1
“Coração artificial” –
A produção de corações não humanos e seus pressupostos1 2
Marisol Marini3
USP - SP
Abstract
Importante órgão do corpo humano, “máquina” fundamental para o funcionamento do
corpo, sede da alma e dos sentimentos em determinadas elaborações culturais, o coração
é o objeto dessa pesquisa, sobretudo o desenvolvimento tecnológico e científico de
máquinas denominadas “corações artificiais”.
O intuito da pesquisa é reconstituir o desenvolvimento de um artefato denominado
"dispositivo de assistência circulatória uni ou biventricular", desenvolvido por
engenheiros brasileiros, mergulhando nas controvérsias presentes ao longo do processo.
Usualmente chamado de "coração artificial", principalmente pelos médicos e pela
imprensa em geral, o mecanismo é baseado no "modelo natural" e no funcionamento do
órgão em condições normais, constituindo-se de uma bomba produzida a partir de
materiais compatíveis (biocompatibilidade) com o corpo humano.
Órgão “nativo” e máquina elaborada em laboratório são ambos complexos; as partes do
corpo, assim como as máquinas construídas possuem agenciamentos nas relações; o
sangue é visto como uma substância complexa, formada por partes líquidas e sólidas, o
que torna sua circulação e bombeamento uma tarefa problemática; a incompatibilidade
de materiais e a relação entre humanos e objetos está posta nesse campo. Trata-se,
portanto, de investigar se essas elaborações e tecnologias modificam as concepções sobre
o corpo e se produzem formas híbridas capazes de superar as oposições entre natural e
tecnológico, problematizando as fronteiras e a divisão a priori entre natural/ social,
humano/ não humano e ciência/ sociedade.
Palavras-chave: Corpo. Natureza e Cultura. Tecnociência.
1 Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN. 2 Agradeço à Fapesp pelo apoio fundamental à pesquisa. 3 Doutoranda em Antropologia Social na Universidade de São Paulo. Orientada pela Profa. Dra. Heloísa Buarque de Almeida e coorientada pelo Prof. Dr. Stelio Marras.
2
Meu coração Bate sem saber
Que meu peito é uma porta Que ninguém vai atender
(Arnaldo Antunes / Ortinho)
Introdução
O “coração artificial auxiliar” e/ou “dispositivo de assistência circulatória uni e
biventricular” é o objeto/sujeito da presente pesquisa, bem como os pressupostos e
concepções biomédicas presentes em seu desenvolvimento. Trata-se de uma tecnologia
produzida para ser utilizada em humanos, destinada a ser aplicada em indivíduos que
apresentam cardiopatias graves e precisam substituir o órgão “nativo”. O “coração
artificial” é uma bomba e seu projeto foi pensado e desenvolvido para auxiliar o coração
“nativo” nos casos em que há falhas no seu funcionamento.4 Seu principal propósito,
portanto, é proporcionar sobrevida aos pacientes que aguardam na fila de espera por um
coração saudável e compatível que possa ser transplantado.
O artefato foi desenvolvido na divisão de bioengenharia da Fundação Adib Jatene,
localizada no Instituto Dante Pazzanese, em parceria com outras instituições, como parte
de um projeto temático da FAPESP que envolve pesquisadores de áreas diversas, e entre
eles alunos de pós-graduação.
Apesar de ter sido inspirado em modelos já existentes,5 o “coração artificial”
brasileiro traz especificidades e foi apresentado em tom de inovação e avanço em termos
4 São diversas as patologias que atingem o coração a ponto de demandar sua substituição. De maneira geral todas elas tornam-se uma insuficiência cardíaca, que caracteriza-se como o comprometimento da capacidade do coração de suprir as necessidades do organismo. A dificuldade de bombear quantidades adequadas de sangue para o corpo são consequências de alterações no músculo cardíaco e podem ser de tipo concêntrica ou excêntrica. Elas podem se caracterizar como uma miocardiopatia, na qual o músculo do coração está comprometido, ocorrendo a deterioração da função do miocárdio, provocando arritmia. Há diversas condições enquadradas no que se chama de miocardiopatia. As cardiopatias também podem ser caracterizadas como uma decorrência ou evolução de doença isquêmica, valvar, congênita, entre outras. 5 O “coração artificial” foi inspirado em diversos modelos, de diferentes empresas, mas principalmente no modelo Abiocor, desenvolvido pela empresa americana Abiomed, com o qual ele se parece sobretudo em termos estéticos. O modelo da Abiomed já era um produto aprovado e comercializado quando o coração artificial brasileiro foi aprovado para avaliação em humanos. Conhecido como o primeiro coração artificial do mundo, o Abiocor substitui totalmente o coração “nativo” e funciona a partir de um motor interno, movido por um sistema pneumático, capaz de produzir fluxo sanguíneo aos pulmões e todo o corpo, “simulando” o batimento cardíaco, de acordo com a própria descrição da empresa (http://www.abiomed.com/products/heart-replacement/). A especificidade da tecnologia brasileira é a implantação direta no coração “nativo”, que continua conduzindo o ritmo cardíaco, além dos diferentes mecanismos. Em termos de mecanismo o modelo brasileiro é bastante similar ao Novacor N100PC LVAS, da Baxter, que surgiu no mesmo contexto da tecnologia brasileira, no Baylor College of Medicine, no qual o bioengenheiro Aron José Pazin de Andrade fez seu estágio de doutorado. Ambas são tecnologias eletromecânicas, que geram um fluxo pulsátil. Elas se assemelham também ao modelo Heartmate XVE, da
3
de produção nacional de “tecnologia de ponta”. Além da redução de custos, uma vez que
a perspectiva é que o modelo nacional custe entre US$ 30 mil e US$ 60 mil, enquanto os
modelos americanos chegam a custar R$ 500 mil, o modelo brasileiro é o primeiro a
conjugar certas características, agregadas a partir de diversas tecnologias, como o fato de
ser uma bomba eletromecânica, pulsátil, implantada no próprio órgão, sendo acoplado ao
coração. 6 Os desenvolvedores do projeto defendem que por não substituir o coração
natural, a vantagem dessa tecnologia é que a cirurgia de implantação é mais simples,
rápida e menos invasiva. Além disso, os riscos e falhas inerentes ao funcionamento do
dispositivo são menores, pois o ritmo cardíaco continua a ser dado pelo coração “natural”,
que é apenas auxiliado pelo “artificial”, ou seja, em caso de falha do dispositivo o coração
“natural” ainda está presente. Os argumentos dizem respeito a uma maior facilidade,
diante de uma intervenção menor, que parece alterar menos a “natureza” do corpo
biológico e sua fisiologia.
“Coração artificial” desenvolvido na Fundação Adib Jatene utilizado em testes.
O “coração artificial” desenvolvido no Brasil está em fase de teste, onde a
tecnologia foi aprovada pela Anvisa, mas ainda não está sendo utilizada em humanos.7
Entretanto, pesquisas desenvolvidas em todo o mundo com dispositivos de assistência
circulatória diversos, chamados ou não de “corações artificiais”, apontam para diferentes
usos possíveis. Essas tecnologias podem ser programadas para serem usadas continua ou
empresa Thoratec, que apesar de aprovada pelo FDA e antes comercializado, atualmente não consta mais como um produto disponível no site da instituição. É possível que ele tenha sido tirado de linha. Ambas não possuíam patente no Brasil, o que possibilitou desenvolver o “coração artificial”. 6 Informações extraídas de matéria publicada pela revista Fapesp, uma das instituições que financiou o projeto (acessado em 18/03/2014: http://revistapesquisa.fapesp.br/2011/07/12/cora%C3%A7%C3%A3o-auxiliar/) 7 Atualmente o projeto aguarda aprovação de alterações referentes aos nomes dos pesquisadores responsáveis pelo projeto para que passar pela fase de avaliação em seres humanos, buscando pacientes que se enquadrem num perfil adequado para receber a tecnologia em caráter experimental.
