DIREITO DO CONSUMIDOR:
Comércio eletrônico (entendimento STJ): O provedor não é responsável objetivamente pelas ofensas
causadas nos sites. A sua responsabilidade somente ocorrerá quando o consumidor o avisa da ofensa e o
provedor se mantém inerte, não retirando do ar.
Principais dispositivos:
Art. 1º a 54 Direito material do consumidor;
Art. 81 a 104 tutela coletiva (microssistema processual coletivo).
Arts. 55 a 60 e art. 105 e 106, CDC – sanções administrativas – tem caído na prova a letra da lei.
Art. 61 a 80, CDC – infrações penais (constam nos editais na parte de direito penal, não tendo uma
incidência muito grande em concursos).
Vide Súmula 479, STJ.
O CDC é um microssistema que regulamenta as relações de consumo, já que o Código Civil é o sistema
que regulamenta o direito privado, mas leis esparsas tratam de assuntos específicos, criando sistemas
menores que tratam de determinadas matérias.
Art. 1º, CDC: Normas de proteção do consumidor, DE ORDEM PÚBLICA E INTERESSE SOCIAL.
Normas de ordem pública, podendo o juiz intervir de ofício, tendo uma relevância social, um interesse
público. A doutrina pacífica entende dessa forma, que poderá de ofício inverter o ônus da prova,
desconsiderar a personalidade jurídica, sendo uma norma de ordem pública em todos os seus aspectos,
mas existe uma exceção criada pelo STJ : Súmula 381, STJ – nos contratos bancários o juiz está proibido
de declarar de ofício a abusividade das cláusulas contratuais, é uma súmula contra legem.
Normas de interesse social: se é de interesse social também será de ordem pública, pois quando tem
uma ofensa ao consumidor, não interessará apenas aquele consumidor, mas a toda a coletividade. Se o
fornecedor abusa em um local da federação, também abusará em outro.
ELEMENTOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO: definirá quando se aplica o CDC ou o CC.
Elementos subjetivos: são conceitos relacionais, já que sem consumidor não existe o fornecedor e vice
versa.
Consumidor: art. 2º.
Consumidor Stricto sensu ou standart - padrão: toda pessoa física ou jurídica (podendo ser todas,
de direito privado ou público – inclusive União, autarquias, etc), que adquire ou utiliza (quem
compra ou aquele que utiliza, como quem ganha de presente) produto ou serviço (elemento
objetivo) como destinatário final.
Destinatário final: o código criou uma finalidade para configurar um consumidor. Para explicar o
que é dar destinação final, foram criadas 2 teorias:
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Maximalista: dar destinação é dar destinação final fática, retirando o produto de circulação.
Importa analisar objetivamente se o produto foi retirado de circulação ou se continua no mercado.
É uma análise fática, objetiva, pouco importando a sua finalidade (doméstica, econômica, etc). É
um conceito que irá abranger muitas pessoas como consumidor, por isso denominada de
“maximalista”.
ه Conceito jurídico de consumidor.
ه Conceito objetivo;
ه Destinatário fático.
Finalista: critica a doutrina maximalista, pela sua amplitude. A destinação tem que ser fática,
retirando de circulação, mas também deve dar uma destinação econômica, restringindo o
conceito. Além de retirar de circulação, deverá verificar se também conferiu um fim econômico,
não podendo ser utilizado na atividade laboral, como insumo, devendo ser utilizado com finalidade
doméstica e pessoal. Preocupa saber o que a pessoa física ou jurídica fez com o produto ou
serviço. Ex. algodão utilizado para tecido, ainda está ativo financeiramente, já que continua a gerar
riquezas. É uma análise subjetiva, indagando o que aquela pessoa fez com o produto adquirido.
ه Conceito econômico de consumidor.
ه Conceito subjetivo;
ه Destinatário fático e econômico.
Cláudia Lima Marques entendeu que estas teoria não ajudam, não conseguindo verificar quem é
consumidor. A doutrinadora entendeu que deve se analisar a razão de existir do CDC, isto é, a
VULNERABILIDADE, que é a ratio legis do CDC (art. 4º, I). Como tem alguém vulnerável, precisa-
se da proteção do CDC, para equilibrar a relação entre o consumidor e fornecedor. Havendo
vulnerabilidade, justifica a aplicação do CDC, não podendo aplicar um código de iguais (o Código
civil), necessitando tratar desigualmente os desiguais para se atingir a igualdade.
Temos várias formas de vulnerabilidade, já reconhecidas pelo STJ:
→ Técnica: falta de conhecimentos específicos sobre determinado produto ou serviço.
→ Jurídica ou científica: quando falta na relação algum conhecimento específico de direito,
contabilidade, engenharia, arquitetura, matemática financeira, etc.
→ Fática ou econômica: da relação entre consumidor e fornecedor, há uma relação de
dependência muito grande, fática ou econômica. Ex. quando só aquele fornecedor vende
aquele produto ou quando o fornecedor é tão forte que não tem nenhum poder de barganha,
sendo o consumidor muito pequeno perto do fornecedor. STJ entende que o mutuário possui
uma vulnerabilidade fática ou econômica diante do Sistema Nacional de habitação (questão já
cobrada em concurso).
→ Informacional: quando falta informações importantes para aquela relação. Quando o
desequilíbrio entre as informações entre consumidor e fornecedor, para que o primeiro possa
se valer de tais informações para realizar uma aquisição de produto ou serviço de forma
consciente.
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Pode ser que em um caso concreto poderá ser verificado outros casos de vulnerabilidade, como a
psicológica (entendimento do STJ). As provas normalmente trocam os conceitos de cada
vulnerabilidade.
Se precisa identificar o vulnerável para se encontrar a figura do consumidor, basta encontrar
alguma destas vulnerabilidades, justificando a aplicação do CDC. Cláudia Lima Marques, com tal
visão de vulnerabilidade, jogou por terra a divergência entre as teorias maximalistas e finalistas.
STJ - Teoria finalista mitigada/ aprofundada Com este conceito de vulnerabilidade, o STJ
adotou esta teoria, unindo a finalista com a análise de vulnerabilidade, conferindo esta
nomenclatura. Como a finalista é a mais restritiva, adotou-se expressamente esta teoria restritiva,
tendo unido a teoria finalista com a teoria da vulnerabilidade. Ele é finalista, mas se houver alguma
situação de vulnerabilidade, ele relativiza a teoria pela análise da vulnerabilidade no caso
concreto.
Se não encontra a vulnerabilidade, aplica a teoria finalista pura, mas se encontra a vulnerabilidade
aplica a teoria finalista mitigada.
Consumidores equiparados: art. 2º, §único, CDC. Em tese não é consumidor, mas é equiparado a
ele, podendo se valer do CDC da mesma maneira que o consumidor standard (padrão).
A coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis: propicia a tutela coletiva desta coletividade
de pessoas, que na realidade é a coletividade (descrita do art. 81 a 104, CDC). O art. 29, CDC,
também menciona esta tutela quando menciona determináveis ou não.
Art. 17, CDC – bystanders (vítima do acidente de consumo, aquele que sofre o acidente de
consumo – o expectador): todas as vítimas de danos ocasionados pelo fornecimento de produto
ou serviço defeituoso. Ex. atropelado pelo carro da Audi, que tem um freio defeituoso. Não chegou
a adquirir o bem, mas é vítima do acidente de consumo.
Fornecedor: art. 3º. É toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira,
bem como os entes despersonalizados (é um conceito amplíssimo e qualquer questão de
concurso que menciona “só poderá ser fornecedor” é errada), que desenvolvem atividades
(agindo com habitualidade. Se realiza de modo eventual não será fornecedor) de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.
O que importa do conceito é o fato de desenvolver atividade com habitualidade, inclusive sendo
ente despersonalizado (ex. uma família que desenvolva uma atividade econômica com
habitualidade; camelô).
Fornecedor é um gênero com as seguintes espécies: construtor, importador, comerciante, criador,
montador, produtor, fabricante, etc. Quando estiver descrito fornecedor, todos serão responsáveis
solidariamente.
Quando o CDC menciona algum fornecedor exclusivo, precisa responsabilizar aquela pessoa
especificamente. Arts. 8º, §único; art. 12; art. 13; art. 14, §4º; art. 18, §5º; art. 19, §2º; art. 25, §2º;
art. 32; art. 33, CDC.
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A prova de concurso normalmente coloca a palavra “fornecedor” nestes dispositivos em que
somente alguns são responsáveis.
O art. 3º, do Estatuto do torcedor: para evitar qualquer divergência, equiparou a fornecedor
qualquer entidade / empresa que tenha o mando de jogo ou que seja responsável pela exibição
esportiva naquele evento são equiparados ao fornecedor. Assim, seria também equiparado ao
consumidor aquele que compra o bilhete para o evento esportivo.
Fornecedor:
o REAL: será o fabricante, o produtor de produtos naturais e o construtor.
o APARENTE: aquele que coloca o nome na embalagem, não tendo feito o produto. Ex. Wal
Mart vende pães, bolos e produtos com o nome de sua marca, mas terceiriza a fabricação de
tais produtos.
o PRESUMIDO: o importador (não fabricou, apenas importou) e o comerciante (nos produtos
anônimos, aqueles que não tem marca). Ex. ao comprar uma laranja, não tem o nome do
produtor, sendo o comerciante o fornecedor presumido.
Elementos objetivos: são conceitos cumulativos ou não, existindo de forma independente ou de forma
conjunta.
Produto: art. 3º, §1º. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. Tudo
poderá ser considerado produto. A pegadinha de prova é delimitar o conceito de produto está
errado, já que a ideia é muito ampla. Não há um delimitador do conceito de produto.
Serviço: art. 3º, §2º. É qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Remuneração:
Direta: paga efetivamente pelo serviço.
Indireta: Ex. estacionamento gratuito de padaria, ainda que não compre nada, não tendo pagado
nada pelo serviço de guarda do carro – como o serviço não é remunerado, se o carro for roubado,
danificado, poderá aplicar o CDC, diante da remuneração indireta, já que o consumidor paga
indiretamente pelo serviço (pois está prestando serviços para atrair o consumidor, a melhorar sua
atividade econômica).
Para excluir serviços, apenas os serviços PURAMENTE GRATUITOS são hábeis a isso, não
tendo nenhuma finalidade econômica na prestação daquele serviço, não podendo ser os
APARENTEMENTE GRATUITOS, que é sinônimo de remuneração indireta.
Quanto à natureza bancária, o STF na Adin 2591 e o STJ, pela Súmula 297, pacificou que os
contratos bancários se submetem ao CDC.
Às relações de caráter trabalhista não se aplicará o CDC, ainda que seja um serviço. Ex.
funcionário teve um dano na relação de trabalho.
APLICAÇÃO DO CDC PELO STJ:
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Ͽ Súmula 321, STJ: relação jurídica existente entre entidade de previdência privada e seus
participantes aplica o CDC. Ao INSS não se aplica o CDC.
Ͽ Súmula 469, STJ: aplica-se o CDC aos contratos de plano de saúde.
