Nações Unidas E/CN.15/2015/L.6/Rev.1
_________________________________________________________________________
Conselho Econômico e Social Distr. limitada
21 de maio de 2015
Português
Original: Inglês
_________________________________________________________________________
Comissão de Prevenção do Crime e
Justiça Penal 24º período de sessões
Viena, 18 a 22 de maio de 2015
Tema 6 do Programa
Utilização e aplicação das regras e normas
das Nações Unidas em matéria de
prevenção ao crime e justiça penal
Argentina, Áustria, Brasil, Chile, Equador, El Salvador, Estados Unidos de América,
França, Itália, Líbano, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Polônia, África do Sul,
Tailândia e Uruguai: projeto de resolução revisado1
A Comissão de Prevenção do Delito e Justiça Penal recomenda ao Conselho Econômico e
Social que aprove o seguinte projeto de resolução para ser submetido à aprovação da
Assembleia Geral:
Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos (Regras de
Mandela)
A Assembleia Geral,
Guiada pelos propósitos principais das Nações Unidas, estabelecidos no Preâmbulo da
Carta das Nações Unidas, e na Declaração Universal dos Direitos Humanos2, e inspirada
pela determinação de reafirmar a crença nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e
no valor do ser humano, sem distinção de qualquer tipo, e na igualdade de direitos de
homens e mulheres, bem como das nações grandes e pequenas, de criar condições através
das quais possam ser mantidas a justiça e o respeito das obrigações emanadas dos tratados e
1 Trata-se de Tradução não oficial, disponibilizada pelo Departamento Penitenciário Nacional para a língua
portuguesa do Projeto de Resolução aprovado no 13o Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção
ao Crime e Justiça Criminal, realizado em Doha, Qatar, entre 12 e 19 de abril de 2015 e pela Comissão de
Prevenção do Crime e Justiça Penal, entre 17 e 21 de maio em Viena e cujo anexo, o texto das Regras
Mínimas da ONU para Tratamento de Reclusos, inteiramente revisado e aprovado pela Assembleia Geral das
Nações Unidas em dezembro de 2015, com o nome de Regras de Mandela. 2 Resolução 217 A (III).
de outras fontes do direito internacional, e promover o progresso social e melhores padrões
de vida em um conceito mais amplo de liberdade,
Recordando todas as regras e normas em matéria de prevenção do crime e justiça penal
elaboradas e pedido da Comissão de Prevenção do Crime e Justiça Penal e aprovadas ou
recomendadas pela Assembleia Geral, e reconhecendo que a Declaração Universal dos
Direitos Humanos é o fundamento sobre o qual as normas e padrões sobre prevenção do
crime e justiça criminal se baseiam,
Tendo em conta a preocupação de longa data das Nações Unidas para a humanização da
justiça criminal e proteção dos direitos humanos, e ressaltando a importância fundamental
dos direitos humanos na administração diária da justiça penal e da prevenção do crime,
Ciente que as Regras Mínimas para Tratamento de Reclusos3 foram regras mínimas
universalmente reconhecidas para a detenção de presos e tiveram grande valor e influência,
como guia para a elaboração de leis, políticas e práticas penitenciárias desde sua aprovação
pelo Primeiro Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção do Crime e Tratamento do
Infrator, celebrado em 1955,
Tendo em conta que, na Declaração de Salvador sobre Estratégias Amplas ante Problemas
Globais: os Sistemas de Prevenção do Delito e Justiça Penal e seu Desenvolvimento em um
Mundo em Evolução4, os Estados Membros reconheceram que um sistema de justiça penal
eficaz, justo, responsável e humano se baseava no compromisso de proteger os direitos
humanos na administração da justiça, na prevenção do crime e na luta contra o crime, e
reconheceram também o valor e o impacto das regras e normas das Nações Unidas em
matéria de prevenção do crime e justiça penal, ao elaborar e aplicar as políticas, leis,
procedimentos e programas nacionais em matéria de prevenção do delito e justiça penal,
Tendo em conta o desenvolvimento progressivo das normas internacionais relativas ao
tratamento de presos desde 1955, inclusive em instrumentos internacionais como o Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos5, o Pacto Internacional de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais e a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes6 e seu Protocolo Facultativo7,
Recordando as regras e normas das Nações Unidas em matéria de prevenção do delito e
justiça penal relacionadas com o tratamento dos presos e as medidas substitutivas do
encarceramento aprovadas desde 1955, em particular os Procedimentos para a Aplicação
Efetiva das Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos8, o Conjunto de Princípios para
3 Direitos Humanos: Recompilação de instrumentos internacionais, Volume 1 (Primeira parte): Instrumentos
de caráter universal (publicação das Nações Unidas, núm. de venda: S.02.XIV.4 (Vol. I, Parte 1)), seção J,
núm. 34. 4 Resolução 65/230. 5 Ver resolução 2200 A (XXI). 6 Nações Unidas, Treaty Series, vol. 1465, núm. 24841. 7 Ibid., vol. 2375, núm. 24841. 8 Resolução 1984/47 do Conselho Econômico e Social.
a Proteção de Todas as Pessoas Submetidas a Qualquer Forma de Detenção ou Prisão9, os
Princípios Básicos para o Tratamento de Reclusos10, as Regras Mínimas das Nações Unidas
sobre as Medidas Não Privativas de Liberdade (Regras de Tóquio)11 e os Princípios Básicos
sobre a Utilização de Programas de Justiça Restaurativa em Matéria Penal.12
Considerando a necessidade de cuidado relativo à situação específica de crianças,
adolescentes e mulheres na administração da justiça, em particular enquanto se encontram
em situações de privação de liberdade, como se requer nas Regras Mínimas das Nações
Unidas para a Administração da Justiça, da Infância e da Juventude (Regras de Beijing)13,
as Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil (Diretrizes de
Riad)14, as Regras das Nações Unidas para a Proteção de Jovens Privados de Liberdade15 e
as Regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas Não
Privativas de Liberdade para as Mulheres Infratoras (Regras de Bangkok)16,
Recordando as regras e normas das Nações Unidas em matéria de prevenção do Crime e
Justiça Penal aprovadas desde 1955 que proporcionam orientação adicional sobre o
tratamento dos reclusos, como, por exemplo, o Código de Conduta para Funcionários
Encarregados de Fazer Cumprir a Lei17, os Princípios de Ética Médica aplicáveis à Função
do Pessoal de Saúde, especialmente os Médicos, na Proteção de Pessoas Presas e Detidas
contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes18, os
Princípios Básicos sobre o Emprego da Força e de Armas de Fogo por Funcionários
Encarregados de Fazer Cumprir a Lei19, os Princípios relativos à Investigação e
Documentação Eficazes da Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes20, e os Princípios e Diretrizes das Nações Unidas sobre o Acesso à Assistência
Jurídica nos Sistemas de Justiça Penal21,
Consciente dos princípios e normas regionais relacionados com o tratamento de reclusos,
entre eles os Princípios e Boas Práticas sobre a Proteção das Pessoas Privadas de Liberdade
nas Américas, as Regras Penitenciárias Europeias revisadas, a Declaração de Kampala
sobre as Condições Penitenciárias na África22, a Declaração de Arusha sobre Boas Práticas
9 Resolução 43/173. 10 Resolução 45/111. 11 Resolução 45/110. 12 Resolução 2002/12 do Conselho Econômico e Social. 13 Resolução 40/33. 14 Resolução 45/112. 15 Resolução 45/113. 16 Resolução 65/229. 17 Resolução 34/169. 18 Resolução 37/194. 19 Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção do Delito e Tratamento do Infrator, Havana, Cuba,
27 de agosto a 7 de setembro de 1990: informe preparado pela Secretaria (publicação das Nações Unidas,
núm. de venda: S.91.IV.2), cap. I, seção B.2 20 Resolução 55/89. 21 Resolução 67/187. 22 Resolução 1997/36 do Conselho Econômico e Social.
Penitenciárias23 e os Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e à
Assistência Jurídica na África,
Recordando sua Resolução 65/230, de 21 de dezembro de 2010, intitulada “12º Congresso
das Nações Unidas sobre Prevenção do Delito e Justiça Penal”, na qual solicitou à
Comissão de Prevenção do Delito e Justiça Penal que estabelecesse grupo
intergovernamental de peritos de composição aberta para intercambiar informação sobre as
melhores práticas, legislação nacional e direito internacional em vigor, assim como sobre a
revisão das atuais Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos, a
fim de que refletissem os avanços recentes da ciência penitenciária e das melhores práticas,
Recordando também suas resoluções 67/188, de 20 de dezembro de 2012, 68/190, de 18 de
dezembro de 2013, e 69/192, de 18 de dezembro de 2014, intituladas “Regras Mínimas para
Tratamento de Reclusos”, em particular a resolução 68/190, na qual tomou nota com apreço
do trabalho realizado pelo Grupo de Peritos sobre as Regras Mínimas das Nações Unidas
para o Tratamento de Reclusos, e a Resolução 69/192, na qual fez ênfase em que se devia
procurar finalizar o processo de revisão, baseando-se nas recomendações formuladas nas
três reuniões do Grupo de Peritos e na informação apresentada pelos Estados Membros,
Considerando que, em sua Resolução 68/190, levou-se em consideração as recomendações
do Grupo de Peritos relativas àquelas questões e regras das Regras Mínimas para
Tratamento de Reclusos haviam selecionadas para sua possível revisão, nas seguintes
esferas:
a) O respeito à dignidade e o valor inerente das pessoas privadas de liberdade como seres
humanos (regras 6, parágrafo 1; 57 a 59; e 60, parágrafo 1),
b) Os serviços médicos e sanitários (regras 22 a 26; 52; 62; e 71, parágrafo 2),
c) As medidas e sanções disciplinares, inclusive o papel do pessoal médico, a prisão em
regime de isolamento e a redução de alimentos (regras 27, 29, 31 e 32);
d) A investigação de todas as mortes de pessoas privadas de liberdade, assim como de todo
indício ou denúncia de tortura ou de penas ou tratamentos desumanos ou degradantes aos
presos (regra 7, e regras propostas 44 bis e 54 bis),
e) A proteção e as necessidades especiais dos grupos vulneráveis privados de liberdade,
considerando os países que se encontram em circunstâncias difíceis (regras 6 e 7),
f) O direito à representação legal (regras 30; 35, parágrafo 1; 37; e 93),
g) As reclamações e inspeções independentes (regras 36 e 55),
h) A substituição de terminologia obsoleta (regras 22 a 26, 62, 82 e 83 e outras),