4
provisoriamente. Uma das aplicações é utilizá-los como pontes para transplantes, ou seja,
recuperação de pacientes que não possuem condições para receber um novo coração
humano saudável. Nesse caso, pacientes que aguardam na fila de espera por um órgão
podem receber um coração artificial temporariamente, até que consigam um coração
humano e tenham condições de recebê-lo. Essa técnica diminuiria a mortalidade na fila
de espera por transplante de órgãos. Porém, há pesquisadores que defendem a utilização
continuada desses dispositivos, substituindo, de fato, o coração humano. São tecnologias
diferentes, destinadas a propósitos e aplicações distintas. As diferenças dizem respeito
sobretudo à duração da utilização: temporária ou permanente. Além disso, as diferenças
se caracterizam também pela total substituição ou apenas auxiliar o coração “nativo”.
O dispositivo brasileiro tratado aqui foi pensado para ser empregado em
implantações temporárias, junto ao órgão nativo. Entre as expectativas de alguns
membros da equipe de pesquisadores, entretanto, está a possibilidade de que o dispositivo
auxilie o coração “nativo” a ponto de devolver seu funcionamento normal, prescindindo
do aparelho e mesmo de transplantes cardíacos.8 Sua originalidade parece estar mais
relacionada à possibilidade de desenvolvimento local de uma tecnologia, caracterizada
por um processo de bricolagem.
Breve histórico das instituições
A fundação Adib Jatene, onde o projeto está sendo desenvolvido, foi criada em
19849 e desde então tem desenvolvido tecnologia e produtos que são vendidos para
manter a própria instituição e novas pesquisas, que também contam com outros
financiamentos. Alguns dos produtos comercializados e produzidos ao longo de sua
existência são: máquina de circulação extracorpórea, oxigenadores de sangue artificial,
8 Ao defender as vantagens de não se retirar o coração “nativo”, o seguinte relato foi dado à revista Galileu: “Existe ainda uma quarta vantagem, mesmo que seja, segundo alguns médicos, pouco provável. Por estar no corpo do paciente sem ser exigido e mantendo sua frequência por meio do dispositivo artificial, cogita-se que o órgão natural possa ser recuperado depois de um bom tempo de uso. “É mais uma pretensão que possibilidade”, diz Luis Carlos Bodanese, chefe de cardiologia do Hospital São Lucas PUC-RS. “ Em tese, o artificial pode diminuir a deterioração e até regredir os danos do original, mas é difícil que restaure a ponto de funcionar normalmente outra vez”.” (http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,ERT307120-17773,00.html, acessado em maio de 2014). 9 Apesar de ter sido oficialmente criada em 1984, a história da instituição é contada desde a chegada do cirurgião Adib Jatene ao Dante Pazzanese, em 1959, quando este ainda era chamado de Instituto de Cardiologia do Estado (informação extraída do site da fundação Adib Jatene: http://www.fajbio.com.br/historia.aspx, acessado em abril de 2014).
5
desfibriladores, instrumentais cirúrgicos para procedimentos de circulação extracorpórea,
marca-passos internos e externos e válvulas cardíacas implantáveis.
Em sua trajetória, com a transformação e surgimento de componentes descartáveis
e inovações para a produção de máquinas e materiais, houve uma reformulação
tecnológica desses equipamentos, que demandam, para além do conhecimento da
engenharia, um entendimento anatômico, fisiológico e biomédico sobre o corpo e seu
funcionamento, o que deu origem a um programa interdisciplinar e um intercâmbio de
conhecimento entre as áreas biomédica, a bioengenharia, a física e etc, representados
sobretudo pelo Programa de Pós-graduação em Medicina/Tecnologia e Intervenção em
Cardiologia do Dante Pazzanese e da Universidade de São Paulo (USP).
A interdisciplinaridade é entendida como fundamental para o desenvolvimento
dessas tecnologias, porque para criar uma bomba centrífuga capaz de impedir a formação
de microbolhas prejudiciais para o paciente, por exemplo, não bastaria ser capaz de
desenvolver um equipamento formulado a partir do conhecimento da engenharia, mas
seria necessário compreender o comportamento do fluxo do líquido (no caso o sangue,
considerado muito complexo) visando eliminar pontos de estagnação, o que envolve
conhecimentos da física e da anatomia humana.
Adib Jatene10, médico que esteve envolvido desde a primeira iniciativa de
desenvolvimento de um “coração artificial”, na década de 1960, revelou que naquele
momento foi necessário abandonar o projeto, pois ainda não havia condições técnicas
apropriadas e nem a disponibilidade de materiais biocompatíveis necessários para seu
desenvolvimento no Brasil. 11 Ele considera que foi necessário o estabelecimento de uma
divisão de bioengenharia desenvolvida para que o projeto pudesse ser realizado. Embora
tenha ocorrido uma subdivisão em áreas e a criação de uma fundação particular, há um
interesse de que as áreas médicas e bioengenharia trabalhem conjuntamente na produção
de tais técnicas e tecnologias para seu maior sucesso.
10 Adib Domingos Jatene é médico, professor universitário, inventor e cientista. Conhecido e respeitado internacionalmente por suas inovações no meio médico, como a cirurgia do coração que leva seu nome, utilizada para tratamento da transposição das grandes artérias em recém-nascidos. Desenvolveu o primeiro coração-pulmão artificial do Hospital das Clínicas. Além de sua contribuição na área médica, Jatene foi secretário estadual de Saúde no governo Paulo Maluf e duas vezes ministro da Saúde, durante o Governo Collor e no governo de Fernando Henrique Cardoso, no qual instituiu a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira), que deveria ser um recurso destinado à saúde. 11 Informações obtidas no II Simpósio sobre Dispositivos de Assistência Circulatória Uni e Biventricular ou Coração Artificial, no Instituto Dante Pazzanese, em 26 de Outubro de 2012.
6
O Instituto Dante Pazzanese destaca-se no desenvolvimento de cirurgias e
transplantes cardíacos, a fundação Adib Jatene destaca-se na produção de equipamentos
e instrumentais necessários para a prática de intervenções cardíaca e, ao lado de outras
instituições, como a USP, desenvolvem o “coração artificial”, representante do avanço
tecnológico e da capacidade brasileira de produção de “tecnologia de ponta”.
Diante desse quadro, interessa-me investigar se e como essas elaborações e
técnicas aplicadas ao corpo modificam as concepções sobre ele e se, de certa forma, essas
tecnologias produzem formas híbridas capazes de superar as oposições e fronteiras entre
natural e tecnológico, natureza e cultura, humano e não-humano. Trata-se, portanto, de
problematizar as concepções de humano presentes nesse contexto.
