ÍNDICE DOS POEMAS
0 - Apresentação
1- Fidelidade
2- Deslize
3- Zen
4– Indomáveis
5– Flor na Lapela
6– O Príncipe
7- Cantiga Para Localizar Hécate
8- Tai Chi
9- Questão de Confiança
10– Aulas de Felicidade
11– In Totum
12– Revogação
13– O Domador
14 - Prendas Domésticas
15 - Ego Sun
16– Romântica Espanhola
17 - Café
18- Tua Voz
19- Mentira
20- Exorcismo
21- Balada do Perdido na Selva
22- Álibi
23– Ode ao Dia da Independência
24– Lytton Strachey
25 - Safo
26 - Culto a Orfeu
27 - Instintual
28 - Poema Excedente
29 - Relatividade
30 - Soteropolitanamente Feliz
31 - Moído na hora
32 - Ladainha Para o Dia Consagrado ao Sal
33– Platônica Sacrificial
34– Aos infernos Contigo!
35– O Enfezado
36– Nos braços de Eurídice
37– Aulas de Oratória
38– A Inteligência do Burro
39– O soldado
40– Definições
41– A alegria do Rio
42– Causa e Efeito
43– Jennifer Lopes
44– Ícone
45– Profissão de Fé
46– O Ejacular dos Gênios
47– Sem Rodeios...
48– Projeto Arquitetônico
49– Suprema Alegria
50– Medalhas de Ouro
51– Mesmice
52– Aulas de Prudência
53– Arquétipos
54– Aulas de Filosofia
55– Aulas de Sobrevivência
56– Esotérica
57– Orunmilá Ifá
58– O Mantra
59– Via Crucis
60– Double Faces
61– De leve...
62– Definições II
63– Romântica Italiana
64– Projeto de Lei
65– Cordel
66– Construção da Definitiva Ausência
67– Rosa Negra
68– Black Blues
69– Oxum
70– O Menestrel
APRESENTAÇÃO
Este livro nasceu de um momento peculiar de alegria, leveza e serenidade: pode-se tranqüilamente chamá-lo de “festejo do espírito” ou “brincadeira poética”. Foi redigido de um modo que se faça dos textos, objeto de leitura declamatória. Do mesmo modo, nenhuma atenção especial foi dirigida aos temas, muito menos se pretendeu aderir a escolas; tentou-se, isto sim, trabalhar a frase da maneira mais criativa possível, buscando a surpresa vocabular, a colocação Ímpar, expressa inesperadamente! Despretensioso, portanto, nem por isso deixa de apresentar atitude solene quando pretende pagar tributo a Orfeu, a partir de um culto exato, devido e procedente. Que o Mestre o receba como suave perfume de incenso, é tudo o que desejamos para este momento em que Eurídice deve também ser lembrada e reverenciada, para que o ofício místico, religioso, mágico e poético se apresente completo e irrepreensível.
O AUTOR
À GUISA DE INTRODUÇÃO
FIDELIDADE
Ao poeta
Que
Se
Dá
Feliz,
Contente,
A este
Uma
Vertente
De
Inspir
Ação
Flui
Do
Inigua-
Lável
Cor
Ação
De
Orfeu!
DESLIZE
A gente
Falta
Falta
Falta
Quando esta em alta;
Até perceber
Que
Não
Faz
Mais
Falta;
Então a gente se agarra
E quer permanecer
Na marra!
Ato louvável,
Porém inútil,
Não fosse fútil
E dispensável
A gente
Que falta
Quando
Esta
Em alta!
ZEN
No mar
Há certa
Cal
Maria:
O vento
Sopra
E
Não
Estufa
As velas,
O
Marinheiro
Dorme
E
Nenhum
Sonho
Lhe
Sacode
A alma!
INDOMÁVEIS
O sol quis aparecer:
Naquela manhã
Estava especialmente
Esplendoroso.
Porém , de súbito apareceram
Massas de nuvens cinzentas
Cobrindo todo o céu
Numa extensão imensa,
Quase estadual.
E então esfriou
E quando olhamos pela janela
A garoa caía,
Depois a coisa engrossou
E choveu mesmo
De verdade!
Então
Fomos comer pipocas
E colocamos na radiola
Um vinil
De Johnny Mathis,
E cantamos com ele,
E dançamos
Ao som
De
Song Sung Blue
Trezentas
Vezes!
FLOR NA LAPELA
Ele nascera
Com uma flor
Na lapela.
De quando em vez
Lhe perguntavam :
Que flor
era aquela?
Ele não sabia
responder
até por não ver
a tal:
ainda que olhasse
no espelho,
horas a fio,
não via nada
de especial!
Mas, meu Deus
Que flor era
Aquela
Que ele
Trazia
Na lapela,
Cultuada
Pela balzaquiana,
Pela donzela,
E por quem mais ?...
E por que
Só ele?
Por que não
Eu e você?
Mas, pensando
Bem,
Uma flor
Na lapela
Igual aquela
-que coisa estúpida!
(embora bela !)
-que fiasco!
-Que asco!
-Que imbecilidade!
-Que esparrela!
O PRÍNCIPE
Certa feita me levaram
A conhecer um príncipe e,
Para acontecimento tão solene,
Vesti a melhor roupa que possuía.
Com paciência
Arrumada na hora,
Esperei numa fila enorme
A minha vez de reverenciar
Vossa Alteza o Príncipe.
Foi quando
Aproximei-me do trono e,
Observando o olhar encantado
Da multidão a ele dirigido
- não vi ninguém ali!
Eis o Príncipe!
Eis o Príncipe!
Ajoelhe-se! Disse alguém.
Ajoelhar-me? A troco de quê?
Diante de uma cadeira vazia?
Eu não sou doido não!
Redargüi, atônito.
Uns riram da minha afirmação.
Outros deploraram.
E todos continuaram reverenciando
Extasiados,
Aos pés de Vossa Alteza,
Solícitos e apaixonados.
Todos viam o Príncipe!
Menos eu,
O próprio!
CANTIGA PARA VER HÉCATE
Eu quis ver
Hécate
Num canto
Qualquer
Da lua;
Num canto
Qualquer
Na rua;
Num canto
Na casa
Sua...
