UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação - DDI
Desenho Industrial - Projeto do Produto
Trabalho de conclusão de curso realizado para a obtenção do Bacharelado em Desenho Industrial - Projeto de Produto, na Faculdade de Arquitetrura Artes e Comunicação, sob orientação do Prof. Dr. Luis Carlos Paschoarelli.
Bruna Panzieri - RA.: 533432
Bauru | 2009
PROPOSTA PARA DESIGN DE LOUÇAS SANITÁRIAS PARA BANHEIROS PÚBLICOS: UMA
ABORDAGEM DO DESIGN UNIVERSAL
RESUMO
O banheiro público é um ambiente que recebe um grande fluxo de pessoas diariamente, porém não está preparado para atender às necessidades de todos os usuários. As louças existentes nos banheiros públicos são iguais às louças sanitárias residenciais, porém esses ambientes e suas peças sanitárias são utilizados de forma diferente por vários fatores como: medo de contágio de doenças, falta de higiene e de acessibilidade. O intuito desse projeto é pesquisar como as pessoas utilizam o banheiro público e a partir dessa informação, criar um conjunto de louças sanitárias que atenda ao maior número de usuários possível por meio dos princípios do design universal. O principal objetivo do design universal é eliminar a dicotomia entre inclusão e exclusão, afim de permitir a criação de um produto que atenda a todas às pessoas, sem a necessidade de adaptação. Com a aplicação de questionários foi possível investigar a percepção de uso de banheiros públicos e domésticos, por usuários com e sem deficiências, e assim estabelecer uma análise comparativa em relação a usabilidade em cada ambiente. Após essas pesquisas foi gerado um conjunto de louças sanitárias que procurou atender aos requisitos dos usuários, utilizando os principios do design universal, para que seja acessivel fisica e financeiramente. Além disso com esse projeto é possivel gerar futuras discussões sobre o assunto e proposição de soluções para problemas envolvendo banheiros públicos e falta de acessibilidade, para comprovar que com o design é possivel desenvolver produtos que contribuem para a inclusão social e qualidade de vida.
Palavras chave: louça sanitária, banheiro público, design universal
ABSTRACT
The public toilet is a place that receives a large flow of people every day, but it’s not prepared to attend all users. The sanitary ware in the public toilets are the same as the residential ones, but these environments and its sanitary parts are used differently by several factors such as fear of contagious diseases, lack of hygiene and accessibility. The purpose of this project is researching how people use the public toilets and from that information, create a set of sanitary ware that can attend as many users as possible through the principles of universal design. The major intent of universal design is to eliminate the dichotomy between inclusion and exclusion in order to allow the creation of a product that meets all the people, without needs of adaptation. With the application of questionnaires it was possible to investigate the perception of use of public and domestic toilets by users with and without disabilities, and thereby establish a comparative analysis about the usability in each environment. After this research was generated a set of sanitary ware that meets the requirements of users, with the principles of universal design, to be accessible physically and financially. In addition to this project it is possible to generate further discussions on the issue and propose solutions to problems involving public toilets and lack of accessibility to prove that with the design studies is possible to develop products that contribute to social inclusion and quality of life.
Keywords: sanitary ware, public toilet, universal design
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Reprodução dos dutos de esgoto da cidade de Harappa
Figura 2 - Antigo banheiro público coletivo em Roma
Figura 3 - Réplica do vaso sanitário criado por sir. John Harrington
Figura 4 - Primeiro vaso sanitário a apresentar sifão, desenvolvido por Alexander Cummings
Figura 5 - Primeiro vaso sanitário feito em cerâmica com descarga hidraulica
Figura 6 - Um dos primeiros vasos sanitários fabricados em uma única peça de cerâmica
Figura 7 - Vaso sanitário japonês da marca “Toto” equipado com alta tecnologia
Figura 8 - Gráfico da forma de utilização dos banheiros públicos
Figura 9 - Gráfico da forma de utilização dos banheiros domésticos
Figura 10 - Gráfico da porcentagem de pessoas que utilizariam banheiro unissex
Figura 11 - partes do vaso sanitário e da caixa de descarga
Figura 12 - vaso com sistema de remoção de resíduos sifonado e por sistema de arraste
Figura 13 - Ciclo de funcionamento do vaso sanitário e da descarga
Figura 14 - Exemplo de pia com sifão aparente
Figura 15 - Componenetes básicos de uma torneira com acionamento manual
Figura 16 - Mictórios de um banheiro público
Figura 17 - Modelos de mictório feminino
Figura 18 - Armazenamento da matéria prima
Figura 19 - Vista lateral das instalações de moinhos
Figura 20 - Fundição em moldes de gesso
Figura 21 - Esquema explicativo da formação de peças através da fundição de baixa pressão
Figura 22 - Fundição em molde de resina
Figura 23 - Acabamento e verificação das peças ainda cruas
Figura 24 - Processo de esmaltação com revólver de ar comprimido
Figura 25 - Peças no forno para sinterização
Figura 26 - Processo de classificação das peças
Figura 27 - Interior e exterior de um banheiro químico
Figura 28 - Caminhão para transporte e limpeza dos banheiros químicos
Figura 29 - Vaso sanitário plástico compostável e esquema de um banheiro seco
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Figura 30 - Banheiro automático na Madison Square Park, em Nova York, Estados Unidos
Figura 31 - Banheiro automático em Seattle, Estados Unidos
Figura 32 - Louças do segmento popular da marca Logasa, modelo Parati
Figura 33 - Louças do segmento médio da marca Incepa, modelo Stylus Excellence
Figura 34 - Louças do segmento luxo da marca Roca, modelo Frontalis
Figura 35 - Louças especiais para pessoas com deficiencia da marca Celite
Figura 36 - Projeto de louça sanitária desenvolvido por Nelson Ayala e Ana maria Gordillo
Figura 37 - Projeto de louça sanitária desenvolvido por San Eun Young
Figura 38 - Projeto de louça sanitária desenvolvido por Changduk Kim e Youngki Hong
Figura 39 - Projeto de louça sanitária desenvolvido por Chen-Karlsson
Figura 40 - Estudos bidimensionais para o desenvolvimento do lavatório
Figura 41 - Estudos tridimensionais para o desenvolvimento do lavatório
Figura 42 - Estudos tridimensionais para o desenvolvimento do vaso sanitário
Figura 43 - Estudos bidimensionais para o desenvolvimento do vaso sanitário
Figura 44 - Estudos bidimensionais para o desenvolvimento da bancada e da banqueta
Figura 45 - Estudos tridimensionais para o desenvolvimento da bancada e da banqueta
Figura 46 - Conjunto de louças sanitárias com propostas de variação de cores
Figura 47 - Detalhe do vaso sanitário e da banqueta
Figura 48 - Perspectivas ambientadas do conjunto de louças sanitárias
Figura 49 - Dimensões das louças sanitárias
Figura 50 - Proporção da louça sanitária em relação a um usuário com cadeira de rodas
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SUMÁRIO
1. Introdução
2. Objetivos
3. Revisão teórica
3.1 Inclusão e acessibilidade
3.2 Design Universal
3.3 Histórico do desenvolvimento dos banheiros
4. Abordagem de campo
4.1 Propósito
4.2 Materiais e métodos
4.2.1 Casuística
4.2.1.1 Pessoas com deficiência
4.2.1.2 Pessoas sem deficiência
4.2.2 Materiais
4.3 Procedimentos
4.4 Resultados
4.4.1 Pessoas com deficiência
4.4.2 Pessoas sem deficiência
4.5 Discussões
4.6 Considerações finais da abordagem de campo
5. Aparelhos Sanitários
5.1 Vaso sanitário
5.2 Lavatório
5.3 Mictório
5.4 Processo produtivo da louça sanitária
5.4.1 Preparação da matéria-prima
5.4.2 Preparação da massa
5.4.3 Formação das peças
5.4.4 Secagem
5.4.5 Esmaltação
5.4.6 Tratamento térmico
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5.4.7 Acabamento
5.4.8 Classificação e embalagem
5.5 Outros materiais
5.6 Mercado nacional de louças sanitárias
5.7 Projetos conceituais
6. Desenvolvimento projetual
6.1 Lavatório
6.2 Vaso sanitário
6.3 Bancada e banqueta
7. Resultados
8. Considerações finais
9. Referências bibliográficas
10. Apêndice
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O acesso à utilização de espaços públicos nas cidades demanda o aumento de
banheiros públicos. No Brasil é raro encontrar banheiros públicos nas ruas, e quando
existentes, são vandalizados tornando-se inoperantes e locais de atividades ilícitas,
deixando os cidadãos que precisam deles inseguros em utilizá-los. Com 11 milhões de
habitantes a prefeitura da cidade de São Paulo mantém apenas três banheiros públicos
fora de parques da cidade. (PAIXÃO, 2009). Devido a essa escassez e insegurança
as pessoas optam em utilizar banheiros que ficam dentro de estabelecimentos como
shoppings e bares, por haver vigilância e limpeza constantes.
De acordo com Greed (2003) a valorização do conceito de cidades sustentáveis,
através da redução do uso de carros e encorajamento dos cidadãos a utilizarem
transportes públicos, bicicletas e até mesmo caminharem, só pode ser realizada se
houver melhora na qualidade e quantidade de banheiros públicos, já que se pretende
mudar a forma das pessoas se locomoverem.
Culturalmente é mais aceitável para um homem se aliviar em público, sendo
indiferente com a legalidade da situação (GREED, 2003). Apesar de ser algo comum em
locais menos expostos da cidade, o mau cheiro causa desconforto para as pessoas que
passam pelo local, ou até mesmo constrangimento pela exposição da pessoa que está
urinando em público. Essa mesma autora afirma ainda que as mulheres sejam menos
favorecidas, já que há maior fornecimento de alternativas para os homens, porque
além de haver maior número de banheiros masculinos espalhados pelas cidades, dentro
deles possuem duas facilidades: as cabines e os mictórios. Mulheres utilizam com maior
freqüência banheiros, dentre os vários motivos devido a uma maior gama de funções
biológicas.
O aumento do número de banheiros públicos espalhados pelas cidades (com
limpeza e segurança) evitaria que pessoas urinem em ambientes públicos, e traria
INTRODUÇÃO01
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maior qualidade de vida às pessoas que trabalham e vivem nos centros das cidades.
