Baseado em:
- “Diccionario juridico-commercial”, por José Ferreira Borges, Porto, 2ª edição, Typ. De
Sebastião José Pereira, 1856. - VIII, 423 p.
- “Estatística de Portugal, Commercio do continente do reino e ilhas adjacentes com paizes
estrangeiros e com as provincias portuguezas do ultramar no anno de 1880”, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1881
- “Estatística de commercio e navegação – Estatística especial – anno de 1900” pelo Ministério
dos negócios da fazenda, Direcção Geral da Estatística e dos próprios nacionais – 1ª repartição,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1901
Disponível online na BNP em
http://purl.pt/298
Disponíveis online no INE em
http://winlib.ine.pt/winlib/winlib.aspx
Compilado por: Samuel Niza e Daniela Ferreira
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INTRODUÇÃO
A elaboração do presente dicionário enquadra-se no projecto MEMO - Evolution
of the Lisbon metropolitan area metabolism. Lessons towards a Sustainable Urban
Future.
O presente dicionário tem como principais objectivos, facilitar a compreensão de
conceitos jurídico-comerciais referentes à época que se situa no final do séc. XIX
(nomeadamente a partir de 1856) e fornecer o seu contexto para que a sua consequente
análise se possa realizar de forma mais consistente. Pretende-se assim, que o leitor
consiga mais facilmente compreender os dados estatísticos do mesmo período que, na
maioria das vezes, não dispõem de notas justificativas referentes aos conceitos neles
utilizados, dificultando assim a sua utilização.
Este dicionário foi compilado com base nas definições presentes no “Diccionario
juridico-commercial”, por José Ferreira Borges, Porto, 2ª edição, Typ. De Sebastião José
Pereira, 1856. - VIII, 423 p., tendo estas sido complementadas com as definições
apresentadas nas notas iniciais dos documentos designados por “Estatística de
Portugal, Commercio do continente do reino e ilhas adjacentes com paizes
estrangeiros e com as provincias portuguezas do ultramar no anno de 1880”, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1881 e “Estatística de commercio e navegação – Estatística especial
– anno de 1900” pelo Ministério dos negócios da fazenda, Direcção Geral da Estatística
e dos próprios nacionais – 1ª repartição, Lisboa, Imprensa Nacional, 1901.
Importa referir ainda que, as definições foram transcritas sempre que possível
de forma ajustada ao português actual, ainda que se tenha preservado algum do
arcaísmo da língua. Preservaram-se e transcreveram-se também os desenvolvimentos
das definições, para que se pudesse compreender melhor o pensamento geral sobre o
sistema mercantil da época, nos quais por vezes se encontram justificações para as
discrepâncias verificadas nas estatísticas.
Por fim, é de notar que a elaboração do presente dicionário não seria possível
sem o financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, bem como sem o auxílio
e préstimo do Sr. Albano Vinhais, um dos arquivistas do Instituto Nacional de Estatística,
que tem vindo a acompanhar o desenrolar de todo o projecto MEMO.
Nota ao leitor: Para facilitar a pesquisa de conceitos, o presente dicionário dispõe de um
índice remissivo na última página.
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DEFINIÇÕES Aduaneiro – Oficial, empregado da Alfândega.
Alfândega – Estância de arrecadação de direitos por entrada e saída de géneros e fazendas.
Segundo são situadas em portos de mar, ou na raia seca, assim se denominam de portos secos,
ou molhados. O foral da de Lisboa é de 15 de Outubro 1587.
Almocreve – Palavra árabe, que significa homem, que conduz bestas de carga e transporte.
Almoxarife – Palavra de origem árabe – oficial que tem a seu cargo a arrecadação das rendas, e
direitos reais. O distrito de sua jurisdição, assim como o seu ofício diz-se Almoxarifado. É um
oficial de fazenda, cujas atribuições se acham declaradas em diversos regimentos.
Arqueação – Termo de construção. Medição da tonelagem, ou porte e capacidade de um navio.
