Ana Neri da Paz Justino
Desenvolvimento e
Sustentabilidade AmbientalLivro-texto EaD
Natal/RN2010
J96d Justino, Ana Neri da Paz. Desenvolvimento e sustentabilidade ambiental / Ana Neri da Paz Justino. – Natal: EdUnP, 2010. 188p. : il. ; 20 X 28 cm
Ebook – Livro eletrônico disponível on-line. ISBN 978-85-61140-06-9
1. Sustentabilidade ambiental. I. Título.
RN/UnP/BCSF CDU 504.064.2
DIRIGENTES DA UNIVERSIDADE POTIGUAR
Chancelaria
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Reitoria
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Pró-Reitoria de Extensão e Ação Comunitária
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NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
DA UNIVERSIDADE POTIGUAR - UnP
Coordenação Geral
Prof. Barney Silveira ArrudaProf.ª Luciana Lopes Xavier
Coordenação Acadêmica
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Coordenação de Produção
de Recursos Didáticos
Prof.ª Michelle Cristine Mazzetto Betti
Revisão de Estrutura e Linguagem EaD
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Coordenação de Logística
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Assistente Administrativo
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Ana Neri da Paz Justino
Desenvolvimento e
Sustentabilidade AmbientalLivro-texto EaD
Natal/RN2010
EQUIPE DE PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS
Organização
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Coordenação de Produção de Recursos Didáticos
Prof.ª Michelle Cristine Mazzetto Betti
Revisão de Estrutura e Linguagem em EaD
Prof.ª Priscilla Carla Silveira MenezesProf.ª Thalyta Mabel Nobre BarbosaProf.ª Úrsula Andréa de Araújo Silva
Ilustração do Mascote
Lucio Masaaki Matsuno
EQUIPE DE EDITORAÇÃO GRÁFICA
Delinea - Tecnologia Educacional
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Coordenação Pedagógica
Profª. Margarete Lazzaris Kleis
Ilustrações
Alexandre Beck
Revisão Gramatical e Normativa
Morgana do Carmo Andrade Barbieri
Diagramação
Regina Cortellini
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ORPROF.ª ANA NERI DA PAZ JUSTINO
Olá, como vai? No período dessa disciplina, estaremos muito
“próximos” e, por isso, gostaria de me apresentar. Eu sou gradua-
da em Turismo e Especialista em Educação Ambiental, ambas pela
Universidade Potiguar-UnP.
Atualmente sou professora DNS II desta instituição, onde le-
ciono disciplinas ligadas às Escolas de Comunicação e Artes, Gestão
e Negócios e Hospitalidade e Gastronomia, bem como da Pós-gra-
duação. Também nessa instituição, sou coordenadora do Labora-
tório de Lazer do Curso de Turismo (Projeto Sabor de Brincar: Brin-
quedoteca Cultural) e do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em
Gestão e Organização de Eventos.
Ainda exerço a função de Professora Bolsista no Projeto Bar-
co-Escola Chama-Maré, uma proposta de educação ambiental e
patrimonial do IDEMA, executado pela FUNDEP, que é a fundação
para a pesquisa da Universidade Potiguar.
Como experiência profissional na área de Desenvolvimento e
Sustentabilidade, posso elencar as atividades a seguir:
� Ministrei vários blocos curriculares em diversos cursos profis-
sionalizantes no Centro Educacional Dom Bosco (Consórcio
Social da Juventude de Natal e Região Metropolitana), Insti-
tuto Potiguar de Juventude e Cidadania, Ministério do Turis-
mo e SENAC/RN;
� Fui responsável pelo Bloco do Conhecimento Educação Am-
biental, oferecido pela Pós-Graduação Lato Sensu em Ensino
Fundamental em Parnamirim-RN, oferecida pela UnP, além da
orientação de vários trabalhos de conclusão de curso da gra-
duação e pós-graduação com esta mesma temática;
� Proferi várias palestras em instituições de ensino médio sobre
a questão ambiental e suas implicações por ocasião da reali-
zação de Semanas de Meio Ambiente;
� Sou Gestora Ambiental do Programa Nacional de Gestores Ambientais; vin-
culado ao Ministério do Meio Ambiente;
� Faço parte do quadro de consultores Start Pesquisa e Consultoria Técnica
Ltda.;
� Atuei por oito anos à frente da Coordenadoria de Turismo da Secretaria de
Infraestrutura, Meio Ambiente e Turismo do Município de Ceará-Mirim/RN.
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DESENVOLVIMENTO E
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
Olá! Você está iniciando o estudo da disciplina Desenvolvi-
mento e Sustentabilidade Ambiental. Ao final da mesma, você de-
verá ter apreendido os seguintes conteúdos curriculares: Cidadania
Planetária e Desenvolvimento Sustentável, Ecologia Humana e Eco-
nomia Solidária.
No decorrer dos nossos estudos, você perceberá o quanto as
questões que cercam essa temática estão diretamente ligadas à
cultura de cada povo, bem como que, para o alcance do desenvol-
vimento sustentável, surge a necessidade de mudança de postura,
especialmente no que diz respeito ao consumo.
Assim serão tratados temas envolvendo a questão de ética,
o desenvolvimento sustentável e as novas possibilidades de apro-
priação da natureza. Além desses, também trataremos de questões
relacionadas à participação da sociedade por meio do movimento
ambientalista, juntamente com as novas formas de produção atrela-
das à cooperação e à autogestão, a exemplo da economia solidária.
A escolha dos conteúdos componentes dessa disciplina se deve
ao fato de que a cada dia precisamos pautar nossa atuação profis-
sional em princípios que levem ao consumo racional dos recursos,
de modo a garantir a qualidade ambiental para todos os seres vivos.
É evidente que você, como aluno da UnP, não poderia ficar de
fora dessas discussões, tendo em vista que nosso interesse é formar
profissionais polivalentes e capazes de se adaptar às novas situa-
ções, e a problemática ambiental é uma delas.
Espero que este seja o início de uma caminhada exitosa rumo
ao Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental!
Desejo a você bons estudos!
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CURSO: NEaD - DISCIPLINAS DE GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA: DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
PROFESSORA AUTORA: ANA NERI DA PAZ JUSTINO
MODALIDADE: A DISTÂNCIA
1 IDENTIFICAÇÃO
Cidadania Planetária e Desenvolvimento Sustentável, Ecologia Humana, Economia Solidária.
2 EMENTA
Estimular nos discentes a adoção de posturas éticas, socialmente justas, ecologicamente corretas e economicamente viáveis, de modo que os mesmos apresentem formas de utilização do meio ambiente que possibilitem o tempo necessário para recomposição dos ecossistemas, explicando como os movimentos sociais são um ingrediente fundamental para o estímulo do protagonismo dos indivíduos deixados à margem do sistema capitalista, bem como, para a validação da causa ambiental por meio da demonstração de possibilidades de adoção da economia solidária como sistema econômico alternativo ao capitalismo econômico.
3 OBJETIVO
� Perceber como as questões ambientais estão relacionadas com posturas adotadas na utilização dos recursos naturais;
� Compreender a abrangência do tema sustentabilidade ambiental;
� Caracterizar a gestão responsável como um caminho para o desenvolvimento socialmente justo, ambientalmente sustentável e economicamente viável;
� Identificar as estratégias e os desafios para a promoção da par-ticipação da sociedade como um todo no movimento ambien-talista;
4 HABILIDADES E COMPETÊNCIAS
Formação de profissionais comprometidos com o bem-estar da coletividade e do meio ambiente, não permitindo que os interesses econômicos se sobreponham aos demais, de modo que sua atuação profissional leve em conta os princípios e as dimensões da sustentabilidade ambiental, mesmo que para isso os projetos por eles desenvolvidos gerem menor lucratividade.
5 VALORES E ATITUDES
UNIDADE I
� A questão ambiental, a educação e suas implicações: a ética, a moral e a justiça ecológica;
� Princípios e dimensões da sustentabilidade: econômica, social, ecológica, cultural e espacial;
� O desenvolvimento sustentável;
� Ecologia humana - um novo olhar para o desenvolvimento.
UNIDADE II
� O movimento ambientalista a partir da visão holística: homem x natureza;
� Economia solidária: perspectivas de gestão com foco no futuro;
� Políticas públicas para a economia solidária: estímulo à autogestão e ao cooperativismo;
� Desenvolvimento comunitário x desenvolvimento estratégico.
6 CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS
� Perceber a economia solidária como ferramenta de alcance para o desenvolvimento sustentável a partir da cultura do desenvolvimento comunitário;
� Executar sua atividade profissional orientada pelos princípios da ética ambiental;
� Pesquisar formas de uso sustentável dos recursos naturais, considerando a capacidade de regeneração dos ecossistemas;
� Participar ativamente das decisões políticas de sua localidade;
� Desenvolver estratégias de promoção ao desenvolvimento local.
� Pontualidade e assiduidade na entrega das atividades (propostas no material didático impresso (livro-texto) e/ou no Ambiente Virtual de Aprendizagem) solicitadas pelo Tutor;
� Realização das avaliações presenciais obrigatórias nos encontros presenciais obrigatórios.
8 ATIVIDADES DISCENTES
A avaliação ocorrerá em todos os momentos do processo ensino-aprendizagem, considerando:
� Leitura do material didático impresso (livro-texto);
� Interação com tutor por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem (UnP Virtual);
� Realização de atividades propostas no material didático impresso (livro-texto) e/ou no Ambiente Virtual de Aprendizagem;
� Aprofundamento nos temas por pesquisas extras ao material didático impresso (livro-texto).
9 PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
� Utilização de material didático impresso (livro-texto);
� Interação pelo Ambiente Virtual de Aprendizagem (UnP Virtual);
� Utilização de material complementar (sugestão de filmes, livros, sites, músicas, ou outro meio que mais se adéque à realidade do aluno).
7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: ética do humano - compaixão da Terra. 7ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. 7ª ed. São Paulo: EDUSP, 2007.
12.2 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
12.3 BIBLIOGRAFIA INTERNET
GADOTTI, Moacir. Economia solidária como práxis pedagógica. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2009.
NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do & VIANNA, João Nildo.(orgs). Dilemas e Desafios do Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.
LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 7ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
12.1 BIBLIOGRAFIA BÁSICA
Disponível em: <http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/pub_avaliacao_politicas_publicas.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2009.
Disponível em: <http://www.unitrabalho.org.br/noticias/artigos/pdf/economiasolidaria.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2009.
12 BIBLIOGRAFIA
SU
MÁ
RIO
Capítulo 1 - A questão ambiental, a educação e suas implicações:
a ética, a moral e a justiça ecológica .......................................................... 17
1.1 Contextualizando ........................................................................................................... 171.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 18 1.2.1 A questão ambiental na atualidade .............................................................. 18 O começo de tudo: o crescimento pautado no consumismo ...........................................18 1.2.2 A sustentabilidade das ações antrópicas .................................................... 21 1.2.3 A educação como ferramenta para o uso sustentado do planeta ..... 24 1.2.4 A ética, a moral e a justiça ecológica como premissas para a mudança de postura ............................................................................. 28 A ação baseada na ética e na moral ............................................................................................301.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 321.4 Para saber mais ............................................................................................................... 351.5 Relembrando ................................................................................................................... 361.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 36Onde encontrar ...................................................................................................................... 37
Capítulo 2 - Princípios e dimensões da sustentabilidade:
econômica, social, ecológica, cultural e espacial ...................................... 39
2.1 Contextualizando ........................................................................................................... 392.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 40 2.2.1 A sustentabilidade econômica ........................................................................ 40 2.2.2 A sustentabilidade social .................................................................................. 44 2.2.3 A sustentabilidade ecológica........................................................................... 46 2.2.4 A sustentabilidade cultural ............................................................................... 49 2.2.5 A sustentabilidade espacial .............................................................................. 512.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 532.4 Para saber mais ............................................................................................................... 562.5 Relembrando .................................................................................................................. 572.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 57Onde encontrar ...................................................................................................................... 58
Capítulo 3 - O desenvolvimento sustentável............................................. 59
3.1 Contextualizando ........................................................................................................... 593.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 60 3.2.1 Entendendo o desenvolvimento .................................................................... 60 3.2.2 Prevenção como condição para o desenvolvimento sustentável ...... 63 3.2.3 O papel das políticas públicas para garantir o desenvolvimento
sustentável ............................................................................................................. 65 3.2.4 Gestão sob a ótica ambiental: um caminho para a harmonia ............. 68 A matriz energética ..........................................................................................................................69 O uso e ocupação do solo ...............................................................................................................71 A geopolítica como diretriz de caminhos .................................................................................72 A educação como um mecanismo de revolução ...................................................................733.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 753.4 Para saber mais ............................................................................................................... 773.5 Relembrando .................................................................................................................. 783.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 78Onde encontrar ...................................................................................................................... 79
Capítulo 4 - Ecologia humana - um novo olhar para o desenvolvimento ................... 81
4.1 Contextualizando .................................................................................................................................... 814.2 Conhecendo a teoria .............................................................................................................................. 82 4.2.1 Comentando a ecologia humana ........................................................................................... 82 4.2.2 Uma relação complexa: o homem e a natureza................................................................. 84 O homem como centro da natureza ......................................................................................................................... 85 O homem como parte da natureza ........................................................................................................................... 86 4.2.3 O processo interativo homem x natureza ............................................................................ 88 O equilíbrio proporcionado pelo saber ambiental .............................................................................................. 89 As estratégias de manejo como garantia de sustentabilidade ....................................................................... 91 As tecnologias limpas e o consumidor verde ........................................................................................................ 934.3 Aplicando a teoria na prática .............................................................................................................. 964.4 Para saber mais ........................................................................................................................................ 984.5 Relembrando ........................................................................................................................................... 994.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................100Onde encontrar .............................................................................................................................................101
Capítulo 5 - O movimento ambientalista a partir da visão holísitca:
homem x natureza .........................................................................................................103
5.1 Contextualizando ..................................................................................................................................1035.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................104 5.2.1 O princípio de tudo: o homem se apropria da natureza ..............................................104 5.2.2 O despertar da conscientização ............................................................................................106 5.2.3 O significado do movimento ambientalista ......................................................................107 5.2.4 A participação social para garantir o uso e manejo dos recursos de maneira Sustentável ............................................................................................................109 5.2.5 Separando o joio do trigo ........................................................................................................111 5.2.6 Desafios para a visão holística homem x natureza ........................................................113 A democracia como meta do movimento ambientalista ...............................................................................114 O impacto do discurso ambientalista ....................................................................................................................115 Estimular estratégias para transformar a racionalidade econômica dominante ...................................115 Um estado multiétnico como garantia de sustentabilidade ........................................................................116 As disparidades dos interesses entre países desenvolvidos e em desenvolvimento ..........................1175.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1185.4 Para saber mais ......................................................................................................................................1205.5 Relembrando .........................................................................................................................................1215.6 Testando os seus conhecimentos ...........................................................................................................121Onde encontrar .............................................................................................................................................122
Capítulo 6 - Economia solidária: perspectivas de gestão
com foco no futuro ........................................................................................................123
6.1 Contextualizando ..................................................................................................................................1236.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................124 6.2.1 Economia solidária: muito prazer! ........................................................................................124 6.2.2 A educação transformadora como caminho para a economia solidária ................126 A renovação do sistema educacional para o alcance do aprendizado solidário ...................................128 A organização do saber para o alcance do trabalho decente .......................................................................130 Educação cooperativa como princípio para a autogestão ............................................................................131
6.2.3 A economia solidária como alternativa de desenvolvimento sustentável ............1336.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1386.4 Para saber mais ......................................................................................................................................1396.5 Relembrando .........................................................................................................................................1416.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................141Onde encontrar .............................................................................................................................................142
Capítulo 7 - Políticas públicas para a economia solidária: estímulo
à autogestão e cooperativismo ....................................................................................143
7.1 Contextualizando ..................................................................................................................................1437.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................144 7.2.1 Um pouco de política pública ................................................................................................144 7.2.2 Política pública e economia solidária ..................................................................................146 7.2.3 As parcerias entre o poder público e os movimentos sociais para
autogestão e a economia solidária .......................................................................................150 7.2.4 A comunicação como ferramenta para a economia solidária ....................................152 7.2.5 As redes de cooperação para a economia solidária .......................................................1547.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1577.4 Para saber mais ......................................................................................................................................1587.5 Relembrando ..................................................................................................................................................1607.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................160Onde encontrar .............................................................................................................................................161
Capítulo 8 - Desenvolvimento comunitário x desenvolvimento estratégico ...........163
8.1 Contextualizando ..................................................................................................................................1638.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................164 8.2.1 Entendendo a cultura do desenvolvimento comunitário ............................................164 8.2.2 Algumas iniciativas de estímulo ao desenvolvimento comunitário estratégico ...........................................................................................................167 8.2.3 O desenvolvimento comunitário na prática .....................................................................173 8.2.4 A sustentabilidade alicerçada no desenvolvimento comunitário .............................1768.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1788.4 Para saber mais ......................................................................................................................................1808.5 Relembrando ..........................................................................................................................................1818.6 Testando seus conhecimentos .........................................................................................................182Onde encontrar .............................................................................................................................................182
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 17
1.1 Contextualizando
Três temáticas fundamentam a questão ambiental e a educação: a ética,
a moral e a justiça ecológica. Neste sentido, a necessidade da abordagem de
tais conteúdos se faz eminente para que você compreenda os alicerces em que
está fundamentada a problemática ambiental, constituindo-se assim na base
para todo percurso deste livro texto.
Chamar sua atenção para esse fato é pertinente nesse momento,
pois, à medida que compreendemos o contexto dos problemas ambientais
planetários, ficamos sensíveis para assumirmos uma postura que contemple
a busca para a resolução dos mesmos.
Neste sentido, perceber a importância do conteúdo proposto para
este capítulo é ferramenta indispensável para um entendimento coerente
a respeito da disciplina Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental.
Assim, esperamos que, ao final deste capítulo, você esteja apto a:
� Descrever as questões ambientais atuais;
� Identificar como a ética, a moral e a justiça estão ligadas às questões
ambientais;
� Despertar sua responsabilidade individual para a manutenção da quali-
dade ambiental;
� Optar por ações de promoção a justiça ecológica.
A QUESTÃO AMBIENTAL, A EDUCAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES:
A ÉTICA, A MORAL E A JUSTIÇA ECOLÓGICA
CAPÍTULO 1
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
18
Vale salientar que muitas das questões a serem analisadas constituem
o nosso dia a dia e cada um de nós tem a responsabilidade para contribuir
na formação de uma sociedade com cidadania planetária, capaz de cooperar
para a inclusão do tema sustentabilidade no seu cotidiano.
Esperamos que esta seja mais uma experiência produtiva e enriquecedora
para você.
1.2 Conhecendo a teoria
1.2.1 A questão ambiental na atualidade
Iniciaremos nossa discussão com algumas perguntas:
Como você visualiza a problemática ambiental atual?
Você acha que estamos vivendo uma crise de várias ordens (clima, valores, atitudes, etc.)?
Em caso afirmativo, como você se vê diante de tudo isso?
REFLEXÃO
Ficou inquietado com os questionamentos apresentados na reflexão?
Eles são o ponto de partida da nossa conversa. Para que você compreenda
melhor a questão ambiental, é preciso fazer uma retrospectiva dos fatos
que a cercam, bem como suas consequências para o mundo. Para facilitar
seu entendimento, vamos fazer uma retrospectiva de fatos que marcaram a
apropriação ambiental a partir da Revolução Industrial.
O começo de tudo: o crescimento pautado no consumismo
Com o advento da Revolução Industrial surge um modelo de crescimento
econômico pautado no consumismo imediatista. Esse consumo vem acarretar
um colapso nas reservas do planeta, pois, à medida que se retira do ambiente
mais do que o necessário para a sobrevivência humana, não se dá o devido
tempo para sua renovação. Infelizmente, o despertar para essa realidade
ainda é muito recente a partir da década de 1960.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
19
Nesse contexto, cabe elencar fatos condicionantes para essa postura
reflexiva, responsável por uma nova visão do ambiente. Pode-se considerar
um marco nesse processo o ano de 1962, quando a jornalista Rachel Carson
publica o livro Primavera Silenciosa. Daquele momento em diante ocorrem
inúmeros encontros com a intenção de discutir a crise ambiental, bem como
medidas mitigadoras, ou seja, que minimizem os impactos das intervenções
humanas na natureza. Observe o quadro 1 e verifique os eventos ocorridos
desde a década de 1960:
ANO EVENTOS
1968 Clube de Roma - Publicação do estudo Limites do crescimento (culpava o crescimento populacional dos países pobres e não os padrões de consumo). Este momento foi um marco para a problemática ambiental em nível planetário
1972 Estocolmo (Suécia) - 1ª Conferência Mundial de Meio Ambiente Humano, cujo tema foi a poluição industrial. Nessa conferência, o Brasil adota a seguinte postura “a poluição é o preço que se paga pelo progresso”, ainda sobre Estocolmo: educar o cidadão para a resolução de problemas ambientais, ou seja, Educação Ambiental (EA). Nesse período, surge o conceito de ecodesenvolvimento, formulado pelo economista polonês Ignacy Sachs que, anos depois, daria origem à expressão desenvolvimento sustentável (BUARQUE, 2007).
1975 Belgrado (Iugoslávia) - Carta de Belgrado (objetivos da EA).
1977 Conferência intergovernamental sobre educação ambiental em Tibílissi (Geórgia, ex URSS) – Tradado sobre EA.
1987 Gro-Brundtland (Ministra da Noruega) – reuniões em várias cidades do mundo resultando no livro Nosso Futuro Comum ou Relatório de Brundtland (conceito de desenvolvimento sustentável mais conhecido).
1992 Rio 92 - AGENDA 21, mudanças climáticas, biodiversidade.
2002 Rio+10 (Johannesburg – África do Sul): poucos avanços, pois os governos dos países em desenvolvimento ficaram mais preocupados em aplicar o Consenso de Washington e os programas de ajuste estrutural do FMI do que em implementar as recomendações da Agenda 21.
2009 Cerca de 180 países se reuniram em Copenhague (Dinamarca) em dezembro para tentar estabelecer um acordo que substituísse o Protocolo de Kyoto, o principal instrumento da Organização das Nações Unidas (ONU) contra a mudança climática, que expira em 2012. Os resultados do evento foram inexpressivos.
Quadro 1: Eventos para discutir os efeitos do crescimento pautado no consumismo
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
20
Diante desses aspectos, temas como: mudanças climáticas, aquecimento
global, escassez de recursos naturais, crise energética, desertificação, reciclagem,
entre outros relacionados ao fim, ou a modificação de determinados ciclos
da natureza permeiam as discussões nos variados níveis sociais, tendo em
vista que todos (sem exceção) já começam a sentir os efeitos da degradação
ambiental vigente.
Tratar dos temas apresentados no parágrafo anterior é destacar o
quanto as ações humanas têm impactado o ambiente, causando malefícios
a todos. Acreditamos, ainda, que tenhamos verificado como tais impactos
são provenientes da nossa cultura voltada para o consumo exacerbado, com
destaque especial para o povo do Ocidente, a partir de uma visão egocêntrica
de mundo visando a atender apenas aos interesses econômicos.
Conforme demonstrado, esse modelo de desenvolvimento, pautado no
consumismo, não atende mais a oferta de recursos do planeta. Tal fato torna
emergente uma mudança de postura, ou seja, o chamado ecodesenvolvimento,
que tem como premissa usufruir os recursos sem comprometer sua utilização
futura.
Agora, retomamos as perguntas iniciais da nossa conversa, acrescentando
mais uma: com essa leitura, você é capaz de se sentir responsável pela
problemática ambiental da atualidade?
EXPLORANDOEXPLORANDO
Caso sua resposta seja afirmativa, é hora de optar por novas atitudes de consumo dos recursos do planeta. Em caso negativo, sugerimos o acesso ao endereço eletrônico http://planetasustentavel.abril.com.br/download/stand2-painel5-agua-por-pessoa2.pdf para verificar o consumo de água em várias partes do mundo.
E aí, conseguiu perceber o quanto são emergentes ações que minimizem
os impactos ambientais? Neste caso, muito do que precisa ser feito faz parte
das decisões tomadas por cada indivíduo na hora do consumo.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
21
1.2.2 A sustentabilidade das ações antrópicas
No item anterior, tivemos um panorama da atual situação da problemática
ambiental, trazendo os principais apontamentos que permeiam o tema. Ficou
perceptível que a ação antrópica (ação do homem) tem grande influência nos
números da devastação e que a preocupação com estas questões são oriundas
da segunda metade do século XX. Com elas, surge o desafio para a conquista
do desenvolvimento voltado para a sustentabilidade.
Assim, iniciam-se as discussões na comunidade internacional para a
divisão dos custos desse processo, que prevê nada menos que a revisão do
modelo econômico vigente alicerçado no consumismo.
Por isso, tantos encontros, seminários, congressos e acordos, conforme
elencados no item anterior, ocorreram e continuam ocorrendo visando à
solução da crise ambiental mundial. Assim, há uma difusão do discurso da
sustentabilidade, entretanto, a prática para alcançar tal premissa anda a
passos lentos, pois muito se fala e pouco se faz para alcançá-la.
A incidência dessa situação se dá em função de fatores como as
disparidades entre os países ricos e pobres e suas formas de crescimento,
bem como seus interesses individuais. “Esses interesses se manifestaram nas
dificuldades para conseguir acordos internacionais sobre os instrumentos
jurídicos para orientar a passagem para a sustentabilidade” (LEFF, 2008, p. 21).
Para que você compreenda o significado de sustentabilidade, é importante
conhecer o conceito de desenvolvimento sustentável.
CONCEITOCONCEITO
Desenvolvimento sustentável é um processo que permite satisfazer as necessidades da população atual sem comprometer a capacidade de atender as gerações futuras (ONU,1987).
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
22
Percebe-se aí não somente uma crise ambiental, mas, sim, uma crise
de valores, na qual ninguém quer perder sua fatia de um bolo que já está
passando do ponto e que, se não tivermos o cuidado adequado, trará efeitos
irreversíveis. Diante disso, é visível como a ação do homem tem relevância no
enfrentamento dessa questão, ou seja, a minimização da citada crise perpassa
por discussões de ordem econômica, social, ecológica, cultural e espacial.
Alex Rio Brazil
Figura 1 - Homem se apropriando dos recursos do planeta Terra.
Esse impasse pode ser entendido por duas ordens de posicionamento: um
macro, que depende das articulações internacionais provenientes dos acordos
gerados nas intensas rodadas de negociações dos grandes encontros; e outro
micro, que dependente das nossas ações individuais e cotidianas. Para ilustrar
essa afirmativa, utilizamos o jargão bastante difundido: agir local, pensar global.
Você deve estar percebendo o quanto nossa conversa gira em torno de
uma temática, a ação antrópica como divisor de águas para a minimização
dos impactos ao meio ambiente. E que homem é esse? É o Presidente da
República, é o grande industrial, o presidente de uma transnacional, é o
proprietário de uma madeireira e é você. Ficou surpreso com a sua inclusão
no rol dos responsáveis?
Em caso afirmativo, não fique, pois é você quem elege o presidente da
república e todos os outros cargos eletivos existentes, cuja responsabilidade
é defender nossos interesses. Além disso, você consome os bens e serviços
produzidos e comercializados pelas indústrias e corporações transnacionais
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
23
sem nem perguntar a procedência dos insumos (matéria-prima, energia) tão
pouco as condições de trabalho daqueles que os produziram.
Continua achando que não tem nada a ver com isso? Então, responda
essa pergunta: você sabe a origem da madeira queimada para fabricar o pão
que vai para sua mesa todos os dias, ou, se os grãos constantes na sua pirâmide
alimentar, bem como a madeira dos móveis da sua casa são fruto de uma área
desmatada de forma ilegal ou subtraída de uma população tradicional?
EXPLORANDOEXPLORANDO
Acesse os artigos a seguir e reflita como a falta de conhecimento da origem dos produtos que consumimos pode contribuir para o caos ambiental instalado no planeta.
Desmatamento, perda de biodiversidade e pobreza.
http://www.eco21.com.br (artigo publicado na edição 80 da revista)
2030: o ano final do Cerrado (Estudos da ONG ambientalista Conservação Internacional Brasil indicam que o Cerrado deverá desaparecer até 2030).
http://ambientes.ambientebrasil.com.br/florestal/artigos.html
Parece que, individualmente, não estamos isentos da responsabilidade
com o quadro crítico em que o planeta se encontra, pois o consumismo
desenfreado, ou seja, insustentável, é o grande responsável pelo mesmo. Isso
significa dizer que o modelo econômico vigente não tem permitido às reservas
naturais o tempo necessário para sua recomposição.
LEMBRETELEMBRETE
Lembre-se que o conceito de desenvolvimento sustentável apresentado no Relatório de Bruntland é bem claro, quando diz que é preciso consumir somente o necessário para a nossa sobrevivência, levando em considerações as necessidades das gerações futuras.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
24
Os condicionantes apresentados até o momento demonstram a
necessidade de um caminho em direção a mudança. Nele, verifica-se a educação
como um fator crucial na tentativa da sensibilização dos indivíduos para a
mudança de postura, de modo que cada um se sinta responsável e mobilize
esforços para a realização de um trabalho lento e gradual de transformação,
semelhante ao das formiguinhas.
A esse respeito, Boff (2004, p.27) destaca que
Importa construir um novo ethos que permita uma nova convivência entre os humanos com os demais seres da comunidade biótica, planetária e cósmica; que propicie um novo encantamento face à majestade do universo e à complexidade das relações que sustentam todos e cada um dos seres. [...] A casa humana hoje não é mais o estado-nação, mas a Terra como pátria/mátria comum da humanidade.
Isso significa dizer que realmente são necessárias novas posturas de
sobrevivência, implicando em atitudes de cuidado, tendo por princípio a
atenção, o zelo e o desvelo (BOFF, 2004). Por se tratarem de posicionamentos
individuais com reflexo no coletivo, é pertinente ressaltar que o compromisso
gerado em Estocolmo em 1972 precisa ser reafirmado sempre, ou seja, a
educação ambiental permanente (seja ela formal, informal ou não formal),
pois é perceptível que, além dos interesses econômicos, estão também incluídas
questões socioculturais no contexto ambiental.
1.2.3 A educação como ferramenta para o uso sustentado do
planeta
Recapitulando nossa conversa inicial, lembra das quatro perguntas
que lhe foram feitas? Acreditamos que os dados tratados nesse capítulo
explicitam que você e eu somos tão responsáveis por cuidar do planeta
quanto os representantes políticos de países como Estados Unidos e China,
grande poluidores mundiais.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
25
“Quando dizemos, por exemplo: “nós cuidamos de nossa casa” subentendemos múltiplos atos como: preocupamo-nos com as pessoas que nela habitam dando-lhes atenção, garantindo-lhes as provisões e interessando-nos com o seu bem-estar. Cuidamos da aura boa que deve inundar cada cômodo, o quarto, a sala e a cozinha. Zelamos pelas relações de amizade com os vizinhos e de calor com os hóspedes. Desvelamo-nos para que a casa seja um lugar de benquerença deixando saudades quando partimos e despertando alegria quando voltamos. Alimentamos uma atitude geral de diligência pelo estado físico da casa, pelo terreno e pelo jardim. Ocupamo-nos do gato e do cachorro, dos peixes e dos pássaros que povoam nossas árvores. Tudo isso pertence à atitude do cuidado material, pessoal, ecológico e espiritual da casa” (BOFF, 2004, p. 33).
Isso significa lembrá-lo que o ser humano é um animal racional, portanto,
desde o nascimento adquire conhecimento e discernimento do que é benéfico ou
maléfico, seja usando o senso comum ou por meio do conhecimento científico. Fica
evidente que a educação é um processo permanente, sendo importante reforçar
a significância de sua contribuição para a utilização sustentável do planeta.
Visite o endereço eletrônico http://www.mma.gov.br/ e procure no campo de pesquisa a publicação Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos: escritos para conhecer, pensar e praticar o Município Educador Sustentável, constantes na série desafios da educação ambiental. Leia o conteúdo do capítulo três (O meu e deles, o nosso e o de todos nós) e faça um resumo crítico do mesmo.
DESAFIO
Para que a EA ocorra a contento, é importante sempre retomar seus
objetivos e características estabelecidos na Conferência de Tbilisi (CEI, Geórgia)
realizada de 14 a 26 de outubro de 1977.
Assim, é interessante observar que, a partir de um processo onde
apreendamos como funciona o ambiente, a forma como dependemos dele,
como nossas atitudes, por mais simples que pareçam, são fornecedoras de
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
26
impactos, encontraremos mecanismos para a promoção da sustentabilidade.
E é nessa premissa que consiste uma EA consciente, crítica e transformadora,
capaz de fomentar atitudes revolucionárias para o enfrentamento da
problemática vigente. Para reforçar seu entendimento, o esquema, a seguir,
demonstra os caminhos para a EA transformadora.
CONHECIMENTOCOMPREENSÃOHABILIDADESMOTIVAÇÃO
SOLUÇÕESSUSTENTÁVEIS
VALORESMENTALIDADES
ATITUDES
QUESTÕES / PROBLEMASAMBIENTAIS
desenvolver
necessários para lidar com
e encontrar
para adquirir
FIGURA 2 - Esquema para EA crítica e transformadora (DIAS, 2004, p. 100)
Diante do exposto, como fazer para conseguir o pressuposto da EA crítica
e transformadora? Primeiro, é necessário um exercício individual. Responda às
perguntas abaixo, com base no seu cotidiano:
� Ao acordar, quais são as suas primeiras atitudes?
� Quanto e como você utiliza seu tempo no banheiro?
� Que tipos de alimentos são consumidos nas suas refeições?
� Como se dá o uso de equipamentos elétricos em sua residência? Quais e quantos existem? Qual o consumo de energia por eles dispensado?
� Quando você vai às compras, você atende às suas necessidades ou aos desejos impostos pela indústria cultural?
� Em sua casa tem jardim? Em caso afirmativo, como ele é regado?
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
27
� Como é feito o descarte dos resíduos gerados em sua residência? Existe algum tipo de separação? Qual?
� Que tipo e com que combustível é movido o transporte por você utiliza-do? No caso de veículo próprio, como ocorre a lavagem do mesmo e em que periodicidade?
� Quantas peças existem em seu armário, incluindo roupas e calçados? Quais você utiliza?
� Qual a origem da água e energia elétrica que chega a sua casa, junta-mente com os móveis, equipamentos e utensílios?
� Em seu trabalho, existem medidas para evitar o desperdício de água, energia e papel? Você as utiliza?
� Como estas palavras REDUZIR, REUTILIZAR E RECICLAR estão empregadas no seu cotidiano?
Então, suas respostas são satisfatórias? Viu como você é dependente dos
recursos naturais? Não se assuste, pois, assim como seu cotidiano é impactante,
também é o de muitos outros ao redor do planeta. O importante é que, a
partir de agora, você é menos um sem conhecimento e com discernimento
para realizar suas escolhas com mais cuidado e zelo com o meio ambiente.
INTERAGINDOINTERAGINDO
Entre em contato com seus colegas de turma por meio do ambiente virtual de aprendizagem e discuta com os mesmos os resultados encontrados no questionário acima, levantando medidas mitigadoras para os impactos por vocês gerados.
Toda essa discussão foi para reforçar seu entendimento de quão complexa
é a questão ambiental, envolvendo também o enfoque econômico, social,
cultural e social, necessitando reflexão individual e coletiva com a premissa de
uma mudança de postura alinhada com a ética, a moral e a justiça ecológica.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
28
1.2.4 A ética, a moral e a justiça ecológica como premissas para a
mudança de postura
A grande perversão do nosso tempo, muito além daquelas que são comumente apontadas como vícios, está no papel que o consumo veio representar na vida coletiva e na formação do caráter dos indivíduos. [...] A moda é um desses artifícios com o qual as coisas ficam as mesmas, embora apresentando uma transformação. A moda é a manivela do consumo, pela criação de novos objetos que se impõem ao indivíduo. (SANTOS, 2007, p. 47 e 49).
Acreditamos que o discurso da citação anterior ilustra bem o caminho
que pretendemos percorrer ao apresentar a ética, a moral e a justiça ecológica
como premissas para a mudança de postura. Isto não significa dizer que, a
partir de agora, você deva realizar uma mudança radical nos seus hábitos e
posturas, entretanto, é imprescindível que ela ocorra de alguma forma.