A legislação que normatiza os banheiros públicos é muito fraca e a forma inadequada
com que são construídos vem de uma herança do passado. Para Greed, só será possível
implementar mudanças para se obter provisões adequadas se houver maior influência
do poder legislativo. Em 2004 foi regulamentada a lei 10.098 (pelo decreto-lei 5.296),
estabelecendo prazos para que os espaços, edifícios e transportes públicos se tornassem
acessíveis. Enquanto essas mudanças não acontecem os banheiros públicos continuam
a apresentar a disposição de seu ambiente inadequada, que é praticamente um padrão,
mas ainda causa desconforto aos usuários. “O problema com banheiros públicos é que
eles transgridem o espaço público e trazem para uma área pública funções privadas”
(GREED, 2003, p.79). O usuário gostaria de manter sua privacidade, o que é difícil em
um ambiente pequeno freqüentado por muitas pessoas.
A alteração de alguns itens poderia trazer maior conforto ao usuário. Elaborar
alternativas para que a maneira com que um usuário utiliza o banheiro não afete o
outro, e modificar o ambiente de forma a abafar ruídos e odores seriam estratégias para
preservar a privacidade de quem faz uso do banheiro público. Uma questão pode ser
formulada quando ao se analisar um banheiro público: se esse espaço não é utilizado
da mesma forma que o banheiro residencial, porque suas peças sanitárias são iguais?
Além disso, facilitar seu uso para pessoas com deficiência, idosos e crianças
faria com que o banheiro atendesse de forma adequada a todos os usuários. Segundo
o Censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem
24,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência e 45% da população brasileira
convive diariamente com a questão da inclusão dessas pessoas. (FEBRABAN, 2006)
Atualmente, existem banheiros adaptados para atender a pessoas com deficiência,
porém as cabines adaptadas são a minoria e ainda há algumas que fornecem todas as
barras de apoio, porém ou a cabine é menor, impedindo a movimentação da cadeira
de rodas, ou a porta é estreita, ou há barreiras, como degraus, que mesmo pequenos
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INTRODUÇÃO01dificultam a passagem ao banheiro.
A proliferação de símbolos que indicam banheiros para uso por pessoas com deficiência sugere que existem agora três gêneros (masculino, feminino e deficientes). O símbolo de pessoas com deficiência é excludente e insinua que apenas (pessoas em) cadeiras de rodas (uma pequena proporção de todas as pessoas com deficiência) possam utilizar esse banheiro. (GREED, 2003, p. 74)
É discutível se a existência de um banheiro exclusivo para pessoas com deficiência
é uma atitude inclusiva ou excludente. Ao imaginar a situação hipotética de um banheiro,
onde todas as cabines estejam ocupadas e apenas a cabine para pessoas com deficiência
livre, a pessoa sem deficiência não hesitará em usar a cabine desocupada, mesmo
sabendo que é exclusiva para determinados usuários. Já a situação inversa, em que
todas as cabines estejam livres e somente a cabine de pessoas com deficiência ocupada
impede que uma pessoa em cadeira de rodas, por exemplo, utilize o banheiro.
A preocupação com as instalações para crianças também são freqüentes
quando se discute banheiros públicos, em respeito a design e a escala das instalações,
e culturalmente acerca da questão de se levar uma criança do gênero feminino ou
masculino ao banheiro oposto. Essa questão também é considerada em relação às
pessoas idosas, que precisam de instalações adequadas, como barras, e freqüentemente
vão ao banheiro com a ajuda de algum parente ou acompanhante. “Com o aumento da
idade da população e os idosos sendo cuidados por seus parentes, banheiros unissex
adaptados são essenciais.” (GREED, 2003, p. 99).
Através de uma aproximação universal pode ser possível eliminar as barreiras
que impedem que determinadas pessoas não utilizem esse espaço público. Em relação
à qualidade dos banheiros públicos existem vários fatores que podem determiná-la.
São três itens que podem ser apontados como essenciais por Onn (1996, apud GREED,
2003, p. 235):
1. Bom design e provisão
2. Boa gerência e manutenção
3. Educação dos usuários e uma mudança cultural nas atitudes da sociedade
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com relação a esse espaço público e treinamento dos funcionarios responsáveis pela
limpeza.
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02 OBJETIVOS
O objetivo desse projeto é pesquisar como as pessoas utilizam o banheiro público
e a partir dessa informação criar um conjunto de louças sanitárias que atenda ao maior
número de usuários possível, por meio dos princípios do design universal.
Desde o momento em que os banheiros passaram a fazer parte das residências,
ocorreram muitas mudanças, mas nenhuma significativa em acessibilidade. A criação
de louças sanitárias que atendam às pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência,
idosos e crianças, pode aumentar a qualidade de vida da população, já que vai melhorar
o dia-a-dia das pessoas que precisam de acesso facilitado, e de quem as acompanha,
permitindo que saiam de casa mais seguras de que haverá provisões para que suas
necessidades sejam atendidas.
Trazer esse assunto para discussão é outro objetivo desse projeto. Apesar de
todos precisarem utilizar o banheiro público em algum momento, esse é um tema
pouco discutido. Um local que recebe muitas pessoas, muitas vezes ao mesmo tempo,
acaba causando constrangimentos para quem deseja utilizá-lo, por ser um local onde
sejam realizadas atividades consideradas, culturalmente, privadas. Assim como as
pessoas não se sentem à vontade em banheiros públicos, o assunto também parece ser
desconfortável. É importante trazer esse assunto para o meio acadêmico, pois se trata
de saúde pública, inclusão social e qualidade de vida. Somente gerando discussões é
que se pode resolver problemas e propor soluções.
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REVISÃO TEÓRICA
3.1 Inclusão e acessibilidade
Uma sociedade que garanta o acesso de todos, respeite a diversidade humana
e promova a equiparação de oportunidades baseia-se no conceito de inclusão. Esse
conceito tem como princípios a identidade pessoal e social, ou seja, a valorização do
indivíduo em sua singularidade e a construção da igualdade na diversidade, respeitando
as diferenças, assegurando oportunidades diferenciadas quando for necessário.
Além desses fatores, a necessidade da eliminação de barreiras físicas, atitudinais
e sociais, também fazem parte dos princípios da inclusão. Um ambiente com acesso a
todos atende a uma grande variedade de necessidades dos usuários, permitindo assim,
maior independência e autonomia em sua mobilidade. Segundo Guimarães (1999,
apud PRADO, 2005, p. 1) autonomia como a capacidade do indivíduo de desfrutar dos
espaços e elementos espontaneamente, segundo sua vontade. E independência como
a capacidade de usufruir os ambientes, sem precisar de ajuda.
A inclusão social, portanto, é um processo que contribui para a construção de um novo tipo de sociedade através de transformações, pequenas e grandes, nos ambientes físicos (espaços internos e externos, equipamentos, aparelhos e utensílios, mobiliário e meios de transporte) e na mentalidade de todas as pessoas, portanto também do próprio portador de necessidades especiais. (SASSAKI, 1997, p. 42)
Segundo Omote (2005), as sociedades humanas vêm se tornando progressi-
vamente inclusivas ao longo dos tempos, tornando o mundo cada vez mais adequado
para a satisfação de suas necessidades, e assim, melhorando a qualidade de vida das
pessoas em geral, e também das pessoas com características diferenciadas.
O direito de todos em participar da vida em sociedade teve seu marco histórico
com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 1948 pela
Organização das Nações Unidas (ONU). Os direitos humanos, introduzidos por essa
declaração, se baseiam no reconhecimento da dignidade de todos, e na indivisibilidade
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e universalidade desses direitos. Aranha (2004), afirma que de início o enfoque dado
aos direitos humanos foi de protecionismo, e a partir dos anos 90 do século XX, esse
enfoque passou a ser no respeito à diversidade, tendo como conseqüência ações de
cidadania para a construção de contextos sociais inclusivos.
A Organização das Nações Unidas realizou em 1981 o Ano Internacional da
Pessoa com Deficiência, que defendeu o reconhecimento dos direitos das pessoas com
deficiência como membros integrantes da sociedade, sob o lema “Participação Plena e
Igualdade”. A partir daí, de acordo com Sassaki (1997), o conceito de sociedade inclusiva
foi se desenvolvendo através de tratados, conferências e documentos que divulgaram o
conceito pelo mundo e foi gradativamente sendo implantado como conseqüência natural
do processo de implementação dos princípios de inclusão na educação, no mercado de
trabalho, no lazer, recreação, esporte, turismo, cultura, religião, artes, família. (SASSAKI,
1997, p. 167)
“A política atual de deficiência, portanto, é o resultado de conquistas nos últimos 200 anos. Vem refletindo as condições sociais e econômicas de diferentes épocas. Os fatores perturbadores do processo que nos deve levar à inclusão ainda persistem. Segundo as Nações Unidas são eles a ignorância, a negligência, a superstição e o medo. Mas a ONU, hoje congregando 189 paises, não se intimida. Ambiciosa, tem como meta colaborar para que até o ano de 2010 estejamos vivendo numa sociedade inclusiva global. Para apoiá-la nesse projeto, conta com o Fundo Voluntário das Nações Unidas sobre Deficiência.” (WERNECK , 1997, p. 44)
No Brasil foram implementadas diversas leis sobre educação inclusiva. Já no
âmbito da inclusão social, foi criada em 2000 a Lei 10.098, que estabelece normas gerais
e critérios básicos que promovem a acessibilidade de pessoas com deficiência ou com
mobilidade reduzida, e foi regulamentada em 2004 pelo Decreto-Lei 5.296, dando prazos
para que os espaços, edifícios e transportes sejam acessíveis entre outras disposições.
Em 2004 também, foi editada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas a norma
brasileira ABNT NBR 9050, que define as medidas e especificações técnicas para projeto,
construção, instalação e adaptação de edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos às condições de acessibilidade. Essas determinações legais quando colocadas
em prática representam mudanças significativas nas relações sociais, favorecendo a
REVISÃO TEÓRICA 03
16
revelação de dificuldades e necessidades, e impulsiona o debate, o estudo, a reflexão
e a pesquisa, que geram soluções criativas para promover as mudanças desejadas.
(ARANHA, 2004, p. 50)
3.2 Design Universal
Ao utilizar o termo inclusão tem-se, em contrapartida, o conceito de exclusão. Os
dois conceitos são intrínsecos, já que ao incluir algo ou alguém, exclui-se o restante. Um
dos objetivos do design universal é eliminar essa dicotomia entre inclusão e exclusão.
Segundo Steinfeild (1994, apud SASSAKI, 1997, p. 140), o desenho universal não
é direcionado apenas aos que dele necessitam, é para todas as pessoas. O conceito
de desenho universal é evitar a necessidade de ambientes e produtos especiais ou
exclusivos para pessoas com deficiência, criando um objeto ou ambiente para ser
utilizado por todas as pessoas, das mais diversas faixas etárias, estaturas e capacidades,
independente do público-alvo ao qual o produto se destina, atendendo assim a maior
gama de usuários possível.
