CURSO DE DIREITO
“Personalidade Psicopática – implicações forenses e médico legais”
Sabrina Veríssimo Pinheiro Nunes
R.A. 43.23.28-2
Turma: 329-B
Telefones: 3559-8340 e 9624-0871
Professor Orientador: Antônio José Eça
São Paulo
2003
Personalidade Psicopática – implicações forenses e médico-legais – Sabrina Veríssimo Pinheiro Nunes ___________________________________________________________________________________
CURSO DE DIREITO
“Personalidade Psicopática – implicações forenses e médico legais”
Monografia apresentada à Banca Examinadora do
Centro Universitário das Faculdades
Metropolitanas Unidas, como exigência parcial
para obtenção do título de Bacharel em Direito,
sob orientação do Professor Antônio José Eça.
São Paulo
2003
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CURSO DE DIREITO
BANCA EXAMINADORA
_______________________________( )
Professor Antônio José Eça
_______________________________( )
Professor Argüidor
_______________________________( )
Professor Argüidor
São Paulo
2003
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DEDICATÓRIA À minha família que sempre foi companheira e
soube me apoiar e incentivar, principalmente nas
horas mais difíceis.
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AGRADECIMENTOS
Ao ilustre professor e orientador Antonio José Eça,
pelo apoio, profissionalismo e preocupação que sempre
demonstrou no decorrer de todo o trabalho.
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SINOPSE
O presente trabalho tem por objetivo a discussão sobre questão do
portador de personalidade psicopática que comete crimes, e como este deve ser
entendido e tratado, pois só assim será possível dar um encaminhamento jurídico
apropriado a seu caso.
Procurou-se mostrar as implicações na área da Psiquiatria para se
conhecer melhor o transtorno de personalidade em questão, em segundo plano,
foi mostrado as implicações na área do Direito para se saber qual o trato dado
pela legislação com relação a esse transtorno, e por fim juntou-se esses
conhecimentos, adequando a Justiça correta às personalidades psicopáticas
criminosas.
A partir de doutrinas e jurisprudências demonstramos a importância
do tema e suas problemáticas, para então chegar a conclusão de que a questão,
de como tratar ou penalizar um psicopata que cometeu um crime, é um
problema de todos, não só dos envolvidos ( psicopata, magistrado e perito),
como do Estado, e principalmente da sociedade, que leiga, sofre as
conseqüências.
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SUMÁRIO
Introdução ..........................................................................................................9
Capítulo I – Generalidades .............................................................................11
1. História do conceito ......................................................................................11
2. Conceito atual ...............................................................................................15
Capítulo II – Aspectos da Psicopatologia .....................................................17
1. Distúrbios psíquicos .....................................................................................17
1.1. Classificação ..........................................................................................17
2. Os psicopatas: características .......................................................................18
2.1 Classificação ...........................................................................................21
Capítulo III – Aspectos Jurídicos ...................................................................24
1. Elementos do crime .....................................................................................24
2. Responsabilidade e Imputabilidade ..............................................................26
2.1. Conceito de Responsabilidade Penal .....................................................26
2.2. Conceito de Imputabilidade Penal .........................................................27
2.2.1. Critérios de avaliação ...................................................................28
Capítulo IV – Aspectos da Psicopatologia Forense ......................................29
1. Conduta Criminosa dos psicopatas ...............................................................29
2. Relação Direito e Psicopatologia ..................................................................31
3. Perturbação da saúde mental: capacidade de imputação do psicopata .......32
3.1 . Sanção Penal Cabível ............................................................................34
3.1.1. Pena e Medida de Segurança .......................................................36
3.1.2. Pressupostos para aplicação, imputação e espécies de Medida de
Segurança ......................................................................................................37
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3.1.3. Psicopata: qual a sanção ideal? .....................................................38
Capítulo IV – Criminosos em série ................................................................40
Capítulo V – Decisões Judiciais versus Laudos Médicos ............................42 Conclusão .........................................................................................................44
Jurisprudência .................................................................................................48
Bibliografia .......................................................................................................51
Anexos ...............................................................................................................53
A. Laudo médico ...............................................................................................53
B. Entrevista com o “Maníaco do Parque” .....................................................68
C. Decisão do caso “Maníaco do Parque” .......................................................81
D. Psicopatas conhecidos .................................................................................84
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INTRODUÇÃO
A personalidade é a totalidade relativamente estável e previsível dos
traços emocionais e comportamentais que caracterizam a pessoa na vida
cotidiana, sob condições normais. Um transtorno da personalidade é uma
variação desses traços de caráter que vai além da faixa encontrada na maioria
das pessoas. Essa variação é inflexível e causa desajustes.
Entre os portadores desse transtorno de personalidade está a
personalidade psicopática, que devido essa variação, tem alteração dos
sentimentos, dos impulsos, dos instintos, do sentido ético e moral que se traduz
por uma alteração de conduta e comportamentos sociais.
Este trabalho versará sobre o estudo das personalidades psicopáticas e
o seu cometimento de crime abrangendo o universo do portador do transtorno de
personalidade (suas características, seu comportamento), como se encaixa no
Direito (sua capacidade de imputação), quais as conseqüências do seu crime
(pena cabível) e a hipótese da aplicação da Medida de Segurança.
Trata-se de um tema relevante e que gera opiniões diversas tanto na
área médica como na área forense, e principalmente entre elas, por isso é
interessante a busca de discussões, através dos doutrinadores, sobre os
conceitos, resultados e, indubitavelmente, tentativas de soluções, uma vez que
todos possuem um único desejo: a preservação do bem estar dentro do convívio
social.
Primeiramente será apresentado os aspectos psicopatológicos dos
portadores de personalidade psicopática, mostrando a problemática de se
conceituar e diagnosticar esse transtorno.
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Após, enfocaremos os aspectos jurídicos, tratando da dificuldade da
imputar e responsabilizar o indivíduo por determinado fato.
Em seguida será feita a junção dos dois aspectos – Direito e
Psicopatologia – resultando na Psicopatologia Forense, e a partir daqui mostrar
como os portadores de personalidade psicopática criminosos são considerados
semi-imputáveis e como o Direito se utiliza da Psicopatologia para aplicar a
sanção penal.
E por último haverá a discussão da aplicação da Medida de Segurança
em substituição à Pena Privativa de Liberdade e da utilização dos laudos
médicos pelos magistrados.
Para finalizar haverá a conclusão, jurisprudências, entrevistas e
reportagens, esperando com isto ter conseguido alcançar a proposta inicialmente
estabelecida.
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CAPÍTULO I – GENERALIDADES
1. HISTÓRIA DO CONCEITO
A evolução dos conceitos sobre a personalidade psicopática
transcorreu, durante mais de um século, oscilando entre a bipolaridade orgânica-
psicológica, passando à transitar também sobre as tendências sociais e parece ter
aportado finalmente, numa idéia bio-psico-social que, senão a mais verdadeira,
ao menos a mais sensata.
Conceituar a personalidade psicopática, ou tão somente psicopata, é
algo que vem preocupando tanto a Psiquiatria como o Direito, evidentemente
essa preocupação contínua e perene existe porque sempre houve personalidades
anormais como parte da população geral.
O que houve primeiro foi a definição para a relação entre o crime e o
criminoso e aquelas pessoas que se entendiam pré dispostas para o crime, os
delinqüentes.
O estudo da evolução da Criminalidade realizado por Lombroso,
permite fixar o fio condutor desta ciência e as suas diretrizes atuais, além de
estabelecer as bases para novos progressos.
Lombroso ao efetuar estudos sobre o homem delinqüente, estabeleceu
um tipo particular de indivíduo, definido pelos seus caracteres físicos e
psíquicos e pela prática no crime, denominado: “Criminoso Nato”.
A obra de Lombroso foi continuada pela chamada “Escola de
Antropologia Criminal de Roma”, a qual remodelou o conceito do “Criminoso
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Nato”, definindo assim, a “Constituição Delinqüencial”, grupo biológico, com a
característica fundamental da predisposição ao delito, essência esta, de uma
personalidade, alcançando assim, o conceito comparável aos das personalidades
psicopáticas.
A “Escola de Graz” salienta a importância de dois fatores,
determinantes da vida psíquica de cada indivíduo: o terreno (constituição
biológica individual) e o ambiente. Admite uma tendência criminógena,
transmissível por hereditariedade, com disposições instintivas que levam
determinado indivíduo, mais facilmente do que outros, a entrar em conflitos com
as leis penais.
A concepção do “Criminoso Nato” de Lombroso e da “Constituição
Delinqüencial” da Escola de Antropologia Criminal de Roma refere-se a um tipo
peculiar de indivíduos, com características próprias, predispostas
especificamente para o crime.
Entre essa peculiaridade de indivíduos criminosos está a personalidade
psicopática. São “indivíduos fronteiriços” que se separam do grosso da
população em termos de comportamento, conduta moral e ética.
Girolano Cardamo, professor de Medicina da Universidade de Pavia,
retratou uma das primeiras descrições registradas pela Medicina sobre algum
comportamento que pudesse se identificar à idéia de personalidade psicopática.
Neste relato, Cardamo falou em “Improbidade”, quadro que não alcançava a
insanidade total, porque as pessoas que padeciam dessa “Improbidade”
mantinham a aptidão para dirigir sua vontade.
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Pablo Zacchias, considerado por alguns como fundador da Psiquiatria
Médico Legal, descreve, em Questões Médico Legais, as mais notáveis
concepções, as quais logo resultariam significado às “Psicopatias” e aos
“Transtornos de Personalidade”.
Em 1801, Philippe Pinel publica seu Tratado Médico Filosófico sobre
a Alienação Mental e descreve que os loucos em nenhum momento, sofrem de
um prejuízo de seu entendimento, e que estavam sempre dominados por uma
espécie de furor instintivo, como se o único dano fosse em suas faculdades
instintivas.
Prichard, em 1835, designou a expressão “Insanidade Moral”, para
caracterizar a conduta anti-social e a falta do senso ético de certos criminosos e
afirmava que existiam insanidades sem o comprometimento intelectual, mas
possivelmente com prejuízo afetivo e volitivo (da vontade); esta denominação
igualou-se ao atual conceito de psicopatia.
Em 1888, é definida pela primeira vez uma insanidade como
inferioridade psicopática, mas foi em 1896 que surgiu o termo “Personalidade
Psicopática”, esta designada por Kraepelin, o qual, trouxe átona o debate
científico, relacionando assim, anomalias ou transtornos psíquicos com o
cometimento do crime.
No ano de 1923, Kurt Schneider, em sua obra Personalidades
Psicopáticas define:1
“Personalidades psicopáticas são as anormais, que sofrem por sua
anormalidade ou fazem sofrer a sociedade”.
1 Kurt Schneider, Personalidades Psicopáticas, 1923
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Frase esta criticada por José Alves Garcia, em sua obra
Psicopatologia Forense, onde qualificou a definição de Kurt Schneider como
irrelevante. Pode-se destacar nelas certas características e propriedades que as
definem de maneira nada comparável aos sintomas de outras doenças.
A concepção de Schneider traz um certo determinismo, porque define
o psicopata, portador de uma personalidade estranha, separada de seu meio. A
psicopatia, portanto não é exógena, sua essência é constitucional e inata.
Schneider englobou no conceito de personalidade psicopática todos os
desvios da normalidade, não suficientes para serem considerados doenças
mentais francas, incluindo nesses tipos, também aquele que hoje se entende por
sociopata (psicopatia).
Muito mais tarde Mira y López conceitua a Personalidade
psicopática:2
“Personalidade mal estruturada, predisposta à desarmonia
intrapsíquica, que tem menos capacidade que a maioria dos membros
de sua idade, sexo e cultura para adaptar-se às exigências da vida
social”.
Em 1941, Cleckley escreveu um livro chamado “A Máscara da
Saúde”, o qual se referia a este tipo de criminosos. Em 1964 descreveu as
características mais freqüentes do que hoje é chamado de psicopata.
Na década de 60, Karpmam afirmou:3
2 Mira y López 3 Karpmam, 1961
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“Dentro dos psicopatas há dois grandes grupos; os depredadores e os
parasitas”.
Os depredadores são aqueles que tomam as coisas pela força e os
parasitas tomam-nas através da astúcia .
Outros autores, mais precisamente nas décadas de 60 e 70, foram
também definindo os traços característicos da psicopatia com termos tais como;
perturbações afetivas, perturbações do instinto, deficiência superegóica,
tendência a viver somente o presente, baixa tolerância e frustrações. Alguns
classificam esse transtorno como anomalias do caráter e da personalidade,
ressaltando sempre a impulsividade e a propensão para condutas anti-sociais.
2. CONCEITO ATUAL
As divergências, ainda hoje, existem, entre os que defendem a origem
desses desvios em certa predisposição constitucional, os que sustentam
encontrar a causa nas deficiências funcionais do cérebro e aqueles que admitem
que os desvios se originam em possíveis rejeições sofridas pela criança nos
primeiros anos de vida.
A personalidade está sujeita, entretanto, a transtornos em seu
desenvolvimento e em sua continuidade, quando se evidenciam as hipóteses dos
seus desdobramentos , como na identidade; quando ocorrem transtornos da
relação da pessoa com o mundo exterior; transtornos da percepção, como os
estados depressivos e obsessivos, enfim uma infinidade existente de desvios de
personalidade, com profundos reflexos em todo o comportamento do indivíduo
e, evidentemente, com suas conseqüências na esfera do mundo jurídico.
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O renomado Nélson Hungria define os psicopatas como:4
“Portadores de psicopatias a escala de transição entre psiquismo
normal e as psicoses funcionais. Seus portadores são uma mistura de
caracteres normais e caracteres patológicos. São os inferiorizados ou
degenerados psíquicos. Não se trata propriamente de doentes, mas de
indivíduos cuja constituição é “ab initio”, formada de modo diverso
da que corresponde ao “homo medius”.
No entanto, em meio a tantas definições, a discussão atualmente não
reflete só a preocupação de conceituar, mas sim a tentativa de buscar correlação
entre a criminalidade e esse tipo de transtorno de personalidade.
4 Nélson Hungria, Conferência realizada na Sociedade Brasileira de Criminologia, em 29/09/1942 (apud Heitor Piedade Júnior. Personalidade Psicopática, Semi-Imputabilidade e Medida de Segurança, p. 140).
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CAPÍTULO II – ASPECTOS PSICOPATOLÓGICOS
1. OS DISTÚRBIOS PSÍQUICOS
A Psicopatologia pesquisa sobre as doenças mentais, sua etiologia e
sua classificação.
Segundo Gerardo Vasconcelos5, as causas mais freqüentes dos
distúrbios mentais são: doenças em geral, endo-intoxicações, exo-intoxicações,
infecções, herança psíquica, crenças e superstições, causas psíquicas, causas
mecânicas, disposições individuais e fisiológicas.
Os psicopatas estariam dentro das causas psíquicas, que são traumas,
principalmente de causas emotivas, que em determinado momento
desencadeiam um quadro patológico grave; e também das disposições
individuais, que é a constituição, temperamento e caráter do indivíduo.
Ou seja, como já foi falado, os psicopatas teriam defeitos de base
constitucional e que ao longo de sua vida, fatores, como a impotência sexual,
potencializariam esses defeitos. Lembrando que são incapazes de aprender por
qualquer experiência vivida.
1.1. CLASSIFICAÇÃO
Adotaremos a classificação dada por Flamínio Favero6; que seguindo
os dispositivos legais, classificou os distúrbios psíquicos em: psicoses,
insuficiências mentais ou oligofrenias, personalidades psicopáticas e neuroses. 5Ob. cit. 6 Apud Gerardo Vasconcelos, ob. cit.
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As psicoses envolvem os distúrbios qualitativos, orgânicos (psicoses
endógenas e exógenas) e alguns psíquicos (desenvolvimentos delirantes);
enquanto as demais referem-se aos distúrbios quantitativos.
Os distúrbios qualitativos caracterizam-se pela alteração da qualidade,
com surgimento de “algo novo” na vida psíquica do paciente, como por
exemplo, vozes, pensamentos delirantes, visões.
Os distúrbios quantitativos caracterizam-se pelo aumento ou
diminuição de coisas consideradas normais até então; o que muda é a
quantidade, como por exemplo as reações de um psicopata de personalidade
explosiva, que bate na mulher porque esta não colocou o lixo para fora (há uma
extrema desproporcionalidade entre o estímulo e a reação), ou o oligofrênico
que não consegue ler, por pouca inteligência.
