CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - ESTATUTO DO DESPORTOEVENTO: Audiência Pública N°: 201/2002 DATA: 3/4/2002INÍCIO: 14:44 TÉRMINO: 16:18 DURAÇÃO: 1:34TEMPO DE GRAVAÇÃO: 1:37 PÁGINAS: 38 QUARTOS: 20REVISORES: Antonio Morgado, Lia, Luci, WaldeciriaSUPERVISÃO: Letícia, Marcia, YokoCONCATENAÇÃO: Débora
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOLARS GRAEL – Secretário Nacional de Esportes.MAGDA MACHADO GOMES - Presidenta da Associação das Federações Esportivas do DistritoFederal e da Federação de Desportos Aquáticos do Distrito Federal.JOSÉ MÁRIO TRANQUILINI NERY – Bicampeão pan-americano de judô.
SUMÁRIO: Apresentação de sugestões para o Estatuto do Desporto.
OBSERVAÇÕESHá intervenção inaudível.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Havendo número
regimental, declaro aberta a 13ª reunião da Comissão Especial destinada a apreciar
e proferir parecer ao Projeto de Lei nº 4.874, de 2001, que institui o Estatuto do
Desporto.
Esta reunião foi convocada para ouvir, em audiência pública, o Sr. Lars Grael,
Secretário Nacional de Esportes; a Sra. Magda Machado Gomes, Presidenta da
Associação das Federações Esportivas do Distrito Federal e da Federação dos
Desportos Aquáticos do Distrito Federal, e o atleta José Mário Tranquilini Nery,
bicampeão pan-americano de judô.
Esclareço que, para melhor andamento dos trabalhos, adotaremos os
seguintes critérios: cada expositor disporá de vinte minutos para sua exposição, não
podendo ser aparteado nesse período. Os Srs. Deputados interessados em
interpelar os convidados deverão fazê-lo estritamente sobre o assunto da exposição,
pelo prazo de três minutos, tendo cada expositor igual tempo para responder. São
facultadas a réplica e a tréplica pelo mesmo prazo, sendo vedado aos expositores
interpelar qualquer dos presentes. Peço ainda aos Deputados que se inscrevam
previamente na Secretaria.
Em razão do acontecido ontem, recomendo aos colegas que marquem
presença no painel do plenário para que não levem falta e apareçam, nos jornais,
como gazeteiros.
Convido para participar da Mesa, na condição de expositores, o Sr. Lars
Grael, a Sra. Magda Machado Gomes e o Sr. José Mário Tranquilini Nery.
Concedo a palavra ao Sr. Lars Grael, Secretário Nacional de Esportes.
O SR. LARS GRAEL – Boa tarde.
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Sr. Presidente, Sr. Relator, nobres Deputados, agradeço aos companheiros
do Ministério do Esporte e Turismo e ao Sr. Jorge Steinhilber, Presidente do
Conselho Federal de Educação Física, a presença.
É um grande prazer estar nesta Casa para discutir, dentro do espírito mais
democrático, os princípios do Estatuto do Desporto que a Câmara dos Deputados
vem analisando.
Quero registrar, Sr. Presidente, a satisfação que trouxe, à comunidade
esportiva nacional, a audiência recentemente realizada na sede do Comitê Olímpico
Brasileiro, com a presença de praticamente todos os Presidentes das
Confederações Nacionais. Tive o prazer de participar daquela reunião de suma
importância, que contou com a participação de sete Parlamentares. Realizamos
construtivo debate. Tivemos idéia da visão dos dirigentes nacionais do desporto
sobre a legislação vigente, assim como um diagnóstico das dificuldades e virtudes
do atual sistema.
Estou hoje nesta Casa, na qualidade de Secretário Nacional de Esportes,
para fazer algumas considerações iniciais sobre o Estatuto do Desporto. Sei que,
com a limitação do tempo, será difícil abordar cada ponto, mas, desde já, selo um
compromisso com o Sr. Relator no sentido de que, em breve, a Secretaria
encaminhará proposta com minuciosa análise de cada artigo.
Abordarei algumas questões. Primeiro, a legislação específica para o futebol
já foi levantada no Seminário Nacional do Esporte organizado no Jóquei Clube
Brasileiro, em 1999, ainda sob a coordenação do INDESP, presidido pelo Prof.
Manoel Gomes Tubino. Lá foram representados todos os Presidentes de
Confederações Nacionais e dos Comitês Olímpicos e Paraolímpicos, inclusive a
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Confederação Brasileira de Futebol. Ficou claro que temos de tratar o futebol de
forma diferenciada perante a lei, pois ele tem impacto econômico e cultural diverso
das demais entidades do sistema nacional do desporto.
Entendemos que, como a maioria dos segmentos esportivos ouvidos pela
Comissão, o futebol, pela sua representatividade no cenário esportivo nacional e
internacional, tanto pelo aspecto técnico, econômico e promocional, como pelas
questões levantadas pelas Comissões Parlamentares de Inquérito da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, merece tratamento diferenciado, seja por lei
própria, seja por destaque em lei geral. Esse é a opinião inclusive dos Presidentes
do COB e das Confederações.
Trago à consideração de V.Exas. alguns aspectos pontuais. A delimitação do
alcance da autonomia das entidades esportivas, culminando com a
responsabilização destas e de seus representantes legais por conduta que contraria
os princípios éticos e morais delineados pelo art. 4º da proposta, representa um
avanço na legislação esportiva, assim como a definição dos objetivos da ação do
Estado na área do desporto, inscritos no art. 7º.
Sugere-se a denominação de Conselho Nacional de Esporte — podemos
optar por Conselho Nacional do Desporto ou Conselho do Desporto Nacional — na
Medida Provisória 1.293-6, de 23 de agosto de 2001, em lugar do antigo CDBB,
como indicado no art. 9º, além de alteração na sua composição.
Na última reunião do COB, em que tive oportunidade de falar, mencionei a
composição do Conselho Nacional de Esportes, de extrema importância para a
regulamentação do desporto nacional. Ele é previsto por lei, já teve alterações na
sua composição, mas, estranhamente, até hoje não foi empossado. Trata-se de
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conselho normativo e deliberativo, fundamental até para diluir responsabilidades do
Poder Executivo, do Ministro de Estado e do Secretário Nacional de Esportes.
Esse Conselho, a meu ver, deveria criar um instrumento, como no antigo
CND, de reconhecimento das entidades nacionais de administração do desporto.
Isso deixou de vigorar na atual legislação, mas é fundamental devido à
multiplicidade de instituições, muitas do mesmo segmento esportivo.
Temos, por exemplo, sete confederações que tratam do caratê, inúmeras da
capoeira, inúmeras do jiu-jítsu, várias do tiro e da pesca submarina. Posso até citar
os nomes, mas elas se diferenciam por pequenos detalhes.
Hoje, por parte do Poder Executivo, cabe análise subjetiva sobre as entidades
aptas a receber recursos públicos. É fundamental que o Conselho Nacional de
Esportes, uma vez definido e empossado, faça esse reconhecimento, diluindo,
inclusive, a responsabilidade do Executivo. Dessa forma, ele poderá definir as áreas
prioritárias: o desporto de criação nacional, o de identidade cultural, o de alto
rendimento, o olímpico, o paraolímpico ou o não-olímpico.
O Conselho Nacional de Esportes está formado pelo Ministro de Estado do
Esporte e Turismo, que o presidirá, pelo Secretário Nacional do Esporte, pelos
Secretários-Executivos dos Ministérios da Educação, de Relações Exteriores, da
Justiça, do Trabalho e Emprego, pelo Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, pelo
Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro, pelo Presidente da CBF, pelo
Presidente do Conselho Federal de Educação Física, pelo Presidente da Comissão
Nacional de Atletas, pelo Presidente do Fórum Nacional de Dirigentes Estaduais do
Esporte, por três representantes do desporto nacional indicados pelo Presidente da
República e por três indicados pelo Congresso Nacional, dos quais um pelo Senado
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Federal e dois pela Câmara dos Deputados, e por um representante dos clubes de
futebol profissional.