“Os produtos e ambientes feitos com desenho universal ou inclusivo não parecem ser especialmente destinados a pessoas com deficiência. Eles podem ser utilizados por qualquer pessoa, deficiente ou não. É até possível que pessoas não-deficientes nem percebam, nesses produtos ou ambientes, certas especificidades que atendam às necessidades de pessoas com deficiência”. (SASSAKI, 1997, p.141)
Um grupo de designers, engenheiros e arquitetos participantes de um projeto
coordenado pelo Center for Universal Design – College of Design da Universidade
Estadual da Carolina do Norte, desenvolveram os princípios do design universal e
suas orientações, que podem ser utilizados para avaliar projetos existentes, guiar a
criação de projetos e educar designers e usuários sobre as características de produtos
a ambientes acessíveis (CUD, 2002). São sete princípios:
1. Uso eqüitativo
1a. Prover os mesmos significados de uso para todos os usuários: idêntico quando
possível, equivalente quando não possível.
1b. Impedir segregação ou estigmatização dos usuários.
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1c. Prover privacidade, segurança e proteção de forma igual a todos os usuários.
1d. Tornar o desenho atraente para todos os usuários.
2. Uso flexível
2a. Prover escolhas na forma de utilização.
2b. Acomodar acesso e utilização para destros e canhotos.
2c. Facilitar a precisão e acuidade do usuário.
2d. Prover adaptabilidade para a velocidade (compasso, ritmo) do usuário.
3. Uso simples e intuitivo
3a. Eliminar a complexidade desnecessária.
3b. Ser coerente com as expectativas e intenções do usuário.
3c. Acomodar uma faixa larga de habilidades de linguagem e capacidades em ler e
escrever.
3d. Organizar as informações de forma compatível com sua importância.
3e. Providenciar respostas efetivas e sem demora durante e após o término
de uma tarefa (feedback).
4. Informação de fácil percepção
4a. Usar diferentes maneiras (pictórico, verbal, táctil) para apresentação redundante de
uma informação essencial.
4c. Maximizar a legibilidade da informação essencial.
4d. Diferenciar elementos de forma a poderem ser descritos (isto é, tornar mais fácil
dar informações ou direções).
4e. Prever compatibilidade com uma variedade de técnicas ou procedimentos usados
por pessoas com limitações sensoriais.
5. Tolerância ao erro
5a. Organizar os elementos para minimizar riscos e erros: os elementos mais usados
ficam mais acessíveis; elementos de risco ou perigosos são eliminados, isolados ou
protegidos.
REVISÃO TEÓRICA03
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5b. Providenciar avisos de riscos e de erro.
5c. Providenciar ao produto características de segurança na falha humana.
5d. Desencorajar ações inconscientes em tarefas que exijam vigilância.
6. Baixo esforço físico
Permitir ao usuário:
6a. Manter uma posição corporal neutra.
6b. Usar forças moderadas na operação.
6c. Minimizar ações repetitivas.
6d. Minimizar a sustentação de um esforço físico.
7. Dimensão e espaço para aproximação de uso
7a. Colocar os elementos importantes no campo visual de qualquer usuário, sentado
ou em pé.
7b. Fazer com que o alcance de todos os componentes seja confortável para qualquer
usuário, sentado ou em pé.
7c. Acomodar variações da dimensão da mão ou da empunhadura.
7d. Prover espaço adequado para o uso de dispositivos assistivos ou assistência
pessoal.
Esses princípios e suas orientações apenas indicam uma forma de projetar tendo
em mente a interação do usuário com o produto. Ao utilizar esses princípios devem-
se acrescentar ainda outras considerações como: aspectos econômicos, estruturais,
culturais, de gêneros e ambientais no processo de criação. (CUD, 2002)
O design universal não é uma tendência de projeto, mas uma postura fundamental
para promover a acessibilidade de todos os usuários, e deve estar presente em todo
o processo projetual, desde a análise da situação, os primeiros desenhos, até as
propostas de soluções, para assim, criar um produto realmente acessível, desde a sua
concepção.
Com o aumento da consciência social em torno da acessibilidade, a cobrança por
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ambientes públicos acessíveis também cresceu. Porém apesar da obrigatoriedade de se
haver acesso a todos os lugares, na prática isso não ocorre. Um bom exemplo desse
fato é a ausência de banheiros públicos acessíveis, que quando existentes não passam
de uma cabine por banheiro, muitas vezes adaptada. Um dos problemas encontrados
para a existência de banheiros acessíveis é a falta de louças sanitárias que atendam as
necessidades das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, sendo necessária a
adaptação das existentes no mercado. As louças sanitárias foram criadas há séculos,
mas poucas modificações ocorreram desde então. Para que o problema de acessibilidade
a banheiros públicos seja efetivamente solucionado é necessário que se faça mudanças,
a começar pelas louças sanitárias.
3.3 Histórico do desenvolvimento dos banheiros
O desenvolvimento da higiene sanitária foi um aspecto cultural determinante
para o surgimento das grandes cidades e civilizações. Uma cidade bem desenvolvida é
marcada por sua boa condição sanitária. Apesar de muitas cidades ainda não possuírem
boas condições de higiene pública, houve uma grande evolução até os dias atuais.
Segundo Dannemann (2008), através de fatos históricos e escavações arqueológicas
pôde-se estabelecer uma linha cronológica para o desenvolvimento dos hábitos de higiene
humana, onde se podem perceber os avanços e retrocessos das civilizações nessa área.
Quando o homem ainda não havia se estabelecido em uma moradia fixa, ele satisfazia
suas necessidades fisiológicas em qualquer lugar em que se sentisse à vontade. Assim
que aprendeu a conviver em sociedade, ele teve que determinar um lugar para excretar
suas fezes. De início um buraco no quintal era suficiente, mas quando o mau cheiro e
insetos começavam a surgir era necessário tomar providências.
Através de escavações arqueológicas descobriu-se que no vale do rio Indo no
noroeste da Índia (atual Paquistão) haviam avançadas construções de latrinas no
exterior das casas, feitas de tijolos com assentos em madeira. Ainda no vale do rio Indo,
porém em outra região, Harappa, por volta 2500 a.C. foram encontrados banheiros com
descarga d’água em cada casa e drenos cobertos com tijolos ligando uma casa a outra
REVISÃO TEÓRICA03
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(fig. 1). Apesar de possuir tampos de madeira, os usuários dessas latrinas satisfaziam
suas necessidades fisiológicas na posição de cócoras (agachado sobre os calcanhares).
Foi no Egito, por volta de 2100 a.C. que surgiram os primeiros vasos sanitários utilizados
por pessoas sentadas, como é utilizado hoje em dia.
No Ocidente a evolução do banheiro foi diferente. Os gregos do século 5 a.C não
possuíam sanitários em suas casas e satisfaziam suas necessidades fisiológicas ao ar
livre. O que acontecia também em Roma no início da era Cristã quando era comum o
uso de penicos. Mas foi na Roma Antiga que surgiram os banheiros públicos coletivos,
associados às casas de banho, e lá promoviam debates, banquetes e encontros cívicos
em bancadas de pedra, com vários furos que eram utilizados como latrinas coletivas,
onde passavam canais de água corrente sob as mesmas, que levavam os dejetos para
rios distantes (fig. 2). A expansão do Império Romano levou a outras partes do mundo
esse tipo de construção, popularizando o banheiro público, porém com o enfraquecimento
do império, caiu em desuso.
Nos períodos entre 500 d.C e 1500 d.C. foi a idade das trevas para a higiene
sanitária. Devido a essa falta de higiene da população, epidemias assolaram a Europa do
Velho Mundo. As pessoas utilizavam penicos, e para se livrar de seu conteúdo, jogavam
os dejetos pela janela. Nos castelos os banheiros eram quartos com um buraco e um
assento de madeira, onde as fezes caíam em fossas (que eram limpas por escravos),
ou nos rios.
Em 1596, na Inglaterra, o escritor e poeta Sir. John Harrington criou um modelo
de vaso sanitário semelhante ao atual, e convenceu a rainha Elisabeth I a colocá-lo
no palácio real (fig. 3). Apesar da aprovação da rainha, o invento de Harrington só se
popularizou anos mais tarde. Na França, no ano de 1668, o Comissariado da Polícia de
Paris, emitiu um decreto determinando que a partir dali todas as casas deveriam ter um
banheiro em seu interior. Em 1775, em Londres, Alexander Cummings desenvolveu um
sifão para os vasos sanitários, como o que é utilizado até hoje, um cano em formato de
21
Fig. 1 - Reprodução dos
dutos de esgoto da cidade de
Harappa.
Fig.2 - Antigo banheiro
público coletivo em Roma.
Fig. 3 - Réplica do vaso sanitário criado
por sir. John Harrington.
REVISÃO TEÓRICA03
22
“S”, que forma um lacre hídrico e mantém o nível de água do vaso constante, reduzindo
assim os odores (fig. 4). Dessa forma o vaso sanitário foi mais bem aceito substituindo
o penico medieval (ZHURIN, 2008).
As pias não existiam nos banheiros no inicio, e só passaram a ser utilizadas no
século XX, quando os banheiros começaram a fazer parte das residências e a população
começava a tomar conhecimento dos fungos e bactérias existentes nos banheiros que
causavam doenças, e podiam ser evitadas lavando-se as mãos.
Segundo a World Toilet Organisation, organização não governamental que tem
como objetivo melhorar a condição sanitária ao redor do mundo, após a popularização
do vaso sanitário ocorreram diversas mudanças que determinaram sua evolução, como:
a fabricação do vaso em cerâmica (1777) (fig. 5 e 6), a criação da descarga hidráulica
(1778) (fig. 5), criação do assento sanitário (1936), assim como o desenvolvimento
das criações já citadas anteriormente, evoluindo o vaso sanitário para o que se conhece
hoje. Atualmente, alguns vasos sanitários possuem alta tecnologia (fig.7), como
dispositivos que aquecem o assento, água e ar quente, e até sanitários que permitem
monitorar a saúde do usuário através de exames de urina, pressão arterial e verificação
das gorduras corporais. Apesar das diversas mudanças feitas em relação ao vaso nos
tempos atuais, pouco foi feito em relação a sua forma, que continua muito parecida às
primeiras criações.
23
Fig. 4 - Primeiro vaso sanitário a
apresentar sifão, desenvolvido por
Alexander Cummings
Fig. 5 - Primeiro vaso sanitário
feito em cerâmica, com descarga
hidráulica.
Fig. 6 - Um dos primeiros vasos
sanitários fabricados em uma única
peça de cerâmica.
