Curso
LINGUAGENS EXPRESSIVAS E HISTÓRIA DA ARTE
Disciplina
LINGUAGENS EXPRESSIVAS
Curso LINGUAGENS EXPRESSIVAS E HISTÓRIA DA ARTE
Disciplina
LINGUAGENS EXPRESSIVAS
Eveline CARRANO Gerassina COSTA
Ivan COROMANDEL Juliana OHY
Maria Estela LOPES Naila BRASIL Renata CURY
Virginia Maria de SOUZA
www.avm.edu.br
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Olá, meu nome é RENATA CURY e sou arteterapeuta e pós-graduada em
Arte e Educação pela Candido Mendes. Hoje, estou em formação reichiana. O estudo do corpo sempre me atraiu e não vejo como ter êxito no meu trabalho se não perceber o ser humano como um todo. Procuro trazer as minhas vivências para o meu espaço, tanto nos atendimentos
individuais como no grupo. O estudo do corpo é muito encantador.
Sou JULIANA OHY, formada em Psicologia. Possuo cursos na área clínica focados em psicodiagnóstico infantil, Psicologia Junguiana, Dançaterapia; Minha experiência profissional engloba tanto a área clínica em hospital psiquiátrico, atendimento clínico individual e em grupo, como a área escolar, auxiliando no processo psicopedagógico na educação infantil.
Minha profissão é, sem dúvida, minha maior realização atualmente.
Olá! Meu nome é GERASSINA CARVALHO. Trabalho atualmente como docente e atuo, também, como supervisora pedagógica na rede pública de
ensino. Fico feliz com o convite de fazer parte desta instituição de ensino tanto como aluna que fui concluindo pós-graduação em Arteterapia e como professora conteudista para uma área que é a fotografia. Espero que possa ajudá-los nesta caminhada sempre que precisar.
EVELINE CARRANO HENRIQUES PORTO, psicóloga, arteterapeuta, arte-educadora; pós-graduada com especialização em Psicoterapia Junguiana e o Imaginário (PUC-RJ) Terapia de Família (UCAM-RJ) e Arteterapia na Saúde e na Educação (UNIRIO); curso de mestrado na área de Psicologia Social e da Personalidade (FGV - RJ). Professora na pós-graduação em Arteterapia e Psicopedagogia e Terapia de Família no Projeto A Vez do Mestre (UCAM - RJ), na graduação do curso de Pedagogia (UCAM - RJ); na
pós-graduação (UVA - RJ). Membro Fundador da Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro - AARJ.
Olá! Eu me chamo NAILA BRASIL. Sou professora de Música (estudei na Escola Nacional de Música da UFRJ), especialista em Arteterapia (UCAM) e, também, arteterapeuta (formada pela Clínica Pomar): tudo no Rio de Janeiro, onde nasci e onde resido. Tenho trabalhado dando aulas de
música e, também, de história da arte.
Sou VIRGINIA MARIA CASTILHO RIBEIRO DE SOUZA, carioca, de 1955, setembro. Estou mestre em Design, PUC/RJ, na linha de Pesquisa Design: Tecnologia, Educação e Sociedade, 2005: pelo LILD (Lab. Living Design,). Trata-se de Design em trabalhos lúdicos para Arteterapia em Educação e Saúde, pesquisa aplicada no Ensino Básico da rede pública, em nosso Estado do Rio de Janeiro. Um estudo de casos envolvendo materiais
biológicos como bambu e flores, com a linguagem da música e da dança, como atividade complementar pedagógica para Matemática, Ciências Naturais e Português. Sou pesquisadora-associada do NIMA, Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente, pelo NimaEdu, sou professora I de
Artes da rede estadual do Rio de Janeiro, Município de Nova Iguaçu, Ciep 390, Chão de Estrelas.
MARIA ESTELA LOPES possui graduação em Psicologia pela Faculdade de Humanidades Pedro II (1975). Atualmente, é professora auxiliar da Universidade Estácio de Sá. Tem experiência na área de Psicologia, com
ênfase em Psicologia. É especialista em arteterapia na Educaçãoe e Saúde pela Universidade Cândido Mendes e professora auxiliar da Universidade Estácio de Sá.
Meu nome é IVAN COROMANDEL. Sou psicanalista, ex-membro fundador da formação freudiana do Rio de Janeiro. Sou formado em Arteterapia e sou professor de História da Arte e Educação Artística. Sou arte-educador.
Como psicólogo do município do Rio de Janeiro, formei núcleos de artes para crianças e dei supervisão para os núcleos de arte e criatividade para
psicólogos do município do Rio de Janeiro. Faço palestras e, neste ano de 2009, lanço meu livro sobre paradigma ético-estético na Psicanálise.
Su
mário
07 Apresentação
09 Aula 1
Corpo e expressão
35 Aula 2 Linguagens literárias
65 Aula 3
Música
97 Aula 4
Dança
127 Aula 5 Teatro
163 Aula 6
Fotografia
203 AV1
Estudo dirigido da disciplina
206
AV2 Trabalho acadêmico de
aprofundamento
208 Referências bibliográficas
Linguagens Expressivas
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Olá, caros alunos: neste caderno apresentaremos as diversas
linguagens expressivas, distribuídas em seis aulas. Na primeira
aula, trataremos do tema corpo e as mais diversas expressões,
onde abordaremos a importância da consciência corporal. Na
segunda aula, o nosso encontro está marcado no prazer da
literatura e suas diversas expressões, conhecendo um pouco mais
sobre as linguagens literárias. Na terceira aula, é hora de ouvir
música e seus encantos, compreendendo sua importância para a
formação do ser. Na quarta, é hora de dançar e trazer o
movimento para o nosso dia a dia.
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Este caderno de estudos tem como objetivos:
Conhecer a aplicar as diferentes linguagens expressivas;
Entrar em contato com dinâmicas e conteúdos das linguagens
expressivas;
Aprender a utilizar as diversas formas expressivas em sintonia
com o corpo e o movimento.
Corpo e expressão
Renata Fiani Cury
Juliana Bastos Ohy
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LA
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ão
Olá, seja bem-vindo! Você agora vai entrar em contato com o
mundo corporal. O corpo aqui vai ser abordado dentro de uma
visão de integração entre corpo, mente, espírito e o meio. Para
isso, vamos despertar a consciência corporal e a sua importância
na forma de expressão. Vamos manter um diálogo com o nosso
corpo. Para que isso ocorra, aqui vai um convite: Estamos
entrando em um processo de percepção, onde será necessária
uma transformação do olhar para depois poder haver a integração
dessa linguagem no seu dia a dia. O processo requer
envolvimento, abertura e ter um objetivo. O objetivo é trabalhar a
consciência corporal.
Segundo Elisabeth Bauch Zimmermann, “Quando pensamos em
educação, surgem diante de nós os diversos níveis da existência
humana: o do corpo, o das emoções e da energia, o da mente e
dos valores. Tomo como exemplo um exercício meditativo:
fazendo um gesto que contenha toda nossa pessoa naquele
momento, tal como abrirmos uma das mãos lentamente, de olhos
fechados: reconhecemos a presença de nossa realidade física - a
mão com seus músculos e nervos, a realidade vital - a energia da
moção - e a mental - a intenção de abri-la. Estamos presentes e
vivos nesse único gesto, simples e aparentemente delimitado.
Esse gesto simbólico talvez represente o germinar de uma
semente, o desabrochar das pétalas de uma flor ou o despertar da
natureza com seus primeiros sons na manhã e a expectativa da
chegada de um novo dia. No plano humano e com referência à
educação, pode representar o começo da formação do indivíduo.
Esse movimento de abertura lenta da mão expressa a minha
reflexão neste momento sobre a existência da educação e que
significado ela tem em nossa vida.”
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Estar em contato consciente com o seu corpo;
Entender a importância do trabalho corporal;
Ser capaz de ministrar algumas vivências corporais, inclusive
utilizando a arte como meio expressivo do trabalho de corpo.
Aula 1| Corpo e expressão 10
História do corpo
Abordaremos a história do corpo dentro da
relação que o homem estabelecia com o seu corpo e
como se dava o processo de cura desde o homem
primitivo. Essa relação é importante, pois vamos
perceber que cada vez mais, com o desenvolvimento do
mundo capitalista e a era mecanicista, o homem foi se
distanciando do seu corpo e se relacionando apenas
com o seu mundo intelectual. Essa relação foi ficando
fragmentada e o homem passou a ser um reflexo dessa
fragmentação. O corpo expressa de diversas formas
essa cisão sendo através da doença, da dor física ou na
não expressão ou expressão parcial de estados
emocionais.
Modelo Primitivo
O xamã (...) ouvia a história do
paciente não em busca do sintoma,
mas para descobrir qual tinha sido o
erro do doente. A doença era sempre a
consequência da violação de um tabu
ou de uma ofensa aos deuses. A cura
estava no restabelecimento da ligação
do homem com o divino por
intermédio de arrependimento e
sacrifício.
Nesse sentido, doença e transformação
são conceitos interligados. (...) A
doença pode ter muitas causas
(diferentes transgressões), mas tem
sempre uma finalidade: a
transformação(...).
(Ramos, Denise, p. 22)
Neste modelo, o homem e a natureza eram um
só. A totalidade era a existência. Não existia uma forma
de ser separada da natureza. As relações se davam a
um nível em que o homem era subjugado pelo poder
das forças da natureza, as quais sua mente não era
capaz de entender.
História do corpo 10 O corpo e a criança 14 O corpo na adolescência 17 O corpo e a meia idade 18 O corpo e sua simbologia 19 Dica de atividade 23 Gestos e posturas 25 O corpo contemporâneo 27 Atividade 28 Respiração 30
Aula 1| Corpo e expressão 11
Modelo Grego
(...) Assim como não é possível
tentar a cura dos olhos sem a da
cabeça, nem a da cabeça sem a do
corpo, do mesmo modo não é
possível tratar do corpo sem cuidar
da alma. (...).
(Platão, 380 a.C., cit. Ramos, p. 25)
No séc V a.c., surge Hipócrates, pai da medicina
moderna. A busca do conhecimento da natureza no
sentido de entender o funcionamento do corpo fez com
que a palavra tivesse uma importância menor. Mas, de
qualquer forma, a finalidade maior era a busca do
conhecimento da natureza, e não o desejo de dominá-
la.
Modelo Cartesiano
(...) O corpo podia ser comparado
com uma máquina que funcionaria
igualmente bem ou mal, com ou sem
psique.
(Ramos, Denise, p. 27)
Modelo cartesiano, séc. XVIII. Ocorre a
desintegração entre o corpo e a natureza. No modelo
cartesiano, ocorre a cisão do homem e sua relação com
o seu corpo. Prevalece o racionalismo e o
determinismo. A visão do todo se perde.
Modelo Romântico
(...) na medicina do futuro, a
interdependência da mente e do corpo
será mais plenamente reconhecida e a
forma como uma poderá influenciar a
outra nem sequer é possível imaginar
agora.
(Lipowiski, 1984, cit. Ramos, Denise,
p. 31)
Meados do séc. XIX. Ocorre uma volta à busca
do homem como um ser total e ligado à natureza.
Aula 1| Corpo e expressão 12
Ênfase na maneira de ver, sentir, reagir, própria de
cada pessoa. A doença era vista como um fator ligado a
diversos fatores que não só biológicos, mas a fatores
morais, psíquicos, espirituais e biológicos também.
Modelo Biomédico
Final do séc. XIX. Ocorrem o reducionismo, o
determinismo e o universalismo. O homem não é visto
na sua individualidade, mas de uma forma geral. O
olhar clínico é deslocado dos aspectos individuais para
os aspectos universais da patologia. Séc. XX - visão
fragmentada do homem.
Psicossomática
Esse termo parece ter sido usado pela primeira
vez em 1808. Dunbar (1935) trouxe a base principal
para a formação desta área. A psicossomática veio
trazer a união entre corpo e mente. Conteúdos
emocionais e biológicos não podem ser separados.
Existe uma relação entre eles que determina o estado
de saúde do indivíduo. Alguns teóricos criticam este
termo psicossomática, pois deixa de fora a relação do
homem com o meio externo, social.
Modelo Holístico
Década de 80. Holos=todo. Traz a idéia do todo.
O homem existe em muitos níveis de igual importância:
corpo, mente, espírito, meio. Cada pessoa deve ser
vista como única e tratada como tal. Saúde Integral:
Físico, psíquico-emocional, social e energético.
SOBRE A SOMATIZAÇÃO
É de suma importância entender a o que ocorre
no corpo quando este não se expressa. O corpo que
Aula 1| Corpo e expressão 13
falo aqui não é somente o corpo físico mas também o
corpo emocional. Quando não há espaço para
simbolizar verbalmente a dor emocional, ela vai ser
vivida a nível corporal. O sintoma traz a ideia de que
algo está lhe faltando e traz consigo a possibilidade de
cura, desde que se entenda para que aquele sintoma
apareceu. Segundo Groddeck, pai da medicina
psicossomática, “curar significa interpretar
corretamente o que esta totalidade está tentando
expressar através dos sintomas.”
Observando pessoas que tendem a
reagir aos conflitos internos e externos
através de manifestações somáticas,
Joyce MacDougall relata que muitas
delas se revelam superadaptadas à
realidade e mesmo às dificuldades de
sua existência. Em seu
comportamento, as pessoas são
frequentemente impelidas à ação em
vez de lidar com os conflitos pela
elaboração psíquica, solicitando
permanentemente dos objetos do
mundo exterior a realização de
funções que deveriam ser asseguradas
por objetos internos simbólicos
ausentes ou comprometidos.
(Mente e Cérebro, Linguagens do
Corpo, Edição Especial nº 14, pág. 11)
O sintoma pode ser vivido através de uma
rigidez corporal. Geralmente, as pessoas transitam
muito pouco, flexibilizam pouco os seus movimentos e
sem perceber caem em uma rotina corporal. Não
experimentam transitar pelas diferentes plásticas ou
personagens e ficam prisioneiras delas mesmas. Isso
causa uma rigidez muscular e emocional, que pode ser
flexibilizada através da consciência corporal e da
expressividade. Essa rigidez restringe a capacidade que
a pessoa tem de se comunicar, relacionar, de estar no
mundo de uma forma mais prazerosa.
É importante trabalhar o corpo expressivo desde
cedo, mas, se isso não foi possível, sempre é tempo de
começar.
Aula 1| Corpo e expressão 14
Vamos estudar o corpo e a criança.
O corpo e a criança
O bebê quando nasce é todo corporal. Não há
uma distinção entre eu-outro. Ele vivencia tudo
corporalmente. A criança vivencia a eternidade,
estando em um universo que a envolve, a contém, a
circunda e a nutre. O bebê explora o seu próprio corpo.
Esse período é chamado por Piaget de período
sensório-motor.
Esse período vai de 0 até 2 anos de idade e a
criança começa a diferenciar os objetos externos e o
próprio corpo.
Nesta fase, os trabalhos corporais devem ser
bastante incentivados. O trabalho deve focalizar o
universo sensorial. Ela vai tentar elaborar, repetindo e
vivenciando as mesmas atividades.
Passar dentro de um túnel (o pano do túnel
deve ter uma certa transparência para a
criança enxergar o lado de fora), onde o
facilitador da atividade deve estar à espera da
criança. É importante ela ver o facilitador do
outro lado, pois isso passa segurança.
Dar contorno corporal. A criança nesta fase
gosta de se esconder e aparecer. Pode se
esconder atrás de almofadas, debaixo de
panos... qualquer material que toque o seu
corpo de forma suave e segura.
Fazer trabalhos em cima de panos que
permitem o balanceio da criança.
Como a criança está conhecendo os objetos
externos e o seu corpo, também, é interessante
trabalhar com 2 bacias de água: uma com água morna
e outra com água fria e a criança colocar as mãos na
Dica da professora
Procure conhecer as fases de desenvolvimento de Piaget! É muito importante para o trabalho de arte e corpo!
Aula 1| Corpo e expressão 15
água sentindo essas duas temperaturas.
Aos poucos, a criança vai criando a percepção de
um envelope corporal. Com o passar do tempo,
seguindo o desenvolvimento da criança, podem se
introduzir objetos diversos como bolas grandes e caixas
grandes.
Na fase inicial do desenvolvimento, a criança
arremessa objetos ao chão para em seguida a pessoa
que cuida recuperar este objeto e retornar para a
criança. Ela faz isso experimentando a possibilidade de
perder e recuperar o que ama. Depois, engatinhando e
andando, ela mesma se aproxima e se afasta dos
objetos que deseja.
Seguindo o desenvolvimento, a criança vai
precisar experimentar sua força e sua capacidade de
ação no mundo. É importante a criança vivenciar isso
de forma segura. Pode correr, pular, soltar a voz e,
também, fazer uso de objetos que possam soltar a
raiva.
Depois, a criança começa a gostar das
brincadeiras de roda e jogos cantados. Eles
desenvolvem a coordenação motora, linguagem e a
consciência corporal.
A criança vai crescendo e sempre será
importante manter atividades que trabalhem esse lado
corporal. Atividades de música, teatro, arte, dança,
exercícios físicos.
Podemos observar como nas fases de
desenvolvimento o corpo sempre foi estimulado, pois a
criança, inicialmente, se comunica com o adulto através
do corpo. O desenvolvimento psíquico ocorre junto com
o desenvolvimento corporal.
Aula 1| Corpo e expressão 16
Sempre estivemos intimamente ligados ao nosso
corpo e em um determinado momento ocorreu a
fragmentação dessa união. É necessário recuperar este
contato e esse olhar.
Uma atividade que gosto de fazer com crianças
é o contorno do corpo. Eu faço com crianças de três
anos e meio para cima, mas vai da percepção de cada
um.
Atividade:
Você pode usar papel pardo ou papel 40kg.
Prenda o papel na parede na posição vertical. Peça para
a criança ficar encostada no papel e enquanto isso você
vai contornando o corpo dela com caneta ou lápis.
Depois que terminar, peça para a criança pintar o seu
corpo contornado no papel. Use tinta guache ou pintura
a dedo.
Essa atividade permite que a criança entre em
contato com o seu corpo de uma forma plástica,
concreta. Traz a noção corporal e o uso das cores.
Atividade para crianças a partir de 7 anos:
TÍTULO: Brincando com a argila.
TEMA: Expressar os sentimentos através da
argila.
OBJETIVO: Se expressar através da argila
TÉCNICA: Modelagem.
MATERIAL: Argila, água, papel pardo, cd.
PROPOSTA:
Atividade corporal;
Brincar de estátua;
Aula 1| Corpo e expressão 17
Mexer na argila seguindo os comandos dados
pelo arteterapeuta;
Compartilhar.
RELAXAMENTO: Movimentar pela sala ao som
da música e se imaginar nas seguintes situações:
Caminhar com os pés bem firmes no chão;
Caminhar na ponta do pé;
Atravessar a grama alta;
Andar no barro;
Asfalto (chão quente);
Rodopiar;
Se arrastar como cobra.
Brincar de estátua. Ao desligar a música, todos
devem se congelar no movimento.
DESENVOLVIMENTO: Após os trabalhos de
corpo, sentar em roda e pegar um pouco de argila.
Ficar um momento com as mãos sobre a argila e
respirar profundamente. Sentir como o monte de argila
é. Fique amigo dele. Ele é liso? Mole? Ondulado? Frio?
Quente? Seco? Molhado? Agora pegue-o e segure-o. É
leve? Pesado? Belisque. Use as duas mãos. Belisque
devagar, mais depressa. Dê beliscões grandes e
beliscadas pequenas. Aperte a sua argila e alise-a
usando cada parte da sua mão. Junte tudo formando
uma bola. Depois, com outro pedaço, faça uma bolinha.
Junte tudo de novo. Agora, você já o conhece bem.
Do que você mais gostou?
Do que menos gostou?
O corpo na adolescência
O adolescente passa por inúmeras
transformações tanto corporal quanto psíquicas. Essas
Aula 1| Corpo e expressão 18
transformações trazem desequilíbrios e instabilidades
extremas. Este período é marcado por mudanças
hormonais, corporais e emocionais e, também, por uma
forte insegurança e ansiedade no movimento de
conquista de um espaço no mundo dos adultos. O
trabalho corporal traz a possibilidade da expressão dos
conflitos de identidade, elaboração da despedida do
corpo infantil, do papel infantil e da profunda mudança
na relação com os pais. Todo adolescente vai passar
por estas transformações.
Uma boa dica para o trabalho corporal com
adolescente é trabalhar esta nova imagem do corpo
que está se manifestando. Como já citei antes,
trabalhar o contorno do corpo, buscar a autoimagem,
trabalhar com espelho. A expressão como forma de
entrar em contato com sentimentos confusos, dúvidas e
conflitos de identidade. A dramatização traz um suporte
muito positivo para este tipo de trabalho. Vocês
entrarão em contato com o teatro nas próximas aulas.
O corpo e a meia-idade
Ele envolve finalmente enfrentarmos
nossas dependências, complexos e
temores sem a mediação de terceiros.
Requer que deixemos de culpar os
outros pelo nosso destino e
assumamos total responsabilidade pelo
nosso bem-estar físico, emocional e
espiritual.
(Hollis, James. A Passagem do Meio.
São Paulo, Editora Paulus, 1995)
Torna-se fundamental na meia-idade que
algumas questões estejam melhores resolvidas como:
Aprimorar os relacionamentos;
Melhor adaptação ao mundo exterior;
Equilíbrio da psique.
Aula 1| Corpo e expressão 19
Quanto mais eu souber a respeito de
mim mesmo, maior parte do meu
potencial poderei personificar, mais
diversificados serão os tons e os
matizes da minha personalidade e
mais rica será a minha experiência de
vida.
(Hollis, James. A Passagem do Meio.
São Paulo, Editora Paulus, 1995)
Desse modo, o corpo também sofre muitas
alterações (a hormonal e a corporal). O metabolismo
fica mais lento. O cuidado e a atenção com o corpo
devem ser maiores. A relação com o corpo se modifica.
Trabalhar a respiração, a meditação, o relaxamento, os
exercícios de alongamento e, através destes exercícios,
trazer a consciência corporal. Abaixo, segue um bom
relaxamento para ser trabalhado com pessoas na meia-
idade. As atividades devem ser feitas em um ambiente
confortável, com almofadas ou cadeiras. Se possível, as
atividades de relaxamento pedem um ambiente
silencioso e com uma música tranquila de fundo.
Relaxamento: Sentar em uma posição
confortável, fechar os olhos. Inspirar pelo nariz e soltar
o ar pela boca. Sentir o ar chegar até os seus dedos
dos pés... (fazer uma pausa) sentir o ar chegar até
suas mãos... (fazer uma pausa) sentir o ar na sua
cabeça, massageando seus cabelos... Inspire fundo
novamente e solte o ar pela boca e se estiver sentindo
alguma tensão em qualquer parte do corpo, respire
nela e vá deixando com que ela se desfaça. Agora,
inspire felicidade e expire tristeza. Inspire confiança e
expire o medo, inspire amor e expire a raiva. Aos
poucos, abrir os olhos e se espreguiçar.
O corpo e sua simbologia
O corpo é a nossa memória mais arcaica. Nosso
corpo não se esquece de nada. Tudo que vivemos fica
guardado em nosso corpo. E o corpo, também, nos
Aula 1| Corpo e expressão 20
comunica algo. Existem centros específicos no corpo
que devem ser trabalhados para se buscar um
equilíbrio e harmonia. Devemos conhecer o nosso corpo
físico para desenvolvermos através das atividades
propostas um trabalho que ajude a modificar os
aspectos rígidos de nossa personalidade e assim poder
trazer à tona a criatividade.
Nosso corpo é o meio de expressão mais direto
de nossas emoções. Quando estas são conflituosas e
nos fazem sofrer, reprimimos como algo nocivo no
lugar de direcionar e harmonizar no todo. Isso produz
um estancamento da energia em algum lugar do nosso
corpo. Chamamos de couraças a essas cargas
energéticas que se localizam em nossos músculos e
articulações, impedindo de nos expressarmos como
realmente necessitamos e causando limitações físicas,
mal-estar e enfermidades.
Seguem, abaixo, algumas características
principais do nosso corpo.
Planta dos pés, calcanhares, canelas, pernas
O trabalho de corpo visando o desenvolvimento
e o alongamento destas partes proporciona
principalmente a expressão da autoafirmação e da
confiança em si mesmo. Os movimentos rítmicos dos
pés batendo firmes no chão trazem a confiança e a
capacidade para enfrentar a vida. Traz o indivíduo para
a realidade, ajuda na concentração, na capacidade de
realizar, traz energia física, "pique", capacidade de
criar, sexualidade, capacidade de ação.
Atividade proposta: Trabalhar ao som de música
tribal o movimento rítmico com os pés, como em uma
grande dança em uma aldeia indígena. Movimentar as
pernas e sentir bem os seus pés no chão. Será muito
bom utilizar a argila em atividade artística. A argila
Aula 1| Corpo e expressão 21
trabalha essa relação com a terra e fortalece estes
aspectos.
Abdômen, virilha, lombar, parte interna das
pernas, pés.
O trabalho de corpo visando o desenvolvimento
e o alongamento destas partes proporciona alegria e
prazer. Traz a necessidade de se opor às resistências e
vencê-las, de lutar e de vencer, de conquistar espaço.
O importante é o movimento das pernas e da cintura. O
não desenvolvimento e o atrofiamento destas áreas
acarreta a perda da capacidade de sentir prazer nas
coisas da vida. É sempre bom lembrar que a
enfermidade surge primeiramente no plano energético
e depois no corpo físico. Então, estar consciente e
trabalhar corporalmente, alongando e movimentando,
reduz a depressão, fortalece a autoconfiança, re-
equilibra a área renal, a intestinal, a capacidade de
fazer amigos, estabelecer relações emocionais, o modo
de encarar o cotidiano, a liberação da criatividade
através da emoção, herança familiar na expressão
emocional, na sexualidade.
Atividade proposta: Colocar uma música bem
alegre e dançar livremente movimentando bastante a
parte da cintura. Depois expressar com tinta estes
movimentos. A tinta usada pode ser guache.
Estômago, fígado, vesícula e intestino.
Esta área situada acima do abdômen traz a
capacidade de lidar com a raiva, o medo, a tristeza e
também com o prazer de comer e beber, de descansar
e de sentir-se protegido na companhia de outros.
Aprender a se expressar, dizer sim ou não de uma
maneira correta. A função abdominal tem uma função
de união e de separação assim como a digestão. A
Aula 1| Corpo e expressão 22
emoção é entendida aqui como reação emotiva frente a
um estímulo interno e ou externo.
Emoções estão a serviço:
Da vida biológica;
Da vida psicológica: ego se sente ameaçado –
raiva, medo, tristeza. Ego carícia afetiva –
alegria como se o corpo tivesse recebido uma
gratificação alimentícia ou sensorial de outro
tipo.
O trabalho corporal permite amenizar distúrbios
digestivos. Consciência do ser e do querer,
autocontrole, maior realização de desejos, maior
progresso material.
Atividade proposta: Fazer o contorno do seu
corpo em uma folha de papel pardo. Ou você mesma
pode fazer (colar o papel na parede e em pé encostada
na folha ir contornando o seu corpo) ou pode pedir para
contornarem o seu corpo. Depois ache figuras de
revistas para colar em todo o corpo. Observe as figuras
coladas. Veja o que gostou ou não. Esta atividade
permite um olhar mais profundo sobre como você está
lidando com o seu corpo.
Região do tórax e parte interna dos braços
compreendendo as palmas das mãos
Aqui o bem-estar do outro é tão importante
quanto o nosso. O bom desenvolvimento e a
consciência desta região do tórax faz com que a pessoa
veja a melhor parte dos outros e se reconheça nelas,
em vez de buscar as diferenças. O tórax é o centro da
pulsação. É o ponto central da nossa vida. Todo fluxo
do organismo depende da pulsação do coração.
Trabalhar esta área gera calor suavemente, alivia a
Aula 1| Corpo e expressão 23
tensão, equilibra as emoções, liberação de trauma
emocionalmente reprimido, consciência alma/coração,
expressão do amor em ações, amar a si próprio e aos
outros, autoestima, autovalorização, afetividade,
mágoas, carências, coração. Ajuda a curar as feridas do
coração e transformar o amor em amor incondicional
Atividade proposta: Em uma atividade de grupo,
pedir aos participantes que formem duplas. Uma
pessoa deve massagear a outra e depois quem recebeu
a massagem agora vai fazer. Uma massagem simples.
Massageando os ombros, cervical, cabeça e braços.
Esta atividade permite doar e receber. A música pode
ser suave como música clássica.
Olhos, ouvidos, nariz, língua, lábios, laringe
Ponte entre cabeça e coração, mente e corpo.
Inclui os órgãos dos 5 sentidos. Função principal
expressiva e de comunicação das emoções,
sentimentos, ideias e pensamentos. Criatividade
superior, do mundo não material. Qualquer coisa que
sentimos, pensamos, queremos e opinamos necessita
de uma forma para passar do nosso mundo interno
para o mundo exterior e se manifestar.
Atividade proposta: Falar, cantar e criar algo
com as mãos. Além disso, todas as funções expressivas
estão ligadas a este centro. Na aula de teatro, vocês
entrarão em contato com algumas atividades de
expressão que serão muito ricas para trabalhar os
órgãos dos sentidos.
Assim, podemos verificar que o corpo físico é,
também, corpo emocional.
Dica de atividade
Aula 1| Corpo e expressão 24
Esta atividade deve ser feita em grupo de
adultos. Esta atividade traz a consciência para o corpo.
TÍTULO: O que faria com mais quantidade de
energia se a tivesse?
TEMA: O que me faz perder tanta energia?
OBJETIVO: Conscientização.
TÉCNICA: Dramatização.
RELAXAMENTO: Trabalhar o corpo. Alongar
primeiro o pé direito e movimentar a cintura com
movimentos circulatórios. Depois, o mesmo com o pé
esquerdo. Apoiar sua mão no ombro da pessoa ao lado
e colocar o pé sobre o joelho e inclinar a coluna
soltando a cabeça. Esticar as mãos à frente e subir
lentamente. Peito para frente e cabeça para trás. Soltar
o ar. Deixar a mão descer pela perna direita e depois
pela perna esquerda, lembrando que a cabeça sempre
acompanha. Repetir esse movimento. Descer com a
mão direita e elevar (empurrar) para cima com a palma
da mão esquerda e olhar para cima. Fazer com o outro
lado. Repetir. Ir com a cabeça até o peito e depois com
a cabeça para trás. Depois, girar para um lado e para
outro. Depois, me abraçar com o braço direito por
cima. Colocar a perna direita à frente e ir até o chão. Ir
subindo e, ainda, abraçada elevar o cotovelo e ir
desfazendo, abrindo espaço para outras coisas
entrarem. Fazer o mesmo com o pé esquerdo e mão
esquerda. Voltar para o eixo. Em dupla, proporcionar
uma massagem no ombro e no braço da outra pessoa.
DESENVOLVIMENTO: A energia fica presa:
atitudes repetitivas/acomodar-se a sua forma de existir
até que algo dê errado.
Aula 1| Corpo e expressão 25
Para dispor de energia, uma nova Educação se
faz necessária. Como dispor de energia? Como usar sua
energia?
Depois, escolher uma frase de como perco
energia e expressar corporalmente. Fazer
exageradamente o movimento e desfazer. Como é? O
que sente? O que mudou?
Gestos e posturas
Hoje, já sabemos como os gestos falam. Como
diz o ditado popular, “um gesto fala mais do que mil
palavras”. O tempo todo nosso corpo está se
comunicando, um simples aceno pode transmitir uma
série de desejos.
Segue uma entrevista feita pela revista Mente e
Cérebro à linguista Cornelia Muller, da Universidade
Livre de Berlim. Cornelia Muller pesquisa a importância
dos gestos na comunicação.
Mente e Cérebro: Europeus do sul (italianos,
por exemplo) gesticulam realmente mais que pessoas
de outras regiões?
Cornelia Muller: É opinião comum, mas
empiricamente não está provada. Numa pesquisa
comparativa entre espanhóis e alemães, não pude
constatar que os germânicos utilizam menos gestos.
Mas é inegável que gesticulam de outra forma, partindo
do pulso. Espanhóis usam ombros e cotovelos mais
frequentemente, isto é, seus movimentos são mais
amplos e visíveis. Isso talvez despertasse a impressão
de que eles usam gestos com maior frequência.
Mente e Cérebro: Por que a pesquisa dos
gestos foi negligenciada por tanto tempo?
Aula 1| Corpo e expressão 26
Muller: Nos anos 70, muitos pesquisadores
tinham a convicção de que a linguagem do corpo e a
mímica tinham a ver só com as emoções e com as
relações que as pessoas constroem entre si. No plano
semântico, a comunicação verbal parecia ser a única
responsável pelos significados. Por isso, muitos
linguistas e psicólogos não perceberam que os gestos
podem mais que expressar apenas sentimentos.
Mente e Cérebro: O que os gestos dizem e as
palavras não?
Muller: Um único gesto é capaz de transmitir
muitas informações ao mesmo tempo. A linguagem
sonora precisa ordenar mais palavras. Se estendo
minha mão com a palma da mão para cima, posso
enviar a mensagem: “Isto está claro para você?”. Um
movimento breve pode significar duração, então
enfatizo um período de tempo e não um momento
isolado.
Mente e Cérebro: Gestos, portanto, não são
responsáveis pela empatia?
Muller: Certo. É um equivoco atribuir a uma
pessoa um “emocionalismo” exacerbado só porque ela
gesticula muito.
Mente e Cérebro: Mas em treinamentos para
oradores é comum que se tente atenuar o hábito que a
pessoa tem de gesticular.
Muller: Desde o retórico romano Quintiliano, a
gesticulação excessiva é vista como expressão de um
fraco domínio da linguagem falada. Muitos concluem
que quanto menos gestos, melhor. Mas os oradores
profissionais sabem o quão poderoso pode ser um
movimento bem colocado. É muito mais inteligente
Para navegar
Vá correndo buscar mais informações no site www.berlingesturecenter.de Centro Berlinense de Pesquisa do Gesto.
Aula 1| Corpo e expressão 27
usar a linguagem do corpo como canal adicional de
informação do que reprimi-la.
O corpo contemporâneo
Hoje em dia, muitas pessoas se preocupam com
o bem-estar físico e mental. Mas apesar destas
preocupações de unir corpo e mente, em tentar trazer
para a consciência a importância de cuidar do corpo,
como na Yoga, meditação, Pilates, dança, biodança e
outros, o corpo vem sofrendo fortes pressões por parte
da mídia, no sentido da perfeição do corpo. A indústria
e o comércio que norteiam a estética é muito sedutor.
Com o corre-corre do dia a dia as pessoas buscam
resultados imediatos. Mas é preciso tentar sair um
pouco desse vício e tentar buscar uma alimentação
mais equilibrada, um olhar para o seu corpo de uma
forma mais natural, integrando-o, buscando atividades
que permeiam esse olhar.
Hoje, temos muitos procedimentos violentos
sobre o corpo e sobre a vida psíquica para a eliminação
de sintomas, de traços de dor, do mal-estar. A indústria
do corpo busca anestesiar as experiências mais
profundas de vazio. As formas de mal estar da pós-
modernidade tem no corpo e na ação os registros de
sua apresentação. Na ação, estão as compulsões, que
evidenciam o descontrole dos impulsos – ânsia do
consumo. No plano da corporeidade, vivemos o polo da
dor que está intimamente relacionada ao narcisismo.
As patologias contemporâneas são depressão,
anorexia, bulimia, obesidade que tangenciam no vazio
e nas questões narcísicas.
Pensando nessas questões, é importante você
entrar em contato com técnicas que promovam a
capacidade de expressão espontânea, buscando trazer
a pessoa para o seu centro.
Aula 1| Corpo e expressão 28
Atividade
Movimento: Trabalhar o chegar. Como está o
seu corpo agora. Sinta os seus pés firmes no chão e
comece a entrar em contato com a sua respiração.
Inspire e expire lentamente cada um no seu ritmo.
Solte o ar pela boca. Sente alguma tensão? Alguma
parte do seu corpo que precise de cuidados? Inspire
mais intensamente pela boca e solte o ar, soltando um
som. Agora, leve lentamente a cabeça até os pés. Solte
a cabeça, sinta alongar a parte de trás do pescoço,
joelhos flexionados e esvazie os pensamentos. Solte a
respiração, esvaziando os pensamentos. Suba
lentamente, a cabeça é a última a voltar para o eixo.
Alongue o corpo, gire um pouco o pescoço, apóie no
ombro do colega do lado e vamos alongar um pouco os
pés. (Até aqui sem música).
Colocar a Música:
Vamos começar entrando em contato com o
nosso corpo e se apossar do movimento que vai ser
feito. Acompanhar o movimento, lembrando que todas
as partes estão presentes em cada movimento,
inclusive o olhar, a cabeça, o tronco. Entrar em contato
e sentir o que esse movimento está dizendo.
Começar trabalhando mãos, braços. Movimento
de abrir e fechar. Depois, soltar bastante o braço.
Buscar o infinito e conter. Fazer esse movimento mais
rápido. Conter e abrir. Mãos e braços esticados em
lados opostos. Fazer um mergulho até o chão. Flexionar
um pouco os joelhos e caminhar com as mãos para
frente. Sinta abrir os espaços da coluna. Respire na
coluna. Dobre os joelhos e fique aí um pouco.
Experimente não fazer nada... Coloque agora os braços
para trás. Aos poucos, vamos desenrolando a coluna e
vamos sentar e deitar. Sinta sua coluna no chão, se
Aula 1| Corpo e expressão 29
entregue ao chão. Agora, lentamente, vá levando seus
braços para trás. Sinta o peso dos seus braços.