Sr. Presidente, devemos reavaliar a composição chapa-branca do Conselho,
ou seja, ele tem intensa representação do Governo. Sempre que necessitar de
consulta a órgão do Executivo, como o Ministério do Trabalho, de Relações
Exteriores ou Educação, poderá fazê-lo. Para isso, não é preciso que os
Secretários-Executivos ou o próprio Ministro o integrem. Há também uma
distribuição excessiva de vagas relacionadas direta ou indiretamente ao futebol.
Proponho à Comissão a seguinte composição: manter o Ministro de Estado
do Esporte e Turismo, que o presidirá, e o Secretário Nacional do Esporte do
Ministério do Esporte e Turismo; excluir a presença dos Secretários-Executivos dos
Ministérios citados; manter os Presidentes do Comitê Olímpico Brasileiro e do
Comitê Paraolímpico Brasileiro; manter o Presidente da Confederação Brasileira de
Futebol, uma vez que estamos propondo tratar o futebol de forma diferenciada, pelo
seu grande impacto econômico, político e cultural; e manter o Presidente do
Conselho Federal de Educação Física, que tem liderança fundamental sobre o setor
que alicerça a estrutura do desporto nacional.
No que se refere à Comissão Nacional de Atletas, que é legítima e vem tendo
destacada atuação no Executivo, apenas mudaríamos de Presidente para
representante, uma vez que, pela portaria que a criou, ela é presidida por Ministro de
Estado.
Sugiro também manter a presença do Presidente do Fórum Nacional de
Dirigentes Estaduais do Esporte, igualmente legítimo e atuante, que vem mostrando
firme representação junto ao Ministério do Esporte e Turismo; os três representantes
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do desporto nacional indicados pelo Presidente da República; e os três indicados
pelo Congresso Nacional, um pelo Senado Federal e dois pela Câmara dos
Deputados — parece-me que essa indicação já existe.
Além disso, incluiríamos o Presidente da Confederação Brasileira de Clubes,
não apenas de futebol, porque essas agremiações têm papel fundamental no
fomento ao esporte nacional como um todo. E, hoje, é reconhecida a Confederação
Brasileira de Clubes, presidida pelo Dr. Arialdo Boscolo, que congrega cerca de 12
mil agremiações esportivas. São também filiados os próprios clubes de futebol e
vários sociais e esportivos de destaque, como o Esporte Clube Pinheiros e o Minas
Tênis Clube.
Sugiro também a inclusão do Presidente da Organização Nacional das
Entidades Desportivas — ONED, criada recentemente, que representa todas as
confederações ou entidades nacionais não-olímpicas, uma vez que a participação
destas está prevista no Conselho. São entidades de caráter nacional, que
congregam esportes relevantes, como o automobilismo, o motociclismo, o vôo livre,
o surfe, o caratê, o jiu-jítsu e outros.
Da mesma forma, sugiro que se inclua o Presidente da Sociedade Brasileira
de Medicina Esportiva, uma vez que o tema do doping é uma preocupação
internacional. Precisamos ter um especialista que represente o setor junto ao
Conselho Nacional de Esportes, o que daria a este consistência técnica.
Além disso, proponho a presença de um representante dos dirigentes
municipais de esporte. No Conselho Nacional de Educação, temos representação
dos Estados e Municípios, inclusive com a presença do Presidente do Fórum dos
Secretários Estaduais. Por analogia, deveríamos ter também a dos Secretários
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Municipais de Esporte. Basta ver que, em muitas Capitais, o fomento ao desporto,
às vezes, supera a própria atividade do Governo Estadual. Assim, é legítima a
representação das Prefeituras.
Finalmente, sugiro a inclusão de um representante dos centros de excelência
esportiva. O Ministério dispõe atualmente de critérios para o cadastramento de
entidades de ensino superior que constituem centros de excelência na área de
ciência e pesquisa junto ao esporte. Estes avaliam e apóiam desde ações e
programas sociais empreendidos pelo Ministério do Esporte e Turismo até as
equipes olímpicas e paraolímpicas permanentes.
Esta proposta da Secretaria Nacional de Esportes será entregue ao Sr.
Relator.
Sugerimos também a alteração, no Título III e em todo o texto, da
denominação “desporto de competição”, conforme o Projeto de Lei nº 4.932, do
Deputado José Rocha, para “desporto de rendimento”, visto que esta, além de
consagrada em preceito constitucional (art. 217, inciso II), vem sendo bastante
utilizada nos meios esportivos e na mídia nacional.
Quanto ao processo eleitoral das entidades esportivas, ele deve, em princípio,
obedecer ao que prescrevem os respectivos estatutos, dadas as peculiaridades de
cada uma, inclusive no que se refere à duração dos mandatos (art. 36, inciso I) e à
data das eleições, devendo, contudo, haver maior participação nos colégios
eleitorais.
É preciso democratizar as entidades, permitindo o acesso ao colégio eleitoral
não só das confederações estaduais, mas também dos clubes, atletas, treinadores e
árbitros. Temos de analisar o assunto e definir critérios para resolvê-lo.
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Entendemos como inovador e positivo o tratamento legal do atleta profissional
autônomo (art. 114), bem como a disposição de capítulo específico para o desporto
de base (arts. 115 e seguintes) e para os agentes desportivos (arts.129 e seguintes),
especialmente a responsabilização dos dirigentes de entidades esportivas prevista
no art. 131 e seguintes.
Também merece destaque a preocupação com a segurança nos estádios de
futebol (arts. 156 e seguintes). Constituiu-se comissão para tratar desse assunto no
âmbito do Ministério da Justiça, na qual o Ministério do Esporte e Turismo se fez
representar. Essa é uma preocupação nacional. Algumas decisões foram tomadas e
parte delas já está implementada. Acredito que poderia estender-se aos ginásios
desportivos, que recebem grande massa popular, a disposição na lei do controle do
doping nos eventos esportivos. Devemos ter atenção muito voltada para o problema
do doping, preocupação crescente em todo o desporto internacional. O Brasil tem o
único laboratório, na América Latina, reconhecido pela World Anti-Doping Agency, o
LADETEC, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Por isso, toda e qualquer
ação que possamos implementar para manter esse controle e acabar com essa
chaga de se consumir drogas visando melhorar o desempenho do atleta ou não,
deve ser incluída em dispositivo legal.
A destinação de recursos públicos para promoção prioritária do desporto
educacional (art. 217, inciso II, da Constituição Federal), sugere o controle
sistemático do Poder Público, inclusive com a realização de eventos de rendimento,
não sendo conveniente a indicação de entidade privada com exclusividade na sua
promoção. Refiro-me ao art. 210, que faculta à Confederação Brasileira de Desporto
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Universitário exclusivamente o fomento ao desporto universitário. Digo isso porque
esse tema traz certa polêmica.
Entendemos que a prioridade do Executivo é o fomento ao desporto
educacional. Basta verificar que hoje o único programa estratégico do Ministério do
Esporte e Turismo é o Esporte na Escola, realidade que está acontecendo em
parcerias com diversos Estados e Municípios. O Ministério do Esporte e Turismo,
junto com seus parceiros — Ministério da Educação, Comitê Olímpico Brasileiro,
Fórum de Secretários Estaduais —, organiza as olimpíadas colegiais até 14 anos,
que se iniciaram no ano 2000 e são compatíveis com o ensino fundamental, além da
olimpíada colegial de 15 a 17 anos. Essa é uma preocupação do Estado.
Portanto, atribuição específica de entidade, seja confederação, seja entidade
de direito privado, não deve ser incluída em dispositivo legal. Tem de haver previsão
para que possamos definir melhor o papel do Executivo e das entidades em relação
ao desporto escolar e universitário, previsto também na chamada Lei Agnelo/Piva, a
Lei do Desporto Olímpico e Paraolímpico.
Transpor para o título relativo aos recursos públicos para o desporto (art. 215
e seguintes) as disposições da Lei nº 10.264.
Sr. Presidente, na reunião passada, no Comitê Olímpico Brasileiro, apresentei
ao Sr. Relator, Deputado Gilmar Machado, proposta que foi discutida na Comissão
Nacional de Atletas, a partir de projeto de lei do Deputado Federal Agnelo Queiroz,
que institui o Bolsa-Atleta. Foi motivo de análise técnica e jurídica junto ao setor.