23 Resolução 1999/27 do Conselho Econômico e Social.
i) A capacitação do pessoal pertinente a fim de aplicar as Regras Mínimas (regra 47),
Tendo em vista também que, em sua Resolução 69/192, reiterou que as modificações das
Regras Mínimas para Tratamento de Reclusos não deveriam diminuir o alcance de
nenhuma das normas existentes, mas refletir os avanços recentes da ciência penitenciária e
as boas práticas, a fim de promover a segurança e condições dignas aos presos,
Tendo em vista ainda o extenso processo de consultas que culminou nas recomendações do
Grupo de Peritos, processo que se prolongou durante cinco anos e consistiu em consultas
preliminares com técnicos e peritos, reuniões em Viena, Buenos Aires e Cidade do Cabo
(África do Sul), e a participação e contribuição ativas de Estados Membros de todas as
regiões, com a ajuda de representantes da rede do programa das Nações Unidas em matéria
de prevenção do delito e justiça criminal e outras entidades das Nações Unidas, entre elas o
Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o
Subcomitê de Prevenção da Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes, o Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas e Crime, organizações
intergovernamentais, como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, organismos
especializados do sistema das Nações Unidas, como a Organização Mundial da Saúde, e
organizações não governamentais e peritos individuais, em matéria de ciência penitenciária
e direitos humanos,
Recordando sua Resolução 69/172, de 18 de dezembro de 2014, intitulada “Os direitos
humanos na administração da Justiça”, na qual reconheceu a importância do princípio de
que, à exceção das restrições legais que foram seguramente necessárias em razão do
encarceramento, as pessoas privadas de liberdade deviam conservar seus direitos humanos
inalienáveis e todos os demais direitos humanos e liberdades fundamentais, e recordou que
a reinserção social e a reintegração das pessoas privadas de liberdade na sociedade devia
ser um dos objetivos essenciais do sistema de justiça penal, garantindo, na medida do
possível, que os infratores pudessem levar uma vida com respeito à lei e autônoma quando
se integrassem de novo à sociedade, e tomou nota, entre outras coisas, da observação geral
número 21, sobre o tratamento humano das pessoas privadas de liberdade, aprovada pelo
Comitê de Direitos Humanos24,
1. Expressa sua gratidão e apreço ao Governo da República da África do Sul por ter
acolhido a reunião do Grupo de Peritos sobre as Regras Mínimas para Tratamento dos
Reclusos que ocorreu na Cidade do Cabo (África do Sul) de 2 a 5 de março de 2015, e por
ter prestado apoio financeiro e capacidade de direção durante todo o processo de revisão, e
observa com apreço o consenso alcançado sobre as nove esferas temáticas e as regras
selecionadas pelo Grupo de Expertos em suas reuniões anteriores para sua revisão25;
2. Expressa seu apreço ao Governo da República Argentina por ter acolhido e financiado a
reunião do Grupo de Peritos ocorrida em Buenos Aires, de 11 a 13 de dezembro de 2012, e
24 Documentos Oficiais da Assembleia Geral, quadragésimo sétimo período de sessões, Suplemento núm. 40
(A/47/40). 25 Ver E/CN.15/2015/17
ao Governo da República Federativa do Brasil por sua contribuição financeira à reunião do
Grupo de Peritos realizada em Viena, de 25 a 28 de março de 2014;
3. Reconhece o trabalho valioso realizado pela Mesa da reunião do Grupo de Peritos
realizada em Viena, em 2014, para preparar, com auxílio da Secretaria, a documentação
destinada à reunião do Grupo de Peritos, ocorrida na Cidade do Cabo (África do Sul) em
2015, em particular o documento de trabalho consolidado e revisado26;
4. Observa que na Declaração de Doha sobre a Integração da Prevenção do Crime e da
Justiça Criminal à Agenda Mais Ampla das Nações Unidas, como Forma de Enfrentar
Desafios Econômicos e Sociais e de Promover o Estado de Direito em Nível Nacional e
Internacional e a Participação Pública27, aprovada no 13º Congresso sobre Prevenção do
Crime e Justiça Penal, realizado em Doha de 12 a 19 de abril de 2015, o 13º Congresso
acolheu com aprovação o trabalho do Grupo de Peritos e destacou o projeto de atualização
das Regras Mínimas para Tratamento de Reclusos, ao que deu forma definitiva o Grupo de
Peritos na reunião realizada na Cidade do Cabo (África do Sul) em março de 2015;
5. Aprova a revisão proposta das Regras Mínimas para Tratamento de Reclusos, que figura
no anexo da presente Resolução, como as Regras Mínimas das Nações Unidas para o
Tratamento de Reclusos;
6. Aprova a recomendação do Grupo de Peritos de que as Regras se denominem “Regras de
Mandela”, em homenagem ao legado do falecido Presidente da África do Sul, Nelson
Rolihlahla Mandela, que passou 27 anos encarcerado como parte de sua luta pelos direitos
humanos, por igualdade, democracia e promoção de uma cultura de paz em nível mundial;
7. Decide ampliar a abrangência do Dia Internacional de Nelson Mandela, celebrado
anualmente em 18 de julho28, para que também se conheça como Dia de Mandela em favor
dos Direitos dos Presos, a fim de promover condições de encarceramento dignas,
sensibilizar sobre o fato de que os presos são parte integrante da sociedade e valorar o
trabalho do pessoal penitenciário como serviço social de particular importância e, com esse
propósito, convida os Estados Membros, as organizações regionais e as organizações do
sistema das Nações Unidas a celebrar essa ocasião de maneira adequada;
8. Reafirma, no contexto do parágrafo 5 desta Resolução, as observações preliminares
sobre as Regras de Mandela, ressalta o caráter não vinculante das Regras de Mandela,
reconhece a variedade de marcos jurídicos dos Estados Membros e, nesse sentido,
reconhece que os Estados Membros podem adaptar a aplicação das Regras de Mandela em
conformidade com seus marcos jurídicos internos, segundo assim correspondam, tendo em
vista o espírito e os propósitos das Regras de Mandela;
9. Encoraja os Estados Membros a se esforçarem por melhorar as condições de prisão, em
conformidade com as Regras de Mandela e todas as demais regras e normas pertinentes das
26 UNODC/CCPCJ/EG.6/2015/2. 27 A/CONF.222/17, cap. I, resolução 1. 28 Resolução 64/13.
Nações Unidas em matéria de prevenção do delito e justiça penal, e continuem trocando
informações sobre boas práticas a fim de determinar os problemas enfrentados para aplicar
as Regras e compartilhem suas experiências na solução desses problemas;
10. Convida a Comissão de Prevenção do Crime e Justiça Penal, em seus próximos
períodos de sessões, a considerar a possibilidade de convocar novamente o Grupo
Intergovernamental de Peritos de Composição Aberta sobre as Regras Mínimas das Nações
Unidas para o Tratamento de Reclusos com o objetivo de determinar as lições aprendidas,
os modos de continuar trocando boas práticas e as dificuldades encontradas na aplicação
das Regras;
11. Encoraja os Estados Membros a promoverem a aplicação das Regras das Nações
Unidas para a Proteção de Menores Privados de Liberdade e as Regras das Nações Unidas
para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas Não Privativas de Liberdade para as
Mulheres Infratoras (Regras de Bangkok);
12. Recomenda os Estados Membros que continuem procurando limitar a superlotação nas
prisões e, quando pertinente, recorram a medidas não privativas de liberdade como
alternativa à prisão preventiva, promovendo um maior acesso a mecanismos de
administração da justiça e de assistência jurídica, reforçando as medidas alternativas ao
encarceramento e apoiando os programas de reintegração e reinserção social, em
conformidade com o disposto nas Regras Mínimas das Nações Unidas sobre as Medidas
Não Privativas de Liberdade (Regras de Tóquio);
13. Observa a importância de um intercâmbio voluntário de experiências e boas práticas
entre os Estados Membros e com entidades internacionais relevantes, quando cabível, e da
prestação de assistência técnica aos Estados Membros que a solicitem para melhorar a
aplicação das Regras de Mandela;
14. Encoraja os Estados Membros a estudarem a possibilidade de destinar recursos
humanos e financeiros adequados para auxiliar a melhoria das condições penitenciárias e a
aplicação das Regras de Mandela;
15. Solicita ao Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime que garanta uma ampla
divulgação das Regras de Mandela, prepare material de orientação e proporcione
assistência técnica e serviços de assessoramento aos Estados Membros em matéria de
reforma penal, a fim de elaborar ou reforçar a legislação, procedimentos, políticas e práticas
penitenciárias em conformidade com as Regras;
16. Louva a Comissão de Prevenção do Delito e Justiça Penal por suas constantes
contribuições à melhoria da administração da justiça mediante a elaboração e
aperfeiçoamento de regras e normas internacionais em matéria de prevenção do delito e
justiça penal, e exorta os Estados Membros que prossigam com seus esforços sobre esse
tema;
17. Solicita ao Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime que continue
promovendo a utilização e aplicação das regras e normas das Nações Unidas em matéria de
prevenção do crime e justiça penal, por meios como a prestação de serviços de
assessoramento e assistência técnica aos Estados Membros que assim solicitem, o que
inclui assistência em matéria de prevenção do crime, justiça penal e reforma da legislação,
e para a organização de programas de capacitação para os funcionários encarregados de
fazer cumprir a lei e do pessoal e da prevenção do crime e justiça penal, assim como o
apoio à administração e gestão dos sistemas penais e penitenciários, o que redundará em
melhora de sua eficiência e capacidade;
18. Convida os Estados Membros e demais doadores que aportem recursos
extraorçamentários para esses fins, em conformidade com as regras e procedimentos das
Nações Unidas;
19. Afirma o importante papel da rede do Programa das Nações Unidas em matéria de
prevenção do crime e justiça penal, as organizações intergovernamentais e as organizações
não governamentais reconhecidas pelo Conselho Econômico e Social como entidades de
caráter consultivo, no processo de revisão e na tarefa de impulsionar a divulgação,
promoção e aplicação prática das Regras de Mandela conforme os procedimentos para sua
aplicação eficaz.
_______________________________________________________________
Anexo
Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de
Reclusos29 (Regras de Mandela)
Observações preliminares
Observação preliminar 1
O objetivo das seguintes regras não é descrever de forma detalhada um sistema
penitenciário modelo, mas unicamente enunciar, partindo dos conceitos geralmente aceitos
de forma mais geral em nosso tempo e dos elementos essenciais dos sistemas
contemporâneos mais adequados, os princípios e práticas que hoje em dia se reconhecem
como idôneos acerca do tratamento de presos e administração penitenciária.
Observação preliminar 2
1. É evidente que, devido à grande variedade de condições jurídicas, sociais, econômicas e
geográficas existentes no mundo, não podem ser aplicadas indistintamente todas as regras
em todas as partes e em qualquer momento. No entanto, essas regras deverão servir para
estimular um esforço constante, para vencer as dificuldades práticas que se colocam frente
a sua aplicação, com a consciência de que representam, em seu conjunto, as condições
mínimas admitidas pelas Nações Unidas.
2. Por outro lado, as regras se referem a um escopo sobre o qual a reflexão intelectual
evolui constantemente. Não têm por objetivo excluir experimentos e práticas, sempre que
esses se ajustem aos princípios e impulsionem os propósitos que depreendidos do texto em
seu conjunto. Guiada por esse espírito, a administração penitenciária central sempre poderá
autorizar exceções.