2. OS PSICOPATAS: CARACTERÍSTICAS
A personalidade traduz-se, na visão psicopatológica, na somatória das
tendências somatopsíquicas da constituição do indivíduo e do meio ambiente
com o qual interage. Daí cada um ter uma personalidade diferente.
Quanto às personalidades psicopáticas, estas são marcadas por
desajustamento social, tendências de reação às normas, sem acomodação ao
grupo, dificuldades de adaptação ao meio e de relações com os demais. São,
desta forma, parte integrante do indivíduo, precocemente reveladas, e constantes
em toda a sua existência. Caracterizada por perturbações constitucionais,
transtornos da afetividade, dos instintos, do temperamento e do caráter, vão se
intensificando com o desenvolvimento do indivíduo, tornando-se cada vez mais
marcadas. Revela-se, assim, num distúrbio da conduta.
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Mas para um melhor entendimento desses indivíduos estão elencados
abaixo os traços e características mais significantes:
Encanto Superficial e Manipulação: nem todos os psicopatas são
encantadores, mas é expressivo o grupo deles que utilizam o encanto pessoal e,
consequentemente capacidade de manipulação das pessoas, como meio de
sobrevivência social. O encanto, a sedução e a manipulação são fenômenos que
se sucedem no psicopata, partindo do princípio que somente será possível
manipular alguém se esse alguém foi antes seduzido;
Mentiras Sistemáticas e Comportamento Fantasioso: o psicopata
utiliza a mentira como uma “ferramenta de trabalho”. O psicopata não mente
circunstancialmente ou esporadicamente para conseguir safar-se de alguma
situação. É comum que o psicopata priorize algumas fantasias sobre
circunstâncias reais. Esse indivíduo pode converter-se no personagem que sua
imaginação cria como adequada para atuar no meio com sucesso, propondo a
todos a sensação de que estão, de fato, em frente a um personagem verdadeiro;
Ausência de Sentimentos Afetuosos: o criminoso psicopático não
manifesta nenhuma inclinação ou sensibilidade por laços sentimentais habituais
entre familiares. Além disso, eles têm grande dificuldade para entender os
sentimentos das outras pessoas. Na realidade são pessoas extremamente frias, do
ponto de vista emocional;
Amoralidade: os psicopatas são portadores de grande insensibilidade
moral, faltando-lhes totalmente juízo e consciência morais, bem como noção de
ética;
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Impulsividade: a ausência de sentimentos éticos e altruístas, unidos à
falta de sentimentos morais, impulsiona o psicopata a cometer brutalidades,
crueldades e crimes. Essa impulsividade reflete também um baixo limiar de
tolerância às frustrações, refletindo-se na desproporção entre estímulos e as
respostas, ou seja, respondendo de forma exagerada diante de estímulos
mínimos e triviais, contudo, demonstra uma absoluta falta de reação frente a
estímulos importantes;
Incorregibilidade: dificilmente ou nunca aceita os benefícios da
reeducação, da advertência e da correção;
Falta de Adaptação Social: desde os primeiros contatos, como por
exemplo, na escola, na família, no trabalho, é manifestada uma tendência
egocêntrica, logo, essa tendência se torna responsável pelas dificuldades de
sociabilidade;
A média da população de psicopata é de 1 a 4% em maior ou menor
escala. A maioria das pessoas com distúrbios da personalidade antisocial não é
criminosa e é capaz de se controlar dentro dos limites da tolerabilidade social.
Eles são considerados somente como "socialmente perniciosos", ou têm
personalidade odiosas.
Observação muito bem feita pelo neurologista Henrique Del Nero:7
“Sofrer desse distúrbio não significa necessariamente que a pessoa seja
ou se torne assassino.”
7 Henrique Del Nero, neurologista da USP, Superinteressante - abril
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2.1. CLASSIFICAÇÃO
Dentre as várias classificações de psicopatias, a de Kurt Schneider
inaugurou uma posição original, clássica e revolucionária na caracterização do
problema, estas classificações serão apresentadas a seguir:
1. Psicopatas Hipertímicos: indivíduos alegres, loquazes,
despreocupados, otimistas, superficiais em seu trabalho e inclinados a
escândalos e às desavenças conjugais. Propensos a cometerem crimes como
brigas, disputas, estelionatos, entre outros. Possuem sexualidade exaltada.
2. Psicopatas Depressivos: indivíduos tranqüilos,
melancólicos, permanentemente deprimidos e eternamente descontentes e
ressentidos, ligados a uma consideração pessimista da vida, iniciada, às vezes,
na juventude.
3. Psicopatas Anancásticos: inseguros, com ideação especial
dominada por uma ação coativa ou fóbica que surge de improviso por estímulos
desencadeantes insignificantes, às vezes, acompanhada por manifestações
subjetivas de exaltação, produtora de intenso sofrimento ao indivíduo, como por
exemplo, a possibilidade de matar o próprio filho. Alguns são sensitivos ou
escrupulosos morais.
4. Psicopatas Fanáticos: indivíduos dominados pelo elemento
expansivo e criativo que se aproximam da personalidade do paranóico. Possuem
um elevado sentimento de si mesmo, luta sempre por uma finalidade qualquer e
suas idéias são sempre prevalecentes ou supervaloradas. Querem impor sua
verdade ao mundo. Não procuram ajuda médica de forma alguma.
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5. Psicopatas Lábeis de Estado de ânimo: irritáveis com
extrema facilidade, seu estado de ânimo sofre oscilações imotivadas e
desproporcionais. São sempre impulsivos e cometem crimes tais como roubo e
abandono de trabalho.
6. Psicopatas Necessitados de Valorização: personalidade em
que a ideação se ressente da exaltação da fantasia que, junto com o relaxamento
de crítica, conduz à pseudologia fanática. Cometem agressões e estelionatos.
7. Psicopatas Explosivos: irritáveis e coléricos, podem cometer
homicídios e lesões corporais pelo menor estímulo externo. São acometidos por
amnésia no momento da contenda. Cometem atos de violência e crimes
passionais.
8. Psicopatas Abúlicos: caracterizam-se pelo enfraquecimento
da volição, da vontade. Por não possuírem vontade própria, são facilmente
influenciáveis, absorvendo os bons e os maus exemplos de seu meio.
Normalmente, envolvem-se com o crime através de jogos, roubos.
9. Psicopatas Astênicos: sensitivos, assustadiços, dominados
pelo sentimento de incapacidade e de inferioridade que, junto a qualquer
deficiência orgânica são acometidos de difuso sentimento de estranheza
comparável a alguns estados dissociativos. São os únicos que possuem aspectos
físico-corporais. Procuram com freqüência, ajuda médica. São cometedores de
suicídios reiteradamente.
10. Psicopatas Desalmados: sem sensibilidade ética, e em geral,
com embotamento afetivo, sem compaixão ou culpa, defeituosos morais,
inimigos da sociedade, com tendência à delinqüência.
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Segundo o jurista e criminólogo, Jason Albergaria, os psicopatas que
interessam à Criminologia são os tipos fundamentais, como por exemplo, os
Hipertímicos, que tendem à difamação, à indolência e à fraude; os Fanáticos
praticam o delito político; os Explosivos, os delitos contra a pessoa e os
Abúlicos cometem furtos, fraudes e apropriações indébitas.
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CAPÍTULO III – ASPECTOS JURÍDICOS
1. ELEMENTOS DO CRIME
Para uma ação humana ser considerada criminosa precisa
corresponder objetivamente à conduta descrita pela lei, contrariando a ordem
jurídica e incorrendo seu autor no juízo de censura ou reprovação social. Nesse
sentido que Noronha diz:8
“Considera-se delito como um ação típica, antijurídica e culpável.”
Isto quer dizer que para a norma penal os elementos do crime são a
Tipicidade, a Ilicitude e a Culpabilidade.
Tipicidade – O tipo é a descrição abstrata da ação proibida ou da ação
permitida. A ação, também chamada conduta, compreende o comportamento
humano, que pode ser comissivo ou omissivo.
Exprime elementos essenciais da ação descrita, como por exemplo, se
a ação é dolosa ou culposa. Abrange a ação com seus elementos objetivos e
subjetivos, o resultado e até o objeto, quando for o caso.
Ilicitude – Para que haja crime, exige-se que o fato material causado
seja lesivo de interesses protegidos. É protegido todo fato que a lei penal manda
fazer ou deixar de fazer sob pena de uma sanção. Uma ação pode ser típica, mas
não ser ilícita, logo, não é criminosa por falta de um de seus elementos.
8 E. Magalhães Noronha, Direito Penal: Introdução e Parte Geral, p.97
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Culpabilidade – Magalhães Noronha entende que culpabilidade é:9
“...a reprovação pela prática de um fato lesivo a um interesse
penalmente tutelado, que o agente quis ou a que deu causa por
negligência, imprudência ou imperícia...”
Já para Fragoso culpabilidade consiste na:10
“...reprovabilidade da conduta ilícita (típica e antijurídica) de quem
tem capacidade genérica de entender e querer (imputabilidade) e
podia, nas circunstâncias em que o fato ocorre, conhecer a sua
ilicitude, sendo-lhe exigível comportamento que se ajuste ao
direito...”
Ou seja, é o nexo subjetivo que liga o crime ao seu autor, revestindo,
no Direito Penal, as formas de dolo e culpa. Dentro da culpabilidade existem os
seguintes elementos: Imputabilidade, Possibilidade de Consciência do Injusto e
Exigibilidade de Conduta conforme o Direito. Para o estudo em questão merece
especial atenção a Imputabilidade, estudada no item a seguir.
A culpabilidade possui a finalidade de aferir a capacidade de delinqüir
do agente, então se faz necessário o exame da intensidade do dolo e o grau de
culpa. A razão pela qual a vontade se determina é um outro requisito importante
para determinar a periculosidade individual. Lembrando que tudo isso deverá ser
muito bem analisado no momento da aplicação da sanção.
9 E. Magalhães Noronha, Culpabilidade e Periculosidade, p.59
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2. RESPONSABILIDADE E IMPUTABILIDADE
Responsabilidade e imputabilidade são dois termos que não se
desagregam, e a proximidade de sentido é tamanha que pode ser observada até
mesmo no Código Penal, na denominação do seu Título III, da Parte Geral. O
Código atual, após a reforma de 1984, trata da imputabilidade nos artigos 26 a
28, enquanto no Código anterior à reforma tratava da responsabilidade nos
artigos 22 a 24.
Nas opiniões de dois juristas conhecidos há divergências, para
Magalhães Noronha, responsabilidade e a imputabilidade são sinônimos, no
entanto para Damásio11:
“...imputabilidade e responsabilidade não se confundem...”
Mas, como dito acima, esses dois termos caminham juntos, sendo a
imputabilidade um pressuposto, e a responsabilidade uma conseqüência, enfim,
podemos dizer que a imputabilidade é a capacidade de poder ser
responsabilizado pelo ato.
2.1. CONCEITO DE RESPONSABILIDADE PENAL
A responsabilidade diz respeito à possibilidade jurídica, portanto será
decretada ou não pela justiça e deverá ser analisada cada caso.
Segundo Magalhães Noronha, em seu livro Direito Penal, parte geral,
a responsabilidade seria um dever de prestar contas, como descrito abaixo :12
10 Heleno Cláudio Fragoso, Lições de Direito Penal, p.196 11 Damásio E. de Jesus, Direito Penal, p.410 12 E. Magalhães Noronha, Direito Penal, pg. 161
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“...responsabilidade penal é a obrigação que alguém tem de arcar
com as conseqüências jurídicas do crime. É o dever que tem a pessoa
de prestar contas de seu ato. Ela depende da imputabilidade do
indivíduo, pois não pode sofrer as conseqüências do fato criminoso
(ser responsabilizado) senão o que tem a consciência de sua
antijuridicidade e quer executá-lo...”
A responsabilidade penal implica, então em atribuir certo ato
considerado como crime a um indivíduo, que somente sofrerá a punição
adequada a sua ação se tiver capacidade ( condições psíquicas, intelecto-
volitivas) de entender o caráter ilícito do ato praticado.
2.2. CONCEITO DE IMPUTABILIDADE PENAL
O termo imputar, vem do latim “imputare”, que significa atribuir a
alguém responsabilidade de algo.13
No Código Penal não há um definição do que é imputabilidade, mas,
prevê no artigo 26 as condições em que são possíveis o seu reconhecimento.
Para Magalhães Noronha a imputabilidade é como:14
“...o conjunto de requisitos pessoais que conferem ao indivíduo
capacidade, para que, juridicamente, lhe possa ser atribuído um fato
delituoso...”
Desta forma, a imputabilidade diz respeito à capacidade do indivíduo
ter um juízo de reprovação em relação a conduta criminosa, que possa entender
13 De Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, V.02, p.802 14 E. Magalhães Noronha, Direito Penal, p.161
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a ilicitude do ato e de determinar-se de acordo com esse entendimento, em
linhas gerais é a capacidade de ter consciência se seu ato foi bom ou mau.
2.2.1. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
Existem três critérios de avaliação da capacidade penal do indivíduo,
o método biológico, o método psicológico, e o método biopsicológico. O
critério adotado pela Legislação Brasileira é o critério que une os dois primeiros:
o biopsicológico.
- Método biológico: sem levar em consideração investigações
minuciosas, o agente que possui uma enfermidade mental ou desenvolvimento
mental deficiente, e ainda, perturbação transitória da mente, ser sempre
considerado inimputável.
- Método psicológico: neste leva-se em consideração apenas as
condições psíquicas do agente no momento do fato, sem se preocupar com
existência de doença mental ou qualquer distúrbio psíquico.
- Método biopsicológico: é a união dos métodos acima mencionados,
primeiramente verifica-se se o agente é doente mental ou tem desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, e se no momento da ação era incapaz de
entendimento ou autodeterminação, ou seja é necessário uma relação de causa-
conseqüência. De qualquer forma, deve o agente ser submetido ao exame de
sanidade mental.
No que se refere aos portadores de personalidade psicopática, que são
os fronteiriços entre a sanidade psíquica e a doença mental (incapacidade
intelectiva e volitiva plena) haverá maiores explicações no próximo capítulo.
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CAPÍTULO IV – ASPECTOS DA PSICOPATOLOGIA FORENSE
1. CONDUTA CRIMINOSA DOS PSICOPATAS
A psicopatia é reconhecida precocemente em um indivíduo: ela
começa na infância ou adolescência e continua na vida adulta (o diagnóstico é
possível em torno de 15 a 16 anos). Crianças psicopatas manifestam tendências
e comportamentos que são altamente indicativos de seu distúrbio. Por exemplo,
eles são aparentemente imunes a punição dos pais, e não são afetados pela dor.
Nada funciona para alterar seu comportamento indesejável, e consequentemente
os pais geralmente desistem, o que faz a situação piorar. Os mais violentos
mostram uma história de torturar pequenos animais quando eles eram crianças e
também vandalismo, mentiras sistemáticas, roubo, agressão aos colegas da
escola e desafio à autoridade dos pais e professores.
No entanto, como já foi dito anteriormente apenas uma pequena fração
dos psicopatas se desenvolve em criminosos violentos, como estupradores e
assassinos .
Os criminosos psicopatas praticam crimes , via de regra, por impulsos
irresistíveis. São comuns nesses indivíduos, os atos incendiários, a perversão
sexual, a mitomania, o cinismo, o homicídio, etc. No momento da ação ele se
encontra desprovido de emoção, e mesmo depois não sente culpa, não há
angústia ou conflito interno. A história registra casos de psicopatas que se
tornaram celebridades. Um psicopata clássico foi Donatien-Alphonse-François
de Sade (1740-1814), um nobre francês cuja preferências sexuais perversas e
novelas (tais como Justine) originaram o termo sadismo; outro foi o do pintor
italiano Michelangelo Merisi, o Caravaggio (1571-1610). Ele morreu, aos 39
anos, após uma atribulada vida de desajustes e crimes – além, claro, de uma das
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mais importantes obras legadas à história da arte. No livro Loucos Egrégios, o
médico Juan Antonio Vallejo-Nágera apontou vários indícios de que a obra de
Caravaggio teria sido influenciada por seu comportamento anti-social. Ele
chamou a atenção para alguns detalhes macabros da obra de Caravaggio. No
quadro O Sacrifício de Isaac, observa a expressão fria do ancião enquanto este
se prepara para sacrificar o próprio filho.