Remetemos, então, ao Sr. Relator proposta sugerindo essa discussão — se for
necessário, em outra ocasião poderei vir aqui debater. Acredito fundamental instituir
o Bolsa-Atleta.
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Também entregamos proposta de dispositivo para isentar de Imposto de
Importação e IPI material olímpico e paraolímpico sem similar técnico nacional. O
assunto já foi debatido na área técnica do Governo, junto com os Ministérios da
Indústria e Comércio, da Fazenda e do Esporte e Turismo. Essa matéria teve
tramitação favorável e foi encaminhada como proposta ao Sr. Relator.
Para concluir, Sr. Presidente, a matéria vem sendo discutida em mesas-
redondas e na mídia. Verificamos isso também na Câmara Setorial do Esporte, nas
quinze reuniões, com todos os segmentos do esporte lá representados, anseio
também da Comissão Nacional de Atletas.
Há necessidade de entendermos que o esporte é sobretudo um fenômeno
cultural. Hoje, o desporto nacional tem as empresas estatais como um dos principais
patrocinadores. De outro lado, temos observado também certa omissão, certo
esvaziamento de investimentos da iniciativa privada em favor do esporte. Por quê?
O mercado de patrocínio é um só, e hoje existe instrumento legal de incentivo ao
setor da cultura — o que consideramos importante, assim como é importante
apoiamos a chamada Lei Rouanet, que entendemos deve ser estendida também à
prática esportiva. É o apelo que trago aqui de toda a comunidade esportiva, na
condição de seu representante e na função de Secretário Nacional de Esportes.
Agradeço a todos a atenção, e a V.Exa., Sr. Presidente, Jurandil Juarez, pela
oportunidade. Coloco-me à disposição para um eventual debate.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Agradecemos ao Sr. Lars
Grael, Secretário Nacional de Esportes, a participação.
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Vamos seguir com as exposições, para, ao final, fazermos em conjunto os
debates eventualmente necessários. Quero louvar, apesar da ausência do Deputado
Agnelo Queiroz, o fato de que sua reivindicação já está sendo atendida. Agora já
não é mais Lei Piva, mas Lei Agnelo/Piva. Se S.Exa. não tivesse chiado, para usar
uma expressão nossa, ficaria sempre Lei Piva. Aliás, o nosso texto fala
exclusivamente em Lei Piva.
Na seqüência das exposições, concedo a palavra, por vinte minutos, à Sra.
Magda Machado Gomes, Presidenta da Associação das Federações Esportivas do
Distrito Federal e da Federação dos Desportos Aquáticos do Distrito Federal.
A SRA. MAGDA MACHADO GOMES – Sr. Presidente, Deputado Jurandil
Juarez; Exmo. Sr. Relator, Deputado Gilmar Machado; Sr. Secretário Nacional de
Esportes, Lars Grael; senhoras e senhores, como disse nosso companheiro, já não
é sem tempo a vinda de alguma medida que dê fundamento à prática desportiva.
Tenho poucos comentários a fazer. Quero reiterar as palavras do nosso Secretário
Nacional de Esportes, Lars Grael, pelo fato de separar imediatamente a legislação
desportiva do desporto amador da do futebol, ou da do rendimento. Com certeza, o
futebol deve ter legislação própria, um estatuto à parte das outras modalidades. É o
desejo de todos os Presidentes de Federações, e trago essa reivindicação em nome
dos meus colegas.
Outro ponto que considero pouco falho está no desporto escolar, voltado
apenas para a formação integral do cidadão. Aliás, nem é citada a palavra integral,
apenas “formação do cidadão”. Acredito que é no desporto escolar que tem de haver
a iniciação desportiva. É ali que nasce o atleta. No momento em que jogamos para a
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escola a responsabilidade pela sondagem e verificação de aptidões físicas de
nossas crianças, o desporto escolar, com certeza, passará a ter outra conotação.
Outro ponto citado é a definição das atribuições do Estado e das
competências dos Ministérios da Educação e do Esporte e onde entram as
competências dos comitês olímpicos. Por exemplo, a verba destinada aos jogos
escolares não vai para o MEC, mas encontra-se, se não me engano, no COB, ou no
próprio Ministério do Esporte. Esse aspecto também merece ser revisto.
No art. 9º — Composição do Conselho de Desenvolvimento de Desporto
Brasileiro —, sugiro a inclusão de “um atleta do esporte amador”, pois só fala em
atleta do esporte profissional.
O art. 49 é polêmico, pois trata da criação de ligas. Temos de fortalecer as
instituições existentes: as ligas regionais e municipais — federações, confederações
comitê. A Lei Pelé deixou muito solta a criação de ligas. Duas ou três pessoas
podem formar uma liga. Isso vai gerar conflitos, porque, por exemplo, uma federação
organiza um certo evento e vem uma liga fazer o mesmo. Nesse contexto, a lei não
vai pegar. Ela dá muita abertura e, como disse, qualquer pessoa pode criar uma liga.
O art. 36 destaca a duração dos mandados de dirigentes esportivos, quatro
anos. Na verdade, é uma faca de dois gumes. Administrar por quatro anos é
complicado e reeleger-se, para ficar oito anos, mais complicado ainda.
Sugerimos três anos, tempo suficiente para reparar o que estiver malfeito, e
continuar, mais três anos, se estiver bem-feito.
Estabelece o art. 206:
“Art. 206. Nenhuma instituição de ensino de nível
básico, pública ou privada, será autorizada a funcionar se
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não dispuser de espaços, instalações e equipamentos
apropriados ao ensino e à prática do desporto escolar.”
Sugiro ainda que o Congresso Nacional preveja em seu orçamento anual
recursos para essas despesas, caso contrário, com certeza, esse artigo será letra
morta na lei que se pretende aprovar.
É muito bonito dizer que a escola só poderá funcionar com espaço físico
adequado para a prática desportiva. Sabemos que a realidade é outra. Tem de
haver uma lei que aprove recursos para cobrir essas despesas.
Falarei um pouco dos problemas da base do esporte, das federações locais,
atendendo à solicitação dos Presidentes e de algumas pessoas no plenário.
Tudo é muito bonito, mas a realidade é bem diferente.
Hoje em dia, a maioria das federações funciona sem dinheiro; não existe
recurso de âmbito nacional. É muito difícil uma confederação repassar alguma coisa,
uma vez que sua verba está destinada aos atletas de rendimento, aos atletas
olímpicos. Se a verba já é considerada escassa para a confederação, pior ainda
para as federações.
Imaginem como é difícil para uma liga, uma federação qualquer — e refiro-me
aqui a uma das melhores do Distrito Federal, não a mais pobre — apresentar
relatórios, se não tem verba sequer para pagar um contador que analise suas
contas. Falar de auditoria em federações é mais complicado ainda. Algo precisa ser
feito para que as federações, as ligas, os clubes sejam beneficiados, como por
exemplo, destinar-lhes verbas com objetivos e propósitos. As federações estão
pedindo socorro, pois não estão conseguindo sobreviver. Não têm como pagar
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funcionários, auditores, ou contratar advogados, ou seja, tudo o que é necessário
para que uma federação exista legalmente.
Agradeço imensamente à Comissão a oportunidade. Espero que os senhores
levem em conta as dificuldades por que passa o esporte amador.
Ainda tenho a dizer que, uma vez profissionalizado o esporte como um todo,
precisamos dessa abertura. Talvez seja essa a saída para o esporte no País. Com
certeza temos o material físico, ou seja, os atletas. Falta-nos apenas apoio
governamental. O Ministério do Esporte e Turismo tem feito tudo para dar o salto
que o esporte brasileiro precisa para recuperar medalhas olímpicas.
Acabo de receber a notícia de que, no Campeonato Mundial de Natação que
está acontecendo na Rússia, o Brasil conseguiu medalha de prata com o nadador
Gustavo Borges. Para nós, isso é muito bom.
Obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Concedo a palavra ao
atleta José Mário Tranquilini Nery, bicampeão panamericano de Judô.