Balança ou Balanço do Comércio – À diferença entre a exportação e a importação chamou-se
balança, ou balanço do comércio, e considerou-se como o grande critério da prosperidade
comercial. Se a exportação excedia numericamente a importação, chamava-se favorável o
balanço. Se o balanço se mostrava desfavorável recorria-se a meios de diminuir as importações
e aumentar as exportações. Eis aqui a origem dos direitos proibitivos ou pesados, dos direitos
protectores, das gratificações, dos drawbacks, e das proibições absolutas dos géneros por
entrada. – Toda a ideia de balanço de comércio é fantástica e quimérica, mas desgraçadamente
o erro está de tal sorte arreigado, que ainda é de bem poucos conhecido. Em toda a troca que
se faz com o estrangeiro a nação ganha bem como indivíduo, nem faz diferença alguma, que os
retornos venham em fazendas, ou em ouro. O princípio do sistema mercantil funda-se na
suposição de que o que é ganho por uma nação é perda pela outra. Daqui vieram os antigos
violentíssimos ciúmes de nações vizinhas. Tanto mais próximas eram, maiores eram as
restrições, e proibições. Nada mais absurdo. Quanto mais próximo é o país mais vantajoso é o
seu comércio: aproxima-se mais ao comércio interno na rapidez dos retornos e pode manter-se
com menos cabedal, porque não há tanto empate. O plano portanto de empobrecer os nossos
vizinhos é completamente erróneo. Tanto mais ricos forem, tanto melhores fregueses serão dos
nossos géneros, e maior será o benefício que derivemos do seu tráfico. Numa palavra, os
sectários do sistema mercantil olharão para as transacções comerciais de nação a nação como
para uma mesa de jogo em que dois poem em cima dela só dinheiro, e duma só espécie, apostam
ou contendem e pagam a diferença ou balanço na mesma espécie, sendo necessariamente o
ganho de um a perda do outro. Se a troca comercial se fizesse de espécie a espécie idêntica, isto
é, uma coisa do mesmo peso, feitio e toque, as deduções do sistema mercantil poderiam ter
cabimento, mas se as coisas de troca são sempre diversas, com intervenção de respectivo
trabalho diverso, aptas a satisfazer a necessidades e apetites diversos, a paridade do jogo não
procede, o sistema mercantil é erróneo, e do seu balanço do comércio nada pode derivar-se que
justifique as suas restrições e proibições.
Baldeação – termo de comércio. É o acto de passar a carga de um navio para outro.
Cabotagem – assim se chama a viagem ou comércio de cabo a cabo, de porto a porto, ou nas
costas vizinhas. Há grande e pequena cabotagem, que as diversas legislações marítimas marcam
segundo a sua respectiva situação geográfica. A qualidade da navegação e embarcações, que
empreendem a grande ou pequena cabotagem, faz nascer uma grande e importante diferença
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acerca da carga. A cabotagem em quase todas as nações é proibida a navios estrangeiros
entendendo-se por cabotagem neste caso não só a viagem de costa, que é a sua acepção geral,
mas em particular a viagem de porto a porto da mesma nação.
Comércio – negócio, tráfego de mercadorias, efeitos e dinheiros. O comércio é interior ou
exterior. Interior dizemos o trato de mercancia no mesmo país, exterior o que se faz com nação
diversa. O comércio exercita-se por grosso ou a retalho. A sua jurisprudência forma uma
excepção do direito civil propriamente dito. Em última análise o comércio reduz-se à troca de
valores. É ele o mais poderoso veículo das produções e dos produtos ao consumo: sem a sua
existência a riqueza seria comparativamente menor: com ele vão as luzes e a civilização de um
canto ao outro do mundo: a ele se deve em mui grande parte o melhoramento actual da espécie
humana. Os nele se empregam formam uma família única, derramada na superfície do universo.
