UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – RIO CLARO
GUSTAVO SILVEIRA BORGES DE CARVALHO
AVALIAÇÃO DA APLICAÇÃO DE INSETICIDAS NO CONTROLE DE ESCORPIÕES Tityus serrulatus E DO EFEITO RESIDUAL DOS
TRATAMENTOS NAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS DE LAGOA DA PRATA –
MINAS GERAIS
Rio Claro-SP 07/2013
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENTOMOLOGIA URBANA: TEORIA E
PRÁTICA
FOLHA DE ROSTO
GUSTAVO SILVEIRA BORGES DE CARVALHO
AVALIAÇÃO DA APLICAÇÃO DE INSETICIDAS NO CONTROLE DE ESCORPIÕES Tityus serrulatus E DO EFEITO RESIDUAL DOS TRATAMENTOS
NAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS DE LAGOA DA PRATA – MINAS GERAIS
Monografia apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Entomologia Urbana. Orientadora: Dra. Ana Eugênia de Carvalho Campos
Rio Claro-SP 07/2013
FOLHA DE APROVAÇÃO
GUSTAVO SILVEIRA BORGES DE CARVALHO
AVALIAÇÃO DA APLICAÇÃO DE INSETICIDAS NO CONTROLE DE
ESCORPIÕES Tityus serrulatus E DO EFEITO RESIDUAL DOS TRATAMENTOS NAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS DE LAGOA DA PRATA – MINAS GERAIS
Monografia apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Entomologia Urbana.
Comissão Examinadora
____________________________________ Membro 1, titulação e instituição
_____________________________________
Membro 2, titulação e instituição
_____________________________________ Membro 3, titulação e instituição
Rio Claro, SP____ de _______________ de ________
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha amada esposa Flávia e meus filhos Henrique e Sofia. Mas sem os meus pais, Célio e Rosa Maria, seria impossível conclui-lo.
A vocês, meu muito obrigado.
AGRADECIMENTOS Um desorientado perde o bonde. Ana Eugênia o desafia, pegue, pegue. Eu te levo. E leve como chumbo. Tão certo quanto pesa no firme caminho. Do bonde pego os bichos. O espírito, Rosana prepara. Que Paulo começa e Adriano dispara. Do cemitério a Prefeitura de Lagoa liberta. Sem chance, a noite farta do André, do Celso e do Marcus. Quem prepara a arena é o Antunes. Segura firme este parafuso, Henrique! Longe da terra que lhes abrigará. No ninho construído pelo Zezinho. Que fome, que fome. Gritam os bichos. Fabrício tonteia algumas. Gabriele reforça o cardápio. As que chegam ungidas por São Cristóvão. Baratas que matam a fome de Colegas ávidos. O espetáculo já pode começar. André pega a lança. Desin, definf, desinsecta. Tanto trabalho. Quanto ardor. Para Josiane e Carla o patrão endoidou. Se faltar bicho, fala com Geraldinho. Em Samonte farto é o dia. Muitos bichos para Flávia contar. Mas é Marineia quem vai calcular. Padrinho é o Tio Luizinho, e a Dú. Sem licença e sorrateiro, os meninos dormem. Bruno, Luiz Vicente e Ana Luiza sem sombra. Quando acordam. Já fui. “É Nóis Curintians”. Sem estas pessoas o chumbo ficaria pesado demais. Sorte minha e da Sofia que vamos sempre lembrar. Até o Cláudio queria saber. Não poderia ser diferente, estes versos são para valer.
Ana Eugênia de Carvalho Campos – Orientadora (Instituto Biológico de São Paulo) Rosana Martins – Laboratório de Artrópodes do Instituto Butantan
Paulo Guilherme dos Santos Castro e Adriany Alfredo Azevedo– Centro de Controle de Zoonoses de Lagoa da Prata André Romualdo, Celso Ferreira e Marcus Fernades- Técnicos Operacionais da Desinsecta
José Antunes Filho – Pre Fabricados Antunes Henrique Nascimento Borges Carvalho e Sofia Braga Borges carvalho – Filhos
José Osvaldo de Melo Zezinho – Pedreiro Fabrício Caldeira Reis (Pós Graduando USP) e Gabriele Saqui (Desenvolvimento BASF) – Colegas de Turma
Josiane Cristina dos Santos e Carla Teófilo Mateus – Assistentes da Desinsecta Antônio Geraldinho Pacífico – Coveiro Cemitério de Santo Antônio do Monte
Flávia Rezende Braga Carvalho - Esposa Marinéia de Lara Haddad – Doutora em Estatística e Experimentação Agronômica – ESALQ – USP
Luizinho, Maria Ducarmo, Bruno, Luiz Vicente e Ana Luiza – Logística em São Paulo Cláudio Maurício Vieira de Souza – Laboratório de Artrópodes do Instituto Vital Brazil
EPÍGRAFE
*ESCORPIÃO*
(de 23 de outubro a 21 de novembro)
Mulher de escorpião
Comigo não!
É Abelha Mestra
É a Viúva Negra
Só vai de vedete
Nunca de extra.
Cria o chamado conflito
de personalidades.
É mãe tirana
Mulher tirana
Irmã tirana
Filha tirana
Neta tirana
tirana tirana.
Agora, de cama diz
que é boa paca. (VINÍCIUS DE MORAES, 1975)
RESUMO
CARVALHO, Gustavo Silveira Borges. Avaliação da aplicação de inseticidas no controle de escorpiões Tityus serrulatus e do efeito residual dos tratamentos nas condições ambientais de Lagoa da Prata – Minas Gerais. Monografia apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Entomologia Urbana. Rio Claro – S.P. 2013 Inúmeros estudos concluíram pela falta de pesquisa e informações mais detalhadas para que se possa recomendar uso de produtos químicos no controle de escorpiões. Há muito, os órgãos governamentais e diversos autores ligados ao assunto preconizam formas alternativas e preventivas como medidas mitigadoras da ocorrência destes animais. Entretanto os acidentes aumentam a cada ano. O objetivo deste trabalho foi testar tratamentos com inseticidas tendo como substrato a calçada entorno das residências, local onde estes animais são frequentemente encontrados na região. A condução do experimento se deu entre os meses de março a maio de 2013. Conseguimos adaptar bandejas de plástico como arenas de testes encravadas na calçada lateral de uma residência, simulando um contrapiso oco e submetidas às condições ambientais e de manejo do cotidiano de uma residência na cidade de Lagoa da Prata, Minas Gerais. Após a aplicação de lambdacialotrina, deltametrina em pó e lambdacialotrina + deltametrina em pó, concluímos que a lambdacialotrina sozinha, ou seja, sem associação com qualquer outro princípio ativo, na concentração recomendada pelo fabricante aplicada nas frestas é capaz de eliminar os escorpiões presentes. Também concluímos que o efeito residual deste tratamento perdura por pelo menos 104 dias após a aplicação com níveis satisfatórios de mortalidade, sendo possível sua recomendação complementar às práticas de prevenção desde que observadas algumas condições de segurança. Palavras-chave: Controle Químico de Escorpiões. Tityus serrulatus. Lambdacialotrina. Animais Peçonhentos.