Observação preliminar 3
1. A primeira parte das regras trata da administração geral dos estabelecimentos
penitenciários e é aplicável a todas as categorias de presos, independentemente de sua
29 Nota do Tradutor: As traduções para o português existente do título do texto das Regras Mínimas adotam
nomenclaturas distintas: ora aparecem como Regras Mínimas para Tratamento de "Reclusos"; ora aparecem
como "Prisioneiros" e por vezes até mesmo como "Presos". O tradutor adotou o verbete "Recluso", para o
título, por parecer mais bem difundido nos países lusófonos e por abandonar o velho conceito das Regras
originalmente formuladas em 1955, que fazia forte referência a "Prisioneiros" (em um contexto pós-guerra,
impactado pelos efeitos da Segunda Guerra Mundial). No entanto, ao longo do texto, o tradutor faz uso da
palavra "preso", exatamente porque reclusão (da mesma raiz que “recluso”) compreende forma de
cumprimento de pena com especificidades jurídicas na legislação brasileira, distinguindo-se da detenção.
“Preso”, portanto, é palavra mais abrangente, e conforme o espírito do texto das Regras Mínimas (que são
aplicáveis a pessoas em regime de reclusão e de detenção, bem como a presos que aguardam julgamento) em
que pese sua limitação para abranger presos homens e presas mulheres.
situação resultar de um processo criminal ou civil, de se encontrarem à espera de
julgamento ou estarem cumprindo pena, e inclusive daqueles que tenham ou não sido
submetidos a medidas de segurança ou medidas correcionais por ordem judicial.
2. A segunda parte contém disposições que somente são aplicáveis às categorias especiais
de presos a que se refere cada seção. No entanto, as regras da seção A, aplicáveis aos presos
sentenciados, serão aplicadas igualmente às categorias de presos a que se referem as seções
B, C e D, sempre que não contrariem as regras que regem essas categorias de presos e que
os beneficiem.
Observação preliminar 4
1. As regras não têm por objetivo regular a administração dos estabelecimentos para
menores de idade, como os centros de detenção ou reeducação de menores, apesar de, de
forma geral, a primeira parte ser aplicável também a esses estabelecimentos.
2. A categoria de presos jovens deve compreender, no mínimo, os jovens cujos casos sejam
de competência das jurisdições de menores. Como regra geral, esses jovens não devem ser
condenados a penas de prisão.
I. Regras de aplicação geral
Princípios fundamentais
Regra 1
Todos os presos30 serão tratados com o respeito devido à sua dignidade e valor inerentes à
condição de seres humanos. Nenhum preso será submetido a tortura nem a outros
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, contra os quais deverão ser
protegidos todos os presos, e não poderá ser invocada qualquer circunstância como
justificativa que contrarie essa regra. A segurança dos presos, dos funcionários, dos
prestadores de serviços e dos visitantes deverá ser assegurada a todo momento.
Regra 2
1. As presentes regras serão aplicadas de forma imparcial. Não haverá discriminação por
motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de qualquer outra natureza,
nacionalidade ou origem social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição. Deverão
ser respeitadas as crenças religiosas e as convicções morais dos presos.
2. Com o propósito de aplicar o principio de não discriminação, as administrações
penitenciárias deverão considerar as necessidades individuais dos presos, em particular das
categorias mais vulneráveis no ambiente penitenciário. Deverão ser adotadas medidas de
proteção e promoção dos direitos dos presos com necessidades especiais, e tais medidas não
serão consideradas discriminatórias.
30 Ver nota do Tradutor nº 28.
Regra 3
A prisão e outras medidas que resultem na separação de uma pessoa do mundo exterior são
aflitivas pelo próprio fato de retirar dessa pessoa seu direito à autodeterminação, ao privá-la
de sua liberdade. Por isso, excetuadas as medidas de separação justificadas e as que sejam
necessárias para a manutenção da disciplina, o sistema penitenciário não deverá agravar os
sofrimentos inerentes a essa situação.
Regra 4
1. Os objetivos das penas e medidas privativas de liberdade são principalmente proteger a
sociedade contra o crime e reduzir a reincidência. Esses objetivos somente podem ser
atingidos se o período de privação de liberdade for aproveitado para assegurar, dentro do
possível, a reintegração dos egressos na sociedade após sua colocação em liberdade, de
modo que possam viver conforme a lei e manter-se com o produto de seu trabalho.
2. Para esse fim, as administrações penitenciárias e outras autoridades competentes deverão
oferecer educação, formação profissional e trabalho, assim como outras formas de
assistência adequadas e disponíveis, incluídas as de natureza reparadora, moral, espiritual e
social e aquelas baseadas na saúde e no esporte. Todos esses programas, atividades e
serviços serão oferecidos com atenção às necessidades individuais de tratamento dos
presos.
Regra 5
1. O regime prisional procurará reduzir ao mínimo as diferenças entre a vida em prisão e a
vida em liberdade tendentes a enfraquecer o sentido de responsabilidade do preso ou o
respeito a sua dignidade enquanto ser humano.
2. As administrações penitenciárias deverão fazer todas as instalações e reformas razoáveis
para assegurar que presos com deficiências físicas, mentais ou de outra natureza participem
em condições equânimes e de forma plena e efetiva da vida na prisão.
Gestão dos registros dos presos
Regra 6
Haverá um sistema padronizado de gestão de registros dos presos em todo local onde
houver pessoas presas. Esse sistema poderá consistir em base eletrônica de dados ou em
livro de registro com páginas numeradas e assinadas. Serão estabelecidos procedimentos
para garantir sequência segura de auditoria e impedir o acesso e modificação não
autorizados a informações constantes do sistema.
Regra 7
Nenhuma pessoa poderá ser internada em estabelecimento penitenciário sem uma ordem
válida de prisão. As seguintes informações serão inseridas no sistema de gestão de registros
dos presos, no momento de ingresso de cada preso:
(a) informações precisas que permitam determinar a identidade pessoal do preso,
respeitando o gênero com o qual o próprio preso se identifique;
(b) os motivos de sua prisão e a autoridade responsável que a efetuou, além de data, hora e
lugar de sua prisão;
(c) a data e hora de seu ingresso e saída, assim como de todo o transporte efetuado;
(d) toda lesão visível e qualquer queixa sobre maus-tratos anteriores;
(e) um inventário de seus bens pessoais;
(f) nomes de seus familiares, inclusive de seus filhos, se cabível, e a idade desses, o lugar
em que se encontram e seu regime de tutela, guarda ou custódia;
(g) informação sobre seus familiares mais próximos e dados da pessoa de contato para
casos de emergência.
Regra 8
As seguintes informações serão inseridas no sistema de gestão dos registros dos presos,
conforme cabível, durante o período de prisão:
(a) informações relativas ao processo judicial, incluídas as datas das audiências e a
representação legal;
(b) boletins iniciais de avaliação e classificação;
(c) informações sobre comportamento e disciplina;
(d) petições e queixas, incluídas as denúncias de tortura ou de outros tratamentos ou penas
cruéis, desumanos ou degradantes, exceto os de natureza confidencial;
(e) informações sobre a aplicação de medidas disciplinares;
(f) informações sobre as circunstâncias e causas de toda lesão ou falecimento e, neste
último caso, sobre o destino dos restos mortais.
Regra 9
Todas as informações mencionadas nas Regras 7 e 8 serão mantidas em sigilo e somente
serão disponibilizadas a pessoas cujas atribuições profissionais requeiram acesso a tais
registros. Todo preso terá acesso aos documentos a ele concernentes, conforme prescrições
autorizadas pela legislação nacional, e terá direito a receber uma cópia autenticada no
momento de sua colocação em liberdade.
Regra 10
Os sistemas de gestão dos registros de presos serão utilizados também para gerar dados
confiáveis sobre tendências e características relativas à população presa, inclusive sobre
taxas de ocupação, que sirvam de fundamento para a tomada de decisões com base
empírica.
Separação por categorias
Regra 11
As diferentes categorias de presos serão alojadas em estabelecimentos distintos, ou em
pavilhões distintos dentro de um mesmo estabelecimento, conforme sexo e idade,
antecedentes criminais, motivos de sua prisão e as necessidades específicas de seu
tratamento; por consequência:
(a) os homens serão recolhidos, na medida do possível, em estabelecimentos distintos dos
destinados às mulheres e, nos estabelecimentos mistos, o pavilhão destinado às mulheres
ficará completamente separado do pavilhão dos homens;
(b) os presos à espera de julgamento estarão separados dos condenados;
(c) os encarcerados por dívidas ou outras causas civis estarão separados dos encarcerados
por causas criminais;
(d) os jovens estarão separados dos adultos.
Alojamento
Regra 12
1. Nas unidades em que os dormitórios forem celas ou quartos individuais, cada preso
ocupará à noite uma cela ou quarto destinado a ele ou ela. Se, por razões especiais, como
superlotação temporária, resultar imperioso que a administração penitenciária central abra
exceções a essa regra, evitar-se-á alojar dois presos em uma cela ou quarto individual.
2. Os dormitórios coletivos, nas unidades que deles disponham, serão ocupados por presos
que tenham sido cuidadosamente selecionados e reconhecidos como aptos para interagirem
entre si em tais condições. Haverá vigilância periódica à noite, adaptada ao tipo de
estabelecimento correspondente.
Regra 13
Todas as acomodações oferecidas para o uso de presos e em particular todos os dormitórios
deverão cumprir todas as exigências de saúde, especialmente no que diz respeito a
condições climáticas, e particularmente a volume de ar, superfície mínima, iluminação,
aquecimento e ventilação.
Regra 14
Em todo local onde presos vivam ou trabalhem:
(a) as janelas serão suficientemente grandes para permitir os presos ler e trabalhar com luz
natural, e serão construídas de maneira que possa entrar ar fresco, independentemente de
ventilação artificial;
(b) a luz artificial será fornecida de modo suficiente para que os presos leiam ou trabalhem,
sem prejuízo para sua visão.
Regra 15
As instalações sanitárias serão adequadas para que o preso possa satisfazer suas
necessidades naturais quando necessário e de forma asseada e decente.
Regra 16
Instalações de banho e de ducha apropriadas serão disponibilizadas para que todo preso
possa se banhar ou duchar, em temperatura adequada ao clima, com frequência necessária
para a higiene geral e em conformidade com a estação e região geográfica, sendo no
mínimo uma vez por semana em climas temperados.
Regra 17
Todas as zonas do estabelecimento penitenciário frequentadas pelos presos deverão ser
adequadamente conservadas e rigorosamente limpas em todos os momentos.
Higiene pessoal
Regra 18
1. Será exigido dos presos asseio pessoal e, para tanto, a eles será fornecido acesso à água e
aos artigos de higiene pessoal indispensáveis para sua saúde e limpeza.
2. A fim de que os presos possam manter uma aparência adequada, compatível com seu
respeito próprio, serão fornecidos meios para o cuidado do cabelo e da barba e para que
possam se barbear com regularidade.
Roupas e cama
Regra 19
1. Todo preso a quem não se permita vestir suas próprias roupas receberá vestimenta
apropriada para o clima e adequado para manter-se em boas condições de saúde. Tal
vestimenta não poderá ser, de maneira alguma, degradante nem humilhante.
2. Toda roupa será mantida limpa e em bom estado. A roupa íntima será trocada e lavada
com a frequência necessária para a manutenção da higiene.
3. Em circunstâncias excepcionais, quando o preso saia do estabelecimento penitenciário
para fins autorizados, será permitido que use suas próprias roupas ou outra vestimenta que
não chame a atenção.
Regra 20
Caso autorizado aos presos vestirem sua própria roupa, serão feitos ajustes no momento de
seu ingresso na prisão, para assegurar que a roupa se mantenha limpa e em bom estado.