Fig. 7 - Vaso sanitário japonês da marca
“Toto” equipado com dispositivos de alta
tecnologia. (No detalhe: painel de controle
do vaso sanitário)
REVISÃO TEÓRICA03
24
4.1 Propósito
O propósito desta abordagem foi investigar a percepção de uso de banheiros
públicos e domésticos, por usuários com e sem deficiências, possibilitando estabelecer
uma análise comparativa em relação a usabilidade em cada ambiente.
4.2 Materiais e Métodos
4.2.1 Casuística
Participaram deste estudo dois tipos de sujeitos: pessoas com deficiência (física
e sensorial), totalizando 30 sujeitos distribuídos igualmente entre os gêneros masculino
e feminino; e pessoas sem deficiência, também 30 sujeitos, distribuídos igualmente
entre os gêneros masculino e feminino.
4.2.1.1 Pessoas com deficiência
Das trinta pessoas entrevistadas, 27 possuíam alguma deficiência física, e as
demais deficiência visual. Dentre as pessoas com deficiência física a maioria possuía
limitação física nos membros inferiores (paraplegia) e utilizavam cadeira de rodas para
sua locomoção. Foram entrevistadas também, pessoas com comprometimento nos
quatro membros (tetraplegia), pessoas com má formação congênita que faziam uso de
próteses e uma pessoa ostomizada que necessitava do uso de bolsa de colostomia.
4.2.1.2 Pessoas sem deficiência
A amostra de pessoas sem deficiência buscou ser o mais variada possível. Todos
os entrevistados afirmaram utilizar banheiros públicos.
4.2.2 Materiais
Para a realização do estudo foram utilizados questionários (apêndice A) indiretos
qualitativos contendo seis questões abertas de ação e opinião (que se referem às atitudes
do individuo e tentam averiguar a opinião do entrevistado) e três de fato (referentes a
ABORDAGEM DE CAMPO04
25
dados objetivos como idade, gênero e se possui algum tipo de deficiência).
4.3 Procedimentos
As entrevistas foram aplicadas por meio de questionários individuais e indiretos
(através de um entrevistador), entrevista esta semi-estruturada, baseada em um roteiro
pré-estabelecido, com perguntas abertas, procurando saber dos sujeitos aspectos
referentes ao uso dos sanitários público e doméstico.
Por serem perguntas pessoais, as entrevistas tiveram um caráter informal a fim
de deixar o entrevistado mais a vontade para falar sobre o assunto. As interações
verbais durante as entrevistas eram anotadas no questionário pelo entrevistador. As
abordagens ocorreram aleatoriamente, de preferência longe de banheiros públicos
para que se conseguisse conversar com sujeitos usuários e não-usuários de banheiros
públicos.
Para a aplicação de questionários com pessoas com deficiência, o local escolhido
foi a feira de tecnologia em reabilitação, inclusão e acessibilidade (REATECH) que reuniu
pessoas com deficiências e profissionais da área.
4.4 Resultados
Os resultados da pesquisa foram divididos de acordo com a divisão das amostras
(pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência), para facilitar a análise e discussão
dos dados.
4.4.1 Pessoas com deficiência
Dos sujeitos com deficiência, oito indivíduos não costumam utilizar banheiro
público, cuja principal justificativa é que não saem muito de casa. Outros motivos foram:
a inadequação dos banheiros públicos, utilização de fralda geriátrica, utilização de sonda
vesical, e o medo de contágio por alguma doença infecto-contagiosa.
Daquelas que responderam positivamente ao uso do banheiro público, (fig. 8)
ABORDAGEM DE CAMPO04
26
43,4% sentam-se diretamente sobre o vaso sanitário; 36,6% evitam sentar diretamente
no vaso, e usam as seguintes estratégias: cobrem a superfície do vaso sanitário com
papel ou sentam-se na beirada do vaso sanitário, outros ficam em pé, com o tronco
semiflexionado; e 20% não se sentam no vaso, devido à utilização de sonda vesical e
realizam o procedimento de esvaziamento na própria cadeira de rodas.
No banheiro doméstico (fig. 9), 64% sentam-se diretamente sobre o vaso e
desses, 23,33% possuem banheiro adaptado. Utilizam cadeira de banho 25% da
amostra e 11% não utiliza o vaso sanitário, devido o uso de fralda geriátrica, “penico”
ou sonda vesical.
Quanto à questão do uso de banheiro unissex (fig. 10), 73,33% responderam
afirmativamente e 26,66% não utilizariam. Dentre os favoráveis ao uso do banheiro
unissex 43,33% eram homens e justificam sua opção por não sentirem nenhum tipo
de constrangimento. Apenas 6,66% dos homens foram contrários por se sentirem
envergonhados em dividir o banheiro com mulheres.
Dentre as mulheres, 20% das pesquisadas responderam que não usariam por
sentirem medo, ou porque acham que ao dividir banheiro com homens este seria
menos limpo. O restante que afirmou utilizar um banheiro unissex só o faria em caso de
extrema necessidade, e se estivesse em perfeitas condições de higiene e segurança.
27
30,00%20,00%
43,33%
6,66%
sim não
Utilizariam banheiro unissex?
usuários do gênero feminino
usuários do gênero masculino
43%
37%
20%
forma de utilização de banheiros públicos por pessoas
com deficiência
sentam-se diretamente sobre o vaso
evitam sentar diretamente sobre o vaso
não se sentam sobre o vaso
40,67%
11%25,00%
23,33%
sentam-se diretamente sobre o vaso
não utiliza o vaso sanitário
utiliza cadeira de banho
Forma de utilização de banheiros domésticos por pessoas com deficiência
usuários que possuem banheiro adaptado
Fig. 8 - Gráfico da forma de utilização
dos banheiros públicos.
Fig. 9 - Gráfico da forma
de utilização dos banheiros
domésticos.
Fig. 10 - Gráfico da porcentagem
de pessoas que utilizariam e não
utilizariam banheiro unissex.
ABORDAGEM DE CAMPO04
28
As dificuldades citadas pelos usuários foram:
Cabines
- falta de espaço para movimentar a cadeira de rodas
- falta de adaptação
- dificuldade em aproximar a cadeira do vaso
- falta de padrão na disposição dos boxes e mictórios
- dificuldade de acesso
- porta que abre para dentro
- porta estreita
Piso
- piso liso (escorregadio)
- piso molhado
Vaso sanitário
- buraco (rebaixo) no vaso sanitário de banheiros adaptados
- tampa do vaso que não levanta
- altura do vaso inadequada (ou muito alto, ou muito baixo)
- vaso sanitário molhado
- posição do vaso inadequada
- assento desconfortável
Pia
- não haver pia dentro da cabine
- pia inadequada
Outros
- não haver chuveirinho na cabine
- falta de papel higiênico
29
- desconforto / posição desconfortável
- depender de outra pessoa
- falta de fiscalização
- descarga difícil de apertar
4.4.2 Pessoas sem deficiência
Quanto à forma de utilização dos banheiros públicos, os indivíduos sem deficiência
afirmaram, em sua totalidade, evitar contato com a louça sanitária, por falta de higiene
e medo do contágio de doenças infecto-contagiosas.
As pessoas evitam esse contato forrando o vaso com papel ou urinando de pé,
no caso das mulheres, sem encostar-se ao vaso sanitário. Em banheiro doméstico, os
entrevistados afirmaram não terem receio de entrar em contato com as louças sanitárias,
por saberem quem as utiliza e ficarem seguros quanto à limpeza do local.
Quanto à questão da utilização do banheiro unissex 34,78% não utilizariam,
contra 65,21% que utilizariam. A maioria dos que não utilizariam é do gênero feminino
e os motivos expressos são medo de agressão, perda de privacidade e questões de
higiene.
As mulheres que responderam afirmativamente em relação ao uso de um
banheiro unissex só o fariam em condições de higiene apropriadas e ambiente seguro.
Os entrevistados do gênero masculino não vêem problemas em dividir o banheiro com
as mulheres. Os que responderam negativamente alegaram que o ambiente seria menos
limpo se o banheiro fosse utilizado tanto por homens como por mulheres.
As dificuldades citadas pelos usuários foram:
Cabines
- falta de espaço
ABORDAGEM DE CAMPO04
30
- falta de privacidade
- espaço sob as divisórias das cabines
- falta de gancho para pendurar bolsas e sacolas
- fechaduras que travam ou inexistem
Piso
- piso molhado
- piso liso (escorregadio)
- piso espelhado
Pia
- ter de entrar em contato com a torneira
- desperdício de água
- balcão da pia molhado
Vaso sanitário / mictórios
- vaso muito alto ou muito baixo
- má instalação dos mictórios (acumula urina)
- posição desconfortável para utilizar o vaso sanitário
- roupa pode entrar em contato com o vaso (calça)
Outros
- banheiros muito escuros
- vandalismo
- falta de manutenção e fiscalização
- cesto de lixo sem tampa (odor)
- falta de higiene
4.5 Discussões
A partir destes resultados, pode-se constatar, que a maioria dos usuários de
31
banheiros públicos, evitam o contato com o vaso sanitário, mesmo as pessoas que utilizam
cadeira de rodas. Algumas pessoas com deficiência afirmaram sentar-se diretamente
sobre o vaso porque devido a suas limitações físicas não há maneira de se evitar o
contato direto, mas se tivessem condições evitariam. Quanto às pessoas que utilizam
sonda vesical, a preocupação é em relação à higiene do procedimento de esterilização
que deve ser feito com todo o cuidado para evitar qualquer contaminação.
As diferenças de utilização entre um banheiro público e um banheiro doméstico
torna-se evidente nas respostas que enfatizam a certeza das boas condições do banheiro
doméstico o que faz com que o usuário se sinta seguro em entrar em contato com o
vaso sanitário, e nenhuma das pessoas entrevistadas afirmou sentir medo de contrair
alguma doença no banheiro de sua casa.
A divisão dos banheiros por gênero vai além de uma questão cultural, passando
a ser uma questão de segurança para as mulheres.
As dificuldades citadas pelos dois grupos demonstram que os banheiros públicos
não satisfazem a grande maioria dos usuários, os quais encontram problemas para
utilizá-los, como por exemplo: cabines muito pequenas, falta de privacidade devido
ao reflexo causado pelo piso espelhado que pode ser visualizado pelo espaço entre a
divisória da cabine e o chão, portas estreitas, ou com abertura para dentro da cabine,
falta de um padrão de localização e distribuição das cabines, o que confunde o deficiente
visual.
Pode-se notar que às vezes mesmo as adaptações não favorecem a alguns
usuários, como é o caso do rebaixo existente na bacia sanitária que permite a entrada
e o movimento da mão para realizar a higiene da pessoa com deficiência e manuseio da
sonda. Para os usuários que não utilizam sonda, esse rebaixo do vaso pode atrapalhar,
porque muitos não têm controle sobre o jato de urina e podem acabar se sujando.