A sua grande máxima reduz-se a remover-lhe os estorvos: os seus inimigos são os privilégios, os
monopólios, os contrabandos. Sem igualdade e liberdade não pode haver comércio. O comércio
é coevo com a civilização. Desde o momento que os homens deixaram de fornecer-se cada qual
dos diversos artigos de que usava, desde então começou entre eles uma comunicação comercial,
uma troca. Só pela troca do excesso que nós produzimos e não consumimos, feita pelo excesso
do que produzirão outros, é que podia introduzir-se a divisão de empregos ou que diversas
pessoas podiam dar-se a diversas profissões. Alargou grandemente a esfera desta repartição a
variação quase infinita das qualidades de terreno, de climas, e assim de produtos e daí nasceu a
necessária divisão territorial do trabalho: qualidade esta, que não só aumentou a riqueza, mas
acelerou a civilização do género humano, mais do que outro algum poder talvez. Começando
nos pequenos campos, que podemos chamar aldeias, destas se fizeram vilas, daí as cidades,
depois as províncias e daí os reinos e enfim a face inteira do globo habitado e civilizado. Tudo,
pois quanto gozamos para satisfazer nossas necessidades e caprichos deve-se ao comércio em
última análise. Enquanto que as trocas dos diversos produtos eram feitas directamente pelos
produtores, eles deviam perder muito tempo e experimentar muitas inconveniências. Quando
não haviam comerciantes, os lavradores deviam, querendo vender as suas colheitas, em
primeiro lugar procurar fregueses e dispor só da quantidade dos géneros que cada um lhes
quisesse comprar e depois de justo o preço tinha necessidade de fazer tantas porções de
remessas quantas as pessoas com quem contractasse e pouco tempo lhe restaria para fazer
outra coisa. Ora este estado não só embaraçava o lavrador, porém tolhia o desenvolvimento dos
demais ramos da indústria. O estabelecimento de uma classe mercantil distinta cortou estes
embaraços. Apareceram por essa necessidade os mercadores por grosso, e de retalho, e as
povoações começaram a ser melhor providas e todos os mais desembaraçados para correr a
novos empregos que as necessidades a suprir exigiam e inventavam. Os mercadores por grosso
enchiam como em depósito armazéns e deles ou por sua conta ou para outros compradores
subalternos retalhavam a quem necessitava o género, que armazenavam. Asseguravam assim o
provimento e auferindo um lucro poupavam todos aqueles estorvos que no primeiro estado
eram insuperáveis. Eis aqui a origem dos primeiros mercadores e que ainda hoje constitui a
grande divisão mercantil de mercadores ou negociantes por grosso, e com armazéns e
mercadores de retalho, ou por miúdo. Estabelecido assim o comércio interno, e derramado por
um reino inteiro, aumentadas as necessidades e descoberta a arte de navegar, a variedade de
produtos e de necessidades reais ou fictícias nasceu o comércio externo ou de nação a nação.
Do exporto se colhe a importância do comércio interno: ele fez necessitar o transporte de
fazendas e por consequência originou as estradas, os canais, os carros, e os navios. Abertas estas
comunicações, a indústria viu diante de si um campo imenso. A peculiaridade e assim a
superioridade de um terreno de um produto, fez com que os habitantes dessa localidade se
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limitassem a fazer valer esse produto e o génio e a assiduidade diminui as despesas da sua
produção e aumentou os ganhos, os meios da existência do agricultor e do operário e
estabeleceu assim a divisão territorial do trabalho tão ou mais transcendente do que a divisão
de trabalho somente. Daquela nasceu esta e os empregos sendo mais e mais divididos e
introduzidas máquinas mais poderosas, os poderes produtivos do trabalho crescerão quanto
mais se aumentarem as massas da população. Quanto não é pois digno da atenção de todo o
bom governo o comércio interno? Quantas restrições, monopólios, e alcavalas lhe não
empecem! Se não fomentarmos o comércio interno, por outra, se não animarmos a produção
própria, como poderemos trocar pelas alheias? Como poderemos prosperar? A influência do
comércio externo embaratecendo e multiplicando os meios e os gozos, é por certo de grande
monta à sociedade: todavia a sua influência indirecta é talvez superior: isto é a influência, que
exerce sobre a indústria aumentando sem medida a massa dos objectos desejáveis, inspirando
novos gostos, estimulando as empresas, e invenções, pela competência que alevanta entre os
naturais e os estrangeiros, e tornando-os familiares com as artes e com as instituições. Tem
havido entre os economistas grande controvérsia sobre a superioridade do comércio interno ou
do externo. E fora deste lugar o discuti-la: nós diremos somente, que a soma dos lucros
comparada, de um e de outro comércio deve no nosso pensar decidir da sua vantagem. Ora
ninguém empregará no comércio externo capital que no comércio interno lhe produzisse mais.
Cumpria só observar a máxima do Decr. 20 Setembro 1755, quando diz – “devem facilitar-se os
meios de florescer e dilatar-se o comércio: as suas regras e máximas gerais são impreteríveis e
adoptadas geralmente por todas as nações, que por elas se regem e governam.” – “Deve evitar-
se, diz o Alv. 21 Abril 1751, n.º 11, quanto é prejudicial a ele e a quem o sustenta.” – Começasse
por cumprir-se estas máximas em nosso comércio interno, e breve se lhe conheceria o resultado,
embora lhe ficasse a preferência ao comércio externo, que lhe dá o Decr. 11 Janeiro 1751,
quando diz “O comércio de mar prefere ao da terra pela determinação dos forais para que os
mercadores e navegantes não sintam o incómodo das despesas, que lhes causam as demoras,
perda de monção, e avarias de fazendas.” Concluiremos este artigo com dizer que a C.L. 30
agosto 1770 reconheceu expressamente, que a profissão de comércio é necessária, proveitosa
e nobre.]
