O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
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VERA LÚCIA BERTI
PRODUÇÃO DIDÁTICO–PEDAGÓGICA
O GAUCHE: NAS FEIÇÕES QUIXOTESCAS E NOS PERSONAGENS DO CONTO
O ALIENISTA, DE MACHADO DE ASSIS
Caderno Pedagógico com o tema: a análise de personagens da
Literatura através da emotização de imagens , produzido como
parte integrante dos trabalhos desenvolvidos no PDE – Programa de
Desenvolvimento Educacional, da Secretaria de Estado da Educação
do Paraná, em convênio com a UNIOESTE – Universidade do Oeste
do Paraná, biênio 2009/2010.
Orientadora: Profª Drª Roselene de Fátima Coito
MARECHAL CÂNDIDO RONDON
2010
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
ÁREA DE LÍNGUA PORTUGUESA
VERA LÚCIA BERTI
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA:
CADERNO PEDAGÓGICO
MARECHAL CÂNDIDO RONDON
2010
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................ 4
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................................................... 6
APRESENTAÇÃO DAS ATIVIDADES............................................................................................ 13
O tempo e a organização das oficinas........................................................................................ 16
Oficinas literárias ............................................................................................................................ 16
OOffiicciinnaa 11 -- UUmm ddiizzeerr qquuee aannuullaa ......................................................................................................... 19
Oficina 2 - Um dizer que distorce..................................................................................................... 23
OOffiicciinnaa 33 –– UUmm ddiizzeerr qquuee rreevveellaa ....................................................................................................... 26
OOffiicciinnaa 44 -- Um dizer que enriquece ................................................................................................. 29
OOffiicciinnaa 55 –– UUmm ddiizzeerr qquuee aapprriissiioonnaa ................................................................................................ 32
Oficina 6 - Ler e pensar: ver melhor ................................................................................................ 37
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 46
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APRESENTAÇÃO
Professora e professor,
Atitudes como gostar de ler e interessar-se pela leitura e pelos livros são
construídas. Para alguns, no espaço familiar ou em outras esferas de convivência
em que a escrita circula; para outros, o contato com a leitura e os livros só se dará
na escola. Com isso não resta dúvidas de que é na escola que este gosto deve e
pode ser incentivado e formado. Para tanto, é importante que o aluno perceba a
leitura como um ato necessário, que depois pode passar a ser prazeroso,
dependendo das estratégias utilizadas para tal ato. Neste sentido, a escola passa a
ser um espaço de interação, no qual se deva ler e discutir diversos gêneros textuais,
uma vez que um leitor crítico, ativo e contemporâneo está rodeado de gêneros
discursivos múltiplos. E, sem dúvida, o gênero literário pode alargar a sensibilidade
estética, aguçando a capacidade de análise crítica da realidade, para criar relações
efetivas e afetivas com os conteúdos trabalhados.
Neste sentido, este caderno pedagógico consiste num material de apoio
didático-pedagógico aos professores de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino
Médio da rede pública estadual de ensino. As oficinas literárias aqui propostas têm o
objetivo de estimular práticas que, através dos conceitos da Emotologia, contribuam
para o desenvolvimento de leitores que se apropriem da leitura literária não apenas
como obrigação, mas como desafio ao prazer.
A elaboração desse material se traduz em uma importante ação de
implementação, com subsídios teóricos e metodológicos para o desenvolvimento de
práticas educacionais e, para que resultem de fato no redimensionamento da prática
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pedagógica, será fundamental a leitura da fundamentação teórica dos temas
abordados. Afinal não podemos abdicar do papel histórico que nos cabe como
sujeitos/professores, de nos formarmos como leitores para interferirmos criticamente
na formação de outros leitores.
As atividades propostas farão parte da implementação do Projeto de
Intervenção Pedagógica na Escola, uma das etapas propostas pelo PDE, e, aqui
com o intuito de servir como um dos instrumentos na complexa tarefa de ensinar a
ler. Através de atividades variadas e lúdicas, envolvendo diferentes gêneros da
esfera literária, busca-se mostrar que a literatura, quando bem trabalhada, é capaz
de promover a autorrealização e o desabrochar das potencialidades humanas.
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para justificar um Projeto de leitura, é preciso começar pelas obviedades:
apenas lendo é que se aprende a ler e a gostar de ler; é lendo que se aprende a ter
satisfação com a leitura; a ter opiniões de leitura e a julgar valores estéticos. E isso
se aprende dentro e fora da escola. Assim não basta dizer que a única saída para o
desenvolvimento do ser humano é a educação, pois o que está em jogo é definir o
tipo de educação, ou melhor, como e que condições iremos criar para que as
pessoas se desenvolvam.
Em termos educacionais, a realidade brasileira é preocupante.
Levantamento do Ministério da Educação revela que 20% dos brasileiros entre 15 e
19 anos são analfabetos, o que representa 12% da população brasileira. Segundo
relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
(Unesco), o Brasil tem o sétimo maior contingente de analfabetos do planeta1. Estes,
no entanto, estão fora da escola.
Como explicar então os últimos resultados de avaliações da competência de
leitura dos alunos brasileiros? Tanto as avaliações nacionais e internacionais
realizadas pelo MEC (SAEB), quanto às internacionais como o PISA2, têm apontado
para as dificuldades que os alunos do Ensino Fundamental e Médio apresentam em
relação à leitura e à interpretação de textos de diversas naturezas.
Esses resultados trazem indicadores de um contexto educacional que tem
sinalizado fortemente para a necessidade de mobilização de vários setores da
sociedade. É preciso reverter um quadro em que a formação escolar do jovem
brasileiro ainda resulta num indivíduo sem autonomia de leitura suficiente para dar
conta das necessidades do mundo atual – exigências de sociedades letradas para o
exercício da cidadania.
1 Dados da Revista Mente & Cérebro. Ano XVI, nº 193. p..53.
2 Programa Internacional de Avaliação de Estudante, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômicos, testa jovens de 15 anos em 40 países, incluindo países desenvolvidos como Estados Unidos, Suíça
e Inglaterra e países em desenvolvimento como Brasil, México e Indonésia.
www.inep.gov.br/internacional/pisa
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Ao buscar no grego o pleno sentido de LER – como sendo LEGEI – temos
colher, recolher, juntar que no latim transformou-se em LEGO, LEGIS, LEGERE –
juntar horizontalmente as coisas com o olhar. Entretanto, os latinos também usavam
INTERPRETARE para ler, mas com um significado mais profundo, o do ler
verticalmente, sair de um plano para outro, de forma transcendente. Nesse sentido,
a leitura ultrapassa o passar de olhos por algo, vai além do visualizar, aventurando-
se no desconhecido para uma plena compreensão do sentido das coisas.
Se a escritura configura como um meio transmissor de informação, a leitura
se configura como um meio de aquisição do que se passa ao redor do homem. A
leitura é, portanto, um ato social, e como tal, uma questão pública.
Nas palavras de Araújo (2000, p.9), a leitura deve ser usada “como um
instrumento de transformação dos indivíduos na perseguição de uma causa comum
a todos: a felicidade inculpada das pessoas, o pleno prazer de todos que fazem
parte da nossa sociedade”.