Lentamente, vá voltando e entregue seus braços ao
chão, palmas das mãos inteiras no chão. Sinta esse
movimento de conter e se entregar. Faça mais uma
vez. Agora leve a cabeça até os joelhos e os joelhos até
a cabeça, mãos atrás da cabeça. O que sente? Como é
fazer esse movimento? Faça lentamente. Conter e
soltar e se entregar ao chão novamente. Repita esse
movimento mais 2 vezes. Fazer a torção. Como está
sendo torcer, está mexendo com tudo dentro de você.
Vamos prestar atenção nessa torção. Na respiração.
Volte à posição e fique um pouco aí. Estique as pernas
e mantenha os braços ao longo do corpo e não faça
nada.
Atividade em dupla:
Seguindo a vivência, cada dupla receberá uma
folha de papel A3 e pastel oleoso colorido, onde deverá
expressar com rabiscos o movimento. Cada dupla não
deverá se comunicar verbalmente. Apenas deixar
sentir. Esse espaço é de vocês!!!
Depois, entre em contato com o resultado desse
rabisco em conjunto e perceba as formas, o
movimento, as imagens, as cores, o espaço ocupado.
Pode se comunicar com a sua dupla verbalmente.
Agora, vamos soltar a mão e expressar todos os
sentimentos que surgiram durante a vivência. Não
pense, apenas faça. Não use a crítica lembre que essa
arte é uma arte de expressão e não uma arte estética.
Comecem utilizando uma cor e depois de esgotá-la
peguem outras.
Vamos compartilhar sentando em roda.
Primeiro, começamos a falar e depois cada um falará
da sua experiência. Depois, falaremos da pintura final e
vamos em conjunto buscar um título para esta pintura.
Aula 1| Corpo e expressão 30
Respiração
A respiração tem um papel funcional no
organismo que é oxigenar o sangue e, por este motivo,
fazer a limpeza dos órgãos e músculos. O cérebro mal
oxigenado é responsável pelos pensamentos confusos,
pelos pensamentos negativos, pela dificuldade de
concentração e falta de memória.
Já sabemos da importância de trabalhar a
respiração de uma forma consciente, conhecendo e
trazendo o movimento do corpo junto com a
respiração. Em vários trabalhos com o corpo, a
respiração é vista como fator principal de qualquer
movimento e exercício. Já está comprovado que os
exercícios de meditação e relaxamento ajudam na
recuperação e no equilíbrio da saúde.
Segundo Sylvie Lagache, a respiração com
movimento tem o poder de:
Descarregar as tensões;
Facilitar o alongamento muscular graças à
liberação de energia;
Ajudar na concentração, porque o esforço
para coordenar a respiração com o movimento
torna o movimento perceptível e sensível, não
simplesmente um ato mecânico;
Criar um movimento circular e harmônico,
recolhendo ao inspirar e expandindo ao
expirar;
A prática da respiração torna a dança mais
livre, mais viva, inclusive no balé clássico.
A respiração permite a liberação da tensão
mental quando mentalizamos no movimento que o ar
percorre ao entrar e sair pelo nariz. Depois, quando se
inspira pelo nariz e expira pela boca, sentimos um
Aula 1| Corpo e expressão 31
relaxamento da laringe, trazendo à tona a criatividade
e a comunicação. Ajuda, também, a liberar as tensões
emocionais, estimula as forças vitais, pois está
relacionada com a caixa torácica e a abdominal.
Sendo assim, é de suma importância a relação
da respiração com os fatores emocionais. Trabalhar e
estimular a respiração ajuda a mexer e a reacender a
vida, pois estamos falando dos sentimentos. Não
somente os sentimentos de medo, raiva e tristeza, mas
também os sentimentos de alegria e amor que, por
muitas vezes, ficaram anestesiados pelo medo de
sofrer. Respiração é vida e deve ser trabalhada sempre
de forma consciente.
EXERCÍCIO 1
Marque a alternativa correta sobre o corpo e a criança:
( A ) O bebê quando nasce é todo corporal;
( B ) O bebê não precisa de atividades que o estimule
corporalmente;
( C ) Passar dentro de um túnel não é indicado para
crianças;
( D ) A alternativa 1 e 2 são corretas;
( E ) Nenhuma das resposta anteriores.
EXERCÍCIO 2
Coloque Falso ou Verdadeiro:
(oba) Corpo e mente são um só;
(oba) Trabalhar os pés traz a questão da auto-afirmação;
(oba) O corpo é a nossa memória mais arcaica;
(oba) Os adolescentes não passam por transformações
psíquicas e corporais;
(oba) A respiração tem um papel funcional no organismo.
Aula 1| Corpo e expressão 32
EXERCÍCIO 3
Citar duas características essenciais da respiração para
o bem-estar da pessoa.
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EXERCÍCIO 4
Quais são as sete fases da história do corpo?
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RESUMO
Vimos até agora:
Na aula de corpo, algumas questões que
poderão ser de grande valor na sua prática
escolar ou terapêutica. Espero que você possa
utilizar os conhecimentos e as propostas
sugeridas com bastante criatividade e
proporcionar aos seus alunos ou clientes
atividades enriquecedoras e que os auxiliem
no crescimento pessoal;
Em seguida, contei um pouco da história do
corpo e espero que você se interesse em apro
Aula 1| Corpo e expressão 33
fundar seus conhecimentos, pois é um estudo
fascinante;
Finalizando, conversamos um pouco também
sobre a importância do corpo em cada fase da
vida: bebê, criança, juventude e meia-idade.
Trouxemos, também, a respiração como
primordial para um trabalho de corpo.
Linguagens literárias
Virginia Maria Castilho Ribeiro de Souza
Maria Estela Lopes
Renata Cury (revisora)
AU
LA
2
Ap
res
en
taç
ão
Quem viajar no mundo da imaginação verá o que nós já vimos por
lá: A riqueza dos contos para o desenvolvimento, principalmente,
o da criança. Depois, falamos dos mitos, contos, lendas e fábulas
e como o contador de histórias deverá estar atento à expressão e
à memória.
Foram abordadas diversas técnicas para o contador entrar em
contato com o mundo das histórias e poder fazer uma boa
apresentação. As histórias podem ser apresentadas de diversas
formas, desde que quem as conta esteja em contato com quem
ouve, interagindo e tornando a história dinâmica. Vem que você
vai gostar.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Trabalhar as linguagens literárias com o seu grupo;
Diferenciar e conhecer as diferentes linguagens literárias;
Criar novas atividades utilizando os contos;
Estabelecer uma linha constante de contato com o mundo da
imaginação.
Aula 2 | Linguagens literárias 36
O contador de histórias
E em noite de lua cheia, o índio Taipi
buscava em vão alcançar a lua pelo
seu arco e flecha; às vezes chorava
olhando aquela enorme bola prateada
no céu escuro, pedindo a Tupã uma
árvore bem alta para chegar até ela...
(anônimo)
O menino brinca de pirata
Sua espada é de ouro e sua roupa é de
prata
Atravessa os sete mares
Em busca do grande tesouro
Seu navio tem setecentas velas de
pano
E é o terror do oceano
Mas o tempo passa e ele se cansa
De ser pirata
E vira outra vez menino.
(cantiga de roda – Roseanna Murray)
No mundo mágico do faz de conta, da libertação
das histórias, sejam contos de fada, lendas, mitos,
fábulas ou contos populares, o essencial é compartilhar
a fantasia.
Nenhuma formação prescinde da
educação do espírito, porque esta é a
que vai formar o homem, despertando
a sensibilidade, os valores éticos para
a conscientização do ser humano e seu
relacionamento.
(Carvalho, P., 1998)
Aqui se inclui uma discussão sobre cultura e
civilização, seus significados e como estão relacionados.
A cultura vai fornecê-la, através da
Literatura, como fonte de
conhecimentos e informação. E a
poesia é a primeira manifestação de
expressão literária, é pela poesia que
se iniciam todas as Literaturas.
(Id., 1998)
Câmara Cascudo já nos dizia que o leite materno
era temperado com os contos populares, considerados
O contador de histórias 36 Expressão corporal e estudo das vozes 52 A importância da leitura 55 Conclusão 59
Importante
Analisar a questão cultural é muito importante quando falamos em histórias, seja no âmbito da Literatura ou do Folclore. Lembre-se sempre da questão do MULTICULTURALISMO e pense o quanto as histórias podem trazer para dentro da escola as diversas culturas regionais com as quais convivemos no cotidiano educacional.
Aula 2 | Linguagens literárias 37
como a “alma do povo”, pois só através deles
conhecemos o verdadeiro perfil dos moradores de um
lugar. O folclore, portanto, trabalha a psicologia
coletiva, trazendo o imaginário do homem comum.
E essa fonte também foi abordada pelo nosso
saudoso Monteiro Lobato, com seu estilo único:
“...Agora vou contar pra vocês uma história bem
comprida...” Já dizia D. Benta, um dos personagens
centrais de sua obra.
Só de ouvir esse nome, muita gente já revive
cenas gostosas da infância. Parece que todos os
personagens nos chegam numa viagem da Via Láctea:
Emília, Pedrinho, Narizinho, Visconde de Sabugosa,
todos nos convidando para cenas com tantos outros (o
Saci, tio Barnabé, a onça pintada, fadas)...
O autor sabia, como poucos, combinar os mais
diversos ingredientes em seus livros, como a história de
Peter Pan, de autoria de James Barring (viva o Capitão
Gancho, a fada Sininho, as sereias, Wendy e seus
irmãos) em sua obra. E, assim, ia aproximando
elementos pouco humanos, uma vez que não possuem
a vida humana interior da psique, de outros com quem
é fácil nos identificarmos.
O uso de histórias envolve vários ingredientes:
invenção das próprias histórias trazendo elementos de
nosso dia a dia, a leitura de histórias de livros, escrever
histórias, ditá-las, utilizar coisas para estimulá-las
como figuras, testes projetivos, bonecos, painel de
feltro, mesa de areia, desenhos, fantasias de final
aberto, entre outros.
Sendo a história da criança uma projeção, ela
reflete algo sobre a vida da própria pessoa; cada
Para navegar
Para saber mais sobre Monteiro Lobato, conhecer um pouco de sua vida e obra, consulte o site www.lobato.com.br
Aula 2 | Linguagens literárias 38
história é encerrada com uma lição, uma filosofia de
vida extraída da situação. Portanto, ao se utilizar esta
técnica, você deve ter em mente a importância de
perceber o outro ouvinte; é essencial saber algo sobre
a criança (ou o participante em qualquer faixa etária) e
entender rapidamente o tema central da história
apresentada.
Daí também a ênfase que o próprio contador
enquanto orientador, deve dar ao olhar. Ao perceber
sua “plateia”, ele dará o exemplo do que deve ser
seguido, estará guiando o participante do grupo para se
ver, buscando o reflexo do que está sendo contado, no
outro. Trata-se, portanto, de uma pesquisa paciente
que muitas vezes nos conduz a ver, ouvir, sentir e
calar...
“A importância do Olhar"
Bernardo Arraes Gonzalez Cruz*
Atualmente, as pessoas mal se falam,
muito menos se permitem o olhar
sincero. O olhar que existe é o da
crítica raivosa, ofensiva, para diminuir,
desmoralizar, confundir e estimular a
baixa autoestima das pessoas. Nos
desacostumamos a ver os rostos e até
sentimos vergonha muitas vezes de
olhar nos olhos de nosso semelhante.
A que ponto chegamos. Nos sentimos
cansados com tanta pressão, opressão
e cobranças descabidas, sem o
interesse pelo afeto e pelo calor
humano.
Daí a necessidade do olhar, que
desperta na alma a troca do
sentimento humano, da emoção do
próximo. Quando olhamos com
sinceridade nos olhos de uma pessoa,
ficamos mais próximos. É esse olhar
intenso, cheio de vontade, com
sentimento, que permite o alcance de
um amor sincero, que nasce do desejo
de ajudar, porque tem vontade de
amar. É dentro dessa proximidade que
se permite a troca de experiências e
até da descoberta dos desejos em co-
Quer saber mais?
Dicas de alguns meios e técnicas para contar histórias: Usar o próprio livro
– Contar a história apontando as figuras ricas de ilustração;
Figuras sobre um
cenário – Pode ser feito de cartolina, papel cartão. Cada
suporte pode conter figuras e cenários diversos conforme o desenrolar da história;
Criando bonecos e
fantoches – Criar vários personagens e narradores. As crianças também podem manusear os fantoches;
Criação de
cenários – Estes devem ser criados com a ajuda das crianças. Ex.: Casinha de papelão, Floresta de papel crepom;
Avental de
histórias – Um avental com desenhos, bolsos e personagens para contar histórias.
Aula 2 | Linguagens literárias 39
mum. Porque só o olhar consegue o
saber sem palavras, o sentir sem
dizer, o conhecer sem saber, a troca, a
proximidade, a igualitariedade e a
compreensão. Este olhar sincero é
naturalmente ético e, por isso,
puramente humano.
Nas civilizações primitivas, bem como
nas tribos indígenas, as pessoas
sentavam-se em roda, olhavam-se
umas para as outras e então os mais
idosos, com toda naturalidade pessoal,
contavam as histórias de seu povo, de
sua vida e até das explicações dos
fenômenos da natureza. Já na Idade
Média, surgem os menestréis, que
contavam histórias, cantando notícias.
Estes foram os primeiros contadores
de história.
O contar histórias parte do princípio
deste olhar, da necessidade de
comunicação, do desejo de estar junto
de outras pessoas e compartilhar o
sentimento que se move do coração e
sai pelo olhar, pela história oralizada,
pela palavra.
O contar histórias não só exige como
resgata a questão da comunicação
pelo olhar, como pela palavra que,
junto ao sentimento, à voz e ao corpo,
transmite o desejo de proporcionar ao
outro momentos agradáveis, em que
retornamos sentimentos puros,
vivenciados em nossa infância. Nada
mais agradável do que isso, neste
mundo tão conturbado em que
vivemos e muitas vezes não sabemos
mais o que fazer.
E é absorvido nesse mundo do
imaginário, no momento em que se
conta ou em que se ouve uma história,
que podemos pensar em ser felizes,
porque conseguimos levantar o sorriso
de alguém ou até mesmo fazer feliz
esse alguém”.
(Entrevista -1999)
Aula 2 | Linguagens literárias 40
SUGESTÃO DE ATIVIDADE PARA INICIAR OU
FINALIZAR UMA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA
Sentados, solicita-se que todos fechem os olhos,
se quiserem, trabalhando a respiração de forma suave,
pedindo que se imaginem no único lugar onde
gostariam de estar naquele instante, seu lugar especial.
Imaginar um sol ameno, agradável e uma suave brisa
ao redor. Pede-se que façam movimentos leves com as
articulações, que tragam alguém para compartilhar com
aquele lugar sugerindo-se que se abracem, se
quiserem. Lentamente, vão retornando ao local de onde
vieram e, num movimento lento, inclinando a cabeça e
abrindo os olhos devagar.
Em círculo: todos de pé, vamos procurando um
par para desenvolvermos movimentos juntos. Sempre
nos olhando nos olhos, procurando o reflexo do que
estamos passando no próprio olhar, nos gestos, na
expressão corporal.
Uma pessoa vai ser a imagem real e a outra, a
virtual. A primeira vai guiando os movimentos, nos três
planos (superior, médio e inferior). E a outra, sendo o
“espelho”, vai procurar imitá-la, sem desviar o olhar
“dentro dos olhos’’. Num segundo momento, as duplas
vão se alinhar umas às outras em duas filas, uma em
frente à outra. Numa sequência, cada dupla vai
repetindo os movimentos feitos pelas duplas que as
antecedem à sua esquerda; o que era imagem virtual
agora vai liderar a expressão, copiando-a e
repassando-a para seu parceiro, sem desviar o olhar
deste.
Esta dinâmica deve levar cerca de 20 minutos.
Uma vez realizada, todos podem concluir os
movimentos com calma e retornar aos lugares.
Aula 2 | Linguagens literárias 41
SE VOCÊ ESCREVEU UMA HISTÓRIA, É SÓ
CONTAR...
Agora, incluiremos a fala de Bernardo Arraes
(1999) sobre sua experiência como oficineiro da arte de
contar histórias. Pois, indo ao encontro do que
dissemos antes, saber trabalhar as propriedades de
cada ferramenta agiliza a imaginação e potencializa a
criação, pois favorece a desinibição:
Não sendo um trabalho específico para
uma editora, o contador de histórias
poderá pesquisar e escolher com
calma seu repertório. Esse, quando
desenvolvido em grupo, é enriquecido
pelas qualidades literárias existentes
nas histórias.
Alguns contadores escolhem as histórias
gradativamente e cada uma delas, sendo apresentada
mais de uma vez, torna-se um encanto para o público,
pois novos ângulos vão sendo mostrados e a expressão
sendo melhor elaborada. Um registro por escrito é
importante para se preservar a forma como foi
contada, facilitar a memorização e as futuras
apresentações.
Ao se fazer a seleção das histórias, os elementos
essenciais da estrutura definem sua classificação em
lendas, mitos, fábulas, contos populares e contos de
fadas. Todos apresentam introdução, enredo e
desenlace.
Apresentam diferenças significativas entre si;
um conto de fadas, segundo a Dra. Marie Louise von
Franz (1993), “não é produzido pela psique do
indivíduo e não constitui material individual” (Franz, M.,
1993: 12-13). Podem se associar fenômenos
parapsicológicos. Um outro tipo de conto de fadas é o
da saga local que contém referências a um
determinado local, o herói se torna um ser humano
Dica de leitura
PAVONI, A. Os contos e os mitos no ensino: uma abordagem junguiana. São Paulo: EPU, 1989.
Aula 2 | Linguagens literárias 42
definido e o conto é narrado associado a um evento
concreto que realmente aconteceu, mesmo com
características de contos de fadas. Nas sagas, os
elementos fantasmagóricos são mais frequentes.
Luís da Câmara Cascudo já nos anunciava que:
O conto nasceu do povo e foi feito para
ele. É um documento vivo,
denunciando costumes, ideias,
mentalidades, decisões e julgamentos.
Para todos nós, é o primeiro leite
intelectual.
(Oaklander, V., 1980, p. 113)
As mensagens simbólicas transmitidas, tanto
nos contos de fadas como nos populares, emergem das
profundezas da humanidade, tratam dos problemas
existenciais, relacionando, portanto, momentos alegres,
tristes, extremamente dolorosos, corajosos, que vão
favorecendo, aos poucos, a estrutura psíquica da
criança. Essa passa a incluir elementos sólidos em sua
personalidade que vão ajudá-la a dar respostas na vida,
sob forma lúdica.
São compreensíveis para a criança
como nenhuma outra forma de arte é;
como toda arte significativa, o sentido
mais profundo dos contos de fadas,
por exemplo, será diferente para cada
pessoa, e diferente para a mesma
pessoa em momentos diversos de sua
vida. A criança extrairá um sentido
diferente do mesmo conto de fadas,
dependendo de seus interesses e
necessidades do momento. Sendo-lhe
dada a oportunidade, ela voltará ao
mesmo conto de fadas, dependendo
dos seus interesses e necessidades do
momento; quando estiver pronta a
ampliar significados ou substituí-los
por novos.
(Id., 1980, p. 113)
Os contos de fadas são verdadeiros tesouros da
sabedoria humana, passados de geração a geração,
estão no maravilhoso mundo da fantasia, carregados de
Dica da professora
Mesmo não mais na infância, os contos nos ajudam a encontrar respostas para nossa vida, não é verdade? Você se lembra de uma história que seja significativa para sua vida?
Aula 2 | Linguagens literárias 43
emoções. Os contos de fada têm uma linguagem
internacional de toda espécie humana, estão além das
diferenças de idade, raça e cultura ou crenças.
As famílias se reuniam em roda e o mais velho
contava histórias que prendiam a atenção e a todos
encantavam, principalmente as crianças, com suas
fantasias, imaginação, alegria.
Existe uma diferença entre contos de fadas,
saga local e mito. Os contos de fadas não têm raízes,
eles são de todos os lugares e não são destruídos. A
saga local é um conto de um determinado lugar, tem
raízes no local.
O mito é uma produção cultural, expressa o
caráter da civilização de onde surge, onde continua
vivo.
Agora, falaremos um pouco sobre as lendas e as
fábulas.
As lendas são uma narrativa fantasiosa
transmitida pela tradição oral através dos tempos.
De caráter fantástico e/ou fictício, as lendas
combinam fatos reais e históricos com fatos irreais que
são meramente produto da imaginação aventuresca
humana. Já diz o ditado popular: “Quem conta um
conto aumenta três pontos.”
Também, segundo a Dra. Von Franz, a saga
local e a lenda histórica têm fundamentos reais, que
foram vivenciados, detalhados e depois ampliados até
se resumirem numa história, passando a ser recontada
durante um longo período de tempo.
Dica de leitura
CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: Editora Palas Athena, 1990.
Aula 2 | Linguagens literárias 44
Estudar uma lenda é como estudar o
corpo todo de uma nação.
(Id, p. 15)
Nas fábulas, os animais têm características
humanas e transmitem lições morais de grande
simplicidade com mensagens relacionadas ao
comportamento no cotidiano, com singelos conselhos
sobre lealdade, generosidade e as virtudes do trabalho.
Quase sempre os animais apresentam comportamento
humano, satirizando os defeitos dos homens e
revelando verdades universais sobre a natureza
humana.
A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS
Se os contos são contados por pessoas, com
imaginação e/ou talento de um contador de histórias,
tornam-se mais bonitos e interessantes.
Cada pessoa tem, em cada momento,
os conflitos mais emergentes a serem
enfrentados. Quando entra em contato
Marie-Louise Von Franz nasceu em 1915, em uma
família austríaca que veio se fixar na Suíça depois
de 1918. Depois de terminar seus estudos literários,
ela se encontra com o homem que iria mudar toda a
sua vida: Jung. Ela veio a falecer em fevereiro de
1998.
Aprofundou-se no estudo da alquimia e se tornou
uma colaboradora importante na tradução dos
textos em grego e em latim.
Tornou-se uma Analista e participou de vários
trabalhos junto com Jung. Von Franz publicou vários
livros, em particular sobre a interpretação dos
contos de fadas.
Além de sua brilhante carreira como psicoterapeuta
e escritora, ela ainda construiu uma brilhante
carreira como professora e conferencista no Instituto
C.G. Jung de Zurich.
Para saber mais sobre suas obras, acesse o site
http://www.salves.com.br/jb-franz.htm
Aula 2 | Linguagens literárias 45
com uma história que traz esse tema,
cria-se a oportunidade de se
estabelecer uma rede de associações
que lhe permite chegar a um
significado psicológico essencial. Este
pode ser desvendado e compreendido
através das figuras e eventos
simbólicos que as histórias trazem.
(Dias, C., 1999, p. 93)
As crianças, ao ouvirem contos de bruxas, ficam
esperando aparecer a ajuda da fada ou de um outro
herói.
Na história de João e Maria que se perdem de
casa e a bruxa os coloca em uma gaiola, retrata os
temas de abandono, medo, solidão, desamparo, mas
faz com quem ouve entre em contato com estes temas
e a possibilidade de poder elaborar os seus conflitos.
As religiões e os cultos baseiam seus
ensinamentos através dos contos de conteúdo moral.
Da mesma forma, existem também as histórias de
ensinamento de tradição sufi, que são documentos de
contos que há milênios os povos do oriente usam, os
contos são como instrumentos para ensinamentos
importantes da humanidade.
Exemplo:
O empréstimo
Na casa de chá, um homem dizia aos
amigos:
- Emprestei uma moeda de prata a uma
pessoa e não tenho testemunhas.
Receio que quem a recebeu negue que
a pus em suas mãos.
Os amigos ficaram com pena dele,
mas um sufi que estava sentado a um
canto ergueu a cabeça e disse:
- Convide-o para tomar um chá aqui e
diga-lhe, na presença de todas as
pessoas, que você lhe emprestou vinte
moedas de ouro.
- Como posso fazer isso se só emprestei
uma de prata?
Aula 2 | Linguagens literárias 46
- É exatamente isso que ele vai
responder indignado - disse o sufi - e
todos poderão ouvi-lo de seus lábios.
Você não queria testemunhas?
(Nícia, G., 1993)
Um conto de fadas leva você para bem longe,
para o mundo sonhador da infância, do inconsciente
coletivo, onde não se pode ficar e por isso toda história
tem que ter um fim para entrarmos novamente na
realidade.
Os contos podem ser entendidos como materiais
muito ricos no trabalho com arte. Normalmente, todos
gostam de ouvir e contar histórias e através delas
podem-se abordar diversos temas.
Quando se inventa uma história, projetamos
algo de nossa vida, falando de algum tema que nos é
importante. A forma que se encerra a história mostra
como se resolvem os conflitos e se pensa sobre outras
alternativas. Em cada personagem, se encontra
parte de nós mesmos.
Na microssérie da emissora de TV, Rede Globo,
“Hoje é dia de Maria – Segunda Jornada”, se buscou
um imaginário popular brasileiro. Falou-se, também, do
poder que os contos de fadas têm na arqueologia da
infância no Brasil e na reinvenção de um território
lúdico, tão sacrificado no cotidiano das grandes cidades.
Em entrevista feita à Revista da TV, do jornal O
Globo, o diretor Luiz Fernando Carvalho faz uma crítica
social ao mundo de hoje, tão distante da nossa
infância:
Onde está a nossa infância? Onde ela
foi morar? Os contos de fadas revelam
o nosso imaginário mais arcaico, a
origem dos nossos medos e
fantasmas. São histórias ancestrais,
seculares da tradição oral, que têm co-
Dica da professora
Por vezes nos identificamos mais com uma personagem da história. No entanto, se prestarmos atenção, todos temos um pouco do herói, do vilão, da fada, do mago e das outras personagens que compõem os contos e os mitos. Faça esse exercício. Identifique em uma história o que você tem de cada personagem.
Aula 2 | Linguagens literárias 47
municação muito direta, simples.
(CARVALHO, 2005, pp. 22-24)
Nesse conto, o autor busca o confronto não só
das crianças, mas também dos adultos de enfrentar o
medo e o desejo de tudo. O mundo do faz de conta foi
utilizado para mostrar sentimentos da modernidade
como o desejo de justiça, a necessidade de reatar uma
relação lúdica com o mundo, confrontando com a
descrença que assola a cidade, a falta de poesia, o
excesso de raciocínio e a falta de criatividade e, assim,
o apelo aparece: não fechem a porta ao sonho humano.
O processo que se vive através da fantasia, do
imaginário, com invenção de personagens mágicos
como fadas, bruxas, animais e plantas que falam, todos
têm significados que pode-se não saber o simbolismo
real, porém ele é assimilado ao nível do inconsciente.
Encontramos o amor, os medos, as dificuldades,
carências, perdas, solidão, encontro, buscas,
descobertas, entre outros. Os símbolos apresentados
nos contos de fadas, como os monstros e as bruxas,
representam nossos próprios temores e incapacidade
que temos para lutar, enquanto as fadas representam
nossas capacidades e possibilidades.
Para as crianças pequenas, os contos devem ser
curtos e com poucos personagens, elas acreditam que
tudo à sua volta tenha vida (animismo), para elas a
história está acontecendo no tempo real, pois ainda não
separam a realidade e a fantasia. Gostam de histórias
de animais, plantas e objetos que falam. Quando já
alfabetizadas, elas se interessam por detalhes, prestam
mais atenção em contos mais longos.
Na pré-adolescência e na adolescência,
exigem riqueza de detalhes e maior elaboração com
diálogos e cenas. Gostam de temas ligados à realidade,
ao social, às ficções, às aventuras e aos mitos.
Aula 2 | Linguagens literárias 48
Segundo Marie Louise von Franz (1993), os contos de
fadas são parábolas que narram a trajetória de vida do
ser humano. O período da adolescência, quando está
iniciando uma vida independente, é uma tarefa difícil e
nos contos são representados diante de várias
aprovações, tendo que vencer as bruxas e gigantes até
encontrar o verdadeiro amor que está simbolizando a
conquista na vida real, o encontrar-se a si mesmo, o
assumir compromissos.
Na oficina de arte, podem-se usar os contos de
diferentes formas. Vejamos alguns exemplos:
Fazer um relaxamento, depois usar um
desenho que tenha feito, um objeto, um
brinquedo, uma planta ou qualquer outra coisa,
pedir para inventar uma história com início,
meio e fim;
COMPLEXO DE CINDERELA
Francisco Antônio Pereira Fialho
“O tema de Cinderela é uma viagem de iniciação,
que conduz ao estado de adulto e de maturidade. De
acordo com a época, o país e o autor, os contornos
da história variam tal como os cenários, mas o
progresso da adolescência à maturidade, mantém-se
a preocupação central. Em Cinderela é a fada-
madrinha quem, tal como em A Bela Adormecida,
fornece o toque mágico necessário para cumprir um
destino que também envolve a descoberta do amor
e os trâmites que daí vêm e advêm.
Os contos de fadas, contados e recontados no
decorrer dos tempos, escondem arquétipos que, ao
serem revelados, desnudam a alma do mundo.
Os personagens não estão lá simplesmente para
mostrar a personagem central. O príncipe, partindo
das cortes, tentando encontrar um verdadeiro
significado para a sua vida; as irmãs e a madrasta,
tentando tornar-se num ideal de beleza, o pai,
deprimido; todas estas figuras são indispensáveis à
emergência de Cinderela.”
Para ler o texto na íntegra, acesse o site:
http://www.psicologiabrasil.com.br/rev_07/capa/cap
a.htm
Aula 2 | Linguagens literárias 49
Pedir para dramatizar uma história qualquer;
Solicitar que o participante invente um final
ou qualquer outra parte de uma história
contada anteriormente;
Fazer um fantoche que represente um
personagem que gostou muito.
Assim como existem “contos infantis”, também
existem os “contos de meias idade”, ou seja, contos
para adultos acima de 40 a 50 anos, eles surgiram há
muito tempo. Esses contos simbolizam as tarefas de
desenvolvimento que se têm que realizar na segunda
metade da vida, retratam o envelhecimento, mas com
crescimento espiritual e psíquico. Ajudam a mostrar o
sentido da vida, na maturidade e na velhice, de uma
forma agradável, com sabedoria e autoconhecimento.
Esses “contos de meia idade” são muito comuns
na cultura oriental, nos países árabes, na Índia e na
China, onde o idoso é valorizado e respeitado por sua
sabedoria e experiência.
O sábio mercador (conto judaico)
Há muito tempo, um mercador e um
filho já moço partiram em viagem por
mar. Levaram consigo uma arca de
jóias para vender durante a viagem. A
ninguém falaram sobre sua fortuna.
Um dia, o mercador ouviu os
marinheiros cochicharem entre si.
Haviam descoberto o tesouro e
estavam tramando matá-los para
roubar as jóias!
O mercador, fora de si de tanto medo,
andava de um lado para o outro em
sua cabina, procurando uma forma de
se livrar daquela situação perigosa.
Seu filho perguntou o que estava
acontecendo e o pai lhe contou.
- Precisamos enfrentá-los! – o jovem
exclamou.
- Não – o velho respondeu - eles nos
venceriam!
Dica de leitura
CHINEN, Allan B. E foram felizes para sempre. Contos de fadas para adultos. São Paulo: Cultrix. Exposição de uma psicologia da maturidade mediante a reunião de contos de fadas em que os personagens são adultos. Esses contos, ricos em significado psicológico e espiritual, ligam-se a temas arquetípicos.
Aula 2 | Linguagens literárias 50
Um pouco mais tarde, o mercador
assomou, abruptamente, ao convés. -
Você é um tolo, meu filho! – ele gritou.
Nunca escutou os meus conselhos!
- Velho! – gritou o filho de volta – Você
não tem nada a dizer que valha a pena
ouvir!
Os marinheiros, curiosos, cercaram o
pai e o filho que começaram a soltar
imprecações entre si. Então o velho
correu para a cabina e trouxe,
empurrando com esforço, a arca
pesada de jóias.
- Filho ingrato! – o mercador gritou –
Prefiro morrer de miséria do que
permitir que você herde a minha
fortuna! – Dizendo isso, o mercador
abriu a arca do tesouro e os
marinheiros engasgaram à vista de
tanta riqueza. Então o mercador
correu para a balaustrada do navio e,
antes que alguém pudesse retê-lo,
atirou seu tesouro ao mar.
- No instante seguinte, pai e filho
olharam para a arca vazia e se
abraçaram chorando pelo que haviam
feito. Mais tarde, quando a sós na
cabina, o pai falou:
- Tínhamos que fazê-lo, filho. Não havia
outro meio de salvar nossas vidas!
- Sim – respondeu o filho - seu plano foi
o melhor.
Em breve, o navio ancorou e o
mercador e o filho correram para o juiz
da cidade. Acusaram os marinheiros
de pirataria e tentativa de homicídio e
o magistrado os prendeu. O juiz
perguntou aos marinheiros se haviam
visto o mercador atirar seu tesouro no
mar e eles responderam que sim. O
juiz então condenou todos à morte.
Que homem iria se desfazer das
economias de uma vida senão por
medo de perdê-las? – o juiz ponderou.
Os piratas se ofereceram para dar
novas jóias ao mercador e, em troca, o
juiz lhes poupou a vida.
(resumo do conto “O sábio mercador”
da obra de G. Friedlander)
... E a poesia é a primeira
manifestação de expressão literária, é
pela poesia que se iniciam todas as
Literaturas.
(Carvalho, B., 1998)
Aula 2 | Linguagens literárias 51
A IMPORTÂNCIA DA LIVRE EXPRESSÃO
Quando se pede a alguém que escreva um
poema, começam as preocupações com rimas... Essas
podem ser trabalhadas, mas como um ponto à parte. O
mais importante é se desenvolver a expressão livre,
uma vez que a poesia vem do coração, podendo fluir de
todas as formas, até sem aparente nexo.
Exemplo de dinâmica:
Apresentar um poema e pedir aos participantes
que repitam frase por frase, caminhando pelo espaço
em que estão de forma descontraída, compondo o todo.
Depois, que se organizem em duplas e contem o
poema, com expressão corporal.
Em um segundo momento, cada um pode repetir
parte do poema deixando sentenças inacabadas, a
pessoa seguinte pode completar com criações suas. Por
esse meio, os integrantes (de qualquer idade) são
encorajados a falar de si próprios.
A partir daí, pode-se pedir ao grupo que faça um
desenho de seus sentimentos acerca do poema. Podem
vir expressões de inúmeros sentimentos: alegria. raiva,
tristeza, ódio. Uma janelinha se abre para o interior da
pessoa, às vezes, facilitando a abertura de uma porta
gradativamente.
Outra expressão plástica - utilizando-se a
mesa de areia, pede-se, com antecedência, que tragam
pequenos objetos decorativos de casa: animais, anéis,
mobiliário, bibelôs, como se fossem compor a
“maquete” de um cenário (= modelo minimizado de um
ambiente em tamanho natural, real). Estes são
colocados dentro de uma caixa com areia; se houver
possibilidade de se preencher sua parte inferior com
Aula 2 | Linguagens literárias 52
água, tampando-a com um vidro e colocar a areia por
cima deste, cria-se um espaço mais lúdico. A partir daí,
os objetos são colocados, delineando mais uma
história.
O fato de podermos olhar a cena com largura,
altura e profundidade, leva-nos a visualizar a história
que nos pertence, que traduz uma passagem de nossas
vidas como espectadores, ajudando a esclarecer
situações, a clarificar problemas e cisões.
Segue mais uma orientação do oficineiro
Bernardo Arraes:
Apresentando um conto popular, o
contador fará uma estrutura oral,
semelhante a do contador de “causos”.
Ele usa as palavras, pausas etc. com
uma naturalidade tão grande, que
parece um ator, mas não é.
(Entrevista, 1999)
Memória
É importante conhecer bem a história
selecionada, com relação aos detalhes formais:
suspense, conflitos, ações, sentimentos dos
personagens. Ele poderá contar a história sem risco de
esquecer momentos importantes da mesma. E recriará
a narrativa em caso de esquecimento ou entusiasmo
visual causado pelo envolvimento da memória.
Não convém memorizar a história sem esquecer
um artigo. Isso acaba com a naturalidade emotiva,
bloqueando a espontaneidade do narrador. O
estrelismo, também, deve ser evitado.
Conhecer bem a história é fundamental.
Entretanto, saber com exatidão os acontecimentos que
a compõem não significa necessariamente decorar.
Aula 2 | Linguagens literárias 53
Esquecer certos detalhes podem fazer com que os
personagens fiquem sem coerência interna entre eles.
É fundamental perceber as nuanças do texto:
os momentos emotivos, de humor, os momentos que
revelam os espaços em que ocorrem os conflitos e
desenlaces, onde está o suspense, que poderá levar ao
desfecho; as circunstâncias que provocam a
“plasticidade visual” do que o contador está narrando. É
preciso estudar os personagens, sob os aspectos
psicológicos (situação econômica, afetiva, sexual).
O autor deve elaborar análises do texto para dar
destaque aos elementos essenciais da história. Pode
sublinhar no texto as passagens principais do mesmo, o
que indicará que não podem ser esquecidas.
Deve-se estar atento para perceber o objetivo
principal da história e observar como os personagens se
relacionam e solucionam os conflitos para realizar esse
objetivo. Uma boa história desperta no leitor a vontade
de continuar vivendo a narrativa, despertando inclusive
o desejo de conhecer o texto para ler e reler.
Expressão corporal e estudo das vozes
Experimentar determinados tipos de gestos,
brincar com as diversas vozes e falas; tudo dependerá
de como você poderá passar para o(s) ouvinte(s) a
história. Um contador, às vezes, não muda a voz, não
teatraliza o texto (gestos e dramatização exagerada) e
consegue um efeito muito forte, emocionando os
ouvintes, apenas com a naturalidade da voz e do
gestual. A emoção do contador será espontânea e
descobrirá o que fazer, se ensaiou antes, e relaciona
esse ensaio (história memorizada ou decorada) na
comunicação com o outro.