Abstract
CARVALHO, Gustavo Silveira Borges. Evaluation of the application of insecticides to control scorpions Tityus serrulatus and residual effects of treatments in environmental conditions in Lagoa da Prata - Minas Gerais. Paper presented at the Institute of Biosciences of Rio Claro Campus, São Paulo State University, as part of the requirements to obtain the title of Specialist in Urban Entomology. Rio Claro - S. P. 2013 Numerous studies have found a research lack and detailed information recommending the use of chemicals to control scorpions. For a long time, government organizations and various authors related to the subject advocate alternative approaches and preventive and mitigating measures of the occurrence of these animals. However, accidents increase each year. The aim of this study is to test treatments with insecticides having as substrate the sidewalk surrounding the homes, where these animals are often found in the region. The experiment took place between the months from March to May 2013. Well succeeded adapting the plastic trays as arenas for testing embedded on the sidewalk side of a residence - that simulates a hollow subfloor - and subjected to environmental conditions and to the daily life of a residence in the town of Lagoa da Prata, Minas Gerais. After application of lambdacyhalothrin, deltamethrin and lambdacyhalothrin powder + powder deltamethrin, we concluded that lambdacyhalothrin alone, without association with any other active principle, and at the concentration recommended by the manufacturer, when applied to the slits, is able to eliminate the scorpions. We also conclude that the residual effects of this treatment lasts for up to 104 days after application, with satisfactory levels of mortality. We can recommend, as a supplementary practice to prevention practices, as long some security conditions are observed. Keywords: Chemical Control of Scorpions. Tityus serrulatus. Lambdacyhalothrin. Venomous Animals.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Fotos de uma calçada lateral de uma residência em Lagoa da Prata. ................................ 12 Figura 2 - Exemplares da espécie Tityus serrulatus coletados no cemitério de Lagoa da Prata. ........ 13 Figura 3 - Processo de coleta e armazenamento de indivíduos antes de serem encaminhados ao criatório. ................................................................................................................................................. 14 Figura 4 - Caixa de criação dos escorpiões. ......................................................................................... 15 Figura 5 – Montagem da arena de testes. ............................................................................................ 16 Figura 6 – Preparação do substrato para recebimento das arenas de teste. ....................................... 17 Figura 7 – Experimento instalado e preparado para receber os tratamentos. ..................................... 17 Figura 8 – Instalação do Termohigrômetro e de seu sensor dentro da fresta. ..................................... 18 Figura 9 - Processo de lavação das placas de cimento. ..................................................................... 19 Figura 10 – Mesa adaptada para observações dentro da fresta. ......................................................... 21 Figura 11 – Laudo de identificação de espécie do Laboratório Especial de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan atestando serem da espécie Tityus serrulatus. ....................................................... 22 Figura 12 – Análise do solo utilizado no fundo das bandejas de testes. .............................................. 23 Figura 13 – Fotos de alguns tratamentos no momento da avaliação. .................................................. 29
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Dados climáticos obtidos durante o experimento. Temperatura em graus celcius. Umidade relativa do ar em % e chuva em milímetros. Período 18/03 a 19/05. ................................................... 25 Quadro 2 – Dados climáticos obtidos durante o experimento. Temperatura em graus celcius. Umidade relativa do ar em % e chuva em milímetros. Período 28/05 a 18/07. ................................................... 26 Quadro 3 – Comparação da variação de calda aplicada nos tratamentos (D=Demand, KD = K-Othrine 2p + Demand) em suas respectivas repetições ( 1, 2, 3 e 4) com a variação do número de escorpiões mortos no T0 e T45. .............................................................................................................................. 27 Quadro 4 – Mortalidade em cada repetição (T1, T2, T3 e T4) do tratamento testemunha em %. ....... 28 Quadro 5 – Mortalidade em cada repetição (K1, K2, K3 e K4) do tratamento K-Othrine 2p em %. Células em amarelo indicam observação de animais desalojados. ..................................................... 28 Quadro 6 – Mortalidade em cada repetição (KD1, KD2, KD3 e KD4) do tratamento K-Othrine 2p + Demand em %. Células em amarelo indicam observação de animais desalojados. ........................... 28 Quadro 7 – Mortalidade em cada repetição (D1, D2, D3 e D4) do tratamento Demand em %. Células em amarelo indicam observação de animais desalojados. .................................................................. 29
LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Análise estatística da mortalidade dos escorpiões pelo Adjustment for Multiple Comparisons: Tukey <5%. .................................................................................................................... 31
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10 2 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 12 2.1 Os Escorpiões ................................................................................................... 12
2.1.1 Espécie ..................................................................................................... 12
2.1.2 Coleta ........................................................................................................ 13 2.1.3 Criação ...................................................................................................... 14
2.1.4 Ambientação ............................................................................................. 15 2.2 O Substrato ........................................................................................................ 15
2.2.1 Arena de Teste .......................................................................................... 15 2.2.2 Solo ........................................................................................................... 16 2.2.3 Placa de Cimento ...................................................................................... 16
2.2.4 Posicionamento ......................................................................................... 17 2.2.5 Isolamento e Segurança ........................................................................... 17
2.3 Condições Ambientais e Manejo ..................................................................... 18 2.3.1 Dados Climáticos ...................................................................................... 18
2.3.2 Manejo do Meio. ........................................................................................ 18 2.4 Os Tratamentos ................................................................................................. 19
2.4.1 K-Othrine 2p .............................................................................................. 19
2.4.2 Demand 10 CS .......................................................................................... 20
2.5 Condução do Experimento ............................................................................... 21 3. RESULTADOS ...................................................................................................... 22 3.1 Espécie ............................................................................................................... 22
3.2 Ambientação ...................................................................................................... 22 3.3 Solo...... ............................................................................................................... 23
3.4 Dados Climáticos .............................................................................................. 24 3.5 Dosagens Aplicadas ......................................................................................... 26
3.5.1 K-Othrine 2p. ............................................................................................. 26 3.5.2 Demand 10 CS .......................................................................................... 27
3.6 Mortalidade ........................................................................................................ 27 3.6.1 Testemunha .............................................................................................. 27
3.6.2 K-Othrine 2p .............................................................................................. 28 3.6.3 K-Othrine 2p + Demand 10 CS ................................................................. 28 3.6.4 Demand 10 CS .......................................................................................... 29
4 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 29 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 33
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 35
10
1 INTRODUÇÃO
O escorpião Tityus serrulatus tornou-se um grande problema de saúde
pública em função da boa performance invasiva em habitações humanas e a rápida
geração proporcionada pela reprodução por partenogênese, ou seja, sem a
necessidade de machos. Relatos do Ministério da Saúde dão conta de que 50.126
pessoas foram picadas por escorpião em 2010 e destas 88 foram a óbito (BRITES;
GALASSI, 2012).
Em 2005 os acidentes por escorpião já haviam superado os acidentes por
serpentes, respondendo por 43% do total de acidentes causados por animais
peçonhentos (BOCHNER, FISZON, 2007).
Capaz de até duas proles por ano, cada uma com até 20 filhotes, apenas um
indivíduo pode iniciar uma colonização rápida e silenciosa de forros, encanamentos,
instalações elétricas, galerias pluviais e outras áreas de dispersão, chegando a 160
filhotes durante a vida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
Também conhecidos como lacraus os escorpiões são artrópodes terrestres
quelicerados que integram a classe Arachnida, juntamente com as aranhas, ácaros
e outros. A ordem Scorpiones representa 1,5% dos aracnídeos conhecidos. A
estimativa total da diversidade é de 7000 espécies (CODDINGTON; COLWELL,
2001 apud BRAZIL; PORTO, 2011, p.18).
Bochner e Fiszon (2007) destacam a predominância da espécie Tityus
serrulatus sobre as demais em virtude de sua alta capacidade de domiciliação e por
ser a única espécie no Brasil que se reproduz por partenogênese, ou seja, a espécie
é formada apenas por fêmeas sem necessidade de machos para fecundação.
Mas segundo Lourenço (2008 apud BRAZIL; PORTO, 2011, p. 28) outras
quatro espécies partenogenéticas ocorrem no Brasil, porém com menor importância
em saúde pública.