Mas, mano,
Que desencanto:
Ninguém
Mais canta
Na casa sua;
Ninguém
Mais canta
Feliz!
Na rua,
TAI CHI
Talvez lento
Demais
Para uma
Paciência de menos
Talvez
Demasiadamente
Reflexivo
Para um
Pensar atômico
Tavez
Quintessenciado
Em excesso
Para um
Agudo sentido
Da navalha
Na carne.
QUESTÃO DE CONFIANÇA
A gente
Diz
Quanto
Tem
Para
Não
Dizer
Quanto
Falta;
Cuidadosos
Mostramos
Apenas
A ponta
Do iceberg;
Um detalhe
Da ferida,
Uma face
Da vida
E, ao menos
Que nos
Conforte,
Um tanto
Da nossa
Morte!
AULAS DE FELICIDADE
Desnecessárias
As pessoas
De Sócrates
Platão
Ou Emerson;
Desnecessárias
As horas infindas
Dedicadas
Às profundas
Meditações;
Desnecessárias
As providências
Cabíveis
Na elaboração
De debates;
Tudo tão
Franciscanamente
Simples:
Para ser feliz
E gozar de paz,
O homem deve ser amado
Naquilo que faz!
E para que não perca
Jamais sua fé,
Ele deve ser amado
Naquilo que é!
IN TOTUM
Amar
Não o pedaço,
A fração,
Mas cada pedaço,
Cada fração;
Amar
Por satisfação
E gozo,
Por ter
Encontrado
O paraíso
Num simples
Sorriso
Ou numa
Elucubração
Filosófica;
Amar
Ipsis litteris
E com
Insuspeitavel
Bona fides;
Amar
Para escrever
Uma história
Absolutamente
Distinta
De uma
Vida estéril.
REVOGAÇAO
Não um ...e comerás
Flagelo do suor do seu
Que se rosto. GÊNESIS
Suporta;
Não uma
Cruz
Que se
Carrega;
Não um
Suplício
No qual
Se morre;
Nada que
Lembre
As work-songs
Os sharecroppers
E o bossman
No Delta
Do Yazoo,
Nem o
Pelourinho
Em Salvador;
O DOMADOR
Se tem à frente
Um tigre
Dirá ao animal:
Aqui bichano,
Aqui,
Nos meus pés...
Se o tigre
Não o obedecer
Ficará indignado
Estalará
O chicote
E,
Com a face
Vermelha de raiva
Ordenará:
Aqui bichano,
Aqui,
Nos meus pés!!!
Então
O animal ficará
Com medo
( a despeito de
sua força
e poder)
e obedecerá
incontinenti !
Um vacilo, porém,
no estalar
do chicote,
no tom da voz,
na postura
do corpo
e o animal
o engolirá
incontinenti!
PRENDAS DOMÉSTICAS
Não sou serviçal
À disposição
Da sua arrogância;
Mas posso ser escravo
Da sua humildade!
EGO SUN
É preciso fé
Para ser
O que se é,
Posto que ser
Pressupõe envolver- -se
Consigo,
Seu melhor amigo;
Aceitar sua essência
Como autor
Idade
Suficiente e
Máxima
Para salvá-lo
Seja lá
Do que for;
Crer
Na flor
Que se abre,
No
Sol que
Se mostra,
Na
Estrela
Que brilha,
Na maravilha
Da manhã
Da alma,
Na
Calma
Dos ventos
Prósperos,
Nas
Torrentes
Das inspirações
Ávidas...
ROMÂNTICA ESPANHOLA
Suave
O
Vinho
Desce
Pela
Garganta
Como
Um
Consolo
Ao
Drama
Solo
De
Um
Violino
Cigano.
CAFÉ
Saborosa
Negritude
Deliciosa
Negridão
Fumegante
Escuridão
Pó mágico
Líquida vertente
Que despenca
Do
Bule
E
Cai
Sem pre conceitos
Na xícara alva
Pura porcelana
Parisiense
Para
O deleite
Das madames
Dos intelectuais
E de quem mais...
Cerebral pretitude
Precursora
Do cigarro
Do charuto
Da cigarrilha
E do
Poema.
Incentivadora
Das tertúlias
Madrugadas
Adentro...
Noite sem estrelas
Pecado sem
Remissão
Senzálicas negras
-África!
Voluptuosa
Pretidão!
TUA VOZ
A tua voz
Ferina
Voz de menina
Mal educada
Dói na
Minha alma;
Fere,
Transfere
O meu
Momento
De prazer
Para depois;
Sangra
Esfola
Faz escola
Irrita;
Entristece
Tanto
Que nem
Uma prece
Me ressuscita
Do desencanto.
MENTIRA
A tua doçura
Oh! Melíflua!
Sai da boca
Do esqueleto
De Ransés...
Logo se vê
Que tu não és,
Logo se vê
Que vós não sois,
Que não serias
Presentemente,
E muito menos depois!
EXORCISMO
O que me pese
Na alma
O que me faça
Chorar,
Que se desfaça
Na calma
Da luz
Do luar;
O que
Porventura
Me traga
Agonia
E muita
Aflição,
Que morra
Nas cordas
Do meu
Violão;
E se assim
Mesmo
Um baixo
Astral
Quiser dominar
E me
Roubar
A alegria,
BALADA DO PERDIDO NA SELVA
A quem
Esconde
A selva,
Senão ao que
Se perdeu?
A quem
Esconde
A selva
Senão ao que
A selva
Escondeu?
A quem
A selva
Se deu
Senão ao que
A selva
Escolheu
Para que fosse
Só seu
Num selvático
Himeneu?
Aonde
Aonde
É que se
Esconde?
Esconde
O segredo
Da selva
(talvez
não seja
tão virgem!)
quem na
selva
pretendeu
brincar
de
esconde
esconde?
ou embora
agora
saiba
onde
tanta
gente
se
perdeu
perdido
também
se
encontre
e siga
às cegas
seu destino,
destino
que a selva
lhe
concedeu?
talvez
de nada
saiba:
só que o
céu
escureceu,
e que a
saudade
de casa
agora
recrudesceu,
que a
esperança
de quem
se perde
nele nunca
se perdeu
mas que
em face
da noite
fria
tornou-se
tão vazia
e aos
poucos
desvaneceu?...