Regra 21
Todo preso disporá, em conformidade com os usos locais ou nacionais, de uma cama
individual e de roupa de cama individual e suficiente, que será entregue limpa, mantida em
ordem e trocada com regularidade, a fim de assegurar sua limpeza.
Alimentação
Regra 22
1. Será fornecida a todo preso, pela administração do estabelecimento, nas horas de
costume, alimentação de qualidade e saudável, com valor nutricional adequado à
manutenção de sua saúde e vigor, bem preparada e servida.
2. Água potável deverá estar disponível a todo preso, em qualquer momento que dela
necessite.
Exercício físico e desporto
Regra 23
1. Todo preso que não desempenhe trabalho externo disporá, se as condições
meteorológicas assim o permitirem, de pelo menos uma hora diária de exercício físico
adequado ao ar livre.
2. Os presos jovens, e outros presos cuja idade e condição física assim os permitam,
receberão educação física e recreativa durante o período reservado ao exercício. Para este
fim, serão disponibilizados espaço, instalações e equipamento necessários.
Serviços médicos
Regra 24
1. A prestação de serviços médicos aos presos é de responsabilidade do Estado. Os presos
devem desfrutar dos mesmos padrões de atenção à saúde disponibilizados à comunidade
externa e terão acesso gratuito aos serviços de saúde necessários, sem discriminação em
razão de sua situação jurídica.
2. Os serviços de saúde serão organizados em estreita vinculação com a administração do
serviço de saúde pública geral e de modo tal que se alcance a continuidade de atenção e
tratamento, no ambiente externo, inclusive do HIV, da tuberculose e de outras doenças
infecto-contagiosas, assim como da drogadição.
Regra 25
1. Todo estabelecimento penitenciário contará com serviço de atenção à saúde encarregado
de avaliar, promover, proteger e melhorar a saúde física e mental dos presos, em particular
dos que tenham necessidades especiais de saúde ou problemas de saúde que dificultem sua
reintegração.
2. Os serviços de atenção à saúde contarão com equipe interdisciplinar com pessoal
suficiente e qualificado, que atue com plena independência clínica e detenha conhecimentos
especializados em psicologia e psiquiatria. Os serviços de dentista qualificado serão
disponibilizados a todo preso.
Regra 26
1. Os serviços de atenção à saúde prepararão e manterão históricos médicos precisos,
atualizados e confidenciais de todos os presos, e deverão permitir ao preso que solicite o
acesso a seu próprio histórico. Todo preso poderá facultar a um terceiro para acessar seu
histórico médico.
2. Em caso de transferência de preso, seu histórico médico será remetido aos serviços de
atenção à saúde da instituição que o receber, e permanecerá sujeito à confidencialidade
médica.
Regra 27
1. Todos os estabelecimentos penitenciários facilitarão aos presos acesso rápido a atenção
médica em casos urgentes. Os presos que requeiram cuidados especiais ou cirurgia serão
transferidos a estabelecimentos especializados ou a hospitais civis. O estabelecimento
penitenciário que possuir seus próprios serviços de hospital deverá contar com pessoal e
equipamento adequados para proporcionar o tratamento e a atenção correspondentes aos
presos que a eles sejam encaminhados.
2. Somente poderão tomar decisões médicas os profissionais de saúde competentes, e o
pessoal penitenciário31 que não integre a equipe de saúde não poderá rejeitar nem ignorar
essas decisões.
Regra 28
Nos estabelecimentos penitenciários para mulheres haverá instalações especiais para o
cuidado e tratamento de presas durante sua gravidez, assim como durante o parto e
imediatamente após o parto. Na medida do possível, buscar-se-á que o parto tenha lugar em
um hospital fora do ambiente prisional. Se a criança vier a nascer na prisão, não deverá
constar esse fato em seu registro de nascimento.
Regra 29
1. Toda decisão de permitir que uma criança permaneça com sua mãe ou pai no
estabelecimento penitenciário será baseada no superior interesse da criança. Quando as
crianças puderem permanecer com sua mãe ou pai, serão tomadas medidas para:
(a) oferecer serviços internos ou externos de cuidado e atenção à criança, com pessoal
qualificado, onde estarão as crianças que não estejam sob os cuidados de sua mãe ou de seu
pai;
(b) proporcionar serviços de atenção à saúde específicos para crianças, incluídos serviços
de triagem médica inicial, no momento de seu ingresso de seu, e serviços de
acompanhamento contínuo de seu desenvolvimento, por especialistas.
2. As crianças que morem no estabelecimento penitenciário com sua mãe ou pai nunca
serão tratadas como presas.
31 Nota do Tradutor: preferiu-se adotar como tradução para "prison staff" a expressão "pessoal penitenciário",
que representa o conjunto de funcionários do estabelecimento prisional envolvidos com os serviços penais e
especializado nas atividades de execução penal, custódia e aplicação da lei, distinguindo-se de pessoas
contratadas para prestar serviços especializados (como saúde, educação, assistência social) ou não na unidade.
Seriam os agentes penitenciários e corpo responsável pela custódia e tratamento de presos de forma mais
imediata, geralmente concursados.
Regra 30
Um médico ou outro profissional qualificado de saúde, independentemente se subordinado
ao médico, deverá inspecionar cada preso, falar com ele e examiná-lo assim que possível,
após seu ingresso e, posteriormente, tão detalhadamente quanto necessário. Atenção
especial deverá ser conferida a:
(a) reconhecer as necessidades de atenção à saúde e adotar todas as medidas necessárias
para o tratamento;
(b) detectar maus tratos que os presos recém chegados possam ter sofrido antes de seu
ingresso;
(c) identificar qualquer indício de estresse psicológico ou de outra natureza causado pela
prisão, incluídos o risco de suicídio ou autolesão e a síndrome de abstinência resultante do
uso de drogas, medicamentos ou álcool, e aplicar todas as medidas ou tratamentos
individualizados cabíveis;
(d) facilitar isolamento médico e tratamento adequado durante o período de infecção de
presos de que se suspeite sofrerem doenças contagiosas;
(e) determinar a aptidão física de cada preso para trabalhar, praticar exercícios e participar
de outras atividades, conforme cabível.
Regra 31
O médico ou, se aplicável, outros profissionais de atenção à saúde qualificados, deverão ter
acesso diário a todos os prisioneiros doentes, a todos os presos que se queixem de
condições físicas ou mentais ou lesões e a qualquer preso a quem sua atenção é
especialmente direcionada. Todos os exames médicos deverão ser feitos em condições de
plena confidencialidade.
Regra 32
1. A relação entre o médico ou outros profissionais de saúde e os presos deve se orientar
pelos mesmos padrões éticos e profissionais que aqueles aplicáveis a pacientes na
comunidade externa, em particular:
(a) o dever de proteger a saúde física e mental e a prevenção e tratamento de doenças
unicamente com fundamento em razões clínicas;
(b) o respeito à autonomia dos presos no que diz respeito a sua própria saúde, e o
consentimento fundamentado como base da relação médico-paciente;
(c) a confidencialidade da informação médica, a menos que mantê-la possa dar lugar a uma
situação de perigo real e iminente para o paciente ou para terceiros;
(d) a proibição absoluta de participar, ativa ou passivamente, de atos que possam constituir
tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, incluídos
experimentos médicos ou científicos que possam ser prejudiciais para a saúde do preso,
como a extração de células, tecidos ou órgãos.
2. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 1 (d) desta regra, poderá ser permitido que os
presos, mediante seu consentimento prévio, livre e fundamentado, e em conformidade com
a legislação aplicável, participem de experimentos clínicos e de outro tipo de pesquisas
médicas acessíveis à comunidade externa, se previsto que tais procedimentos
proporcionarão benefício direto e apreciável para sua saúde, e também que doem células,
tecidos e órgãos a familiar seu.
Regra 33
O médico informará ao diretor do estabelecimento penitenciário toda vez que perceba que a
saúde física ou mental de qualquer preso tenha sido ou possa ser prejudicada por sua prisão
continuada ou por condições determinadas de aprisionamento.
Regra 34
Caso os profissionais de saúde, ao examinarem um preso, no momento de seu ingresso na
prisão ou ao prestar-lhe atenção médica posteriormente, percebam qualquer indício de
tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, deverão
documentar e denunciar tais casos à autoridade médica, administrativa ou judicial
competente. Será adotado o procedimento de segurança apropriado para não expor o preso
ou pessoas próximas a risco previsível de agravo.
Regra 35
1. O médico ou o organismo de saúde pública competente fará inspeções periódicas e
apresentará recomendações ao diretor do estabelecimento penitenciário sobre:
(a) a quantidade, qualidade, preparação e distribuição dos alimentos;
(b) a higiene e limpeza das instalações e dos presos;
(c) as condições de saneamento, climatização, iluminação e ventilação;
(d) a qualidade e limpeza da roupa e da cama dos presos;
(e) a observância das regras relativas à educação física e a prática desportiva quando estas
atividades não sejam organizadas por pessoal especializado.
2. O diretor do estabelecimento penitenciário considerará as recomendações e os relatórios
apresentados nos termos do parágrafo 1 desta Regra e na Regra 33, e adotará, de forma
imediata, as medidas necessárias para que os conselhos e recomendações que constem dos
relatórios sejam observados. Quando tais conselhos ou recomendações não correspondam à
esfera de competência do diretor, ou quando este não concorde com seu conteúdo, deverá
transmitir imediatamente a uma autoridade superior seu próprio relatório e os conselhos ou
recomendações do médico ou do organismo de saúde pública competente.
Restrições, disciplina e sanções
Regra 36
A disciplina e a ordem serão mantidas sem impor restrições além das necessárias, com o
objetivo de garantir a custódia e o funcionamento seguros do estabelecimento penitenciário
e a organização da vida em comunidade.
Regra 37
A lei pertinente e o regulamento da autoridade administrativa competente determinarão,
caso a caso:
(a) as condutas que constituem uma falta disciplinar;
(b) o caráter e a duração das sanções disciplinares aplicáveis;
(c) a autoridade competente para impor tais sanções;
(d) toda forma de separação compulsória do resto da população presa, (como o isolamento,
a ausência de comunicação, a segregação e os módulos de vigilância especial ou de semi-
isolamento), que sirva como sanção disciplinar ou para manter a ordem e a segurança,
incluindo a aprovação de normas e procedimentos relativos ao uso, revisão, imposição ou
revogação de qualquer forma de separação compulsória.
Regra 38
1. Os estabelecimentos penitenciários são encorajados a utilizar, na medida do possível, a
prevenção de conflitos, a mediação ou qualquer outro mecanismo alternativo de solução de
controvérsias para evitar faltas disciplinares e resolver conflitos.
2. Relativamente aos presos que estejam ou tenham estado separados dos demais, a
administração do estabelecimento penitenciário tomará as medidas necessárias para mitigar
os possíveis efeitos prejudiciais que o isolamento represente sobre tais presos ou sobre sua
comunidade após sua liberação.
Regra 39
1. Os presos apenas poderão sofrer sanções em conformidade com a lei ou regulamento
mencionados na Regra 37 e com os princípios de equidade e respeito às garantias
processuais. Nenhum preso será sancionado duas vezes pela mesma falta.