Pressupostos dos projetos (os meus e os deles)
Com intuito de mapear as controvérsias e reconstituir o desenvolvimento do
“coração artificial”, a perspectiva do ator-rede e os chamados Estudos Sociais da Ciência
e da Tecnologia servirão de grande inspiração. Busca-se, portanto, descrever a rede
sociotécnica dos actantes (LATOUR, 2006) envolvidos na produção desse dispositivo,
bem como as concepções postas em jogo relativas ao humano e ao corpo.
Ainda que a tecnologia seja um tópico clássico nos estudos antropológicos12, na
modernidade o tema ganhou novos contornos e significados, tornando-se, ao lado da
ciência (as quais não se pode distinguir ou diferenciar)13, uma das principais instituições
da contemporaneidade, justificando-se, assim, como importante objeto-sujeito de
pesquisa.
12 Tecnologia é um tema clássico na antropologia desde sua fundação, como demonstra Kuper (1978) ao elencar os principais títulos que compunham o programa de estudos para obtenção de diploma em Antropologia da Universidade de Oxford, em 1906. O programa de estudos distinguia a antropologia cultural da antropologia física, composta por arqueologia, tecnologia, etnologia e sociologia. 13 Em The Social Construction of Technological Systems (1993) os autores problematizam a noção de tecnologia, demonstrando ser este um termo escorregadio. Por isso, ao invés do esforço de distinguir ciência e tecnologia ou qualquer outra atividade, consideram preferível trabalhar a partir de um conjunto de casos empíricos e colocar os termos em contexto. Pinch e Bijker (1993) argumentam que tanto ciência quanto tecnologia são social e culturalmente construídas e que os limites entre elas é uma questão de negociação, não representando, portanto, uma distinção fundamental. Thomas Hughes (1993) considera que os rótulos de ciência e tecnologia são imprecisos, pois há cientistas que desenvolvem tecnologia, assim como engenheiros que fazem pesquisa, recolocando as distinções, que apesar de não serem eliminadas são problematizadas. Para Michel Callon (1993) definir quem é cientista e quem é engenheiro (ou tecnólogo) é uma questão negociada de acordo com as circunstâncias. Além disso, considera que não se deve classificar os elementos em um sistema quando esses elementos estão permanentemente interagindo, sendo associados e testados pelos atores, que são todas aquelas entidades heterogêneas que constituem uma rede.
7
Para além da abordagem construtivista da tecnociência, especialmente aquela
focada no ambiente social e na maneira como este molda as características técnicas do
artefato – dando ênfase ao social, recusando um determinismo tecnológico14 – trata-se de
olhar para esses artefatos, concepções e processos como objetos/sujeitos que ameaçam as
divisões ocidentais entre humanos e não-humanos.
Antes mesmo da formulação cartesiana que reduziu o corpo às propriedades
mecânicas e geométricas, seu funcionamento já era objeto da anatomia desenvolvida por
Vesalius (1543), considerado o pai da anatomia moderna. Vesalius introduziu uma
imagem autonomizada do corpo, e também representou como autônomas as partes
resultantes de sua desmontagem dissecatória. A partir da dissecação anatômica,
procedimento que enfatiza o caráter fragmentário da constituição corporal, Vesalius
constituiu uma imagem maquínica do corpo. A máquina anatômica de Vesalius representa
a imagem do corpo separado da alma e objeto da razão humana.
A noção dualista de corpo e pessoa comumente atribuída a Descartes é tributária
de concepções desenvolvidas por Vesalius. A concepção cartesiana de pessoa abstrai a
existência do eu de seu corpo, expresso no cogito elaborado por Descartes: “penso, logo
existo”.15 Nesse sentido, a existência do eu torna-se independente do corpo e está
circunscrita à coisa pensante. Desde então, em termos gerais, a representação do humano
na cultura ocidental moderna é marcada pelo dualismo entre corpo e mente.
Entretanto, para alguns autores contemporâneos, normalmente tidos como pós-
estruturais ou pós-sociais, há outros dualismos amplamente reproduzidos na
modernidade: natureza e cultura, natural e artificial, humano e não-humano, organismo e
máquina, primitivo e civilizado, público e privado. Donna Haraway (2000), no entanto,
considera que os diversos dualismos modernos estão sendo todos “canibalizados” ou
“tecnodigeridos” (nos termos de Zoe Sofia Sofoulis, segundo Haraway). Bruno Latour
(1994), além de apontar para um dualismo fundante na sociedade ocidental, procura
desnaturalizar a grande dicotomia criada pelo pensamento moderno entre natureza e
14 Recusar um determinismo técnico, no qual os humanos são meros intermediários, não implica adotar um determinismo social, no qual os objetos são apenas intermediários. Busca-se aqui analisar de que maneira intermediários tornam-se mediadores, buscando dar conta do entrelaçamento entre humanos e não-humanos, considerando intermediários e mediadores duas diferentes formas de existência tomadas por humanos e não-humanos. (Prigogine & Stengers, 1984; Latour, 1012). 15 Embora haja na literatura autores que atribuem a Descartes a fundação de um dualismo entre corpo e mente (Ingold, 2008; Le Breton, 2011), outros criticam essa apropriação por considerar que trata-se de uma incompreensão. Se por um lado ele pode não ter sido o primeiro, por outro a ideia de “Penso, logo existo” pode ser traduzida como “penso existindo”, o que transformaria as concepções e atribuições feitas à Descartes (ver Harrison, 2009).
8
cultura, apresentando a noção de “híbridos”, que estariam localizados no império do meio
– que são as redes ou tramas de enunciados – uma vez que sua proposta é reatar a
segmentação, e não produzir novas dicotomias.
Nesse sentido, nos perguntamos: estaria ocorrendo uma ruptura fundamental em
relação aos paradigmas da modernidade? Estaríamos, de fato, superando a dualidade
moderna de corpo e mente? Teríamos, por acaso, em algum momento vivenciado tal
dualismo? Estaríamos vivenciando um rompimento com os dualismos modernos ou o
estabelecimento de novos dualismos? Essas são justamente as questões que mobilizam a
pesquisa aqui apresentada.
O “coração artificial” parece nos colocar diante de uma permuta ontológica entre
coisas e pessoas, não como polos purificados, categorias estabilizadas, ou entidades
prontas, mas como agentes mediadores, nos quais a causalidade está distribuída e o que
se passa é uma ativação mútua de interesse entre humanos e não humanos (Latour, 1994;
Stengers, 2002).
Atualmente parece predominar a concepção de coração como bomba muscular na
biomedicina, passível de ser retirada, substituída, reconstruída e remodelada. A despeito
dessas concepções, no entanto, sobrevive no senso comum uma concepção do coração
como sede da alma16, procurando resistir à centralidade do cérebro atualmente e aos
desenvolvimentos da neurociência. Segundo Rogério Azize:
O cérebro é um órgão fundamental na representação de pessoa que atravessa a cultura ocidental moderna. Ele possui uma posição hierarquicamente superior a outros órgãos do corpo humano, e, de certa forma, ao corpo ele mesmo. Além disso, a noção de mente aparece, em um certo conjunto de representações, como um epifenômeno do cérebro, uma consequência da atividade neuronal. Uma ideia bastante divulgada hoje é a de que cada indivíduo se confundiria com o seu cérebro. Aquilo que somos e sentimos seria um produto direto dessa complexa rede de aproximadamente 100 bilhões de neurônios. (AZIZE, 2010, p.1)
Azize considera que vivemos sob um novo cogito: não mais "penso, logo existo",
mas sim uma espécie de existo porque tenho um cérebro que pensa. Para ele o cérebro se
caracterizaria como uma “última fronteira” do conhecimento sobre o corpo humano, uma
espécie de “bio-fronteira final”. Ao analisar a chamada neurociência ou ciências do
16 Para Vaysse (2005), apesar de ser considerado uma bomba pelo discurso biomédico, o coração é também um dos lugares do corpo mais investidos de certos valores da vida social, espiritual e afetivo-emocional, onde se situam simbolicamente importantes elaborações culturais.