II
Mas quem
Nesta festa
A
Comemorar
O que
Se deu:
O encontro
Da selva
Escura
Com a infeliz
Criatura
Que, tola ,
Se atreveu?
Por
Certo
Que virá
Gente de todo
Canto,
Gente de todo
Lado
Nesse conúbio
Encantado!
O que foi
Convidado,
O que a
Selva esqueceu
De convidar;
Todo aquele
Que, em síntese,
Cometeu
Um tal acinte
E que por isto
Morreu!
ÁLIBI
Quem
Trai
Traz
Um tê
Na testa?
Sai
Por
Aí
Fazendo
Festa?
Come
Mora
A
Traição
No
Estilo
Ga
Ra
Nhão?
Ou
Age
Na
Sur
Dina
Sem
Jamais
ODE AO DIA DA INDEPENDÊNCIA
( CANTO PRIMEIRO )
I
Sofro
De um mal
Terrível
Que não
Me faz mal
Absoluta
Mente:
Não se
Trata
De problemas
Nas cordas
Vocais
Posto que
Ando
Falando
Bem demais
- de todos;
não se
trata
de defi-
ciência
nas vistas,
que eu
esteja
ficand o cego,
pois
ainda vejo
os males
do mundo:
não cultuo
tanto
o ego!
Não
Se
Trata
De dor
De ouvido,
Que eu
Esteja
Ficando surdo:
Fale
(ainda
que longe
de mim)
um absurdo
pra você
ver!
Não se
Trata
De avaria
No coração
Pois
Ainda amo
Maria,
E a cada
Homem
Meu irmão;
II
Sofro
De um mal
Que me
Corrói
O corpo
A alma
O espírito
( e qualquer
outra
coisa
que
ainda
exista
em mim)
e que,
a despeito
disto,
não me
faz mal
absoluta
mente:
sofro
a influência
do espírito
de indepen-
dência
embora não
seja
oficial
mediúnico
de Dom
Pedro I ;
Sofro
De
Rebel-
Dia
Diária
Crônica
Em
Estágio
Avançado;
Melhor:
Ter
Mi
Nal;
E não
Admito
( sob a
certeza
de vertigens,
ataques
coléricos
e falta
de ar)
que me
queiram
subtrair
a liberdade
de ser,
característica
doentia
mórbida
funeral
de:
líderes
políticos
sifilíticos;
lideres
religiosos
capciosos;
lideres
familiares
neuróticos
e toda
a gama
de capitães
de areia...
CANTO SEGUNDO
I
Ser:
Não ser
Com
Os dedos
Dos outros ;
Não se
Conde
Corar
Com
Meda
Lha
Roubada
A peito
Alheio:
Não
Subir
No
Podium
Quando
Só
Se
Pode
No lugar
De
Quem
Não pôde ;
II
Ser:
Fluir
Natural
Mente
Crescer
Feito
Semente
No
Útero
Da vida
Mãe,
Para
Ser
Total
Mente
Fruto
Maduro,
De sabor
Distinto,
De
Aroma
Peculiar,
De
Design
Único
E
De
Cores
Ímpares ;
III
Ser:
Evocar
A possibilidade
De ser
Louco e
Mais
Um pouco,
Quando
Então
Aos
Grupos
De exceção
Se
Aceita
E
Ama;
Se reverencia
De
Pijama
Ao sol
E se
Conversa
Com
A
Lua
Tendo
A alma
Toda
Nua
E
O
Pênis
De fora...
CANTO TERCEIRO
I
Sofro
De um mal
Terrível
Que não
Me faz mal
Absoluta
Mente:
Ter
Vestido
Por
Inteiro
A camisa
De Dom
Pedro
Primeiro:
Independência
Ou morte
E que se dane a corte
Dos
Dês
Per
Son
Al
Isa
Dos!
Sofro
De uma
Doença
Fatal
Incurável ;
Que não
Corrói,
Doença
De menino
Travesso:
Grito de alegria,
Canto de amor e
Poesia:
Câncer
Pelo avesso!
LYTTON STRACHEY
Flor
Da literatura
Inglesa,
Delicada
Figura,
Pesadelo
Da Realeza
Vitoriana:
O coração
Nunca
Se engana:
Dora
Te adora!
A despeito
De seres
Confuso
Consorte,
Que sorte
Que sorte
A tua!
Pois Dora
Silente e
Nua,
SAFO
Só
Um
Alguém
Suficiente
Mente
Hábil
A
Ponto
De
Apanhar
Uma flor
Sem
Jamais
Esmagá-la
E de,
Com
Desme
Dido
Carinho,
Reter-
Lhe
O perfume
Único:
Safo
Senhora de
Lesbos,
Rainha
Da
Poesia,
Mito
CULTO A ORFEU
É chegada a hora
Do culto da madrugada,
Da vigília espiritual...
O incenso aqui está,
O papel em branco,
A pena e o tinteiro...
O sacerdote se debruça
Sobre a mesa,
Toma seu primeiro gole
De café,
Acende seu primeiro cigarro,
Relaxa o corpo e a alma
E espera...
Virão os deuses visitá-lo
Nesta noite especial ?
Alguma musa casual
Passará por ele
Célere e inspiradora?
Estará a sua mente
Virgem de pensamentos
Pré-concebidos?
De conceitos arrumados?
De filosofias prontas?
De dogmas ordinariamente
Organizados?
Estará ungido esse sacerdote
De suficiente humildade,
Para ser instrumento passivo,
Fiel e obediente ao fluxo
De pensamentos transcendentais
Nesta hora sagrada?
Entenderá esse servo inútil
Que, ao toque da divina essência
Sua mão correrá por sobre o papel
Tal como se fora um médium
Em estado de transe,
A favor da concepção literária?
