser feita com base na análise da formação
da primeira Comissão Nacional Provisória, de 1979, que era composta por 12
dirigentes sindicais, dos 16 membros que a compunham.
O contexto de formação do Partido dos Trabalhadores, no começo
dos anos 80, tem como pano de fundo o crescimento dos movimentos sociais
organizados no Brasil e as intensas lutas dos operários do ABC paulista, que
colocavam em questão o regime de governo autoritário dos militares. O PT
levanta bandeiras que extrapolavam as questões salariais e que visavam
transformações políticas e sociais bastante profundas, demarcando
fortemente nesse período uma tendência ideológica socialista, que se
baseava de forma clara em um projeto político anticapitalista.
Será, em especial, esta a tendência do PT: a busca da democracia
plena exercida pela massa organizada e participativa, que tem gravado em
seu manifesto de fundação as idéias básicas de um projeto que visa à
construção de uma sociedade igualitária, sem explorados nem exploradores9.
Já a CUT - Central Única dos Trabalhadores, criada em 1983,
ainda no regime militar, aglutinava as correntes sindicais mais ativas,
fazendo frente às políticas de degradação das condições de vida da classe
trabalhadora, estabelecendo-se nesse período como uma importante
organização política e social e fazendo frente de forte oposição ao governo 9 Cf. SILVA, 2000.
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Figueiredo e depois ao governo Sarney. A CUT tornou-se o inimigo número
um das políticas governistas e se firmava como a Central que aglutina o
maior número de entidades filiadas.
A ascensão da CUT, nos anos 80, assim como o crescimento do
PT, na esfera da política institucional, é impulsionada pelo momento
histórico-político de grandes transformações, com o fim da ditadura e com a
crise do Estado e da economia hiperinflacionada. Nesse período, de acordo
com Alves (2000), o sindicalismo brasileiro caminha na contramão dos
sindicatos no resto do mundo, inclusive em relação a alguns países na
América Latina como a Argentina. Enquanto nesses países os sindicatos
entravam em depressão por falta de participação e por perder poder político,
no Brasil vivia-se o que se denominou a década de explosão do sindicalismo.
Com uma atuação política constante, a CUT procurou na década
de 1980, firmar um projeto de organização e ação dos trabalhadores e
trabalhadoras, classificado como “sindicalismo defensivo”, mantendo uma
postura reivindicatória e que tinha como principal instrumento de ação e
pressão e a greve. Com as mudanças políticas e econômicas ocorridas até o
começo dos anos 90, com a implantação do modelo econômico neoliberal, a
CUT procurou estabelecer, após o seu IV Congresso realizado em São Paulo,
em 1991, uma ação estratégica mais propositiva, elaborando propostas de
políticas que poderiam ser discutidas em fóruns que contassem com a
presença de representantes não só dos sindicalistas, mas também do
governo e do empresariado.
Antes de prosseguirmos, é importante destacar a criação das duas
outras maiores Centrais Sindicais brasileiras: a CGT – Confederação Geral
dos Trabalhadores e trabalhadoras e a FS – Força Sindical.
A Confederação Geral dos Trabalhadores - CGT10, segundo
informações em seu site, é uma sigla histórica, datando de 1929, quando foi
criada a Confederação Geral dos Trabalhadores e trabalhadoras Brasileiros
passando por mudanças, em 1945, passou a Confederação Geral dos
Trabalhadores e trabalhadoras; em 1962, para Comando Geral dos 10 Site: www.cgt.org.br
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Trabalhadores e trabalhadoras (esmagado pelo golpe de 1964); em 1986,
para Central Geral dos Trabalhadores e trabalhadoras (início da
reestruturação) e 1988, para Confederação Geral dos Trabalhadores e
trabalhadoras.
A CGT, hoje abrange todo território brasileiro, com filiais em 21
Estados e conta com 1.056 entidades sindicais, filiadas que representam
8.669.000 trabalhadores e trabalhadoras (dos quais 30% são sindicalizados,
o que corresponde a 2.600.000 filiados), representados por: 1.017 sindicatos
de base; 04 confederações nacionais e 35 federações nacionais /regionais e
estaduais
A Força Sindical11, segundo informações em seu site, foi criada
em 1991 a partir de Congresso em São Paulo, surge a partir de críticas ao
sindicalismo em curso no Brasil. De um lado, a crítica recaia sobre um
sindicalismo de “radicalismo estéril”12 (crítica, em especial, à CUT) e, por
outro, sobre um sindicalismo de “conformismo paralisante”. A superação
dessas formas de sindicalismo seria possível na medida que se lançasse “o
movimento dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros à modernidade,
para construir uma central forte, capaz de endurecer quando preciso, mas
também de saber negociar, autônoma, livre, pluralista, aberta ao debate
interno e com a sociedade”.
A Força Sindical passou, então, a empreender esforços no sentido
de pragmatizar as lutas com “conquistas reais para os trabalhadores e
trabalhadoras”. O Centro de Solidariedade ao (a) trabalhador (a), a
Qualificação Profissional, o “1º de Maio pelo Emprego” em 1998, e o “1o de
Maio pelo Brasil – por Emprego, Educação e Qualificação Profissional”, em
1999, assim como “a luta pela aposentadoria, pelas grandes reformas –
previdenciária, agrária, do judiciário, política, fiscal e sindical e pela
flexibilização das leis trabalhistas – dando-se status à negociação livre entre
empregadores e empregados com o apoio dos sindicatos e das centrais”,
foram resultados dessa forma de se construir e de se fazer sindicalismo. A
11 Site: www.forçasindical.org.br 12 A referência base das informações sobre a Força Sindical foi o site da Central.
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Força Sindical se assenta sobre um discurso que acentua o moderno, a
pluralidade e a democracia.
*
Mesmo que o processo de surgimento e desenvolvimento do
“novo sindicalismo” “não tenha sido suficiente para desmontar totalmente a
estrutura sindical corporativa erigida desde os anos 30, tendo em vista que
suas bases fundamentais – como o imposto sindical, o monopólio da
representação pelo sindicato, o princípio da unicidade sindical e a estrutura
confederativa – foram mantidas, ele permitiu um significativo aumento da
liberdade de organização e ação sindical. Na verdade, embora a proposta
pela qual os setores de ponta do sindicalismo vinham lutando ao longo de
todos esses anos – de superação da estrutura sindical corporativa e de sua
substituição por uma institucionalidade sindical democrática, baseada no
contrato coletivo de trabalho – tivesse sido derrotada pelo empresariado e
pelos setores mais conservadores do próprio movimento sindical, suas lutas
deixaram marcas”13 profundas.
Pode-se afirmar, nesse sentido, “que o movimento sindical
brasileiro esteve na contramão da tendência histórica predominante durante
a década de 1980, ao conquistar uma capacidade de intervenção política
inédita na história do país, quando, em nível internacional, os sindicatos
viviam um processo generalizado de enfraquecimento”14.
Essa resistência dos trabalhadores e trabalhadoras ia de encontro
às políticas de exploração do trabalho estabelecidas pelo capital industrial
brasileiro da época, que se utilizava dos baixos salários pagos ao operariado
como principal elemento da competitividade da indústria nacional. Com isso,
conseguia colocar seus produtos no mercado a um preço menor que os
internacionais. O aumento de salário requerido pelos trabalhadores e
trabalhadoras, portanto, não era visto como um bom negócio para o capital.
Apesar do crescimento e da força do movimento operário dessa
época, a classe trabalhadora, sobretudo o operariado fabril dos anos 80,
13 LEITE, 1997, p. 17. 14 LEITE, 1997, p. 17.
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começava a sofrer as transformações nas relações de trabalho e de produção
que sinalizavam para transformações que iriam reestruturar o processo
produtivo fabril. Essa reestruturação tinha como um de seus principais
aspectos a inserção de novas tecnologias que visavam à diminuição
quantitativa da exploração da força de trabalho e a verticalização da
exploração qualitativa, tornando-se um dos elementos mais importantes da
constituição da hegemonia do capital sobre o trabalho nos anos 80 e 90 do
século XX.
Essa reestruturação produtiva do capital que começava a se
desenhar no Brasil nos anos 80 e que já estava a pleno vapor nos países de
centro da economia capitalista, vinha a reordenar a organização e a gestão
da produção fabril que até então estava montada totalmente nos moldes do
esquema de produção taylorista/fordista. Nesse modelo o descontentamento
e a organização dos operários era crescente, colocando em risco o processo
de acumulação e reprodução do capital.
Para os capitalistas, esse era o começo da implantação da
acumulação flexível baseada no toyotismo, organização do processo
produtivo criada no Japão e exportada como modelo para os demais países
capitalistas, e que ganharia força no Brasil a partir dos anos 90, com a
abertura e a liberalização da economia realizada por Fernando Collor de
Mello.
Esse novo arranjo do capital encontra ainda uma força de trabalho
organizada, que procurava fazer resistência à ação avassaladora do capital.
Uma das formas de resistência foi à proposição da instalação das Comissões
de Fábrica e a intervenção sindical no processo de decisão da inserção de
novas tecnologias no processo produtivo, procurando minimizar os danos e
os prejuízos que o operariado sofreria com esse novo modelo de produção.
Mas, o ritmo de instalação das novas tecnologias foi bastante forte e
agravado pela falta de condição e de tempo que os trabalhadores e
trabalhadoras tinham para se contrapor a esse movimento. É que, se esse
movimento seguiu um processo temporalmente mais lento nos países de
primeiro mundo, possibilitando a luta dos trabalhadores e trabalhadoras
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concomitantemente às transformações, no Brasil as transformações
aconteceram rapidamente, com a reformulação tecnológica de parques
industriais em pouquíssimo tempo.
Devemos lembrar que, o período de 1980 a 1990, é marcado pelo
fim da ditadura militar (1985), e pela instalação de um governo civil
proclamada como a retomada da democracia no Brasil. Por outro lado, a
década foi também um período de inflação muito alta e de recessão
econômica com aumento do desemprego, fatores que colaboraram para uma
diminuição das ações reivindicatórias dos trabalhadores e trabalhadoras que
se viam pressionados pelo crescente desemprego estrutural.
Um dos mais importantes fatos desse momento foi, sem dúvida, o
processo eleitoral que elegeria, pelo voto direto, o novo presidente do Brasil.
Em 1989 tivemos o enfrentamento, no segundo turno, de duas frentes
bastante diferentes. Uma que tinha como candidato Luís Inácio “Lula” da
Silva, ex-líder operário e um dos fundadores do PT, que contava com o apoio
de uma ampla gama de organização dos trabalhadores e trabalhadoras,
sindicatos e demais organizações; do outro lado, era candidato Fernando
Collor de Melo, fantoche criado pela burguesia e pelo poder político
conservador e demais larápios nacionais, com amplo e irrestrito apoio da
imprensa nacional (leia-se Rede Globo).
O desfecho não poderia ser pior: Fernando Collor de Melo é eleito
presidente com o discurso da necessidade da abertura econômica. Implanta
uma política de importação de bens de consumo e de produção, dando os
primeiros retoques para liberalização da economia ao iniciar o processo de
privatização das empresas estatais brasileiras. Dois anos depois tem o
mandato cassado por corrupção. Mas o estrago já estava feito.
O processo de abertura da economia brasileira seguiu tornando-se
mais agudo com os governos posteriores. É claro que os prejuízos desse
processo foram transferidos para a classe trabalhadora, que mais uma vez se
viu arcando com o ônus necessário a ser pago para o “bom desempenho” dos
indicadores da economia nacional, agora na era da mundialização dos
capitais.
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Nesse sentido, a situação do movimento operário muda
significativamente com a chegada dos anos 90. “A política econômica
neoliberal inaugurada pelo governo Collor em 1990 jogou o país numa
profunda crise recessiva, aumentando de maneira extremamente rápida os
níveis de desemprego no país, ao mesmo tempo em que, ao abrir
abruptamente a economia brasileira, forçou as empresas a acelerar seus
processos de reestruturação produtiva, gerando novos desafios para os quais
o movimento sindical, de maneira geral, não se encontrava preparado”15.
A partir de 1994, com a eleição do Presidente, Fernando Henrique
Cardoso, a política adotada foi a de continuidade da implementação das
políticas neoliberais iniciadas por Fernando Collor de Melo, com o governo se
empenhado em seguir amplamente a “cartilha” do Fundo Monetário
Internacional, privatizando as empresas estatais, diminuindo gastos na
esfera social e contribuindo na soma das transformações estruturais do
processo de produção capitalista em nível mundial. Com as dificuldades
políticas e econômicas conjunturais locais, tem-se um aumento da
miserabilidade de grande parcela da população brasileira.
Neste novo contexto de reestruturação do capital mundial, houve
um número crescente de trabalhadores e trabalhadoras brasileiros vivendo o
drama do desemprego, um fenômeno que afetou e afeta, sobretudo as
regiões de grandes indústrias, como a automobilística. Mas, que tem
reflexos, também, noutras regiões e setores do país devido à implantação de
políticas econômicas que abrem o mercado brasileiro para produtos externos,
diminuindo o consumo de produtos internos e desencadeando um processo
gerador de mais desemprego. Conseqüentemente, mais trabalhadores e
trabalhadoras buscam na informalidade formas de ocupação.
A implementação pelo governo federal de um modelo político
econômico centrado no neoliberalismo, tornou a relação entre capital e
trabalho mais injusta no Brasil, favorecendo sobremaneira o primeiro.
Montado no discurso de geração de postos de trabalho, as ações do governo 15 LEITE, 1997, pp. 17-18.
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FHC procurou estimular o surgimento de relações de produção, que se
contrapunham às Leis Trabalhistas vigentes. Com a criação de contratos
temporários que deixaram o trabalhador e a trabalhadora desprovidos de
qualquer direito, impedindo que este tivesse qualquer benefício estipulado
por Lei. Isso acabou barateando o custo do Trabalho para o Capital.
As transformações do modo capitalista de produção têm se
realizado no Brasil com mais força no âmbito da implantação de políticas de
cunho neoliberal e procuraram, dentre outras ações, acabar com os
“entraves” gerados pelas leis trabalhistas na relação Capital/Trabalho,
garantindo às empresas maior flexibilidade no uso e desuso da força de
trabalho, sem impedimento legal e reduzindo a contestação no campo
institucional formal por parte dos sindicatos.
As ações das instituições governamentais revelaram a face
intervencionista das instâncias burocráticas do Estado, que de acordo com os
princípios liberais não deveria intervir no movimento do mercado, mas o faz,
desde que seja para utilizar o poder político institucional para a otimização
das condições de reprodução do Capital.
Nesse período, ficou evidente uma outra contradição na forma de
atuação do Estado, no trato das questões relativas ao Trabalho e à economia
informal. Enquanto o discurso oficial pregava a regularização e a
regulamentação dos trabalhadores e trabalhadoras e das transações
econômicas informais, o discurso ideológico que sustentava as ações
governamentais estava fundado no liberalismo econômico, que tem como
diretriz a desregulamentação, que precariza o emprego e,
conseqüentemente, reduz o poder de luta organizada da classe trabalhadora,
se refletindo no esvaziamento dos sindicatos.
Desta forma, tornou-se crescente o desemprego, o que colabora
para a degradação das condições de trabalho daqueles que continuam
formalmente empregados. Os que continuam formalmente empregados
passam, neste contexto de precarização das relações de trabalho, a sofrer
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pressões sobre os seus salários e seus direitos trabalhistas, cuja existência
passa a ser denunciada como obstáculo à expansão do emprego formal16.
O fenômeno crescente do desemprego e da precarização do
trabalho, longe de serem uma anormalidade pelas forças econômicas e
políticas dominantes, são vistos, até pelos discursos oficiais, como
conseqüências naturais da nova ordem política e econômica estabelecida
para a organização e participação dos atores econômicos no mercado
capitalista.