Poderíamos aqui listar vários pensadores e suas concepções a respeito da
importância da leitura. Em todos encontraríamos razões de sobra para defendermos
tal atividade humana como essencial. Mas há algo que não poderíamos deixar de
mencionar: é ponto aceito sem contestação que a leitura do texto escrito constitui
uma das conquistas da humanidade. Pela leitura, o ser humano não só adquire o
conhecimento, como pode transformá-lo em um processo de aperfeiçoamento
contínuo. A aprendizagem da leitura possibilita a emancipação da criança e a
assimilação dos valores da sociedade.
Conta Lajolo (1982, p.120), que quando o homem descobriu a linguagem,
tudo se modificou porque o homem descobriu a sua capacidade de nomear as
coisas. E foi assim que completou a grande transformação do homem, pois “o
homem não era mais um entre outros seres, mas o ser capaz de simbolizar todos os
outros.” Daí a necessidade de perpetuar suas idéias através dos desenhos em
cavernas. “Bichos, plantas, rios e montanhas receberam nomes. Foram reproduzidos
em desenhos, foram simbolizados por sons e sinais gráficos”. O homem descobrira a
escrita, enfim.
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Descobrir um sentido/significado para acontecimentos, eis a força que
constantemente impulsiona o homem em busca de solucionar suas inquietações e,
por conseguinte, alcançar a sua felicidade.
Como vimos em Lajolo, o ato de ler sempre foi e sempre será uma prática
social que envolve atitudes, gestos e habilidades que são mobilizados pelo leitor,
tanto no ato da leitura propriamente dito, como no que antecede e no que decorre
dela. Depois que o leitor realiza a leitura, os textos que leu vão determinar suas
escolhas futuras servindo de contraponto a outras leituras.
De fato, neste início de século, avanços tecnológicos surpreendentes,
acontecimentos inusitados – e até assustadores -, a convivência num mesmo tempo
de manifestações culturais dos mais diversos gêneros e naturezas, onde a
informação corre frenética, compete à escola a difícil tarefa de, em meio às leituras
rápidas e até superficiais dos meios de comunicação de massa, seduzir o jovem à
leitura literária. Nas palavras de Antônio Cândido “a literatura deve ser ensinada
porque atua como organizadora da mente e refinadora da sensibilidade, como oferta
de valores num mundo onde eles se apresentam flutuantes.” (PERRONE-MOISÉS,
200, p. 351). Um bom livro é capaz de nos levar a ver que mais importante que o
pensar imediatista e casual oferecido pela facilidade dos avanços tecnológicos, é
refletir sobre a nossa essencialidade, sobre as razões que nos aproximam como
seres humanos de outros seres humanos.
As Diretrizes Curriculares, que fundamentam nossa prática pedagógica,
propõem que se pense o ensino da Literatura a partir dos pressupostos teóricos da
Estética da Recepção. Com raízes em autores como Sartre, o enfoque dado ao leitor
e à sua interpretação dos textos passou a ser alvo de estudos, ou seja, o texto
literário só se efetiva de verdade quando é recriado pelo ato da leitura. Para isso,
além de compreender e interpretar o que está escrito, o leitor precisa posicionar-se
diante do que lhe é apresentado. Em outras palavras, ler e compreender plenamente
supõe o processo de interpretação que é dialógico (diálogo) por excelência. Para se
atingir essa dialogicidade, no processo de interpretação e construção, são
necessários sujeitos com uma postura de desvendar não apenas o que está no nível
de mera decodificação, mas ir além e descobrir o que está implícito no texto ou
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implícito nas relações que o texto permite com outros textos (a intertextualidade), e
com outros sujeitos.
Para isso o leitor deverá exercitar sua capacidade de estabelecer relações –
um dos movimentos mais importantes no processo de apropriação do conhecimento.
E é esta a contribuição mais significativa da educação: ajudar o jovem a ‘ver’ e
compreender seu tempo, a se apropriar do conhecimento de forma a usá-lo para
refletir sobre temas que representam as buscas, angústias e necessidades
constitutivas da essência humana.
Quanto tempo leva para a formação desse leitor? Quais seriam os
procedimentos metodológicos adequados? Como capacitar os professores para
esse desafio? Essas são questões que perpassam o universo educacional brasileiro,
tendo em vista que ainda falta muito para nos considerarmos um país de leitores de
literatura.
Ter acesso a livros é, sem dúvida, um primeiro passo. Entretanto, também
não se tem dúvidas quanto ao fato de a posse do livro, por si só, não garantir
plenamente o desenvolvimento do leitor proficiente. Vários fatores devem ser
levados em conta neste desenvolvimento.
Formar leitores críticos é uma tarefa possível. No entanto, sabemos que algo
precisa ser feito nesse sentido. Algo que, conforme propôs Paulo Freire em seu livro
Pedagogia da Autonomia (1999), realmente possa auxiliar na construção de uma
pedagogia nova, mais tolerante, que transforme o ensino numa prática educativa,
crítica e de libertação. Alicerçados em competência (a formação do docente aqui é
uma questão relevante, que não pode ser mais protelada), criatividade, pesquisa,
generosidade, doação, respeito. Trata-se, portanto, de uma pedagogia da
autonomia. Autonomia fundamentada na formação do docente.
Segundo Vigotsky, no seu estudo sobre a relação entre desenvolvimento e
aprendizagem, a imitação e o modelo adquirem papel relevante. Trata-se da (ZDP),
Zona de Desenvolvimento Proximal, assim definida
...a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VIGOTSKY, 1984, p.97).
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Nessa perspectiva, o aluno é capaz de fazer mais com o auxílio de uma
pessoa (professores, colegas) do que faria sozinho, por isso, se o gosto pela leitura
se aprende, pode ser ensinado. A aprendizagem comporta uma face não
espontânea e pressupõe intervenção intencional e construtiva. Assim, o professor
tem um importante papel a desempenhar no desenvolvimento de seus
alunos/leitores.
Digamos que seu papel é o de articulador de princípios e práticas. E isso
significa que a leitura da literatura precisa fazer parte da vida do professor.
Significa também que é preciso trazer a leitura para a sala de aula, para
“despertar” o sabor de ler; que é preciso propiciar condições para o prazer como
satisfação de necessidades, para a consciência do aspecto social da leitura, para a
argumentação fundamentada e para o julgamento estético, como tomada de
consciência do sujeito leitor.
As perspectivas por um aprendizado mais significativo e para a formação do
leitor que queremos estão na práxis do professor, o responsável em romper com o
estabelecido, propor a busca e apontar o avanço, mesmo sabendo que a formação e
a transformação de um leitor não se dão num passe de mágica. Com a escola
concorrem todos os estímulos e desestímulos com os quais convivem professores e
alunos nas horas restantes do dia, não esquecendo também de que a mediação
pedagógica nem sempre é harmoniosa e de caráter homogêneo.
Para isso, é preciso problematizar o conhecido, transformando-o num
desafio que propicie movimento. E é aqui que a Emotologia aparece como
alternativa para o desenvolvimento da capacidade de leitura e, consequentemente,
para a compreensão de todas as disciplinas. A aplicação da Emotologia, no ensino
da leitura, fornecerá elementos que conduzem à decodificação, não só do mundo
aparente, mas principalmente, do “mundo oculto”, constituído pelas analogias
(semelhanças e relações), que é um dos caminhos para se expandirem a
inteligência e a criatividade.
De fato, a possibilidade de se trabalhar com os conceitos da Emotologia na
formação de leitores e de, com isso, estimular uma série de processos internos
ainda não amadurecidos nos alunos, fornece ao professor um instrumento
significativo na orientação de seu trabalho.
