10 Perspetivas Fevereiro 2016
EnsinoDepartamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo da Universidade de Aveiro
Ensino vocacionado para as exigências do novo mundo
Em diálogo com Carlos Costa, dire-
tor do DEGEIT, aprofundámos o nosso
conhecimento sobre a atual realidade
deste que é “o maior departamento da
Universidade de Aveiro em número de
alunos – 1500 diretos, aos quais se jun-
tam, em determinadas cadeiras, cente-
nas de discentes vindos de outros de-
partamentos”.
Atento à nova realidade do ensino,
cada vez mais global e focada na verten-
te prática, o Departamento tem sido al-
vo de uma “procura muito elevada”, sen-
do que em 2014 foram preenchidas as
185 vagas existentes para um total de
1555 candidatos. Neste panorama, se os
cursos do 1º e 2º Ciclos estão totalmen-
te preenchidos, no que concerne ao 3º
Ciclo, “apesar deste ser um dos mais re-
centes departamentos no universo da
UA”, já se encontra “em terceiro lugar
no ranking da instituição em número de
alunos”.
No total, o Departamento apresenta à
sociedade quatro cursos de 1º Ciclo –
Economia; Engenharia e Gestão Indus-
trial; Gestão; e Turismo –, cinco cursos
de 2º Ciclo – Economia; Engenharia e
Gestão Industrial; Gestão; e Sistemas
Energéticos Sustentáveis (este último
fruto da cooperação tripartida entre o
Departamento de Ambiente e Ordena-
mento, o Departamento de Economia,
Gestão, Engenharia Industrial e Turis-
mo e o Departamento de Engenharia
Mecânica) e cinco cursos de 3º Ciclo –
Contabilidade; Engenharia e Gestão In-
dustrial; Marketing e Estratégia; Turis-
mo; e Sistemas Energéticos e Alterações
Climáticas Sustentáveis (este último fru-
to da cooperação entre o Departamento
de Ambiente e Ordenamento, o Depar-
tamento de Economia, Gestão, Enge-
nharia Industrial e Turismo, o Departa-
mento de Engenharia de Materiais e Ce-
râmica, o Departamento de Engenharia
Civil, e o Departamento de Engenharia
Mecânica).
InternacionalizaçãoCarlos Costa, diretor do DEGEIT
desde 2014, é perentório ao assumir que
este espaço vive dias de grande dinâmi-
ca. Um dos seus pontos fortes é a agre-
gação das áreas de Engenharia e Ciên-
cias Sociais: “Neste ‘novo mundo’ a di-
mensão da Engenharia relaciona-se po-
sitivamente com as Ciências Sociais,
nomeadamente na área das operações
para o Turismo e Saúde, por exemplo.
Existem engenheiros que trabalham no
setor da energia, área fundamental nas
questões da Economia do Ambiente,
Gestão e Turismo. Assim sendo, neste
momento, temos uma combinação de
cursos e de investigação que, já sendo
forte, se perspetiva ir cada vez mais lon-
ge”, assevera.
E ir mais longe passa por apostar for-
temente na internacionalização. Nesta
senda, o Departamento empenha-se em
organizar ou marcar presença em even-
tos de dimensão global: “A título de
exemplo, em 2017 vamos organizar, na
área do Turismo, a INVTUR que mobi-
liza cerca de 700 participantes e mais de
30 países”, revela-nos. Esta dinâmica de
internacionalização consubstancia-se no
número crescente de alunos estrangei-
ros que escolhem o DEGEIT para estu-
dar. Se no cômputo geral 10% dos estu-
dantes da Universidade de Aveiro são de
origem estrangeira, aqui o número as-
cende aos 20%. “Nós estamos fortemen-
te internacionalizados!”, vinca o nosso
interlocutor, dando o exemplo de uma
turma de alunos chineses que está inte-
grada na dinâmica do Departamento, ou
de cinco Bolsas CAPES – bolsas de estu-
do atribuídas a estudantes brasileiros,
equivalentes às da Fundação para a
Ciência e Tecnologia, em Portugal –,
que foram concedidas a alunos neste De-
partamento. “Este é o reconhecimento
internacional do nosso prestígio en-
quanto entidade de ensino com qualida-
de internacional”.