Contrabando – termo jurídico. Quer dizer contra a lei. Em comércio entende-se a importação
ou exportação de géneros proibidos, o que não deve confundir-se com o delito de descaminho
aos direitos porque este dá-se nos géneros de entrada e saída livre: este é um roubo à fazenda
pública. O contrabando é uma desobediência ou transgressão da lei, propriamente falando. O
contrabando é absoluto ou relativo. Diz-se absoluto quando o imperante fixou para os seus
Estados uma lei, que proíbe a exportação ou importação de um género (Wolf) – Ora tudo o que
se fizer neste caso em contravenção é nulo e ilícito porque a lei tem força obrigatória. Daqui
vem que em rigor é nulo o seguro objectos de contrabando, salvo se o são somente a respeito
de uma nação não a dos contraentes (Targa, Rocio.) A proibição relativa é a que nasce das
circunstâncias como por exemplo de um rompimento de guerra, dum bloqueio, de uma carestia
ou represália, nos quais casos se impede o comércio e livre prática de alguns portos neste caso
o seguro é lícito sobrevindo a proibição ao contrato (Wecket). Falando do comércio dos neutros
há certos géneros que se chamam de contrabando de guerra como são as munições e
armamento. O contrabando tem a vileza do furto, é a ruína do comércio e o descrédito dos
homens honrados e sem dúvida porque desequilibra os preços, altera os mercados e faz a
riqueza do contrabandista à conta do comércio inteiro. Entretanto em regra o legislador tem
mais culpa na existência do contrabando do que o súbdito por vedar o que devia consentir.
Como diz M. Culloch “Este crime que ocupa um lugar tão proeminente na legislação criminal de
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todos os estados modernos é inteiramente o resultado da viciosa legislação comercial e
financeira. Ele é o fruto ou de proibições de importação ou de direitos altos e opressivos não
origina em depravação inerente ao homem, mas sim na loucura e ignorância dos legisladores.
Uma proibição contra um género de importação não remove o gosto dele, e um direito pesado
sobre qualquer artigo origina um desejo geral de escapar ou evadir o seu pagamento, daqui a
origem e a ocupação do contrabandista. O risco de ser descoberto na introdução clandestina de
géneros em qualquer sistema de regulações fiscais pode sempre ser avaliado numa certa soma
e logo que os direitos excedam essa soma, surge imediatamente o contrabando. O meio de
obstar-lhe é o diminuir os direitos ou aumentar as dificuldades de introdução. O primeiro é o
mais natural, o segundo quase impossível de realizar-se.”]
Contribuições públicas – são as imposições que se lançam a favor do Estado. Nestes termos
compreendemos todos os impostos, taxas, imposições e tributos. Como as contribuições
públicas compreendem todo o complexo dos tributos, cumpre ter destes uma ideia clara. O
tributo ou contribuição é sempre uma porção do produto do capital e trabalho tomada deles
por autoridade do governo, e posta à sua disposição. O tributo directo é imediatamente tomado
do redito ou capital, e o indirecto é deles tomado fazendo com que os seus proprietários paguem
pela liberdade de usar de certos artigos ou exercer certos privilégios.
Descarga – termo de comércio. É a desembarcação das fazendas que constituem uma carga de
um navio. Não se pode fazer enquanto os navios estão fora da barra. Porto de descarga é aquele
onde no fretamento se estipula a desembarcação das fazendas: este nem sempre é o do destino,
isto é, o do último fim da viagem de ida.
Direitos de Alfândegas – ou direitos sobre a importação e exportação de fazendas - Estes, assim
como todos os outros direitos, são pagos pelos consumidores dos géneros sobre que são
impostos. Quando o Governo lança um direito sobre os géneros estrangeiros que entram nos
seus portos, o direito cabe inteiramente sobre os seus próprios súbditos que compram tais
géneros, porque os estrangeiros deixariam de com eles suprir os mercados se não alcançassem
o preço inteiro dos géneros fora o direito. É pela mesma razão quando o governo lança um
direito sobre os géneros que os seus súbditos exportam o direito não recai sobre eles, senão
sobre os estrangeiros por quem são comprados. Se portanto fosse possível a uma nação levantar
um redito suficiente de direitos sobre a exportação, semelhante redito seria totalmente
derivado dos outros, e essa nação ficaria inteiramente livre do encargo dos impostos, salvo na
soma dos direitos impostos pelos estrangeiros nos géneros que essa nação deles importasse.