Pautado em pressupostos liberais, o governo FHC sempre
procurou justificar a aceitação do crescimento contínuo da precarização das
relações de trabalho alimentando uma política de desregulamentação do
mercado, como forma de evitar o aumento do desemprego, que de outra
maneira só poderia ser conseguido com o crescimento econômico. Neste
sentido, os pronunciamentos e as atitudes tomadas pelo governo, foram de
estimular a informalidade e a precarização do trabalho. Esse fato pode ser
constatado se analisarmos os projetos que visavam modificações nas leis que
regiam os contratos de trabalho, ou que permitiam que houvesse contratos
de trabalho que não atendessem aos princípios da legislação, estimulando a
ampliação das condições para o aproveitamento e exploração da força de
trabalho, contando muitas vezes com a participação de algumas organizações
sindicais.
Desta forma, fica evidente o desmonte do já insuficiente aparato
institucional de proteção ao trabalhador e a trabalhadora, frente à
“intempéries” do mercado e das investidas extremas de espoliação dos
empregadores.
Esta situação demonstra o poder de influência da classe
dominante sobre os aparelhos do Estado, que se reconfiguram modificando a
legislação ou mesmo desobedecendo-a, para melhor colaborar com o atual
contexto organizativo do Capital. O mesmo Estado que em outros momentos
procurou mostrar-se como mediador ou imparcial frente ao confronto Capital
X Trabalho, corrobora sem disfarce à sua vinculação com o Capital. 16 Cf. SINGER, 1998.
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Assim, é no crescimento do desemprego, do trabalho informal, da
desregulamentação e do desmantelamento do aparato institucional que
garantia alguns direitos básicos à classe trabalhadora, que se mostra o
desgaste e a fragilidade das atuais formas de organização dos trabalhadores
e trabalhadoras, que são em sua maior parte sindicatos que organizam,
representam e defendem os direitos de determinada categoria17.
Combinada a terceirização ao desemprego, a precarização torna-
se um elemento corrosivo da base sob a qual se assenta a legitimidade e
representação dos sindicatos, que por serem reconhecidamente institucionais
trabalham dentro de normas que não permitem, ou não tornam interessante,
organizar os trabalhadores e trabalhadoras que estão fora do mercado de
trabalho formal, seja pelo desemprego ou pela informalidade.
Como instituição, os sindicatos, estão fracionados para
representar as diferentes categorias, organizando, em tese, estes
trabalhadores e trabalhadoras, também legalmente contratados como uma
força conjunta frente ao capital. Logicamente, temos que considerar a
fragmentação existente entre os sindicatos instituídos de acordo com a
categoria de trabalho, pois como sabemos os sindicatos acabam por
representar um fragmento da classe trabalhadora, uma categoria específica e
não a todos os trabalhadores e trabalhadoras. Esta fragmentação colabora
para que os problemas enfrentados por determinada categoria que cumpre
sua função na divisão social do trabalho, pareça não dizer respeito a outras
categorias de trabalhadores e trabalhadoras, o que tem impedido por vezes a
participação conjunta de toda a classe trabalhadora em suas reivindicações.
E por estar organizado política e estruturalmente desta forma
fragmentada e institucionalizada, que privilegia a dimensão de categoria e
profissional, é que os sindicatos perdem atualmente o seu poder de
representação. Com o aumento do desemprego e da informalidade do 17 Atualmente os sindicatos têm lutado muito mais para a manutenção do emprego do que por melhorias nas condições de trabalho e de salário, como acontece atualmente com os metalúrgicos do ABC. Há uma preocupação maior em reintegrar o desempregado ao mercado de trabalho, e não um projeto de organização dos trabalhadores e trabalhadoras para o enfrentamento da atual política econômica.
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trabalho tem uma diminuição considerável de sua base de representação, já
que os desempregados e os trabalhadores e trabalhadoras precarizados,
informais, estão fora da sua área de atuação legal. No aumento da
informalidade e de seus efeitos sobre os sindicatos, a representatividade
sindical é corroída à medida que sua pretensão de falar pelo mundo do
trabalho ou ao menos de sua parcela majoritária torna-se crescentemente
insustentável.
A diminuição da participação dos trabalhadores e trabalhadoras
nos sindicatos, pelos motivos aqui apontados, somada à insegurança no
emprego gerada pela reestruturação produtiva, que tem no avanço
tecnológico uma maneira de poupar quantitativamente a força de trabalho,
leva, com o enfraquecimento da entidade representativa, a maior exposição
de algumas categorias de trabalhadores e trabalhadoras às investidas dos
capitalistas no sentido de diminuir o custo do trabalho, sobretudo no que diz
respeito aos direitos trabalhistas conquistados através da luta organizada.
Todo esse novo contexto, como não poderia deixar de ser, tem se
refletido nas atuações dos sindicatos, ou no não-enfrentamento por parte
destes das atuais condições de exploração do trabalho. As greves, em grande
medida, têm deixado de ser um instrumento de luta dos trabalhadores e
trabalhadoras frente ao Capital para passar a realizar ações, como temos
visto nos últimos anos, de manutenção de empregos e de alguns dos direitos
conquistados historicamente.
*
Necessário se faz, ainda, apresentar com maior profundidade a
atuação da CUT nas décadas de 1980 e 1990, principalmente em relação às
greves.
O sindicalismo do Brasil nos anos 80 inovava nas suas
reivindicações pela criação das comissões de fábrica e desafiava o capital,
que procurava a manutenção do controle sobre o trabalho no lugar da
produção, colocando em questão o controle exercido durante todo período de
implantação do capitalismo industrial no Brasil.
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A CUT, composta nesse período pelas correntes sindicais mais
ativas, teve grande expressividade no movimento operário dos anos 80,
organizando as greves gerais em oposição às políticas adotadas pelo governo
brasileiro. Adotava uma postura oposicionista franca e direta de maneira a
construir uma estratégia sindical combativa em relação à política pró-
monopolistas, pró-imperialistas e pró-latifundiária do governo.
As greves gerais arquitetadas pela CUT resultaram em fortes
movimentos de contestação e foram de grande importância política,
enquanto forma de organização unificada dos trabalhadores e trabalhadoras.
Ao todo foram quatro greves gerais nesse período. A primeira acontece em
1983, em pleno regime militar e protestava contra um decreto que
modificava a política salarial, tendo a participação de dois a três milhões de
trabalhadores e trabalhadoras. A segunda aconteceu em 1986, em protesto
contra o Plano Cruzado II, particularmente contra o fim do congelamento de
preços. A terceira greve geral comandada pela CUT realizou-se em 1987,
contrapondo-se ao Plano Bresser e que tinha como motivação as
modificações nas políticas salariais, mas o movimento dava também ênfase a
palavras de ordem como: não ao pagamento da dívida externa, reforma
agrária, semana de quarenta horas e estabilidade de emprego. A quarta
greve aconteceu em 1989, protestando contra mais um plano de
estabilização do governo, o Plano Verão, que modificava a política de
indexação dos salários; o número de grevistas nesta greve dobrou em
relação à de 1987, chegando a vinte milhões de trabalhadores e
trabalhadoras18.
Essa última greve também contou com a participação ativa de
vários setores: os metalúrgicos e trabalhadores e trabalhadoras da indústria
automobilística e química, os petroleiros, os professores da rede pública de
ensino federal e estadual, entre outros. A principal característica da greve foi
a de ser uma reação ofensiva da classe trabalhadora brasileira no sentido de
se contrapor às investidas do capital e conquistar direitos para a classe 18 Cf. BOITO, 1999.
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trabalhadora, que nesse período também sofria as conseqüências das ações
políticas e econômicas comandadas pelo governo, que visavam dar maior
espaço e criar melhores condições para o desenvolvimento capitalista no
Brasil19.
É justamente no período dos anos 80, que o surto de
reestruturação produtiva no Brasil sofre um novo avanço, de maneira a
incorporar as novas tecnologias nos processos produtivos e implementar
novas formas de gestão e controle da produção baseadas, sobretudo, nas
técnicas utilizadas nas fábricas japonesas e que correspondiam melhor as
vontades do capital internacional.
A partir dos anos 90, a luta sindical, e logicamente a CUT,
participam de um novo contexto histórico e social no Brasil. Com a vitória de
Fernando Collor de Mello nas urnas e pelo voto popular, é eleito também um
projeto neoliberal para a política econômica brasileira. Um projeto que visava
criar as condições para instauração do neoliberalismo e que, mesmo com a
saída vergonhosa de Collor via Impeachment, continuou a ser orquestrada
pelos seus sucessores Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.
A abertura da economia para o capital estrangeiro, o aumento das
importações, o desmantelamento do parque industrial nacional e o
crescimento da miséria e do desemprego, são produtos conhecidos e visíveis
desse processo de liberalização da economia. Tais fatores, somados à
reestruturação do processo produtivo com base na aplicação de novas
tecnologias, tem colaborado para a precarização das relações de trabalho no
Brasil e, conseqüentemente, para o enfraquecimento das formas
organizativas e de luta da classe trabalhadora. As greves deste período foram
muito mais na busca de manter os direitos sociais conquistados
historicamente, ou na intenção de manter os empregos existentes, do que
movimentos de reivindicação e de tomada de controle do processo produtivo
ou de contestação ideológica.
Essa crise da organização sindical brasileira acabou por colaborar
para a instauração do novo modelo político e de acumulação, pois, o 19 Cf. ALVES, 2000.
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sindicalismo classista e unificado que havia sido obstáculo durante os anos
80, nos anos 90 desarticula-se e se torna debilitado em sua capacidade de
movimentação e organização da classe trabalhadora, o que permitiu uma
investida mais dura do capital sobre os trabalhadores e trabalhadoras,
apoiado pelas políticas do governo nacional que estimulou e legalizou a
precarização das relações de trabalho.
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A HISTORIA DAS NOSSAS RAÍZES: ITINERÁRIO DAS LUTAS
DOS TRABALHADORES (AS) RURAIS NO BRASIL E O SURGIMENTO DO
SINDICALISMO RURAL
Maria do Socorro Silva20
"Da desparecença dos tempos aprendo as tranças e tramas das
novas lições."
Gonzaguinha
PARA INICIO DE CONVERSA
Nos colocamos, nesse momento, diante do desafio de trazer ao
debate questões que se inserem nas reflexões em torno do enraizamento
histórico do sindicalismo rural no Brasil, ou seja, o processo no qual é
gestado a dinâmica do movimento sindical dos trabalhadores(as) rurais
(MSTTR), que se traduz, concretamente, num amplo imbricamento de ações.
Porém, considerando os limites a que nos propomos discutir o assunto em
pauta, nesse texto, restringeremos nossa análise a elencar alguns
movimentos ou lutas que contribuíram para esse processo, como se
constituiu a estrutura sindical oficial no Brasil.
Os movimentos sociais do campo vem se constituindo ao longo da
nossa história, como sujeitos coletivos, onde constroem uma identidade e
organizam práticas que visam defender direitos, interesses e projetos. Esse
processo se dá através de lutas de resistências, de organização, mobilização
que se constroem nos locais de trabalho, na roça e na comunidade. É na teia
de constituição dessas lutas que se forjam as condições para a tomada de
consciência do que significa ser trabalhador(a) rural.
Desde a chegada dos colonizadores portugueses que tivemos, em
nosso país conflitos e rebeliões populares formados por complexa composição
étnica, social e ideológica – índios, caboclos, camponeses, escravos,
alfaiates, barqueiros, religiosos, seleiros, etc - com proporções e alcances
distintos, ora manifestando-se como amplos movimentos de massa
20 Pedagoga e Psicóloga. Professora da Faculdade de Educação da UnB/UFCG. Doutoranda em
Educação da UFPE.
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construindo novas formas de organização social, política e econômica, ora
manifestando-se como ações específicas e localizadas ou movimentos
messiânicos, de confronto com a opressão, a miséria, a dependência, a
ausência de direitos, a luta pela posse da terra e por melhores condições de
vida e de trabalho nas sociedades Colonial, Monárquica21 e Republicana22
A proclamação da República (1889), juntamente com a Abolição
da escravidão (1888), marcam um dos momentos de maior transformação
social já vivido pelo país. A chamada Primeira República, que se segue, é o
período de delineamento da identidade social e política do trabalhador
brasileiro. Evidentemente, havia anteriormente trabalhadores, mas não uma
classe trabalhadora. Até então, quem trabalhara no Brasil foram os escravos
e a sociedade imperial escravista desmerecera inteiramente o ato de
trabalhar.
No século XIX, começamos a ter uma nova configuração, primeiro
com a chegada dos primeiros colonos europeus não-portugueses, para o
cultivo do café, a partir de 1819, suíços, alemães, italianos, todos
agricultores pobres atraídos para o Brasil por promessas de terra, que
passaram a ocupar áreas ainda não utilizadas, nas regiões Sul e Sudeste,
principalmente sobre a forma de parceria ou colonato, com isso tivemos uma
intensificação dos conflitos por terra e pela libertação dos escravos.
Juntamente com o processo de luta contra a escravidão vamos ter
a afirmação das leis de locação de serviços que visam regular o trabalho
assalariado, (1830, 1837), os trabalhadores não poderiam romper seus
contratos a não ser que pagassem ao patrão quantia correspondente e se
não o fizessem estariam sujeitos à prisão com trabalhos forçados até pagar
suas dívidas.
21 No período Imperial tivemos apenas o nascimento das primeiras organizações operárias. No começo do século XIX já existiam algumas associações de artesãos, mas organizadas sob a forma de irmandades religiosas. As primeiras organizações operárias, sem um caráter essencialmente religioso, foram associações voltadas para a ajuda mútua em situações de doença, acidentes no trabalho, invalidez, etc.. 22 A primeira constituição republicana foi a de 1891 - assegura o direito à associação e a reunião deixando em aberto qual seria o tipo de organização, surgiram então às primeiras organizações de socorros mútuos, caixas beneficentes, sociedades de resistência, bolsa de trabalho.
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Em 1850, o império restringiu o direito de posse da terra por meio
da Lei de Terras. Essa Lei significou o casamento do capital com a
propriedade de Terra, pois a partir desse momento a terra foi transformada
em uma mercadoria a qual somente quem já dispunha dela e de capital
pudesse ser proprietários, isso impedia que os ex-escravos, brasileiros
pobres, os posseiros e os imigrantes pudessem se tornar proprietários, mas
sim constituísse a mão de obra assalariada necessária nos latifúndios,
segundo José de Souza Martins, professor da USP: “Enquanto o trabalho era
escravo, a terra era livre. Quando o trabalho ficou livre, a terra ficou
escrava”.
Nesse mesmo período, milhares de nordestinos, fugindo da seca e
da crise econômica dos engenhos de açúcar, foram para o norte, trabalhar na
extração dos produtos da floresta, principalmente a borracha e a castanha,
que tiveram um grande peso na formação da atual população de agricultores
familiares amazônicos.
O resgate do itinerário de algumas dessas lutas que são raízes da
organização do campo brasileiro, e do surgimento, do sindicalismo rural
brasileiro, podem sinalizar para descobertas importantes na construção de
uma sociedade mais justa, e no fortalecimento das organizações no momento
atual.
PRIMEIRO MOMENTO: DAS LUTAS PELA LIBERDADE AO
SURGIMENTO DO SINDICALISMO RURAL
“O movimento para a liberdade, deve surgir e
partir dos próprios oprimidos, e a pedagogia decorrente
será " aquela que tem que ser forjada com ele e não para
ele, enquanto homens ou povos, na luta incessante de
recuperação de sua humanidade". vê-se que não é
suficiente que o oprimido tenha consciência crítica da
opressão, mas, que se disponha a transformar essa
realidade; trata-se de um trabalho de conscientização e
politização.”