Na opinião do pesquisador canadense Robert Hare, os criminosos
psicopatas:15
“...são predadores intra-espécie que usam charme, manipulação,
intimidação e violência para controlar os outros e para satisfazer
suas próprias necessidades. Em sua falta de consciência e de
sentimento pelos outros, eles tomam friamente aquilo que querem,
violando as normas sociais sem o menor senso de culpa ou
arrependimento.
Os crimes cometidos por criminosos psicopatas mais violentos
apresentam, pelo menos: multiplicidade de golpes, ausência de motivos
plausíveis, ferocidade na execução, ausência de premeditação, instantaneidade
na ação, falta de remorso.
Entretanto, já é consenso entre os autores que o psicopata pode entrar
em estado de estreitamento de consciência e, nesse estado, praticar os mais
cruéis delitos, cujos atos, às vezes bem ordenados, podem até ser premeditados,
mas é uma premeditação mórbida, doentia.
E esses casos acabam causando polêmicas jurídicas, mormente
quando, em vez da explosão momentânea, há premeditação e, posteriormente ao
crime, condutas dissimuladoras, com ocultação do cadáver e fuga do criminoso,
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o que muitas vezes confunde autoridades, podendo parecer uma pessoa
mentalmente normal. Exemplo disso são os assassinos em série, que
premeditam, matam e despistam as autoridades.
Aliás, o exemplo citado cima, o assassino em série ou serial (Serial
Killer) é um tipo especial de portador de personalidade psicopática, de extrema
periculosidade e incorrigível.
2. RELAÇÃO DIREITO E PSICOPATOLOGIA
Após falarmos sobre as duas áreas de conhecimento podemos agora
traçar um paralelo entre ambas, considerando diferenças e semelhanças que
apresentam ao tratarem do doente mental; sobre aquilo que a Psicopatologia
entende por doente mental e como o Código Penal o utiliza.
Os distúrbios psíquicos se dividem em:
1. qualitativos:
a) orgânicos:
- causa conhecida : psicoses exógenas ou sintomáticas, por exemplo,
infecção que causa alteração cerebral, diabetes, medicamentos, etc.
- causa desconhecida: psicoses endógenas (são geneticamente
determinadas e não têm cura); por exemplo, esquizofrenia, PMD,
psicose epiléptica, etc.
b) psíquicos
- desenvolvimentos delirantes
15 Robert Hare, pesquisador e especialista canadense em sociopatia criminosa
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2. quantitativos:
- personalidade psicopática;
- desenvolvimento neurótico ou simples;
- oligofrenia
Para a Psicopatologia estes são distúrbios psíquicos e como tais
necessitam de especial atenção e tratamento adequado, pois enquanto distúrbios
traduzem-se em anormalidade.
O Código Penal, por sua vez, embora se apoiando na Psicopatologia,
adotou critérios rígidos na consideração dos distúrbios psíquicos para a
aplicação da pena. Procurou dividi-los em 4 (quatro) aspectos distintos: “doença
mental”, desenvolvimento mental incompleto”, “desenvolvimento mental
retardado” e “perturbação da saúde mental”.
3. PERTUBAÇÃO DA SAÚDE MENTAL: CAPACIDADE DE
IMPUTAÇÃO DO PSICOPATA
Como já foi dito anteriormente, a lei reputa, para os efeitos da
responsabilidade penal e da capacidade civil, que o indivíduo possua saúde
mental e maturidade psíquica; isto para que tenha discernimento do certo e do
errado no tocante de suas ações e omissões, que vem a ser imputabilidade.
A norma que trata da imposição da imputabilidade se faz presente no
artigo 26 da parte geral do Código Penal, o caput torna inimputáveis
determinados casos patológicos e o parágrafo único traz outros casos que são
semi-imputáveis.
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“É isento de pena o agente que, por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
agente em virtude de perturbação de saúde mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.”
De suma importância para este trabalho é a análise do parágrafo único,
pois contém uma causa especial de diminuição da pena, em face da diminuição
da responsabilidade, embora persista a culpabilidade.
Conforme o artigo terá reduzida a pena dos agentes que no momento
da ação ou omissão não eram inteiramente capazes de entender a ilicitude do ato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, mas somente nos casos
de desenvolvimento mental incompleto ou retardardo, e de perturbações da
saúde mental.
Desses somente nos interessa as perturbações da saúde mental, que é o
termo jurídico que abriga os indivíduos que estão entre o campo da doença
mental e da normalidade, os chamados fronteiriços ou border-line. São eles: a
personalidade psicopática (objeto de estudo), o débil mental leve, o
desenvolvimento simples e alguns casos o neurótico e o início e fim de psicoses
(mais raro).
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Assim, os portadores de personalidades psicopáticas são considerados
semi-imputáveis, pois apesar de entenderem o caráter ilícito da ação, não são
capazes de controlar seus atos.
No entanto, não se pode esquecer que o julgamento dos termos da
responsabilidade compete à ação do juiz, que tendo dúvidas quanto ao
desenvolvimento mental do acusado deve nomear um perito (o delegado, o
Ministério Público, os familiares ou representante do acusado também podem
requerer a instauração do incidente de insanidade mental) que atestará de forma
clara esse aspecto, pois a existência da incapacidade de imputação é uma
circunstância preliminar e imprescindível para a melhor e mais correta
interpretação causal dos fatos, e posteriormente na aplicação das penas.
3.1. SANÇÃO PENAL CABÍVEL
Como foi visto, verificou-se que os criminosos psicopatas estão
dispostos no artigo 26, parágrafo único, do Código Penal, pois estão
enquadrados no termo “Perturbação Mental”, isto é, possuem capacidade de
entendimento em relação ao cometimento da ação criminosa, entretanto, têm
uma perturbação de conduta que lhes tiram o controle, não ocorre a chamada,
excludente de culpabilidade, todavia a responsabilidade é reconhecida de forma
diminuída, no tocante à sua intensidade.
Sendo assim, o juiz proferirá uma sentença condenatória, prevista nos
termos do Artigo 387 do Código de Processo Penal.16 E terá a opção de aplicar
16 Artigo 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: I – mencionará as circunstâncias agravantes ou atenuantes definidas no Código Penal, e cuja existência reconhecer; II – mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo com o disposto nos arts. 42 e 43 do Código Penal;
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pena reduzida de um a dois terços. Segundo o artigo a atenuação é facultativa,
mas há decisões também no sentido de ser obrigatória, como para Paulo José da
Costa Júnior:17 “...preferimos, entretanto, sustentar que o poder, referido na norma,
significa dever. A faculdade do magistrado está em dosara
redução...”
Ou necessitando o condenado de especial tratamento essa pena poderá
ser substituída por internação ou tratamento ambulatorial, regra prevista no
artigo 98 do Código Penal:
“ Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e
necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena
privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou
tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos,
nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1º a 4º.”
Essa alternativa imposta no artigo 98 demonstra a reforma penal de
1994, a qual trouxe a substituição da aplicação aos semi-imputáveis e
imputáveis do “sistema vicariante” e não mais do duplo binário (pena + medida
de segurança), em que se pode aplicar somente pena ou medida de segurança
para os semi-imputáveis e unicamente a pena para os imputáveis.
III – aplicará as penas, de acordo com essas conclusões, fixando a quantidade das principais e, se for o caso, a duração das acessórias; IV – declarará, se presente, a periculosidade real e imporá as medidas de segurança que no caso couberem; V – atenderá quanto à aplicação provisória de interdições de direitos e medidas de segurança, ao disposto no Título XI deste Livro; VI – determinará se a sentença deverá ser publicada na íntegra ou em resumo e designará o jornal em que será feita a publicação (art. 73, § 1º, do Código Penal). 17 Paulo J. C. Júnior, Direito Penal-curso completo, p.96
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3.1.1. PENA E MEDIDA DE SEGURANÇA
Pena é a conseqüência jurídica decorrente de uma violação do tipo
penal, considerada assim como sanção penal, e a medida de segurança?
Segundo Damásio18:
“...enquanto a pena é retributiva-preventiva, tendendo a readaptar
socialmente o delinqüente, a medida de segurança possui natureza
essencialmente preventiva, visto que evita que um sujeito que praticou
um crime e se mostra perigoso venha cometer novas infrações
penais.”
Além disso, diz que as penas são proporcionais à gravidade da
infração, enquanto a proporcionalidade das medidas de segurança é estabelecida
de acordo com a periculosidade do sujeito e que a imposição das penas
pressupõe prática de um crime, enquanto as medidas de segurança podem ser
aplicadas aos autores de quase-crimes ( não é o entendimento que vigora em
nossa legislação).
Já para Noronha19
“...na pena prevalece o cunho repressivo, ao passo que na medida de
segurança predomina o fim preventivo; porém, como já fez sentir, a
prevenção também não é estranha à pena.”
Ao contrário do que leciona Damásio, para Noronha, Mirabete, entre
outros ambas pressupõem a prática de ato ilícito e manifestam o “jus puniendi”
18 Damásio E. de JESUS, Direito Penal : Parte Geral, v. 01, p. 475. 19 E. Magalhães NORONHA, Direito Penal : Introdução e Parte Geral, V.01, p. 312.
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estatal, colimando que o indivíduo que delinqüiu e se revelou perigoso não torne
a delinqüir.
Conforme Grispigni, tanto a medida de segurança quanto a pena são
espécies de sanções penais que apresentam traços comuns : 20
“ambas importam diminuição de bens jurídicos; baseiam-se as duas na
existência de um crime; servem para intimidação em massa como para
readaptação do delinqüente e ambas são aplicadas jurisdicionalmente.”
3.1.2. PRESSUPOSTOS PARA A APLICAÇÃO, IMPOSIÇÃO E
ESPÉCIES DA MEDIDA DE SEGURANÇA
O Código Penal adota a medida de segurança pós delitual, ou seja é
necessário que tenha havido um fato criminoso. Além disto, é também
necessário que haja periculosidade do autor.
Periculosidade é 21:
“...a potência, a capacidade, a aptidão ou a idoneidade que um homem
tem para converter-se em causa de ações danosas.”
O prazo para cumprimento da medida de segurança é indeterminado,
enquanto a perícia médica não constatar a cessação da periculosidade (§ 1º do
artigo 97 do Código Penal). Para isso, necessário se faz a realização de um
exame após o prazo mínimo de três anos (artigo 97, §§ 1º e 2º, CP).
20 Filipo Grispigni, Le problème de l’unifiction de la peine et des mesures de sûreté, in Scuola Positiva, p. 434 21 Soler, Exposición y critica del estado peligroso, p. 21
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Para desinternação a extinção da medida de segurança só ocorrerá,
após um ano (prazo indicativo das condições para o livramento condicional; se
não praticar fato indicativo de persistência de sua periculosidade (C.P., art. 97, §
3º). Se solto, a medida de segurança se extingue com a extinção da punibilidade.
Quanto as espécies de medidas de segurança são a detentiva e a
restritiva. A primeira consiste na internação em hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico, enquanto a segunda resulta de tratamento ambulatorial.
3.1.3. PSICOPATA: QUAL A SANÇÃO IDEAL?
O criminoso portador de personalidade psicopática, além do alto grau
de periculosidade, é de difícil corrigibilidade, portanto o tratamento ambulatorial
é praticamente nulo, primeiramente, porque não possui uma patologia e em
segundo lugar, esses criminosos não possuem a mínima possibilidade de
ressocialização.
Sendo assim, é recomendável a análise profunda da personalidade do
agente, por parte do perito, para no momento do julgamento o juiz aproveitá-la,
pois a pena está totalmente descartada pelo seu caráter inadequado em relação à
punição e prevenção desses criminosos. A prisão poderá resultar em um fato
evasivo, e, posteriormente, eclodir em fugas lideradas pelo mesmo.
No caso, do portador de personalidade psicopática o ideal é o
cumprimento de medida de segurança, mesmo sendo, computada em um prazo
de um a três anos, porque é difícil ou praticamente impossível, a cessação de
periculosidade ser extinta, ao ser realizada pelo perito.
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Nestes casos substituição da pena pela medida de segurança, esta será
cumprida no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, como dispõe o
artigo 99 da Lei 7210, de 11 de Julho de 1984:
“O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico destina-se aos
inimputáveis e semi-imputáveis referidos no art. 26 e seu parágrafo
único do Código Penal.
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CAPÍTULO IV – CRIMINOSOS EM SÉRIE
Os criminosos em série, também conhecidos por seu nome em inglês,
serial killer´s, geralmente são psicopatas muito violentos, há casos também de
doentes mentais, mas são raros. E como o próprio nome diz, são criminosos que
matam em seqüência, quase sempre da mesma forma e que escolhem
determinadas vítimas de acordo com sua fantasia.
Algumas características são próprias dos criminosos em série, como o
grande prazer de demonstrarem que possuem poder sobre os outros. Donos de
um enorme sadismo, sentem prazer em assistir o sofrimento alheio, e não sentem
remorso por isso. Grande parte deles não assume seus crimes, confessando,
somente, através de pequenos deslizes movidos pela vontade de reviver o
momento do crime, pois são muito dissimulados. Tendem a cometer crimes de
natureza sexual.
Há também uma curiosidade em relação a esses criminosos, existe
uma incidência muito pequena de assassinas mulheres e negros, mas não existe
explicações do porquê isto ocorre.
São eles, os criminosos em série, que tem grande exposição na mídia e
acabam ficando na história. Aqui no Brasil tivemos, o caso do “Chico
Picadinho”, do “Bandido da Luz Vermelha”, do “Maníaco do Parque”, entre
outros.
Estatísticas feitas por investigadores norte-americanos:22
82 % dos serial killer´s sofreram abusos na infância
22 Fontes: FBI, John Douglas e Ncjd (National Archive of Criminal Justice Data)
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5% dos serial killer´s mentalmente doentes no momento dos crimes
35 a 500 é o número de serial killer´s soltos
93% dos serial killer´s são homens
65% das vítimas são mulheres
75% dos serial killer´s conhecidos no mundo estão nos Estados Unidos
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CAPÍTULO V – DECISÕES JUDICIAIS VERSUS LAUDOS MÉDICOS
Existe no Brasil um descaso dos juizes com relação aos laudos
elaborados pelos médicos-peritos, no momento de sua decisão. Fala-se que os
médicos resolvem as questões, os juizes decidem as soluções, entretanto, não é
que temos visto, como por exemplo, no caso do “Chico Picadinho” e do
Maníaco do Parque, em que os médicos deram o diagnóstico, mas a Justiça não
o aceitou, em sua decisão.
Vejamos por exemplo a opinião de Fragoso com relação a
Psiquiatria23:
“É um ramo da medicina muito subjetivo, onde tudo são hipóteses,
conjecturas, inferências sem base na realidade, falsificações para o
encalço de fantasias, deixando apenas de manifesto a persistente
indemonstrabilidade das pretendidas causas genéticas do crime.”
No entanto verificamos que a Psiquiatria possui critérios de
avaliação que o juiz não levaria em conta no julgamento do criminoso,
verificando a ocorrência de alterações de comportamento consideradas
anormais, mas que para o juiz seriam normais.
O que ocorre na realidade é que ao mesmo tempo que a lei possibilita
que a justiça chame um perito para elaborar um laudo sobre as funções psíquicas
do acusado, com o fim específico de atribuir-lhe ou não capacidade de
imputação acerca do crime praticado, a mesma lei também permite que o juiz
decida a causa sem que esteja adstrito ao laudo apresentado pelo perito.
23 Heleno Cláudio FRAGOSO, Lições de direito penal : Parte Geral, p. 349.
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E esse juiz influenciado pela sociedade, que infelizmente é aguçada
pelos meios de comunicação, não leva em conta o laudo médico e aplica a pena
privativa de liberdade; principalmente nos casos de psicopatas violentos, que
tem uma grande exposição na mídia.
Dificilmente a sociedade aceitaria a decisão de um juiz que absolveu
um psicopata que estuprou e matou brutalmente suas vítimas, pois como
sabemos, para a aplicação da Medida de Segurança é necessário primeiro a
absolvição perante o Tribunal do Júri. Para a sociedade o psicopata estaria
ficando impune.
