Literatura de Cordel
ConsultorasPatrícia Corsino e Hélen A. Queiroz
Episódio 2:A Peleja do Século
Episódio:A Peleja do Século
SINOPSE geral da série
Na segunda temporada de Chico na Ilha dos Jurubebas, nosso herói está com 8 anos e já sabe ler e escrever. Ele tem um novo amigo na escola, Reco, um game maníaco recém-chegado de Recife e que agora também passa as tardes com Chico e Ocride na estamparia do Vô Manu.
Já o velho marinheiro Manu tem novidades. Além de ampliar seus negócios, está se esforçando para perder alguns quilos e se livrar da compulsão por pão com linguiça... apesar das inevitáveis recaídas.
Na Ilha dos Jurubebas, para a infelicidade e o desespero de todos, Ozo se autoproclamou “Chefe Mala III”. Chico, Ocride e Anabela contarão com Reco para lutar contra as ordens e as leis malucas que o tirano Ozo impõe aos Jurubebas.
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Nossa proposta é ampliar o universo cultural das crianças com
práticas lúdicas de leitura e escrita em gêneros discursivos variados. As
aventuras de Chico são compostas por episódios para televisão, página na
internet, jogos de computador e dicas pedagógicas que trazem gêneros
contextualizados em diversas situações. A série se propõe a ser um
recurso a mais para ampliar e/ou desencadear situações de ensino e de
aprendizagem relacionadas ao processo de alfabetização/letramento.
Apresentação
Agora, cabe a você, professor(a), alterar e adaptar nossas dicas a sua
realidade. Crie a partir delas situações para as crianças pensarem a língua
escrita tanto no mundo real quanto no mundo imaginado.
Boa aula! ☺
Palavras-Chave
Literatura de Cordel – Repente - Cultura Nordestina - Rimas – Versos e Estrofes - Xilogravuras
Vô Manu está arrumando uma coleção de cordéis. Reco explica que são cordéis do nordeste brasileiro, região onde ele nasceu. Na ilha, Ozo, que tem fetiche por pés, confiscou as meias com dedinhos coloridos de Anabela. Para recuperá-las, Chico precisa se arriscar e distrair o monstro, mas os amigos têm de voltar à estamparia, para ajudar Vô Manu a sair de mais uma enrascada. De volta à ilha, Chico tem a ideia de desafiar o monstro para um “Duelo de Repentes Bem Pensados”. Neste episódio, as crianças entram em contato com um gênero discursivo que remete à cultura nordestina, tendo como referência o universo da literatura de cordel e dos repentistas. Farão, então, uma imersão nos textos cantados que trazem histórias divertidas e fantásticas a partir de uma estrutura narrativa em rimas. O que, além de ampliar o repertório linguístico, possibilitará uma valorização da cultura escrita, já que as crianças irão produzir um cordel com a história vivida por eles na Ilha dos Jurubebas.
Sinopse do episódio3
PrincipaisConceitos a serem trabalhados No trabalho pedagógico com o cordel é aconselhável iniciar uma abordagem sobre sua origem, enfocando esse gênero discursivo como um gênero marcante da cultura nordestina em que é predominante a narrativa em versos. A tradição desse tipo de publicação vem da Europa do século XVI, no Renascimento, quando se passou a popularizar, de forma impressa, os relatos feitos oralmente pelos trovadores. O nome cordel tem origem na forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para venda, pendurados em cordas, cordéis ou barbantes em Portugal. No Nordeste do Brasil o nome foi herdado, mas a tradição do barbante não se perpetuou: o folheto brasileiro pode ou não estar exposto em barbantes.
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Folhetos pendurados em cordas, cordéis e barbantes
A estrutura métrica e rimada da literatura de cordel é muito influenciada pela cantoria de viola nordestina dos repentistas. Seus motes (verso ou conjunto de versos cujo sentido serve de tema ao poema, que muitas vezes se repetem) também se assemelham. É só observar a forma espirituosa e satírica pela qual se referem, principalmente, aos fatos do
cotidiano. É importante, porém, conhecer a diferença entre os poetas populares nordestinos que se dedicam à cantoria- cantadores, violeiros, repentistas- e os que escrevem histórias em forma de verso nos livretos de cordel. Os cantadores são poetas populares que se apresentam em duplas, criando versos de improviso sobre temas propostos pela plateia, e se entregam ao “desafio” - uma peleja intelectual onde são postos à prova sua capacidade de improvisação e seus conhecimentos. Já os poetas que escrevem histórias em verso são conhecidos como poetas de bancada ou cordelista e só poucos são repentistas.