9
cérebro, Azize considera que a noção dualista do formato cérebro/mente, ou corpo/mente,
passa a conviver com um dualismo fisicalista do formato cérebro/corpo.
Entretanto, parece que apesar do reinado do cérebro na biomedicina e na ciência,
que produz novas dualidades, há ainda uma importância do coração do ponto de vista das
representações e de seu valor simbólico não apenas no senso comum, mas também no
“coração artificial” desenvolvido na Fundação Adib Jatene, uma vez que os argumentos
elaborados pelos seus produtores apostam na tecnologia que preserva o funcionamento
derivado da pulsação, apontando para a resistência de constituir humanos sem batimentos
cardíacos.
Apesar da dificuldade de reproduzir os movimentos do coração, atualmente seu
movimento e funcionamento são bem conhecidos e controlados, diferentemente do
cérebro, que se caracteriza como o novo “mistério” da ciência e biomedicina atualmente.
Entretanto, ainda assim, a complexidade do coração dificulta a produção de tecnologias
e intervenções que buscam melhorar falhas e erros de uma suposta natureza perfeita.
Ainda que conhecido, é difícil reproduzir os movimentos e funções do coração com
tamanha sofisticação. Por isso, duas entre as diversas soluções tecnológicas existentes –
o “coração artificial”, que é uma bomba pulsátil, eletromecânica, implantável junto ao
órgão nativo (sem extraí-lo), e a bomba de fluxo contínuo, axial, na qual se extrai (ou
não) o coração biológico e insere uma bomba sem pulsação e batimento cardíaco –
apostam em recursos alternativos aos sofisticados movimentos do coração. No primeiro
caso o batimento do órgão nativo é mantido e “aproveitado” pelo dispositivo artificial,
enquanto no segundo não há batimento, a lógica da bomba é contínua, alterando o
funcionamento fisiológico do corpo. Para além das distinções técnicas podemos
considerar que há entre essas tecnologias diferentes concepções sobre a natureza: no
primeiro caso uma natureza a qual se deve associar, e no segundo uma natureza que se
pode transformar. Ao sustentar a existência de batimentos cardíacos o “coração artificial”
parece estar investido da ideia de natureza que deve ser preservada, pouco alterada, cujo
funcionamento é perfeito e que, mesmo quando apresenta falhas, deve ser mantida.
Seu mecanismo é baseado no modelo fisiológico e no funcionamento do órgão em
condições “normais”, constituindo-se de uma bomba produzida a partir de materiais
compatíveis com o corpo humano (biocompatibilidade), não havendo riscos de rejeição,
como ocorre com órgãos naturais e substâncias orgânicas, embora haja risco de
coagulação do sangue.
10
Anatomia do coração Coração Artificial Auxiliar
As imagens acima apontam para a semelhança física e estética entre o modelo de
coração descrito em termos anatômicos17 e o “coração artificial”. Para aqueles que ainda
não se convenceram com a semelhança existente apresento, a título de comparação, um
modelo desenvolvido pela empresa americana Thoratec:
Dispositivo denominado Heartmate II-LVAS®, “coração artificial” de fluxo contínuo
O dispositivo Heartmate abstrai esteticamente a referência ao modelo anatômico,
correspondendo apenas às funções das partes do coração “nativo”, reproduzindo parte de
seus movimentos e funcionamento, uma vez que gera fluxo contínuo, e não pulsátil. O
“coração artificial” desenvolvido na fundação Adib Jatene, além da relativa semelhança
física visível, pode ser aproximado do coração “nativo” na medida em que procura
reproduzir sua estrutura, uma vez que o coração “nativo” é constituído por duas porções,
compostas por duas cavidades. Elas se organizam de maneiras diferentes, mas em ambas
17 É preciso ressaltar que trata-se de um modelo que nem sempre corresponde à realidade. Como todo modelo, ele baseia-se em descrições fisiológicas médias, tidas como normais, porém há patologias que podem alterar a aparência do coração. Houve uma situação em que um dos engenheiros observava uma tomografia de um paciente e comentou que a artéria dele devia parecer-se com a artéria de um E.T. Ou seja, sua estrutura era tão diferente do modelo humano, que até se parecia com algo não humano, extraterrestre.
11
podemos perceber duas partes subdividas em outras duas. Na metade direita, ou coração
direito, circula o sangue venoso e na metade esquerda circula o sangue arterial. Cada uma
dessas metades possui duas cavidades, uma superior – a aurícula (ou átrio) – e outra
inferior – o ventrículo.
Um inspirador estudo de caso estabilizado
Para compreender o que se passa diante da implantação de um artefato mecânico
em comparação a um orgânico, podemos aproximar essa intervenção àquelas realizadas
nas válvulas cardíacas, que são estruturas que possibilitam o fluxo sanguíneo num único
sentido, impedindo seu retorno. Quando essas válvulas falham ou não funcionam
adequadamente precisam ser reparadas ou substituídas. Tratam-se de patologias diversas,
especialmente uma denominada insuficiência ou estenose da válvula (mitral ou bicúspide,
tricúspide, pulmonar ou aórtica)18, que prejudica a abertura ou fechamento do fluxo do
sangue, provocando refluxo. Nota-se que é preferível sempre seu reparo à substituição,
que é, portanto, o último procedimento ao qual recorre a convenção biomédica. Quando
não mais é possível reparar, substitui-se.
Há dois tipos de válvula protética utilizadas para substituição: a biológica e a
mecânica.19 Se por um lado a biológica, feita com tecidos de válvulas cardíacas suínas ou
com tecido cardíaco bovino pode provocar reações imunológicas ou rejeição, além de
apresentar um desgaste ao longo do tempo, demandando troca, a mecânica pode provocar
coagulação, e, para prevenir, é necessário o uso de medicamentos anticoagulantes. Ainda
que as próteses tenham sofrido transformações e modificações visando seu melhor
funcionamento, tanto as atuais próteses biológicas como as mecânicas não estão livres de
18 A válvula mitral ou bicúspide separa o átrio esquerdo do ventrículo esquerdo. A válvula tricúspide separa o átrio direito do ventrículo direito. Na fase da diástole, que é o período de relaxamento do coração, ambas as válvulas se abrem e o sangue enche os ventrículos. Quando ocorre a contração – a sístole – as válvulas aórtica e pulmonar se abrem e o sangue é ejetado do ventrículo esquerdo para a aorta e do ventrículo direito para a artéria pulmonar. Como podemos notar, as válvulas desempenham uma importante função no ciclo cardíaco e seu movimento é responsável por produzir os sons característicos do batimento cardíaco, que podem ser percebidos através da auscultação, com o auxílio de um estetoscópio. Os sons correspondem a dois movimentos: ao fechamento das válvulas aurículo-ventriculares e ao fechamento das válvulas semilunares. São, portanto, quatro válvulas, localizadas nas quatro câmaras do coração. Qualquer uma dessas quatro válvulas cardíacas ― aórtica, mitral, pulmonar ou tricúspide – podem ser substituídas por uma prótese valvular. 19 Em uma cartilha de apoio médico e científico ao judiciário, produzida pela Unimed Fesp, Federação das Unimeds do Estado de São Paulo, as próteses são relacionadas à origem da produção, sendo as biológicas descritas como de fabricação nacional e próteses mecânicas como importadas (http://www.unimedfesp.coop.br/caju/capitulo_85.html).