Ͽ Taxista: o STJ delimitou esta relação como de consumo. O taxista compra o veículo para a finalidade
econômica, não sendo um destinatário econômico e fático, pela teoria finalista. Porém, o taxista que
compra o veículo acaba se tornando vulnerável perante a montadora, por não entender de carros,
não tendo técnica, e ainda fática. O STJ já reconheceu mais de uma vez que a relação do taxista com
a montadora e até mesmo com o banco em caso de financiamento seria uma relação de consumo,
dada a vulnerabilidade do taxista.
Ͽ Relação entre o agente financeiro do Sistema Financeiro de Habitação que concede empréstimo para
aquisição de casa própria, e o mutuário (Resp 436815-DF). O mutuário é consumidor, mas ressalva-
se o caso de existência da CLÁUSULA DO FUNDO DE COMPENSAÇÃO DE VARIAÇÃO SALARIAL,
a este sistema financeiro de habitação não será aplicado o CDC.
Ͽ Sociedades e associações sem fins lucrativos quando fornecerem produtos ou prestarem serviços
remunerados: o fato de ser a sociedade ou associação sem fins lucrativos não irá descaracterizar a
relação de consumo, já que poderão prestar serviços remunerados, como por exemplo, o plano de
saúde e plano odontológico. Resp 436815-DF e 519310-SP.
Ͽ Relação entre condomínio e concessionária de serviço público: não irá se aplicar o CDC na relação
entre condômino e condomínio, mas o STJ já definiu que o condomínio perante uma concessionária
poderá ser consumidora, até mesmo por uma questão de vulnerabilidade fática, já que depende da
concessionária para a prestação do serviço.
Ͽ Cooperativa de crédito integra o sistema financeiro nacional, estando sujeita ao CDC. A cooperativa
de crédito exerce uma atividade financeira.
Ͽ Serviços funerários: ao comprar um espaço para o serviço funerário, é uma relação de consumo.
Ͽ Correios e usuários: ao pagar para enviar uma carta pelo Correios, utilizando-se do serviço de forma
remunerada, tem-se uma relação de consumo.
NÃO APLICAÇÃO DO CDC PELO STJ:
Ͽ Crédito educativo;
Ͽ Relações decorrentes de condomínio: entre o condômino e condomínio. Mas a relação entre o
condomínio perante uma concessionária, terá relação de consumo.
Ͽ Relações de locação predial urbana: relação de aluguel não é de consumo.
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Ͽ Atividade notarial (cartórios) não é regida pelo CDC. Em 2010 teve um julgado em que na ementa
tinha a ideia “nas atividades notariais aplicam-se o CDC”, mas no teor da decisão não houve menção
a esta questão. Não houve modificação do entendimento, que continua não sendo regido pelo CDC.
Ͽ Contrato de franquia – relação entre franqueador e franqueado, que é uma relação empresarial e não
consumerista.
Ͽ Execução fiscal: está se cobrando tributos, não havendo relação de consumo.
Ͽ Beneficiários da Previdência Social não são enquadrados como consumidores (resp 143092-PE)
Ͽ Aquisição de bens ou utilização de serviços para implemento ou incremente de sua atividade
comercial (resp 1014960-RS). No mesmo sentido, envolvendo insumo agrícola (adubo) (resp
1016458-RS): Nesse julgado, o agricultor que comprou adubo para a sua atividade rural não conferiu
destinação final em conformidade com a teoria finalista, ainda o utilizando na cadeia, mas o STJ
entendeu que o insumo não terá aplicação do CDC, mas sempre que houver vulnerabilidade aplicará
o CDC, pela mitigação da teoria finalista.
Consumidor intermediário: em regra, não será aplicado o CDC, já que ele irá comprar e continuar a sua
produção, utilizando como insumo, incremento de sua atividade. Mas se ele tiver vulnerabilidade, aplicar-
se-á o CDC.
Se a questão ventilar somente o fato de ter comprado para incrementar sua atividade não aplica o
CDC;
Se a questão, além de ventilar a questão acima, mencionar sobre a vulnerabilidade sofrerá a incidência
do CDC.
Ͽ Relação entre contador e condômino não é de consumo;
Ͽ Relação tributária: da mesma forma que a execução fiscal. A relação entre o fisco e o devedor do
tributo não é de consumo.
Ͽ Representante comercial autônomo e a sociedade representada;
Ͽ Contratos firmados entre postos de distribuidores de combustíveis: por ser uma relação comercial.
Ͽ Lojistas e administradores de shopping Center.
Ͽ Serviços advocatícios: não aplicação do CDC. Havia uma divergência entre a 3ª e 4ª turma do STJ,
mas esta divergência acabou, não mais se aplicando o CDC em tais relações, já que são regidos
apenas pelo Estatuto da OAB.
Ͽ Perícia judicial.
EM TODOS ESTES CASOS, SE TIVER VULNERABILIDADE PODERÁ APLICAR O CDC, em análise ao
caso concreto.
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DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR: art. 6º, CDC.
Estudaremos 03 que somente estão previstos no art. 6º, CDC:
Inciso V.
Parte I: Modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais: Lesão no
CDC. Sempre que houver uma prestação desproporcional, tem o direito básico de pedir a modificação
deste contrato.
Faz-se um paralelo com a lesão do Código Civil (art. 157, CC), em que também se tem uma prestação
desproporcional, mas somente poderá pedir a modificação quando se tem inexperiência ou premente
necessidade, devendo demonstrar um ou outro para poder modificar o contrato. Está dentro dos defeitos
do negócio jurídico.
Já no CDC não há nenhum requisito para se pedir a modificação do contrato, não precisando comprovar
inexperiência ou premente necessidade. O consumidor é vulnerável, estando implícito no sistema. O CC,
como é um código de iguais, em tese as pessoas sabem o que estão fazendo, precisando demonstrar tais
requisitos.
A consequência da lesão no CDC é a modificação do contrato, já no CC em regra haverá a resolução do
negócio jurídico. O CDC rege-se pelo princípio da conservação dos contratos, devendo evitar a resolução
do contrato.
A lesão acontece no início do contrato, já celebrando um contrato desproporcional.
Parte II: Sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas: é o que
se denomina de onerosidade excessiva. Tem um fato superveniente, posterior, que irá acarretar a
onerosidade excessiva. A contratação é equilibrada, mas que foi corrompida posteriormente por um fato
superveniente.
Não houve aplicação da teoria da imprevisão, já que nesta o fato superveniente deve ser imprevisível,
o que não é requisito no CDC (ao contrário do art. 478, CC). Basta que seja um fato superveniente que
torne excessivamente onerosas.
A onerosidade excessiva no CC tem por consequência a resolução, já no CDC há a revisão do contrato.
No caso de maxidesvalorização de leasing cotado pelo dólar, o STJ manda revisar e reequilibrar o
contrato novamente, não retorna como era antes, já que ambas as partes tem um prejuízo para requilibrar
o contrato.
Inciso VI: “a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos”: é o princ. da reparação integral, não podendo ter no CDC indenização tarifada. Nada pode
delimitar a indenização paga ao consumidor.
Tem previsibilidade do dano moral, que é o dano da personalidade. Quando se fala em dano material, fala-
se em reparação, pois volta ao status quo ante, já o dano moral é a compensação, pois é impossível
retornar ao estado anterior.
Jurisprudência do STJ sobre dano moral: 1) o simples travamento da porta giratória nas instituições
financeiras não gera dano moral, o que pode gerar é a forma como a situação é tratada (na prova, se tiver
menção à “simples” travamento); 2) o simples soar falso do alarme antifurto em lojas não é passível de
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dano moral, mas a forma como o estabelecimento irá tratar da situação é que será cabível o dano moral.
3) supermercados atacadistas que conferem ao final os produtos comprados – é uma prática que não é
abusiva, não gerando dano moral, fazendo parte da atividade comercial. 4) Insetos constantes em
alimentos: se o consumidor consumiu o alimento, caberá dano moral, mas se simplesmente viu e não
consumiu não cabe dano moral. Ex. chocolate vem com larvas.
Súmulas STJ sobre dano moral:
Súm. 402: o contrato de seguro por danos pessoais compreende danos morais, salvo cláusula expressa
de exclusão. Se o contrato é silente, a seguradora será também responsável pelos danos morais. Se tiver
uma cláusula em separado prevendo a cobertura de danos morais, também não abrange danos pessoais.
Súm. 388: a simples devolução indevida de cheque caracteriza o dano moral. Devolver o cheque
indevidamente, com dinheiro na conta, acarreta dano moral, ainda que seja a “simples” devolução, não
precisando comprovar que houve efetivo prejuízo à sua personalidade, o infortúnio, dessabor, que já é
presumido neste caso. É um dano moral IN RE IPSA, que decorre do fato em si, bastando a prova do fato
para caracterizar o dano moral.
Súm. 387: é lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
Súm. 385: da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano
moral quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.
Súm. 370: caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.
DANOS MORAIS COLETIVOS: está expresso neste dispositivo do CDC, que é a ofensa ao sentimento
comum da sociedade, sendo a ofensa ao direito da personalidade (a coletividade não tem personalidade
para os que entendem não ser cabível). É amplamente aceita no direito do trabalho e direito ambiental.
STJ aceita o dano moral coletivo, mas ainda não de maneira pacífica, sendo acompanhado pelas provas
de concurso, como uma espécie de dano contemplado expressamente no CDC. Em 2009 houve um
precedente do STJ não aceitando o dano moral coletivo e o relator vencedor foi o Min. Teori Zavaski (que
atualmente saiu do STJ). Mas a 2ª e a 3ª turma já aceitaram o dano moral coletivo. Atualmente, pela
composição dos ministros, o STJ poderá se consolidar com a possibilidade do dano moral coletivo.
Inciso VIII: “a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência”.
É a inversão do ônus da prova, para facilitar o acesso à justiça. Possibilidade de ajuizar ação em seu
domicílio, em uma demanda judicial que tenha uma equiparação probatória. Trabalhou a possibilidade
dentro do processo de provas que o consumidor deveria ter que fazer ser transferida para o fornecedor.
Alguns entendem que o art. 333, I, CPC, se aplica ao direito do consumidor, mas quando a prova é muito
difícil de ser realizada pelo consumidor, pela sua hipossuficiência técnica ou econômica ou (alternativa)
verossimilhança de sua alegação (são os requisitos para que haja a inversão), haverá a inversão do ônus
da prova. A inversão do ônus da prova não é automática, sendo deferida pelo juiz se houver preenchidos
os requisitos (hipossuficiência OU verossimilhança das alegações).
O CC adotou a teoria estática de ônus probatório, já o CDC aplica a teoria dinâmica de distribuição do
ônus da prova, sendo possível transferir o ônus da prova, para equilibrar processualmente as partes.
Momento de inversão: há divergência na doutrina, em que:
[1ª corrente] o juiz teria um momento adequado para se inverter o momento o ônus da prova, que deveria
ser até o despacho saneador, manifestando se tratar de uma regra de procedimento; ou
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[2ª corrente] poderia ser realizado a qualquer momento, inclusive na própria sentença, invertendo o ônus
para julgar, como um instrumento utilizado para sanar a sua dúvida (pelo princ. do non liquet), sendo uma
regra de julgamento.
O STJ adota a regra de procedimento, a 1ª corrente, pelo argumento de possibilitar ao fornecedor o
contraditório e ampla defesa, sabendo do ônus que lhe fora imputado.
Diversa é a situação de pagar as despesas da prova: No processo civil, quem requer que pagará a prova.