Vivemos na sociedade do consumo, representada pelos shoppings centers,
grandes redes de supermercados, de lojas de departamentos, de fast foods,
entre tantos outros símbolos da vida moderna. Some-se a isso o fato de sermos
obrigados a conviver com tais símbolos cotidianamente, especialmente por
meio dos apelos criados pelos meios de comunicação de massa em campanhas
publicitárias com tamanho requinte e qualidade, que nos seduzem ao ponto
de cairmos na tentação do consumismo.
Diante disso, são criadas ou apropriadas pelo comércio inúmeras datas
comemorativas para o aquecimento das vendas, dentre elas citamos: carnaval,
páscoa, dias das mães, dos namorados, dos pais, das crianças e, é claro, o natal
(principal fonte de lucro para o comércio).
Santos (2007) ainda reforça esse condicionante, afirmando que esta
não é simplesmente uma sociedade do consumo e, sim, do consumo que gera
desperdício. Lembra quando dissemos anteriormente que se retiram os recursos
da natureza de forma tão veloz que não se permite à mesma o tempo hábil para
a regeneração? Pois bem, um grande contribuinte para isso é o desperdício.
Gostaríamos que você retomasse ao exercício cotidiano citado anteriormente e
verificasse em que respostas o desperdício é perceptível em seu consumo diário.
Para entender melhor o pressuposto do parágrafo anterior, é interessante
destacar que existe toda uma cadeia produtiva envolvida para isso, partindo
dos insumos primários até a chegada ao consumidor final.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
29
Acesse o endereço eletrônico:http://www.akatu.org.br/consumo_consciente/dicas/agua e leia a dica Use os dois lados de uma folha de papel. Feito isso, analise o grau de importância desse bem para a sua sobrevivência.
DESAFIO
É de extrema importância que você realize o desafio proposto, para uma
melhor compreensão do que estamos tentando demonstrar ao enfatizar, em diversos
momentos nesse texto, que estamos diante da sociedade do consumo alienado. Essa
afirmativa constante tem intenção de nos remeter ao fato de que muitas vezes somos
estimulados pelos apelos midiáticos para adquirirmos produtos desnecessários.
Essa aquisição, além de utilizar recursos de forma excedente, faz com
que seja gerado um número maior de resíduos no ambiente, levando a outro
problema sério, especialmente dos grandes centros urbanos: a destinação
final correta do lixo, desencadeando uma série de outros problemas, inclusive
de saúde ambiental provenientes do lixo.
Acompanhe de janeiro a julho de 2008 a quantidade de lixo depositada no Aterro Sanitário da Região Metropolitana de Natal (em toneladas):
Jan 2008: 28.702,06Fev 2008: 26.077,42Mar 2008: 26.462,76Abr 2008: 27.667,42Mai 2008: 26.142,93Jun 2008: 25.891,40Jul 2008: 27.112,26
CURIOSIDADE
BRASECO (2008)
Mais uma vez, retomamos a importância do processo educativo com
vistas ao estímulo da ação antrópica, pautada na minimização da problemática
ambiental, na qual se verifique a emergência de que a sociedade atual necessita
apresentar um novo aprendizado: a reeducação para o consumo.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
30
Baudrillard apud Santos (2007, p. 48) contextualiza esse pressuposto,
quando afirma que:
A sociedade do consumo é também a sociedade de aprendizado do consumo, do condicionamento social do consumo - isto é, um modo novo e específico de socialização, em relação com a emergência de novas forças produtivas e a reestruturação monopolística de um sistema econômico a produtividade alta.
Fica evidente que, quando se fala em reeducação para o consumo, não
significa apresentar um modelo predefinido para tal, composto por sugestões
engessadas. Na verdade, cada um, por meio da análise prévia, é quem vai
decidir entre a necessidade para sua sobrevivência e o desejo imposto pela
mídia na hora da compra. Neste aspecto, é perceptível quão subjetiva é essa
questão, perpassando por princípios éticos e morais para nossas escolhas.
A ação baseada na ética e na moral
Ao travar um diálogo em torno da ética e moral, é preciso lembrar a
importância de pensarmos e agirmos de modo que os interesses individuais
nunca sobreponham os coletivos. Na atualidade, fica cada vez mais difícil
pautar ações seguindo esse contexto, pois vivemos num tempo de disputas e
jogo de interesses na busca da conquista e acumulação de bens e capital como
estilos de vida padrão. “O progresso econômico colocou o mundo às portas de
uma sociedade de ‘pós-escassez’, fundada em valores pós-materiais e liberada
dos constrangimentos da necessidade”(INGLEHART apud LEFF, 2008, p. 84).
Por isso, é importante frisar que esta é uma crise com características de
subjetividade, na qual os valores de cada um devem ser levados em conta para
a adoção de mudanças significativas, que reflitam na melhoria das condições
ambientais atuais. Em outras palavras, pode-se dizer que a eminência é
satisfazermos nossas necessidades, agindo de maneira a não prejudicar as dos
outros seres vivos existentes no planeta, ou seja, a cidadania planetária.
Toda a formação social e todo tipo de desenvolvimento estão fundados num sistema de valores, em princípios que orientam as formas de apropriação social e transformação da natureza. A racionalidade ambiental incorpora assim as bases do equilíbrio ecológico como norma do sistema econômico e condição de um desenvolvimento sustentável; da mesma forma se funda em princípios éticos (respeito e harmonia com a natureza) e valores políticos (democracia participativa e equidade social) que
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
31
constituem novos fins do desenvolvimento e se entrelaçam como normas morais nos fundamentos materiais de uma racionalidade ambiental. (LEFF, 2008, p. 85)
Novamente retomamos o discurso da mudança de postura, atrelada ao
comportamento humano em harmonia com a natureza, ou seja, uma nova ética
traduzida em práticas sociais transformadas por meio de uma racionalidade
social e alternativa.
Diante do exposto, surge uma pergunta que não quer calar: como você, em suas atitudes diárias, pode fazer para colaborar com a mudança da realidade vigente, bem como estimular naqueles que o (a) cercam atitudes proativas com esta finalidade?
REFLEXÃO
Nossa intenção aqui não é sugerir que você reescreva toda a sua história de
vida a partir de uma visão radical para novas posturas e, sim, que você verifique
outras possibilidades a respeito de suas escolhas de hoje em diante. Essas devem ter
em vista a premissa da adoção de valores humanistas que busquem “a integridade
humana, o sentido da vida, a solidariedade social, o reencantamento da vida e a
erotização do mundo” (LEFF, 2008, p.87). Essa afirmativa remete ao pressuposto
da cidadania, ou seja, da preocupação com outro, independente de quem ele seja.
Isso tudo nos permite afirmar ainda que, ao adotarmos posturas
humanistas, estejamos criando condições para a melhoria da qualidade de
vida associada ao consumo sustentável.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Para aprofundar seus conhecimentos sobre consumo sustentável acesse o link http://ambientes.ambientebrasil.com.br/educacao/artigos.html e pesquise o artigo Guia de boas práticas para o consumo.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
32
Com a sugestão acima, encerramos nossa discussão teórica, esperando
que ela tenha contribuído para despertá-lo para ações que promovam sua
cidadania planetária. Não esqueça a máxima: agir local, pensando no global,
pois o planeta Terra é de todos os seres vivos.
No próximo capítulo, aprofundaremos essa discussão, apresentando
o conteúdo: princípios e dimensões da sustentabilidade: econômica, social,
ecológica, cultural e espacial. Até lá.
1.3 Aplicando a teoria na prática
Leia o texto a seguir:
O cotidiano de Bia
Bia é uma engenheira com 33 anos, solteira, que mora sozinha num apartamento em uma grande metrópole e, por isso, tem acesso a inúmeras facilidades proporcionadas pelo desenvolvimento tecnológico.
O seu dia a dia é bastante agitado, em função das inúmeras obras que toca na construtora em que trabalha. Isso faz com que ela passe pouco tempo no seu lar. Apesar de todo esse movimento, em seu apartamento de dois cômodos, ela mantém os seguintes equipamentos: dois televisores, dois refrigeradores de ar, um computador e um notebook (com o qual realiza seus trabalhos), dois ventiladores, dois aparelhos de DVD, entre outros, que passam ociosos a maior parte do tempo, em função de sua vida tumultuada.
Bia não perde uma liquidação, por achar que é uma ótima oportunidade para adquirir utensílios que julga necessários ao seu cotidiano. Muitos desses não chegam nem a sair das embalagens.
No seu exercício profissional, ela prima pela qualidade nos projetos que elabora, no entanto, como trabalha em uma grande empresa, tem que priorizar a escolha de material com menor custo. Assim, não há nenhum tipo de preocupação com material que economize água e energia na utilização diária.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
33
Como mora só, Bia não vê necessidade de empregada doméstica, utiliza os serviços de uma diarista. Neste sentido, quando está em casa, ela compra comida pronta, fato que gera muito desperdício, pois ela sempre pede comida em excesso, por medo de não saciar sua fome.
Recentemente, com o objetivo de adquirir novos conhecimentos, almejando garantir empregabilidade, Bia iniciou um curso de especialização em saneamento ambiental. Neste curso, ela está conhecendo os princípios do desenvolvimento sustentável. A partir deles, ela pretende mudar seus hábitos pessoais e profissionais para garantir o usufruto dos recursos pelas gerações futuras, até porque agora ela está pensando em casar e constituir família.
Diante da problemática levantada, vamos ajudar Bia a mudar de postura
e a adotar práticas cotidianas sustentáveis.
Inicialmente, é importante propor a Bia a resolução do questionário sobre
o exercício cotidiano de nossas ações para que ela possa ter a dimensão do
quanto suas atitudes do dia a dia são insustentáveis para o futuro do planeta.
Bia também deve ter ciência que não se muda de um dia para outro, e que
as mudanças ocorrem de forma paulatina e pela educação ecológica. Para isso,
ela precisa se tornar uma pesquisadora constante, pois, além de consumidora
desenfreada, ela é profissional da construção civil, área extremamente
impactante e que requer medidas mitigadoras para os impactos que gera.
De acordo com Boff (2004, p. 134), essa engenheira precisa perceber que:
[...] cada pessoa precisa descobrir-se como parte do ecossistema local e da comunidade biótica, seja em seu aspecto de natureza, seja em sua dimensão de cultura. Precisa conhecer os irmãos e irmãs que compartem da mesma atmosfera, da mesma paisagem, do mesmo solo, dos mesmos mananciais, das mesmas fontes de nutrientes; precisa conhecer o tipo de plantas, animais e microorganismos que convivem naquele nicho ecológico comum; precisa conhecer a história daquelas paisagens, visitar aqueles rios e montanhas, freqüentar aquelas cascatas e cavernas; precisa conhecer a história das populações que aí viveram sua saga e construíram seu habitat, como trabalharam a natureza, como a conservaram ou a depredaram, quem são seus poetas e sábios, heróis e heroínas, santos e santas, os pais/mães fundadores de civilização local.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
34
É importante que Bia desenvolva e pratique a cidadania planetária capaz
de reduzir o consumo, por meio da doação dos bens em excesso que adquiriu,
bem como da vigilância para não comprar somente pelos apelos midiáticos.
Ela deve também evitar os descartáveis à medida que prioriza os reutilizáveis.
A engenheira ainda pode contribuir fazendo a separação do seu lixo, dando a
destinação correta para o mesmo, ou seja, retirando os recicláveis, separando
inclusive grandes vilões, como pilhas e baterias. Além disso, ela pode utilizar
a tecnologia a favor do ambiente por meio da busca de conhecimento sobre
formas sustentáveis de consumo e geração de energia.
É preciso destacar que não se trata de desenhar uma nova Bia, esquecendo
seu passado, ou ainda, colocá-la como vilã do planeta por causa dos seus erros.
O que importa aqui é fazer com ela perceba o quanto tem agido errado e
que ela pode corrigir esses erros a partir da adoção de novas posturas de
sobrevivência com a premissa de buscar qualidade de vida associada a modo
de vida sustentável.
Por isso, é importante que ela perceba que:
O que vale para o indivíduo vale também para a comunidade local. Ela deve fazer o mesmo percurso da inserção no ecossistema local e cuida do meio-ambiente; utilizar seus recursos de forma frugal, minimizar desgastes, reciclar materiais, conservar a biodiversidade. Deve conhecer a sua história, seus personagens principais, seu folclore. Deve cuidar da sua cidade, de suas praças e lugares públicos, de suas casas e escolas, de seus hospitais e igrejas, de seus teatros, cinemas e estádios de esporte, de seus monumentos e da memória coletiva do povo. Assim, como exemplo, escolher espécies vegetais do ecossistema local para plantar nos parques e vias públicas, e nos restaurantes valorizar a cozinha local e regional. (BOFF, 2004, p.136)
Mais uma vez, é preciso lembrar que Bia deve ter em mente que, para fazer
sua parte e ser uma cidadã comprometida com o mundo, é necessário o exercício
diário e a busca constante de novas informações sobre medidas mitigadoras.
Vale lembrar, ainda, que ela deve assumir o compromisso com a difusão
e intercâmbio desses novos saberes, bem como incluí-los na sua vida pessoal e
profissional. Isto significa dizer que, em termos ambientais, temos só uma vida
e o compromisso de contribuir para a salvaguarda da qualidade de todos os
seres vivos do planeta Terra, que, aliás, é apenas um.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
35
1.4 Para saber mais
BARBIERE, José Carlos. Desenvolvimento e Meio Ambiente. 11. ed. Petrópolis:
Vozes, 2009.
O livro discute os seguintes questionamentos atuais: como crescer sem
poluir tanto a água, o ar e o solo? Como conciliar crescimento econômico e
melhoria do nível de vida? Como explorar os recursos naturais, sem esgotar
o planeta?
CARVALHO, Isabel Cristina M. Educação Ambiental: a formação do sujeito
ecológico. São Paulo: Cortez, 2004. 256 p.
O livro discute o conceito de sujeito ecológico, entendido como um
conjunto de crenças e valores, que serve de orientação e modelo de identificação
para a formação de identidades individuais e coletivas. A proposta educativa,
que inspira este livro, é contribuir para a formação de sujeitos capazes de
compreender o mundo e agir nele de forma crítica.
DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São
Paulo: Gaia, 2004.
Este livro, um clássico de referência na literatura ambientalista brasileira,
reúne um conjunto de informações fundamentais para a promoção do processo
de Educação Ambiental.
SENAC.DN. Se cada um fizer sua parte... ecologia e cidadania. Rio de Janeiro:
Senac Nacional, 1998.
O livro traz um panorama de como a preocupação com o meio ambiente
diz respeito ao cidadão, fazendo parte do seu cotidiano e de sua condição de
agente transformador da realidade por meio de uma solidariedade planetária.
Filme: O DIA DEPOIS DE AMANHÃ. (EUA, 2004. Duração: 124 min.) Dirigido
por Roland Emmerich.Roteiro de Roland Emmerich e Jeffrey Nachmanoff.
Produção: Roland Emmerich, Ute Emmerich, Stephanie Germain, Mark
Gordon, Thomas M. Hammel, Lawrence Inglee, Kelly Van Horn, Kim H. Winther.
Distribuição: Fox Film do Brasil.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
36
A Terra sofre alterações climáticas que modificam drasticamente a vida da
humanidade. Com o norte se resfriando cada vez mais e passando por uma nova era
glacial, milhões de sobreviventes rumam para o sul. Porém, o paleoclimatologista
Jack Hall (Dennis Quaid) segue o caminho inverso e parte para Nova York, já que
acredita que seu filho Sam (Jake Gyllenhaal) ainda está vivo.
1.5 Relembrando
Chegamos ao final do nosso primeiro momento. Neste capítulo, você viu
a questão ambiental e sua interface com a educação na atualidade, percebendo
a importância de inserir a ética e a moral como elementos norteadores para o
alcance da justiça ecológica a fim de se atingir a cidadania planetária.
Diante disso, foi traçada uma estrutura para facilitar seu entendimento
sobe o tema, elencando procedimentos e sugestões passíveis de serem adotados
por cada um com o intuito da mudança de postura frente à maneira como é
encarado o consumo, tendo em vista que este deve primar pela sustentabilidade
da ação humana.
Desse modo, encerramos esse capítulo na esperança de ter contribuído
para sua reflexão, seguida da adoção de práticas cotidianas capazes de minimizar
impactos ao nosso planeta.
1.6 Testando os seus conhecimentos
Com o objetivo de propiciar a aplicação dos conteúdos apresentados
durante este capítulo, bem como verificar a compreensão dos mesmos, é
apresentado o presente questionamento a ser desenvolvido de acordo com a
sequência dos conteúdos.
A diretriz do desenvolvimento sustentável pressupõe uma perspectiva
ética em que o conceito de desenvolvimento econômico vem necessariamente
articulado com as dimensões sociais e ambientais. Compreender a crise
ambiental em que o planeta está imerso, implica perceber que temos
coparticipação com a mesma. Ao chegarmos nessa dimensão do saber, surge
a necessidade da concepção de novas posturas, orientadas por atitudes que
envolvam princípios éticos e morais capazes de promover a justiça ecológica.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
37
Diante do exposto, é imprescindível o exercício permanente para a reflexão
das atitudes diárias. Trata-se de um processo educativo constante, onde cada
dia funciona como um treino para fazermos sempre a escolha certa de modo a
contribuirmos para a sustentabilidade do planeta pelo exercício da cidadania.
Como a educação é uma ferramenta de destaque para a ocorrência do
consumo sustentável, de modo a evitar o desperdício, diminuindo a geração
de resíduos, surge a seguinte problemática: de que forma cada um pode fazer
sua parte dentro desse processo educativo? Que atitudes podem ser tomadas
para minimizar a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa? O que fazer
para reduzir o consumo de energia, água e geração de resíduos na natureza?
Onde encontrar
AMBIENTE BRASIL. Guia de Boas Práticas para o Consumo Sustentável.
Disponível em: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/educacao/artigos/
guia_de_boas_praticas_para_o_consumo_sustentavel.html?query=Dicas+de+c
onsumo+sustent%C3%A1vel. Acesso em: 22 mar. 2010.
______. 2030: o ano final do Cerrado (Estudos da ONG ambientalista Conservação
Internacional Brasil (CI-Brasil) indicam que o Cerrado deverá desaparecer
até 2030). Disponível em: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/florestal/
artigos/2030%3A_o_ano_final_do_cerrado.html?query=desmatamento,
Acesso em: 08 mar. 2010.
BAUDRILLARD, Jean. La société de consommation. Paris: Denöel, 1970. In:
SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. São Paulo: Nobel, 2007.
BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: ética do Humano-Compaixão pela Terra.
Petrópolis: Vozes, 2004.
BRASECO INFORMA. Acompanhe de janeiro a julho de 2008 a quantidade de
lixo depositada no Aterro Sanitário da Região Metropolitana de Natal. Boletim
Braseco Informa, Natal/RN, ano 3, n. 1, 2008. Disponível em: <http://www.
braseco.com.br/2008/informativo/ano3no1.pdf>. Acesso em: 09 jan. 2010.
BUARQUE, Cristovam Buarque. Outras intervenções. In: NASCIMENTO, Elimar
Pinheiro do; VIANNA, João Nildo (org.). Dilemas e desafios do desenvolvimento
sustentável no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 1
38
DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São
Paulo: Gaia, 2004.
COMÉRCIO comemora aumento de 11% no número de vendas no Natal.
Disponível em: http://videos.r7.com/comercio-comemora-aumento-de-11-no-
numero-de-vendas-no-natal/idmedia/bd3163a7df9b5352830a7091be946dee.
html, Acesso em: 09 jan. 2010.
INGLEHART, R. El cambio cultural en las sociedades industriales avanzadas.
Madri: Siglo XXI, 1991. In: LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade,
racionalidade, complexidade, poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
INSTITUTO Akatu pelo consumo conciente. Use os dois lados de uma folha de
papel. Disponível em: http://www.akatu.net/consumo_consciente/dicas/agua/
use-os-dois-lados-de-uma-folha-de-papel. Acesso em: 22 mar. 2010
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=en&tl=pt&u=http%3A%2F%2Fwww.un-documents.net%2Fwced-ocf.htm.
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PARE o mundo que eu quero descer. Consumo de água de uma família de
classe média. Disponível em: <http://pareomundo.spaceblog.com.br/r14734/
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REVISTA Eco 21. Desmatamento, perda de biodiversidade e pobreza. Disponível
em: http://www.eco21.com.br/home/index.asp. Acesso em: 08 mar. 2010
SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. São Paulo: Nobel, 2007.
SÉRIE desafios da educação ambiental. Disponível em: http://www.mma.gov.
br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=20&idConteudo=4393&
idMenu=2304. Acesso em: 09 jan. 2010.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 39
2.1 Contextualizando
No capítulo anterior, tivemos a dimensão do quanto às ações humanas são
impactantes ao bom funcionamento do planeta Terra. Vimos também que essa
situação é passível de ser minimizada, desde que cada um se comprometa em
fazer sua parte para a promoção da justiça ecológica. Portanto, é imprescindível
confirmar que esse processo diário de mudança de hábitos degradantes faz
parte da reeducação do ser humano para uma cidadania planetária.
Neste capítulo, daremos continuidade à discussão da disciplina
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental, apresentando os princípios e
dimensões da sustentabilidade: econômica, social, ecológica, cultural e espacial.
Com esse conteúdo, será possível verificar que falar de sustentabilidade implica
em trazer o contexto multidisciplinar necessário para uma apreensão coerente da
mesma, por meio dos cinco pilares aqui apresentados. Desse modo, sistematizar
ações pautadas nos princípios e dimensões apresentados no presente capítulo será
mais uma ferramenta para garantir o difundido desenvolvimento sustentável.
É importante que, ao final desse capítulo, você esteja apto a:
� Descrever os princípios norteadores da sustentabilidade ambiental;
� Identificar a importância de cada princípio norteador da sustentabilida-
de ambiental, bem como sua inter-relação.
� Descrever a dimensão dos princípios norteadores da sustentabilidade;
� Verificar a aplicabilidade de tais princípios no exercício profissional, ado-
tando medidas mitigadoras e de compensação ambiental.
PRINCÍPIOS E DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE: ECONÔMICA, SOCIAL,
ECOLÓGICA, CULTURAL E ESPACIAL
CAPÍTULO 2
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
40
Esperamos que você aproveite ao máximo os conteúdos discutidos neste
capítulo e tenha um bom estudo!
2.2 Conhecendo a teoria
2.2.1 A sustentabilidade econômica
Iniciamos nossa discussão trazendo à luz o princípio de maior conflito
conceitual quando se fala em sustentabilidade, pois pensá-la atendendo aos
interesses econômicos requer visualizá-la do ponto de vista da acumulação
de riquezas de forma justa e igualitária. Quando se fala em economia, logo
se remete a sua mola propulsora, o consumo, pois é ele quem a movimenta e
alimenta seu crescimento.
Ao tratar dessa temática no capítulo anterior, ficou perceptível como a
humanidade tem se comportado diante do consumo e como os apelos midiáticos
têm se mostrado verdadeiramente sedutores, ao ponto de transformar os
desejos em necessidades básicas à sobrevivência humana.
A esse respeito, Leff (2008, p.42-43) afirma que “a convulsão dos
fundamentos que sustentam hoje a ordem econômica dominante nos
coloca diante do desafio de transformar, a partir de suas bases, o paradigma
insustentável da economia.”
Em outras palavras, Leff (2008) critica a forma como o consumo tem
direcionado a economia, por meio da busca incessante pela acumulação
do capital privado.
Isso se deve ao fato de que, ao longo de sua evolução, a humanidade
passou a querer suprir mais do que sua necessidade de sobrevivência, pois,
à medida que foram surgindo os avanços tecnológicos, outros objetivos
passaram a ser perseguidos. Temas como espiritualidade longevidade, prazer,
conforto, beleza e convivência são alvo das aspirações humanas.
Novamente vem à tona a dicotomia necessidade versus desejo. E é aí
que entra em pauta o modelo econômico vigente, ou seja, o capitalismo, cujo
crescimento está alicerçado nos pilares do consumo.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
41
O Capitalismo é um modo de produção pelo qual a economia se dá em unidades chamadas empresas, que são de propriedade privada, embora algumas possam ter o governo como proprietário (SINGER, 1998).
SAIBA QUE
Em linhas gerais, esta é a forma de organização das atividades produtivas
(econômicas) da sociedade baseada no princípio de que os indivíduos podem
exercer domínio sobre os recursos, com o intuito de transformá-los em bens e
serviços, agregando sempre um novo valor. Essa ação se perpetua por meio de
uma cadeia, cujo eixo norteador é o acúmulo privado de capital, justificado na
máxima do crescimento econômico.
Essa forma de quantificação de crescimento (centrado na produção)
gera uma necessidade que deve ser atendida por todos nós: achar um ponto
de equilíbrio para tal, de modo que todos possam usufruir dos benefícios
intrínsecos ao crescimento.
Boff (2004, p. 17) confronta esse condicionante quando afirma que “o
projeto de crescimento material ilimitado, mundialmente integrado, sacrifica
2/3 da humanidade, extenua recursos da Terra e compromete o futuro das
gerações vindouras.” Isto significa dizer que a prioridade está na apropriação
dos indivíduos sobre todas as coisas detentoras de valor, para um posterior
acúmulo de capital, seguindo os pressupostos do neoliberalismo.
Neoliberalismo: intervenção artificial do Estado no plano jurídico e econômico, sendo este efeito apenas transitório, ou seja, o mercado é quem orienta o rumo das decisões de governo (SINGER, 1998).
Infelizmente, o objeto da apropriação humana é o Planeta Terra, e
esta ocorre de forma desigual, ou seja, uns se tornam cada vez mais ricos em
detrimento de outros cada vez mais pobres (Quadro 1). Essa máxima ainda
ocorre em um sistema competitivo gerador de exclusão e individualismo.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
42
CONSUMO (DO TOTAL
OFERECIDO)
20% DA POPULAÇÃO
MAIS RICA
20% DA POPULAÇÃO
MAIS POBRE
�� Carne e peixe 45% menos de 5%
�� Energia 58% menos de 4%
�� Linhas telefônicas 74% 1,5%
�� Papel 84% 1,1%
�� Veículos 87% menos de 1%
Quadro 1 - Balança de consumo entre ricos e pobres (PNUD, 2003)
Os dados apresentados no quadro 1 elucidam o que estamos tentando
abordar ao afirmar que o modelo econômico atual aponta para o crescimento e
não para o desenvolvimento como premissa para o alcance da sustentabilidade.
Neste caso, reforçamos a conceituação que vem sendo trabalhada desde o
início deste livro texto de que sustentabilidade significa consumir hoje, sem
comprometer os recursos para o amanhã.
Neste sentido, é importante destacar que, para atingir a sustentabilidade
econômica, é imprescindível a igualdade na distribuição dos recursos. A esse
respeito é válido mencionar alguns preceitos da Agenda 21, fruto da Rio-92
(citada no capítulo anterior), que traz como principais pontos a erradicação da
pobreza, a proteção aos recursos naturais e mudança de modos de produção
e hábitos de consumo.
Adotar esses pontos significa rever a estrutura econômica vigente, ou
seja, uma sociedade onde todos os seus membros estivessem em situação de
igualdade. Para isso ocorrer, seria necessário o estímulo e a cooperação entre
os participantes da atividade econômica (SINGER, 2002).
Ao apresentar essa afirmativa, Singer evidencia o quanto é urgente para
a humanidade pensar em um sistema econômico alternativo ao capitalismo,
em função das desigualdades sociais que o mesmo gera, uma vez que o
acúmulo de riqueza é a sua principal meta.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
43
Para ilustrar essa afirmativa, mencionamos o exemplo do Banco Comunitário da localidade de Palmas, existente na periferia de Fortaleza – CE. Trata-se de um serviço financeiro, de natureza comunitária, que tem por base os princípios da Economia Solidária e que oferece à população de baixa renda da citada localidade quatro serviços: fundo de crédito solidário, moeda social circulante local, feiras de produtores locais e capacitação em Economia Solidária. Esta iniciativa é uma referência para a América Latina. Além disso, ganhou o Prêmio Finep de Inovação na categoria tecnologia social no ano de 2008 e tem contribuído para a melhoria da qualidade de vida dos 30.000 cidadãos que ali residem.
SAIBA QUE
Apesar de iniciativas como a do Banco Palmas já se apresentarem como
uma realidade na busca por alternativas tecnológicas sociais, a humanidade
ainda não conseguiu implantar mecanismos dessa natureza de forma global.
Isso tem estimulado as pressões populares para um reposicionamento de
governos e empresas frente aos problemas ambientais.
Como reflexo disso, percebe-se um cuidado maior nas decisões tomadas,
tendo em vista o fato de esta poder ser avaliada e divulgada pelo prisma da
sustentabilidade, especialmente a partir dos mecanismos do Protocolo de Kyoto.
Conforme informação tratada no capítulo 1 deste livro-texto, você pôde
verificar que o protocolo de Kyoto foi gerado a partir da preocupação da
comunidade internacional como os rumos da intervenção humana no clima,
especialmente com relação às emissões de gases poluentes. Neste sentido,
criou-se o mercado de créditos de carbono ou redução simplificada dos gases
que provocam o efeito estufa por meio da certificação. Para tal, a bolsa
do clima foi criada nos Estados Unidos, com a finalidade de intermediar as
negociações desse Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Fica evidente que essas ações são fruto da participação social ativa. Entretanto,
tais avanços poderiam ser bem maiores, caso o controle e a participação social dos
cidadãos ocorresse com maior expressividade nos países em desenvolvimento.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
44
2.2.2 A sustentabilidade social
Retomando o capítulo anterior, trazemos a constatação de que vivemos
em uma sociedade marcada por estereótipos e desejos de consumo implantados
pela indústria cultural. Surge, assim, uma homogeneização dos desejos e
atitudes nas relações sociais, marcada pelo estímulo ao individualismo seguido
da competição desmedida, onde nem sempre se pode ter o que se quer.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Ilustrando esse caso, temos a revista Forbes, que publica anualmente a lista das pessoas mais ricas do mundo. Se você acessar o site http://www.forbes.com/lists/ e buscar por Billionares poderá encontrará esse ranking.
Esses aspectos de homogeneização são marcantes para instauração do
quadro de desigualdades sociais vigentes no planeta, oriundas da concentração
de renda gerada pelo propósito da acumulação de capital. Essa retórica faz com
que se criem verdadeiros bolsões de pobreza, onde reina a fome e a miséria
absoluta de um lado e, do outro, acúmulo de riqueza gerando ostentação e luxo.
Como falar em sustentabilidade diante dos aspectos elencados acima, marcando a divisão do planeta em dois mundos: um, em que os indivíduos não podem sequer ser considerados cidadãos, uma vez que lhes é negado todas as condições de sobrevivência; e outro tão individualista ao ponto de possuir um par de sapato para cada peça de roupa existente no roupeiro?
REFLEXÃO
Para clarear seu entendimento, pense no catador de lixo que tem seu
sustento a partir da colheita dos resíduos gerados por nós e depositados em
um lixão. De repente, esse indivíduo se depara com a construção de um aterro
sanitário (melhor forma de destinação final do lixo), que acabará com o lixão. Será
que esse cidadão apresenta condições de discernir sobre a importância da obra?
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
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Provavelmente, o caso não é apenas se é necessário que ele retire as
sobras de um lixão para sobreviver, obviamente o sistema não favoreceu ao
mesmo acesso à educação, garantindo-lhe empregabilidade. Ele significa ainda
afirmar que, para o mesmo, é melhor que o lixo continue sendo destinado de
forma errônea, pois, se não mais ali existir, seu sustento ficará comprometido.
Novamente, fica evidente a complexidade do termo sustentabilidade,
bem como os encaminhamentos que ele suscita dada a sua característica
multidisciplinar. Para ilustrar essa proposição, vamos mencionar a abordagem
apresentada por Leff apud Leff (2008, p. 58), quando diz que:
Hoje o número de pobres é maior do que nunca antes na história da humanidade, e a pobreza extrema avassala mais de um bilhão de habitantes do planeta. Este estado de pobreza ampliada e generalizada não pode ser atribuído às taxas de fertilidade dos pobres, às suas formas irracionais de reprodução e à sua resistência a integrar-se ao desenvolvimento. Hoje, a pobreza é resultado de uma cadeia causal e de um círculo vicioso de desenvolvimento perverso-degradação ambiental-pobreza, induzido pelo caráter ecodestrutivo e excludente do sistema econômico dominante.
Para uma melhor compreensão do discurso acima, bem como prosseguimento ao conteúdo aqui exposto, sugerimos que você visite a biblioteca do campus Salgado Filho e pesquise no documento Síntese de indicadores sociais 1998 do IBGE, dados sobre: educação, nível de renda, taxa de desemprego de sua cidade. Acrescentamos que será produtivo se você realizar uma análise comparativa dos dados, considerando a realidade das regiões mais abastadas com as menos favorecidas.
DESAFIO
As informações tratadas até o momento demonstram que pensar em
desenvolvimento sustentável implica considerar os aspectos que permitam a
formatação de uma sociedade justa e igualitária.
Com essa visão voltada para a racionalidade social no ano 2000, 189
países se comprometeram com a Declaração do Milênio (veja o quadro 2), fato
que demonstra a necessidade urgente de se alcançar a sustentabilidade social,
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
46
ou seja, democratizar o acesso à informação e ao conhecimento como forma
de promover a qualidade de vida dos indivíduos. Além disso, é fundamental
a criação de mecanismos que possibilitem a participação e o controle social.
1 – erradicar a extrema pobreza e fome;
2 – atingir o ensino básico universal;
3 – promover a igualdade de gênero e a autonomia das mulheres;
4 – reduzir a mortalidade infantil;
5 – melhorar a saúde materna; 6 – combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças;
7 – garantir a sustentabilidade ambiental;
8 – estabelecer parceria mundial para o desenvolvimento.
Quadro 2 - Metas da Declaração do Milênio (CAMARGO, 2010)
Isso somente será possível à medida que for incorporado um novo olhar para
o sistema produtivo, por meio de propostas que contemplem o desenvolvimento
social. Ele deve observar, em sua pauta, propostas que contemplem o
aproveitamento total dos recursos como forma de fazer frente aos impactos
gerados pelo desemprego. Tal premissa só será possível quando houver integração
dos projetos produtivos das comunidades tradicionais, sejam elas rurais, indígenas
ou urbanas. Os eixos norteadores dessa ação deverão ser a descentralização das
tomadas de decisão a partir de uma política de incentivo a autogestão. (LEFF, 2008)
Diante dessa explanação, a palavra de ordem se chama ‘planejamento’,
ou seja, conhecer a realidade de cada localidade para propor estratégias de
atuação com foco na resolução dos problemas.
Vale salientar que planejar o desenvolvimento social requer um olhar para
os ecossistemas nos quais se está inserido, levando sempre em consideração o
manejo das atividades produtivas.
2.2.3 A sustentabilidade ecológica
Acreditamos que, com o avanço do conteúdo, você esteja percebendo que
a sustentabilidade não é um tema que deva ser tratado apenas nas discussões
teóricas ou restritas aos ambientalistas. Aliás, com os desdobramentos
apresentados por essa temática, cada indivíduo deve ser um ambientalista
nato, diante do propósito da conservação das espécies do planeta.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
47
Diante disso, é importante ressaltar que falar em sustentabilidade significa pensar
nela incluindo o ponto de vista ecológico. Para tal, é fundamental perceber como se
processa a vida sob todos os aspectos, reconhecendo sua importância e o significado
de cada ser, bem como nossa responsabilidade para a manutenção da mesma.
“É injusto e imoral tentar fugir às conseqüências dos próprios atos. É justo que a pessoa que come em demasia se sinta mal e jejue. É injusto que quem cede aos próprios apetites fuja às conseqüências tomando tônicos e outros remédios. É ainda mais injusto que uma pessoa ceda à próprias paixões animalescas e fuja às conseqüências dos próprios atos”. (Mahatma Gandhi).
Diante do pensamento acima, como se pode mensurar a responsabilização do ser humano para o alcance da sustentabilidade ecológica e manutenção da vida?
REFLEXÃO
Para complementar seu entendimento da discussão que estamos
iniciando, destacamos o posicionamento de Boff (2004, p. 133) ao mencionar
a emergência do cuidado com o nosso único planeta:
Cuidado todo especial merece nosso planeta Terra. Temos unicamente ele para viver e morar. É um sistema de sistemas e superorganismo de complexo equilíbrio, urdido ao longo de milhões e milhões de anos. Por causa do assalto predador do processo industrialista dos últimos séculos este equilíbrio está prestes a romper-se em cadeia. Desde o começo da industrialização, no século XVIII, a população mundial cresceu 8 vezes, consumindo mais e mais recursos naturais; somente a produção, baseada na exploração da natureza, cresceu mais de cem vezes. O agravamento deste quadro com a mundialização do acelerado processo produtivo faz aumentar a ameaça e, conseqüentemente, a necessidade de um cuidado especial com o futuro da Terra.