Souza (2012) analisou diversas publicações clássicas com propostas
semelhantes de linha de atuação para controle: promoção de informação a
população, redução de opções de abrigo, limpeza do ambiente e eliminação de
insetos domésticos, proteção aos predadores e coleta direta dos animais. As
publicações mais atuais ainda citam as preocupações ambientais e técnicas de
mapeamento e índice de infestação em detrimento ao emprego de moléculas
escorpionicidas.
11
Talvez pelo fato de terem poucos estudos e pouco profundos a respeito da
utilização de produtos químicos discute-se que haja embasamento insuficiente, além
da constatação de que animais expostos a doses limites apresentavam sinais de
intoxicação por períodos de até dez dias e conseguiam se desintoxicar
completamente. A utilização de produtos químicos depende não só do produto, mas
do treinamento do aplicador (SOUZA, 2012).
Matthiesen (1975) relata de forma prática os hábitos e a biologia dos
escorpiões de forma a orientar quem queira criá-los. É extremamente importante
respeitar estas condicionantes num experimento em ambiente artificial. São de
hábito noturno, morrem por dessecação facilmente e precisam se esconder do sol
em ambientes úmidos e frescos. Não conseguem viver um dia sem água. A cauda é
o melhor lugar para segurá-lo com uma pinça sem feri-lo. O alimento deve estar vivo
e ser fornecido uma vez por semana. Após a coleta não devem ficar juntos
aglomerados em algum frasco, pois podem causar acidentes uns nos outros.
Em ensaio não publicado visando o controle de escorpião através do uso de
vários inseticidas, patrocinado pelo departamento de zoonoses da Prefeitura
Municipal de Limeira – SP em 1996, os tratamentos foram feitos em túmulos no
cemitério municipal e consistia em contagem de escorpiões vivos dentro do túmulo
antes da aplicação e avaliação periódica após as aplicações. O ensaio concluiu que
a formulação Diacap 300sc na dose de 600 mg/m2 apresentou mortalidade de 93,5%
após 165 dias do tratamento.
O Centro de Controle de Zoonoses de Uberlândia também acompanhou
bioensaio avaliando os produtos Fican 80 W, K-Othrine 50 CS e Demand 2,5 CE no
controle de escorpiões. Em condições de laboratório cujo substrato foi azulejo e o
tempo de exposição dos animais ao produto de apenas 15 minutos obteve-se
mortalidade de até 60% após 30 dias da exposição sendo o produto Fican o mais
efetivo (STUTZ et al., 1998).
Entretanto Albuquerque, Barbosa e Iannuzzi (2009) avaliando imóveis
tratados com Demand 2,5 SC na cidade de Recife concluíram que 42% dos imóveis
apresentaram incidência média de 3 indivíduos por casa e que o maior índice foi
registrado na primeira semana após o tratamento sendo que apenas 7% dos
espécimes foram encontrados mortos sugerindo um possível efeito dispersor sobre
os animais.
12
Em ANVISA (2009) o manual de testes de eficácia em produtos
desinfestantes exige condições controladas de laboratório, aplicação em azulejo e
sistema teste com escorpiões adultos criados em biotério para atestar a eficiência de
determinado produto em fase de registro.
Porém o Ministério da Saúde (2009) em seu Manual de Controle de
Escorpiões não recomenda o uso de produtos químicos no controle por considerar
não comprovado cientificamente a eficácia destes em ambiente natural.
É sob esta perspectiva turbulenta que propomos a avaliação de inseticidas
associados à tecnologia de aplicação em condições mais próximas da realidade
urbana. O esconderijo preferencial dos escorpiões junto às edificações deveria ser o
substrato testado. Assim, por observação, elegemos as calçadas laterais externas
das residências como um ponto crítico de uma infestação instalada.
Figura 1 - Fotos de uma calçada lateral de uma residência em Lagoa da Prata.
2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Os Escorpiões
2.1.1 Espécie
Diante da absoluta predominância na região o escorpião escolhido foi o da
espécie Tityus serrulatus ou escorpião amarelo.
13
2.1.2 Coleta
Para evitar problemas de adaptabilidade ou fragilidade os animais utilizados
foram coletados na região, nos cemitérios de Lagoa da Prata e Santo Antônio do
Monte, em detrimento aos criados em biotério, com o consentimento da autoridade
competente, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente acompanhado pelo Centro de
Controle de Zoonoses do município.
A maior parte foi coletada à noite buscando animais livres no ambiente e sem
violar túmulos. Algumas coletas foram diurnas, porém com retirada da tampa de
granito da porta do túmulo. Entre esta tampa de granito e a parede de tijolo que veda
a câmara mortuária foram encontrados muitos escorpiões.
Os animais foram coletados com pinça entomológica segurando-os pela
cauda, porção bem resistente que permite manuseá-los sem risco de ferimentos ou
acidentes.
Durante a coleta os animais eram depositados na caixa de plástico do mesmo
modelo da usada como arena de testes e com pentes de ovos de papelão para lhes
servirem de abrigo e evitar brigas. Cada caixa com no máximo 50 indivíduos ou 20
cm2 por escorpião.
Após a coleta a caixa era fechada com tampa e transportada até o local de
criação.
Figura 2 - Exemplares da espécie Tityus serrulatus coletados no cemitério de Lagoa da Prata.
14
Figura 3 - Processo de coleta e armazenamento de indivíduos antes de serem encaminhados ao criatório.
2.1.3 Criação
Chegando ao local de criação os escorpiões eram contados, identificados e
transferidos para outra caixa também do mesmo modelo da usada como arena de
testes, com borda lubrificada com vaselina para evitar fuga das baratas
disponibilizadas para alimentação. Dentro da caixa foram colocados dois pentes de
ovos empilhados um sobre o outro e separados por uma folha de papelão, o que
aumenta a superfície disponível para 40 cm2 por escorpião, aproximadamente a
mesma relação do biotério do Instituto Butantan. (informação verbal)1
Uma tampa rasa de copo descartável com algodão embebido em água com
reposição diária se encarregou de mantê-los hidratados.
Uma vez por semana foram alimentados com baratas da espécie Periplaneta
americana adultas e ninfas, criadas em laboratório na proporção de 1 barata para
cada 2 escorpiões. Para facilitar o manuseio das baratas foi utilizado gás carbônico
que lhes causa uma paralisia temporária voltando à atividade alguns minutos depois.
Importante lembrar que os escorpiões precisam do estímulo vibratório das presas
vivas para caça-las. Portanto não comem presas mortas, mas compartilham, mesmo
que raramente, a mesma presa recém abatida.
As baratas provenientes de biotérios foram criadas em caixas entomológicas
com borda lubrificada também com vaselina e contendo tubos de papelão para
abrigo, bebedouros de passarinho com algodão e água e potes com ração para
gatos.
1 Por Rosana Martins em visita ao Laboratório de Artrópodes do Instituto Butantan.
15
As criações foram mantidas em uma sala, sem climatização especial, apenas
arejada diariamente, na mesma casa onde foi realizado o experimento. Obviamente
que por questões de segurança a casa se manteve inabitada. Uma vez por mês os
animais eram transferidos para caixas limpas.
Figura 4 - Caixa de criação dos escorpiões.
2.1.4 Ambientação
Antes da primeira exposição dos animais aos tratamentos eles foram
separados em grupos de oito e transferidos para as 16 arenas de testes já
posicionadas uma semana antes da aplicação dos inseticidas. Somente foram
aproveitados animais em perfeito estado, sem nenhuma parte faltando. Isto depende
de observação minuciosa, pois alguns animais podem estar mutilados ou por brigas
dentro da caixa de criação ou por ferimentos provocados durante a coleta.