Paulo Freire
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1.Lutas e mobilizações pela liberdade
A luta dos trabalhadores (as) rurais brasileiros pela posse da
terra, visando garantir melhores condições de trabalho e de vida fazem parte
da história do povo brasileiro: lutas de tribos indígenas, movimentos de
escravos, revoltas como da Cabanagem e Balaiada, litígios e reações de
parcela das populações pobres foram uma constante ao longo da nossa
história.
Durante todos esses períodos tivemos ações populares de
intervenção na ordem social, práticas reprimidas de participação social e
política do povo que colocaram em ebulição os direitos políticos e sociais,
antes que a cidadania e a sociedade civil se estabelecessem entre nós, e que
tiveram nos camponeses (as) sujeitos protagonistas de várias dessas lutas e
mobilizações.
a) Quilombos
Nos quilombos refugiavam não só escravos foragidos, como
também índios e pobres livres. Um dos mais importantes quilombos de
nossa história foi Palmares foi construído no fim do século XVI e resistiu até
o fim do século XVIII, chegou a reunir mais de 20 mil habitantes, localizava-
se na Serra da Barriga entre Pernambuco e Alagoas, e era governando por
um rei (sendo o mais conhecido Zumbi) e um conselho formado por chefes
dos quilombos. O sistema de vida e produção organizado em Palmares pode
resistir a economia patriarcal e escravocrata, com uma cultura e economia
baseada na policultura, na organização coletiva da produção e na resistência
e combate a escravidão.
Durante sua existência foram feitas varias tentativas de destruir
Palmares. Por fim, o governo de Pernambuco solicitou a ajuda do
bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, que preparou uma expedição
para derrotar os fugitivos. Também ele falhou nas primeiras tentativas, mas
não desistiu. Organizou um exército realmente poderoso e voltou ao ataque.
Mesmo assim, a resistência dos quilombolas foi tão grande, tão valente, que
a luta durou perto de três anos.
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Os negros tinham uma desvantagem: estavam cercados.
Enquanto os atacantes podiam conseguir reforços e munições de fora,
principalmente contando com o interesse do governo, os quilombolas
encontravam-se sozinhos e apenas podiam contar com o que possuíam. É
claro que, um dia, a munição dos sitiados tinha de se esgotar. Quando isto se
deu, muitos negros fugiram para o sertão. Outros se suicidaram ou
renderam-se aos atacantes.
b) Missões
A luta dos indígenas ao longo da nossa história apresenta raízes
de uma organização camponesa, principalmente por meio das missões, os
exemplos mais conhecidos são: a Confederações dos Tamoios, Guerra dos
Guaranis e a Guerra dos Bárbaros.
A Confederação dos Tamoios
Em 1562, aliaram-se aos franceses tomaram a Baía de
Guanabara. Não fora difícil aos franceses conquistar os tamoios, homens
altivos, que há tempos lutavam contra portugueses, que pretendiam
escravizá-los. A paz foi conseguida pelos padres José de Anchieta e Manuel
da Nóbrega.
Guerra dos Guaranis
Em 1750, o Tratado de Madrid determinou novos limites entre os
impérios coloniais de Portugal e Espanha. Na área do estuário do Prata, pelo
novo acordo, a Espanha trocava os Sete Povos das Missões, na margem
esquerda do rio Uruguai, pela Colônia do Sacramento, dos portugueses. Os
governos de Madrid e Lisboa tomaram decisões sem levar em conta os
interesses dos jesuítas e guaranis. Em 1752, enviaram comissões para tornar
efetivas as mudanças previstas no Tratado.
Os Guaranis se revoltaram e se organizaram para defender suas
terras. Mas os portugueses e espanhóis se uniram contra os rebeldes. Em
1754, começou a Guerra Guaranítica, que durou dois anos. Melhor equipado,
o exército europeu massacrou os guerreiros guaranis, liderados por Nicolau
Ñeenguiru e Sepé Tiaraju. Obrigados a sair, alguns sobreviventes foram para
as reduções da margem direita do Uruguai.
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A guerra não resolveu as questões de limites, pois, além dos
índios, os portugueses da Colônia do Sacramento também não estavam
satisfeitos com a troca de terras. Portugal e Espanha voltaram atrás,
anulando o Tratado de Madrid em 1761. Com isso, os Guaranis continuaram
a ocupar a área dos Sete Povos. Mas já não existia o entusiasmo de antes e
as mesmas condições de resistência e luta.
Guerra dos Bárbaros
Essa guerra durou vinte anos, a partir de 1682, e foi empreendida
pelos cariris. O cenário dessa guerra foi uma extensa área do Nordeste,
particularmente nos vales do Rio Açu (atual Piranhas) e Jaguaribe. Todavia,
estes bravios guerreiros, apesar das degolas, dos aprisionamentos, cativeiros
e reduções em aldeamentos jesuíticos que sofreram ao longo dessa história
que lhes fora imposta, resistiram por cerca de mais vinte anos sempre
lutando como podiam pela posse de suas terras e na tentativa de vencer as
injustas estratégias da dominação colonial.
2. Lutas messiânicas – 1888 e a década de 1930
As lutas messiânicas se caracterizam pela existência de
uma liderança messiânica. Isso significa que a fé era a ligação entre ele e
seus seguidores. Ë por isso que alguns autores chamam as revoltas
camponesas do período de lutas messiânicas. Dentre essas podemos
destacar:
a) Canudos a terra prometida
Os/as trabalhadores rurais e escravos peregrinavam pelo sertão,
atrás do beato Antônio Conselheiro, até se estabelecerem no Arraial do
Canudos. Criou-se um povoado em que o trabalho cooperado foi essencial
para a preservação da comunidade. Todos tinham direito a terra e
desenvolviam a agricultura para auto-consumo, envolvendo todos os
membros da família. Na comunidade havia um fundo comum destinado a
proteção dos velhos e aos doentes. Chegou a ter cerca de 10 mil habitantes.
Entre outubro de 1896 e outubro de 1897, mais de 5 mil soldados do exercito
e armamentos pesados de guerra foram envolvidos no ataque ao arraial.
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b) Guerra do Contestado
Em 1912, o governo concedeu uma enorme extensão de terras à
empresa norte-americana Brasil Railway Company, no trecho previsto para a
construção da ferrovia São Paulo-Rio Grande do Sul. Ao final da construção
da ferrovia, cerca de 8 mil trabalhadores ficaram desempregados e passaram
a perambular pela região a procura de trabalho. Nesse momento surgiu na
região de Campos Novos e Curitibanos, em Santa Catarina, um movimento
camponês de caráter político-religioso, liderado pelo monge José Maria.
Inicialmente ficaram numa área de disputa entre Paraná e Santa Catarina,
por isso chamado de Contestado, que chegou a cerca de 20 mil pessoas. Em
1915, os lideres lançaram um manifesto monarquista e declararam a “guerra
santa” contra os coronéis, as companhias de terras e as autoridades
governamentais. O arraial foi dizimado quando o governo enviou cerca de 07
mil soldados do exercito, até mesmo aviões foram utilizados pra localizar os
redutos rebeldes.
c) Guerra do Caldeirão
Uma luta de resistência camponesa, contra os latifundiários, que
aconteceu no Ceará, na Chapada do Araripe, no período de 1926-1937,
quando foram assassinadas mais de 400 pessoas. O nome Caldeirão refere-
se a uma depressão no relevo, onde se encontrava água cristalina durante
todo o ano. A área pertencia ao padre Cícero - famoso religioso e político da
época - que a entregou ao beato Zé Lourenço e seus seguidores para
trabalharem na terra. O Caldeirão ficou auto-suficiente. Sua fama crescia e já
influenciava outras cidades, porque tinham uma produção diversificada:
agricultura, artesanato, confecção de redes, roupas, calçados, etc. Todas as
ferramentas necessárias para o trabalho eram feitas na própria comunidade.
Os produtos excedentes eram vendidos em Juazeiro e no Crato. Ninguém se
considerava dono de alguma coisa. Todavia, a grande concentração de
camponeses naquelas terras chamou a atenção dos fazendeiros, que,
temendo o aumento da organização dos trabalhadores e uma possível
ocupação de suas terras, iniciaram uma guerra contra os camponeses para
destruir Caldeirão. A força militar chega ao sítio e os moradores resistem à
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destruição, casas são incendiadas e pessoas mortas, mais não conseguem
vencer a comunidade. Dias depois, retornam usando dessa vez aviões,
acontece o segundo bombardeio aéreo sobre civis na história do Brasil. (o
primeiro foi em 1912, Contestado), destruindo assim o povoado.
3. As lutas pré-sindicalistas
a) As colônias anarquistas
A chegada dos imigrantes para trabalhar nas lavouras do café dos
grandes fazendeiros vai trazer mudanças no perfil do campesinato brasileiro.
Além de ser explorado com baixa remuneração (a família toda precisava
trabalhar para a subsistência), o colono ainda sofria a especulação do
fazendeiro, pois era obrigado a comprar o que precisava pelo dobro do preço,
nos seus armazéns, desta forma estava sempre devendo ao fazendeiro.
Recebiam um preço de terra onde desenvolvia uma cultura de auto-consumo,
no entanto, ao chegar à época da colheita, muitos eram expulsos, sofrendo
as mais variadas injustiças e perseguições. A exploração imposta faz com
que se organizem ainda que de forma clandestina (já que o Ato Adicional de
1834 proibia toda e qualquer associação de ofício): surgem as primeiras
associações de socorro mútuo, os mutirões, e a organização de núcleos e
colônias que serão precursores do sindicalismo brasileiro.
A formação de núcleos ou colônias, tais como a Colônia Cecília,
Colônia Leopoldina, Colônia Nova Itália, organizadas sem propriedade
individual, sem lei e sem religião, e onde começaram a funcionar as “Escolas
Internacionalistas”, que depois se espalharam por outras áreas de imigração
do sul do Brasil.
Além disso, os anarquistas começaram a se organizar nos
sindicatos, cuja ação deveria ser voltada para o desenvolvimento da
consciência da classe, com repudio a idéia de organizar os trabalhadores em
partido político, recusa intransigente ao assistencialismo e mobilização
permanente dos trabalhadores para ação direta contra os patrões. Para os
libertários a educação ocuparia um papel de destaque, pois era considerado
um veículo de conscientização e transformação das sociedades, sendo
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responsável pela formação de novas mentalidades e ideais revolucionários.
Articulavam a educação entre si, em três dimensões: a educação político-
sindical23, a educação escolar e as práticas culturais de massa.
Em 1907, é aprovada a Lei Adolfo Gordo para expulsar lideranças
sindicais estrangeiras (1907/1913- governo Hermes da Fonseca). Esse
processo vai ser intensificado em 1917, quando a nível internacional, ocorria
a Primeira Guerra Mundial, e os anarquistas e socialistas faziam intensa
propaganda anti-militarista, além disso, a situação econômica para os
trabalhadores (as) estava insuportável: carestia, desemprego, recessão,
reinava fome e miséria, culminando com a Greve Geral, sendo desencadeada
um processo de repressão e o uso intensivo da Lei Adolfo Gordo.
b) Posseiros da Rodovia Rio-Bahia.
A valorização das terras da Região de Governador Valadores - MG
devido à perspectiva da construção da rodovia Rio - Bahia em 1940, ali
viviam muitos posseiros, sem perda de tempo, os supostos donos das terras
começaram a aparecer de todos os lados e impuseram aos posseiros a
condição de derrubar a mata para formação de pasto, eles só podiam plantar
para subsistência. A partir de 1955 com a construção das rodovias, começou
o processo de expulsão dos posseiros. Eles começaram então a juntar os
posseiros para formar uma associação (visto que os sindicatos rurais ainda
não eram reconhecidos), essa organização foi até a década de 1964, quando
foram presos e torturados pela ditadura militar.
c) Trombas e Formoso
Em 1948, a construção da Transbrasiliana e o projeto de
colonização dos governo federal valorizaram as terras da região de Uruaçu,
no norte de Goiás. Trabalhadores provenientes do Maranhão e Piauí
chegaram ao local liderado por Jose Porfírio e estabeleceram posses numa
área de terra devoluta, que estavam sendo griladas, por um grupo de
fazendeiros, um juiz e um dono de cartório da região. Eles queriam que os 23 Desde esse período a necessidade de formação sindical já se fazia presente entre as organizações, já colocavam a educação em suas diferentes dimensões sinalizando para o que chamamos hoje de formação programada (cursos, seminários, oficinas, etc), e a formação na ação que ocorre no cotidiano da organização, nas comunidades, no trabalho, mobilizações, intercâmbios, pesquisas, sistematização coletiva de experiências.
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posseiros saíssem das terras, e eles pagariam as benfeitorias feitas, a recusa
foi geral. Então os grileiros queimaram as roças e as casas dos camponeses,
inclusive acarretando a morte da mulher de José Porfírio. No final da década
de 1950, com a contribuição do PCB, toda a região estava organizada na
Associação dos Lavradores de Trombas e Formoso, a organização foi se
afirmando, até a região se tornar um município e Jose Porfírio foi eleito
deputado estadual em 1962. Os posseiros ganharam muita força na região e
formaram vários sindicatos, o que foi desmentalado em 1964, com o golpe
militar. Depois de viver na clandestinidade, José Porfírio, foi preso em 1972,
foi solto no ano seguinte e desapareceu.
c) Influência do Partido comunista formação do Bloco
Operário e Camponês (BOC)
A mudança de ênfase no PCB sobre a realidade brasileira, que
identifica a realidade brasileira como sendo de um capitalismo agrário semi-
feudal, leva o partido a formar o Bloco Operário e Camponês (BOC) em 1927,
incorporar a luta contra a política da oligarquia, buscar aliança com a Coluna
Prestes e atuar na área rural brasileira.
A análise da sociedade como sendo um país semi-feudal, onde a
revolução seria feita por etapas: a primeira, de caráter nacional e
democrático, seria anti-imperialista e anti-feudal, para isso teria que fazer
alianças entre o operariado e o campesinato; a segunda, de caráter
socialista. Essa tese se fundamenta na revolução leninista, pois para Lênin, a
etapa primeira representada pela revolução democrático-burguesa é
constituída pelo desenvolvimento do capitalismo. Embora esse processo
revolucionário deva estar sob a direção política do proletariado, suas tarefas
consistem em desenvolver as forças produtivas capitalistas (modernas), a
fim de que possam ser eliminadas as antigas formas de produção ainda
existentes nessas sociedades atrasadas. Por isso, a estratégia fundamental
no operariado não pode basear-se na luta contra o capital, mas sim numa
aliança com o campesinato para enfrentar o feudalismo. É esse caráter
democrático-burguês que a proposta do BOC confere, a partir de 1928, à luta
de classes.
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As divergências com relação a essa aliança, os resultados da
revolução de 1930 e as definições do comunismo internacional levaram a
uma re-orientação para a “obreirizaçao”, que consistia em substituir os
intelectuais por operários nos cargos e instâncias partidárias e o fim do BOC.
Na verdade essa aliança acabou tendo uma dimensão mais
eleitoral de assegurar candidaturas que assegurassem a defesa dos
interesses proletários, daí a necessidade de ampliar sua ação e se aproximar
de outras organizações progressistas. Daí os acenos a setores da pequena
burguesia como forma de romper o bloqueio à ação política que lhe era
imposto não só pelas classes dominantes como também pela sua própria
fraqueza interna. Com isso entendemos porque o BOC vai centrar sua ação
nas questões sociais, sem questionar o sistema social vigente, pleiteando,
reformas modernizadoras.
Essa aliança retoma na ação do partido na década de 1960 com a
participação na organização das Ligas Camponesas e dos sindicatos rurais.
SEGUNDO MOMENTO: A IMPLANTAÇÃO DA ESTRUTURA
SINDICAL NO BRASIL NO CONTEXTO DO ESTADO NOVO
“Ninguém tem liberdade para ser livre,
pelo contrário, luta por ela precisamente porque não
a tem”
(Freire, 1978).