Será que estamos numa encruzilhada? O método atual de apropriação da
natureza coloca em risco as condições físicas de vida no planeta? Perguntamos,
ainda, como impor limites ao crescimento, atendendo todas as circunstâncias
(energia, alimentos, moradia, água, etc.) que esta demanda implica?
Os questionamentos acima servem de alerta para a seguinte situação:
estamos na era do conhecimento e o avanço tecnológico tem proporcionado a
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
48
criação de mecanismos que contribuem para intervenções menos impactantes
no ambiente, que são, em alguns momentos, negligenciadas em função dos
custos de implantação ou manutenção, ou, até mesmo, por falha do sistema,
quando as agências reguladoras não realizam a fiscalização necessária.
Isso significa reforçar o conteúdo visto no capítulo anterior dessa
disciplina, pois toda a ação antrópica desencadeia um impacto no ambiente.
A partir desse pressuposto, é necessário adotar medidas capazes de mitigá-lo.
Para isso, é importante que, em cada intervenção, se verifique os cuidados
necessários, bem como as formas de compensação para danos inevitáveis.
Assim, é preciso compreender os atributos e a definição de parâmetros
de valoração dos impactos ambientais originados nas intervenções ambientais.
Estes podem ser entendidos pelo disposto no quadro 3:
ATRIBUTOS PARÂMETROS DE VALORAÇÃO
�� Caráter: expressa a alteração ou modificação gerada por uma ação.
Benéfico: quando for positivo Adverso: quando for negativo.
�� Magnitude: extensão do impacto num dado componente do fator ambiental afetado.
Pequena, média, grande.
�� Importância: o quanto cada impacto é relevante na sua relação de interferência com o meio ambiente ou quando compa-rado com outros impactos.
Não significativa, moderada, significativa.
�� Duração: tempo de permanência do impacto depois da ação que o gerou
Curta, média, longa.
�� Ordem: relação entre a ação e o impacto. Direta, indireta.
�� Reversibilidade: delimita a possibilidade de retorno ou não ao estado original com o fim de determinada intervenção ambiental.
Reversível, irreversível.
�� Temporalidade: interinidade da interven-ção ambiental.
Temporário, cíclico, permanente.
�� Escala: grandeza do impacto com relação à área de abrangência.
Local, regional.
Quadro 3 - Conceituação dos atributos e definição dos parâmetros de valoração dos impactos ambientais (TAVARES, 2008)
Estes elementos são indispensáveis para a definição de medidas
mitigadoras e compensatórias, ou seja, de formas para atenuar e/ou minimizar
os impactos da intervenção humana em determinado fator ambiental.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
49
Um instrumento que deve ser levado em consideração no atendimento à
valoração dos impactos ambientais é o documento Cuidado do planeta Terra
(veja o quadro 4). Tal mecanismo é uma estratégia elaborada pelo Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNU-MA), o Fundo Mundial para
a Natureza (WWF) e União Internacional para a Conservação da Natureza
(UICN), cujos princípios fundamentam-se no cuidado. (BOFF, 2004).
1 – Construir uma sociedade sustentável.
2 – Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos.
3 – Melhorar a qualidade da vida humana.
4 – Conservar a vitalidade e a diversidade do planeta Terra.
5 – Permanecer nos limites de capacidade de suporte do planeta Terra.
6 – Modificar atitudes e práticas pessoais.
7 – Permitir que as comunidades cuidem do seu próprio meio ambiente.
8 – Gerar uma estrutura nacional para inte-grar desenvolvimen-to e conservação.
9 – Construir uma aliança global.
Quadro 4 – Estratégias de cuidado com o planeta Terra (BOFF, 2004, p. 134)
Fica evidente que as estratégias estão postas à mesa, sendo preciso,
portanto, compromisso político, uma tarefa extremamente complexa dada a
necessidade de fixar limites em nível planetário. Incluir a política nesse diálogo
traz a necessidade de pensar fator cultural de cada povo e sua influência em
esfera global.
2.2.4 A sustentabilidade cultural
Vivemos no mundo dos modismos arraigados por conceitos estereotipados
de feio e belo, de divisão em seres com inteligência superior e inferior e
tantas outras subjetividades criadas para afirmar o poder do capitalismo. Essas
características tornaram-se mais evidentes com o advento da globalização
impulsionada pelo desenvolvimento tecnológico, favorecendo a igualdade de
costumes, hábitos e atitudes, entre outras.
Evidenciar um estilo de vida padronizado leva à desconsideração dos
saberes e manifestações tradicionais do conteúdo local, por serem percebidos
como arcaicos e rudimentares, não atendendo a necessidade de produção
massificada. Assim, gera-se uma construção de desigualdades e pobreza.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
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Esta destruição da base dos recursos do planeta e seu impacto nos valores culturais e humanos gerou a necessidade de orientar as formas de desenvolvimento para eliminar a pobreza crítica e passar da sobrevivência á melhoria da qualidade de vida. (LEFF, 2008, p. 90)
Esse raciocínio demonstra que, felizmente, o modo de apropriação da
cultura, por muito tempo pregado como o ideal, tem sido negado a fim de
atender aos princípios da sustentabilidade.
Essa preocupação tem sido percebida pela forma que o estilo de vida
adotado por personagens, como Madre Tereza de Calcutá e Mahatma Gandhi,
tem estimulado a adoção de comportamentos baseados no cuidado do outro.
Madre Tereza de Calcutá (910-1997), à esquerda, foi uma missionária católica albanesa, nascida na República da Macedônia e naturalizada indiana, beatificada pela Igreja Católica.
Mahatma Gandhi (1869 – 1948), à direita, foi um líder político e espiritual da Índia. Soube utilizar-se engenhosamente de toda a tradição para reerguer o orgulho de sua gente, abalada pela dominação e deu muito que pensar àqueles que se consideravam “superiores” e, por isso, dominavam.
BIOGRAFIA
Esse pressuposto do cuidado sugere a adoção de estratégias de
desenvolvimento, que priorizem os saberes tradicionais de manejo, ou seja, a
valorização do local em detrimento do global. Surge, assim, a necessidade de
valorização das identidades nacionais, por meio da afirmação de sua cultura e
conhecimento acumulado ao longo da evolução humana.
Cabe ainda considerar, nesse aspecto, a sabedoria de povos tradicionais, como
camponeses e indígenas, bem como o patrimônio cultural (material e imaterial)
constituído na formação dos povos. Como exemplo de patrimônio material e
imaterial, podemos citar a arquitetura e a gastronomia local, respectivamente.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
51
É válido destacar o raciocínio apresentado por Leff (2008, p.93), quando
afirma que “a ética ambiental vincula a conservação da diversidade biológica do
planeta ao respeito à heterogeneidade étnica e cultural da espécie humana.”
Levantar essa questão implica no reconhecimento do espaço individual e
coletivo e uma apropriação coerente do mesmo.
2.2.5 A sustentabilidade espacial
No decorrer deste capítulo trouxemos a discussão da sustentabilidade
por meio dos princípios e dimensões que a cercam. Incluso neles, está à defesa
da sustentabilidade espacial por aqueles que estudam e debatem o tema.
Falar em sustentabilidade espacial significa elencar fatos como
concentração populacional, densidade demográfica, urbanização. A esse
respeito Leff (2008, p. 340) diz que “o lugar é o locus das demandas e das
reivindicações das pessoas pela degradação ambiental, assim como suas
capacidades de reconstruir seus mundos de vida”.
Você já parou para pensar no percentual de urbanização planetária? Quais a condições de vida das grandes metrópoles?
REFLEXÃO
Quando trazemos elementos que sugerem a reflexão sobre qualidade de vida
para a discussão, temos a intenção de fazê-lo compreender o quanto a concentração
populacional em torno das grandes cidades tem contribuído para o caos ambiental.
Problemas como: poluição atmosférica, contaminação do lençol freático, consumo
excessivo de água, geração de resíduos, precariedade dos assentamentos humanos,
segregação socioespacial, entre outros, são mais acentuados nos centros urbanos.
Como forma de ilustrar esse discurso, apresentamos a verticalização de
cidades litorâneas em função da especulação imobiliária, em alguns momentos,
em outros, pelo déficit habitacional. Essas edificações têm ocasionado o
surgimento de ilhas de calor, provocadas pelo aumento da temperatura.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
52
Jeff Belmonter
Figura 1 - Verticalização nas Praias do Leblon e Ipanema, no Rio de Janeiro.
Além disso, podemos acrescentar ainda a ocorrência de sobrecarga nos
sistemas de abastecimento de água e energia, bem como no esgotamento
sanitário, como consequência da urbanização crescente nessas áreas,
localizadas especialmente em regiões metropolitanas.
Imbuídas do desejo de melhores condições de vida, por meio do alcance
do emprego ideal, as pessoas se inserem no contexto das grandes cidades,
pois são elas que apresentam as melhores oportunidades. Entretanto, o que
se observa são fatos como: o aumento da periferia nas regiões metropolitanas
e o empobrecimento da população em função da oferta precária de trabalho.
Tratar dessas questões significa considerar que o processo de
urbanização traz consigo a necessidade do planejamento para atender as
demandas dos assentamentos humanos, que se instalam nas metrópoles e
em seu entorno. “No mundo de hoje, cada vez mais pessoas se reúnem em
áreas mais reduzidas, como se o hábitat humano minguasse. Isso permite
experimentar, através do espaço, o fato da escassez.” (SANTOS, 2007, p. 80).
Dessa forma, é imprescindível mitigar os efeitos desse aglomerado
populacional por meio de iniciativas que considerem aspectos como:
possibilidades de fixação das comunidades tradicionais em suas regiões de
origem, garantido a elas condições de sobrevivência; democratização do
espaço para o assentamento humano, oferecendo condições necessárias
de educação, moradia, mobilidade, transporte, saúde e segurança;
tratamento adequado e técnico para abastecimento de água, energia,
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
53
destinação dos resíduos sólidos, qualidade do ar, distribuição racional dos
equipamentos públicos, acessibilidade e inúmeros outros, menos óbvios,
porém não menos importantes.
Sendo assim, as informações apresentadas neste capítulo evidenciam a
necessidade de pensar sobre a sustentabilidade de forma prática e em todas
as dimensões da intervenção humana no ambiente.
Vale salientar que é imprescindível considerar os princípios norteadores
para tal pressuposto: econômico, social, ecológico, cultural e espacial. Pensar
e agir usando como fundamento essa premissa é uma maneira de garantir o
alcance do desenvolvimento sustentável.
2.3 Aplicando a teoria na prática
Venha para Natal: a cidade sustentável
O turismo é a principal atividade econômica da cidade do Natal, responsável pela geração de divisas, bem como de ocupação e renda. Sendo um dos principais destinos de sol e mar do Brasil, a prefeitura local realiza constantemente investimentos em divulgação do destino.
Neste sentido, para convencer os turistas, que buscam sol, praias, dunas e emoções, de que Natal é o melhor lugar para passar suas férias a Secretaria de Turismo do Município decide produzir um clipe sobre os atrativos locais.
Tal peça publicitária será veiculada em horário nobre das principais emissoras de TV aberta do país, para o público do principal centro emissor de turistas para a cidade: São Paulo e região metropolitana.
Assim, são contratados os serviços de uma agência de publicidade para realizar tal tarefa. Como o slogan da cidade é ser uma cidade sustentável, é imprescindível que esta intervenção ocorra atendendo os princípios e dimensões da sustentabilidade. Outro detalhe da atividade é a exigência de uma ação interdisciplinar entre profissionais de turismo, comunicação e gestão ambiental.
Diante da problemática apresentada, quais fatores nortearão essa
produção audiovisual?
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
54
Para responder a esse questionamento, devem-se considerar os princípios
e dimensões da sustentabilidade ambiental como fatores norteadores para a
gravação do vídeo, requerendo dos profissionais envolvidos a adoção de uma
consciência representada por ações práticas.
É sabido que toda intervenção no ambiente provoca impacto. Seguir
o modelo apresentado no quadro 4, que trata do consumo de água virtual,
ou seja, da quantidade de água utilizada direta ou indiretamente na
produção de algo é uma ferramenta para mitigar o consumo de água na
produção do vídeo.
É a quantidade de
água usada, direta
ou indiretamente, na
produção de algo.
Veja quantos litros de
água virtual existem em
cada produto.
32 litrosMicrochip(2 g)
140 litrosXícara de café(125 ml)
10 litrosFolha de papel A4(80 g/m2)
2.000 litrosCamiseta de algodão (250 g)
Em produtos de origem animal, a maior parte da água virtual tem origem na produção da ração que alimenta a criação
200 litrosCopo de leite (200 ml)
135 litrosOvo(40 g)
2.325 litrosCarne bovina(150 g)
720 litrosCarne suína(150 g)
8.000 litrosPar de sapatos de couro
Quadro 5 – Consumo de água virtual (ALMANAQUE ABRIL, 2010)
A equipe também pode aplicar esse modelo aos demais insumos
utilizados no trabalho, como combustível, fitas de vídeo, bateria, entre outros.
Os dados provenientes desse levantamento do consumo provocado podem ser
utilizados para a realização de medidas mitigadoras do impacto causado.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
55
O grupo atuante na execução da tarefa proposta deve considerar o
seguinte discurso de Boff (2004, p. 95):
Pelo cuidado não vemos a natureza e tudo que nela existe como objetos. A relação não é sujeito-objeto, mas sujeito-sujeito. Experimentamos os seres como sujeitos, como valores, como símbolos que remetem a uma Realidade frontal. A natureza não é muda. Fala e evoca. Emite mensagens de grandeza, beleza, perplexidade e força. O ser humano pode escutar e interpretar esses sinais. Coloca-se ao pé das coisas, junto delas e a elas sente-se unido. Não existe, co-existe com todos os outros. A relação não é de domínio sobre, mas de con-vivência. Não é pura intervenção, mas inter-ação e comunhão.
Dessa forma, todos os profissionais envolvidos no processo devem primar
pela manutenção do equilíbrio, por meio de atitudes proativas de cuidado com
a natureza, baseando-se na contabilidade ambiental que considera impacto x
mitigação do impacto.
Cuidar das coisas implica ter intimidade, senti-las dentro, acolhê-las, respeitá-las, dar-lhes sossego e repouso. Cuidar é entrar em sintonia com, auscutar-lhes o ritmo e afinar-se com ele. A razão analítico-instrumental abre caminho para a razão cordial, o esprit de finesse, o espírito de delicadeza, o sentimento profundo. (BOFF, 2004, p. 96).
Sendo a atividade turística pautada no uso do patrimônio (natural e
cultural) de uma localidade, além de incutir ações mitigadoras dos impactos
causados na gravação do material publicitário, deve-se utilizá-lo para transmitir
a mensagem da conservação dos recursos. Isso significa demonstrar, no clipe,
atitudes estimulantes para a prática sustentável do turismo junto àqueles
potenciais visitantes do destino.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
56
2.4 Para saber mais
AZEVEDO, Júlia; IRVING, Marta de Azevedo. Turismo: o desafio da
sustentabilidade. São Paulo: Futura, 2002.
Neste livro são analisados o potencial do turismo e os desafios, que terão
de ser enfrentados para atingir a sustentabilidade, garantindo três objetivos:
satisfazer o turista, preservar o meio ambiente e assegurar a qualidade de vida
da comunidade que reside no destino turístico.
BANCO DO NORDESTE. Manual de impactos ambientais: orientações sobre os
aspectos ambientais de atividade produtivas. Fortaleza: Banco do Nordeste, 1999.
Destinado a facilitar o trabalho de pequenos, médios e grandes
empreendedores, ele contribui para capacitar elaboradores de projetos,
analistas de crédito de entidades financiadoras e demais profissionais
envolvidos com a atividade produtiva e suas implicações na conservação
ambiental.
FONSECA, Igor Ferraz da; BURSZTYN, Marcel. A banalização da sustentabilidade:
reflexões sobre governança ambiental em escala local. Soc. estado, Brasília, v.
24, n. 1, abr. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0102-69922009000100003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 21
jan. 2010. doi: 10.1590/S0102-69922009000100003.
O objetivo deste estudo é demonstrar como os quesitos considerados
necessários para uma boa governança são produzidos e reproduzidos ao longo
do tempo.
http://www.cidades.gov.br/conselho-das-cidades/conferencias-das-cidades/4a-
conferencia-das-cidades.
Com a criação do Ministério das Cidades em 2003, o Brasil passou a ter um
instrumento de participação e controle social que direciona o nosso destino: a
Conferência das Cidades, incluindo temáticas como o orçamento participativo.
Acesse e descubra maiores informações.
PORTILHO, Fátima. Sustentabilidade Ambiental, Consumo e Cidadania. São
Paulo: Cortez Editora, 2005.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
57
O livro contribui certamente para aprofundar o conhecimento sobre um
processo que opera na intersecção entre a vida pública e privada, e, assim,
a questão ambiental pode ser colocada num lugar onde as preocupações
privadas e as questões públicas se encontram.
2.5 Relembrando
Caracterizar as relações humano-natureza de forma justa e igualitária na
distribuição dos recursos é considerar que toda e qualquer intervenção pode
provocar impacto no ambiente. Neste caso, é preciso a adoção de medidas
mitigadoras e compensatórias aliadas à implantação de tecnologias limpas,
visando à equidade no usufruto dos recursos.
Neste sentido, o desenvolvimento tecnológico deve levar em conta
as particularidades de cada povo, evitando a homogeneização de hábitos,
costumes e atitudes. Este fato leva à proposição de valorização das identidades
nacionais por meio da afirmação de sua cultura e conhecimento, garantindo a
manutenção das técnicas tradicionais de produção e manejo.
Esta garantia favorece a fixação dessas comunidades em seu local de
origem, minimizando os efeitos ocasionados pelos grandes assentamentos
humanos existentes nas regiões metropolitanas, que são fortes contribuintes
para a instalação do caos ambiental vivido hoje.
Em suma, não se pode pensar/agir de forma sustentável sem conceber
os princípios econômicos, sociais, ecológicos, culturais e espaciais, bem
como a dimensão da importância que os mesmos apresentam para a
qualidade ambiental.
2.6 Testando os seus conhecimentos
Nos dias atuais, as novas tecnologias se desenvolvem de forma
acelerada, assumindo papel importante na dinâmica do cotidiano das pessoas
e da economia mundial. Escolher uma profissão requer de cada indivíduo
apropriar-se dos conhecimentos que o cercam, assim como a melhor forma de
utilizar a tecnologia para realizar suas atividades profissionais.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 2
58
A emergência da adoção dos princípios que norteiam a sustentabilidade
faz com que cada profissional escolha técnicas de exercício da profissão que
contemplem o uso de tecnologias limpas como forma de mitigar e compensar
os efeitos de suas atividades no ambiente.
Desse modo, como o processo de formação profissional deve contemplar
conteúdos que fundamentem essa premissa, estimulando a adoção de práticas
cotidianas sustentáveis?
Onde encontrar
ASSOCIAÇÃO de Amigos e Moradores de Boa Viagem. Especulação: limite das
edificações já. Disponível em: http://www.amabv.hpg.ig.com.br/especulacao.html.
Acesso em: 29 jun. 2010
BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: Ética do Humano-Compaixão pela Terra.
Petrópolis: Vozes, 2004.
CAMARGO, Paulo de. 8 jeitos de mudar o mundo: nós podemos. Disponível
em: http://www.facaparte.org.br/new/download/Livro%20Objetivo%201%20
-%20Fome.pdf. Acesso em: 24 fev. 2010.
LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade,
poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
______. Pobreza, gestión participativa de los recursos naturales y desarrollo
sustentable em lãs comunidades rurales. Una visión desde América Latina.
Ecologia Política, n. 8, Barcelona: Icaria, 1994. In: LEFF, Enrique. Saber ambiental:
sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. RELATÓRIO
DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2003. New York, USA: PNUD, 2003. Anual.
ISBN 978-8730-08-X.
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7.ed. São Paulo: EDUSP, 2007.
SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002.
______. O que é economia. 2. ed. ver. ampl. São Paulo: Contexto, 1998.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 59
3.1 Contextualizando
Continuando nossa trajetória discursiva a respeito da disciplina
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental, trazemos, neste capítulo, O
Desenvolvimento Sustentável como conteúdo incluso na temática abordada
pela mesma.
Apreender os conteúdos aqui abordados norteará sua formação,
favorecendo uma atuação profissional orientada para a adoção de práticas
que busquem a articulação entre desenvolvimento e sustentabilidade. Isso
será possível por meio da forma como o tema será tratado, cujo foco central
da discussão é a visualização do local (lugar onde as comunidades estão
assentadas) como estratégia de desenvolvimento.
Assim, temas como prevenção, políticas setoriais e gestão serão debatidos
para que você compreenda o quanto é importante e urgente pensar (de
modo individual ou coletivo) em intervenções que atendam as demandas do
desenvolvimento sustentável.
Neste sentido, ao final deste capítulo, espera-se que você esteja apto a:
� Identificar as diferenças entre crescimento e desenvolvimento e o modo
como eles se complementam;
� Perceber como é possível intervir no ambiente prevenindo danos irreversíveis;
� Caracterizar a gestão responsável como um caminho para o desenvolvimen-
to socialmente justo, ambientalmente sustentável e economicamente viável.
O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
CAPÍTULO 3
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
60
Desejamos que este conteúdo seja proveitoso para seu desenvolvimento
profissional. Tenha uma boa leitura!
3.2 Conhecendo a teoria
3.2.1 Entendendo o desenvolvimento
Você percebe alguma diferença entre os termos crescimento e
desenvolvimento?
Esses dois termos são considerados como sendo semelhantes,
especialmente se forem analisados sob o prisma econômico, à medida que se
consideram os Produtos Interno Bruto – PIB nacionais.
“Produto Interno Bruto (PIB) é o somatório de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território nacional num dado período.” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005, p. 108).
SAIBA QUE
A característica do PIB fica evidente, quando verificamos os veículos de
comunicação trazendo em seus noticiários temas como: déficit ou superávit
da balança comercial, cotações de moedas estrangeiras, números de bolsas de
valores, entre tantos do vocabulário econômico.
A esse respeito, devemos ter em mente como a forma adotada por cada
nação para lidar com esses indicadores condiz com sua posição nas decisões
internacionais, conforme destaca Sousa (2003, p.181-182):
O crescimento econômico de determinado país acontece em uma política de dinamização no processo produtivo, isto no que diz respeito ao setor primário, ou agricultura; ao setor secundário, ou de transformação e beneficiamento; e, ao setor terciário, ou de serviços. [...] O processo de crescimento de um país depende muito da ideologia que tal nação se encontra estruturada.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
61
Como forma de esclarecer essa afirmativa, é importante considerar que
o pilar de sustentação da economia mundial está pautado na acumulação de
capital privado por meio da maximização dos lucros.
A esse respeito, vale que você faça a seguinte reflexão:
O desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente sustentável estaria realmente na contramão do crescimento econômico?
REFLEXÃO
É importante refletir sobre esse questionamento à medida que o
termo crescimento é anterior ao surgimento das terminologias atreladas ao
desenvolvimento, ou seja, foi a partir da incidência do primeiro que se percebeu
a necessidade do segundo. Esse aspecto denota a forma como ambos estão
intrínsecos, ficando visível que, para entender o desenvolvimento, é preciso
compreender o condicionante para seu surgimento, o crescimento.
Reforçando esse pressuposto, é importante retomar o capítulo 2, onde
você viu que, entre os princípios e dimensões norteadores da sustentabilidade,
está a equidade econômica. Isso significa dizer que não se pode falar em
desenvolvimento sem atrelá-lo a crescimento econômico.
Nesse aspecto, ainda é válido destacar que não só é possível, mas
necessário, um crescimento que proponha a conciliação com os pilares do
desenvolvimento. Para isso, é válido incorporar a sensibilidade com a dimensão
social, a prudência ambiental e a viabilidade econômica como forma de
garantir o atendimento aos objetivos socialmente desejáveis e a minimização
dos impactos ambientais negativos.
Diante dos argumentos acima, é importante chamar novamente a sua
atenção para o significado de desenvolvimento sustentável abordado em
momento anterior:
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
62
LEMBRETELEMBRETE
Vale a pena lembrar que um fator inerente ao desenvolvimento sustentável é satisfazer as necessidades da população atual sem comprometer a capacidade de atender as gerações futuras (ONU,1987).
É válido relembrar ainda que este é um conceito relativamente recente,
apresentado na década de 1980, e que, portanto, sua aplicação eficiente carece da
articulação ético-política capaz de mobilizar uma revolução, tanto pelas reformas
do Estado como pelo fortalecimento das organizações da sociedade civil.
Em outras palavras, a proposta é suavizar as ressalvas impostas pela
economia de mercado, por meio da implantação de mecanismos tecnológicos,
que considerem e assegurem as ações ocorridas a partir dos conhecimentos
individuais e culturais da sociedade.
[...] para que as coisas aconteçam, é preciso que sejam economicamente viáveis. A viabilidade econômica é uma condição necessária, porém certamente não suficiente para o desenvolvimento. O econômico não é um objetivo em si, é apenas o instrumental com o qual avançar a caminho do desenvolvimento includente e sustentável. (SACHS, 2007, p. 23)
Isso significa destacar que pensar e agir de forma orientada para
o desenvolvimento sustentável é colocar o crescimento econômico como
condição necessária para sua ocorrência. Entretanto, devemos seguir o preceito
popular - ele afirma que prevenir é melhor do que remediar - como condição
imprescindível para qualquer crescimento econômico.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
63
3.2.2 Prevenção como condição para o desenvolvimento
sustentável
Observe o texto abaixo:
Um cientista muito preocupado com os problemas do mundo passava dias em seu laboratório, tentando encontrar meios de minorá-los.
Certo dia, seu filho de sete anos invadiu o seu santuário decidido a ajudá-lo. O cientista, nervoso pela interrupção, tentou fazer o filho brincar em outro lugar. Vendo que seria impossível removê-lo, procurou algo que pudesse distrair a criança. De repente, deparou-se com o mapa do mundo. Estava ali o que procurava. Recortou o mapa em vários pedaços e, junto com o rolo de fita adesiva, entregou-o ao filho, dizendo:
--- Você gosta de quebra-cabeça? Então vou lhe dar o mundo para consertar. Aqui esta ele, todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho! Mas faça tudo sozinho!
Pelos seus cálculos, a criança levaria dias para recompor o mapa. Passadas algumas horas, ouviu o filho chamando-o, calmamente.
--- Papai, pai, já terminei tudinho!
A princípio, o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível, na sua idade, conseguir recompor um mapa que jamais havia visto. Relutante o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que veria o trabalho digno de uma criança. Para sua surpresa, o mapa estava completo. Todos os pedaços haviam sido colocados nos devidos lugares. Como seria possível? Como o menino havia sido capaz?
--- Você não sabia como era o mundo, meu filho, como conseguiu?
--- Pai eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem. Quando você me deu o mundo para consertar, eu tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os recortes e comecei a consertar o homem, que eu sabia como era. Quando consegui consertar o homem virei a folha e vi que havia consertado o mundo. (Autor desconhecido)
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
64
Você deve estar se perguntando qual a relação do texto acima com a
temática que será abordada nesse momento, acertei? Realmente, parece fora
de contexto trazer essa discussão nesse momento. Entretanto, sugiro retomar
o capítulo 1, quando abordamos a sustentabilidade das ações antrópicas e
foi dito que são necessárias novas posturas de sobrevivência, implicando em
atitudes de cuidado tendo por princípio a atenção, o zelo e o desvelo.
Ao retomar essa discussão, sob a ótica ilustrada no texto anteriormente
citado, percebemos o quanto as intervenções humanas são responsáveis pelos
problemas do mundo. Isso traz consigo a necessidade de um cuidado revestido
na prevenção, ou seja, na vigilância, tanto para preparar a decisão, quanto
para acompanhar suas consequências.
Complementando esse raciocínio, Sachs (2007) fala que, atualmente,
tem-se discutido muito a questão da responsabilidade dos cientistas, tantos
das ciências exatas e naturais, quanto dos cientistas sociais com relação ao
pensamento de um desenvolvimento includente, sustentável e sustentado.
Neste sentido, não se trata apenas do posicionamento humano, mas
das consequências que tal atitude pode incidir. Ao abordar esse enfoque,
evidenciamos o quanto analisar a possibilidade de uma ação humana causa
dano a alguém, ainda que sem culpa, e pode ser fator condicionante ao
desenvolvimento sustentável.
Ainda nesse contexto, ao adotar essa condição como eixo para as
intervenções humanas, é preciso ter em mente o comportamento prudente
dos atores envolvidos no processo decisório. Tal prudência emana a avaliação
dos impactos socioeconômicos, culturais e ambientais decorrentes da
decisão de agir ou vetar determinadas intervenções. Essa avaliação requer
o chamamento para a responsabilização de forma individual e coletiva, em
caso de um dano irreversível.
A esse respeito, a Constituição da República Federativa do Brasil traz a
seguinte matéria no seu artigo 225 §30:
As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as sanções penais e administrativas, independente da obrigação de reparar os danos causados. (BRASIL, 2008, p.144).
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
65
Ao considerar essa premissa, aplicando o princípio da prevenção, é preciso
compreender quais as características dos ecossistemas em questão, bem como
a forma em que os mesmos estão inseridos no espaço e no tempo, além de
sua resposta às interferências humanas. Ao analisar esses parâmetros, também
é necessário reconhecer as limitações técnicas por meio da implantação de
programas de monitoramento, para verificar como estão ocorrendo as
intervenções do homem nos ecossistemas.
Evidentemente, quando falamos em estabelecimento de parâmetros para
delimitar as intervenções antrópicas, aparece à necessidade de fixação dos mesmos.
Para esse fim, é essencial um protagonista nesse processo: o poder público.
Este deve estabelecer as políticas necessárias, bem como as medidas
restritivas aos interesses mercadológicos (instrumentos de regulação,
acompanhados de legislação específica, ex: Código de Meio Ambiente),
de modo a salvaguardar o pressuposto do conceito de desenvolvimento
sustentável, cuja premissa é garantir o usufruto dos recursos para as
futuras gerações.
3.2.3 O papel das políticas públicas para garantir o desenvolvimento
sustentável
Ainda em referência ao capítulo 1 deste livro texto, retomamos a
discussão a respeito das políticas de estímulo à conservação ambiental,
iniciadas a partir da década de 1960. Esse período marca o início da tomada
de consciência da comunidade internacional sobre os inúmeros problemas
ambientais decorrentes da ação antrópica. Assim, o meio ambiente passa a ser
objeto de estudo e de políticas públicas em todo o mundo.
Complementando esse raciocínio na seção anterior, tratamos do princípio
da prevenção como mecanismo de salvaguarda ambiental. Neste momento,
falaremos daquelas, que são a chave para o alcance de tal pressuposto, as
políticas públicas.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
66
Diante da importância e da força que as políticas têm para uma nação, o governo brasileiro tem estimulado e construído mecanismos de salvaguarda ambiental. Assim, para que você saiba detalhes desta matéria, realize uma pesquisa a respeito da Lei 6931/81, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, bem como sobre o artigo 225 da Constituição Federal. Eles trazem como pauta a temática ambiental.
DESAFIO
Quando falamos em políticas públicas, não podemos deixar de considerar
que essas fazem parte do processo de planejamento e, por isso, denotam a
necessidade de estudos, conhecimento técnico e participação social para que
sejam implementadas.
A característica de estudos, conhecimento técnico e participação social
têm conexão com o grau de consciência e da responsabilidade que a sociedade
tem com sua história e seu posicionamento com relação ao futuro.
Apesar de estarmos no século XXI e as questões fundamentais da
existência humana sempre permearem o viés da globalização (conhecimento
científico, usos e costumes dos povos, entre tantos outros temas), é preciso
entender que as decisões ocorrem de forma localizada.
Isso significa apontar que é preciso fortalecer a governança local, por
meio do estímulo à participação cidadã. A esse respeito, na discussão sobre
participação e controle social do capítulo anterior, pretendíamos estimular a
reflexão do quanto a construção participativa de metas locais tem o poder
de influenciar as decisões globais, sendo, portanto, necessária a tomada de
consciência do papel que cada um tem nesse patamar.
[...] a visão de desenvolvimento no futuro é um desenvolvimento participativo e negociado. Ou seja, deve-se se organizar o debate em todos os níveis, desde o desenvolvimento local, por exemplo. Pode-se começar por um fórum de desenvolvimento local, mais tarde esse fórum se transforma num conselho consultivo que com o tempo cresce para ser um conselho deliberativo. (SACHS, 2007, p. 28)
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
67
A consciência, neste sentido, perpassa pela delimitação de visão de futuro
da sociedade, tendo vista o contexto histórico em que ela está inserida. Pensar e
planejar o futuro tem relação com as responsabilidades individuais, que fazem
parte de um contexto de maior complexidade, e com as responsabilidades
coletivas, direcionadas para o desenvolvimento local.
Olivier Bresmal
Figura 1 - A responsabilidade individual para a qualidade do planeta
Pensar, considerando o futuro, é compreender que, embora uma
conciliação entre crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável
pareça remota, não se pode eximir a responsabilidade de cada um para com o
planejamento direcionado a atingir essa conciliação.
Esperamos que cada localidade se organize de modo a concentrar esforços
com o propósito de incentivar maneiras sustentáveis de desenvolvimento.
Uma maneira plausível para esse fim é o fortalecimento das redes sociais, a
partir de sua inserção nos processos políticos administrativos.
Você deve está se perguntando se realmente isto é possível ou, até mesmo,
questionando o fundamento desse discurso. Afirmamos que não se trata de uma
utopia e, sim, de uma realidade a ser perseguida, pois, quando decidimos que
futuro nós queremos em nível local, pressionamos as decisões tomadas pelos
nossos representantes (constituídos de forma legal) em escala global.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
68
Mello (2007, p. 62) reforça essa afirmativa, quando destaca que:
Se concentrarmos estudos, mecanismo, trabalho, incentivos financeiros, econômicos, tecnológicos e técnicos, sem qualquer dúvida dentro de alguns anos estaremos dando um grande passo, de longo alcance. Já estamos atrasados, é preciso começar já, imediatamente.
Portanto, refletir e agir de forma orientada para o estímulo às políticas
públicas com o foco no desenvolvimento sustentável significa traçar um
caminho harmônico de gestão alicerçado nos pilares da sustentabilidade.
3.2.4 A gestão sob a ótica ambiental: um caminho para a harmonia
O desenvolvimento é por essência um conceito dinâmico, e as instituições para o desenvolvimento são também conceitos, que eu pelo menos, vejo como dinâmicos, como evolutivos. E é dentro desse movimento que devemos definir estratégias. (SACHS, 2007, p.29-30).
Corroborando com o discurso do Professor Sachs, propomos refletirmos
sobre gestão como estratégia para atingir o desenvolvimento. Quando falamos
em gestão, trazemos inserido no seu contexto a questão do planejamento.
Neste sentido, somos gestores da nossa casa, da nossa carreira profissional, das
nossas finanças, entre tantas outras coisas que necessitam sempre de tomadas
de decisões.
Cozzolino
Figura 2 - Assembleia popular acontecendo no meio da rua
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
69
O meio ambiente não poderia ficar de fora, uma vez que as decisões que
tomamos têm influência direta no mesmo. Tal premissa nos leva a dizer que, em
função do contexto ambiental vigente, devemos pautar nossas intervenções
para o alcance da harmonia natureza x economia.
Para encontrar soluções harmônicas de gestão, é importante considerá-
la por diversos pontos de vista, dentre eles, podemos citar: a matriz energética,
a educação e o território (espaço).
Sachs (2007) contextualiza esse pressuposto, quando afirma que não devemos focar nossa intervenção apenas no discurso ético e, sim, em práticas direcionadas pelo mesmo, ou seja, devemos criar alternativas viáveis de desenvolvimento. Essa afirmativa deixa implícita a necessidade de uma gestão harmônica para o uso dos recursos.
A partir dessa fala, surge o seguinte questionamento: como operacionalizar a gestão com foco na harmonia?