Deve todavia haver todo o cuidado em impor direitos sobre a exportação. Nunca lança-los nos
géneros que os estrangeiros podem produzir quase pelo mesmo custo porque o efeito do direito
nesse caso seria parar inteiramente a sua exportação dando causa a que o mercado fosse
suprido por outros. Porém quando uma nação possui alguma vantagem exclusiva natural ou
adquirida na produção de géneros um direito na sua exportação é realmente o menos obnóxio
de todos os impostos. Um tal direito não recairia sobre si mesma, senão sobre os seus fregueses
estrangeiros e se não fosse muito pesado de maneira que balançasse a superioridade da
produção o seu único efeito seria uma leve tendência para diminuir a procura dos artigos
tributados. O grande objecto da escola de Economistas chamada sistema mercantil era facilitar
as exportações e impedir ou proibir as importações. A esta doutrina deve a maior parte da
Europa o sistema que segue na imposição dos direitos das alfândegas, sistema evidentemente
ruinosos e empecedor do aumento recíproco das riquezas das suas nações. Os direitos
proibitivos ou chamados protectores é outro resultado do mesmo sistema mercantil. Na
intenção de animar a indústria interna e prevenir a importação (porque a hipótese desse sistema
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é que só o dinheiro é riqueza e o saldo de nação a nação será só de proveito à que o receber em
metais preciosos) impõem-se direitos mais pesados sobre certos artigos de importação do que
sobre os mesmos quando manufacturados no país, segurando assim uma vantagem no mercado
interno independente de qualquer superioridade de mão-de-obra que possam ter. Isto compele
para certos ramos de indústria uma porção maior de capital e indústria nacional do que
naturalmente se empregaria neles. Isto é em nossa opinião um erro. Seja qualquer que for o
caso a direção que o interesse individual dá espontaneamente à indústria nacional é a melhor e
mais útil direcção. Todas as coisas portanto, que tendem a perturbá-la e que voltam a indústria
para canais, para onde naturalmente não iria, são injuriosas ao público e tendem a tornar a
indústria menos produtiva. Tal é precisamente a operação dos direitos proibitivos, que portanto
ainda que possam aumentar a indústria da nação em alguns ramos particulares tende todavia a
diminuir a sua soma total. Pelo que respeita às proibições absolutas o seu efeito é o mesmo que
o que resulta dos direitos proibitivos ou chamados protectores salvo num grau maior. Poucas
vezes a proibição é efectiva excepto nos géneros de grande volume, a sua operação porém é
sempre igual ao direito mais pesado.
Exportação – termo comercial. É o acto de levar fazendas nossas para fora e o comércio que se
faz na saca de géneros do nosso país para o estrangeiro. O contrário de importação.
Importação – termo comercial. É a acção de introduzir fazendas, de as trazer de um porto
estranho para o nosso porto. Os direitos que são impostos na importação, ou são regulares ou
pesados, ou enfim é proibida a importação das fazendas absolutamente.
Liberdade de comércio – Nós entendemos por estas palavras a franquia de restrições que
embargam o livre tráfego ou permutação de géneros e fazendas, quer no mesmo país, quer
entre diversos. Esta franqueza, esta alforria é a alma do comércio. Muitas das nossas leis o
reconhecerão e só é de lamentar que reconhecida a verdade da máxima se lhe impeça por tantos
modos a sua execução. Os impedimentos que sofre o comércio nascem, ou de proibições
absolutas ou parciais. É absoluta a proibição quando a lei tolhe a saca ou a importação de
qualquer artigo. É parcial quando numa ou noutra operação impõem direitos pesados, instituem
monopólios, ou concedem prémios singulares a fazendas singulares ou estabelece direitos
desiguais. Toda a nação tem despesas e é portanto necessário que imponha tributos ou o que
tanto vale, que os súbditos dela contribuam para compor essas despesas. O mal não consiste
em contribuir, se este é um mal no sentido de desfalcar o cabedal do contribuinte, é um mal
necessário. O mal real consiste na desigualdade, na injustiça da derrama. Da desigualdade
resulta enriquecer alguém à custa da maior parte. Eis aqui os danos dos monopólios, dos
prémios, e das gratificações parciais. Comércio quer dizer câmbio/troca nem quer nem quis
nunca dizer doação. Ora os que calcularam que uma nação podia exportar mais do que
importasse, caminharam sobre a hipótese de que os negociantes faziam doação do balanço ou
saldo das duas operações. Este evidentíssimo erro levou ao excesso dano das proibições da saca
e entrada de certos géneros. Daqui o mal que sofremos nós e sofrem ainda muitas das nações
europeias. Julgou-se que carregando de direitos uma fazenda estrangeira favorecíamos a nossa
da mesma espécie com o levantar do preço da estranha. E não há dúvida que assim acontece.