O fim da primeira guerra mundial (1914-1918), a revolução russa
(1917), a quebra da bolsa de Nova York (1929), a crise do café, o
movimento tenentista e a coluna Prestes marcou uma grande seqüência de
manifestações de operários, artistas, militares, camponeses que começaram
a reinvidicar a suspensão do pagamento da dívida externa, a reforma
agrária, a elaboração de uma legislação protegendo os trabalhadores rurais e
colonização em terras devolutas com base em pequenas propriedades.
A revolução de 1930, inaugura as condições que permitiriam no
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decorrer dos anos seguintes, a modernização conservadora e a construção do
Estado Moderno, criador de classes sociais modernas (burguesia industrial e
proletariado), e o fortalecimento de uma classe média urbana, que
insatisfeita com o domínio imposto pelas oligarquias agrárias. Lideradas pelo
seu segmento mais radical, os “tenentes”, desencadeiam um ciclo de
movimentos armados, cujo início é a revolta do Forte de Copacabana (1922),
sucedendo-lhe a chamada Revolução de São Paulo, que culmina com a
formação da Coluna Prestes (1924-1927).
As oligarquias agrárias, ligadas á lavoura de exportação, entram
enquanto classe, num persistente processo de decadência econômica,
embora o sistema político continue fortemente influenciado por ela, que
mostrou uma capacidade insuspeita de se manter no controle do poder
político ate 1964. É importante notar que a oligarquia agrária foi capaz de
diversificar seus negócios expandindo-se em atividades urbanas, e
aproveitar-se do capital industrial, através de associações, sem perder sem
abrir mão do autoritarismo e conservadorismo, e sua vinculação com o rural,
o que lhes garantia e fortalecia seus currais eleitorais.
Os industriais que querem controlar o poder, o Estado, não tem
força para fazê-lo sozinhos; apelam, então, para uma aliança com a classe
operária e a chamada “classe média”, tendo Getúlio Vargas com seu
representante, constituindo a aliança entre desiguais – populismo brasileiro-
para permitir a consolidação do poder dos industriais contra o poder da
oligarquia rural, essa aliança que se afirma na Região Sudeste, não consegue
se estruturar no restante do Brasil.
É dentro desse contexto que o Governo Vargas assina em 15 de
março de 1931, o decreto conhecido como Lei de Sindicalização (decreto
19.770, de 19 de março de 1931). Até essa época todos os sindicatos eram
formados por iniciativa de trabalhadores de uma profissão ou categoria e se
mantinham através das contribuições de seus associados. Os sindicatos eram
livres, independentes e funcionavam como organismos de luta por melhores
condições de vida e salário.
A lei de sindicalização definindo o sindicato como órgão de
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colaboração com o poder público, servindo de pára-choques entre tendências
conflitivas nas relações do capital com o trabalho. Os diretores só podiam ser
brasileiros natos ou com mais de 20 anos de residência, sendo obrigação do
ministério do trabalho fiscalizar as assembléias e contabilidade dos
sindicatos.
A nova lei de sindicalização visava oficializar, ou seja, atrelar os
sindicatos ao recém criado Ministério do Trabalho. Pelo projeto
governamental, os sindicatos deveriam funcionar como um órgão de
conciliação entre os trabalhadores e os patrões e como um órgão de caráter
assistencialista.
De fato, os objetivos básicos da Lei de Sindicalização eram claros:
1) transformar o sindicato, de arma autônoma dos trabalhadores, em agência
colaboradora do Estado; 2) disciplinar o trabalho, considerando-o como mero
fator de produção; e 3) evitar a emergência da luta de classes, utilizando o
sindicato como “para-choque, entre o capital e o trabalho.
O projeto sindical populista de Vargas previa a adoção de leis que,
na verdade, eram conquistas ou reinvidicações dos trabalhadores ao longo de
anos de luta, as chamadas leis sociais: pensões de aposentadoria, jornada de
trabalho de 08 horas, proteção ao trabalho das mulheres e das crianças. A
constituição corporativista de 1937 e a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) consolidam a política varguista para o movimento operário, com a
instalação da justiça do trabalho e a criação do imposto sindical. A CLT
exclui os trabalhadores rurais do direito a sindicalizar-se apesar de lhes
assegurar o direito ao salário mínimo.
A inexistência de uma organização no campo que aglutinasse
essas bandeiras, à época, foi um dos fatores que impediram a elaboração e a
implementação de uma legislação especifica para o campo.
A construção da estrutura sindical oficial (e a ideologia
corporativista que lhe dá suporte) não foi somente produto da repressão e do
silêncio a que foram subjugados os setores mais combativos e de esquerda
do movimento sindical brasileiro. Foi também resultado de uma série de
medidas legais e político-ideológicas que engenhosamente articuladas, dentre
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as quais a educação constituiu um dos mecanismos de propaganda e de
convencimento.
O estimulo a sindicalização era acompanhada por uma
propaganda doutrinaria que envolvia benefícios sociais advindos de um
conjunto de leis trabalhistas, e a divulgação de um regime sindical especifico,
o regime corporativista, principalmente por meio das práticas de formação
sindical incentivadas pelo Ministério do Trabalho, nos sindicatos dirigidos por
ministerialistas ou ‘amarelos’.
Uma vez constituído o sindicato de acordo com a lei, exigia-se
ainda, para o seu reconhecimento o envio de seus estatutos ao Ministério do
Trabalho para aprovação, além da presença permanente nos sindicatos em
assembléias e no controle das finanças. Portanto, significando
progressivamente a implantação de um projeto totalitário de poder.
No entanto, as influências das correntes comunistas e anarquistas
criaram organizações paralelas como foi o caso do Pacto da União
Intersindical (PUI), organizado a partir da greve de 1953, em São Paulo que
chegou a aglutinar não só sindicatos mas federações de mulheres,
associações de bairro, entidades estudantis. Também o Pacto de Unidade e
Ação (PUA), de 1957, ou o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), de
1962, deram certa autonomia e permitiram articular melhor as lideranças e
deram mais vigor as lutas dos trabalhadores (Abreu e Lima, 2005).
No que se refere à defesa dos direitos trabalhistas na área rural,
foram organizados sindicatos de forma localizada e isolada, além de
associações mais voltadas aos interesses dos pequenos produtores, como
arrendatários, parceiros, posseiros e pequenos proprietários. Embora
existisse uma legislação que permitia a criação de sindicatos, somente em
1944 através do Decreto 7.038 se autoriza de forma explicita a sindicalização
rural, porém esta lei não foi implementada. Assim até 1955, o Ministério do
Trabalho só tinha reconhecido o sindicato rural de Campos, Rio de Janeiro
(que tinha sido criado em 1938), o mais antigo do país, e em seguida:
Barreiros, Rio Formoso e Serinhaém, em Pernambuco; Belmonte, Ilhéus e
Itabuna, na Bahia; Tubarão em Santa Catarina.
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Muitas eram as dificuldades para esse tipo de organização: a
legislação trabalhista era feita para os trabalhadores urbanos, não
considerando a especificidade do trabalho no campo, quase não existiam
juntas de conciliação e julgamento nas cidades do interior, o código civil não
permitia a organização de sindicatos rurais, e os proprietários rurais agiam
de forma repressiva, inclusive acionando a polícia para reprimir qualquer
tentativa de organização e mobilização dos trabalhadores (as) rurais.
TERCEIRO MOMENTO: OS CAMPONESES ORGANIZADOS
COMO CLASSE
Somos gente nova vivendo a união
Somos povo, semente de uma nova
nação, ê, ê
Somos gente nova vivendo o amor
Somos comunidade, povo do Senhor, ê, ê
Vou convidar os meus irmãos
trabalhadores
Operários, lavradores, biscateiros e
outros mais
E juntos vamos celebrar a confiança
Nesta luta na esperança de ter terra, pão
e paz.
Zé Vicente
Após a segunda guerra mundial, houve uma aceleração do
processo de penetração capitalista, no campo, com a construção de grandes
obras e expansão de crédito.
Nesse processo, foram duramente atingidos os foreiros, parceiros,
pequenos proprietários e moradores de engenho (que tinham direito a
cultivar a lavoura branca e a obrigação de prestar três dias de serviço por
semana ao proprietário).
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Através da expulsão do morador, da supressão do direito do
cultivo do sitio, do aumento dos dias de cambão. Como reação a esse
processo, as organizações camponesas passaram a se contrapor, de forma
articulada, contra as ações de despejo acionadas pelos usineiros e
latifundiários.
No período de 1954 a 1964, surgiram três grandes organizações
camponesas que deram uma outra fisionomia ao debate e as lutas dos
camponeses (as) no País:
a) Ligas camponesas
Em 1955, os donos do Engenho Galileia, em Vitória de Santo
Antão, impuseram o aumento do foro e tentaram expulsar os foreiros da
terra, que resistiram ao processo de despejo, e começaram a participar da
formação da Sociedade Agrícola dos Plantadores e Pecuaristas de
Pernambuco (SAPPP), fundada inicialmente com fins basicamente
assistenciais, para fornecer assistência médica, jurídica, criar escolas e uma
caixa funerária para seus associados, e posteriormente, se tornando um
movimento de luta pela Reforma Agrária que se espalhou por vários Estados
do Nordeste. “A repressão atribuiu o nome de Ligas à organização desses
trabalhadores para caracterizá-los como comunistas, em alusão ao nome por
estes utilizados para certas organizações populares”(Abreu e Lima, 2005).
A partir das Ligas os camponeses organizados faziam um
trabalho de denúncia, agitação, resistência na terra e mobilizações. As ligas
utilizavam diferentes estratégias para organizar e formar os trabalhadores:
conversas na feira, na missa, nos locais de trabalho, boletins, cordéis, etc.
As Ligas se organizavam em “delegacias ou núcleos, por
município, distritos ou fazendas. Em âmbito local, eram compostas só de
camponeses; no nível estadual além das lideranças camponesas, envolvia
profissionais liberais, intelectuais, estudantes, parlamentares”. (Abreu e
Lima, 2005).
b) União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas –
ULTAB
Mesmo na ilegalidade, o PCB manteve algum trabalho no campo,
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e em 1954, na II Conferencia Nacional de Lavradores, foi fundada a ULTAB,
com a presença de 303 representantes de 16 estados, tendo-se discutido o
direito a organização dos trabalhadores rurais em associações e sindicatos, o
direito de greve, a reforma agrária, previdência social, adoção de medidas de
apoio a produção etc.., sendo a primeira experiência na perspectiva sindical
no campo brasileiro.
c) Movimento dos Agricultores Sem Terra – MASTER
Surgiu no Rio Grande do Sul em 1950, a partir da
resistência de 300 famílias de posseiros, inovava com relação às formas de
luta, pois executava a ocupação de terras, formando acampamentos e
organizando estratégias de defesa, dentro das terras dos latifundiários, em
áreas previamente escolhidas.
Essas três organizações durante sua existência assumiram
algumas lutas de forma unificada, como por exemplo, a greve no setor
canavieiro em Pernambuco, em 1963, que obteve conquistas significativas
para a categoria ou a participação em Congressos como o I Congresso
Nacional dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, realizado em 1961, que
embora explicitasse as divergências, marcou o reconhecimento social e
político da categoria camponesa e o reconhecimento do seu potencial
organizativo dentro da sociedade brasileira.
A partir, o movimento camponês cresceu e as discussões sobre a
questão fundiária ampliaram-se, atingindo outros setores da sociedade,
inclusive a Igreja Católica, que passou a atuar na perspectiva de fortalecer a
posição da Igreja entre os camponeses através da criação de sindicatos24.
A década de 1960 chega com o país falando de reformas de
bases. As principais eram a reforma agrária, reforma na educação e no
sistema bancário. Nesse período foi criado o Estatuto do Trabalhador Rural
(1963), que concedia aposentadoria por invalidez ou por velhice como
24 No Rio Grande do Norte, o então Bispo Dom Eugenio Sales funda em 1960 o Serviço de Orientação Rural (SAR) uma organização beneficente da Igreja destinada a fundar sindicatos. Até 1962 48 sindicatos foram fundados e 16 deles foram reconhecidos. Em Jaboatão (PE) o padre Crespo e o Padre Antonio Melo no Cabo (PE) passam a criar sindicatos com um objetivo declarado de enfraquecer o avanço das Ligas Camponesas e do PCB.
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resultado das lutas lideradas pelas Ligas Camponesas no Nordeste, que
aliavam as lutas por direitos trabalhistas e reforma agrária e do surgimento
dos sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais, das federações e da
CONTAG, o que já era o bastante para deixar os latifundiários muito
aborrecidos com o governo.
SURGE A PRIMEIRA ORGANIZAÇÃO SINDICAL NACIONAL
NO CAMPO: CONTAG
Ainda que o gesto me doa,
não encolho a mão: avanço
levando um ramo de sol.
Mesmo enrolada de pó,
dentro da noite mais fria,
a vida que vai comigo
é fogo:
esta sempre acesa
Thiago de Mello
A existência das Ligas Camponesas, da ULTAB, do Master e a
influência do PCB e da Ação Popular- AP25, fizeram com que a organização
dos trabalhadores(as) rurais em sindicatos fosse acelerada, as bandeiras de
lutas atualizadas e ampliadas e estabelecidas linhas de ação comum.
Esse processo culminou na realização do 1º Congresso Nacional
dos Lavradores e trabalhadores agrícolas, em 1961, em Belo Horizonte
25 Foi formada em Belo Horizonte (MG), em 1962, a partir de grupos de operários e estudantes ligados à Igreja Católica: a Juventude Operária Católica (JOC), Juventude Universitária Católica (JUC) e a Juventude Estudantil Católica (JEC). Nos primeiros anos da década de 1960, ainda fortemente influenciada pelo ideário humanista cristão, vinculada às estruturas formadas pela Igreja junto aos movimentos populares, a AP possuía penetração entre operários, camponeses e estudantes, principalmente entre os últimos. A AP deslocou militantes para as fábricas e para o meio rural, sendo efetuadas experiências em meios populares como o ABC paulista, da Zona Canavieira em Pernambuco, da região Cacaueira da Bahia, da área de Pariconha e Água Branca em Alagoas, e do Vale do Pindaré, no Maranhão. Foi da Juventude Estudantil Católica que partiram as primeiras discussões que operaram mudanças políticas e ideológicas e sua transformação em uma organização marxista-leninista. Em março de 1971, a AP formalizou a influência do marxismo e se proclamou partido com a denominação de Ação Popular Marxista-Leninista (APML), que continuou sua ação política durante a ditadura (ACO, 1985).
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coordenado pela ULTAB, que reuniu 1.600 delegados de várias organizações.
Articular nacionalmente as lutas passou a ser uma das principais
preocupações, apesar das diferentes correntes de pensamento, de
concepções e de formas de organização.
Em 1962, já existiam 42 federações, em alguns estados mais de
duas: de assalariados, de lavradores, de pescadores, de agricultores, de
trabalhadores rurais, sendo que 27 eram reconhecidas oficialmente pelo
Ministério, que solicitou a realização de um Congresso Nacional para criação
da Confederação, o que ocorreu em 22 de dezembro de 1963, com a
participação de trabalhadores rurais de 18 estados, distribuídos em 29
federações, sendo reconhecida em 31 de janeiro de 1964, pelo Decreto
Presidencial 53.517.
“A CONTAG torna-se a primeira entidade sindical camponesa de
caráter nacional reconhecida legalmente. Ajustou em seu interior diversas
concepções e correntes de pensamentos, desde os setores mais à direita,
setores da Igreja, provenientes das Ligas e os comunistas”. (Revista dos 40
anos da CONTAG).
A mobilização popular a favor das reformas amedrontou a classe
dominante, temiam que fosse apenas o começo de uma série de
transformações radicais no país. A resposta das elites veio de imediato no dia
31 de março de 1964, as tropas militares ocuparam os pontos estratégicos
do país, autoritarismo, desrespeito a constituição, perseguição militar, prisão
e tortura para os opositores e censura prévia nos meios de comunicação,
esse foi o quadro político criado pelo regime militar para arrasar toda
oposição a sua forma de governar o país.