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Há informação em tudo; tudo fala àquele que mantém seus sentidos alerta.
Compete à didática (do grego didaktiké – a arte do ensino -) fornecer os
conhecimentos de como as pessoas formam significados, principalmente recorrendo
a estudos de outras matérias, como a Emotologia, a verdadeira ciência do ser
humano. É preciso tornar a aprendizagem significativa, isto é, o que se expõe ao
aluno, para que ele aprenda, deve tocar-lhe os significados. Desse modo, podemos
criar condições para que a inteligência e a criatividade se expandam.
Em seu artigo sobre O Segredo da Mobilização de Capacidades, o Professor
Luiz Machado afirma que,
o ser humano nasce com a faculdade de ser inteligente, mas não nasce inteligente. As pessoas nascem com a faculdade de realizarem coisas, quaisquer coisas, das mais simples as mais grandiosas, mas é preciso transformar a faculdade em capacidade. A faculdade mais a capacidade latente formam a potencialidade, o potencial. A palavra “capacidade” vem do latim capax (pronuncia-se cápacs), de capere (cápere), “apanhar”, “entender”, e indica a aptidão própria para realizar alguma coisa. (artigo publicado no site www.cidadedocerebro.com.br/ acesso em 23/03/10)
De acordo com o mesmo autor, para acessar o potencial normalmente não
usado, precisamos abrir o canal de comunicação com o SAPE (Sistema de
Autopreservação e Preservação da Espécie), o gerador e reciclador da energia de
adaptação, que podemos chamar de energia emocional , considerando a palavra
emoção em seu sentido de energia que impulsiona a pessoa para a ação em busca
do resultado. “O segredo da mobilização de capacidades é estabelecer objetivos e
metas que mexam com a emoção-energia, o que chamamos de emotização.” (artigo
publicado no site www.cidadedocerebro.com.br/ acesso em 23/03/2010)
Para contribuir com essa construção, surge a Emotologia, conforme afirma
o Professor Luiz Machado:
A emotologia é um corpo de conhecimentos sistematizados com base em elementos das neurociências e da física quântica, que, adquiridos via observação, identificação, descrição, investigação experimental, pesquisa e explicação de determinadas categorias de fenômenos e fatos, são metódicos e racionalmente formulados para promover o desenvolvimento das potencialidades humanas como elemento de auto-realização (MACHADO, 2007, p.16).
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Segundo o mesmo autor, a palavra EMOTOLOGIA é um hibridismo, formada
pelos elementos latinos e (x), “fora”, “para fora” e MOTIO “ação de mover”, e pelo
pospositivo grego LOGIA, de LOGOS, “tratado”, “estudo de”, mais o sufixo –ia, que
forma nomes de ciências. A maneira da formação dessa palavra é a mesma de
SOCIOLOGIA, do latim SOCIUS, “companheiro” e LOGOS, criado por Augusto
Comte para indicar o estudo científico da organização e do funcionamento das
sociedades humanas e das leis fundamentais que regem as relações sociais, as
instituições.
Junto com a EMOTOLOGIA, surge a EMOTOPEDIA, palavra derivada de
emotologia, com o elemento grego PAIDÉIA, “educação”, para indicar a aplicação
dos conhecimentos da emotologia no processo ensino e aprendizagem.
O que distingue a aprendizagem emotizada de outros métodos de ensino é
que ela, conforme afirma o professor Luiz Machado,
...é o ensino/aprendizagem compatível com o cérebro, pois baseia-se nos mais recentes conhecimentos que possuímos sobre o funcionamento deste órgão, principalmente das estruturas que controlam as emoções: o sistema límbico que, juntamente com o sistema glandular endócrino forma o Sistema de Autopreservação e Preservação da Espécie, (o SAPE), mais responsável pela inteligência que o próprio intelecto, ou seja, o conjunto de operações com as quais atuamos de modo consciente: cognição, memória, produção convergente, produção divergente e avaliação, que constituem o intelecto básico(MACHADO, 2007, p.80).
Hoje sabemos que é possível preparar um ambiente para a emotização. As
pessoas são movidas por respostas a estímulos que modificam suas concepções. É
preciso ampliar o nível de compreensão dos alunos e tocá-los para que eles
realmente se interessem pelas ações propostas.
Envolver os alunos na leitura emotizada de obras literárias de estilos, de
épocas, de autores diferentes, poderá motivá-los pelo prazer da descoberta e pelo
redimensionamento da leitura literária Apropriar-se do texto literário em sua
magnitude, lê-lo, estudá-lo é o grande diferencial no mundo das leituras velozes e é
por isso que um projeto que busca fazer um percurso literário no tempo aproximando
o texto de Cervantes do de Machado de Assis, do poeta Drummond, da música, da
filosofia de Platão, permitirá que se oponha ao imediatismo dos anseios dos jovens a
atemporalidade de anseios e angústias presentes na recorrência de temas: o amor,
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a loucura, a angústia do ser humano diante do tempo vivido e marcado pelas
pressões sociais que sufocam os sonhos de tantos e um aparente revisar de
situações que parecem se repetir ao longo de séculos.
Ao colocarmos em prática os conhecimentos da Emotologia, podemos criar
um ambiente externo e interno que leve os alunos à aprendizagem.
Em O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, a raposa diz ao
principezinho:
... Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos. (1996, p.69).
A emotização pode, neste caso, ser comparada a “preparar o coração”. São
os ritos.
Num ambiente emotizado, aprendemos melhor e mais rápido.
APRESENTAÇÃO DAS ATIVIDADES
Várias são as maneiras de nos aproximarmos da literatura, embora todos os
enfoques dados a esse aprendizado sejam importantes, procuraremos mostrar que a
maneira mais lúdica, gostosa e descompromissada de descobrir a literatura é
através dos personagens. Não por outro motivo, os grandes tipos saídos da
imaginação dos escritores sempre foram a interface mais popular entre o universo
dos livros e o leitor.
A proposta deste projeto parte da crença de que a formação do jovem leitor
é uma sucessão de experiências nas quais o leitor percebe a apropriação paulatina
da palavra efetivamente carregada de sentidos.
As atividades propostas estão desenvolvidas em oficinas e têm por objetivo
favorecer, através dos princípios da emotologia, a análise de dois grandes
personagens da literatura: Dom Quixote (El ingenioso hidalgo da obra Don Quixote
de La Mancha) de Miguel de Cervantes I Saavedra, e Simão Bacamarte, do conto O
Alienista, de Machado de Assis.
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Os melhores personagens da literatura estão entre aqueles que, embora
únicos, captam algo do jeito, da psicologia, da alma, enfim, do perfil de cada leitor.
Há um pouco de Quixote, de Bacamarte em cada um de nós. O que eles têm em
comum? Vivem entre os limites da razão e da loucura. Ao escolher esses
personagens, procura-se “ajeitar” o espelho da literatura para que o leitor possa
vislumbrar uma faceta qualquer do seu próprio reflexo e refletir sobre as várias
dimensões da vida humana. Agora eu era herói? Não, somos anti-heróis; afinal, é no
desvão das virtudes que costuma se produzir a melhor literatura e, como diz o
ditado: “De médico e louco, todo mundo tem um pouco”. Ou ainda, como disse
Drummond: “Vai, Carlos! Ser gauche na vida.” Aliás, o elemento lírico, o gauche,
criado pelo poeta, não poderia ser esquecido nesta análise, já que se identifica
profundamente com algumas características dos personagens cervantino e
machadiano como veremos mais adiante, no desenvolvimento das oficinas literárias.