Cantadores são poetas que criam versos de
improviso sobre variados temas
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Explorar as semelhanças e as diferenças entre o repente e a lite-ratura de cordel é uma forma de ampliar o repertório das crianças em relação à cultura popular bra-sileira. Para isso, é importante que você, professor(a), procure trazer para a sala de aula filmes com os cantadores de viola fazendo os de-safios ou pelejas (há vários dispo-níveis na internet) e alguns folhetos de cordel com temas variados. Al-
gumas pelejas foram imortalizadas em forma de cordel e esta é também uma aproximação entre as duas manifestações da cultura nordestina. Um exemplo disso é a peleja de Manoel Riachão com o diabo escrita no final do Sec. XIX por um dos primeiros cordelistas brasileiros que se tem notícia: Leandro Gomes de Barros.
Os folhetos são compostos de textos que agradam tanto pela sonoridade dos versos e das rimas, quanto pela forma bem-humorada de abordar os mais diversos temas, que vão desde fatos do cotidiano até episódios históricos, lendas, temas religiosos, entre outros. As façanhas do cangaceiro Lampião (Virgulino Ferreira da Silva, 1900-1938) e o suicídio do presidente Getúlio Vargas (1883-1954) são alguns dos assuntos de cordéis que tiveram maior tiragem no passado. Todo e qualquer assunto pode virar cordel nas mãos de um cordelista. O material que você conseguir para levar para a turma vai mostrar esta variedade.
As histórias de cordel, em geral, são vividas por personagens marcantes que se envolvem em aventuras, em façanhas ou situações fantásticas e têm como ponto central uma problemática que deve
ser resolvida com a inteligência e astúcia de um personagem principal considerado o “herói”. O poeta se vale do exagero, do fantástico e quando faz uma crítica social e política usa a ironia para explicitar seu ponto de vista. Explorar as características desses personagens e a construção do enredo são fundamentais no desenvolvimento do trabalho pedagógico com esse gênero discursivo.
Também cabe a exploração da estrutura da literatura de cordel organizada em versos e estrofes rimados. Você, professor(a), precisa saber que a estrutura poética do cordel mais comum consiste em versos de sete sílabas poéticas (setessilábicos), estrofes de seis versos (sextilha) e rimas ABCBDB. Mas as crianças, pela observação é que vão perceber tudo isso. Cabe a você fazer perguntas para que elas observem e descubram, lendo literatura de cordel, o número de versos de cada estrofe e como as rimas se organizam nos versos e estrofes.
É importante você também valorizar a forma como o cordel é apresentado: pequeno folheto ilustrado com xilogravuras.
Como vimos, o gênero permite um amplo trabalho com diferentes expressões artísticas: a literatura, a música dos repentes e as artes visuais – pela xilogravura.
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Processo de impressão de xilogravura
Processo de Xilografia: esculpindo
a matriz na madeira
Xilogravura sendo impressa
Sugestão deAtividades
Ao apresentar esse gê-nero discursivo às crianças, você precisa selecionar algumas histó-rias de cordel com temas e enredos diversificados e ilustrações expres-sivas. Feita a seleção das histórias, o passo seguinte, tão importante quanto a seleção, é preparar a leitu-ra das histórias, explorando a prin-cipal característica do cordel: a nar-rativa em versos rimados. Quando bem ritmados pelo leitor-guia (no caso, você, professor(a), os versos de uma história de cordel envol-vem o grupo ouvinte, levando-o ao envolvimento com os aconteci-mentos da narrativa. Dar ênfase na leitura à fala dos personagens e às surpresas do texto pode ajudar as crianças na compreensão do enre-do e, consequentemente, da estru-tura do texto quando este for apre-
sentado a elas em material impresso, ou seja, o folheto.
Explorar o folheto e suas espe-cificidades como tamanho, capa e ilustração é um bom começo para o primeiro contato com o texto impres-so. Em seguida, sugerimos que você leve as crianças a observarem a divi-são de versos e estrofes, orientando as nas leituras. As crianças podem ser dividas em grupos e cada grupo pode ficar responsável pela apresentação de uma história, sempre as lembran-do de que a entonação da leitura é o que dará vida aos personagens.
