LITERATURA BRASILEIRA
Carlos Drummond de Andrade
Ana João, 3
Cátia Silva, 6
12ºH
Literatura BrasileiraBarroco
Gregório de Matos1636 - 1695
Arcadismo
Claúdio Manuel da Costa
1729 - 1789
Literatura BrasileiraRomantis
mo
Fagundes Varela 1841- 1875
Realismo
Machado de Assis1839- 1908
Literatura BrasileiraSimbolism
o
Cruz e Sousa1861- 1898
Pré-Moderni
smo
Lima Barreto1881- 1922
Literatura BrasileiraModernis
mo
Cecília Meireles1901- 1964
Pós-Modernis
mo
Geir Campos1924- 1999
Literatura BrasileiraContempora
neidade
Paulo Coelho1947
Agusto Boal1931- 2009
Rubem Braga1913-1990
Autor
“ Há vários motivos para não amar uma pessoa, e um só para amá-la; este prevalece.”“ Perder tempo a aprender coisas que não interessam, priva-nos de
descobrir coisas interessantes.”
Carlos Drummond de
Andrade1902-1987
Escritor e Poeta
Carlos Drummond de
Andrade1902-1987
Escritor e Poeta
“ A educação para o sofrimento evitaria senti-lo, em relação a casos que não o merecem. ” “ O cofre do banco contém apenas dinheiro. Frustar-se-á quem pensar
que nele encontrará riqueza. ”
O
Poema
Consolo na praia
Consolo na praia
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humor?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado,
devias precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu... na areia, no vento...
Dorme, meu filho.
TemaO poema Consolo na Praia de Carlos
Drummond de Andrade pode ser inserido na
sua temática de reflexão existencial. Nele, o
sujeito poético apresenta-se céptico,
fugindo das soluções fáceis – porque elas
não trazem uma resolução efectiva para ele
– e enfrentando o “sem-sentido” da
existência.
Porém, o “eu” parece relativamente sereno
do ponto de vista estético, na medida em
que não põe em dúvida de maneira
ostensiva a integridade do seu ser, a sua
ligação com o mundo, a legitimidade da sua
criação.
Assunto“ Vamos, não chores / A infância está perdida / A mocidade está perdida./ Mas a vida não se perdeu.”
Dois momentos importantes da vida
humana se perderam. A infância, que
representa os dias doces da fantasia e de
brincadeira está irremediavelmente perdida.
A mocidade, época de tantos planos e
realizações de amores e de aventuras
também se perdeu; a vida não. O objectivo
deste verso é demonstrar adversidade, ideia
de oposição, instaurando um debate ao
longo de todo o texto. A vida não se perdeu,
ou seja, ainda há sobrevivência apesar de
tudo.
Assunto“… O primeiro amor passou / O
segundo amor passou / O terceiro amor
passou…”
Os amores passaram, o que deveria ser
eterno dentro da tradição patriarca e
familiar brasileira, passou tão
efemeramente.
“… Mas o coração continua…”
O coração é a representação do sentimento.
Alguém “sem coração” seria alguém sem a
capacidade de amar, porém no caso do
poema ainda há coração e ele continua
vivo, não anulando a possibilidade de um
novo amor.
Assunto“… Perdeste o melhor amigo / Não
tentaste qualquer viagem…”
O “eu” refere-se a uma completa solidão e à
não realização de uma viagem, que pode
estar relacionada à falta de ousadia, de
mudança ideológica.
“… Não possuis carro, navio, terra…”
O sujeito poético traz sempre para o texto
as perdas, uma vez que a maioria dos
versos confere um mau êxito, sugerindo um
vazio interior, uma desilusão e um
empobrecimento financeiro e sentimental.
Assunto“… Mas tens um cão…”
A presença do cão demonstra-se muito
importante, visto que este ama o dono
incondicionalmente, não sendo um amor
cativado, conquistado, merecido.
“… Algumas palavras duras, / em voz
mansa, te golpearam…”
As palavras duras e mansas sugerem as
desilusões amorosas, uma vez que a voz
mansa geralmente está relacionada ao
feminino, a mulher. “Golpearam” insinua
traição, algo inesperado, de quem menos se
espera, e por isso é tão doloroso.
Assunto“… Nunca, nunca cicatrizam…”
A repetição do advérbio realça a dor,
subentendendo que não houve a superação
do golpe causado pelas palavras duras, já
que existe uma ideia de continuidade.
“… Mas, e o humor…”
Diante dos factos tristes, das perdas, do
choro, ainda é preciso ter humor, ou seja
manter uma certa distância, neutralidade,
cordialidade para amenizar a dor. É preciso
um pouco de “graça” para encarar as
adversidades.