E que esse exercício sacerdotal
É o que faz dele pessoa íntegra
Única e, portanto, extremamente
Forte e capaz e magnética
Diante de seu público leitor e ouvinte
Que igualmente busca o imponderável
E que neste culto, nesta missa,
Neste ritual encontra essa paz
E se plenifica e se estabelece ?
Entenderá esse sacerdote órfico
Que a poesia é o ofício de Profeta
- gloriosa missão?
................
shiii...
calemo-nos:
ele começa a escrever...
INSTINTUAL
Pouco Mais
Que um animal;
Aquém
De um ser
Celestial
Anos-luz;
Desconhece
Os requintes
Da ponderação
Que
Movimentam
A razão
Como peça
De um
Jogo de
Xadrez;
Com a
Delicadeza
De uma
Pedra,
Trabalha
O subjetivo
Qual
Um
Maquinista
De trem
Faria
Uma
Cirurgia;
De outro
Modo,
Mexe com
O objetivo
Melhor
Do que
Cassios Clay;
Não ama:
Apaixona-se!
Não verbaliza:
Grunhe!
Não universaliza:
Só vive
Em razão
Do grupo
E de
Si ;
Sabe, no entanto
O que é caçar,
Sabe procurar
O que quer,
E sabe o
Que quer!
Se lhe
Apraz
O que tem,
Se lhe
Faz bem,
Se lhe
Sacia
A fome
Acaricia;
Mas se
lhe quer
Escapar
Do
Domínio,
Por
Bem
Desloca
As estrelas
Para
Agradar;
Por mal
Rosna
E mostra
Os dentes;
E se
A situação
Lhe é
Adversa,
POEMA EXCEDENTE
Os meus
Pertences
São escassos:
Alguns livros
Alguns discos
Algumas roupas...
Nada em
Mim excede
Exceto
Um otimismo
No mínimo
Notável!
Não um
Otimismo
Barato,
Gerado por livros
De auto-ajuda
Que ajudam – e
Muito! –
A seus
Autores:
Falo
De uma alegria
Contagiante,
De uma
Energia vivaz,
De uma
Disposição
Eloqüente
Tudo isto acompanhado
-de lado a lado-
por
uma verve
que ferve
nas veias
ferina e doce
feito leoa
e melancia,
e que
deságua em
monólogos,
diálogos,
poesias
e que
embriaga
e seduz
tanto reluz...
O que
em mim
excede
não se encontra
em livros:
procede
de Orfeu!
RELATIVIDADE
No tic-tac
Do relógio
Meu amor
Inda não veio:
Tic tac tic tac tic tac...
Nesse
mesmo
Tic tac
Meu amor
Já foi embora!
Tic tac tic tac tic tac…
SOTEROPOLITANAMENTE FELIZ
Um tumor
Se instaura
No corpo
De Laura:
Um tumor
Maligno,
Malvado,
Absolutamente
Mal-humorado.
Laura
De nada sabe
De nada desconfia
Até que um dia
Descobre uma bolinha
No lado esquerdo
Do seio.
Vai ao médico
E ele lhe diz:
É um tumor
Maligno,
Malvado,
Absolutamente
Mal-humorado.
E para que
Ele se alegre
Mude de humor
E eu me salve
Desta dor
O que será preciso
Doutor?
Indaga Laura.
Amor.
Amor desbragado.
Desavergonhado.
Amor acompanhado
De alegria
E muita
Poesia!
Isto como
Preventivo
Posto que
Este tipo de tumor
Não muda fácil
De humor:
Será mais producente
Arrancá-lo
Do que alegrá-lo!
E o tumor
Rabugento
Foi de pronto
Extirpado:
Maligno,
Malvado e
Mal-humorado!
Para o deleite
De Laura
Que resolveu
Mudar
De vida
E de
Cidade:
Foi pra Salvador
Dançar ao som
De Trio Elétrico,
Com as filhas de Oxum
Na avenida,
E no Jangada
Em Itapuã,
De lá saindo apenas
Quando o sol
Doura a manhã!
E Salvador
Salvou
A dor
De Laura
Que aprendeu
A ser
Sotero-
Politana-
Mente
Feliz;
E que agora
Canta até
Num restaurante
Do Abaeté!
MOÍDO NA HORA
Tomá-lo
Não por uma
Simples convenção
Social;
Sorvê-lo
Não sem
Compromisso
Real;
Bebê-lo
Não como
No oásis
O beduíno
Bebe a água;
Nem por razões de
Inconsolável
Mágoa,
Mas com
Profundidade
Com reverência
Até!
Assim se toma
O café!
Degustando,
Degustando,
Sentindo
O sabor
Marcante
Na boca,
Sem pressa...
Esta a
Atitude
Correta,
Perfeita,
Ainda que,
Muito embora,
Não tenha
Sido
Moído
Na hora!
LADAINHA PARA O DIA CONSAGRADO AO SAL
Sal salgado
Sal sagrado
Nunca nos falte à mesa
O sal da terra
Com tudo o que ele
Encerra;
Sal salgado
Sal sagrado
Nunca nos falte à mesa
O sal no corpo
Depois de se tomar
Banho de mar;
Sal salgado
Sal sagrado
Nunca nos falte à mesa
O sal da lágrima
Que cai
Dos olhos do velho
Pai;
Sal salgado
Sal sagrado
Nunca nos falte à mesa
O sal do suor
Do corpo do pescador
Exposto ao vapor do sol;
Sal salgado
Sal sagrado
Nunca nos falte à mesa
O sal na saleira
Na cara
Da cozinheira
Sal salgado
Sal sagrado
Nunca nos falte à mesa
Que procura pelo sal
No bolso do avental
Sal salgado
Sal sagrado
Nunca nos falte à mesa
O sal no copo d’água
O sal jogado
Ao chão
Sal salgado
Sal sagrado
Nunca nos falte à mesa
Espanta macumbaria
Bicho feio e
Assombração
Sal salgado
Sal sagrado
Nunca nos falte à mesa
O sal presente
Numa pessoa
Atraente
Sal salgado
Sal sagrado
Nunca nos falte à mesa
O sal ausente
Numa pessoa
Sem sal
Sal salgado
Sal sagrado
Nunca nos falte à mesa
E para que o sal
Não passe da
Medida,
Nem nunca nos falte
À mesa,
Dá-nos, Senhor,
Por gentileza
Um med idor
De sal,
Em qualquer
Eventual!