Em suma, é evidente que o juiz não deverá sempre aceitar o laudos
apresentados pelos peritos, tendo em vista que a prática também tem nos
mostrado a existência de médicos que atestam uma disfunção psíquica que não
existe para que o criminoso seja considerado inimputável ou semi-imputável
pelo Poder Judiciário. Todavia, deve existir um meio termo na conduta do juiz
que infelizmente, nos dias atuais, tem se mostrado bastante radical ao
desconsiderar laudos bem elaborados e adstritos a ética profissional.
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CONCLUSÃO
A personalidade psicopática sofre do chamado transtorno de
personalidade, que traz como conseqüência direta um desregramento de
conduta, a qual determina a perda dos sentimentos éticos. Portanto de acordo
com a legislação, a capacidade de imputação em relação ao cometimento de
crime é de semi-responsabilidade, porque o criminoso psicopata identifica a
conduta delituosa, mas não possui total responsabilidade sobre seus atos, pois
está conduzido por impulsos advindos de sua malgrada personalidade.
Assim, através da reforma de 1984, quando se criou o sistema vicariante,
o semi-imputável poderá receber pena reduzida de um a dois terços ou no caso
de necessidade de um tratamento ambulatorial, substitui-se pela medida de
segurança.
Primeiro, com relação ao tratamento ambulatorial, é praticamente nulo,
nesses casos, pois o fronteiriço não possui patologia e sim, um transtorno de
personalidade e a aplicação de uma pena é extremamente perigosa e inadequada.
Perigosa, pois o nosso sistema penitenciário é caótico, ultrapassado e
comprometido.
Assistindo à televisão ou lendo os jornais, quase que diariamente,
deparamo-nos com notícias de rebeliões em presídios, devido à superpopulação
carcerária, à falta de cumprimento de benefícios já adquiridos e assim por
diante.
E inadequada, pois o criminoso fronteiriço não possui chance, mesmo
que por uma imposição normativa, de retornar à sociedade. A reincidência entre
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esses criminosos é elevadíssima, podendo cometer assassinatos em série e com
certa premeditação, razão pela qual, esses indivíduos constituem um problema
muito sério, não só para o Sistema Penal, como para todos os segmentos da
sociedade.
O ideal para esses casos seria o cumprimento da medida de segurança,
porque, não haveria redução da pena, mas sim, um prolongamento por tempo
indeterminado, o qual, se prolongaria pela realização do exame de cessação de
periculosidade, o que provavelmente jamais aconteceria.
Mas, o nosso grande problema diz respeito a substituição da pena pela
medida de segurança dessa medida, um vez que dificilmente o juiz leva em
conta o laudo médico realizado no acusado.
No entanto devemos lembrar que é através do diagnóstico do perito
que o juiz terá condições de formar o seu convencimento. Não significa dizer
que este ficará vinculado ao diagnóstico, mas que certamente será de grande
valia na hora da decisão. Daí a responsabilidade na sua elaboração, devendo
serem refutadas, de ambas as partes, as posições tendenciosas, que, por vezes,
são fruto de influências da sociedade, da imprensa ou dos próprios órgãos
públicos encarregados da manutenção da justiça e da ordem social,
principalmente nos casos de grandes repercussões na sociedade como nos casos
de assassinos em série.
Tudo isto se deve ao desconhecimento do assunto, que pode ser
facilmente verificado quando a mídia veicula notícias sobre crimes praticados
com demasiada violência, levando a população e até profissionais da saúde
mental a um juízo associativo entre psicopatia e anos de prisão. Claro que
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representam um perigo para a sociedade, porém na verdade precisam serem
isolados e estudados.
Outro ponto a ser falado é a situação dos Hospitais de Custódia e
Tratamento Psiquiátrico, apareceu nos jornais a alguns anos atrás no Estado de
Goiás, um juiz que estava mandando os internos para casa, diante das péssimas
condições do Hospitais de Custódia Tratamento Psiquiátrico e daquela região,
chegando ao ponto dos parentes pedirem ao Juiz que encontrasse outra solução,
pois tinham medo, diante do perigo que oferecia o doente liberado.
Assim como acontece outros casos piores, como presos colocados em
liberdade após o transcurso do prazo máximo de prisão (“Bandido da luz
vermelha”); na iminência de ser solto, também pelo cumprimento máximo de
prisão (“Chico picadinho”), só não o sendo diante de pedido de interdição
perante a Justiça Cível. Tudo isso se deve pela própria abertura dada pelo
Código Penal às medidas de segurança (artigo 99 do Código Penal).
Mas a verdade é que não é novidade dizer que o sistema
prisional necessita melhorias, tanto nos presídios, como nos Hospitais de
Custódia e Tratamento Psiquiátrico. Todavia, não podemos relegar à Justiça toda
a responsabilidade sobre a questão, esta, sobretudo, decorre do Estado como um
todo, especificamente ao Poder Legislativo, pois ao Poder Judiciário cabe a
aplicação da lei, lei esta elaborada por aquele, e ao Poder Executivo fazer
cumprir as decisões do Judiciário.
Através deste trabalho podemos constatar que o psicopata, embora
entenda o caráter ilícito de suas ações, não possui freios para não cometê-las, e
que isso acontece devido um desvio de personalidade que vai além de sua
pessoa.
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Portanto não há como acreditar que a medida de segurança não deva
substituir a pena privativa de liberdade, ainda que reduzida, porque só através
dela é que se poderá deter um psicopata, uma vez que não aprendem com
experiências, nem punições, pois são incorrigíveis.
Então de suma importância se faz, que o estudioso do Direito tenha
conhecimentos na área da Psiquiatria Forense, pois, só assim terá condições de
poder avaliar se um diagnóstico é confiável ou se há necessidade de se consultar
outro profissional, e assim constatar se deve aplicar a medida de segurança.
Por fim , requeremos que, em nome da defesa social, os criminosos
portadores de personalidades psicopáticas sejam submetidos a um eficaz
sistema de medida de segurança (medida de segurança com caráter até de
“medida perpétua”, se um dia for possível, e quando for o caso), pois a presença
dos criminosos psicopáticos no convívio social é nociva, inconveniente e
perigosa. Não visando somente uma preocupação com moldes idealizadores para
esses indivíduos, mas sim, a preocupação de completar estudos benéficos à
Ciência Penal, Criminológica, Psiquiátrica, Social e, indubitavelmente a
segurança da sociedade.
Personalidade Psicopática – implicações forenses e médico-legais – Sabrina Veríssimo Pinheiro Nunes ___________________________________________________________________________________
JURISPRUDÊNCIA
“A personalidade psicopática não se inclui na categoria das moléstias
mentais, acarretadoras da irresponsabilidade do agente. Inscreve-se no elenco
das perturbações da saúde mental, em sentido estrito, determinantes da redução
de pena”. RT 462/409 - TJMT – Ap. Crim. – Relator Des. Costa Lima.
“Personalidade psicopática não significa, necessariamente, que o
agente sofre de moléstia mental, embora o coloque na região fronteiriça
transição entre o psiquismo normal e as psicoses funcionais”. RT 495/304 –
TJSP – Ap. Crim. – Relator Des. Adriano Marrey.
“A personalidade psicopática se revela pelas perturbações da conduta
e não como enfermidade psíquica. Destarte, embora não enfermo mental, é o
indivíduo portador de anomalia psíquica, que se manifestou quando do seu
procedimento violento, ao cometer o crime, justificando, de um lado, a redução
da pena, dada a sua semi-responsabilidade; e de outro, a imposição, por
imperativo legal, da medida de segurança”. RT 442/412 – TJSP – Rev. Crim. –
Relator Des. Adriano Marrey.
Semi-imputabilidade – Réu com perturbação de saúde mental –
Ocorrência – Redução obrigatória da pena – Inteligência do parágrafo único do
artigo 26 do Código Penal – Pedido deferido na espécie. (Revisão Criminal n.
221.301-3 – São Vicente – 3º Grupo de Câmaras Criminais – Relator: Djalma
Lofrano – 06.11.97 – V.U.).
“A diminuição da pena, prevista neste parágrafo, é obrigatória e não
facultativa (STJ,Resp 10.476, DJU 23.9.91, p. 13090; TJSP, RJTJSP 103;453;
contra: STJ, RT 655/366).”
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“A redução da pena pode ser aplicada de acordo com o vulto da
deficiência mental do réu (TJSP, mv, RT 599/312), ou, ainda, em função da
gravidade do fato e da capacidade de delinquir demonstrada (TJSP, RT
645/266). Se o juiz apenas a diminui de um e não de dois terços, fica obrigado a
motivar essa decisão (TACrSP, Julgados 67/56).”
Medida de Segurança – Internação em Hospital Psiquiátrico –
Cumprimento na própria cadeia pública local, por falta de vaga em
estabelecimento adequado – Inadmissibilidade – Constrangimento ilegal
configurado – Concessão de “Habeas Corpus” – Liberdade condicionada a
tratamento em ambulatório.
Ementa da Redação: O Estado só poderá exigir o cumprimento de
medida de segurança de internação (detentiva, portanto), se estiver aparelhado
para tanto. A imprevidência do Estado-Administração, não justifica o
desrespeito ao direito individual, pois, além de ilegal, não legítima a finalidade
de tal instituto. RT 612/303 – HC 41.405-3 – Santos – 4ª C. – j. 4.11.85 –
Relator. Des. Renato Talll – v. u.
Medida de Segurança – Semi-imputável – Internação em Hospital de
Custódia e Tratamento Psiquiátrico pelo prazo mínimo de um ano – Redução
pretendida – Inadmissibilidade – Apelação improvida – Inteligência e aplicação
dos arts. 26 parágrafo único, 61, II, “e”, 97, § 1º, e 98 do Código Penal.
Ementa da Redação: A medida de segurança imposta a acusado com
responsabilidade diminuída é executada, em princípio, por tempo
indeterminado, fixado apenas o prazo mínimo. Perdurará enquanto não for
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averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. RT 612/303
– Ap. 46.250-3 – 1ª C. – j. 1.9.86 – Relator. Des. Jarbas Mazzoni.
Medida de Segurança – Inaplicabilidade do prazo máximo de 30 anos
para o cumprimento de pena previsto constitucionalmente – Internação que pode
prolongar-se indefinidamente se não constatada a cessação da periculosidade do
agente.
Ementa da Redação: O prazo máximo de 30 anos para o cumprimento
de pena prevista constitucionalmente não se aplica à medida de segurança, pois
a internação pode prolongar-se indefinidamente se não constatada a cessação de
periculosidade do agente. Ag em Execução Penal 260.868-3/9 – 2ª Câm. – j.
09.11.1998 – rel. Des. Egydio de Carvalho.
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ANEXOS
A – LAUDO MÉDICO
JUÍZO DE DIREITO DA ggg VARA DO JÚRI PROCESSO CRIME N.º dddd/ff INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL RÉU : F. DE A. P.
Os abaixo assinados “H”, “R” peritos nomeados e compromissados nos Autos em epígrafe, após a conclusão dos trabalhos periciais vem à presença de Vossa Excelência apresentar os resultados à que chegaram. I - IDENTIFICAÇÃO “F”, do sexo masculino, branco, nascido aos 29/11/67, natural de São José do Rio Preto/SP. Filho de “N” e “M”. Estado civil: solteiro. Profissão: moto-boy. Atualmente recolhido à Casa de Custódia e Tratamento “ Dr. Arnaldo Amado Ferreira” de Taubaté/SP. Portador da Cédula de Identidade RG XX.XXX.XXX SSP/SP. II – ANAMNESE A – Antecedentes Pessoais Os informes colhidos indicam não ter havido durante a gestação intercorrências dignas de registro. Nasceu de parto normal, a termo, hospitalar, sem relato de complicações no período neo-natal. Seu desenvolvimento neuropsicomotor registra discreto retardo, tendo começado a andar por volta de um ano e seis meses e a aquisição da linguagem falada apresentou dificuldades até os seis anos de idade, quando ainda apresentava inversão de fonemas. Das doenças próprias da infância foi acometido de sarampo e varicela (catapora) que evoluíram para a cura sem intercorrências ou seqüelas. Entre os equivalentes comiciais na infância refere: freqüentes sonilóquios, terrores noturnos e pesadelos, negando a ocorrência de sonambulismo, epistaxes freqüentes e bruxismo ( ranger dos dentes ). Refere um desmaio aos onze anos de vida, cuja descrição oferecida não é compatível com crise convulsiva generalizada clássica. Refere ainda, algumas quedas acidentais da própria altura e um atropelamento por motocicleta sem que se estabelecesse em nenhum dos episódios o diagnóstico de traumatismo crânio-encefálico. Nega passado mórbido grave e infecções do sistema nervoso central.