No decorrer do trabalho com as oficinas, além das obras mencionadas, não
poderíamos deixar de lado a presença da música, uma das linguagens mais
significativas para o jovem. E também, para enriquecer as análises, mencionaremos
a Alegoria da Caverna, da obra A República, de Platão.
Ao se propor este tema, considera-se que a formação do leitor proficiente
passa também pela compreensão de sentidos que afloram de todos os diálogos que
uma leitura pressupõe: entre textos, entre artes, entre mundos, entre leitores. O
grande diálogo será estruturado pela leitura de obras, distanciadas no tempo, mas
aproximadas pela interlocução atemporal que a arte possibilita.
Para que o trabalho com as oficinas literárias seja mais rico e proveitoso, o
aluno precisará estar munido de conhecimentos prévios sobre os temas que serão
enfocados no desenvolver das atividades de antecipação de leitura. Por isso, se faz
necessário o envolvimento de diferentes profissionais que possam trazer tais
informações. Com este intuito, antes das oficinas literárias, organizaremos um
círculo de palestras com os seguintes temas e profissionais:
• Um professor de História para falar sobre o contexto sócio-histórico do
século XlX: a importância e o significado das descobertas científicas nesse
século que marcaram não só a vida em sociedade, mas também as artes de
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forma geral; O determinismo científico que marcou a visão sobre o homem
do final do século XlX.
• Um psiquiatra para abordar o tema “loucura” no âmbito da saúde pública, ou
seja, como a medicina identificou e tratou o louco ao longo dos séculos.
• Um especialista em Bullying .
• Um profissional (pode ser um professor de Filosofia ou um psicólogo , por
exemplo) para falar de subjetividade e a alteridade: a imagem que eu tenho
de mim e que os outros tem de mim. O olhar é que cria um sistema de
valoração. O outro significa a projeção do nosso olhar (o jogo do olhar, o
jogo de projeções). Este profissional trabalhará A Alegoria da Caverna da
obra A República de Platão.
Este círculo de palestras será desenvolvido em dois turnos ou em dois dias,
no auditório. Com estas informações o aluno aproveitará mais as atividades das
oficinas literárias
Neste dia, será apresentada uma performance teatral com alguns alunos, da
obra “Soneto da Loucura ” do Professor João Pedro3, uma adaptação do Filme:
Sombras de Goya.
De acordo com os princípios da Emotologia: “quanto mais a emotização
envelopa uma idéia, tanto mais esta idéia tem chances de se tornar realidade”
(MACHADO,1990, p. 78), sendo assim, a “dramatização” na comunicação didática,
na aprendizagem, tem um papel muito importante, pois é feita por imagens mentais
que geram emotizações. Por isso, atividades lúdicas que envolvem dramatização
farão parte das oficinas, uma vez que, através destas atividades, os alunos se
tornam atores e, com isso memorizam seus papéis com mais facilidade porque
emotizam as falas, põem sentimentos no que ensaiam para representar.
De acordo com o professor Luiz Machado, quando o aluno usa
imediatamente o que aprendeu, ele acrescenta emotização ao que está aprendendo,
já que tal procedimento baseia-se em seus motivos e não em um assunto que não
lhe interessa.
3 João Pedro é professor da UTFPR e, gentilmente, nos cedeu seu texto para o desenvolvimento
deste trabalho
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Motivo é aquilo que move de dentro para fora. A emotização
(imagens mentais dos benefícios, das vantagens, dos resultados que
venham satisfazer necessidades humanas, quer básicas, quer
derivadas) está na linha da motivação para preparar todo o ser a fim
de aprender. Mesmo nos assuntos áridos podemos criar interesses
pela antecipação dos benefícios, das vantagens decorrentes do seu
aprendizado (MACHADO, 1990, p. 78).
Ao se desenvolver atividades de antecipação de leitura, pela ludicidade e
pela interação entre os participantes, os resultados surgem como decorrência de se
mobilizarem as potencialidades dos alunos, uma vez que a preocupação é com a
pessoa. É ela que cresce. É ela que passa a aprender melhor.
O tempo e a organização das oficinas
Cada oficina foi organizada para tratar de um tema, de um assunto, mas
estão interligadas. Serão aplicadas no 2º e 3º anos, do Ensino Médio, do período
matutino e realizadas no contraturno, uma ou duas vezes por semana, durante a
implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica, no 2º semestre de 2010. É
possível aplicá-las também no 1º ano. Para isso, é essencial que você, professor,
leia todas as atividades. Aproprie-se dos objetivos, providencie o material e estime o
tempo necessário para que sua turma faça o que foi proposto. Só você, que conhece
seus alunos, conseguirá determinar qual a forma mais eficiente de trabalhar com
eles.
Oficinas literárias
Momentos de sensibilização
As atividades desenvolvidas nas primeiras oficinas permitem que o aluno,
antes de entrar no universo da obra literária, possa adentrar em seu próprio
universo, através de exercícios de autoconhecimento. Esse percurso é fundamental,
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especialmente para o jovem, que se encontra em processo intenso de descoberta
das coisas e de si.
Com esta perspectiva, o trabalho com a literatura não rejeita o lúdico como
caminho do conhecer: uma forma de estimular “a criatividade, o espírito inventivo, a
afetividade, a curiosidade pelo inusitado”.
É importante, ao buscarmos o desenvolvimento das capacidades humanas,
que saibamos diferenciar o lúdico e o jogo. No jogo está presente a competição, de
ter de vencer, fatores que inexistem no lúdico. “Lúdico” vem do latim ludus que
significa “divertimento”, “recreação”.
Atividades desenvolvidas dentro dos princípios da Emotologia utilizam
muitas atividades lúdicas.
A arte e o lúdico relacionam-se estreitamente: brincar e criar são atos que
sempre estiveram juntos. Podemos ilustrar o conceito de jogo, com destaque no seu
enfoque lúdico, através do seguinte trecho de John Huizinga:
Se verificarmos que o jogo se baseia na manipulação de certas imagens, numa certa “imaginação” da realidade (ou seja, a transformação desta em imagens), nossa preocupação fundamental será, então, captar o valor e o significado dessas imagens e dessa “imaginação” (...) Na criação da fala e da linguagem, brincando com essa maravilhosa faculdade de designar, é como se o espírito estivesse constantemente saltando entre a matéria e as coisas pensadas. Por detrás de toda expressão abstrata se oculta uma metáfora, e toda metáfora é jogo de palavras. Assim, ao dar expressão à vida, o homem cria um outro mundo, um mundo poético, ao lado do da natureza (HUIZINGA, 1999 p. 7).
Essa metáfora, a que se refere o autor, enfoca a constitutividade plural da
obra literária que pode se tecer por uma intertextualidade explícita ou implícita, pelo
cruzamento de outras “vozes” que estruturam o fazer literário: o social, o histórico, o
cultural, as outras obras do universo da Arte.
Esse conceito de pluralidade na constituição da obra literária é reafirmado
por Júlia Kristeva (1974, p. 72), quando ela afirma que, “todo texto se constrói como
mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto.”
Segundo a autora, nesses cruzamentos instala-se a intertextualidade, ou
seja, a pluralidade cultural que configura parte da síntese da identidade do ser
humano.