2.2 O Substrato
O desafio era reproduzir no substrato uma condição real de um ambiente
propício ao abrigo destes animais sem perda de controle sobre a população de
escorpiões de modo a garantir exatidão nos efeitos dos tratamentos.
2.2.1 Arena de Teste
Desta forma utilizamos neste experimento bandejas de plástico transparente
de 40 cm de comprimento, 26 cm de largura e 20 cm de altura. Foi perfurada no
fundo com furos de 5 mm para escoamento da água e tiveram as bordas lubrificadas
com vaselina para evitar fugas.
16
2.2.2 Solo
O fundo da bandeja foi coberto com 1 cm de terra peneirada. A terra foi
coletada no próprio local do experimento e uma amostra submetida à análise físico-
química e textural.
2.2.3 Placa de Cimento
Sobre a terra foi depositada uma placa de cimento de 3 cm de espessura feita
na proporção de uma parte de areia grossa e uma parte de cimento CP5 deixando
um vão de 1 cm entre a placa e a terra.
Esta placa foi construída usando uma arena de teste como fôrma de modo a
se encaixar perfeitamente nela. Em um dos lados de maior comprimento foi colocado
um espaçador feito de mangueira de borracha para abrir uma fresta entre a placa e a
parede da bandeja, simulando uma calçada trincada e oca.
A parte de cima é a face mais lisa e foi lavada com água e detergente antes
de ser montada. A parte de baixo, voltada para a terra no fundo da bandeja é a parte
mais áspera e não foi lavada assim como acontece na construção de uma calçada.
Sustentando esta placa foram colocados na região central três parafusos
galvanizados. Cada um com duas porcas rosqueáveis de modo a permitir o ajuste da
distância em relação ao solo. Não usamos materiais como madeira como espaçador,
pois este absorveria os produtos com potencial de interferir no resultado.
Por cima da placa de cimento, fixamos com silicone uma tampa rasa de copo
descartável para fornecimento diário de água. Desta vez não usamos o algodão
embebido. Somente água, pois o algodão poderia absorver e reter o produto por
tempo acima do que ocorreria normalmente.
Figura 5 – Montagem da arena de testes.
17
2.2.4 Posicionamento
Buracos do tamanho exato da bandeja foram feitos na calçada lateral da
residência que recebeu o experimento. Um total de dezesseis. Estes buracos
ficaram distantes 20 cm da parede da casa e 20 cm entre si, posicionados
paralelamente em relação ao seu maior comprimento. Tinham uma profundidade de
tal forma que o nível da placa de cimento dentro da bandeja estivesse no mesmo
nível do piso da calçada e, portanto recebendo as mesmas influências ambientais.
No fundo deste buraco foi feito um furo de 12 cm de diâmetro por 30 cm de
profundidade e preenchido com brita grossa para drenar o excesso de chuva.
As bandejas foram dispostas na face sul de uma residência no bairro Santa
Eugênia II, conhecido por inúmeras ocorrências de escorpiões, num corredor lateral
de 1 m de largura, sob um beiral de 50 cm e tendo a fresta de 10 cm de
comprimento posicionada mais próximo à parede da casa.
Figura 6 – Preparação do substrato para recebimento das arenas de teste.
2.2.5 Isolamento e Segurança
Por fim o local foi isolado das pessoas de forma a evitar acidentes e telado
com tela passarinheira para evitar predações por aves.
Figura 7 – Experimento instalado e preparado para receber os tratamentos.
18
2.3 Condições Ambientais e Manejo
2.3.1 Dados Climáticos
Os dados de umidade relativa do ar, temperatura máxima e mínima externa e
temperatura máxima e mínima dentro da fresta foram obtidos através do
termohigrômetro digital modelo HT-208 da ICEL. Equipamento instalado a 1,8 m de
altura e sob uma cobertura para não ficar exposta diretamente ao sol.
Este equipamento tem uma sonda de temperatura a cabo cujo sensor foi
instalado sob a placa de cimento coletando dados de dentro da fresta, abrigo dos
escorpiões.
Os dados de pluviosidade foram obtidos com o pluviômetro da Multitec e
instalado no muro com a boca 5 cm acima do topo.
Figura 8 – Instalação do Termohigrômetro e de seu sensor dentro da fresta.
2.3.2 Manejo do Meio.
Com o objetivo de simular o cotidiano de uma residência, uma vez por
semana a superfície das placas de cimento foi lavada com água e detergente líquido
na proporção de 500 ml de água para 10 ml de detergente.
Importante o detalhamento desta operação, pois pode causar contaminação
cruzada entre as arenas de teste. Molhamos um pincel na solução com detergente e
esfregamos toda a superfície da placa de cimento. Depois enxaguamos o pincel em
água corrente ou outra vasilha com água limpa para então repetirmos a operação
nas outras caixas. Por último enxaguamos as placas com água corrente.
Podemos usar as baratas como indicativo de contaminação cruzada uma vez
que são mais sensíveis que os escorpiões. Se por exemplo aparecer barata morta
inteira nas testemunhas, ou seja, não predada, é um forte indicativo de que houve
alguma contaminação e isto pode prejudicar o resultado.
19
Em nenhuma hipótese este local isolado sofreu qualquer outro tipo de
intervenção e se manteve assim até o final do experimento.
Figura 9 - Processo de lavação das placas de cimento.
2.4 Os Tratamentos
Uma semana antes da aplicação os 128 escorpiões, oito em cada uma das 16
caixas, já estavam distribuídos e em ambientação. Um dia antes da aplicação eles
foram alimentados. Fizemos 4 repetições para os seguintes tratamentos:
Testemunha, K-Othrine 2p (deltametrina em pó), Demand 10 CS (lambdacialotrina),
e uma associação de K-Othrine 2p + Demand 10 CS.
No dia 18 de março de 2013, logo pela manhã, antes da aplicação, os
escorpiões foram contados e os mortos foram substituídos.
Todos os equipamentos utilizados na aplicação eram novos para evitar
qualquer tipo de contaminação e obviamente os operadores utilizaram os
equipamentos de proteção individual.
2.4.1 K-Othrine 2p
Foi aplicado com bomba insufladora Garany – polvilhadeira leve – 1kg 422-
10. Com a mangueira de aplicação posicionada junto a fresta foram aplicados 4
acionamentos completos em cada uma das 8 caixas que receberam este tratamento.
A polvilhadeira foi pesada no início e no final. A diferença de peso dividido por 8
caixas indicou a quantidade média gasta em cada tratamento.
O produto utilizado era do lote 2020-12-2505 de fabricação em out/12 com
validade até out/14.
Importante ressaltar que para esta aplicação cada caixa a receber o
tratamento foi levada a um lugar distante das demais para evitar contaminação
cruzada pela névoa formada no ar.
20
2.4.2 Demand 10 CS
A dosagem foi a recomendada pelo fabricante, ou seja, 7,5 ml por litro de
água. Fizemos uma calda de 2 litros de água com 15 ml do produto comercial. O
produto foi do lote IPA2F-0001-12-2880 fabricado em jun/12 com validade até
jun/14.
A aplicação foi feita com pulverizador costal de alavanca de 10L da Garany
com bico universal com ponta regulável. A regulagem foi calibrada para vazão de
270 ml/min. na pressão máxima de trabalho de 45 psi (dado do fabricante). Após
alguns ensaios definimos que o tempo de aplicação seria de 30 segundos.
Como no campo os operadores não dispõem de equipamentos de precisão, a
aplicação foi executada alcançando a pressão de trabalho máxima na alavanca e
medindo o tempo de aplicação com um cronômetro. A aplicação começava
molhando a superfície da placa de cimento e depois direcionando o jato bem rente a
fresta onde ficava até completar os 30 segundos.