Importante
No momento de contar a história, essas nuanças do texto podem aparecer na voz do
contador. Sem ser caricatural, o tom da voz ajuda na emoção do relato.
Aula 2 | Linguagens literárias 54
COMO ENSAIAR
O ensaio deve significar uma preparação
carinhosa para quem nos assiste. Se temos o dom da
comunicação oral, corporal, só pode ser para
compartilharmos pensamentos, ideias, sentimentos.
Há algumas sugestões para se elaborar uma
apresentação:
Diante de um espelho;
Com um gravador ou uma câmera de vídeo;
Diante dos colegas do grupo que ouvem a
história ou, em caso de não ter um grupo,
para amigos e familiares;
Escrevendo a história, além de estudos e
resumos, para compor um repertório.
APRESENTAÇÃO
O contador de histórias utiliza como recursos,
além das histórias, é claro, seu sentimento, a memória,
a leitura, o olhar, a voz e o gestual. A linguagem não
verbal também conta a história e deve ser empregada
com frequência. Muitas perguntas podem surgir
nesse momento:
Qual será o público? Crianças? Adultos?
Público misturado?
Existe algum tema específico para a
apresentação no qual as histórias têm que
estar relacionadas?
Estudar a ordem em que serão apresentadas
as histórias pode envolver emocionalmente o
contador e seus ouvintes?
Como é a acústica do espaço? É necessário o
microfone? Ou basta a projeção da voz?
Como ficarão acomodadas as pessoas?
Dica da professora
Atenção a estas dicas! Elas são fundamentais para um encontro agradável para o contador da história e seu público.
Importante
Contar bem uma história requer prática! Já dizia Picasso que a arte é 1% inspiração e 99% transpiração! É fundamental estudar a história e ensaiar!
Aula 2 | Linguagens literárias 55
Qual o espaço disponível para o contador se
movimentar?
Com relação às perguntas acima, é
importante observar:
É interessante que a plateia fique num
semicírculo, e um único terá repertório específico. Mais
de um contador já implica a seleção mais depurada de
um repertório (histórias selecionadas quanto ao núcleo
temático).
Uma sessão varia de 30 a 50 minutos (crianças)
e até uma 1h e 30m para adultos. Deve-se verificar a
duração da história (curta, longa), se são engraçadas,
dramáticas e, principalmente, as reações dos ouvintes
durante a apresentação da estória.
O prazer é maior e o encantamento toma conta
dos ouvintes. Paira nesses momentos uma energia que
nos leva ao início de tudo, quando ainda éramos
crianças, ou quando o homem não sabia escrever, não
sabia ler. Mas contava o que sentia. E até hoje, ele
sente e narra as suas experiências humanas no planeta
azul.
A leitura para o contador de histórias.
Augusto Rodrigues disse uma vez,
numa entrevista para meu pai:
“Melhor do que ler é reler.” Tinha
apenas oito anos nessa ocasião, e sem
bem entender por que, guardei essa
frase no íntimo do meu coração. Hoje
aos quase 21 anos de idade, no meu
trabalho como contador de histórias e
nas oficinas que realizo, percebo a sua
importância.
A leitura é de fato necessária para
todos, não havendo como negar.
Torna-se mais importante ainda para o
contador de histórias. Principalmente
no ponto que se refere à releitura.
Aula 2 | Linguagens literárias 56
No primeiro contato com o texto,
temos uma ideia geral ou um
encantamento, um amor à primeira
vista. Se gostamos, realmente,
relemos depositando mais cuidado,
mais atenção e ternura. Conseguimos
saborear as palavras, a idéia do autor,
só que com um gosto especial.
É preciso sentir o sabor das palavras,
o que elas nos dizem, ao que elas nos
reportam. Só que, para isso, torna-se
necessário, primeiro, dar-se o direito
de descobrir e conhecer esse mundo.
Pode parecer estranho dizer isso,
mas... já pararam para ouvir o pulsar
do coração das palavras? As palavras
têm vida, influenciam, não têm corpo
físico, mas nos tocam com seu corpo
cheio de propriedades do sentimento.
Dentro deste universo da leitura, a
palavra lida transporta-se para o nosso
imaginário e sentimos a vontade de
pronunciá-la, de contá-la antes de
tudo para nós mesmos e depois para
os outros ouvirem. É como se
voltássemos a ser um bebê
pronunciando sua primeira palavra. E
ao mesmo tempo em que sentimos as
palavras GRÁVIDAS, vamos
desconstruindo o texto, descobrindo
nosso próprio ritmo de leitura, nossa
própria pausa.
É aí que reside o ponto fundamental,
quando ocorre a decodificação, a
desburocratização dos pontos, das
vírgulas e damos uma nova leitura às
palavras com seus significados.
(Bernardo Arraes Gonzalez Cruz)
A importância da leitura
Nada substitui a leitura, ela é uma atividade
básica, essencial para aprender e para ajudar a compor
a estrutura de nosso pensamento. É um dos objetivos
da introdução do contador de histórias na oficina de
artes, motivando a pesquisa das diversas fontes
necessárias ao nosso desenvolvimento. Nenhum
equipamento, por mais sofisticado que seja, substitui a
leitura, que nem sempre é um prazer, pois em certos
Dica de leitura
ORLANDI, Eni Pulcinelli. A leitura e os leitores. Campinas: Ed. PONTES, 2003.
Aula 2 | Linguagens literárias 57
momentos não estaremos interessados, atraídos pela
forma de texto ou pelas habilidades requeridas:
atenção, concentração, acuidade, perseverança ou,
ainda, pelo nosso momento pessoal, emocional.
A leitura é parte essencial do trabalho,
do empenho, da perseverança, da
dedicação em aprender.
(Rangel, M., 1999, p. 11)
DINÂMICAS
Poema coletivo
O facilitador da atividade destaca e lê um trecho
de um poema, indica dois participantes do grupo para
que o comentem usando as próprias palavras e pede a
uma terceira pessoa que o reconte usando palavras
iguais às usadas pelos dois colegas.
A brincadeira dos espelhos
Com a leitura de alguns contos onde aparece a
palavra espelho, desenvolveremos dinâmicas.
Alice através do espelho.
No momento seguinte, Alice passava
através do espelho. A 1ª coisa que fez
foi olhar para ver se tinha fogo na
lareira e ficou muito satisfeita de ver
que tinha e de verdade, tão
resplandescente quanto do outro lado.
(extraído da obra Alice no País das
Maravilhas, de Lewis Carol)
Atividade
Agora, todos os participantes do grupo devem
ficar em pé, num grande círculo e o facilitador solicitar
que fiquem separados em duplas, se organizando para
um ser a imagem real e o outro, a imagem virtual; uma
primeira dupla se apresenta no centro, fixando a
Aula 2 | Linguagens literárias 58
atenção no olhar (sem desviá-lo), fazendo movimentos
nos 3 planos (superior, médio e inferior) em qualquer
ritmo. Os demais devem adivinhar qual é a real.
Dessa forma, cada um vai destacar o sentimento
que melhor percebeu na atividade, podendo usar
palavras do texto.
Estátua
Os integrantes do grupo devem ficar em pé, de
costas para o arteterapeuta. Esse vai dar uma sugestão
de movimento, através de uma palavra. O qual deve
ser “congelado”. E cada um vai à frente, repetindo o
convite do facilitador.
Num momento seguinte, o arteterapeuta lê a
lenda de Igaranhã, a canoa encantada.
Um índio da tribo Kamaiúra iniciou a
construção de uma canoa com a casca
do jatobá. Ao terminá-la, retornou
para junto de sua mulher, que há
pouco dera à luz, permanecendo por
alguns dias.
Algum tempo depois, voltando à mata,
onde havia deixado a canoa, não mais
a encontrou. Entristeceu-se e,
pensativo, tentou imaginar o que
ocorrera. Talvez a tivessem roubado
ou algum animal a tivesse destruído.
Como poderia pescar agora?
Absorto, despertou com um ruído. Foi
grande o seu espanto ao perceber que
em sua direção movimentava-se,
lentamente, por si mesma, uma canoa,
a mesma que ele construíra, agora
com vida e olhos na proa. Talvez
houvesse se transformado em um
animal, pensou. Dar-lhe-ia então um
nome: Igaranhã – o crocodilo.
Entrou na canoa, ordenando-lhe que
seguisse em direção ao lago. Assim
que Igaranhã tocou a água, cobriu-se
com muitos peixes, dos mais variados
tipos, cores e tamanhos, que saltavam
sem cessar da água para dentro da
embarcação. Os primeiros, a própria ca
Aula 2 | Linguagens literárias 59
noa devorou, ficando a maior parte
para o índio.
A sua mulher, maravilhada, falou
apenas de um lugar ideal para a
pesca, que houvera encontrado. Dias
depois, retornando ao mesmo local,
nada encontrou sob a frondosa árvore.
Só que novamente, como por encanto,
surgiu um crocodilo da mata,
dirigindo-se ao lago e o fenômeno
repetiu-se.
O índio ambicioso recolheu
rapidamente os peixes, sem deixar à
Igaranhã sua parcela do alimento.
Esta, então, muito contrariada, acabou
por devorar o seu próprio dono.
(Farjani, A., 1991)
Agora, se repete a dinâmica da “estátua”,
observando-se a mudança de atitude, se houve
variação na leitura, usando-se o discurso objetivo
(quantificador) ou subjetivo (qualificador).
MAIS UM MOMENTO DE OFICINA
Vamos continuar com a presença da poesia,
trazendo alguns exercícios.
É sempre divertido fazer um poema em grupo.
Cada integrante pode ser solicitado a escrever uma
linha, que expresse um desejo. Todas as linhas são,
então, reunidas num poema. Ao ler, as pessoas ficam
emocionadas com as habilidades poéticas, de como as
partes vão se integrando com harmonia.
Nosso outro contador de histórias entrevistado,
Juareis Mendes, desenvolve uma atividade interessante
com sons e desenhos, fazendo da forma gráfica obtida,
verdadeiros poemas, como os que seguem. O grupo
pode ser motivado para fazer o mesmo, e, a partir das
imagens, desenvolver histórias e cantigas de roda.
A ideia, portanto, é dar exemplos de como
nossas habilidades podem ser exploradas com recursos
Aula 2 | Linguagens literárias 60
da linguagem literária, projetando nosso interior,
brincando com a realidade. Lembrando que, assim
como os adultos, “as crianças têm imaginação bastante
poderosa, para prescindir das histórias de fantasia”.
(Emmanuel Kant)
E fica o convite para rir, brincar, conversar,
fazer poesia, trocar histórias durante todos os dias do
ano. Afinal, nosso Monteiro Lobato já nos animava,
dizendo:
Olhem, vamos ter novidade amanhã:
uma história nova que vou contar,
muito comprida...
Conclusão
Os recursos da vida são inesgotáveis, assim
como em nós. Da infância à fase adulta, o meio
interfere de forma que o poder instintivo, natural e
criativo da pessoa fica enfraquecido frente aos desejos
e demandas dos outros. Todas essas infinitas
possibilidades de percepção, crescimento e estímulo
ficam limitadas de muitas maneiras, principalmente
com o pensamento. Na experiência do trabalho com
arte, usando a fantasia e, como aqui abordado, nas
linguagens literárias, a pessoa tem a possibilidade de
descansar o cérebro e relaxar, confiando na percepção
que lhe chega por meio de seus sentidos. Cada um de
nós, humanos, é tanto forte quanto frágil. As
polaridades, em tudo o que existe, trazem a
complexidade ao ser humano e as infinitas
possibilidades de usar a criatividade para lidar com
momentos diferentes da vida.
Você pode descobrir muito sobre a sua
percepção de si mesmo e sobre seu
senso de identidade pessoal quando
para de preencher mentalmente as
formas que alguém lhe impõe. Deixe
emergir as formas singulares e únicas,
Aula 2 | Linguagens literárias 61
criadas por você mesmo; os dados que
as suas formas apresentam não
precisam fazer sentido, nem mesmo
para você. Na experiência de arte,
você pode relaxar, parar de pensar
como deveria pensar, e deixar
acontecer o que for.
(RHYANE, p. 178)
EXERCÍCIO 1
Segundo Arraes (1999), o contar estórias advém de
várias necessidades. Assinale a única alternativa que
não corresponde a uma dessas necessidades:
( A ) Comunicação;
( B ) Desejo de estar com o outro;
( C ) Compartilhar sentimentos;
( D ) Fugir da realidade;
( E ) Proporcionar momentos agradáveis.
EXERCÍCIO 2
Os contos são:
( A ) Úteis como materiais ricos que revelam projeções
através da história;
( B ) Inúteis por se referirem a um "um mundo de faz
de conta";
( C ) Mais facilmente utilizados com pessoas da terceira
idade;
( D ) Só devem ser utilizados em sessões realizadas
com crianças;
( E ) Favoráveis ao processo de superação da
transferência.
Aula 2 | Linguagens literárias 62
EXERCÍCIO 3
De que formas os contos podem ser usados nas oficinas
de arte?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 4
Cite duas sugestões para ensaiar uma apresentação.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
Uma introdução ao mundo da imaginação;
A riqueza dos contos para o desenvolvimento
principalmente da criança;
Os mitos, os contos, as lendas e as fábulas e
como o contador de histórias deverá estar
atento à expressão e à memória;
Dicas de algumas perguntas importantes para
se preparar para a apresentação de uma
história;
Aula 2 | Linguagens literárias 63
Foram abordadas diversas técnicas para o
contador entrar em contato com o mundo das
histórias e poder fazer uma boa
apresentação;
As histórias podem ser apresentadas de
diversas formas, desde que quem conta
esteja em contato com quem ouve,
interagindo e tornando a história dinâmica.
Música
Naila Brasil
AU
LA
3
Ap
res
en
taç
ão
É muito difícil definir o que seja música. Seria ela uma linguagem?
Uma manifestação artística que nos atinge profundamente? Ou
simplesmente uma sucessão de sons?
E será possível descobrir a verdadeira essência da música?
Manifestação sonora do universo? Talvez, mas podemos dizer que
ela está tão ligada às emoções, à linguagem não verbal, que
passa a ser uma forma privilegiada da expressão humana, através
da qual os seres humanos comunicam-se entre si e, poeticamente
falando, por vezes pretendem dialogar com o cosmo.
Essas são questões que abordaremos nesta aula, além de
considerações teóricas e conceituais. Tudo isso para auxiliar você
em seu trabalho, seja ele na sala de aula ou em seu espaço
terapêutico.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Procurar, repensar e estruturar caminhos que o ajudem a
desenvolver uma prática musical adequada à sua atividade
profissional;
Estar atento às necessidades de seus alunos e pacientes no
sentido de lhes proporcionar um caminho, pela música, que
lhes favoreça esse caminhar;
Desenvolver autoconfiança, senso estético-crítico e capacidade
de análise e síntese para trabalhar com e através da música,
utilizando-se mais deste precioso recurso.
Aula 3 | Música 66
Introdução
As palavras podem mentir, os homens
fingir, somente a música é incapaz de
nos enganar.
(Confúcio)
Apresentação:
Eu sou a música; das artes, a mais
antiga. Eu sou mais que antiga, eu sou
eterna. Mesmo antes da vida começar
nesta Terra, eu já estava aqui - nos
ventos e nas ondas. Quando as
primeiras árvores, flores e pastos
apareceram, eu estava entre eles. E
quando o ser humano surgiu, tornei-
me imediatamente o veículo mais
delicado, mais sutil e mais poderoso
para a manifestação das emoções das
pessoas.
Quando os seres humanos eram pouco
mais que animais, eu os influenciei de
forma benéfica. Em todas as eras,
inspirei-os com esperança; inflamei o
seu amor; dei-lhes voz para suas
alegrias; estimulei-os para realizarem
valorosas façanhas; e consolei-os nas
horas de desespero. Representei um
grande papel no drama da vida, cujo
alvo e propósito eram a grande
perfeição da natureza humana. Graças
à minha influência, a natureza humana
elevou-se, abrandou-se e tornou-se
mais aprimorada. Com a ajuda das
pessoas, tornei-me uma Arte Superior.
Possuo uma grande quantidade de
vozes e de instrumentos. Estou no
coração de todas as criaturas humanas
e nas suas línguas, em todas as terras
entre todos os povos; o ignorante e o
analfabeto me conhecem, tanto quanto
o rico e o erudito, pois eu falo a todos,
numa linguagem que todos me
entendem. Até os surdos conseguirão
me escutar, se prestarem atenção às
vozes de suas próprias almas. Sou o
alimento do amor. Ensinei aos seres
humanos a delicadeza e a paz: e os
conduzi na direção de feitos heróicos.
Levo conforto aos solitários e concilio
os conflitos das multidões. Sou um
luxo necessário a todas as pessoas.
Eu sou a MÚSICA.
(Anônimo)
Introdução 66 O que é música? 68 Breve história da música 79 Pré-história e antiguidade 80 Música e educação 88
Aula 3 | Música 67
Então, o que é música? Você saberia responder
antes de ler a definição? Experimente elaborar várias
respostas para essa pergunta. Escreva tudo o que lhe
vier à cabeça.
E... vamos lá:
Ah! Mas antes de falarmos propriamente da
música, temos que falar daquilo que é anterior à
música, que é essencial para que ela exista: o SOM.
O susto provocado pelo trovão, a tranquilidade
que uma chuva fina traz, o encantamento produzido
pelo canto de um pássaro ou pelo som de uma flauta
são, todos, sentimentos produzidos por efeitos
determinados pelos diferentes tipos de ondas
eletromagnéticas de diferentes frequências e
comprimentos de ondas, que exercem influência sobre
o ser humano.
Após 16 semanas de gravidez, o feto já
responde a sons externos e, após 21 semanas, tem o
sistema de audição completamente formado. A
percepção dos sons acontece também pelo tato, sendo
que a pele do bebê recebe as vibrações sonoras como
uma continuidade de seu ouvido. Sons e ritmos ouvidos
ainda no útero materno podem conter importantes
informações para o bebê. A música gera energia
criativa e pode fazer com que a mãe passe informações
ricas em conteúdos emocionais para o filho, mantendo
aberto esse elo de comunicação entre eles.
Na linguagem sonora, existe um reencontro com
o primitivo, o antigo, o ancestral.
Recuperar os nossos sons é recuperar os nossos
corpos, é recuperar fragmentos de consciência.
Agora que já conhecemos o que é som,
Aula 3 | Música 68
voltemos à nossa pergunta inicial:
O que é música?
A música pode ser considerada um meio de
comunicação conhecido pelo menos desde a época de
Pitágoras, na Grécia Antiga. A ideia de que todos nós
participamos de uma realidade sonora menor ou maior,
seja ela individual, coletiva ou universal, nos coloca
diante de uma questão básica: a música tem por si
mesma um efeito terapêutico mediato ou imediato.
“Música é alegria” nos diz uma canção popular, mas
não somente alegria: ela nos devolve o sentido da vida,
nos remete às nossas ligações mais profundas, não só
com nossas mães, geradora individual, mas com forças
arquetípicas da Mãe-Terra e quem sabe, a “divina Mãe”
tão decantada pelos místicos. Quando pensamos no
que a música pode oferecer, podemos ver o seu teor
terapêutico: sobre os corpos, sobre a mente, sobre o
organismo como um todo.
A música é uma forma direta de comunicação:
ela fala de um coração a outro. O poder da música de
trazer à tona memórias poderá facilitar a criação de
uma história, de um clima, de um ambiente. Todos os
sons e músicas são acompanhados de uma resposta
emocional bastante complexa.
Nosso corpo é uma expressão de ritmo, melodia
e harmonia. O ritmo dos nossos pés e pernas, a
cadência do nosso andar, as batidas do coração, os
tons de voz suaves e ternos. Seria infinita a
enumeração de possibilidades musicais do nosso corpo.
E a música se escuta com todo o corpo; embora
tenhamos esse ouvido especializado para compreender
e nos sensibilizar com a complexidade da música, o
corpo todo tem receptores para senti-la.
Dica da professora
Dê uma paradinha mais tarde para ouvir uma música. O que acha? A final de contas, estamos estudando sobre ela.
Aula 3 | Música 69
Acreditamos na potência da música. Estudos
científicos sobre os sistemas nervoso, endócrino e
imunológico mostram que a música em nós faz sentido
e esta palavra já diz tudo: sentido pelo aparelho
sensorial, sentido pela emoção e sentido dado ao que
se passa internamente. A música, portanto, transcende
o mundo físico das vibrações e suas percepções, e
alcança a dimensão do eu mais profundo.
AÇÃO/ PODER/ UTILIZAÇÃO DA MÚSICA
A música enquanto linguagem não-verbal pode
motivar uma expressão gráfica, uma expressão
plástica, uma expressão escrita. Quem puder se
beneficiar com essa técnica, não terá necessidade de
aprender música; poderá apenas sentir, compreender e
criar.
A música desperta as mesmas emoções tanto
em músicos como em pessoas sem formação musical, o
que comprova que a percepção das emoções musicais é
muito estável tanto no plano individual como em
diferentes ouvintes.
Descartes dizia que era preciso excluir a emoção
para conhecer a razão: na sua época, a teoria era que a
cognição gerava processos inconscientes de alto nível,
enquanto a emoção envolvia mecanismos regidos pelo
sistema nervoso central. Hoje se sabe que ambas estão
intimamente ligadas, e que a emoção desempenha
papel determinante nos comportamentos racionais.
Essas três palavras podem resumir sua ação:
sentir, compreender, conhecer. A ordem de sucessão
desses três processos não pode ser modificada. É o
desenvolvimento normal do indivíduo e deve, portanto,
ser o da pedagogia e da terapia.
Aula 3 | Música 70
Façamos, então, uma sábia escolha – deixar-nos
«tocar» pela música e usufruir seus efeitos. Para isso,
porém, é necessário que entremos em contato com
nosso silêncio interno para poder ouvir as músicas do
nosso coração.
Quando o homem se percebe como um
instrumento, como um corpo sonoro, e
descobre que estes sons podem ser
organizados, nasce a música.
(Mário de Andrade)
As propriedades de funcionamento e a utilização
adequada da música em educação e saúde:
Estimular a atenção – a exposição ao som
desperta e estimula a atenção;
Organização temporal de atividades – a
música é um fenômeno estruturado: possui
início, duração e fim definidos. Esta estrutura
torna mais fácil organizar e lembrar
atividades ou impressões conduzidas
simultaneamente. Esse é o motivo pelo qual
apreciamos e, frequentemente, achamos mais
fácil fazer certas coisas com música –
principalmente quando ocorre movimento do
corpo (dança, por exemplo);
Lembranças (memória) e expectativas –
a repetição de uma peça musical pode trazer
tanto a lembrança quanto a antecipação de
acontecimentos relacionados a ela. Música
ainda cria a associação que nos possibilita
lembrar eventos ocorridos há muito tempo;
Manter a atenção e a organização
sequencial da experiência – quando uma
sequência de temas musicais é regularmente
repetida, ao se ouvir um determinado tema,
lembramos o tema seguinte. Numa trilha
sonora conhecida, sempre sabemos qual
música virá a seguir, antes mesmo de escutá-
Aula 3 | Música 71
la. A utilização de temas musicais,
combinados com definidas atividades
seqüenciais, facilita a ordenação e a memória.
FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Qualidades do som:
Os sons possuem quatro qualidades que os
distinguem:
Altura ou entoação: depende do número de
vibrações executadas pelo corpo sonoro –
graves ou baixos: correspondem às vibrações
mais lentas;
agudos ou altos: correspondem às vibrações
mais rápidas.
Na música, a altura do som é representada pela
notação musical (escrita musical: notas, pauta etc.).
Duração ou quantidade: é o maior ou menor
tempo produzido pelos sons e podem ser
classificados em longos e curtos.
Intensidade: é a força maior ou menor dos
sons; aumenta com a amplitude das
vibrações. Podem ser fortes ou fracos.
Timbre: é a característica própria de cada
som; pelo timbre é que distinguimos a
fonte sonora, ou seja, através dele podemos
reconhecer os sons.
Elementos formadores da música:
De que é formada a música? Os principais
elementos que a formam são:
1º) Ritmo
É o movimento dos sons, regulados pela
maior ou menor duração dos mesmos;
Aula 3 | Música 72
Atua na área física, e depois, na emocional;
provoca alterações no metabolismo,
respiração, pressão sanguínea.
É o mais importante dos três: base e
fundamento de toda expressão musical – sem
ele não existe música; é o único que pode
existir sozinho, independentemente dos
outros; diz-se mais ainda: que a música
surgiu a partir dos movimentos corporais do
ser humano;
2º) Harmonia
Refere-se à execução simultânea de vários
sons;
Segundo elemento mais importante;
responsável pelo desenvolvimento da arte
musical; a música instrumental surgiu a partir
da harmonia das vozes humanas;
Atua na área mental: organiza o raciocínio e a
aprendizagem;
3º) Melodia:
É a sucessão de sons que formam um sentido
musical; ou seja, é desenvolvida a partir da
sucessão de notas musicais que segue um
padrão rítmico e harmônico reconhecível;
Atua na área emocional; está ligada à
afetividade.
Tons maiores e menores:
Você já deve ter ouvido um cantor pedir aos
músicos que o acompanham: “por favor, um lá maior”
ou: “toca aí um ré menor”. Sabe o que significa? O
artista está pedindo que seja tocado nos instrumentos
que estão lhe acompanhando, o acorde que identifica
aquela melodia. Esse acorde (3, 4 ou 5 notas musicais
executadas simultaneamente, e que guardam entre si
Aula 3 | Música 73
uma relação pré-definida) pode ser em tom maior (do
exemplo – lá maior) ou em tom menor (ré menor, no
nosso exemplo).
E agora você deve estar se perguntando: e eu
que não estudei música, como posso reconhecer
quando é maior ou menor? E eu lhe respondo: não é
preciso conhecer, basta sentir:
No modo menor – são acordes/tons que
remetem à introspecção e podem demonstrar
tristeza, melancolia, saudade, meditação ou
mesmo relaxamento;
No modo maior – são acordes/tons que
podem provocar alegria, vigor, entusiasmo,
euforia, extroversão, sensação de liberdade e,
também, os mesmos sentimentos e
sensações gerados pelo modo menor.
Bom, agora confundiu de vez! Mas saber
discernir entre um tom e outro não é importante para
que você utilize a música e faça a escolha adequada
para o momento, seja em sua sala de aula, em seu
consultório ou em seu ateliê. Você pode perceber
algumas daquelas sensações/sentimentos em relação
àquela música e, na maioria das pessoas, ela ocorre de
maneira similar.
Outros dados para ajudar você a entender esse
assunto e a poder escolher com mais segurança a
melodia que deve usar em cada circunstância:
o medo tanto quanto a alegria provocam uma
forte reação da pele (transpiração),
excitamento fisiológico causado pelo
andamento rápido e pela dinâmica musical;
trechos musicais mais lentos e menos
dinâmicos, que exprimem tristeza e
serenidade, não acarretam reação cutânea;
Aula 3 | Música 74
harmonias agradáveis melhoram o humor.
O fato dessas reações fisiológicas serem
independentes dos julgamentos subjetivos demonstra
que a música exerce grande poder sobre o corpo
humano e que o ouvinte não está necessariamente
consciente do efeito que a música exerce sobre ele. A
razão é conhecida: a música – quando utilizada de
maneira correta – consegue ativar no cérebro os
mesmos centros de recompensa que uma comida
saborosa, drogas ou sexo. No entanto, estilos musicais
diversos afetam as pessoas de formas diferentes.
Andamento e Modo:
O estudo das emoções moduladas por
parâmetros como o andamento ou o modo indica que é
possível identificar efeitos psicológicos como raiva,
alegria, tristeza ou serenidade.
Modo – série de notas sucessivas organizadas
segundo um padrão de intervalos definidos, podendo
ser menor ou maior.
Andamento – grau de velocidade que se imprime
à execução de um trecho musical.
Você vai compreender melhor ao ler os tópicos
abaixo que mostra a combinação desses dois
parâmetros.
Foram efetuados estudos combinando-se os dois
parâmetros, um para evocar uma mesma emoção –
condição “convergente”, outro para evocar emoções
diferentes – condição “divergente”. Quando os dois
parâmetros são combinados e divergentes, os ouvintes
utilizam prioritariamente o andamento para julgar
emocionalmente as melodias: o andamento é uma
informação mais fácil de processar que o modo.
Aula 3 | Música 75
Andamento lento + modo menor = dinâmica
calmante, podendo também remeter à
tristeza, a melancolia;
Andamento rápido + modo maior = alegria,
vibração;
Andamento rápido + modo menor = emoções
diferentes, podendo provocar sentimentos de
raiva ou de medo;
Andamento lento + modo maior = dinâmica
apaziguadora.
Para que você possa entender melhor o sentido
da música dentro da arte, é importante conhecer a
origem dela. Segundo estudiosos, a música é dividida
em duas categorias:
A vocal – produzida pela voz humana, na
expressão de sentimentos e a instrumental – fenômeno
natural de soar em conjunto dois ou mais sons. E, em
ambos os casos pode ser executada por uma só
pessoa, um pequeno grupo ou um grupo grande. Esse
grupo grande – você já deve ter adivinhado qual é –
chamamos orquestra.
Vozes e instrumentos:
Origem do canto
As opiniões sobre a origem do canto são
polêmicas e muitas vezes divergentes. A palavra
cantada tinha um caráter ritual, o que a distinguia da
palavra escrita. E podia servir para exorcizar temores,
como linguagem sexual ou como parte dos atos
litúrgicos. Desde muito cedo o homem se utiliza do
canto, da expressão vocal, criando novos universos e
aumentando sua comunicação.
O canto está presente em todas as culturas, seja
Aula 3 | Música 76
na magia dos feiticeiros, nas festas ou funerais, na
expressão de sentimentos, na sonoridade dos idiomas,
na variedade de sotaques, nas rodas de amigos, nos
pregões de feira, nas casas de espetáculo, nas
arquibancadas dos estádios, nos carnavais da Grécia
antiga e nos desfiles de Escolas de samba. As canções
são antigas companheiras do ser humano. Cantamos
nas mais variadas situações.
Existe um fenômeno intrigante conhecido por
canção de Ur, nome dado a um tipo fundamental de
melodia, cantada por crianças em todo mundo,
independente da cultura a que pertencem. De 18
meses a 2 anos de idade, as crianças cantam pequenos
trechos melódicos de maneira espontânea. Até os três
anos, passam a emitir sons mais elaborados e, a partir
daí, começam a ser influenciadas pelo estilo musical
particular da própria cultura. Segundo Leonard
Bernstein, a canção de Ur seria um padrão arquetípico.
Este fenômeno é um importante elemento no
desenvolvimento psicológico da criança, demonstrando
uma possível relação entre os processos mentais e o
fluxo natural da consciência musical.
As sereias, que encantam fatalmente os
marinheiros, são entidades míticas que fazem do canto
seu maior poder. Diz a lenda que aquele que ouve seu
canto é de tal forma seduzido que pode até morrer no
mar procurando encontrá-la. O canto como sedução,
como feitiço fatal, nos fala de uma de suas facetas. Os
hindus, na Antiguidade, afirmavam que teria sido o
canto a primeira forma de arte.
A música e os instrumentos sempre estiveram
ligados ao ritual, às danças, à religião ou à magia.
Muitos são os mitos e as lendas que explicam como
surgiram os instrumentos musicais. Para os gregos, Pã,
deus dos pastores, amava uma ninfa que foi
Aula 3 | Música 77
transformada em bambu. Para poder ficar perto dela,
Pã cortou o bambu em pequenos pedaços e com eles
fez uma flauta – flauta de Pã – encontrada em diversas
partes do mundo.
Os instrumentos mais antigos conhecidos são
flautas feitas com falanges de ossos de animais e que
só produziam um único som. Muitos outros
instrumentos nasceram das atividades cotidianas, como
por exemplo, o sino que avisava um acontecimento
importante ou o tambor que marcava o andamento de
marcha na guerra. Por serem confeccionados com uma
variedade de materiais e pelas diversas formas que
possuem, os instrumentos emitem sonoridades
diferentes.
Tradicionalmente, a orquestra é composta por
três diferentes grupos de instrumentos:
De cordas;
De sopro;
De percussão.
Vamos, então, conhecer mais de perto cada
um desses grupos de instrumentos:
Instrumentos de cordas – são tocados com arco
ou com os dedos.
Com arco ou de cordas friccionadas:
Violino, viola, violoncelo e contrabaixo.
Todos eles são muito parecidos, quando você
olha pela primeira vez, pode até achar que a única
diferença é o tamanho. Mas, veja só:
O violino é o menor de todos e o que tem os
sons mais agudos;
A viola é um pouco maior e seu som é
ligeiramente mais grave;
O violoncelo é muito maior e tem um som
mais grave e aveludado;
Aula 3 | Música 78
O contrabaixo é o maior de todos e seu som
é muito grave.
De cordas dedilhadas:
Tocadas diretamente com os dedos e chama-se
harpa.
Existem outros instrumentos de cordas
dedilhadas, mas eles não são parte essencial de uma
orquestra. Como exemplo: o famoso violão.
Instrumentos de sopro – são mais numerosos e
classificados em dois grandes grupos: os de madeira e
os de metal:
Madeira:
Flauta - é um dos instrumentos mais
antigos e, também, o que possui o som mais
agudo, no grupo das madeiras, embora hoje
em dia seja feita de metal;
Oboé – já existe há muito tempo e é um
pouco parecido com a flauta;
Clarineta, corne inglês e o fagote têm
um som mais grave que a flauta e o oboé; e
também mais aveludado.
Metal:
Trompete – o de som mais agudo;
Trompa;
Trombone;
Tuba – que é o mais grave de todos.
Instrumentos de percussão - tocados
geralmente com baquetas ou varetas, acentuando o
ritmo. O mais importante deles é o tímpano, uma
espécie de tambor.
Neste grupo também encontramos o xilofone,
formado por lâminas de madeira de variados
Aula 3 | Música 79
comprimentos, o triângulo, o bombo ou bumbo e os
pratos.
Quando você tiver a oportunidade de assistir a
um concerto – no teatro, na praça, na televisão –,
observe a forma como o maestro e os músicos estão
posicionados no palco.
De repente, você pode estar se perguntando:
cadê o piano? Por que esse instrumento tão conhecido
e tão completo – ele sozinho faz a festa – não
apareceu?
É que ele é um instrumento solista, ou seja, ele
é que faz a melodia, e é acompanhado pela orquestra.
Ele faz parte do grupo dos instrumentos de cordas; só
que suas cordas são percutidas. Se você já teve
oportunidade de ver um piano por dentro, deve ter
observado que lá existem uns martelinhos que são
acionados quando os dedos do pianista tocam as teclas.
Assim o som é produzido.
Breve história da música
Toda expressão artística tem uma estreita
relação com a História. A vida cotidiana do povo, suas
alegrias, frustrações, esperanças, dores e festas, tudo
isso é transformado em canções. Também podemos
contar nossa história pessoal através dos cantos de
nossa cultura. As músicas atravessam fronteiras,
diminuem distâncias geográficas, promovendo uma
ligação maior entre os homens: a música é realmente a
linguagem universal.
A existência da música é quase tão antiga
quanto a da humanidade. Pesquisas feitas mostram que
é provável que o homem tenha cantado antes de falar.
Som e ritmo são tão velhos como o homem, por
fazerem parte do ser humano nos movimentos do
Aula 3 | Música 80
coração, no simples ato de respirar, no caminhar, nas
mãos que percutem um instrumento e na voz que
produz o som. Quando o homem se percebe como um
instrumento, como um corpo sonoro e descobre que
estes sons podem ser organizados, nasce a música.
Pré-história e Antiguidade
Os arqueólogos encontraram pedaços de ossos
com formas estranhas que poderiam ter sido os
primeiros instrumentos musicais da humanidade. Mas,
disso não podemos ter certeza. O que realmente temos
comprovado é que, no Egito, há mais de três mil anos,
já se fazia música. E como é que sabemos disso? Muito
simples: em várias pinturas egípcias aparecem pessoas
tocando flauta, harpa, tambor e outros instrumentos.
Na Grécia, também, existia música muitos
séculos antes de Cristo. E eles deixaram essas
informações registradas nos seus vasos pintados, onde
se observam pessoas tocando lira, pandeiro, flauta. Foi
com os gregos que surgiu o deus protetor da música e
dos músicos – Apolo que, além de extraordinariamente
belo, tocava maravilhosamente todos os instrumentos
musicais (também pudera, ele era um deus!!)
Ainda foram os gregos que estabeleceram as
bases para a música do Ocidente. A própria palavra
música nasceu na Grécia, onde «Mousike» significava
«a arte das deusas», abrangendo a poesia e a dança. O
ritmo era o denominador comum das três artes,
fundindo-as numa só.
No teatro grego, também, a música estava
presente: cantada e tocada. Mas o sistema de notação
musical que utilizavam era muito complicado: eles
usavam letras do seu alfabeto para representar a altura
e duração dos sons, além, é claro, das pausas na
Aula 3 | Música 81
melodia.
Durante muitos séculos, os músicos tentaram
criar um sistema mais simples e funcional, mas foi
somente no século XI que um monge italiano – Guido
d’Arezzo – organizou a escrita musical e deu nome para
os sons musicais – as notas: ut, ré, mi, fá, sol, lá, si.
Somente o “ut” passou a ser dó; as outras
permaneceram da forma como foram criadas.