PLATÔNICA SACRIFICIAL
Sal-
Picado
De lama
À porta
De quem
Ele ama ;
Sal-
Picado
De estrelas
Só para
Contemplá-la!
AOS INFERNOS CONTIGO!
Como o mal
É mau!
Como o mal
Protela
A felicidade
E esfacela
A esperança!
Como o mal
Agride
Uma criança
Um adulto
Um animal...
Oh! Elemento
Infernal
Do bem
Absolutamente
Marginal:
Quem te criou,
Maldito?
Em que lugar
Do infinito
Espaço sideral
Deu-se a tua gênese?
Que pai bizarro
Te ejaculou?
Que mãe monstruosa
Te gerou?
De que abominável
De que desprezível
Útero
Saíste
E deste
O primeiro vagido?
Foste parido
Ou foste cagado
Oh! Amaldiçoado?
Que metafísica
Te explica
Satisfatoriamente?
Que mente
Iluminada
Decifra essa charada
De mau gosto?
E posto que
És mau
E laboras
Na maldade
Crônica ,
Das raízes
Do meu canto
A sua expressão
Total
Execrado sejas,
Mal;
Para sempre
Preterido!
De cada sílaba
Excluído!
Aos infernos
Contigo
Mau,
Das origens
Do poema
Até seu
Ponto
Final!
O ENFEZADO
Oh! Enfezado
O que reténs
Dentro de ti ?
O sorriso cordial ?
O abraço
Caloroso,
Apertado,
Demorado?
O que reténs
Oh! Enfezado?
Ah! Estás de
Mal
De alguém!
Pois então
Anote,
E bem:
Ainda que
Rezes
Duzentas
Ave-marias,
O melhor
Que fazes
É fazer
As pazes
Pra liberar
As fezes!
NOS BRAÇOS DE EURÍDICE
Aonde
Andará
Orfeu ?
Que denso
Nevoeiro
Entre
Ele e eu!
Algo
Absoluta-
Mente
Grave
Acaso
Aconteceu ?
Que nada!
O Mestre
Resolveu
Dar uma cochilada
E, claro,
Em sonhos
Se perdeu
Nos braços de Eurídice
Via Morfeu!
AULAS DE ORATÓRIA
I
Fincar
A palavra
No ouvinte
(posto não
haver outro
jeito)
como se ela
fosse
uma estaca
dessas que
Van Helsing
Finca
No peito
De Drácula;
Vê-lo
Sangrar;
Vê-lo
Extertorar;
Vê-lo
Expressionar
A dor
E o
Gozo;
Vê-lo
Sofrer
A
Metamorfose,
O fim
Da
Maldição:
Verbo:
Estaca no
Seu
Coração!
II
Para
Tanto
Emitir
A
Sílaba
Como
Se ela,
Súbito,
Se transformasse
Em
Ciclope.
III
Quan-
Do
Convir
Colo-
Rir
A fra-
Se;
IV
E
Ter a
Postura
Da
Sólida
Figura
Cuja
Atitude
Medra
Em
Forma
De
Pedra!
A INTELIGÊNCIA DO BURRO
“Daqui não
Saio, daqui
Ninguém me
Tira”
Modinha
Popular
Reni-
Tência:
Máxi-
Ma
Expres-
São
Da
Inte-
Ligên-
Cia
Do
Burro.
O SOLDADO(QUESTAO DE JUSTIÇA)
O sol-
Dado sonha
Com o soldo
Que lhe deve
Ser dado
Em razão
Não de um
Jogo de dado
Onde se
Contou com a
Sorte;
Mas porque
Ele, soldado,
(dado a
dar-se por
inteiro
a seu ofício)
num momento
difícil,
esbarrou
na
morte!
DEFINIÇÕES
Moscou
Céu de cinza
Chumbo
E chão
Cor da mais
Absoluta
Paz.
São Paulo
Cinza cidade
Sinceridade
Que me
Invade
Plenamente;
Garoa a
Me acariciar
O rosto
Em pleno
Agosto
Mansamente...
Tóquio
Avanço
Dos samurais
Que já não
Precisam mais
Praticar
Harakiri!
Nova Iorque
Cruel
Desespero
No céu;
Fatal
Manhã
Sem
Amanhã;
Tudo
Somado:
Ego
Despedaço.
Nova Delhi
Deus
Passeando
Nos
Ghats,
Vacas
Sagradas
Passeando
Nas
Ruas;
Lindas
Espáduas
Nuas,
Corpos
Esculturais:
Belíssimas
Padmines
Espirituais.
A ALEGRIA DO RIO
O rio
Corre
Como nas
Veias
O sangue;
Como
Caranguejo
No mangue;
Corre
Serpenteia
Como
Rabo
De sereia;
Feliz
Sonoro
Espumante
Como
Festa de
Debutante;
Como
Os dedos
De Miles
Davis
No trompete
Corre
O rio;
Como
Os dedos
De Bill
Haley
No
Topete
A base
De gomalina;
Como
Dos
Olhos
Da menina
Que, enfim,
Conquista
A paz,
A lágrima
Pertinaz.
CAUSA E EFEITO
Dizer a
Palavra
No cume
Da montanha;
Emiti-la
Como quem
Lança
Atleticamente
Uma bola
De aço;
Aguardar
O eco
Que a
Devolverá;
Suportar
O peso
Extraordinário
Do que ela
Trouxer
Consigo.
JENNIFER LOPES
Tão
Linda
Quanto
A Ferrari
Que
Não
Tenho;
Tão
Desejável
Quanto
A
Fortuna
Que
Me
Foge;
Tão
Rica
Quanto
A
Fama
Que
Me
Falta;
Por
Tudo
Isto,
Freqüentadora
Assídua
Da
Cama
Onde
Não
Durmo.