O SR. JOSÉ MÁRIO TRANQUILINI NERY – Boa tarde a todos. É um prazer
estar nesta Casa. Agradeço a todos que apoiaram o esporte, em especial o pessoal
da Secretaria de Esportes; o Sr. Lars Grael, que está revolucionando o desporto;
meu amigo Mário Drumond, advogado que me ajuda em meu curso de Direito; o
repórter Cruz, que está sempre atento ao esporte; a Sra. Magda Gomes, guerreira
do desporto, e o Sr. Deputado Gilmar Machado. Obrigado por esta oportunidade.
Eu, o Aurélio, o Castro Pio e o Rogério Sampaio fizemos parte de um grupo
para acabar com a dinastia da família Mamede, que durou vinte anos. Não
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conseguimos. Fizemos denúncias de todo o tipo para o Ministério Público e para a
polícia, mas apenas com a eleição foi possível derrubá-la.
Agradeço ao Deputado Regis Cavalcante a oportunidade que me foi dada
para falar das dificuldades e do que podemos fazer efetivamente para melhorar o
esporte e afastar a grande podridão que nele se encontra. Isso precisa ficar bem
claro aqui. Tenho apoio da minha esposa, que me fornece toda estrutura para eu
guerrear no esporte. Seria mais fácil me afastar dele, de tanta tristeza que já vi.
Tenho algumas propostas a expor a esta Casa.
Aprendi judô na escola. Hoje, em parceira com os Correios, tenho um projeto
que engloba 350 crianças. Nosso objetivo é o esporte voltar como prática obrigatória
nas escolas. Sei o quanto o professor se torna responsável perante a família. Muitas
vezes o pai e a mãe são ausentes, e a grande esperança deles é o filho estar
praticando um esporte.
Gostaria ainda que os dirigentes esportivos recebessem remuneração.
Parece piada, mas é verdade. Quero falar do meu esporte. O Mamede não
trabalhava, mas conseguiu ficar vinte anos à frente da Confederação Brasileira de
Judô. Quero saber como ele ganhava dinheiro se não trabalhava.
Se tal medida for adotada, talvez as pessoas parem de sangrar as
federações, confederações, o que seja, porque, no fundo, a imagem do Presidente
que está lá há muito tempo funde-se àquele órgão; depois, não se consegue
patrocínio nem se é recebido em lugar algum. Isso é importantíssimo.
O Ministério Público deve ser o órgão fiscalizador do sistema desportivo. Por
que estou fazendo essa observação? No momento da guerra com a confederação,
vi que em alguns momentos devíamos denunciar e nos afastar. Então, vou ficar
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trabalhando nesses dois campos. O Ministério Público seria um excelente órgão
fiscalizador do sistema desportivo.
Incentivo fiscal para as empresas patrocinadoras do esporte. Como o Sr. Lars
Grael disse, isso vai ajudar muito o esporte, apesar de a chapa-branca voltar a
ajudar o esporte, mas isso é preponderante para ele. Quando saímos do País, tudo
é cotado em dólar, tudo é difícil, inclusive nos comparar com os atletas de fora.
Gostaria também de propor a inelegibilidade de devedores da União, pessoas
físicas e jurídicas. Pessoas envolvidas com algum problema não poderiam fazer
parte de uma administração, nem trabalhar com verba pública, porque às vezes há
repasse de verbas do Governo, e as federações ou confederações não possuem
estrutura adequada e acabam não prestando conta corretamente. Se não afastarem
essa pessoa de lá, ela vai pegar esse dinheiro e fazer coisas erradas com ele.
Apresentação de certidão negativa criminal para os candidatos a cargos
eletivos. Acredito que todos os que estão nesta sala sabem quanto o esporte está
nas páginas policiais. Isso é claro, não há como mudar, está aí. Essa é uma maneira
de marcarmos bem fortemente essa situação. Proponho ainda o afastamento
preventivo dos dirigentes formalmente acusados de corrupção. Não pode acontecer
de a pessoa estar envolvida em falcatruas e estar à frente de uma federação, clube
ou confederação.
Em homenagem ao Presidente da Federação de Tênis, quero propor o voto
direto dos atletas nos clubes, federações e confederações — essa experiência já
acontece em Brasília, onde há uma das melhores federações, que tem todas as
suas contas corretas.
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Nosso grupo ficou vinte anos tentando tirar o Sr. Mamede do comando da
Confederação Brasileira de Judô. Ele quase se afastou por problemas de saúde. O
Estado não tem instrumentos para agir, se tem, não usou para afastá-lo. Certa vez
procuramos o Sr. Lars Grael, e ele estava pronto a nos ajudar, pois é atleta, mas,
infelizmente, não pôde. Tenho certeza de que isso aconteceria logo.
Em homenagem aos nossos guerreiros — e cito aqui Gustavo Borges, Aurélio
Miguel, Rogério Sampaio e Joaquim Cruz, que hoje trabalham com crianças —,
proponho pensão vitalícia para os medalhistas olímpicos.
Gostaria que o Sr. Lars Grael, que é meu ídolo, praticasse judô. Ele falou
sobre o Bolsa-Atleta. Também sou a favor, e o estenderia para o técnico, cujo
envolvimento é muito grande. Seria importantíssimo nos lembrarmos dele.
Nesse meu projeto de judô para criança, o técnico cuida não só do
treinamento, mas da saúde, parte mental, como da conversa com os pais. Na escola
isso é importantíssimo.
Deputado Gilmar Machado, Presidente Jurandil Juarez, Sr. Lars Grael, por
incrível que pareça, eu, com este tamanho — tenho dois metros, peso 180 quilos —,
fui ameaçado de prisão pelo Conselho Regional de Educação Física — CREF.
Entrei com ação cautelar no Ministério Público. Temos a dança e a capoeira, que
são manifestações culturais. Não pode uma pessoa designada para fiscal entrar na
minha academia e me ameaçar de prisão. Estou falando porque li a ação cautelar e
isso foi o apurado. Fui lesado, vou até entrar com uma ação. Quando fui me
inscrever no CREF me pediram prestação de contas dos anos anteriores. É como se
eu fosse comprar um carro e me perguntassem: “Desde quando você quer comprar
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carro”? Há seis meses. “Então você tem que pagar seis meses de juros”. Mas vou
reaver esse dinheiro.
O CREF tira o poder das confederações. Imagine que ele está promovendo
curso de juiz de boxe, faixa preta de judô. Fui até lá anonimamente e me disseram
que poderia ser faixa preta de judô. Como? Eu fiz teste, passei anos me
aprimorando no judô para poder dar aula, ajudar as pessoas, e hoje sou ameaçado
de ser preso. Estou esperando a ida deles até minha academia para tentarem me
prender, Sr. Presidente.
O nosso esporte é muito difícil — está aqui o Lars, uma pessoa que batalha
— para termos de pagar quase 600 reais. É muito difícil para mim. E estão nos
cobrando esse dinheiro. Precisamos da chapa branca para ajudar e não para
atrapalhar.
O CREF é autarquia. Isso foi apurado lá. E os funcionários foram contratados
por indicação, não fizeram concurso. A ação cautelar assinada pelo Procurador
Ezequiel, pelos Promotores Bessa, Camanho e Luís Francisco foi mais uma
maneira, ficou claro, de tirar dinheiro do atleta. Não sei como conseguem isso.
Ajude-nos a melhorar nossa situação, Sr. Presidente!
Como disse o Lars Grael, o Estado é o maior financiador do esporte. Não
pode mais um órgão chapa branca ameaçar prender os professores de judô. Está
aqui o meu repúdio. Não aceito e não quero que isso aconteça. Temos que lutar
contra essa determinação, porque vai atrapalhar muito o nosso trabalho. Imaginem o
Aurélio Miguel querer dar aula de judô e não poder porque não está filiado ao CREF.
Mais uma vez agradeço a todos a oportunidade.
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Quero convidar o Presidente do CREF para o debate. Não é o momento, mas
como citei o órgão, coloco-me à disposição.
Sr. Presidente, agradeço a oportunidade dada ao esporte. Há vinte anos era
impossível acreditar que seria criada uma Comissão para tratar do esporte, com o
intuito de melhorá-lo. V.Exa. sabe do papel fundamental que representa no esporte.
Obrigado por ser meu amigo e por me proporcionar essa vivência. Posso dizer que é
um milagre.
