DIALÓGICO
nos momentaneamente) ao serviço do"entre". (in Hycner, 1988, p. 55-6)
A existência humana é relacional, e, par-
tindo desse princípio, é de fundamental im-
portância que a postura do terapeuta seja
também relaciona!. Não há possibilidade de
encontro dialógico sem que haja uma postura
dialógica por parte do terapeuta. Em Gestalt-
terapia, o modelo dialógico traduz-se em uma
postura relacional, sustentada na esperança de
atingir, por meio do encontro terapêutico, a
completude do Eu:
A relação dia lógica também é um mo-delo para o tipo de relação terapêuti-ca que é consistente com a teoria damudança da Gestalt. Um terapeutaque atue a partir de uma orientaçãodia lógica estabelecerá um diálogocentrado no presente, não crítico, quepermita ao paciente tanto intensificara awareness como obter contato comoutra pessoa. [...] Na Gestalt-tera-pia, a awareness é empregada pararestaurar a awareness, e essa restau-ração pode ser facilitada pela criação'de um contexto dia lógico. (in Hycner;Jacobs, 1997,p.93)
Teresa Cristina Gomes Waismarck Amorim
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUBER, M. Do diálogo e do dialógico. São Paulo: Perspec-tiva, 1982.
. Eu e tu. São Paulo: Centauro, 1974.
HYCNER, R. De pessoa a pessoa. São Paulo: Summus,1988.
HYCNER, R.; JACOBS, L. Relação e cura em Gesta/t-terapia.São Paulo: Summus, 1997.
70
YONTEF, G. Processo, diálogo e awareness. São Paulo: Sum-mus, 1993.
ZUBEN, N. A. Martin Buber - cumplicidade e diálogo. SãoPaulo: Edusc, 2003.
VERBETES RELACIONADOS
Awareness, Contato, Cura, Eu-tu e Eu-isso, Gestalt-tera-pia, Teoria paradoxal da mudança/mudança
DOENÇA, SAÚDE E CURA
A Gestalt-terapia surge nos anos 1950 como
parte do Movimento para Q Desenvolvimen-
to Humano (Human Growth Movement) e,
como tal, mostra-se mais preocupada com as
questões relativas ao crescimento e desenvolvi-
mento da pessoa em sua totalidade do que em
definir especificamente doença e saúde.
Já no subtítulo da primeira publicação da
abordagem, escrita por PHG, podemos iden-
tificar essa preocupação quanto a crescimento:
"Gestalt therapy: excitement and Growth in the
human personality" [Gestalt -terapia: estimula-
ção e crescimento na personalidade humana]
(PHG, 1997).
Neste livro, considerado o mais impor-
tante da abordagem, não encontramos, no
índice remissivoS. os verbetes Saúde, Doen-
ça e Cura, embora encontremos os verbe-
tes Neurose, Conflito, Sintoma, Situação
inacabada, Sofrimento, Psicologia e Psicologia
anormal. No entanto, ao falarem de se/f, no
Capítulo I, dizem que a questão de saúde e
doenças psicológicas
É uma questão das identificações e alie-naçõesdo self: se um homem se identifi-
5 Este índice não existe na edição em português.
DICIONÁRIO DE GESTALT·TERAPIA
ca com seu self em formação, não inibeseu próprio excitamento criativo e suabusca da solução vindoura; e, inversa-mente, se ele aliena o que não é orga-nicamente seu e portanto não pode servitalmente interessante, pois dilacera afigura/fundo, nesse caso ele é psicologi-camente sadio, porque está exercendosua capacidade superior, efará o melhorque puder nas circunstâncias difíceis domundo. Contudo, ao contrário, se ele sealiena e, devido a identificações falsas,tenta subjugar sua própria espontanei-dade, torna sua vida insípida, confusa edolorosa. (PHG, 1997, p. 49)
Essa idéia fica mais clara acrescida do que
se encontra algumas páginas antes, no mesmo
capítulo. Ao discutirem a "Estrutura do cresci-
mento", PHG definem, dedutivamente, "psi-
cologia" e "psicologia anormal".
Partem da idéia de que todo contato é
criativo e dinâmico na medida em que, in-
trínseco ao processo de contato, ocorre as-
similação do novo, que constitui o nutritivo.
Não se trata de simples aceitação ou ajus-
tamento, e sim de assimilação, que ocorre
pelo ajustamento criativo organismo/meio,
dando-se o ajustamento criativo por inter-
médio do se/f.Os autores então concluem que "cresci-
mento é a função da fronteira de contato no
campo organismo/meio; é através de ajusta-
mento criativo, mudança e crescimento que
as unidades orgânicas complexas continuam
a viver na unidade mais ampla do campo"
(PHG, 1997, p. 45).
Feitasessascolocações, os autores definem
psicologia como "o estudo dos ajustamentos
71 DOENÇA. SAÚDE E CURA
criativos" (PHG, 1997, p. 45), acrescentando
que resulta em assimilação e crescimento.
E definem psicologia anormal como "o
estudo da interrupção, inibição ou outros aci-
dentes no decorrer do ajustamento criativo"
(PHG, 1997, p. 45).