Mas quem recebe esse favor? O manufactor. E à custa de quem? Dos consumidores. Logo o
efeito dos direitos protectores é enriquecer poucos à custa de muitos, da maior parte, do que
se chama nação. Todo o homem enriquece na proporção do que produz, e do que poupa. As
sobras acumuladas formam um capital, uma riqueza nova. Cada qual poupa tanto mais quanto
mais barato compra. Ora obrigar qualquer a comprar mais caro é obrigá-lo a perder, a
empobrecer. Eis aqui outro efeito dos direitos protectores, que me obrigam a comprar mais caro
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aquilo de que careço. Esta perda que faço, e que fazem os consumidores todos torna-se uma
perda nacional, um mal geral. Do exporto se segue que a liberdade de comércio é uma
necessidade para a acumulação da riqueza nacional, e que os direitos proibitivos e protectores
são a ruína da sua prosperidade.
Mercado – Lugar público onde se vende toda a casta de coisas necessárias para a subsistência e
comodidade da vida. O mercado difere da feira em que o mercado é só relativo a uma cidade
ou vila em particular, enquanto que a feira respeita a uma ou mais províncias (Guyot).
Mercador – termo de comércio. É o homem que se emprega em mercancia, ou trato de
mercadejar.
Mercadorias – fazendas de mercancia, do trato de mercadejar. Fazendas. Géneros.
Pauta – Assim chamamos às tarifas de nossas alfândegas, isto é, o índice dos nomes das fazendas
e direitos que lhe são impostos.
Porto – Diz-se assim o lugar próprio de receber navios e tê-los a abrigo das tempestades.
Porto-franco – Chama-se assim aquele porto, onde podem entrar e de onde podem sair todas
as sortes de mercadorias sem pagar direito algum (Merlin). Todos os portos dos domínios
portugueses, onde haja ou possa haver alfândegas, são portos-francos para a admissão e
recepção de todos os quaisquer artigos de produção ou manufactura, dos domínios Britânicos,
não destinados para o consumo do lugar, em que possam ser recebidos ou admitidos, mas para
serem reexportados.
Portos-sêcos – Chamam-se assim as estações fiscais estabelecidas no centro e raias do Reino.
Tonelagem – é o mesmo que o porte ou lote do navio. É a sua capacidade, ou a medida do seu
espaço carregável. Conhece-se esta por uma operação de medida e cálculo da capacidade da
estiva, que se chama lotação ou arqueação.
Transação – como termo comercial é o nome genérico, com que os negociantes designam
qualquer que seja a convenção ou negociação que façam.
Trânsito – em seu sentido geral importa o mesmo que passagem. Em termos de comércio
importa a passagem de mercadorias ou géneros estrangeiros pelo nosso território. Muitas vezes
o trânsito é absolutamente proibido ou só permitido pagando certos direitos, a estes chamam-
se direitos de trânsito.
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Informação complementar às definições supramencionadas, coligida através da fonte
designada por:
“Commercio do continente do reino e ilhas adjacentes com paizes estrangeiros e com as
provincias portuguezas do ultramar no anno de 1880” pelo Ministério da fazenda –
Conselho geral das alfândegas, Estatística de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881.
DEFINIÇÕES Comércio especial - soma das importações para consumo com as exportações de produtos
do país (exceptuados os das colonias).
Exportação (em comércio geral) - saída de todas as mercadorias pelos portos ou pelas
fronteiras para países estrangeiros ou colonias: quer sejam de produção nacional; quer sejam
estrangeiras; quer passem directamente dos depósitos particulares ou alfandegados para navios
de comércio, ou de navio para navio.
Exportação nacionalizada - mercadorias estrangeiras despachadas para consumo do país,
e depois exportadas. As instruções de 9 de novembro de 1880 puseram termo a esta distinção.