ABORDAGEM DE CAMPO04
32
A altura do vaso em banheiros adaptados é maior do que em banheiros comuns,
para se adequar à cadeira de rodas que normalmente é mais alta. Por outro lado, para
pessoas de menor estatura as cadeiras de rodas são mais baixas, e o vaso sanitário
mais alto dificulta seu uso.
A posição do vaso sanitário dentro da cabine também é discutível, devido à
necessidade do usuário de cadeira de rodas manobrar a cadeira para realizar a
transferência para o vaso.
A maioria das mulheres não senta sobre o vaso sanitário e fica de pé em posição
semiflexionada, o que causa desconforto e acidentes.
A pia dentro da cabine em altura adequada e com vão livre para encaixe da
cadeira de rodas seria o ideal para pessoas ostomizadas que precisam fazer a higiene
da bolsa de colostomia. Torneiras que precisam ser manipuladas deixam o usuário
inseguro em relação ao contágio de doenças infecciosas.
A válvula de descarga que exige força para ser acionada impede que pessoas
com problemas de coordenação motora ou fraqueza muscular a utilizem.
De modo geral, pode-se considerar que o vandalismo é um grande problema
em banheiros públicos que são danificados e tornam-se inutilizáveis. A manutenção e
fiscalização regulares poderiam amenizar este problema. Já a falta de higiene é muitas
vezes causada pelos próprios usuários que fazem uso indevido dos banheiros sem
respeito pelos próximos que precisarão utilizá-los. A manutenção diária também seria
um meio de resolver parte desse problema.
4.6 Considerações finais da abordagem de campo
Com os dados obtidos pode-se verificar que independente de idade, gênero e das
condições de deficiência, as pessoas evitam entrar em contato com as louças sanitárias
33
de um banheiro público.
Em relação ao banheiro domiciliar as pessoas utilizam normalmente, sem medo
de contrair doenças ou infecções. O banheiro público é utilizado de forma diferente do
doméstico, no entanto as louças sanitárias são iguais.
Esse ambiente recebe pessoas tão diferentes umas das outras e o melhor seria
se esse banheiro acomodasse a todas elas de forma adequada, segura e higiênica.
Este estudo demonstrou que cada usuário tem uma necessidade diferente, porém o
banheiro público não pode atender a todas essas necessidades, pois não foi planejado
para isso. Com isso nota-se a relevância de se projetar um ambiente para receber a
todos os usuários, eliminando barreiras e possíveis problemas em relação à estrutura do
banheiro, que ainda é a mesma de séculos atrás.
ABORDAGEM DE CAMPO04
34
APARELHOS SANITÁRIOS05 O conjunto de peças sanitárias que compõe o banheiro público é formado
basicamente por vaso sanitário, lavatório e em banheiros masculinos há ainda o
mictório. Os vasos sanitários ficam em cabines individuais, enquanto os lavatórios
formam um conjunto em uma bancada. Os mictórios ficam fora das cabines, podendo
ser separados por divisórias.
Essas peças fazem parte do sistema hidráulico de qualquer imóvel, residencial
ou não. Devem estar em harmonia com o sistema de esgoto para que funcione
perfeitamente. Para isto existem normas de padronização do sistema de esgoto e das
peças sanitárias. Todas as dimensões dos aparelhos sanitários de material cerâmico e
de suas entradas e saídas de esgoto são padronizadas de acordo com a Norma Brasileira
NBR 15099, e os requisitos e métodos de ensaio são definidos pela NBR 15097. Através
desses ensaios de controle de qualidade é possível avaliar o desempenho e durabilidade
das peças.
Para a criação de novos aparelhos sanitários, é preciso entender como funcionam
e a sua ligação com o sistema de esgoto.
5.1 Vaso sanitário
Essa é a peça mais complexa de um banheiro, pois sua tecnologia hidráulica
envolve três sistemas que trabalham juntos em um único aparelho: sistema de
sifonagem, de descarga e de reenchimento.
O sistema de sifonagem é formado por um cano com duas curvas, uma para cima
e outra para baixo no próprio vaso sanitário, ligado à bacia, chamado de sifão. O nível
de água da bacia sanitária é constante devido a essas curvas. Quando a quantidade de
água aumenta, o excesso ultrapassa essas curvas caindo na tubulação de esgoto. Essa
água que fica na bacia e sifão é chamada “selo hídrico”, pois sela a tubulação evitando
35
Fig. 11 - partes do vaso sanitário e da caixa de descarga.
Fig. 12 - vaso com sistema de remoção de resíduos sifonado (à
esquerda) e por sistema de arraste (à direita).
APARELHOS SANITÁRIOS05que gases mal cheirosos subam do esgoto ao banheiro (fig. 11).
36
Além do sistema de sifonagem existem outros para a remoção de resíduos como
o sistema de arraste (fig. 12) e o sistema a vácuo. Enquanto o sistema de sifonagem
leva o esgoto para baixo por meio de sucção, o sistema de arraste tem a saída na
horizontal, permitindo que o vaso seja instalado na parede, suspenso ou não, e a
remoção dos resíduos é feita pela força da água. A tubulação desse tipo de vaso pode
ser instalada em paredes “dry wall” (chapas de gesso, aparafusadas em estruturas
metálicas) acima do nível do piso. Os vasos sanitários com remoção de resíduos por
arraste são utilizados com sistemas de descarga racionais, que economizam água. O
sistema à vácuo, encontrado em aviões e trens, está sendo recentemente utilizado para
instalações residenciais. O funcionamento é da seguinte maneira: quando é acionada a
descarga, uma válvula é aberta no cano coletor e o sistema a vácuo suga o conteúdo
do vaso para dentro de um tanque. Esse dispositivo de sucção é eficaz e requer pouca
água para limpar o vaso, entre 2 a 0,8 litros por descarga.
O sistema de descarga é responsável por liberar grande volume de água
rapidamente para a limpeza da bacia e eliminação dos resíduos. Para isso existe a caixa
de descarga.
“Ela [a caixa de descarga] segura vários litros de água, que levam de 30 a 60 segundos para se acumular. Quando você dá a descarga, toda a água da caixa é despejada no vaso em três segundos, o equivalente a jogar um balde de água.” (BRAIN, 2000, HowStuffWorks - Como funcionam os vasos sanitários”.)
Ao acionar o botão da descarga é ativado um sistema de alavancas que puxa uma
tampa no fundo da caixa d’água do vaso sanitário (caixa de descarga), abrindo o orifício
de um dreno de aproximadamente 5 a 8 cm de diâmetro. Ao destampar esse dreno a
água escorre em direção ao vaso rapidamente (fig. 13 - 2).
A bacia com válvula de descarga não possui uma caixa acoplada que acumula
a água especificamente para a descarga, a água utilizada vem direto da caixa d’água
da residência ou local onde está instalada, e seu tempo de uso e consumo de água é
determinado pelo período que o usuário aciona a válvula.
37
APARELHOS SANITÁRIOS05 A água liberada pela descarga percorre um cano na borda do vaso sanitário que é
construído na própria cerâmica da bacia sanitária e é repleto de furos, para que a água
seja despejada igualmente, limpando as paredes internas do vaso sanitário (fig. 13 -
2).
Com a força da descarga é criado um redemoinho no interior da bacia, levando
os 6,8 litros de água e os resíduos para o cano do sifão. Isso tudo acontece em apenas
três segundos, o que ativa o efeito sifão, fazendo com que toda água e dejetos que
haviam no vaso sejam sugados para o encanamento de esgoto (fig. 13 - 2). À medida
que o sifão esvazia, o ar entra (fig. 13 - 3) causando o rompimento do selo hídrico e
interrompendo o efeito de sucção (fig. 13 - 4), o que produz o ruído característico da
descarga.
Terminado esse processo inicia-se o reenchimento. Após ser esvaziada a caixa
de descarga, o tampão que abriu o dreno é reposicionado no fundo da caixa tampando
novamente a abertura (fig. 13 - 3), para que o tanque possa ser reenchido.
O mecanismo de reenchimento possui uma válvula que controla o fluxo de água, ligando
e desligando. Há uma bóia dentro da caixa d’água do vaso sanitário que regula o nível
de água dentro dela. A válvula aciona a água quando o nível de água da caixa diminui
e a bóia cai (fig. 13 - 2). Essa válvula envia a água para dois lugares: para reencher
a caixa e para reencher o vaso. À medida que o nível de água na caixa sobe a bóia
também sobe até atingir determinada altura que desliga a válvula (fig. 13 - 1).
38
1
2
3
4
Fig. 13 - Ciclo de funcionamento do vaso sanitário e da descarga
39
5.2 Lavatório
O lavatório, ou pia, dos banheiros é uma bacia para recolher a água da torneira
para que não molhe todo o banheiro. Assim como o vaso, mas de uma maneira mais
simples, possui saída para o esgoto e um sifão. Esse sifão também forma um selo
hídrico, mas não fica visível. O selo hídrico fica em um reservatório no cano abaixo da
pia (fig. 14).
A torneira é a válvula que regula a entrada e o fluxo de água no lavatório. É ligada
ao encanamento de água do local onde é instalada, por onde se efetua a alimentação.
É acionada através de um manípulo que regula um mecanismo de obturação no
interior da torneira. Esse dispositivo é um eixo roscado que permite o afastamento ou
aproximação de um disco de borracha ou cerâmica, chamado de arruela de vedação,
que faz com que a saída de água se abra ou feche (fig. 15).
Existem vários tipos de acionamento de torneiras. Desde acionamentos manuais,
como manípulos de rosca e de alavanca à acionamentos por toque, que possuem uma
mola que determina um tempo para a vazão da água, e acionamento por sensores
de presença, que são acionados somente sob a presença das mãos do usuário sob o
sensor infravermelho.
A saída de água para o esgoto é feita através de um ralo na bacia do lavatório.
Esse ralo é a extremidade de um encanamento que é ligado à saída de esgoto.
Nesse encanamento há um sifão do tipo copo. A diferença desse sifão para o do vaso
sanitário é seu formato. Ele possui um reservatório que permite acesso para limpeza e
desobstrução, e o selo hídrico fica dentro desse compartimento.
APARELHOS SANITÁRIOS05
40
Fig. 14 - Exemplo de pia com sifão aparente.
Fig. 15 - Componenetes básicos de uma
torneira com acionamento manual.
41
Fig. 16 - Mictórios de um banheiro
público.
5.3 Mictório
O mictório é um aparelho sanitário exclusivo para urinar. Seu desenho é
desenvolvido para que o usuário o utilize na posição em pé. Assim como o vaso sanitário,
ele possui descarga e sifão, mas em alguns modelos o início da saída de esgoto é
um ralo como o de um lavatório. Pode ser feito em aço inoxidável, mais comum nos
modelos para vários usuários, ou louça, em modelos individuais (fig. 16).