12
apresentarem problemas estruturais. Além disso, a válvula mecânica tem um custo maior
do que a biológica, uma vez que não é produzida no Brasil. Por isso considera-se que a
decisão sobre qual válvula utilizar deve ser tomada caso a caso, considerando-se as
condições clínicas e hemodinâmicas de cada paciente, o estado de sua doença, a
expectativa de vida, sua condição geral de saúde, o estilo de vida e a possibilidade de
utilização de medicamento.20
Embora hoje estejam relativamente estabilizadas, não provocando grandes
controvérsias, exceto pela escolha entre dois modelos, ambos oferecendo vantagens e
desvantagens (ou seja, ainda não são ideais, uma vez que necessitam ajustes de ordens
diversas, ainda que sejam funcionais), as próteses passaram por um longo processo de
desenvolvimento e estabilização.
Desde o início do século XX, quando as primeiras intervenções em válvulas
cardíacas ocorreram, há um esforço por parte de médicos e cirurgiões em solucionar o
que se chamou de estenose mitral, que provocava o refluxo de sangue. Apenas nos anos
1950 algumas próteses foram idealizadas e experimentadas, porém sem grande sucesso.
Um dos grandes desafios desde então era a obtenção de materiais “resistentes” e pouco
“trombogênicos” para a confecção das válvulas. Nos anos 1950 e 60 foram produzidas as
primeiras próteses que possibilitaram resultados funcionais, como a prótese de bola,
composta por uma estrutura rígida de "teflon" ou de "lucite" (polímeros), que continha
uma bola de "lucite" ou de aço.21 As dificuldades a serem administradas diziam respeito
à dificuldade de gerar um bom fluxo sanguíneo e à qualidade trombogênica dos materiais,
20 Mulheres grávidas, por exemplo, que não podem tomar anticoagulantes, não poderiam utilizar a válvula mecânica. 21 De acordo com artigo publicado na Sociedade Brasileira de Cardiologia essas próteses de bola experimentais foram testadas em cães, porém foram também as primeiras utilizadas em humanos (acessado em maio de 2014: http://publicacoes.cardiol.br/caminhos/013/).
13
que provocavam trombos, ou seja, a coagulação do sangue no interior do vaso sanguíneo.
No Brasil a prótese de bola foi produzida por incentivo do Dr. Dante Pazzanese, com
intuito de que o modelo nacional custasse menos do que a importada.22
Prótese de bola fabricada no Instituto Dante Pazzanese
Outros modelos existentes eram a prótese de folheto de plástico e de disco, que
eram consideradas pouco resistentes, trombogênicas e funcionalmente deficientes.23
Inúmeros modelos foram desenvolvidos e aperfeiçoados ao longo dos anos 1960 e 70,
quando surgiu a prótese de tecido biológico. Em seguida, nos anos 80, surgiram os
modelos elaborados com carbono ou metais (como o carvão pirolítico), mais resistentes,
duráveis e pouco trombogênicas, conhecidas como válvulas de disco pivotante. 24
É interessante ressaltar que tanto a prótese biológica como a mecânica parecem
não ser vistas como “naturais”, uma vez que representam intervenções que podem trazer
decorrências no organismo. Natural mesmo apenas a válvula original, que, entretanto,
deveria funcionar correta e perfeitamente. Apesar de biológica, a válvula elaborada a
partir de tecidos animais precisa passar por procedimentos e intervenções. É necessário
que o tecido removido do animal passe por um tratamento químico que o preserve. Além
disso, este tratamento químico evita reações imunológicas no corpo do paciente. Ainda
que não seja trombogênica, uma vez que seu funcionamento é muito semelhante à válvula
“natural”, a prótese biológica pode ocasionar reações imunológicas, uma vez que se trata
de um corpo estranho, uma substância externa ao corpo. Ambas podem ou não ser
compatíveis, mas o fato é que cada uma delas promove efeitos no organismo receptor.
22 Informações extraídas do site da Sociedade Brasileira de Cardiologia, acessado em junho de 2014 (http://publicacoes.cardiol.br/caminhos/003.asp). 23 A prótese de folheto era considerada pouco resistente porque os folhetos plásticos, no decorrer de um ou dois anos, rompiam-se ou eram destacados em decorrência da pressão exercida pelo fluxo sanguíneo. 24 Essas são as atuais válvulas, que substituíram os modelos anteriores, mas que, no entanto, não são mais produzidos no Brasil.
14
Analogamente ao que ocorre com as válvulas protéticas, o “coração artificial”, por
sua constituição mecânica e seu modo de funcionamento, apresenta riscos de formação
de coágulos no sangue, além das dificuldades técnicas relativas ao fluxo sanguíneo.25 Por
isso, grande parte do esforço dos (as) engenheiros (as) responsáveis por essa tecnologia
diz respeito a um menor impacto e alteração no corpo, buscando produzir um mecanismo
que alcance o menor risco de formação de coágulos, para que a associação com o
dispositivo não provoque destruição das células e dificuldades adaptativas aos pacientes
receptores.
Os diversos corações, bombas e dispositivos
Apesar do enfoque e interesse na comparação entre o “coração artificial” e os
dispositivos de fluxo contínuo, convém apresentar alguns outros dispositivos existentes,
que compõem uma diversa gradação de arranjos, tanto desenvolvidos na fundação Adib
Jatene, como em outras instituições. Trata-se, portanto, de descrever outros projetos
desenvolvidos, buscando iluminar suas especificidades e pressupostos comparativamente
O que defendem e argumentam os cientistas a favor das tecnologias que
produzem? Quais seus pressupostos e expectativas? Que concepção de natureza está
presente em seu projeto? Para tentar responder a essas questões (e lançar outras) buscarei
seguir e descrever as tecnologias desenvolvida pela equipe do Dante Pazzanese, buscando
recuperar as controvérsias relativas aos “corações artificiais”. A hipótese proposta é a de
que a tecnologia desenvolvida para auxiliar o órgão natural é pensada como menos
invasiva por alterar menos o funcionamento fisiológico, orquestrando-se com a própria
natureza, sem caracterizar-se, portanto, como um artifício descolado do corpo.