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Nega ter sido acometido por qualquer das doenças sexualmente transmissíveis. De passado cirúrgico há o registro de pequena cirurgia em região retro-auricular esquerda para retirada de corpo estranho ( lasca de madeira) aos 13/14 anos, após acidente (queda) enquanto empinava “pipas” sem comprometimento de relevo. Nega ter sido submetido a qualquer forma de tratamento psiquiátrico e/ou psicológico no passado, seja em regime ambulatorial ou hospitalar. Após sua prisão e remoção à Casa de Custódia e Tratamento “Dr. Arnaldo Amado Ferreira” de Taubaté está fazendo uso, por prescrição médica, de fluoxetina e diazepam ( medicação anti-depressiva e ansiolítica respectivamente). Vida escolar : Sua vida escolar iniciou-se aos 07 anos prosseguindo até a primeira série do segundo grau sem, no entanto, completá-la. Nesse período sofreu várias repetências, um hiato temporal e troca de várias instituições de ensino, incluindo nessas curso supletivo. Registra-se em sua vida escolar marcada dificuldade de relacionamento, de aprendizagem, além de atitudes inadequadas caracterizando razoável grau de indisciplina. Vida laborativa: Começou a trabalhar aos 14 anos de idade. Durante toda sua vida laboral ocupou diversas funções em variadas empresas sem, no entanto, conseguir fixar-se em nenhuma delas por tempo superior a um ano e meio. Além da inconstância em seus empregos registra-se dificuldade em adaptar-se às normas de trabalho, demissões por indisciplina ou voluntárias sob alegação de não antever perspectivas de ascensão profissional. O maior período de trabalho registrado foi em seu último emprego quando trabalhava como moto-boy. Em duas oportunidades morou no seu ambiente de trabalho em razão de conflitos familiares que tornava a convivência no seio familiar desarmônica. Merece registro dentro de sua vida laborativa que, em função de sua reconhecida habilidade como patinador, ter tido oportunidade de auferir rendimentos em trabalhos esporádicos como instrutor em pistas de patinação, demonstrações, assistência técnica em manutenção de pistas e comercialização de patins, em várias cidades do interior de São Paulo. Registre-se ainda que a atividade de patinação, a par de ser fonte de rendimentos, foi em grande parte de sua vida, a atividade que lhe proporcionava maior prazer sendo a única ocupação de maior constância onde vislumbrava a perspectiva de notoriedade e ascensão social. Vida militar: Durante quase dois anos serviu o Exército Brasileiro no 39.º Batalhão de Infantaria Motorizada sediado em Quitaúna - Osasco/SP. No primeiro ano cumprindo obrigação constitucional e no segundo como soldado engajado por opção e visando prosseguir na carreira militar como cabo. Durante esse período sofreu mais de duas dezenas de sanções disciplinares motivadas desde a má apresentação pessoal até embriaguez dentro das instalações militares chegando a importunar a esposa de um superior. Conseguiu permanecer todo esse tempo no Exército em razão de ocupar a função de
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“rancheiro” o que lhe permitia usufruir e propiciar regalias ( fornecer porções alimentares extras e diferenciadas aos seus pares e superiores – sic.). Tudo isso evitou sua expulsão, substituída pela recomendação de solicitar voluntariamente sua baixa. Vida afetiva: A pesquisa dos dados de anamnese revelaram que o periciando não faz referência à amizades duradouras, engajamento em grupos sociais seja no âmbito profissional, religioso, esportivo ou outros. Mesmo sua vida familiar é descrita sem que vínculos mais estreitos tenham sido estabelecidos e relatados, excetuando-se uma maior aproximação com sua avó materna com quem conviveu nos seus primeiros anos de vida. Não estabeleceu ao longo de sua vida relações afetivas significativas, incluindo nelas um maior relacionamento com seu único filho. Vida sexual: Relata precoce experiência sexual traumática, quando aos sete anos de idade teria sido molestado por tia materna que lhe obrigara a manusear sua genitália enquanto lhe induzia a que sugasse suas mamas. Outra experiência traumática relatada teria sido constantes tentativas de coito anal praticadas por um adulto que supõe-se ser um tio materno, sob a perspectiva de gratificação através de doces e balas. Merece registro que a autoria deste atentado ao pudor, violento por presunção, não ter sido satisfatoriamente estabelecida. Embora faça questão de afirmar que nunca praticou ou deixou que com ele se praticasse coito anal com homens, práticas homossexuais são relatadas ao longo de sua vida, consistindo basicamente em felação na forma passiva. As práticas acima relatadas foram inclusive motivo de obtenção benefícios e regalias. Durante cerca de um ano satisfez seu empregador, diariamente, ao lhe permitir praticar felação em troca de moradia, presentes e favores. As relações heterossexuais são permanentemente descritas como dificultosas, insatisfatórias, raramente completas, alegando para estes insucessos dificuldade de penetração em função de fimose. Esta alegação não foi confirmada através de exame especializado e que faz parte deste processo. A curta vida conjugal é caracterizada por escassas cópulas completas, segundo sua descrição, mas suficiente para a geração de seu único filho. A vida conjugal acima descrita se estabeleceu de maneira informal não havendo noivado ou mesmo casamento. Em que pese as dificuldades de relacionamento heterossexual acima citadas faz questão de asseverar para estes peritos ter sido sempre indivíduo namorador, conquistador de sucesso e, com não disfarçada vaidade, ser conhecido por muito tempo como “Zé Galinha”. Hábitos de vida: É tabagista compulsivo. Relata o uso social de bebidas alcoólicas, sendo a embriaguez completa episódio raro em sua vida. Nega o uso de drogas psicoativas de uso ilícito ou lícito em qualquer época de sua vida. Refere uso de substâncias anabolizantes durante curto
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período. B – Antecedentes familiares É o segundo filho de uma prole de três, todos do sexo masculino. Seus irmãos estão vivos e gozando de saúde. Um de seus irmãos já teve envolvimento com a Justiça: acusado de receptação e furto. Na constelação familiar são descritas patologias psiquiátricas as mais diversas entre as quais podemos citar casos de: farmacodependência ( tio materno usuário de drogas injetáveis no passado); surtos de natureza psicótica e de características esquizofreniformes ( tios maternos, tia e prima paternas); alcoolismo ( avô materno e paterno); epilepsia ( primas paternas e prima materna ) e oligofrenia ( prima materna seria “retardada”). Merece particular consideração o fato de que o avô materno seria uma pessoa extremamente violenta sendo-lhe imputado várias agressões a familiares, inclusive uma tentativa de homicídio à foice contra a própria esposa, e vários homicídios não devidamente esclarecidos. Seu avô paterno era alcoólatra tendo falecido com quadro de abstinência alcoólica, após várias internações psiquiátricas. ( Os elementos deste item foram obtidos através dos elementos constantes do Parecer Psicológico e colhidos pela Dra. “C”, uma vez que em duas oportunidades os pais do periciando não compareceram às entrevistas agendadas) III – HISTÓRICO Trata o presente de Laudo para instruir Incidente de Insanidade Mental, por restarem dúvidas quanto a higidez mental do acusado. Denúncia O Ministério Público denunciou o Sr. “F” como incurso no artigo 121 § 2.º, incisos I , III ( quarta e quinta figuras ) e IV, artigo 214, artigo 212 e artigo 211 combinados com o artigo 69, todos do Código Penal, por em horário incerto, entre as 15h30min do dia 03/07/98 e 13:00 horas do dia 04/07/98 ter matado “S” por motivo torpe, meio cruel e agindo com dissimulação, precedidos da prática de atos libidinosos e seguidos de vilipêndio e ocultação do cadáver. Elementos Colhidos nos Autos 1 – A análise dos depoimentos prestados pelas vítimas e pela confissão do
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examinado permite a estes peritos estabelecer a morfologia delitiva ou modus operandi do examinado: A) Seleção da possível vítima em locais públicos ( “ caçando como um predador” fls.154 ) B) Abordagem verbal através da qual conseguia convencer as vítimas, sob promessa de dinheiro e fama, a serem fotografadas para comerciais de cosméticos ou participarem de um acampamento próximo ao Zoológico. ( apenas uma vítima refere o emprego de arma para intimidação ) C) Entrada no Parque do Estado quando, livre da possibilidade de ser surpreendido por alguém “transformava-se” e passava a agredir física e verbalmente as vítimas, dando início à pratica de atos libidinosos consistentes em mordidas no corpo das vítimas, coito anal e oral e conjunção carnal mediante violência, todos com crueldade e sofrimento desnecessário infringido às vítimas. D) Morte por asfixia mecânica ( estrangulamento ou esganadura) ou liberação da vítima. E) Nos casos de morte vilipêndio e ocultação do cadáver. 2 – Em relação à vítima objeto do presente incidente destacamos de seu interrogatório no DHPP às fls. 149/156: “ .... acordou sentindo-se mal, visto que tinha o pressentimento que seu lado maléfico iria aflorar naquele dia, pois acordou transpirando bastante e ofegante, que significava que algo tomaria seu ser e fatalmente coisa ruim aconteceria........que quando se dirigia à Paulista na verdade seu lado ruim já o estava dominando, vez que tinha certeza que encontraria muitas pessoas ali e, dentre elas, uma mulher a qual seria abordada........... .tomado completamente pelo seu lado ruim não conseguia mais conter seus impulsos violentos....que “S” deve ter percebido a transformação que o interrogando sofria, sendo que nitidamente percebeu que “S” estava aterrorizada, o que causou grande prazer ao Interrogando...... que naquele momento, o Interrogando não se importava nem um pouco com o sofrimento de “S”, porém, somente naquele momento em que parou de estrangulá-la que sentiu um pouco de compaixão, no entanto, era algo muito fraco... acha importantíssima a manutenção de sua custódia, pois se permanecer a qualquer tempo em liberdade, fatalmente voltará a matar, pois sente seu lado negro crescer e crescer....que no dia seguinte após tê-la matado, retornou e acariciou bem como abraçou tal corpo..” No Interrogatório Judicial de fls.161/209 não se apurou grandes mudanças em seu discurso, apenas cita que: “ ... o meu nervoso que eu tinha, quando eu acordava transpirando, suando, desesperado como se fosse um animal querendo sair da jaula.....J: esses ataques não lhe impedem de lembrar
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das coisas? D: Não senhor.” Versão do acusado aos peritos Nada acrescentou em relação às versões dadas nos interrogatórios. Não sente arrependimento ou remorso pelos atos que praticou. Repete ser vítima de “dominação pelo seu lado ruim”. IV – EXAME NEUROLÓGICO Vide Parecer Neurológico em anexo realizado pelo Dr. Flávio Roberto Huck – Médico Neurologista do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. V – EXAMES COMPLEMENTARES A - Tomografia Computadorizada de Crânio realizada em 17/09/98 no Hospital Santa Isabel de Clínicas de Taubaté cuja conclusão feita pelo Dr. MARCO ANTONIO TAMBELINI foi: “ EXAME TOMOGRÁFICO COMPUTADORIZADO DE CRÂNIO DE ASPECTO NORMAL.” Vide anexo 1. B - Exame Eletroencefalográfico realizado em 17/09/98 no Hospital Santa Isabel de Clínicas de Taubaté sob n.º 36.667 cuja conclusão feita pela Dra. MAGALI TAINO SCHMIDT foi: “ ELETROENCEFALOGRAMA DENTRO DOS LIMITES DA NORMALIDADE.” Vide anexo 2. C) - Exame de Ressonância Magnética Nuclear de Crânio com Contraste realizado em 26/09/98 no Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo sob n.º 98-36804 cuja conclusão feita pela Dra. CLÁUDIA DA COSTA LEITE foi: “ LEVE ASSIMETRIA DOS CORNOS TEMPORAIS DOS VENTRÍCULOS LATERAIS E FISSURAS CORÓIDEIAS, MAIOR A DIREITA.” Vide anexo 3. VI – EXAMES PSICOLÓGICOS Parecer Psicológico realizado pela Dra. CANDIDA HELENA PIRES DE CAMARGO – Diretora do Serviço de Psicologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo realizados nos dias 04,09 e 28 de setembro nas dependências da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, cuja conclusão foi: “ Os dados de história, de exames complementares por
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imagem, psicológicos e neuropsicológicos mostrando: “ história de desenvolvimento neuropsicomotor sugestivo de Transtorno Específico de Desenvolvimento, de linguagem e visuoespacial, mais possível Déficit de Atenção com Hiperatividade, substanciando os déficits de linguagem, visuoespaciais e de atenção encontrados. “ exame por Ressonância Magnética Nuclear sem sinais lesionais e com discreta assimetria dos lobos temporais, achado este presente com alguma freqüência nos Transtornos de Desenvolvimento tais como de linguagem, dislexia e outros, mas não passíveis de fornecer relação causal. “ falhas de julgamento, não atribuíveis à déficit de inteligência, abstração, privação cultural ou ambiental, mas passíveis de serem atribuídas às falhas mais profundas no desenvolvimento afetivo, comprometendo tanto a apreensão empática nas relações, como o contexto emocional apropriado, ou ainda, a apreensão e introjeção dos valores que regem o comportamento humano e as relações sociais. “ testes de personalidade mostrando desvios importantes na esfera do temperamento, caráter e dinâmica psicológica – desordens do desenvolvimento afetivo-social, compatíveis com Transtorno de Personalidade Anti - social. (grifos nossos). Estes achados sugerem, portanto, que o periciando apresenta a capacidade de elaboração intelectual preservada, permitindo o entendimento normal de seus atos, porém considerando os desvios estruturais de personalidade abordados tem comprometida, de modo parcial, a capacidade de autodeterminação. Entendemos que a somatória destes fatores com o déficit de julgamento apresentado, impede a possibilidade de vir a entender e introjetar mudanças internas a partir de tratamentos/abordagens sócio-reeducativas.” ( grifos nossos ) Vide anexo 4. VII – EXAME PSÍQUICO O periciando foi entrevistado nas dependências da Casa de Custódia e Tratamento “ Dr. Arnaldo Amado Ferreira” de Taubaté/SP. Apresentou-se para exame trajando calça cáqui, camisa de malha de algodão e sandálias pretas, uniforme da instituição. Higiene pessoal bem cuidada, barba feita e cabelos penteados. Fácies atípica, mímica adequada às condições de exame. Estabelece bom contato interpessoal com os examinadores. Responde ao solicitado de bom grado, não se eximindo a nenhuma de nossas indagações. Está lúcido sob o aspecto neurológico. Orientado quanto a si, meio e circunstância. Durante todo o exame não foram detectadas alterações da senso-percepção ( visuais, auditivas, cenestésicas entre outras ). Atenção espontânea e provocada são normais tanto no que diz respeito à vigilância e tenacidade. O seu pensamento, embora minucioso e detalhista, não apresenta alterações marcantes quanto ao seu curso, forma e conteúdo. Não foram constatadas idéias delirantes.
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A avaliação empírica de sua inteligência a coloca dentro dos padrões da normalidade compatível com o grau de instrução e meio sócio-cultural de onde provem. Humor estável, adequado à situação que vivencia. Memórias de fixação e evocação preservadas. Denota frieza de ânimo e sua afetividade mostra-se indiferente mesmo quando aborda os crimes que cometeu. Capacidade crítica e pragmatismo preservados. VIII – DISCUSSÃO A – A CAPACIDADE DE IMPUTAÇÃO A finalidade do presente exame consiste em determinar a capacidade de imputação do examinado à época do cometimento do delito de que trata o presente processo. Imputar uma ação a um indivíduo significa estabelecer entre os dois termos – fato e indivíduo – uma relação de causa para efeito. É atribuir a alguém como causa uma ação como efeito A imputabilidade, do ponto de vista jurídico, verifica-se sempre que o indivíduo dá vida a uma ação lesiva à lei. Segundo Aníbal Bruno: “ ... a posição do agente perante a lei penal se define, então, nos três momentos: imputabilidade, culpabilidade e responsabilidade penal. Imputabilidade que é a capacidade de entender e de querer; culpabilidade que é aquele vínculo psíquico para prender o agente, imputável ao fato, como seu autor. E responsabilidade, que é o dever jurídico que incumbe ao imputável, culpado de determinado fato punível, de responder por ele perante a ordem do Direito.” Estamos, portanto, no primeiro momento da posição do agente perante a lei penal, onde a imputabilidade é um pressuposto que conduz à responsabilidade penal. Em nossa legislação como visto acima, para que um indivíduo tenha conservada sua capacidade de imputação, é necessário que, à época do fato delituoso, tenha preservada sua capacidade de entendimento ( inteligência) e de determinação (vontade) do caráter delituoso do fato. Segundo a doutrina adotada na Exposição de Motivos do Código Penal, o ato criminoso compreende dois momentos: a) um momento intelectual (apreciação da criminalidade do fato) e um momento volitivo ( a capacidade de determinar-se ). Segundo Heber Soares Vargas em sua obra “Manual de Psiquiatria Forense” lemos à página 46 : “ a) entender – é a capacidade normal de apreensão intelectual das coisas, de que está dotado o homus medius, capaz de ter consciência do certo e do errado; b) determinar-se- é a espontaneidade na inclinação ou tendência do sujeito que atua para, entre diversas opções, escolher aquela que o levará ao fim previsível, previsto e desejado.” Os achados periciais que levam a um diagnóstico psiquiátrico deverão
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enquadrar-se numa das quatro figuras jurídicas previstas no Código Penal, a saber: 1 – Doença Mental. 2 - Desenvolvimento mental incompleto. 3 - Desenvolvimento mental retardado. 4 – Perturbação da saúde mental. De acordo com o grau de comprometimento que a patologia apurada causar no que chamamos entendimento ( razão ) e determinação ( vontade ) do examinado será indicado seu grau de imputação jurídica . Três são as possibilidades de gradação da imputabilidade jurídica: Inimputabilidade – Quando o agente, à época dos fatos, for totalmente incapaz de entender e/ou determinar-se de acordo com o entendimento do caráter delituoso de sua ação. Semi-imputabilidade – Quando o agente, à época dos fatos, for parcialmente incapaz de entender e/ou determinar-se de acordo com o entendimento do caráter delituoso de sua ação. Imputabilidade – quando o agente, à época dos fatos, for totalmente capaz de entender e de determinar-se de acordo com o entendimento do caráter delituoso de sua ação. Cumpre assinalar que o Brasil é um dos raros países do mundo que contempla o critério da semi-imputabilidade o que implica necessariamente numa circunstância atenuante que leva consigo a obrigação de uma sanção penal mais breve ou a aplicação de medida de segurança. Tais indivíduos, o mais das vezes, são portadores de uma periculosidade maior que a dos criminosos julgados como normais. Na maioria dos países são previstas apenas a inimputabilidade e a imputabilidade, exatamente porque a semi-imputabilidade ocorre quase sempre nos casos em que a periculosidade do agente é alta e os recursos terapêuticos, disponíveis na atualidade, são praticamente ineficazes. Por fim, para que haja comprometimento total ou parcial da capacidade de imputação do agente é preciso que haja uma relação de causa e efeito entre a patologia mental e o crime praticado, ou seja, o delito tem que ser efeito da doença para que se altere o grau da imputabilidade. B – O CONCEITO DE NORMALIDADE EM PSIQUIATRIA Deixando de lado discussões acadêmicas que não caberiam
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num laudo de sanidade mental e, baseado em critérios definidos pela Escola Psiquiátrica do Prof. Dr. Aníbal Silveira, a normalidade “ .. é um conceito abstrato que subentende o comportamento em várias circunstâncias, em várias épocas da vida de um indivíduo, em várias fases desta mesma época e que corresponde de certa maneira à realidade exterior. Disto advém que de certa forma é a realidade exterior que delimita e define o normal, assim como a maneira e o modo que o indivíduo se utiliza dos estímulos da realidade e elabora os conceitos com lógica para conseguir uma adaptação ativa e útil entre coisas, pessoa e meio.” Mira y López, numa análise psicossocial do normal assim o conceituou: “ compreenderia o normal a uma seqüência de atos pessoais que, desde que se tomem em consideração as circunstâncias que os motivaram e o ambiente em que se desenrolaram, corresponderiam ao previsto para o grupo social em que se produziu, como também seria entendido e aceito, sem esforço, por este mesmo grupo.” Nério Rojas assim conceitua normalidade: “ dentro das variações individuais e das oscilações fisiológicas da mesma pessoa, homem mentalmente normal é aquele que aprecia com exatidão as formas acessíveis da realidade para atuar com inteligência no meio, dentro de uma adaptação ativa, lógica e útil entre os fatos, coisas e pessoas.” Em Psiquiatria a noção de normal e anormal, pela sua complexidade, torna difícil a distinção entre estas noções, exatamente pelo fato de não haver uma nítida linha demarcatória entre as duas. C – O CONCEITO DE PERSONALIDADE E SEUS TRANTORNOS. Seguindo a orientação doutrinária do Prof. Dr. Aníbal Silveira a estrutura da personalidade é definida como “ o conjunto de funções subjetivas agrupadas fundamentalmente em três setores: afetividade, conação e inteligência. Estas funções psíquicas resultam do funcionamento cerebral, são peculiares à espécie humana e continuamente regem em harmonia as disposições do indivíduo e as suas relações com o ambiente físico e social”. Da afetividade parte o impulso a todos os nossos pensamentos e atos, sendo assim o princípio de toda atividade cerebral; a inteligência institui os meios que melhor convém à atividade ou execução ( conação ).