REFLEXÃO
Para respondê-la de modo coerente, deve-se pensar na gestão de forma
holística, ou seja, com uma visão global das intervenções humanas, abordando
temas como matriz energética, uso e ocupação do solo com foco na biodiversidade,
geopolítica e especialmente educação.
A matriz energética
Falar de matriz energética como estratégia de gestão significa adotar
medidas que estimulem a saída da dependência do petróleo para outras
formas de energia. Apesar de ser de conhecimento de todos os interessados
no assunto que existe um ponto final para a era do petróleo, ainda somos
extremamente dependentes do mesmo como uma fonte de energia.
A busca pela independência do petróleo justifica-se em três motivos
fundamentais:
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
70
� Seria o início da minimização da emissão de gases que provocam o efeito
estufa, contribuindo para o cumprimento das metas estabelecidas pelo
protocolo do Kyoto;
� Novas fontes de energia diminuiriam as tensões internacionais motiva-
doras de guerras, cuja origem está nas disputas pelo petróleo;
� Abriria caminhos para os biocombustíveis, bem como para toda a cadeia
produtiva que esta saída é capaz de gerar.
Ao valorizarmos os biocombustíveis, estaríamos estimulando também o desenvolvimento local, uma vez que biomassa pode ser: alimento, forragem, adubo verde, bioenergia, material de construção, matéria-prima industrial, fármaco, cosmético, entre tantas possibilidades de uso que a ciência pode apontar (SACHS, 2007).
SAIBA QUE
Você pode imaginar a dimensão do impacto positivo em pensar sobre os
biocombustíveis como indutores de desenvolvimento? Apontaremos alguns
desdobramentos dessa finalidade:
� No que diz respeito aos assentamentos humanos nas áreas rurais, o de-
senvolvimento local estaria atrelado às bases comunitárias, ou seja, às
populações residentes nos pequenos núcleos. E isso seria possível à medi-
da que os recursos gerados favoreceriam a criação de toda a infraestrutu-
ra necessária para a permanência dos indivíduos no seu local de origem;
� Fixar as pessoas em local de origem favoreceria a minimização da con-
centração populacional nas grandes cidades, pois não seria mais preciso
migrar em busca de novas oportunidades. Isso também minimizaria o
caos urbano instalado nas grandes cidades.
Assim, um novo ciclo de desenvolvimento rural seria favorecido e, neste
sentido, países com as características geográficas de grandes extensões rurais,
como é o caso do Brasil, seriam extremamente beneficiados.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
71
Ao tratar dessas particularidades, torna-se pertinente considerar que,
para que tais avanços ocorram, é imprescindível abordar a questão do uso e
ocupação de solo, tendo em vista que, para a produção da biomassa, evidencia-
se a necessidade de destinação de espaços para tal.
O uso e ocupação do solo
Discutir o uso e ocupação do solo remete a contextualizá-lo com o lugar,
ou seja, o espaço, o território onde as pessoas estão inseridas. Além disso, é
fundamental considerar as necessidades e implicações contidas neste tema.
Enxergar as regiões do ponto de vista de gestão do território inclui
considerar aspectos como: os recursos naturais; as atividades econômicas; o
acesso às condições básicas de saúde, educação, trabalho, moradia, lazer, bem
como o respeito aos costumes e tradições.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Você sabia que existem mecanismos de regulação para instrumentalizar os aspectos da gestão de território? Acesse o link http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.html e conheça como o Conselho Nacional de Meio Ambiente operacionaliza a questão do licenciamento ambiental.
Outro instrumento normativo que você pode conhecer é o Estatuto das Cidades, acessando: http: / /www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis /LEIS_2001/L10257.htm.
Continuando nossa discussão sobre território e os mecanismos de
gestão, vale à pena retomar a discussão da seção 3.2.3, destacando o quanto
as políticas públicas neste sentido são fundamentais. Isso implica considerar o
local como foco da gestão, seja ela o espaço urbano ou o rural. O que importa,
neste contexto, é possibilitar um ambiente favorável à sustentabilidade por
meio de ações direcionadas aos mais diversos setores de ação.
Como a questão das políticas públicas é eminentemente correlata às funções
dos estados nacionais, Mello (2007, p.61-62) apresenta o seguinte discurso:
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
72
[...] para delimitar a questão dos dois grandes desafios brasileiros, eu diria que um é a mudança do padrão de ocupação do território e das condições de acesso produtivo à terra [...]. E o outro é o desafio urbano, relacionado com a qualidade dos recursos hídricos.
Fica evidente, portanto, que muito ainda precisa ser feito em nível local.
Entretanto, estamos na era da globalização, ou seja, as decisões tomadas têm
reflexos globais.
Tal fator merece destaque do ponto de vista das decisões geopolíticas,
bem como dos acordos firmados entre os países como forma de garantir o
desenvolvimento sustentável, por meio da gestão que leve em consideração
os ecossistemas do espaço envolvido.
A geopolítica como diretriz de caminhos
Considerar a geopolítica (decisões tomadas pelos países em âmbito
internacional) dentre as estratégias de gestão, traz a necessidade de
enfatizar o entendimento global sobre o desenvolvimento apresentado ao
longo deste livro texto.
Ricardo Stuckert/PR
Figura 3 - Reunião do G8 (Grupo dos oito países mais ricos do mundo), 2009
Inicialmente, a partir da década de 1960, as discussões mundiais giraram
em torno da imposição de limites ao crescimento econômico, em momento
posterior chegou-se à conclusão de que era preciso conciliar as características
do mercado com as necessidades do meio ambiente.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
73
Posicionando-se a respeito dessas discussões, Bursztyn (2007, p. 91)
declara que é:
Necessário rever também alguns modismos intelectuais, porque não se trata de engessar a possibilidade de expansão das atividades econômicas: é preciso levar em consideração que não é possível repetir as mesmas trajetórias do passado.
Acontece que tal posição requer articulação entre os interesses dos
países desenvolvidos com os interesses dos países em desenvolvimento como é
o caso do Brasil. Neste sentido, a revisão de alguns acordos se faz necessária,
possibilitando aos países em desenvolvimento o acesso a tecnologias
mais sustentáveis, por meio da disponibilização de recursos pelos países
desenvolvidos, como um tema a ser amplamente discutido e aprovado nas
negociações internacionais (BURSZTYN, 2007).
Revisar as estratégias geopolíticas como pressuposto para a gestão
harmônica significa considerar que é necessário aliá-las ao desenvolvimento
tecnológico. Neste caso, uma ferramenta imprescindível é a educação,
seja ela a educação básica ou a educação fundamental nas pesquisas para
soluções sustentáveis.
A educação como um mecanismo de revolução
No capítulo 1, trouxemos a discussão de como a educação é uma ferramenta
fundamental para o alcance do desenvolvimento sustentável. Ela foi abordada
na perspectiva da adoção de uma nova ética de apropriação da natureza.
Esta, por sua vez, deve ser acompanhada de estratégias que visem à
inclusão de todos no processo de desenvolvimento. Ao trazer esta possibilidade
a partir do processo educativo, lembramos que este é intrínseco a todos os
momentos da vida humana, ou seja, começa quando somos crianças ao nos
alfabetizarmos, continuando com presença constante em nossas vidas.
É fácil confirmar esta afirmativa, quando percebemos que a construção
do conhecimento é contínua. Como exemplo disso, é válido citar as novas
tecnologias que são criadas e apresentadas a cada dia, implicando na
necessidade de estarmos sempre aprendendo sobre e com as mesmas.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
74
Como referência de um processo educativo estratégico para o desenvolvimento sustentável, apresentamos o Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), uma associação sem fins lucrativos dedicada à promoção da reciclagem dentro do conceito de gerenciamento integrado do lixo. Fundado em 1992, o CEMPRE é mantido por empresas privadas de diversos setores. O CEMPRE trabalha para conscientizar a sociedade sobre a importância da redução, reutilização e reciclagem de lixo usando publicações, pesquisas técnicas, seminários e bancos de dados. Os programas de conscientização são dirigidos principalmente para formadores de opinião, tais como prefeitos, diretores de empresas, acadêmicos e Organizações Não Governamentais (ONGs).
CURIOSIDADE
Ao apresentar essa curiosidade, trazemos a discussão a respeito do
quanto a educação é um processo imprescindível para atender aos critérios
da relevância social, prudência ecológica e viabilidade econômica, pois, para
conhecer determinadas práticas de sucesso, é preciso ter acesso à informação.
E isso fica bem exemplificado com o seu caso prezado(a) aluno(a), que, neste
momento, está tendo acesso ao conhecimento acerca das temáticas inerentes
ao desenvolvimento e sustentabilidade ambiental.
Assim é possível apresentar a educação como mecanismo que vai além
da simples formação capaz de promover, entre outras coisas, uma revolução,
como afirma Gadotti (2009, p.62):
A qualificação do trabalhador aprimora sua formação geral e pode desenvolver, se for oferecida a partir de uma visão emancipadora, uma cultura de solidariedade, de paz e de sustentabilidade. A qualificação profissional vai além da atualização dos conhecimentos técnico-tecnológicos e gerenciais.
Contar os fatos apresentados nessa seção demonstra a necessidade
de qualificação constante da sociedade, possibilitando o acesso constante
a informações de qualidade, contribuindo, assim, para um posicionamento
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
75
crítico e consciente da mesma. Entretanto, uma nova mentalidade só será
visível à medida que formos eficientes o suficiente para influenciar toda a
coletividade, desde as crianças aos idosos, ou seja, promover uma verdadeira
revolução. E você sabe qual é o caminho? A educação (BUARQUE, 2007).
Falar da revolução por meio da educação é, portanto, ressignificar os
meios de produção, por meio da adoção de novas estratégias. Estas, por
sua vez, devem considerar o local como objeto de estudo, bem como o
desenvolvimento das atividades econômicas, propiciando uma humanização
dos processos produtivos ao considerar as características ecológicas do lugar.
Neste sentido, atender essa premissa consiste em conseguirmos ser
gestores apoiados nas estratégias de administração de negócios que a
economia de mercado exige, sem pensar apenas na lucratividade financeira
que a mesma promove. São necessárias estratégias de gestão que associem o
social e o ambiental ao econômico.
Conseguir conciliá-los é afirmar a educação como mecanismo revolucionário
para garantir a gestão sob a ótica ambiental como um caminho para a harmonia.
3.3 Aplicando a teoria na prática
Vamos construir o Plano Diretor Participativo?!
O Estatuto da Cidade (Lei n0 10.257/2001) é um instrumento que estabelece as diretrizes gerais da política urbana. Ele delega para cada município o planejamento e gestão do solo urbano a partir de um processo público e democrático (BRASIL, 2005).
Diante das prerrogativas desta lei, que apresenta como premissa construir “a cidade que queremos” (BRASIL, 2005, p. 22), bem como atendendo as exigências das seguintes leis - Constituição Federal do Brasil; Estatuto da Cidade; Constituição Estadual do Rio Grande do Norte; Lei Orgânica do Município - a Prefeitura Municipal da cidade hipotética Soledade resolve construir seu Plano Diretor Participativo.
Sendo esta oportunidade de discussão participativa com foco no local, que princípios devem servir de eixo norteador para seus moradores a respeito das regras de desenvolvimento sustentável do município?
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
76
Para resolver essa questão, inicialmente o poder público de Soledade deve
garantir o acesso às informações que serão tratadas nessa discussão a todos os
atores da sociedade civil organizada. Isso será possível por meio da transparência dos
processos adotados, bem como da disponibilização de um corpo técnico competente,
a fim de esclarecer toda a terminologia e metodologia que tal atividade implica.
Em seguida, devem-se tornar públicos todos os momentos da discussão
por meio de ampla divulgação para a convocação e estímulo ao protagonismo
social que o processo decisório requer.
A esse respeito, Mello (2007, p. 52) destaca:
Não ser trata apenas de tentar explicar a concentração de problemas ambientais em determinados espaços geográficos e de buscar saídas para a degradação e os desgastes que estão submetidos os suportes físicos da vida do nosso planeta, os solos, as águas, a atmosfera, as florestas. Trata-se de incluir na análise as relações da sociedade com o seu lugar, percebendo que este, ao mesmo tempo, é a base e elo participante do processo global.
Assim, é preciso garantir o pensamento estratégico para a região por
meio da construção de consensos, orientados para a gestão de conflitos com o
intuito de se articular parcerias, visando à construção de projetos articulados.
Deve-se fomentar uma discussão participativa a partir de aspectos como:
dinâmica socioeconômica; infraestrutura; uso e ocupação do solo; aspectos
ambientais, paisagísticos, histórico-culturais e turísticos; e capacidade jurídica,
institucional e administrativa municipal.
Para finalizar, acrescentamos o comentário da Professora Mello (2007, p.
53-54), quando afirma que:
A idéia de lugar expressa o elemento de base do espaço geográfico: é um ponto, mas um ponto singular, identificável e identificado, distinto dos outros, apropriado, e transformado, na atualidade, em um nó de conexões local – global. E os lugares têm condições específicas porque dispõem de infra-estrutura, equipamentos e são acessíveis, mas também porque são organizados, possuem leis de toda ordem, têm estruturas e relações sociais estabelecidas.
Portanto, pode-se afirmar que o desenvolvimento local é o movimento
para a ação. E isso só será possível por meio da organização, do planejamento
e da capacidade de gestão com foco no desenvolvimento sustentável.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
77
3.4 Para saber mais
GOMES, Maria Leonor; MARCELINO, Maria Margarida; ESPADA, Maria
da Graça. Proposta para um Sistema de indicadores de desenvolvimento
sustentável. Portugal: Direção Geral do Ambiente; 2000. Disponível em: http://
www.iambiente.pt/sids/sids.pdf.> Acesso em: 22 mar. 2010.
A proposta para um Sistema de Indicadores de Desenvolvimento
Sustentável engloba 132 indicadores, dos quais 72 ambientais, 29 econômicos,
22 sociais e 9 institucionais. Os autores pretendem que este seja alvo da
atenção, crítica e sugestões por parte de organismos dos vários Ministérios,
Organizações não Governamentais e dos cidadãos em geral.
INSTITUTO DE ASSESSORIA PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO (IADH).
Desenvolvimento local: trajetórias e desafios. Recife: Gráfica e Editora Nacional
LTDA, 2005.
Coletânea de artigos produzidos por meio de uma visão holística da
realidade, centrada no ser humano, num processo dialógico de aprendizagem
e de construção de autonomia dos autores. Tal processo é fruto da experiência
construída pelos autores a partir da vivência em prol do Desenvolvimento Local,
seja em projetos de cooperação internacional ou em assessorias a programas
governamentais e não governamentais.
Secco, Patrícia Engel. O livro de gaia: uma pequena lição de amor. Disponível
em: http://www.cempre.org.br/download/pdf%20gaia.pdf. Acesso em: 22
mar. 2010.
Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Dentro deste
ponto de visto, esta publicação trata de forma simples e didática a questão da
reciclagem, como forma de transformar, utilizar coisas que já usamos e que não
nos servem mais, como matéria-prima para a fabricação de novos produtos.
PROGRAMA Cidades e Soluções do Canal Globo News. Disponível em: http://
globonews.globo.com. Acesso em: 22 mar. 2010.
O Programa Cidades e Soluções apresenta a busca por soluções para um
mundo sustentável, destacando iniciativas que já dão resultado e podem ser
aplicadas no Brasil.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
78
SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Org: Paula Yone
Stroh. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.
Introdução às ideias de Sachs sobre a eco-sócio-economia, uma ciência
nova que interliga três disciplinas - a ecologia política, a sociologia e a economia
- e propõe uma nova maneira de enxergar o desenvolvimento. O livro traz,
ainda, um anexo com os critérios de sustentabilidade social, cultural ecológica,
ambiental, territorial, econômica, política nacional e política internacional,
além de uma pequena biografia e bibliografia do autor.
3.5 Relembrando
Neste capítulo, apresentamos a você a relação entre crescimento e
desenvolvimento, bem como a forma como ambos estão interligados. Dessa
relação resulta a necessidade da definição de estratégias que visem à garantia
do desenvolvimento sustentável.
Dentre as estratégias apresentadas, citamos: a prevenção como forma de
garantir o usufruto dos recursos pelas gerações futuras; o papel das políticas
setoriais; as articulações em prol do desenvolvimento local; e mecanismos para
a gestão orientada à harmonia entre o econômico, social e ambiental.
Dessa forma, demonstramos como a existência do planejamento orientado
pela visão de futuro, aliado com o estímulo ao protagonismo social é fundamental
para o alcance do distante, porém possível desenvolvimento sustentável.
3.6 Testando os seus conhecimentos
Quando verificamos as literaturas pertinentes ao desenvolvimento
sustentável, identificamos que muitas se direcionam ao desenvolvimento
como foco no local.
Trazer essa afirmativa para o debate significa destacar que falar
de local é atrelar ao seu conteúdo o fato do local como espaço, lugar
ou território. Neste sentido, surge a necessidade de reforçar que esses
territórios são unidades independentes, que fazem parte de um todo
complexo de relações e realizações.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
79
Ao identificarmos os espaços locais, evidenciamos que os mesmos são
dotados de estruturas organizacionais legalmente constituídas, responsáveis
pela definição de parâmetros e instrumentos de gestão.
Diante dos condicionantes apresentados, como podem os poderes locais
orientar suas estratégias de gestão para o alcance do desenvolvimento sustentável?
Onde encontrar
BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. RESOLUÇÃO Nº 237 DE 19 DE
DEZEMBRO DE 1997. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/res/
res97/res23797.html. Acesso em: 22 mar. 2010.
______. CASA CIVIL. Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/LEIS_2001/L10257.htm. Acesso em: 22
mar. 2010.
______. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado
Federal, 2008.
______. ESTATUTO DA CIDADE. Estatuto da cidade: um guia para implementação
pelos municípios cidadãos. Brasília: Câmara dos Deputados, 2005.
BUARQUE, Cristovam Buarque. Outras intervenções. In: NASCIMENTO, Elimar
Pinheiro do; VIANNA, João Nildo (org.). Dilemas e desafios do desenvolvimento
sustentável no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.
BURSZTYN, Marcel. Outras intervenções. In: NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do;
VIANNA, João Nildo (org.). Dilemas e desafios do desenvolvimento sustentável
no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.
GADOTTI, Moacir. Economia solidária como práxis pedagógica. São Paulo:
Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009.
MELLO, Neli. Primeiras intervenções. In: NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do;
VIANNA, João Nildo (org.). Dilemas e desafios do desenvolvimento sustentável
no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 3
80
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Relatório da Comissão Mundial
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: Nosso Futuro Comum. Oslo:
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMAD),
1987. Disponível em: http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl
=en&tl=pt&u=http%3A%2F%2Fwww.un-documents.net%2Fwced-ocf.htm
acesso em: 16 mar. 2010.
SACHS, Ignacy. Primeiras intervenções. In: NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do;
VIANNA, João Nildo (Org.). Dilemas e desafios do desenvolvimento sustentável
no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.
VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de; GARCIA, Manuel Henriques.
2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 81
4.1 Contextualizando
Continuando nossa discussão sobre os assuntos que permeiam
a problemática do Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental,
apresentamos, neste capítulo 4, o olhar acerca da Ecologia Humana e sua
contribuição como estratégia promotora do Desenvolvimento Sustentável.
Nesta perspectiva, os conteúdos aqui tratados trazem o enfoque na
relação do homem com a natureza, bem como a forma dele se ver diante da
mesma. Assim, faz-se pertinente apresentar temas cuja abordagem gire em
torno da interação humano/natureza, orientadas por um saber direcionado
para a causa ambiental, contemplando a adoção de estratégias equilibradas
de manejo, com a adoção de tecnologias limpas.
Tais pressupostos devem estar orientados para um novo tipo de consumidor,
que se apresenta: o consumidor “verde” ou sustentável. Este, por sua vez, é um
indivíduo com características de conhecimento e adesão à causa ambiental, capaz
inclusive de promover campanhas de boicote àqueles produtos que julgue ser
lesivos ao meio ambiente, lutando inclusive com as armas que a legislação oferece.
Ao final deste capítulo, esperamos que você esteja apto a:
� Verificar a relação de complexidade existente entre o homem e a natureza;
� Apreender como funciona o processo interativo humano/ambiental;
� Identificar estratégias de promoção às tecnologias limpas.
Esperando contribuir com o seu crescimento intelectual, desejamos um
bom estudo!
ECOLOGIA HUMANA - UM NOVO OLHAR PARA O DESENVOLVIMENTO
CAPÍTULO 4
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
82
4.2 Conhecendo a teoria
4.2.1 Comentando a ecologia humana
Você já parou para pensar o quanto as ações humanas têm contribuído
para a problemática ambiental atual? Acreditamos que, com o avanço do
nosso conteúdo, este já seja um questionamento constante em sua memória.
Realmente, muito do que vemos de efeitos negativos no ambiente é
fruto da forma inadequada de apropriação da natureza, atendendo somente
ao viés da economia de mercado.
Há aproximadamente 40 anos, com o início das discussões em torno dos
problemas ocasionados pelo crescimento econômico sem limites, pensava-
se na opção de simplesmente não utilizar os recursos naturais ou, ainda, de
deixar a natureza intocada.
Nesse contexto, surgem duas frentes de posicionamento: a primeira dos
que defendem a continuidade do modelo de crescimento como forma de
proporcionar aos países em desenvolvimento os mesmos benefícios alcançados
pelos desenvolvidos; e a segunda apresenta-se totalmente contrária a anterior,
pregando o famoso “vamos parar tudo” como forma de garantir a manutenção
dos recursos do planeta.
A esse respeito, perguntamos a você, prezado(a) aluno(a): como encontrar um meio termo para essas frentes de posicionamento? Como agir de forma orientada para uma visão de futuro da humanidade?
REFLEXÃO
Como resposta a esses dois questionamentos, a comunidade científica
apresenta a ecologia humana como uma forma de pensar e agir a partir
do ecossistema em que o homem está inserido. “Daí a necessidade de se
adotar padrões negociados e contratuais de gestão da biodiversidade”
(SACHS, 2008, p. 53).
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
83
Leff (2008) ainda ressalta que isso tudo requer um novo posicionamento
do conhecimento científico, onde este seja orientado para a saída da
visão fragmentada dos saberes, sendo eles direcionados para a adoção
de práticas holísticas, visando à aplicação dos conhecimentos teóricos de
forma coerente para a resolução dos problemas ambientais.
Você sabia que adotar práticas holísticas como estratégia de ação é a mesma coisa que agir de forma completa para alguma coisa, ou seja, ter uma visão geral acerca de determinado problema. No caso do saber ambiental, seria a construção do conhecimento de todas as áreas científicas com direcionamento para o uso sustentável do ambiente.
SAIBA QUE
Tratar desse assunto significa evidenciar a forma como o homem se
relaciona com a natureza, ou seja, se ele se vê como proprietário ou como
parte dela.
NASA/AxelBoldt
Figuras 1 e 2 - Incêndio florestal e extração de látex, respectivamente.
Pelas figuras apresentadas, podemos perceber que o possível meio termo
está no desenvolvimento endógeno, ou seja, de dentro para fora; de baixo
para cima; melhor ainda: do local onde a comunidade está assentada.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
84
4.2.2 Uma relação complexa: o homem e a natureza
Historicamente, o homem tem suas necessidades satisfeitas a partir do
usufruto da natureza. Inicialmente, como nômade, consumindo somente o
que ela produzia, depois, de forma fixa, impulsionado por técnicas de cultivo.
Recentemente, há pouco mais de 200 anos, a Revolução Industrial motiva
mudanças estruturais na fisionomia da natureza e na forma como o homem se
vê inserido na mesma, ou seja, acontece uma verdadeira especulação ambiental.
Surge assim uma generalização em escala mundial dos padrões tecnológicos
de produção e de consumo. Isso tem gerado uma transformação negativa no
ambiente, refletida na gama considerável de impactos que ela provoca.
Verifique no Sistema Integrado de Bibliotecas (SIB) da UnP literatura sobre história contemporânea e produza uma linha do tempo acerca das implicações da Revolução Industrial para a nossa sociedade, destacando o valor econômico dado aos bens e serviços ambientais.
DESAFIO
É fato que o meio ambiente apresenta uma valoração econômica,
entretanto, esta nem sempre é contabilizada no custo final dos bens e serviços.
Marques e Comune (1999, p. 25) ainda acrescentam que:
Sob uma ótica mais restrita, pode-se assumir que os bens e serviços econômicos, de forma geral, utilizam o meio ambiente – ar, água, solo – impactando sua capacidade assimilativa acima de sua capacidade de regeneração. Isto implica que aqueles bens e serviços detêm custos de produção que são compostos de fatores comercializados no mercado (terra, capital e trabalho), portanto, com preços explícitos e fatores não comercializados no mercado – os bens e serviços ambientais.
Essa abordagem se dá a partir da constatação da forma como o homem tem
se posicionado perante a natureza, impondo à mesma característica de dispensa.
Falar desse posicionamento implica afirmar que podemos usufruir de tudo que
a natureza nos proporciona, não importando se essa atitude vai gerar escassez.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
85
O homem como centro da natureza
Reafirmando que, desde os tempos mais remotos da história da
humanidade, existe a relação humano x natureza, ou seja, a sobrevivência
humana sempre esteve condicionada à existência de recursos naturais.
Inicialmente, essa relação ocorreu de forma harmônica, uma vez que o
homem só retirava da natureza o essencial para seu sustento, dando à mesma
as condições e o tempo hábil de regeneração.
Porém, a partir do século XVIII, essa fisionomia de convivência com
a natureza muda de configuração amparada pelos avanços tecnológicos
sucessivos à Revolução Industrial.
Outro fator que merece destaque nesta mudança de postura no contato
com a natureza são as duas grandes guerras mundiais e o aparato tecnológico
proveniente do poderio bélico construído para atender às demandas
armamentistas pautadas na defesa do território.
Esses elementos que, de forma distinta, não parecem estar correlacionados
são grandes contribuintes para o padrão de consumo ora instalado na
civilização contemporânea.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Acesse a Revista Turismo e Sociedade (publicação da Universidade Federal do Paraná) disponível no endereço http://www.ser.ufpr.br/, leia o capítulo 2 (Primórdios da aviação na América do Sul) contido no artigo Correio Aéreo e aviação civil: Os primeiros passos da Varig, publicado no volume 2, número 2 de 2009. Após sua leitura verifique como a aviação civil é um exemplo das facilidades criadas a partir do pós-guerra.
Sobre os fatos até agora apresentados, chamamos sua atenção para
a forma como surgiram esses benefícios, ou seja, a partir da apropriação
humana sobre os recursos naturais do planeta.
Esta apropriação acelerou-se à medida que a Revolução Industrial
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
86
e os fenômenos em decorrência da mesma aconteciam. Podemos citar,
como exemplo, o incremento dos meios de transporte aliado às formas de
comunicação.
Ainda, em referência à apropriação dos recursos, vale salientar que
a mesma não se deu por vias harmônicas de convivência. Tal constatação é
coerente quando se observa que as intervenções, com o objetivo de promover o
desenvolvimento tecnológico, não colocam o homem como parte da natureza
e sim como proprietário dos recursos dela provenientes.
A degradação da natureza aparece nesta perspectiva como um efeito de racionalidade econômica que nega e desconhece a natureza, que tenta reduzir e capitalizar a ordem da vida e da cultura. (LEFF, 2008, p. 190)
Isso tudo se deve principalmente à visão e conceito que cada um tem de
ambiente, bem como a forma como nos vemos diante do mesmo.
Pense em um agropecuarista detentor de extensas propriedades rurais. Como seria o posicionamento dele ao se deparar com a seguinte situação: necessidade da ampliação das áreas de pasto a partir do desmatamento?
REFLEXÃO
Quando trazemos esse paradigma para a discussão, é para que
percebamos como tem sido nossa relação com a natureza. Uma relação de
propriedade x proprietário, na qual não são consideradas as necessidades que
a propriedade apresenta para sua manutenção.
O homem como parte da natureza
Levar em consideração as necessidades que a natureza apresenta significa
compreender que a finalidade dela aqui não é para atender aos nossos desejos
e sim que somos parte da mesma.
Assim, para esse convívio ocorrer de forma harmônica, é preciso adotar
estratégias de convivialidade condizentes entre a satisfação das necessidades
humanas, atendendo as da natureza.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
87
Neste caso, acrescentamos as palavras de Boff (2004), quando ele
questiona sobre o que se entende por convivialidade, ressaltando que a boa
aplicação dessa expressão seria a combinação do valor técnico da produção
material com o valor ético da produção social.
Responder a esse questionamento significa conceber que praticar a
convivialidade seria tentar reverter a crise ecológica hoje existente, sabendo
que a mesma foi instrumentalizada pelo poder-dominação, aliado à produção-
exploração da natureza.
Apreender esses preceitos significa ir além da concepção de mercado, considerando outras racionalidades nesta perspectiva. Neste sentido, vale assimilar a postura de convívio adotada no Oriente, especialmente pelos adeptos do hinduísmo. A esse respeito, podemos considerar uma medida adotada pelos discípulos de Gandhi, especialmente J. C. Kumarappa, quando apresenta a economia da permanência, que prevê a satisfação das genuínas necessidades humanas, autolimitadas por princípios que evitam a ganância, caminhando junto com a conservação da biodiversidade.
SAIBA QUE
Compreender a natureza sob esse ponto de vista é apreender a habilidade
de transformar seus recursos sem destruir o capital natural. Vale salientar
que o conceito de recurso é cultural e histórico, bem como o conhecimento
social a respeito do potencial ambiental (SACHS, 2008). “O que hoje é recurso,
ontem não era, e alguns recursos dos quais somos dependentes hoje, serão
descartados amanhã.” (SACHS, 2008, p. 70).
Tudo isso condiz com a forma de visualização da natureza pelo homem,
ou seja, à medida que ele se percebe como parte dela, existe a tendência de
minoração de suas ações predatórias, pois ele entende que das boas condições
do planeta dependem sua qualidade de vida.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
88
Márcio Cabral de Moura
Figura 3 - A reciclagem como alternativa de destinação de lixo
Assim, quando se vê como parte da natureza, o homem proporciona a
criação de relações interativas capazes de promover o equilíbrio racional da
utilização dos recursos com a ajuda da ciência. Essa será possível a partir da
implantação de novas estratégias de manejo, proporcionando a implantação
de tecnologias limpas, ocasionando o surgimento do consumidor verde, ou
seja, um ser humano crítico e bem informado acerca da origem dos bens e
serviços que consome.
4.2.3 O processo interativo homem x natureza
Falar na interação do homem com a natureza significa pensar numa
influência mútua e harmoniosa. A esse respeito, Santos (2007, p. 153; 161) diz que:
Uma grande tarefa deste fim de século é a crítica do consumismo e o reaprendizado da cidadania. [...] Ficar prisioneiro do presente ou do passado é a melhor maneira para não fazer aquele passo adiante.
A intenção de trazer essa afirmativa tão forte neste momento é levá-lo
mais uma vez a refletir sobre os vários conteúdos que estamos tratando nessa
disciplina, ou seja, para que você tenha o conhecimento necessário e, quem
sabe com isso, repensar suas atitudes individuais e coletivas. Isso significa
pensar em você como um indivíduo conhecedor e executor da matéria em
prol da interatividade do homem com a natureza.
Neste sentido, pergunto: você poderia afirmar a forma como aconteceria
essa interatividade?
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
89
O ponto de partida para que ocorra a interatividade é uma revolução
científica, por meio da problematização do saber ambiental. Nisso estaria
implícita uma transformação do conhecimento, induzida pela construção
de uma nova racionalidade ambiental. Aí entram a ecologia, economia,
sociologia, direito, antropologia, matemática, geografia, etc.
Enfim, observa-se a necessidade de revisar toda a estrutura científica
como forma de construir um modelo de desenvolvimento focado na satisfação
das necessidades humanas, eliminando os conflitos socioeconômicos, o
desemprego, a pobreza e a privação sem, com isso, esgotar os recursos do
planeta, bem como considerando os saberes tradicionais do lugar.
Neste sentido, é possível propor uma dialética entre a construção do conhecimento e a construção do real. [...] uma racionalidade ambiental orienta a construção de uma realidade social e uma racionalidade produtiva fundadas em novos valores éticos de produtividade, que partem de outros princípios de realidade: diversidade, complexidade, interdependência, sinergia, equilíbrio, eqüidade, solidariedade, sustentabilidade e democracia. (LEFF, 2008, p. 162)
É nesse ponto que queremos chegar ao trazer a discussão da interação do
homem com a natureza neste momento do nosso livro texto, pois é importante
perceber que existe uma luz no fim do túnel e que não estamos falando de
utopias e, sim, das emergentes necessidades, das quais dependem a qualidade
da sobrevivência das espécies, inclusive, a humana.
O equilíbrio proporcionado pelo saber ambiental
Um ponto interessante para iniciar nossa conversa a respeito do
equilíbrio racional, que pode ser proporcionado pela ciência, está na questão
da fragmentação do conhecimento.
Há muito o ser humano tem orientado sua construção do conhecimento
de maneira isolada, onde cada ramo da ciência apresenta sua própria ótica
acerca de determinado tema. Assim, o que ocorre é uma construção desconexa
e desarticulada, levando a inúmeras interpretações sobre um dado problema.
Com as questões ambientais, isso não foge à regra, ou seja, cada ramo da
ciência apresenta uma ótica muito particular.
Abordando uma visão atual dessa divisão, apontamos algumas áreas e
suas interferências: na racionalidade econômica, evidenciasse a construção
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
90
de um novo eixo produtivo; no Direito, propõe-se uma nova estruturação do
direito, cujo ordenamento jurídico responda a novas formas de propriedade e
apropriação das formas de vida e produção; a antropologia visa à integração
sociocultural a partir da articulação da organização cultural com as condições de
seu meio ambiente; na ecologia e na geografia, uma visão recente é a construção
de unidades operacionais de manejo dos recursos naturais (LEFF, 2008).
Por meio desta ótica, é possível que você perceba o caráter inter (multi)
disciplinar, no qual o saber ambiental se orienta. Entretanto, torna-se urgente
sistematizar o conhecimento humano numa perspectiva de complementaridade,
de modo a atingir a maximização da produção do conhecimento em prol do
favorecimento do processo interativo homem x natureza.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Acessando o link http://www.ispn.org.br, você conhecerá o Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN, um centro de pesquisa e documentação independente, brasileiro, sem fins lucrativos, fundado em abril de 1990 e sediado em Brasília. Ele tem como objetivo central contribuir
para a viabilização do desenvolvimento sustentável com equidade social e equilíbrio ambiental. Para tanto, realiza e promove a pesquisa científica, dissemina conhecimentos e estimula o intercâmbio entre pesquisadores. Ao mesmo tempo, subsidia a atuação de movimentos sociais e ambientais e a formulação de políticas públicas nas interfaces entre desenvolvimento, população e meio ambiente.
Pensar de forma orientada pelo raciocínio que fundamenta o ISPN
significa promover uma articulação dos saberes para essa finalidade, ou seja,
é preciso pensar em ideias sustentáveis e essa é um bom exemplo, que merece
conhecimento e apropriação pelos cientistas, sejam eles naturais ou sociais.
A partir dessa ambientação inter e transdisciplinar do saber, é possível
promover um novo olhar para o conhecimento, construído de forma holística.
Observamos, entretanto, que este saber ainda passa por um processo de
gestação, pois, para sua sistematização, é imprescindível vencer o desafio de
sairmos da sociedade do consumo sem controle (ditado pela força do mercado)
para a sociedade do consumo sustentável.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
91
Desta ruptura epistemológica e desta postura sociológica sobre as relações entre o saber, o conhecimento e o real, são deduzidos os princípios conceituais para pensar o ambiente como potencial produtivo e a racionalidade ambiental como a articulação de valores, significações e objetivos que orientam um processo de reconstrução social, onde o pensamento da complexidade se abre caminho na encruzilhada da democracia, da eqüidade e da sustentabilidade, num campo atravessado pelas estratégias de poder no saber. (LEFF, 166 2008)
Atender a afirmativa do parágrafo anterior possibilitará a estruturação
de estratégias de manejo capazes de conciliar os diversos interesses dos
ecossistemas envolvidos.
As estratégias de manejo como garantia de sustentabilidade
Quando falamos em estratégias de manejo, trazemos a discussão de
como manipular a natureza, de modo a garantir a sustentabilidade, pois
sabemos que essa não é uma tarefa fácil de ser realizada, exigindo muito
esforço individual e coletivo.