Bem, voltemos lá para a época antiga e
continuemos nosso passeio pela história da música:
Roma: a cultura dos romanos era muito menor
do que o seu poder, de maneira que a conquista da
Grécia foi muito importante para eles: herdaram dos
gregos o que não possuíam em ciência, arte e
refinamento. No caso da música, em especial, Roma
quase nada acrescentou àquilo que acontecera na
Grécia.
Os hebreus utilizaram a música com fins
guerreiros e religiosos. No Antigo Testamento, é
mencionado o poder da música e seu valor terapêutico.
Podemos, como exemplo, falar das trompas que
fizeram ruir os muros de Jericó, do “Cântico dos
Cânticos”, composto pelo rei Salomão.
A cura através da música era muito respeitada nas
civilizações antigas. Esta cura era baseada na utilização
de vibrações: cantos sagrados, ritmos hipnóticos e
padrões de música eram usados para esse fim.
Pausas são figuras que indicam duração de silêncio
entre os sons; também chamadas figuras ou valores
negativos. Cada figura positiva (representação do
som) tem sua respectiva figura negativa (pausa)
que lhe corresponde ao tempo de duração. Veja no Glossário o desenho destas figuras.
Aula 3 | Música 82
IDADE MÉDIA
Neste período, a música foi utilizada
basicamente como um instrumento de fé. O
Cristianismo mostrou ao homem um mundo interior
que ele desconhecia, e essa revelação transformou a
sua visão de si mesmo, bem como a sua posição face
às coisas. Movidos por esse novo modo de ser, os
primeiros cristãos desenvolveram sua própria arte com
o objetivo de exteriorizar não somente sensações, mas
sentimentos de integração religiosa. Os grandes centros
da igreja – Bizâncio, Roma, Antioquia e Jerusalém –
eram os grandes centros da música, cada qual com sua
liturgia musical particular.
Nessa época, havia os menestréis, pessoas que
cantavam, tocavam e compunham músicas
consideradas profanas. Os menestréis eram
contratados pelos nobres. Havia, também, os
saltimbancos, verdadeiros malabaristas que eram
músicos e saíam cantando pelas ruas.
Nesta época, os assuntos musicais eram
investigados pela medicina; havia, também, o costume
de tornar-se mestre em música antes de estudar
medicina.
A RENASCENÇA
No clima da Renascença, a polifonia católica
passava das igrejas para os salões da aristocracia. Os
reformistas protestantes faziam o oposto, indo buscar
entre o povo os seus temas musicais. Enquanto isso, os
flamengos percorriam a Europa propagando o seu
estilo, que propiciou o florescimento de vários gêneros
de canção.
Foi durante o Renascimento que surgiram os
madrigais – antigas composições poéticas ou musicais
::Polifonia:
Palavra de origem grega que significa várias vozes
Aula 3 | Música 83
para vozes que celebravam a beleza das mulheres e a
vida pastoril. Acredita-se que os madrigais surgiram na
Itália, para a celebração do casamento de um membro
da família Médicis, de Florença.
A igreja católica cultivou principalmente o canto.
Em 540-604, o papa Gregório modificou a estrutura da
liturgia da igreja, criando o canto gregoriano, de
melodia simplificada e que podia ser cantado por todos
os fiéis. De forma simples, o cantochão permaneceu
durante toda a Idade Média e até hoje é utilizada pela
Igreja Católica.
Desta época temos registro de muitos médicos
que, também, eram poetas e musicistas.
SÉCULO XVII
Neste período, a ideia de existir uma relação
entre música e medicina persiste. Existia a crença de
que a música permitia que loucura e tristeza fossem
afastadas e que causava efeito de cura sobre o corpo
humano, afastando, inclusive, o próprio diabo.
Inicialmente, a música deste período buscou
centralizar numa única voz, a comunicação musical,
porém o apogeu do período Barroco – a música do
século XVII – ganhou vida nova na recuperação da
polifonia, por Georg Friedrich Haendel (1685-1759) e
Johann Sebastian Bach (1685-1750). Estes dois
“A música é a arte dos profetas; é a única arte, além
da teologia, que tem o poder de acalmar as agitações da alma e afugentar o demônio”. (Lutero)
CANTOCHÃO
A música mais antiga que conhecemos, tanto sacra
como profana, é feita de uma única melodia, sem
acompanhamento (cantochão). Eram melodias que
fluíam livremente, desenvolvidas com suavidade, em
ritmos irregulares; a linha melódica obedecia aos acentos naturais das palavras latinas.
::Canto Gregoriano:
Gênero de música vocal monofônica, não acompanhada, ou acompanhada apenas pela repetição da voz principal com o ritmo livre e não medido, utilizada pelo ritual da liturgia católica romana.
Aula 3 | Música 84
grandes compositores barrocos dominavam
magnificamente a arte da composição musical, criando
peças em quase todos os gêneros de música vocal e
instrumental. E foram eles que conduziram o estilo
barroco ao apogeu.
SÉCULO XVIII
Este período foi denominado clássico. No
decorrer do século XVIII, realizou-se plenamente aquilo
a que os últimos compositores já aspiravam: a criação
de uma arte abstrata. Os classicistas não pretendiam
que sua música fosse linguagem para cantar a religião,
o amor, o trabalho ou qualquer coisa. Buscavam dar-
lhe pureza total, a fim de que o mero ato de ouvi-la
bastasse para dar prazer. A perfeição da forma – como
também aconteceu com os pintores e escultores deste
período – era o ideal estético.
O compositor mais representativo de espírito
classicista foi Joseph Haydn (1732-1809), autor de uma
obra vastíssima, na qual as possibilidades musicais da
sinfonia foram exploradas com grande riqueza
inventiva.
Neste período, destacou-se no cenário musical a
figura de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791),
reconhecido como o grande gênio da música, o menino
prodígio. E quando se fala em período clássico, é o
primeiro a ser lembrado. Mozart valorizou a música
instrumental, principalmente a sonata, a sinfonia e o
concerto clássico, e sua música é referência no estilo
clássico.
Mas, o que significa a palavra “clássico”?
“... seu sentido, para nós, está associado a algo que
consideramos de alta classe, de primeira ordem, de
extremo valor. Assim como ‘clássicos’ da literatura,
falamos, por exemplo, das peças de Shakespeare ou dos romances de Charles Dickens; descrevemos como
Aula 3 | Música 85
Entre o fim do século XVII e o começo do XIX, o
classicismo estava em declínio e nenhum outro estilo
surgia. Mozart sugerira novas concepções, mas, como
morreu muito cedo, não chegou a enquadrá-las numa
Sinfonia é uma palavra de origem italiana e tem
conotações que vão além do seu significado mais
divulgado e conhecido, consolidado a partir do
classicismo e que se refere a uma peça para
orquestra construída na forma sonata.
Na origem do termo, sonata era uma música para
instrumentos de sopro ou para cordas. Com o
passar do tempo, sonata passou a designar uma
obra musical em vários movimentos cuja estrutura
era definida. A sonata clássica, desenvolvida por
Mozart no Classicismo, era constituída de três ou
quatro movimentos:
1. Um primeiro movimento rápido, cuja forma se
baseava na forma-sonata.
2. Um movimento lento, geralmente em forma de
variações;
3. Um movimento dançante (um minueto, por
exemplo, remanescente da suíte);
4. movimento final, de caráter enérgico e
conclusivo.
No Barroco, o termo sonata era usado para definir
qualquer gênero puramente instrumental - assim
como cantata era um gênero vocal.
Fonte:http://pt.wikipedia.org
O concerto clássico teria sua origem no concerto
solo do período barroco. Seus três movimentos
(moderadamente rápido, lento, rápido) correspondem
aos da sinfonia, mas sem o minueto.
Fonte: http://passeiweb.com
‘clássico’ o estilo arquitetônico da Grécia e Roma
antigas... As pessoas, às vezes, usam
genericamente a expressão ‘música clássica’,
considerando toda a música dividida em duas
grandes categorias: ‘clássica’ e ‘popular’. Para o
musicólogo, entretanto, ‘Clássico’ com ‘C’ maiúsculo
tem sentido muito especial e preciso. O termo
designa especificamente a música composta entre
1750 e 1810 – período bem curto, que inclui a
música de Haydn e Mozart, bem como as
composições iniciais de Beethoven.” (Bennett, 1988, p.45)
Aula 3 | Música 86
tendência definida. Uma espécie de expectativa reinava
no campo musical. Era a fase hoje chamada pré-
romântica, na qual a obra de Ludwig van Beethoven
(1770-1827) causaria um tremendo impacto, dando à
música maior energia. Beethoven considerava-se o
“Napoleão da Música”, e com razão. Indiscutivelmente,
era único. Foi o primeiro compositor a impor condições
aos editores. Compôs com liberdade, contrariando o
racionalismo do século XVIII,e deu plena vazão ao seu
temperamento impulsivo e violento, mas também
sonhador e bucólico. Em sua obra, deixou clara a
superação do refinamento do velho classicismo,
denunciando o fim da aristocracia e apontando o
romântico mundo novo que estava pela frente.
As investigações sobre os efeitos fisiológicos,
principalmente nos batimentos cardíacos, além da
influência sobre as emoções, foram-se aperfeiçoando.
SÉCULO XIX
Este período vai de 1810 a 1910. Excepcionais
compositores fazem parte desse rico período: Frédéric
Chopin (1810-49), Robert Schumann (1810-56), Franz
Liszt (1811-86), Johann Brahms (1833-97), Piótr Ilitch
Tchaikóvski (1840-93), entre outros tantos. Os
compositores passaram a colorir suas peças com
produtos da cultura popular; este período, também, se
caracterizou pelo subjetivismo dos temas musicais.
Outra característica do estilo romântico foi a
estreita ligação com a pintura e a literatura: quadros e
romances são fonte de inspiração para as composições.
Aparece, também, nesse momento, a música
programática, ou seja, música que conte uma história
ou leve o ouvinte a trabalhar com a imaginação.
No final deste século, a música europeia viu-se
em choque. Questionava-se a possibilidade de criar
Aula 3 | Música 87
algo realmente novo – idealizava-se uma música que
“exalasse cheiro”, “provocasse visões” e “sugerisse
cores”. Claude Debussy (1862-1918) resolveria o
problema com uma concepção musical nova: o
Impressionismo. Esteticamente, Debussy visava a uma
“arte de nuances, que sugerisse em vez de descrever”.
Para isso, desenvolveu a técnica de explorar o
encadeamento de acordes que sugeriam várias
tonalidades. Seu contemporâneo Maurice Ravel (1875-
1937) não foi menos extraordinário: a obra que compôs
para piano, canto e orquestra revela traços
impressionistas.
Esse século foi especialmente importante na
história da música e, também, da medicina, já que
numerosos médicos se convenciam do papel da música
na recuperação de problemas mentais e emocionais.
SÉCULO XX
As catástrofes sociais que abalaram o mundo na
primeira metade do século XX mostraram o quanto era
falso continuar fazendo música em termos do passado.
Pesquisas rítmicas, o ressurgimento de formas musicais
antigas para resultados modernos, o uso de várias
tonalidades refletem, com a força do real, a verdade de
nossa época. Grandes nomes como Ígor Stravinski
(1882-1971) na Rússia, Béla Bartók (1881-1945) na
Hungria, George Gershwin (1898-1937) nos EUA e
Heitor Villa-Lobos (1887-1959) no Brasil voltaram suas
atenções para o interior de suas respectivas pátrias,
indo em busca de fontes originais de expressão musical
de seu povo.
Surge, em meados deste século, a
musicoterapia. Nota-se, neste momento, que se
estende pelos dias atuais, que existe uma tentativa de
resgate do inter-relacionamento entre as duas artes:
medicina e música.
Aula 3 | Música 88
Música e educação
A MÚSICA E A CRIANÇA
As crianças gostam de acompanhar as músicas
com movimentos do corpo. E é a partir dessa relação
entre o gesto e o som que a criança – ouvindo,
cantando, imitando, dançando – constrói seu
conhecimento sobre música, percorrendo o mesmo
caminho do homem primitivo na exploração e na
descoberta dos sons.
Música é linguagem. Assim, devemos seguir, em
relação à música, o mesmo processo de
desenvolvimento que adotamos em relação à
linguagem falada, ou seja, devemos expor a criança à
linguagem musical e dialogar com ela sobre e por meio
da música. Como acontece com a linguagem, cada
civilização, cada grupo social, tem sua expressão
musical própria. Deve-se, antes de se transmitir nossa
própria cultura musical, pesquisar o universo musical a
que a criança pertence, e encorajar atividades
relacionadas com a descoberta e com a criação de
novas formas de expressão através da música.
Como vimos no início da nossa aula (dê uma
olhadinha), já dentro do útero, sentimos as vibrações
sonoras, demonstrando que, nesse momento, nosso
relacionamento com o mundo exterior dá-se pela nossa
audição. Logo ao nascer, seus sentidos não estão
totalmente formados, com exceção de um... (se
pensou: audição, acertou). Neste momento de sua
vida, sons suaves e ritmos tranquilos acalmam os
bebês. Por outro lado, o que se escuta é totalmente
incontrolável e todo e qualquer som, melodia ou ruído
impressionam o aparelho auditivo do ser humano. Na
verdade, aprendemos a falar porque ouvimos. Com um
ano, a criança já emite sons como forma de se
Aula 3 | Música 89
comunicar e de liberar energia. Durante todo seu
processo de crescimento e desenvolvimento, a criança
vai aperfeiçoando a forma de utilizar sons e,
gradualmente, tanto som como ritmo ganham em
complexidade, enriquecendo a troca com o mundo. A
música, portanto, é um fator preponderante na
socialização, além de favorecer a livre expressão.
Segundo o pedagogo Kodaly, o que uma criança
escuta nos seus primeiros seis anos de vida jamais
poderá ser apagado. E, segundo a teoria das
inteligências múltiplas, de Howard Gardner – uma delas
sendo a inteligência musical – o tempo ideal para se
desenvolver a habilidade para a música é entre os 3 e
10 anos de idade. Muitas pesquisas apontam para o
fato de que a estimulação bem como a formação e
informação musical promovem um aumento
significativo no rendimento escolar.
Promova junto a seus alunos ou seus pacientes
a apreciação de uma obra-prima musical: você estará
lhes proporcionando uma experiência única de contato
com a beleza e a perfeição. As atividades com música
precisam de tempo e se desenvolvem no tempo. Torne
a música parte integrante do dia a dia de seu trabalho,
reproduzindo-a em todas as oportunidades. Mas
comece por melodias mais conhecidas. Por exemplo:
músicas utilizadas em jingles comerciais e trilhas
sonoras de desenhos animados. O conhecido é sempre
mais agradável. Geralmente, quando se trabalha com
crianças, principalmente, pode-se perceber que elas
não gostam de músicas mais elaboradas quando a
ouvem pela primeira vez. Porém, a insistência em ouvir
aquilo que é novo aumenta e refina o nível crítico delas.
Podemos dizer que quanto mais ouvimos uma obra
musical, mais aprendemos a gostar dela. Nem todas as
crianças (e adultos também) são tocados pela música
da mesma maneira. O acesso a obras diversas permite
Dica da professora
Trabalhar com música é, antes de tudo, ouvir música. É fundamental que o professor, tanto quanto o terapeuta, tenha sempre à mão, músicas de compositores famosos. Posso sugerir Tcháikovski, como um dos mais apreciados.
Aula 3 | Música 90
que cada uma delas se identifique com alguma e, por
meio dela, chegue a outras.
Percebendo todo manancial que a música possui,
os Parâmetros Curriculares Nacionais estabeleceram as
normas para a sua utilização nas escolas.
1. IMPROVISAÇÃO E COMPOSIÇÃO.
Interpretações de músicas existentes
vivenciando um processo de expressão,
individual ou grupal, dentro e fora da escola;
Arranjos, improvisações e composições dos
próprios alunos baseados nos elementos da
linguagem musical, em atividades que
valorizem seus processos pessoais, conexões
com a sua própria localidade e suas
identidades culturais;
Experimentação e criação de técnicas
relativas à interpretação, à improvisação e a
composição;
Experimentação, seleção e utilização de
instrumentos, materiais sonoros,
equipamentos e tecnologias disponíveis em
arranjos, composições e improvisações;
Observação e análise das estratégias pessoais
e dos colegas em atividades de produções;
Seleção tomada de decisões, em produções
individuais e/ou grupais, com relação às
idéias musicais, letra, técnicas, sonoridades,
texturas, dinâmicas, forma,
Utilização e elaboração de notações musicais
em atividades de produção;
Percepção e identificação dos elementos da
linguagem musical em atividades de produção
explicitando-os por meio da voz, do corpo, de
materiais sonoros e de instrumentos
disponíveis;
Aula 3 | Música 91
Utilização e criação de letras de canções,
parlendas, raps como portadoras de
elementos da linguagem musical;
▪ Utilização do sistema modal/tonal na prática
do canto a uma ou mais vozes;
▪ Utilização progressiva da notação tradicional
da música relacionada à percepção da
linguagem musical;
▪ Brincadeiras, jogos, danças, atividades
diversas de movimentos e suas articulações
com os elementos da linguagem musical;
▪ Traduções simbólicas de realidades interiores
e emocionais por meio da música.
2. APRECIAÇÃO SIGNIFICATIVA EM MÚSICA:
ESCUTA, ENVOLVIMENTO E COMPREENSÃO DA
LINGUAGEM MUSICAL.
▪ Percepção e identificação dos elementos da
linguagem musical (motivos, formas, estilos,
gêneros, sonoridades, texturas) em
atividades de apreciação, explicitando-os por
meio da voz, do corpo, de materiais sonoros
disponíveis, de notações ou de
representações diversas;
▪ Identificação de instrumentos e materiais
sonoros associados a ideias musicais de
arranjos e composições;
▪ Percepção das conexões entre as notações e
a linguagem musical.
Tomando por base os PCN, podemos traçar os
alguns objetivos para o ensino da música:
Desenvolver a percepção auditiva e a
memória musical;
Alcançar desenvolvimento musical rítmico,
melódico e harmônico;
Aula 3 | Música 92
Desenvolver autoconfiança, senso estético-
crítico e concentração;
Pesquisar, explorar, compor e interpretar
sons de diversas naturezas e procedências;
Utilizar a voz como meio de expressão e
comunicação musical;
Conhecer, apreciar e adotar atitudes de
respeito diante da variedade de
manifestações musicais;
Conhecer usos e funções da música em
épocas e sociedades distintas.
REPENSANDO NOSSO DIA A DIA
Apesar de tanto ódio no planeta, já reforçamos
diariamente as ondas da compreensão, em todos os
cantos, em diferentes linguagens... resta apreendermos
esses códigos, sinais de uma revitalização que já são
sinais da tão prometida Nova Era: as vertentes
harmoniosas das artes como um emblema de equilíbrio
cósmico, uma espécie de força pacificadora das moções
violentas, dos desequilíbrios tanto coletivos como
individuais.
Como despertar o indivíduo para perceber e
refletir sobre suas emoções, evidenciadas pelo entorno
musical?
É extensa a pesquisa, no meio terapêutico,
sobre a música e seus usos no que se refere à redução
do estresse e dor, assim como sua relevância em
técnicas de relaxamento desenvolvidas para o equilíbrio
de processos fisiológicos. Esta produção aponta sobre a
importância da escolha da música, que deve ser
flexível, local, respeitando-se os aspectos culturais do
universo de cada um, a partir da primeira infância. O
ser humano tem uma qualidade inerente à sua
condição: a sua capacidade de se adaptar e improvisar
Aula 3 | Música 93
condições de adequação a momentos críticos. O
momento atual do planeta pede mais do que nunca
essa nossa resposta à necessidade de integridade local
e global, como uma obediência às leis naturais. Mais do
que nunca, as regras ecológicas, que possibilitam a
coexistência com o ambiente, devem ser revistas,
repensadas, traduzidas também através da forma
musical, lembrando que
cantar é mover um dom.
(Djavan)
Atividades musicais:
Para você entrar em contato mais direto com
a expressão musical, sugiro que, a partir de
letra de músicas (escolha, por exemplo,
canções de Tom Jobim, Chico Buarque ou
Djavan, entre outros), defina com suas
palavras o que você imagina que os
compositores quiseram expressar com os
trechos das canções escolhidas;
Outra sugestão é que ouça música, desta vez
música erudita (popularmente chamada
“música clássica”) e tente “ver” que cor cada
música sugere; pode, também, usando
música impressionista, perceber que imagem
esta música traz pra você;
Assista ao DVD “A Flauta Mágica”, de Mozart
– um filme de Ingmar Bergman: Continental
Home Vídeo, 1975 e também a “Amadeus” de
Milos Forman: Condor Vídeo, 1984, para
conhecer um pouco mais do mundo da
música.
Aula 3 | Música 94
EXERCÍCIO 1
Um menino brincando de batucar numa lata vazia está
demonstrando o seguinte elemento que compõe a
música:
( A ) O ritmo;
( B ) A melodia;
( C ) A harmonia;
( D ) O andamento.
EXERCÍCIO 2
A qualidade do som pela qual reconhecemos a fonte
sonora que produziu determinado som é:
( A ) Altura;
( B ) Intensidade;
( C ) Harmonia;
( D ) Timbre;
( E ) Duração.
EXERCÍCIO 3
“A música é tão antiga como a humanidade”. Justifique
essa afirmação, criando um pequeno texto.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 3 | Música 95
EXERCÍCIO 4
Por que se fala tanto no “poder da música”? Disserte
sobre o assunto, focando na atividade que você
desenvolve (educação/ terapia)
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
Na aula de música, algumas questões
poderão ser de grande valor na sua prática
escolar ou terapêutica. Espero que você possa
utilizar os conhecimentos e as propostas
sugeridas com bastante criatividade e
proporcionar aos seus alunos ou clientes
atividades enriquecedoras e que os auxiliem
no crescimento pessoal;
Procuramos definir Música, falando antes do
Som. Depois conversamos sobre sua ação,
seu poder e as diversas formas de utilização
da música;
Nos fundamentos teóricos, procurei colocar
algumas considerações básicas para uma
iniciação ao estudo da música e que poderão
ser úteis na escolha do seu repertório de
trabalho. Esses conceitos são:
Aula 3 | Música 96
Qualidades do som;
Elementos formadores;
Tonalidades (tom maior e tom menor);
Andamento e modo;
Vozes e instrumentos.
Em seguida, contei um pouco da história da
música e espero que você se interesse em
aprofundar seus conhecimentos, pois é um
estudo fascinante. Quando for pesquisar
alguma coisa nesse sentido, procure sempre
aliar o texto sobre o compositor à audição de
suas obras;
Finalizando, conversamos um pouco,
também, sobre a utilização da música com
crianças, pois acredito que, se lhes for dada a
oportunidade de começar cedo a aprender a
escutar e a gostar de música, com certeza
veremos crescer adultos mais sensíveis, mais
atentos e mais felizes.
Dança
Virgina Maria Castilho Ribeiro de Souza
Ivan Coromandel
Eveline Carrano
Renata Cury (revisora)
AU
LA
4
Ap
res
en
taç
ão
Esta aula tem por finalidade trazer a dança como linguagem
expressiva. O movimento, a dança, traz em si a possibilidade de
sair da postura rígida para uma postura mais flexível, onde a
energia tencionada pode ser liberada e tornar-se fluida.
Quando crianças, temos a necessidade de nos movimentar, pois
assim expressamos a nossa vontade de rir, chorar ou brincar.
Enquanto crescemos, o nosso corpo sofre as consequências dos
tabus da civilização que corrompe nossa necessidade de
expressão, perdendo, cada vez mais, o desejo de mobilidade.
Como consequência, devemos recorrer a experiências para
melhorar o físico em academias, onde sem nem pensar, mais do
que melhorar nosso aspecto, descarregamos a energia acumulada
em tantas “negativas” impostas. Mas como seria bom se
soubéssemos nos comunicar com o corpo, estimulados pelo desejo
de expressar-nos.
São muitas as técnicas de movimento, pois o movimento é vida e
esta se expressa de muitas formas. Aqui a dança será abordada
como possibilidade de entrar em contato consigo mesmo,
colocando em fluxo não apenas as ideias e emoções, mas também
junto com elas o corpo.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Desenvolver fluidez e expressividade corporal e psíquica. A
dança como movimento tem como finalidade a tradução mais
profunda dos significados que a vida imprime em nós e nos faz
devolver em forma de expressão. Um olhar, um gesto, um
andar, uma atitude corporal pode traduzir milhares de
informações. Na dança, o corpo se libera das amarras do dia a
dia, cria movimentos, ganha espaço tanto no físico quanto no
emocional, assumindo a autoria de sua expressão;
Conhecer um breve histórico da dança;
Entender a importância da dança no desenvolvimento humano;
Ver os PCNs relativos à dança;
Relacionar a dança com a inclusão e a integração, a partir de
grupos;
Conhecer a dança como facilitadora no processo terapêutico;
Praticar com algumas sugestões de exercícios.
Aula 4 | Dança 98
História da dança
Como as artes visuais, a dança faz parte da
história do homem. Estudos mostram que a dança
começou a configurar-se em torno dos sons dos pés
que dançavam e a partir daí passou-se a prestar
atenção ao ritmo, essência da dança.
Os movimentos rítmicos constituem uma
linguagem que vem do inconsciente e antecede a
palavra como meio de comunicação. Acredita-se que,
desde tempos primordiais, o homem usava a dança
para realizar rituais e para comemorações. Na dança
primitiva, o homem imitava os fenômenos da natureza
e os animais que o rodeavam como uma forma de
entender o mundo. Com o tempo, o homem primitivo
começa a realizar práticas que considerava mágicas
com o intuito de controlar a natureza e fazer com que
ela atuasse a seu favor.
Antes de exprimir em imagens sua
experiência de vida, o homem a
traduzia por meio de seu corpo.
Alegria, tristeza, amor, terror,
nascimento, morte, tudo para o
homem primitivo era oportunidade
para dançar. Instintivamente, ele
tentava ordenar seus violentos
tumultos emocionais por meio de
movimentos rítmicos, isto é, a dança.
(Nise da Silveira, O Mundo das
Imagens, Ed Ática, 2006)
De acordo com algumas pesquisas feitas nessa
área, as primeiras manifestações de dança eram
relacionadas com as conquistas amorosas, e depois
Para você entender a importância da dança, é
preciso conhecer um pouco sobre a sua história.
Sendo considerada como uma manifestação
instintiva do ser humano, a dança não necessita de
nenhum instrumento para se manifestar, somente o
corpo, o ritmo e a vitalidade de quem a executa,
sendo usada como forma de comunicação antes do
aparecimento de qualquer outra atividade.
História da dança 98 Dança e desenvolvimento 100 Dança e integração 105 Dança e inclusão 109 A dança como facilitadora no processo terapêutico 110 Caso de autismo 116 As mãos 118
A DANÇA, HENRY MATISSE, 1910
Quer saber mais?
“O “primitivo”, ao dançar, divertia-se, trabalhava, comunicava-se e rezava, isto é, a sua manifestação era integrada e articulava, dentro de si mesma, os diversos níveis de estar frente à vida ativamente, de forma individual e social. O nível físico, o psicológico e o
espiritual eram dados conjuntamente.” (Liomar Andrade em TERAPIAS EXPRESSIVAS). Reflita como isto hoje está desmembrado!
PRIMITIVO
Aula 4 | Dança 99
eram executadas como manifestações coletivas
associadas à espiritualidade como forma de
conseguirem êxito em guerras, proteção ou mesmo
como louvor ou agradecimento, dançavam para se
exprimir, para comemorar ou como ritual,
apresentando os mesmos movimentos que vemos hoje,
isso é o que nos mostram as pinturas encontradas em
cavernas pré-históricas. Era uma atividade em que
todos participavam, eram ritmos puros e simples assim
como as emoções que eles exprimiam.
Essa forma de expressão não se perdeu com o
passar do tempo, no Egito Antigo, muitos séculos antes
da era cristã, encontramos a dança nos rituais ao deus
Osíris, o que era comum aos rituais religiosos dos
povos asiáticos.
Na Europa, ou melhor, na Grécia Clássica, a
dança fazia parte dos jogos olímpicos, onde se
evidenciavam o perfeito e sábio equilíbrio dos músculos
e articulações, a respiração e a circulação, conjugando
dança e fogo.
No Renascimento, após um período de extinção,
a dança teatral reaparece com grande força, passando
a fazer parte das sessões palacianas, permanecendo
como uma manifestação autêntica das emoções e
sentimentos do homem, através dos tempos.
Desta forma podemos acompanhar a dança
desde os rituais dos povos mais primitivos, passando
por comemorações festivas, religiosas e míticas, até os
dias atuais no carnaval. Percebemos que, cada vez
mais se toma consciência da importância da dança
como forma de expressão do ser humano. A dança hoje
é percebida pelo valor em si. Muito mais do que um
passatempo, um divertimento ou mesmo um
ornamento.
Quer saber mais?
Osíris, deus do Antigo Egito Osíris era um deus
da mitologia, associado à vegetação e à vida no Além. Era ele quem julgava os mortos.
OSÍRIS
Aula 4 | Dança 100
Dança e Desenvolvimento
Uma criança que na pré-escola teve a
oportunidade de participar de aulas de dança,
certamente, terá mais facilidade para ser alfabetizada,
uma vez que toda ação humana envolve a atividade
corporal, e a criança utiliza-se dela para conhecer o
mundo que a cerca, e a si mesma.
O movimento físico é necessário para que a
criança se harmonize de forma integrada,
desenvolvendo suas potencialidades físicas e psíquicas,
ou seja, suas potencialidades motoras, afetivas e
cognitivas.
A linguagem corporal é a primeira forma de
aprendizagem da criança, estando ligada a sua
capacidade mental. Ela se movimenta pelo prazer do
exercício, pelo interesse de exploração do ambiente em
que vive e pelo prazer de obter respostas, conquistando
alguns comportamentos que lhe permitam dar uma
organização à realidade.
É essa característica própria da criança, que está
sendo aproveitada muito sabiamente na educação, que
se utiliza da dança como uma linguagem, dando à
criança a oportunidade de se conscientizar do corpo, do
gesto e do movimento como um meio de
conhecimento.
À medida que vai se expandindo o movimento, a
dança se torna mais ampla, trazendo a percepção de si
e do espaço e sua relação com ele.
Judith Kestenberg, psicanalista infantil
americana, em sua teoria sobre movimento, afirma que
há sequências previsíveis de desenvolvimento do
movimento e que podem ser observadas paralelamente
Importante
A dança educativa revela a alegria de se descobrir através da exploração do próprio corpo e da importância do controle do movimento.
Aula 4 | Dança 101
com o desenvolvimento emocional. A partir de modelos
rítmicos pode-se traçar um percurso evolutivo, que
caracteriza a criança no seu desenvolvimento normal,
mas que pode ser interrompido por uma situação
traumática ou interação inadequada com o ambiente.
Assim, observando o movimento corporal, é possível
evidenciar qual andamento seguiram os ritmos e os
esquemas de movimento e intervir para restabelecer a
sua evolução onde foi interrompida.
As necessidades de sugar, defecar, urinar são
satisfeitas pelos ritmos do fluxo. Ou seja, com o início
do funcionamento psíquico, o aparelho do fluxo de
tensão é usado para descarregar impulsos de tal forma
que os impulsos orais, anais, uretrais e genitais
encontrem a própria expressão em ritmos motores
apropriados.
Em cada fase evolutiva, o ambiente pode ter um
efeito positivo ou negativo, contrapondo-se ao
aprendizado e à integração: a energia de movimento
tem uma função, portanto, adaptativa e é usada para
cooperar com o mundo externo.
O fluxo de forma descreve as mudanças da
forma corporal em resposta a estímulos agradáveis ou
desagradáveis (alongar, retrair, expandir); observando
estes ritmos, é possível compreender a forma com a
qual um indivíduo coloca-se em relação ao ambiente.
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs):
Então, é importante que você esteja atento aos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Os PCNs
quando colocaram a dança na proposta educacional
tinham o objetivo de atingir o desenvolvimento
integrado do aluno, através da experiência motora,
uma vez que esta permite observar e analisar as ações
Aula 4 | Dança 102
humanas. Isso vai propiciar o desenvolvimento
expressivo que é o fundamento da criação estética.
Os objetivos propostos foram estabelecidos de
acordo com os seguintes critérios:
1. A DANÇA NA EXPRESSÃO E NA
COMUNICAÇÃO HUMANA
Reconhecimento dos diferentes tecidos que
constituem o corpo (pele, músculos e ossos)
e suas funções (proteção, movimento e
estrutura);
Observação e análise das características
corporais individuais: a forma, o volume e o
peso;
Experimentação e pesquisa das diversas
formas de locomoção, deslocamento e
orientação no espaço (caminhos, direções e
planos);
Experimentação na movimentação
considerando as mudanças de velocidade, de
tempo, de ritmo e o desenho do corpo no
espaço;
Observação e experimentação das relações
entre o peso corporal e o equilíbrio;
Reconhecimento dos apoios do corpo
explorando-os nos planos (no próximo ao piso
até a posição de pé);
Improvisação na dança, inventando,
registrando e repetindo sequências de
movimentos criados;
Dica da professora
Dê uma paradinha e vá correndo conferir as informações dos PCNs de Arte.
Aula 4 | Dança 103
Seleção de gestos e movimentos observados
em dança, imitando, recriando, mantendo as
suas características individuais;
Seleção e organização de movimentos para a
criação de pequenas coreografias;
Reconhecimento e desenvolvimento da
expressão em dança.
2. A DANÇA COMO MANIFESTAÇÃO
COLETIVA
Reconhecimento e identificação das
qualidades individuais de movimento,
observando os outros alunos, aceitando a
natureza e o desempenho motriz de cada um;
Improvisação e criação de sequência de
movimento com os outros alunos;
Reconhecimento e exploração de espaço em
duplas ou outros tipos de formação em
grupos;
Integração e comunicação com os outros por
meio de gestos e dos movimentos;
Criação de movimento em duplas ou grupos
opondo qualidades de movimentos (leve e
pesado, rápido e lento, direto e sinuoso, alto
e baixo);
Observação e reconhecimento de movimentos
dos corpos presentes no meio circundante,
distinguindo as qualidades de movimento e as
combinações das características individuais.
Aula 4 | Dança 104
3. A DANÇA COMO PRODUTO CULTURAL E
APRECIAÇÃO ESTÉTICA
Reconhecimento e distinção das diversas
modalidades de movimento e suas
combinações como são apresentadas nos
vários estilos de dança;
Identificação e reconhecimento da dança e
suas concepções estéticas nas diversas
culturas considerando as criações regionais,
nacionais e internacionais;
Contextualização da produção em dança e
compreensão desta manifestação autêntica,
sintetizadora e representante de determinada
cultura;
Identificação dos produtores em dança com
agentes sociais em diferentes épocas e
culturas;
Pesquisa e frequência às fontes de informação
e comunicação presentes em sua localidade
(livros, revistas, vídeos, filmes etc);
Pesquisa e frequência junto a grupos de
dança, manifestações culturais e espetáculos
em geral;
Elaboração de registros pessoais para a
sistematização das experiências observadas e
documentação consultada.
Então, aqui vai um convite!!!
Quando movemos o corpo físico, ativamos a
energia vital que alimenta o movimento, e este
movimento energético se expandirá, também, para o
Para pensar
E você caro aluno, o que pensa sobre essas normas? São suficientes?
Aula 4 | Dança 105
corpo emotivo, que fará aflorar sensações e emoções.
O corpo em movimento já traz em si a idéia de uma
dança. Você, agora, vai entrar em contato com o
movimento do seu corpo. Coloque uma música que
você goste. E um ambiente agradável para você.
Será muito interessante se você puder
experimentar, descobrir as articulações na busca da
flexibilidade das partes móveis do seu corpo: cotovelos,
ombros, pulsos, joelhos, tornozelos. Comece a
movimentar todo o seu corpo. Procure ir relaxando,
inspirando pelo nariz e soltando o ar pela boca. Comece
movimentando cada parte para depois mover o todo.
Deixe o seu corpo dançar. Ao dançar, procure perceber
qual o pensamento, o sentimento e a sensação que te
acompanham nesse momento.
Pensamento: Pode ser uma frase
Sentimento: Alegria, tristeza, medo, raiva...
Sensação: Corporal
Anote! É importante você vivenciar e, a partir da
experiência, ir conhecendo e percebendo como funciona
o seu corpo. Aqui não falo somente do corpo físico, mas
também do corpo emocional, por isso é importante
responder aos três itens propostos acima: pensamento,
sentimento e sensação.
Dança e integração
No grupo, a possibilidade de troca é muito
grande. As relações podem ser vividas de maneira mais
direta. Um grupo não é uma realidade estática. É um
processo em desenvolvimento. Através da arte e do
corpo e pelo envolvimento do trabalho de grupo, buscar
o autoconhecimento e soluções criativas para o
momento presente e conflitos.
Aula 4 | Dança 106
O movimento de restauração psíquica e física da
dança pode acontecer em qualquer fase de nossas
vidas, em qualquer segmento. O objetivo geral,
também, vai ser resgatar a boa convivência, a partir de
si próprio e com o grupo, bem como a autoestima
(admiração, respeito e confiança).
Durante a sessão, a escolha das músicas deve
estar em harmonia com o tom emotivo predominante
no grupo. Um grupo em que domina a depressão
iniciará com valsas lentas, para passar a valsas mais
alegres... com um grupo de pacientes excitados, a
sessão poderá iniciar com o movimento sobre uma
música forte, vivaz, e terminará com a audição de uma
música contemplativa.