2. A administração do estabelecimento penitenciário zelará para que a sanção disciplinar
seja proporcional à infração para a qual se tenha estabelecido a sanção, e manterá registro
apropriado de todas as sanções disciplinares impostas.
3. Antes de impor sanções disciplinares, a administração do estabelecimento penitenciário
considerará em que medida o transtorno mental ou a deficiência de desenvolvimento do
preso podem ter contribuído para a conduta e a prática de falta ou de fato que tenha
motivado a sanção. A administração não sancionará nenhuma conduta considerada
resultado direto da transtorno mental ou da deficiência intelectual do preso.
Regra 40
1. Nenhum preso poderá desempenhar qualquer função disciplinar a serviço do
estabelecimento penitenciário.
2. No entanto, esta Regra não será um obstáculo para o funcionamento regular dos sistemas
baseados na autogestão, nos quais se confiam aos presos organizados em grupos, sob
supervisão e com fins de tratamento, certas atividades ou tarefas de natureza social,
educativa ou desportiva.
Regra 41
1. Toda denúncia relativa à prática de falta disciplinar por um preso será comunicada com
celeridade à autoridade competente, que a investigará sem demoras injustificadas.
2. Os presos serão informados, sem dilação e em idioma que possam compreender, sobre a
natureza das acusações contra si, e disporão de tempo e meios adequados para a preparação
de sua defesa.
3. Os presos estarão autorizados a defender-se por si mesmos ou mediante assistência
jurídica, quando o interesse da justiça assim o exigir, em particular nos casos que envolvam
faltas disciplinares graves. Se não compreenderem ou não falarem o idioma utilizado na
audiência disciplinar, contarão com a assistência gratuita de um intérprete.
4. Os presos terão a possibilidade de solicitar revisão judicial das sanções disciplinares
impostas contra si.
5. No caso de uma falta disciplinar ser processada como delito, o preso terá direito a todas
as garantias processuais aplicáveis aos procedimentos criminais, incluído livre acesso a
advogado32.
32 No original, "legal adviser", que poderia ser traduzido como "consultor jurídico" ou "assessor jurídico".
Para os efeitos da regra, o acesso à figura do advogado é indispensável, já que compreende garantia
processual e a situação em tela demanda atuação em processo criminal, o que não seria cabível ser feito por
outro tipo de profissional.
Regra 42
As condições gerais de vida a que se faz referência nas nestas regras, incluídas as relativas
à iluminação, ventilação, climatização, saneamento, nutrição, água potável, acesso ao ar
livre e ao exercício físico, higiene pessoal, atenção à saúde e espaço pessoal suficiente,
serão aplicadas a todos os presos sem exceção.
Regra 43
1. As restrições ou sanções disciplinares não poderão, em nenhuma hipótese, importar em
tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. Em particular,
deverão ser proibidas as seguintes práticas:
(a) isolamento indefinido;
(b) isolamento prolongado;
(c) aprisionamento em cela escura ou permanentemente iluminada;
(d) castigos corporais ou redução da oferta de alimentos ou de água potável;
(e) castigos coletivos.
2. Em nenhum caso serão utilizados instrumentos de coerção física como sanção por faltas
disciplinares.
3. Entre as sanções disciplinares ou medidas restritivas não poderá estar a proibição de
contato com a família. Somente poderão ser restritos os meios de contato familiar, por um
período limitado, segundo o estritamente necessário para manutenção da segurança e da
ordem.
Regra 44
Para os efeitos destas Regras, por isolamento entende-se o isolamento de presos durante um
mínimo de 22 horas diárias sem contato humano significativo. Por isolamento prolongado
compreende-se o isolamento que se estenda por período superior a 15 dias consecutivos.
Regra 45
1. O isolamento somente será aplicado em casos excepcionais, como último recurso,
durante o período mais curto possível e sujeito a revisão independente, e apenas nos termos
de autorização expedida pela autoridade competente. Não será imposta ao preso em razão
de sua condenação.
2. A imposição de sanções de isolamento será proibida quando o preso tenha deficiência
física ou mental que possa ser agravada por tais medidas. Continua-se a aplicar a proibição
de empregar sanções de isolamento e medidas similares em casos que envolvam mulheres e
crianças nos casos descritos em outras regras e normas das Nações Unidas em matéria de
prevenção do crime e justiça penal33.
Regra 46
1. Os profissionais de saúde não desempenharão qualquer papel na imposição de sanções
disciplinares ou outras medidas restritivas. Prestarão, no entanto, particular atenção à saúde
dos presos submetidos a qualquer regime de separação compulsória, inclusive visitando-os
diariamente e proporcionando-lhes pronta assistência e tratamento médico, mediante
solicitação de tais presos ou dos funcionários do estabelecimento penitenciário.
2. Os profissionais de saúde comunicarão ao diretor do estabelecimento penitenciário, sem
demora, todo efeito adverso na saúde física ou mental do preso, resultante de sanções
disciplinares ou outras medidas restritivas, e darão ciência ao diretor se consideram
necessária a interrupção ou modificação de tais sanções ou medidas por motivos de saúde
física ou mental.
3. Os profissionais de saúde estarão autorizados a examinar as condições de separação
compulsória de preso e recomendar mudanças, a fim de assegurar que tal separação não
agrave o estado de saúde ou a deficiência física ou mental do preso.
Instrumentos de coerção física
Regra 47
1. Será proibido o uso de correntes, grilhões ou outros instrumentos de coerção física que
por sua natureza sejam degradantes ou causem dor.
2. Outros instrumentos de coerção física poderão ser utilizados somente quando a lei
autorize, e nos seguintes casos:
(a) como medida de precaução contra fuga durante transferência, assegurada sua retirada no
momento em que o preso compareça perante autoridade judicial ou administrativa;
(b) por ordem do diretor do estabelecimento penitenciário, se fracassados os demais
métodos de controle, a fim de impedir que o preso se lesione ou lesione terceiros, ou que
provoque danos materiais, casos nos quais o diretor deverá alertar imediatamente o médico
ou outros profissionais de saúde competentes e informar à autoridade administrativa
superior.
33 Ver regra 67 das Nações Unidas para a proteção de Jovens Privados de Liberdade (resolução 45/113); e
regra 22 das Nações Unidas para o tratamento de mulheres presas e medidas não privativas de liberdade para
mulheres infratoras (Regras de Bangkok) (resolução 65/229)
Regra 48
Quando a utilização de instrumentos de coerção física estiver autorizada em nos termos do
Parágrafo 2 da Regra 47, deverão ser aplicados os seguintes princípios:
(a) instrumentos de coerção física serão empregados apenas quando nenhuma outra forma
menos grave de controle seria eficaz para enfrentar os riscos apresentados pela
movimentação sem restrições;
(b) o método de coerção física utilizará o método necessário e razoável menos invasivo
para controlar a movimentação do preso, baseado no nível e natureza dos riscos
apresentados;
(c) instrumentos de coerção física serão empregados apenas durante o tempo necessário, e
removê-los assim que possível, uma vez que desapareçam os riscos representados pela
movimentação livre.
2. Não serão utilizados instrumentos de coerção física em mulheres que estejam em
trabalho de parto, durante o parto e imediatamente após o nascimento do bebê.
Regra 49
A administração penitenciária utilizará técnicas de controle para evitar a necessidade de
imposição de instrumentos de coerção física ou reduzir o caráter invasivo desses
instrumentos, e oferecerá capacitação sobre tais técnicas.
Revistas de presos e celas
Regra 50
As leis e regulamentos que disponham sobre as revistas de presos e celas deverão estar de
acordo com as obrigações emanadas do direito internacional e considerar as regras e
normas internacionais, observada a necessidade de garantir a segurança do estabelecimento
penitenciário. As revistas serão realizadas de modo a respeitar a dignidade inerente ao ser
humano e a intimidade das pessoas, assim como os princípios de proporcionalidade,
legalidade e necessidade.
Regra 51
As revistas não serão realizadas para molestar nem intimidar o preso, tampouco para
invadir de modo desnecessário sua intimidade. Com o fim de prestar contas, a
administração penitenciária manterá registros próprios das revistas realizadas, em especial
das revistas pessoais sem roupas, e das inspeções em cavidades corporais e as revistas de
celas, bem como dos motivos de tais revistas, a identidade de quem as realizou, e os
resultados obtidos.
Regra 52
1. As revistas íntimas, como as revistas pessoais sem roupa e as revistas de cavidades
corporais serão apenas efetuadas quando absolutamente necessárias. As administrações
penitenciárias serão encorajadas a conceber e por em prática alternativas adequadas às
revistas íntimas. As revistas íntimas serão realizadas de maneira privada e por pessoal
qualificado, do mesmo sexo que o preso.
2. As revistas de cavidades corporais poderão ser realizadas apenas por profissionais
médicos qualificados, que não sejam os principais responsáveis pela assistência do preso
ou, no mínimo, por funcionários adequadamente capacitados por profissionais médicos
acerca das normas de higiene, saúde e segurança.
Regra 53
Os presos terão acesso aos documentos relativos aos procedimentos judiciais de seu caso,
ou serão autorizados a mantê-los sob sua posse, excluído o acesso da administração do
estabelecimento penitenciário.
Informação e direito de queixa dos presos
Regra 54
Todo preso receberá com prontidão, no momento de seu ingresso, informações escritas
sobre o seguinte:
(a) legislação e regulamentos penitenciários aplicáveis;
(b) seus direitos, incluídos os métodos autorizados para obtenção de informações, acesso a
orientação jurídica, inclusive por meio de programas de assistência jurídica, e
procedimentos para formular petições ou reclamações;
(c) suas obrigações, incluídas as sanções disciplinares aplicáveis; e
(d) qualquer informação necessária para sua adaptação à vida na prisão.
Regra 55
1. As informações mencionadas na Regra 54 serão disponibilizadas nos idiomas de uso
mais frequente, conforme as necessidades da população presa. Se o preso não compreender
nenhum desses idiomas, serão fornecidos os serviços de um intérprete.
2. Se o preso for analfabeto, a ele serão fornecidas as informações de modo oral. Às
pessoas com deficiência sensorial será fornecida a informação de modo a atender suas
necessidades.
3. A administração do estabelecimento penitenciário exibirá resumos dessa informação de
forma ostensiva, em lugares das áreas de uso comum.
Regra 56
1. Todo preso terá a oportunidade diária de apresentar petições ou reclamações ao diretor
do estabelecimento penitenciário ou ao funcionário autorizado que o represente.
2. As petições ou reclamações poderão ser apresentadas ao inspetor prisional durante suas
inspeções. O preso poderá falar livremente e com plena confidencialidade com o inspetor
ou com qualquer outro funcionário encarregado da inspeção, sem que o diretor ou qualquer
outro funcionário do estabelecimento se façam presentes.
3. Todo preso estará autorizado a encaminhar, sem censura quanto ao conteúdo, petição ou
reclamação sobre seu tratamento à administração penitenciária central e à autoridade
judicial, ou a qualquer outra autoridade competente, incluídas as autoridades com
competências revisionais ou recursais.
4. Os direitos a que se referem os parágrafos 1 a 3 desta Regra serão estendidos ao
advogado do preso. Quando o preso ou seu advogado não puderem exercê-los, tais direitos
serão estendidos a um familiar do preso ou a qualquer outra pessoa que tenha conhecimento
do caso.