O STJ entendeu que no tocante ao pagamento das despesas da prova, quem deverá pagar pela despesa
da prova é quem requer, haja vista inexistir tal previsão no CDC, aplicando-se subsidiariamente o CPC. Se
o consumidor não tiver condições, aplica-se disposições compatíveis.
É cláusula nula um contrato que inverta o ônus da prova em prejuízo ao consumidor.
Segundo o STJ, a inversão do ônus da prova pode ser aplicada no direito ambiental e também nas ações
coletivas. O MP tinha dificuldades de efetivar a prova de danos ambientais, de modo que o STJ aceitou tal
inversão.
A inversão do ônus da prova é OPE JUDICES, concedida pelo juiz, já que não é automático. Difere do
OPE LEGIS, que é aquela que decorre da lei (art. 12, 3º, II; art. 14, §3º, I e art. 38, CDC).
Art. 7º, CDC: outros direitos contemplados em outras leis referentes ao consumidor também se aplica às
relações de consumo, com um diálogo das fontes. Se houver alguma lei mais benéfica, se aplicará, ou
pelo menos haverá o diálogo do CDC com as demais regras. Poderá ocorrer com qualquer lei em sentido
amplo (tratados, portarias, regulamentos, decretos).
Idoso na relação de plano de saúde: Estatuto do Idoso, Estatuto do plano de saúde e ainda o CDC.
STJ aplicou o Estatuto do Idoso para manifestar que não pode ser discriminado, manifestou sobre a boa-fé
no CDC e ainda as regras do Estatuto do plano de saúde, para se chegar a uma regra benéfica ao
consumidor idoso, através de um diálogo das fontes.
Nos CONTRATOS RELACIONAIS, que são aqueles de longa duração (cativos de longa duração), que
muitas vezes duram uma vida inteira, como o plano de saúde, previdência privada, sendo um contrato
relacional, pois o celebra e permanece por um logo período de tempo. Justamente nestes contratos
relacionais devem as partes agir com muito mais boa-fé, lealdade e confiança (STJ).
A solidariedade é a regra geral do CDC, com poucas exceções. Todos que se encontram na relação serão
responsáveis solidariamente (fornecedores, distribuidores, etc). O STJ entende que são solidariamente
responsáveis a agência de turismo e todo o seu acervo contratado, como o hotel, empresa de aviação, o
citytur, etc. Atrasos no avião, desmarcação de hotel, e demais danos acarretados em virtude da
contratação pela própria agência de turismo serão também por ela responsabilizados de forma solidária.
O STJ excetua da responsabilidade solidária a situação em que o consumidor escolhe o médico e depois
é ressarcido pelo plano de saúde. Não é credenciado ao plano de saúde, de modo que não terá
responsabilidade solidária. Quando é um médico credenciado, será o plano de saúde solidariamente
responsável.
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Lei 12.741 alterou o inciso III do art. 6º, CDC: toda alteração de lei é cobrada em concursos, incluindo a
expressão “tributos incidentes”. O preço cheio (ofertado) será o mesmo, com a diferença de especificação
do preço do produto sem tributo e o preço com tributo, sendo possível verificar quanto se paga de tributo.
Não é igual aos EUA, que tem um preço do produto e somente depois incide o valor do tributo. A Lei
12.741 irá prever que o valor do tributo será aproximado, já que é difícil estabelecer qual o valor com
exatidão, haja vista a carga tributária do Brasil ser complexa.
RESPONSABILIDADE CIVIL NO CDC:
Não há a separação entre responsabilidade contratual e extracontratual (aquiliana), adotando o CDC a
TEORIA UNITÁRIA DE RESPONSABILIDADE, de forma que todas serão tratadas da mesma maneira.
A diferença que encontra no CDC é se tratar de responsabilidade:
1. Pelo fato - DEFEITO : art. 12 a 14, CDC. Dano causado à saúde e segurança do consumidor, é
extrínseco, sendo externo, com a teoria da qualidade da segurança, sendo um acidente de
consumo. O prejuízo é extrínseco ao bem, ou seja, não há uma limitação adequada do produto em
si, mas uma inadequação que gera danos além do produto (acidente de consumo) – Qualidade-
segurança. O defeito é um vício que se exterioriza.
A responsabilidade pelo fato centraliza suas atenções na garantia da incolumidade físico-psíquica
do consumidor, protegendo sua saúde e segurança.
Prescrição: art. 27, CDC. FATO / DEFEITO = PRESCRIÇÃO.
2. Pelo vício - VÍCIO : inadequação do produto ou serviço, por uma questão interna, não se
exteriorizando, fala-se em teoria da qualidade adequação, que reflete a expectativa que se tem
daquele determinado produto. O prejuízo é intrínseco, estando o bem somente em
desconformidade com o fim a que se destina – Qualidade-adequação.
A responsabilidade por vício busca garantir a incolumidade econômica do consumidor.
Decadência: art. 26, CDC. VÍCIO = DECADÊNCIA.
RESPONSABILIDADE PELO FATO:
Visão topográfica pela responsabilidade pelo fato:
Responsabilidade pelo fato:
1. Produto :
o Art. 12 – responsabilidade do fornecedor, exceto comerciante.
“O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem,
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas,
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos”.
Não menciona a expressão “fornecedor”, delimitando as espécies que serão responsáveis, mas
excetua-se apenas o comerciante. Como pode gerar danos vultuosos, por um vício que o
comerciante não deu causa (o vício está no produto, é interno), houve a sua exclusão do rol. No
fato do produto, há o princ. da reparação integral, não tendo limite a indenização a ser paga. A
responsabilidade é objetiva, já que independe de culpa (teoria do risco da atividade).
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§2º: “O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido
colocado no mercado” – melhor técnica, mais seguro, etc. Ex. Fiat Uno que agora tem air bag e
freio ABS, quem comprou antes de possuir tais itens não caberá indenização.
O CDC não adota a teoria do risco integral, pois existem situações de excludente de
responsabilidade, existindo hipóteses em que se justifica a sua não responsabilização:
§3°: O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando
provar:
I - que não colocou o produto no mercado: ex. produto pirata;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste: é a primeira hipótese de
inversão de ônus da prova OPE LEGIS, pela lei. A prova do defeito, que seria fato constitutivo do
direito do autor, passa a ser, por lei, ônus probatório do réu (o fornecedor, exceto comerciante),
havendo uma distribuição diferenciada de ônus da prova em relação ao CPC.
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro: pelo dano provocado pelo próprio
consumidor, por não ter lido as instruções, etc.
Ventila-se a ideia de que poderia alegar a exclusão da responsabilidade por culpa exclusiva do
comerciante, que será um terceiro, mas o STJ entendeu que não é cabível (ocorreu em apenas
um precedente).
Caso fortuito e força maior podem ser aplicados como excludente de responsabilidade no CDC,
ainda que não contemplados expressamente? Faz-se necessário uma distinção:
Caso fortuito interno: aquele que irá se ligar a atividade da empresa e, desse modo, a empresa
irá ser responsável por aquele fato, ainda que seja inevitável e imprevisível. Não haverá exclusão
da responsabilidade. Ex STJ. assalto de carro forte que levará cheques para os clientes; assalto
dentro da instituição financeira ou no estacionamento do banco. Súm. 479, STJ: no caso de
fraude dos correntistas de banco, quando um terceiro consegue de maneira fraudulenta
empréstimo em nome do consumidor.
Caso fortuito externo: não faz parte da atividade da empresa, desassociada, irá excluir a
responsabilidade do fornecedor. Ex STJ: assalto a mão armada em transporte coletivo,
intermunicipal, etc, mas é controverso na doutrina. Quando alguém arremessa algo de fora para
dentro do ônibus, também seria caso fortuito externo.
E a culpa concorrente, para reduzir a indenização paga ao consumidor? O STJ admitiu esta
possibilidade, aplicando o CC neste caso para reduzir a responsabilidade do consumidor quando
ele contribuir para a ocorrência do dano.
Risco do desenvolvimento: é uma hipótese alegada pelos fornecedores, quando o fornecedor
não tinha conhecimento (científico, etc) que determinado produto causava danos ao consumidor
e este produto venha a causar danos, e posteriormente com o avanço da pesquisa, descobre-se
que aquele produto era defeituoso. Ex. medicamentos.
O fornecedor pode alegar o risco de desenvolvimento para excluir a responsabilidade? Na
doutrina consumerista, que tem uma visão mais protetiva ao consumidor, não é uma excludente
de responsabilidade.
Já no direito empresarial, entende-se que seria uma excludente de responsabilidade, sob pena
de obstar o desenvolvimento, por exemplo, da medicina, farmácia, biologia, etc, já que naquele
momento não tenha como aferir se causa dano aos consumidores.
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O STJ ainda não se manifestou sobre o assunto, mas as questões de concurso se baseiam na
doutrina consumerista, não considerando como exclusão de responsabilidade.
o Art. 13 – responsabilidade do comerciante.
“O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando”: ao estabelecer
“igualmente”, menciona-se que será responsável nos mesmos moldes do art. 12, CDC.
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados: é aquele
produto sem rótulo, identificação.
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou
importador: mesma razão do inciso acima, com a diferença que há uma identificação, mas esta
não é clara. Ex. rótulo que não fala o CNPJ, endereço da empresa, não sendo possível identificar
o produtor, etc. Quando não consegue identificar os responsáveis do art. 12, responsabiliza-se o
comerciante (ainda que tenha direito de regresso, conforme §único).
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis: a responsabilidade será exclusiva do
comerciante. Mas o STJ entende que no caso de prazo de validade vencido, o fabricante
responderia solidariamente com o comerciante.
Parágrafo único. “Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de
regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento
danoso”.
Sempre poderá ter direito de regresso, como a regra do CDC é a solidariedade. Este dispositivo
se complementar com o art. 88, CDC, que determina que poderá se dar em uma ação autônoma
ou prosseguir nos mesmos autos, na mesma ação que se indenizou o consumidor, contra o
verdadeiro causador do dano, vedada a denunciação da lide, que não é interessante ao
consumidor, que ter quer ressarcido o seu dano. O STJ tinha uma posição diferente em suas
turmas sobre a denunciação da lide, mas atualmente é pacífico em todas as turmas (final de 2012)
no sentido de que não se admite a denunciação da lide em nenhuma hipótese, em conformidade
literal com o dispositivo do CDC.
Quando há a venda de um produto com prazo de validade vencido haverá a responsabilização do
comerciante, sendo o fabricante solidariamente responsável. Questão diversa é quando o
consumidor consome o produto após o prazo de validade, se foi comprado ainda dentro da
validade, entendendo o STJ que não terá responsabilização, ainda que tenha ocorrido danos, pois
cabe ao consumidor analisar o prazo de validade de algo que já comprou (Resp 1252307/PR).
Esta questão é de concurso.
Ressalva: profissionais liberais.
2. Serviço : as modelos são parecidos entre produto e serviço.
o Art. 14, CDC. Todos eles serão responsáveis solidariamente, inclusive o comerciante.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
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§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar,
levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
Excludentes de responsabilidade:
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste:
significa a primeira e segunda hipótese do art. 12, CDC, incluindo que não prestou o
serviço na expressão “tendo prestado o serviço”);
é a segunda hipótese de inversão do ônus da prova ope legis, de forma que o
consumidor não precisa provar o defeito do produto e nem do serviço, sendo um ônus
da prova do fornecedor, tendo que demonstrar que o produto não tinha defeito/vício).