Recém criada a CONTAG, na busca pela melhoria das condições
de vida dos trabalhadores do campo, pela reforma agrária, sofre de imediato
a violência do golpe militar sobre as lideranças de sua organização, que viu
bandeiras de lutas políticas dos trabalhadores, em especial, a da reforma
agrária, serem colocadas em segundo plano.
Já em 1964, foi decretada a Primeira Lei de Reforma Agrária do
Brasil elaborada ainda no Governo João Goulart, acabou sendo promulgada
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com modificações, pela ditadura militar, sendo denominada Estatuto da
Terra, que por um lado definiu regras para os contratos de arrendamento e
parceria, como resposta as reinvidicações do movimento sindical, e por outro
incentivou o pacote da Revolução Verde, que obrigou muitos agricultores
familiares a saírem do campo, com um grande aumento da miséria na área
rural e nas cidades.
Logo na sua criação tinha sido constituída uma equipe de
“educação sindical” com o objetivo de capacitar lideranças e dirigentes a fim
de mantê-los informados, nas temáticas do movimento e da realidade social
e política do país. A formação sindical centrava sua ação na alfabetização
dos trabalhadores (as), na difusão de práticas agrícolas e cursos políticos
para formar novas lideranças, que durante a ditadura tiveram que atuar de
forma quase clandestina.
“Após a intervenção, foi constituída uma Junta Governativa que
durante um ano administrou a CONTAG. No ano seguinte, uma diretoria foi
eleita para administrar a entidade durante o período de 1965 a 1968, tendo
como interventor José Rotta.”(Revista 40 anos da CONTAG).
A partir de 1966, trabalhadores que resistiam à ditadura
buscaram retomar o controle da entidade, e superar as dissidências
alimentadas durante o período de intervenção, buscando a organização dos
sindicatos e federações. A formação se traduzia em práticas educativas para
garantir núcleos organizados nos locais de trabalho e para fortalecer o
processo de retirada dos interventores e sindicalistas pelegos, impostos nos
sindicatos e federações pela ditadura.
Os materiais de comunicação sindical foram fundamentais para
garantir minimamente uma ação articulada nacional, regional e estadual.
Eram boletins, revistas e jornais, que tinham como objetivo central a
conscientização e a socialização das vitórias e lutas do MSTTR. A criatividade
marcou esse período. O cerceamento das liberdades individuais e coletivas
inibia qualquer divulgação de trabalhos que pudessem, em seu conteúdo, ser
interpretado como “ofensivo” ao governo e a “ordem pública”.(Revista 40
anos da CONTAG)
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O cotidiano e o estímulo à organização dos trabalhadores (as)
rurais eram reproduzidos por meio de personagens. Também reproduziam as
poesias, prosas e cordéis, escritas pelos trabalhadores (as) rurais, dialogando
com os desafios do dia-a-dia, sem serem perturbados pela Policia ou pelo
Ministério do Trabalho. Os autores das histórias utilizavam pseudônimos,
caso a repressão militar resolvesse censurar os textos, os autores estariam
protegidos.
Outro instrumento utilizado no final da década de 1960 e meados
de 1970, foi o sócio-drama. Priorizava a oralidade e a expressão corporal,
para estimular uma visão crítica daquele momento que o país vivia sem
chamar a atenção do poder público (Revista CONTAG 40 anos).
O trabalho comunitário e de pequenos grupos foi á estratégia
adotada durante muitos anos para resistir e formar novas lideranças durante
a fase da ditadura. Eram organizações quase clandestinas em grande parte
fomentadas ou apoiadas pela Igreja. Portanto, esse período nos ensinou a
importância da comunidade, da formação de base, do trabalho em grupos,
da importância do ambiente cultural na formação do ser humano, por
exemplo, na Amazônia, as relações comunitárias de parentesco e de
vizinhança foram à base da organização dos “posseiros”, durante toda a
década de 1970. Os núcleos formados por famílias extensas e vizinhos,
liderados pelos mais antigos, formavam uma rede importante de relações
através das quais se recrutavam os membros das comunidades para as ações
coletivas. Foi na experiência de comunidades já existentes, na sua
organização já construída e na solidariedade que novos migrantes foram
rompendo as fronteiras do latifúndio na região, e foram ficando na terra e
produzindo.
De meados da década de 60 até o final da década de 70, as lutas
camponesas eclodiam por todo o território nacional, os conflitos fundiários
triplicaram e o governo, ainda na perspectiva de controlar a questão agrária
determinou a militarização do problema da terra. A militarização
proporcionou diferentes e combinadas formas de violência contra os
trabalhadores. A violência do peão que é o jagunço da força privada, muitas
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vezes com o amparo da força pública. A violência da polícia, escorada na
justiça desmoralizada, que decretou ações contra os trabalhadores, utilizando
recursos dos grileiros e grandes empresários, defendendo claramente e tão
somente os interesses dos latifundiários. No ano derradeiro do governo
militar, 1985, os jagunços dos latifundiários e a polícia assassinavam um
trabalhador (a) rural a cada dois dias.
Essas diferentes ações fomentam a resistência e a luta por uma
sociedade justa e solidária até os nossos dias. As desigualdades sociais e a
exclusão continuam acirrando as contradições de nossa sociedade, portanto,
a luta pela terra, pelo meio ambiente, pela cidadania, a soberania alimentar,
os valores humanistas, a participação popular, a educação, a saúde, as
relações igualitárias de gênero e etnia, vinculadas à luta por uma sociedade
economicamente justa, ecologicamente sustentável com equidade e justiça
social continuam na agenda do dia para tecer o amanhã.
Tecendo a manhã
João Cabral de Melo Neto
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
lançou e o lance a outro; de um outro
galo que apanhe o grito que um galo
antes lançou e o lance a outro; e de
outros galos que com muitos outros galos
se cruzem os fios de sol de seus gritos de
galo, para que a manhã, desde uma teia
tênue,se vá tecendo, entre todos os galos
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TRAJETÓRIA POLÍTICA DA CONTAG - AS PRIMEIRAS LUTAS26
Na década de 50, as organizações camponesas passaram a
se contrapor, de forma articulada, contra as ações de despejo acionadas
pelos usineiros (Porecatu/PR) e da luta dos posseiros e arrendatários de
Trombas e Formoso, em Goiás, onde várias lideranças se destacaram.
Em Pernambuco, fundaram a Sociedade Agrícola e Pecuária dos
Plantadores, promovendo uma das mais importantes lutas da época, no
Engenho Galiléia, município de Vitória de Santo Antão, nos limites da região
Agreste com a Zona da Mata de Pernambuco. Foi quando surgiu a primeira
experiência de Ligas Camponesas e, conseqüentemente, de resistência
camponesa articulada a objetivos políticos mais definidos (...). A luta
camponesa passa a ter uma postura politizada e politizadora. No processo de
organização e luta, foram criadas outras organizações como o Movimento
dos Agricultores Sem Terra – MASTER na região sul do país. As várias
formas de organizações camponesas passaram a sentir a necessidade de
uma articulação nacional que representasse os interesses e as demandas
específicas.
Em 1954, surgiu a União dos Lavradores Agrícolas do Brasil –
ULTAB, durante a II Conferência Nacional dos Lavradores, realizada em
São Paulo. O primeiro presidente foi Lyndolpho Silva, que, uma década
depois, viria a ser o primeiro presidente da CONTAG. Nessa conferência,
foram identificadas as bandeiras prioritárias entre elas o ”estímulo à criação
de sindicatos de trabalhadores rurais”.
CONTAG – PRIMEIRA ORGANIZAÇÃO SINDICAL NACIONAL NO CAMPO
As Ligas Camponesas, O MASTER, A Ação Popular – AP
(ligada aos católicos radicais) e a União dos Lavradores e Trabalhadores
Agrícolas do Brasil – ULTAB, dentre outros, fizeram com que a
organização dos trabalhadores rurais em sindicatos fosse acelerada.
26 Publicação – Revista Contag 40 anos
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As organizações de esquerda com atuação no campo
buscaram atualizar e ampliar as bandeiras de luta e estabelecer linhas
de ação comuns. Neste sentido organizaram: o 1º Congresso Nacional
dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas (1961) – convocado e
coordenado pela ULTAB; em 1962 acontece o 1º Congresso de
Trabalhadores na Lavoura do Nordeste; em 1963 a ULTAB organizou a
1ª Convenção Brasileira de Sindicatos Rurais (Natal-RN).
Em 1963 uma greve no setor canavieiro envolveu a
Federação dos Lavradores, as Ligas Camponesas e sindicatos
autônomos.
Em 22 de dezembro de 1963, trabalhadores rurais de 18
estados, distribuídos em 29 federações, decidiram pela criação da
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG,
reconhecida em 31 de janeiro de 1964, pelo Decreto Presidencial
53.517.
A CONTAG torna-se a primeira entidade sindical camponesa
de caráter nacional legalmente reconhecida. A CONTAG nasceu em um
momento crítico da atividade política do país, resistindo ao regime
imposto pelos militares.
O golpe militar de 64 foi uma contra-revolução que barrou
mudanças estruturais de democratização da sociedade brasileira. O
golpe foi deflagrado contra o governo de João Goulart. Nos primeiros
dias após o golpe, uma violenta repressão atingiu setores politicamente
mais mobilizados à esquerda como, por exemplo, o Comando Geral dos
Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos Estudantes (UNE), as Ligas
Camponesas e grupos católicos como a Juventude Universitária Católica
(JUC) e a Ação Popular (AP).
Os dirigentes sindicais mais combativos foram cassados,
presos, torturados e substituídos por interventores que conduziam os
sindicatos como órgãos de colaboração do Estado. Com o golpe militar,
a direção da CONTAG foi deposta e alguns dirigentes foram presos.
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
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Milhares de pessoas foram presas e casos de tortura
transformaram-se em atos comuns. As pessoas também foram
atingidas em seus direitos individuais e coletivos. O Ato Institucional
(AI) foi criado pelo governo militar – cujo objetivo era justificar os atos
de execução. Os militares justificavam sua ação afirmando que o
objetivo era restaurar a disciplina e deter a “ameaça comunista”. Com o
golpe, deu-se início à implantação de um regime político marcado pelo
“autoritarismo”.
O Estatuto da Terra, elaborado durante o governo de João
Goulart, foi promulgado devido às pressões internacionais e internas,
mas, com profundas modificações. Ainda assim, marcou uma nova
etapa em relação à legislação existente, permitindo, dentre outras
coisas, a intervenção do Estado no setor fundiário, mediante a
desapropriação de terras por interesse social.
O governo militar concentrou-se na modernização das
relações capitalistas no campo e nos projetos de colonização nas áreas
de fronteira, preocupando-se com um projeto agrícola afinado com sua
política econômica. Colocou à margem a pequena produção e favoreceu
a ampliação ainda da concentração de terra e de renda no país. Houve
um estímulo à especulação com a terra e de concessões a grandes
empresas para atuarem no campo. A idéia aguçou o conflito em torno
da propriedade, em especial nas áreas de fronteira agrícola. A política
salarial, controlada pelo governo, impedia os aumentos reais e garantia
ao patronato à crescente exploração de mão-de-obra barata. A
repressão à atuação sindical não permitia que os assalariados rurais
pleiteassem seus direitos trabalhistas.
Os pequenos e médios produtores foram incentivados a se
modernizarem, adquirindo máquinas e equipamentos mediante
financiamentos que, mais tarde, não conseguiram saldar. Essa situação,
aliada à ausência de uma política diferenciada de créditos, resultou na
perda de muitas propriedades, tornando irreversível o processo de
concentração fundiária. As lideranças políticas sindicais comprometidas
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2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
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com a luta por direitos e liberdade, resistiram como puderam ao regime
militar e no 1º Congresso Nacional dos Trabalhadores na Agricultura –
CNTR.
No 1º Congresso Nacional de Trabalhadores Rurais da
CONTAG, realizado em São Paulo, estava clara a existência de dois
grupos políticos, um ligado ao interventor e, outro ligado a
trabalhadores e lideranças que se mostravam comprometidos com as
lutas dos trabalhadores.
Em 1967, o Rio de Janeiro é transformado em sede da
Conferência Nacional Intersindical, congregando representantes dos
trabalhadores rurais, bancários e industriários. Nessa conferência, a
defesa da reforma agrária foi unânime, contando com a presença de
sindicalistas rurais de quase todos os estados. Foi o início de uma
articulação ampla, urbana e rural, de consolidação de uma chapa para
concorrer às eleições da CONTAG.
Fruto da união operária e camponesa, por apenas um voto
de diferença, a chapa encabeçada por José Francisco da Silva impõe a
derrota ao interventor e então presidente da CONTAG, José Rotta.
Empossada, a nova diretoria (1968) convocou todas as federações para
um encontro, em Petrópolis (RJ), a fim de elaborar um Plano de
Integração Nacional - PIN. A preocupação maior era criar um
instrumento capaz de garantir a unidade do MSTR diante da divisão
política revelada no processo eleitoral.
O PIN elegeu a reforma agrária como uma das bandeiras de
luta capaz de propiciar a unidade do movimento, pois seria de
fundamental importância não apenas para os diretamente envolvidos
nos conflitos pela terra, mas também para o pequeno produtor e o
assalariado.
O PIN previu ações específicas para cada setor. No caso dos
assalariados, por exemplo, foram incentivadas as ações coletivas, em
grande número, para abarrotar as Juntas de Conciliação e Julgamento,
forçando uma tomada de posição favorável aos trabalhadores. Essa
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
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proposta, quando levada à prática, causaria uma reação violenta do
patronato e do poder público, que ameaçavam e puniam os líderes
sindicais, por promoverem reuniões dos grupos nos Sindicatos de
Trabalhadores Rurais.
A formação de líderes era essencial para o futuro do MSTR.
Por meio de cursos sobre a realidade brasileira, legislação trabalhista,
agrária, agrícola, cooperativismo e de organização sindical, iniciou um
contínuo trabalho de conscientização dos trabalhadores rurais sobre os
seus direitos, qualificando-os para a luta cotidiana.
O PIN marcou a singularidade do MSTTR dentro do
sindicalismo brasileiro. Enquanto as outras confederações urbanas
existentes tinham dúvidas entre resistir ou aceitar a intervenção no
movimento sindical, a CONTAG optou pelo enfrentamento ao poder
econômico e político em uma de suas principais bases: a
democratização da terra e a organização política dos trabalhadores
rurais, por meio da formação de lideranças.
Durante os ‘anos duros’ do regime ditatorial militar, 1968 e
1969, os dirigentes do MSTR aceleraram o processo de organização e
politização da categoria. Lançaram o periódico “O Trabalhador Rural”,
informativo que levava as idéias e propostas da direção da CONTAG
acerca das bandeiras de lutas e da organização sindical às Federações.
Nesse período, a direção da CONTAG qualificou ainda mais a
sua forma de comunicação com a base, lançando a revista mensal “O
Trabalhador Rural”, apresentando análises sobre a conjuntura nacional
e sugerindo encaminhamentos para reflexão nos estados.
Num dos primeiros números dessa revista, foi transcrita a
carta ao Papa Paulo VI, assinada por José Francisco, que reafirmava:
“É, para vencer barreiras centenárias de irracionalidades geradas pelo
latifúndio, sinônimo de um poder político, econômico, social e cultural
que contrariam a função social de propriedade, é necessária uma
decisão drástica e enérgica pela reforma agrária”. Os textos
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2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
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reproduzidos no periódico demonstram explicitamente o enfrentamento
da CONTAG diante das políticas do governo militar.