De acordo com o próprio site da instituição, são 3 os principais projetos de
pesquisas desenvolvidos na instituição: o Coração Artificial Auxiliar (CAA), a Bomba
Centrífuga para Circulação Extracorpórea e a Bomba Centrífuga Implantável.26 Há outras
pesquisas em desenvolvimento, porém de certa forma associadas a essas três pesquisas
principais. A seguir constam todas elas descritas27:
25É importante destacar que apesar da aproximação, o “coração artificial” está em fase de testes e ainda não foi utilizado em humanos, enquanto a substituição da válvula cardíaca é um procedimento relativamente comum, realizado na maior parte dos grandes hospitais brasileiros, graças aos avanços da tecnologia e à melhora da técnica cirúrgica e do design da válvula. 26 http://www.fajbio.com.br/projeto001.aspx (acessado em junho de 1014). 27 Há um protocolo científico que determina certos procedimentos pelos quais cada projeto deveria passar, quando apropriado e possível. Nem todas as pesquisas desenvolvidas na instituição envolvem produção de
15
dispositivos para intervenções cardíacas. Alguns deles abarcam desenvolvimento de instrumentais de controle e simulação, que não necessariamente passam por todas as etapas de pesquisa. Mas quando são necessárias, as etapas principais são: avaliação in vitro, que consiste em testes de bancada com materiais, análise de fator de coagulação do sangue e etc; avaliação in vivo, que se trata de testes em animais para avaliar a eficácia da tecnologia testada; avaliação clínica, que se caracteriza pelo uso experimental em seres humanos, antes de ser patenteado e se transformar em produto comercializável. Nem todas as tecnologias passam por todos os processos e principalmente nem todas viram produto, que é um processo bastante complexo em termos burocráticos e que muitas vezes exige certos investimentos, como por exemplo investimento em estrutura, uma vez que são tecnologias que exigem condições especiais de produção, dado que são materiais implantáveis que demandam rígidos critérios de esterilização, sendo produzidos em ambientes controlados, projetados de forma a reduzir a introdução de contaminantes. Porém quando se trata de uma tecnologia destinada a aplicação em humanos os procedimentos in vitro e in vivo são fundamentais, bem como a avaliação clínica, que pode ser tomada como diversa dos testes em animais e decorrente das duas primeiras fases (a ideia de testes em humanos pode ser inaceitável).
Projeto Início Fase atual Aplicação Mecanismo
Bomba de sangue
Spiral Pump® 65 1992 Comercialização/ recall
Circulação Extracorpórea
– CEC
Centrífuga/ axial
Coração Artificial Auxiliar
(CAA) 1998
Aprovação para
aplicação em 5
pacientes como ponte
para transplante
Terapia de destino/
Dispositivo uni ou
biventricular
Pulsátil/
Eletromecânico
Bomba de Sangue Ápico Aórtica
(BSAA) 2011 Avaliação in vivo Terapia de destino Centrífuga/ radial
Bomba de sangue centrífuga para
suporte circulatório temporário 2011
Avaliação in vitro/
Prototipagem de 3
novos rotores
Ponte para transplante -
Suporte pré e/ou pós-
cirúrgico
Centrífuga
Bomba de sangue centrífuga
implantável (BSCI) 2006
Avaliação in vitro/
Confecção do protótipo,
teste de desempenho
hidrodinâmico
Terapia de destino/
Dispositivo de assistência
uni ventricular implantável
(DAV)
Centrífuga
Simulador Híbrido do Sistema
Cardiovascular 2008
Ferramenta validada em
2013
Controlador para bomba
centrífuga Não se aplica
Controlador BSCI 2011 Teste de bancada Controlador para bomba
centrífuga Não se aplica
Estudos da fluidodinâmica
sanguínea em sistemas
extracorpóreos de bombeamento
centrífugo
2013 Não se aplica Simulador Não se aplica
Estudo do revestimento de
protótipos de stents coronários
bioabsorvíveis de PLLA/PLGA
com ácido hialurônico e
moléculas bioativas.
2013 Não se aplica Stents Não se aplica
16
Diferentemente das bombas implantáveis, as bombas de circulação extracorpórea
são utilizadas durante procedimentos cirúrgicos e não são inseridas diretamente nos
pacientes, mas sim numa máquina de circulação extracorpórea, que executa as funções
dos órgãos, principalmente do coração e do pulmão, enquanto estes estão inoperantes.28
A máquina na qual a bomba é acoplada é operada por um profissional chamado
perfusionista, responsável por manter as funções cardiorrespiratórias do paciente durante
o procedimento, além do seu equilíbrio bioquímico, hematológico e hidroeletrolítico.29
Modelo de máquina de circulação extracorpórea que substitui as funções vitais
A bomba de sangue centrífuga para suporte circulatório temporário é uma espécie
de aprimoramento, sofisticação e desenvolvimento da bomba de sangue Spiral Pump,
modelo que foi reformulado em 2007.30 Enquanto a Spiral Pump é destinada a uso de
curta duração, o modelo em desenvolvimento poderá ser utilizado até em procedimentos
de média duração. Além disso, a bomba centrífuga para suporte circulatório temporário
destina-se à oxigenação extracorpórea por membrana ECMO (Extracorporeal Membrane
Oxygenation), que difere-se da circulação extracorpórea convencional (CEC).
28 A circulação extracorpórea também é conhecida como CEC, Perfusão, Perfusão Extracorpórea, Perfusão Cardíaca, Assistência Circulatória Mecânica e etc. 29 Na década de 1950 surgiram de forma alargada (e não experimental) as máquinas de circulação extracorpórea, que permitiram prolongar artificialmente a vida, redefinindo o que é considerado morte. Para Vaysse (2005), a redefinição legal da morte – considerada como a morte clínica cerebral – autoriza a retirada do coração e de outros órgãos para que sejam transplantados, transformando-os em objetos que podem ser destacados, desconectados, isolados e subordinados à medicina técnica. 30 O modelo passou por um recall, pois apresentou trincas na base externa.
17
Bomba de sangue Spiral Pump® 65
Entre as bombas implantáveis desenvolvidas na instituição, o “coração artificial”
é a única que funciona por mecanismo pulsátil. Este é um dos principais motivos pelos
quais ela foi escolhida como principal objeto/sujeito da pesquisa, além de toda a
repercussão que alcançou, o que me permitiu chegar até a instituição e conhecer os
projetos. O fato de ser pulsátil significa que respeita a pulsação arterial, que corresponde
às variações de pressão sanguínea na artéria durante os batimentos cardíacos (ciclo de
expansão e relaxamento das artérias do corpo). Entre as bombas desenvolvidas por outras
empresas e instituições, há apenas dois tipos pulsáveis: eletromecânica ou pneumática.
Em termos gerais, os chamados dispositivos de assistência ventricular (DAV)
podem se diferenciar pelo tipo de fluxo – pulsátil ou contínuo; as pulsáteis podem ser
movidas por mecanismos pneumáticos ou eletromecânicos; as contínuas podem ser axiais
ou centrífugas. Além disso, as bombas podem se diferenciar pelo posicionamento:
paracorpóreo ou intracorpóreo. O dispositivo paracorpóreo permanece fora do corpo do
paciente, conectado ao coração por cânulas transcutâneas, que atravessam a pele,
enquanto o intracorpóreo é instalado no interior do corpo, posicionado na cavidade
torácica ou na cavidade abdominal abaixo do diafragma.
Destaco novamente que o “coração artificial” teve grande repercussão midiática,
sendo descrito como um avanço tecnológico, principalmente por representar um
progresso da capacidade brasileira em produzir “tecnologia de ponta”. Obviamente, em
relação às outras bombas desenvolvidas na instituição, todas elas representam avanços
tecnológicos, embora apresentem dificuldades, desafios e contribuições diversas. Vale
destacar também que o “coração artificial” é o projeto mais antigo de dispositivo de
assistência circulatória, e que se encontra em estágio mais avançado de desenvolvimento.
Pode-se considerar também que tal destaque possa ter sido alcançado pelo apelo
do nome, que diferentemente da ideia de dispositivo ou bomba, que muito pouco diz ao
18
público leigo, remete a fantasias robóticas de humanos movidos por energias mecânicas.