Para Eysenck a personalidade é a soma total dos padrões de comportamento do organismo, potenciais e manifestos, determinados pela hereditariedade e pelo meio; tem seu início e desenvolvimento através da interação dos quatro principais setores em que se organizam os padrões de comportamento: o setor cognitivo (inteligência), setor conativo (caráter), setor afetivo (temperamento) e setor somático ( constituição )
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O conceito do que no passado se denominava personalidade psicopática e hoje transtornos de personalidade, varia discretamente de autor para autor, mas a grande maioria considera tal grupo mórbido como resultante de desarmonia na integração da personalidade, não como distúrbio dinâmico, mas como desequilíbrio que decorre da própria estrutura da personalidade. Kurt Schneider foi um autor cujas idéias sobre personalidades psicopáticas mais influenciaram os psiquiatras deste século. Na sua acepção: “... das personalidades anormais distinguimos como personalidades psicopáticas aquelas que sofrem com sua anormalidade ou que assim fazem sofrer a sociedade.” Aníbal Silveira conceitua o transtorno de personalidade ( personalidade psicopática) como “ consistindo em desvio de conjunto nas disposições subjetivas das esferas afetivas e conativas”. Mira y López adota o conceito clássico e genérico: “ Trata-se de uma personalidade mal estruturada, predisposta à desarmonia intrapsiquica, que tem menor capacidade que a maioria dos membros de sua idade, sexo e cultura para adaptar-se às exigências da vida social”. Diversos autores ao longo do tempo procuraram estabelecer características ou critérios comuns as personalidades psicopáticas. Comparados estes diversos quadros de critérios temos que em todos eles constam os critérios abaixo assinalados. Dentre as relações de características próprias dos transtornos de personalidade organizadas por Hervey Cleckey, Gray e Hutchson e McCord e Mccord encontramos em comum: 1 - Incapacidade de aprender pela experiência. 2 - Egocentrismo patológico. 3 - Impulsividade. 4 - Incapacidade de sentir culpa. 5 - Incapacidade ou pobreza no estabelecimento de relações afetivas. 6 - Conduta anti-social inadequadamente motivada. O Código Internacional de Doenças da O.M.S. em sua décima revisão descreve como Transtornos específicos da personalidade ( F60) : “ Trata-se de distúrbios graves da constituição caracterológica e das tendências comportamentais de um indivíduo, não diretamente imputáveis à uma doença, lesão ou outra afecção cerebral ou a um outro transtorno psiquiátrico. Estes distúrbios compreendem habitualmente vários elementos da personalidade, acompanham-se em geral de angústia pessoal e desorganização social; aparecem habitualmente durante a infância ou a adolescência e persistem de modo duradouro na idade adulta”. No sub-item Personalidade dissocial ( F60.2 ) lê-se: “ Transtorno de personalidade caracterizado por um desprezo das obrigações
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sociais, falta de empatia para com os outros. Há um desvio considerável entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas. O comportamento não é facilmente modificado pelas experiências adversas, inclusive pelas punições. Existe uma baixa tolerância à frustração e um baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da violência. Existe uma tendência a culpar os outros ou a fornecer racionalizações plausíveis para explicar um comportamento que leva o sujeito a entrar em conflito com a sociedade.” D – MEIOS DE QUE DISPÕEM OS PSIQUIATRAS PARA O DIAGNÓSTICO DE TRANSTORNO DE PERSONALIDADE Para o diagnóstico de transtorno da personalidade – na acepção psiquiátrica correta – alguns dos métodos correntes de exame são de alcance muito relativo ou mesmo nulo, outros se mostram inúteis, ao passo que ainda outros aparecem como indispensáveis. Por se tratar de elementos técnicos que se restringem ao âmbito da psiquiatria/psicologia os peritos julgam dever enumerá-los como subsídio para a esclarecida decisão dos julgadores: Exame mental direto – Considerando que nos transtornos de personalidade ( personalidades psicopáticas ) não sofre alteração o “juízo da realidade’, isto é, não se apreciam conceitos delirantes, o exame psíquico direto nada revela que autorize firmar ou excluir o diagnóstico de transtorno de personalidade. Portanto não tem valor qualquer conclusão baseada somente em semelhante classe de verificação. Anamnese subjetiva ou seja, o relato que sobre o próprio curso da vida faz o paciente. Como é bem de ver-se, tal reconstituição oferece valor quase nulo, pois varia em função da sinceridade do examinado. Somente apresentará alguma valia se obtida de modo indireto, não intencional Exames clínicos subsidiários - Os exames radiológicos como a tomografia computadorizada de crânio e o exame de ressonância magnética do crânio com contraste, poderiam revelar ou afastar a hipótese de ocorrência de encefalite na infância ( o que caracterizaria as denominadas pseudo-psicopatias ou “encefalopatia minor”) ou outras patologias como, por exemplo, seqüelas de traumatismos cranio -encefálicos ou processos expansivos cerebrais. A pesquisa eletroencefalográfica poderia colocar a descoberto componentes heredológicos da série epileptóide. Todavia, distúrbios bio-elétricos podem faltar mesmo em casos de epilepsia manifesta, sem que isto invalide o diagnóstico clínico. Alguns autores relatam que, nos transtornos de personalidade, é freqüente a ocorrência de “ondas lentas” do tipo “theta” como dado importante no traçado eletroencefalográfico Anamnese objetiva – Se a anamnese subjetiva depende da sinceridade do examinado, a anamnese objetiva refletirá o comportamento deste segundo o apreciam informantes de vária intenção, de variável capacidade de observação e
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situados em condições diversas de apreciação. No presente caso dispõe-se dos elementos colhidos nos autos e dados fornecidos pelos familiares do periciando para tal apreciação. Anamnese heredológica – É o levantamento da ocorrência de patologias psiquiátricas nos ascendentes e colaterais diretos, cuja transmissibilidade genética é reconhecida pela ciência. Provas Psicológicas – Diverso é o valor das provas psicológicas quando se visa o diagnóstico de transtornos de personalidade. Quando criteriosamente escolhidas as técnicas denominadas “ de projeção” e o exame neuropsicológico permitem avaliar de modo objetivo as condições reais da personalidade em estudo. Dentre elas, a Prova de Rorschach, é considerada indispensável em qualquer estudo sério da personalidade. IX – CONCLUSÕES Do acima exposto, observado e apreendido, ancorados também, nos exames complementares, na avaliação psicológica a que se submeteu o periciando e, particularmente, na análise de sua curva vital constatamos: a) sua precoce e marcada dificuldade de adaptação às normas e regras sociais ( vida escolar, vida militar, vida profissional); b) sua incapacidade de estabelecer relações afetivas profundas e duradouras; c) seu acentuado egocentrismo; d) a consciência de que seus atos são censuráveis e puníveis, motivo pelo qual procura ocultar e dissimular seus impulsos até quando, a oportunidade se torna propícia e o mal e a crueldade desatam sem nenhuma repressão e) a absoluta falta de arrependimento ou o sentimento de culpa pelo que cometeu. Diante do elencado acima um diagnóstico se impõe, sem margem a dúvida. Estamos frente à uma personalidade a quem Kurt Schneider denominou de “frio de alma”, Kraepelin de “desalmados” e Ferri de “loucura moral”. Presentemente essas personalidades estão descritas na décima revisão da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde ( CID – 10 ) dentre os Transtornos Específicos da Personalidade, sub-tipo Personalidade Anti-Social (F60.2). Este tipo de patologia enquadra-se, dentro do critério médico legal, como sendo uma perturbação da saúde mental, colocando seu portador nas condições previstas no parágrafo único do artigo 26 do Código Penal. É semi-imputável por comprometimento da plena capacidade de determinação. Este peritos aproveitam a oportunidade para, a título de subsídio aos eminentes julgadores e com a devida vênia, esclarecer que o tratamento do transtorno anti-social de personalidade, como o caso em tela é, segundo a visão predominante dos tratadistas que desse assunto se ocuparam, o que se revelou mais ineficaz, pois se pode afirmar que não se dispõe no
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momento atual de meios terapêuticos para modificar favoravelmente a conduta dessas personalidades. A assertiva acima implica necessariamente em reconhecer que o prognóstico é desfavorável e, no entender destes peritos, não há especial tratamento curativo, o que afastaria o previsto no artigo 98 do Código Penal. X – RESPOSTAS AOS QUESITOS QUESITOS DA JUSTIÇA PÚBLICA 1 - O réu, por doença mental, era, ao tempo da ação, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento? Resposta: Não. 2. O réu, por desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se com esse entendimento? Resposta: Não. 3 - O réu, em virtude de perturbação da saúde mental, não possuía, ao tempo da ação, plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento? Resposta: Sim. 4 - O réu, por desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não possuía, ao tempo da ação, plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento? Resposta: Não. 5 - Constatada a higidez mental do acusado nos quesitos anteriores, apresentaria ele doença mental que tenha sobrevindo à prática delituosa ( artigo 152 do Código de Processo Penal) ? Resposta: Não. 6 - Qual o estado atual do examinando? Necessita ele de trata mento? Qual o tratamento indicado? Que espécie de estabelecimento é o indicado para eventual internação ou tratamento ambulatorial? Resposta: Vide exame psíquico e neurológico. Demais respostas vide item conclusões do presente laudo. 7 - Queiram os senhores peritos aduzir outras informações necessárias ao esclarecimento da questão, bem como explicitar se o réu é plenamente imputável ou se enquadra no disposto no artigo 26 do Código Penal ou em seu parágrafo único. Resposta: O réu encontra-se nas condições previstas no parágrafo único do artigo 26 do Código Penal. As considerações que estes peritos julgavam
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pertinentes encontram-se no corpo do Laudo. QUESITOS DA DEFESA 1 = O periciando apresenta doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado, ou perturbação da saúde mental? Resposta: Sim, perturbação da saúde mental. 2 - Caso a resposta seja positiva a qualquer dessas possibilidades, qual o diagnóstico a que chegaram os ilustres “experts”? Qual sua classificação na décima revisão da Organização Mundial de Saúde para Classificação Internacional de Doenças ( CID-10)? Resposta: Transtorno Anti-social de Personalidade. F60.2. 3 - Diante do diagnóstico estabelecido indaga-se se o periciando é: inimputável, semi-imputável ou plenamente imputável? Resposta: Semi-imputável. 4 - Frente as respostas fornecidas aos quesitos anteriores, pergunta-se qual o tratamento mais indicado e o tipo de regime e de instituição a que deve ser conduzido o periciando? Resposta: Vide item Conclusões do presente laudo. 5 - Considerando-se as respostas anteriores, solicita-se aos Senhores peritos tecerem considerações a respeito do prognóstico do caso em tela. Resposta: Estes peritos entendem ter sido suficientemente claros no corpo do Laudo no que diz respeito ao prognóstico. Vide item Conclusões do Laudo.
São Paulo, 13 outubro de 1998.
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B – ENTREVISTA COM O “MANÍACO DO PARQUE”
Foto: Liane Neves Foto: Edison Vara
Francisco de Assis Pereira: "Eu matei todas. As nove"
— Francisco, você conhece Thayná?
— Thayná? Thayná... Não conheço.
— E Elisângela, você conheceu alguma?
— Não.
— Selma?
— Não. Também não.
— E você fez sexo anal com alguma de suas vítimas?
— Fiz, com algumas.
Pausa. Surpresa. O diálogo continua, em ritmo menos frenético:
Foto: Álbum de Família
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— Você matou algumas daquelas mulheres, Francisco?
— Matei
— Quais?
— Todas.
— Quantas mulheres você matou?
— Nove.
— Você matou Isadora?
— Matei. Fui eu.
Francisco demorou frações de segundos para reconhecer que matou Isadora Fraenkel, 18 anos, uma bonita garota de classe média paulistana que no dia 10 de fevereiro saiu de casa para ir à aula de inglês e desapareceu. O silêncio que veio depois da confissão durou pelo menos um minuto.
— Como você matava as moças?
— Com o cadarço dos sapatos ou com uma cordinha que às vezes eu levava na pochete. Eu dava um jeito.
Outra pausa, alguns pigarros. É o próprio Francisco quem volta a falar. A voz sai serena, com um tom de constatação:
— Nunca contei isso pra ninguém, nem pra minha mãe. Eu tenho um lado ruim dentro de mim. É uma coisa feia, perversa, que eu não consigo controlar. Tenho pesadelos, sonho com coisas terríveis. Acordo todo suado. Tinha noite que não saía de casa porque sabia que na rua ia querer fazer de novo, não ia me segurar. Deito e rezo, pra tentar me controlar.
Era um dos primeiros dias de Francisco de Assis Pereira, 30 anos, no prédio da Divisão de Homicídio e Proteção à Pessoa, DHPP, no centro de São Paulo. Havia um caos nas três salas da equipe C-Sul que antecedem uma pequena cela para onde Francisco é levado antes dos depoimentos. Investigadores, escrivães, detetives e advogados transitavam por ali. Funcionários de outras equipes de vez em quando aproveitavam para dar uma espiada em Francisco e sair com um veredicto pessoal. Em meio a esse movimento, Francisco estava confuso. Na presença de três pessoas, confessou ser o maníaco do Parque do Estado, o suspeito mais procurado pela polícia brasileira. O assassino não de oito mulheres, como acredita a polícia, mas de nove. O homem que estuprou e enforcou suas vítimas e depois largou seus corpos em clareiras de uma das maiores áreas verdes de São Paulo. A confissão foi ouvida por VEJA. Apesar do clima dramático em que foi feito, era um relato informal.
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Pouco tempo depois, no primeiro depoimento oficial que deu ao delegado Sérgio Alves, responsável pelo caso, Francisco estava mais calmo. O interrogatório durou sete horas. Durante todo esse tempo, ele negou qualquer relação com os oito assassinatos e cinco estupros dos quais é suspeito. A opção de Francisco tinha uma lógica. No caso de uma confissão, ele poderia ser considerado um psicopata e ficaria trancafiado no Pavilhão Dois do Manicômio Judiciário — o inferno na terra — por pelo menos trinta anos. Negando, pode ser condenado por apenas um homicídio e pegar uma pena menor.