É muito importante trazer a harmonia e o
acolhimento para o grupo. À medida que as pessoas
começam a relaxar e acompanhar a música, a
expressão contraída da musculatura do rosto e do
corpo como um todo relaxa gradualmente. As linhas
duras perdem a sua definição e os olhos têm uma
qualidade mais suave e expressiva. É curioso descobrir
como as mãos, a cabeça, o corpo se movem por
estímulos sonoros musicais, cuja expressão representa
maravilhosos movimentos próprios, espontâneos,
originais, ricos, multiplicadores de ações diversas que
interagem numa fala poética. Nesse aspecto, podemos
observar como o fator criatividade, através da
espontaneidade, trabalhada em forma sistemática,
pode surgir na dança, na medida em que os
movimentos aparecem, pessoais e, ao mesmo tempo,
sincronizados no grupo, singulares, promovendo no
ser-do-corpo, uma revolução que vai do estático para o
dinâmico.
É interessante reparar nas relações que se criam
nos grupos mediante o movimento que encoraja os
Dica da professora
Parabéns! Seja bem- vindo ao mundo da dança e da terapia do movimento corporal. Esperamos que esta aula lhe seja de grande valia pessoal e profissional. Bom estudo.
Para refletir
“Através do movimento no contexto do tempo e do espaço, a pessoa pode adquirir
consciência do que acontece com seu próprio corpo.” (Lola Brikman in “Linguagem do movimento corporal”). Já pensou nisto?....
Aula 4 | Dança 107
participantes a guiar, um por vez, o grupo. A liderança
do grupo se alterna. Assim, o comportamento do outro
que antes era bizarro, torna-se compreensível e
aceitável para os outros, na medida em que as pessoas
entram em relação com ele com base nas emoções
expressas através da dança.
A atividade rítmica compartilhada em grupo é
um local de estruturação do comportamento de cada
indivíduo que permite, ainda, compartilhar um
sentimento de profunda solidariedade e participação.
O brasileiro é um dançarino por excelência!
Segundo pesquisas, nós, povo brasileiro, temos um
legado de saúde a transmitir ao mundo: o saber
desejar... dançar. Nosso folclore é riquíssimo, pela
bênção de um grande caldeirão cultural, onde vários
grupos étnicos se combinam e produzem vertentes tão
variadas. Nosso anseio maior de “ordem (como
manifestação do coração) e progresso” indica o nosso
país como uma das civilizações solares... Com a
vontade de facilitar ações movidas pela evolução dos
sentimentos.
Brasil, China, Índia, Japão, Peru, Espanha, entre
outros, são os chamados países do sol. Refletindo sobre
isso, revendo algumas de nossas origens indígenas,
poderíamos dizer que o sol, centro do universo,
representaria o próprio Deus... o Deus em movimento.
O sol no seu trajeto circular, de constante
deslocamento... favorecendo o trabalho conjunto.
A dança resgata momentos de amorosidade,
afetividade, facilitando o desbloqueio de centros vitais
de nossos corpos. Em determinados momentos e com
elementos a serem bem observados, pode-se perceber
certa liberação no toque do corpo, (mantendo-se o
cuidado de não invadir nem ser invadido).
Aula 4 | Dança 108
O carnaval carioca, numa troca de afetividade,
através da dança popular, é inaugurado por um de seus
desfiles mais tradicionais, o Cordão do Bola Preta,
abrindo, então, o grande cenário do samba, por ruas do
centro do Rio de Janeiro, percorrendo pontos históricos,
onde a cantora Chiquinha Gonzaga, grande estrela da
primeira metade do século passado, fazia suas
aparições nesta festa de fevereiro / março.
Ali, numa manifestação colorida pela alegria,
pessoas de todas as idades, desde crianças pequenas
até adultos numa idade maior (em torno de setenta,
oitenta anos), dançam, pulam, sambam, num exercício
de memória. É, ainda, o carnaval de antigamente, onde
prevalece o espírito maior de descontração, onde se
facilita a comunicação de todos pelo simples prazer de
dançar.
Apenas dançar. Ao mesmo tempo, todo o grupo
participava e essa participação global, na qual as
“diferenças” não se notam nem são apontadas, faz
prevalecer a crença de que “sua simplicidade pode
conduzi-los ao amor”. É a indústria de uma dança
maior que envolve pessoas da chamada “periferia”,
estimuladas a trabalhar o ano inteiro, dedicando-se à
verdade de que mais do que nunca é preciso “cantar,
cantar e cantar”, como já diz o compositor
Gonzaguinha na música “O que é o que é?”.
Durante o último carnaval, na Av. Rio Branco e
nos Arcos da Lapa, ainda na cidade do Rio de Janeiro,
apresentaram-se blocos de espetáculo afro, como re-
vivificação de nossas origens, aberto ao público. Uma
oportunidade imperdível para, também, se celebrar
nossa identidade cultural, pela qual podemos nos
reconhecer como seres autônomos, producentes; pela
dança, que libera nosso potencial criador, com
expressões próprias, permitindo a cada um que
Quer saber mais?
Em 1940, Walt Disney apresentou ao mundo um desenho em longa
metragem chamado “Fantasia”. Naquele momento, partituras musicais clássicas eram apresentadas às crianças e adultos tendo como “atores” personagens do mundo animal e vegetal. Como representavam?... Através de danças e expressão corporal!!! Vá a uma locadora e assista hoje mesmo.
Aula 4 | Dança 109
introduza o próprio ritmo, em meio a um ritmo maior. A
autonomia é um dos maiores predicados humanos,
preceito básico em todas as correntes
psicoterapêuticas, desde os humanistas existenciais
como Carl Rogers, Rollomay, Maslow, passando por
Carl G. Jung, Sigmund Freud.
Dança e inclusão
Dada a importância deste tema, na atualidade,
algumas instituições educacionais têm desenvolvido
atividades como debates que abordam temas como as
possibilidades do ensino da dança como veículo de
inclusão para segmentos sociais historicamente
excluídos da vivência dessa prática. A ideia é de
combinar ações básicas de cidadania, numa revisão
constante, facilitando ao indivíduo, enquanto ser social,
produtivo, construtivo e criativo, envolvendo-o no aqui
e agora, usando materiais prazerosos – o próprio corpo
na poesia do movimento – com a complexidade
operacional de cada ato adequado a cada um.
Foi feita uma mostra de dança com bailarinos
profissionais e amadores, complementada por debates
acadêmicos, num encontro entre deficientes físicos e
portadores da síndrome de Down. Outro foi a
apresentação de pessoas atuantes em movimentos de
inclusão com crianças e adolescentes moradores de
favelas como a do Pavãozinho, complexo da zona sul do
Rio de Janeiro.
Ficaram demonstrados caminhos para a
educação e a cidadania pela prática da dança e a
ludicidade inerente.
O maior pecado para com o próximo
não é odiá-lo, é ser-lhe indiferente. É a
essência da desumanidade.
(Bernard Shaw)
Para refletir
“Um dos objetivos educacionais da dança é a compreensão da estrutura e do funcionamento corporal e a investigação do movimento humano.” (PCN, vol 6, ARTE) Como estão procedendo as escolas da sua comunidade? Estão dando importância às atividades ligadas à dança?
Aula 4 | Dança 110
Tanto em terapia como em sala de aula, não é
necessário que sejam feitos exercícios complexos e com
coreografias planejadas, pois o que interessa não é a
dança em si, mas a descontração que os movimentos
corporais provocam. Sendo assim, é possível fazer uma
aula pedindo para que as pessoas se espreguicem
apenas. É interessante que depois toquem seu próprio
corpo, sentindo os cabelos, mãos, rosto. Havendo
espaço físico, pode-se pedir que os participantes
caminhem pelo local e toquem os objetos a sua volta,
sentindo-os em formato, textura. Pronto, só com isso já
acontecerá uma aula de expressão corporal ou dança
com um sentido mais terapêutico, sem precisar que os
participantes utilizem recursos especiais, nem de
“retorcer” em exercícios ineficazes.
Ou seja, é preciso muito pouco para que pessoas
de qualquer classe social ou com alguma resistência
físico-emocional à dança possam participar de uma
aula.
A dança como facilitadora no processo
terapêutico
A dança moderna realiza diversas conquistas
para o nascimento da dançaterapia como, por exemplo,
como é usado, simbolicamente, o espaço, o uso do
corpo e do movimento com finalidades expressivas, a
relação com o solo, a respiração como estímulo rítmico
primário.
A dança tem o poder de levar o homem além
dos limites impostos pela sua consciência e pela sua
realidade de vida.
Antes de falarmos de Maria Fux, a maior
personalidade da dançaterapia, serão apresentadas
duas importantes pessoas que fizeram parte dos
Aula 4 | Dança 111
primórdios da dança como terapia: Marian Chace e
Trudy Schoop. Passaremos pelas suas principais ideias
brevemente.
A atenção para o corpo das suas possibilidades,
distorções, contrações e impedimentos e a relação
existente entre essas tensões e o sofrimento psíquico
são a base das primeiras tentativas de fazer da dança
uma arte além de estética, também, terapêutica.
Marian Chace baseia-se na improvisação criativa
para ensinar um estilo de dança com potencial
terapêutico. Seu enfoque é a comunicação, ou seja, a
possibilidade implícita na linguagem do corpo de
expressar os próprios sentimentos e as próprias
emoções através do movimento.
Contando uma história de VIDA para você:
Angel Vianna é uma das maiores coreógrafas
contemporâneas do Brasil. Ela e seu falecido marido,
o grande bailarino Klauss Vianna, já muito jovens
em Belo Horizonte, MG, tinham sua escola de dança,
que fazia muito mais do que ensinar os primeiros
passos de ballet. Klauss foi o pioneiro da expressão
corporal em nosso país.
Vieram para o Rio de Janeiro, já com um filhinho,
aqui continuaram seu trabalho, cada vez mais
reconhecido por todos os que se dedicavam ao
trabalho de corpo, à dança, à psicomotricidade, à
dança como terapia. Klauss já não está entre nós.
A extraordinária Angel, internacionalmente
conhecida, dirige a única Escola Superior de Dança
do Rio de Janeiro e tem cursos voltados ao trabalho
para pessoas portadoras de necessidades especiais.
Coreografou seu próprio renascer quando, após
praticamente desenganada de andar novamente
(um terrível acidente deixou-a cheia de parafusos
pelo corpo), através da coragem, força de vontade e
da dança, apresentou-se num palco.
Uma grande profissional.
Uma mulher de coragem. Uma mulher que vive para
que conheçamos a dança!
(Meu nome é prof.ª Mary Sue e tive a honra de ser
aluna de Angel Vianna).
ANGEL VIANNA
Aula 4 | Dança 112
Para Chace, as tensões e as distorções do corpo
são a resposta de adaptação ao conflito e à dor. As
lembranças e vivências reprimidas tomam forma,
simbolicamente, no movimento. Assim, a dança pode
ajudar a pessoa a relaxar e ao mesmo tempo a retomar
um contato profundo com o corpo, aprendendo a sentir
e expressar emoções, a experimentá-las através da
ação.
O ensino da dançaterapia de Trudy Schoop é
diretamente ligado à sua experiência pessoal da
eficácia terapêutica do movimento. Diz: “Sei que, no
que me diz respeito, eu me curei graças à dança,
quando tentei dar corpo aos meus sentimentos e
mostrar como eu era, com toda a crueldade e horror
que estavam em mim. Expressando todos esses
aspectos por meio da dança, aprendi a aceitá-los, vivi o
mal e o obscuro em mim como parte viva de mim
mesma. Gostaria que meus pacientes conseguissem
fazer o mesmo”.
A principal finalidade do trabalho é que as
pessoas tornem-se conscientes do próprio corpo,
sentindo-o no movimento e fazendo experiências com
ele, ampliando a gama das próprias possibilidades
motoras.
Para Schoop, a dança permite que o paciente se
sinta vivo e perceba quem ele é, através da tomada de
consciência entre a intenção e a ação.
Tanto para Chace como para Schoop, o valor
terapêutico da dança está na função catártica,
liberatória do movimento, que dá voz às próprias
emoções.
A dançaterapia, desde seu surgimento, está
ligada a uma concepção do homem como totalidade
Aula 4 | Dança 113
mente-corpo e que no Ocidente foi perdida pela
imposição de paradigmas culturais.
Maria Fux, em seu livro Formação em
Dançaterapia, nos fala de sua própria experiência de
vida, enquanto releitura de sua linguagem corporal,
quando, depois dos sessenta anos, passou por uma
crise, sofrendo de depressão durante um ano.
Menciona que, com a ajuda de sua psicóloga Léa
Teitelman, conseguiu recuperar-se através da magia da
dança, encontrando “aberturas para sair unida ao
movimento1.”
A autora, profissional da dança, natural da
Argentina, teve uma infância tida como socialmente
pobre com poucos recursos materiais. Esta situação, na
realidade, lhe abriu portas e janelas para a visualização
de um mundo conhecido por poucos: em cada instante
de um aparentemente fechado “não”, descobriu muitos
“sins!”. Isso lhe valeu ter absorvido, bem cedo, essa
lição de vida de que nem tudo é só “sim”, nem tudo é
só “não”. Como tinha poucas roupas, costumava tingi-
las e virá-las de trás para frente. E ao longo de sua
vida, foi aprendendo a perceber a sua própria essência,
a partir do “nada”, da contemplação do que poderia ser
apenas um ponto negro e a transformá-lo em um
grande círculo, abrangendo vários significados.
Apreendeu a essência dos elementos: terra – água –
fogo – ar, traduzindo-os em componentes da dança.
MARIA FERNANDA, UMA ALUNA COM
DEFICIÊNCIA AUDITIVA
Segue o relato de uma experiência feita por
Maria Fux2, com Maria Fernanda, uma aluna com
deficiência auditiva, de dezoito anos, por cinco anos,
1 Apud Maria Fux. Formação em Arteterapia. São Paulo: Summus editorial, 1996, p. 9.
2 Apud Maria Fux. Formação em Arteterapia. São Paulo: Summus editorial, 1996, pp. 15 –17.
Dica da professora
Faça um resumo de suas impressões sobre o relato.
Aula 4 | Dança 114
formando-a em dança, com um trabalho coletivo, na
integração em um grupo com audição normal desde
adolescente. Nunca lhe deu aulas particulares.
M. Fux idealizou um espetáculo, que estreou em 87,
intitulado “Diálogo com o Silêncio”. É o encontro de
dois mundos que se interrogam dançando; inúmeras
perguntas, algumas das quais têm mil respostas.
Segue-se o que foi falado e dançado:
M. Fernanda: Por que você dança?
M. Fux: Danço porque estou viva (continuo dançando
no silêncio, movendo-me).
M. Fernanda: Você dança porque escuta?
M. Fux: Não, danço porque sinto.
M. Fernanda: Sente o quê?
M. Fux: Coisas que estão dentro e fora de mim.
M. Fernanda: O movimento tem som?
M. Fux: O movimento tem vida.
M. Fernanda: O que é o som?
M. Fux: O som está dentro e fora do corpo (fez sons
com a boca e o movimento dava ideia daquilo que a
palavra som pode significar para uma pessoa surda).
M. Fernanda: O que é ritmo?
Como ela não escuta, M. Fux procurou, em fotos,
imagens que representassem ritmos diferentes, com os
quais ela pudesse, por meio do movimento, explicar-
lhe, e para que ela pudesse realizá-los como nós, que
escutamos e podemos fazê-lo com a música.
M. Fux: Como são os seus medos?
M. Fernanda: (mostra-os para Fux aterrorizada,
movendo-se pelo espaço assustada).
M. Fux: (acaricio-a).
M. Fernanda: Como são os seus?
M. Fux: (movo-me em círculo dentro de meu corpo,
onde posso esconder-me através de meus medos).
M. Fernanda: O que são ruídos?
Aula 4 | Dança 115
Como contar-lhe, dançando, o espanto dos ruídos que
povoam nossa vida urbana, onde ficamos loucos,
suportando-os e buscando-os, e buscando um lugar
que nos isole?
M. Fernanda: Como é a voz?
A voz, como é a voz? Sai do corpo, tem força, tem
volume, tem ódio.
M. Fux: (grita) Maria Fernanda (por todo o espaço).
M. Fernanda (grita) Maria, Maria.
As duas se unem e extraem sons do corpo, que se
convertem em voz. M. Fux a ouve e M. Fernanda o
sente.
M. Fernanda: Como é a alegria?
M. Fux: A alegria é dançar com você, Maria Fernanda.
Saber que com minha vida posso dar-lhe essa
linguagem que amamos, a dança. Isso é alegria. Eu
quero saber como é o seu silêncio, Maria Fernanda.
E M. Fux se deparou com algo que a arrepiou. O ódio, a
impotência, o desespero e a enorme solidão de M.
Fernanda. Tudo isso dançando.
M. Fernanda: Como é o silêncio?
M. Fux: Eu amo o meu silêncio. É como uma porta que
posso abrir e fechar quando sinto que é necessário.
Quando estou em silêncio, descubro a cada dia quem
sou e o que fiz comigo. É um lindo “poder estar”.
Escuta-se uma música que ela não sabe que existe. M.
Fux a dança.
M. Fernanda: Como é a música?
M. Fux: A música vem de fora. É como um fio que, no
espaço, se faz forma, que também é como nossa vida.
Tem doçura, ódio, medo. Tire fios do meu corpo.
M. Fux está de pé, diante dela; M. Fernanda vai tirando
fios imaginários de seu corpo e dança com eles.
Dica da professora
E você o que pensa dessa definição do que seja música? Registre suas opiniões, pois elas poderão ser úteis para a elaboração de sua monografia.
Aula 4 | Dança 116
A música e os sons foram compostos
especialmente por Sérgio Aschero, filho de Maria Fux,
que compreendeu bem a mensagem.
Caso de autismo
O bambu, uma proposta de exercício de Maria
Fux 3
Maria nos relata, em seu livro Formação em
Dançaterapia, um caso de autismo muito especial,
referente a uma menina de doze anos, com uma figura
muito bonita.
Foi trazida pelo pai e, apesar de andar, não
movimentava o corpo. Foram meses de trabalho em
grupo, semanal. Lentamente, seus braços e mãos se
tornaram mais leves, mas não fazia nenhum
movimento por si mesma. O estado de rigidez ainda era
constante. Maria Fux, finalmente, elaborou uma forma
de facilitar a saída deste estado, através de um
elemento externo: o bambu.
Um dia, antes que o grupo chegasse, colocou trinta
pedaços de canas de bambu, de 1,30m de
comprimento, muito leves e rígidas, no chão. Depois
que todos entraram, o grupo e Maria Fux se
aproximaram, sentando-se uns próximos dos outros.
Maria começou uma história. A menina fazia parte do
grupo, em que há crianças surdas, com problemas
psíquicos e algumas com síndrome de Down.
- Quem é você?
- Me chamam de Cana. Bambu é meu sobrenome. Não
posso me mover, sou tão dura! Preciso de ajuda.
Mostre-me como é seu corpo.
Movendo-se em torno dela, começaram a dançar com o
3 Apud Maria Fux. Formação em Arteterapia. São Paulo: Summus editorial, 1996, pp. 47- 65.
Aula 4 | Dança 117
corpo elástico, que escuta música e dança. Ela
pergunta à Maria Fux:
- Você gosta de mim como sou? Gostaria de ser sua
amiga.
M. Fux se aproxima lentamente e coloca suas mãos nas
duas pontas da cana. E lhe diz:
- Se você quer ser minha amiga, deve conhecer meu
corpo.
Então, todas passaram a cana por todas as partes do
corpo, sentindo sua rigidez, mas, ao mesmo tempo,
dando-lhe todos os movimentos que seus corpos lhes
permitiam. No chão, sempre segurando a cana, muito
suavemente, com as duas mãos e fazendo-a aderir ao
corpo, rodando com o corpo no espaço, para que a
cana sentisse como é lindo ser flexível.
M. Fux observava a jovem; apenas um elemento do
grupo movimentava a cana. Em determinado momento,
todas foram solicitadas a subir em cima da cana e, de
repente, algo aconteceu com a menina, que podia ser
chamada de Marisa; e sentiu-se que todo o grupo, o
qual estava impregnado da ideia de dar a essa cana
dura a flexibilidade de seus corpos, podia compartilhá-
la como elemento de trabalho. Então, cada uma delas
segurou a ponta da cana da outra. Aí M. Fux percebeu
que a ideia da rigidez, evidente na cana como elemento
intermediário, era o que Marisa sentia em alto grau em
seu corpo, dava resultado.
Marisa, sentada, alternava movimentos de relaxamento
e alongamento, seguindo o ritmo da música em torno
delas. Ao mesmo tempo, todo o grupo integrava essa
participação global, na qual as “diferenças” não se
notam nem são apontadas, fizeram com que Marisa
relaxasse em seu estado de tensão e participasse,
dentro de suas possibilidades e limitações, com um
elemento estranho de seu corpo e mais endurecido que
ela.
Aula 4 | Dança 118
As mãos
As mãos que dançam... Espelhos do
meu corpo, reflexos para o outro.
As mãos refletem o nosso íntimo, o nosso
pensamento. São condutores, terminais de nosso
pensamento. Em uma associação com termos de
computação, os dedos são o nosso “teclado”. Terminais
nervosos. Podemos desvendar uma série de poemas
em movimentos através delas. “A palavra mão está
ligada ao conhecimento. Tocar a mão é se apresentar,
é firmar um conhecimento. Através das mãos,
comunicamos nossa energia, nosso coração. Na nossa
mão, há a mão da vida.” (Jean Yves Leloup. O Corpo e
seus Símbolos. Ed Vozes, 1998).
CURIOSIDADE
O indicador é o dedo de Júpiter e está ligado à
vesícula biliar. O médio é o dedo de Saturno, ligado ao
baço e ao pâncreas. O anular é o dedo do Sol ligado ao
fígado. O mindinho é o dedo de Mercúrio ligado ao
coração. Podemos observar, então, que cada parte está
ligada à totalidade do corpo.
Agora, proponho que faça algumas atividades
para entrar em contato com esse conteúdo. Vamos lá?
Atividade Proposta:
Dica: É muito importante você vivenciar a
atividade antes de aplicá-la. Procure fazer as suas
anotações e estar atento às percepções.
Sente em uma posição confortável, pés no chão.
Coloque uma música própria para meditação. Feche os
olhos e comece a entrar em contato com o som da
música. Deixe os pensamentos passarem pela sua
Quer saber mais?
A primeira atividade graficoplástica com crianças na Educação Infantil
deve ser a pintura com os dedos. O contato da mão e dedos com a tinta cremosa, os movimentos iniciais circulares são prazerosos e com o desenvolvimento todo o corpo estará também se manifestando naquela atividade (cotovelos, braços e até corpo inteiro em extensões de plástico que colocamos no chão com a tinta). É uma interessante experimentação.
Aula 4 | Dança 119
cabeça, não se prenda a nenhum deles. Procure
inspirar pelo nariz e expirar pela boca. Ao expirar,
procure soltar um som. Sinta todas as partes do seu
corpo que estão presentes na respiração. Perceba se o
ar encontra algum obstáculo. Respire nesse obstáculo
desfazendo a tensão. Respire por mais alguns
minutinhos e perceba suas mãos. Toque os seus dedos
e leve suas mãos ao seu rosto. Sinta a temperatura do
seu rosto, as linhas, o formato do nariz, da boca. Deixe
suas mãos percorrerem o seu rosto. Ainda de olhos
fechados, você vai pegar a argila que está na sua
frente. Pode utilizar 1kg ou meio de argila. A argila vai
estar em formato circular, uma bola de tamanho médio.
Pegue a argila, sinta sua textura, sua temperatura.
Veja se está lisa, dura, macia. Depois, deixe que o
movimento interno do seu corpo vá esculpindo a argila
com as suas mãos. Faça todo o processo de olhos
fechados. Quando terminar, abra os olhos e entre em
contato com o que você fez. Faça as suas anotações.
Proposta de Relaxamento:
1- Inspirar e expirar lenta, suave e
profundamente, harmonizando a mente e as
emoções;
2- Você receberá um toque com uma gotinha de
óleo em suas mãos;
3- Convide suas mãos a se tocarem, a se
descobrirem. Lentamente, vá descobrindo a
sutileza do segredo de cada dedo, vá
reconhecendo, dedo a dedo, do polegar ao
mindinho;
4- Reconheça suas mãos como instrumentos de
construção do seu dia a dia, do toque, da
forma, do desejo, do afago e por vezes do
tapa, do troco, por que não?;
5- Se você as coloca em prece, elas lhe servem
de intermediárias, facilitando o contato com o
divino;
Aula 4 | Dança 120
6- Com elas, você traça linhas, trança fios,
modela o barro, marca ritmos, risca o ar, o
papel, a areia, aponta uma nova direção,
define um rumo;
7- Quando colocadas em concha se abrem para
receber;
8- São ferramentas de muitos bordados das
delicadas tramas de afetos;
9- Lentamente, vá tocando seus braços, seu
rosto... Ao colocá-las em movimento, vamos
redescobri-las como sensíveis instrumentos
de captação das formas, da temperatura, das
nuances, dos sentimentos... Perceba os
limites do seu corpo;
10- E assim vá redescobrindo cada parte do seu
corpo, que textura, que emoção ela carrega.
Estabeleça um diálogo com cada parte de seu
corpo. Convide suas mãos a conhecer seus
pés. Massageie seus pés, cada dedinho, o
dorso, a sola. Perceba que cuidados você tem
dispensado ao seu corpo. Se você tem
escutado o que seu corpo lhe conta;
11- Permaneça mais alguns instantes de olhos
fechados;
12- Lentamente, vá tomando algumas
respirações. E no seu tempo vá abrindo seus
olhos.
A DANÇA COM OS PANOS 4
Fazer um exercício com panos traz inúmeras
possibilidades de “transformação” de materiais e
formas.
Neste exercício, vamos trabalhar a respiração:
buscar o controle emocional, através do treino
4 Baseado em vivência do curso Desenvolvimento Criativo, da Fundação Mokiti Okada, S.P., elaborado
pela Profª. Ms. Eunice Yoshiura.
Para pesquisar
Nosso folclore está repleto de exemplos onde dançamos com lenços, a barra das saias, fitas. Procure no folclore representativo do seu estado algumas destas danças.
Aula 4 | Dança 121
respiratório; o movimento corporal, percebendo a
relação entre respiração e movimento e a percepção
espacial; o relaxamento, observando o
autodirecionamento; a expressão, visando a
harmonização do grupo e redefinição de caminhos.
Material específico: música, corpo e tecidos
coloridos.
Respiração e movimento corporal: em
círculo, respirar devagar, cada um ao seu tempo:
inspiração e expiração. Lentamente, ir acrescentando à
respiração os movimentos corporais (livres), variando o
seu ritmo (lento e acelerado), utilizando as várias
partes do corpo.
Estabelecer um eixo vertical que liga o corpo ao
alto e o mantém fixo no chão através dos pés. Em
seguida, ocupar o menor espaço possível, imaginando
estar no interior de uma bolinha de gude. Perceber
como está sua respiração e como seu corpo está
acomodado. Lentamente, visualizar esta bolinha
inflando e cada participante abrindo os movimentos e
saindo de dentro dela. Fazer movimentos livres,
acompanhando a melodia ambiente.
Relaxamento: mental; concentrar a atenção na
mente para visualizar uma bola de luz branca, a qual
irradia filetes luminosos para todo o corpo. Esta luz se
concentra no coração e, a partir daí, se expande
desdobrada nas cores azul, rosa e dourada... Procurar
perceber o corpo e sua posição neste momento,
projetando-o em uma tela mental. Visualizar seu corpo
com os feixes de luz colorida, dançando em suas várias
partes: cabeça, braços, mãos, tórax, região pélvica,
coxas, pernas, pés...
Devagar, ir trazendo a consciência para os
Importante
Na literatura, você poderá encontrar os termos: Espaço alto / espaço médio / espaço baixo. Eles têm o mesmo significado de plano superior / plano médio / plano inferior. Fazemos exercícios em pé, sentados ou ajoelhados ou agachados e, também, no chão, deitados, esticados.
Aula 4 | Dança 122
movimentos corporais e para o espaço físico;
sincronizando o movimento e a projeção na tela
mental.
Serão distribuídos os panos coloridos e os
participantes vão dançar com este tecido, explorando o
espaço nos três planos: superior, médio e inferior;
cobrindo-se e descobrindo-se com eles, imaginando-se
esculturas. Em seguida, em duplas, preencher vazios,
numa dança livre. Para finalizar o movimento, solicitar
aos participantes que descrevam uma forma livre com
os vários panos no chão.
Retorno da Atividade: Os participantes devem
entrar em contato com a arte final. Se perceber como
“ser” atuante dentro de um grupo, gerando harmonia
através dos movimentos, explorando os materiais,
incluindo a criação plástica corporal.
Deve-se facilitar a análise e a síntese do
processo do grupo, pela reflexão conjunta sobre o papel
de cada integrante nas diversas etapas.
UMA REFLEXÃO DE NOSSA LINGUAGEM
CORPORAL
A dança foi uma forma de expressão
de vários acontecimentos que
marcaram época na humanidade, deu
um grande salto, e das paredes
limitadas de um teatro, buscou o seu
espaço no mundo exterior. Abandonou
seus valores tradicionais – técnica,
diversão e narrativa – e enfrentou as
transições políticas, sociais e morais.
Então, podemos dizer que a dança é a
arte do movimento e que a partir dela
o homem pode demonstrar papéis
sociais e também desempenhar
relações dentro de uma sociedade seja
ela qual for. E ao amanhecer do século
21, dispomos de muitos artistas e
pesquisadores dançando a realidade
do homem, se preocupando com os
sinais dos tempos e desenvolvendo
métodos para integrar – mundo,
homem, dança e educação – tendo a cer
Quer saber mais?
Mary Whiehouse e Suzan Wallock são duas dançaterapeutas que nos deixam o seguinte: “A primeira lei, em terapia pelo movimento, é que o corpo não mente jamais, mesmo que o indivíduo, por motivos quaisquer, esteja dizendo outra coisa.”
Aula 4 | Dança 123
teza que esta seja o único caminho
contra o conformismo para as coisas
que ainda virão.
(http://www.cdof.com.br/dança1.htm)
A dança moderna, em especial, redescobre o
sentido da dança na sua ligação com a vida, na
dimensão psíquica interior e social, abrindo caminho
para uma concepção da dança como transformação de
si, como auxílio ao desenvolvimento pessoal em uma
contínua exploração das possibilidades do corpo.
Hoje o que se vê é um enriquecimento da arte
pela influência multicultural. Na dança pela mistura de
ritmos ocidentais e orientais traduzidos em novas
modalidades de expressão com todas as suas variantes
regionais, folclóricas, suas pantomimas e gestos e seus
conteúdos dramáticos permitem uma comunicação de
estilos, mas respeitando as qualidades peculiares de
cada cultura.
Muito bem! Você concluiu mais esta aula.
Verificou o que conseguiu aprender com ela?
Espero revê-lo em breve! Se ainda tiver dúvidas,
não deixe de rever esse conteúdo.
Até mais!
EXERCÍCIO 1
Um "sim" e um "não" na vida de muitas pessoas, como
vimos na vida de Maria Fux, podem representar:
( A ) Ter somente opções diretivas na própria vida e
para ofertar aos outros;
( B ) Canais abertos para a descoberta da arte de
viver;
( C ) Imbricamento de situações;
( D ) Canalizar o uso de linguagem corporal, na dança;
( E ) Todas as respostas anteriores estão corretas.
Aula 4 | Dança 124
EXERCÍCIO 2
A dança, por ser fundamentalmente aglutinadora
(socializante):
( A ) Facilita a interação humana;
( B ) Permite ao homem um contato consigo e com o
outro (alteridade);
( C ) Promove situações de poder viver ludicamente a
realidade;
( D ) Torna o homem mais consciente;
( E ) Todas as respostas estão corretas.
EXERCÍCIO 3
"A arte nasce quando viver não é suficiente para
exprimir a vida". Esta frase é do escritor francês Guide
(1869-1951) comente pensando na seguinte questão:
As artes permitem um acesso maior às formas de
expressão próprias da vida?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 4 | Dança 125
EXERCÍCIO 4
Cite duas propostas dos parâmetros curriculares
nacionais (PCNs) dentro da dança como manifestação
coletiva.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
A dança tem a finalidade de desenvolver a
fluidez e a expressividade corporal e psíquica;
É a tradução mais profunda dos significados
que a vida imprime em nós e nos faz devolver
em forma de expressão;
Um olhar, um gesto, um andar, uma atitude
corporal podem traduzir milhares de
informação;
São muitas as técnicas de movimento, pois o
movimento é vida e esta se expressa de
muitas formas;
Aqui a dança foi abordada como a
possibilidade de entrar em contato consigo
mesmo. A dança fala por si só.
Teatro
Virgina Maria Castilho Ribeiro de Souza
Ivan Coromandel
Eveline Carrano
Renata Cury (revisora)
AU
LA
5
Ap
res
en
taç
ão
Você, agora, entrará em contato com a aula de Teatro. Você vai
se encantar com o desenvolvimento do teatro e com as dinâmicas
propostas.
As técnicas abordadas aqui irão permitir que você possa criar seus
próprios métodos de trabalho a partir do conhecimento adquirido
com esta aula.
Então, vamos lá!
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Conhecer as diversas técnicas e autores importantes do teatro;
Abordar as técnicas do teatro;
Aprender sobre a história do teatro;
Aplicar algumas das atividades propostas aqui no caderno.
Aula 5 | Teatro 128
História do Teatro
Quando pensamos em teatro, nas peças a que já
assistimos, nos atores, autores e diretores dos quais
gostamos é difícil nos remetermos à sua origem,
imaginarmos como essa arte surgiu e muito menos
que, há muito tempo, era algo sagrado, que utilizava
rituais como formas de invocar poderes sobrenaturais
que controlavam todos os fatos necessários à
sobrevivência (fertilidade da terra, casa, sucesso nas
caças e batalhas). Isso mesmo!
Esses rituais se apresentavam sob a forma de
dança, música, cantos e encenações de histórias dos
deuses, que deveriam, assim, ficar felizes com a
homenagem feita a eles pelos homens da época. Era
assim que estes homens acreditavam serem perdoados
e merecedores dos privilégios. No Oriente, ainda hoje,
muitas espécies de teatro encenam as histórias de
deuses e utilizam rituais sagrados.
O teatro não vem da época medieval, sua
história é bem mais antiga, surgiu na Grécia Antiga, no
século IV a.C., cabendo aos gregos o mérito de
transformá-lo no maior e mais eficiente transmissor de
cultura e de arte. Ao povo cabia o direito de frequentar
o teatro como compromisso social. Os teatros eram
patrocinados pelos cidadãos ricos e o governo chegava
a pagar aos pobres para que eles frequentassem as
apresentações.
O teatro grego surgiu de uma forma muito
inusitada. Contam os historiadores que um participante
resolveu vestir uma máscara humana, ornada com
cachos de uvas, subir no tablado em uma praça pública
e dizer: “Eu sou Dionísio!” Todos ficaram espantados
com a coragem de um ser humano colocar-se no lugar
de um deus, coisa que não havia acontecido até então,
História do teatro 128 Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) 131 O teatro e a educação 135 Construindo personagens 138 Psicodrama de Moreno e Boal 142 Jogos para programas em empresa/instituição 154 Proposta de atividade 156 Conclusão 159
Aula 5 | Teatro 129
uma vez que um deus era para ser louvado, um ser
intocável. Este homem chamava-se Téspis e foi
considerado o primeiro ator da história do teatro
ocidental.
Assim, os festivais anuais eram em honra ao
deus Dionísio em representações de tragédias e
comédias.
Nessa época, as peças eram representadas
apenas por homens, não sendo possível a participação
de mulheres.
Os romanos já tinham seu teatro, também, e
apesar de se basearem nos moldes gregos, inovaram
com a implantação da pantomima, na qual apenas um
autor representava todos os papéis, utilizando uma
máscara para cada personagem e sendo acompanhado
de música e coro. Dois nomes importantes na história
do teatro romano foram Plauto e Terêncio.
Com o aparecimento do Cristianismo, o teatro
foi considerado pagão, não conseguindo patrocinadores
e sendo, então, totalmente extinto.
Curiosamente, o teatro reapareceu através da
igreja, na Era Medieval. Como assim?
Bom, o que aconteceu foi que novas
representações foram feitas para que se revivesse a
história da ressurreição de Cristo. Assim, o teatro
passou a ser um meio de propaganda dos conteúdos
bíblicos.
A partir de meados do século XVI, o teatro
medieval religioso foi declinando. Foi na Itália, em
especial, que se pôde observar novas criações nas
estruturas teatrais, através das representações do
Aula 5 | Teatro 130
teatro humanista. Os atores italianos eram amadores
no início, mas a profissionalização destes se deu
através da "Commedia Dell'Arte", em que alguns tipos
representados provinham da tradição do antigo teatro
romano: eram constantes as figuras do avarento e do
fanfarrão. Foi nesse teatro que ficou marcada a
participação da mulher que, aos poucos, foi se
expandindo para outros países como Inglaterra e
França, a partir do século XVII.
E no Brasil? Como se deu o surgimento do
teatro?
A implantação do teatro no Brasil foi obra dos
jesuítas, empenhados em catequizar os índios para o
catolicismo e coibir os hábitos condenáveis dos
colonizadores portugueses. Eles encontraram nas tribos
brasileiras uma inclinação natural para a música, a
dança e a oratória. Ou seja: tendências positivas para o
desenvolvimento do teatro, que passou a ser usado
como instrumento de "civilização" e de educação
religiosa, além de diversão. O teatro, pelo "fascínio" da
imagem representativa, era muito mais eficaz do que
um sermão, por exemplo.
O padre José de Anchieta, em quase uma
dezena de autos inspirados na dramaturgia religiosa
medieval, sobretudo Gil Vicente, notabilizou-se nessa
tarefa, de preocupação mais religiosa do que artística.
As peças eram escritas em tupi, português ou
espanhol (isso se deu até 1584, quando então "chegou"
o latim). Nelas, os personagens eram santos,
demônios, imperadores e, por vezes, representavam
apenas simbolismos, como o Amor ou o Temor a Deus.