Assunto“… A injustiça não se resolve…”
A injustiça é impossível de resolver, porque faz parte da sociedade, restando conformarmo-nos.
“… À sombra do mundo errado…”
O “eu” permaneceu à sombra de uma sociedade problemática e complexa.
“…murmuraste um protesto tímido..”
Podemos interpretar este verso como um murmúrio, que seria uma reclamação em voz baixa feita de forma discreta, timidamente, não causando efeito, quase não sendo audível. Isto remete-nos para a falta de coragem, de vigor, de vontade e de participação do “eu” na sociedade.
Assunto“… Tudo somado, devias…”
“Tudo somado” refere-se a tudo o que se
perdeu. O verbo “devias” remete-nos a algo
que tem de fazer-se, um conselho que se
deve seguir, encaminhando o leitor para o
verso seguinte.
“… precipitar-te, de vez, nas águas…”
Demonstra a falta de solução do “eu”, a
ideia do suicídio parece estar implícita no
verso.
Assunto“…Estás nu, na areia, no vento…”
A condição de nudez traduz a condição humana de vulnerabilidade e fragilidade. É estarmos como realmente somos, afirmando o estado do “eu”, sem lugar, sem conquistas, e solitário. “Na areia, no vento…” significa a nossa relação com o nada, com o vazio, fazendo-nos reflectir sobre a nossa natureza.
“… Dorme meu filho.”
O poema termina com outro conselho em tom de ordem. Este último verso demonstra um “falso acalento”, pois não muda a condição de desesperança do “eu”; mas ao mesmo tempo alivia as suas aflições. A ideia de “dormir” surge com a necessidade de um sono que revigora e traz novas esperanças.
Recursos Estilísticos
• ApóstrofeVamos, não chores.Dorme, meu filho.
A apóstrofe indica-nos a existência de um “tu” a quem o “eu” se dirige, reflectindo acerca de todos os seus motivos para chorar ou para não perder a esperança.
•ParalelismoO primeiro amor passou. /O segundo amor passou. /O terceiro amor passou.A repetição da passagem do amor confere ao mesmo um carácter de brevidade dolorosa para o sujeito poético.
Recursos Estilísticos
•Sinestesia/Antítese
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
A sinestesia, presente na quarta estrofe,
coloca lado a lado duas realidades opostas,
criando uma antítese sugestiva que aponta
para o paralelismo antagónico que impera
em todo o texto. Neste caso, atrás da voz
mansa vem a palavra dura.
Análise FormalEsta composição poética é constituída
por oito quadras.
A análise rimática é impossível de
reconhecer, devido à inexistência de
rima, o que demonstra uma certa
liberdade formal nesse aspecto, apesar
da regularidade estrófica mantida ao
longo do poema.
O ritmo é, marcadamente, lento, uma
vez que retrata uma realidade penosa
para o sujeito poético, que se sente
abatido perante as “crueldades” da vida.
ReflexãoO poema Consolo na Praia de Carlos Drummond de
Andrade é como uma “travessia” em que estão
patentes ilusões como a infância, o amor, a vida, o
coração, o humor, que retornam, ainda que
substancialmente alteradas, ao seu ponto de
partida: “não chores...”. Este não-choro, porém,
amplia-se: mais do que uma solução conformista
(conforme o traçado do poema quase até o seu
final), é uma forma de impotência perante a
esmagadora força do nada. Tudo se corrói. Tudo se
modifica. Portanto, não há saídas para o ser
humano.
Para nós, foi muito agradável termos trabalhado a
poesia de Drummond de Andrade, e em particular
este poema que, de forma suave, nos fez reflectir
sobre a condição humana.
Questionário
Completa as frases efectuando ligações…
“Há vários motivos para não amar uma pessoa…
“Perder tempo a aprender coisas que não interessam,…
“O cofre do banco contém apenas dinheiro.
“A educação para o sofrimento evitaria senti-lo…
…em relação a casos que não o merecem.”
…Frustrar-se-á quem pensar que nele encontrará riqueza.”
…priva-nos de descobrir coisas interessantes.”
…e um só para amá-la; este prevalece.”
… de forma tão forte.”
Completa as frases efectuando ligações…
“A infância está perdida.”
“O primeiro amor passou.”
“Mas o coração continua.”
“Mas tens um cão.”
“Nunca, nunca cicatrizaram.”
“Precipitar-te de vez nas águas”
Falta de solução do “eu”.
Brevidade dolorosa do amor.
Realça a dor contínua.
Representa o amor incondicional
O amor persiste.
Momento importante que se perdeu.
Desejo de evasão