No Brasil os mictórios são encontrados apenas em banheiros masculinos, mas
em alguns países da Europa e nos Estados Unidos existem modelos desenvolvidos
especialmente para mulheres (fig. 17), mas não tiveram grande aceitação.
Apesar da praticidade do mictório, ele pode acumular urina se não for bem
projetado ou instalado, causando mau cheiro no banheiro. Em alguns banheiros
públicos são colocadas pastilhas que exalam odor agradável para tentar disfarçar o
mau cheiro.
APARELHOS SANITÁRIOS05
42
Fig. 17 - Modelos de mictório feminino.
43
5.4 Processo produtivo da louça sanitária
O termo “cerâmica” vem do grego “keramos” e significa “terra queimada”. Esse
termo é utilizado para designar materiais inorgânicos, obtidos a partir de compostos não
metálicos e que são solidificados com tratamento térmico a temperaturas elevadas.
A argila, principal componente da cerâmica, é um material natural constituinte do
solo, terroso e fino, que ao ser misturado com água adquire plasticidade, permitindo que
se molde a argila de acordo com o produto a ser criado. Para se criar a pasta cerâmica é
preciso acrescentar, além da argila, quartzo, feldspato, caulim, talco, dolomita, carbonato
de cálcio e bentonita, que também são matérias-primas naturais utilizadas como foram
extraídas da natureza, apenas passando por um processo de limpeza para a retirada de
impurezas, mas sem alterações em sua composição química e mineralógica.
“Quimicamente, a argila é constituída por argilominerais, que são aluminossilicatos. (...) Quando aquecida a altas temperaturas, processo denominado de “cozimento”, os argilominerais presentes, por exemplo, a caulinita, sofrem uma mudança de fase e ocorre perda de água. Este é um processo irreversível que dá origem ao material cerâmico, que pode ser bastante resistente, dependendo de sua composição. Dessa forma são fabricadas as telhas, os tijolos e as louças.” (ARAUJO, 2006 - A produção de cerâmica é uma atividade química?)
O setor cerâmico é muito amplo e diversificado, o que faz com que apresente
vários segmentos em função de fatores como matérias-primas, propriedades e áreas
de utilização que são: cerâmica vermelha, cerâmica branca, materiais de revestimento,
materiais refratários, isolantes térmicos, fritas e corantes, abrasivos, vidro, cimento e
cal e cerâmica de alta tecnologia.
Segundo André Zechmeister, gerente de marketing da Roca, a louça sanitária
é produzida em cerâmica “base branca”, devido à absorção de água ser quase nula,
quando produzida com matéria prima de qualidade e queimada na temperatura ideal
(aprox. 1200 graus), por um período de aproximadamente 13 horas. Isso torna a louça
muito mais higiênica e resistente a quebras. Porém a louça não é necessariamente
branca na sua aparência, Já que é possível colori-la com pigmentos de variadas cores.
APARELHOS SANITÁRIOS05
44
Para a fabricação de louça sanitária, assim como para os demais segmentos
cerâmicos, existem quatro etapas principais dentro do processo produtivo, que são:
• Preparação da matéria-prima e da massa
• Formação das peças
• Tratamento térmico
• Acabamento
Para a criação de louças sanitárias é necessário entender as características e o
funcionamento do processo de produção desses produtos. Portanto, para se conhecer
os detalhes de cada etapa desse processo foi realizada uma visita técnica à fábrica de
louças sanitárias da Roca, que detém as marcas Roca, Incepa, Celite e Logasa, sendo a
principal produtora de louças sanitárias no Brasil e no mundo. A descrição do processo
produtivo foi baseada também no Guia técnico ambiental da indústria de cerâmicas
branca e de revestimentos da CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo)
.
5.4.1 Preparação da matéria-prima
As matérias-primas utilizadas na indústria cerâmica são naturais e obtidas por
mineração. A homogeinização dessas matérias-primas, que é a primeira etapa da
redução de partículas, é realizada na própria mineração. Após essa fase, a matéria-
prima já armazenada na fábrica (fig. 18), ainda precisa ser moída, classificada de
acordo com a granulometria e purificada.
5.4.2 Preparação da massa
As pastas cerâmicas são constituidas de duas ou mais matérias-primas, aditivos
e água. Por isso, a dosagem das matérias-primas e aditivos deve seguir rigorosamente
a formulação de massas previamente estabelecida, fazendo com que a massa tenha
as proporções controladas de cada material e seja bem misturada e homogeneizada,
para que a uniformidade física e química seja ideal. Após 20 horas de moagem das
matérias-primas, aditivos e água, obtém-se a barbotina, ou suspensão, que é uma
45
mistura liquida de argila e outros materiais para produção de peças em moldes de gesso
ou resinas porosas (fig. 19).
5.4.3 Formação das peças
O processo para a formação de peças de louças sanitárias chama-se colagem ou
fundição em molde e pode ser de baixa ou alta pressão. Na fundição por baixa pressão
a barbotina é despejada num molde de gesso, onde permanece durante uma hora e
meia, para que a água contida na suspensão seja absorvida pelo gesso e as particulas
sólidas se acomodem em sua superficie para formar a parede da peça (figs. 20 e 21).
Assim, o produto formado terá a configuração externa reproduzindo a forma interna do
molde, resultando na peça crua. Para a fabricação de certas peças o molde é composto
de aproximadamente 8 partes, no caso do vaso sanitário são feitos separadamente cada
componente (sifão, bacia e chapéu) e depois são colados para formarem uma peça.
Feita a fundição, é aplicada uma injeção de ar comprimido nos moldes para que seja
eliminado o excesso de água em seu interior, permitindo que possam ser reutilizados (o
molde de gesso permite 80 reutilizações). O material utilizado no molde da fundição por
alta pressão é a resina. Quando a massa é injetada em alta pressão faz a separação da
água, facilitando a secagem (em média, um molde pode ser utilizado até 25000 vezes)
(fig. 22). Após a retirada das peças da forma, elas passam por um acabamento que
retira as rebarbas e torneia as peças para que elas fiquem com um formato regular (fig.
23).
5.4.4 Secagem
As peças ainda cruas possuem uma grande quantidade de água, que deve ser
retirada de forma lenta e gradual para que não ocorram defeitos nas peças como
trincas, bolhas, empenos entre outros. Essas cerâmicas são então encaminhadas para
queimadores a gás natural (estufas) a uma temperatura de 170°C por seis horas, até
que seu teor de umidade residual fique suficientemente baixo, perdendo 95% dessa
umidade.
APARELHOS SANITÁRIOS05
46
fig. 18 - Armazenamento da
matéria prima (argilas e caulins)
fig. 19 - Vista lateral das
instalações de moinhos, onde é
obtida a barbotina.
fig. 20 - Fundição em moldes de
gesso.
47
fig. 21 - Esquema explicativo da
formação de peças através da
fundição de baixa pressão.
fig. 22 - Fundição em molde de resina.
fig. 23 - Acabamento e verificação das
peças ainda cruas.
APARELHOS SANITÁRIOS05
48
5.4.5 Esmaltação
Após esse período de secagem as peças são submetidas a esmaltação, e recebem
três camadas de esmalte com um revólver de ar comprimido. Este processo causa a
melhora de alguns aspectos físicos como aumento da resistência mecânica, além de
contribuir nos aspectos estético e higiênico.
Existe uma grande variação na composição dos esmaltes e sua formulação
depende das características do corpo cerâmico, da temperatura de queima e das
características finais do esmalte. Os esmaltes, ou vidrados, podem ser do tipo cru, de
fritas, ou mistura de ambos. Para as louças sanitárias é utilizado o esmalte cru, que
é indicado para peças com queima superior a 1200°C. Esse vidrado é uma mistura
de matérias-primas com granulometria fina e é aplicado na forma de suspensão na
superficie da cerâmica. Durante o processo da queima esse esmalte se funde, aderindo
ao corpo da peça, que adquire um aspecto vítreo durante o resfriamento.
5.4.6 Tratamento térmico
Também conhecida como sinterização, a queima dá ao produto as suas
propridades finais como brilho, cor, porosidade, estabilidade dimensional, resistência à
flexão, à altas temperaturas, ao gretamento, à água, ao ataque de agentes químicos,
e outros. As peças são submetidas a tratamento térmico em fornos do tipo túnel de
aproximadamente oitenta metros, a temperaturas entre 1200°C a 1400°C durante
doze horas.
5.4.7 Acabamento
É o processo de pós-queima que pode incluir polimento, corte, furação, entre
outros.
5.4.8 Classificação e embalagem
Os produtos são rigorosamente testados pelo controle de qualidade para a
49
verificação de sua regularidade dimensional, aspecto superficial e características
mecânicas e químicas. A análise dos aspectos dimensionais da peça é feita por meio de
sistemas automáticos. Já a análise dos aspectos superficiais e mecanicos é realizada
visualmente por um técnico, que separa as peças em boas condições das que possuem
algum defeito como trincas, empenemento, diferenças de cor, entre outros. Além disso,
são realizados testes funcionais com volume normal de água para verificar se o produto
atende às normas definidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e
aos padrões exigidos pelo mercado internacional. As peças em boas condições são
encaminhadas para um sistema automatizado de embalagem, enquanto as outras são
codificadas e organizadas numa linha pelos embaladores, e são reaproveitadas no processo
produtivo. Elas passam por um processo moderno de quebra e moagem e retornam à
massa (barbotina), matéria-prima das louças. Esse é o projeto chamado “Resíduo Zero”
instalado na fábrica da Roca em Jundiaí - SP. Após passarem pelo controle de qualidade
as peças são armazenadas em pallets de madeira para serem comercializadas.
O tempo total de fabricação de uma peça de louça sanitária, entre a preparação
da matéria prima, até o controle de qualidade é de aproximadamente 4 dias.
Uma peça de louça sanitária pode suportar até 500 kg de compressão e uma
carga de 2,2 kN, desde que esteja em perfeitas condições, sem qualquer trinco ou
rachadura.
APARELHOS SANITÁRIOS05
50
fig. 24 - Processo de esmaltação
com revólver de ar comprimido.
fig. 25 - Peças no forno para
sinterização.
fig. 26 - Processo de classificação
das peças.
51
5.5 Outros materiais
Apesar das peças fabricadas em louça serem as mais utilizadas também podem
ser fabricadas em outros materiais, como plásticos e aço inoxidável.