ÍCONE
Um gato
Siamês
Salta
Corajosa-
Mente
Sobre
O abajur
Colocado
No canto
Da sala
E o
Derruba
E quebra;
Felino
Acossado
Lança
Um olhar
Desafiador
Aos presentes
E desaparece
Célere
Causando
Espanto
Tremor
E taquicardia;
E
Se torna
Famoso
Quando
Um poeta
Revolucionário
O celebra
Num livro
Sobre
Ernesto
Che
Guevara
E uma
Tal
Guerra
Ocorrida
No Vietnã!
PROFISSÃO DE FÉ
Que a frase
Inspirada
(súbito relâmpago
que nos
surpreende
de quando em vez)
seja escrita,
abordada,
com a elegância
do cavalheiro
Inglês;
Que nela repouse
Toda a beleza
Do arrebol,
Mas também
A valentia
Do toureiro
Espanhol;
Que transpire
Sensualidade
Paixão e
Nonsense
Particularidades
Do cidadão
Parisiense;
E para que
Não haja
Engano
E dela seja
Expulso
O teor
Do mal,
Que lembre
O Taj Mahal
E a sabedoria
Do homem
Indiano!
O EJACULAR DOS GÊNIOS
Ao que se
Masturba
Que não se
Turbe
Que não se
Perturbe
Seu coração,
Posto
Que a
Mente
Se exercita
Se
Perquire
Se se excita
Em cada
Reflexão;
Mesmo
Porque
Sendo
Tão vasto
E
Tão
Profundo
O problema
Capital
Da
Filosofia,
Há quem se
Masturbe
Noite
E dia
Em busca
De uma
Solução!
Portanto
Alegrai-vos
Oh! Homens
Dedicados
Ao exercício
Cerebral:
Não se
Trata de
Um vício
E é certo
Que não
Faz mal
Pensar
Pensar
E pensar
A exemplo
De Sócrates
E Platão
Que, juntos
Ejaculavam
Idéias
Pra lá
De nobres
Depois
De intensa
Masturbação!
SEM RODEIOS
Tanto ou quanto
Me compete
Aliso;
Tanto ou quanto
For
Preciso
Volteio
E sem
Nenhum
Ciso
Eu meto
A mão
No seio
Generoso
De Gertrudes,
Mulher
Cheia
De viço
E de virtudes
E
Louco
De prazer
Eu mando
A fava
Saber
Se acaso ela
Não
Lava
(tanto ou quanto
lhe compete
lavar)
a íris,
a íris
preclara
no
azul
marinho
do
mar.
PROJETO ARQUITETÔNICO
Abstrair-se
No silêncio
Entre árvores;
Retomar
O caráter
Da personalidade;
Centralizar
Energias divergentes,
Dispersas;
Formar
Alicerce,
Plataforma;
Edificar
Extraordinária mansão
Existencial!
MEDALHAS DE OURO
Não sei
A quem
Agrado
Ou deixo
De agradar:
Sei que
Me agrido
Se me
Ignoro,
Se choro
Me sentindo
Fracassado
Debruçado
Sobre
A visão
Daquilo
Que
Ainda
Não...
Não sei
A quem
Entristeço
Ou faço
Muito feliz:
Sei que
Me afago
Se me
Reverencio,
Se rio
Se gargalho
Satisfeito
Pra caralho
Tocando
Em tudo
O que já
Debruçado
Sobre
A visão
Daquilo
Que se
Fará!
MESMICE
A nota
Que se
Repete
Me entedia:
Ouvi-la
Assim
Mal rompe
O dia
Mal se dispersa
A madrugada
- que maçada!
Corrói
A alma
Que exulta
E chora
Embriagada
Pelos
Eflúvios
Do poema;
Apaga
A luz
Da inteligência
Que
Recria
O mundo
Em torno;
Acentua
O contorno
Da bestialidade
Suavizado
Pela ternura
Pelo amor...
A nota
Que se
Repete
É um horror!
Uma
Suástica
Selvagem,
Uma parvática
Doutrina
Concebida
Na latrina!
AULAS DE PRUDÊNCIA
Sela
Teus sonhos
Com o selo
Do silencio;
Não os
Traga a público
Em cordial
Vernissage;
Deixa
As passarelas
Para Yves
Saint Laurent:
Como segredo
De Estado
Como paixão
Proibida
Como tudo
Na vida
Que se queira
Incólume;
Como
Elementos
Que devem
Permanecer
Intactos,
Sela
Teus sonhos
( felizes
risonhos!):
vigia
teus
actos!
ARQUÉTIPOS
Não como
Se fora
Um mágico
A retirar
Da cartola
O coelho,
Ou da
Manga
Da casaca
O ás de
Baralho
Para a
Alegria
De todos,
Não!
Mas como
Se fora
Uma fêmea
Na sagrada
Hora
De dar
À luz
Um novo
Ser,
Para a
Alegria
Primeira
Mente
Dela
- isto sim!
Não se
Trata de
Um engodo,
Tripulias
De Mandrake
Revoluções
De araque,
Mas de
Entidades
Legítimas
Forças que
Habitam
A escuridão
Abismal
E que
Anelam
A luz,
Em convulsivas
Revoluções,
Em gritos,
Em contrações:
Parto
Existencial!
AULAS DE FILOSOFIA
Apreender
O pensamento;
Grafá-lo
No branco
Do papel;
Volver
A ele
Para fixá-lo
No branco
Da memória;
Executar
Seus direciona-
Mentos
Para inseri-lo
No contexto
Da história;
No final
De uma vida
Deixar
Para uma
Civilização
Bárbara,
Altamente
Tecnológica,
A fragrância
Do bálsamo
Filosófico,
Que terá
Pensado
Todos os seus
Traumas!
AULAS DE SOBREVIVÊNCIA
A este
Um animal
De tiro,
Um bom
Arado e a
Fidelidade
Das chuvas;
Àquele
Um bisturi,
Um estetos-
Cópio
E um
Paciente
Regular;
Àquele
Outro
Uma toga,
Um tribunal
E um
Réu,
Confesso
Ou não;
E àquele
Ainda
Uma esfero-
Gráfica,
Um guarda-
Napo
De papel
Que se
Encontre
Em torno
- e uma
belíssima
dor de
corno!