A cada aplicação o pulverizador era pesado para aferir exatamente a
quantidade gasta. Utilizamos uma balança de precisão digital Filizola BP6.
2.4.3 K-Othrine 2p + Demand 10 CS
A metodologia de aplicação para cada produto foi exatamente a descrita
acima. Entretanto após alguns ensaios decidimos que a melhor maneira de associar
os dois produtos era aplicar primeiro o K-Othrine 2p para depois aplicar o Demand.
Isto porque aplicando o Demand antes, todo o sistema estaria molhado e poderia
prejudicar a dispersão uniforme do pó seco.
A ideia de associar os dois produtos partiu de uma constatação de campo em
serviços comerciais, onde após a aplicação de pó seco em frestas, notamos o
desalojamento de escorpiões. Embora o serviço não tenha sido contratado para
escorpião a constatação de sua presença indicou o uso do Demand na dosagem
maior indicada para esta praga e direcionada ao abrigo evidenciado. Em aplicações
posteriores a ausência de escorpiões sugeria um controle efetivo.
21
2.5 Condução do Experimento
Durante os 15 dias após a aplicação o experimento sofria intervenções
apenas de manutenção para lavagem da placa de cimento e suprimentos de água e
alimento. Observações quanto ao comportamento e desalojamento eram ocasionais.
Portanto, neste experimento, os animais permaneceram na área tratada
durante todo o tempo, não havendo áreas de escape para locais limpos.
Após 15 dias, as placas foram retiradas e os animais contabilizados. Somente
os animais mortos nas testemunhas foram retirados e substituídos. Já nos
tratamentos, todos os animais mortos ou vivos foram substituídos. Neste momento
simulamos apenas uma reinfestação por outros escorpiões numa área já tratada, ou
seja, não houve mais aplicação de inseticidas sendo que estes novos animais
sofreram apenas o efeitos do residual da primeira aplicação. E assim
sucessivamente ocorreu após 30, 45 e 104 dias da aplicação.
A apuração dos resultados considerou mortos animais sem nenhuma
movimentação aparente ou vivos com qualquer tipo de movimentação e os dados de
mortalidade foram submetidos ao teste estatístico Adjustment for Multiple
Comparisons: Tukey <5%.
Figura 10 – Mesa adaptada para observações dentro da fresta.
22
3. RESULTADOS
3.1 Espécie
Figura 11 – Laudo de identificação de espécie do Laboratório Especial de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan atestando serem da espécie Tityus serrulatus.
Os primeiros animais coletados foram submetidos a identificação junto ao
Instituto Butantan e os demais foram identificados visualmente por semelhança,
sendo a principal característica a serrilha dorsal nos terceiro e quarto segmentos da
cauda (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Todos da espécie Tityus serrulatus.
3.2 Ambientação
No dia da aplicação os animais foram contados e os mortos substituídos. Dos
128 escorpiões tivemos 5 mortes, 3 aparentemente por canibalismo e 1 substituição
por mutilação. Um número bem pequeno demonstrando boa ambientação ao
sistema teste.
23
3.3 Solo
Figura 12 – Análise do solo utilizado no fundo das bandejas de testes.
Dos materiais que fizeram parte do sistema teste, o solo é o que teria maior
capacidade de interferir nos resultados, pois se trata de um sistema dinâmico com
fatores físicos, químicos e biológicos.
Os solos da região de Lagoa da Prata são típicos da região do cerrado
brasileiro, ou seja, muito ácidos, com bastante alumínio, pobres em fósforo e matéria
orgânica, porém com boa resposta a correção.
Contrariando este prognóstico, o solo utilizado parece ter sofrido interferência
da urbanização através de materiais utilizados na construção civil como, por
exemplo, cimento e cal.
24
Como podemos notar o pH está bastante elevado ou básico. Esperava-se teor
de fósforo abaixo de 1 mg/dm3 mas encontramos 12 vezes maior que isto. Nada de
alumínio e com elevado índice de saturação de bases. Texturalmente ele se
apresenta mediano corroborado por uma capacidade de troca catiônica menor.
Há trabalhos buscando correlacionar dureza, pH e presença de outros
elementos químicos na água utilizada no preparo de calda com a eficiência do
princípio ativo aplicado.
Um solo com estas características teria, teoricamente, menor capacidade de
adsover determinados compostos químicos e assim deixa-los mais disponíveis e
ativos. Alguns elementos químicos poderiam reagir com o princípio ativo
desestabilizando-o ou potencializando-o. Porém tal afirmação dependeria de
experimentos específicos para esta finalidade. Neste experimento nos limitamos a
fornecer as características do complexo solo diante do resultado final objeto deste
trabalho.
3.4 Dados Climáticos
Os dados obtidos ajudam a esclarecer porque é tão comum encontrarmos
nesta região escorpiões neste tipo de substrato. Nota-se uma inversão de
temperaturas máximas e mínimas durante o dia dentro da fresta abrigo. Verifica-se
que a amplitude térmica dentro da fresta é menor que externamente conferindo
maior conforto aos animais ao ponto de alguns indivíduos das testemunhas
chegarem a ter filhotes.
Entretanto, isto não significa que foi tudo favorável. O sistema teste passou
por situações limites de temperaturas extremamente elevadas, fortes chuvas e
baixas umidades relativas do ar. Mesmo assim, as testemunhas ficaram bem
demonstrando toda adaptabilidade ao meio testado.
Em determinado momento o dreno não foi suficiente e notamos os escorpiões
saindo da fresta em direção à superfície da placa de cimento. Era possível ver os
animais andando debaixo da água e saindo normalmente até um local seguro. Após
o escoamento voltavam naturalmente para dentro da fresta.
25
DATA TexMax TexMin TinMax TinMin URmax URmin Chuva
18/mar 34,9 21,4 32,6 22,9 73 41 0
19/mar 31,3 20,6 28,9 22,6 65 41 0
20/mar 33,9 21,6 30,5 23,9 86 46 25
24/mar 35,9 20,9 31,2 23,4 84 41 1
25/mar 30,6 22,1 27,9 24,6 85 51 0
26/mar 29,6 21,5 27,6 24,1 88 60 12
27/mar 33,4 22,1 25 23,9 100 53 42
31/mar 31,9 20,1 29,6 23 84 42 0
01/abr 37,4 21,9 30,1 24,3 78 39 0
02/abr 36,6 20,5 30,8 23,1 89 38 15
03/abr 31,4 22,9 28,4 25 83 50 0
04/abr 32 21,4 31,6 23,9 81 51 17,5
07/abr 32,1 20,5 34,6 30,3 81 45 25
08/abr 33,1 20,6 34,1 23,6 85 44 0
09/abr 30,6 21,6 26,6 22,9 76 52 0
10/abr 28 21,4 25,1 22,1 84 62 2,5
11/abr 27,8 21,1 24,4 21,9 85 63 0
13/abr 29,9 18,6 31,1 22,5 100 55 35
15/abr 29,1 18 32,6 28,9 100 50 0
16/abr 29,9 14,9 31,9 20,8 81 37 0
17/abr 29 15,9 29,6 18,6 80 38 0
18/abr 28,4 18 23,1 18,6 83 45 0
20/abr 29,4 17,4 23,9 18,5 83 36 0
23/jan 27,3 17,6 23,4 18,8 75 32 0
24/jan 27,5 16,4 23,1 18,1 78 41 0
25/abr 27,3 15,4 23,1 17,4 81 40 0
28/abr 27,6 14,8 22,4 17 82 41 0
29/abr 28,4 13,8 23,1 16,5 80 39 0
30/abr 29 15,9 23,3 17,6 81 42 0
05/mai 29,5 15,6 24,6 17,4 80 34 0
06/mai 29,1 15,9 24,6 18,3 81 40 0
09/mai 27,8 11,9 24,6 14,9 79 32 0
12/mai 25,9 13,9 20,9 15,9 82 41 0
15/mai 27,5 15,4 21,9 16,1 85 45 0
16/mai 28,1 16,1 22,6 17,6 82 38 0
19/mai 29,4 16,5 24,4 17,9 80 40 0
TexMax=temperatura externa máxima, TexMin=temperatura externa mínima, TinMax= temperatura interna (dentro da fresta) máxima, TinMin= temperatura interna (dentro da fresta) mínima, URmax= umidade relativa máxima, URmin= umidade relativa mínima e Chuva= pluviosidade.