Segundo o diretor, a Universidade,
no seu sentido lato, tem que ir ao encon-
tro de novos alunos, novas ligações e
parcerias com centros de conhecimen-
tos internacionais que permitam o in-
tercâmbio de pessoas, experiências, co-
nhecimentos e culturas. “A nossa plata-
forma não é apenas a da UA, é nacional
e internacional. E o que não faltam são
oportunidades!”, garante Carlos Costa
que não perde a oportunidade para emi-
tir a sua opinião sobre a classe política
portuguesa: “Há um discurso pessimis-
ta, fala-se de crise, desemprego, os polí-
ticos esmifram-nos, mas a verdade é que
o mundo está cheio de oportunidades.
A classe política portuguesa viaja pouco
e tem pouca noção da realidade a uma
escala global. Precisamos de políticos
que comecem a emergir da sociedade,
não apenas das fileiras dos partidos.
Precisamos que os políticos vejam e sin-
tam o ‘novo mundo’”.
Reestruturação e novas apostas
Quando assumiu a direção do DE-
GEIT, Carlos Costa procurou “consoli-
dar o Departamento, torná-lo mais efi-
ciente, eficaz e subir no patamar da qua-
lidade”. Três dos pilares fundamentais
que serviram de base à proliferação des-
tes propósitos foram a reorganização in-
terna em termos funcionais; a criação de
novas áreas de trabalho centrais; e a
aposta em duas pedras basilares para o
crescimento da instituição. A primeira: a
investigação, através da reestruturação
do Centro de Investigação, “que já estan-
do avaliado pela Fundação para a Ciên-
cia e Tecnologia como Muito Bom pas-
sou à classificação de Excelente”. As-
sim, contra a corrente, o DEGEIT
criou “uma unidade de investigação
fortíssima”, nas palavras de Carlos
Costa, que engloba o Departamento
de Economia, Gestão, Engenharia In-
dustrial e Turismo (DEGEIT), o De-
partamento de Ciências Sociais, Políti-
cas e do Território (DCSPT) e o Insti-
tuto Superior de Contabilidade e Ad-
ministração de Aveiro (ISCA). Estas
quatro escolas de Gestão funcionam co-
mo “uma grande escola de Economia e
Gestão centrada em novos temas da
Economia”, revela-nos o diretor. A se–
gunda pedra basilar de todo este proces-
so, e que permitiu ao DEGEIT assumir-
-se como um player respeitado e com a
qualidade essencial em matéria de inves-
tigação e inovação, foi a nova relação
com as empresas, introduzindo pontos
de rotura nas linhas diretivas que vi-
nham sendo assumidas: “Por exemplo,
foram substituídos os trabalhos de dis-
sertação teórica por estágios e projetos
em empresas; com base no esforço do
Departamento, conseguimos montar
uma sala onde decorrem fortes ações de
empreendedorismo num projeto desig-
nado de Learning to Be (aprender para
ser)”. Nesse espaço, ao nível das discipli-
nas do empreendedorismo, em detri-
mento do ensino teórico foram convida-
das empresas a apresentarem casos con-
O Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo (DEGEIT) da Universidade de Aveiro (UA) revela-se um pólo de ensino dinâmico e virado para o exterior. As sinergias criadas com outros centros de conhecimento (nacionais e internacionais) e com o mundo empresarial têm permitido a abertura de novas portas de saber e a rentabilização de esforços, beneficiando assim todos os intervenientes.
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Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo da Universidade de Aveiro
cretos e em torno de mesas de trabalho
“alunos, vindos de diferentes áreas de sa-
ber, aprendem a trabalhar em equipa e a
resolver problemas”. Esse grande desa-
fio presente no Departamento tem o ob-
jetivo claro de melhorar os níveis de em-
pregabilidade, tornar o ensino eficaz e
útil para as empresas e para as organiza-
ções.