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E ainda, por transgredir valores estéticos e comportamentos padronizados
pelos condicionamentos sociais, a obra literária oportuniza uma reflexão ética
sobre o que pode significar um olhar tolerante e so lidário para a diferença .
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OOff iicciinnaa 11 -- UUmm ddiizzeerr qquuee aannuullaa
A compreensão é ao mesmo tempo meio e fim da comunicação humana. O planeta necessita, em todos os sentidos, de compreensões mútuas. Dada a importância da educação para a compreensão , em todos os níveis educativos e em todas as idades, o desenvolvimento da compreensão necessita da reforma planetária das mentalidades; esta deve ser a tarefa da educação do futuro. (Edgar Morin)
Objetivos
• Estimular questionamentos quanto à dificuldade do diálogo entre aqueles que
veem o outro com preconceitos, com uma visão comprometida pelos “rótulos”
que se atribuem a outras pessoas.
• Vivenciar, pela ludicidade, uma situação de comunicação difícil.
• Estimular a interação entre os alunos.
Materiais
• Poema de Sete Faces – Carlos Drummond de Andrade (fragmento).
• Tiras com os rótulos conforme anexo 1.
• Fita crepe ou durex para prender as tiras na testa dos alunos.
http://sorisomail.com/img/preconceito-4574.jpg
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Poema de Sete Faces
(Carlos Drummond de Andrade)
Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida...
*O que é ser gauche na vida? Você já se sentiu um gauche ?
*Gauche : adjetivo francês que, no caso, significa “sem jeito”. Postura peculiar ao poeta em face de si
e do mundo.
ETAPAS
1º MOMENTO
Jogo de rótulos
1. Reproduzir o jogo de rótulos do anexo 1, de acordo com o número de alunos
participantes. (produzir tiras com rótulos, a partir de dificuldades de
relacionamento entre os alunos já detectados no dia a dia).
2. Utilizar especialmente os rótulos que registrem a linguagem própria dos jovens
ou de acordo com expressões características da região.
3. Estabelecer um tipo de reação relacionada ao rótulo criado: dedo-duro>
vaiar; mandão> virar de costas; nanico> fechar os o uvidos; etc.
2º MOMENTO
1. Formar um círculo com os alunos em pé.
2. Colar aleatoriamente – com fita crepe ou durex – um rótulo na testa de cada
participante.
3. Cuidar para que nenhum aluno consiga ler o que está escrito em seu próprio
rótulo (evite ambientes com espelhos ou vidros que possam refletir imagens e
os alunos possam ler o rótulo que lhes coube).
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4. Orientar para que cada aluno procure responder à seguinte questão: O que
pode alimentar o ser humano? Considerando a palavra alimento em sentido
real (comida) e em sentido figurado (enriquecimento interior).
5. Garantir que cada aluno fale sua resposta.
6. Orientar para que o grupo, a cada resposta dada, reaja de acordo com o que
sugere a tira na testa do aluno que falou.
7. Dar um tempo para que o grupo reaja e depois volte à situação normal, dando
continuidade à atividade.
3º MOMENTO
Terminada a roda de resposta e reações, reorganizar o círculo com os alunos
ainda rotulados.
1. Cada aluno deverá tirar de sua testa o rótulo e lê-lo para saber como foi
rotulado e o porquê da reação dos colegas.
2. Estimular e mediar uma discussão em que seja possível analisar:
• qual o sentimento que cada um teve ao falar, diante da reação de seus
interlocutores;
• em que situação da vida real os alunos já vivenciaram ou presenciaram
algo semelhante;
• se os rótulos atribuídos a uma pessoa tem força de provocar reações
tão predeterminadas como as que ocorreram;
• o que pode ser feito para que na vida real isso não aconteça.
3. Assegurar que os alunos reflitam sobre a superficialidade que o julgamento
preconceituoso determina.
ANEXO 1
MENTIROSO
Tapar os ouvidos
CONVENCIDOS
Tapar os olhos
TROUXA
Cantarolar sem parar
ROLHA DE POÇO
Assoviar
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DESLIGADO
Estalar os dedos para chamar a atenção
AGRESSIVO
Afastar-se o máximo
NERD
Estalar a língua
POBRE
virar o rosto
BABACA
Rir sem parar
ESPINHUDO
Tapar o rosto
Obs.: Fazer tiras ou tiras com outros rótulos, de acordo com o número de
participantes que você irá envolver ou com as dificuldades de relacionamento
específicas do grupo4.
4 Oficina adaptada do Caderno Pedagógico Viagem Nestlé pela Literatura/2005, 7ª edição.
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Oficina 2 - Um dizer que distorce
“O silêncio é uma cumplicidade com o absurdo e a palavra é o único meio
de protestar” (Leyla Perrone-Moisés)
Você já foi alvo de gozação ou viu alguém sendo “sacaneado”
constantemente? Não era brincadeira. Era o bullying em ação.
Bullying . Não tem a menor graça!
Objetivos:
• Promover discussões sobre Bullying;
• Propor um trabalho que suponha ação coletiva, solidária.
• Socializar os resultados da pesquisa.
• Conscientizar-se sobre valores e atitudes.
Materiais:
• Livro: Todos contra D@nte de Luís Dill.
• Revistas e ou jornais com reportagens sobre o tema.
• Folhas com as questões para a realização da pesquisa.
http://veja.abril.com.br/saladeaula/080206/imagens/valentoes2.jpg
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ETAPAS
1º MOMENTO
1. Pesquisas sobre o tema em revistas e sites. (sugestões de sites:
www.aprendrsemmedo.org.br
http://www.youtube.com/watch?v=2MLMpwgrOZc
http://www.youtube.com/watch?v=4Us_X30qEl4
http://www.youtube.com/watch?v=aIjRTYa7UK0
http://www.geledes.org.br/textos-relacionados-educacao/bullying-brincadeiras-
que-ferem.html)
2º MOMENTO
1. Levantamento na Escola sobre a ocorrência ou não de Bullying através da
pesquisa sugerida abaixo:
Nossa Escola Pesquisa a sua Opinião (o grupo de alunos fará a pesquisa com 10
alunos por série, no ensino fundamental e médio, e servirá como diagnóstico deste
problema na escola. Após a pesquisa, o grupo organizará os resultados em gráficos
que serão expostos no colégio).
1) Você sabe o que é bullying? ( ) Sim ( ) Não
2) Bullying: é toda agressão feita com intenção de machucar fisicamente ou
verbalmente outra pessoa ou até uma turma inteira. Mas, pra ser considerado
bullying de verdade, também é preciso que essa atitude agressiva se repita
uma porção de vezes.
Você já sofreu algum tipo de bullying? ( ) Sim ( ) Não
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3) Enumere de 1 a 4 os itens abaixo: 1 para a menos importante e 4 para a mais
importante causa que, na sua opinião, leva uma pessoa a exercer bullying.
( ) falta de educação e limites.
( ) prepotência: se achar superior aos outros.
( ) insegurança na parte intelectual, por isso usa esse tipo de violência com
os outros.
( ) sofrem agressões em casa.
4) Você acredita que o bullying pode prejudicar o rendimento escolar da vítima?
( ) Sim ( ) Não
5) Na sua opinião, o que a escola poderia fazer para solucionar o problema do
bullying?
a) Com o agressor?
b) Para a vítima?
3º MOMENTO
1. Organização de gráficos com o resultado da pesquisa (nesta etapa, o auxílio
do professor de matemática, artes e ou informática é fundamental).
2. Realização, pelos alunos, de palestras nas demais turmas da escola sobre o
tema.