Regra 57
1. Toda petição ou reclamação será examinada o mais brevemente possível, e receberá
pronta resposta. Se a petição ou reclamação for rejeitada, ou em caso de atraso
injustificado, o interessado terá direito a apresentá-la perante um juiz ou outra autoridade.
2. Serão asseguradas salvaguardas que garantam aos presos a possibilidade de apresentar
petições ou reclamações de forma segura e, se assim solicitar o interessado, confidencial.
O preso e as pessoas mencionadas no parágrafo 4 da Regra 56 não poderão ser expostos a
represálias, intimidações ou outras consequências negativas por haver apresentado petição
ou reclamação.
3. As denúncias de tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
degradantes serão comunicadas com prontidão e importarão numa investigação rápida e
imparcial, a cargo de autoridade nacional independente, conforme o disposto nos
parágrafos 1 e 2 da Regra 71.
Contato com o mundo exterior
Regra 58
1. Os presos serão autorizados a comunicar-se periodicamente, sob a devida vigilância, com
sua família e amigos:
(a) por meio de correspondência escrita e utilização, onde disponível, de meios de
telecomunicações, eletrônicos, digitais ou de outra natureza; e
(b) recebendo visitas.
2. Quando autorizadas visitas íntimas, tal direito será aplicado sem discriminação e as
presas poderão exercê-lo em igualdade de condições relativamente aos presos. Haverá
procedimentos organizados e lugares serão disponibilizados para assegurar acesso
equânime e igualitário com a devida atenção à segurança e à dignidade.
Regra 59
Na medida do possível, os presos serão alocados em estabelecimentos penitenciários
próximos de sua residência ou em seus locais de reintegração social.
Regra 60
1. A admissão de visitantes no estabelecimento penitenciário depende de seu consentimento
em ser revistado. O visitante poderá desistir de seu consentimento em qualquer momento,
ocasião em que a administração penitenciária poderá denegar seu acesso.
2. Os procedimentos de revista e entrada para os visitantes não poderão ser degradantes e
serão regidos por princípios no mínimo tão protetivos quanto os dispostos nas Regras 50 a
52. As revistas das cavidades corporais serão evitadas, e não deverão ser realizadas em
crianças.
Regra 61
1. Aos presos serão fornecidas oportunidades, tempo e instalações adequadas para
receberem visitas de advogado ou prestador de assistência jurídica de sua escolha, com ele
conversar e realizar consultas sobre qualquer assunto jurídico, sem demora, interferência ou
censura e de forma plenamente confidencial, em conformidade com a legislação nacional
aplicável. As consultas poderão estar sob supervisão visual dos funcionários, mas não
poderão ser por eles ouvidas.
2. Caso o preso não fale o idioma local, a administração do estabelecimento penitenciário
providenciará o acesso aos serviços de um intérprete independente e qualificado.
3. Os presos terão acesso a assistência jurídica efetiva.
Regra 62
1. Aos presos de nacionalidade estrangeira serão concedidos instrumentos adequados para
comunicarem-se com os representantes diplomáticos e consulares do Estado de sua
nacionalidade.
2. Os presos nacionais de Estados estrangeiros que não possuam representação diplomática
nem consular no país, assim como os refugiados e apátridas, gozarão das mesmas premissas
para dirigirem-se ao representante diplomático do Estado encarregado de seus interesses ou
a qualquer autoridade nacional ou internacional que tenha a missão de proteger as pessoas
em sua situação.
Regra 63
Os presos terão a oportunidade de se informar periodicamente sobre as notícias de
atualidades mais importantes, seja mediante leitura de jornais ou revistas ou de publicações
especiais do estabelecimento penitenciário, seja por meio de emissões de rádio, palestras ou
qualquer outro meio similar, autorizado ou controlado pela administração do
estabelecimento penitenciário.
Biblioteca
Regra 64
Todo estabelecimento penitenciário terá uma biblioteca suficientemente equipada de livros
instrutivos e recreativos, que poderão ser usados pelos presos de todas as categorias, e os
presos serão incentivados a fazerem máximo uso da biblioteca.
Religião
Regra 65
1. Se no estabelecimento penitenciário houver número suficiente de presos de uma mesma
religião, será nomeado ou aprovado um representante qualificado dessa religião. Quando o
número de presos o justifique e as circunstâncias assim o permitam, tal representante
prestará serviços em período integral.
2. O representante qualificado nomeado ou aprovado nos termos do parágrafo 1 desta Regra
estará autorizado a prestar serviços regulares e efetuar, sempre que couber, visitas pastorais,
em privado, aos presos de sua religião.
3. Ao preso não será negado acesso a representante qualificado de qualquer religião. Por
outro lado, caso qualquer preso se opuser a receber a visita de qualquer representante
religioso, sua atitude será integralmente respeitada.
Regra 66
Na medida do possível, será autorizado a todo preso cumprir os preceitos de sua religião,
podendo participar dos serviços prestados no estabelecimento penitenciário e manter em
seu poder livros sagrados e de instrução da religião de sua confissão.
Depósitos de objetos pertencentes aos presos
Regra 67
1. Quando o preso ingressar na prisão, todo o dinheiro, objetos de valor, roupa e outros
pertences pessoais que o regulamento não lhe autorize a manter em sua posse serão
guardados em lugar seguro. Será elaborado inventário de tudo, que o preso firmará. Serão
tomadas as medidas necessárias para que tais objetos se conservem em bom estado.
2. Os objetos e o dinheiro pertencentes ao preso serão devolvidos no momento de sua
colocação em liberdade, com exceção do dinheiro que tenha autorizado a gastar, dos
objetos enviados ao exterior, com a devida autorização, e da roupa cuja destruição tenha
sido considerada necessária por razões de higiene. O preso firmará recibo dos objetos e do
dinheiro restituídos.
3. O dinheiro ou os objetos do ambiente externo enviados ao preso estarão sujeitos às
mesmas regras.
4. Se o preso carregar consigo drogas ou medicamentos no momento de seu ingresso, o
médico ou outro profissional de saúde qualificado decidirá o uso que será dado a eles.
Notificações
Regra 68
Todo preso terá direito a informar imediatamente a sua família, ou a qualquer outra pessoa
que tenha designado como contato, sobre sua prisão, sua transferência a outro
estabelecimento e sobre qualquer enfermidade ou lesão grave, e disporá dos meios e
condições para exercer esse direito. A divulgação de informação pessoal dos presos estará
sujeita à legislação nacional.
Regra 69
Em caso de falecimento de um preso, o diretor do estabelecimento penitenciário informará
tal fato imediatamente a seus familiares mais próximos ou a pessoa designada como contato
para casos de emergência. Pessoas designadas pelo preso a receber informações sobre suas
condições de saúde serão cientificados pelo diretor sobre doenças e ferimentos sérios que
apresente, ou sobre sua transferência para instituição de saúde. Deverá ser respeitado o
pedido explícito do preso de que seu cônjuge ou familiar mais próximo não seja
cientificado sobre doença ou ferimentos.
Regra 70
A administração do estabelecimento penitenciário informará imediatamente ao preso sobre
toda doença grave ou morte de familiar próximo ou de qualquer outra pessoa próxima.
Quando as circunstâncias o permitam, será autorizado a dirigir-se, sozinho ou sob custódia,
à cabeceira do familiar ou pessoa próxima em caso de doença grave, ou comparecer ao
funeral dessa pessoa.
Investigações
Regra 71
1. Sem prejuízo do início de investigação interna, o diretor do estabelecimento
penitenciário comunicará sem demora todo falecimento, desaparecimento ou ferimento
grave de preso a autoridade judicial ou a outra autoridade competente e independente da
administração do estabelecimento penitenciário, e poderá dar início a investigações
imediatas, imparciais e efetivas sobre as circunstâncias e causas desse tipo de ocorrência. A
administração do estabelecimento penitenciário cooperará integralmente com essa
autoridade e garantirá a preservação de todas as provas.
2. A obrigação enunciada no parágrafo 1 desta Regra será igualmente aplicada, sempre que
houver motivos razoáveis para considerar que tenha sido cometido, na prisão, ato que
constitua tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes,
independentemente do recebimento de denúncia formal.
3. Sempre que houver motivos razoáveis para considerar que algum dos atos mencionados
no parágrafo 2 tenha sido cometido, serão tomadas medidas imediatas para impedir que
qualquer pessoa que pudesse estar envolvida participe da investigação ou mantenha contato
com as testemunhas, a vítima ou a família desta última.
Regra 72
A administração do estabelecimento penitenciário tratará com respeito e dignidade os restos
mortais de todo preso que houver falecido. Os restos serão entregues aos familiares mais
próximos assim que possível, e no mais tardar ao fim da investigação. A administração
proporcionará um funeral culturalmente adequado, caso não haja ninguém disposto ou
capaz a fazê-lo, e manterá expediente detalhado do caso.
Transferência de presos
Regra 73
1. Quando os presos forem conduzidos a um estabelecimento ou transferidos a outro,
deverão ser expostos ao público o menor tempo possível e serão tomadas as medidas
adequadas para protegê-los de insultos, curiosidade e publicidade de qualquer natureza.
2. Será proibido transportar os presos em condições inadequadas de ventilação ou de luz, ou
por qualquer meio que os submeta a sofrimento físico desnecessário.
3. O transporte de presos será feito às custas da administração penitenciária e em condições
de igualdade para todos.
Pessoal penitenciário
Regra 74
1. A administração penitenciária selecionará cuidadosamente pessoal de todos os níveis,
visto que a gestão adequada dos estabelecimentos penitenciários depende da integridade,
humanidade, aptidão pessoal e capacidade profissional desses funcionários.
2. A administração penitenciária envidará esforços constantes para despertar e manter,
junto ao pessoal penitenciário e na opinião pública, a convicção de que a função
penitenciária constitui serviço social de grande importância e, para esses fins, utilizará
todos os meios apropriados para informar o público.
3. Para alcançar os fins mencionados, é indispensável que os membros do pessoal
penitenciário sejam profissionais contratados em período integral como funcionários
públicos e, portanto, com a segurança de que a estabilidade em seu trabalho depende
unicamente de sua boa conduta, da eficiência de seu trabalho e de sua aptidão física. A
remuneração do pessoal deverá ser suficiente para atrair e manter nas funções homens e
mulheres a elas adequados; os benefícios e condições de serviço serão vantajosos, tendo em
vista a exata natureza do trabalho que desempenham.
Regra 75
1. Todo o pessoal penitenciário possuirá nível de instrução suficiente e disporá dos meios e
instrumentos necessários para desempenhar suas funções de modo profissional.
2. Será oferecida a todo o pessoal penitenciário, antes de sua entrada em exercício, de
capacitação adaptada a suas funções gerais e específicas, que reflita as melhores práticas
contemporâneas e com base empírica, em ciências penais. Apenas os candidatos que
superem satisfatoriamente as provas teóricas e práticas ao fim da capacitação receberão
autorização para ingressar no serviço penitenciário.
3. A administração penitenciária promoverá, de modo contínuo, cursos de formação em
serviços internos, com a finalidade de manter e melhorar os conhecimentos e a capacidade
profissional do pessoal após seu ingresso no serviço e ao longo de sua carreira profissional.