As medidas acima mencionadas pro-
moveram uma mudança no modus ope-
randi do DEGEIT. Carlos Costa eviden-
cia ainda a abertura, nos últimos dois
anos, de quatro concursos ao cargo de
professor catedrático, quatro concursos
ao cargo de professor associado e oito
concursos ao cargo de professor auxi-
liar: “Renovámos profundamente os
nossos quadros e contra a corrente dos
últimos anos, contratámos mais gente,
libertando outros profissionais que não
se enquadravam com esta nova fase de
trabalhos”.
Investigação e Desenvolvimento
A UA é reconhecida pelas suas congé-
neres e pelo tecido empresarial como
uma instituição “com um sentido de
orientação prático, detentora de unida-
des de investigação de ponta” que permi-
tem uma relação profícua com as empre-
sas. Para além disso, o DEGEIT, na fi-
gura de Carlos Costa, tem “a real noção
de que a fatia orçamental que é disponi-
bilizada às instituições de ensino supe-
rior é insuficiente para se impulsionar
com qualidade os centros de Investiga-
ção e Desenvolvimento (I&D)”. Segun-
do nos diz “não conseguiremos ir longe,
nem cientificamente, nem amealhar os
rendimentos necessários para frequen-
tar conferências, se não produzirmos re-
ceitas próprias”. Neste sentido, outro
dos módulos introduzidos no Departa-
mento prende-se com a melhoria do vo-
lume das receitas próprias, sendo sugeri-
do a todos os docentes que angariem
projetos para serem desenvolvidos no
seio da instituição – “angariando proje-
tos, os intervenientes ligam-se às empre-
sas, são melhorados os índices de empre-
gabilidade e, através dos fundos gerados
pelo Departamento, são autossuficientes
para adquirirem todos os meios necessá-
rios para o desenvolvimento das suas
ações”.
Esta ligação com as empresas inicia-
-se desde o 1º Ciclo, o projeto Learning
to Be é um exemplo disso, estando a de-
correr ações de reestruturação nos cur-
sos, através da inclusão de programas
de estágio que é objetivo da direção “se-
jam progressivamente incluídos em to-
dos os anos de ensino”. “Os alunos são
incentivados a colocarem em prática os
seus conhecimentos logo no primeiro
ano, dada a necessidade de adquirem
competências profissionais que só o
mercado de trabalho lhes consegue for-
necer, assim como currículo, que se faz
dentro da academia e na relação desta
com as empresas”, refere o diretor que
nos confronta com uma realidade que
ainda persiste em Portugal: o complexo
de trabalhar e estudar em simultâneo.
Porém, “esta realidade tende, lentamen-
te, a mudar dado que os discentes já per-
ceberam que o mero curso superior não
é um passaporte para o mercado de tra-
balho”.
Neste momento, o grande desafio do
Departamento passa por cativar as em-
presas, encontrar soluções para os seus
problemas, através da ação eficiente dos
alunos. “Sendo que as empresas não des-
pendem de fundos, os empresários ao
verificarem que têm no Campus recur-
sos humanos com capacidade para cap-
tar lucros, apostam na contratação des-
ses alunos. Nos últimos dois anos, os ní-
veis de empregabilidade estão a aumen-
tar drasticamente, porque os alunos vão
para os estágios, são acompanhados e
acabam por lá ficar. Estamos assim a in-
verter um ciclo de desemprego que tem
sido dramático na sociedade portugue-
sa”, refere com orgulho o nosso entre-
vistado.
Estudo: Papel das mulheres na sociedade
O ‘novo mundo’, segundo palavras de
Carlos Costa, é um mundo onde as uni-
versidades não conseguem sobreviver
sem as empresas, mas também estas não
conseguem levar os seus propósitos
avante sem os centros de conhecimento.
O sucesso empresarial depende de qua-
dros que consigam ter formação e sensi-
bilidade para responder a problemas vá-
rios, numa cadeia horizontal. Nesse sen-
tido, “as empresas sabem que vêm cá à
procura de novos produtos que as dife-
renciem e lhes permitam dar resposta às
necessidades do consumidor, caso con-
trário não evoluem e caem num ciclo ne-
gativo. É por isso que estamos a avançar
nessas áreas e noutras que social e eco-
nomicamente são centrais, como por
exemplo, o papel das mulheres na eco-
nomia”.