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro
Profissionais liberais:
§ 4° “A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de
culpa”. Não há esta possibilidade na responsabilidade pelo fato do produto, tendo um modelo
diferenciado para os profissionais liberais. É o diferencial do art. 12, CDC. A responsabilidade será
subjetiva, sendo uma exceção da responsabilidade objetiva, analisando a sua imperícia,
imprudência ou negligência.
Sobre a responsabilidade, temos 2 tipos de obrigação prestada pelo profissional liberal:
→ Obrigação de meio : o profissional não garante o resultado, mas sim a melhor prestação do
serviço possível, a perícia, o cuidado e zelo, utilizando a melhor técnica, etc. Ex. o médico
não tem como garantir a cura. Nesse caso, adotaria o art. 14, §4º, CDC, de
responsabilidade subjetiva (culpa provada).
→ Obrigação de resultado : o profissional liberal pode garantir o resultado na prestação do
serviço. STJ entende como tais obrigações as hipóteses de cirurgia plástica embelezadora
(estética e não reparadora), de forma que na estética o cirurgião tem como garantir o
resultado. Além disso, o tratamento ortodôntico, para consertar a arcada dos dentes
também pode garantir o resultado. Nesse caso, por poder garantir o resultado, a
responsabilidade seria objetiva, mas por expressa determinação legal visualiza-se que
não poderia adotar uma interpretação contra legem. A doutrina e o STJ atualmente
entendem se tratar de uma responsabilidade subjetiva (culpa presumida).
Mas o problema reside em se tratar de uma interpretação contra legem: a doutrina
entende que não se pode alterar o espírito da lei, de forma que poderia ser analisada a
responsabilidade subjetiva de modos diferentes. A responsabilidade subjetiva comporta,
em um primeiro momento, de culpa provada, tendo que provar a culpa de alguém. Já na
obrigação de meio teria uma culpa presumida, ocorrendo uma inversão do ônus da prova
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para o profissional liberal. Dessa forma, percebe-se que se trata da culpa, de forma que
não se trata de responsabilidade objetiva.
Hoje, o STJ adota este modelo de responsabilidade dos profissionais liberais.
Danos por erro médico: poderia encontrar 2 fornecedores prestando o serviço na cadeia
de responsabilidade, o hospital e o médico profissional liberal. O hospital estaria com
responsabilidade prevista no caput do art. 14, já o profissional liberal estaria no §4º do art.
14. Ocorre que eles possuem a responsabilidade diversa, de modo que o hospital teria a
responsabilidade objetiva e o médico subjetiva. Ocorre que os hospitais começaram a
questionar a responsabilidade subjetiva do médico, não se aceitando a denunciação da
lide do médico, de modo que no momento de ter o direito de regresso deveria o próprio
hospital comprovar a culpa do médico.
O STJ pacificou da seguinte maneira: se o ato for praticado por hospital (dano causado ao
consumidor estiver relacionado a um serviço específico do hospital, ex. intoxicação
alimentar no hospital; falta de segurança; não ministramento de remédio pelo hospital, nos
moldes do diagnóstico médico, etc): o hospital será responsabilizado em conformidade
com o caput do art. 14, isto é, com responsabilidade objetiva.
Se o ato for praticado pelo médico: deve verificar se não tem subordinação do médico com
o hospital (não sendo funcionário, controle de horário, ponto, carteira de trabalho, etc): o
hospital não irá responder pelo ato médico. Se não tiver vínculo não há responsabilidade
do hospital, sendo exclusivamente do profissional liberal, com responsabilidade subjetiva.
Se o ato for praticado pelo médico que tiver subordinação com o hospital (havendo
vínculo): o hospital responderá pelo ato do médico, porém, somente responsabilizará o
hospital de forma solidária pela modalidade de responsabilidade subjetiva.
O hospital responderá de maneira objetiva pela culpa do médico: primeiro analisa a culpa
do médico para depois responsabilizar o hospital. O hospital não pode alegar que não
houve culpa sua.
Em suma:
o Ato praticado pelo hospital : responsabilidade objetiva;
o Ato praticado pelo médico :
o Com subordinação ao hospital: responsabilidade subjetiva, sem responsabilização
do hospital.
o Sem subordinação com o hospital: responsabilidade objetiva do hospital pela culpa
do médico: primeiro analisa-se a culpa do médico e depois chega-se a
responsabilização objetiva do hospital.
Responsabilidade pelo vício: se refere a um vício intrínseco do produto ou serviço.
Vício do produto: art. 18, 19 e 20, CDC.
o Qualidade:
Art. 18. “Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados
ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
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disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem
publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a
substituição das partes viciadas”.
Fornecedor: engloba todos, não havendo especificação da responsabilidade. Serão solidariamente
responsáveis todos aqueles que participaram na cadeia, inclusive o comerciante. Ao comprar
algum produto em determinada loja, o consumidor não precisará levar em assistência técnica, já
que o comerciante é solidariamente responsável, que deverá receber o produto para adequá-lo.
Quando fala em “ou quantidade” há uma inapropriedade do dispositivo legal, já que o art. 18,
CDC, somente trata do vício de produto pela qualidade.
De maneira excepcional o CDC deu direito ao fornecedor de adequar o produto com vício em sua
qualidade, de forma que o fornecedor poderá consertar o produto, não sendo obrigado a trocar o
produto ou a devolver o dinheiro, sendo um direito potestativo (que pode impor ao consumidor,
com estado de sujeição), que deve ser realizado no prazo de 30 dias, sob pena de incidência das
hipóteses previstas no §1º, que é a escolha do consumidor.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias (podendo ser modificado pela
vontade das partes, vide §2º), pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
As perdas e danos pode se dar em qualquer hipótese, desde que alegada a provada.
§ 2° “Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo
anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de
adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de
manifestação expressa do consumidor”.
Esse prazo de 30 dias do conserto pode ser alterado entre consumidor e fornecedor, mas não
pode ser superior a 180 (não são 6 meses) e inferior a 7 dias.
Mas nos contratos de adesão, deve ser realizada em um adendo, cláusula separada bem
destacada e com uma manifestação expressa do consumidor concordando com aquela cláusula.
§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em
razão da extensão do vício, a
a. Substituição das partes viciadas puder comprometer a:
a. Qualidade;
b. Características do produto;
b. Diminuir-lhe o valor;
c. Se tratar de produto essencial: entende-se que produto essencial é aquele que não pode
esperar 30 dias, sendo analisado no caso concreto, quando o consumidor não puder ficar sem
tal produto adquirido. Ex. carro comprado por taxista é essencial. Em março de 2013 publicou
o Plano Nacional das relações de consumo, com a possibilidade de os Ministérios se reunirem
e especificarem para o mercado quais são os produtos considerados essenciais. Ex. aparelho
celular é essencial, independentemente de utilizar para o trabalho ou não.
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Imediatamente após o vício, poderá o consumidor fazer a escolha das opções do §1º, não
podendo o fornecedor exercer o direito de consertar o vício em 30 dias (ou pactuado) nas
hipóteses previstas acima.
§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo
possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou
modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço,
sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo.
§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o
fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.
§ 6° São impróprios ao uso e consumo:
I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos,
fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas
regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.
o Quantidade:
Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre
que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às
indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária,
podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - o abatimento proporcional do preço;
II - complementação do peso ou medida;
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos
vícios;
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos.
§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior.
§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o
instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais.
A hipótese de 30 dias somente valerá no art. 18, CDC, de vício por qualidade. Não tem mais
direito do fornecedor de sanar o vício, de forma que o consumidor imediatamente pode fazer uso
de seus direitos, que são os mesmos do art. 18, sendo a escolha do próprio consumidor.
Exceção da responsabilidade solidária: A diferença do art. 19 para o art. 18, CDC, é o §2º, em que
excepciona a regra da responsabilidade. Quando o vício de quantidade ocorrer por problema na
balança apenas o fornecedor imediato será responsável.
Vício do Serviço:
o Qualidade: o serviço foi mal prestado.
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Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao
consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as
indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível: seria o equivalente à
substituição do produto, que poderá ser confiada a um terceiro, conforme §1º.
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço: é difícil, pois teria que negociar com o prestador do
serviço.
As mesmas hipóteses do art. 18, CDC se aplica, sem ter que esperar o prazo de 30 dias, podendo
imediatamente se valer das hipóteses do §1º, somente adaptando para os serviços.
§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por
conta e risco do fornecedor.
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente
deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de
prestabilidade.
o Quantidade:
Não temos um dispositivo específico para o vício de quantidade. Alguns entendem que está dentro
do vício de qualidade. Mas majoritariamente aplica-se o art. 19, com adaptações. Mas poderá
ainda pedir a complementação do serviço, dentre as opções.
Quando nos depararmos com algum caso na prova de concurso, deve-se definir:
1. Se é fato ou vício;
2. Se é produto ou serviço;
3. Se for vício, deve verificar se é a qualidade ou quantidade.
SERVIÇOS PÚBLICOS:
Quais são os serviços públicos tutelados pelo CDC?
Há divergência na doutrina, já que alguns mencionam que são todos e outros que somente aqueles pagos
mediante tarifa ou taxa e outros ainda que somente pagos por taxas.
No art. 22, CDC, há a tutela dos serviços públicos, com a noção básica de CONTRAPRESTAÇÃO,
pagando na exata medida do consumo, isto é, do serviço prestado. Tem que se perguntar se é um serviço
público contratado ou compulsório. Se for uma relação contratual e havendo uma ideia de
contraprestação, haverá relação de consumo. Não basta simplesmente estar a disposição do consumidor.
O STJ adotou os conceitos de direito administrativo, de serviços uti singuli e uti universi, mas a noção
básica é a contraprestação e contratação. Ex. telefonia, gás, energia elétrica, água, etc.
Estes serviços públicos são remunerados mediante tarifa.
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Qualquer serviço público que não é pago mediante tarifa, mas sim remunerados pelos tributos, não são
tutelados pelo CDC (segurança pública, saúde, educação, etc).
Pode-se interromper o serviço público de energia elétrica (essencial) em caso de inadimplemento?
No art. 22, CDC, há a disposição de que com relação aos serviços públicos essenciais, deverá ocorrer de
maneira contínua (princ. da continuidade dos serviços públicos). Até dezembro de 2003 o STJ não admitia
a interrupção, sob o argumento do princ. da dignidade da pessoa humana; no art. 42, CDC, de cobranças
abusivas, já que se utilizada da interrupção para cobrar o consumidor a pagar; princ. da continuidade do
serviço público.
Com a mudança radical de posicionamento em 2003, o STJ passou a aceitar a interrupção do serviço
público em caso de inadimplemento. O STJ se baseou na Lei 9897/95, que trata da prestação do serviço
público pelas concessionárias e permissionárias. No art. 6º, da mencionada lei, há a menção expressa que
no caso de inadimplemento poderá a concessionária interromper o serviço público, desde que haja uma
notificação prévia ao consumidor sobre seu inadimplemento. A própria Lei 9897 menciona que esta
interrupção não fere o princ. da continuidade, já que o serviço público deve ser prestado a toda
comunidade de maneira contínua, não de forma individualizada.