Você sabia que Odaiba, o bairro mais moderno de Tóquio, fica em uma ilha artificial, aterrada e construída – em grande parte – com lixo. Este bairro é um exemplo de convivência com o lixo: praticamente 100% são reaproveitados. O lixo segue automaticamente para uma usina, levado por tubos, vindos das cinco regiões do bairro. Toneladas de lixo são despejadas a cada minuto. Uma gigantesca garra mecânica, controlada por um comando parecido com o de videogame, recolhe tudo e joga na fornalha. Além disso, o calor produzido na usina gera eletricidade e nenhum grão de sujeira é desperdiçado. As cinzas que sobram dessa queima são reaproveitadas, por exemplo, para pavimentar as ruas, e a energia produzida a partir do lixo abastece até 10 mil residências. (KOVALICK, 2010)
SAIBA QUE
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
92
Outro ponto, que merece destaque no Japão, é que lá não há lixeiras nas
calçadas, ou seja, se a gente quiser se livrar de uma garrafa de refrigerante, por
exemplo, precisa ir até uma loja de conveniência, onde há um ponto de coleta para
reciclagem. Neste sentido, o lixo é dividido em quatro categorias e a separação é
feita assim: primeiro, joga-se o resto do refrigerante no ralo; quando a garrafa
estiver vazia arranca-se o rótulo, que vai para a lata dos plásticos, aí, finalmente,
pode-se jogar a garrafa fora, em lugar apropriado. Dá trabalho? Claro que dá. O
prêmio é viver em cidades que raramente alagam em dias de chuva e com ruas
que parecem sempre ter acabado de passar por uma boa faxina. (Op. Cit.)
Comparando os fatos mencionados com a nossa realidade parece até que
estamos falando de um filme de ficção científica, cuja visão é extremamente
futurista, ou seja, algo irreal. O problema é que estamos tão (mal) acostumados
com a forma atual de intervenção no ambiente, que simplesmente cogitar
em adotar novos padrões intervencionistas se configura como uma coisa tão
distante e difícil de ser alcançada que, muitas vezes, nem ousamos tentar.
Entretanto, não só é possível como é viável e, neste aspecto, mais vezes
nós retomamos o componente educativo como eixo norteador para essa nova
configuração. E por que a educação é indispensável, neste sentido? Sabemos que todo
processo de mudança requer a passagem por um processo ensino-aprendizagem,
pois, sem ele, não é possível a adaptação às novidades que se apresentam.
Assim, pensar e praticar as estratégias de manejo como garantia de
sustentabilidade requer coragem, força de vontade e capital humano. Este último
tem que apresentar muita disposição para apreender novas técnicas e aplicá-las
no cotidiano, de forma simples e conectada por um sentimento de pertencimento,
ou seja, por meio de uma humanização das intervenções ecológicas.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Para melhor ilustrar como seria a humanização das inovações tecnológicas sugerimos que você acesse o endereço http://planetasustentavel.abril.com.br/download/painel_inicial_casa_sustentavel.pdf e conheça a casa sustentável, uma casa protótipo, que foi planejada para mostrar que sim, é possível ter uma vida sustentável.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
93
Reafirmamos que se trata de uma revolução sem fronteiras, ainda dentro
do contexto do agir local e pensar global. E você, caro(a) aluno(a), como irá
orientar sua atuação profissional diante do quadro que se configura?
Trazer a discussão sobre posicionamento profissional é pertinente neste
momento, pois, independentemente da área de atuação dos profissionais, uma
palavra que precisa ser posta em prática (mesmo de forma mínima) para o alcance
do desenvolvimento sustentável é o manejo das intervenções no ambiente. Neste
caso, manejo é pré-requisito para desenvolvimento sustentável.
E como isso será possível? Precisamos conhecer casos de sucesso e adaptá-
los a nossa realidade, por isso que, no decorrer do nosso livro-texto, temos
sempre procurado apresentá-los. A esse respeito, o Professor Sachs (2008) fala
da conservação da biodiversidade por meio do ecodesenvolvimento, trazendo
o exemplo da Índia, que está implementando diversos projetos em torno de
reservas de tigres e em parques nacionais.
Evidentemente que isso tudo depende muito de vontade política, como
já mencionamos em momento anterior, pois a efetiva participação e controle
social (especialmente em países como o Brasil) se tornam evidente para que os
estudos saiam do papel e propiciem a reconciliação do desenvolvimento com
a biodiversidade. Isso também será complementado com o surgimento de um
“novo” consumidor consciente e crítico.
As tecnologias limpas e o consumidor verde
Naturalmente que falar em tecnologias limpas remete a refletir sobre
desenvolvimento tecnológico. A esse respeito é válido retomar que estamos
em pleno século XXI e nunca em momento da história se viu tantos avanços e
descobertas na ciência.
Como é possível que a solução para a problemática ambiental não tenha sido aplicada de forma eficaz, se estamos na Era do Conhecimento, onde em todos os dias são apresentados maiores avanços?
REFLEXÃO
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
94
No capítulo 2, apresentamos como a teoria neoliberal impulsiona a
composição econômica, ou seja, pelos desígnios do mercado. Atrelado a isso,
podemos acrescentar o modelo de inovações tecnológicas atual.
Neste sentido, existe toda uma lógica de concepção de produtos e
mercadorias voltadas para a minimização dos custos de produção, aliada à
maximização dos lucros na comercialização. Isso tudo ainda faz parte de um
complexo rol de estratégias de competitividade no setor produtivo.
Além disso, essas estratégias estão atreladas ao processo decisório dos
agentes econômicos, especialmente no que se refere à dinâmica de surgimento
das inovações tecnológicas. Um ponto merecedor de destaque é que essa dinâmica
atende preferencialmente às inovações que contemplem, em sua concepção,
formas de simplificar a vida humana, por meio da criação de zonas de conforto.
Entretanto, embora de forma lenta, porém gradual, existe uma mudança
neste panorama. Isso se deve, em parte, à irreversível mudança de postura da
humanidade nos últimos cinquenta anos, a partir da tomada de consciência da
problemática ambiental e das consequências que a mesma acarreta.
Assim, surge um “novo” consumidor: o consumidor verde ou sustentável,
cujos interesses seletos têm provocando uma mudança nas estratégias de
produção. Essas podem ser percebidas em todos os aspectos, indo desde a
concepção dos produtos às formas de comercialização.
Vale salientar, inclusive, que, nos últimos anos, até as campanhas
promocionais têm concebido novas formas de criação e execução, tendo em
mente sempre atender às expectativas de um consumidor consciente, crítico e
reclamante de seus direitos junto aos órgãos competentes.
A esse respeito, Romeiro e Salles Filho (1999, p.107) salientam:
Uma empresa pode se antecipar a qualquer legislação ou imposição externa e resolver buscar e incorporar uma inovação com a qual ela imagine poder conquistar uma vantagem competitiva. Se há por parte da firma uma expectativa de resposta positiva de consumo a uma inovação que explore o lado ecológico da preferência do consumidor, então a firma pode estar desenvolvendo uma certa trajetória tecnológica, amigável do ponto de vista ambiental, por uma determinação essencialmente endógena.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
95
Retomando o capítulo 3, ainda afirmamos que, à medida que as
inovações “verdes” forem economicamente viáveis, atendendo aos anseios do
consumidor, o mercado irá requerê-las.
Você já ouviu falar no Eco4Planet, o buscador ecológico? Quando falamos em buscar alguma informação na rede mundial de computadores (internet) o primeiro nome que vem em nossa mente é o Google, não é mesmo? Acontece que este não é o único, e, como alternativa verde, existe o Eco4Planet (www.eco4planet.com/pt/), um site que lança mão do mesmo mecanismo de buscas do Google, só que, para cada 50 mil pesquisas realizadas, uma árvore é plantada no Brasil.
Só para você ter ideia: se o mundo inteiro utilizasse esse buscador com a tela preta, seriam economizados cerca de sete milhões de kilowats-hora em um ano, ou o mesmo que 58 milhões de computadores desligados por 1 hora.
(http://olhardigital.uol.com.br)
CURIOSIDADE
Ainda como tendência de mercado com novas tecnologias para
atender aos anseios dos consumidores conscientes, podemos citar a indústria
automobilística, cujos modelos apresentados pelos salões de automóveis no
mundo afora são os veículos híbridos (movidos à energia elétrica e a combustível
fóssil). Além da indústria automobilística, todos os setores produtivos estão
se rendendo aos apelos ambientalistas. A esse respeito aprofundaremos a
discussão no capítulo 5 deste livro-texto.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
96
4.3 Aplicando a teoria na prática
Estádios da Copa deverão adotar selo de sustentabilidade ambiental
Os estádios da Copa 2014 deverão ter certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) para atestar a sustentabilidade ambiental dos empreendimentos. A informação vem do Comitê Local da Copa 2014 (COL), que, em comunicado oficial, enviado nesta terça-feira (4/8) aos coordenadores e arquitetos das cidades-sedes, recomendou “fortemente” a certificação das arenas do Mundial.
“Sabemos das iniciativas individuais dos projetos de cada uma das Cidades e parabenizamos as mesmas. No entanto, no sentido de organizar os processos de sustentabilidade e oficializar os mesmos, recomendamos que certifiquem seus projetos e obras pelo selo LEED”, informou o Consultor Técnico de Estádios do comitê, Carlos de La Corte.
De acordo com o COL, a certificação tem o objetivo de oficializar e organizar os processos de sustentabilidade das arenas do Mundial, e reflete o comprometimento do comitê com a neutralização das emissões de carbono das atividades da Copa 2014.
Segundo o comunicado, o COL recomenda aos estádios o selo LEED Certified, o menor dos quatro graus oferecido pelo U.S. Green Building Council, organização não governamental norte-americana, que implanta o sistema de certificação. “Ficaríamos muito satisfeitos apenas com a certificação simples (LEED Certified - 40 a 49 pontos e 8 pré-requisitos), já que existem outros selos mais sofisticados de certificação LEED (Silver, Gold e Platinum)”, diz o texto.
Para o COL, a implantação do selo tornaria o Brasil referência mundial em arenas sustentáveis. “O Brasil seria, então, o primeiro país a ter todos os estádios da Copa certificados pelo LEED, servindo de exemplo mundial”.
(http://www.copa2014.org.br/noticias/866/ESTADIOS+DA+COPA+DEVERAO
+ADOTAR+SELO+DE+SUSTENTABILIDADE+AMBIENTAL.html.Consulta em
06-04-2010)
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
97
Baseando-se na reportagem, como você considera que deve ser o
posicionamento dos gestores das cidades-sedes para atender, de maneira
satisfatória, essas exigências impostas pela Federação Internacional de Futebol
(FIFA), atingindo a meta da “Copa Verde”?
Para responder esse questionamento, é preciso conceber que este é
um grande desafio e, para vencê-lo, inicialmente os profissionais de todos os
segmentos atingidos pelo evento deverão visualizar-se como parte da natureza
e dos ecossistemas que serão afetados com as intervenções provenientes das
demandas da FIFA.
Assim, o primeiro passo a ser dado será o de identificar o nível do saber, ou
seja, o conhecimento dos profissionais envolvidos acerca do saber ambiental.
Isso deverá ser feito a partir de uma pesquisa inter (multi) disciplinar, uma vez
que um evento desta magnitude envolve profissionais de diversas áreas do
conhecimento, ou seja, desde os cientistas naturais (na elaboração dos Estudos
de Impacto Ambiental) até os sociais (aqueles que irão atuar na promoção e
execução do evento).
Outra questão que merece destaque é o nível desses profissionais envolvidos
(desde serventes a mestres e doutores), o que implica um nivelamento acerca das
questões ambientais e das demandas que a intervenção na natureza requer.
Para a concepção de um mega evento desse porte, todos os esforços
deverão ser canalizados para um equilíbrio na relação homem x natureza.
Isso significa afirmar que existe uma necessidade eminente de pesquisas para
encontrar soluções tecnológicas de manejo (tanto viáveis economicamente
como ecologicamente).
Quem estiver à frente de um processo tão dinâmico e complexo como
é um evento deste porte, não deve esquecer que os olhos do mundo estarão
voltados para as cidades-sedes durante pelo menos dois meses. E isso é
válido lembrar, pois a FIFA apresenta mais membros filiados do que a própria
Organização das Nações Unidas – ONU.
Neste todos e tudo, o que for feito em prol do evento será alvo de
especulação e, caso não esteja coerente com os padrões preestabelecidos,
terá uma repercussão negativa, acarretando em efeitos de longo alcance. E
ninguém quer ter seu nome atrelado a algo que fracassou, não é verdade?
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
98
4.4 Para saber mais
BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Consumo Sustentável - Manual de
Educação. DF, 2005. (série desafios da educação ambiental)
Esta publicação, em parceria com o Idec Consumers International, propõe
uma nova postura diante do consumo, introduzindo novos argumentos
contra os hábitos de desperdício, que caracterizam o padrão de consumo
das sociedades ocidentais modernas, que, além de ser socialmente injusto, é
ambientalmente insustentável.
MATER NATURA: Instituto de Estudos Ambientais. Disponível em:
< http://www.maternatura.org.br>. Acesso em: 17 abr. 2010.
O Mater Natura - Instituto de Estudos Ambientais é uma associação civil
ambientalista, sem fins lucrativos, de caráter científico, educacional e cultural.
Sua missão é contribuir para a conservação da diversidade biológica e cultural,
visando à melhoria da qualidade da vida.
LAYRARGUES, Philippe Pomier. Sistemas de Gerenciamento Ambiental,
Tecnologia Limpa e Consumidor Verde: a delicada relação empresa–meio
ambiente no ecocapitalismo. Revista de Administração de Empresas. São
Paulo, v. 40, n. 2, p. 80-88, Abr./Jun. 2000.
O texto sustenta o argumento de que a ISO 14000 não resolverá a
complexa problemática ambiental brasileira. O autor aponta que sua
incorporação na empresa não representa ainda uma mudança paradigmática
em direção à sustentabilidade, mas, sim, uma mudança da cultura empresarial
provocada mais pelas transformações político-econômicas mundiais do
que por uma possível conscientização ambiental. Apesar de a tecnologia
limpa ser apontada como a maior vantagem competitiva contemporânea
no atual cenário de desregulamentação governamental, seu alcance
ainda é limitado devido à sua intrínseca dependência da demanda de um
significativo mercado verde.
RICKLEFS, ROBERT E. A economia da natureza. 5. ed. Rio de Janeiro:
GUANABARA KOOGAN S.A., 2003.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
99
O livro aborda o ambiente físico e as formas pelas quais os organismos
se adaptam às suas vizinhanças. Ele introduz o conceito de bioma, discute
o movimento da energia dos alimentos, tratando a adaptação e as trocas
fundamentais que os organismos fazem. Isso é seguido por discussões de
estrutura e dinâmica populacional e de interações entre populações de
diferentes espécies, bem como da organização e da regulação das comunidades
ecológicas. Ele enfatiza como os sistemas ecológicos são continuamente
desafiados e mantidos, e como a dinâmica desses sintomas formam padrões de
biodiversidade no planeta. Para finalizar, o autor apresenta uma visão geral
dos problemas ambientais e algumas de suas soluções.
4.5 Relembrando
Neste capítulo, apresentamos a discussão de como visualizar a Ecologia
Humana como pressuposto para uma nova visão acerca do desenvolvimento
sustentável.
Para ilustrar esta temática, a abordagem do conteúdo foi direcionada de
modo a estimular a compreensão sobre a complexa relação entre o homem e a
natureza, bem como o entendimento relacionado à necessidade de existência
de um processo interativo entre tais atores.
Finalizando o capítulo, mostramos como as inovações tecnológicas
de cunho ambiental são possíveis para a busca do equilíbrio racional na
apropriação dos recursos, principalmente após o surgimento do consumidor
“verde” (o consumidor consciente), obrigando o mercado a se adequar a este
novo paradigma.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
100
4.6 Testando os seus conhecimentos
Pesquisas mostram que edifícios sustentáveis reduzem em 30% o consumo de energia e em 50% o consumo de água. A procura pela certificação é grande, mas os desafios são maiores. No Brasil, são aplicadas atualmente duas certificações ambientais: o Aqua e o Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), de origem americana. Há ainda os selos Sustentax e Procel Edifica, ambos brasileiros.
Entretanto, ser sustentável no Brasil não é fácil. Muitos consumidores duvidam da reputação e da qualidade dos produtos e serviços sustentáveis, porque confundem sustentabilidade com ecologia, baixa qualidade, rusticidade, etc. Eles acham que tudo o que é sustentável é mais caro e não tem ampla oferta no mercado, além de desconhecerem os critérios que os tornam verdes. No Brasil, apenas 29% das empresas desenvolvem alguma ação de modo a organizar uma rede de fornecedores socialmente responsáveis e 31% possuem políticas para efetivar “compras verdes”.
(COELHO, Laurimar. Certificação ambiental. Revista Téchne, São Paulo, 156. ed.,
ano 18, Mar. 2010. Disponível em: <http://www.revistatechne.com.br/engenharia-
civil/155/artigo162886-2.asp>. Acesso em: 17 abr. 2010)
Diante da situação citada, como articular conhecimentos dos profissionais
das áreas de construção civil e comunicação para estimular o aumento
da credibilidade da população, a fim de unir esforços para o aumento das
construções com certificação ambiental?
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 4
101
Onde encontrar
BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: Ética do Humano-Compaixão pela Terra.
Petrópolis: Vozes, 2004.
GASTAL, S. A. Correio Aéreo e aviação civil: Os primeiros passos da Varig.
Turismo & Sociedade, Curitiba, v. 2, n. 2, p. 185-211, outubro de 2009.
KOVALICK, Roberto. Moradores de bairro japonês reaproveitam quase 100%
do lixo. Bom dia Brasil, Tóquio, 09 Abr. 2010. Disponível em: <http://g1.globo.
com/bomdiabrasil/0, MUL1562975-16020,00-MORADORES+DE+BAIRRO+JAPO
NES+REAPROVEITAM+QUASE+DO+LIXO.html> Acesso em: 15 abr. 2010.
LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade,
poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
MARQUES, João Fernando; COMUNE, Antônio Evaldo. A teoria neoclássica e a
valoração ambiental. In: ROMEIRO, Ademar Ribeiro; REYDON, Bastiaan Philip;
LEONARDI, Maria Lucia Azevedo (Org.). Economia do meio ambiente: teoria,
políticas e a gestão de espaços regionais. 2. ed. Campinas, SP: UNICAMP.IE, 1999.
OLHAR DIGITAL. Eco4Planet, o buscador ecológico. Digital News. 03 Mar,
2010. Disponível em: <http://olhardigital.uol.com.br/central_de_videos/video_
wide.php?id_conteudo=10181&/ECO4PLANET+O+BUSCADOR+ECOLOGICO>.
Acesso em: 17 abr. 2010.
ROMEIRO, Ademar Ribeiro; SALLES FILHO, Sergio. Dinâmica de inovações sob
restrição ambiental. In: ROMEIRO, Ademar Ribeiro; REYDON, Bastiaan Philip;
LEONARDI, Maria Lucia Azevedo (Org.). Economia do meio ambiente: teoria,
políticas e a gestão de espaços regionais. 2. ed. Campinas, SP: UNICAMP.IE, 1999.
SACHS, Ygnacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. 3. ed. Rio de
Janeiro: Garamond, 2008.
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7.ed. São Paulo: EDUSP, 2007.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 103
5.1 Contextualizando
Estamos iniciando mais um capítulo rumo ao entendimento da
problemática do Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental. Neste capítulo
5, abordaremos os desdobramentos pertencentes ao movimento ambientalista.
Assim, verificaremos como se deu o despertar dos movimentos sociais
para este tema e como a participação consciente da sociedade se faz necessária
para garantir o manejo dos recursos de maneira sustentável.
Neste sentido, é preciso ficar atento para não cairmos nas armadilhas
criadas pela mídia para entender e colaborar com a superação dos desafios
lançados ao movimento ambientalista de modo a garantir o predomínio da
visão holística para com a natureza, ou seja, contemplar todos os ecossistemas
envolvidos para o alcance da qualidade ambiental.
Portanto, finalizando o estudo deste capítulo, esperamos que você esteja apto a:
� Caracterizar o movimento ambientalista;
� Apreender como funcionam as relações provenientes dos movimentos
sociais;
� Identificar as estratégias e os desafios para a promoção da participação
da sociedade como um todo no movimento ambientalista.
� Desejamos uma excelente leitura e bons estudos!
Até o próximo capítulo!
O MOVIMENTO AMBIENTALISTA A PARTIR DA VISÃO HOLÍSITCA: HOMEM X NATUREZA
CAPÍTULO 5
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
104
5.2 Conhecendo a teoria
5.2.1 O princípio de tudo: o homem se apropria da natureza
Desde os escritos iniciais deste livro-texto em nosso primeiro capítulo,
chamamos sua atenção para a interface homem x natureza, bem como a forma
como o primeiro se apropriou da segunda durante todo seu processo evolutivo.
Quando falamos no processo evolutivo, a intenção é verificarmos o
quanto o homem sempre foi dependente dos recursos naturais e como,
com o passar dos tempos, os avanços tecnológicos foram criando novas
formas de explorá-los.
Falando nisso! Você já parou para pensar que nós (seres humanos) somos a única espécie de seres vivos que come praticamente de tudo e de todas as formas? Perguntamos ainda: frágeis como sempre fomos diante dos outros seres vivos, como é possível nossa sobrevivência e supremacia diante das demais espécies?
REFLEXÃO
Intrigante não é mesmo? Alguns estudiosos dizem inclusive que
isso só possível graças as nossas condições de adaptabilidade, mediante a
transformação da natureza.
A esse respeito, Brandão (2005, p. 22) afirma que:
De um modo ou de outro, ao longo da difícil história da espécie humana, convivemos com todo o planeta Terra e habitamos todos os seus cenários naturais. E aprendemos a habitar o lugar onde vivemos de uma maneira inteiramente nova e inovadora, se nos compararmos com todos os seres que dividem conosco a aventura da Vida na Terra.
Vale salientar ainda que, ao longo da nossa evolução, diferentemente
dos outros seres vivos, fomos moldando a natureza para adaptá-la as
nossas necessidades.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
105
Isso ocorreu desde as formas mais rudimentares de sobrevivência há muito
tempo até as mais complexas criações como um ônibus espacial, por exemplo.
William Warby
Figuras 1, 2 e 3 – O uso da natureza pelo homem ao longo do tempo
Assim, podemos observar que existe uma dialética humano x natureza,
onde talvez sejamos a única espécie (parece até muita pretensão) que sabe,
sabe que sabe, pensa, pensa sobre o que sabe e faz o que pensa e sabe.
Confuso? É não! Nós conseguimos pensar e agir, para manipular a natureza
de modo a atender as nossas demandas desde que nos entendemos como gente.
O que ocorre é que nem sempre essa reflexão gera uma ação de equilíbrio
no manejo dos recursos, pois, muitas vezes, nos preocupamos tanto com o
nosso bem-estar que o colocamos acima de qualquer outro ser vivo. Isso chega
a ser inclusive egoísta de nossa parte. Não acha?
Assim, podemos dizer que somos capazes de ser aliados da natureza
quando interagimos com ela de modo equilibrado ou somos inimigos da
mesma quando a ignoramos para atender aos nossos desejos.
No caso dos desejos, sempre é bom relembrar que eles foram intensificados
com o advento da Revolução Industrial, especialmente pelas facilidades surgidas
a partir da mesma. Acrescente-se a isso o fato da busca constante por inovações,
cujo objetivo é tornar a vida humana mais fácil e com maior conforto e bem-estar.
Infelizmente, como vimos no capítulo 4, historicamente não houve uma
conciliação entre as inovações e as necessidades da natureza. Entretanto, a
partir da segunda metade do século XX, a comunidade internacional começou
a despertar para essa necessidade, iniciando um processo histórico de tomada
de consciência para tal: o movimento ambientalista.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
106
5.2.2 O despertar da conscientização
Após a explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki (Japão) e
os desdobramentos causados por ambas, o mundo percebeu a força destrutiva
do ser humano ao manipular a natureza para fins bélicos.
Assim, intensificaram-se as discussões em torno do cuidado para com
as inovações tecnológicas, visto que estas já estavam pondo em risco até a
própria vida humana.
Juntamente com isso surgiramm os escritos apontando para tal
pressuposto, bem como personagens dentre os quais citamos o engenheiro
florestal norte-americano Aldo Leopold e o médico alemão Albert Schweitzer
que despontaram como ícones nessa empreitada: alertar para os rumos
desenfreados do crescimento.
Aldo Leopold (1887-1948), engenheiro florestal, cuja luta em defesa da natureza foi intensa. Publicou mais de 350 artigos científicos sobre o tema. É considerado como a figura mais importante da conservação da vida selvagem dos EEUU. Foi consultor da ONU nesta área. A sua obra mais conhecida é o Sand County Almanac, onde lançou as bases para a Ética Ecológica.
Albert Schweitzer (1875-1965), filósofo, teólogo luterano, organista intérprete de Bach, tornou-se um médico missionário e sua mulher uma enfermeira, na África Equatorial. Recebeu o Prêmio Nobel da paz em 1952 pelos seus esforços pela “Irmandade das Nações”.
BIOGRAFIA
Assim, iniciou-se o movimento ambientalista, e a ética ambiental
começou a ser vista pelo mundo. Entretanto, as discussões ocorreram de
maneira cautelosa, tendo em vista que a pauta das reuniões organizadas para
discuti-la permeava a questão do crescimento econômico e isso sempre foi
motivo de conflito com as determinações do mercado.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
107
Falar em mercado significa afirmar que ele é uma das forças modeladoras da sociedade como um todo, fato que muitas vezes gera profundas desigualdades, à medida que se criem necessidades supérfluas. (SANTOS, 2007)
SAIBA QUE
5.2.3 O significado do movimento ambientalista
Não podemos falar de movimento ambientalista sem retomar a
cronologia apresentada no capítulo 1, onde você viu que as discussões em torno
da convivência equilibrada do homem com a natureza foram intensificadas
a partir da Conferência de Estocolmo em 1972. Desde esse período, houve
avanços na questão ambiental, porém, muito ainda precisa ser feito. A esse
respeito, Leff (2008, p. 96) comenta que:
A problemática ambiental do desenvolvimento deu lugar a um movimento, na teoria e na prática, para compreender suas causas e resolver seus efeitos na qualidade de vida e nas condições de existência da sociedade.
Assim, evidenciamos que esse despertar originou-se na implicação que
a crise ambiental traz para a qualidade de vida humana, ou seja, a partir
do momento em que as condições climáticas começaram a modificar a zona
de conforto da nossa sobrevivência, uma parte da humanidade começou a
perceber e se preocupar com o ambiente.
Entretanto, apesar de Estocolmo ser um marco, tudo é muito relativo
se considerarmos o jogo de interesses envoltos na problemática. Quando
trazemos essa afirmativa, lembramos os interesses interligados às questões
ambientais, bem como às soluções de manejo encontradas para mitigá-los.
A percepção da problemática ambiental não é homogenia e cobre um amplo espectro de concepções e estratégias de solução. As manifestações da crise ambiental dependem do contexto geográfico, cultural, econômico e político, das forças sociais e dos potenciais ecológicos sustentados por estratégias teóricas e produtivas diferenciadas. Neste sentido, não pode haver um discurso nem uma prática ambiental unificados. (LEFF, 2008, p. 96)
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
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Isso significa retomar o capítulo 3, quando falamos das estratégias para
alcançar o desenvolvimento sustentável, pois, discuti-las, entendê-las e pra-
ticá-las é o caminho para encontrar o desenvolvimento sustentável. E essa é a
bandeira do movimento ambientalista, fundamentar as intervenções humanas
nos pressupostos da ética ambiental.
Você já ouviu falar em Ecovila? Ecovila é um movimento que adota a concepção de comunidades sustentáveis e está se espalhando pelo mundo inteiro, através da Rede Global de Ecovilas - GEN. Seu objetivo é utilizar a matéria-prima, ou seja, os elementos naturais reciclados das indústrias para fabricação de móveis e utilitários domésticos, a Premacultura. Este modelo foi incorporado pelas Nações Unidas no Programa de Desenvolvimento de Comunidades Sustentáveis (SCDP), entretanto, no Brasil, este movimento ainda é muito tímido.
CURIOSIDADE
Assim, agir de forma orientada por esse princípio seria gerar as condições
necessárias, tendo em mente sempre a sustentabilidade e os pilares que a
cercam, e usando a promoção da autonomia cultural, da autodeterminação
tecnológica e da independência política dos povos. (LEFF, 2008)
Isso tudo significa dizer que os governos têm um papel fundamental,
porém, nem sempre o mercado tem permitido essa ocorrência, pois, conforme
afirmação constante neste livro-texto, muitos são os interesses envolvidos no
contexto ambiental.
Diante das dificuldades encontradas pelo setor público em fazer com que
a iniciativa privada acate as demandas para a sustentabilidade ambiental, surge
um novo segmento, o terceiro setor, como forma de mobilização da sociedade
civil organizada para fortalecer essa luta em prol de um desenvolvimento
economicamente viável, socialmente justo, ambientalmente equilibrado.
Neste caso, mencionamos que as Organizações Não Governamentais
– ONG’s têm papel fundamental no desenvolvimento do movimento
ambientalista em todo o mundo.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
109
EXPLORANDOEXPLORANDO
Certamente você já deve ter ouvido falar em Greenpeace ou em Fundo Mundial para a Vida Selvagem – WWF, instituições com atuação planetária na defesa do meio ambiente. Para conhecer melhor como são suas ações e como participar das mesmas, acesse os endereços eletrônicos http://www.greenpeace.org/brasil/ e http://www.wwf.org.br/ respectivamente e verifique a importante atuação das mesmas para o movimento ambientalista.
Ainda a respeito das ONGs, podemos considerar que elas atualmente têm
atuado não só como vigilantes, mas, também, têm influenciado as decisões
políticas que são tomadas em escala local, regional e global.
5.2.4 A participação social para garantir o uso e manejo dos recursos
de maneira sustentável
Leia o texto abaixo:
Dito em termos simples, o desenvolvimento social visa a melhorar a qualidade da vida humana enquanto humana. Isso implica em valores universais como vida saudável e longa, educação, participação política, democracia social e participativa e não apenas representativa. [...] Tais valores somente se alcançam se há um cuidado na construção coletiva do social, se há convivialidade entre as diferenças, cordialidade nas relações sociais, compaixão com todos aqueles que sofrem ou se sentem à margem, criando estratégias de compensação e de integração. (BOFF, 2004, p. 138)
A escolha deste posicionamento do Professor Boff, ao iniciarmos
esta seção, serve para relembrar a fala citada em momento anterior,
apresentando o posicionamento de que o homem talvez seja o único
ser vivo pensante. O porquê dessa recordação é para compreendermos
o quanto somos responsáveis pela manutenção da qualidade ambiental
tanto individual quanto coletivamente.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
110
Isso significa dizer que não devemos destinar a responsabilidade por
implantação de medidas atenuantes aos impactos das intervenções humanas,
bem como a culpa pelos danos causados pela omissão das mesmas somente ao
poder público ou à iniciativa privada.
Observe a fábula utilizada por Herbert José de Sousa (Betinho), como metáfora de solidariedade.
Houve um incêndio na floresta e enquanto todos os bichos corriam apavorados, um pequeno beija-flor ia do rio para o incêndio levando gotinhas de água em seu bico.
O leão, vendo aquilo, perguntou ao beija-flor:
- “Ô beija-flor, você acha que vai conseguir apagar o incêndio sozinho?”
E o beija-flor respondeu:
- “Eu não sei se vou conseguir, mas estou fazendo a minha parte”.
CURIOSIDADE
Dessa forma, é necessário considerar que também é dever da sociedade
civil se mobilizar no sentido de promover a participação social para garantir o
uso e manejo dos recursos de maneira sustentável.
Obviamente que isso não deve ser feito com base apenas em
posicionamentos ideológicos, pois o mercado e todo o aparato tecnológico
que o cerca facilmente conseguiria derrubá-los.
Neste sentido, a sociedade não pode ficar alinhada apenas ao plano das
ideias e, sim, caracterizar suas reivindicações no plano científico para poder
ter direito à voz e, quem sabe, ao voto no plano das instâncias de governança.
Esse seria um dos fundamentos do movimento ambientalista, não nos
acomodarmos com as imposições do sistema capitalista e lutarmos por uma
maneira mais igualitária de desenvolvimento.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
111
A emancipação dos povos na perspectiva ambiental vai mais além de sua independência formal, questionando a incidência da ordem econômica internacional no esgotamento de seus recursos e reclamando um direito para o aproveitamento endógeno e democrático. Deste modo a política do ambientalismo transforma as relações de poder nos níveis nacional e internacional, questionando os benefícios produzidos pela economia de mercado e oferecidos pelo Estado benfeitor. (LEFF, 2008, p.99)
A mobilização popular em torno desses eixos norteadores se faz necessária
para a consolidação de um movimento ambientalista forte e convincente.
Esse, por sua vez, deve ser fomentado de maneira organizada, pois, sozinho,
cada indivíduo é apenas mais um, e uma causa tão nobre merece um luta
proveniente de quantidade com qualidade.
Quando trazemos a palavra qualidade para a discussão é para reforçar
que o discurso ambientalista não deve ser orientado por palavras soltas ao
vento, para não se tornar vulnerável e ficar no plano dos sonhos.
Ainda complementando as razões para uma discussão orientada de modo
racional é o fato da credibilidade empunhada pelo conhecimento científico e
sua capacidade de persuasão.
Essa se torna cada vez mais necessária diante da necessidade de
sensibilização e mobilização social para fazer frente às facilidades e
benefícios que o mercado oferece, posto que muitas vezes a indústria do
consumo maquia a realidade.
5.2.5 Separando o joio do trigo
Com a difusão da problemática ambiental e dos desdobramentos de
seus impactos nas condições da vida humana, é perceptível a disseminação de
informações e o estímulo de atitudes neste sentido.
Assim, estamos diante de uma onda “verde” onde muitas vezes a realidade
do discurso das pessoas não condiz com práticas sustentáveis em seu cotidiano.
Ser ecologicamente correto está se tornando tão banal à medida que
muitos vestem a camisa do movimento ambientalista por questões de status
pelo fato de ser a moda em vigor.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
112
Isso tem se tornado um perigo na medida em que gera confusão conceitual
acerca do real fundamento deste movimento. São empresas, políticos, artistas,
enfim, uma infinidade de pessoas e instituições anônimas ou famosas com o
discurso da sustentabilidade na ponta da língua.
Entretanto, na prática, a coisa muda de configuração, especialmente
quando mexe com a zona de conforto individual marcada especialmente pela
adoção de estilos de vida mais simples. Também é válido acrescentar que,
quando são implantadas medidas atenuantes de intervenção, aumentando os
custos de produção e gerando a consequente diminuição das margens de lucro,
muitos empresários recuam nas estratégias de produzir de maneira sustentável.
PRATICANDOPRATICANDO
Diariamente tomamos conhecimento, por diversas campanhas publicitárias veiculadas na mídia, a respeito do compromisso de instituições bancárias com a causa da sustentabilidade ambiental. Para comprovar essa afirmativa, solicitamos que você visite um banco existente em sua cidade e verifique se, na rotina de trabalho do cotidiano de seus funcionários, esse princípio é realmente posto em prática.
Verificar as informações que recebemos para comprovar sua veracidade se
faz necessário para não comprarmos gato por lebre, pois a temática ambiental
está tão popular que muitas vezes não conseguimos identificar o que é correto.
A esse respeito, Santos (2007, p. 155) destaca:
O homem moderno é, talvez, mais desamparado que os seus antepassados, pelo fato de viver em uma sociedade informacional que, entretanto, lhe recusa o direito a se informar. A informação é privilégio do aparelho do Estado e dos grupos econômicos hegemônicos, constituindo uma estrutura piramidal. No topo, ficam os que podem captar as informações, orientá-las a um centro coletor, que as seleciona, organiza e redistribui em função de seu interesse próprio. Para os demais não há, praticamente, caminho de ida e volta. São apenas receptores, sobretudo os menos capazes de decifrar os sinais e os códigos com que a mídia trabalha.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
113
Podemos também aplicar esse raciocínio a diversos segmentos, sejam
eles poder público, iniciativa privada ou terceiro setor, que se apresentam
como verdadeiros lobos em pele de cordeiro, e cujo objetivo principal termina
sendo a captação de recursos a fim de atender seus desejos nada sustentáveis.