Quadro 1 – Dados climáticos obtidos durante o experimento. Temperatura em graus celcius.
Umidade relativa do ar em % e chuva em milímetros. Período 18/03 a 19/05.
26
3.5 Dosagens Aplicadas
3.5.1 K-Othrine 2p.
O peso inicial da polvilhadeira foi 0,984 kg e o peso final foi de 0,966 kg
consumindo um total de 18 g em 8 tratamentos. Portanto a dosagem média aplicada
em cada tratamento foi de 2,25 g ou 21,63 g/m2 de piso oco.
DATA TexMax TexMin TinMax TinMin URmax URmin Chuva
28/mai 29,5 15,1 25,8 17,6 100 41 60
29/mai 23 16,9 26,1 18,9 100 71 12,5
30/mai 22,9 16,9 21,6 18,9 81 71 0
02/jun 26,3 16,8 21,9 18,4 81 57 12,5
03/jun 20,3 16,8 19,9 18,1 83 81 10
04/jun 24,1 14,9 20,1 16,6 87 52 0
05/jun 24,6 16,6 19,6 17,6 88 52 0
06/jun 25,4 15,6 21,1 17 81 58 0
09/jun 26,9 15,1 20,3 16,6 89 44 0
10/jun 24,9 15,4 19,9 16,5 83 52 0
11/jun 25,5 14,9 19,9 16,1 85 47 0
12/jun 24,6 15 19,9 16,1 81 47 0
13/jun 25,9 15,3 19,9 16,4 81 45 0
16/jun 25,8 15,5 21,1 16,9 83 47 0
17/jun 25,9 13,9 21,6 16,1 81 51 0
18/jun 24,9 13,4 20,6 15,4 86 54 0
19/jun 24,8 13,4 19,6 15,4 79 48 0
20/jun 26,9 13,6 20,4 15,4 81 40 0
23/jun 27,9 16,8 23,4 17,5 85 45 0
24/jun 22,9 17,9 25,6 16,5 82 51 0
25/jun 23,6 15,6 22,3 17,3 81 49 0
26/jun 25,6 15,9 21,1 17,1 81 52 0
27/jun 26,4 18,6 21,6 18,9 87 51 0
30/jun 27,9 17,9 22,9 18,9 82 35 0
01/jul 28,4 17,6 23,4 18,9 81 40 0
02/jul 27,1 17,6 22,4 18,8 74 43 0
03/jul 25,9 15,4 23,1 17,4 78 48 0
04/jul 24,5 14,9 21,9 17 76 47 0
07/jul 24 10,4 20,6 13,4 84 34 0
08/jul 25,4 13,8 20 15,5 69 32 0
09/jul 25,6 14,3 21,1 16,1 80 40 0
10/jul 23,6 14,3 20,9 16 75 46 0
11/jul 23,9 12,9 20,1 15,1 77 36 0
14/jul 26,8 13,9 21,6 15,3 79 42 0
15/jul 27,9 14,4 23,5 16,4 75 33 0
18/jul 26,9 12,6 22,4 15,4 76 34 0
TexMax=temperatura externa máxima, TexMin=temperatura externa mínima, TinMax= temperatura interna (dentro da fresta) máxima, TinMin= temperatura interna (dentro da fresta) mínima, URmax= umidade relativa máxima, URmin= umidade relativa mínima e Chuva= pluviosidade.
Quadro 2 – Dados climáticos obtidos durante o experimento. Temperatura em graus celcius.
Umidade relativa do ar em % e chuva em milímetros. Período 28/05 a 18/07.
27
3.5.2 Demand 10 CS
Podemos perceber que no campo, poderemos nos deparar com situações de
pouca precisão. As aplicações de Demand tiveram uma média de aplicação de 136
ml com uma variação de 4% em relação à média. E isto não foi suficiente para
proporcionar variação no resultado como se vê no Quadro 3.
Na prática se um operador contar até trinta durante uma aplicação em cada
fresta ele terá o resultado esperado dependendo de um bom treinamento.
A dosagem equivale a 544 ml por metro linear de calçada ou 0,408g de
princípio ativo por metro linear. Como comparação uma barreira química contra
cupins subterrâneos utiliza 1,87 g de princípio ativo por metro linear, portanto, a
dosagem aplicada não representa nenhum exagero.
3.6 Mortalidade
3.6.1 Testemunha
Os dados de mortalidade da testemunha foram baixos indicando que os
fatores do sistema teste foram favoráveis à sobrevivência dos escorpiões. Soma-se
a isto o fato de pelo menos um indivíduo conseguir se reproduzir no local. Em
apenas uma repetição este índice foi maior, chegando 37,5%, mas neste caso
encontramos uma lagartixa dentro da caixa no momento da avaliação, porém sem
causar diferença estatisticamente significante.
Uma morte registrada ocorreu aparentemente por canibalismo e na repetição
T4 encontramos formigas do gênero Pheidole retirando restos de baratas.
Tratamentos Quantidade Aplicada em
ml Mortalidade T0 Mortalidade T45
D1 135 7 8
D2 136 8 8
D3 132 8 8
D4 142 7 8
KD1 138 8 8
KD2 132 7 8
KD3 136 8 8
KD4 138 8 8
Mortalidade T0 = Número de escorpiões mortos no tempo zero. Mortalidade T45 = número de escorpiões mortos 45 dias após a aplicação.
Quadro 3 – Comparação da variação de calda aplicada nos tratamentos (D=Demand, KD = K-Othrine 2p + Demand) em suas respectivas repetições ( 1, 2, 3 e 4) com a variação do
número de escorpiões mortos no T0 e T45.
28
3.6.2 K-Othrine 2p
3.6.3 K-Othrine 2p + Demand 10 CS
Também encontramos na repetição KD4 formigas do gênero Pheidole
carregando sobras de baratas, mas só no início do tratamento. Após a aplicação
elas não foram mais vistas.
DATA DATA Dias pós TESTEMUNHA
Exposição Avaliação tratamento T1 T2 T3 T4
18/mar 02/abr 00 DIAS 12,5 0 25 12,5
02/abr 17/abr 15 DIAS 12,5 12,5 12,5 12,5
17/abr 03/mai 30 DIAS 0 12,5 37,5 12,5
03/mai 20/mai 45 DIAS 25 0 25 12,5
01/jul 15/jul 104 DIAS 0 0 12,5 0
DATA DATA Dias pós DELTAMETRINA PÓ
Exposição Avaliação tratamento K1 K2 K3 K4
18/mar 02/abr 00 DIAS 62,5 100 100 100
02/abr 17/abr 15 DIAS 75 100 87,5 100
17/abr 03/mai 30 DIAS 25 12,5 37,5 87,5
03/mai 20/mai 45 DIAS 12,5 50 0 75
01/jul 15/jul 104 DIAS 12,5 0 12,5 12,5
DATA DATA Dias pós DELTAMETRINA PÓ + LAMBDACIALOTRINA 10%
Exposição Avaliação tratamento KD1 KD2 KD3 KD4
18/mar 02/abr 00 DIAS 100 87,5 100 100
02/abr 17/abr 15 DIAS 100 100 100 100
17/abr 03/mai 30 DIAS 100 100 100 100
03/mai 20/mai 45 DIAS 100 100 100 100
01/jul 15/jul 104 DIAS 100 100 100 100
Quadro 4 – Mortalidade em cada repetição (T1, T2, T3 e T4) do tratamento testemunha em %.