Assim, após 2003 o STJ aceita de forma pacífica a interrupção de serviço público essencial, exigindo
apenas a prévia notificação do consumidor.
Mas se ficar comprovado que há uma miserabilidade do consumidor, excepcionalmente sob o fundamento
da dignidade da pessoa humana, o STJ não admite a interrupção. Ex. doente que precisa da geladeira
para conservar os remédios, que não tem dinheiro para pagar a energia elétrica. Isso tem que ser
suportado pela sociedade, mas é o excepcional.
E quanto às pessoas jurídicas de direito público? Os Municípios, Estados, as autarquias, fundações de
direito público, etc, tem que pagar por estes serviços públicos essenciais e se ficarem inadimplentes:
O STJ através de um diálogo das fontes fez uma análise normativa entre algumas leis, buscando uma
solução razoável em relação ao tema. O STJ aproveita a Lei 9897/95 e a Lei 7783/89 (lei de greve),
buscando uma interpretação, com um diálogo de fontes. A Lei da greve prevê que alguns serviços
públicos são tão essenciais para a sociedade que não pode ter a paralisação total para a sociedade. Se o
serviço não pode ser paralisado pela greve, não poderia por outro meio paralisar o serviço considerado
essencial pela lei. Quando uma pessoa de direito público ficar inadimplente poderá ter o corte de serviço
público, desde que previamente notificado. Porém, no tocando aos serviços enumerados como essenciais,
estes serviços específicos não pode sofrer a paralisação da energia elétrica (ex. hospital, presídio, etc).
Mas determinada praça pública esportiva, que não traga prejuízo à segurança pública, poderia sofrer
paralisação da energia elétrica.
Súmulas e jurisprudências do STJ:
O inadimplemento tem que ser atual para que haja a interrupção de energia elétrica. Ex. não paga em
janeiro, mas está quite com fevereiro, março, abril, maio, etc. Pode realizar a sua cobrança, mas não
interromper, sob pena de cobrança abusiva, aplicando o art. 42, CDC, constrangendo o consumidor a
pagar a conta.
Quando há uma discussão judicial de fraude no medidor, não poderá interromper a energia elétrica. Se um
técnico da empresa concessionária visualiza que houve uma fraude, irá realizar uma conta dos últimos
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meses e arbitra o valor. Ocorre que, se o consumidor discutir esta possível fraude no medidor, que gerou o
débito, não é possível a interrupção, enquanto não ficar decidido se houve ou não fraude.
Súmula 356, STJ: “é legítima a cobrança de tarifa básica pelo uso dos serviços de telefonia fixa”. Diante
da ideia de contraprestação, a concessionária estaria imputando um limite mínimo, sendo possivelmente
uma prática abusiva. O STJ entendeu que não é uma prática abusiva. As concessionárias alegaram que é
importante ter um valor mínimo para poder viabilizar a manutenção mínima do serviço.
Pode ser utilizado também para o serviço público de água.
Súmula 357, STJ: revogada. Basta um pedido do consumidor para ter a discriminação de todas as
ligações realizadas, não precisando pagar a mais por isso.
Discriminação de ligações locais: antes não era realizado, mas pelo princ. da informação prevista no CDC,
foram ajuizadas ações civis públicas exigindo tal discriminação, ainda que para ligações locais. O governo
brasileiro editou um decreto que a partir de 2006 as concessionárias estariam obrigadas a discriminar tais
ligações, desde que fosse exigida pelo consumidor e pago por ele.
Súmula 407, STJ: é possível a adoção de alíquota progressiva de água, aplicando alíquotas diferentes, a
depender das categorias de usuário e faixas de consumo. Ex. industrial pode ter alíquota menor que o
comercial.
Súmula 412, STJ: o prazo prescricional da repetição do indébito para cobrança de tarifa de água e esgoto
é o prazo geral do Código Civil, que é o prazo geral de 10 anos do art. 206.
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA:
Responsabilidade pelo fato PRESCRIÇÃO (art. 27, CDC).
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou
do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento
do dano e de sua autoria.
O consumidor exercitará o seu direito através de uma ação condenatória para reparação dos danos,
sendo o prazo de 5 anos, contado a partir do conhecimento do dano e da autoria (contra quem terá que
ajuizar a ação condenatória). Tem-se o dano + autoria. É muito comum em medicamentos, em que se
verifica que efeitos colaterais foram gerados pela utilização do remédio.
Alguns posicionamentos do STJ não se aplica o prazo do art. 27, CDC, aplicando os prazos do CC mesmo
estando em alguma relação de consumo.
Quando estiver diante responsabilidade pelo fato do produto e serviço, gerando acidente de consumo,
sempre estará diante do prazo prescricional de 5 anos. Mas situações reflexas, como a negativação
indevida no SPC, se trata de um prazo prescricional diverso, pois não tem um dano à saúde ou segurança
do consumidor.
Súmula 101, STJ: as ações entre segurados e seguradores o prazo será de 1 ano.
Súmula 412, STJ: Repetição do indébito da tarifa de água e esgoto – prazo do Código Civil de 10 anos
(art. 205, CC), é uma ação condenatória a de repetição do indébito.
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Cigarro: prazo de 5 anos do art. 27, CDC – é um bom exemplo de acidente de consumo. STJ não vem
reconhecendo esta reparação.
Abusividades em contratos: o prazo é a do CC, de 10 anos, não o CDC, ainda que se trate de contrato de
consumo, pela inexistência de acidente de consumo.
Acidente aéreo: 5 anos, do CDC, por ser um serviço sendo prestado que gera dano à saúde e segurança
do consumidor.
Prazo geral do CC de 1916, não cabendo a sua aplicação por ser mais benéfico. Somente se aplicará nas
regras de transição.
Cobrança do Valor residual garantido (VRG) nos contratos de leasing, será de 10 anos do CC.
Responsabilidade pelo vício DECADÊNCIA (art. 26, CDC).
Cria um direito potestativo para o consumidor, podendo exigir a sanação/conserto do vício.
Há uma distinção entre produtos duráveis e não duráveis, sempre 30 ou 90 dias.
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis: se consome pelo uso,
como os remédios, alimentos, etc.
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis: consegue utilizar várias
vezes. Ex. eletrodoméstico, roupa, caneta, etc.
§ 1° “Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da
execução dos serviços”. Se trata do vício de fácil constatação ou aparente.
Quando o vício for aparente ou de fácil constatação: o prazo começa a contar a partir da aquisição do
produto, da entrega do produto ou término do serviço.
Quando se tratar de vício oculto: que já estava presente na aquisição do produto, mas somente iria
aparecer tempos depois. O início do prazo ocorrerá quando ficar evidenciado o vício.
§ 2° Obstam a decadência:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e
serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca;
Os prazos serão paralisados quando há a reclamação do consumidor ao fornecedor sobre o vício e voltará
a correr quando o fornecedor der uma resposta negativa. Não é reclamação aos órgãos de reclamação ao
consumidor e nem Procon, mas sim ao fornecedor. O prazo volta a correr para continuar exercitando o seu
direito potestativo. Quando a resposta for positiva, conserta-se o problema, não tendo lesão ao direito.
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
O consumidor individual pode se valer do inquérito civil proposto pelo MP para paralisar o prazo. Ficará
paralisado até o encerramento do inquérito civil, voltando a correr novamente. Pode ocorrer o
encerramento pelo arquivamento pelo promotor, pelo termo de ajustamento de conduta (TAC) ou ainda
pelo ajuizamento de ação coletiva.
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“Obstar” seria suspender ou interromper? Há divergência na doutrina e o STJ ainda não pacificou, mas
vislumbra-se que a interrupção é mais favorável ao consumidor, em conformidade com o art. 47, do princ.
da interpretação mais favorável ao consumidor.
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o
defeito.
O STJ adota o critério da vida útil para o aparecimento do vício oculto.
Súmula 477, STJ: o prazo do art. 26 não será utilizado para prestação de contas de extratos, tarifas e
encargos de instituições bancárias. Não seria decadencial este prazo e sim prescricional.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA:
Pelo princ. da autonomia patrimonial, as obrigações da pessoa jurídica não se confunde com as da pessoa
física. Em casos excepcionais, pode-se desconsiderar a pessoa jurídica e adentrar ao patrimônio dos
sócios.
No Código Civil:
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela
confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe
couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam
estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.
Em caso de abuso;
Requisitos: confusão patrimonial (quando os patrimônios se confundem) ou desvio de finalidade (a
empresa foi criada para desviar a finalidade, não para concretizar o que fora firmado no objeto social, ex.
para ocultar tributos).
Sempre a requerimento da parte ou do MP enquanto parte, não podendo ter a desconsideração de ofício.
É um código de iguais, por isso é diferente do CDC.
No Código de Defesa do Consumidor:
Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do
consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos
estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.
§ 1° (Vetado).
O caput é muito mais abrangente do que o Código Civil. Mas não é necessário decorar todas as hipóteses
do caput do art. 28, já que o §5º elenca uma hipótese em que haverá a desconsideração sempre que, de
alguma forma, sua personalidade for obstáculo para ressarcimento de prejuízos dos consumidores. Basta
a insolvência, isto é, que o fornecedor não consiga pagar o consumidor, para que possa haver a
desconsideração da personalidade jurídica. Não precisa comprovar algumas das hipóteses do caput, já
que o §5º ampliou para todos os casos em que o consumidor não consiga reparar o seu dano.
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma
forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.
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CÓDIGO CIVIL – TEORIA MAIOR
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – TEORIA MENOR
Teoria maior: o Código Civil exige a comprovação de alguns requisitos, ficando mais cheio, maior.
Teoria menor: o CDC não exige a comprovação de requisitos, bastando a insolvência para que ocorra a
desconsideração, sendo, portanto, mais vazia, menor para se atingir a desconsideração.
CÓDIGO CIVIL é o sistema, sendo maior.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR é um microssitema menor.
Outros dispositivos que tratam de desconsideração.
Lei 9605 – art. 4º -- infrações penais e administrativas contra o meio ambiente – também tem
desconsideração. O §5º do art. 28, CDC foi aproveitado nesta lei. BASTA A INSOLVÊNCIA.
o ADOTOU A TEORIA MENOR, que não precisa comprovar requisitos específicos.
Lei 8884 e 12529 – art. 34 – Lei do CADE – também tem desconsideração da personalidade
jurídica. É o mesmo dispositivo do art. 28, CDC. PRECISA DE COMPROVAR REQUISITOS.
o ADOTOU A TEORIA MAIOR, que precisa comprovar requisitos.
DESCONSIDERAÇÃO INVERSA:
É uma construção doutrinária já adotada pelo STJ. A obrigação é dos sócios, não da empresa, de forma
que a responsabilidade atinge também o patrimônio da pessoa jurídica, quando houver fraude, abuso de
direito, etc.
Também pode se dar entre pessoa jurídica e pessoa jurídica, mas sempre lembrando que as pessoas
possuem autonomia patrimonial, mas na verdade poderá haver a desconsideração.
Ex. quando o carro particular do sócio, o barco, a casa está em nome da pessoa jurídica e não do sócio.
RESPONSABILIDADE DE GRUPOS EMPRESARIAIS: Muito cobrada em concursos. Art. 28, §2º, 3º e 4º,
CDC.