É por isso que devemos ter muito cuidado com as informações que
recebemos sobre a causa ambiental (pois nem sempre o que parece é), uma
vez que, quanto mais nos tornamos sensíveis e conscientes acerca do tema
mais ficamos suscetíveis à multiplicação das informações. Isso significa que
devemos aprender a filtrar e confirmar tudo o que lemos, ouvimos e vemos
para o nosso bem, assim como do planeta Terra.
É evidente que filtrar informações, reconhecendo seus aspectos positivos,
requer senso crítico individual orientado pela visão holística do homem
incluído na natureza, fruto do movimento ambientalista.
5.2.6 Desafios para a visão holística homem x natureza
Como estamos acompanhando no decorrer deste capítulo, a amplitude
de temas interligados ao movimento ambientalista é tamanha e tão complexa,
sendo capaz de gerar segmentação, fragmentação e até mesmo estratificação
dos organismos e pessoas envolvidos com a causa.
São tantas as reivindicações que sua articulação termina ficando limitada
e restrita a pequenos extratos sociais. Assim, a necessidade de definir estratégias
de ação orientadas pelo ambientalismo muitas vezes é inviabilizada, e o poder
econômico do mercado é fortalecido pela desarticulação dos movimentos.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Para comprovar essa afirmativa, apresentamos alguns endereços eletrônicos para que você possa comparar a diversidade de causas levantadas em torno da problemática ambiental:
� Contra a devastação da Amazônia: www.amazoniaparasempre.com.br
� Contra a extinção do peixe-boi: www.amigosdopeixeboi.org.br
� A favor de várias causas ambientais: www.greenpeace.org/brasil
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
114
Dessa forma, faz-se necessária a busca da coesão entre os militantes da
causa ambiental de forma distinta no sentido da criação de demandas comuns,
aliadas às estratégias eficazes de transformação social.
É evidente que não podemos deixar de fora desse jogo de interesses a
racionalidade econômica dominante e a forma como esta se insere no contexto
do movimento ambientalista. A importância de verificar essa necessidade
conduz a incorporação de condições de sustentabilidade, equidade e
democracia aos processos produtivos.
Neste caso, você precisa ficar atento aos seguintes desafios: democracia;
impacto do discurso ambientalista; estratégias para transformar a racionalidade
dominante; fundamentação de um estado multiétnico; disparidades dos
interesses entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
A democracia como meta do movimento ambientalista
Quando trazemos o desafio do alcance da democracia para uma
experiência exitosa relacionada ao movimento ambientalista, queremos
demonstrar a necessidade de uma coalizão, ou seja, união de todos que
acreditam e fundamentam propósitos nessa causa.
Isso é necessário dentro da perspectiva do fortalecimento das
organizações com inclusão na esfera política partidária, tendo em vista que
grande parte dos danos ambientais que presenciamos é fruto de decisões
políticas fundamentadas apenas pelo viés econômico.
Assim, é imprescindível a inserção dos integrantes do movimento
ambientalista nos partidos políticos, bem como a obtenção de representação
popular constituída. Até porque são os políticos quem decidem os rumos de
uma determinada localidade, região ou país.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Você pode conhecer um pouco do perfil dos políti-cos do nosso país acessando www.camara.gov.br/ ou www.senado.gov.br/, ambos os domínios são da Câmara dos Deputados e do Senado Federal respecti-vamente. Acesse e confira quem está em consonância com as necessidades do movimento ambientalista.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
115
Ultrapassar essa barreira será uma vitória para o movimento ambientalista,
tendo em vista a possibilidade de favorecer a democratização da prática ambiental.
O impacto do discurso ambientalista
Esse é outro desafio eminente desta causa ambiental e seus movimentos.
É preciso conhecer até que ponto as discussões estão surtindo efeito para a
mudança dos padrões de produção e consumo vigentes.
Até porque, como sempre estamos apresentando nesse livro-texto,
inúmeros são os encontros realizados no sentido de discutir a problemática do
meio ambiente, assim como a abrangência dos mesmos.
Entretanto, será que na realidade os propósitos, valores e práticas estão
conseguindo penetrar nas políticas econômicas, bem como nas necessidades
individuais das pessoas?
Para falar a esse respeito, é preciso retomar questões como a manutenção
da zona de conforto humana e da maximização dos lucros, estimuladas pela
economia de mercado.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Acesse o link www.ambientebrasil.com.br e pesquise o tema marketing ambiental no campo de busca. Você poderá conferir que, apesar da manutenção da zona de conforto, todos precisam ceder em função desta causa..
Realmente, esse é um grande desafio a ser vencido: o da mudança de
postura individual e coletiva em todos os setores da sociedade para que se
comprove a eficácia do discurso ambientalista.
Estimular estratégias para transformar a racionalidade econômica
dominante
Já verificamos em vários momentos a dimensão das discussões em
torno da causa ambiental. Neste sentido, muitas são as conclusões para o
alcance da sustentabilidade.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
116
Entretanto, para a orientação de uma ação coerente, é preciso chegar a
um consenso sobre qual é o melhor caminho e quais os esforços precisam ser
mobilizados para tal premissa.
Nessa perspectiva, Boff (2008, p. 108) enumera que é preciso “esclarecer
as estratégias de poder destes novos movimentos da sociedade civil para
transformar a racionalidade dominante, incorporando valores éticos e
princípios produtivos ao ambientalismo.”
Assim, mais do que nunca, pensar orientando-se pelos princípios “juntos somos
fortes” ou “andorinha só não faz verão” é a máxima do movimento ambientalista.
Um estado multiétnico como garantia de sustentabilidade
À medida que os movimentos sociais conseguirem ultrapassar a barreira
da definição de estratégias de ação e alcançarem a transformação da
racionalidade econômica vigente será possível pensar em um Estado capaz de
internalizar os princípios do ambientalismo.
Isso ficará evidente quando visualizarmos o desenvolvimento endógeno
(participação efetiva da população do local envolvido), fundamentado no
respeito às comunidades tradicionais por meio da contemplação de suas
formas de vida como estratégia de manejo.
A Reforma Agrária é um tema bast ante discutido em nosso país. Normalmente, os assuntos em pauta são as invasões do Movimento dos Sem Terra, as formas como as famílias são assentadas e linhas de crédito para esses trabalhadores.
Em Ceará-Mirim, cidade localizada na região do Mato Grande, no litoral Nordeste do Rio de
Grande do Norte, a Piscicultura muda a vida de várias famílias no Assentamento Rosário Agrovila Canudos. Lá a criação de tilápias (Tilapicultura) trouxe renda mensal para os agricultores familiares. A proposta foi idealizada pelo Banco do Brasil usando a estratégia de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) do Banco do Brasil em parceria com o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF.
SAIBA QUE
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
117
Assim será promovido o direito à manutenção da cultura local e à
perspectiva de um desenvolvimento nacional orientado pelo respeito às várias
etnias existentes em um determinado território.
As disparidades dos interesses entre países desenvolvidos e em
desenvolvimento
Para que se alcancem todos os desafios anteriores, existe um desafio
fundamental: ultrapassar as disparidades dos interesses entre países
desenvolvidos e em desenvolvimento.
Isso se deve à forma distinta como ambos estão inseridos no movimento
ambientalista, pois, conforme destaca Leff (2008, p. 112)
Nos países do Norte, o movimento ecológico se orienta para a conservação da natureza e o controle da contaminação, ao mesmo tempo que os problemas associados à exploração excessiva dos recursos são transferidos aos países mais pobres.
Assim, afirmar como sendo uma das premissas para o êxito do movimento
ambientalista a ultrapassagem das imposições criadas pela divisão do mundo
em Norte e Sul nos remete ao posicionamento que as questões ambientais
tanto são locais como globais.
Compreender esse posicionamento significa verificar que o sucesso do
movimento ambientalista está na dependência tanto do manejo sustentável
em um assentamento rural no Nordeste brasileiro, quanto nos acordos
internacionais para a redução mundial dos gases que ocasionam o efeito
estufa.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
118
5.3 Aplicando a teoria na prática
Passeando pela EXPO: o terceiro maior evento do mundo
A Expo “Grande Exposição dos Trabalhos Industriais de Todas as Nações” é um evento que acontece há mais de um século e meio, sendo considerado, na atualidade, como o terceiro maior evento em termos de impacto cultural e econômico no mundo, perdendo apenas para as Olimpíadas e para a Copa do Mundo. Sua marca registrada é a influência no desenvolvimento de vários aspectos da sociedade, incluindo arte, design, relacionamento internacional e turismo.
Em 2010, a sede do evento será em Xangai na China. O destaque da feira ficará por conta do tema abordado, evidenciando uma tendência mundial: o movimento ambientalista. Neste caso, o pano de fundo das apresentações será a cidade (tendo em vista que hoje mais de 50% da população mundial está concentrada nelas), destacando os problemas globais e soluções voltadas para o futuro.
O tema “Better City, Better Life” (Melhor Cidade, Melhor Vida), que é o tema do evento, será apresentado como uma chamada para estratégias de desenvolvimento urbano sustentável e integrado, refletindo o desejo das pessoas por uma vida melhor nas cidades do futuro.
O conceito melhor cidade, melhor vida, a ser demonstrado pelo Brasil, será o de experiências positivas de inclusão social e política, diversidade e sustentabilidade. Assim, um misto de eventos artísticos, culturais, turísticos, empresariais e de gastronomia, além de discussões temáticas (com os temas: água, energia renovável e mudanças climáticas) e de uma grande mostra da diversidade étnica, cultural e paisagística do Brasil por meio de fotos, vídeos, músicas, shows e comidas, demonstrarão para o mundo o nosso país.
Disponível em: http://www.expoxangai.com.br/expo.html e http://www.expo2010brasil.com/portal_apex/publicacao/engine.wsp?tmp.area=729&tmp.idioma=1.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
119
Sabendo que, além de todas as informações apresentadas sobre a
Feira Internacional EXPO, o evento de 2010 traz um marco: a primeira
Exposição Universal Ecológica, pergunta-se: Qual a influência do movimento
ambientalista para tais desdobramentos?
Para responder esse questionamento, partimos do princípio de que a
apropriação da natureza é um fato histórico da evolução humana, e isso nos
é apresentado nos escritos acadêmicos, onde podemos verificar que, desde os
primórdios de vida do homem na Terra, a relação homem x natureza é existente.
Assim, numa busca constante por conforto, o homem foi se distanciando
cada vez mais da manutenção harmônica para a exploração dos recursos
naturais, culminando com a crise ecológica vivenciada atualmente.
Isso motivou o surgimento de movimento sociais de alerta para esse modo
destrutivo de manipular a natureza, o chamado movimento ambientalista.
Consideramos como marcos conceituais o período pós-guerra e os
desdobramentos provenientes do mesmo como, por exemplo, a criação da
Organização das Nações Unidas – ONU.
Assim, nas últimas décadas, pessoas em todo o mundo têm se mobilizado
para garantir que os princípios e dimensões da sustentabilidade sejam
atendidos pelos seres humanos.
Especial atenção tem sido dada à forma como o componente social
tem se incluído no processo de mudança de postura, cujas necessidades
envolvem a ultrapassagem de grandes desafios: alcance da democracia; os
efeitos do impacto do discurso ambientalista; as estratégias para transformar
a racionalidade dominante; a fundamentação de um estado multiétnico; e as
disparidades dos interesses entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Quando visualizamos um evento de grande porte, a exemplo da
EXPO, que envolve todas as esferas do conhecimento, adotar como tema
a qualidade ambiental nas grandes cidades, percebemos que sim, o
movimento ambientalista está saindo do papel e influenciando as decisões
em nível local, regional e internacional. Este fato favorece a visão holística:
homem x natureza.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
120
5.4 Para saber mais
Bursztyn, Marcel. A grande transformação ambiental: uma cronologia da
dialética do homem-natureza. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.
O autor deste livro oferece um levantamento de fatos e eventos
que, direta ou indiretamente, têm a ver com as relações entre o homem
e a natureza em torno da questão ambiental. O foco principal é o Brasil
e, nesse sentido, o período abordado é principalmente o meio milênio
da nossa história, desde a chegada dos ibéricos até o Novo Mundo. O
objetivo é aumentar a informação, o entendimento e a consciência sobre
as características e os riscos ao meio ambiente em nosso país, contribuindo,
assim, para o desenvolvimento sustentável.
______(Org.) A difícil sustentabilidade: política energética e conflitos
ambientais. Rio de Janeiro: Garamond, 2001.
Esta obra reúne trabalhos que foram produzidos no quadro do Curso de
Estratégias de Negociação de Conflitos Socioambientais, realizado pelo Centro
de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS/UnB), no
segundo semestre de 2000. Foram parceiros da iniciativa a Fundação Avina,
que financiou boa parte das atividades, e a empresa Vibhava Consultoria
Empresarial S/C Ltda., que contribuiu com a mobilização dos participantes e
com competência específica. Adotaram-se os conflitos em torno da questão
hidroenergética como tema gerador do processo.
JACOBI, Pedro. Movimento ambientalista no Brasil. Representação social e
complexidade da articulação de práticas coletivas. In: RIBEIRO, Wagner Costa (Org.).
Patrimônio ambiental brasileiro. São Paulo: Edusp (Imprensa Oficial SP), 2003.
O texto destaca o movimento ambientalista brasileiro a partir da década
de 1950, com ênfase nas organizações e personalidades surgidas neste sentido.
Assim, são apresentados nomes como Chico Mendes e instituições como os
Amigos da Terra, ilustrando o discurso e as ações do citado movimento.
Acesse o site da maior rede de educação superior privada do mundo
(www.laureate-inc.com) e confira como a sustentabilidade ambiental faz
parte de seu currículo, bem como dos serviços e operações necessários para a
oferta educacional da rede.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
121
5.5 Relembrando
Neste capítulo você viu como se deu a apropriação da natureza pelo
homem através dos tempos e a maneira como ele despertou para a forma
indevida de como ela ocorreu a partir das inovações proporcionadas pela
Revolução Industrial.
Isso aconteceu com maior expressividade depois da segunda metade
do século XX, quando muito teóricos começaram a publicar e defender
instrumentos para a exploração equilibrada dos recursos.
Assim foi intensificado o movimento ambientalista e, desde então, são
apresentadas várias estratégias para esse fim. Entretanto, são grandes os
desafios que merecem ser observados e vencidos para a adoção de uma visão
holística da relação homem x natureza.
Para uma mobilização popular efetiva é preciso apreender como funcionam as
relações provenientes dos movimentos sociais, no sentido de identificar tais estratégias
de atuação para a participação da sociedade como um todo neste movimento.
5.6 Testando os seus conhecimentos
Atualmente, a qualidade ambiental tem sido um tema bastante
difundido seja no contexto acadêmico-científico ou pelo senso comum (com
grande contribuição do poder da mídia).
Isso se deve tanto à forma como os assentamentos humanos têm se
organizado, especialmente nos grandes centros urbanos, quanto à organização
do sistema produtivo para as demandas de consumo da sociedade.
Em função desses fatos, é preciso orientar discussões em busca de soluções
sustentáveis para adoção de práticas de apropriação que contemplem a visão
holística homem x natureza. Isso significa intervir de maneira equilibrada,
partindo de uma visão completa de todo o ecossistema envolvido.
Nesta perspectiva está fundamentado o movimento ambientalista, cujos
pressupostos principais são reivindicar melhores condições de vida para todos
os habitantes deste grande organismo chamado Planeta Terra.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 5
122
Diante das afirmativas acerca do movimento ambientalista, pergunta-se:
quem é responsável por torná-lo uma realidade e para que o mesmo não fique
restrito a discussões intelectuais ou a modismos impostos pela mídia?
Onde encontrar
AMBIENTE Brasil. Marketing Ambiental. Disponível em <http://www.
ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./gestao/index.html&conteudo=./
gestao/artigos/markverde.html>. Acesso em 02. maio 2010.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Carlos Rodrigues Brandão. Aqui é onde
eu moro, aqui nós vivemos: escritos para conhecer, pensar e praticar o Município
Educador Sustentável. DF, 2005. (série desafios da educação ambiental)
BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: Ética do Humano-Compaixão pela Terra.
Petrópolis: Vozes, 2004.
FUNDO Mundial para a Vida Selvagem – WWF. Disponível em: <http://www.
wwf.org.br/ >. Acesso em: 30. abr 2010.
GREENPEACE. Disponível em: <http://www.greenpeace.org/brasil/>. Acesso
em: 30. abr 2010.
LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade,
poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
PORTAL da Câmara dos Deputados. Disponível em: <http://www.camara.gov.br>.
Acesso em: 02. maio 2010.
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7. ed. São Paulo: EDUSP, 2007.
SENADO Federal do Brasil. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/>.
Acesso em: 02. maio 2010.
SOUSA, Herbert de José de. Fábula utilizada por Betinho como metáfora de
solidariedade. Disponível em: <http://www.truco.com.br/beijaflor/betinho.html>.
Acesso em: 02. maio 2010.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 123
6.1 Contextualizando
Estamos diante de um mundo cada vez mais globalizado e encontrar
alternativas à lógica que rege o trabalho pelo capitalismo é uma necessidade
eminente.
Assim, surge a necessidade de buscarmos novas opções econômicas, ou seja,
outra economia. Ao contrário da economia capitalista, esta nova opção deve ser
baseada na solidariedade e na generosidade humana: a economia solidária.
Diante disso, neste capítulo 6, nós abordaremos temas relacionados a essa
nova economia, cujos pilares estão alicerçados na participação, cooperação e
pactuação, por meio de um (re)aprendizado constante e mútuo.
Portanto, ao final deste capítulo, esperamos que você esteja apto a:
� Entender os aspectos funcionais da economia solidária;
� Compreender a forma como eles estão atrelados a um novo processo
educativo;
� Perceber a economia solidária como ferramenta de alcance do
desenvolvimento sustentável.
Esperando contribuir com seus conhecimentos acerca dos caminhos para
o desenvolvimento sustentável, desejamos bons estudos!
ECONOMIA SOLIDÁRIA: PERSPECTIVAS DE GESTÃO COM FOCO NO FUTURO
CAPÍTULO 6
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
124
6.2 Conhecendo a teoria
6.2.1 Economia solidária: muito prazer!
Ao longo de nossos escritos, estamos sempre afirmando e reafirmando
os efeitos gerados pela busca incessante de lucro gerado pela economia de
mercado. Consideramos também que isso se deve principalmente aos avanços
gerados a partir do advento da Revolução Industrial, ocasionando uma
sobrecarga nos ecossistemas terrestres.
Pare um pouco e pense: não parece contraditório falarmos que os avanços tecnológicos têm uma parcela de contribuição para o contexto ambiental mundial?
REFLEXÃO
Na verdade, a chave de resposta desta questão está ligada a formas como
as inovações tecnológicas são utilizadas, pelo único ser vivo capaz de manipular
a natureza para atender seus desejos. Ou seja, isso tudo está intimamente
ligado à zona de conforto humana e às maneiras encontradas para mantê-la.
Podemos acrescentar que o conforto custa caro e uma forma de financiá-
lo é a partir da economia de mercado, pois, se as inovações tecnológicas não
tiverem viabilidade econômica, fatalmente elas serão descartadas.
Entretanto, apesar de todas essas justificativas acerca do poder do mercado
na manipulação das inovações tecnológicas, é importante considerar que o Planeta
precisa que trilhemos outro caminho, o caminho do desenvolvimento sustentável.
LEMBRETELEMBRETE
Não custa nada lembrá-lo(a) que o caminho para o alcance do desenvolvimento sustentável é o atendimento das necessidades das gerações atuais sem o comprometimento dos recursos, para que as gerações futuras também possam usufruí-los.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
125
Assim, em nosso livro-texto, estamos sempre discutindo a necessidade de
buscarmos novas formas de consumo, aliando o suprimento das nossas necessidades
diárias com as de recomposição dos recursos que utilizamos do Planeta.
Evidenciamos também a busca da humanização da economia, por meio
da adoção de mecanismos que ultrapassem os desígnios do mercado. Assim,
surge a temática da ecologia humana como forma de mitigar essa ação danosa.
INTERAGINDOINTERAGINDO
Você pode enriquecer essa discussão entrando em contato com os seus colegas de turma pelo Ambiente Virtual de Aprendizagem e discutindo formas de melhor utilizar os recursos do planeta de modo a garantir a sustentabilidade.
Neste caso, retomamos os preceitos do autor Leonardo Boff, quando ele
fala da compaixão, da solidariedade, do amor ao próximo (independentemente
de quem ele seja), entre tantas emoções positivas que surgem nesse contexto
da subjetividade humana.
Espere um momento! Já estamos nesta altura conhecendo a teoria e
ainda não fomos apresentados à economia solidária. Realmente, não com
palavras explícitas, porém, desde o momento que iniciamos a discussão acerca
de um novo rumo para o planeta, direcionado para o consumo sustentável,
estamos apresentando diretrizes para este novo caminho.
CONCEITOCONCEITO
A economia solidária não se resume a um produto, a um objeto. Ela se constitui num sistema que vai muito além dos próprios empreendimentos solidários. Ela é, sobretudo, a adoção de um conceito. A economia solidária respeita o meio ambiente, produz corretamente sem utilizar mão de obra infantil, respeita a cultura local e luta pela cidadania e pela igualdade (GADOTTI, 2009, p.24).
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
126
Assim, percebemos que ela é mais do que uma ideologia, ou seja, a
economia solidária se apresenta como uma alternativa à economia de mercado.
Isso significa que sua prática vai além do simples discurso, pois, é necessária a
um novo aprendizado para conseguir colocá-la em prática.
Mais uma vez nos deparamos com a questão educacional permeando o
desenvolvimento sustentável. Tal fato vem reafirmar que ela é uma ferramenta
indissociável para o alcance de novas formas de produção de consumo e da
própria educação.
Estes, por sua vez, devem ser orientados por um saber ambiental
que contemple os seguintes aspectos: cooperação; corresponsabilidade;
comunicação; comunidade, o chamado fator C (GADOTTI, 2009).
6.2.2 A educação transformadora como caminho para a economia
solidária
Gadotti (2009) afirma que apreender o conceito de economia solidária é
compreender, antes de tudo, como ele está ligado à premissa de viver bem, ou
seja, para que isso ocorra, é necessário a compreensão da forma como é feito
na prática.
Neste caso, ocorre uma dependência mútua de ambos os temas
(economia solidária x educação), pois o princípio da cooperação,
fundamento da economia solidária, se apresenta como uma oportunidade
de revolução educacional.
Dessa forma, novamente estamos diante da questão que é precioso
reorientar o aprendizado se pretendermos alcançar a humanização a partir
dos direcionamentos dados pela cooperação.
DEFINIÇÃODEFINIÇÃO
Cooperação é um processo de interação social, onde os objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os benefícios são distribuídos para todos.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
127
Fundamentar a ação orientada pela cooperação significa agir em oposição
ao mercado, cujo fundamento está intimamente ligado com a competição
alicerçada na maximização do lucro.
O capitalismo se tornou dominante há tanto tempo que tendemos a tomá-lo como normal ou natural. O que significa que a economia de mercado deve ser competitiva em todos os sentidos: cada produto deve ser vendido em numerosos locais, cada emprego deve ser disputado por inúmeros pretendentes, cada vaga na universidade deve ser disputada por numerosos vestibulandos, e assim por diante. (SINGER, 2002, p.07)
Neste sentido, para agir em oposição ao pressuposto desta citação, é necessária
a passagem por um processo de reaprendizado. Tal processo deve ser alicerçado
no contexto solidário, uma vez que somente com a adoção desse sentimento será
possível a revolução na configuração econômica com inclusão social.
Reforçando esse raciocínio ainda é possível referenciar Paul Singer (2002,
p.10), quando ele escreve a respeito de economia solidária, afirmando ser este
um modo de produção “cujos princípios básicos são a propriedade coletiva ou
associada do capital e o direito a liberdade individual”.
Dessa forma, é preciso aprender a empreender e a trabalhar em
equipe para poder alcançar a gestão participativa. Esse fato nos traz a
necessidade de voltarmos aos estudos, pois não é possível fundamentar
a gestão solidária com as características de mercado, que são impostas no
sistema educacional tradicional.
vwww.barcoescola.org.br
Figura 1 - Exemplo de uma nova metodologia educacional
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
128
A renovação do sistema educacional para o alcance do aprendizado
solidário
Para iniciarmos a conversar sobre esse tema, é preciso, primeiro, falar em
inclusão, pois, como podemos pensar em mudança no modelo educacional,
quando (no caso do Brasil) temos uma significativa parcela da educação que
não tem acesso nem ao sistema tradicional?
Para enriquecer seu estudo pesquise a respeito da taxa de analfabetismo no Brasil, percebendo como ela se apresenta em cada região. Com essas informações, você poderá traçar um panorama de exclusão a partir do analfabetismo. Para contribuir com a sua pesquisa, indicamos o seguinte endereço eletrônico: http://ideb.inep.gov.br
DESAFIO
Quando falamos em inclusão, não é somente possibilitar às pessoas o acesso
ao sistema educacional, também é preciso que o acesso seja acompanhado da
incorporação de posicionamento crítico diante os fatos sociais.
Alcançar o posicionamento crítico dos cidadãos rumo à democracia
efetiva significa quebrar vários tabus, como o do emprego assalariado como a
única forma de obtenção de capital, por exemplo.
Neste caso, as pessoas precisam compreender e acreditar que existem
outras possibilidades de alcance de recursos financeiros, que são alternativas
ao modelo econômico do mercado.
Um caminho para chegar a esse consenso será por meio de um novo
sistema educacional, que ensine as crianças como ultrapassar as barreiras
impostas pelo mercado por meio de uma educação libertadora.
A busca, pelo indivíduo, do futuro, e a libertação dos grilhões que o amarram e o tornam obediente a uma realidade cruel somente se alcançam pela negatividade. [...] Dizer não é mostrar-se plenamente vivo e portador de uma existência ativa, é recuperar os poderes perdidos e levantar-se sobre os próprios escombros, reaprendendo a liberdade. (SANTOS, 2007, p. 74)
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
129
A afirmativa do autor deixa claro o quanto é necessário e urgente pensar
em uma alternativa ao mercado, pois, só assim, os excluídos do sistema teriam
condições de conviver em condições de igualdade.
Mais uma vez os princípios da economia solidária se apresentam como
mecanismo para que isso seja alcançado. Porém, ela só terá condições de
ser efetiva com a participação popular de fato, e isso só será possível se
aos excluídos for ofertada a condição necessária de inclusão por meio do
aprendizado coerente com esta nova demanda educacional.
Por isso é tão importante a renovação do sistema educacional, cuja
orientação deve ser direcionada para a autonomia dos envolvidos. Com isto, eles
entenderão que a economia solidária apresenta-se como uma oportunidade de
trabalho decente, não alienado, com igualdade e sem discriminação, baseada
na planificação participativa e na autogestão (GADOTTI, 2009).
EXPLORANDOEXPLORANDO
Como estamos falando muito em necessidades educacionais promotoras de liberdade, você pode até pensar que não existem ações nesta perspectiva. Entretanto, apresentamos um direcionamento educa-cional neste sentido: a publicação Economia Solidária e Trabalho disponível no endereço eletrônico:
portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/04_cd_al.pdf.
Esta é uma publicação integrante dos Cader-nos da Educação de Jovens e Adultos – EJA. Trata-se de materiais pedagógicos para o 1º e o 2º segmentos do ensino fundamental de jovens e adultos, cujo tema da abordagem é o trabalho, pela importância que ele tem no cotidiano dos alunos.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
130
A organização do saber para o alcance do trabalho decente
Pelas afirmações apresentadas até o momento, evidenciamos como
são desafiadores os caminhos para o alcance da economia solidária,
tendo em vista sua necessidade de convivência com a economia de
mercado, até que um dia, talvez, seus pressupostos consigam superar as
determinações do mercado.
Enquanto isso não acontece, devemos pensar sob a ótica da organização
do saber para que as ações de economia solidária não sejam falhas e caiam
diante da força econômica da competição de mercado.
A esse respeito, Gadotti (2009, p. 32) afirma que:
A formação se constitui numa maneira muito concreta de apoiar e dar sustentabilidade aos empreendimentos de economia solidária. Ela não se restringe a aspectos informativos e formativos, mas envolvem também aspectos organizativos e produtivos.
Neste caso, para o êxito da economia solidária, é importante que todos
os membros de um processo de cooperação recebam formação coletiva, tendo
em vista que o sistema educacional capitalista não oportuniza a criação de uma
cultura de participação, bem como de tomadas de decisões coletivas. Tal iniciativa
será capaz de oportunizar a passagem do estado ocioso para a ocupação com
qualidade de muitas pessoas que se encontram à margem do processo produtivo.
Figura 2 - Oportunidades proporcionadas pela economia solidária
Essa afirmativa nos leva a remetê-lo(a) ao capítulo 2, quando
apresentamos os princípios e as dimensões da sustentabilidade, especialmente
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
131
no que diz respeito à participação e ao controle social como uma nova cultura
para o alcance do desenvolvimento sustentável.
A Universidade Estadual de Maringá–UEM(PR), por meio da Fundação Unitrabalho, criou uma Empresa Júnior de Consultoria, que atua elaborando projetos na perspectiva da gestão de empreendimentos econômicos solidários. Um exemplo de ação neste sentido foi o projeto Resgate da cidadania, uma proposta realizada por meio de convênio entre a UEM e a Secretaria do Meio Ambiente de Maringá, cuja finalidade foi a organização coletiva para a população que sobrevive da venda dos produtos recicláveis da cidade.
CURIOSIDADE
Tendo em vista que muitas vezes o sistema distancia propostas deste
tipo de quem mais precisa, faz-se necessária a mobilização das Instituições de
Ensino Superior – IES, por meio de ações de extensão e de ação comunitária
para garantir que todos tenham acesso, de acordo com o exemplo da UEM.
Dessa forma, a autogestão apresenta-se como uma ferramenta para
o exercício da economia solidária. Como estamos falando de um processo
baseado na democracia participativa, é imprescindível a inclusão social a
partir do componente educativo, fruto da organização do saber orientado
para o alcance da democracia, cujo desdobramento será o favorecimento do
surgimento de trabalho decente para os indivíduos envolvidos.
Educação cooperativa como princípio para a autogestão
No momento em que os indivíduos perceberam que é possível a
implantação da gestão compartilhada nos negócios sustentáveis, cada vez
mais pessoas estão aderindo a tal perspectiva. Assim, o empreendedorismo
econômico solidário tem se consolidado como proposta de autogestão.
(GADOTTI, 2009)
O componente educativo está diretamente ligado ao discurso de Gadotti,
pois, para ele ser colocado em prática, é preciso reaprender a aprender.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
132
Até porque fomos educados para ser subordinados, agindo sempre de
acordo com a normalização proporcionada pelo mercado de trabalho formal
(assalariado), organizado pela cultura do capitalismo.
Assim, a autogestão está ligada ao processo de planejamento, envolvendo
questões como marketing estratégico, custos e formação de preços, pesquisa
de mercado, eficiência econômica, entre tantos termos comuns ao capitalismo.
Entretanto, não estamos afirmando aqui que a economia solidária deve
atender aos preceitos do mercado, porém, ela deve se orientar na perspectiva
da eficiência econômica da gestão.
Quando falamos em eficiência econômica não estamos direcionando-a ao
pressuposto da maximização dos recursos e, sim, à importância da manutenção
dos negócios solidários.
Por isso, é importante que todos os cooperados de um empreendimento
solidário sejam orientados, ou seja, recebam formação para a autogestão do
mesmo, tendo em vista que, além do componente solidário, é pertinente a
inclusão do componente empreendedor nesse tipo de negócio.
Por cooperativas podemos compreender a associação autônoma de pessoas, que se unem voluntariamente para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns.
DEFINIÇÃO
Para o alcance da união entre solidariedade e empreendedorismo, os
envolvidos em um projeto com a perspectiva da autogestão não podem se
distanciar do componente educativo, ou seja, a qualificação constante.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
133
Figura 3 - Oficina de formação de uma cooperativa
Mais uma vez afirmamos que, para isso ocorrer, é imprescindível a
existência de práticas pedagógicas como orientação para a formação de
lideranças que se apropriem da forma como a economia de mercado pode
funcionar, adaptando-a à gestão compartilhada entre sócios.
PRATICANDO
Tendo em vista a necessidade de uma nova orientação do saber para a articulação de negócios solidários, entre em contato com os seus colegas de turma e apresente sugestões de empreendimentos cooperativos dentro da sua área de atuação.
Solicitamos uma prática neste sentido, já que não existe receita para a
autogestão. Ela precisa ser exercitada por meio de prática executiva.
6.2.3 A economia solidária como alternativa de desenvolvimento
sustentável
Estamos na década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável
(2005 a 2014), por isso é pertinente apresentarmos a economia solidária como
um componente educativo de grande contribuição para esse fim.
Associamos a economia solidária ao desenvolvimento sustentável, e mais precisamente à vida sustentável, porque entendemos a sustentabilidade como o sonho de bem viver, o equilíbrio dinâmico com o outro e com a natureza, a harmonia entre os diferentes princípios perseguidos também pela economia solidária. (GADOTTI, 2009, p. 30)
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
134
Essa relação se deve ao fato de as premissas da sustentabilidade e
da economia solidária serem correlatas, uma vez que ambas defendem a
solidariedade, a justiça, a democracia e a igualdade. Estes fatos se refletem
no respeito à vida e no cuidado diário com o Planeta, que os princípios e
dimensões da sustentabilidade inspiram.
Acrescentamos a esse raciocínio que tanto a economia quanto o mercado
sempre existiram. A diferença entre a economia capitalista e a economia
solidária é que a primeira está fundamentada na livre concorrência geradora
de exclusão social e a segunda tem sua concepção orientada para a cooperação,
ou seja, ela privilegia o que nos une e não o que nos separa.
Para fundamentar esse raciocínio, apresentamos o discurso de Leff (2008,
p. 405), quando ele afirma que:
A transição para o terceiro milênio é uma virada dos tempos em novas direções. A sustentabilidade não poderá resultar da exploração dos processos naturais e sociais gerados pela racionalidade econômica e instrumental dominante.
Assim, podemos novamente evidenciar o quanto a economia solidária pode
ser uma alternativa de desenvolvimento sustentável. Isso é possível sim, uma vez
que ela se apropria das estratégias de gestão criadas pela economia capitalista,
entretanto, não busca a maximização dos lucros como fonte de sua existência.
Visando a apresentar uma alternativa econômica ao sistema de mercado capitalista, a Organização Não Governamental Amigos da Terra - Amazônia Brasileira criou o Balcão de Serviços para Negócios Sustentáveis, com o objetivo de gerar trabalho e renda em empreendimentos que contribuam para a proteção e uso dos recursos agroflorestais. O Balcão de Serviços para Negócios Sustentáveis atende empreendimentos comunitários, micro e pequenas empresas, que carecem de acesso aos serviços empresariais necessários para se consolidar, mas, por outro lado, demonstram determinação e compromisso na busca do crescimento de seu próprio negócio e de sua sustentabilidade. Para saber mais, acesse: http://negocios.amazonia.org.br/.
SAIBA QUE
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
135
Assim, retomamos conteúdos abordados em capítulos anteriores quando
mencionamos que o alcance da sustentabilidade está intimamente ligado com
os aspectos referentes à união harmônica das intervenções humanas com a
natureza.
Para que isso ocorra, é preciso atrelar o princípio da cooperação às
atividades econômicas, visto que
A economia é a forma como a sociedade produz e distribui o de que necessita para reproduzir e sustentar. O ato de cooperar é uma forma de trabalho em que muitos trabalham para o mesmo fim. A cooperação de pessoas no trabalho é um dos maiores avanços da humanidade. (GADOTTI, 2009, p.39)
Neste caso, evidenciamos a possibilidade de uma nova concepção da
sociedade contrária ao modo capitalista de produção. Essa sociedade se orienta
por um modelo de produção que contemple a descentralização, a participação
e a pactuação.
Assim, surge uma sociedade que, além de compreender a necessidade
das inovações tecnológicas, também está atenta para o estabelecimento
de limites para as mesmas. À medida que esse raciocínio é incorporado às
estratégias produtivas, vemos uma luz no fim do túnel rumo ao alcance
da sustentabilidade.
Não custa nada relembrar que um caminho a ser perseguido para
chagarmos a esse destino é o (re)aprendizado de como conviver com o
mesmo. Dessa forma, todos os segmentos produtivos, que pretendem adotar
a economia solidária como estratégia sustentável de gestão, devem estar
abertos ao aprendizado desse novo modelo de organização econômica.