Desculpem-me a emoção, mas as dificuldades são muito grandes e este é o
momento de deixarmos claro aqui que devemos melhorar cada vez mais o desporto.
Obrigado a todos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Obrigado, Sr. José Mário
Tranquilini Nery, bicampeão panamericano de judô, pela contribuição que dá a esta
Comissão.
Passemos agora aos debates.
Inicialmente, concedo a palavra ao Relator, Deputado Gilmar Machado, para
que formule suas indagações.
O SR. DEPUTADO GILMAR MACHADO – Muito obrigado, Sr. Presidente.
Vou fazer a pergunta para os três convidados.
Em primeiro lugar, agradeço ao Secretário Nacional de Esporte, Lars Grael, a
contribuição de hoje, bem como a que já nos enviou. Seria extremamente importante
se pudéssemos receber esse outro comentário feito aqui, porque a nossa idéia — e
comprometemo-nos junto ao Comitê Olímpico Brasileiro e às outras entidades que
vamos estar ouvindo — é entregar uma primeira versão do nosso relatório ainda no
início do mês de maio, dando um prazo de dez a quinze dias para recebimento de
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sugestões para, então, elaborarmos o relatório final que será votado. Estaremos
disponibilizando essa primeira versão para a Comissão e também para todos os
debatedores que compareceram aqui, porque nosso objetivo é fazer o melhor para o
desporto nacional.
Temos recebido uma série de contribuições de várias entidades, mas
queremos intensificar este mês as conversas com atletas.
Aproveito a presença do Secretário Lars Grael, ex-atleta que está voltando a
competir, inclusive ganhando competições, para saber o seguinte: nossa
preocupação é exatamente com as várias modalidades de atletas, profissional,
autônomo, como é que V.Sa. trabalha essa questão? Será que teremos de ampliar
essas classificações ou reduzi-las?
A pergunta seguinte diz respeito ao atleta que encerra sua carreira. Vou
depois fazer a pergunta ao Tranquilini que propôs pensão vitalícia para os
medalhistas olímpicos. Não sei se poderia ser vitalícia. A que tipo de assistência o
atleta tem direito depois que encerra suas atividades?
No futebol, a CBF está criando um fundo de apoio ao atleta. Como isso
funcionaria nas demais modalidades? Seria criado um fundo permanente? De onde
sairiam os recursos? Precisamos criar algo que preste assistência ao atleta depois
que ele pára de competir — estamos falando do atleta de rendimento e não dos
demais.
A Sra. Magda Machado mencionou aqui alguns pontos. Quero apenas
entender melhor a posição de V.Sa. quando diz ser preciso aperfeiçoar o esporte
educacional.
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Concordo, e essa é uma das áreas que tenho trabalhado mais, como
educador. Agora, como podemos fazer algo em prol do esporte educacional sem
querer transformar os meninos em atletas? Daqui a pouco teremos crianças de
nove, dez anos seguindo disciplina rígida, ficando horas concentrada e tudo o mais.
A criança tem mais é que se divertir com o professor. Particularmente, quero que
meus meninos tenham o maior contato com tudo. Como a Federação trabalha o
esporte educacional? Claro que podem surgir revelações, mas não pode se tornar
um espaço apenas para preparação de futuros atletas. Assim, estaremos revertendo
a lógica do esporte educacional.
Dirijo minhas perguntas, agora, à representante da natação sobre o atleta
profissional autônomo. Por exemplo, o Gustavo Borges, que foi citado, é ou não
profissional? Gostaria que essa questão fosse aprofundada. Precisamos saber, para
fazer uma lei que não o impeça, por exemplo, de ter condições de desenvolver
melhor a sua ação, o seu trabalho. Só poderemos criar apoio financeiro, se tivermos
regras claras. Vai ser pelo INSS? Se ele é profissional, o INSS pode dar cobertura,
mas, se não é, ele pode pagar por fora. Como isso é trabalhado?
Faço a mesma pergunta ao José Mário Tranquilini Nery, a quem agradeço a
presença. Queremos ouvir o maior número de atletas possível para que, de fato,
possamos elaborar um bom projeto. Na área do esporte de rendimento, ele é
elemento central, importantíssimo. Não queremos criar nenhuma regra aqui que
depois venha a causar transtorno.
Como V.Sa. avalia o apoio ao atleta hoje no Brasil? V.Sa. teve apoio antes da
conquista dos seus títulos pan-americanos? Como é o atleta profissional e o
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amador? No judô, há atletas profissionais com direitos trabalhistas e previdenciários.
E como poderíamos estar trabalhando isso em outras modalidades?
V.Sa. já fez sua exposição. Se tiver algum documento sobre como
poderíamos valorizar o atleta nesse estatuto, peço-lhe que nos repasse depois.
Além disso, a exposição de V.Sa. foi gravada e vamos ouvi-la posteriormente para
colhermos os subsídios.
Seriam estas as perguntas, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Passo a palavra ao
Secretário Lars Grael para suas considerações sobre as questões levantadas pelo
Relator.
O SR. LARS GRAEL – Muito obrigado, Sr. Presidente. Sr. Relator Gilmar
Machado, acho que V.Exa. trouxe grande contribuição com essas perguntas. Foram
todas muito pertinentes. Gostaria de abordá-las uma a uma.
Com relação à classificação do atleta, temos uma subjetividade muito grande.
Primeiro, porque entende-se por atleta profissional aquele que tenha um contrato de
trabalho, um vínculo empregatício e, conseqüentemente, trabalhista junto a uma
empresa, a um clube ou a um patrocinador. Hoje, no Brasil, perante a lei e na
prática, só os jogadores de futebol são atletas profissionais. Mas sabemos que em
outras modalidades esportivas existem atletas com uma relação profissional com o
seu patrocinador ou com o próprio clube.
Porém, na carta olímpica permanece ainda a figura do atleta olímpico, aquele
que se chamava atleta amador, o que é uma incoerência a partir do instante em que
dos Jogos Olímpicos participam os astros da NBA, do basquete profissional, do tênis
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profissional e até mesmo do atletismo. Esses, por exemplo, recebem remuneração
para participar dos meetings.
Então, essa classificação, como disse, é subjetiva e merece toda uma
avaliação para que não tenhamos uma interpretação que fira a carta olímpica, que,
com relação a esse aspecto, parece-me hipócrita. No automobilismo, temos casos
típicos de profissionalismo, mas, hoje, afora alguns sindicatos, a única entidade que
trabalha com essa questão é a FAAP — Fundação de Assistência ao Atleta
Profissional, que tem uma rede de AGAPs estaduais e regionais, que atende em
alguns Estados especificamente a ex-atletas do futebol, com o objetivo de sua
reinserção no mercado de trabalho.
Entende-se por atleta autônomo aquele cuja sobrevivência se dá por meio de
patrocínios, de apoios de clubes, mas que não configura nenhum vínculo
empregatício com empresa ou clube. Nessa categoria está hoje a maioria dos
atletas olímpicos e paraolimpícos do País. E o atleta amador é aquele cuja atividade
esportiva competitiva, ou não, esporádica, ou não, está no cenário esportivo
nacional.
Acho realmente difícil definir quando se deixa de ser meramente amador e
passa a ser autônomo, em busca de recursos para a subsistência da sua carreira,
ou quando se torna profissional de fato. Isso requer todo um estudo, inclusive
perante as leis trabalhistas.
Em relação à pensão para o atleta, exposta aqui pelo nosso campeão e
amigo José Mário Tranquilini Nery, é muito pertinente.
O Brasil observa muitas vezes com tristeza os ídolos do esporte nacional.
Cabe lembrar que todo país se faz com o exemplo dos seus grandes homens. E o
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nosso é carente de heróis nacionais. Se temos um segmento no qual podemos
identificar heróis é no esportivo, onde temos grandes ícones como Pelé, Ayrton
Senna, Ademar Ferreira da Silva e muitos outros. Causa-nos tristeza ver campeões,
como João do Pulo e Garrincha, falecerem na obscuridade, sem apoio ou
reconhecimento. O pouco apoio que João do Pulo teve veio da sua aposentadoria
como suboficial das Forças Armadas.