§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são
subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.
INTEGRANTES DOS GRUPOS SOCIETÁRIOS E CONTROLADAS – SUBSIDIÁRIA.
Uma empresa controladora e outras que são controladas. A responsabilidade se dará diante do
consumidor por responsabilidade subsidiária. Aquele que causar o dano responderá diretamente e de
forma objetiva, mas quando faz parte de uma holding, a responsabilidade das outras empresas perante o
consumidor será subsidiária. Se a empresa que provocou o dano não conseguir reparar o dano ao
consumidor, poderá o consumidor se investir contra as demais empresas do grupo societário.
§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes
deste código.
CONSORCIADAS – SOLIDÁRIA.
É uma união de esforços para realizar determinado serviço e como está tendo uma reunião a
responsabilidade do fornecedor será solidária. Ex. construção de rodovias e estádios de futebol –
consórcios de empresa.
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§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.
COLIGADAS – SÓ RESPONDEM POR CULPA – SUBJETIVA.
Aquela que tem 10% ou mais de uma outra empresa, mas não tem nenhum poder de gestão, em
conformidade com o estatuto social. Somente responderá mediante o consumidor mediante culpa. Aquele
que provocou o dano responderá sempre diretamente e de forma objetiva.
Nas provas de concurso os examinadores trocam a responsabilidade de cada forma societária.
A desconsideração é episódica, somente naquela relação, não significando a extinção da pessoa jurídica.
No CC a desconsideração não pode ser de ofício, já no CDC o entendimento da doutrina consumerista é
na possibilidade de realizar a desconsideração de ofício, considerando que se trata de um código de
defesa do consumidor, de ordem pública, podendo o juiz agir de ofício regulando tais relações.
OFERTA E PUBLICIDADE:
Oferta se divide em:
→ Informação;
→ Publicidade:
Qualquer informação prestada do fornecedor ao consumidor já é uma oferta, bastando a aceitação do
consumidor, já a publicidade (propaganda, jornais, TV) também é uma oferta, vinculando o fornecedor.
Princípios:
1. Princípio da vinculação contratual da publicidade/oferta: art. 30, CDC.
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou
meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o
fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.
Qualquer informação/publicidade que for suficientemente precisa irá vincular o fornecedor,
integrando o contrato. É como se já existisse o contrato e bastasse a aceitação do consumidor. O
fornecedor se obrigará a tais publicidades.
“Informação suficientemente precisa”: Ex1. O carro mais econômico do mercado, é
suficientemente preciso. Os PUFFINGS são os exageros publicitários, que são aceitos, desde que
não seja uma publicidade enganosa e não iludam o consumidor.
Erro grosseiro: O preço e as condições possuem erro grosseiro, já que o consumidor tem
condições de verificar que houve um erro. Não basta ser um erro, que vincula o fornecedor, mas
um erro grosseiro. A boa fé objetiva, serve também para o consumidor, não podendo se valer de
valores que não estão em consonância com aquele produto. Ex. venda de TV led a 100 reais. O
erro grosseiro é uma construção doutrinária para excepcionar o art. 30, CDC.
Art. 35, CDC – hipóteses que o consumidor possui para exigir o cumprimento da
oferta/publicidade, o cumprimento da obrigação.
“Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou
publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade;
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II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada,
monetariamente atualizada, e a perdas e danos”. Se já tiver celebrado o contrato.
2. Princípio da identificação obrigatória da publicidade: art. 36, CDC.
Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a
identifique como tal.
O consumidor quando está diante de uma publicidade tem o direito de saber que está diante de
uma publicidade, de forma fácil e imediata.
Propaganda X Publicidade: Propaganda seria uma difusão de ideias, de cunho político, religioso,
etc, que é diferente de publicidade para os doutrinadores. A publicidade está relacionada a difusão
de ideias para fortalecer a venda.
Publicidade institucional e promocional: Tem-se a diferença entre a publicidade institucional e
promocional. Institucional está relacionada à instituição, à empresa, em que se pretende fortalecer
a marca e não o produto, sem vincular um produto específico. A promocional visa divulgar um
determinado produto ou serviço.
“Publicidade dissimulada”: é uma forma de violação deste princípio, que é revestida de um cunho
jornalístico. Paga a um canal de comunicação fazer uma matéria jornalística sobre aquele produto,
de forma que o consumidor nem tem ciência de que fora pago, que é uma publicidade.
“Teaser”: não ofende o princípio, que é a criação de expectativa de determinado produto ou
serviço, já que o consumidor sabe identificar que aquilo é uma publicidade, somente não sabendo
qual o produto ainda. É lícito.
“Merchandising”: é uma técnica publicitária de aparecimento de produtos e serviços dentro de um
contexto (novela, filme, etc), sem o aparecimento ostensivo da marca. Não é proibido se for
informado ao consumidor, tendo este ciência de que aquilo está sendo pago para ser colocado.
Quando o consumidor não é informado ou é mal informado não será lícito.
“Publicidade subliminar”: é o mais grave, já que é aquela que irá trabalhar com o inconsciente do
consumidor. Aparece para o consumidor e este não terá consciência plena que está diante de um
produto ou serviço, sendo difícil de ser identificada. É totalmente vedada no Brasil.
3. Princípio da transparência da fundamentação da publicidade: art. 36, §único, CDC.
Art. 36, Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em
seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que
dão sustentação à mensagem.
O fornecedor terá que manter e guardar entre seus dados técnicos, fáticos, científicos que
sustentam a publicidade. Ex. dados técnicos que demonstram que determinado carro é mais
econômico, sob pena de cair em uma publicidade enganosa.
4. Princípio da veracidade da publicidade: Art. 37, §1º, CDC.
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
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§ 1° “É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário,
inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir
em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços”.
A publicidade tem que ser verdadeira, não podendo ser enganosa, ainda que parcialmente,
induzindo o consumidor a erro. Ex. imagens meramente ilustrativas de hambúrguer, carro, etc.
Não se analisa dolo e culpa do fornecedor na capacidade de induzir a erro, sendo a análise
objetiva. Tendo o fornecedor induzido, a publicidade é enganosa e sofrerá as sanções da
publicidade enganosa.
Publicidade enganosa por omissão: §3º do art. 37, CDC.
§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de
informar sobre dado essencial do produto ou serviço. Dado essencial é aquele que não poderia
faltar na publicidade, tendo que ter sido prestada aquela informação, por ser fundamental naquela
relação. Não é qualquer informação, mas apenas o dado essencial, já que na publicidade o
fornecedor está ofertando o produto ou serviço ao consumidor.
5. Princípio da não abusividade da publicidade: art. 37, §2º, CDC.
§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à
violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e
experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
É tudo aquilo que exige uma reprimenda social, por ir contra os valores da sociedade. É um rol
exemplificativo, existindo outros casos, como as publicidades preconceituosas, que explore o
idoso (a criança e idoso são os denominados Hipervulneráveis, na expressão do Min. Herman
Benjamin, que é um grau mais elevado da vulnerabilidade).
Publicidade abusiva é diferente de enganosa. Na abusiva, o consumidor não é induzido a erro,
mas é abusiva pois ofende a sociedade como um todo.
6. Princípio da inversão do ônus da prova na publicidade: art. 38, CDC.
Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária
cabe a quem as patrocina.
A prova da veracidade da informação que está vinculando é do fornecedor. Se pegarmos a regra
geral do CPC (art. 333) o autor deverá demonstrar o fato constitutivo do seu direito, mas a prova
da inveracidade das informações veiculadas seria tal fato constitutivo. Pela impossibilidade de
comprovação, em virtude do engano acarretado pela publicidade, haveria a inversão do ônus da
prova, já que o ônus é muito pesado ao consumidor. Há uma distribuição diferente do ônus da
prova, sendo uma inversão do ônus da prova ope legis.
Temos neste dispositivo a 3ª hipótese da inversão do ônus da prova ope legis. A do art. 6º, CDC,
é a inversão do ônus da prova ope judices.
7. Princípio da correção do desvio publicitário: art. 56, VII e art. 60, CDC. Contrapropaganda.
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Art. 60. A imposição de contrapropaganda será cominada quando o fornecedor incorrer na prática
de publicidade enganosa ou abusiva, nos termos do art. 36 e seus parágrafos, sempre às
expensas do infrator.
Na realidade trata-se do art. 37 e não 36, CDC. É o que se denomina de contrapropaganda, que
deverá ser paga pelo próprio fornecedor, que violou as regras do art. 37, CDC.
§ 1º A contrapropaganda será divulgada pelo responsável da mesma forma, freqüência e
dimensão e, preferencialmente no mesmo veículo, local, espaço e horário, de forma capaz de
desfazer o malefício da publicidade enganosa ou abusiva.
O desvio publicitário é a propaganda enganosa ou abusiva, podendo ser cominada à empresa a
obrigação de fazer uma contrapropaganda, corrigindo os malefícios. É uma sanção administrativa,
podendo ser imputada pelos órgãos administrativos.
De forma técnica, seria correto mencionar “contrapublicidade”, em virtude da diferença entre
propaganda e publicidade.
8. Princípio da lealdade publicitária: art. 4º, VI, CDC.
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das
necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de
seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e
harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo,
inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas
e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores;
Relacionado a um direito concorrencial, devendo o fornecedor ser leal com o consumidor (sendo
transparente e não trazendo publicidade abusiva e enganosa) e ainda ao concorrente. Não pode
uma empresa copiar o produto da empresa já consolidada, induzindo o consumidor a erro,
causando um prejuízo a ele, Ex. rótulo da Pop Cola é parecido com a Coca Cola; Caneta Trica é
igual à caneta Bic.
PRÁTICAS ABUSIVAS: art. 39, CDC, como um rol exemplificativo de práticas abusivas, em uma esfera
comumente pré-contratual (ainda que possa existir em um momento pós-contratual). No CDC não existe
rol taxativo nestes itens, nem mesmo nas excludentes de responsabilidade (sendo aceito o caso fortuito).
O art. 51, CDC, possui um rol de cláusulas abusivas, na esfera contratual.
Para se caracterizar uma prática abusiva utiliza-se por liame a boa fé objetiva, devendo as partes agirem
com lealdade e confiança. Quando se frustra a confiança e a lealdade, há o abuso da boa fé objetiva
(função de controle da boa fé objetiva, que no CC está descrita no art. 187, CC).
Inciso I: Venda casada.
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou
serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;
Atrela-se a um produto a venda de outro produto, sendo estes independentes. Caso concreto: Imputava-se
ao mutuário do SFH a obrigação de realizar o seguro da CEF. A CEF somente aceita-se o seu seguro,
sendo considerado pelo STJ uma venda casada, condicionando a realização daquela contratação ao
seguro também da CEF.
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Ao realizar um financiamento em um banco, é comum impor a contratação de outros serviços (ex. abrir
conta, contratar seguro), terá uma condição mais vantajosa ao pagamento do financiamento, ou até
mesmo condiciona este financiamento a uma contratação. Nestes casos de financiamento pode-se estar
diante de um hipervulnerável, estando em situação de extrema vulnerabilidade.