4º MOMENTO
1. Criação de folders informativos sobre o tema;
2. O grupo fará a leitura do livro: Todos contra D@nte , de Luís Dill e, no
decorrer das palestras, irá mostrá-lo e sugeri-lo aos demais alunos.
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OOff iicciinnaa 33 –– UUmm ddiizzeerr qquuee rreevveellaa
Hoje que a tarde é calma e o céu tranqüilo, E a noite chega sem que eu saiba bem, Quero considerar-me e ver aquilo Que sou, e o que sou o que é que tem. (Fernando Pessoa)
Objetivos:
• Levar o aluno a refletir sobre a constituição de sua própria identidade.
• Aprender a lidar com a própria imagem.
• Concretizar ludicamente uma experiência de autoconhecimento.
• Compartilhar com os outros, algo de seu interior.
Materiais:
• Túnicas de tecido branco ou telas para pintura.
• Tinta guache de várias cores;
• Música Daquilo que eu sei , de Ivan Lins/Vitor Martins (o professor pode
escolher outra música com a mesma temática).
• Texto Traduzir-se , de Ferreira Gullar.
http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:Ohi0MgEDZQ7rJM:http://cyberteca.files.wordpress.com/2010/0
3/teatro.jpg
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ETAPAS
1º MOMENTO
Ler a música, ouvir, cantar e trocar impressões sobre os sentidos possíveis
expressos pela música.
Daquilo que eu sei Ivan Lins/Vitor Martins Daquilo que eu sei Nem tudo me deu clareza Nem tudo foi permitido Nem tudo me deu certeza (...)
2º MOMENTO
Ler o texto com os alunos e estimular um debate e análise sobre o poema:
TRADUZIR-SE
(Ferreira Gullar)
Uma parte de mim
É todo mundo:
Outra parte é ninguém:
Fundo sem fundo.
Uma parte de mim
É multidão:
Outra parte é estranheza
e solidão. (...)
3º MOMENTO
1. Pedir que os alunos sentem-se em círculo e fechem os olhos para ouvir
novamente a música Daquilo que eu sei .
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2. Orientar os alunos para que, de olhos fechados, reflitam sobre si mesmos e
tentem identificar os “vários eus” que os constituem.
3. Deixá-los dois minutos em silêncio nesse exercício de reflexão.
4. Distribuir as túnicas para que os alunos vistam ou uma tela para cada um.
5. Deixar no meio do círculo potes com tinta guache de várias cores, pedir que
cada aluno pinte aleatoriamente a sua túnica ou a tela com as cores que
melhor representam o seu “eu” interior.
6. Pedir que, em círculo, descrevam o que representa a sua obra final e o que
revela sobre si as cores utilizadas e os traços representados.
7. Ao final da atividade, as túnicas ou as telas poderão ser expostas como obras
de arte.
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Oficinas teóricas e de antecipação de leitura
OOff iicciinnaa 44 -- Um dizer que enriquece
Todo texto se constrói como mosaico de citações, to do texto é
absorção e transformação de um outro texto. (Júlia Kristeva)
A Intertextualidade como suporte para despertar a c uriosidade pela obra
desejada.
Objetivos:
• Preparar o aluno para a leitura e a compreensão do conto O Alienista, por
meio de atividades de antecipação.
• Ler e interpretar o livro O Mistério da Casa Verde , de Moacyr Scliar.
• Estabelecer relações comparativas entre o romance e o conto.
Materiais:
• Livro: O Mistério da Casa Verde , de Moacyr Scliar
http://bp1.blogger.com/_U9c-kWSRqX4/SDRHRT6GorI/AAAAAAAACGY/V8wcSO5N-
y4/s320/91TheBigDrawTH+grafite+Mark+Kostabi+www+adambaumgoldgallery+com.jpg
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ETAPAS
1º MOMENTO
1. Comentar e apresentar a obra: O mistério da Casa Verde , Moacyr Scliar.
• O que é um romance?
• De que se constitui?
• O que é importante num romance?
• O que é preciso saber, para ler um romance?
As respostas a estas perguntas serão feitas a partir da leitura, explicação e
discussão do parágrafo inicial da apresentação de O Mistério da Casa Verde .
“Na falta de um lugar, Arturzinho resolveu criar um clube para sua turma num antigo
casarão abandonado, que é lendário na pequena cidade de Itaguaí, no Rio de
Janeiro. Ali, na chamada Casa verde, cerca de dois séculos antes, havia funcionado
um asilo para doentes mentais, cuja história inspirou o escritor Machado de Assis a
escrever um de seus contos mais célebres: O Alienista.”
2º MOMENTO
1. Questionamentos:
• Quem é Machado de Assis?
• Você já leu este conto: O Alienista?
É ao longo da leitura (no capítulo IV), da obra de Moacyr Scliar, que encontraremos
as respostas para quem é Machado de Assis. O século em que viveu. Quais suas
intenções ao escrever O Alienista.
• O que é um conto?
• Qual a diferença entre um conto e um romance?
• Mas como é que um livro publicado em 1882 pode ajudar a compreender um
mistério do presente?
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• O que leva um autor resgatar em sua obra personagens, fatos, de outra
escrita no século passado?
• Por que algumas obras literárias são consideradas “clássicas” e outras não?
As respostas a estas perguntas poderão ser feitas a partir da leitura, explicação e
discussão do parágrafo final da apresentação de O Mistério da Casa Verde .
“Contando uma trama marcada pelo mistério, que acaba por envolver quatro jovens
da Itaguaí de hoje numa aventura fantástica, Moacyr Scliar – um dos mais
importantes escritores da atualidade - reconta O Alienista, um ‘clássico’ da literatura
brasileira. Proporciona, assim, um duplo prazer para o leitor: a oportunidade de
conhecer um conto fascinante de um dos maiores autores brasileiros de todos os
tempos e também a história de um grupo de adolescentes que, batalhando pelos
seus objetivos, descobrem a solidariedade e enriquecem suas vidas.”
3º MOMENTO
1. Leitura e discussão de 1 ou 2 capítulos, a cada aula. Não se preocupar se os
alunos estão lendo ou não em casa, mas ler para eles e com eles.
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OOff iicciinnaa 55 –– UUmm ddiizzeerr qquuee aapprriissiioonnaa
“Graças a Deus, o mundo não é feito apenas de homens sérios, isto é, de gente dotada de boa lógica, e muita sensatez. O mundo também é feito de loucos, aliás bem menos perigosos do que os outros.”(Sérgio Milliet)
Objetivos
• Preparar o aluno para a leitura do conto O Alienista , de Machado de Assis.
• Ler e interpretar o texto.
• Reconstruir o enredo pela dramatização.
• Discutir e refletir sobre o conceito de loucura.
Materiais:
• Tiras com os trechos para discussão.
• Caracterização das personagens do conto O Alienista (anexo 2)
• Conto: O Alienista.