Como dissemos anteriormente que para o êxito da economia solidária é
preciso descentralização, participação e pactuação, podemos compreender
que é necessário aprendermos a trabalhar em equipe para que as coisas
dêem certo.
Assim, podemos apresentar o associativismo como ferramenta
nesse processo de (re)aprendizado. Esse fato está fundamentado na
corresponsabilidade dos membros em redes de apoio mútuo, para distribuição
dos benefícios por meio de acordos compartilhados.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
136
Esse raciocínio nos orienta que isso tudo depende de um novo
posicionamento cultural, onde, a partir de uma cultura solidária, seja possível que
as pessoas compreendam o que é melhor para elas e para todos os envolvidos.
Assim, Gadotti (2009, p.44) evidencia que:
A economia solidária propõe uma forma de vida sustentável que concretiza a utopia socialista, a utopia de uma sociedade de iguais e diferentes: uma economia não-capitalista nos interstícios da economia capitalista. E isso pode ser feito desde já.
Reforçamos toda a discussão deste livro-texto: a mudança de postura
como forma de alcançar o desenvolvimento sustentável, uma vez que estamos
sempre apresentando inovações para a cultura produtiva. E, para que elas
sejam postas em prática, é preciso a existência de interessados para tal.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Acessando http://www.forumsocialmundial.org.br/, você poderá conhecer o Fórum Social Mundial, um espaço de debate democrático de ideias, aprofundamento da reflexão, formulação de propostas, troca de experiências e articulação de movimentos sociais, redes, ONGs e outras organizações da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo. Ele se propõe a facilitar a articulação, de forma descentralizada e em rede, de entidades e movimentos engajados em ações concretas, do nível local ao internacional, pela construção de outro mundo, mas não pretende ser uma instância representativa da sociedade civil mundial.
Embora seja bastante salutar continuarmos a discussão a respeito do
associativo como uma nova forma de organização social, não o faremos neste
capítulo. Maiores detalhes a esse respeito serão abordados nos próximos
capítulos. Até lá!
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
137
6.3 Aplicando a teoria na prática
Salão do Turismo - Roteiros do Brasil
O Salão do Turismo é uma estratégia de mobilização, promoção e comercialização dos roteiros turísticos desenvolvidos a partir das diretrizes do Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil.
Promovido pelo Governo Federal por meio do Ministério do Turismo, o evento apresenta o turismo brasileiro para quem quer viajar ou fechar bons negócios. O Salão está dividido em diversos módulos de atividades: Feira de Roteiros Turísticos, Área de Comercialização (onde o visitante pode comprar sua viagem), Vitrine Brasil (artesanato, moda, produtos da agricultura familiar, manifestações artísticas e gastronomia), Núcleo de Conhecimento, Rodada de Negócios (encontros pré-agendados entre os agentes de comercialização do produto turístico brasileiro), Missões Promocionais - Caravana Brasil (visitas técnicas de agentes de turismo/operadores) e Missões Promocionais - Press Trip (visitas técnicas de profissionais de imprensa nacional e internacional).
Dentre os espaços desse grande evento, a Vitrine Brasil é um local que tem como objetivos principais sensibilizar e conscientizar os visitantes, operadores, agentes de viagens e empreendedores do setor turístico para a valorização e a inserção dos produtos associados a viagens, empreendimentos, roteiros turísticos, além de incentivar a abertura de novos canais de comercialização aos produtores brasileiros.
http://www.salao.turismo.gov.br
Como em todas as áreas da Vitrine Brasil, o espaço Mercado da Agricultura
Familiar busca valorizar a identidade e as principais características dos destinos
turísticos, ressaltando suas riquezas de forma que seja possível agregar valor
aos roteiros turísticos para que estes sejam mais interessantes e vendáveis.
Lá são apresentados e comercializados os alimentos e bebidas produzidos e
processados por agricultores familiares das 5 macrorregiões brasileiras.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
138
Neste sentido, como podemos considerar que a união de tais produtores
em redes, cooperativas e associações pode estar atrelado ao aprendizado
oportunizado pela economia solidária?
De acordo com a apresentação do evento Salão do Turismo, podemos
observar que se trata de uma iniciativa bastante significativa, não só para o
setor, mas para toda a cadeia produtiva que tal atividade econômica agregar.
Neste sentido, como resposta ao questionamento apresentado,
observamos que: no momento em que se inclui a produção originada na
agricultura familiar neste tipo de evento, percebemos que estamos diante de
momento ímpar na história do nosso país, onde a organização do saber está
oportunizando o trabalho decente a milhares de brasileiros.
Podemos acrescentar ainda que o êxito de tais iniciativas consiste na
organização coletiva dos envolvidos por meio da cooperação mútua. Dessa
forma, é possível considerar que estamos diante de um processo de passagem
do estado ocioso para a ocupação com qualidade de muitas pessoas que se
encontram à margem do processo produtivo.
Com isso, voltar aos estudos para aprender a empreender possibilita a
fundamentação da gestão solidária e favorece a ultrapassagem das barreiras
impostas pelo mercado por meio do sistema educacional tradicional.
Portanto, ao visualizarmos espaços como o Mercado da Agricultura
Familiar sendo uma das áreas de destaque em um evento com expectativa de
mais de mais de 100.000 pessoas, percebemos como a organização do saber
tem fortalecido o exercício da economia solidária.
6.4 Para saber mais
CUNHA, Gabriela Cavalcanti; DAKUZAKU, Regina Yoneko (Org.). Uma outra
economia é possível: Paul Singer e a economia solidária. São Paulo: Contexto, 2002.
Os textos aqui reunidos mostram que, mesmo em um mundo cada
vez mais globalizado, há saídas e alternativas à lógica perversa que rege o
trabalho no capitalismo. Os autores relatam uma série de experiências bem-
sucedidas, que revelam, na prática, ser realmente possível uma outra economia,
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
139
baseada na solidariedade e na generosidade humana. O livro faz ainda uma
homenagem ao economista Paul Singer, um dos maiores estimuladores da
chamada economia solidária no Brasil.
SINGER, Paul; SOUZA, André Ricardo (org.) Economia Solidária no Brasil:
Autogestão como Resposta ao Desemprego. São Paulo: Contexto, 2000.
O economista Paul Singer e o sociólogo André Ricardo de Souza reúnem
textos de professores, pesquisadores e militantes, elaborando a mais completa
obra sobre economia solidária no Brasil. Ao abordar diversos temas da economia
solidária, tais como cooperativas, redes e fóruns, sindicalismo, autogestão,
reforma agrária e papel das universidades, os organizadores vislumbram
possibilidades concretas de combate à exclusão social e ao desemprego.
http://cirandas.net/ - Estamos falando de um site para cada
empreendimento de economia solidária no Brasil apresentar sua história e
trabalho, permitindo a articulação entre empreendimentos solidários, por meio
de redes e cadeias solidárias, possibilitando organizar compras coletivamente
com outras pessoas, para adquirir produtos diretamente de empreendimentos
solidários de todo o país.
O site do Fórum Brasileiro de Economia Solidária – FBES (http://www.
fbes.org.br/), resultante do processo que culminou no I Fórum Social Mundial
(I FSM), foi constituído por um Grupo de Trabalho Brasileiro de Economia
Solidária (GT- Brasileiro), composto de redes e organizações de uma diversidade
de práticas associativas do segmento popular solidário: rural, urbano,
estudantes, igrejas, bases sindicais, universidades, práticas governamentais de
políticas sociais, práticas de apoio ao crédito, redes de informação e vínculo às
redes internacionais. O FBES atua em três segmentos do campo da Economia
Solidária: empreendimentos da economia solidária, entidades de assessoria e/
ou de fomento e gestores públicos.
O fórum eletrônico Grupo de Interesse em Pesquisa para a Agricultura
Familiar (GIPAF - http://gipaf.cnptia.embrapa.br/) é um ponto de referência
nacional para informações científicas e análises sobre a pesquisa em agricultura
familiar e meio ambiente. A página aberta na rede mundial de computadores
visa, ao mesmo tempo, promover e estimular a comunicação, a discussão e a
cooperação entre diversos agentes envolvidos.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
140
6.5 Relembrando
Com a expectativa de contribuir para a ampliação de seus conhecimentos
no entendimento dos caminhos para o desenvolvimento sustentável,
escrevemos este capítulo 6 a respeito da economia solidária.
Assim, abordamos temas como a humanização da economia por meio
de práticas pedagógicas, além da forma como a solidariedade da economia
desponta como opção as estratégias de maximização do consumo apresentadas
pela economia de mercado capitalista.
Para ilustrar o discurso neste sentido, trouxemos a reorganização do
saber em torno das temáticas que regem a economia solidária, como, por
exemplo, a autogestão como ferramenta para a saída da ociosidade, criando
oportunidade ao trabalho decente, àqueles que ficam à margem do processo
produtivo mercantilista.
Finalizando o capítulo, destacamos a forma como a ética, compaixão,
associativismo, entre outros preceitos relacionados à economia solidária,
também estão atrelados aos princípios da sustentabilidade. Verificando esse
raciocínio evidenciamos como é intima a relação da economia solidária com
o desenvolvimento sustentável, onde essa apresenta condições de contribuir
para o mesmo.
6.6 Testando os seus conhecimentos
No limiar do terceiro milênio, a humanidade está chegando ao consenso
de que não é mais possível a convivência desarmonizada sob vários aspectos,
especialmente no tocante ao desenvolvimento sustentável.
As palavras de ordem são: mudança de postura, busca de novas opções
de organização do sistema produtivo, redimensionamento do sistema
educacional, entre tantas, para possibilitar o atendimento dos princípios e
dimensões da sustentabilidade.
Assim, surge a economia solidária, um novo conceito de modelo
econômico, o do bem viver. Para atender as demandas dessa nova forma
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 6
141
de organização da economia são criadas as necessidades de cooperação
e associativismo, apoiadas nas filosofias das decisões descentralizadas e
pactuadas pelo consenso.
Diante dessas afirmativas, pergunta-se: como o princípio da cooperação
representa uma oportunidade para a renovação dos currículos educacionais?
Onde encontrar
BALCÃO DE SERVIÇOS PARA NEGÓCIOS SUSTENTÁVEIS. Disponível em: <http://
negocios.amazonia.org.br/>. Acesso em: 02 maio 2010.
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Economia solidária e trabalho. Brasília:
Fundação Unitrabalho, 2007. (Coleção Cadernos de EJA). Disponível em: <http://
portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/04_cd_al.pdf>. Acesso em: 02 maio 2010.
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL. Disponível em: <http://www.forumsocialmundial.
org.br/>. Acesso em: 02 maio 2010.
GADOTTI, Moacir. Economia solidária como práxis pedagógica. São Paulo:
Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009.
LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade,
poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7. ed. São Paulo: EDUSP, 2007.
SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu
Abramo, 2002.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. NÚCLEO LOCAL DA UNITRABALHO.
ADECON - EMPRESA JÚNIOR CONSULTORIA. Curso de Gestão para
Empreendimentos Econômicos Solidários: COOPERMARINGÁ. Maringá (PR):
Fundação Unitrabalho, 2004. Disponível em: <http://www.unitrabalho.org.br/
imagens/arquivos/arquivos/economiasolidaria/14-12-05/UEM_Curso_Gestao_
atualizada.pdf>. Acesso em: 30 Abr 2010.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 143
7.1 Contextualizando
Olá, como vai? Já estamos chegando à reta final dos nossos estudos e
agora é hora de discutir como as políticas públicas para a economia solidária
podem ser estímulo de autogestão e cooperativismo.
Assim, neste capítulo 7, iremos abordar as políticas públicas no contexto
da economia solidária, demonstrando o quanto essa temática é recente,
especialmente no Brasil, cujo surgimento se deu apenas no século XXI.
Outro detalhe que abordaremos será a forma como a gestão compartilhada
entre poder público e movimentos sociais apresenta contribuição para a formação
de redes de cooperação e autogestão, por meio do estímulo ao protagonismo social,
principalmente em regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Humano – IDH.
Ao final deste capítulo, esperamos que você esteja apto a:
� Entender a relação entre políticas públicas e economia solidária;
� Perceber a importância da parceria do poder público com os movimentos
sociais para a execução das políticas direcionadas a economia solidária;
� Verificar a contribuição da comunicação gerada pelas redes de cooperação
para as iniciativas de economia solidária.
Esperamos que seu estudo seja tão proveitoso quanto nos capítulos
anteriores. Até o próximo capítulo!
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A ECONOMIA SOLIDÁRIA: ESTÍMULO À AUTOGESTÃO
E COOPERATIVISMO
CAPÍTULO 7
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
144
7.2 Conhecendo a teoria
7.2.1 Um pouco de política pública
Para entendermos como funcionam as políticas públicas para a economia
solidária, precisamos compreender o que significa política pública e como ela
se constrói.
Neste sentido, podemos considerar a política pública como um processo
de planejamento, no qual se inserem vários atores: poder público (executivo,
legislativo e judiciário), iniciativa privada, sociedade civil organizada (ONGs e
Movimentos Sociais).
EXPLORANDOEXPLORANDO
Caso você tenha interesse, aprofunde seu conhecimento sobre a forma como ocorre a participação de cada um nesse tema consultando o documento Políticas públicas: um debate conceitual e reflexões referentes à prática da análise de políticas públicas no Brasil, disponível no endereço eletrônico:
http://www.ipea.gov.br/pub/ppp/ppp21/Parte5.pdf.
Consideramos ainda que, para o bom funcionamento de uma política
pública, é preciso envolvimento e participação democrática de todos. Essa
afirmativa encontra maior reforço quando verificamos que, para a construção
de uma política pública, muitos são os interesses envolvidos, e os direitos da
coletividade sempre devem estar acima dos demais.
Mais uma vez, enfatizamos que para o exercício cidadão na elaboração
das políticas públicas, é preciso que este esteja consciente do seu papel. Tal
consciência somente se fará visível por meio de transformações profundas no
sistema educativo.
Ainda a esse respeito, Santos (2007, p. 154) afirma:
A educação não tem como objeto real armar o cidadão para uma guerra, a da competição com os demais. Sua finalidade, cada vez menos buscada e menos atingida, é a de formar gente capaz de se situar corretamente no mundo e de influir para que se aperfeiçoe a sociedade humana como um todo.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
145
Neste sentido, falar em política pública com participação dos cidadãos
significa esperar que os mesmos apresentem condições críticas para formular
respostas a inúmeras situações-problema no mundo contemporâneo.
São questões relacionadas à saúde, educação, habitação, distribuição
de terras, investimentos sociais, infraestrutura, entre tantas demandas que
permeiam a distribuição e destinação dos recursos públicos. Incluso nessa
extensa lista está a economia solidária como um setor requerente de políticas
que contribuam para a articulação da mesma em condições de igualdade com
a economia capitalista de mercado.
Favorecer articulações de forma igualitária significa criar mecanismos
que promovam a autogestão, o cooperativismo, por meio da organização e
sistematização de rede de cooperação e de distribuição dos produtos e serviços
oriundos da economia solidária.
Figura 1 - Todos juntos em um só destino: a economia solidária
Cooperativismo
Autogestão
Rede de Cooperação
Neste caso, estamos falando de assistência e não de assistencialismo
(distribuição de recursos financeiros, visando ao atendimento de necessidades
básicas, como comer e vestir). Colocamos aqui a necessidade de posicionamentos
iguais de atenção, pois, assim como os recursos públicos são destinados a
financiamentos ou até são deixados de ser arrecadados (no caso da isenção de
impostos) para fortalecer o setor produtivo privado capitalista, eles também
podem ser canalizados para o incremento da economia solidária.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
146
Assim, fortalecer a economia solidária brasileira é garantir que se
cumpram os pressupostos expressos no artigo 3º da Constituição da República
Federativa do Brasil:
Art. 3º constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (BRASIL, 2008, p. 13)
Portanto, falar em política pública significa garantir que a participação
democrática cidadã não fique restrita a enunciados da legislação, ou ainda aos
discursos políticos. É preciso colocá-la em prática e uma boa chance para que
consiga êxito nessa intenção é a prática da economia solidária.
LEMBRETELEMBRETE
É importante que você lembre que, conforme visto no capítulo 6, a economia solidária é um processo que exige cooperação, corresponsabilidade, comunicação, comunidade, o chamado fator C. E esses são fatores imprescindíveis à boa construção de políticas públicas.
7.2.2 Política pública e economia solidária
O movimento popular direcionado para a economia solidária no formato
que temos nos dias de hoje é consideravelmente recente. Apesar de ser um
movimento com raízes no mundo inteiro, foi na América Latina que ele
ganhou força e apresenta as melhores práticas neste sentido.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
147
Um ícone desse período, que permanece em atividade até os dias atuais, é o Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul – PACS, uma organização sem fins lucrativos dedicada ao Desenvolvimento Solidário. A instituição foi fundada em 1986, como parte brasileira do PRIES – Programa Regional de Investigações Econômicas e Sociais para o Cone Sul da América Latina. A proposta do PACS é colocar o trabalho e a criatividade de sua equipe à disposição dos movimentos sociais, das entidades eclesiais, dos governos populares, dos grupos de produção associada, das escolas públicas e de outras organizações de desenvolvimento solidário.
Caso você deseje saber mais sobre esta insti-tuição, acesse http://www.pacs.org.br, onde você irá encontrar um vasto conteúdo na perspectiva da economia solidária.
SAIBA QUE
Assim, as iniciativas em prol da economia solidária começaram a ganhar
terreno no campo das políticas públicas a partir da década de 1990. No Brasil
essa realidade teve maior visibilidade a partir do ano de 2003, com a criação da
Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES, no âmbito do Ministério
do Trabalho e Emprego – MTE.
A Secretaria Nacional de Economia Solidária - SENAES - foi criada no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego com a publicação da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003 e instituída pelo Decreto n° 4.764, de 24 de junho de 2003 [...] Em consonância com a missão do Ministério do Trabalho e Emprego, tem o objetivo viabilizar e coordenar atividades de apoio à Economia Solidária em todo o território nacional, visando à geração de trabalho e renda, à inclusão social e à promoção do desenvolvimento justo e solidário. (BRASIL, 2010)
SAIBA QUE
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
148
A SENAES é fruto de discussões ocorridas no III Fórum Social Mundial, ocorrido
em 2002, sendo considerada parte da história de mobilização e articulação do
movimento da economia solidária existente no país. (BRASIL, 2010)
Esse fato é considerado por muitos autores como um divisor de águas na
política pública brasileira para a economia solidária. Entre eles, apresentamos
Gadotti (2009, p. 51), que considera o seguinte: “Tudo isso só foi possível
porque o governo Lula valorizou a educação não-formal e inclusiva como
educação política e cidadã, que permeia hoje vários ministérios”. À frente da
SENAES está o economista Paul Singer.
Paul Israel Singer nasceu em Viena na Austria em 24 de março de 1932, é radicado no Brasil desde 1940. Pela trajettória acadêmica de estudo e propostas para a implantação da economia solidária, Singer é considerado uma referência mundial no assunto. Entre uma de suas realizações está o apoio à criação da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da USP em 1998..
BIOGRAFIA
A partir da articulação do secretário Paul Singer, surgem alguns projetos,
como o de Promoção do Desenvolvimento Local e Economia Solidária – PPDLES,
criado em 2006 com a perspectiva de
promover a geração de emprego e renda, estimular o desenvolvimento sustentável e solidário e fortalecer os empreendimentos de economia solidária em comunidades historicamente excluídas. Diversos segmentos são atendidos pelo projeto. São eles: Mulheres, Juventude, Quilombolas, Indígenas, Desenvolvimento Comunitário, Trabalhadores Desempregados, Cadeias e Redes de Economia Solidária, Catadores de material reciclável e Turismo, que totalizam 252 agentes em todo o país. (BOLETIM INFORMATÍVO PPDLES, 2006)
Assim, a SENAES é reflexo do posicionamento de décadas dedicadas à
pesquisa em nome da economia solidária do Secretário à frente da mesma.
Ainda neste contexto surge a figura de agente de desenvolvimento solidário
como um instrumentador executivo das ações de economia solidária.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
149
DEFINIÇÃODEFINIÇÃO
Agente de desenvolvimento solidário é um profissional que tem a capacidade de relacionamento e articulação com diversos segmentos sociais (associações locais, órgãos públicos, ONGs, universidades, sindicatos, movimentos sociais, etc.). Ele elabora relatórios e coordena reuniões direcionadas para o desenvolvimento local.v
Como reflexo das ações em escala federal, as propostas em nível local
já despontam como iniciativas promissoras. Um exemplo a ser citado é o da
Prefeitura Municipal de Porto Alegre (RS), apresentando um novo conceito
de governo.
Este novo conceito está expresso no Programa Nossa Cidade, nosso
futuro, uma proposta que visa a articular poder público, inciativa privada e
sociedade civil organizada para a indução do desenvolvimento local, a partir
da criação de um ambiente favorável para o investimento em capital social.
No capítulo 5, citamos o exemplo da Expo Xangai como um divisor de
águas para as tecnologias limpas (em especial a edição 2010). Neste evento, o
sucesso da pioneira experiência gaúcha foi comprovado, pois ela teve seu lugar
de destaque no mesmo como um exemplo de proposta para o desenvolvimento
local com enfoque na democracia participativa e na articulação conjunta de
poder público, sociedade e iniciativa privada.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Para enriquecer seu conhecimento acerca da experiência desenvolvida no Município de Porto Alegre, acesse http://www2.portoalegre.rs.gov.br/expo2010/ e confira os detalhes deste caso de sucesso com reconhecimento internacional.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
150
7.2.3 As parcerias entre o poder público e os movimentos sociais
para autogestão e a economia solidária
No capítulo anterior, iniciamos a conversa sobre autogestão com a
proposta de continuá-la em momento posterior do nosso livro-texto. Você
lembra o que é autogestão?
LEMBRETELEMBRETE
No capítulo 6, dissemos que a autogestão é um processo baseado na democracia participativa, que se apresenta como uma ferramenta para o exercício da economia solidária, cujo desdobramento ocasiona o favorecimento do surgimento de oportunidades de trabalho decente para os indivíduos envolvidos.
Neste momento, iremos apresentar exemplos práticos para o alcance da
economia solidária por meio da autogestão. Assim, elegemos algumas propostas
constantes no âmbito das políticas públicas, que podem ser apropriadas para nossa
discussão, tais como: a Rede de Educação Cidadã, o MOVA-Brasil e o PlanSeQ-Ecosol.
a) A Rede de Educação Cidadã (www.recid.org.br/)
Essa rede tem a missão de realizar processos sistemáticos de sensibilização,
mobilização e educação cidadã junto à população brasileira, promovendo
a participação ativa e consciente na formulação e controle social nas
políticas estruturantes de segurança alimentar e nutricional, incentivadas
pelo Fome Zero, na superação da miséria, afirmando um projeto popular,
democrático e soberano da nação.
Mais de 989 entidades envolvidas no combate à miséria e pobreza e na
mobilização para a cidadania da população brasileira estão integradas
a esta rede. A superação da fome, reforço da autoestima e conquista de
uma política de segurança alimentar e nutricional a partir da organização
popular e da inclusão, bem como a construção de alternativas que
ajudem as famílias a encontrarem as “portas de saída” aos programas de
transferência de renda e capacitação dos(as) cidadãos(ãs) para o controle
social dos gastos públicos, são aspectos que norteiam o trabalho da rede.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
151
A Rede de Educação Cidadã trabalha a partir de três linhas de ação:
� Consolidação da Rede de Educação Cidadã;
� Democratização do acesso e controle social das políticas estruturantes de
superação das situações de miséria e fome;
� Formação de Educadores/as populares e agentes multiplicadores/as,
respeitando a autonomia do diversificado trabalho de educação popular
nas regiões brasileiras.
PRATICANDOPRATICANDO
Ao acessar o link http://www.recid.org.br/ e procurar pela sala de debates, você poderá entender melhor como funciona essa rede de educação, participando dos fóruns de discussão a respeito da temática da economia solidária.
b) O Projeto MOVA–Brasil (www.paulofreire.org/Programas/MovaBrasil)
Esse é um projeto nasceu fundamentado na filosofia de Paulo Freire, cuja
proposta é orientar a ação pedagógica com base na leitura de mundo.
Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997): foi um educador e filósofo brasileiro. Destacou-se por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.
BIOGRAFIA
Inspirado no Movimento de Educação para Jovens e Adultos, esta é
uma ação fruto da parceria entre a Petrobras, a Federação Única dos
Petroleiros – FUP e o Instituto Paulo Freire – IPF.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
152
Desde 2008, o projeto é desenvolvido nos seguintes estados: Rio de
Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio
Grande do Norte, Ceará e Amazonas.
c) O PlanSeQ-Ecosol
O Plano Setorial de Qualificação em Economia Solidária – PlanSeQ-Ecosol
é mais uma parceria entre Ministério do Trabalho e Emprego e o Instituto
Paulo Freire. Trata-se de um projeto de qualificação social e profissional de
trabalhadores de empreendimentos econômicos solidários, organizados
em redes ou cadeias de produção e comercialização.
Com versões anuais desde 2006, este plano integra o Plano Nacional de
qualificação e sua execução tem ligação direta com a Rede Mova Brasil.
Acesse o endereço eletrônico http://www.paulofreire.org/ e identifique outras propostas de ação fundamentadas na parceria poder público e movimentos sociais para a autogestão e a economia solidária.
DESAFIO
7.2.4 A comunicação como ferramenta para a economia solidária
No capítulo 6, apresentamos o http://cirandas.net/ como um espaço
para a articulação entre empreendimentos solidários, por meio de redes e
cadeias solidárias, possibilitando organizar compras coletivamente com outras
pessoas, para adquirir produtos diretamente de empreendimentos solidários
de todo o país.
Agora, iremos incrementar essa discussão tratando da forma como
a articulação em redes tem facilitado a difusão desse tipo de organização
econômica com base na cooperação mútua dos envolvidos.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
153
Fortalecendo essa afirmativa, GADOTTI (2009, p.56) diz que
O Movimento por uma outra economia não está separado de um conjunto de movimentos sociais e populares que, em diversos campos, têm lutado por um outro mundo possível e reinventado modos de vida sustentáveis, produtivos e justos. É nesse contexto mais amplo que aparecem também novos métodos, traduzidos por novas expressões, tais como a de “tecnologia social”, que tem tudo a ver com a economia social e solidária.
Vale salientar, ainda, que o lucro não é o objetivo principal dos envolvidos
nessas redes, e sim a busca da ocupação digna capaz de gerar dividendos que
favoreçam a sobrevivência dos envolvidos.
Neste sentido, para garantir o fortalecimento das redes e integrando as
ações da SENAES, em 2006 é instituído o
Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária - SIES com a finalidade de identificação e registro de informações de Empreendimentos Econômicos Solidários e de Entidades de Apoio, Assessoria e Fomento à Economia Solidária no Brasil. (BRASIL, 2006)
EXPLORANDOEXPLORANDO
Consultando o link http://www.mtb.gov.br/ecosolidaria/sies.asp, você poderá conferir informações acerca de Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) e de Entidades de Apoio, Assessoria e Fomento (EAF).
Assim, fica claro que a articulação da economia solidária está
diretamente ligada com o gerenciamento de informações. Neste caso, as
redes de cooperação são um excelente espaço para socialização de estratégias
bem sucedidas na sua execução. Mais uma vez enfatizamos a necessidade da
inclusão de ferramentas educativas neste processo.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
154
E por que batemos tanto na tecla da educação como indutora da economia solidária? Você já parou para pensar quem é o público-alvo da economia solidária? São aqueles que se encontram à margem do processo produtivo da economia de mercado, não é mesmo?
Então, é preciso qualificar essas pessoas para que consigam gerenciar as novas formas de tecnologia social.
REFLEXÃO
Outro exemplo que podemos citar sobre a questão da comunicação é
o Ciranda Brasil (http://www.ciranda.net), uma iniciativa de comunicação
compartilhada, cuja premissa é: “Para que outro mundo seja possível, é preciso
reinventar a comunicação”.
7.2.5 As redes de cooperação para a economia solidária
Para finalizar este capítulo, trazemos algumas redes de cooperação que
se articulam com as políticas públicas para a promoção da autogestão e da
cooperação, premissas da economia solidária.
Elas são apontadas por Moacir Gadotti como parceiras do Instituto Paulo
Freire na execução do PlanSeQ-Ecosol. São elas: Movimentos em Rede, Unisol
– Brasil, Grupo Colmeias, ANTEAG e IRPAA.
a) Movimentos em Rede (http://www.emrede.org/)
A Movimentos em Rede é uma organização sem fins lucrativos, cuja
missão é fortalecer as articulações em rede dos movimentos populares
e organizações sociais para que possam ampliar suas ações e alcançar
maior representatividade política.
A atuação prévia da equipe que forma a Movimentos em Rede junto
a diversas organizações de base revelou que geralmente o impacto
de suas atividades se restringe à questão local, com baixa influência
na formulação de políticas públicas. Esse isolamento, associado a uma
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
155
dinâmica social que banaliza as desigualdades, resulta em políticas
compensatórias e avanços escassos na área social.
Por isso, a Movimentos em Rede investe no estreitamento das relações
entre organizações e em novas formas de mobilização, que sejam
fundamentadas em práticas democráticas, com participação política
e socialmente inclusiva.
b) Unisol – Brasil (http://www.unisolbrasil.org.br/inicio.wt)
A União e Solidariedade das Cooperativas Empreendimentos de
Economia Social do Brasil – UNISOL-Brasil consiste em uma associação
civil sem fins lucrativos, de âmbito nacional, de natureza democrática,
cujos fundamentos são o compromisso com a defesa dos interesses reais
da classe trabalhadora, a melhoria das condições de vida e de trabalho
das pessoas e o engajamento no processo de transformação da sociedade
brasileira em direção à democracia e à uma sociedade mais justa.
Com base em laços de solidariedade e cooperação, a associação
tem por objetivo principal reunir as entidades, empresas coletivas
constituídas por trabalhadores e quaisquer outras modalidades de
pessoas jurídicas, que atendam às finalidades do seu estatuto, a fim de
promover efetivamente a melhoria socioeconômica de seus integrantes,
garantindo-lhes trabalho e renda com dignidade.
c) O Grupo Colmeias (http://www.colmeias.org.br/)
O Grupo Colmeias de Projetos, Assessorias e Serviços é uma ONG de direito
privado, com personalidade jurídica própria, de caráter ecumênico, com
autonomia administrativa e financeira, sem fins lucrativos. Trata-se de
um Grupo de ação social a serviço dos movimentos sociais, em diversas
atividades no campo e na cidade.
Este grupo possui a missão de atuar com criatividade, qualidade e
autonomia, possibilitando aos sujeitos e atores sociais construírem
alternativas políticas, econômicas e culturais, buscando, em harmonia
com a natureza, as mudanças sociais.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
156
d) A ANTEAG (http://www.anteag.org.br)
A Associação Nacional de Trabalhadores e Empresas de Autogestão –
ANTEAG é uma entidade que assessora a empresas e empreendimentos
de autogestão em diversos setores no Brasil.
Este trabalho é desenvolvido a partir do incentivo à construção, divulgação
e desenvolvimento de modelos autogestionários, que contribuam para
criar/recriar trabalho e renda, desenvolvendo a autonomia e formação dos
trabalhadores, estimulando ações solidárias e fraternas e representando
as empresas/empreendimentos autogestionários.
e) O IRPAA (http://www.irpaa.org/)
O Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA é
uma ONG sediada em Juazeiro, na Bahia. Por seus diversos projetos, a
organização propõe soluções eficazes, que respeitam as características
do povo e das terras desta região do semiárido brasileiro. O IRPAA
busca a convivência harmônica a partir do conhecimento e do domínio
das técnicas de produção apropriadas para este clima, buscando uma
distribuição justa das terras, das águas e políticas públicas.
Chegamos ao final de mais um “Conhecendo a teoria”. No próximo
capítulo, trataremos do desenvolvimento comunitário x desenvolvimento
estratégico, finalizando este tema, bem como o conteúdo programático
desta disciplina Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental. Até lá!
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
157
7.3 Aplicando a teoria na prática
Bancos comunitários e moedas paralelas
Você conhece o Real, o Dólar, o Euro. Mas sabia que muito mais moedas correm pelas transações comerciais, aqui no Brasil? Milhares de Reais estão impressos em cédulas de moedas alternativas, em todo o país. Mas, de onde vem esse dinheiro novo? A resposta está nos bancos comunitários. Eles são o resultado de projetos de apoio a economias populares de municípios de baixo IDH e prestam serviço financeiro solidário em rede de natureza associativa e comunitária, voltados para a geração de trabalho e renda. Esses bancos são de propriedade da comunidade, que também é responsável por sua gestão.
Os bancos atuam então com duas linhas de crédito: uma em Real e outra em moeda social circulante. Estas linhas de crédito estimulam a criação de uma rede local de produção e consumo, promovendo o desenvolvimento da comunidade, de fora para dentro. A Secretaria Nacional de Economia Solidária aposta muito no projeto que motiva a inauguração de novos bancos comunitários.
http://vilamulher.terra.com.br/bancos-comunitarios-e-moedas-paralelas-5-1-38-158.html.
No decorrer deste capítulo, você percebeu o quanto a organização social
por meio das redes é fator decisivo para a implantação das políticas públicas
de economia solidária. Também foi demonstrado que este é um movimento
recente já que a sua inclusão em nível federal, como um setor específico da
estrutura de governo, é muito recente.
Assim, os ensinamentos de ícones como Paul Singer e Paulo Freire estão sendo
postos em prática do ponto de vista das redes de cooperação e autogestão. Diante
do exposto, é possível afirmar que existe contribuição dos bancos comunitários e
das moedas paralelas para o fortalecimento das iniciativas de economia solidária?
Podemos responder essa pergunta passeando pelo Conhecendo a Teoria
deste capítulo 7, uma vez que estamos falando da articulação entre sociedade e
poder público para a sua execução. É válido afirmar a necessidade fundamental
da existência dessa articulação, pois, por mais organizadas que forem as
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
158
comunidades que detêm em seu território esse tipo de sistema financeiro, a
ausência de políticas públicas faria com que o processo ficasse estacionado.
Para gerenciar um processo minucioso como é o do sistema bancário, é
preciso conhecimento e este não se encontra na esquina. É preciso estimular
programas de qualificação, como é o caso do PlanSeQ-Ecosol, pois cidadãos
que se encontram à margem do processo produtivo certamente o estão por
falta de qualificação profissional. Neste sentido, sem ela também ficaria
inviabilizado qualquer processo de autogestão.
Além disso, para o sucesso de iniciativas como essa é preciso que esse
conhecimento seja canalizado para o trabalho em equipe, por meio do
incentivo à autogestão com a participação de todos os envolvidos.
Ao aglutinar todos esses requisitos, a comunidade pode implantar essa
nova modalidade financeira, passando a ter maior controle do seu sistema
econômico. Assim, é possível girar a economia da comunidade, com esses
novos dinheiros criados e aceitos apenas pelo varejo local. Eles ampliam o
poder de comercialização, aumentando a riqueza circulante na comunidade,
gerando trabalho e renda.
Dessa forma, qualquer produtor/comerciante cadastrado no Banco
Comunitário pode trocar moeda social por Reais, caso necessite fazer uma
compra ou pagamento fora do município/bairro, fazendo com que o controle
e as riquezas geradas pela moeda fiquem na comunidade.
Portanto, é possível sim afirmar que, para o fortalecimento da economia
solidária, iniciativas como os bancos comunitários e as moedas paralelas são
um divisor de águas.
7.4 Para saber mais
ENCONTRO BRASILEIRO DE CULTURA E SOCIOECONOMIA SOLIDÁRIAS, 2000.
Mendes, RJ. Construindo a rede brasileira de socioeconomia solidária. Rio de
Janeiro: PACS – Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul, s.d. Disponível
em: < http://www.ifil.org/redesolidaria/>. Acesso em: 17. maio 2010.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
159
O objetivo deste documento de trabalho é compartilhar uma síntese
das reflexões e propostas elaboradas no Encontro Brasileiro de Cultura e
Socioeconomia Solidárias, realizado em Mendes, Rio de Janeiro, de 11 a 18
de junho de 2000.
O evento contou com a participação de aproximadamente 80 pessoas,
integrantes de empreendimentos econômicos solidários ou de organizações
de apoio a essas iniciativas - em sua maioria provenientes de diversas regiões
do Brasil - contando com a participação de alguns representantes de outros
países da América Latina e Europa.