O diretor fala-nos de um projeto que
decorreu nos últimos cinco anos, sendo
a investigação, publicada a nível mun-
dial, já uma referência: “Vai ser lançado
um número especial na nossa revista de
Turismo e Desenvolvimento que abor-
da a posição das mulheres na nova eco-
nomia. Não se trata apenas da questão
democrática da posição das mulheres na
sociedade, mas sim do modo como uma
sociedade como a nossa, que necessita
de crescer, tem que incorporar recursos
humanos que são centrais na economia.
Verificámos que as mulheres ganham
mais bolsas de ensino, tiram melhores
médias, trabalham mais horas, estão
mais disponíveis e têm uma vontade de
trabalhar e de progredir na carreira, di-
ferente dos homens. Com este estudo,
demonstrámos que existem espaços, em
novas economias que estão a surgir, on-
de as mulheres, sem qualquer tipo de es-
tereótipo, têm um bom perfil para pro-
gredirem profissionalmente. Por exem-
plo, quando temos um tecido económico
onde predominam as PME’s, essa ges-
tão exige qualidades como a polivalên-
cia e a visão lateral que as mulheres de-
têm, em detrimento de outras caracte-
rísticas mais masculinas como o ritmo, a
determinação e a visão”. Isto significa,
fundamentalmente, que os dois géneros
se complementam, porém o DEGEIT, à
semelhança da maioria das instituições
de ensino, tendo um número mais eleva-
do de discentes do sexo feminino e sen-
do que as taxas de desemprego conti-
nuam a ser superiores neste género, es-
tá perante uma realidade que natural-
mente preocupa a organização.
Ainda segundo este estudo, as mulhe-
res predominam na gestão das organi-
zações, mas não chegam aos cargos de
topo, por exemplo, por questões ligadas
à maternidade; outra das razões prende-
-se com o facto de a própria sociedade
sempre se ter pautado por comporta-
mentos de visão e gestão a médio/longo
prazo (“e os homens têm características
que lhes permitem posicionar-se muito
bem nessa vertente”); “não podemos
também esquecer que a sociedade é de-
signada machista, mas durante décadas
a educação dos filhos esteve a cargo
principalmente da mulher, logo estas
também têm alguma responsabilidade
na sociedade que criámos”, aponta Car-
los Costa com base no estudo efetuado.
“Estas dimensões culturais de um mo-
mento para o outro podem ser altera-
das, não nos podemos esquecer que nas
últimas eleições presidenciais entre no-
ve candidatos, duas eram mulheres.
E na liderança dos partidos políticos es-
sa realidade também já se verifica. Por
seu turno, os projetos de investimento
da União Europeia apontam para a im-
portância da posição das mulheres. Lo-
go, esta é uma sociedade mais democrá-
tica! É num mundo de diversidade de
culturas, de pensamentos, de credos, que
floresce o progresso. O mesmo se pode
aplicar aos “estrangeiros” expressão
que quase perde o seu sentido numa Eu-
ropa de portas abertas”, reforça.
Novas competências para empresários
Em jeito de conclusão, Carlos Costa
levanta o véu sobre as novidades que
vão ocorrer no Departamento já no
próximo ano letivo, 2016/2017. Em se-
tembro próximo, o DEGEIT vai apre-
sentar à população interessada dois cur-
sos para responder às novas necessida-
des de formação das empresas e das or-
ganizações. Os cursos de Gestão de
PME’s e Gestão da Restauração são
abertos – com duração de um ano, a de-
correr aos fins de semana – e estão dire-
cionados para ativos destas áreas que,
com ou sem qualificação superior, po-
dem adquirir competências que serão
desde logo aplicadas no quotidiano das
suas empresas.
Segundo Carlos Costa, “os restauran-
tes têm que se tornar unidades econó-
micas fortes”. Os cursos vincadamente
práticos visam colocar em prática os co-
nhecimentos adquiridos, nas empresas
dos discentes, “aprofundando novos ca-
minhos, produtos e formas de gestão”.
O objetivo passa por “promover a me-
lhor gestão das organizações, através de
formação teórica e prática aplicada à
realidade das empresas em causa”, con-
clui.