A necessidade de organizar os trabalhadores nos municípios
e constituir sindicatos era uma das grandes demandas do movimento
sindical naquele momento. A revista “o Trabalhador Rural” era um dos
meios utilizados para chamar os trabalhadores para organização
sindical. Um espaço chamado “Conversa de Caboclo” que contavam
estórias sobre o cotidiano dos trabalhadores rurais, criadas pela equipe
técnica da Contag e assinadas com nomes fictícios, para chamar a
atenção dos camponeses sobre a importância da organização sindical.
Em uma dessas estórias consta esse trecho: “E quem é esse sindicato,
que vai dar nosso valor? É uma sociedade composta de agricultor. Nós
vai lá se reunir, pra acabar com a tal de meia. Que sempre nos tem
trazido amarrado no nó da peia.”
A luta essencialmente corporativa, nunca foi a marca do
movimento sindical coordenado pela CONTAG, já em 1968, preocupados
com a importância da educação para o desenvolvimento do campo, foi
organizado um Encontro Nacional em Petrópolis. Reunindo diversos
representantes das Federações concluíram que: a) o diálogo deve ser a
base para a construção de uma proposta educativa para o campo; e b)
o método a ser utilizado, deve levar em conta o conhecimento da
realidade, que será criticada, para daí se chegar à escolha da ação e a
própria ação, conhecimento e crítica.
Na revista “O Trabalhador Rural”, a direção da CONTAG
politizou o debate sobre o papel da organização sindical e utilizou
repetidamente o lema “Sindicalismo autêntico, é Sindicalismo livre”.
Denunciou a intenção de cooptação do governo através do
assistencialismo. Demonstrou que o conceito de desenvolvimento do
governo era diferente da idéia do MSTR: “milhões de camponeses
continuam morrendo de fome (...), mas o Brasil está em franco
crescimento. Sim, porque crescer é bem diferente de desenvolver”.
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Levantamento elaborado pela CONTAG, em 1971,
demonstraram que a estratégia adotada pelo MSTR foi acertada,
conforme a tabela abaixo:
Levantamento numérico do movimento sindical em 22
estados, inclusive Brasília e Guanabara, de 1960 a 1971.
Municípios brasileiros
Municípios com sindicatos
Municípios sem sindicatos
Média de sócios por sindicato
Inicio de 1969
3959
705
3254
800
Final de 1971 3959
1045
2914
1132
Fonte: Revista O Trabalhador Rural
Em março de 1971, ocorreu a Reunião do Conselho Deliberativo
que escolheu a diretoria da CONTAG para o triênio 1971/1974, tendo como
presidente José Francisco/PE, esta foi a 4ª eleição da CONTAG.
A CONTAG segue sua trajetória e realiza seu 2º Congresso
Nacional dos Trabalhadores Rurais - CNTR em 1973, que representou
um marco para a organização da classe trabalhadora rural, logo o governo
militar buscou impedir a posse da diretoria eleita. Em maio de 1977 foi
empossada a direção para o triênio 1977/1980.
Em 1979 acontece o 3º Congresso Nacional dos
Trabalhadores Rurais, dando visibilidade nacional ao sindicalismo de
trabalhadores coordenados pela CONTAG. Em abril de 1980, foi empossada a
direção para o triênio 1980/1983 e a festa de posse contou com a presença
dos ex-dirigentes Lyndolpho Silva e José Pureza da Silva, ambos
fundadores da CONTAG, de volta ao país após vários anos de exílio.
Durante o 3º Congresso Nacional de Trabalhadores Rurais,
em 1979, em seu discurso de abertura, o presidente José Francisco
recordou: “apesar das condições desfavoráveis para o trabalho sindical entre
o último Congresso e os dias atuais, passamos de 19 para 21 Federações, de
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1.500 sindicatos para 2.275, de dois milhões e meio de associados para mais
de cinco milhões”.
A CONTAG estava consolidada, não como um espaço desse ou
daquele ‘modo de pensar o sindicalismo’, mas de todas as correntes políticas
existentes. Rompeu com a visão imediatista da luta sindical e buscou atender
às outras dimensões e necessidades do ser humano, inclusive, apontando o
conceito de desenvolvimento que se queria para o campo: “O
desenvolvimento deve vir acompanhado de transformações sociais e
políticas”.
O mesmo aconteceu com o estímulo à participação, em registros
internos, vê-se que reuniões de avaliação e planejamento sempre estiveram
presentes na história dessa entidade, inclusive, com a participação da
assessoria nesses momentos, demonstrando como praticar democracia
interna, mesmo em momentos difíceis e sob ameaça constante dos militares.
No 4º CNTR em 1985 o debate sobre o modelo de reforma
agrária defendido pelo MSTR foi o ponto alto. Os delegados aprovaram a
realização de eleições da CONTAG e Federações em Congresso, com
mandato de três anos. Em dezembro de 1985 aconteceu a 1ª Eleição
Congressual da história da CONTAG.
Apesar da deliberação do 4º CNTR, a eleição da Diretoria e do
Conselho Fiscal da CONTAG, gestão 1989/1992, não aconteceu em
congresso. As urnas foram colocadas nas sedes das federações. A votação foi
de um delegado por sindicato. A Diretoria Efetiva teve como presidente
Aloísio Carneiro/BA. Nessa eleição foi eleita a primeira mulher,
Gedalva de Carvalho/SE, enquanto suplente da direção da entidade.
No 5º CNTR, em novembro de 1991 a participação da base foi
ampliada qualitativa e quantitativamente. Elegeram o dirigente Francisco
Urbano/RN como presidente da CONTAG.
Em agosto de 1994 foi realizado o 1º Congresso Nacional
Extraordinário dos Trabalhadores Rurais – CNETR. Neste congresso
participaram a direção executiva da CONTAG, a direção efetiva das
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federações e os delegados eleitos em número correspondente a 10% dos
sindicatos filiados a cada federação. Foi assegurada a participação das
diretoras da CONTAG, como delegadas, e de duas trabalhadoras
rurais por estados.
O 6º CNTR acontece em maio de 1995 explicitando a
necessidade da classe trabalhadora rediscutir a sua prática de luta e de
convivência democrática com as divergências. O 6º CNTR foi um marco, pois
a partir daí o Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais –
MSTTR incorporou o conceito de agricultura familiar às suas
formulações, dando os passos iniciais para a construção de um projeto
alternativo de desenvolvimento rural, a participação efetiva das mulheres na
Diretoria da CONTAG e uma maior abertura para os jovens e as pessoas da
3ª idade. No 6º CNTR também foi aprovada a filiação da CONTAG à
Central Única dos Trabalhadores - CUT. Em 1995 foi oficializada
estatutariamente a Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras
Rurais, cuja Coordenadora passou a integrar a Diretoria da CONTAG. A
Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais – CNMTR elege a sua
Coordenadora Nacional, Margarida Maria Alves da Silva (Hilda) do STTR
de Surubim/PE.
Dois anos (1997) depois foi realizada a 1ª Plenária Nacional de
Mulheres Trabalhadoras Rurais que discutiu as lutas específicas das
mulheres e a sua relação com as lutas do conjunto da categoria.
O 7º Congresso representou um marco, em 1998 mais de 1.400
delegados e delegadas debateram e aprovaram um Projeto Alternativo de
Desenvolvimento Rural Sustentável – PADRS. Nascia o PADRS representando
um passo significativo para a articulação e unificação das lutas da categoria
na esfera nacional e para o fortalecimento de um novo tipo de interseção
campo e cidade.
O projeto ampliou a visibilidade política das mulheres
coordenadas pela CNMTR, que já haviam conquistado a inclusão da
Coordenação da Comissão Nacional no Estatuto da CONTAG. Incluíram mais
um “T” no nome do congresso, que passou a ser 7º Congresso Nacional de
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
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Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – CNTTR. Foi aprovada também a
cota de, no mínimo, 30% de mulheres em todas as instâncias do
sindicalismo rural. Foi eleito como presidente Manoel José dos
Santos/PE.
Neste Congresso os trabalhadores e trabalhadoras rurais
aprovaram: o Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural
Sustentável - PADRS, tendo por princípio a realização de uma ampla e
massiva reforma agrária, expansão, valorização e fortalecimento da
agricultura em regime de economia familiar, centrado na inclusão social, no
desenvolvimento social, econômico, ecologicamente sustentável e no fim de
todas as discriminações, em especial as de gênero, de geração, raça e etnia.
Para a implementação do Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural
Sustentável - PADRS desenvolveu-se um trabalho de formação de lideranças
em desenvolvimento local, através do Programa de Desenvolvimento
Local Sustentável – PDLS, voltado para a animação e estímulo a processos
de desenvolvimento sustentável ao nível local, possibilitando uma maior
intervenção nas políticas públicas e nos Planos Municipais.
Em outubro de 1999 foi realizado o 2º Congresso
Extraordinário buscando atualizar e potencializar o MSTTR para o desafio
de implementação do PADRS. o 2º CNETTR discutiu e deliberou
especificamente sobre estrutura, organização, gestão e auto-sustentação do
MSTTR. Este processo de avaliação e discussão interna tem possibilitado
continuar na construção de um movimento sindical autônomo, combativo,
ético e participativo.
Em Março de 2001 acontece o 8º CNTTR , onde o MSTTR
reafirmou a estratégia de continuidade e o avanço no processo de
implementação do PADRS, indicando a necessidade de atuação efetiva na
organização da produção e comercialização. Foi criada a Comissão Nacional
de Jovens Trabalhadoras e Trabalhadoras Rurais e a Coordenadora da
Comissão, Simone Battestin/ES foi eleita junto com a Direção Efetiva da
CONTAG. Neste congresso foi deliberada a necessidade do MSTTR participar
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articuladamente das Eleições Eleitorais e de eleger representantes dos
trabalhadores e trabalhadoras rurais.
Os Congressos da CONTAG garantiram o debate, a socialização e
a integração nacional das políticas do Movimento Sindical dos Trabalhadores
e Trabalhadoras Rurais – MSTTR. Ver anexo I sobre a trajetória das Eleições
e Congressos Nacionais da CONTAG.
Desde então, o Movimento Sindical de Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais vem aperfeiçoando suas proposições e ações em torno
da construção e implementação do PADRS, se contrapondo aos padrões dos
sucessivos modelos de desenvolvimento implementados no Brasil. Modelos
estes, que embasados na preservação do latifúndio e na produção de
monoculturas para exportação, fizeram aprofundar a exclusão social, o
desemprego, a concentração da terra e renda, sendo responsáveis, também,
pela violência no campo e pela alta degradação ambiental.27
Como também, implementando e ajustando, permanentemente, o
Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável - PADRS. Sua
última atualização ocorreu no 9º Congresso Nacional da CONTAG,
realizado em Brasília, no ano de 2005. Dentre os vários ajustes, ressalta-se a
reflexão sobre o princípio da SOLIDARIEDADE. Durante o 9º Congresso,
as trabalhadoras e trabalhadores rurais entenderam não ser possível se opor
ao neoliberalismo sem implementar profundas mudanças nas relações sociais
estabelecidas entre homens e mulheres, de todas as idades, raças e etnias
que vivem e trabalham no campo.
Logo, a solidariedade foi compreendida enquanto principal
elemento para a construção de relações fraternas entre a classe trabalhadora
rural, na perspectiva de um mundo melhor. Nosso projeto passou a ser
denominado: Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural
Sustentável e Solidário – PADRSS.
A construção do PADRSS foi a primeira iniciativa concreta de
unificar as demandas do campo, considerando as diferenças e especificidades
27 PORTO, Cleia Anice. “Reforma Agrária e Agricultura familiar como base para o desenvolvimento rural – Sustentabilidade e qualidade de vida, Reforma Agrária e Meio Ambiente, Instituto Socioambiental, 2003, p.107
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regionais, culturais, produtivas, ambientais, organizativas, de gênero,
geração, raça e etnia. E ainda propõe alternativas específicas que consideram
as demandas das pessoas no âmbito das suas características produtivas, a
exemplo das assalariadas e assalariados rurais, das agricultoras e
agricultores familiares, assentados, acampados, meeiros, posseiros,
extrativistas, dentre outros.
A incorporação das propostas do PADRSS no dia-a-dia do MSTTR
estimulou profundas mudanças em nossas entidades, garantindo um salto
qualitativo e dinâmico às respostas necessárias ao atendimento das
demandas da base. A ampliação das frentes de lutas do MSTTR foi uma
delas. Não bastava atuar nas questões trabalhistas, previdenciárias, de
acesso à terra e crédito, sem articular essas lutas com outras políticas
necessárias e estratégicas para garantir o desenvolvimento rural sustentável
que se pretende.
A ampliação das frentes de lutas acabou estimulando o MSTTR a
expandir e qualificar suas direções. Foram criadas as secretarias específicas,
primeiramente na CONTAG, em seguida nas Federações, e em muitos
Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.
Essas mudanças apontaram para a necessidade de investir
na formação política, sindical e profissional de novas lideranças
sindicais e técnicas do MSTTR. Essas ações formativas deram visibilidade
a um público estratégico para as mudanças, a juventude e as mulheres
trabalhadoras rurais.
Ainda hoje, esse processo formativo busca conjugar a formação
política sindical com as demandas por melhoria das condições de trabalho,
aumento da renda e dos salários, direitos trabalhistas e previdenciários,
elevação dos níveis de escolaridade, de formação e requalificação
profissional, habitação rural, saneamento básico, saúde pública e de
qualidade, educação do campo e lazer.28 Conjugadas com as demandas
estruturantes do desenvolvimento rural sustentável, como o acesso à terra,
28 Anais da 1ª Plenária Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – Novembro 2003
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crédito, infra-estrutura social e produtiva, condições de comercialização,
tecnologias de produção adaptada à agricultura familiar e aos ecossistemas.
A estratégia do MSTTR se orientou pelo estímulo à participação
política e à gestão democrática na comunidade, município, território ou
região, levando os excluídos e marginalizados do campo a serem
protagonistas de uma outra realidade, sem perder de vista a articulação
entre o local, o regional e o territorial com o global, o rural com o urbano, na
perspectiva de uma sociedade justa, democrática, igualitária e solidária.
Tal estratégia exige uma participação efetiva nos processos
políticos e eleitorais, nos espaços de concepção e gestão de políticas públicas
e, o permanente debate com a sociedade sobre a concepção de espaço rural
e do desenvolvimento que propomos, tendo como um dos principais objetivos
reverter o processo neoliberal e viabilizar políticas públicas necessárias à
implementação do PADRSS.
Não queremos dizer que o projeto vá resolver num passe de
mágica os desafios históricos que estão postos para trabalhadores e
trabalhadoras rurais brasileiras. Mas, sem dúvida, representa um salto
qualitativo para nossa organização, mobilização, luta e ampliação das
possibilidades concretas de implementarmos e consolidarmos o PROJETO
ALTERNATIVO DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTAVEL E
SOLIDÁRIO – PADRSS.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na
Agricultura – CONTAG, em seus 43 anos de existência, com o esforço e a
participação de milhões de trabalhadores e trabalhadoras rurais, tem
contribuído, de maneira decisiva, para a construção de uma sociedade mais
justa, democrática, igualitária e solidária em nosso País.
Em sua história de luta, a CONTAG continua engajada na defesa
permanente dos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. É a
maior entidade camponesa da América Latina organizada em 27 Federações
Estaduais de Trabalhadores na Agricultura e 4.100 Sindicatos de
Trabalhadores Rurais. Essa organização se constitui no Movimento Sindical
dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais - MSTTR. É essencial que
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
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tenhamos viva, unida e ativa essa grande estrutura de representação
construída ao longo desses 43 anos, em prol do bem - estar da
representatividade dos trabalhadores e trabalhadoras rurais do nosso país.