ESOTÉRICA
Um menino
Quando
nasce
Traz
desenhado
Nos
contornos
Da face
O
sagrado
Rumo
De sua
Vida?
Revela
Nas linhas
Das mãos
A sua
Particular
História
Que ainda
Será vivida?
A data
O local
Em que
Ocorre
Seu nascimento
São planejados
Pela engenharia
Cósmica
A partir
Da formação
Dos astros?
O número
De letras
Do seu nome
(A soma
Das vogais
E das consoantes)
Definirá
O sucesso
Que o aguarda
Em dias
Do seu porvir?
Ou tudo
O que ele será
E fará,
As nuances
Os matizes
Das suas
Futuras
Atitudes,
São segredos
Contidos
No contexto
Do Odú
Que somente
Opelê
Poderá
Revelar
De acordo
Com Ifá ?
Talvez
Fosse bom
Entender
Que um
Menino
Quando
Nasce
Viverá
A luz
Do carma,
Instruído
Pelo Dharma :
Sim
Ou
Não?
Se tudo
Em
Sua vida
Anteci-
Pada-
Mente
Se
Define,
A ele
Caberá
Apenas
Caminhar?
Ou tudo
Se
Definirá
Suces-
Siva-
Mente
A
Cada
Passo
Que
Der?
Laborará
Em
Confusão
Esse menino
Trans-
Gredindo
O seu
Destino?
E que
Preço
Pagará
Por
Tamanha
Ousadia:
Desconhecer-
Se
Por
Um
Dia,
Por
Um ano,
Sendo
“Sedentarísta”
Quem já
Nasceu
Artista
E cigano,
Por exemplo?
Um menino
Quando
Nasce
Traz
Desenhado
Nos
Contornos
Da face
O
Sagrado
Rumo
De sua
Vida?
Ou as
Tramas
Do destino
(se se
achar
que não
convém)
devem se
quedar
veladas
e não
serem
reveladas
nem
a si
nem
a
ninguém?
ORUNMILÁ IFÁ (CANTO AFRICANO)
Opelê:
Odú !
Opelê:
Odú !
Olorum
Olorum
Babalorixá
Babá
Babalorixá
Babá
Aluô
Axé!
Orun
Aiyê
Orun
Aiyê
Orunmilá
Ifá:
Obará!
Obará!
Egbó:
Ori:
Kaô
Xangô
Oxé ;
Juntó:
aguê
oquê arô!
Ofá
Abebé
Loci
Loci
Logum !
Ipondá
Erinlé
Orun
Aiyê!
Orun
Aiyê!
O MANTRA
Nunca pensei
Que houvesse
Algo a ser dito
Sobre um tal assunto;
Jamais me houvera
Passado pela cabeça
Que fosse tão absolutamente
Relevante!
Para mim
Tão banal quanto
O entediante
Transcorrer das horas...
Mas,
Para ela, no entanto,
A soma de valores e poderes
A força
De um verdadeiro
Mantra
Que se recita
Quando se quer
Brilhar.
VIA CRUCIS
Se assimilo
O açoite
O sangue;
Se introjeto
O profundo
Desafeto;
Se me fixo
Igualmente
No madeiro
E se fico
Impregnado
De calvário;
Se nos dias
Que se arrastam
Introduzo
O signo
Supremo
Da dor,
Então
Terei sido
Suicida
Terei
Rejeitado
A vida
Senhor!
Mas,
Se assimilo
A sinfonia
Se introjeto
Seus compassos
Se me fixo
Nos acordes
Transmutado
Em melodia;
Se nos dias
Que deslizam
Introduzo
As energias
Do mais
Profundo amor
Então,
Terei sido
Otimista
Um maestro
Um artista...
Acusado
Deicida
Terei amado
A vida
Senhor!
DOUBLE FACES
Temos
(via de regra)
duas faces:
uma
a que
mostramos
aos parentes
aos amigos,
tradicional;
e a
outra:
a incompreendida
a pressentida
face
da loucura,
absoluta-
mente
parecida
com
a rosa
verde
que
plantamos
ontem!
DE LEVE...
Carta
De um
Desertor
A seu
Coman-
Dante
Herói
Morto
Na guerra:
Este
covarde
vivo
ainda
pode
escrever
poemas!
DEFINIÇÕES
I
Teu
Beijo:
Uma
Tatuagem
Impressa
Nos meus
Lábios
Num
Delicado
Tom
Carmesim...
II
Tuas
Mãos:
Singelezas
De Ikebana ,
Doçuras
De afagos,
Carícias
De quem
-apaixonada!-
colhe
ao
chão
a rosa
abandonada...
ROMÂNTICA ITALIANA
O quarto
A cama
Nós:
-Eu Paganini.
-Você violino.
PROJETO DE LEI
(ÀS GATAS
NOVA GERAÇÃO
DE MULHERES)
Parágrafo
Único
Revoga-se
Os poemas que
As situem
Amantes em
Alcova de cetim
Sob luzes cálidas
De abajur
Inglês...
Felinas, que
A partir de
De agora os seus
Amores
Sejam celebrados
Por poemas
Que as situem
- Sobre telhas quebradas.
- E raios de luar.
CORDEL
Morena do juazeiro
Deste sertão nordestino
Deste sol quente e dourado
Senhora do meu destino
Das noites, das madrugadas
Nas quais me faço menino
Deitado sobre o teu seio
Sem medo e sem desatino...
Morena dona de casa
Casa de barro e sapé
De frestas pelas paredes
Tão simplesinha ela é
Que a lua – tão carinhosa
Vertendo raios, até
Faz lume sobre o teu rosto
Que, lindo, reflete a fé
Que tens nessa poesia
Da vida vivida assim
Feita de simplicidade
Morena – flor de jardim
Teus olhos de sertaneja
Olhando só para mim
São duas belas estrelas
Que brilham no céu sem fim...
Morena dos lábios doces
Doce doçura sem par
Dos beijos enlouquecidos
Trocados à beira mar
Às vistas dos jangadeiros
Que sempre estão a sonhar
Com lindas, belas sereias
Dormentes no imaginar
Que o mundo, morena linda
É sonho – não pesadelo!