Regra 76
1. A formação mencionada no parágrafo 2 da Regra 75 compreenderá, no mínimo, os
seguintes temas :
(a) legislação, os regulamentos e políticas nacionais pertinentes, assim como os
instrumentos internacionais e regionais aplicáveis, que deverão dispor sobre o trabalho do
pessoal penitenciário e sua interação com os presos;
(b) direitos e deveres do pessoal penitenciário no exercício de suas funções, inclusive o
respeito à dignidade humana de todos os presos e a proibição de condutas determinadas,
especificamente da tortura e de outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
degradantes;
(c) segurança, inclusive o conceito de segurança dinâmica, o emprego da força e de
instrumentos de coerção física, e o controle de criminosos violentos, com a devida
consideração ao uso de técnicas preventivas e de dissuasão, como a negociação e a
mediação;
(d) primeiros socorros, necessidades psicossociais dos presos e dinâmicas correspondentes
em estabelecimentos penitenciários, assim como serviços de assistência e atenção social,
incluída a detecção precoce de problemas de saúde mental.
2. O pessoal penitenciário encarregado de categorias específicas de presos, ou o designado
para desempenhar outras funções especializadas, receberá a capacitação especializada
correspondente.
Regra 77
Todo o pessoal penitenciário deverá conduzir-se e desempenhar suas funções, por meio de
seu exemplo e a todo o momento, de modo a inspirar respeito e influência positiva nos
presos.
Regra 78
1. Na medida do possível, a equipe do estabelecimento penitenciário contará com número
suficiente de especialistas, como psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, educadores e
instrutores técnicos.
2. Os serviços dos assistentes sociais, educadores e instrutores técnicos deverão ser
permanentes, sem excluir a possibilidade de contar com funcionários contratados em
regime parcial ou com voluntários.
Regra 79
1. O diretor do estabelecimento penitenciário será devidamente qualificado para
desempenhar sua função, seja por seu caráter, seja por sua capacidade administrativa, sua
formação e sua experiência profissional.
2. O diretor do estabelecimento penitenciário dedicará toda sua jornada de trabalho a suas
funções oficiais e não poderá ser contratado em regime parcial. Deverá residir no
estabelecimento ou em sua proximidade.
3. Quando dois ou mais estabelecimentos penitenciários estiverem sob a autoridade de um
único diretor, este os visitará com frequência. Cada estabelecimento contará com um
funcionário residente encarregado.
Regra 80
1. O diretor, o vice-diretor e a maior parte do pessoal do estabelecimento penitenciário
deverão falar a língua da maioria dos presos ou língua compreendida pela maioria deles.
2. Serão utilizados os serviços de intérprete qualificado sempre que necessário.
Regra 81
1. Nos estabelecimentos penitenciários mistos, o pavilhão destinado às mulheres estará sob
direção de funcionária encarregada, que guardará todas as chaves de tal pavilhão.
2. Nenhum funcionário do sexo masculino poderá entrar no pavilhão destinado às mulheres
se não estiver acompanhado de uma funcionária.
3. A vigilância das presas será exercida exclusivamente por funcionárias. No entanto, isso
não impedirá que funcionários do sexo masculino, sobretudo médicos e pessoal docente,
desempenhem suas funções profissionais em estabelecimentos ou pavilhões de
estabelecimentos reservados para mulheres.
Regra 82
1. Os funcionários penitenciários não recorrerão ao uso da força em seu trato com os
presos, exceto em caso de legítima defesa, de tentativa de evasão ou de resistência física
ativa ou passiva a comando baseado na lei ou em regulamento pertinentes. Os funcionários
que recorram ao uso da força se limitarão a empregá-la na medida estritamente necessária e
informarão de imediato ao diretor do estabelecimento penitenciário sobre o ocorrido.
2. Os funcionários penitenciários receberão treinamento físico especial para conter presos
violentos.
3. Exceto em circunstâncias especiais, o funcionário que, no desempenho de suas funções,
entre em contato direto com os presos, não estará armado. Além disso, nunca será confiada
arma a membro do corpo de funcionários do estabelecimento sem que tenha sido treinado
previamente para seu manejo.
Inspeções internas e externas
Regra 83
1. Haverá um sistema duplo de inspeções periódicas dos estabelecimentos e serviços
penitenciários, baseado em:
(a) inspeções internas ou administrativas realizadas pela administração penitenciária
central;
(b) inspeções externas realizadas por organismo independente da administração
penitenciária, por exemplo, organismo internacional ou regional competente.
2. Em ambos os casos, o objetivo das inspeções será garantir que os estabelecimentos
penitenciários sejam geridos conforme as leis, regulamentos, políticas e procedimentos
vigentes, com o objetivo de cumprir os objetivos dos serviços penitenciários e correcionais,
e de proteger os direitos dos presos.
Regra 84
1. Os inspetores poderão:
(a) acessar qualquer informação sobre o número de presos e os lugares e locais em que se
encontram presos, assim como toda informação relativa ao tratamento dos presos, incluídos
seus expedientes e as condições de sua prisão;
(b) escolher livremente os estabelecimentos penitenciários que pretendem visitar, inclusive
realizando visitas não anunciadas por iniciativa própria, e quais presos irão entrevistar;
(c) conversar em caráter privado e inteiramente confidencial com os presos e pessoal
penitenciário durante suas visitas;
(d) formular recomendações à administração penitenciária e a outras autoridades
competentes.
2. As equipes de inspeções externas serão compostas por inspetores qualificados e
experientes, designados por autoridade competente, e contarão com profissionais da saúde.
Será conferida devida atenção a uma representação equilibrada entre homens e mulheres.
Regra 85
1. Após cada inspeção, será apresentado relatório por escrito à autoridade competente. Será
considerada a possibilidade de colocar à disposição do público os informes das inspeções
externas, suprimindo previamente dados pessoais dos presos, a menos que tenham
conferido autorização expressa em contrário.
2. A administração penitenciária, ou outras autoridades competentes, conforme cabível,
indicarão em prazo razoável se serão colocadas em prática as recomendações emanadas da
inspeção externa.
II. Regras aplicáveis a categorias especiais
A. Presos condenados
Princípios orientadores
Regra 86
Os princípios enumerados a seguir têm por objetivo definir o espírito conforme o qual os
estabelecimentos penitenciários devem ser administrados e os fins a que devem visar, em
conformidade com a declaração constante da Observação preliminar 1 destas Regras.
Regra 87
É desejável que, antes que o preso termine de cumprir sua pena, sejam adotadas as medidas
necessárias para lhe assegurar um retorno gradual à vida em sociedade. Este propósito
poderá ser alcançado, dependendo do caso, por meio de um regime pré-soltura, organizado
dentro do mesmo estabelecimento penitenciário ou em outra instituição apropriada, ou
mediante liberdade condicional sob algum tipo de supervisão, que não será confiada à
polícia e envolva efetiva assistência social.
Regra 88
1. Não será dada ênfase, no tratamento penitenciário, à exclusão dos presos da sociedade,
mas ao fato de que permanecem fazendo parte dela. Através desse fim se buscará, dentro do
possível, a cooperação de organismos da comunidade que auxiliem o pessoal penitenciário
na tarefa de reinserir os presos na sociedade.
2. Cada estabelecimento penitenciário contará com a colaboração de assistentes sociais
encarregados de manter e melhorar as relações do preso com sua família e com os
organismos sociais que lhes possam ser úteis. Serão adotadas medidas para proteger,
conforme seja compatível com a lei e com a pena imposta, os direitos relativos aos
interesses civis, à seguridade social e a outros benefícios sociais dos presos.
Regra 89
1. O cumprimento destes princípios exige a individualização do tratamento, o que, por seu
turno, exige um sistema flexível de classificação dos presos. Portanto, é desejável que os
diferentes grupos de presos sejam distribuídos em estabelecimentos penitenciários distintos
adequados para o tratamento de cada grupo.
2. Os estabelecimentos penitenciários não devem adotar as mesmas medidas de segurança
relativamente a todos os grupos de presos. É desejável estabelecer diversos graus de
segurança conforme as necessidades de cada grupo. Os estabelecimentos de regime aberto,
pelo simples fato de não disporem de meios físicos de segurança contra fuga e confiarem na
autodisciplina dos presos, proporcionam por este mesmo fato condições mais favoráveis
para a recuperação de presos selecionados cuidadosamente.
3. É desejável evitar que, nos estabelecimentos penitenciários de regime fechado o número
de presos seja tão elevado que chegue a constituir obstáculo para a individualização do
tratamento. Em alguns países se considera que o número de presos nesses estabelecimentos
no deveria ultrapassar 500. Nos estabelecimentos de regime aberto o número de internos
deverá ser o mais reduzido possível.
4. Por outro lado, tampouco é desejável manter estabelecimentos penitenciários com
tamanho excessivamente reduzido, que não permitam que neles sejam fornecidos os
serviços apropriados.
Regra 90
O dever da sociedade não termina com a colocação do preso em liberdade. Devem existir,
portanto, organismos governamentais ou privados capazes de prestar ao egresso assistência
pós-penitenciária eficiente que contribua para diminuir os preconceitos contra ele e para sua
reintegração social.
Tratamento
Regra 91
O tratamento das pessoas condenadas a pena ou medida privativa de liberdade deve ter por
objetivo, na medida que a duração da pena o permita, infundir-lhe a vontade de viver
conforme a lei e manter-se com o produto de seu trabalho proporcioná-los condições para
tanto. O tratamento será voltado a estimular o respeito a si mesmo e desenvolver o sentido
de responsabilidade.
Regra 92
1. Para alcançar este fim, deverão ser empregados todos os meios adequados, o que inclui a
assistência religiosa, nos países em que isto seja possível, a educação, a orientação
vocacional e a capacitação para o trabalho, os métodos de assistência social individual, o
aconselhamento para o trabalho, o desenvolvimento físico e o fortalecimento dos princípios
morais, em conformidade com as necessidades individuais de cada preso. Para tanto, serão
considerados seu passado social e delitivo, sua capacidade e aptidão física e mental, seu
temperamento pessoal, a duração de sua pena e suas perspectivas após a liberdade.
2. Relativamente a cada preso condenado a pena de duração certa, será enviado, o mais
brevemente possível, ao diretor do estabelecimento penitenciário relatório completo sobre
todos os aspectos mencionados no parágrafo 1 desta Regra. Será anexado relatório de
médico ou outro profissional de saúde competente sobre o estado físico e mental do preso.
3. Os relatórios e demais documentos pertinentes formarão um expediente individual. Os
expedientes serão mantidos em dia e arquivados de modo que os funcionários encarregados
possam consultá-los sempre que necessário.
Classificação e individualização
Regra 93
1. Os objetivos da classificação serão:
(a) separar os presos que, por seu passado delitivo ou sua ausência de vontade, possam
exercer influência nociva sobre seus colegas de prisão;
(b) dividir os presos em categorias, a fim de facilitar o tratamento destinado a sua
recuperação.
2. Na medida do possível, haverá estabelecimentos penitenciários separados, ou
estabelecimentos com pavilhões separados, para as distintas categorias de presos.