PACS - Instituto Políticas Alternativa para o Cone Sul. Moeda Social e Trocas
Solidárias: experiências e desafios para ações transformadoras. Rio de Janeiro,
PACS, 2005. (Série Semeando Socioeconomia, volume 8). Disponível em: < http://
www.pacs.org.br/uploaded_files/20090107073315_printed_serisesemeando_
c2VtZWFuZG84LnBkZg==.pdf>. Acesso em: 17. maio 2010.
Esta publicação é uma obra aberta e coletiva e pode ser lida de forma
modular, não consecutiva. É direcionada para diferentes leitoras e leitores,
que se interessem, de algum modo, por informações sobre socioeconomia
solidária, trocas solidárias e moedas sociais.
Associação Brasileira das Organizações não governamentais - http://www.
abong.org.br/.
A Abong foi fundada em agosto de 1991. Entre suas principais ações
podemos citar: a realização de um cadastro de ONGs atuantes no país; o apoio
aos processos regionais, estaduais e locais de articulação; o estímulo a reflexão
acerca da relação entre a Associação e os movimentos sociais, bem como acerca da
interlocução entre as ONGs de desenvolvimento e organizações ambientalistas.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Avaliação das políticas públicas de
economia solidária. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/economiasolidaria/
pub_avaliacao_políticas_publicas.pdf>.
Este documento apresenta uma pesquisa, cujo propósito maior é
conhecer em maior profundidade a natureza e singularidades desse gênero
novo de política pública no Brasil, voltado para o tema da economia solidária.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
160
7.5 Relembrando
Neste capítulo, você foi apresentado ao universo das políticas
públicas, passando por aspectos da sua concepção, inclusive como direito
constitucional garantido, com enfoque principal a políticas direcionadas à
economia solidária.
Abordamos também alguns aspectos que contribuem para sua
consolidação, como, por exemplo, a concepção de parcerias entre o poder
público e os movimentos sociais para a execução deste novo modelo de
organização econômica.
Finalizando, trouxemos alguns exemplos de organizações originadas nos
movimentos sociais, bem como sua contribuição por meio da formação das
redes para as iniciativas de economia solidária.
7.6 Testando os seus conhecimentos
Com o advento da democracia, especialmente nos países da América
Latina, a participação popular torna-se um ingrediente significante para a
concepção das políticas públicas de qualquer país.
Neste sentido, quando falamos de políticas direcionadas ao incentivo
à economia solidária, podemos considerar que movimentos como o Fórum
Social Mundial são de extrema contribuição para o estímulo à participação
popular com este foco.
Sabendo que as políticas públicas brasileiras direcionadas à economia
solidária são originárias das pressões populares advindas dos desdobramentos
deste fórum de discussão, pergunta-se:
Qual a contribuição dos movimentos da sociedade civil organizada para
o incremento das políticas públicas de economia solidária?
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 7
161
Onde encontrar
Boletim Informativo PPDLES, 2006.
BRASIL, 2010 - Portaria de criação da SENAES, no âmbito do Ministério do
Trabalho e Emprego – MTE. - http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/secretaria_
nacional_apresentacao.asp.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado
Federal, 2008.
GADOTTI, Moacir. Economia solidária como práxis pedagógica. São Paulo:
Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009.
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7. ed. São Paulo: EDUSP, 2007.
Políticas públicas: um debate conceitual e reflexões referentes à prática da
análise de políticas públicas no Brasil, disponível no endereço eletrônico:
http://www.ipea.gov.br/pub/ppp/ppp21/Parte5.pdf.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 163
8.1 Contextualizando
Olá! Estamos chegando ao final do conteúdo programático da nossa
disciplina Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental. Dentre os temas
abordados, a cidadania planetária, o desenvolvimento sustentável, a ecologia
humana e a economia solidária permearam a nossa discussão rumo ao
entendimento sobre as possibilidades de intervenção do homem na natureza
em busca do desenvolvimento sustentável.
Agora, vamos trilhar neste capítulo 8 por um conteúdo que, de modo
geral, retomará temas que já foram abordados durante toda a disciplina, ou
seja, traremos do desenvolvimento comunitário como possibilidade para o
alcance do grande desafio da sustentabilidade.
Nossa intenção aqui não é esgotar os assuntos que permeiam essa temática
e sim apresentar a ponta para um novelo inesgotável, chamado conhecimento.
Assim, traremos novamente a questão cultural como um fator imprescindível
a adoção de novas práticas econômicas, apresentando iniciativas de estímulo ao
desenvolvimento local, juntamente com casos práticos dessa temática.
Para finalizar, discutiremos a dimensão da contribuição do desenvolvimento
comunitário para o alcance do almejado desenvolvimento sustentável.
Neste sentido, ao final deste capítulo você deve estar apto a:
� Entender como se processa a cultura do desenvolvimento comunitário;
� Perceber iniciativas de estímulo a este modelo de desenvolvimento;
� Verificar o desenvolvimento local na prática.
DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIOX
DESENVOLVIMENTO ESTRATÉGICO
CAPÍTULO 8
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
164
Esperando estimular o seu “eu” pesquisador de modo que, ao final do
conteúdo programático dessa disciplina, não se esgotem suas buscas pelo
conhecimento acerca do Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental,
desejamos um excelente estudo!
8.2 Conhecendo a teoria
8.2.1 Entendendo a cultura do desenvolvimento comunitário
Você percebeu que o alcance do desenvolvimento sustentável tem profunda
ligação com a cultura de cada povo, conforme tratamos no capítulo 2. Incrementando
essa discussão, trouxemos, nos capítulos 6 e 7, a economia solidária como uma
alternativa de organização cultural para o sistema produtivo, possibilitando a inserção
daqueles que, por diversos motivos, ficam à margem da economia capitalista.
Saiba que “toda organização cultural é um complexo sistema de valores, ideologias, significados, práticas produtivas e estilos de vida que se desenvolveram ao longo da história e se especificam em diferentes contextos geográficos e ecológicos” (LEFF, 2008, p. 327).
SAIBA QUE
Isso indica que, neste século XXI, estamos diante de inúmeras necessidades
de mudança de postura, desde as simples atitudes cotidianas de combate ao
desperdício até a forma de compreender e assumir um novo sistema produtivo.
Este, por sua vez, deve contemplar aspectos da ecologia humana orientada
por uma convivência harmônica do ser humano com a natureza.
Para que isso ocorra, é pertinente ressaltar a necessidade do compromisso
político de todos os envolvidos nessa causa, expressos no movimento
ambientalista, de modo que seja possível pensar em soluções, que possam ser
executadas de forma prática e com custo acessível.
Novamente nos deparamos com a relação estreita entre o alcance da
sustentabilidade e a formação cultural dos povos envolvidos nesta empreitada,
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
165
de modo que cada localidade perceba formas alternativas à cultura capitalista.
Neste sentido, desde o capítulo 6 tratamos de temas relacionados à
economia solidária como perspectiva de gestão direcionada ao estímulo da
autogestão e do cooperativismo.
LEMBRETELEMBRETE
A economia solidária se apresenta como uma alternativa à economia de mercado, contemplando aspectos como respeito ao meio ambiente, produção correta sem utilizar mão de obra infantil, respeito à cultura local, aliados a uma busca constante pela cidadania e pela igualdade.
Assim, para continuarmos nossa discussão a respeito do associativo como
uma nova forma de organização social, é preciso compreender que o mesmo
está atrelado ao desenvolvimento local, ou seja, comunitário.
Dessa forma, na busca de alternativas de desenvolvimento com condições
de igualdade entre os envolvidos, vários organismos nacionais e internacionais
têm buscado estimular a implantação de propostas que priorizem o
protagonismo social (os indivíduos como atores principais no processo) a partir
do desenvolvimento comunitário.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Acessando o link http://www.pnud.org.br/projetos/pobreza_desigualdade/, você poderá navegar no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e verá como este apoia propostas de cunho comunitário, por meio de quatro eixos principais: a introdução de políticas que visam fortalecer setores críticos para o desenvolvimento humano; a promoção dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio e do desenvolvimento humano sustentável; o fortalecimento de distintos segmentos das políticas públicas, como desenvolvimento social, educação, saúde, cultura, esporte, direitos humanos, justiça e segurança pública; e a cooperação técnica prestada e recebida no âmbito da cooperação sul-sul.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
166
Neste caso, fazendo uma ponte com a questão do desenvolvimento
comunitário local como ferramenta para o desenvolvimento sustentável, ainda
referenciamos o posicionamento de Leff (2008, p. 328), quando ele afirma que:
Nas áreas rurais do Terceiro Mundo, as práticas sociais e produtivas estão intimamente associadas a valores e processos simbólicos que organizam as formas culturais de apropriação da natureza e a transformação do meio ambiente. A organização cultural regula o uso de recursos para satisfazer as necessidades de seus membros.
Embora pareça que estamos dando conotação ao desenvolvimento
comunitário apenas nas atividades desenvolvidas em áreas rurais, não é esta
a nossa intenção. Se assim fosse, agir de acordo com essa premissa estaria
inviabilizando o desenvolvimento comunitário em todo o mundo, uma vez
que grande parte da população mundial se concentra em grandes metrópoles
e em seu entorno.
Falar em desenvolvimento local é caracterizá-lo do ponto de vista da
superação da visão que atrela o desenvolvimento exclusivamente a aspectos
econômicos, uma vez que é preciso considerar o capital humano, social,
empresarial e natural da localidade, seja ela rural ou urbana.
PRATICANDOPRATICANDO
Você pode visualizar essa teoria na prática ao levantar dados sobre a ASCAMAR (Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis), uma instituição fundada em 1999 pela necessidade de proporcionar trabalho digno àqueles que retiravam seu sustento a partir do lixão de Cidade Nova, um bairro da cidade do Natal-RN.
O que importa neste contexto é a forma como as comunidades se
organizam, ou seja, qual a cultura organizacional utilizada. Assim, deveremos
observar quais as características econômicas observadas nestes espaços:
competitiva/capitalista ou cooperativa/solidária.
Perceber esses aspectos fará toda a diferença na hora de apresentarmos
modelos de condução equitativa do sistema econômico com a natureza.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
167
8.2.2 Algumas iniciativas de estímulo ao desenvolvimento
comunitário estratégico
Ao longo deste livro-texto, percebemos o quanto a sociedade civil, o
poder público e o terceiro setor têm buscado estimular o desenvolvimento local,
ou seja, o desenvolvimento comunitário como estratégia para o protagonismo
social, aliado com o manejo ambiental sustentável.
No capítulo 7, trouxemos exemplos de parcerias criadas neste sentido,
bem como da organização de redes de comunicação como um espaço para
produção e disseminação de conhecimento.
Estimular a prática da solidariedade econômica por meio de mecanismos
como autogestão e cooperativismo é um elemento de considerável
aplicabilidade para garantir a adoção de “valores universais como vida saudável
e longa, educação, participação política, democracia social e participativa [...],
garantia de respeito aos direitos humanos e de proteção contra a violência
[...].” (BOFF, 2004, p.138).
Isso demonstra que estamos diante da busca pelo princípio de uma
economia para o “bem viver”, como defende Moacir Gadotti.
CONCEITOCONCEITO
O conceito de bem viver refere-se à busca de uma vida digna, dentro das condições que dispomos hoje, sem adiar a vida plena para amanhã, quando conseguirmos todas as condições concretas de bem viver. Ele implica no bem-estar pessoal no ambiente onde vivemos e trabalhamos, implica manter relações interpessoais com ênfase na ética, no respeito e no companheirismo. (GADOTTI, 2009, P. 117)
Analisando este conceito, percebemos que nunca é demais divulgar
instituições e programas que trabalham em prol dessa necessidade,
especialmente os que têm estimulado e apresentado metodologias na
intenção de mostrar o desenvolvimento comunitário como uma possibilidade
de desenvolvimento estratégico.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
168
Dando continuidade a esse raciocínio, vamos apresentar iniciativas
de atuação com a perspectiva da instalação da cultura do desenvolvimento
comunitário, o estímulo à autogestão, tendo como consequência o
fortalecimento da economia solidária.
a) Expo Brasil Desenvolvimento Local (http://www.expobrasil.org)
Criada com o objetivo de promover a mobilização e a troca de
experiências entre atores que participam do processo de construção do
desenvolvimento local no País, a Expo Brasil, realizada anualmente desde
2002, se consolidou como o maior evento nacional sobre desenvolvimento
territorial e uma referência internacional no tema.
Trata-se de uma oportunidade de aprendizagem compartilhada,
articulação de parcerias e ações conjuntas, que reúne, durante três dias
de atividades, todos os interessados em apresentar, conhecer, debater e
impulsionar iniciativas de desenvolvimento local no Brasil.
Os objetivos principais da Expo Brasil são: visibilidade (tornar visíveis
iniciativas de desenvolvimento territorial em curso, com seus avanços e
desafios); formação (propiciar a aprendizagem compartilhada em torno
do desenvolvimento local); articulação (facilitar a constituição de novas
articulações, parcerias e elos de rede que impulsionem o desenvolvimento
com base territorial); e fortalecimento de agenda estratégica (fortalecer
o desenvolvimento local, como estratégia de inclusão e transformação
social, no contexto brasileiro e no diálogo internacional).
Os principais eixos orientadores da Expo Brasil são governança democrática,
inclusão produtiva e meio ambiente, tendo como referência o desenvolvimento
construído de baixo para cima, de dentro para fora, em bases territoriais.
Mas a sua principal força está na participação ativa de agentes locais, atores da
base da sociedade, que promovem, em seus territórios, o cotidiano das iniciativas
de desenvolvimento sustentável. Destacam-se duas características do público
participante: diversidade (social e institucional) e pluralidade (de pontos de
vista). Ou seja, o evento é uma oportunidade especial de aproximação entre
agentes sociais, produtivos e governamentais, pessoas de todas as faixas de
renda e escolaridade, vindas de diversos lugares, com diferentes abordagens,
em um ambiente de rara liberdade e facilidade de comunicação.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
169
Dentro deste contexto de desenvolvimento territorial construído de baixo para cima por meio da participação popular democrática, em junho de 2008, foi criada a Escola-de-Redes: uma rede de pessoas dedicadas à investigação teórica e à disseminação de conhecimentos sobre redes sociais e à criação e transferência de tecnologias de netweaving, onde são costuradas trocas de saber.
Um dos idealizadores dessa proposta é o professor e pesquisador Augusto de Franco, cuja atuação profissional tem sido dedicada às redes sociais (seja pelo estudo, pela investigação teórica, pela experimentação ou, inclusive, pela vivência-em-rede) e em compartilhar tal conhecimento com outras pessoas interessadas em conhecer mais sobre redes sociais.
Para saber mais, acesse: http://escoladeredes.ning.com
CURIOSIDADE
b) Projeto URBE: Projeto do SEBRAE que atua na construção de redes
locais para o desenvolvimento e promove ações geradoras de negócios
sustentáveis.
O Projeto URBE colabora para a construção de redes locais na promoção
do desenvolvimento, organiza os recursos humanos e logísticos do
território e promove ações geradoras de oportunidades sustentáveis de
negócios para micro e pequenas empresas.
A crescente urbanização impõe desafios para o desenvolvimento de
uma sociedade com equilíbrio socioeconômico. O SEBRAE tem como
missão criar um ambiente favorável ao estímulo e à promoção de
oportunidades de negócios, como estratégia de desenvolvimento para
proporcionar inclusão social e redução das desigualdades. O Projeto
URBE atua em parceria com prefeituras, agentes públicos, atores locais
e outras entidades.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
170
Na região central do Rio de Janeiro, existe um bairro chamado Santa Teresa. Desde o ano 2000, lá existem iniciativas comunitárias com vistas à sustentabilidade, como a criação da Agenda 21 Local. Entretanto, essas ações foram intensificadas com a implantação do Projeto URBE do SEBRAE a partir da decisão de explorar de forma sustentável a vocação turística do bairro. Ainda sobre esse bairro, vale acrescentar que, em 1982, o mesmo foi transformado em Área de Proteção Ambiental – APA (a primeira neste estilo do Brasil).
SAIBA QUE
c) IADH (http://www.iadh.org.br/)
O Instituto de Assessoria para o Desenvolvimento (IADH) é uma
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, que tem como
missão contribuir para o desenvolvimento local/territorial sustentável,
com ênfase no combate à pobreza e redução das desigualdades sociais.
Fundado há quatro anos, é formado por profissionais especializados e
com ampla experiência prática de trabalhos em campo em programas e
projetos pioneiros no Brasil.
O objetivo do Instituto é trabalhar para fortalecer o capital social dos
territórios, a base econômica local e a governança, contribuindo para a
construção de alternativas que promovam o desenvolvimento humano.
O estímulo à cidadania, ao empreendedorismo e à inclusão social são
princípios fundamentais do trabalho do IADH, que utiliza metodologias
priorizando a participação com responsabilidade social, descentralização
e solidariedade.
As experiências de apoio ao desenvolvimento de regiões com baixo
dinamismo econômico e alta concentração de pobreza, no Brasil e no
Mundo, revelam que há pontos em comum entre as diferentes realidades.
Apesar do uso de diversas nomenclaturas, como local, regional ou
territorial, é frequente a utilização de abordagens mais sistêmicas e ações
intersetoriais para trabalhar a construção de estratégias alternativas de
mudança cada vez mais sustentáveis.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
171
É neste contexto que o IADH atua, usando uma abordagem holística
da realidade, centrada no ser humano, num processo dialógico de
aprendizagem e de construção de autonomia dos atores. Com experiência
no acompanhamento e análise de diferentes iniciativas, além da
vivência em campo, seus profissionais estão aptos a formular estratégias
de inserção para territórios, apoiando instituições, organizações
populares, bem como entidades do terceiro setor, preocupadas com
a eficiência na aplicação dos recursos. Uma referência para o IADH no
desenvolvimento de projetos com o intuito do desenvolvimento local é
o economista Ladislau Dowbor.
EXPLORANDOEXPLORANDO
Acessando a homepage http://dowbor.org, você pode conhecer a trajetória de Ladislau Dowbor, bem como os projetos por ele desenvolvidos de estímulo ao desenvolvimento local.
d) Territórios da cidadania: a política pública no foco do desenvolvimento
local (http://www.territoriosdacidadania.gov.br)
Criado em 2008, o Programa Territórios da Cidadania tem como objetivos
promover o desenvolvimento econômico e universalizar programas
básicos de cidadania por meio de uma estratégia de desenvolvimento
territorial sustentável. A participação social e a integração de ações
entre Governo Federal, estados e municípios são fundamentais para a
construção dessa estratégia.
Até o ano de 2010 foram criados 120 territórios em todas as regiões
brasileiras, apoiando projetos que contemplem ações de: Direitos e
Desenvolvimento Social; Organização Sustentável da Produção; Saúde,
Saneamento e Acesso à Água; Educação e Cultura; Infraestrutura;
Apoio à Gestão Territorial; Ações Fundiárias.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
172
Caso você deseje conhecer detalhes dos territórios da cidadania, acesse o portal http://www.territoriosdacidadania.gov.br e verifique a abrangência do programa.
CURIOSIDADE
Convém destacar que, com a criação dos territórios da cidadania, parte
dos investimentos públicos é direcionada para essas localidades, de modo a
estimular o protagonismo daqueles que habitam tais regiões.
Além disso, também foi criada no portal da cidadania uma ferramenta
virtual com a finalidade de sistematizar a comunicação em rede daqueles que
estimulam a produção associada como alternativa econômica.
Assim, o acesso ao portal possibilita o contato com Redes Temáticas
de ATER (Assistência Territorial), um espaço colaborativo organizado
pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, em conjunto com as
organizações de Ater, credenciadas no Sistema Nacional Descentralizado de
Assistência Técnica e Extensão Rural – SIBRATER, em parceria com a Pesquisa
Agropecuária, Universidades e organizações dos agricultores familiares.
Seu principal objetivo é promover a construção coletiva do conhecimento
e disponibilizar informações técnicas e científicas, propostas tecnológicas e
experiências exitosas, nas diversas temáticas relevantes para a Agricultura
Familiar e o Desenvolvimento Rural sustentável.
Outro aspecto que merece destaque, quando falamos do programa
Territórios da Cidadania, é a possiblidade de comunicação em rede que
ele abre por meio da participação dos envolvidos em comunidades de
relacionamento. Estas, por sua vez, trazem a finalidade da troca de
experiências entre os envolvidos.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
173
Você pode incrementar seu conhecimento realizando a leitura crítica da Cartilha sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (uma publicação da Secretaria de Políticas de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional) e discutindo seus pressupostos com os seus colegas de turma. Tal documento está disponível em:
http://www.integracao.gov.br/desenvolvimentoregional/publicacoes/cartilha.asp.
DESAFIO
8.2.3 O desenvolvimento comunitário na prática
Estamos sempre retomando que a questão do desenvolvimento
sustentável tem estreita ligação com a cultura dos povos, ou seja, hábitos e
costumes. Levando essa teoria para a prática, percebemos que os processos
produtivos também estão atrelados a esse raciocínio.
Em outras palavras, podemos dizer que:
Na prática a sociedade deve mostrar-se capaz de assumir novos hábitos e de projetar um tipo de desenvolvimento que cultive o cuidado como os equilíbrios ecológicos e funcione dentro dos limites impostos pela natureza. Não significa voltar ao passado, mas oferecer um novo enfoque para o futuro comum. Não se trata simplesmente de não consumir, mas de consumir responsavelmente. (BOFF, 2004, p.137).
Neste caso, cabe-nos utilizar o conhecimento produzido e apresentado
nas inovações tecnológicas como ferramenta para a criação de novas
tecnologias: sociais, produtivas e econômicas.
Dentro deste contexto, encontramos a proposta do desenvolvimento
comunitário como forma de aglutinar capital humano, social, empresarial e
cultural. Assim, apresentamos alguns casos de iniciativas bem sucedidas nesta
perspectiva de contribuir com o seu entendimento a respeito do tema.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
174
a) O PROMATA (http://www.promata.pe.gov.br/)
O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável a Zona da Mata
de Pernambuco - PROMATA tem como finalidade principal apoiar o
desenvolvimento sustentável da mesorregião da Mata de Pernambuco
(definida pelo IBGE e composta por 43 municípios pernambucanos), tendo por
base o conceito de desenvolvimento territorial integrado. Integra o conjunto
de ações do Governo de Pernambuco para promover o desenvolvimento
local dos diversos municípios do Estado e suas respectivas Regiões de
Desenvolvimento (RD).
O PROMATA atua em dois âmbitos territoriais locais complementares,
com os seguintes objetivos específicos: (i) no âmbito municipal, executa
ações visando ao fortalecimento da capacidade de gestão municipal
das prefeituras e das organizações comunitárias locais, à promoção da
participação da sociedade civil no processo de planejamento e à melhoria
da oferta e qualidade dos serviços básicos, especialmente no aumento
da cobertura dos sistemas de saneamento básico em distritos rurais da
Zona da Mata; e (ii) no âmbito regional, promove ações visando a apoiar
a diversificação econômica e ao manejo sustentável dos recursos naturais
da região.
b) A COOESPERANÇA (http://www.esperancacooesperanca.org.br)
A COOESPERANÇA é a Cooperativa Mista dos Pequenos Produtores Rurais e
Urbanos Vinculados ao Projeto Esperança. É uma Central que, juntamente
com o Projeto Esperança, congrega e articula os grupos organizados,
e viabiliza a comercialização direta dos produtos produzidos pelos
empreendimentos solidários no Campo e na Cidade e que se fortalecem
juntos.
A teia esperança, uma rede dos empreendimentos solidários associados
ao Projeto Esperança/Cooesperança foi criada no dia 14 de janeiro
de 2003, com o objetivo principal de articular os empreendimentos
solidários, associados ao Projeto Esperança/Cooesperança, para uma
maior articulação dos produtores(as) e consumidores(as) para motivar
o comércio justo, o consumo ético e solidário usando os pontos de
Comercialização direta dos municípios da região Centro e a articulação
dos Empreendimentos entre si.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
175
São mais de 40 espaços fixos de comercialização direta dos diversos grupos
nos Municípios da Região Central - RS. A teia esperança tem como ponto
de articulação e integração o terminal de comercialização direta, com troca
de experiências e de produtos, todos os sábados no feirão colonial semanal.
É uma forma eficaz e muito eficiente de fortalecer os grupos, consolidar
a articulação e construir Políticas Públicas articuladas em rede solidária.
O Projeto Esperança/Cooesperança é uma experiência exitosa que deu
certo e afirma com certeza que “outra economia é possível”.
Nestes pontos, comercializam-se produtos coloniais, hortigranjeiros
ecológicos, caseiros, artesanais, panificação, confecção, serigrafia,
artesanato em material reciclado, produtos da agroindústria familiar,
carne de ótima qualidade e Prestação de Serviços.
Assim, é articulada a proposta da economia solidária, na perspectiva
de gerar trabalho e renda, dignidade pelo trabalho organizado, com a
valorização do trabalho acima do capital, na construção da cidadania e
inclusão social. Os pontos da teia esperança são administrados de forma
colegiada pelos próprios empreendimentos solidários, organizados e
associados ao Projeto Esperança/Cooesperança e à teia esperança.
c) Projeto Bagagem (http://www.projetobagagem.org)
O Projeto Bagagem é uma ONG que visa à criação de uma Rede de
Economia Solidária de turismo comunitário no Brasil. Sua principal
estratégia é apoiar a criação de roteiros turísticos, que beneficiam
prioritariamente as comunidades visitadas pela geração de renda e
participação direta da população local.
A equipe do Projeto Bagagem identifica ONGs que são referência no Brasil por
seus projetos em diversas áreas, e, em parceria com elas, constrói um roteiro
de turismo e convivência, que se torna fonte de renda para as comunidades
e aprendizagem para os participantes. Os roteiros do Bagagem apresentam
3 componentes: o destino especial, o visitante especial, a viagem especial.
O Projeto Bagagem desenvolve 3 programas com o objetivo de fortalecer
a Rede de Turismo Comunitário no Brasil em parceria com Núcleos de
Jovens de ONGs parceiras.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
176
Rede de Destinos
Comercialização Rede de Saberes
Figura 1 – Articulação de Programas no Projeto Bagagem
8.2.4 A sustentabilidade alicerçada no desenvolvimento comunitário
Estamos em pleno século XXI e nos deparamos com a problemática da
crise ambiental como o grande desafio do milênio. E que desafio, não? O
mundo contemporâneo está organizado de acordo com as características
impostas pelo capitalismo, cujas bases estão alicerçadas na competitividade
e na maximização dos lucros por meio da exploração indiscriminada dos
recursos.
Dentro desse contexto, emerge a necessidade da busca por alternativas
a esse modelo de crescimento, ou seja, um modelo que considere a
necessidades de manejo dos recursos naturais. Além dessa consideração,
também é necessário que esse modelo contemple o protagonismo social
daqueles que ficam excluídos da competição capitalista. Essas demandas
levam às diretrizes do desenvolvimento sustentável, uma vez que as
mesmas consideram as necessidades das futuras gerações na apropriação
dos recursos do planeta.
Neste caso, é preciso humanizar o sistema produtivo, por meio de
práticas que considerem a visão holística na relação homem x natureza. É
evidente que, para que isso ocorra, é preciso que a sociedade esteja envolvida,
participando ativamente dos processos decisórios, principalmente com
participação direta na política partidária de suas localidades, com direito a
voz e poder de decisão.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
177
Diante desta constatação, como seria a sua atuação profissional a partir da conciliação das necessidades econômicas com as da natureza?
REFLEXÃO
Por esses aspectos percebemos que não é mais possível pensar somente
no capitalismo como sistema econômico. A inclusão da economia solidária
na pauta das decisões das comunidades proporciona posicionamentos éticos,
cooperativos e autogestionários, comprometidos como a qualidade ambiental
de todos os seres vivos inseridos no contexto da comunidade envolvida.
Considerar o desenvolvimento comunitário como uma estratégia para
alcançarmos a sustentabilidade apresenta-se como uma realidade possível
a ser perseguida por todos que desejam deixar como legado um presente
equilibrado e um futuro promissor.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
178
8.3 Aplicando a teoria na prática
Cáritas brasileira: solidariedade pela vida
Com o objetivo de apoiar pequenos Projetos Alternativos Comunitários (PACs), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou, em 1981, os Fundos Solidários. A intenção era disponibilizar auxílio técnico e financeiro às propostas de desenvolvimento local em diversas regiões do País – elaboradas pelas próprias comunidades.
Os PACs foram as sementes do que hoje é chamada de Economia Popular Solidária (EPS). Nesses 25 anos, a Cáritas Brasileira tem apoiado grupos (associações, movimentos sociais, redes e cadeias produtivas) por meio de projetos social-organizativos ou econômico-produtivos, baseados em formas autogestionárias de trabalho. E os Fundos Solidários tornaram-se uma das principais vertentes do movimento de economia popular solidária no Brasil.
Desde 2000, o programa nacional de EPS passou a ter três objetivos: promoção e formação de agentes e lideranças da Cáritas, acesso aos recursos dos Fundos e articulação em redes e fóruns. As feiras de EPS, além de espaços de comercialização, possibilitam também o intercâmbio de experiências entre os empreendimentos.
De 2004 a 2007, cerca de 10 mil trabalhadores/as associados/as (2 mil grupos) foram apoiados por meio do fortalecimento de redes de cooperação de produção, comercialização e consumo. Aproximadamente 600 agentes Cáritas de 160 entidades-membro acompanharam os empreendimentos formados por adolescentes, jovens, grupos de cultura, catadores, mulheres, populações rurais e urbanas, migrantes, comunidades em situações de risco, famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa-Família, quilombolas, indígenas, acampados e assentados da reforma agrária.
Acesso em: http://www.caritas.org.br/programas.php?id=3&code=9.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
179
Nunca é demais apresentar iniciativas bem-sucedidas no estímulo
ao desenvolvimento local, ou seja, um desenvolvimento estimulado pelo
protagonismo social comunitário de uma comunidade de determinado
território (espaço geográfico).
Como o próprio texto menciona, o Movimento Cáritas é um dos mais
antigos do Brasil neste sentido. Podemos considerar ainda que seu grande
mérito esteja em oportunizar aos grupos marginalizados pelo sistema produtivo
capitalista o acesso ao conhecimento para geração de ocupação e renda.
Diante desses aspectos, pergunta-se: é possível ampliar a participação
cidadã, aliada ao reconhecimento político dos envolvidos em projetos de
desenvolvimento comunitário?
Para responder a essa questão, basta observarmos os exemplos práticos
demonstrados no decorrer de todo esse livro-texto, onde podemos perceber
que sim, é possível uma outra economia, que resgate aqueles que o sistema
capitalista tratou de excluir.
Ela deve estar orientada pelos princípios da solidariedade, como
mencionamos no capítulo 6, o Fator C, ou seja, cooperação; corresponsabilidade;
comunicação; comunidade.
Para agir de acordo com essa proposição, concluímos que é preciso
deixar em primeiro plano o coletivo, ou melhor, o comunitário. Neste caso,
quando aprendemos a lidar com as situações de maneira articulada, agindo
em prol de interesses comuns, temos plena competência para atuarmos no
plano político partidário, pois sabemos considerar as necessidades de todos ao
invés dos interesses individuais.
Portanto, mais do que nunca é preciso lutar e buscar uma forma mais
justa e equilibrada de desenvolvimento, oportunizando a participação cidadã
e o reconhecimento político. Estamos diante de uma proposta com vários
exemplos exitosos: o desenvolvimento comunitário.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
180
8.4 Para saber mais
CAVALCANTI, Marly (org.). Gestão social, estratégias e parcerias: redescobrindo
a essência da administração brasileira de comunidades para o Terceiro setor.
São Paulo: Saraiva, 2006.
O conteúdo abordado neste texto traz a temática do Terceiro Setor com
profundidade conceitual e abordagem totalmente original. Cada capítulo faz
um interessante contraponto entre determinada categoria de intervenção social
e um personagem do folclore nacional, estabelecendo associações, que tornam
a leitura rica e agradável. Completo, traz casos, questões e exercícios divididos
entre os temas do cooperativismo, empresa-cidadã, filantropia empresarial,
parcerias sociais, capital humano, redes sociais, marketing social, compromisso
social, trabalho multidimensional e empreendedorismo estratégico para o
Terceiro Setor. Uma obra tão dinâmica quanto os temas em questão.
LAGES, VINICIUS. Territórios em movimento: cultura e identidade como estratégia
de inserção competitiva. Rio de Janeiro: Relume Dumará; Brasília: Sebrae, 2004.
Esta publicação reúne artigos que exploram os desafios e experiências
bem sucedidas de desenvolvimento territorial, que possibilitam a organização
social e econômica de forma interativa e flexível. Os textos demonstram como a
autonomia das comunidades, aliada à absorção das características particulares
de cada localidade, contribui para o melhor funcionamento dos mercados, e
representa um grande avanço na redistribuição de renda e diminuição das
desigualdades regionais. Fruto da experiência do SEBRAE na fomentação de
empreendimentos, “Territórios em movimento”, ela defende um novo modelo
de desenvolvimento, em substituição àquele baseado exclusivamente nos
grandes empreendimento que só ajudavam a aprofundar as desigualdades; um
modelo que resulte do conhecimento e do aproveitamento das potencialidades,
oportunidades e vantagens competitivas já existentes em cada território.
SCHLITHLER, CELIA REGINA BELIZIA. Redes de Desenvolvimento Comunitário:
iniciativas para a transformação social. São Paulo: Global, 2004. (Coleção
investimento social)
Nesta obra, a autora aborda o processo de formação e desenvolvimento
de uma rede social com destaque especial para a capacitação de facilitadores.
Descreve as melhores práticas para a preparação de reuniões, técnicas de
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
181
relacionamento de grupos e formas de conduzir um planejamento estratégico
em rede. Mostra como as organizações empresariais podem participar de uma
rede social.
Em http://www.pnud.org.br/publicacoes/ você pode verificar os trabalhos
do projeto BNDES/PNUD - Desenvolvimento Local (BRA/00/031), visualizando
estratégias metodológicas para implantação de iniciativas com foco no
desenvolvimento local.
8.5 Relembrando
Finalizando nossa trajetória de estudos acerca do Desenvolvimento
e Sustentabilidade Ambiental, trouxemos, neste capítulo 8, a discussão em
torno do desenvolvimento comunitário com enfoque para sua utilização
como forma de oportunizar o protagonismo social atrelado ao alcance do
desenvolvimento sustentável.
Abordamos a cultura do desenvolvimento comunitário, registrando que,
para sua ocorrência, é necessário que as pessoas estejam abertas a recebê-lo,
tendo em vista que sua prática está ligada a um novo modelo de produção,
ou seja, o desenvolvimento comunitário perpassa pela mudança de postura
frente ao sistema produtivo.
Outro aspecto que vale relembrar é a existência de várias iniciativas em prol
do desenvolvimento local, conforme apresentamos no decorrer deste capítulo.
Entretanto, estas não são únicas e você pode buscar novos conhecimentos,
identificando outras iniciativas além das apresentadas. Essa informação é válida
também para os casos de sucesso, pois são inúmeros no Brasil e em todo o mundo.
Ao final do capítulo, apresentamos, de forma sucinta, como os
conteúdos dessa disciplina estão interligados, ao levantarmos a forma como
a sustentabilidade alicerçada no desenvolvimento comunitário, uma vez que,
para que o mesmo ocorra, é preciso que se considerem todas as temáticas que
foram tratadas no âmbito deste livro-texto.
Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental
Capítulo 8
182
8.6 Testando os seus conhecimentos
Com o crescimento da globalização, percebemos a cada dia como as
particularidades dos povos são significativas para a manutenção da identidade
de cada território.
Estimular o desenvolvimento endógeno, ou seja, de dentro para fora
das localidades, apresenta-se como uma estratégia na busca constante que
estamos presenciando neste século XXI: o desenvolvimento sustentável.
Não se trata apenas de um discurso e sim de orientar as comunidades
para o alcance de seu protagonismo, pois as pessoas devem apreender como
isso funciona. Isso significa afirmar o quanto é necessário a existência de
organismos de estímulo ao desenvolvimento local.
Neste sentido, convém perguntar qual a importância das metodologias
utilizadas para a promoção do desenvolvimento local?
Onde encontrar
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Petrópolis: Vozes, 2004.
GADOTTI, Moacir. Economia solidária como práxis pedagógica. São Paulo:
Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009.
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poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
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Referências
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www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./gestao/index.
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Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/educacao/
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