É flor vermelha que cheira
Perfumando o teu cabelo
É desejo de teu corpo
Ao saber que posso tê-lo
Loucamente apaixonado
No mistério do desvelo...
Morena do Juazeiro
Cantiga dos cantadores
Doce musa inspiradora
Dos versos dos trovadores
Vejam quantos que te adoram:
Mais de doze mil amores!
Mas tu és somente minha
Maria Helena das Dores!
A CONSTRUÇÃO DA DEFINITIVA AUSÊNCIA
A ausência
Faz-se construir
A partir de
Silêncios deliberados
Olhares desviados
Dirigidos
A pontos opostos...
Dialoga
Diálogos vazios,
Sendo simples e sórdida
Cruel e piedosa...
Ela deixa
Sobras de comida
No prato,
Acelera ou diminui
O ritmo
Dos relógios,
Esquece
O endereço
Do florista...
Constrói-se
A ausência
Com perfeita
Paciência
Percebida
Ou ignorada
Sendo que, por vezes
Corrói a vida
A ponto de
Dar dó.
Concluída ,
Ei-la de todo
Edificada:
Fazer o quê ?
Nada !
Você está
Definitivamente
Só!
ROSA NEGRA
Tu és o perfume espalhado na cama,
Essência de flores e cores de ébano,
Delícias de praias desertas e sonhos
De búzios da sorte jogados na areia...
Tu és o mistério da África antiga,
Gemidos nas matas de velhos Obís,
Um transe gostoso de embalo sereno,
Um grito de orgasmo perdido na noite...
Tu és um murmúrio no quarto silente,
Sorrisos expressos e preces ocultas
Talvez para Ogum – ou será pra Xangô?
Tu és rosa negra vestida de branco,
Fazendo magias em contas e velas,
Mucama e rainha de babalaôs...
BLACK BLUES
Mulher de pele escura e passos leves,
Em cujo olhar há luz de estrelas tristes,
Em cuja voz um tom bem melancólico
Me faz lembrar um Blues de B.B.King...
Mulher de corpo quente e perfumado,
No qual me deito como se deitasse
Nas praias africanas, nas areias
Queimadas pelo sol oriental...
Mulher de lábios trêmulos e doces,
Que tocam nos meus lábios de poeta,
Com hálito de frutas campesinas...
Mulher, minha mulher – como te adoro!
Em tua voz há solos de anjos negros
E há luz de estrelas tristes nos teus olhos...
OXUM
Nua, linda, na beira desses rios
Em noites de magia, à lua cheia
Oxum mirando as águas se penteia
Em chispas de cabelos luzidios...
E há som de braceletes, de pulseiras,
Essências de mil flores perfumadas,
E Sílfides, Ondinas, lindas Fadas
Que bailam ao luar em brincadeiras...
As águas serpenteiam nessas horas
Em loucas gargalhadas – tão sonoras! –
Depois, é o silêncio de uma prece...
A noite encobre a lua cor de prata,
Os gênios se debandam pela mata:
Envolta em luz Oxum desaparece.
O MENESTREL
Eu fui menestrel em castelos da França,
Em dias remotos que o tempo apagou...
Cantava meus versos às lindas donzelas
Fazendo sucesso nas cortes reais:
Eu fui menestrel em castelos da França...
Chegava montado num belo cavalo
Trazendo a guitarra no alforje de couro,
Nos lábios poemas, canções, serenatas
Nos olhos a luz de esperanças, e sempre
Chegava montado num belo cavalo...
Avante poeta, pedia Luize!
Encanta minh’alma com versos de amor,
Meu peito reclama delícias dos céus,
Nas trovas renovas o meu coração...
Avante poeta! Pedia Luize...
Num canto da sala, escondida de todos,
Eu via Simone de olhares distantes,
Dois lagos serenos de prantos discretos:
Simone sofria de amores perdidos
Num canto da sala, escondida de todos...
E vendo a tristeza das duas donzelas
(As duas carentes do amparo da lira)
Na Sala Real eu cantava diversos
Poemas, sorrindo, brincando, querendo
Findar co’a tristeza das duas donzelas...
O apoio das musas jamais me faltou:
Nas horas de embalo das trovas de luz,
Simone e Luize da dor se esqueciam,
E riam contentes, bailavam até!
O apoio das musas jamais me faltou!
A vida de artista de encantos se faz:
É dono da noite, senhor das estrelas,
Na brisa se perde, no sonho se encontra...
O sol o desperta no seio da amada:
A vida de artista de encanto se faz!
Oh! Céus dessa França tão bela e querida!
Castelos e moças, segredos, canções...
Simone e Luize no quarto comigo
Tão nuas, singelas, rezavam poemas
Aos céus dessa França tão bela e querida...
Eu fui menestrel de mil versos fatais!
FIM
26-04-2004
11-10-2004
ABOUT ADILSON PINTO
I was born in São José dos Campos, São Paulo, Brazil, in 5/4/1959 being, therefore ,of Signo of Aries!
In 1976 I began my career writing texts for friends that studied the University. In 1979 a newspaper of my city publishes with prominence my poem Rotten Bananas. In 1980 a newspaper of my city publishes wiht prominence my poems Nocturne and Sofuco. In 1982 I publish my first book: The Love of the Wild Animal (poems).
In 1980 I publish my second book: Rose Color of Peace (Stories, chronicles and
poems). In 1985 my premiere happens in the theater as writer. In 1986 work as Columnist of the Newspaper Valeparaibano, SJC. In 1987 I am considered one of the best poets of my city. In 1995 I talk in television about literature.
In 1997 I publish my third book: Serenade for Sofia (poems) In 1999 I publish my fourth book: Lamp of the Lord (spiritual poems ). In 2002 I participated of a poetic anthology in Madrid, Spain. In 2002 my literary site was elaborated in Miami, United States, by Symonset Foundation.
In 2002 my poems were presented in Symonset Foundation official site. In 2005 I publish my first digital book (Ebook) Orfeu Cults . In 2006 my poems are published in France with success. In 2006 my articles are published in California, United States, for the www.articlesgratuits.com (Top Writers)