Acho que isso mereceria um estudo específico, porque medalhistas olímpicos
e paraolímpicos no Brasil não são muitos e são pessoas que lutaram uma guerra
saudável, antítese da violência. São pessoas que foram um exemplo para várias
gerações, contribuíram com o País e muitas vezes caíram no esquecimento.
A criação de um fundo para o esporte, Deputado Gilmar Machado, é
fundamental. O órgão que trata de esporte no Brasil, hoje, já tem o status de
Ministério, começa a ter orçamento, a ser tema de preocupação nacional a ponto de
termos esta importante Comissão Especial acontecendo, fato que não ocorria, como
disse José Mário Tranquilini Nery, há dez ou vinte anos. Sabemos do atual papel do
esporte como meio de ação social, como meio de prevenção da violência, como
meio de desoneração do sistema nacional de saúde, como meio de
complementação de qualquer ação educacional no País, e teríamos de ter um fundo
para o esporte.
Esse fundo poderia abastecer os programas olímpicos e paraolímpicos; dar
assistência ao atleta profissional; patrocinar cursos de capacitação para que esses
atletas sejam reinseridos no mercado de trabalho, finda a sua atividade profissional
ou não junto ao esporte; financiar pensões para os que brilharam representando o
País. Sustento essa proposta da bolsa-atleta.
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A receita para esse fundo teria de ser estudada. Por que não reestudarmos a
questão do bingo que trouxe uma receita voltada ao esporte e gerou uma crise junto
ao INDESP, e que culminou com a extinção dessa autarquia?
O bingo hoje vive uma fase em que sua jurisdição e seu controle estão junto à
Caixa Econômica Federal e podemos reestudá-lo, uma vez que as casas de bingo
estão aí. E já que a proposta inicial foi o fomento ao desporto, por que não a receita
do bingo ser destinada, por exemplo, a esse fundo em favor do esporte nacional?
Um fundo que fosse criado por esta Comissão, que poderia ser controlado pelo
Conselho Nacional de Esportes.
Para terminar, passo à pergunta que V.Exa. fez à Presidente da Federação
de Esporte Aquático do Distrito Federal, D. Magda. Trata-se do tratamento que se dá
hoje ao aluno, ao jovem, por meio do esporte na escola.
É fundamental que estejamos tratando de jovens cuja prática esportiva esteja
voltada meramente à questão da formação educacional, à questão pedagógica. Não
temos jamais o objetivo de transformar qualquer programa social do Ministério ou
dos Estados ou das Prefeituras em peneiras para formação de talentos.
V.Exa. é educador e tem essa visão muito clara. Creio que partilhamos do
mesmo ponto de vista. Os objetivos desses programas precisam ser meramente
educacionais. Uma conseqüência desses programas, ao universalizar a prática dos
esportes na sua multiesportividade e não apenas na monocultura do futebol, sem
dúvida, é a formação de talentos.
Através dessas olimpíadas colegiais temos de ter um comprometimento das
confederações, porque elas estão voltadas apenas à questão da representação
internacional e devem ter um compromisso de olhar para a base, por via das suas
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federações estaduais, dos próprios clubes, podendo detectar esses talentos que se
manifestam encaminhando-os para o ingresso no sistema formal nacional do
desporto.
Esta é a nossa visão.
Espero ter respondido às suas perguntas. Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Obrigado, Lars Grael.
Desculpem-nos se o tratamos com tanta intimidade. Na verdade, o senhor não é,
para nós, apenas o Secretário Nacional de Esportes, mas um ícone do desporto
nacional.
Com a palavra a Sra. Magda Machado Gomes, para suas considerações
sobre as perguntas feitas pelo Relator, Deputado Gilmar Machado.
A SRA. MAGDA MACHADO GOMES – Quanto à situação do Gustavo
Borges, nosso Secretário respondeu. Ele é um atleta amador, embora receba ajuda
de custo, já que a lei prevê isso, deixando-o legalmente como amador, mas ele tem
rendimentos, tem patrocínios, o que é permitido por lei.
A partir de um contrato assinado, ele passaria a ser um atleta profissional.
Quero fazer uma pergunta ao Sr. Lars Grael. O atleta pode ser profissional
independentemente da modalidade? Só temos o futebol legalizado como instituição
profissional. O atleta pode se profissionalizar? Por exemplo, na Confederação, ele
pode ter esse nome de profissional? Não sei.
(Intervenção inaudível.)
A SRA. MAGDA MACHADO GOMES – Nesse caso, perde-se o acesso à
carta olímpica.
Então, o Gustavo é um atleta amador.
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Quanto ao desporto escolar, também defendo a idéia. Até diferencio, no seu
todo, o desporto escolar do desporto educacional. S.Exa. referiu-se ao desporto
educacional. Eu falei do desporto escolar, que é o esporte já praticado na escola,
exatamente em função dessa caracterização pelo lado formal e pelo lado
educacional. Daí a razão de investir nesses meninos, que muitas vezes não têm
acesso aos centros de treinamento. E eles se perdem. Com a realização dos jogos
escolares, da olimpíada colegial, esses talentos são detectados. Mas é muito
comum esses atletas passarem despercebidos na escola.
É necessário que a lei diferencie o desporto escolar do desporto educacional,
que, para mim, são distintos. Temos o exemplo aqui em Brasília do CIEF — Centro
de Investigação sobre Economia Financeira — e do CIDS — Centro Internacional de
Desenvolvimento Sustentável. Várias crianças no seu desenvolvimento educacional
no esporte como um todo foram detectadas e levadas para esses centros, onde elas
fazem uma complementação da sua atividade curricular.
Acredito muito no atleta que nasce na escola, no atleta da periferia que não
tem outra razão de ser e de viver senão o esporte. Muitas vezes esse atleta se
perde. Com a volta dos jogos da juventude, que mexe muito com o desporto escolar
em todas as faixas etárias, e da própria olimpíada colegial, temos o resgate disso.
Mas não fica claro, em momento algum — e ele defende isso veementemente —,
que seja apenas o desporto educacional. No meu ponto de vista, temos que abrir
uma brecha para o desporto escolar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Concedo a palavra ao
atleta José Mário para tecer suas considerações sobre a indagação do Relator.
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O SR. JOSÉ MÁRIO TRANQUILINI NERY – Deputado Gilmar Machado,
V.Exa. me fez duas perguntas. A primeira não consegui anotar. A segunda foi sobre
o apoio que tive. Qual foi a primeira pergunta que V.Exa. fez para mim?
O SR. DEPUTADO GILMAR MACHADO – Foi a mesma pergunta
endereçada à Sra. Magda Machado — o que é o atleta profissional e o
semiprofissional —, para que possamos encontrar uma forma de financiamento para
esse atleta. Estou convencido de que devemos ter uma norma que ampare o atleta
posteriormente. Mas tudo isso vai depender de orçamento.
Estou pensando num fundo ou algo nessa linha. Não podemos pensar em
legislação só agora. Temos de pensar que ela vai se desenvolver. Entendo que o
Brasil não vai ter na próxima olimpíada dez ou quinze medalhas. Mas queremos que
isso aconteça um dia. Evidentemente, temos que calcular isso ao longo do tempo.
O SR. JOSÉ MÁRIO TRANQUILINI NERY – Certo, Deputado. Falarei um
pouco sobre o início de minha carreira.
Amigos do meu pai participaram disso. No clube, fazíamos uma vaquinha. As
pessoas davam dinheiro, e eu conseguia viajar. O pessoal tomava uma cerveja a
mais, e meu pai começava a fazer a vaquinha. O pessoal já estava preparado e
pagava um pouquinho mais, não é Cássio? Você se lembra disso no clube?
Usávamos de todos os estratagemas. Por exemplo, para irmos a uma
competição no Rio de Janeiro, ajudei um amigo meu a vender a casa. Eu recebia
dinheiro e pagava para ele, que me levava de carro para a tal olimpíada. Foi aí que
eu ganhei... fui de Passat. Não sei como cabíamos dentro do carro. O Presidente
falou: "Uma cadeira para você”. Eu disse: "Não estou acostumado”. (Risos.) Nessas
viagens eu sofria muito.