As peças sanitárias fabricadas em plásticos mais encontradas são os chamados
“banheiros químicos”. Comumente utilizados em eventos ao ar livre que reúnem muitas
pessoas, esses banheiros são cabines portáteis desmontáveis de 1,2 metros de largura
e comprimento e 2,3 metros de altura, feitas em polietileno, um material reciclável e
higiênico. Dentro de cada cabine há uma caixa sanitária que pode armazenar cerca
de 220 litros de detritos. Dentro da caixa de detritos há uma solução desodorizante,
que evita a proliferação de bactérias. Na cabine há um tubo de ventilação, que liga o
interior da cabine e da caixa de detritos com o meio externo, oxigenando o ar da caixa,
e também evita a proliferação de bactérias que se reproduzem na falta de oxigênio e
causam mau cheiro (fig. 27).
Para a limpeza dessas cabines um caminhão com uma bomba de sucção aspira
todo o conteúdo e o despeja em uma estação de tratamento de esgoto (fig 28). Então,
as cabines são lavadas com água e sabão e podem ser reutilizadas.
Outro tipo de banheiro que pode ser feito em plástico é o banheiro seco ou “dry
toilet”. Esse banheiro que também pode ser feito em alvenaria e ter seus componentes
em louça, tem o diferencial de não utilizar água para limpeza do vaso e descarte
dos dejetos, sendo uma alternativa ecológica aos banheiros comuns. Os detritos são
armazenados em uma caixa por seis meses e são transformados em adubo num sistema
chamado compostagem (fig. 29). Há diversos modelos de banheiro compostável, e
cada um apresenta um funcionamento diferente, porém todos transformam os detritos
humanos em composto orgânico seguro, sem formação de odores e sem contaminar o
solo e a água.
As peças sanitárias feitas em aço inoxidável dificilmente são encontradas no
APARELHOS SANITÁRIOS05
52
fig. 27 - Interior (esquerda) e exterior (direita) de um banheiro
químico.
fig. 29 - À esquerda, vaso sanitário plástico compostável
à direita, esquema de um banheiro seco feito em alvenaria.
fig. 28 - Caminhão para
transporte e limpeza dos
banheiros químicos.
53
Brasil sendo mais comuns em banheiros de presídios e banheiros públicos dos Estados
Unidos e Europa. Mais resistentes do que outros materiais como o plástico e a louça,
essa foi a alternativa utilizada nos banheiros automáticos. Esses banheiros são cabines
que ficam nas ruas e efetuando-se o pagamento pode-se utilizá-los por cerca de quinze
minutos (em alguns lugares esse serviço é gratuito). Após esse tempo a porta se abre
para que o usuário deixe a cabine, e tranca-se novamente por alguns minutos para que
seja realizada a limpeza automática. O usuário não encosta-se a nenhum botão, pois a
cabine é equipada com diversos sensores, desde um sensor de peso, para identificar se
há alguém o utilizando a sensores para acionar a válvula de descarga e liberar sabão e
água. Quando o usuário deixa o banheiro, a porta se fecha e inicia a limpeza automática
com vapor e desinfetante. Essa limpeza dura cerca de cinco minutos, e quando finalizada
a porta é liberada para o banheiro ser utilizado novamente.
fig. 30 - Banheiro
automático na Madison
Square Park, em Nova
York, Estados Unidos.
fig. 31 - Banheiro automático em Seattle,
Estados Unidos.
APARELHOS SANITÁRIOS05
54
5.6 Mercado nacional de louças sanitárias
A capacidade nacional de produção de louças sanitárias é de 19.000.000 de
peças grandes ao ano, alcançando um faturamento de US$ 186 milhões em 2003.
Essa capacidade é gerada por 19 indústrias divididas entre 12 empresas de louças
sanitárias. Além do mercado nacional, são produzidas também louças para exportação,
principalmente para América do Sul e Central e Estados Unidos, aproximadamente
2.500.000 peças/ano, o que gerou, também no ano de 2003, um faturamento de US$
30 milhões.
O mercado de louças sanitárias pode ser dividido basicamente em três segmentos:
popular (fig. 32), médio (fig. 33) e luxo (fig.34). Dentre as peças fabricadas em cerâmica
o segmento popular é o mais produzido no Brasil, seguido por médio e luxo. As louças
mais utilizadas em banheiros públicos são dos segmentos popular, médio e especial
para pessoas com deficiência. Atualmente há uma grande preocupação com o consumo
de água exagerado das bacias sanitárias. A maioria dos modelos foi modificada para se
adequar à ABNT que determina que as bacias sanitárias devam consumir até 6,8 litros
de água, contra os aproximadamente 15 litros que eram consumidos.
Os segmentos popular e médio são formados pelas louças mais simples tanto
no design quanto no funcionamento e são as mais acessíveis financeiramente. As
peças especiais para pessoas com deficiência (fig. 35) são feitas especialmente para
aquelas que utilizam cadeiras de rodas, portanto os vasos sanitários são mais altos
que os convencionais e possuem uma abertura frontal para facilitar a movimentação.
O lavatório pode ser instalado em altura adequada e possui um vão livre para permitir
a aproximação da cadeira de rodas.
Segundo a Associação Brasileira de Cerâmica (ABCeram), o setor cerâmico
brasileiro apresenta um déficit referente a dados estatísticos do setor e indicadores de
desempenho, que são fatores indispensáveis para se analisar o seu desenvolvimento
e melhorar a competitividade, dificultando a obtenção de um panorama mais amplo
desse importante setor industrial.
55
fig. 32 - Louças do segmento
popular da marca Logasa,
modelo Parati.
fig. 33 - Louças do segmento
médio da marca Incepa, modelo
Stylus Excellence.
fig. 34 - Louças do segmento
luxo da marca Roca, modelo
Frontalis.
fig. 35 - Louças especiais para
pessoas com deficiência da
marca Celite, modelo Stylus
Excellence
APARELHOS SANITÁRIOS05
56
5.7 Projetos conceituais
As louças sanitárias do mercado nacional são em sua maioria do segmento
popular e médio, que são compostas dos produtos com design mais acessível. Os
modelos do segmento luxo possuem design mais atraente e seu funcionamento mais
eficiente, mas pouco se diferenciam dos outros segmentos.
Além das louças existentes no mercado e comercializados no Brasil e no
mundo, existem produtos, que ainda são projetos, mas pretendem mudar o conceito
de banheiro. Utilizando alta tecnologia ou apenas um design bem elaborado esses
produtos se diferenciam dos convencionais por apresentarem diferentes formas de uso
e funções.
O designer Nelson Ayala, com a colaboração de Ana Maria Gordillo desenvolveu o
projeto de um vaso sanitário que pode ser utilizado de forma diferente da convencional.
O usuário fica numa posição como se estivesse sobre uma moto, apoiando os joelhos
na peça, sem precisar encostar sobre o assento. Para tornar seu uso mais confortável,
o local onde se apóia os joelhos é almofadado. Esse vaso pode ser utilizado também da
maneira convencional, sentando-se sobre ele (fig. 36).
Uma peça que une vaso sanitário e mictório e ainda é auto-limpante é o conceito
desenvolvido por Sang Eun Young. De um lado é um mictório, mas ao ser acionado um
fig. 36 - Projeto de louça sanitária desenvolvido
por Nelson Ayala e Ana maria Gordillo.
57
botão a peça gira e se desdobra tornado-se um vaso sanitário. Além disso, possui um
sistema de luz ultravioleta e vapor quente que esteriliza o vaso.
O Universal Toilet é um banheiro desenvolvido com design universal por Changduk
Kim e Youngki Hong. Essa peça pode ser utilizada por qualquer pessoa, e facilita o uso
por pessoas com deficiência que utilizem cadeiras de rodas, através das barras de apoio
na base da pia que servem para a pessoa realizar a transferência da cadeira de rodas e
sentar-se de frente para a pia.
fig. 37 - Projeto de louça sanitária
desenvolvido por San Eun Young.
fig. 38 - Projeto de louça sanitária
desenvolvido por Changduk Kim e
Youngki Hong
APARELHOS SANITÁRIOS05
58
fig. 39 - Projeto de louça sanitária
desenvolvido por Chen-Karlsson.
Desenvolvido por Chen Hung Min e Johan Karlsson do escritório de design
Chen-Karlsson, o Peeandgo é um mictório feminino que teve seu design inspirado nos
banheiros turcos, em que a pessoa fica na posição de cócoras para utilizá-lo. Feito para
quebrar os paradigmas culturais, seu interior foi pintado de dourado para dar maior
status à peça.
59
Após pesquisas bibliográficas e a abordagem de campo, pôde-se constatar e
analisar os problemas que todas as pessoas enfrentam no uso de banheiros públicos, tais
como: falta de espaço nas cabines, altura do vaso sanitário e pia inadequada, desconforto
do usuário e falta de privacidade. O passo seguinte foi a geração de alternativas para
peças sanitárias, criando solução ou amenização dos problemas apontados. Com a
criação de um novo conjunto de louças sanitárias que atenda ao maior número de
usuários possível, o desconforto do uso de um banheiro público é menor, facilitando o
acesso e uso por todos que freqüentam esse ambiente.
Durante o processo de criação do conjunto de peças sanitárias várias alternativas
foram desenvolvidas e aprimoradas para alcançar o modelo idealizado. A criação do
produto teve como base os dados obtidos na pesquisa de abordagem de campo e
fundamentado nos princípios do design universal. As peças foram criadas separadamente
de acordo com o princípio da flexibilidade de uso, em que cada usuário pode escolher a
forma mais conveniente na utilização do produto, sem causar interferência ou afetar a
maneira que outra pessoa possa utilizar.
Além da utilização dos principios do design universal na criação do produto, que
propicia atender pessoas com deficiencia e sem deficiencia, pessoas com mobilidade
reduzida, idosos e crianças, optou-se também por utilizar baixa tecnologia para que
o produto fosse simples de se utilizar e de baixo custo, sendo acessível a todas as
camadas sociais.
O material escolhido para a fabricação das peças sanitárias foi a louça feita de
cerâmica branca, por ter mínima absorção de água, sendo um material muito higiênico,
ideal para banheiros.
Para melhor compreensão do desenvolvimento do produto, a seguir será
DESENVOLVIMENTO PROJETUAL06
60
apresentado como foi criado cada componente do conjunto de louças até o produto
final, feitos através de sketches e estudos 3D com maquete feita em papel.
6.1 Lavatório (fig. 40 e 41):
Os problemas apontados pelos usuários em relação aos lavatórios foram a falta
deles dentro da cabine e sua altura inadequada. Em relação à falta de pia dentro das
cabines foi planejado um conjunto que se interligasse através do encanamento. Assim,
a água que sai da pia é reutilizada na caixa de descarga, fazendo com que a pia fique
próxima ao vaso, sendo também uma solução ecológica. Esse sistema funcionará da
seguinte maneira: a água escoada pelo ralo da pia seguirá para um cano que é ligado à
caixa de descarga. Caso a caixa já esteja cheia, a sua entrada ficará tampada e a água
escoará para a saída de esgoto ao lado dessa caixa.