Importação (em comércio geral) - acto da entrada de mercadorias estrangeiras e
ultramarinas nos portos, ou nas fronteiras: quer fiquem em deposito para mais tarde se
destinarem a consumo, ou reexportação; quer sigam em acto successivo para outros países,
tendo atravessado território nacional; quer sejam imediatamente transbordados de uns para
outros navios de longo curso. Destino das mercadorias importadas- em conformidade com a
legislação vigente as mercadorias que entram em Portugal podem ter um dos seguintes
destinos:
Ser logo despachadas para consumo;
Ficar nos depósitos das alfândegas marítimas de 1ª classe por dois ou três anos e nas de
2ª por um ano, sendo despachadas para consumo n’esse prazo,
Sair para o estrangeiro depois de haverem entrado nos depósitos, por trânsito — se
atravessaram território português, ou têm de o atravessar, pelas vias férreas ou fluviais,
Sair com despacho de reexportação (nas alfandegas marítimas de primeira classe), se
vieram por mar e tornam a sair por mar;
Ser despachadas por exportação (nas mesmas alfandegas), quando as mercadorias são
de origem das províncias portuguesas do ultramar;
Tornar a sair para o estrangeiro, sem terem chegado a entrar nos depósitos, por
baldeação, passando de navio para navio, ou por trânsito chegando a desembarcar.
País de proveniência - Até ao presente (1880), apesar do disposto na portaria de 20 de julho
de 1876, tem-se considerado país de proveniência, o do último porto em que toca o navio no qual a mercadoria é expedida para Portugal;
País de destino – País para onde se destina o navio exportador.
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Notas relevantes referentes a proveniências e destinos das mercadorias:
Há muitas transações com a Alemanha, Bélgica, Suíça e outros países, as quais na estatística
são lançadas à conta da França, por ser este o ultimo país de procedência e igualmente acontece
com produtos americanos que são remetidos por negociantes da América para Portugal, por
intermédio de portos ingleses. Do mesmo modo, mercadorias aparentemente exportadas para
Espanha, por terra, nem sempre são destinadas pelo expedidor para o país vizinho, outras, que
vão para Inglaterra, são d’ali porventura expedidas para outros países por conta e ordem do
próprio comerciante português. A verdadeira procedência das mercadorias, e que deve mencio-
nar-se na estatística, não pode ser rigorosamente a origem ou o lugar da produção, mas sim o
país d’onde a remessa é feita por conhecimento e factura directa. Assim, por exemplo, o chá
que vem de Liverpool pode ser na estatística levado à conta da Inglaterra, se o negociante
d’aquele porto o vendeu a um negociante de Lisboa, mas, se tiver sido remetido por virtude de
transacção directa entre um negociante de Macau e outro de Lisboa, embora por intermédio de
Liverpool, a estatística deve mencionar este facto como remessa d’aquela nossa província ultra-
marina embora, rigorosamente, a origem real seja do império chinês. As alfândegas, porém, não
podem conhecer precisamente estas circunstâncias senão por declaração dos recebedores e
expedidores das mercadorias. Convém não esquecer que as relações comerciais entre Portugal
e alguns países estrangeiros podem ser mais ou menos consideráveis do que as indicadas nos
dados fornecidos pelas alfândegas. Muitas importações de Alemanha, da Bélgica ou da Suíça
talvez tenham sido levadas à conta de França; outras, de alguns d’esses mesmos países, terão
sido levadas à conta da Espanha quando o transporte é feito por terra e reciprocamente. Os
empregados das alfândegas não têm meio de evitar a inexatidão de tais declarações.
Em 1900, na “Estatística de commercio e navegação – Estatística especial – anno de 1900”
pelo Ministério dos negócios da fazenda, Direcção Geral da Estatística e dos próprios nacionais
– 1ª repartição, Lisboa, Imprensa Nacional, 1901, para evitar imprecisões declarou-se que: “A
palavra procedência significa, em regra, o país de origem das mercadorias, e não a
nacionalidade dos portos onde foram carregadas, enquanto o vocábulo destino, na exportação
nacional e estrangeira, indica o lugar onde vão ser descarregados os produtos recebidos nos
portos do continente do reino e das ilhas adjacentes.”
Reexportação - saída dos depósitos das alfândegas.