Quadro 5 – Mortalidade em cada repetição (K1, K2, K3 e K4) do tratamento K-Othrine 2p em %.
Células em amarelo indicam observação de animais desalojados.
Quadro 6 – Mortalidade em cada repetição (KD1, KD2, KD3 e KD4) do tratamento K-Othrine 2p +
Demand em %. Células em amarelo indicam observação de animais desalojados.
29
3.6.4 Demand 10 CS
Aqui as formigas do gênero Pheidole foram vistas no D4 até 30 dias após a
aplicação e depois não foram mais vistas em nenhuma caixa.
Figura 13 – Fotos de alguns tratamentos no momento da avaliação.
4 DISCUSSÃO
A predominância da espécie Tityus serrulatus sobre as demais foi
confirmada, pois nos locais de coleta e nos atendimentos domiciliares que fazemos
não verificamos a presença de nenhuma outra espécie.
Talvez por isto, conseguimos excelente adaptação, tantos nas caixas de
criação quanto no sistema teste, mesmo sem climatização artificial. Pareceu positivo
trabalhar com animais coletados, mas a obtenção de resultados semelhantes com
DATA DATA Dias pós LAMBDACIALOTRINA 10%
Exposição Avaliação tratamento D1 D2 D3 D4
18/mar 02/abr 00 DIAS 87,5 100 100 87,5
02/abr 17/abr 15 DIAS 100 100 100 100
17/abr 03/mai 30 DIAS 100 100 100 100
03/mai 20/mai 45 DIAS 100 100 100 100
01/jul 15/jul 104 DIAS 100 100 100 100
Quadro 7 – Mortalidade em cada repetição (D1, D2, D3 e D4) do tratamento Demand em %.
Células em amarelo indicam observação de animais desalojados.
30
animais de biotério teria grande impacto prático e econômico nas futuras pesquisas,
uma vez que a coleta é bastante custosa.
O Ministério da Saúde (2009) em seu Manual de Controle de Escorpiões, e
corroborado por diversos autores preconizam a busca ativa como parte do processo
de combate a esta praga. Entretanto o contingente humano para esta tarefa é tão
grande que Spirandeli et al. (1995) propuseram ação conjunta com a campanha da
dengue em trabalho realizado em Aparecida, São Paulo.
Assim como qualquer outra praga urbana, o controle moderno sempre visa
primeiro as ações preventivas, de manejo ambiental para depois fazer uso de
inseticidas, somente quando necessário. Não há por que ser diferente com os
escorpiões.
A maioria das medidas preventivas contra escorpiões, como por exemplo,
remoção de entulho, manejo adequado de lixo, aparar vegetação, corrigir frestas,
barreiras físicas e tantas outras servem não só para escorpiões, mas para a maioria
das pragas e por que não dizer para a qualidade de vida da população. Porém, uma
particularidade dos escorpiões desta espécie, a sua capacidade de domiciliação e o
modo partenogenético de reprodução aliado ao, cada vez mais arrojado, perfil
arquitetônico das residências vem fazendo o número de ocorrências e acidentes
aumentarem a cada ano.
Quando se faz o manejo preventivo contra os escorpiões no peridomicílio não
somos capazes de afirmar que retiramos todos os animais daquele local e nem
somos capazes de prever que os animais das regiões adjacentes serão impedidos
de reinfestarem o local manejado. Mas podemos afirmar que na próxima
reinfestação o único local de abrigo será o próprio domicílio já que retiramos todos
os outros esconderijos, ou seja, aproximamos os animais das pessoas.
Este trabalho demonstrou toda adaptabilidade e condições propícias de
frestas e dilatações que ficam nas calçadas laterais das edificações. Por questões
de construção, normalmente usando-se materiais inferiores que causam dilatações
no contra piso e aterros solapados criando condições ótimas para a instalação de
uma infestação.
31
O presente trabalho demonstrou também que o uso da lambdacialotrina
impede por um período de pelo menos 104 dias que os escorpiões reinfestantes
permaneçam nestes locais. O tempo limitado do trabalho impediu que chegássemos
a um período máximo o que exigirá novas pesquisas.
Talvez com mais tempo pudéssemos notar alguma diferença entre usar só
Demand ou associá-lo com a formulação em pó do K-Othrine 2p. Entretanto, a clara
diminuição de efetividade com tempo no tratamento K-Othrine 2p sugere que não há
diferença ao usar apenas Demand.
A tabela 7 mostra que houve diferença significativa em relação ao tempo
apenas no tratamento K-Othrine 2p, sendo que aos 104 dias já não havia diferença
estatística com a testemunha. No dia da aplicação todos os tratamento foram
efetivos em relação a testemunha sendo que a associação dos dois produtos
conseguiu o melhor desempenho, porém sem significância estatística entre os
tratamentos. Este resultado permaneceu o mesmo após a primeira reinfestação (15
dias). Porém na segunda reinfestação (30 dias) o K-Othrine 2p manteve diferença
estatística em relação à testemunha, mas num nível bem menor que os demais. Este
resultado praticamente se manteve na terceira reinfestação (45 dias), mas na quarta
reinfestação (104 dias) o K-Othrine 2p praticamente não teve efeito em relação à
testemunha, enquanto os outros tratamentos mantiveram performance de 100% de
mortalidade.
Entretanto, notamos maior desalojamento quando usamos a formulação pó.
Muitos autores relatam o desalojamento como forma de amostragem ou diagnóstico
de diversas pragas urbanas. Embora o K-Othrine 2p nem seja registrado para
escorpião, seu uso recomendado em frestas por vezes demonstra a presença de um
perigo que ainda permanecia silencioso.
Contudo, o uso do K-Othrine 2p como diagnóstico da presença de escorpiões
só pode ser vantajoso quando com outras técnicas não se consegue esta
Número de dias após o tratamento
0 dias 15 dias 30 dias 45 dias 104 dias
Testemunha a 12,50 1 a 12,50 1 a 15,62 1 a 15,62 1 a 3,12 1
K-Othrine 2p a 90,62 2 a 90,62 2 b 40,62 2 b 34,37 2 c 9,37 1
Demand 10 a 93,75 2 a 100,0 2 a 100,0 3 a 100,0 3 a 100,0 2
K + D a 96,87 2 a 100,0 2 a 100,0 3 a 100,0 3 a 100,0 2
As letras à esquerda da célula representam comparações estatísticas na linha
Os números à direita da célula representam comparações estatísticas na coluna
Tabela 1 – Análise estatística da mortalidade dos escorpiões pelo Adjustment for Multiple
Comparisons: Tukey <5%.
32
informação. Portanto, usar a formulação desalojante, por exemplo, num cemitério
seria expor as pessoas a um risco desnecessário.
Não foi parte deste estudo, mas não podemos deixar de mencionar que todas
as baratas colocadas à disposição dos escorpiões semanalmente morreram
rapidamente em função dos produtos aplicados em todos os tratamentos e em todos
os tempos observados. Permaneciam mortas inteiras sem serem consumidas pelos
escorpiões enquanto baratas vivas eram encontradas frequentemente nas
testemunhas.