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Estou mais calmo agora, porque não consigo conceber que no nosso País
soframos de tudo que é lado. Este é um momento de redenção para mim. Fico muito
contente.
Com essa lei do Deputado Agnelo Queiroz, o esporte vai ser outro, Lars. Você
sabe disso. O Nuzman está fazendo o trabalho dele, e o judô já está recebendo a
sua parte. Estou muito feliz. Quando eu disse que não tinha muito por que me
orgulhar do esporte, foi porque no meu tempo era tudo difícil. Sofríamos por causa
de alimentação. Eu já viajei para lugares e desmaiei de fome. Isso tem que ficar
claro: eu passei fome. Agora imaginem os outros coitados que nem chegam a ir para
uma competição?
Estamos discutindo uma quantia grande de dinheiro. Esse dinheiro tem que
chegar onde é necessário, Deputado, senão vou achar que existem outros
interesses. Esses recursos têm que chegar para um outro Tranquilini que esteja
começando sua carreira esportiva. É preciso dar estrutura para esse pessoal.
Estamos recebendo, hoje, parte do dinheiro, e quero homenagear o
Presidente Paulo Wanderley, que é um homem maravilhoso e está fazendo um belo
trabalho. As delegações já estão viajando sem precisar pagar. Antes era um
suplício. O Lars sabe disso. Eu e o Aurélio — atletas medalhistas em olimpíada —
tínhamos que fazer um documento pedindo dinheiro para conseguir viajar, porque
não tínhamos nada.
Digo isso porque há um ano, ou seis meses antes de o Deputado Agnelo
Queiroz entregar esse projeto, eu o vi. Eu sei que ele fez a lei. Nós participamos. O
Gil, do gabinete, mostrou para mim e para o Aurélio como seria a lei, e eu não
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imaginava o tanto que ela ajudaria o esporte. Talvez essa seja a resposta da
primeira pergunta que V.Exa. fez.
Quando expus aqui a idéia da pensão vitalícia, discutindo com meu amigo, foi
para tentar, de algum modo, mudar a situação. Vimos como o João do Pulo ficou
exposto na mídia pelo seu problema com a bebida. É preciso que o atleta tenha
dinheiro e condições para manter o status, para poder treinar, ter uma equipe e
ajudar outros atletas. Isso é importantíssimo, e o Brasil não pode virar as costas.
Hoje posso dizer isso porque estou ajudando muitas famílias e muitos jovens.
Achei que era só dar aula de judô, mas não é. Eu via o garoto chegar tonto de fome
e tinha que parar o treino, levá-lo para a cantina e pagar um lanche para ele. Outro
chega com a perna cheia de feridas, porque mora perto do lixão, e tenho que
comprar um tênis para ele. Outro chega com o quimono na mão, aí eu compro uma
sacola para ele. Onde está esse dinheiro? Seria necessário um programa, um centro
de treinamento para fazer isso, mas, devagarinho, vamos para frente.
Estou sendo dramático, mas vivi essa situação. Não adianta tentar enfocar
esse problema com outras palavras, porque vivi essa situação no esporte.
Temos que pensar em como criar um atleta, em como podemos aproveitar
aquele cidadão. O esporte é uma área de alta competição, e o atleta pode melhorar
a sua expectativa. Imaginem que, em outra situação, ele seria mais um número na
estatística policial, e com o judô ele pode ir para a faculdade, pode conhecer o
mundo — esse é o lado social — e também pode se regenerar. Agora estou
tentando implantar esse projeto de judô no CAJE.
Vamos atacar nessas três frentes: alto rendimento, parte social e uma forma
de melhorar a formação da pessoa, mas isso só se faz com dinheiro, com estrutura.
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É importantíssimo que pessoas como nós estejamos debatendo e fazendo
propostas. Tomara que eu veja os frutos disso.
Mais uma vez agradeço pela oportunidade.
Vou entregar essa ação, que o senhor me pediu, e os recibos, provando que
paguei para me filiar ao CREF. Espero que os Deputados presentes olhem para
esse lado e me ajudem, porque a movimentação é grande, e isso pode até acabar
com a nossa federação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Antes de passar a palavra
ao Deputado Gilmar Machado, faço uma observação. Estamos sendo informados
que as Comissões terão que suspender os seus trabalhos às 16h. Vamos encerrar
os trabalhos, mas com a naturalidade de quem tem o que dizer, porque esse
contingenciamento do horário é algo que não combina com a atividade parlamentar.
Concedo a palavra ao Deputado Gilmar Machado.
O SR. DEPUTADO GILMAR MACHADO – Primeiro, agradeço ao Tranquilini.
Haverá uma audiência aqui com o CREF, e vamos ouvir as sugestões e
contribuições que eles também tenham para aperfeiçoarmos esse trabalho.
Sr. Presidente, peço que seja agilizada a audiência com o Comitê
Paraolímpico Brasileiro. Já ouvimos o Comitê Olímpico e agora temos que ouvir o
Comitê Paraolímpico.
Estou preocupado porque, nessa lei — sou Relator, e sei do esforço do
Deputado Agnelo Queiroz e do Senador Piva — previmos recursos para o esporte
paraolímpico, aperfeiçoando, inclusive com recurso para o educacional, mas é o
caso de o Comitê fazer convênios, não para repassar para entidades fazerem.
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Queremos deixar isso bem claro no projeto porque muita gente estava
achando que a parte dos 15% que vai para o educacional, o universitário e o
escolar, iria para uma confederação ou entidade para ser administrada. É para o
Comitê Olímpico e para o Comitê Paraolímpico, que vão estabelecer convênios com
universidades e escolas para aperfeiçoar o treinamento, a formação de profissionais,
de técnicos e professores de Educação Física para melhorar o esporte.
O Tribunal de Contas vai editar uma resolução clareando isso, porque na lei
não há nada escrito. Eu fui o autor dessa modificação dos 15%, desses dez e cinco,
e não era para tirar do Comitê Olímpico nem do Paraolímpico, mas para que eles
estabeleçam convênios com as universidades para treinamento.
Sei que o Comitê Olímpico criou uma norma, com a orientação do TCU, para
a aplicação desse recurso, mas estou um pouco preocupado com o Comitê
Paraolímpico, porque a regra não é a mesma. Se tivermos um escândalo na
aplicação desse dinheiro, podemos perder.
Como disse o Tranquilini, essa é uma lei que vai ajudar muito o esporte, mas,
se tivermos problemas, podem querer acabar com ela por causa de pessoas que
não trabalham corretamente. Temos que estar todos juntos para que isso funcione e
funcione corretamente.
Sr. Presidente, esse era o pedido que gostaria de fazer, porque sabemos que
estão acontecendo alguns problemas que precisamos equacionar. Esta Comissão
pode dar a sua contribuição para equacionar e resolver essa questão.
Finalmente, concordo com o Lars Grael em relação ao fundo. Particularmente,
acho que poderíamos aproveitar melhor o bingo. Bem regulamentado, na Caixa
Econômica Federal, com normas, não vejo nenhum problema, não vejo dificuldade
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alguma. Não poderia ficar do jeito que estava, mas podemos aproveitar. Temos,
porém, que regularizar isso logo, porque hoje estamos vivendo um processo de
ilegalidade.
Mais uma vez agradeço a todos pela contribuição e espero poder apresentar
o relatório, acertado com toda a Comissão, que possa melhorar e não dificultar a
vida de atletas que brilhantemente honram o esporte nacional. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Deputado
Gilmar Machado.
Sobre o Comitê Paraolímpico, eles já estão devidamente convidados.
Inclusive chegamos a pensar que nesta reunião teríamos a presença de seus
representantes.
Concedo a palavra ao Deputado Eurico Miranda.
O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Sr. Presidente, tive que ir à posse
do Ministro do Trabalho, por isso, infelizmente, não assisti ao começo da reunião,
mas não poderia deixar de registrar publicamente a minha homenagem e a minha
satisfação pelo desempenho do Secretário Lars Grael.
Como atleta, Lars Grael dispensa apresentações por seu passado de
medalhista olímpico, praticando o iatismo e competindo desde menino, mas hoje ele
mostra uma faceta que sinceramente não conhecia, a de administrador público. Ele
se utiliza do mesmo sistema que usava — e continua usando — no esporte na
administração, sem muito estardalhaço, sem aparecer, mas, sem dúvida alguma,
dando uma grande contribuição ao esporte brasileiro, inclusive trazendo
respeitabilidade para o cargo que ocupa.