Quanto a altura dos lavatórios, o problema é mais complexo, pois cada usuário
possui uma altura diferente, e alterar a posição do lavatório envolveria sua estrutura
hidráulica. A primeira alternativa era fazer uma pia com duas cubas, uma mais alta e
outra mais baixa, e conseqüentemente a água desceria da primeira pia para a segunda,
e não seria higiênico.
A outra alternativa era uma pia que pudesse ter sua altura alterada de acordo
com a altura do usuário. Desse modo o lavatório foi projetado de forma que o usuário
adequasse a pia a sua altura. Para que isso fosse possível foi desenhada uma cuba
no formato cônico, como um funil, e sua base fixa com pinos que possibilitam sua
movimentação para frente, fazendo com que sua borda superior fique em uma altura
que se adéqüe a quem for utilizá-la. Há também um cano maleável que liga o ralo da
pia ao sifão. O suporte da pia, além de permitir sua movimentação também esconde
o encanamento do sifão e da torneira por motivos estéticos e preventivos quanto a
possíveis atos de vandalismo.
A torneira fica fixa na lateral do lavatório, com possibilidade de ser alcançada por
todas as pessoas que a utilizem, podendo ser de modelo com sensor de presença ou de
acionamento manual.
61
fig. 40 - Estudos bidimensionais para
o desenvolvimento do lavatório.
fig. 41 - Estudos tridimensionais para
o desenvolvimento do lavatório.
DESENVOLVIMENTO PROJETUAL06
62
6.2 Vaso sanitário (fig. 42 e 43):
Para resolver os problemas quanto a altura do vaso foi criada a alternativa de se
instalar um motor com um fuso para elevar e abaixar sua altura. Foram estudados vários
métodos para realizar essa elevação, como os sistemas hidráulicos e pneumáticos,
que foram descartados devido ao seu custo elevado e complexidade de instalação e
manutenção. O sistema escolhido foi o elétrico que é uma tecnologia mais barata e
limpa, além de ser de fácil manutenção. Além disso, há um cano maleável que liga
o vaso sanitário à saída de esgoto, para que o vaso possa ser movimentado sem
comprometer seu funcionamento. Dessa forma o vaso atinge três alturas: 34,5 cm é
sua altura convencional, se for pressionado o botão para elevá-lo, o vaso sobe para 45
cm de altura e se pressionado o botão para descer, atinge 29 cm de altura.
Para ser instalado esse sistema de elevação o modelo do vaso sanitário deveria
ser do tipo suspenso, o que resolveria outro problema: a dificuldade de se aproximar
a cadeira de rodas ao vaso sanitário. Este problema ocorre, porque a frente da cadeira
encosta-se na base do vaso, impedindo o usuário de se aproximar o suficiente para
realizar a transferência frontal da cadeira para o vaso sanitário.
Quanto à forma do vaso sanitário, a modificação foi realizada levando em conta
as reclamações das mulheres sobre a posição desconfortável que a usuária tem de
ficar (não podendo encostar-se no vaso), e de algumas pessoas com deficiência que
reclamaram do buraco frontal no vaso sanitário especifico para pessoas com deficiência.
A solução para esses problemas foi afinar a parte frontal do vaso, formando um “V”,
para que as mulheres pudessem urinar de pé, sem encostar-se no vaso e para que as
pessoas com deficiência tenham um espaço entre os membros inferiores para realizar
sua higienização. Ainda assim, é possível utilizar na posição sentado, sem receio de se
sujar ou de contaminações, pois as pessoas que o utilizarem na posição de pé não vão
mais sujar a borda, fazendo assim com que cada usuário faça uso do vaso da maneira
que lhe for mais confortável, sem afetar a maneira do próximo a utilizar, atingindo
o objetivo inicial do projeto. Além disso o vaso sanitário possui barras nas laterais,
próximas a borda, para que as pessoas que utilizam cadeira de rodas possam realizar
63
a transferência ao vaso sem precisar se apoiar na borda do vaso.
Anteriormente, havia sido estudada uma maneira de o vaso sanitário mudar seu
ângulo para que pudesse ser utilizado também como mictório, porém essa hipótese foi
descartada, pois ao inclinar o vaso sanitário haveria o deslocamento da água em seu
interior, desfazendo o selo hídrico, o que permitiria que gases malcheirosos do esgoto
invadissem o banheiro.
O método de descarga é por caixa acoplada, que é fixa ao vaso sanitário.
Logo abaixo da caixa de descarga fica o motor de elevação do vaso sanitário oculto
sob uma cobertura que protege tanto o motor quanto a caixa de descarga de serem
vandalizados.
A remoção de resíduos do vaso sanitário é feita pelo sistema de arraste, porque
dessa forma é possível a utilização de descarga econômica sem alterar o desempenho.
Além disso, esse sistema fica oculto, com a possibilidade de se criar uma bacia sanitária
com um design mais clean, de menor complexidade, sem preocupações de como integrar
o sifão ao desenho da peça. A manutenção desse tipo de vaso sanitário também é mais
simples, por não possuir reentrâncias, é mais fácil de realizar a sua higienização.
fig. 42 - Estudos tridimensionais
para o desenvolvimento do vaso
sanitário.
DESENVOLVIMENTO PROJETUAL06
64
fig. 43 - Estudos bidimensionais para o
desenvolvimento do vaso sanitário.
65
6.3 Bancada e banqueta (fig. 44 e 45)
Essas duas peças foram incorporadas ao conjunto porque os usuários que utilizam
sonda vesical afirmaram não ter um local adequado para deixarem os produtos que
utilizam para limpeza, e as pessoas ostomizadas sentem dificuldade em abaixar para
esvaziar a bolsa de colostomia no vaso sanitário.
Então foi criada uma bancada, que a principio seria uma terceira peça, mas com
o desenvolvimento do projeto foi feita a partir de uma extensão da tampa da caixa de
descarga, economizando espaço e material. Com essa bancada há maior espaço dentro
do banheiro, para que pessoas com cadeira de rodas possam se movimentar melhor
dentro das cabines.
A banqueta, que fica ao lado do vaso sanitário, é dobrável para não atrapalhar o
usuário que não fará uso dela. Para economizar espaço a banqueta fica do lado esquerdo
do vaso sanitário, e quando dobrada fica embaixo da bancada. A pessoa que possui
bolsa de colostomia poderá se sentar para esvaziá-la, sem ter que se abaixar, e para
limpeza poderá utilizar a ducha higiênica que ficará ao lado do banco.
fig. 44 - Estudos bidimensionais para o
desenvolvimento da bancada e da banqueta.
DESENVOLVIMENTO PROJETUAL06
66
fig. 45 - Estudos tridimensionais para o
desenvolvimento da bancada e da banqueta.
67
RESULTADOS
fig. 46 - Conjunto de louças sanitárias
com propostas de variação de cores.
07
68
fig. 47 - Detalhe do vaso sanitário e
da banqueta.
69
fig. 48 - Perspectivas ambientadas do conjunto de louças sanitárias.
RESULTADOS07
70
30 cm 85 cm 40 cm80
cm
70 c
m
34,5 cm fig. 49 - Dimensões das louças
sanitárias.
155 cm
50 cm
30 c
m
71
fig. 50 - Proporção da louça sanitária em
relação a um usuário com cadeira de rodas
RESULTADOS07
07
72
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Banheiros públicos são ambientes utilizados por muitas pessoas, por isso precisam
estar preparados para recebê-las de forma adequada. Atualmente poucos banheiros
públicos são encontrados nas ruas, e quando encontrados não estão em condições
de uso. Mesmo os banheiros de ambientes como shoppings, bares e restaurantes não
estão preparados para receber pessoas que necessitem de acesso facilitado e provisões
como barras e ambientes mais espaçosos. A falta desses itens é impeditiva para que as
pessoas com deficiência, com mobilidade reduzida ou até mesmo idosos utilizem esses
banheiros.
Com o uso dos princípios do design universal pôde-se analisar os problemas
encontrados nos banheiros públicos e definir a melhor solução, com uma proposta
que atenda ao maior número de usuários possível. O projeto procurou se adequar
ao nível social brasileiro, utilizando baixa tecnologia para tornar o produto acessível
financeiramente, possibilitando assim a implantação desse conjunto de louças sanitárias
em qualquer banheiro público.
A forma de utilização dos banheiros é cultural, e isso determinou o formato das
louças sanitárias ao longo de seu desenvolvimento. Mesmo sendo feitas mudanças, elas
não poderiam ser radicais, pois causaria estranhamento entre os usuários do banheiro
e conseqüentemente a repulsa em utilizá-las. O novo design de um conjunto de louças
sanitárias propõe diversas formas de uso de uma mesma peça, sendo possível ao
usuário utilizar da forma que achar mais confortável. Através de estudos constatou-
se que a forma de utilização do vaso sanitário de um banheiro público é diferente da
forma de utilização do banheiro doméstico, por vários fatores como: medo de contágio
de doenças, inadequação dos banheiros e falta de higiene.
A nova louça sanitária pode ainda atender a requisitos inexistentes nos banheiros
públicos atuais como a introdução de um balcão, uma banqueta e uma pia nas cabines.
08
73
08Esses requisitos foram solicitados por pessoas com deficiência que precisam desses
itens para facilitar sua higienização e o uso dos banheiros.
O novo conjunto de louças sanitárias atende às expectativas para esse ambiente,
mas para que seja completa a mudança dos banheiros públicos seria necessário, além
de alterar suas louças sanitárias, alterar também a sua construção e seu acesso fazendo
portas mais largas, pisos tácteis, utilização de metais sanitários que sejam ativados
de forma simples ou por sensores, colocação de barras, alteração do posicionamento
de itens como suporte do rolo de papel higiênico e saboneteiras, entre outros. Além
disso, a manutenção e vigilância contínuas impediriam que o banheiro público ficasse
inutilizável, tanto em relação a sua higiene e limpeza, quanto a vandalismo e desrespeito
aos usuários.
Este projeto propõe soluções para os problemas dos banheiros públicos e procura
desestigmatizar a visão que o usuário tem desse ambiente. A metodologia de projeto
com base no design universal passou a ser mais utilizada e discutida recentemente,
assim como a importância de sua aplicação em produtos industrializados tem sido mais
valorizada. Trazer esse assunto para o meio acadêmico possibilita a geração de novas
propostas que beneficiarão a todos, melhorando a saúde pública, inclusão social e
qualidade de vida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
74
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS09
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APÊNDICE A10