"Essas mulheres não tiveram chance de se defender. Foram acuadas como uma caça. Isso dá muita raiva" Jane Belucci, perita da Polícia Civil
Foto: Frederic Jean No momento de sua confissão extra-oficial, Francisco ainda não sabia das firulas jurídicas que envolvem o seu inquérito. Com voz pausada, desembestou no relato de uma complicada teia de namoradas, traumas e rancores que, segundo ele, formaram seu "lado negro". Falou de uma tia, irmã de sua mãe, que o teria molestado sexualmente na infância ("por causa dela, tenho fixação em seios"). Falou de um ex-patrão, com quem teria um relacionamento homossexual ("sempre que ele chegava perto, eu virava o rosto"). Falou de uma companheira de patinação, Silvia ("uma menina gótica, curtia cemitérios"), que mordera e quase lhe arrancara o pênis. E falou que, de fato, sente dores durante as relações sexuais, como dizem as mulheres que denunciam ter sido atacadas por ele. Depois do relato, o desfecho: "Sou ruim, gente. Ordinário". A conversa durou pouco mais de duas horas. Consultada formalmente sobre a confissão, a advogada Maria Elisa Munhol, que divide a defesa de Francisco com o sócio Ubiratan Alencar, diz o seguinte: "Eu não sou psiquiatra, mas a minha experiência indica que o Francisco deve ter o que os especialistas chamam de 'transtorno de personalidade'. Não descarto a hipótese de ele ter feito essa confissão como uma forma de aparecer mais, de se tornar uma grande estrela, de virar um grande astro. A confissão que vocês têm em mãos não é digna de confiança, nem de crédito"
Antes mesmo da terça-feira em que foi preso, por três policiais militares, na cidade gaúcha de Itaqui, fronteira entre Brasil e Argentina, Francisco já se transformara numa espécie de superstar do mal. Na semana passada, ele era assunto em todo o país. Preso, em apenas um dia deu três entrevistas coletivas. Na última, já no prédio do DHPP, em São Paulo, falou durante quase duas horas. Estava ladeado pelo vice-secretário de Segurança Pública do Estado e por dois advogados, que o fizeram assinar um papel em branco como procuração e logo
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depois se afastaram do caso. Jurou inocência, disse que não fugira tão logo o retrato falado do "maníaco do parque" começou a ser divulgado, mas que apenas fizera uma viagem para participar de um campeonato de patinação. Chegou a advertir sobre o perigo de todas as atenções se voltarem sobre ele. "É uma forma de deixar o verdadeiro psicopata à solta." Um encontro entre ele e os pais, Maria Helena e Nelson Pereira, foi transmitido ao vivo no programa Ratinho Livre e alcançou 38 pontos no Ibope. É mesmo possível que Francisco tenha gostado de seus dias de Xuxa do crime. Mas sua confissão paralela é rica em detalhes. E tem como moldura uma coleção de indícios contra seu autor.
"Ele era um cara comum,educado, estudado, com papolegal. Engana qualquer garota"João Carlos Dornelles Villaverde, o pescador que identificou Francisco Foto: Edison Vara
Na quinta-feira 6, Francisco foi indiciado pelo assassinato da balconista Selma Ferreira Queiroz, 18 anos. Tecnicamente, as provas contra ele não são das melhores. Isso porque o único elo capaz de associá-lo ao homicídio é a carteira de identidade da garota, encontrada no vaso sanitário da empresa onde ele morava. Como álibi contra essa evidência, Francisco alega que a casa era freqüentada por um sem-número de pessoas. A polícia tentou identificar o DNA do sêmen encontrado no corpo de Selma. Mas o azar, aliado a uma dose de incompetência, estragou a prova. O número de espermatozóides encontrados — 45 — já era pequeno para um exame conclusivo. Para piorar, os peritos ainda usaram a técnica errada na hora de tingir a amostra. A polícia alardeou o fato de que pretendia cotejar o formato das mordidas espalhadas pelo cadáver de Selma com a arcada dentária do principal acusado: Francisco. De novo, pode ser um furo n'água. Existem peritos dizendo que as mordidas foram dadas depois da morte de Selma, quando o fluxo sanguíneo já estava interrompido. Nessa situação, os tecidos são incapazes de reter o molde dos dentes do assassino. Os dois pontos que Francisco tem a seu favor são esses. Contra, há dezenas. Alguns dos mais importantes:
No dia 12 de julho, um domingo, os jornais publicam o primeiro retrato falado do maníaco que atacava no Parque do Estado, elaborado por policiais do 97º DP. No mesmo dia, a manicure Selma Rodrigues Goes, de 35 anos, afirma ter visto uma fumaça saindo de dentro da empresa J.R. Express, na Rua Alcântara Machado, 100-C, Brás. O morador do lugar: Francisco de Assis Pereira.
No dia seguinte, ao chegar a sua empresa, Jorge Alberto Sant'Ana, de 25 anos, estranhou a ausência do único funcionário que trabalhava e dormia na empresa.
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Ele tinha deixado um bilhete sobre a mesa, com um recorte do jornal em que havia o retrato falado. Lamentava ter de ir embora, pedia desculpas pela forma repentina da partida. "Infelizmente, tem de ser assim." Assinado: Francisco de Assis Pereira.
No mesmo dia, o empresário percebeu que havia algo de errado com o vaso sanitário da empresa. Tentou consertar duas vezes, mas não conseguiu. Na sexta-feira 24, quebra o encanamento para descobrir a causa do entupimento. Encontra um bolo de papéis queimados, misturado aos restos de um churrasco feito no final de semana anterior, no cano de saída da privada. Esse bolo é que entupira o esgoto. Entre as coisas que o empresário recolheu do cano estava a carteira de identidade de Selma Ferreira Queiroz, parcialmente queimada. Selma foi uma das mulheres cujo cadáver a polícia encontrou no Parque do Estado.
"Como pai, tenho uma certeza muito grande de que não vou encontrar minha filha com vida" Cláudio Fraenkel, pai da estudante Isadora
Foto: Rogerio Assis/Folha Imagem
Em 22 de julho, a estudante Sara Adriana Ferreira reconhece na polícia a voz do homem que, no dia 4 de julho, telefonou para sua casa, na cidade de Cotia, na Grande São Paulo, exigindo 1.000 reais pela libertação de sua irmã Selma. A identificação foi feita por meio de uma entrevista que o homem havia dado a uma rede de televisão em 1994 sobre um grupo de patinadores noturnos. A voz era de Francisco de Assis Pereira, segundo a irmã da vítima.
Alguns dias depois do desaparecimento da estudante Isadora Fraenkel, em 10 de fevereiro, dois cheques da garota, um de 200 reais e outro de 50, foram compensados na agência Cidade Jardim do Banco Itaú. O pai de Isadora, o físico Cláudio Fraenkel, procura a polícia com cópias dos cheques. O de 50 reais estava com a assinatura falsa. Durante as investigações, os policiais chegam ao suspeito de estelionato, que se apresenta como namorado de Isadora. Cláudio Fraenkel, numa nota oficial, negou que a filha estivesse namorando o rapaz e acusou-o de ser o principal envolvido no desaparecimento dela. Nome do implicado: Francisco de Assis Pereira.
Durante 23 dias em que esteve foragido, o suspeito de ser o "maníaco do parque" passou por várias cidades de três países. Chegou a Itaqui, no Rio Grande do Sul, cansado e faminto. Pediu abrigo a pescadores e disse se chamar "Pedro". Desconfiados, os pescadores João Carlos Dornelles Villaverde e Nilton
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Fogaça da Silva, o "Pitoco", resolveram checar os documentos do rapaz. Pedro, na verdade, era um nome falso. O nome verdadeiro: Francisco de Assis Pereira.
Cinco mulheres apresentaram-se à polícia identificando o homem que as havia violentado no Parque do Estado. Todas indicaram um rosto: o de Francisco de Assis Pereira.
No mesmo parque, foram encontrados oito cadáveres de mulheres assassinadas. Era o mesmo parque em que foi achado o cadáver de Selma. O indiciado pelo assassinato de Selma é Francisco de Assis Pereira.
Entre os moradores da vizinhança pobre do Parque do Estado, um deles tinha este nome: Francisco de Assis Pereira. Ao ser preso, ele negou conhecer o parque. Mas, segundo depoimentos de amigos dele à polícia, Francisco freqüentava o lugar.
Em 1995, uma moça de 19 anos prestou queixa na delegacia da cidade de São José do Rio Preto, no interior paulista, contra um homem que a agarrou numa avenida do bairro Cidade Nova e a forçou a entrar num prédio em construção. Ela conseguiu escapar. O homem foi detido por constrangimento ilegal, pagou 80 reais e foi solto por ser primário. O acusado: Francisco de Assis Pereira.
"Ele apertou meu pescoço.Disse que era psicopata e já havia enterrado muitas mulheres ali" Sandra Aparecida de Oliveira,19 anos, uma das mulheresque dizem ter sido atacadasno parque por Francisco Foto: Antonio Milena
Com tantos indícios contra, é estranho, mas Francisco é um boa-praça. Tem o rosto sardento como a mãe, Maria Helena, o que lhe dá um ar de garotão. Veste roupas joviais. Quando foi preso, estava com uma camisa colorida, de um time de hóquei. É o tipo que passa despercebido na rua ou no elevador, mas que, quando puxa assunto, atrai simpatias. É conversador, gosta de falar e responde atenciosamente às perguntas que lhe são feitas. Desde que sua vida começou a ser devassada, são comuns as descrições do Francisco gente fina. É o que dizem seus chefes, seus pais, algumas ex-namoradas. "O Francisco é bastante carinhoso e brincalhão. O único defeito é que o tempo livre dele é todo para os patins", diz a estudante Juliana Prado Fanasca, 16 anos, moradora de Guaraci, município a 522 quilômetros de São Paulo, onde vivem os pais de Francisco, e a ex-namorada dele. Juliana e Francisco ficaram juntos um mês. "Comigo ele era um cara superlegal", conta Ellen Renata Pereira, de 16 anos. Também vizinha dos pais de Francisco, Regiane Alves, 20 anos, conheceu o motoboy quando a
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família dele se mudou para a Rua Joaquim Rossini, no bairro Cohab 4. "A gente batia papo, jogava conversa fora." Segundo a garota, Francisco sempre pareceu ser uma pessoa normal, um cara legal. "Não acredito que ele possa ser o maníaco." Curiosamente, no entanto, ela diz que deixou de falar com o vizinho depois que uma amiga lhe contou que o motoboy teria tentado estuprar uma outra garota, em São José do Rio Preto. "Perguntei se ele tinha mesmo feito isso. Ele falou que não, mas não acreditei nele." Desde então (ela não tem certeza, mas acha que o episódio se passou em 1995), Regiane nunca mais conversou com Francisco.
Até mesmo a simpatia excessiva pode ser usada contra um assassino em série. Especialistas do mundo inteiro tentam entender os mecanismos de mentes psicopáticas. Obviamente, não há como dissecá-las. Na falta de um manual de instruções, estabeleceram-se alguns comportamentos que se repetem com uma regularidade impressionante. Mais ainda, que deixam os criminologistas em pânico: os assassinos em série aparentam ser os homens mais normais do mundo quando não estão tomados pela pulsão destruidora e sádica. Para começar, um grande número deles é de hiper-religiosos, o que lhes confere a aparência de virtuosos cidadãos.
Ao ser preso no Rio Grande do Sul, a polícia encontrou entre as coisas de Francisco dois papeizinhos com orações, uma para o Padre Cícero, outra para São Francisco. Achou ainda um santinho de São Judas Tadeu e um panfleto de uma igreja evangélica de Buenos Aires. A entrevista coletiva que ele concedeu logo ao chegar a São Paulo esteve repleta de visões de igrejas. Elas pontuaram toda a descrição do percurso que Francisco fez, entre as cidades de Alvear, na Argentina, e Itaqui, no Rio Grande do Sul. Francisco assistiu a uma missa em Itaqui, no domingo, apenas dois dias antes de ser preso. O pescador que denunciou a presença de Francisco na cidade, João Carlos Dornelles Villaverde, 40 anos, disse que, na volta da missa, Francisco contou-lhe que tinha ido à igreja rezar e pedir a Deus que o ajudasse. É um traço que vem de longe. Entre as lembranças da infância do pequeno "Tim" — o apelido familiar de Francisco —, sua mãe, Maria Helena, costuma evocar as vezes em que ele ia dormir com o terço nas mãos. "Ele sabia umas rezas que ninguém na família conhecia."
Um outro traço comum aos assassinos em série é o comportamento social aceitável e até admirável. Serial killers, como Jeffrey Dahmer e Marcelo de Andrade, eram assim, acima de qualquer suspeita. De novo, o acusado de ser o "maníaco do parque" encaixa-se à perfeição nesse modelo. Além das namoradas com doces lembranças dele, Francisco era popular no Parque do Ibirapuera, onde costumava fazer malabarismos sobre patins ao menos uma vez por semana. Craque no esporte, ele pacientemente ensinava aos iniciantes como dar os primeiros passos sobre rodas. Quando ia visitar os pais, em Guaraci, as crianças costumavam cercá-lo na rua. Era querido e respeitado.
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Há outros traços bastante comuns entre os assassinos em série. Um é a existência de traumas sexuais na infância. Francisco diz ter sofrido abusos de uma tia. Outro é a argúcia que manifestam para realizar os crimes. Eles têm de enganar e aperfeiçoam seus métodos vítima após vítima. Observam detalhes, corrigem o que está imperfeito. Situam-se entre dois limites: ou são mais inteligentes do que a média, e por isso capazes de planejar minuciosamente, ou são menos dotados intelectualmente, e matam como bestas-feras. Após duas horas de conversa com Francisco, a perita Jane Pacheco Belucci, 38 anos, da Polícia Civil de São Paulo, saiu convencida: "Ele é inteligentíssimo. Tem uma fala mansa que convence".
Convence. Uma de suas vítimas, M.C., de 18 anos, que reconheceu Francisco como o estuprador que a dominou no Parque do Estado depois de convidá-la a posar para fotos, disse na quinta-feira passada, diante de um batalhão de repórteres: "Ele sabe fazer ar de desamparado". Francisco estava com esse ar no primeiro encontro com os pais depois de sua prisão. Quando as luzes das câmeras de televisão se apagaram, logo em seguida à entrevista coletiva, chorou no ombro da mãe e do pai como uma criança. Com as mãos algemadas, passava os braços em torno do pescoço deles enquanto dizia que havia pensado muito na família nas últimas semanas. Maria Helena perguntou baixinho:
— Meu filho, você fez essas coisas todas? Francisco colocou a cabeça em seu ombro, chorando. O desejo de aparecer
Maria Elisa: Escola Base e Bar Bodega, preferência por causas antipáticas
Foto: Antonio Milena Aos 50 anos, a advogada Maria Elisa Munhol, três filhas — 30, 28 e 12 anos —, é uma especialista em causas antipáticas. Também é uma vencedora. Foi ela quem conseguiu provar a inocência de um dos acusados do crime do Bar Bodega, um pobre coitado que a polícia, depois de torturar, apresentou como culpado pela morte de um rapaz e uma moça, em São Paulo. Antes disso, foi Maria Elisa também que demonstrou ser infundada a acusação de abuso sexual de crianças que pesava sobre um casal envolvido no escândalo da Escola Base, de São Paulo. Esse caso se tornou emblemático. Porque destruiu a vida dos
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acusados, salvos por um triz de ser linchados, e mostrou os riscos de um jornalismo apoiado apenas em informações oficiais da polícia. Agora, de novo, Maria Elisa está envolvida em uma causa antipática, a defesa do motoboy suspeito de ser o "maníaco do Parque".
Veja — O senhor Francisco de Assis Pereira admitiu ter matado nove mulheres, entre as quais a jovem Isadora Fraenkel. O que a senhora tem a dizer sobre isso?
Maria Elisa Munhol — É interessante que essa confissão entre aspas tenha sido obtida por vocês. Eu não sou psiquiatra, mas minha experiência indica que Francisco deve ter o que os especialistas chamam de "transtorno de personalidade". Não descarto a hipótese de ele ter feito essa confissão como forma de aparecer mais, de se tornar uma grande estrela, de virar um grande astro. Aliás, esse exibicionismo pôde ser facilmente verificado por ocasião da entrevista coletiva que Francisco deu em sua chegada a São Paulo. Ele falou sem parar e estava evidentemente muito à vontade nessa atuação. É claro que tem um enorme desejo de aparecer, de ser valorizado. Se esse tipo de "transtorno de personalidade" ficar comprovado, a confissão que vocês têm em mãos não é digna de confiança nem de crédito.
Veja — A senhora está dizendo que Francisco, que admite as mortes, mente para aparecer. Por que não acreditar que ele esteja mentindo ao se dizer inocente?
Maria Elisa — Já sabemos aonde levam os pré-julgamentos que a imprensa tanto gosta de fazer. Veja o caso da Escola Base, ou do crime do Bar Bodega, ou do professor Leonardo de Castro, acusado de colocar a bomba no avião da TAM, ou do funcionário público Jorge Mirândola, acusado de enviar uma carta-bomba ao Itamaraty. Todos os acusados foram destruídos covardemente. Quando a verdade veio à tona, essas vidas já estavam no precipício.
Veja — Mas e o reconhecimento das vítimas que sobreviveram ao maníaco? E a coincidência de a jovem Isadora desaparecer e Francisco logo em seguida estar usando cheques dela? Isso, mais a confissão, não faz sentido?