Separações numéricas - Os mapas estatísticos devem ser, primeiro do que tudo, claros, diz
Maurice Block no seu livro “Traité theorique et pratique de statistique”. E acrescenta o mesmo
escritor: «é mister também que os algarismos se leiam com facilidade. Este resultado obtém-se,
separando os algarismos em grupos de três. Poderíamos, rigorosamente, contentar-nos em
deixar um intervalo em branco, por exemplo: 3 948 544, mas não está adoptada essa pratica;
d’aí resultaria, que, ao copiar, misturar-se-iam os algarismos de vez em quando, e, como a
negligência é mais frequente do que a cautela, encontrar-se-ia 3948544, o que tornaria bem
mais difícil a correção das provas. O melhor é pois separar os grupos de três algarismos por
vírgulas: 3,948,544. Preferimos as vírgulas aos pontos: 3.948.544, porque reservamos os pontos
para separar as fracções decimais das unidades, por exemplo: 3,945,544.6. Foi esta prática
introduzida por Moreau de Jonnès, na repartição da estatística de França (talvez por se
separarem assim os francos dos cêntimos);—em Inglaterra, nas repartições do Registrar general,
usa-se o ponto elevado, por exemplo; 20'1, o que também é bom; não podemos, porém, aprovar
o uso da vírgula para este caso: 248,92o: como adivinhar que se trata aqui de 248 inteiros e 92?
milésimos? 248.925 ou 248 925 é muito mais claro. Quanto a separar os grupos de unidades por
um ponto e as fracções por uma virgula: 3.948.544,6, não é lógico, porque o ponto é considerado
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separação mais profunda. A adopção da vírgula para separar as fracções foi tomada dos
matemáticos, mas estes escrevem 3948544,6 o que não nos parece conveniente imitar. Assim,
pois, escrevamos mais uma vez: 3,948,544.6». A opinião citada está em harmonia com a prática
adoptada nos trabalhos estatísticos da Inglaterra, França, Bélgica, Estados Unidos e outros
países, o que justifica a notação adoptada neste livro.
Trânsito - saída de mercadorias estrangeiras que atravessam território português. O trânsito
pode então consistir: na entrada de mercadorias pela fronteira, saindo por mar; na entrada por mar e saída pela fronteira; e na entrada pela fronteira e saída pela fronteira.
São condições essenciais no despacho de trânsito, e para a consequente isenção de direitos:
1.° Que a mercadoria atravesse território português; 2.° Que o transporte seja feito pelos caminhos-de-ferro ou pelas vias fluviais, nos termos
da convenção de 16 de janeiro de 1877.' Os portos marítimos que tem por enquanto faculdade legal e permanente para dar
despacho de trânsito são Lisboa e Porto; os portos secos que têm idêntica faculdade são Elvas, Valença, Portalegre e Barca d’Alva.
Há duas espécies de trânsito: 1.° Directo, quando a mercadoria atravessa território português, sem entrar em
armazéns de alfandega portuguesa: quer entre por terra e saia por terra; quer entre pela fronteira e saia por mar ou vice-versa;
2.° Indirecto, quando a mercadoria entra para depósito (em Lisboa ou Porto), sem se designar o ulterior destino, e é mais tarde expedida para Espanha (nas condições já designadas). Nos países onde a estatística da importação se faz não pelo despacho, mas pela
verdadeira entrada das mercadorias, os valores do trânsito são levados à conta da importação (em comércio geral) quando entram, e à conta da exportação (também de comércio geral), quando saem. Vem assim a figurar o trânsito como que em duplicado, o que se explica naturalmente, pelo facto de supor-se ter com efeito havido uma importação e uma exportação, nas quais intervieram comerciantes do país.
A
Aduaneiro · 2
Alfândega · 2
Almocreve · 2
Almoxarife · 2
Arqueação · 2
B
Balança ou Balanço do Comércio · 2
Baldeação · 2
C
Cabotagem · 2
Comércio · 3
Comércio especial · 8
Contrabando · 4
Contribuições públicas · 5
D
Descarga · 5
Direitos de Alfândegas · 5
E
Exportação · 6
Exportação (em comércio geral) · 8
Exportação nacionalizada · 8
I
Importação · 6
Importação (em comércio geral) · 8
L
Liberdade de comércio · 6
M
Mercado · 7
Mercador · 7
Mercadorias · 7
P
País de destino · 8
País de proveniência · 8
Pauta · 7
Porto · 7
Porto-franco · 7
Portos-sêcos · 7
R
Reexportação · 9
S
Separações numéricas · 9
T
Tonelagem · 7
Transação · 7
Trânsito · 7, 10