A CONTAG foi fundada no dia 22 de dezembro de 1963 em
01 Congresso Nacional. Desde então, foram realizados mais 08 Congressos
Nacionais de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, 02 Congressos Nacionais
Extraordinários de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, 01 Plenária
Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, 03 Plenárias Nacionais de
Mulheres Trabalhadoras Rurais, 01 Congresso Nacional da Terceira Idade, 03
Encontros Nacionais de Juventude.
A CONTAG nestes 43 anos se engajou nas principais lutas do povo
brasileiro: contra a ditadura militar, pela anistia política, pela convocação
da Assembléia Nacional Constituinte, por eleições diretas para presidente e
governadores, no Movimento “Diretas Já”, na Constituinte de 1988 e foi
participante do Comitê em Defesa da Ética na Política que levou ao
“Impeachment” o presidente Fernando Collor de Mello.
Os Congressos da CONTAG adquiriram cada vez maior
importância política e capacidade no aprofundamento das questões de
interesse da categoria.
A história da CONTAG é marcada também por ações de massa em
defesa dos interesses da categoria. A partir de 1995, o MSTTR passou a se
mobilizar anualmente no “Grito da Terra Brasil” - nacional, estaduais e
municipais - que hoje é considerado como a “data-base” para a
categoria trabalhadora rural, marcada pela mobilização, proposição,
reivindicação e negociação das políticas essenciais para o meio rural.
A Marcha das Margaridas é outra ação de massa importante no
contexto do MSTTR, em sua primeira edição mobilizou milhares de
trabalhadoras rurais dos municípios, estados e regiões, contando também
com a adesão das trabalhadoras urbanas. Foi reconhecidamente, a maior
mobilização nacional de mulheres já realizada na história do país. Os
principais objetivos da Marcha, foram o fortalecimento das organizações e
comissões de mulheres nos STTRs, Pólos/Regionais, FETAGs, CONTAG, e
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
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principalmente a inclusão e organização das mulheres trabalhadoras de base;
dar visibilidade e reconhecimento ao papel político, econômico, social e
cultural das mulheres trabalhadoras rurais no Movimento Sindical de
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – MSTTR e na sociedade. A próxima
Marcha das Margaridas acontecerá em agosto de 2007.
A CONTAG procurou se estruturar como uma entidade legítima
de representação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais em defesa
dos interesses da classe camponesa, contribuindo para a ampliação e o
fortalecimento da organização e representação sindical no meio rural:
reivindicando, mobilizando, propondo e negociando políticas agrícolas
diferenciadas, direitos trabalhistas e políticas sociais que resgatam a área
rural enquanto espaço de vida, de luta, de trabalho e de construção de
conhecimentos capazes de promover as transformações necessárias para um
desenvolvimento sustentável em nosso país.
Nossa trajetória é fruto de organização, trabalho, articulação e
mobilização dos Sindicatos e Federações de Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais que, em cada município e estado, vêm, desde a
fundação da CONTAG construindo o MSTTR.
ANEXO I
Trajetória das Eleições e Congressos Nacionais da CONTAG
1ª
Eleição da
CONTAG
Em Congresso participativo, democrático e de construção
de estratégias comuns, as organizações que atuam no campo criam a
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG.
O congresso contou com a participação de 29 federações, de 18
estados. Ao final, foi eleita a primeira Direção Executiva: Lyndolpho
Silva/RJ, Sebastião Lourenço de Lima/MG, e Nestor Vera/SP.
2ª
Eleição da
CONTAG
Com o golpe militar, a direção da CONTAG foi deposta e
alguns dirigentes presos. Uma Junta Governativa foi indicada pelo
Ministério do Trabalho e, no ano seguinte foi eleita para o período de
1965 a 1968 a diretoria composta por: José Rotta/SP; Euclides A. do
Nascimento/PE; Joaquim B. Sobrinho/PA; João de A. Cavalcante/PA;
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
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José Lazaro/PR; Nobor Bito/; Agostinho J. Neto/RJ; Joaquim
Damasceno/RN e Antonio J. de Faria/RJ. Para o Conselho Fiscal,
foram escolhidos: Jose Felix Neto/SE; José Palhares/RN e João Jordão
da Silva/PE.
3ª
Eleição da
CONTAG
Em 1968, as eleições contaram com duas chapas. Uma
encabeçada por José Rotta, que representava a influência do
Ministério do Trabalho e, a outra chapa por José Francisco, contando
com o apoio de entidades sindicais urbanas e da base do movimento
sindical de trabalhadores rurais.
A eleição ocorreu na reunião do Conselho Deliberativo da
CONTAG, onde apenas 11 Federações votavam. Por apenas 01 voto
de diferença, a chapa encabeçada por José Francisco saiu vitoriosa.
Foram eleitos para o mandato de 1968/1971: José Francisco/PE; José
Felix Neto/SE; Joaquim A. Damasceno/RN; José Ari Griebler/RS;
Geraldo F. Miqueletti/PR; João de A. Cavalcante/PB; Agostinho José
Neto/RJ; José Benedito da Silva/AL e Otavio F. Gomes/CE. O
Conselho Fiscal: Joaquim Coutinho/RN; Tarciso G. Mendes/CE e
Manoel P. da S. Filho/PB.
4ª
Eleição da
CONTAG
Em março de 1971, ocorreu a Reunião do Conselho
Deliberativo que escolheu a Diretoria da CONTAG para o triênio
1971/1974, composta pelos diretores efetivos: José Francisco/PE;
Otávio F. Gomes/CE; Francisco Urbano de A. Filho/RN; Zacarias
Pedro/SC; Acácio F. dos Santos/RJ; Agenor P. Machado/SP e José
Felix Neto/SE.
2º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais - CNTR, a classe
trabalhadora faz valer sua vontade.
O congresso deliberou sobre: Legislação Rural, Educação, Previdência,
Reforma Agrária e Desenvolvimento Agrícola. No encerramento, o presidente da
CONTAG enfatizou a necessidade de cumprimento do Estatuto da Terra para:
“estabelecer um sistema de relações entre o homem, a propriedade rural e o uso da
terra, capaz de promover a Justiça Social, o progresso e o bem-estar do trabalhador
rural e o desenvolvimento econômico do país, com a gradual extinção do minifúndio e
do latifúndio”.
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2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
87
Trajetória das Eleições e Congressos Nacionais da CONTAG
5ª
Eleição da CONTAG
Em março de 1974, o Conselho de Representantes
da CONTAG elegeu a nova diretoria para o triênio 1974/1977. A
Diretoria Efetiva foi composta por: José Francisco da Silva/PE;
Octavio Adriano Klafke/RS; Paulo F. Trindade/ES; Jonas P. de
Souza/MT; Francisco Urbano A. Filho/RN; José Felix/SE;
Leocadio N. de Oliveira; Acácio F. dos Santos/RJ e José B. da
Silva/AL. O Conselho Fiscal foi composto por: Álvaro Diniz;
Euclides D. Canalle e João Tavares da Silva.
6ª
Eleição da CONTAG
Em maio de 1977, foi empossada a Direção para o
triênio 1977/1980. A Diretoria Efetiva era composta por: José
Francisco da Silva/PE; Roberto T. Horiguti/SP; Paulo F.
Trindade; Orgenio Rott/RS; Francisco Urbano A. Filho/RN; José
Felix/SE; Henrique Gomes Vilanova/PI; Acácio F. dos Santos/RJ
e José B. da Silva/AL. O Conselho Fiscal foi composto por:
Álvaro Diniz; Euclides D. Canalle e Jonas P. de Souza.
3º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais – CNTR – “Um marco na
História da classe trabalhadora rural”.
7ª
Eleição da CONTAG
Em abril de 1980, foi empossada a direção para
triênio 1980/1983. A Diretoria Efetiva era composta por: José
Francisco da Silva/PE; Roberto T. Horiguti/SP; André
Montalvão/MG; José B. da Silva/AL; Gelindo Zulmiro Ferri/RS;
Jonas P. de Souza/MT; Eraldo Lírio de Azevedo/RJ; Francisco
Urbano A. Filho/RN e Henrique Gomes Vilanova/PI. O Conselho
Fiscal foi composto por: Álvaro Diniz; João F. de Souza e
Norberto Kortmann
8ª
Eleição da CONTAG
Em abril de 1983, foi empossada a direção para o
triênio 1983/1986. A Direção Efetiva era composta por: José
Francisco da Silva/PE; Roberto T. Horiguti/SP; André
Montalvão/MG; Estevam N. de Almeida/BA; Gelindo Zulmiro
Ferri/RS; Jonas P. de Souza/MT; Eraldo Lírio de Azevedo/RJ;
Francisco Urbano A. Filho/RN e Osmar Araújo/PI. O Conselho
Fiscal foi composto por: Álvaro Diniz; João F. de Souza e
Norberto Kortmann.
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
88
4º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais - CNTR, “Reforma
Agrária para acabar com a fome e o desemprego no campo e na cidade”. “a
democratização da terra é a base para a democracia no Brasil”.
9ª
Eleição da CONTAG
“1ª
Eleição da história da
CONTAG em
Congresso”
A Direção Efetiva era composta por: José Francisco
da Silva/PE; Ezidio V. Pinheiro/RS; Divino Goulart/GO;
Francisco Sales/MA; André Montalvão/MG; Jonas P. de
Souza/MT; Elio Neves/SP; Eraldo Lírio de Azevedo/RJ;
Francisco Urbano A. Filho/RN; Aloísio Carneiro/BA; Pedro
Ramalho/MS e José Amadeu Araújo/CE. O Conselho Fiscal foi
composto por: Henrique Gomes Vilanova; João F. de Souza e
Norberto Kortmann.
10ª
Eleição da CONTAG
“Eleição
da CONTAG de 1989
não ocorreu em
Congresso”.
A Diretoria Efetiva eleita era composta por: Aloísio
Carneiro/BA; José Francisco da Silva/PE; José Amadeu
Araújo/CE; Antenor Beni/PR; Erny Knortst/RS; André
Montalvão/MG; Norberto Kortmann/SC; Vidor Jorge Faita/SP;
Francisco Sales/MA; Francisco Urbano A. Filho/RN; Pedro
Ramalho/MS e Adevair N. de Carvalho/ES. O Conselho Fiscal
foi composto por: Jonas P. de Souza; Eraldo Lírio de Azevedo e
Henrique Gomes Vilanova.Nessa eleição foi eleita a primeira
mulher, a sergipana Gedalva de Carvalho, enquanto suplente
da direção da entidade. As mulheres conquistam a Comissão
Nacional Provisória da Trabalhadora Rural, que apesar de
subordinada à presidência da entidade, dava os primeiros
passos para consolidar a organização das mulheres
trabalhadoras rurais.
Trajetória das Eleições e Congressos Nacionais da CONTAG
11ª
Eleição da CONTAG
5º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais –
CNTR. “TERRA, PRODUÇÃO, SALÁRIO”.
“apesar das tentativas de desarticulação das
organizações sociais promovidas pelo governo, o MSTR reuniu
mais de dois mil delegados (as) de todo o país, para rediscutir
e redefinir suas lutas”.
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
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A Direção Efetiva eleita era composta por:
Francisco Urbano A. Filho/RN; Aloísio Carneiro/BA; José
Francisco da Silva/PE; Juarez L. Pereira/MG; Tereza Silva/MG;
Hilário Gottselig/SC; José Fialho/MS; Itálico Cielo/RS; José
Raimundo de Andrade/PB e Francisco Sales/MA. Conselho
Fiscal: Antonio Zarantonello; Wilson Paixão e Osmar Araújo.
1º Congresso Nacional Extraordinário dos Trabalhadores Rurais – CNETR
“... não podemos sacrificar a nossa intervenção nos processos eleitorais
gerais que o país viverá, convocando um congresso massivo em Brasília. As eleições
de agora terão a responsabilidade de construir o amanhã...”.
Constatando que o próximo congresso aconteceria na segunda quinzena
de novembro, no mesmo período em que ocorreriam as eleições gerais de 1994, o
Conselho Deliberativo aprovou a realização de um Congresso Extraordinário, em
Brasília, em agosto de 1994. O Congresso Extraordinário foi coordenado pelo
Presidente em exercício, Aloísio Carneiro. Francisco Urbano estava licenciado para
concorrer a uma vaga para o Senado Federal, pelo Rio Grande do Norte
12ª
Eleição da CONTAG
6º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais –
CNTR. “Nem fome, nem miséria. O campo é a solução”.
A direção eleita teve a seguinte composição:
Diretoria Efetiva: Francisco Urbano A. Filho/RN; Avelino
Ganzer/PA; Gerônimo Brumatti/ES; Francisco Miguel de
Lucena/CE; Maria Santiago de Lima/RO; Hilário Gottselig/SC;
Norival Guadaghin/SP; Francisco Sales/MA; Alberto Ercílio
Broch/RS; Guilherme Pedro Neto/GO; Airton Luiz Faleiro/PA e
Sebastião Rocha/MG. Conselho Fiscal: Antonio Zarantonello;
Divino Goulart e Almir José Feliciano.
13ª
Eleição da CONTAG
7º Congresso Nacional dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais – CNTTR. “Rumo a um Projeto
Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável”.
A partir do 7º – CNTTR, passou a ter três
dirigentes na direção efetiva da CONTAG. As novas diretoras
ocuparam a Coordenação da CNMTR e as Secretarias de
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90
Políticas Sociais e a Secretaria de Organização e Formação
Sindical.
Esse congresso aprovou a cota mínima de 30% de
mulheres trabalhadoras rurais em todas as instâncias do
movimento; estabeleceu a auto-sustentação com base nas
contribuições voluntárias; iniciou o debate sobre a inclusão de
Jovens e a Terceira Idade nas entidades sindicais.
Uma chapa foi encabeçada pelo pernambucano
Manoel José dos Santos, o Manoel de Serra. A outra, pelo
gaúcho, radicado no Pará, Airton Faleiro.
A direção da CONTAG teve a seguinte composição:
Diretoria Efetiva: Manoel José dos Santos/PE; Gerônimo
Brumatti/ES; Francisco Urbano A. Filho/RN; Agnaldo dos
Santos Meira/BA; Maria do Ó do Nascimento/AL; Hilário
Gottselig/SC; Mario Plefk/PR; Alberto Ercílio Broch/RS;
Sebastião Rocha/MG; Guilherme Pedro Neto/GO; Maria da
Graça Amorim/MA; Maria de Fátima R. da Silva/PI e Raimunda
Celestina de Mascena/CE. Conselho Fiscal: José Roberto de
Assis; Antonio Zarantonello e Maira Bottega.
Trajetória das Eleições e Congressos Nacionais da CONTAG
2º Congresso Nacional Extraordinário dos Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais – CNETTR
“A prioridade será a discussão na base, os trabalhadores e trabalhadoras
rurais deverão determinar qual o tipo de sindicalismo que irá representá-los no
próximo milênio”.
14ª
Eleição da CONTAG
8º Congresso Nacional dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais – CNTTR. “Avançar na Construção do
Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável”.
“entre tantas deliberações, vale destacar a criação
da Comissão Nacional da Juventude Trabalhadora Rural e da
estrutura cooperativista ligada ao MSTTR, é o futuro sendo
construído hoje”
Duas chapas concorreram à eleição da direção da
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
91
CONTAG. Uma chapa encabeçada por Manoel de Serra e,
outra, encabeçada pelo baiano Edson Pimenta.
A direção eleita teve a seguinte composição:
Diretoria Efetiva: Manoel José dos Santos/PE; Alberto Ercílio
Broch/RS; Manoel Candido da Costa/RN; Hilário Gottselig/SC;
Maria do Ó do Nascimento/AL; Juraci Moreira Souto/MG; José
de Jesus Santana/BA; Airton Faleiro/PA; Guilherme Pedro
Neto/GO; Maria da Graça Amorim/MA; Francisco Miguel de
Lucena/CE; Maria de Fátima R. da Silva/PI; Raimunda
Celestina de Mascena/CE e Simone Battestin/ES. Conselho
Fiscal: Francisco Sales, Gilson Francisco da Silva e Maria
Helena Baungarten.