Com a catequese, o teatro acabou se tornando matéria
obrigatória para os estudantes da área de Humanas,
nos colégios da Companhia de Jesus. No entanto, os
personagens femininos eram proibidos (com exceção
Aula 5 | Teatro 131
das Santas), para se evitar uma certa "empolgação"
nos jovens.
Os atores, nessa época, eram os índios
domesticados, os futuros padres, os brancos e os
mamelucos. Todos amadores, que atuavam de
improviso nas peças apresentadas nas Igrejas, nas
praças e nos colégios.
No teatro moderno, século XX, um nome ganha
destaque por suas ideias ecléticas e fazer o ator tomar
consciência de sua representação, não colocando sua
personalidade na vida do personagem. Bertolt Brecht,
para auxiliar os atores a manterem sua imparcialidade
em seus papéis, desenvolveu recursos que ajudavam a
transformar qualquer ligação com a realidade nas
encenações, para que os espectadores não criassem
qualquer ilusão ou semelhança com a mesma. Ou seja,
a cenografia tinha muitos efeitos não realísticos e as
próprias atividades de mudança de palco podiam ser
vistas pelo público.
Mas e hoje? Como é o teatro hoje?
Com tantas misturas, o teatro hoje é muito rico.
Temos o teatro dos bonecos, a ópera, o teatro de rua, o
teatro-dança e muitos outros. Hoje em dia, as regras
não são tão rígidas e os espectadores exigem
mudanças, inovações a cada dia.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs)
Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram
elaborados com a intenção de construir referências
nacionais comuns ao processo educativo em todas as
regiões brasileiras, porém respeitando as diversidades
regionais, culturais e políticas existentes no país.
Aula 5 | Teatro 132
Assim, possibilita-se nas escolas, condições favoráveis
aos jovens para que tenham acesso ao conjunto de
conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos
como necessários ao exercício da cidadania.
A partir dos PCNs, veremos a seguir os
conteúdos de teatro que os alunos poderão aprender:
1. O TEATRO COMO EXPRESSÃO E
COMUNICAÇÃO
Participação e desenvolvimento nos jogos de
atenção, observação, improvisação;
Reconhecimento e utilização dos elementos
da linguagem dramática: espaço cênico,
personagem e ação dramática;
Experimentação e articulação entre as
expressões corporal, plástica e sonora;
Experimentação na improvisação a partir de
estímulos diversos (temas; textos dramáticos,
poéticos, jornalísticos, entre outros; objetos;
máscaras; situações físicas; imagens e sons);
Experimentação na improvisação a partir do
estabelecimento de regras nos jogos;
Pesquisa, elaboração e utilização de cenários,
figurino, maquiagem, adereços, objetos de
cena, iluminação e som;
Pesquisa, elaboração e utilização de
máscaras, bonecos e de outros modos de
apresentação teatral;
Seleção e organização dos objetos a serem
usados no teatro e da participação de cada
um na atividade;
Exploração das competências corporais e de
criação dramática;
Reconhecimento, utilização da expressão e
comunicação na criação teatral.
2. O TEATRO COMO PRODUÇÃO COLETIVA
Aula 5 | Teatro 133
Reconhecimento e integração com os colegas
na elaboração de cenas e na improvisação
teatral;
Reconhecimento, e exploração do espaço de
encenação com outros participantes do jogo
teatral;
Interação ator-espectador na criação
dramatizada;
Observação, apreciação e análise dos trabalhos
em teatro realizado pelos outros grupos;
Compreensão dos significados expressivos
corporais, textuais, visuais, sonoros da criação
teatral;
Criação de textos e encenação com o grupo.
3. O TEATRO COMO PRODUTOR CULTURAL E
APRECIAÇÃO ESTÉTICA
Observação, apreciação e análise das diversas
manifestações de teatro. As produções e
concepções estéticas;
Compreensão, apreciação e análise das
diferentes manifestações dramatizadas da
região;
Reconhecimento, compreensão das
propriedades comunicativas e expressivas das
diferentes formas dramatizadas (teatro em
palco e outros espaços, circo, teatro de
bonecos, manifestações populares
dramatizadas);
Identificação das manifestações e produtores
em teatro nas diferentes culturas e épocas;
Pesquisa e leitura de textos dramáticos e de
fatos da história do teatro;
Pesquisa e frequência junto aos grupos de
teatro, de manifestação popular e aos
espetáculos realizados em sua região;
Aula 5 | Teatro 134
Pesquisa e frequência às fontes de
informação, documentação e comunicação
presentes em sua região (livros, revistas,
vídeos, filmes, fotografias ou qualquer outro
tipo de informação);
Elaboração de registros pessoais, para a
sistematização das experiências observadas e
da documentação consultada.
AVALIAÇÃO DE TEATRO
Para avaliar os seus alunos, o professor deverá
seguir a seguinte orientação:
a) Compreender e estar habilitado para se
expressar na linguagem dramática.
Com esse critério, ele avalia se o seu aluno
desenvolve a atenção, concentração, e a criatividade
que o teatro exige. Se ele consegue articular a fala ao
gesto. Se tem se empenhado para se expressar de
forma pessoal dentro do contexto dramático exigido;
b) Compreender o teatro como uma ação
coletiva.
Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno
sabe se organizar e trabalhar em grupo, se tem
empenho na construção do grupo, tanto quanto ao
cenário, figurino, iluminação, maquiagem, como na
construção dramática em si;
c) Compreender e apreciar as diversas formas
de teatro produzidas nas culturas.
Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno
conhece e aprecia as diversas formas de teatro: de
sombras, de circo, de bonecos, entre outras,
Dica da professora
De acordo com os PCNs, nós veremos algumas sugestões para avaliação do teatro em sala de aula.
Aula 5 | Teatro 135
compreendendo as suas mensagens, transformando-as
em fonte de conhecimento e de cultura.
O Teatro e a Educação
A criança ao entrar para a escola, por sua idade,
apresenta uma capacidade enorme para a
representação, isso devido ao período criativo que
atravessa ajudado pelas brincadeiras de faz de conta,
pela vida que coloca nos objetos que a cercam. Cabe,
então, à escola aproveitar e desenvolver suas
características próprias da idade, que irão, inclusive,
aumentar sua capacidade de aprendizagem.
O teatro, então, nesse processo de
desenvolvimento da criança cumpre o seu papel
integrador, uma vez que propicia experiências que
permitem a convivência social, o desenvolvimento da
criatividade, da imaginação da percepção, da emoção,
do discernimento, da memória, do raciocínio, além da
autoconfiança. No processo educacional, tem um
caráter lúdico, pois permite a realização da fantasia, da
afetividade.
Seu papel no ensino fundamental é, então,
proporcionar experiências para o crescimento integrado
da criança tanto no plano individual quanto no coletivo.
No plano individual, permite o desenvolvimento
de suas capacidades expressivas e artísticas, além de
dotá-la do desembaraço necessário para lidar com as
Os objetivos que as escolas buscam alcançar,
através do teatro, nos mostram que esse é o
caminho para atingirem uma integração entre os
indivíduos de forma criativa, produtiva e
participativa.
É um recurso pedagógico eficaz no desenvolvimento
do educando, preparando-o para enfrentar e
discernir os problemas com que irá se deparar no
transcurso da sua vida.
Para navegar
Entre no site do MEC e conheça mais de perto os PCNS do qual estamos falando. http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?option=content&task=view&id=265&Itemid=255
Aula 5 | Teatro 136
questões do dia a dia.
No plano coletivo, favorece a socialização, uma
vez que é uma atividade grupal, seja em cena ou na
organização do espetáculo.
O Teatro na Educação consiste em trazer para a
sala de aula as técnicas do teatro e aplicá-las na
comunicação do conhecimento. Esteja o aluno como
espectador ou como figurante, o Teatro é um poderoso
meio para gravar na sua memória um determinado
tema ou para levá-lo, através de um impacto
emocional, a refletir sobre determinada questão moral.
No caso do Teatro Pedagógico, não existe a
figura do dramaturgo profissional: a peça será escrita,
montada e dirigida por um educador, visando apenas a
educação dos alunos que estão sob sua
responsabilidade educacional.
O teatro escolar não é um projeto que possa ser
imposto. É preciso ser aceito pela turma.
Ao se utilizar o teatro na educação, dá-se a
oportunidade ao educando de um conhecimento
diversificado e lúdico, propiciando um clima de
liberdade onde o aluno libera as suas potencialidades,
expressa os seus sentimentos, emoções, aflições e
sensações, pois é um meio de expressão para o aluno.
Quando ele interpreta um personagem ou faz uma
dramatização, pode ocorrer uma situação que revela
parte de si mesmo, mostrando como se sente, como
pensa e como vê o mundo. É uma atividade artística
Reconhecendo a importância do teatro, a escola o
introduziu no seu currículo, buscando com isso o
desenvolvimento do seu aluno de uma maneira
global, tornando-o crítico, criativo e responsável
pela criação do seu próprio mundo de vida e de trabalho.
Aula 5 | Teatro 137
que utiliza todas as formas de comunicação humana,
ampliando o seu horizonte, melhorando a sua auto-
imagem, tornando-o com isso mais social e mais aberto
ao mundo.
Além disso, o teatro na escola permite que, na
elaboração do cenário, a criança esteja presente
atuando e ajudando o educador. O mundo da fantasia
se torna algo a ser materializado e a criança vai ter a
possibilidade de atuar por meio das artes plásticas e do
corpo no processo de criação.
Assim, pode-se convidar o aluno mais
indisciplinado a fazer um personagem disciplinado; ao
mais arrogante, fazer o papel de um personagem
cordato e conciliador; ao menos responsável, o papel
de um personagem que, no drama, está carregado de
graves responsabilidades. Em caso de resistência, uma
estratégia seria talvez dizer aos alunos que o bom ator
é aquele que é capaz de representar o papel que ele
próprio considere ser o mais difícil para si.
No caso de um aluno procedente de um bairro
da cidade onde a insegurança for maior, onde
supostamente ele já viu uma arma, ou já pegou em
uma arma, dar-lhe o papel de um policial. Alunos
dessas áreas, e que, frequentemente, vão mal nos
estudos, têm um surpreendente conhecimento do
mundo que os cerca e o teatro pode lhes dar a
oportunidade de expressar suas ideias sociais e seus
sentimentos. Em contrapartida, o teatro poderá lhes
O teatro na educação dá ao aluno a oportunidade de
valorizar-se, de integrar-se a um grupo, dando-lhe
ao mesmo tempo a noção da responsabilidade do
sucesso deste grupo, uma vez que ele é o resultado
da soma dos esforços do conjunto. Esta visão
permite o desenvolvimento de cada um,
fundamentado na complementaridade das
diferenças. Ensina aos educandos a aprenderem
com as diferenças, pois somente assim é que acontece a aprendizagem do ser humano.
Aula 5 | Teatro 138
passar lições morais e inspirar confiança em melhorar
sua própria condição social. Os papéis ruins podem
ficar com personagens que são apenas mencionados, e
não serão encarnados por nenhum aluno.
Construindo Personagens
Você poderá valer-se do recurso de transformar
as produções simbólicas sugeridas em desenhos e ou
pinturas, em personagens trabalhados no plano
tridimensional. Esse procedimento facilita à criança o
confronto com as informações contidas nestas
produções. Os mecanismos de construção de
personagens deverão levar em conta as possibilidades
de desempenho de cada criança com os diferentes
materiais, suas preferências expressivas e seu
desenvolvimento motor. Geralmente, o recurso mais
produtivo é o mais simples, utilizando materiais
bastante rudimentares ou até mesmo o próprio corpo
da criança.
ESTÓRIAS
O uso de estórias em terapia envolve:
invenção das minhas próprias estórias
para contar às crianças; as crianças
inventarem suas próprias estórias; a
leitura de estórias de livros; escrever
estórias; ditar estórias; utilizar coisas
para estimular estórias, tais como
figuras, testes projetivos, bonecos, o
painel de feltro, a mesa de areia,
desenhos, fantasias de final aberto; e
envolve também o emprego de
recursos e aparelhos tais como
gravador de fita, aparelho de vídeo-
tape, aparelhos portáteis de
intercomunicação (walkie-talkies),
microfone de brinquedo, ou um
televisor imaginário (uma caixa
grande).
(Oaklander, Violet, Descobrindo
Crianças, Summus Editorial, 13a
Edição, 1980)
Cena da peça teatral
A Bela e a Fera.
Aula 5 | Teatro 139
O uso de estórias e todas as suas possibilidades
são infinitos. Vai muito da criatividade do educador, do
ambiente de trabalho e o grau de interação e vínculo
com as crianças. É muito importante conhecer diversas
estórias e estar por dentro dos personagens atuais.
Também pode ser bastante interessante o educador
enfeitar um avental e contar a estória fazendo uso
deste como cenário. Use a sua criatividade!
TEATRO DE BONECOS
Os espetáculos de bonecos são muito
semelhantes a contar estórias. A criança escolhe o
boneco que lhe despertou o interesse, manipulando-o
livremente, junto com as outras do grupo. Aos poucos,
espontaneamente, a criança sentirá vontade de criar
um diálogo ao qual irá aliar os movimentos que faz com
o boneco. O educador, também, pode apresentar o
espetáculo e neste caso pode pedir a ajuda da criança
sobre o tema a ser abordado.
É um trabalho espontâneo, que surge da sua
experiência com o mundo, sendo importantíssimo na
educação, pois desenvolve não só a comunicação como
também a expressão sensorial-motora.
TEATRO DE FANTOCHES
Temos diversos tipos de fantoches e podem ser
criados de diversas formas. Temos os fantoches de
dedo, podendo ser feito de feltro e outros materiais
maleáveis, ou pintado diretamente no dedo da criança.
Podem-se explorar os personagens de diversas formas,
inclusive representando famílias inteiras.
Temos os fantoches feitos com canudos e
cartolina com diferentes imagens. Pode ser feito de
bola de isopor e palitinho de churrasco ou arame.
Aula 5 | Teatro 140
Muitas vezes, ao iniciar o trabalho, a criança
encontra-se tão bloqueada que precisará da ajuda de
alguns brinquedos ou objetos já prontos como estímulo.
É interessante ter bichos de pano, bonecos e
brinquedos diversos.
A origem dos fantoches remonta à antiguidade
quando os bonecos eram feitos de barro. Aos poucos,
esses bonecos foram sendo aprimorados,
permanecendo até hoje, sempre com muito boa
aceitação.
TEATRO DE SOMBRAS
Este é um tipo de teatro pouco divulgado no
Brasil, mas que estimula muito a criatividade. É
originário da China e sobre ele existe uma lenda:
Diz a lenda que, no ano de 121, o imperador Wu
Ti, da Dinastia Han, desesperado com a morte de sua
bailarina favorita, ordenou ao mago da corte que a
trouxesse de volta do “Reino das Sombras” ou seria
decapitado. O mago usou a sua imaginação e, através
de uma pele de peixe macia e transparente,
confeccionou a silhueta de uma bailarina.
Quando estava pronta, organizou um espetáculo
no jardim do palácio, pondo uma cortina branca
transparente por onde penetrasse a luz do sol,
colocando a silhueta da bailarina atrás dela, fazendo-a
dançar suavemente ao som de uma flauta. Nesse
momento, estava criado o teatro de sombras
TEATRO DE MÁSCARAS
Esta é uma forma de teatro muito bem aceito
pelas crianças, que gostam muito de usar máscaras,
principalmente dos seus super-heróis que elas veem na
Aula 5 | Teatro 141
TV. O importante é aproveitar a oportunidade para que
elas confeccionem as máscaras, podendo para isso se
utilizarem de cartolinas, tecidos, sacos de papel, pratos
de papelão, tintas, jornal, material de sucata, elástico.
Esta é uma atividade fácil de ser executada,
sendo, inclusive, muito prazerosa às crianças que
poderão representar uma história com um material que
elas mesmas elaboraram.
AS MÁSCARAS NO TEATRO
As máscaras são usadas pelos homens desde a
Pré-História, quando se utilizavam delas nos rituais
religiosos. Na África, elas são esculpidas em madeira e
pintadas. Na Oceania, são feitas de conchas e madeira,
com pérolas incrustadas. Os índios americanos para
fazê-las se utilizam de couro pintado e adorno de
penas, além de usarem, às vezes, a tinta sobre a
própria pele nos rituais religiosos e nas guerras.
Na China, eles se utilizam das cores nas
máscaras para representarem os sentimentos e, no
Japão, os homens usavam as máscaras representando
femininos.
No século XVIII, em Veneza, as máscaras faziam
parte do vestuário da época. No Brasil, as máscaras
também são usadas, mas só no carnaval ou nas festas
populares.
O teatro de máscaras promove a recreação, o
jogo, a socialização, a melhoria na fala e a desinibição
dos alunos mais tímidos.
Exercício para adultos utilizando máscaras:
Uma atividade interessante para se trabalhar
Máscara utilizada no Teatro Grego
Aula 5 | Teatro 142
com máscaras é colocar no centro de uma roda uma
variedade grande de máscaras de emoções: alegria,
tristeza, raiva, medo, pavor e muitas outras.
Geralmente, essas máscaras podem ser compradas ou,
caso não encontre, podem ser confeccionadas por
artistas plásticos. Procure entrar em contato com um
artista na sua cidade e peça as máscaras que quer
trabalhar.
Depois de colocadas no centro da roda, peça ao
grupo para experimentar uma por uma. Depois devem
escolher uma máscara de que mais tenham gostado.
Devem ficar com ela e pensar em uma situação para
ser encenada. Esta pode ser feita individualmente ou,
se for necessário, pode pedir a participação de algumas
pessoas do grupo ou do grupo todo.
Esta atividade permite entrar em contato
consigo mesmo de uma forma lúdica. No final é
interessante pedir para que cada participante fale da
experiência vivida.
Psicodrama de Moreno e Boal
O psicodrama não deve ser confundido com o
Teatro Pedagógico, onde não é possível a livre
expressão ou, então, o aspecto pedagógico ficará
perdido. Já no psicodrama, a livre expressão dos
participantes é útil à terapia e é um princípio básico do
método.
Vejamos um pouco sobre o psicodrama e dois
nomes importantes para o mesmo: Moreno e Boal.
Jacob Levy Moreno nasceu em 20 de maio de
1889, na cidade de Bucareste. Faleceu em 14 de maio
de 1974, em Beacon, Nova Iorque. Moreno era de
família judia e foi em Viena que se formou em Medicina
Aula 5 | Teatro 143
e Filosofia.
Muito atuante, nunca foi de trabalhar ao estilo
psicológico de escutar horas intermináveis seus
pacientes. Sua teoria é praticamente dialógica. Há
necessidade da participação e da interação de outras
pessoas.
Para Moreno, no cenário psicodramático, o
passado é presente e o futuro também o é. Tudo é
atual. A vivência do mundo atual é um convite a uma
comunicação humana transformadora, no sentido de
‘desintelectualizar’ o ser humano para um contato mais
verdadeiro, mais pessoal e emocional – o encontro.
O encontro, para Moreno, é essencial. A
tradução mais próxima desse encontro deriva do
francês “rencontre”, que expressa duas ou mais
pessoas que se encontram, não só para olhar-se ou
enfrentar-se, mas para viver e experimentar-se, como
atores, conservando seus direitos. Não é a empatia,
mas sim a realização própria através do outro: é
reciprocidade total, no nível mais intenso de
comunicação.
Ao falar sobre o encontro, Moreno diz:
No começo foi a existência. Mas a
existência sem alguém ou algo que
exista não tem sentido. No começo foi
a palavra, a ideia – mas o ato foi
anterior. No começo foi o ato, mas o
ato não é possível sem o agente, sem
um objeto em direção ao qual se dirija
e sem um tu a quem encontrar. No
começo foi o encontro, tal como o
descrevi em meus primeiros escritos.
(1914)
Aula 5 | Teatro 144
Podemos acompanhar o percurso de Jacob
Levy Moreno, que nos apresenta a pedagogia do
psicodrama aplicado a ambientes de trabalho, seja de
que natureza for, instituição, empresa, escola e clínica.
Nesta técnica, o essencial é resgatar o item
espontaneidade, ativando o papel do pré-consciente,
através da teoria, de exercícios de sensibilização que
envolvem o relaxamento psicofísico. O relaxamento
psicofísico, envolvendo o trabalho de alongamento
muscular, libera energias que podem deslocar
conteúdos aprisionados em determinadas situações.
Estes, mobilizados por novos fatores, ajudam a
desbloquear caminhos em sintonia com ambos os
hemisférios do cérebro.
A essência do teatro pode traduzir a ideia do
realce emprestado aos diversos elementos das
situações. Ressaltar sensações (percepções),
pensamentos (atividades que envolvam crítica,
discriminação e classificação), sentimentos (liberação
das emoções e relações interpessoais), intuição (o
imaginário, a fantasia, buscando as origens e o
desenvolvimento dos fenômenos). Nesse contexto, o
quesito originalidade, a tolerância ao que nos parece
novo, incongruente, inusitado é explorada; surge o eu
do momento, a resposta intuitiva; vamos desenvolver o
conceito de raridade, da capacidade de apreciar
qualidades como únicas.
Com um espírito místico e artístico, Moreno
buscou fundamentos para sua teoria no teatro, na
filosofia e na religião. Muito otimista e positivo, fundiu
suas criações no jogo vivo da alegria. Dizem que teria
dito a respeito do desejo de ter em seu epitáfio: “Aqui
jaz um homem que abriu as portas da psiquiatria à
alegria.”
Assim, o psicodrama surgiu do jogo que, como
um fenômeno ligado à espontaneidade e à criatividade,
MORENO
Quer saber mais?
Moreno buscava resgatar a espontaneidade e a criatividade, sufocadas pelas instituições. Sua inspiração provinha das tradições antigas da filosofia grega e do drama clássico como catarse, embora fosse um profundo estudioso de sociologia e psiquiatria. Saiba toda sua história no site sobre HOMENS DA HISTÓRIA: http://www.morasha.com.br/conteudo/ed35/jacob.htm
Aula 5 | Teatro 145
seria o princípio da autocura e da terapia de grupo. A
atitude lúdica conduziu Moreno ao teatro da
improvisação e depois ao teatro terapêutico, que
alcançou seu cume na inversão de papéis, no
psicodrama e sociodrama dos dias atuais.
O teatro é uma forma de comunicação
entre os homens e as formas teatrais
não se desenvolvem de maneira
autônoma, antes, respondem sempre
a necessidades sociais bem
determinadas e a momentos precisos.
Um ritual é todo um sistema de ações
e reações predeterminadas. Para
atravessar a rua, há que aguardar a
luz verde. Ao entrar na igreja, fala-se
em voz baixa. As relações entre os
seres humanos processam-se segundo
ações e reações mais ou menos
preestabelecidas pelas leis, tradições,
hábitos, costumes etc.
Não às “máscaras psicológicas”, que determinam
que os nossos rostos sejam ferozes ou fleumáticos,
bons ou maus, ou seja lá o que for” (Augusto Boal).
Augusto Boal nasceu no Rio de Janeiro, em
1931. Desde pequeno escrevia, ensaiava e montava
suas próprias peças para sua família. Sua formação em
Engenharia Química caminhou paralelamente à
pesquisa e à montagem de textos teatrais lidos e
comentados por Nelson Rodrigues.
Estudou na Columbia e, em 1956, volta ao Brasil
para dirigir o Teatro de Arena em São Paulo. Esse
grupo contribui muito para a criação de uma
dramaturgia brasileira.
Mas sua maior criação foi o Teatro do Oprimido,
onde sempre buscou restituir aos oprimidos o direito à
palavra e de ser. Seu propósito sempre foi “humanizar
a humanidade” e realizou isso através dos seus livros
escritos por outros autores sobre sua obra e outros
publicados em dezenas de línguas.
Dica de leitura
BOAL, Augusto. 200 exercícios e jogos para o ator e o não-ator com vontade de
dizer algo através do teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 6ª ed., 1985.
AUGUSTO BOAL
Quer saber mais?
Augusto Boal nasceu no Rio de Janeiro em 1931. Falecem em 02 de maio de 2009, no Rio de Janeiro. Estudou na School of Dramatics Arts da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, onde foi aluno do dramaturgo John Gassner. Sua maior obra é o Teatro do Oprimido, que transforma o espectador em elemento ativo,
protagonista do espetáculo.
Aula 5 | Teatro 146
Na sua filosofia de viver, a solidariedade e a
multiplicação estão incorporadas. Acreditava em
multiplicadores de conhecimento e não apenas
consumidores.
O Teatro do Oprimido é um método estético que
reúne exercícios, jogos e técnicas teatrais que
objetivam a desmecanização física e intelectual de seus
praticantes e a democratização do teatro,
estabelecendo condições práticas para que o oprimido
se aproprie dos meios de produzir teatro e amplie suas
possibilidades de expressão, estabelecendo uma
comunicação direta, ativa e propositiva entre
espectadores e atores.
No Brasil, o Centro do Teatro do Oprimido
dirigido por Augusto Boal trabalha em várias vertentes:
TEATRO NA EDUCAÇÃO - em escolas onde se
desenvolve uma nova pesquisa, a Estética do Oprimido,
restaurando as capacidades estéticas de todo ser
humano de produzir teatro, música, artes plásticas,
poesia e narrativas. Palavra, Imagem e Som: o
Pensamento Sensível e o Pensamento Simbólico unidos
na melhor compreensão do mundo;
TEATRO DAS PRISÕES - onde se dá a busca por
pacificar as tradicionais hostilidades entre funcionários
e presidiários, entre as prisões e as populações locais,
através da criação de “espaços de liberdade dentro dos
muros da prisão” - os presidiários estão presos no
espaço, mas tem o tempo livre: há que aproveitá-lo;
TEATRO NA SAÚDE MENTAL - onde se busca
enquadrar os “Delírios Patológicos dentro dos quadros
estruturados dos Delírios Artísticos”;
Aula 5 | Teatro 147
TEATRO DO OPRIMIDO NOS PONTOS DE
CULTURA – A maior ambição de Augusto Boal é que
todos pratiquem o Teatro do Oprimido, uma vez que
tem provado ser potente ferramenta para a
conscientização de todos que o praticam e assim serem
alcançados os princípios da Declaração Universal dos
Direitos Humanos: “... que a Liberdade, a Justiça e a
Paz tenham por base o reconhecimento da dignidade
intrínseca e dos direitos iguais e inalienáveis de todos
os membros da família humana”.
Dica de Exercício:
Entre as técnicas do Teatro do Oprimido, a mais
praticada é o Teatro Fórum, um espetáculo baseado em
fatos reais, na qual personagens oprimidos e
opressores entram em conflito de forma clara e
objetiva, na defesa de seus desejos e interesses. Neste
confronto, o oprimido fracassa e o público é convidado
a entrar em cena para substituir o oprimido e buscar
alternativas para o problema encenado.
JOGOS DRAMÁTICOS
Nos Jogos Dramáticos, considera-se o processo
evolutivo da autodescoberta e a integração no grupo. O
autoconhecimento, assim adquirido, lhe permite ser
sujeito (aquele que observa) de um outro sujeito
(aquele que age). Permite-lhe as alternativas de sua
ação.
Este espectador não é mais novamente um
objeto, passa a ser um sujeito porque ele é o ator e
age sobre o ator, ele pode guiar e modificar. O
indivíduo deve ser avaliado, assim como o seu
desenvolvimento, no trabalho grupal.
Através dos jogos dramáticos, pode-se encontrar
o caminho mais curto e mais atuante de se chegar, ou
Aula 5 | Teatro 148
melhor, de se voltar a um estado de receptividade, de
espontaneidade, de libertação da imaginação (perdida
na infância), ao mesmo tempo em que desenvolve o
espírito de observação, o sentido estético e social da
vida. Através da observação de situações dramáticas, a
pessoa toma consciência de sua personalidade, de suas
próprias reações e, também, de suas
responsabilidades.
Moreno, em sua Teoria de Papéis, ressalta que
um papel apresenta três fases distintas: role-taking,
que é a adoção, a tomada de um papel; role-playing,
que é o jogar com o papel e o role-criating, que é a
fase final, onde o indivíduo cria sobre o papel.
Segundo Yozo5 (1996), são quatro os
movimentos básicos de cada indivíduo:
1. Eu-comigo - é o momento em que se localiza
e se identifica num grupo: quem sou, como estou,
como sinto;
2. Eu e o outro - a partir do momento em que
se identifica, começa a identificar o outro, quem é o
outro, como me aproximo, como me sinto;
3. Eu com o outro - nesta etapa, procura
perceber o outro e principia a inversão de papéis.
Relacionado ao reconhecimento do tu: como é o outro,
como ele se sente, pensa e percebe em relação a mim
e vice-versa;
4. Eu com todos - após desenvolver a
percepção de si mesmo e do outro, amplia essa relação
com todos, em busca de identidade e coesão grupal.
A importância existente nesses movimentos é
5 Yozo, Ronaldo Yudi K. 100 jogos para grupos. São Paulo: Ágora, 1996.
Quer saber mais?
Yudi Yozo (SP) – Psicólogo, psicodramatista, psicoterapeuta, professor-supervisor credenciado pela Federação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama, professor em cursos de especialização e pós-graduação em
Psicodrama Aplicado e Terapêutico; palestrante em congressos nacionais e Internacionais. Autor do livro: “100 Jogos para Grupos – uma abordagem psicodramáticas para empresas.”
Aula 5 | Teatro 149
que, através dos jogos, é possível mobilizar as pessoas
para a tomada de consciência de seu funcionamento, e
dos outros membros do grupo, além de contribuir para
que identifiquem comportamentos favoráveis ou
desfavoráveis a um relacionamento mais harmônico no
ambiente em que estiverem inseridas.
Os jogos psicodramáticos facilitam, então, o
processo de mudança pessoal, através dessa busca
pelo autoconhecimento e pelo conhecimento do outro e,
ainda, a compreensão de como os vínculos afetivos são
formados, condições tais, imprescindíveis para que
ocorra essa mudança.
Para se desenvolver o primeiro movimento
básico, o Eu-comigo, são apresentados jogos de
Apresentação, Aquecimento, Relaxamento e
Interiorização e de Sensibilização.
Este caracteriza-se pelo aprofundamento da
sensação e princípio de percepção. Pode haver a
interação do indivíduo com o meio (pesquisa de espaço,
ambiente, aguçando suas percepções tátil, auditiva,
olfativa e gustativa).
Nesta fase, não há contato físico entre os
participantes. Para garantir ao indivíduo a descoberta
de si mesmo. Promove-se um princípio de integração
entre os elementos, a fim de desenvolver o
conhecimento grupal.
No segundo movimento básico, acontecem os
jogos de interação com o outro, podendo ser individual
ou em duplas, utilizando-se de objetos intermediários
ou não. Acontece o princípio da descoberta do outro.
Envolve o senso da percepção e o princípio de
comunicação que serão mais aprofundados no terceiro
estágio.
Aula 5 | Teatro 150
Os jogos desta etapa dividem-se em Percepção
de Si Mesmo, Percepção do Outro / Espelho e Pré-
Inversão. Em geral, pouco ou nenhum contato físico se
dá, uma vez que é o momento em que o indivíduo se
percebe através do outro (Espelho).
No terceiro movimento, o Reconhecimento do
tu, acontecem os jogos de interação direta com o
outro. Inicia-se com duplas, trios, quartetos e até com
o grupo todo (Eu-Ele). Permite verificar até onde o
indivíduo percebe o outro e o quanto inverte os papéis.
É o momento do Eu com o Outro. Envolve contato
físico, sem ser ameaçador, pois já existe uma
predisposição e abertura do indivíduo. Além disso,
podem-se construir personagens, avaliando a qualidade
dramática, a espontaneidade e a criatividade na
construção e desempenho de papéis.
Aqui, ainda, se incluem jogos com características
de comunicação e integração (Eu-Ele x Eu-Nós),
podendo avaliar as redes sociométricas do indivíduo e
do grupo. É o momento do Eu com Todos.
Aplica-se tanto para a preparação como para a
configuração da integração entre os participantes
(podendo envolver um grande número de pessoas).
São os jogos sociopsicodramáticos ou grupais, onde o
protagonista é o grupo, sem excluir o indivíduo dele.
Os tipos de jogos desta fase são denominados
de Jogos com Personagens ou Papéis, Inversão de
Papéis e os de Identidade Grupal / Encontro.
Nos jogos, a novidade qualitativa
reside no fato de que é o processo de
aprendizagem em si, e não a
realização de ato consumatório, que
fornece a motivação.
(Konrad Lorenz)
Aula 5 | Teatro 151
O orientador do grupo deve estar atento para o
contexto em que se insere o grupo, incluindo o fator
“tempo” para cada estágio de realização em sua
proposta de trabalho.
A série de exercícios em qualquer uma das fases
nunca deve ser fechada em si própria; pode ser
combinada com a seguinte, dependendo da integração
de todos, lembrando que cada situação é única.
Exemplo de jogos (Yoko, R., 1996)
Situação 1 (1ª etapa)
1. Material: não há.
2. Instruções:
grupo sentado, em círculo;
cada participante deverá escolher o nome de
uma fruta, que seja correspondente à pessoa
à sua direita;
depois, apresentará ao grupo, dizendo qual é
a fruta e o porquê desta escolha (ex: cor da
pele, expressão facial, roupa, atitudes);
compete ao arteterapeuta permitir que a
pessoa “eleita” concorde ou não com a
descrição feita e o porquê.
Nota: É um jogo de apresentação pertinente a
grupos desconhecidos, onde a única referência é o
externo.
Variação: pode-se substituir a fruta por qualquer
referência (exemplo: instrumento musical, carro, flor,
artista, animal).
Aula 5 | Teatro 152
Situação 2 (1ª etapa)
1. Materiais: não há.
2. Instruções:
cada participante pensa em suas
características pessoais e escolhe um bicho
que o identifique;
cada um deverá representar, no contexto
dramático, as características do bicho
escolhido, mostrando-as uma por vez;
se acertar o “bicho”, deve acentuá-la e, em
seguida, mostrar outra característica,
passando a adivinhação à pessoa seguinte. Se
errar, mantém a mesma característica e
passa a palavra ao próximo e assim por
diante;
depois, o grupo procura descobrir qual é o
bicho escolhido;
comentários.
Situação 3 (1ª etapa)
1. Materiais: papéis e canetas.
2. Instruções:
a) Cada pessoa escreverá duas qualidades e
duas manias suas num pedaço de papel, sem que os
demais vejam;
b) O orientador recolhe os papéis, mistura e
redistribui, de modo que ninguém fique com o seu;
c) Cada participante deverá, através da mímica,
representar tais características para que o grupo as
descubra. Em seguida, tentar-se-á acertar o autor das
mesmas, que explicará o porquê de tais escolhas.
d) Ao final, promover comentários do grupo
sobre a experiência.
Aula 5 | Teatro 153
Situação 4 (combinação da 1ª e 2ª etapas):
Identidade do Eu e reconhecimento do Eu
1. Materiais: não há.
2. Instruções:
O grupo divide-se em duplas;
Cada dupla apoia mão com mão;
Quem comanda pode inventar quaisquer
movimentos, enquanto quem acompanha
deve repeti-los como se estivesse
hipnotizado;
Após um determinado tempo, invertem-se os
papéis, repetindo o processo;
Dando prosseguimento, trocar de duplas,
seguindo o próximo até o final;
Ao final, promover os comentários sobre a
experiência.
Nota do autor: embora este jogo envolva a
inversão de papéis entre os participantes, foi
classificado na 2ª fase, pois permite avaliar até que
ponto o participante tem a percepção de si mesmo,
antes de inverter o papel a ser seguido pelo outro.
Situação 5 (combinação das 2ª e 3ª fases):
Reconhecimento do Eu e Reconhecimento do Tu
1. Materiais: papel sulfite e canetas.
2. Instruções:
Dividir o grupo em três subgrupos (com
número igual de participantes), neste caso,
aqui de A, B, C;
Cada subgrupo escreve uma história contendo
uma cena do cotidiano, contendo início, meio
e fim (com o número de personagens igual ao
de participantes);
Aula 5 | Teatro 154
O subgrupo A montará uma cena da sua
história de forma estática. O subgrupo B
entra nos papéis de cada um e dá
movimentos (dinâmico) sem verbalizações. O
subgrupo C entra nos papéis, dá os
movimentos e a verbalização aos
personagens;
Este processo se repete nos três subgrupos,
ou seja:
A - cena estática;
B - cena com movimentos;
C - cena com verbalização e movimento;
B - estática;
C - movimento;
A - verbalização e movimento.
C – estática;
A – movimento;
B - verbalização e movimento;
Verificar o que foi alterado da cena original.
Se quiser, pede-se a demonstração da
imagem inicial de cada subgrupo;
Comentários acerca da experiência.
Jogos para programas em empresa/
instituição
Como objetivos principais, os jogos são
utilizados para a integração, para desenvolver a
comunicação, para trabalhar competição versus
cooperação e, muitas vezes, para promover a mudança
organizacional.
A utilização dos jogos em organizações é algo
valioso, pois integra a razão e a emoção
harmonicamente, além de possibilitar o aprendizado de
uma forma vivencial. Quando o trabalho realizado com
Aula 5 | Teatro 155
grupos em organizações se limita apenas ao nível mais
racional, enfatizando somente o intelecto dos
participantes, pode dificultar a aprendizagem. Isso
porque uma proposta essencialmente teórica não
mobiliza as pessoas para a ação, e elas com frequência
não conseguem visualizar de maneira clara a relação do
conteúdo transmitido com as mudanças
comportamentais necessárias no ambiente
organizacional.