Maria Elisa — A confissão é chamada nos meios jurídicos de "prostituta das provas". É assim exatamente porque depende de subjetividades imensas. Por outro lado, os reconhecimentos que foram feitos até o momento só aconteceram por intermédio de fotografias ou imagens de televisão. O reconhecimento pessoal ainda não foi feito. E, mesmo esse, é sujeito a dúvidas grandes. O Francisco tem um tipo físico igual ao de milhões de brasileiros. E, atenção, não possui um detalhe que a polícia dizia ser fulcral ao reconhecimento: a falha na sobrancelha. Do que estamos falando, então? É preciso ter muita cautela, porque, se devemos respeito às vítimas e seus parentes, também o devemos à
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mãe do suspeito e ao próprio suspeito. Antes de apontarmos o dedo acusando alguém de uma prática, precisamos refletir em cima dos laudos periciais, dos pareceres técnicos. A inocência presumida é um princípio constitucional.
Veja — A senhora acha que seu cliente é, então, apenas um mentiroso inocente?
Maria Elisa — Ontem, o Francisco prestou um depoimento de sete horas consecutivas, no qual admitiu que mantinha práticas sexuais não usuais. Eu não sou especialista nessa área, mas tenho claro que ele necessita de ajuda psiquiátrica. Daí a julgá-lo automaticamente culpado dos crimes de que o acusam vai uma distância longa. Se, lá na frente, ficar comprovada a responsabilidade dele por intermédio dos laudos e perícias, então teremos uma outra luta: aquela que visa garantir aos portadores de transtornos de personalidade o direito de ser tratados. Execrá-los, pura e simplesmente, é desumano.
Veja — A senhora conversou com Francisco em várias oportunidades desde que ele foi preso. Repito a pergunta: ele é inocente? Maria Elisa — Eu busco a justiça.
Elisângela, 21 anos: passeio no shopping
Elisângela Francisco da Silva tinha 21 anos.
Paranaense, filha de uma família pobre de Londrina,
vivia em São Paulo, com a tia Solange Barbosa, desde
1996. Por causa das dificuldades financeiras,
abandonou a escola na 7ª série. Às 6 horas da tarde
de 9 de maio, ela foi deixada por uma amiga no
Shopping Center Eldorado, na Zona Oeste de São
Paulo. Nunca mais foi vista. Seu corpo foi encontrado
em 28 de julho, no Parque do Estado. Ela estava nua.
O corpo já decomposto exigiu um árduo trabalho de
identificação. "Eu tinha esperança de que não fosse
ela", diz a tia. Era. Elisângela era conhecida pela
timidez excessiva. Diante do olhar mais detido de um
desconhecido, sempre abaixava o rosto. Pertencia à
Igreja Batista, mas recentemente freqüentava a igreja
Deus É Amor. "Aceitei Jesus", justificava. Em casa,
ajudava nos cuidados com a Letícia, de 3 anos, filha de
uma de suas primas. Desde a morte de Elisângela, a
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menina, vir pergunta pela moça. Ao passar pelo
shopping, Letícia aponta e chora: "Lisângela ficou aqui!
Lisângela ficou aqui!" No dia de seu desaparecimento,
Elisângela saiu de casa dizendo que voltaria em 2
horas.
Raquel Rodrigues, 23 anos: "É, eu não vou"
A grande ambição de Raquel Mota Rodrigues, de 23 anos, era ganhar dinheiro para ajudar a família, que vive em Gravataí, no Rio Grande do Sul. "Era uma moça muito ingênua", diz a prima Lígia Crescêncio, com quem Raquel morava desde o final de 1997. "Acreditava muito facilmente nas pessoas." Nos finais de semana, Raquel costumava freqüentar barzinhos com três amigas. Nunca chegou em casa depois da meia-noite. Por volta das 8 horas da noite de 9 de janeiro, ela saiu da loja de móveis onde trabalhava como vendedora, no bairro de Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista. Ao desembarcar na Estação Jabaquara do metrô, já quase em casa, telefonou para a prima. Avisou que conhecera um rapaz e que aceitara posar de modelo para ele em Diadema, na Grande São Paulo. "Disse que era melhor ela não ir", lembra Lígia. Era muito arriscado sair com um desconhecido. "É, eu não vou", respondeu a garota. Raquel nunca mais apareceu. Seu corpo foi encontrado no matagal do Parque do Estado no dia 16 de janeiro. Poucos dias antes de morrer, Raquel estava extremamente feliz. Acabara de arrumar um novo emprego. Trabalharia
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numa loja de móveis maior, onde as comissões seriam mais polpudas.
Selma, 18 anos: sonho de cursar a faculdade
Na quinta-feira passada, Selma Ferreira Queiroz completaria 18 anos. Moça simples, a mais nova de três irmãs, pretendia terminar os estudos (estava na 7ª série do 1º grau) e fazer faculdade de ciências contábeis ou computação. Os planos de Selma, contudo, foram interrompidos na tarde de 3 de julho. Entre sua casa, na cidade de Cotia, na Grande São Paulo, e o centro da capital paulista, onde trataria das formalidades referentes a sua demissão como balconista de uma rede de drogaria, ela desapareceu. Era uma sexta-feira. No dia seguinte, um homem telefonou para Sara, irmã de Selma. Informou que a moça havia sido seqüestrada. Pediu um resgate de 1.000 reais. Voltaria a ligar no final da tarde. Não ligou. Nesse mesmo dia, o corpo de Selma foi encontrado no Parque do Estado. Estava nua, com sinais de estupro e espancamento. Nos ombros, seios e interior das pernas, havia marcas de mordidas. No rosto, a feição da dor. Selma morreu estrangulada. O último sinal de vida da garota foi para o namorado. Às 3 da tarde de sexta, de um telefone público, ela avisou que não chegaria a tempo para assistir ao jogo do Brasil contra a Dinamarca com ele. Mas que estava a caminho de casa.
Patrícia, de 24 anos: bijuterias na mata
Aos 24 anos, Patrícia Gonçalves Marinho nunca revelara à família o sonho de ser modelo. Adorava, no entanto, posar para fotografias ao lado de parentes e amigos. Vendedora, era uma moça alegre, comunicativa. Fazia amizade com muita facilidade, em grande parte porque tinha uma confiança ingênua nas boas intenções de todo mundo, mesmo desconhecidos. No dia 17 de abril, ela saiu da casa da avó Josefa, com quem morava. Desapareceu. Seu corpo só foi descoberto em 28 de julho. Estava jogado numa área erma do Parque do Estado. Devido ao avançado estado de putrefação, a identificação de Patrícia só foi possível porque ao lado do corpo foram encontradas roupas e bijuterias
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Fotos: Álbum de Família
da moça. Foi estuprada. Morreu por estrangulamento. Patrícia foi enterrada no Cemitério de Vila Formosa, em São Paulo, no último dia 5. Durante os serviços fúnebres, o clima entre parentes e amigos de Patrícia era de muita revolta. Alívio também — um dia antes, Francisco havia sido preso. "A simplicidade e ingenuidade de minha filha devem ter facilitado a abordagem do assassino", disse o pai da garota, o motorista particular João Severino Marinho.
O reencontro de Francisco com os pais: choro de criança
Foto: Alex Ribeiro/Folha Imagem Em seu diário, Francisco escreve sobre conquistas amorosas, romances impossíveis e momentos de muita agressividade. Tudo se mistura em frases repletas de erros de ortografia: "Princeza encantadora que me faz sonhar. só de pensar nela me dá vontade de chorar de gritar de alegria ti amo muito". Em 6 de abril de 1996, na casa dos pais em Guaraci, interior de São Paulo, ele escreveu: "Quando lembro daqueles momentos fico completamente excitado, malvado, carente, as coisas se englobam de uma só vez (...) Janete Nogueira Lemos pra achar alguém como você não sera fácil, mas estou procurando uma criança de 12 ou 13 anos para que eu possa dominala como dominei você".
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C- DECISÃO DO CASO “MANÍACO DO PARQUE”
São Paulo - Os cinco homens e duas mulheres do júri do motoboy Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque, vão decidir ainda hoje se o réu deve ter a sua pena reduzida por ser considerado uma pessoa com transtorno de personalidade, diminuindo sua pena, ou se ele deve ser considerado apenas uma pessoa má, mas inteiramente consciente dos crimes que cometeu. Essa é a única polêmica entre defesa e acusação no primeiro julgamento por homicídio do homem acusado de pelas mortes de mulheres ocorridas em 1998 no Parque do Estado, na zona sul de São Paulo.
Defesa e acusação pedem a condenação de Pereira pela morte da comerciária Rosa Alves Neta, de 21 anos. Caso seja condenado, pode pegar até 33 anos por homicídio e ocultação de cadáver. O maníaco confessou o assassinato durante seu interrogatório ontem, pouco depois do início do julgamento. Justificou-se dizendo que havia sido possuído por "forças malignas".
Pereira é réu em sete casos de homicídio - em dois outros a acusação contra ele foi arquivada. Ele foi condenado no ano passado a 107 anos de prisão por roubos, estupros e atentados violentos ao pudor.
Laudo psiquiátrico atesta que o maníaco é portador de um transtorno anti-social de personalidade, atual nome do que antigamente era chamado de psicopatia, sendo, portanto, semi-imputável. Se o júri acolher o laudo, o juiz decidirá se determina que o motoboy seja internado até ser curado ou se ele cumprirá pena de prisão, devendo necessariamente diminuí-la em relação a que seria dada caso o exame não seja levado em consideração.
Os debates começaram às 15 horas. Para o promotor Edilson Mongenout Bonfim, a sociedade não pode correr o risco de Pereira ser mandado a um hospital psiquiátrico e solto pouco depois como ocorreu com outros maníacos, como o "Chico Picadinho". Solto dez anos depois de matar e esquartejar uma
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mulher em São Paulo, e após ter sido considerado curado, voltou a cometer o mesmo tipo de crime.
Bonfim disse ainda que a personalidade do motoboy é apenas uma variante da normal. Ele, afirmou, entende o que faz. "Ele não rasga dinheiro, nem toma ônibus errado", afirmou. O promotor contou que uma das vítimas sobreviventes do maníaco escapou de ser estuprada porque disse ser portadora do vírus HIV, causador da Aids.
A advogado do réu, Maria Elisa Munhol, afirmou que seu cliente não é uma pessoa normal. Ele, segundo disse, é um psicopata perverso e deve ser tratado.
O segundo do dia do julgamento do maníaco começou com o depoimento da segunda testemunha de acusação, o psiquiatra Paulo Argarate Vasques, perito que assinou o laudo que considerou Pereira como um homem portador de um transtorno anti-social de personalidade. O promotor perguntou ao perito se ele considerava correta, do ponto de vista científico, a definição de semi-imputabilidade da lei brasileira.
O perito disse que não, que era muito difícil saber se o réu tinha condições na época do crime de dominar a sua vontade de matar, embora soubesse que se tratava de um delito. "O réu não tem relações sociais, não forma vínculos afetivos, sendo que a crueldade, o desejo de causar sofrimento desnecessário à vítima, a perversidade é a sua característica", disse o psiquiatra.
Ele concluiu dizendo que não há tratamento para o caso de Pereira. Segundo ele, o réu deve permanecer preso pelo resto de sua vida, já que em liberdade poderia voltar a matar. Ontem à noite, os jurados ouviram o depoimento de Maria Luisa Cabral, irmã da vítima. Emocionada, ela pediu que o réu fosse retirado da sala enquanto fosse ouvida. "Por quê?", perguntou o promotor. "Eu não ia aguentar olhar para aquela cara, sabendo que ele fez uma barbaridade com a minha irmã. Sei que já passou muito tempo, mas ele tirou a vida de alguém que poderia estar aqui”.
Marcelo Godoy
"Maníaco do parque" é condenado a mais 24 anos de prisão
Depois de dois dias de julgamento, o ex-motoboy Francisco de Assis Pereira é condenado a mais 24 anos e seis meses de prisão pelo homicídio triplamente qualificado da estudante Isadora Fraenkel e por ocultação de cadáver e estelionato.
O juiz Waldir Galciolari sentenciou 19 anos pelo homicídio, 3 anos mais 20 dias-multa pelo estelionato e 2 anos e seis meses mais 20 dias-multa por
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ocultação de cadáver. Os jurados foram unânimes. Os 40 dias-multa equivalem a cerca de um salário mínimo, segundo o promotor Edílson Bonfim.
Francisco de Assis Pereira aplaudiu a sentença. "Fico extremamente satisfeito pois sinto uma sintonia entre o corpo de jurados e a sociedade", afirmou o promotor Edílson Bonfim. A madrasta de Isadora, Elizabeth Biorkstrom, e o pai da vítima, Cláudio Fraenkel, comemoraram a sentença. "O ideal seria prisão perpétua, mas como a lei não permite, já está satisfatório", disse Elizabeth.
Conhecido como "maníaco do parque", Pereira já cumpre pena na Penitenciária de Itaí por condenações anteriores de estupro de Rosa Alves Neta (15 anos), ocultação de cadáver (1 ano) e estupro, atentado violento ao pudor e roubo (107 anos) contra outras mulheres, somando 123 anos de prisão. Com a condenação de hoje, somam-se 147 anos de sentença.
O julgamento começou na quarta-feira com o depoimento de Pereira, que confessou o crime e alegou que estava "possuído por uma força maligna". Outras cinco testemunhas também foram ouvidas no primeiro dia de julgamento.
Nesta quinta-feira, foi feito o debate entre o promotor Edílson Bonfim e a advogada do réu Maria Elisa Munhol, que durou quatro horas e 36 minutos.
A advogada defendia que seu cliente era "inimputável", ou seja, portador de distúrbio psíquico e não poderia ser responsabilizado pelos seus atos criminosos. Assim, Assis Pereira teria sua pena reduzida em pelo menos um terço ou seria encaminhado a um hospital psiquiátrico. Lá, caso fosse constatada sua "melhora", poderia ser libertado.
O promotor contestou. Para Bonfim, o motoboy possuiria um distúrbio de comportamento anti-social, mas isso não impediria que ele soubesse as conseqüências de seus atos e tomasse as atitudes conscientemente. Assim, poderia ser integralmente responsabilizado pelo crime e receber a pena normal. Os jurados aceitaram a tese da promotoria e consideraram o ex-motoboy plenamente imputável.
Bonfim torcia apenas para que Pereira não fosse condenado a mais de 20 anos de prisão, ou a advogada poderia pedir imediatamente um novo julgamento. Como em nenhum crime a pena ultrapassou 20 anos, Francisco de Assis Pereira não tem direito de pedir automaticamente um segundo júri popular.
Quanto a outro tipo de recurso, a advogada Maria Elisa Munhol disse apenas que "quem vai decidir é ele".
Além de assumir que violentou e matou Isadora, o ex-motoboy ainda afirmou que roubou o talão de cheques da estudante e usou três folhas: uma com o valor
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de R$ 200,00 usou para comprar um capacete; de outra usou 500,00 e preencheu uma terceira de R$ 50,00 para pagar dívidas.
Francisco de Assis Pereira deve ser julgado ainda pela morte de outras cinco mulheres, cujos cadáveres foram encontrados enterrados no Parque do Estado, para onde ele costumava levar suas vítimas, estuprá-las e matá-las. No total, a promotoria conseguiu reunir provas de sete homicídios e uma tentativa de homicídio, além de outros atentados violentos ao pudor. Estes e duas mortes já foram julgadas. D – PSICOPATAS CONHECIDOS
Chico Picadinho, São Paulo, 1966 e 1976: duas esquartejadas
Charles Manson, Estados Unidos, 1969: sete mortos, entre eles a atriz Sharon Tate
Henry Lee Lucas, Estados Unidos, de 1976 a 1983: 140 cadáveres
Fortunato BottonNeto, São Paulo, de1987 a 1989:treze homossexuais
Jeffrey Dahmer, EUA, 1991: matou dezessete rapazes e comeu seu
s órgãos
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Marcelo de Andrade, Rio de Janeiro, 1991: estupro e degola de catorze crianças
Frederick West, Inglaterra, de 1969 a 1994: doze mulheres e meninas
Marc Dutroux, Bélgica, de 1989 a 1996: violentou seis crianças e matou quatro
Fotos: Marisa Ochiyama/Oscar Cabral/Carlos Namba
Com reportagem de Laura Capriglione, Cristine Prestes, de Porto Alegre, Angélica Santa Cruz, Samarone Lima e Glenda Mezarobba