Regra 94
Após o ingresso no estabelecimento e levantamento da personalidade do preso condenado
por tempo apropriado, será estabelecido, assim que possível, programa de tratamento
individual, baseado na informação obtida sobre suas necessidades, capacidade e inclinações
individuais.
Regalias
Regra 95
Em cada estabelecimento será instituído sistema de regalias adaptado às diferentes
categorias de presos e aos diferentes métodos de tratamento, a fim de incentivar o bom
comportamento dos presos, desenvolver seu sentido de responsabilidade e promover seu
interesse e cooperação no que diz respeito ao seu tratamento.
Trabalho
Regra 96
1. Os presos condenados terão a oportunidade de trabalhar e participar ativamente em sua
recuperação, mediante laudo de aptidão física e mental emitido por médico ou outro
profissional de saúde competente.
2. Será disponibilizado aos presos trabalho produtivo suficiente para que se mantenham
ocupados durante uma jornada de trabalho normal.
Regra 97
1. O trabalho penitenciário não terá caráter aflitivo.
2. Os presos não serão submetidos a escravidão ou servidão.
3. Nenhum preso será obrigado a trabalhar em benefício pessoal ou privado de qualquer
funcionário de estabelecimento penitenciário.
Regra 98
1. Na medida do possível, o trabalho contribuirá, por sua natureza, a manter ou aumentar a
aptidão do preso para ganhar a vida de forma honrada após sua colocação em liberdade.
2. Será conferida formação profissional em oficio útil aos presos que estejam em condições
de aproveitá-la, especialmente aos jovens.
3. Nos limites compatíveis com uma seleção profissional racional e com as exigências da
administração e a disciplina penitenciárias, os presos poderão escolher o tipo de trabalho
que desejam desempenhar.
Regra 99
1. A organização e os métodos de trabalho no estabelecimento penitenciário serão o mais
semelhante quanto possível dos métodos e organizações de trabalho externo equivalente, a
fim de preparar os presos para a vida ocupacional normal.
2. Os interesses dos presos e de sua formação profissional não deverão estar subordinados
ao propósito de obtenção de lucro de empresa que atue no estabelecimento penitenciário.
Regra 100
1. Se possível, as indústrias e plantações do estabelecimento penitenciário serão geridas
diretamente pela administração da unidade, e não por contratados privados.
2. Os presos que desempenhem algum trabalho não controlado pela administração do
estabelecimento penitenciário estarão sempre sob a supervisão do pessoal penitenciário. A
menos que o trabalho seja realizado para outras organizações públicas, a remuneração
normal e integral por tal trabalho será paga à administração do estabelecimento pela pessoa
a quem o trabalho é prestado, levando-se em conta o rendimento dos presos.
Regra 101
1. Nos estabelecimentos penitenciários serão adotadas as mesmas precauções aplicáveis
para proteger a segurança e higiene dos trabalhadores livres.
2. Serão adotadas medidas para indenizar os presos em caso de acidente de trabalho ou
doença decorrente do trabalho, em condições não menos vantajosas que aquelas que a lei
disponha para os trabalhadores livres.
Regra 102
1. Será fixado por lei ou regulamento administrativo o número máximo de horas de
trabalho dos presos por dia e por semana, tendo em conta as normas e costumes locais
relativos ao trabalho desempenhado pelos trabalhadores livres.
2. As horas assim fixadas deverão reservar um dia de descanso por semana e tempo
suficiente para educação e outras atividades previstas para o tratamento e reeducação do
preso.
Regra 103
1. Será estabelecido sistema justo de remuneração do trabalho dos presos.
2. O sistema permitirá aos presos utilizar ao menos uma parte de sua remuneração para
adquirir artigos de uso pessoal e enviar outra parte para sua família.
3. O sistema disporá igualmente que a administração do estabelecimento penitenciário
reserve una parte da remuneração dos presos a fim de constituir um fundo que lhes será
restituído no momento de sua colocação em liberdade.
Educação e lazer
Regra 104
1. Serão tomadas medidas para fomentar a instrução de todos os presos que se encontrem
aptos em condições, inclusive a educação religiosa, nos países em que isto for possível. A
educação dos analfabetos e dos presos jovens será obrigatória e a administração do
estabelecimento penitenciário deverá conferir-lhe particular atenção.
2. Na medida do possível, a educação dos presos deverá estar integrada com o sistema de
educação público estatal a fim de que, ao serem colocados em liberdade, os presos possam
dar continuidade a sua formação sem dificuldades.
Regra 105
Em todos os estabelecimentos penitenciários serão organizadas atividades recreativas e
culturais que favoreçam o bem-estar físico e mental dos presos.
Relações sociais e assistência pós-penitenciária
Regra 106
Será conferida particular atenção à manutenção e melhoria das relações entre o preso e sua
família, que resultem em benefício de ambas as partes.
Regra 107
Será considerado, desde o início do cumprimento da pena, o futuro do preso depois de sua
liberação, sendo encorajado e auxiliado a manter ou estabelecer relações com pessoas ou
organismos externos que possam favorecer sua reinserção social e o interesse superior de
sua família.
Regra 108
1. Os serviços e organismos, oficiais ou não, que auxiliem os presos liberados a
restabelecerem-se na sociedade, cuidarão para que lhes seja proporcionado, na medida do
possível, os documentos e papéis de identidade necessários, alojamento e trabalho dignos e
roupa apropriada para o clima e a estação, assim como os meios necessários para que
cheguem a seu destino e possam subsistir durante o período imediatamente posterior a sua
colocação em liberdade.
2. Os representantes credenciados desses organismos terão todo o acesso necessário aos
estabelecimentos penitenciários e aos presos. Serão consultados sobre o futuro de cada
preso desde o momento em que se inicie a execução da pena.
3. É desejável que as atividades desses organismos sejam centralizadas ou coordenadas
tanto quanto possível, a fim de garantir o melhor aproveitamento de seus esforços.
B. Presos com deficiências ou transtornos mentais
Regra 109
1. Não deverão permanecer na prisão as pessoas que não sejam consideradas penalmente
responsáveis ou diagnosticadas com deficiência ou transtorno mental grave, cujo estado
possa ser agravado na prisão, e se procurará transferir essas pessoas a centros de saúde
mental o mais rapidamente possível.
2. Quando necessário, outros presos com deficiências ou transtornos mentais poderão ser
observados e tratados em centros especializados sob a supervisão de profissionais de saúde
competentes.
3. O serviço de atenção à saúde proporcionará tratamento psiquiátrico a todos os demais
presos que dele necessitem.
Regra 110
É desejável que medidas sejam tomadas, por meio de acordos com os organismos
competentes, caso necessário, para que seja dada sequência ao tratamento psiquiátrico após
a colocação em liberdade e assegurada assistência pós-penitenciária de natureza social e
psiquiátrica.
C. Pessoas detidas ou à espera de julgamento
Regra 111
1. Para os efeitos das disposições seguintes, serão denominadas “presos à espera de
julgamento” as pessoas que se encontrem detidas ou presas em local de polícia ou na
prisão, após imputadas de crime pelo qual ainda não foram julgadas.
2. Os presos à espera de julgamento gozarão de presunção de inocência e deverão ser
tratados de forma coerente com tal presunção.
3. Sem prejuízo das disposições legais relativas à proteção da liberdade individual ou
procedimento que deverá ser observado relativamente aos presos à espera de julgamento,
esses últimos gozarão de regime especial, descrito nas regras a seguir, somente em seus
aspectos essenciais.
Regra 112
1. Os presos à espera de julgamento permanecerão em espaços separados dos presos
condenados.
2. Os presos à espera de julgamento jovens permanecerão em espaços separados dos
adultos. Em princípio, serão acomodados em estabelecimentos distintos.
Regra 113
Os presos à espera de julgamento dormirão sozinhos em celas individuais, considerados os
diferentes costumes locais no que diz respeito ao clima.
Regra 114
Nos limites compatíveis com a ordem do estabelecimento, os presos à espera de julgamento
poderão, caso assim desejem, alimentar-se por sua própria conta, com alimentos obtidos no
exterior do estabelecimento, por meio da administração, de sua família ou de seus amigos.
Caso contrário, a administração lhes proporcionará sua alimentação.
Regra 115
Será autorizado a todo preso à espera de julgamento que use suas próprias roupas pessoais
sempre que estejam asseadas e decorosas. Se trajar uniforme prisional, este será diferente
do uniforme disponibilizado aos presos condenados.
Regra 116
Será oferecido a todo preso à espera de julgamento a oportunidade de trabalhar, mas não
será obrigado a tanto. Se escolher trabalhar, deverá ser remunerado por tanto.
Regra 117
Será autorizado a todo preso à espera de julgamento que procure, às suas custas ou de
terceiro, livros, diários, material para escrita e outros meios de ocupação, compatíveis com
os limites com o interesse da administração da justiça e com a segurança e ordem do
estabelecimento penitenciário.
Regra 118
Será permitido que o preso à espera de julgamento seja visitado e atendido por seu próprio
médico ou dentista se houver motivos razoáveis para tanto e se o preso estiver em
condições de arcar com tais despesas.
Regra 119
1. Todo preso à espera de julgamento terá direito a ser informado com prontidão das razões
de sua prisão e de quaisquer acusações contra si.
2. Se o preso à espera de julgamento não estiver assistido por advogado de sua escolha, terá
direito a advogado designado por juiz ou outra autoridade, sempre que o interesse da justiça
o exija e sem correr com as despesas, se o preso carecer de meios suficientes para tanto. A
recusa de acesso do preso a advogado estará sujeita, sem demora, a reexame independente.
Regra 120
1. Os direitos e as formas de acesso dos presos à espera de julgamento a advogado ou
prestador de assistência jurídica para sua defesa serão regidos pelos mesmos princípios
previstos na Regra 61.
2. Todo preso à espera de julgamento receberá, se assim solicitar, material para escrita com
o fim de preparar os documentos relacionados com sua defesa, incluídas instruções
confidenciais para seu advogado ou prestador de assistência jurídica.
D. Pessoas encarceradas por motivos civis
Regra 121
Nos países cuja legislação permita a prisão por dívidas ou outras formas de prisão
determinadas por decisão judicial como consequência de um processo civil, aqueles que
cumprirem tais penas de prisão não serão submetidos a maiores restrições nem tratados
com mais severidade que a necessária para a manutenção da segurança e da ordem. O
tratamento a eles dispensado não será, em nenhum caso, mais severo que o aplicável aos
presos à espera de julgamento, com a exceção, no entanto, de que poderão ser obrigados a
trabalhar.
E. Pessoas detidas ou presas sem acusação
Regra 122
Sem prejuízo do disposto no artigo 9 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos34,
as pessoas detidas ou presas sem acusação gozarão da mesma proteção prevista na primeira
parte e na seção C da segunda parte destas Regras. De igual maneira, ser-lhes-ão aplicadas
as disposições pertinentes da seção A da segunda parte destas Regras, quando tal aplicação
puder resultar em benefício desse grupo especial de pessoas sob custódia, assegurado que
não sejam adotadas medidas que impliquem que a reinserção ou reintegração sejam
apropriadas, de nenhuma forma, a pessoas não condenadas por qualquer crime.
34 Ver resolução 2200 A (XXI).