É importante que as pessoas estejam
preparadas para olharem para si próprias e se
assumirem responsáveis em parte do processo de
mudança organizacional. As pessoas precisam conhecer
o que as leva a reagir de determinada forma,
diferentemente da forma como reagem as pessoas com
as quais convive. Elas precisam conhecer e explorar
mais seu universo interno e saber identificar o porquê
das diferenças de comportamento. Isso foi promovido
com a proposta aplicada na pesquisa de campo.
O Psicodrama pode ser aplicado como facilitador
para a mudança à medida que mobiliza as pessoas para
reverem suas posturas, seus valores, suas atitudes e
comportamentos manifestados no ambiente de
trabalho, proporcionando-lhes maior disponibilidade
para a mudança pessoal.
JOGO DOS BALÕES
As pessoas costumam resgatar o aspecto lúdico
que o próprio jogo dos balões nos reportam pela
informalidade da brincadeira; esse “brincar com a
realidade” remete a cenas do cotidiano no ambiente
empresarial, onde, muitas vezes, é necessário se
passar a bola, com a leveza necessária para a produção
continuar fluindo. Sempre, se possível, com muito
humor...
Aula 5 | Teatro 156
É pedido aos integrantes que brinquem, num
primeiro momento, sozinhos, com um balão, escolhido
pela cor ou não; devem evitar que caia no chão;
usando todas as partes do corpo (mãos, testa, joelhos,
coxas, quadris, nádegas, pés, braços, antebraços e por
onde mais a imaginação conduzir).
Num segundo momento, os participantes devem
jogar em duplas, observando as mesmas regras;
depois, em trios, quartetos, até reunir todo o grupo.
Para finalizar, a quantidade de balões jogados
deve diminuir, caindo ao chão, até que se brinque com
um único. O orientador deve facilitar uma troca de
impressões, sensações sobre como os envolvidos se
sentiram no jogo.
Proposta de Atividade
AMPLIANDO A PERCEPÇÃO
Antes do trabalho expressivo, é importante ser
trabalhada a percepção – sensação. Cada parte do
corpo deve ser “acordada”, para depois poder haver a
integração de todo o corpo.
A proposta da atividade é criar um diálogo sobre
as experiências individuais dos participantes ocorridas
durante a semana (no caso de um curso em
desenvolvimento, relacioná-las com as atividades
praticadas).
Segue abaixo alguns passos de trabalho corporal
para facilitar e otimizar a proposta acima.
Respiração: Em círculo, em pé.
Respiração abdominal com flexão do tronco e
pernas, utilizando-se quatro tempos para inspirar e
Aula 5 | Teatro 157
quatro tempos para expirar.
Movimento Corporal:
Expandir os movimentos de todo o corpo,
mudando o ritmo da respiração:
Trabalho com as articulações de forma
integrada e consciente. Expansão do
movimento para o espaço da sala;
Expressão com o corpo através das formas
sugeridas: sol, lua, montanha, árvore,
trepadeira, cadeira, fio de telefone, janela,
rio, lago tranquilo.
Relaxamento: vai-se objetivar
despertar a sensação do estado de
relaxamento;
desenvolver a percepção corporal;
desenvolver a percepção gustativa;
harmonização emocional.
(Deitados)
Exercícios de tensão e relaxamento de cada
parte do corpo, utilizando a respiração
(inspirar / tensionar; expirar / distensionar).
Relaxamento físico: enfocando a musculatura
de todo o corpo; conscientizar o aparelho
digestivo e perceber a sua função como
catalisador da energia da terra através do
alimento; perceber o aparelho gustativo,
explorar toda a região da boca, preparando-a
para receber o alimento (nesse momento, o
facilitador se aproxima das narinas de cada
participante com sal, fruta e cravo, variando
os elementos entre eles).
Aula 5 | Teatro 158
Relaxamento mental: visualização do sol, com
sua luz dourada que se torna azul e penetra
em todo o corpo e se expande criando uma
esfera ao seu redor. Lentamente, os
integrantes podem ir se espreguiçando,
girando o corpo de um lado para o outro,
abrindo os olhos devagar e se levantando.
Expressão:
Solicitar ao grupo que eles se imaginem num
ambiente qualquer, dividindo-se em subgrupos, se
possível, com um mínimo de quatro elementos em
cada. Devem imaginar uma cena do cotidiano inerente
àquele ambiente escolhido e interpretá-la sem o uso da
palavra, apenas com a expressão corporal, evitando a
mímica.
Exemplo: uma família reunida para a limpeza de
partes da casa; pessoas em uma sala de cinema. Cada
grupo se apresenta por vez.
Conclusão: Deve-se facilitar a troca de
experiências, favorecendo os comentários, se quiserem.
Exercício de relaxamento que também trabalha
a percepção. Ideal para ser usado no início de uma
atividade:
Todos de pé, se possível em círculo.
Sempre trabalhando a respiração, inspirando
pelas narinas e expirando lentamente pela boca; a
respiração deve ser um ato de todo o corpo, retesando-
se os músculos ao inspirar, sentindo o oxigênio
circulando por todo o corpo, através das artérias, e o
gás carbônico sendo expulso através das veias.
Aula 5 | Teatro 159
Com os pés ligeiramente abertos (uma distância
de cerca de 20cm), paralelos, girar a cabeça da
esquerda para a direita, por três vezes, em círculo;
depois, o mesmo movimento da direita para a
esquerda.
Voltando ao eixo principal. Girar o ombro direito
para a frente e para trás; a seguir, o mesmo
movimento com o esquerdo. Em seguida, ambos os
ombros para a frente e para trás.
Erguer-se sobre os calcanhares, levantando os
braços até a altura dos ombros, lentamente ir pousando
os pés no chão, descendo os braços e o tronco,
abaixando a cabeça em direção ao chão. Com o tronco
ainda dobrado, balançar os braços da direita para a
esquerda e vice-versa, procurar manter a contagem de
três tempos. Depois, ir subindo lentamente,
desenrolando o tronco, encaixando os quadris, os
ombros, a cabeça deve ser a última parte a ser
levantada, lentamente.
Conclusão
Só o ser humano tem essa faculdade de
observar a si mesmo, através de um espelho
imaginário. Sem dúvida, ele antes teve essa
experiência de outros espelhos tal como os olhos de
sua mãe, os quais refletem seus olhos. Mas de hoje em
diante, ele pode se ver pela própria imaginação.
Existe um exercício dramático denominado “O
espelho e o índio” que fala um pouco sobre entrar em
contato consigo mesmo, com sua imagem, suas
surpresas. Veja abaixo:
Um índio, andando pela mata, encontra um
pedaço de espelho. Ao ver um objeto tão estranho,
Aula 5 | Teatro 160
sente medo e curiosidade; finalmente, a coragem
vence. Pega o espelho. O sol se reflete e ele pensa
estar segurando o próprio sol. Sente que o objeto é
duro e liso. Ao ver sua própria imagem se assusta
tremendamente; cada movimento que faz é uma nova
descoberta, nova sensação. Medo. Alegria. Depois de
um jogo entre ele e a própria imagem, leva consigo o
milagroso objeto.
A maior qualidade do teatro reside no permitir
que o ser humano se observe, veja a si mesmo. A
teatralidade é esta capacidade que permite ao ser
humano se ver em ação, em atividade. E, além disso,
através do teatro, a pessoa entra em contato com o
seu corpo e suas emoções de forma integrada e total. O
corpo é essencial na apresentação, assim como a fala,
a postura, o olhar, o tom da voz, a expressão e as
emoções de uma forma geral. O teatro permite a
integração e o autoconhecimento do ser humano.
EXERCÍCIO 1
Os quatro movimentos básicos propostos por Ronaldo
Yozo, fundamentados nos jogos dramáticos criados por
J. J. Moreno, estabelecem:
( A ) Movimentos de análise e síntese de situações-
problemas para a evolução das relações inter e
intrapessoal em grupos;
( B ) Não incluem o autorreconhecimento por mais de
um caminho;
( C ) A falta de complexidades que permita observar a
evolução de "relação do Eu-com o mundo";
( D ) A ausência da noção de grupo enquanto universo
de vários;
( E ) Não propôs nenhum movimento.
Aula 5 | Teatro 161
EXERCÍCIO 2
Jacob Levy moreno buscava resgatar através do
psicodrama:
( A ) A teatralidade e a felicidade;
( B ) A dramaticidade e a espontaneidade;
( C ) A afetividade e a criatividade;
( D ) A criticidade e a flexibilidade;
( E ) A espontaneidade e a criatividade.
EXERCÍCIO 3
Fale sobre o teatro de fantoches e suas possibilidades.
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EXERCÍCIO 4
Discorra sobre o teatro como expressão e comunicação
dentro dos PCNs.
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Aula 5 | Teatro 162
RESUMO
Vimos até agora:
A história do teatro e algumas técnicas
necessárias para se desenvolver o trabalho de
teatralização nas escolas. Os PCNs e suas
normas;
Algumas dinâmicas propostas importantes
para trazer para a prática o entendimento
teórico;
Vocês, também, entraram em contato com
as teorias de Boal e Moreno;
O teatro exige do ator um domínio do corpo,
do gesto, da voz, da expressão e da sua
capacidade de transmitir ao público a
mensagem do autor;
É uma entrega total, embora o ato de
representar seja inerente ao homem como
forma de transmitir sua visão do mundo e da
compreensão da realidade.
Fotografia
Gerassina Carvalho Costa
AU
LA
6
Ap
res
en
taç
ão
Por meio desta aula, temos a intenção de sensibilizar seu olhar
para uma alfabetização de uma leitura visual, ou seja, uma
combinação do saber ver e perceber as manifestações visuais,
criando valores de consciência e compreensão do mundo,
colocando a fotografia lado a lado com a arte, buscando trabalhar
outras possibilidades de integração da imagem.
Colocamos a fotografia como uma linguagem visual e
pedagogicamente aplicável em sala de aula, tornando as aulas
diversificadas e dinâmicas. Para tanto, é importante que ocorra a
interação da proposta para auxiliar na compreensão e,
consequentemente, na reflexão que surgirão a respeito da
mesma.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Abordar a relação da fotografia e a arte;
Mostrar a fotografia e a arte como uma possibilidade nova e
atual dentro do saber ver e perceber;
Dar um enfoque histórico ao princípio do ver, do olhar desde os
primórdios até os dias atuais;
Fazer uma abordagem da linguagem fotográfica como uma das
possibilidades do ensino das artes;
Mostrar que a área da saúde, também, tem espaço para a
fotografia.
Aula 6 | Fotografia 164
Princípio do “ver” e “olhar”
(...) criando a arte, encontrou para si
um modo real de aumentar seu poder
e de enriquecer a sua vida.
(FISCHER, 1979, p. 45)
O velho hábito da humanidade em relação ao
olhar permanece irremediavelmente preso a imagens.
As imagens englobam tanto as alusões ao concreto
(momento histórico ou contexto do sujeito) como
também apontam para uma realidade que não se
esgota nessa referência concreta. O mito da caverna de
Platão ajuda a entender a humanidade como se
estivesse dentro de um mundo e que sua realidade não
passasse disso. Estão presos a um método incorreto de
ver a realidade e só conhecem e mantêm contato com
esse mundo comum. Na Alegoria da Caverna, Platão
afirma que:
Imagine uma caverna separada do
mundo externo por um alto muro, cuja
entrada permite a passagem da luz
exterior (...) Acima do muro, uma
réstia de luz exterior ilumina o espaço
habitado pelos prisioneiros, fazendo
com que as coisas que se passam no
mundo exterior sejam projetadas
como sombras nas paredes do fundo
da caverna. Por trás do muro, pessoas
passam conversando e carregando nos
ombros figuras de homens, mulheres,
animais cujas sombras são projetadas
na parede da caverna (...) Um dos
prisioneiros, tomado pela curiosidade,
decide fugir da caverna. Fabrica um
instrumento com o qual quebra os
grilhões e escala o muro. Sai da
caverna, no primeiro instante, fica
totalmente cego pela luminosidade do
Sol, com a qual seus olhos não estão
acostumados; pouco a pouco, habitua-
se à luz e começa ver o mundo (...).
(Chauí Marilena, 2002)
O caráter do encontro com essa realidade
implica uma atitude específica do mundo, das coisas,
do tempo e do espaço. Essa separação do momento
Princípo do “ver” e “olhar” 164 Fotografia e ideologia 174 A fotografia e a educação 187 A relação da fotografia com a saúde 195
Aula 6 | Fotografia 165
reflete no olhar onde a tradição dominante prevalece.
Estamos habituados a decifrar a imagem visual que ao
ver mascara o que existe por trás da imagem em si.
Contudo, ao partir de um estudo da história da
arte, verifica-se um grande número de técnicas e
invenções que, apesar de atenderem aos objetivos de
cada época, cumprem o papel de aproximar as imagens
criadas pela mão humana ao retrato fiel da realidade.
Nesse sentido, a técnica fotográfica se torna um dos
instrumentos que, desde sua invenção, traz mudanças
radicais para a produção de imagens. O inventário da
fotografia iniciou-se em 1839 e desde então quase tudo
tem sido fotografado, ou pelo menos assim parece.
(SONTAG,1981,p 3)
Ao ensinar um novo código visual, a fotografia
transforma e amplia as noções sobre o que vale a pena
olhar e o que efetivamente vale a pena observar para
ver. Nesse sentido, Dubois afirma que:
Quase tudo em que acreditamos, e a
maior parte das coisas que sabemos,
aprendemos e comparamos,
reconhecemos e desejamos, vem
determinado pelo domínio que a
fotografia exerce sobre nossa psique.
(2003, p. 13)
A fotografia talvez seja, dentre todos, o objeto
mais misterioso que compõe e dá consistência ao
mundo que identificamos como moderno. Constitui uma
gramática importante do ver. Na verdade, a fotografia
consiste em experiências que se captam e a câmara é o
instrumento ideal para o espírito ávido.
A atitude de estranhamento pode ser
definida como uma abertura para lidar
com a novidade, o desconhecido, o
inesperado, o descontínuo do objeto
que queremos conhecer, elaborando
sobre o mesmo um olhar mais criativo,
diferente do habitual.
(BARBOSA, 2003, p. 96)
Aula 6 | Fotografia 166
Fotografar é apropriar-se da coisa fotografada. É
envolver-se numa certa relação com o mundo que se
assemelha com o conhecimento e, por conseguinte,
com o poder. A imagem fotográfica tem a maior parte
das informações acerca do passado e do presente. A
fotografia aparentemente não se constitui como um
depoimento sobre o mundo, mas fragmentos desse,
como uma miniatura de uma realidade que todos
podem construir ou adquirir. Assim como Barbosa
coloca a respeito da arte, em seu livro Inquietações e
Mudanças no Ensino da Arte, a fotografia se coloca em
seu universo:
(...) A arte capacita um homem ou
uma mulher a não ser um estranho em
seu meio ambiente nem um
estrangeiro no seu próprio país. (...)
Por meio da arte é possível
desenvolver a percepção e a
imaginação, apreender a realidade do
meio ambiente, desenvolver a
capacidade crítica, permitindo ao
individuo analisar a realidade
percebida e desenvolver a criatividade
de maneira a mudar a realidade que
foi analisada.
(BARBOSA,2003, p. 18)
A fotografia, mesmo brincando com a escala do
mundo, através de suas possibilidades reduzindo ou
ampliando, cortando ou colando, consertando ou
distorcendo, cria a linguagem que expressa, que
compartilha, que traz o conhecimento de um mundo e
reflexões resgatando ou invertendo diferentes olhares e
pontos de vistas.
PARTINDO DA ORIGEM: ARTE E FOTOGRAFIA
A origem da arte vem de forma elementar do
início primitivo do desenho. Ao analisar, por exemplo,
os desenhos da caverna de Lascaux, localizada na
França, não há uma preocupação com o edificar e o
fazer, mas uma referência à utilidade. A pintura aqui se
dá pelo decalque ou impressão.
Aula 6 | Fotografia 167
É impossível entender esses estranhos começos
sem relacionar com os dias de hoje. O sentimento que
essas imagens passavam para aquele povo não está no
bonito para se contemplar tão presente no censo
comum, mas na sua significação e importância. A
imagem simples exposta na pedra ou nas paredes tem
o mesmo valor expressivo que a tela onde o artista
projeta sua imagem com tintas, pinta, colore e
desenha. Podemos chegar, também, ao processo da
fotografia como comparação desse contexto, onde a
imagem exposta no papel, à projeção da luz, a revela.
Notam-se diferenças de materiais utilizados, mas com o
mesmo resultado obtido: a imagem. (DUBOIS, 2003)
È improvável que o nascimento da arte seja
compreendido sem suas finalidades e propósitos. Pode
parecer que tudo isso tem pouco a ver com origem da
arte; no entanto, é preciso entender que a origem da
arte não é uma história de progresso técnico, mas uma
trajetória de ideias, concepções e necessidades em
permanente evolução. A fotografia, também, tem esse
ponto em comum.
Toda a história da arte é enfocada através de
obras-primas, lugares, nomes, datas e estilos que
valorizam a intimidade com a arte, deixando-nos mais
próximos de seu entendimento. No entanto, é difícil
definir sua origem mesmo partindo de pressupostos e
informações colocadas por muitos historiadores.
A ARTE A PARTIR DE UM REFERENCIAL
A abordagem da origem da arte dentro dessa
proposta de estudo é um encontro para entender,
também, o nascimento da fotografia. Percebe-se com
isso que há uma ligação e um reflexo da arte na
fotografia chegando muitas vezes a considerar que a
fotografia é uma pintura e a pintura é uma fotografia.
Aula 6 | Fotografia 168
Essa concepção não deve ser colocada como um acaso,
mas como um advento importante para ascensão da
fotografia.
A melhor maneira para esse entendimento seria
a partir do estilo. São esses estilos que definem não
apenas um método expressivo, mas uma posição
geográfica distinta. Segundo Dondis (1997), embora
isso mude de autor para autor, cada nome evoca uma
série de pistas visuais identificáveis que, em conjunto,
abarca a obra de muitos artistas, além de um período e
um lugar como, por exemplo: bizantino, renascentistas,
barroco, impressionista, dadaísta, flamengo, gótico,
Bauhaus, Vitorino. O requinte e as várias técnicas
podem servir para identificar a individualidade
estilística de um artista específico, mas uma análise
mais específica definirá o estilo ou o período que
pertence à obra. Segundo Dondis (1997), em seu livro
Sintaxe da Linguagem Visual, não desconsiderando
outras colocações de outros autores, ao longo de toda a
história da arte, as categorias se apresentam sob cinco
grandes estilos visuais, a saber: Primitivismo,
Expressionismo, Classicismo, Ornamental e Funcional.
PRIMITIVISMO
Certamente, a intenção do primitivismo como
início de um estilo artístico vem da intenção do homem
primitivo em criar suas obras. Em quase todos os
casos, os próprios desenhos dentro deste estilo
representavam toda uma simbologia com forte carga de
significações. O registro da informação visual é
comprovado nas pinturas das cavernas, onde a
representação era expressa graficamente a tudo aquilo
que via. São esses desenhos que trazem a proximidade
da criação de uma linguagem onde todos podiam
entender. Essa simbolização podia ser reproduzida,
falada e entendia por todos.
Aula 6 | Fotografia 169
Sobretudo na arte primitiva, o traço de
simplicidade e a representação plana contribuem para
detectar obras visuais primitivas, assim como todas as
técnicas descritas, segundo o autor Dondis (1997),
embora não esquecendo que outros autores podem
alterar essas colocações, mudando de autor para autor:
Exagero, espontaneidade, atividade, simplicidade,
distorção, planura, irregularidade, rotundidade,
colorismo (1997, p 171).
EXPRESSIONISMO
O expressionismo sempre dominou a obra de
artistas individuais ou de escolas inteiras, cuja
produção pode ser caracterizada por sentimentos
intensos e por grande espiritualidade. Seria inútil não
colocar como um dos estilos que deu origem à arte bem
como suas técnicas visuais que se fazem presentes até
hoje, segundo Dondis: Exagero, espontaneidade,
atividade, complexidade, rotundidade, ousadia,
variação, distorção, irregularidade, justaposição,
verticalidade (1997, p 173).
CLASSICISMO
O estilo produz sua inspiração na racionalidade
e, para formalizar sua arte, os artistas utilizavam a
matemática e, além disso, o pensamento. Seus
esforços produziram um estilo visual dotado de
racionalidade e lógico, tanto na arte quanto no design.
Grécia e Roma foram a fonte do Renascimento, um
período cujo nome significava, uma retomada da
tradição clássica. É nesse período que se encontra o
desenvolvimento da perspectiva e de um tratamento
único da luz na pintura, conseguindo em seus quadros
relatar o ambiente como se fosse a imagem refletida de
um espelho. Não é coincidência que os primeiros
vislumbres da futura invenção da fotografia tenham
Aula 6 | Fotografia 170
surgido no Renascimento, na forma de câmara escura.
Dondis coloca as técnicas clássicas como: Harmonia,
simplicidade, exatidão, simetria, agudeza,
monocromatismo, profundidade, estabilidade, estase,
unidade.
ORNAMENTAL
Neste estilo, há uma ênfase nos ângulos agudos
com técnicas visuais discursivas e as exageradas
ostentações floridas trazem os seus significados ligados
a efeitos cálidos e elegantes associados à riqueza e ao
poder. É um estilo que é tratado com uma simbologia
de glória e poder, não havendo espaço para a
objetividade e a realidade. Um exemplo deste estilo é o
Barroco, onde se destaca expressivamente em todo a
sua representação. Dondis coloca as técnicas deste
estilo ornamental como: Complexidade, profusão,
exagero, rotundidade, ousadia, fragmentação, variação,
colorismo, atividade, brilho. (1997, p. 177).
FUNCIONALIDADE
O estilo funcional é a busca da beleza nas
qualidades temáticas e expressivas da estrutura básica
de qualquer obra visual, por isso está ligada
estritamente à regra de utilidade e às considerações de
ordem econômica. A busca de reconciliação do artista
com a máquina é constante e presente nesse período e
vários grupos surgiram, inclusive a escola Bauhaus,
cujo seu objetivo era a criação de novas formas e o
encontro de novas soluções para as necessidades
básicas do homem, sem deixar de lado suas
necessidades estéticas. Uma das questões tratadas por
esse estilo está presente na formulação das novas
definições do belo no âmbito prático e não ornamental.
As principais técnicas funcionais que Dondis cita são
(1997, p. 180) simplicidade, simetria, angularidade,
Aula 6 | Fotografia 171
previsibilidade, estabilidade, sequencialidade unidade,
repetição, economia, sutileza, planura, regularidade,
agudeza, monocromatismo, mecanicidade.
Nota-se que cada estilo expressava um
sentimento dinâmico que refletia um novo tempo da
arte e, surpreendentemente, era capaz de abordar
diferentes caminhos que, consequentemente, dá
origem a outras possibilidades de criação.
Qualquer que seja a reação pessoal diante da
origem da arte traz nitidamente a compreensão e o
verdadeiro sentido da arte, onde é cercada de
intenções que permite instruir, impressionar e glorificar
sentimentos, conforme (Gombrich 1999), onde o artista
busca envolver efeitos de composição na intenção de
relevar, à primeira vista, um traço, uma linha, um
plano de luz, de sombra, um volume, desenvolvendo
uma imagem dentro de uma composição.
O nascimento da fotografia e sua origem,
também, seguem uma trajetória assim como a história
da arte. Regras de proporção e perspectiva para a
representação do homem e do espaço eram elaboradas
e reelaboradas desde os gregos. Foram utilizadas as
regras geométricas em que os homens da Renascença
refinaram a sugestão de profundidade em suas
pinturas, criando as regras da perspectiva e um novo
código cultural para interpretar o mundo, apreendendo
o espaço tridimensional numa tela bidimensional. A
solução era matemática: o cenário e as figuras
retratadas eram reduzidos proporcionalmente, de
acordo com suas medidas reais. O ponto de vista do
pintor gerou um olhar fixo, que comandava a feitura do
quadro e o olhar do espectador - escolhia-se o motivo
principal, sua posição no quadro e reorganizavam-se os
outros objetos com dimensões proporcionais à sua
distância em relação à figura principal, dando a ilusão
Aula 6 | Fotografia 172
de profundidade numa tela plana. Por isso, a palavra
perspectiva: “ver através”. Já se tinha uma expressiva
e forte intuição da chegada de uma nova invenção, a
câmara escura.
Até então, o auxílio da câmera escura limitava-
se à cópia da realidade. E foi no século XVIII, que se
realizaram as primeiras tentativas de fixação da
imagem produzida na câmera escura. No entanto, o
que chega diante desta parte da história é, sem
exagero, o maior fascínio que a história da imagem já
havia presenciado. Percebe-se que a fotografia crescia
como uma nova modalidade de expressão visual. Em
1822, um inventor francês chamado Joseph Nicéphore
conseguiu fazer a primeira fotografia (JANSON p. 424).
O interesse pela fotografia crescia e estimulava cada
vez mais outros percursos que buscavam da técnica
artística e não somente de utilidade prática, novos
esboços de imagens que acabavam por refletir na
fotografia. Já precocemente tinha, de forma clara, uma
transformação geral do caráter da arte.
A invenção da fotografia foi uma resposta aos
anseios artísticos da época. Grande parte do impulso
veio de uma busca do verdadeiro e do natural.
Mas com as revoluções Francesa e Americana, a
fotografia teve um grande impacto sobre a imaginação
do período, uma paixão pelo exotismo mostrando o
potencial em ampliar a visão do homem sobre o
mundo. A crença da fotografia é tanta que chegavam a
afirmar “a câmara fotográfica é o olho da história
(Mathew Brady, apud Carol Trickland,1999)”. “A
fotografia cria uma visão do mundo através do mundo,
molda um imaginário novo, uma memória” (Susan
Sontag, 1981). Em sua superfície, o tempo e o espaço
inscrevem-se como protagonistas absolutos, não
importa se imobilizados, ou não imobilizados a esses
Aula 6 | Fotografia 173
dois instrumentos tempo e espaço para assim gerarem
a imagem. Contudo, essa linguagem que, às vezes,
parece evocar uma “fala”; em outros casos, parece
silenciar ou até revelar um duplo sentido. Essa
duplicidade de imagem sobre uma determinada
realidade parece ser mais importante, pois permite a
fuga, a seleção, a autossatisfação de um mundo na
medida de cada indivíduo.
Diante da aceitação por imagens de todos os
tipos em consequência do surgimento da fotografia os
estilos traçados por Donnis já citados anteriormente
passam, assim, a surgir na fotografia. A fotografia
primitiva que vem enumerar o primeiro estilo, além de
revelar uma época, reflete o ponto de vista e uma
crença inabalável de que tudo podia ser descoberto.
Curiosamente, a fotografia segue seus próprios estilos
assumindo impactos sobre o período e incansáveis
experiências. Um outro estilo aparecido como um
descobrimento do potencial da fotografia em ampliar a
visão do homem do mundo que o cerca é chamado
Estereofotografia.
A cada estilo ou mesmo o tipo que se criava, a
fotografia não se limitava à “morte”, pelo contrário
passa a construir invenções e inovações que lideravam
o período da época.
O fotojornalismo trouxe um novo tipo de
fotografia no qual era totalmente convincente por
possuir o mesmo realismo visível da realidade. É neste
estilo que surge a fotografia documental.
Diante dos estilos fotográficos enumerados
nesse estudo, verificamos que a fotografia consegue
desenvolver uma visão independente que é capaz de
desafiar até hoje a própria imaginação do homem.
Aula 6 | Fotografia 174
Fotografia e ideologia
Não se pode discorrer a respeito da imagem,
seja na arte ou na fotografia, sem reter essa parte que
constitui um momento que, direta ou indiretamente,
mexe com todo um contexto social e histórico de uma
época: a ideologia.
Ideologia é um conjunto de ideias
desenvolvidas de forma integrada, em
torno de uma ideia central
reformadora que pode ser progressiva
(mudar todo um sistema ou
reacionários resultados de sua
aplicação efetiva), dependendo do tipo
de ação modificadora a ser produzida.
(PEREIRA, 1987, p. 19)
Começa-se a falar da fotografia e da ideologia
em seu ponto em comum: a sua origem. A fotografia e
a ideologia começaram a se comunicar no início do
século do XIX. Ideológicos da época como Marx, Freud
e Nietzsche recorreram a metáforas ópticas e
fotográficas para explicar o processo ideológico. Cada
um com sua concepção começou a estruturar a
linguagem para nomear aquilo para o qual ainda não
existiam palavras. Tanto Marx, Freud e Nietzsche, em
sua linguagem, começam a adotar metáforas como
“câmera escura” e “reflexo” para descrever a inversão
ideológica na representação do real. Podemos constatar
isso na maneira como Freud (1987) escreve a respeito
do aparelho psíquico fazendo uma comparação com
uma máquina fotográfica, segundo o autor Luiz
Humberto Pereira, pois todo fenômeno passa por uma
fase inconsciente, pela escuridão, assim como o
negativo, antes de aflorar à consciência. Nietzsche
(1987) faz alusão à câmara escura, onde declara que
existe a suposta transparência do conhecimento, que a
verdade não se alcança por um desvelamento.
Aula 6 | Fotografia 175
A estrutura de linguagem balbuciante, sem
muita comprovação, inaugura a desconfiança em
relação às camadas ideológicas, encontrando na
fotografia o modelo de falar sobre o real de maneira
nova. A adoção metafórica de mecanismos ópticos e
fotográficos para “explicar” o funcionamento da
ideologia é indispensável para se repensar as
estruturas do trabalho fotográfico e seu papel de
transformador social. Hoje, se entende a fotografia
como prática de um olhar distinto e diferenciado do
existente no senso comum.
Isto é dito somente para que
reflitamos sobre a mesma
possibilidade de flutuação que existe
no papel que deve ser desempenhado
pela fotografia, ao qual se deve
atribuir uma importância modificadora
maior por que este cabe ao homem,
ao valer-se dos meios de expressão
inventados por ele, e somente a ele
cabe a inteira responsabilidade por
seus usos.
(PEREIRA, 1987, p 19)
RELAÇÕES ENTRE IDEOLOGIA E FOTOGRAFIA
Ultimamente, houve uma tendência ao ver a
determinação da realidade sobre as imagens como
casual, mecânica e unidirecional, quando na realidade
esta se mostra estrutural, reversível e multidirecional.
O que torna claro que a consciência é determinada por
múltiplos condutores de ordem material envolvendo as
relações socioeconômicas. Pensando bem, observar que
qualquer prática constitui um nível do sistema social
onde, simultaneamente, a economia e a ideologia
podem ser distintas.
É necessário lembrar que o fotográfico não
copia o real, que reduz o aspecto bidimensional da
imagem. Entende-se que a fotografia mantém com os
demais elementos do seu produtivo e comunicacional,
Aula 6 | Fotografia 176
sua perspectiva própria. A técnica fotográfica é tida
como um meio que pode representar fielmente a
realidade. Desde seu início, foi criada para captar a
imagem real projetada pela câmara escura, como se a
mão humana pudesse transformá-la. Portanto, a
imagem fotográfica carrega o peso do real. Assim, a
fotografia só pode cumprir um papel de mostrar uma
realidade se for capaz de perfurar as máscaras e propor
olhares não familiares sobre o mundo.
A fotografia pode não ser confiável
como constatação de uma verdade ou
pode mesmo não conter um indicativo
seguro da ideologia de seu autor, mas
será certamente um resultado
subsequente a se relacionar com o
mundo à sua maneira e, portanto,
capaz de transformar-se em
testemunho importante, talvez até
mesmo de denunciar as angústias e
aspirações de tempo.
(PEREIRA, 1987, p. 19)
Conhecer implica imaginar e inventar. A
reprodução mais fiel do real pode ser a que consegue
maior sugestão, que supera a reprodução do visível
mediante a indagação do virtual. Segundo Pereira
(1987), a Arte da Fotografia permite trabalhar de uma
forma puramente visual, onde a questão do olhar
deverá ser inserida e trabalhada de forma a abrir o
presente ao pressentido do conhecimento. O trabalho
fotográfico como conhecimento não se move no campo
da verdade, mas na verossimilhança. Quem pode
assegurar com segurança, diante de uma foto de um
grupo de soldados que corre empunhando suas armas,
que se trata de um combate ou de um treinamento? A
foto não capta a velocidade, não apresenta o ato,
apenas o gesto, em vez do movimento, a força que o
impulsiona. Assim como na arte, a verdade da foto não
está contida na foto, mas no conhecimento do
contexto. Toda comunicação fotográfica deve expor a
relação entre o que o artista quer dizer, os recursos
Aula 6 | Fotografia 177
linguísticos de seu meio, os códigos de verossimilhança
sobre uma mensagem que a torna inteligível aos seus
receptores.
A fotografia é suscetível de
interpretações as mais diversas,
dependendo do universo de
conhecimento, predisposição ou
recepção de quem a contempla e tem
deste modo um amplo risco de
distorção dos verdadeiros propósitos
que a geraram. Mas as imagens
sempre transmitem ideias que podem
ser ampliadas em função da
capacidade de imaginação do receptor
e, deste modo, expandir sua atuação
ao nível da esfera de estímulo
intelectual, que lhe confere uma
importância muito maior que a de ser
simplesmente elemento de
comprovação da realidade.
(PEREIRA, 1987, p. 20)
A ideologia da produção fotográfica não está
contida na imagem somente, mas a um conjunto de
processos sociológicos e semióticos com relação a
quem faz ou olha uma fotografia, que se restringe à
objetividade real restrita e particular do olhar de cada
um.
Na verdade, o fotógrafo trabalha o
sentido de suprir suas necessidades
como sensível. Quando tem
consciência justa dos compromissos
sociais a que está submetido,
preocupa-se muito pouco com a
reação favorável de futuras plateias.
Procura alcançar pessoas sintonizadas
numa mesma faixa de sensibilidade,
porque no fundo a fotografia é produto
de uma relação lúdica com a vida.
(PEREIRA,1987, p. 19)
Ainda que se queira estudar exclusivamente os
aspectos ideológicos do fenômeno fotográfico, não se
podem limitar as imagens, os textos (o título, o
catálogo, as críticas), também, podem ser vistos como
manifestações ideológicas, assim como as organizações
Aula 6 | Fotografia 178
do espaço (localização da galeria de arte, disposição
interna das obras exibidas) e as relações ou processos
observáveis da ação social (o comportamento do
público, a interação do grupo, suas atitudes em relação
a públicos diferentes). São todos esses processos
significantes que configuram o sentido ideológico da
fotografia.
A partir do que foi discorrido, é possível uma
afirmação a respeito da ideologia com relação a sua
prática, tomando por parte a relação entre o fotógrafo e
o espectador, condicionado sobre quatros fatores, a
seguir discriminados, conforme CANCLINI, 1987, p. 17:
A) A origem de classe que determina a
possibilidade econômica de acesso à prática fotográfica,
a um tipo de máquina e a particularidade cultural num
sistema de hábitos, de gostos;
B) A concepção perceptiva que gerou o
equipamento fotográfico;
C) Os códigos sociais de perspectiva e
legibilidade que formam o fotógrafo e o espectador;
D) A estrutura do campo cultural ou
socioeconômico em que o fotógrafo trabalha.
O campo artístico o levara a privilegiar o valor
estético, o campo comercial, os valores publicitários, o
campo jornalístico da comunicação. Ao reconhecer que
o ideológico é constituído pela ação combinada destes
quatro fatores e que se manifestam nos quatro campos
anteriormente mencionados (as imagens, os textos, a
organização do espaço e as relações sociais), temos um
modelo para o estudo dos processos ideológicos na
fotografia. Um modelo muito mais complexo que o
esquema do reflexo que, por contraste, evidencia a
simplificação de sua linha interpretativa.
Mas indagar a respeito desse condicionamento
ideológico cria a possibilidade de livrar das ideologias e
Aula 6 | Fotografia 179
transgredir lugares-comuns. Uma das possibilidades é a
modificação das relações sociais da produção
fotográfica, que possibilita contribuir para o
conhecimento social, oferecendo melhores condições de
compreensão contextual das mensagens. Poucas
linguagens artísticas apresentam semelhantes ao
público os meios de produção cultural. Outra
possibilidade, talvez, seria propagar seu uso e sua
experimentação. Talvez não tenha função histórica
mais importante que a de contribuir para a formação de
uma nova visão e socializá-la. Uma visão que acabe
com os estereótipos, com as maneiras reflexas de
apresentar o real que as ideologias dominantes
impõem.
LINGUAGEM VISUAL DA IMAGEM NA FOTOGRAFIA
A questão da forma da linguagem visual da
imagem em fotografia baseia-se no “ver para crer”, ao
mesmo tempo em que atesta a existência daquilo que
mostra. Porém, essa questão parte do princípio de
realidade fotográfica da imagem fotoquímica com o seu
referente (objeto) que vem desde o surgimento da
fotografia.
Para o melhor entendimento em relação a isso, é
preciso esclarecer alguns pontos. A princípio, parte-se
do pressuposto da existência de três tempos distintos
como nos coloca Dubois (1996, p. 26), que são a
fotografia como espelho do real, a fotografia como
transformação do real e a fotografia como traço de um
real.
A FOTOGRAFIA COMO ESPELHO DO REAL
Tanto a pintura como a fotografia se encontram
nesse ponto. Está ligada à “semelhança existente entre
a foto/imagem e seu referente/tema”. Esse discurso é
Aula 6 | Fotografia 180
percebido tornando a imagem de maneira
“automática”, “objetiva” e “natural” que reflete a época
do século XIX.
Outrora, eram homens que apanhavam um
punhado de terra colorida e com ela modelavam as
formas na parede das cavernas; hoje, alguns compram
suas tintas e desenham cartazes para tapumes, eles
faziam e fazem muitas outras coisas. A fotografia
também surge como essa atividade de imagem. Tanto
a fotografia como a arte conservam em mente o seu
significado em tempos e lugares diferentes.