• Músicas: Maluco Beleza de Raul Seixas e Balada do Louco de Arnaldo
Baptista/ Rita Lee.
http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ornn9qVK31g-
XM:http://www.educacional.com.br/upload/blogSite/5123/5123643/10589/o%2520alienista.jpg
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ETAPAS
1º MOMENTO
1. Ouvir as músicas, comentar e refletir.
2º MOMENTO
1. Dividir em grupos.
2. Entregar, para cada grupo, uma tira com um trecho para discussão.
Trechos para Discussão
• De perto, ninguém é normal. (frase de reportagem da Revista da Folha)
• De médico e de louco, todo mundo tem um pouco. (ditado popular)
• O mundo é um hospício. (O Alienista)
• Com bom humor, pessoas transformam suas esquisitices em vantagens e se
divertem com as reações dos “normais”. (frase de reportagem da Revista da Folha)
• Muito altos ou muito baixos, fazendo caras e bocas, driblando as neuroses,
colecionando tiques nervosos, vestindo-se contra a maré, cultivando hábitos
excêntricos ou simplesmente com um arzinho estranho: os esquisitos estão
por toda parte. (frase de reportagem da Revista da Folha)
• Graças a Deus, o mundo não é feito apenas de homens sérios, isto é, de
gente dotada de boa lógica, e muita sensatez. O mundo também é feito de
loucos, aliás bem menos perigosos do que os outros. (Sérgio Milliet)
• “Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual
Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Maluco total
Na loucura real
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Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez
Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza.” (Raul Seixas)
• “Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz.” (Arnaldo Baptista/Rita Lee)
• “Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz.” (Arnaldo Baptista/Rita Lee)
3. Convidar os alunos a refletir e a se posicionar sobre a questão apresentada,
trocando idéias com os colegas de grupo.
4. Formar círculo para que cada grupo apresente suas conclusões.
3º MOMENTO
1. Promover um momento de contação de histórias orais sobre loucos ou
loucuras;
2. Se necessário, destacar as questões:
a. Os efeitos de comportamentos padronizados na sociedade.
b. O que pode significar ser louco na sociedade de hoje.
c. Como a padronização pode contribuir para o poder de algumas
pessoas, tornando outras submissas.
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4º MOMENTO
1. Apresentar o anexo 2 com as características de cada personagem do conto O
Alienista, localização do espaço.
2. O professor deverá fazer uma sinopse do conto, sem, no entanto, contar o
desfecho.
3. Ler para os alunos a parte inicial do conto comentando a linguagem, as
construções e os termos empregados. Também pode se promover, após os
comentários, a audição desta parte do conto sem interrupções5.
4. Divisão dos alunos em cinco grupos.
5. Cada grupo ficará responsável de ler com atenção partes do conto (ver
sugestão).
6. Cada grupo deverá preparar uma dramatização do trecho que lhe coube. As
apresentações serão na sequencia do texto para que seja bem compreendido
o enredo. (Professor: para a preparação da montagem, enfatize a importância
da composição do cenário que deverá conter elementos contextualizadores do
tempo e do espaço da obra).
ANEXO 2: Características das personagens de O Alien ista
a. Dr. Simão Bacamarte : (O Alienista) origem nobre, médico amante da Ciência,
estudou na Europa, mas não aceitou exercer a medicina na corte de Portugal.
Veio para o Brasil, estabeleceu-se em Itaguaí, casou-se aos 40 anos, fundou
a Casa de Orates, origem da Casa Verde, como era conhecido o lugar onde
ficavam os “pacientes” tratados por ele.
b. Dona Evarista da Costa Mascarenhas : com 25 anos, viúva, casa-se com
Simão Bacamarte. Não é nem bonita nem simpática, mais parece uma ama de
casa, incapaz de entender a importância dos estudos do marido.
c. Crispim Soares : boticário em Itaguaí, amigo fiel do Dr. Bacamarte.
Acompanha os passos do médico revelando cumplicidade em alguns 5 A audiolivro editora lançou O Alienista para escutar, na coletânea: livro para escutar: a qualquer
hora, em qualquer lugar! Acesse www.audiolivro.com.br para ter mais informações
36
momentos, medo e insegurança em outros. Segundo o julgamento do próprio
Bacamarte é bajulador, lacaio, fraco, miserável... (p.26), ingênuo e um tanto
pueril. É casado com Cesária, uma grande amiga da esposa de Simão
Bacamarte.
d. Porfírio: barbeiro em Itaguaí, comanda a primeira rebelião contra Simão
Bacamarte, mas assim que assume o poder – o governo da vila – começa a
agir movido pelos interesses políticos, traindo a causa pela qual lutara.
e. Padre Lopes : vigário do lugar acompanha todos os acontecimentos de perto
e tenta interceder em favor de algumas pessoas.
f. João Pina : outro barbeiro que também assume o governo em outra revolta
contra o poder de Simão Bacamarte.
Sugestão de divisão do texto:
• Grupo 1 – Capítulos 2,3 e 4
• Grupo 2 - Capítulo 5
• Grupo 3 – Capítulos 6, 7 e 8
• Grupo 4 - Capítulos 9, 10 e 11
• Grupo 5 – Capítulos 12 e 13.
Ao final das apresentações os alunos poderão assistir a trechos do filme O
Alienista6.
6 A Globo Vídeo fez uma adaptação bem humorada do conto.
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Oficina 6 - Ler e pensar: ver melhor
“Dostoievski assim avaliaria esse romance: Em todo o mundo não há obra mais profunda e pungente. É, por ora, a última e a mais grandiosa palavra do pensamento humano, a mais amarga ironia que o homem já foi capaz de expressar, tanto que se a terra deixasse de existir e se em algum lugar perguntassem ao homem: ‘como é, você entendeu a sua vida na terra, que conclusões tirou?’ O homem poderia mostrar o Dom Quixote e responder sem palavras: ‘Eis minha conclusão sobre a vida; será que por ela os senhores poderão me julgar?’ (Mikhail Bakhtin. Problemas da poética de Dostoievski)
Objetivos:
• Preparar os alunos para conhecer o personagem Dom Quixote;
• Desafiar os alunos a lançar olhares diferentes, às vezes antagônicos, sobre
fatos e acontecimentos que fazem parte da sua realidade;
• Relacionar formas de olhar a modos de analisar a vida: racionalmente e
emocionalmente.
Materiais:
• Um livro que tenha a história do Dom Quixote (pode ser uma tradução ou
adaptação. Existem versões em quadrinhos que é uma ótima opção).
• Observar a pintura de Portinari do personagem Dom Quixote
• Música: Dom Quixote de Humberto Gessinger/Paulo Galvão.
• Texto: E a História era assim ... Moacyr Scliar
http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:lr2C_m6IENhrEM:http://3.bp.blogspot.com/_IZwB7mhY5f0/ScG
g0kCh_NI/AAAAAAAAAvI/rec5c8CvFgE/s400/dom%2Bquixote.bmp
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ETAPAS
1º MOMENTO
1. Estimular hipóteses sobre o significado atribuído a cada olho, de modo que a
troca de impressões entre alunos, leve à conclusão de que é possível um
mesmo fato ser “olhado” de modos diferentes e antagônicos: pela razão e
pela emoção .
• Sugere-se que o esquema abaixo sirva de modelo para concretizar
visualmente as diferentes formas de olhar.
OLHARES SOBRE
VIDA NA ESCOLA
Razão
Emoção
CONVIVÊNCIA COM OS AMIGOS
Razão
Emoção
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CONVIVÊNCIA COM OS PROFESSORES
Razão
Emoção
CONVIVÊNCIA COM OS FAMILIARES
Razão
Emoção
Obs : A atividade pode ser enriquecida e ampliada com outros temas significativos
para os alunos. O importante é que a conclusão seja relacionada aos diferentes
modos de olhar.
2º Momento:
1. Através do texto E a História era assim..., do escritor Moacyr Scliar,
apresentar o personagem Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de
Cervantes.