Este fato poderia nos levar a acreditar que a morte dos escorpiões nos
tratamentos seria provocada por inanição. Poderia se já não soubéssemos que são
artrópodes com boa capacidade de acúmulo de energia, reduzindo sua atividade
metabólica nos intervalos de forrageamento, o que lhes permite ficar longos períodos
imóveis em seus esconderijos (SOUZA, 2012). Alia-se a este argumento o fato de
baratas mortas inteiras serem encontradas com escorpiões vivos no último período
de testes nos tratamentos com K-Othrine 2p, ou seja, as baratas morreram, mas os
escorpiões não.
Já sabemos que o escorpião é um predador de outros pequenos insetos.
Portanto, se uma desinsetização comum elimina o seu alimento do ambiente ele vai
se desalojar em busca de suas presas. O desalojamento indireto é uma
consequência quase certa onde há presença de escorpiões e não usar desalojante
não significa maior segurança, nem tampouco controle. Talvez o uso do desalojante
no momento da inspeção represente até maior segurança uma vez que conhecida a
presença do perigo medidas extras poderão ser tomadas antecipadamente, como
por exemplo, aumentar o intervalo de reentrada das pessoas no ambiente tratado.
A questão da segurança das pessoas é outro ponto importante no processo
uma vez que, seja diretamente por ação do inseticida ou indiretamente por
eliminação da fonte de alimento, o desalojamento poderá ocorrer. O próprio manual
do Ministério da Saúde (2009) lembra o fato da necessidade de aplicação de
inseticida contra outros agravos nas campanhas contra dengue, malária, chagas e
outros que podem aumentar a probabilidade de acidentes em regiões infestadas.
Passar a noite fora de casa após um tratamento contra escorpiões pode ser uma
medida preventiva importante por causa do hábito noturno desta espécie.
Embora este estudo tenha demonstrado a viabilidade de aplicação de
inseticida na proteção das edificações, assim como ocorre com outras pragas, toda
33
ação integrada deverá apresentar resultados mais eficientes. Tanto o morador
particular quanto o agente público e os profissionais controladores de pragas não
devem negligenciar as áreas circunvizinhas a uma ocorrência e todas as medidas
preventivas devem ser adotadas na medida do possível.
O atual trabalho também nos leva a algumas indagações.
Os animais ficaram confinados na área tratada por até 15 dias. Se no sistema
teste tivéssemos uma área de escape limpa os escorpiões contaminados
conseguiriam sobreviver? O que realmente provamos aqui é que nesta área tratada,
um esconderijo preferencial, os escorpiões não vão se instalar, mas não significa
que vão morrer se passarem por ela.
Muito se fala sobre o alto custo financeiro e ambiental dos métodos químicos.
Novas tecnologias de aplicação em ultra baixo volume como o micronizer
conseguiriam obter resultados satisfatórios? Os pulverizadores convencionais
praticamente encharcam as galerias das frestas, mas obter uma névoa fina que
permitisse a penetração do produto em distâncias maiores faria consumir menos
produto e menos tempo de aplicação.
Obteríamos o mesmo resultado com tipo de solo diferente? Mais arenoso ou
mais argiloso? Elementos químicos, condições físicas e microorganismos podem
interagir com o sistema teste provocando alteração no resultado.
A reação seria a mesma para outras espécies de escorpião? O Tityus
serrulatus é uma espécie partenogenética e sobrevivendo apenas um indivíduo, este
é capaz de iniciar uma nova infestação.
Estas e outras questões ainda precisam ser investigadas, mas definitivamente
não podemos negligenciar a ajuda que estes e outros produtos químicos que
possam surgir podem nos dar integrando as estratégias de controle de uma praga
que vem se tornando um desafio entre os agravos por animais peçonhentos.
5 CONCLUSÃO
O estudo demonstrou a predominância da espécie Tityus serrulatus sobre as
demais na região de Lagoa da Prata, Minas Gerais e que a calçada lateral externa
das edificações é um esconderijo preferencial. Está próximo ao ser humano e por
consequência, próximo ao seu alimento. Tem proteção ao sol e aos principais
predadores, é úmido e as temperaturas variam menos do que em espaços abertos.
34
Excesso de água por chuva ou por lavação não é problema por que facilmente ele
se desloca das galerias inundadas.
Demonstramos também que a aplicação de Demand 10 CS na dose indicada
pelo fabricante de 7,5 ml por litro de água à razão de 1,3 litros de calda ou 0,97g de
princípio ativo por metro quadrado de piso oco nas calçadas laterais externas das
edificações é capaz de eliminar 100% dos escorpiões presentes nestas frestas e que
seu efeito perdura por pelo menos 104 dias após a aplicação nas condições
climáticas, de solo e de manejo ambiental do experimento.
A aplicação de K-Othrine 2p obteve mortalidade inicial de 90% mas seu efeito
residual foi caindo rapidamente com o tempo sendo insignificante aos 104 dias após
tratamento. Aparentemente, provocou maior desalojamento dos animais e sua
associação com Demand não resultou em diferença significativa.
Por fim, a análise neste experimento evidencia os resultados não só do efeito
do produto, mas também de sua dependência quanto à tecnologia de aplicação. A
metodologia proposta resultou em dados mais confiáveis quanto à eficiência dos
produtos químicos por expô-los a condições mais reais e limitantes do que os
exigidos para registro no Ministério da Saúde.
35
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA - ANVISA. Manual de Testes de Eficácia em Produtos Desinfestantes. Brasília, 2009. 50 p. ALBUQUERQUE, C. M. R.; BARBOSA, M. O.; IANNUZZI L. Tityus stigmurus (Thorell, 1876) (Scorpiones; Buthidae): response to chemical control and understanding of scorpionism among the population. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Brasília, v. 42, n. 3, p. 255-259, mai-jun. 2009. BOCHNER, R.; FISZON, J. T. Manejo de Escorpiões em Áreas Urbanas. In: PINTO, A. S.; ROSSI, M. M.; SALMERON, E. (Org.). Manejo de pragas urbanas. Piracicaba: Ed. CP 2, 2007. p.91-96. BRAZIL, T. K.; PORTO, T. J. Os Escorpiões. Salvador: Ed. EDUFBA, 2011. 83 p. MATTHIESEN, F. A. O Escorpião. São Paulo: Ed. Edart, 1976. 72 p. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Controle de Escorpiões. Brasília, 2009. 70 p. NETO, J. B.; GALASSI, G. G. Monitoramento epidemiológico de Tityus serrulatus em áreas urbanas, mediante dispositivo de luz ultravioleta. Vetores & Pragas, Rio de Janeiro, n. 30, p.16-18, mar. 2012. SOUZA, C. M. V. Notas sobre o ESCORPIONISMO no Brasil e o esforço para seu controle. Vetores & Pragas, Rio de Janeiro, n. 30, p.19-23, mar. 2012. SPIRANDELI, E. F. et al. Programa de Controle de Surto de Escorpião Tityus serrulatus, Lutz e Mello 1922, no Município de Aparecida, SP (Scorpiones,Buthidae). Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Brasília, v. 28, n. 2, p. 123-128, abr-jun. 1995. STUTZ, W. H. ; BENDECK, O. ; CAMARGO, J. C. C. ; MACEDO, E. M. ; OLIVEIRA, F. S. ; BONITO, R. F. Bioensaio Visando Controle de Escorpionídeos (Tityus Serrulatus), através do uso de Bendiocab, Deltamethrina e Lambdacyhalothrin. Boletim ABRASCO, Uberlândia, v. 70, p. 27, 1998.