Inciso III:
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer
qualquer serviço;
Oferecer/fornecer ao consumidor produtos e serviços não solicitados pelo consumidor, sendo enviado ao
consumidor. Ex. cartão de crédito, revistas etc. Estes produtos e serviços serão considerados amostras
grátis, não podendo cobrar por tais produtos e serviços. Não pode alegar que houve uma anuência tácita,
considerando que o silêncio importa em contratação (esta tem que ser expressa). Sofrendo um dano, pode
ser indenizado. Ocorre que quando recebe um cartão de crédito, se a pessoa efetiva compras de forma
consciente, deverá pagar pelas despesas pagas, podendo se alegar que não pagará pela
mensalidade/anuidade do cartão, mas se estiver de um hipervulnerável a questão é diferente.
STJ: conferir mercadorias ao final da compra em alguns supermercados por atacado. É uma prática que
não foi considerada abusiva, sendo uma prática lícita.
Quanto ao cartão de crédito, tem uma cláusula que imputa a responsabilidade do consumidor para
compras realizadas após o furto/extravio do cartão até a comunicação da administradora. Esta clausula é
considerada abusiva pelo STJ, podendo conferir as contratações realizadas, não podendo imputar ao
consumidor.
COBRANÇA DE DÍVIDAS: art. 42, CDC.
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será
submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. CONSIDERA-SE UMA COBRANÇA ABUSIVA.
Em condomínio residencial a informação pode ser passada a informação de inadimplentes, pois é
interesse dos demais condôminos e ainda não é regulada pelo CDC, não sendo relação de consumo. Mas
ainda assim não poderia expor a ridículo.
Não pode ainda constranger ou ameaçar, ex. contratando segurança-policial para pedir o valor ao
devedor. Ex. ligar para a casa do consumidor de forma insistente também seria uma cobrança abusiva.
COBRANÇA INDEVIDA - REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO: art. 42, §único, CDC.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor
igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese
de engano justificável.
Requisitos:
a. Cobrança indevida: se for devida, o consumidor terá que pagar.
b. Ter pago em excesso: se nada pagou, não terá direito de repetir.
c. Inexistência de engano justificável: é uma exceção à restituição em dobro. Será analisado caso a
caso, mas basicamente se verifica a culpa do credor, na cobrança indevida. Se existir uma
situação que justifique, não terá que restituir em dobro. Sempre terá que restituir de forma simples
quando recebe indevidamente, mas a questão é saber quando deverá restituir em dobro.
Pega o excesso e multiplica por 2.
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Jurisprudência do STJ:
→ Alunos que fazem matrícula cheia nas faculdades, mas somente presta uma determinada matéria.
Ajuíza uma ação de repetição de indébito. Nestes casos, o STJ entende que não cabe repetição em
dobro, mas caberá a repetição simples.
→ Concessionária de serviço público: sempre que tiver uma cobrança indevida de prestação de serviço
público terá que ter a repetição em dobro. Ex. conta de água, de energia etc.
→ Se uma cláusula for declarada abusiva, tendo pagado excessivamente: como a abusividade foi
declarada posteriormente, o STJ entende que deve se restituir apenas de maneira simples, não em
dobro.
BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES: art. 43, CDC. Cai muito em concurso.
Banco de dados: quando se tem um banco que irá coletar os dados e fornecer a outras empresas as
informações às empresas. Ex. SPC, SERASA.
Cadastros de consumidores: feito pela própria empresa.
Devem-se estudar 04 direitos dos consumidores neste tocante.
DIREITO DE ACESSO: caput.
Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações existentes em
cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as
suas respectivas fontes.
Garante ao consumidor, sempre que algum dado estiver inscrito em cadastros, ter acesso ao teor desta
informação.
Ação cabível para garantir o direito de acesso à informação: Quando é negado o acesso ao consumidor,
quando o arquivo de consumo nega tal direito, por ser considerada entidade de caráter público (art. 43,
§4º, CDC) tem por finalidade propiciar o habeas data, já que o art. 5º, LXXII descreve que caberá tal
remédio em entidades de caráter público. Por ser cabível o habeas data, não cabe mandado de
segurança. Para o direito de acesso e de retificação caberá o habeas data, que é a ação cabível.
O projeto tinha colocado expressamente a possibilidade do habeas data, no art. 86, CDC, que previa o
ajuizamento do habeas data, mas foi vetado pelo presidente na data da promulgação do Código. Vetou um
dispositivo, mas manteve a sua finalidade.
§ 4° Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os serviços de proteção ao crédito e
congêneres são considerados entidades de caráter público.
DIREITO À INFORMAÇÃO: §2º.
§ 2° A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá ser comunicada por
escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele.
O consumidor tem o direito de saber que seu nome foi inscrito em banco de dados ou cadastro de
consumidores.
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Quando não for informado: a princípio, caberá dano moral, ainda que a negativação seja lícita, salvo se o
consumidor já estiver negativado anteriormente no banco de dados. A falta de informação de uma nova
negativação não gera dano moral.
Polo passivo da ação de reparação: Súmula 359, STJ – responsabilidade pela falta de informação é do
arquivo de consumo (SPC, Serasa), que tem a obrigação de informar ao consumidor. Esta súmula
menciona que esta informação deverá ser prévia à inscrição.
Como deve se dar esta notificação? Súmula 404, STJ – é dispensável o envio de AR para notificar o
consumidor, com a assinatura de quem recebeu a carta, sendo um meio de prova, presumindo que teve
ciência. Com a notificação simples, não há comprovação de recebimento, mas apenas do envio para
aquele endereço.
DIREITO À RETIFICAÇÃO: §3º.
§ 3° O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros, poderá exigir sua
imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar a alteração aos
eventuais destinatários das informações incorretas.
O arquivo de consumo terá 5 dias para informar outros arquivos/bancos de dados/fornecedores que houve
a retificação pelo consumidor. Este prazo de 5 dias não é para retificar. A retificação pode se dar através
de habeas data. O STJ interpretou de forma analógica mencionando que o prazo para retificar seria
também de 5 dias, como um limite máximo para o fornecedor retificar a informação, por não ser expresso
no CDC.
Hoje o banco de dados é realizado de forma eletrônica e pela internet, sendo um só e permitindo o acesso
pelos contratados pela CDL, tendo perdido a razão de ser deste §3º, já que antigamente utilizavam
disquetes para que outros tivessem acesso ao banco de dados, devendo ser retificados no prazo de 5
dias.
DIREITO À EXCLUSÃO: §1º e §5º.
Existem 2 momentos em que o consumidor tem o direito de ter seu nome excluído do banco de dados,
sobretudo a informação negativa, não podendo ser utilizada para fins de não concessão de crédito. Será o
que ocorrer primeiro, ou o transcurso de 5 anos ou a prescrição.
§ 1° Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em
linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a período
superior a cinco anos.
O tempo máximo que o consumidor pode permanecer em cadastro de consumidores é 5 anos. Após,
aquela informação não poderá ser mais utilizada pelo fornecedor, sob pena de dano moral. Até 5 anos o
fornecedor poderá legitimamente negar a concessão de crédito em virtude de negativação em banco de
dados, mas quando não puder mais se utilizar desta informação, não pode alegar a sua inadimplência, em
virtude do transcurso do pena.
§ 5° Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão fornecidas,
pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou
dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores.
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Quando ocorrer a prescrição do crédito/dívida, este débito não poderá mais ser utilizado para negativar o
consumidor.
Se a ação executiva prescrever: STJ entendeu que quando se fala de prescrição, refere-se a qualquer tipo
de pretensão, tanto de conhecimento quanto a executória. O fato de não poder ajuizar uma ação
executória não descaracteriza o §5º, já que poderá ainda ser possível ajuizar uma ação de conhecimento
e monitória posteriormente, até o período de 5 anos.
Súmula 323, STJ: “a inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de proteção ao crédito
até o prazo máximo de 5 anos, independentemente da prescrição da execução”. As vezes há a prescrição
da execução, mas não da ação de conhecimento, monitória.
Dano moral in re ipsa: dano moral que decorre diretamente do fato, não precisando analisar se causou um
dissabor e uma angústia no consumidor, havendo presunção de tais eventos pelo simples acontecimento
do fato. Na negativação indevida caberá dano moral in re ipsa, tendo discussão no que tange ao quantum.
Súmula 385, STJ: Na negativação indevida também tem uma exceção: se o consumidor já estiver
negativado, uma nova negativação, ainda que indevida, não caberá dano moral, não sujar ainda mais o
seu nome e não causando prejuízo ao consumidor. Mas a negativação anterior tem que ser devida. Se a
inscrição anterior também for indevida, caberá dano moral.
Quando o consumidor perceber que seu nome irá para o banco de dados, após a notificação, postulava
uma ação e pedia liminarmente para não ser incluído ou se já estivesse incluído, a sua retirada, pela
alegação de discussão da dívida (se deve ou não o valor que está inadimplente). STJ começou a perceber
que havia uma má-fé, aproveitamento dos advogados dos consumidores, se utilizando do processo para
não ser incluído. Assim, para permitir o cancelamento ou a abstenção da inscrição do nome do
consumidor, o STJ começou a exigir requisitos:
a. Existência de ação proposta pelo devedor, contestando a existência parcial ou total do débito.
b. A efetiva demonstração de que a cobrança indevida se funda em jurisprudência consolidada do
STJ ou STJ, pelo menos uma fumaça de um bom direito: o fundamento da ação não pode ser
simplesmente alegar uma abusividade genérica, devendo este mérito estar consolidado ou pelo
menos existir um fumus boni iuris no caso.
c. O depósito do valor referente ao débito incontroverso ou preste caução idônea: é a demonstração
de boa fé do consumidor.
Súmula 380, STJ: a simples propositura da ação de revisão do contrato não inibe a caracterização da
mora do autor.
Cheque sem fundo em conta conjunta: o arquivo de consumo somente poderá negativar quem assinou o
cheque, sendo este o responsável pelo cheque sem fundo.
Cartório de protesto: Quando há uma negativação no banco de dados, o fornecedor que deverá retirar
aquele débito inscrito no banco de dados. A única obrigação do SPC/SERASA seria notificar o consumidor
da sua futura inscrição. O STJ utilizou o §3º, de prazo de 5 dias, para fazer esta retificação.
É diferente do cartório de protesto, em que o próprio consumidor que deverá retirar seu nome de tal
inscrição, requisitando a exclusão. É a jurisprudência do STJ.
PROTEÇÃO CONTRATUAL DO CONSUMIDOR: art. 46 e ss, CDC.
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Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes
for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos
instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.
Quando o consumidor não tiver acesso prévio ao conteúdo do contrato, não estará obrigado a ele. Ou
ainda quando as obrigações forem inseridas de maneira obscura, de maneira a dificultar a compreensão
do consumidor. O consumidor deve agir de maneira consciente na relação de consumo, para equilibrar a
relação.
A prática de muito informar nada informa, com um contrato imenso, em que o consumidor não irá ler.
Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.
O art. 47, CDC irá prever o PRINC. DA INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR. Ex.
doenças pré existentes nos planos de saúde. A doença deve ser informada pelo consumidor se ele tiver
ciência, mas se ele não informar, poderá o fornecedor pedir exames prévios para detectar doenças (STJ)
e através deste questionário o fornecedor terá a prova de que o consumidor ou mentiu ou não informou
sobre a doença pré existente. Quando o fornecedor não faz isso e há discussão se havia ou não doença
prévia, o STJ aplica o princ. da interpretação mais favorável ao consumidor. Na dúvida, pende ao
consumidor.