15ª
Eleição da CONTAG29
9º Congresso Nacional dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais – CNTTR. “Consolidando o Projeto
Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável”.
A direção eleita teve a seguinte composição:
Diretoria Efetiva: Manoel José dos Santos /PE; Alberto Ercílio
Broch/RS; Manoel Cândido da Costa/RN; David Wilkerson
Rodrigues/BA; Regina Rodrigues de Freitas/AC; Juraci Moreira
Souto/MG; Pedro Mário Ribeiro/MG; Antoninho Rovaris/SC;
Paulo de Tarso Caralo/ES; Alessandra da Costa Lunas/RO;
Antonio Lucas Filho/GO; Raimunda Celestina de Mascena/CE;
Carmem Helena Ferreira Foro/PA; Maria Elenice Anastácio/RN.
Conselho Fiscal: Francisco Sales de Oliveira/MA; Ademir
Mueller/PR e Elizete Hintz/RS.
Suplentes: Joel José Farias/SE; Simone
Battestin/ES; Antonio Soares Guimarães/CE; Maria Lucinete
Nicácia de Lima/AM; Maria José de Carvalho/PE; Liberalino
Ferreira de Lucena/PB; Wilson Hermuth Gottens/GO; Domingos
Albuquerque Paz/MA; Cláudia Pereira Farinha/DF; Maria da
Glória da Silva/MT; Maria do Ó do Nascimento Melo/AL; Josefa
Rita da Silva/BA; Manoel Carlos Dantas/RO; Paulo César
29 Fonte: Ata de Posse da Diretoria e do Conselho Fiscal da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG, para o quadriênio 2005/2009
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
92
Ventura Mendonça/RJ;
Suplentes do Conselho Fiscal: Maria das Graças
Darós/SC; Geraldo Teixeira de Almeida/MS e Antonio Vitorino
da Silva/AL.
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
93
Bibliografia:
⇒ Anais do 4º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais -
1985
⇒ Anais do 5º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais –
1991
⇒ Anais do 1º Congresso Nacional Extraordinário dos
Trabalhadores Rurais - 1994
⇒ Anais do 6º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais –
1995
⇒ Anais do 7º Congresso Nacional dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais – 1998
⇒ Anais do 2º Congresso Nacional Extraordinário dos
Trabalhadores Rurais - 1999
⇒ Anais do 8º Congresso Nacional dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais – 2001
⇒ Anais da 1ª Plenária Nacional dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais – Novembro 2003
⇒ Anais do 9º Congresso Nacional dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais – 2005
⇒ Publicação – Revista Contag - 40 anos
⇒ Ata de Posse da Diretoria e Conselho Fiscal da
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG, para
o quadriênio 2005/2009.
⇒ Manfredi, Sílvia Maria – Formação sindical no Brasil :
história de uma prática cultural / Silvia Maria Manfredi – São Paulo :
Escrituras Editora, 1996.
1. Sindicalismo – Brasil – História 2. Sindicatos – Brasil – História
I. Título
⇒ PORTO, Cleia Anice. “Reforma Agrária e Agricultura familiar
como base para o desenvolvimento rural – Sustentabilidade e qualidade
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
94
de vida, Reforma Agrária e Meio Ambiente, Instituto Socioambiental,
2003, p.107
⇒ O Golpe Militar de 64 e a Instauração do Regime Militar –
CPDOC – Fundação Getúlio Vargas – FGV.
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
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HISTÓRICO DA CUT NACIONAL
Fonte: www.cut.org.br
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) é uma organização
sindical de massas em nível máximo, de caráter classista, autônomo e
democrático, adepta da liberdade de organização e de expressão e
guiada por preceitos de solidariedade, tanto no âmbito nacional, como
internacional. A CUT foi fundada em 28 de agosto de 1983, na cidade
de São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo, no 1º Congresso
Nacional da Classe Trabalhadora.
O QUE QUEREMOS?
A defesa dos interesses imediatos e históricos da classe
trabalhadora, melhores condições de vida e trabalho e o engajamento
no processo de transformação da sociedade brasileira em direção à
democracia e ao socialismo.
Organizar, representar sindicalmente e dirigir numa
perspectiva classista a luta dos trabalhadores brasileiros da cidade e do
campo, do setor público e privado, dos ativos e inativos.
NOSSOS PRINCÍPIOS
• Defender que os trabalhadores se organizem
com total independência frente ao Estado e autonomia em relação
aos partidos políticos, e que devem decidir livremente suas
formas de organização, filiação e sustentação material;
• Garantir a mais ampla democracia em todos os
seus organismos e instâncias, assegurando completa liberdade de
expressão aos seus filiados, desde que não firam as decisões
majoritárias e soberanas tomadas pelas instâncias superiores e
seja garantida a unidade de ação;
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96
• Desenvolver sua atuação de forma independente
do estado, do governo e do patronato, e de forma autônoma em
relação aos partidos e agrupamentos políticos, aos credos e às
instituições religiosas e a quaisquer organismos de caráter
programático ou institucional;
• Considera que a classe trabalhadora tem na
unidade um dos pilares básicos que sustentarão suas lutas e suas
conquistas. Defende que esta unidade seja fruto da vontade e da
consciência política dos trabalhadores da cidade e do campo;
• Solidariedade com todos os movimentos da
classe trabalhadora, em qualquer parte do mundo, desde que os
objetivos e princípios desses movimentos não firam os princípios
da CUT. Defenderá a unidade de ação e manterá relações com o
movimento sindical internacional, desde que seja assegurada a
liberdade e autonomia de cada organização.
NOSSO COMPROMISSO
• Desenvolver, organizar e apoiar todas as ações
que visem a conquista de melhores condições de vida e trabalho
para o conjunto da classe trabalhadora da cidade e do campo;
• Lutar para a superação da estrutura sindical
coorporativa vigente, desenvolvendo todos os esforços para a
implantação de sua organização sindical baseada na liberdade e
autonomia sindical;
• Lutar pelo contrato coletivo de trabalho, nos
níveis geral da classe trabalhadora e específico, por ramo de
atividade profissional, por setores, etc.;
Apoiar as lutas concretas do movimento popular da cidade e do
campo, desenvolvendo uma relação de unidade e autonomia de
acordo com os princípios básicos da Central;
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97
• Defender e lutar pela ampliação das liberdades
democráticas como garantia dos direitos e conquistas dos
trabalhadores e de suas organizações;
• Construir a unidade da classe trabalhadora
baseada na vontade, na consciência e na ação concreta;
• Promover a solidariedade entre os
trabalhadores, desenvolvendo e fortalecendo a consciência da
classe, em nível nacional e internacional;
• Defender o direito da organização nos locais de
trabalho, independentemente das organizações sindicais, através
das comissões unitárias, com o objetivo de representar o conjunto
dos trabalhadores e dos seus interesses;
• Lutar pela emancipação dos trabalhadores como
obra dos próprios trabalhadores, tendo como perspectiva a
construção da sociedade socialista.
QUEM REPRESENTAMOS?
A CUT é a maior central sindical da América Latina e a 5.ª
maior do mundo, estando presente em todos os ramos de atividade
econômica. Segundo os dados de março de 2004 somava:
3326 - Entidades Filiadas
7.468.855 - Trabalhadoras e Trabalhadores Associados
22.487.987 - Trabalhadoras e Trabalhadores na Base
NOSSA ORGANIZAÇÃO
A CUT se organiza em dois níveis:
1 - Organização Vertical
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98
Parte dos locais de trabalho, buscando aglutinar as
atividades afins em suas formas organizativas, dela fazem parte as
organizações sindicais de base, as entidades sindicais por ramo de
atividade econômica e as federações e confederações, também por
ramo atividade econômica.
2 - Organização Horizontal.
Tem por objetivo construir a unidade dos trabalhadores
promovendo sua organização intercategoria profissional enquanto classe
em âmbito regional, estadual e nacional. Além da estrutura nacional, a
CUT está organizada em todos os 26 estados e no Distrito Federal.
INSTÂNCIAS DE DELIBERAÇÃO E ÓRGÃOS DE APOIO
O Congresso e a Plenária Nacional são os órgãos máximos
de deliberação da Central. O Congresso Nacional é realizado a cada três
anos, quando é eleita a Executiva Nacional composta por 25 membros
efetivos e 7 suplentes . A Direção Nacional é composta pela Executiva
Nacional e mais 83 membros efetivos representando as estaduais da
CUT e a Estrutura Vertical., escolhidos conforme o estatuto da Central.
Para cumprir eficazmente os seus objetivos e as
deliberações, a CUT tem uma estrutura interna complexa com funções
vinculadas a Administração, Comunicação, Formação, Políticas Sociais,
Política Sindical, Mulher Trabalhadora, Relações Internacionais e
Organização. Conta ainda com comissões sobre a Amazônia, Meio
Ambiente e Combate a Discriminação Racial.
Os organismos para o desenvolvimento de políticas
específicas e assessoria são:
• Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)
• Observatório Social,
• Instituto Nacional de Saúde no Trabalho (INST)
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99
• Departamento de Estudos Sócio-Econômicos e
Políticos (DESEP).
Tem ainda sete escolas sindicais:
• Escola Sul (Florianópolis-SC)
• Escola São Paulo
• Escola 7 de Outubro (Belo Horizonte- MG)
• Escola Amazônia (Belém-PA)
• Escola Chico Mendes (Porto Velho-RO)
• Escola Centro-Oeste (Goiânia-GO)
• Escola Sindical da CUT no Nordeste Marise Paiva
de Moraes (Recife-PE).
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100
POTENCIAL E LIMITE DAS DISPUTAS POLÍTICAS: PONTOS PARA REFLEXÃO
Sara Pimenta e Domingos Corcione - Agosto de 2006
Dirigentes e lideranças sindicais constroem projetos políticos ou
se identificam com um entre aqueles já existentes, assumindo sua
defesa no cotidiano da vida sindical.
É comum a existência de projetos diferenciados em suas origens e
concepções político-ideológicas. Isso resulta em disputas pela
predominância e hegemonia de um sobre o outro.
As disputas políticas não se limitam aos antagonismos entre
trabalhadores e classes dominantes, mas têm lugar no interior do
próprio Movimento Sindical e entre este e outros movimentos e
organizações populares. Em muitos casos as disputas internas se
tornam de tal forma acirradas que geram rupturas e levam à criação de
novas entidades e movimentos. Mas há disputas “menores” - não
menos importantes - que caracterizam o cotidiano do MSTTR: disputas
de idéias, de espaços, de reconhecimento, de protagonismo e liderança.
Afinal, disputas permanentes de poder.
A dimensão positiva das disputas políticas
As disputas podem ser vistas como elementos que integram a
dinâmica política do MSTTR, em sua dimensão positiva e construtiva,
favorecendo a qualificação dos projetos políticos e a aquisição - pelos
dirigentes e lideranças - de maior habilidade na defesa de suas
posições.
A pluralidade ideológica e de posicionamento político confere um
novo dinamismo à luta sindical e aos processos de mudança, pois pode
sinalizar o surgimento e a consolidação de novas práticas. As posições
são demarcadas de modo a assegurar os interesses relacionados com o
projeto defendido, colocando em destaque pontos divergentes,
conferindo maior clareza às idéias e facilitando a comunicação.
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101
Idéias, posições e projetos, quando em disputa, ganham maior
relevância, são apresentados e defendidos na perspectiva de fazerem
adeptos e construírem sua hegemonia.
Todo esse processo promove fortes motivações para se avançar
com maior garra, perseguindo as estratégias necessárias para vencer as
posições antagônicas ou diferenciadas e conquistar novos espaços de
poder.
Práticas a serem transformadas
Apesar dos aspectos positivos acima ressaltados, é preciso
reconhecer que no campo das disputas políticas ainda persistem
posturas e atitudes equivocadas, que ferem a ética e acabam por
comprometer o avanço da organização sindical e a construção de
projetos de mudança social, tais como:
� Dificuldade de reconhecer o outro como um legítimo interlocutor e de construir um diálogo aberto, que implica, sobretudo, na escuta atenta das posições ou correntes adversárias.
� Utilização de palavras e gestos ofensivos, que acabam por incorrer em desrespeito pessoal com quem esteja representando posições políticas diferenciadas ou adversárias.
� Dificuldade de identificar e reconhecer valores e aspectos positivos nas idéias, posicionamentos e pessoas que estejam defendendo posições ou projetos diferenciados. Forte tendência a distorcer o que se vê e se ouve e a evidenciar somente aquilo que se considera equivocado, contraditório e incorreto no lado adversário.
� Tendência a forjar oportunidades para denegrir a imagem da posição adversária e – em certos casos – humilhar e desqualificar as pessoas que a defendem.
A formação como espaço estratégico para a construção de novas
práticas
As disputas, tão comuns no cotidiano sindical, acontecem também
nos “espaços de formação programada”, como Seminários, Oficinas ou
Encontros de caráter formativo, voltados para o estudo, para a reflexão
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
102
mais aprofundada ou a capacitação. Nesses espaços, mesmo entre
pessoas de uma mesma corrente político-ideológica, ocorrem debates,
mais ou menos acirrados, que reproduzem posturas positivas ou
equivocadas, como aquelas anteriormente citadas.
As atividades de formação têm uma importância primordial na
vida sindical. Sem formação não há como qualificar a luta. Um curso de
formação, um seminário ou uma oficina podem contribuir muito para
esclarecer idéias e projetos, avaliar a caminhada, fazer repensar e
aprimorar estratégias e métodos de trabalho. A ação formativa,
portanto, tem um grande rebatimento na ação mobilizadora e
transformadora da luta sindical.
Contudo, para que esse rebatimento tenha um impacto realmente
positivo, é preciso fazer das ações e atividades formativas espaços
estratégicos, reconhecendo-os em seu potencial catalisador de novas
concepções e práticas, o que demanda alguns compromissos como os
abaixo relacionados:
� Respeitar a pluralidade de concepções e idéias e buscar
compreendê-las de modo a compor uma visão crítica e
construtiva, frente a todas elas.
� Resgatar, em primeiro lugar, a história, explicitar o significado e
prever os possíveis desdobramentos de cada concepção e prática,
pautando-se pelo estudo e pesquisa.
� Refletir e aprofundar o debate, para identificar insuficiências e
valores de cada posição. Cada prática ou concepção revela
fragilidades, mas também tem contribuições a dar. Para isso se
fazem necessários uma postura aberta ao diferente e o exercício
da escuta sempre atenta ao que a outra posição ou corrente tem
a transmitir. Nessa perspectiva, é fundamental reconhecer as
próprias limitações e se dispor a rever posições.
� Fazer da formação um campo profícuo de debates e
oportunidades de aprendizado e aprimoramento das idéias e
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
2º Módulo Regional Centro-Oeste. Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.
103
concepções ideológicas, primando por uma postura ética e
respeitosa para com as pessoas e grupos.
� Tratar as disputas políticas como elementos constitutivos de um
desafiador processo de construção de consensos.
Na medida em que nos dispormos a construir e assumir novas
posturas e práticas para as quais os espaços de formação nos
convocarem, certamente estaremos dando largos passos para
transformar o cotidiano de nossas relações políticas no movimento
sindical.
Portanto, não se trata de acabar com a disputa, pois – reiteramos -
ela pode ser positiva e dinamizadora da ação social transformadora. O
desafio é conferir às nossas disputas uma dimensão mais humana e
humanizadora, coerente com nossos sonhos e utopias, de modo que
isso nos faça crescer em todas as dimensões: na política, nas relações
inter-pessoais, nas relações de gênero... Uma disputa que nos aproxime
cada vez mais da nova sociedade que queremos construir: justa,
igualitária, solidária e respeitosa das diferenças, onde se conviva – ao
mesmo tempo – na unidade e na diversidade.