Independentemente de seu destaque para além dos muros acadêmicos, o coração artificial
destacou-se no campo científico por ser uma bomba eletromecânica, que superaria
algumas das dificuldades das bombas pneumáticas, como os riscos e dificuldades
inerentes à sua utilização. No entanto, quanto maior a quantidade de componentes e
complexidade a bomba eletromecânica possuir, maiores são as chances de ocorrer falhas
no sistema. Nesse sentido, seria coerente argumentar a favor de bombas centrífugas, que
teriam mecanismos mais simples do que as pulsáteis, que apresentariam, portanto, menos
riscos. Entretanto, tais dispositivos produzem fluxos sanguíneos contínuos, e não
pulsáteis, o que pode alterar o funcionamento fisiológico do organismo.
De acordo com Bruno Utiyama da Silva, um dos responsáveis por desenvolver
uma bomba centrífuga: “O coração natural funciona como uma bomba pulsátil. Por isso,
as primeiras bombas que começaram a ser desenvolvidas também eram pulsáteis porque
se imaginava que o sistema vascular era todo adaptado para este pulso. Mas, de uns
tempos para cá, estudos vêm demonstrando que a assistência pode ser feita também com
uma bomba de fluxo contínuo”.31 A despeito dessa concepção, no entanto, há indícios de
que a longo prazo a bomba centrífuga possa alterar o funcionamento do organismo. Ainda
que não existam estudos conclusivos sobre a questão, principalmente pelo curto período
de existência e o número reduzido de testes com bombas centrífugas de fluxo contínuo a
longo prazo, um dos argumentos contrários é o de que estes mecanismos alterariam as
propriedades do sangue, uma vez que este estaria acostumado com o fluxo pulsátil.
Assim como os responsáveis pela bomba centrífuga tem argumentos favoráveis à
essa tecnologia, são muitos os argumentos formulados pelos responsáveis pelo “coração
artificial” em sua defesa. Um deles passa pela questão de ser o primeiro mecanismo a não
extrair o coração natural, nem eliminar o movimento pulsátil, o que ofereceria vantagens
em termos de não alterar o ritmo cardíaco, o que traria mais segurança.32 Aron José Pazin
de Andrade, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do “coração artificial”, considera
que essa tecnologia é uma tecnologia menos invasiva, e busca sua segurança no
31 Declaração dada ao Jornal da Unicamp, Campinas, 08 de outubro de 2012 a 14 de outubro de 2012 –
ANO 2012 – Nº 541 (http://www.unicamp.br/unicamp/ju/541/bomba-para-o-coracao-pode-salvar-pacientes-na-fila-de-transplante, acessado em maio de 2014) 32 “O nosso coração artificial é o primeiro do mundo com essa concepção de trabalhar junto com o órgão natural”, declaração dada pelo engenheiro mecânico especializado em bioengenharia Aron José Pazin de Andrade à revista Pesquisa Fapesp (Edição 185 - Julho de 2011, http://revistapesquisa.fapesp.br/2011/07/12/cora%C3%A7%C3%A3o-auxiliar/, acessada em maio de 2014)
19
funcionamento do próprio órgão “nativo”. Segundo ele: “A gente criou um dispositivo
para ser um auxiliar ao coração porque, se o aparelho falhar, o paciente ainda terá o seu
coração funcionando e terá tempo de ser socorrido" (Revista Pesquias Fapesp, 2011).
Todos os mecanismos são passíveis de falhas: o biológico, o pulsátil e o
centrífugo. Nem a natureza escapa de falhas, apesar de ser “incomparavelmente mais bem
organizada e capaz de movimentos mais admiráveis do que qualquer uma das (máquinas)
que possam ser criadas pelos homens” (Descartes, 1973, p.31). No entanto, as falhas das
máquinas precisam ser prevenidas, evitadas e amenizadas. A justificativa do modelo
centrífugo diz respeito à busca de mecanismos mais simples (em comparação aos
pulsáteis), que apresentam menores chances de falhas. A justificativa do modelo pulsátil
é poder contar com o funcionamento do próprio órgão, que mesmo deficiente deve ser
considerado. Faz-se necessário ressaltar, no entanto, que tanto o argumento contrário à
utilização de bombas centrífugas de fluxo contínuo, como o favorável à utilização de
bombas pulsáveis parecem acionar explicações decorrentes da menor intervenção e
interferência no funcionamento fisiológico. Se por um lado as bombas não pulsáteis
(centrífugas) podem não ser recomendadas por sua possibilidade de alterar as
propriedades do sangue, por outro lado as bombas pulsáteis podem ser preconizadas por
seu atributo de se associar à natureza fisiológica, buscando uma alteração mínima do
corpo biológico, compondo uma relação mais harmônica entre organismo e máquina,
reformulando a ideia de organismo natural como aquele composto por artifícios (não uma
natureza isolada, perfeita e funcional, mas compassada e conectada com suas
intervenções).
Embora haja uma defesa de determinados projetos e argumentos, ambas as
tecnologias e pesquisadores fazem parte da mesma instituição. Há também outros
pesquisadores na instituição, em geral todos envolvidos em todos os projetos, ainda que
normalmente sejam diretamente responsáveis por apenas um.33Ainda que trabalhem
coletivamente, no entanto, as convicções a respeito da funcionalidade de cada uma das
tecnologias variam. Há aqueles que apostam nas bombas pulsáteis e outros que defendem
o uso de bombas centrífugas34 (não pulsáteis). No entanto, a orientação da instituição
33 Embora cada um trabalhe em sua própria pesquisa de mestrado ou doutorado, parece não haver uma divisão rigidamente estabelecida. Como há contribuições diversas e quase sempre os autores responsáveis pelos artigos são múltiplos, parece haver uma espécie de criação mais coletiva, que considera todos os parceiros associados aos projetos não exatamente como responsáveis, mas colaboradores. É preciso ressaltar, no entanto, que há posições hierarquicamente superiores e outras inferiores. 34 De acordo com a Wikipédia as bombas centrífugas são os equipamentos mais utilizados para bombear líquidos, funcionando a partir de elevação, pressurização ou transferência de líquidos de um local para o
20
acena para a busca de produção de tecnologias diversas, com aplicações também distintas,
que podem ser profícuas diante da diversidade e especificidade dos problemas surgidos
na prática médica e cirúrgica. Em termos gerais, a eficiência das tecnologias não pode ser
definida a priori, mas depende da aplicação e do caso a que se destinam. Como não só os
conceitos e mecanismos variam, mas também a técnica de aplicação no procedimento
cirúrgico35, a funcionalidade depende de cada caso, o que torna útil a disponibilidade de
tecnologias diversas para que os cirurgiões possam tomar decisões particulares, como
ocorre com as próteses de válvulas, descritas anteriormente.
A produção coletivizada característica da instituição implica que um
bioengenheiro que argumente a favor de uma bomba centrífuga em sua pesquisa possa
também contribuir nos testes e desenvolvimento da bomba pulsátil eletromecânica, e
vice-versa, por exemplo. Além do mais, ainda que haja uma defesa da diversidade de
modelos e aplicações, não estão estabilizados os argumentos sobre essas bombas, que
ainda estão em disputa e em processo de construção de dados que possibilitem consolidar
concepções mais consensuais sobre elas. Como vimos no caso das válvulas, são
necessários anos de pesquisa e desenvolvimento de inúmeros projetos para que se alcance
um modelo ideal ou aceitável, bem como para que alguns modelos sejam descartados ou
tomados como ineficientes. Obviamente os diversos tipos de bombas de assistência
circulatória podem continuar coexistindo, mas muito pouco se sabe sobre a eficiência
delas a longo prazo, o que significa que mais alguns anos de pesquisa possam redefinir o
campo.