É nesse século XIX em pleno Romantismo que
acontecem as reações dos artistas contra o domínio e
crescimento da indústria técnica na arte (DUBOIS,
1993, PP. 28). É tão forte a ideologia presente que
aparece junto à necessidade de assinalar diferenças,
denunciar as confusões, a cada prática, o seu campo
próprio: a Arte aqui (pintura), a Indústria ali (foto).
Baudelaire (apud, Dubois, 1993, PP. 29) coloca isso
claramente quando afirma que:
Estou convencido de que os progressos
mal aplicados da fotografia
contribuíram muito para o
empobrecimento do gênio artístico.
Na realidade, nos causa um choque em suas
colocações e lutamos contra a repulsa de sua tremenda
sinceridade.
É importante ressaltar ainda que Baudelaire, a
partir desse trecho, coloca a fotografia “como simples
instrumento de uma memória documental do real e a
arte como” pura criação imaginária. “(DUBOIS, 1993,
p. 29)”.
Diante de tantos discursos e correntes que
tiveram a respeito da prática da fotografia e da arte,
Aula 6 | Fotografia 181
talvez seja interessante ressaltar, mudando um pouco
essa linha, uma afirmação de Picasso, no livro O Ato
Fotográfico (DUBOIS, 1993):
Quando você vê tudo o que é possível
exprimir através da Fotografia,
descobre tudo o que não pode ficar por
mais tempo no horizonte da
representação pictural. Por que o
artista continuaria a tratar de sujeitos
que podem ser obtidos com tanta
precisão pela objetiva de um aparelho
de fotografia? Seria absurdo, não é? A
Fotografia chegou no momento certo
para “libertar a pintura” de qualquer
anedota, de qualquer literatura e até
do sujeito. Em todo caso, um certo
aspecto do sujeito hoje depende do
campo da fotografia.
(1999, p 31)
De fato, não tarda em descobrir um grande e
inegável encanto que a fotografia pode representar e
que, no entanto, a pintura não deixa de ser atraente,
mas não é possível considerá-la como infinitamente a
única representação da linguagem visual ou a imagem
em si.
Assim como Picasso, outra citação parece
prolongar esse tipo de discurso “libertador”:
Rematando o Barroco, a fotografia
libertou as Artes Plásticas de sua
obsessão da semelhança, pois a
Pintura esforçava-se, em vão, em nos
iludir, e essa ilusão bastava à Arte,
enquanto a Fotografia e o Cinema são
obsessão ao realismo (...) libertando
do complexo da semelhança, o Pintor
Moderno – cujo mito é hoje Picasso –
abandona-o ao povo que identifica a
partir de então, por um lado, à
Fotografia e, por outro, apenas à
Pintura que se aplica a isso.
(André Bazin apud, Dubois 1993)
É interessante perceber nesses dois discursos da
Fotografia, que busca a função documental, a
referência, o concreto, o conteúdo, enquanto a Pintura,
Aula 6 | Fotografia 182
o outro busca o formal, a arte, o imaginário.
Entretanto, gostos e padrões se dividem com uma
graciosidade e encanto que o tempo se encarrega de
descobrir em ambas um gosto intrínseco variável.
A FOTOGRAFIA COMO TRANSFORMAÇÃO DO REAL
Segundo Dubois, a ideia que o século XIX deixa
é da imagem fotográfica como da semelhança; já, no
século XX, vem insistir na ideia da transformação do
real pela foto, não descartando vestígios presentes do
século XIX, que, direta ou indiretamente, aparece. É
com essa atitude de denunciar essa faculdade da
imagem de se fazer cópia exata do real que nos coloca
a foto aqui, como um conjunto de códigos dotado de
um valor da própria representação. É importante
ressaltar que a fotografia não tem muito sucesso em
relação à restituição do real, embora composta por uma
paleta de cores que o pintor experimenta em expressar
fielmente a imagem, na fotografia, a certos detalhes
como meios-tons, sombras que mesmo na tentativa de
transmitir o real acaba ficando numa mera pretensão.
A FOTOGRAFIA COMO TRAÇO DE UM REAL
A questão do realismo da fotografia não poderia
ser abordada senão por essa visão, a fotografia como
traço do real. É exatamente aqui que a forma de
concepção da imagem fotográfica tem um valor
absoluto. Ela implica que a imagem é dotada de um
valor singular ou particular determinado por um
referencial: traço de um real. Portanto, a fotografia
começa a ganhar conexão de três vertentes: índice,
ícone e símbolo (DUBOIS, 1993, p. 62). Já na arte, o
esquematismo gráfico do real, muitas vezes, causa
certo protesto quando envolvido com a arte moderna,
onde o certo em desenhar coisas de um modo diferente
ao nosso olhar, modifica-se ou distorce, mostra
Aula 6 | Fotografia 183
insolência, agressividade e estupidez ao que é
fielmente percebido ao nosso olhar, e a reprodução do
mundo visível são, por certo, dignas de admiração.
Analisando separadamente estas vertentes,
coloca-se como índice porque é construtiva, através
desta construção, aparece como ícone e, finalmente,
adquire um sentido, ou seja, tornar-se símbolo.
... Todo mundo; ao falar de Fotografia,
dela fala como de uma outra pintura...
Estamos ainda na querela deformada
da imitação ou não da natureza, que
faz ou não faz com que a fotografia
seja uma arte, como na pintura, ou
bem ao contrário, de forma alguma
como a pintura etc. num vasto negócio
de enfoque e enquadramento (um
“depósito de saber e de técnica), no
pavor do momento inelutável, quando
o indicador recurvado e rijo vai se
apoiar no disparo ou lançar ao mesmo
tempo um relâmpago eletrônico (um"
depósito de saber e técnica”), na
brutalidade do golpe de polegar que
faz um filme progredir de uma foto a
outra, o que é bem sentido pelos
músculos da falange...”....” no que
pesa entre as mãos, mantido na altura
do olho, ou na barriga, ou com os
braços esticados; depósito do saber e
técnica, tiro cruzado... caso necessário
de tempo e de morte... a questão
decerto não é mais ”qual a questão
que nos é colocada por uma foto?” e
nem”o que um filosófo pode fazer com
uma foto?... mas em que se faz ?
(Denis Roche, apud Dubois p. 57
1978)
Essa citação leva a uma espécie de síntese
reflexiva a respeito dos fundamentos da linguagem
fotográfica, ou seja, a imagem e o fato que a define.
Não é apenas uma imagem produzida por um ato, é
verdadeiramente um “ato icônico”.
A imagem tem sua razão e seu processo de
transmissão visual, ou seja, constitui uma capacidade
Aula 6 | Fotografia 184
de informação do observador do seu próprio mundo,
cobre outros tempos e lugares, distantes e
desconhecidos. Assim, não é mais possível a imagem
como força do seu modo constitutivo, fora do que a faz
ser como é.
O real deixa de ser rígido,
preestabelecido para sempre e passa a
ser algo que eu possa olhar de vários
ângulos para encontrar a melhor forma
de compreendê-lo.
(BARBOSA, p. 29)
A arte e a fotografia se colocam dentro desta
categoria que, além de participar de formas novas, de
combinações de ideias, de representações e expressões
de diferentes contextos, introduz uma relação
específica com os signos de tempo, de espaço, do real,
do sujeito, integrando o ser e o fazer.
Partindo desse princípio, tem-se o início do nível
mais elementar de linguagem visual da imagem
fotográfica - o traço de um real. Esse princípio traz uma
clara definição e conceito da fotografia:
Impressão luminosa, fixado num
suporte bidimensional sensibilizado por
cristais de haleto de prata, de uma
variação de luz emitida ou refletida por
fontes situadas à distância num espaço
de três dimensões.
(DUBOIS,1993, p. 60).
Talvez se pode considerar essa como sendo uma
definição mínima da fotografia em relação com que dirá
Roland Barthes:
Dizem muitas vezes que foram os
pintores que inventaram a Fotografia
(transmitindo-lhe o enquadramento, a
perspectiva Albertina e a ótica da
câmera escura). Eu digo: não foram os
químicos. Pois a “noema” isso foi só foi
possível no dia em que uma
circunstância científica (a descoberta
da sensibilidade dos haletos de prata à
Aula 6 | Fotografia 185
luz) permitiu captar e imprimir
diretamente os raios luminosos
emitidos por um objeto iluminado de
forma divina. A foto é literalmente
uma imaginação do referente. De um
corpo real que estava ali, são partes
das radiações que vêm me tocar, eu
que estou aqui, ouço importa a
duração da transmissão; a foto do ser
desaparecido em me tocar como os
raios atrasados de uma estrela.
(Barthes apud Dubois,1999, p 60)
A partir desta definição, se tem claramente
explícito todo um conjunto de traços que a mesma
compõe. Tendo essa concepção, pode-se dizer que a
fotografia, antes de qualquer outra consideração
representativa, antes mesmo de ser uma imagem, é
uma ordem da impressão, do traço, da marca, do
registro. É a busca do equilíbrio e compreensão de
forma simples e realista.
Deve-se, sobretudo, observar que a fotografia
distingue-se fundamentalmente de sistemas de
representação como a pintura ou até mesmo o
desenho, bem como os propriamente linguísticos (dos
símbolos). Para a fotografia e também para obras de
artes, a composição e a apresentação destes sistemas
são classificadas em três elementos: o ícone, o índice e
símbolo.
De acordo com Philippe Dubois e segundo
discursos de Pierce, vem fazer as significações dos
mesmos:
...chamo de índice o signo que
significa seu objeto somente em
virtude do fato de que está realmente
em conexão com ele...
...os índices são signos cuja relação
com os seus objetos consistem numa
correspondência do fato...
...Ícone remete ao objeto que ele
denota simplesmente em virtude das
características que ele possui quer
esse objeto exista realmente, quer
não...
Aula 6 | Fotografia 186
...O símbolo é um signo que remete a
um objeto que ele denota em virtude
de uma lei, normalmente a uma
associação de ideias gerais...
A compreensão desses elementos é
particularmente importante quando percebemos a
relação de cada um, seja na arte, seja na fotografia
passa para informação da linguagem visual. Basta
entender que, quando se referir a um ícone, é a
representação do real ou imaginário em si. O índice traz
a existência do real do objeto, quer este pareça, quer
não com o objeto. E os símbolos são a compreensão da
palavra comum da língua. A comunicação visual,
através da construção das formas visuais, permite ao
visualizador compreensão e diversidade, dando maior
liberdade para opções compositivas possíveis.
Portanto, percebemos que não é possível pensar
a fotografia fora de sua inscrição referencial como o
próprio Pierce nos coloca:
As fotografias, em particular as
fotografias instantâneas, são muito
instrutivas porque sabemos que, sob
certos aspectos, elas se parecem
exatamente com os objetos que
representam.
(Pierce, apud Dubois, 1993 p. 65)
A partir dessa colocação, nos traz a
compreensão da originalidade da linguagem visual da
imagem fotográfica, levando em consideração que em
cada imagem entra todo um campo da referência, tanto
para sujeito – operador, quanto para o sujeito –
espectador.
Essa relação da imagem fotográfica não está
ligada somente ao aparelho fotográfico como sendo
indispensável, muito menos colocar em segundo plano
os químicos, mas toda uma estrutura de composição do
mundo exterior.
Aula 6 | Fotografia 187
A mensagem fotográfica ao ser
percebida, põe em funcionamento um
complexo mecanismo subjetivo que
reconstrói a imagem de acordo com o
valor emocional e intelectual que o
indivíduo lhe confere.
(BERNAL, 1987 p. 137)
É inevitável que essa preocupação da fotografia
se estenda à arte e, simultaneamente. compartilhe
desta interação, onde artista e fotógrafo buscam um
equilíbrio perfeito e uma relação exata para esta
composição da linguagem visual e da imagem. Tudo
que foi dito aqui recai sobre a imagem fotográfica em
manifestação com o seu tempo. Qualquer foto mostra o
passado por mais próximo ou distante que seja. A
distância temporal traz a fotografia como uma
representação sempre atrasada, adiada dessa imagem.
Na arte, é iminente o poder que o pintor tem de, a
qualquer momento, corrigir o que já está inscrito,
reorientar suas linhas de composição, acrescentar um
toque de cor, fazer variar, a cada pincelada, a vontade
de sua imaginação. Já a fotografia, mesmo com um
abismo, o fotógrafo conta com a focalização sobre a
cena, enquadramento, escolha da lente, filtro, abertura,
velocidade, asa do filme (depois da captura), revelação
da película, contraste da ampliação e, hoje,
manipulação digital. Depois de, no lampejo de um único
segundo, pressionado o disparador com o seu
indicador, uma vez marcada a película, a imagem é
capturada e registrada; o fotógrafo, assim como pintor,
abre espaço para mudanças. Cumpre-se reconhecer
que a complexidade de criação da imagem fotográfica é
muito maior do que se imagina.
A fotografia e a educação
Ao nos colocarmos diante de uma máquina
fotográfica, poderia nos referir segundo Matheus Brady,
fotógrafo americano que cobriu a Guerra Civil Norte-
Aula 6 | Fotografia 188
Americana, como “o olho da história”. Quando visualiza
imagens fotográficas, enxerga como testemunhas
oculares um contexto histórico, ou seja, passam a ser
janelas que se abrem para relatar um momento, a
ponto de contar a história através de imagens.
Sem dúvida que, ao longo da história da
fotografia, toda a representação nos possibilitou a
criação de uma marca histórica representacional, que
nos possibilitou a realidade do passado e a criação de
uma memória futura, onde podemos distinguir esta
história de seus períodos, estilos e épocas anteriores.
Tudo vem construir um catálogo que nos aproxima de
uma realidade do nosso passado, assim como na
própria História da Arte, essa mesma janela se abre e
encontramos um mundo de imagens, onde temos
conhecimentos da existência da Idade da Pedra,
sabemos que houve uma era Feudal e uma Revolução
Industrial, esses períodos sucessivos progridem em
direção ao nosso tempo, para além deste, mergulham
no futuro.
Todos esses registros vêm para nós como prova
do que se experimentou, num determinado tempo, e se
vive como memória ao longo dos tempos. Não podemos
separar a fotografia da nossa vida, ela é presente
desde o nosso nascimento até a nossa documentação
social.
A presença da câmara e a produção
subsequente da imagem constituem
um alimento indispensável para nutrir
o instinto e o desejo do ser humano de
ficar fixado para “a eternidade” num
retângulo de papel fotográfico.
(FABRIS,1987, p. 73)
Todo esse processo de produção, de circulação
ou até mesmo de consumo de imagens fotográficas faz
parte de nosso “habitat natural”, próprio da cultura
técnica que habilita a imagem como forma de
Aula 6 | Fotografia 189
identificação de construção de uma autoimagem do
próprio indivíduo ou até mesmo de uma nação.
FORMAS DIFERENCIADAS DE PERCEPÇÃO COM A
ARTE E A FOTOGRAFIA EM SALA DE AULA
Partindo da aproximação do senso comum,
descobre-se que ver, olhar e pensar são práticas
inseparáveis para o entendimento de qualquer imagem
visual. A prática da fotografia e a história da arte
trazem como fio condutor às múltiplas formas de
percepções que, além de uma memória, conseguem
traduzir valores, ideias, tradições e comportamentos
em diversas épocas históricas.
É possível assegurar uma prática metodologia
dentro da sala de aula através da fotografia, assim
como a história da arte, onde as imagens ainda se
perduram e atuam como elementos de ligação ao
conhecimento do processo ensino-aprendizagem. As
múltiplas formas de percepções são encontradas no
decorrer de toda a nossa história, criando instrumentos
de transmissão do processo de objeto de estudo da
arte-educação.
(...) A novidade e a força do olhar
renascentista é recriar a pintura dos
Antigos e fundar a ciência do Moderno
(...) o olhar racionalista clássico
examina, compara, esquadrinha,
mede, analisa, separa... mas nunca
exprime. (...) O olhar do marxismo e o
da psicanálise criticam o olhar do
ideológico do burguês e o olhar do
cego com sua ilusão de sujeito
ominisciente.
(CIAVATTA, 2002, p18)
É essa percepção diferenciada que molda o
olhar, a vida e a forma de compreender e expressar o
mundo que é reproduzido pela “máquina fotográfica”
que se faz proposta para a sala de aula. A busca da
compreensão da totalidade implícita, mas oculta na
Aula 6 | Fotografia 190
fotografia, supõe o esforço de articular as partes em
um todo e seus significados. Isso supõe investigação,
produção e uso da fotografia.
Na aprendizagem, a aquisição é um
dos ingredientes do processo. (...)
Pressupõe uma curiosidade que não
focaliza o acerto ou o erro, mas a
possibilidade da descoberta (...) o que
quer dizer imaginar e perceber dados
da experiência como vistos pela
primeira vez, com olhos de criança,
nas palavras de Matisse.
(BARBOSA, 2003, p. 177)
A importância da fotografia, como uma
linguagem dentro do processo ensino-aprendizado,
precisa ser levada para as escolas como forma de
expressão e compreensão pelo olhar, os modos de ver
e as relações que acompanham toda a vida humana,
como memória e expressão da cultura de um povo, de
uma época, onde a compreensão de novas
comunicações nos desafia a compreendê-la e nos leva
ao complexo do processo educativo fora da realidade de
muitos educandos e escolas.
Todas essas possibilidades são viáveis quando
nos deparamos com a proposta da educação pela arte,
buscando construir um indivíduo completo que interage
com um universo de manifestações múltiplas e
informações diversas.
Observando o universo da arte, descobrimos a
complexibilidade e o dinamismo que a linguagem visual
exerce dentro do processo conhecer, entender e saber
das artes visuais que, expandindo as fronteiras
eventuais de conteúdos sem significados, possibilita
encontro de parâmetros e direcionamentos do ato
fotográfico, que levam a novos questionamentos e
novas modificações entre o ensino e a aprendizagem.
Aula 6 | Fotografia 191
A arte é um produto da imaginação, da
criação, do pensamento do artista, de
sua capacidade de percepção e
formulação de realidades (...) A não
conformidade, tanto na forma quanto
no conteúdo da criação, permite
pensar em novas maneiras de organizar
e de inter-relacionar os elementos
significativos, atribuindo formas
inéditas de existência. Esse encanto
pelo novo permeia, também, novos
materiais, tecnologias, interações e
possibilidades de sentido. A arte como
área do conhecimento exige do
indivíduo a utilização da mente: os
sentidos, as emoções, a intuição. (...)
Assim sendo, durante o Ensino Médio,
o contato como os processos de novas
possibilidades de estudo, apreensão e
domínio favorecerão o
desenvolvimento dos processos
superiores e ampliará a percepção e
sensibilidade estética do educando
contribuindo para a formação e
preparação para a atuação e interação
consciente, junto à realidade que o
cerca.
(SECRETARIA, 2000, pp 94 e 95)
O alcance educativo dos processos ligados à
fotografia para a obtenção da imagem, que, também,
se estende à história da arte, não é somente o ensino
estético e histórico da linguagem de um específico
contexto histórico, nem tão pouco o entendimento do
ponto de vista da relação dos elementos visuais como
linha, forma, claro-escuro, cor, unidade, repetição,
equilíbrio, proporção, mas envolve o desenvolvimento
da capacidade de formular hipóteses, julgar, justificar e
contextualizar acerca das imagens e opor um olhar em
busca da compreensão dessa realidade, dentro de
centenas de janelas entreabertas, onde o universo da
fotografia e da arte nos apresenta um foco histórico
determinado.
A EDUCAÇÃO DO OLHAR NO CAMPO DA
FOTOGRAFIA E DA ARTE DENTRO DA SALA DE
AULA.
Aula 6 | Fotografia 192
A Arte e a Fotografia dentro da sala de aula,
como já mencionado anteriormente neste capítulo,
precisam trabalhar o ver e o olhar, principalmente
porque ao chegar dentro da sala de aula a maioria dos
educandos tem o “olhar” sem o “ver”. Alguns teóricos,
como Smith, 1997; Canizal, 1998; Zamboni, 1998,
ressaltam que começamos olhando para depois
chegarmos ao ato de ver. Assim, a busca da
compreensão é muito particular e própria do olhar de
cada um. Quando se coloca a forma de possibilidades
diferentes que supere os limites da percepção, o
alcance de um conhecimento e a construção de um
entendimento dar oportunidade para que esse aluno
passe do limiar do olhar para o universo do ver que se
realiza dentro do ato de percepção e de reflexão de um
determinado contexto.
A proposta da educação do olhar começa com a
busca do possibilitar, da construção das próprias
imagens e das reflexões sobre as criadas. A fotografia
como as outras linguagens visuais não se esgotam na
ação do fotógrafo e muito menos se encerram com o
ato fotográfico, mas abre espaço para articular dentro
de um processo ensino-aprendizado uma abordagem
triangular produzindo, apreciando e contextualizando. É
possível com a Abordagem Triangular defendida por
Ana mae Barbosa, e dentro de um plano de
possibilidades e compreensão das imagens fotográficas
lançarem mão para trabalhar com a fotografia sem
desconsiderar elementos visuais da imagem. A
interpretação e a percepção da imagem, além de
traduzirem significações técnicas, traduzem uma
mensagem visual. Por exemplo:
O ESPAÇO
Onde o educando pode identificar a distribuição
dos objetos, dos personagens, das linhas e das formas.
Aula 6 | Fotografia 193
Isso pode ser trabalhado com imagens fotográficas da
vivência do aluno como também serem criadas pelo
próprio aluno.
Fayga Ostrower coloca o espaço como:
Vivência básica para todos os seres
humanos, o mediador entre nossa
experiência subjetiva e a
conscientização dessa experiência.
(1989, p. 30)
A noção do espaço é parte de nossa experiência
sensível. Tudo que vivemos precisa assumir uma
imagem espacial para obter uma forma consciente.
Através das dimensões espaciais, podemos criar
diferentes representações do espaço e novas
modalidades de expressões espaciais. Para Umberto
Eco, o espaço é uma intuição pura, a forma como
organizamos e classificamos nossas experiências para
poder elaborá-las.
De qualquer forma, a manipulação espacial
dentro da fotografia se faz importante pela
interatividade e abertura de participação direta dos
alunos que participam de uma realidade tridimensional
e bidimensional.
OS PLANOS
São definidos de acordo com o posicionamento e
a distância entre a câmara e o objeto fotografado. A
utilização destes planos em uma foto abre espaço para
se trabalhar as proporções dos objetos retratados, ou
seja, a perspectiva que dá informação sobre a forma e
o tamanho dos objetos, a partir da posição da qual eles
são vistos, além de permitir detalhes descritivos dos
vários planos que determinada imagem fotográfica traz.
Outro ponto que pode ser levado para um assunto em
sala de aula são as linhas presentes dentro de um
plano na fotografia. As linhas convergentes são
Aula 6 | Fotografia 194
interpretadas pelo cérebro humano como indicadoras
de distância (SENAC, 2004, p. 80), na fotografia elas
são um dos modos mais eficazes de conferir
profundidade à imagem.
O ENQUADRAMENTO
Diz respeito ao posicionamento do objeto dentro
do limite de margens das imagens. Em relação ao
enquadramento, podem-se abordar diferentes
percepções do objeto centralizado, descentralizado,
oblíquo etc. Este componente permite a intenção do
fotógrafo em determinar o seu enquadramento. A
proposta para uma atividade em sala permite ao aluno
a descrição perceptiva detalhada de temas da
atualidade que trazem informações visuais detalhadas.
A COMPOSIÇÃO
As composições de vários elementos podem ser
trabalhadas como conteúdos significativos dentro da
sala de aula, entre eles, a imagem figurativa ou
abstrata, as formas, linhas, cores, tons, luzes, sombras
que até então eram trabalhadas apenas com imagens
de obras de artes, são tomadas por fotos e imagens
que o próprio educando traz ou de sua própria criação.
TEMPO E MOVIMENTO
A peculiar e, talvez, a principal característica da
fotografia é a paralisação do movimento. A fotografia é
a única imagem técnica que altera a percepção do
movimento no ato de sua produção. Diferente do
cinema, ela paralisa um momento escolhido do
contínuo tempo para ser imobilizado. Tempo e
movimento são tão importantes quanto a luz. Isso pode
ser constatado nas diversas imagens fotográficas que
fazem de seus registros a fixação de um momento
Aula 6 | Fotografia 195
histórico existente e atual. A Arte e a Fotografia dentro
da sala de aula se completam e caminham para uma
alfabetização visual perfeitamente aceita. Segundo os
PCNs, em sua introdução, coloca possível e aceito o uso
da máquina fotográfica para a produção de informações
visuais, na medida em que permite o registro de cenas,
ambientes e acontecimentos da vida cotidiana, ou
fenômenos ambientais para serem observados,
comparados, analisados e refletidos. Pode ser usada
para obter informações visuais sobre a arte popular,
produção e saúde, espaço urbano e rural, por meio da
comparação entre semelhanças, diferenças e
transformações. Além disso, as variações temáticas
levam a uma ampla e variável abordagem dentro do
contexto e realidade do educando, permitindo a
flexibilidade e a unidade da aprendizagem.
A relação da fotografia com a saúde
A relação da saúde com a fotografia, ainda, está
por ser compreendida. A fotografia e a saúde estão
simultaneamente ligadas a uma atitude real dentro de
um contexto bem como a cada olhar uma situação
diferente. No contexto atual, as fotografias que antes
ilustravam e enfeitavam o mundo sendo colecionadas
em álbuns, emolduradas em portasretratos, pregadas
nas paredes como quadros, expostas nos museus como
arte deixaram de ser vistas apenas como “fatias da
realidade” passando a ser misturadas e dissolvidas,
produzindo notáveis ramificações em diversos e novos
meios do conhecimento humano, onde o mais
importante não é o nunca visto, mas mostrar o
conhecido de forma verdadeira através da visão.
Ao longo da trajetória da fotografia, a criação de
uma marca histórica nos possibilitou a realidade do
passado e a criação de uma memória futura, onde
podemos distinguir esta história de seus períodos,
Aula 6 | Fotografia 196
estilos e épocas anteriores. No âmbito da saúde, isso
não foi diferente. As primeiras descrições de doenças
datam de 2000 anos antes da era cristã. Algumas eram
obras-primas literárias ou pictóricas, que permanecem
até hoje como referência para a atividade médica.
Como o juramento de Hipócrates ou as descrições da
peste e de vários outros males da época. Na fotografia,
sua virtualidade revela dimensões científicas, artísticas
e o entendimento de um fato histórico. A fotografia,
assim como outras linguagens, expressa a
compreensão pelo olhar, para a saúde se faz
fundamental a compreensão de sua prática e cura,
levando-se em consideração o olhar, o ver e o pensar
que é o fio condutor para essa análise.
Através da História, buscamos a compreensão
para essa relação entre fotografia e saúde, extraindo as
diversas formas de olhares. Começaremos pelo olhar
renascentista, onde Descartes recortou que o mesmo
apenas analisa a forma que está a sua frente. Já o
olhar racionalista examina, compara, esquadrilha,
mede, analisa, separa... mas nunca exprime. O olhar
do Marxismo e o da psicanálise criticam o olhar do ego
e o ideológico com sua ilusão de sujeito onisciente. A
fotografia faz esse elo com a saúde, com o olhar da
mente e do corpo, esse olhar que molda a vida na
busca do equilíbrio, evocando um olhar que orienta e
age. Essas relações de olhares colocados no cotidiano
expressam a compreensão dos modos de ser, das
relações manifestadas em emoções, sentimentos e
pensamentos.
As imagens fotográficas cumprem um papel
educativo e de propaganda. Sua circulação, produção e
consumo buscam a possibilidade de transformação pela
promoção da saúde. Podemos constatar isso nas
imagens veiculadas nas embalagens de cigarros que
fazem parte das estratégias no combate ao tabagismo,
Aula 6 | Fotografia 197
tais imagens trazem o discurso oficial de especialistas e
constroem narrativas, entendidas como verdades,
alicerçadas no conhecimento científico. Além disso, a
fotografia é um dos mais importantes protocolos
aplicados às diversas outras áreas da saúde, é a
utilização desse recurso que o profissional de
odontologia evidencia a qualidade de adaptação de uma
prótese dentária, por exemplo, o ajuste de uma
restauração, o antes e depois de um procedimento
estético. O exercício da fotografia induz as pessoas a
valorizarem e compreenderem melhor a imagem
através do olhar. Um exemplo disso está no âmbito da
saúde onde o corpo pode ser revelado, lido e tornar-se
legível, levando o profissional da área a criar atalhos
para solucionar problemas com mais urgência.
Apesar do seu inegável caráter indicial, a
imagem fotográfica é resultado de uma escolha visual e
narrativa que, no caso, cria uma história prática
construída sobre memórias. Memórias que com o seu
tempo próprio, também, constroem a história. A
história da imagem interna de um ser vivo é
relativamente recente. Na noite do dia 8 de novembro
de 1895, o físico alemão William Conrad Roentgen, que
trabalhava com tubos de Crookes em um pequeno
laboratório na cidade de Würzburg, descobriu o que
denominou como raios X. Observou que estes raios,
diferentes de outros conhecidos até então, como a luz,
por exemplo, eram capazes de atravessar objetos de
densidade menor como a madeira, porém não metais.
No início de dezembro, ao expor um cachimbo de
chumbo a estes raios, enquanto o segurava, verificou,
assombrado, após a revelação da chapa fotográfica, os
ossos dos seus dedos segurando o cachimbo. Com o
intuito de comprovar esta descoberta, convidou alguns
dias depois sua esposa, Bertha Roentgen, e a fez
colocar a mão esquerda em cima de uma chapa
fotográfica, ligou o equipamento e o deixou agir por
Aula 6 | Fotografia 198
cerca de seis minutos. Após a revelação, comprovou a
propriedade dos raios X penetrarem os tecidos moles e
serem retidos pelo mais denso, como os ossos e o anel
de ouro que a esposa portava. Esta foi a primeira
radiografia, a primeira imagem de uma parte interna do
corpo realizada sem processo cirúrgico ou dissecação.
Nestes poucos mais de 100 anos que nos separam
desta descoberta, o progresso da medicina para
promoção da saúde tem sido vertiginoso, mas sem este
passo inicial da descoberta dos raios X dificilmente
chegaríamos onde estamos. Hoje, contamos com um
arsenal de possibilidades de imagens que dão apoio ao
diagnóstico anatômico, funcional, prognóstico e decisão
terapêutica.
A interpretação e a análise final da relação da
fotografia com a saúde se inserem num processo de
comunicação a partir de um determinado assunto,
evidenciando a dualidade entre o representado e a
representação da imagem, o que ela é e o que ela
significa, ampliando a visão e o olhar para revelar
segredos e soluções futuras.
EXERCÍCIO 1
Julgue os itens abaixo em C para certo, em E para
errado e, de acordo com o texto, a relação da
fotografia com a saúde. Em seguida, marque a
sequência correta:
(sss) As primeiras descrições de doenças datam de
2000 anos antes da era cristã;
(sss) No âmbito da saúde onde o corpo pode ser
revelado, a fotografia só atrapalha o profissional, pois
não dá chance para solucionar problemas com mais
urgências;
Aula 6 | Fotografia 199
(sss) As imagens fotográficas cumprem um papel
educativo e de propaganda, sendo que dentro da saúde
elas não contemplam esse objetivo;
(sss) Entre os diversos olhares citados no texto, podemos
destacar o de Freud onde coloca que o olhar
renascentista apenas analisa a forma que está a sua
frente;
(sss) As imagens fotográficas dentro da área da saúde
só veio criar uma série de possibilidades dão apoio ao
diagnóstico anatômico, funcional, prognóstico e decisão
terapêutica.
( A ) C;E;E;C;E;
( B ) C;E;E;E;C;
( C ) E;C;E;C;E;
( D ) E;C;C;C;E;
( E ) Nenhuma das alternativas.
EXERCÍCIO 2
O primeiro físico alemão a dar início à história da
imagem interna do ser vivo criando o que chamamos
até hoje de RX foi:
( A ) Bertha Roentgen;
( B ) Hipócrates;
( C ) william Conrad Roentgen;
( D ) Freud;
( E ) nenhuma das alternativas.
Aula 6 | Fotografia 200
EXERCÍCIO 3
O texto traz a seguinte afirmação:
“No contexto atual, as fotografias que antes ilustravam
e enfeitavam o mundo sendo colecionadas em álbuns,
emolduradas em porta-retratos, pregadas nas paredes
como quadros, expostas nos museus como arte
deixaram de serem vistas apenas como “fatias da
realidade”, passando a ser misturadas e dissolvidas,
produzindo notáveis ramificações em diversos e novos
meios do conhecimento humano.”
De acordo com essa afirmação, comente com suas
palavras, concordando e/ou discordando.
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EXERCÍCIO 4
No texto lido nos coloca a fotografia e a saúde em
constante relação principalmente no que diz respeito ao
olhar com suas palavras, faça também essa relação
voltada para o cotidiano.
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____________________________________________
____________________________________________
Aula 6 | Fotografia 201
RESUMO
Vimos até agora:
Esta aula demonstrou uma abordagem acerca
da relação da fotografia e a arte,
considerando que a fotografia e a arte são
uma possibilidade nova e atual dentro do
saber ver e perceber;
Foi dado um enfoque à exposição histórica ao
princípio do ver do olhar desde os primórdios
até os dias atuais;
Destacamos os caminhos da origem da arte e
da fotografia;
Também foi evidenciado o entendimento da
prática de um olhar distinto e diferenciado
que se constrói dentro da fotografia e da arte,
importando com isso que cada um tem um
processo de criação singular;
Por fim, ressaltamos que a união da arte à
fotografia e vice-versa surge como uma
contribuição ímpar na construção de uma
aprendizagem significativa e coerente. Sem
contar o toque final.
GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS: AULA 1 – 1A; 2(V,V,V,F,V). AULA 2 – 1D; 2A. AULA 3 – 1A; 2D. AULA 4 – 1E; 2E. AULA 5 – 1A; 2E. AULA 6 – 1B; 2C.
AV1 – Estudo Dirigido da Disciplina
CURSO: Linguagens Expressivas e História da Arte
DISCIPLINA: Linguagens Expressivas
ALUNO(A): MATRÍCULA:
NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________
QUESTÃO 1: Explique com suas palavras as 7 fases da história do corpo.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
QUESTÃO 2: “A música é tão antiga como a humanidade”. Justifique essa
afirmação, criando um pequeno texto que demonstre sua opinião a respeito desta
temática em sua vida.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
QUESTÃO 3: Escolha duas propostas dos parâmetros curriculares nacionais (PCNS)
e explique como você percebe sua importância dentro da dança como manifestação
coletiva.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
QUESTÃO 4: Você entende o teatro como expressão e comunicação dentro dos
PCNS? Justifique sua resposta.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
ATENÇÃO:
Na realização das avaliações (AV1 e AV2), procure desenvolver uma
argumentação com suas próprias palavras.
Observe que é importante você realizar uma pesquisa aprofundada para atender
aos objetivos propostos consultando diferentes autores. No entanto, é
fundamental diferenciar o que é texto próprio de textos que possuem
outras autorias, inserindo corretamente as referências bibliográficas
(citações), quando este for o caso.
Vale lembrar que essa regra serve inclusive para os nossos módulos, utilizados
com freqüência para as respostas das avaliações.
Em caso de dúvidas, consulte o material sobre como realizar as citações diretas
e indiretas ou entre em contato com o tutor de sua disciplina.
AS AVALIAÇÕES QUE DESCONSIDERAREM ESTE PROCEDIMENTO ESTARÃO
SEVERAMENTE COMPROMETIDAS.
AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento
CURSO: Linguagens Expressivas e História da Arte
DISCIPLINA: linguagens expressivas
ALUNO(A): MATRÍCULA:
NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________
ATIVIDADE SUGERIDA: Apresentar, em torno de 20 linhas, uma síntese da
mensagem dos filmes principalmente sob o olhar da importância da dança em si
enquanto reestabilizadora das emoções e promovedora de relações. Essas questões
são presentes nos filmes e relevantes de serem discutidos tanto nas questões
educacionais como terapêuticas.
INSTRUÇÕES: Analise os filmes apresentados abaixo e elabore um fichamento.
Atenção: A análise deverá ser sua, portanto o texto deverá ser feito com suas
palavras. Texto retirado de internet não será aceito cabendo ao professor lançar
nota zero.
REFERÊNCIA DO FILME:
Vem dançar
Um dançarino profissional passa a dar aulas em
uma escola pública, criando com seus alunos um
novo estilo de dança. Pierre Dulaine (Antonio
Banderas) é um dançarino de salão profissional,
que se torna voluntário para dar aulas de dança
em uma escola pública de Nova York. Pierre tenta
apresentar seus métodos clássicos, mas logo
enfrenta resistência dos alunos, mais interessados
em hip hop. É quando deste confronto nasce um
novo estilo de dança, mesclando os dois lados e
tendo Pirre como mentor. Dança comigo?
Richard Gere interpreta John Clark, um homem
com um emprego maravilhoso, uma esposa
charmosa (Susan Sarandon) e uma família
amável, mas que sente algo lhe faltar a cada dia.
Toda noite em sua volta do trabalho, John vê uma
linda mulher (Jennifer Lopes) com uma expressão
perdida através da janela de um estúdio de
dança. Numa noite, John desce do trem, e
encantado com a moça impulsivamente se
matricula para aulas de dança, na esperança de
encontrá-la. Ele prova não ter muita afinidade
com a coisa, mas apesar de tudo, se apaixona
pela dança. John tem que fazer algo para
continuar o seu sonho e realizar aquilo que ele
realmente busca.
NOME DO FILME ESCOLHIDO:
ANÁLISE DO FILME (com suas palavras, mínimo 20 linhas):
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