DIREITO DE ARREPENDIMENTO:
Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato
de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços
ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.
Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores
eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato,
monetariamente atualizados.
Poderá desistir em até 7 dias quando realizado fora do estabelecimento comercial (isso porque não está
analisando claramente o produto e ao receber poderá desistir). Inicia-se da assinatura do contrato ou do
recebimento do produto. Se comprou dentro da loja não pode aplicar o art. 49, a não ser quando houver
vício, pelo direito potestativo de exigir as medidas do art. 18 a 20, CDC.
Quando o fornecedor conceder um prazo de troca de 15 dias, é uma vinculação ao contrato, não sendo a
disposição do art. 49, CDC.
O consumidor não precisa justificar esta desistência, o seu direito de arrependimento. Não poderá cobrar
nenhum valor para a devolução, inclusive o valor de frete deverá ser ressarcido pelo fornecedor, corrigido
monetariamente.
Compra de veículos dentro da concessionária com financiamento com instituição financeira dentro da
concessionária: Neste momento realiza 2 contratações. STJ entendeu que inclusive o financiamento
poderá ser objeto de arrependimento, por ter realizado fora da instituição financeira. Não teria o direito de
desistir da compra do carro, mas sim do financiamento.
O legislador presumiu que quando se realiza uma contratação fora do estabelecimento comercial, não se
está tendo ampla transparência na compra (com maior equilíbrio). Contratos de multipropriedades (por
tempo partilhado – contratos de time sharing): as empresas de construção civil constroem hotéis, resorts e
manifestam que a pessoa pode ser proprietária por um durante determinado tempo do ano. Com festas de
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inauguração com bebida e shows (marketing enorme) as pessoas realizavam a contratação. Assim, os
consumidores utilizaram o art. 49, CDC, pela sua razão de ser (a razão da norma). Ainda que comprou
dentro do estabelecimento comercial, não teve condições de assinar o contrato em plena consciência, em
virtude do amplo marketing. Assim, possibilita-se o direito de se arrepender em contratos de
multipropriedade.
GARANTIA CONTRATUAL:
Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo escrito.
Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer, de maneira
adequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser
exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo
fornecedor, no ato do fornecimento, acompanhado de manual de instrução, de instalação e uso do produto
em linguagem didática, com ilustrações.
A garantia contratual é complementar à garantia legal, prevista no art. 24, CDC – garantia legal de
adequação não precisa estar expressa, não podendo ser recusada pelo fornecedor, que é a garantia que o
produto ou serviços não poderão apresentar vícios. É uma garantia da lei, já que o consumidor tem o
direito de receber o produto sem vícios.
Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a
exoneração contratual do fornecedor.
Já a garantia contratual é uma faculdade do fornecedor, devendo estar expressa, elencando quais os
requisitos desta garantia. Por ser uma faculdade ele poderá limitar esta garantia. Por ser complementar, o
prazo para reclamar dos vícios somente começará a contar do término da garantia contratual.
Legal: prazo decadencial de 30 ou 90 dias (prazo do art. 26, CDC).
Pode esperar o fim da garantia contratual para que se inicie o prazo decadencial do vício.
Garantia estendida: na verdade é um seguro, regulamentado pela Susep. Compra-se o direito de ter a
prestação de um serviço caso apareça um vício naquele período, sendo uma álea, um vício que se quer
cobrir. Tem sido admitida como lícita dentro dos patamares da Susep.
CLÁUSULAS ABUSIVAS:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que: é um rol exemplificativo.
A doutrina sempre sustentou que podem ser declaradas de ofício pelo juiz, considerando ser uma norma
de ordem pública e nulas de pleno direito. O juiz ao verificar uma norma, o juiz pode e deve declarar a
abusividade daquela cláusula de ofício, mesmo sem requerimento da parte, considerando que muitas
vezes é vulnerável e não tem conhecimento jurídico.
Súm. 381, STJ: O STJ de maneira a retroceder entende que é vedado ao juiz declarar a abusividade das
cláusulas contratuais nos contratos bancários.
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer
natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações
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de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada,
em situações justificáveis;
Relação entre fornecedor e consumidor pessoa jurídica: é uma exceção à regra da indenização ser
limitada. Poderá contratualmente estabelecer que caso tenha que indenizar o consumidor, poderá ser
limitada. Mesmo assim, deve ser em uma situação que justifique esta limitação. O juiz irá pesar na análise
se o consumidor está tendo algum benefício. É muito cobrado em concursos, justamente pela exceção.
Não se trata de limitação de responsabilidade, que é legal, mas sim a indenização.
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código;
III - transfiram responsabilidades a terceiros;
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade; BOA FÉ OBJETIVA.
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;
Considerando que a maioria dos contratos são de adesão, a inversão do ônus da prova em prejuízo do
consumidor é nula de pleno direito. Fora em contratos bancários, o juiz poderia de ofício declarar a
abusividade da cláusula.
VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;
O CDC não vedou a arbitragem, mas ela tem que ser uma opção do consumidor, não podendo ser
compulsória, pela via contratual. Terá que ter a anuência do consumidor. Em contratos de compra ou
financiamento de imóveis é comum a opção da arbitragem, com a anuência do consumidor.
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor;
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral;
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao
consumidor;
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe
seja conferido contra o fornecedor;
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua
celebração;
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.
A benfeitoria necessária é aquela realizada pelo consumidor para a manutenção, conservação do bem.
Ex. locação de carro. O CDC somente proíbe a renúncia da indenização por benfeitorias necessárias, não
úteis e voluptuárias (que podem estar previstas contratualmente pela ausência de indenização)
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;
II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar
seu objeto ou equilíbrio contratual;
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III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do
contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.
§ 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua
ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.
É o princ. da conservação dos contratos. A readequação do contrato é perfeitamente possível.
Súm. 382, STJ: a simples estipulação de juros acima de 12% não significa, por si só, abusividade da
cláusula. A estipulação de juros remuneratórios em contratos bancários não é abusiva, precisando analisar
outros dados. No caso concreto, adota-se um limite, que é a média praticada pelos bancos nos juros
(informado pelo banco central).
Súm. 302, STJ: é abusiva a cláusula que limita o tempo de permanência de internação do consumidor em
hospital. Ofende a boa fé, sendo desleal com o consumidor.
Limitar o valor do tratamento também é abusivo, já que de uma certa forma também está limitando o
tratamento.
O STJ entendeu que o plano de saúde pode limitar determinadas doenças, desde que maneira bem clara
(até para um leigo) e ainda estar de maneira ressaltada, em destaque (§4º). Não pode limitar o tratamento
para doenças aceitas. A escolha do tratamento é feita pelo médico, que é responsável pelo melhor
tratamento.
Doenças de notificação compulsória: que quando os médicos tem ciência, obrigatoriamente devem
notificar o Ministério da Saúde sobre aquelas doenças, para se ter controle estatal e estatístico. Ex. Aids.
Cartão de crédito: até o momento em que o consumidor notifica sobre a operadora de crédito que perdeu,
o consumidor é responsável por todas as compras feitas no cartão por um terceiro. É abusivo, não tendo
que pagar por estas compras efetuadas.
§ 4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao Ministério Público que
ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto
neste código ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes.
CONCESSÃO DE CRÉDITO:
A informação é indispensável. O STJ entendeu que nos contratos bancários a comissão de permanência
serve apenas para o período de mora, não no período de adimplência. Quando há a previsão da comissão
de permanência, que deve ser expressa, não pode estar cumulada com nenhum outro encargo (multa
moratória, correção monetária, juros moratórios etc). A comissão de permanência já tem este viés,
inclusive de correção monetária. O superendividamento está sendo discutido na revisão do CDC, para que
o consumidor tenha toda a informação possível, para se ter conhecimento de todos os encargos que
recairão à concessão de crédito.
“Duty to mitigate the loss”: dever de mitigar as perdas, já foi adotado pelo STJ. Se o fornecedor, que está
em uma situação de superioridade, pode fazer algo para ajudar o consumidor, ele deve fazer, para
colaborar. Decorre do dever de colaboração da boa fé objetiva. Fala-se nesta teoria para os casos de
superendividamento. Ex. para pagar dívida do cartão de crédito, é melhor o banco indicar ao consumidor
que se fizer um crédito consignado os juros serão menores do que aquele do próprio cartão de crédito.
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Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de
financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e
adequadamente sobre:
I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;
II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;
III - acréscimos legalmente previstos;
IV - número e periodicidade das prestações;
V - soma total a pagar, com e sem financiamento.
§ 1° As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão
ser superiores a dois por cento do valor da prestação.(Redação dada pela Lei nº 9.298, de 1º.8.1996)
A multa moratória não poderá ser superior a 2%. Antes era muito comum uma multa moratória de 10%.
STJ alargou a interpretação do art. 52, CDC, para todas as relações de consumo, não apenas a
concessão de financiamento e outorga de crédito (foi aplicado ao contrato de mensalidade escolar).
§ 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente,
mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos.
Liquidação total ou parcial do débito de forma antecipada – tem direito da redução de juros e acréscimos.
CLÁUSULA SUPER ABUSIVA:
Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem
como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que
estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefício do credor que, em razão do
inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.
Perder todas as parcelas já pagas em caso de inadimplemento é uma cláusula extremamente abusiva,
mas o STJ admite que seja retido por parte da construtora o percentual da taxa de administração
(manutenção daquele cliente durante o pagamento das prestações), não precisa devolver tudo corrigido
monetariamente, entendendo que poderá reter um percentual, normalmente de 10 a 20% de taxa de
administração. Se já ingressou no bem, admite-se uma cobrança de como se fosse de um aluguel, além
da taxa de administração.
§ 2º Nos contratos do sistema de consórcio de produtos duráveis, a compensação ou a restituição das
parcelas quitadas, na forma deste artigo, terá descontada, além da vantagem econômica auferida com a
fruição, os prejuízos que o desistente ou inadimplente causar ao grupo.
Nos casos de consórcio, teria um terceiro fator de desconto (retenção) a favor do fornecedor, que é
quando tiver algum prejuízo, um dano ao grupo consorciado. Poderá reter algum valor do prejuízo.
§ 3° Os contratos de que trata o caput deste artigo serão expressos em moeda corrente nacional.
CONTRATOS DE ADESÃO:
Feita unilateralmente pelo fornecedor, sem que o consumidor possa substancialmente alterar o contrato ou
aprovadas pela autoridade competente (pelas agências reguladoras). O fato do consumidor inserir alguma
cláusula não descaracteriza o contrato de adesão, devendo analisar se pode efetivamente e de maneira
substancial negociar as cláusulas contratuais. Não é admitido a cláusula resolutória e, se admitido,
somente a favor do consumidor. Não poderá o fornecedor cancelar o contrato caso queira, retirando o
consumidor do contrato.
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Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente
ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa
discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
§ 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato.
§ 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha
ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior.
§ 3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e
legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo
consumidor. (Redação dada pela nº 11.785, de 2008)
§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com
destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.
Pode se limitar direitos do consumidor, desde que não ofenda os direitos do consumidor, esteja em
consonância com a boa fé objetiva, desde que em destaque.
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