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Então, quero deixar aqui a minha homenagem a Lars Grael, que não é
extensiva aos outros porque a sua participação é diferente. Queria fazer isso, mas
ainda não tinha tido a oportunidade. Estava até para fazer um pronunciamento sobre
a participação do Secretário Lars Grael na administração pública.
Tive o privilégio de privar do contato com Lars em termos esportivos. Ele foi
um dos incentivadores de um projeto que criamos no nosso clube, relativo a
modalidades olímpicas, e deu uma contribuição valiosíssima nesse sentido, pois
conhece bem as nossas dificuldades.
Não preciso ouvir mais dele porque já ouvi quase tudo, mas espero que ele
tenha trazido uma contribuição muito boa, principalmente para o nosso Relator. É
preciso que ouçamos essas pessoas que efetivamente vivem, conhecem, sofrem
pelo esporte e amam aquilo que fazem. Na verdade, Lars Grael está como
administrador público na área esportiva não pelo lado profissional, mas pelo amor ao
esporte, principalmente à modalidade que continua praticando, a vela.
Aliás, tive a oportunidade de falar com ele antes e registro que, apesar de
todo o trabalho que tem desenvolvido, foi competir na semana passada e ganhou de
Roberto Scheidt, um campeão mundial e medalhista. Está aí o nosso Lars.
Sr. Presidente, quero parabenizar, primeiramente, quem teve a idéia de trazer
Lars Grael aqui e, em segundo lugar, agradecer a ele pela presença. Estendo agora
meus cumprimentos ao Tranquilini, nosso bicampeão panamericano de judô, e a
Presidenta Magda Machado.
Era isso, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Deputado
Eurico Miranda, inclusive por ter legitimado uma quebra de protocolo, tratando o
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nosso Secretário pelo primeiro nome, mas vi que também o Plenário reconhece isso.
Foi uma quebra de protocolo gostosa, porque demonstra intimidade e a aceitação
que tem esse atleta extraordinário que hoje é o Secretário de Esporte do Ministério
de Esporte e Turismo.
Estamos com o horário estourado, mas isso não quer dizer que não
possamos ter a delicadeza de conceder um minuto para cada um dos expositores a
fim de expor alguma coisa que eventualmente tenha passado em branco.
Com a palavra, a Sra. Magda Machado Gomes.
A SRA. MAGDA MACHADO GOMES – Quero apenas agradecer por este
momento gratificante e enaltecedor do esporte no Brasil. Tenho fé e faço votos de
que esse estatuto se concretize, fazendo com que, em breve espaço de tempo,
possamos ver o esporte em um patamar bem mais elevado. Como Presidenta da
Associação das Federações Desportivas, muito obrigada a todos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado à senhora,
Presidenta Magda Machado Gomes.
Concedo um minuto, para suas considerações finais, ao atleta José Mário
Tranquilini Nery.
O SR. JOSÉ MÁRIO TRANQUILINI NERY – Como já disse, foi maravilhoso
encontrar esse espírito de tentar melhorar o esporte. Quero ainda render uma
homenagem a quem ajudou o esporte a chegar onde está, João do Pulo e Ademar
Ferreira da Silva. Temos que nos lembrar deles.
Aproveitando a presença do Deputado Eurico Miranda, com quem já tive
algumas posições de embate e com quem já conversei a respeito de tirar o futebol
da lei, aproveitando o que S.Sa. disse sobre o Secretário, quero propor, na minha
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ingenuidade e usando o que aprendi com o esporte, que é tratar a todos igualmente,
que ele fique para sempre na Secretaria de Esportes, realizando o mesmo belíssimo
trabalho. O Secretário é uma pessoa muito bacana e está ajudando muito o esporte.
Disse isso para o Nuzman, que também trava uma luta incansável.
Muito obrigado ao Deputado Gilmar Machado. Só tenho a agradecer, em
nome do esporte.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Obrigado, Sr. José Mário.
Passo a palavra ao nosso Secretário Nacional de Esporte, Lars Grael, pelo
prazo de um minuto, para suas considerações finais.
O SR. LARS GRAEL – Muito obrigado, Sr. Presidente, Deputado Jurandil
Juarez. V.Exa. vem propiciando, juntamente com esta Comissão, um momento
ímpar para a história do esporte nacional. Hoje ele é tratado com seriedade. Não me
refiro apenas a questões pontuais, sobre crises ou não do futebol brasileiro, mas se
trata aqui com seriedade todas as modalidades. Aqui é realizado um trabalho sério
por pessoas que entendem que hoje o esporte representa muito mais do que a
simples competição. É um fenômeno cultural capaz de mexer diretamente com a
auto-estima do brasileiro, capaz de mudar uma sociedade. Qualquer projeto social
pleno precisa contemplar, obviamente, a educação e a saúde, dentre outros fatores,
mas a atividade física, o esporte também tem que estar contemplado.
Nesta discussão tratamos do Estatuto do Desporto, um projeto de lei que
deve ser amplo, tratando do esporte desde sua concepção educacional, de sua ação
junto à comunidade, de sua inserção na educação brasileira, até na representação
do Brasil em competições internacionais. Este País sonha, nossa sociedade deseja
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que o Brasil seja uma potência esportiva, mas isso só poderá ocorrer se tivermos
base, organização, seriedade e leis compatíveis aos anseios do esporte nacional.
Agradeço imensamente pela oportunidade e voltarei quantas vezes forem
necessárias. Agradeço ainda ao Sr. Relator Gilmar Machado, que sempre tem
atuado em favor do esporte nacional; ao Deputado Eurico Miranda, pelas palavras
elogiosas, e a todos, pela oportunidade.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, caro
Secretário.
Antes de encerrar os trabalhos, quero fazer duas considerações. A primeira
delas é sobre a presença do Presidente do Conselho Federal de Educação Física.
Regimentalmente — e isso foi dito com clareza —, os expositores não podem dirigir-
se a nenhum membro do Plenário, sejam Deputados ou outras pessoas. No entanto,
entendi — e se não o fiz com a clareza necessária foi uma falha na condução do
Presidente — que havia muita emoção do lado do José Mário quando estava
expondo as suas questões. Quem está aqui perto percebe mais, inclusive o
nervosismo. Como isso é proibido regimentalmente, eu poderia ter-lhe cortado a
palavra ou então, quebrando de vez o Regimento, permitir que, já que ele foi citado,
também se pronunciasse. Mas não houve aquilo que chamamos no nosso
Regimento de citação indecorosa, aquela que eventualmente ofenda.
Nesse sentido, quero dizer que mantive a posição regimental, mas
reconhecendo que, em circunstâncias diferentes, o senhor teria, sim, o direito de se
pronunciar. Regimentalmente, no entanto, isso não é possível. Se eventualmente
V.Sa. se sentiu atingido e não teve o direito de responder, quero pedir desculpas,
em nome da Presidência dos trabalhos neste momento.
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A segunda consideração que faço é uma referência ao trabalho e ao zelo que
tem o nosso Relator com o esporte universitário, o que, aliás, é uma coisa boa,
porque ele está-se tornando uma referência. Quando vamos citar alguma coisa
sobre o esporte universitário, sempre se faz uma adição ao discurso, registrando a
presença do Deputado Gilmar Machado.
Tivemos uma reunião no Rio de Janeiro, que foi emblemática nesse sentido.
No prédio em que estávamos, funciona uma universidade. Muito dificilmente aquele
empreendimento pode ter ligação com esporte, nas circunstâncias em que ele
funciona. Vimos, de corpo presente, o quanto é depreciado o esporte universitário,
daí a necessidade de a ele ser dada uma atenção especial. A sorte do esporte
universitário é termos um Relator com o zelo que tem por essa modalidade
esportiva.
Nada mais havendo a tratar, vou encerrar os trabalhos da presente reunião da
Comissão Especial sobre o Estatuto do Desporto, antes convocando reunião para o
próximo dia 10 de abril, às 14h30min.
Está encerrada a presente reunião.