A maneira de conceber normal e anormal
foi influenciada pelas idéias de Kurt Goldstein,
neuropsiquiatra, com quem Perls trabalhou
tão logo se formou em medicina. Goldstein
vê a doença como "um distúrbio no proces-
so vital do homem (auto-regulação organís-
mica) diante de uma situação que o coloca
em risco" (Lima, 2005, p. 59). Uma vez que
esses distúrbios, inibições e interrupções do
processo de crescimento estão a serviço da
sobrevivência psíquica, eles podem ser pen-
sados, em sua origem, como funcionais e
saudáveis (Frazão, 1997).
É também de Goldstein a concepção de
organismo como uma totalidade, com base no
que Perls esboça uma definição de saúde em
seu livro Gesto/t-terapio explicado: "Saúde é o
equilíbrio apropriado da coordenação de tudo
aquilo que somos [ ...]" (1977, p. 20), enfatizan-
do que saúde não é algo que temos, e sim algo
que somos e se manifesta em nossa totalidade
existencial. Dessa forma, os assim chamados
"distúrbios mentais" não envolvem apenas a di-
mensão mental, mas a pessoaem suatotalidade,
na medida em que interferem com o processo
de fonrnação e destruição de Gestalten, o que
resulta em distorções e desequilíbrios em nossa
integração básica(Latner, 1973, p. 83). "São dis-
túrbios de funcionamento e crescimento do se/f'(Latner, 1973, p. 83). Assim, saúde e doença em
Gestalt-terapia são concebidos não como "es-
tados", mas como "processos" que favorecem
ou dificultam o desenvolvimento da pessoa, não
DICIONÁRIO DE GESTALT-TERAPIA
DOENÇA.SAÚDEECURA
se restringindo a noção de desenvolvimento
em Gestalt-terapia a fases específicas, e sim a
um processo de crescimento e transformação
constante que ocorre ao longo de toda a vida
da pessoa.
"Saúde" e "doença", ou "funcionamento
saudável" e "não saudável", são pensados dia-
leticamente, uma vez que um mesmo com-
portamento pode ser saudável ou não, de-
pendendo de "a serviço do que" ele está.
Latner (1973) menciona alguns aspectos
indicadores de funcionamento saudável:
• comportamento integrado e holístico;
possibilidade de criação e destruição satis-
fatória de Gestalten;
autenticidade e espontaneidade (não se
trata simplesmente de fazer o que quere-
mos, e sim de estarmos centrados - em
contato pleno conosco e com o meio);
conhecimento de nossas necessidades que
estão imersas em nossa existência no aqui
e agora, para o que se fazem necessárioso
conhecimento e a aceitação do que somos;
rendição ao processo;
auto-suporte;
integração: que implica não apenas co-
nhecimento e aceitação de nossos de-
sejos, necessidades, comportamentos e
habilidades, mas também nos sabermos
parte do campo. "Na saúde estamos em
contato conosco e com a realidade" (Perls,
1969, p. 241);
oworeness: capacidade de apreender o
mundo fenomênico, como ocorre no
momento presente, com o escopo total
de nossos sentidos;
contato de boa qualidade: engajamento
pleno no processo de forma que propicie
•
•
•••
•
72
absorção completa e satisfatória daquilo
com que estamos em contato.
Saúde é a capacidade de lidar satisfatoria-
mente com qualquer situação com a qual de-
paremos, e satisfatória é a resolução que está
de acordo com a dialética da formação e des-
truição de Gestalten (Latner, 1973, p. 43).
Lilian Meyer Frazão
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRAZÃo,L. M. "Funcionamento saudável e não saudávelenquanto fenômenos interativos". Revista do 11IEn-contra Goiono de Gesto/t-teropia, Goiânia, v. 3, n. 3,
p. 64-71, 1997.
LATNER,j. The Gesta/t therapy book. Nova York: julian,1973.
LIMA,P V A Psicoterapia e mudança - uma refiexão. 2005.Tese (Doutorado) - Instituto de Comunicação, Uni-
versidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ), Rio dejaneiro.
PERLS,F.S. Gesta/t-terapia explicado. São Paulo: Summus,1977.
PERLS,F. S.; HEFFERLlNE,R.; GOODMAN, P Gesto/t-terapio.São Paulo: Summus, 1997.
____ o Gesta/t therapy: excitement and grawth in thethe human persona/ity. Nova York: Dell, 1951.
VERBETES RELACIONADOS
Ajustamento criativo, Aqui e agora, Assimilação, Auto-
apoio, Auto-regulação organísmica, Aworeness, Campo,
Contato, Crescimento, Espontaneidade, Excitação/exci-
tamento, Figura e fundo, Fronteira de contato, Funciona-mento saudável, Gestalt -terapia, Mudança, Organismo,
Se/r. Totalidade
DOMINADOR (UNDERDOG) VERSUSDOMINADO (TOPDOG)
Sendo a linguagem de Perls fenomeno-
lógica, ele busca a descrição dos fenômenos
por imagens, metáforas, jogos de palavras,
gírias, para se aproximar dos fenômenos e
descrevê-Ios, fato que nos ajuda a não espe-
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