Num terceiro momento, as per-sonagens podem ser exploradas em suas características físicas e de perso-nalidade, sendo cada grupo respon-sável por fazer um desenho com uma legenda apresentando o persona-gem principal do cordel (o herói), ou até mesmo mais de um personagem, para montarem juntos uma galeria de personagens de histórias de cordel na
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sala de aula. Ainda explorando uma característica dos cordéis, a galeria dos personagens pode ser exposta em um cordão, assim como eram originalmente expostos.
A partir dessa galeria de per-sonagens selecionadas nas histórias lidas pela turma, as crianças podem ser estimuladas a criarem suas pró-prias personagens, inspiradas nas características marcantes dos he-róis do cordel nordestino. Feito isso, a etapa seguinte pode ser criar, em grupo, uma história narrada em ver-sos, explorando a estrutura dos tex-tos em estrofes rimadas.
Nesse processo, a leitura e a escrita serão atividades feitas em parceria, entre os pares, com orien-tação e supervisão do(a) professor(a), onde os aspectos formais da língua
deverão ser observados, discutidos e revisados.
A ilustração de um cordel é também parte integrante da história, pois dialoga com os acontecimen-tos, evidenciando expressões fortes e cenas intensas vivenciadas pelos personagens. As crianças devem ser estimuladas a criarem as ilustrações, tendo a xilogravura como referência, ou seja, fundo branco com traços em preto.
Cabe ressaltar que a xilogravu-ra é uma técnica de impressão que consiste em imprimir no papel a par-tir de uma cena entalhada em um pedaço de madeira. Como talhar a madeira exige o uso de instrumentos cortantes, de difícil manuseio e até mesmo perigosos para as crianças dos anos iniciais, sugerimos fazer uso da técnica de impressão no isopor que segue a seguinte sequência:
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2Passar a tinta guache
preta sobre a bandeja
esculpida – pode usar um
pequeno rolo;
1Entalhar uma cena com
palito de churrasco em
bandejinhas de isopor
(destas usadas em su-
permercado para colo-
car frios, legumes, etc.);
3 Colocar papel branco sobre a bandeja pintada e retirar rapidamente.
As atividades propostas a partir da literatura de cordel poderão ser desenvolvidas ao longo de 2 ou 3 semanas, considerando todo o processo, desde a introdução ao gênero, passando pela leitura de várias histórias, montagem da galeria de personagens, criação das personagens, criação de novas histórias, ilustração e preparação dos livretos para uma mostra literária/cultural. O planejamento das aulas deverá contemplar o passo a passo, levando em consideração o ritmo de produção da turma e o envolvimento das crianças no projeto literário. Portanto, o tempo estimado entre 2/3 semanas poderá ser dilatado ou diminuído.
Duração das atividadesSugeridas
A montagem dos livretos vai também exigir das crianças várias habilidades: da escrita, no espaço da folha de papel do tamanho do livreto- que pode ser a mão ou digitada- à organização da capa e montagem do livreto. Tudo isso, estas crianças podem fazer em duplas ou em pequenos grupos, com a sua supervisão, mas com autonomia.
Já que os folhetos ainda são vendidos em lonas ou malas estendidas nas feiras populares e podem até mesmo ser encontrados pendurados em cordões, a turma pode organizar uma grande feira de cordéis para um evento literário da escola.
Cordéis pendurados na sala de aula
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Avaliação A partir da produção textual das crianças pode-se avaliar a apropriação do texto escrito em versos, assim como a organização de ideias dentro de um enredo, a coerência e coesão textual da narrativa e alguns dos aspectos formais da língua, como ortografia e pontuação. A desenvoltura das crianças na leitura também pode ser avaliada, já que farão a leitura das histórias em grupo e individualmente.
Reco e Chico escrevem um cordel
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Sugestão de Ampliações
Sugerimos que a técnica da xilogravura, uma expressão artística peculiar aos folhetos de cordel, seja explorada com a turma, assim como os principais ilustradores de cordel do Brasil que ganharam dimensão internacional.