*******************
Seria o dispositivo desenvolvido no Dante Pazzanese um artefato natural ou
artificial? Assim como Latour (1994, 1997, 2004, 2012), considero haver um
entrelaçamento entre as entidades tradicionalmente vistas como exclusivamente naturais
ou sociais. Nesse sentido, o coração artificial pode ser visto como um artefato produzido
com materiais biocompatíveis, inspirado no funcionamento do corpo biológico, cuja
finalidade é solucionar problemas de saúde pública, relacionadas à gestão da vida e da
outro. Alguns exemplos de aplicação são: no saneamento básico, na irrigação de lavouras, nos edifícios residenciais, na indústria em geral. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Bomba_centr%C3%ADfuga acessado em maio de 2014). 35 Há bombas implantáveis externas e internas, ou mesmo bombas confeccionadas para serem utilizadas em ambas as posições. A decisão de como ou qual utilizar dependeria do estado e das condições do paciente, pois cada procedimento traz efeitos específicos.
21
morte (Foucault, 2006, 2007). Tratam-se, portanto, de questões políticas que envolvem
um conhecimento sobre a natureza para a produção de tecnologias de intervenção no
corpo.
Embora toda a ciência moderna possa ser vista como um híbrido, descrita através
de um vocabulário de “composição”, “coprodução”, e “construção” (Latour, 2004), o
“coração artificial” parece ser um profícuo objeto/ sujeito de análise por estabelecer
entrelaçamentos específicos entre humanos e máquinas36, fenômenos e objetos
supostamente naturais e sintéticos, concepções biomédicas, bioengenharia e outros
saberes. Assim, ao inspirar-se e associar-se ao modelo fisiológico, que dá origem a um
artefato híbrido, baseado em certa “natureza” reproduzida e destrinchada em laboratório,
nos perguntamos se o “coração artificial” estaria desestabilizando as dualidades e
rompendo com os paradigmas da modernidade, transformando a existência material do
corpo e a própria concepção de humano
Referências bibliográficas
AZIZE, Rogério Lopes. A nova ordem cerebral: a concepção de pessoa na difusão neurocientífica.
Tese de doutorado em Antropologia Social: Universidade do Rio de Janeiro, 2010.
COTTINGHAM, John. Dicionário Descartes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1995.
DESCARTES, René. Meditações concernentes à primeira filosofia nas quais a existência de Deus
e a distinção real entre a alma e o corpo do homem são demonstrados. In: _____. Descartes: Vida
e obra [Coleção Os Pensadores]. São Paulo: Editora Abril Cultural, 1973, p. 93-150.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 1 – A vontade de Saber. 17° Edição – Editora
Graal – São Paulo, 2006.
_________________. Vigiar e Punir – Histórias da violência nas prisões. 33° Edição – Editora
Vozes: Petrópolis, 2007.
36 A perspectiva do ciborgue interessa na medida em que mistura a mecanização e a eletrificação do humano com a humanização e a subjetivação da máquina: O ciborgue nos força a pensar não em termos de “sujeitos”, de mônadas, de átomos ou indivíduos, mas em termos de fluxos e intensidades, tal como sugerido, aliás, por uma “ontologia” deleuziana. O mundo não seria constituído, então, de unidades (“sujeitos”), de onde partiriam as ações sobre outras unidades, mas, inversamente, de correntes e circuitos que encontram aquelas unidades em sua passagem. Primários são os fluxos e as intensidades, relativamente aos quais os indivíduos e os sujeitos são secundários, subsidiários (HARAWAY; KUNZRU; TADEU, 2009, p.14).
22
GOTTSCHALL, Carlos Antonio Mascia. O Sopro da Alma e a Bomba da Vida (3.000 anos de
ideias sobre respiração e circulação). Porto Alegre: AGE/FUC, 2000.
HARAWAY, Donna. “Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio
da perspectiva parcial”. Cadernos Pagu, v.5, 1995, pp.07-41.
_________________. “Manifesto Ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final
do século XX. In: Antropologia do Ciborgue – as vertigens do pós-humano. Organização: Tomaz
Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
HARAWAY, Donna; KUNZRU, Hari; TADEU, Tomaz. Antropologia do Ciborgue: as vertigens
do pós-humano. 2ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
HARVEY, William. Estudo anatômico sobre o movimento do coração e do sangue nos animais.
São Paulo: Cadernos de Tradução, n° 5, DF/ USP, 1999.
LATOUR, Bruno; WOOLGAR, Steve. A vida de laboratório: a produção dos fatos científicos.
Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997.
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: Ensaio de Antropologia Simétrica. Rio de Janeiro,
editora 34, 1994.
_______________. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São
Paulo: Editora UNESP, 2000.
_______________. A Esperança de Pandora: Ensaios sobre a realidade dos estudos científicos.
Bauru, SP: EDUSC, 2001.
_______________. Políticas da Natureza: como fazer ciência na democracia. Bauru, SP: EDUSC,
2004.
________________. Reagregando o Social: uma introdução à teoria do ator-rede. Salvador:
EDUFBA, Bauru, SP: EDUSC, 2012.
LE BRETON, David. Antropologia do Corpo e Modernidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
MONTEIRO, Marko Synésio Alves. “Teatro anatômico digital: práticas de representação do
corpo na ciência”. Rio de Janeiro: História, Ciências, Saúde – Manguinhos, vol.18, n° 3, jul./set.
2011.
_____________________________. “Reconsiderando a Etnografia da Ciência e da Tecnologia
– Tecnociência na prática”. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 27, N° 79, junho/2012.
23
_____________________________. Os dilemas do humano – Reinventando o corpo numa era
(bio) tecnológica. São Paulo: Anablume, 2012.
PORTO, Marco Antonio T. “A circulação do sangue ou o movimento no conceito de movimento”.
Manguinhos, Vol. 1 (1), Jul-Out, 1994.
REBOLLO, Regina André. “William Harvey e a anatomia do século XVII – Ruptura e Tradição”.
Tese de doutorado. São Paulo: FFLCH – USP, 1998.
ROHDEN, Fabíola. “Prescrições de gênero via autoajuda científica: manual para usar a
natureza?” In: Ciências na vida: antropologia da ciência em perspectiva. Organizadoras: Claudia
Fonseca, Fabíola Rohden, Paula Sandrine Machado. São Paulo: Terceiro Nome, 2012.
ROSE, Nikolas. “Cérebro, self e sociedade: uma conversa com Nikolas Rose”. SPINK, Mary Jane
(org.). Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 20, n.1, 2010, pp.301-324.
SINGER, Charles. Uma Breve História da Anatomia e Fisiologia desde os Gregos até Harvey.
Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1996.
VAYSSE, Jocelyne. “Coração Estrangeiro em Corpo de Acolhimento”, in: Políticas do Corpo:
Elementos para uma história das práticas corporais. Organização: Denise Bernuzzi Sant’Anna.
São Paulo: Estação Liberdade, 2005.