2. Levar os alunos no laboratório de informática para que busquem informações
sobre as novelas de cavalaria e outras curiosidades sobre o personagem que
estamos conhecendo e seu fiel escudeiro Sancho Pança.
40
3º Momento:
1. Ouvir a música Dom Quixote e levar os alunos a refletir sobre a mesma.
2. Estimular os alunos para que busquem, na história de Dom Quixote,
referências a fatos e acontecimentos que, pelo olhar do personagem, estavam
sempre em oposição à realidade. (enfatizar, neste momento, a emoção
representada por Dom Quixote e a razão, por Sancho Pança).
3. Em grupos, de quatro alunos, irão criar o seu Dom Quixote para ser
apresentado à turma, de acordo com a criatividade do grupo. (essa
representação de Dom Quixote pode ser em colagem, pintura, dança,
dramatização, etc.)
4º Momento:
Quixote vivia entre os limites da razão e a loucura e dizia que fazia tudo em busca
do amor.
1. Dividir os alunos em dois grupos.
2. Estimular a leitura dramatizada do texto: Reverso (utilizar tinta guache para
pintar o rosto enquanto o poema é declamado).
3. Outro grupo ficará responsável em encenar o trecho da peça teatral da obra
Dom Quixote.
TEXTO 1 REVERSO (uma adaptação do texto do professor João Pedro)
Pintei a minha cara
Houve um silêncio.
Mataram o amor
Com ele, os sonhos
Houve um silêncio
41
Tiraram-me a razão
Com ela, minha história.
Minha vida.
Prometeram-me a vida!
Veio a noite
Prometeram-me o sol!
Veio a loucura.
Pintei o meu rosto
Com a pintura da guerra.
Hoje estou ainda lutando.
Pintando a cara
Lutando pelo amor.
Cantei para ele
Mil contos de luta
Pois homens, loucura e amor
Não se separam.
Simplesmente loucura, loucura.
Continuamos a pintar
As nossas caras.
Gritamos e protestamos o amor!
É por amor
Sim, é por amor à vida
Que cantamos.
E, tantas vezes
Choramos também
É por amor à vida
Que estamos lutamos
E vamos andar lentamente
Para buscar a luz
42
E a liberdade das manhãs de sol!
Sim, é por amor à vida
Evidentemente.
Que encaramos
Essa imensa dor
Que se nos impõe
Nesse reinado amargo
O ódio presente
É por amor à vida
Que estudamos nas ruas,
Nas praças, nas estradas...
Gritando palavras de ordem.
De uma ordem insana!
Sim, é por amor.
É por amor à vida
Que marchamos nas madrugadas
De lua nova.
Levando nos braços
A fúria das tempestades.
Prontos a resgatar os sonhos
Que nos tomaram.
Vamos replantar as flores
E as sementes
Que a séculos estão em cio.
É por amor.
Sim, é por amor à vida
Que profundamente doloridos
Recolhemos em nossos braços
Os que foram brutalmente feridos
43
E quando já não podemos
Devolver-lhes a respiração
Nós comungamos de seu sangue
E os fazemos ressuscitar
Em milhares de vida
E sorrisos.
É por amor
Sim, é por amor à vida
Que escrevemos nas pedras
Os poemas da esperança rebelde
Que pichamos nos muros e nas portas
As frases corajosas de um futuro novo,
Que dançamos nas festas de sábado
No batuque do carnaval de um povo livre.
É por amor
Que nos abraçamos.
Que nos beijamos nas esquinas.
Que já não tememos
Andar de braços dados
Seguindo a bandeira da paz
E a ternura consequente
É por amor
Sim, é por amor à vida
Que desesperadamente amamos.
44
TEXTO 2
Sugestão de texto para encenar (os alunos podem escolher outra parte da narrativa
e transformá-la em dramática)7.
O tom épico grandioso da cena será instaurado através da trilha sonora e da
iluminação.
([...] enquanto Sancho tece seu comentário, Quixote começa a ouvir um som agudo
e alto, parando de andar. Surge a atriz/moinho de vento enquanto som vai
aumentando. Quixote ajoelha-se, admirado com que vê. Sancho nada entende).
Quixote : Veja Sancho! Bem no início de nossa jornada: um gigante!
Sancho : (Sancho se assusta) Um gigante? Aonde, senhor?
Quixote: Ali, Sancho: com os braços enormes e abertos, rodopiando-os no ar.
Sancho: (constatando os moinhos) Olhe bem, senhor: “aquilo” não são gigantes e
sim moinhos de vento. E o que o senhor pensa que são braços, na verdade são as
pás dos moinhos. (começa a rir e zombar da situação).
Quixote : (enquanto Sancho fala, caminha em direção ao moinho, quase
hipnotizado).
(A música aumenta. No meio da cena, acontecem intervenções de falas).
Moinho/Gigante : Vem Quixote, vem!
7 Este trecho foi extraído do texto dramatúrgico Quixote, criação coletiva do grupo teatral 4comPalito,
cuja estreia ocorreu em abril de 2008, no teatro Francisco Nunes, em Belo Horizonte/MG.
45
(Quixote encaminha-se para o moinho. No meio do trajeto, perceber o riso zombador
de Sancho. Num misto de orgulho, bravura e desespero, desembainha a espada).
Quixote: Ainda que movam mais braços do que o gigante Briareu, hão de me pagar!
(Quixote começa a dar cutiladas no ar, lutando com seu gigante fantasioso. Sancho
assusta-se com a atitude de seu amo e observa-o, de longe. Acontece a luta entre
cavaleiro e gigante/moinho, culminando na queda de Quixote. Sancho vai de
encontro a ele, enquanto o moinho desaparece de cena).
Sancho : Não disse senhor, que eram moinhos e não gigantes?
Quixote: (saindo do estado hipnótico) Bem se vê que você nada entende de
assunto de aventuras. São as coisas da guerra: de todas, as mais sujeitas a
contínuas mudanças. (analisando) O que eu creio é que... algum feiticeiro, inimigo
meu, transformou estes gigantes em moinhos, só para me desmoralizar. Mas pouco
há de valer suas más artes contra a bondade da minha espada! Ai!
Sancho: Calma, senhor! Vê se toma um pouco d’água, que o senhor não me parece
nada bem. (dá água na boca de Quixote).
Quixote: É verdade, Sancho! E se não me queixo da dor é porque, aos cavaleiros
andantes, não é permitido lastimarem-se das feridas da batalha, ainda que por elas
lhe saiam as tripas! Ai!
Sancho : Já eu, me doendo seja o que for, hei de berrar até a morte...
46
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa . Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2002.
ARAÚJO, Jorge de Souza. Caderno de Exercícios: algumas reflexões sobre o ato de ler . Ilhéus, Letra Imprensa, 2000.
ASSIS, Machado de. O Alienista e outros contos . São Paulo, Moderna, 2005.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem . São Paulo, Hucitec, 1991.
-------------------------. Problemas da poética de Dostoieviski . Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1997.
BRASIL, Ministério da Educação. PDE: Plano de Desenvolvimento da Educação:
Cadernos Pedagógicos Viagem Nestlé pela Literatura . Fundação Nestlé de Cultura.
CERVANTES, Miguel de. O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de La Mancha. Madrid, S. A. de Promoción y Ediciones, 1999. Edição exclusiva para Clube Internacional do Livro. Ltda. São Paulo.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários à Prát ica Educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1999.
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