Os principais grupos de gravura popular estão em Juazeiro, no Ceará e levam os nomes de: Walderedo Gonçalves, Abrão Batista, Mestre Noza e Stélio Diniz. O grupo de Caruaru, em Pernambuco, reúne Dila, José Costa Leite, J. Borges e Francisco Amaro.
Além da história da xilogra-vura, técnica usada desde a anti-guidade na China e Egito, é pos-sível propor atividades com as crianças usando isopor, palitos e tinta preta, como já sugerido, ou se inspirando no efeito estético da xilogravura.
Sugere-se explorar também os grandes autores brasileiros influenciados pela literatura de cordel como: João Cabral de Melo, Ariano Suassuna, José Lins do Rego e Guimarães Rosa.
Folhetos de cordel com as ilustrações de xilogravura pendurados
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Xilogravura
Sugestões de Leitura
VILELA, Fernando. Lampião e Lancelote. Cosac Naify, 2006.
SOMBRA, Fábio. A lenda do violeiro invejoso. Rocco.
SOMBRA, Fábio. No reino do vai não vai: uma viagem pelo mundo do
cordel. Editora Scipione.
Para ler e conhecer mais sobre literatura de cordel, visite o site da Aca-
demia Brasileira de Literatura de Cordel: www.ablc.com.br
Assista também a série “Poetas do Repente” disponível no site
tvescola. mec.gov.br
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1313Ficha técnicaDireção Geral
Bebeto AbrantesProdução ExecutivaJussara Precioso
RoteirosPedro Salomão
Juliana MilheiroConteúdo de Língua Portuguesa –
ConsultorasPatrícia CorsinoHélen Queiroz
Direção de AnimaçãoDiogo Viegas
Produção de AnimaçãoRamon Vasconcellos
Desenho Sonoro & MúsicasPedro Cintra
EdiçãoWellington AnjosDireção Estúdio
Gabriel EdelDireção Documentais
Tatiana OstrowerDireção de Fotografia & Câmera
Marcelo PaternosterDireção de Produção
Cris Amorim
ElencoVÔ MANU
Ademir de SouzaCHICO
Gabriel LimaRECO
Nathan Alves RossetoANABELA
Érica Pires
FinalizaçãoCoordenação e Produção de
FinalizaçãoJussara Precioso
Assistência de EdiçãoNatália Santana
Edição de SomWellington Anjos
VideografismoInova FilmesFábio Araújo
MixagemRodrigo de Castro Lopes
Correção de CorWellington Anjos
Intérprete de LIBRASIsaac Gomes
Design GráficoMariana Vieira
DubladoresAnabela
Maíra GóesLucrão
Ricardo SchnetzerMonstro Ozo
Luiz Carlos PersyOcride
Marcelo GarciaDireção de Dublagens
Paulo VignoloTécnico de Gravação Dublagens
Allan ArnoldEstúdio DublagensEstúdio Gigavoxx
AnimaçãoSupervisão de Storyboard
Diogo ViegasStoryboards
Alessandro MonneratDiogo Viegas
Márcio de CastroRafael SchmidtRaphael Jesus
Direção de Arte e Design de PersonagensDiogo Viegas
LayoutMário ProençaRafael Schmidt
Cenários e Supervisão de CorMário Proença
Assistência de ColorizaçãoDiego Luis
Elementos de CenaJ. Luiz Bellas Jr.
Composição Setup 2D e ediçãoRamon Vasconcellos
RiggingAlessandro Monnerat
AnimadoresFelippe Steffens
Leonardo BentolilaJoão RicardoMaria Amélia
Sussumu TogoApoio Estúdio de Animação
2DLAB
Site & JogosGame Design & Arte
Rodrigo MottaWebdesign
Rodrigo Motta Dayvid MendesAnimação & Arte
José Trigueiro JuniorProgramaçãoAleff GhimelDiego GalizaSound DesignAndré Tolsen
Desenvolvimento Games & SiteKaipora Digital
TV ESCOLA Coordenação de EducaçãoVera Franco de Carvalho
Acompanhamento PedagógicoHenrique Polidoro
Coordenação de ProduçãoDaniela Pontes
Coordenação de MultimídiaRafael Mesquita
Produção Executiva do ProjetoDaniela PontesRafaela Camelo
Supervisão Multimídia do ProjetoDaniela PontesRafaela CameloRafael Mesquita
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PRODUÇÃO REALIZAÇÃO