Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
Prof. Adoniel Amparo 1
Curso de Agricultura Orgânica Sustentável
Método Adonias Amparo Resplendor - MG
Outubro 2000
Processos Orgânicos Sustentáveis
Uma Visão Holística
Autor
Prof. Adoniel Amparo
Prof. Adoniel Amparo
Chácara Santo Expedito, Lote 9
Estrada Velha de itapuã, Km 17
Salvador-Ba
Tel.: (710 ) 375-1428
e-mail: adoniel@hot mail.com
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“O caminho para uma agricultura sadia e sem venenos passa
necessariamente pela renovação das técnicas agrícolas: manejo
orgânico do solo com tratos culturais não agressivos ou tóxicos,
visando a produção de alimentos limpos que promovem saúde.
O professor ADONIEL AMPARO desenvolve táticas adequadas,
tendo aprimorado tratamentos fitossanitários eficientes,
ecologicamente integrados e socialmente desejáveis, com
baixos custos, baseados em recursos locais da própria unidade
agrícola. É com admiração que estamos acompanhando o seu
empenho e seu sucesso junto aos agricultores.”
José Lutzemberger
Prêmio Nobel Alternativo de Agricultura
ÍNDICE
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
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Parte I
ECOSSISTEMA ...................................................................................................PÁG. 01
AGRICULTURA
..................................................................... PÁG.04
Parte II
MATÉRIA ORGÂNICA
.....................................................................................P
ÁG. 06 COMPOSTO ORGÂNICO - SUBSTRATO BIOGEO – 1.0 ............................PÁG.09
50 PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE COMPOSTO ORGÂNICO ............PÁG. 18
A AGRICULTURA IMITANDO A NATUREZA ...............................................PÁG. 32
O BIOGEO E OCONTROLE DE DOENÇAS NAS PLANTAS ........................PÁG. 34
Parte III
O “MB-4” E O EQUILÍBRIO MINERAL DO SOLO .........................................PÁG. 35
Anexo I: O INVESTIMENTO MACABRO..........................................................PÁG. 39
Anexo II: A FEIRA... E AS DOENÇAS ..............................................................PÁG. 41
Anexo III: ECOLOGIA AMBIENTAL................................................................PÁG. 44
Anexo IV: COLHEITAS E PRAGAS,
A RESPOSTA ESTARÁ NOS VENENOS?.......................................PÁG. 58
Anexo V: OU O BRASIL ACABA COM A SAÚVA OU?...................................PÁG. 68
Anexo VI: COMO PREPARAR E APLICAR.....................................................PÁG. 73
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Parte I
ECOSSISTEMAS
APRESENTAÇÃO
Toda a natureza funciona em ecossistemas, conjuntos interligados. Do mesmo modo como
não existe fator econômico isolado, também não existe fator ecológico isolado: cada um
depende e influi sobre os outros. Assim, o nosso planeta não é um depósito de fatores
isolados que se pode usar, retirar, gastar, modificar, desperdiçar. Podemos até fazer tudo
isso, como, aliás, temos feito. Porém há que se pagar um preço muito alto ao se desafiar a
natureza e seus ecossistemas, haja vista as doenças e pragas de que são acometidas as
nossas plantas com reflexos danosos à saúde dos animais e do homem. Tentaremos mostrar
as inter-relações solo-microvida-mesovida-planta-clima, os ecossistemas, as sucessões, os
ciclos vitais e os equilíbrio dinâmicos que apresentam. Somos filhos da terra! Somos uma
célula fecundada que nos legou o código segundo o qual nos desenvolvemos, graças àquilo
que a terra pode nos dar, e assim, somos o que ela nos fez. Ora, se a terra é doente, decaída
e poluída , as chances de sermos sadios, vigorosos e inteligentes são poucas. Todos
fazemos parte da natureza. O ser humano quer acreditar que pode influir sobre a natureza,
modificá-la e destrui-la, sem que sofra as conseqüências dos seus desmandos. Muitos
vivem em cidades, entre concreto armado, vidraças, asfalto, longe da natureza (como se
fosse possível), mas depende dela com cada fibra do seu ser, através da alimentação, do ar,
da água, das radiações, do estrito equilíbrio.
Equilíbrio dinâmicos têm a particularidade de, após percorrido o ciclo, chegarem ao final,
que é o ponto de partida, do qual tudo se inicia novamente. No Brasil temos vários
ecossistemas importantes:
Floresta Amazônica – é um ecossistema estável, porém delicado, cujo solo, a despeito das
árvores gigantescas, é muito pobre;
Mata Atlântica – com sua diversidade e seu equilíbrio natural, mas também um ecossistema
delicado, exigindo ser bem manejado;
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Cerrado – é um ecossistema muito importante, tanto pela área que ocupa, como pela sua
diversidade.
As plantas não são individualizadas, mas fazem parte de um sistema. Devemos, portanto,
aprender a linguagem da natureza através de ecotipos. As chamadas “ervas daninhas” são
indicadores do estágio em que se encontra o solo. Constitui-se num laboratório, apontando
o pH alto ou baixo, a deficiência ou o excesso de nutrientes, camada de impedimento,
excesso ou falta de água, etc. Como se explica erradicar as plantas nativas e substituir a
leitura do solo por análises laboratoriais? Em razão de suas limitações e artificialidade no
ecossistema, os fatores devem ajustar-se perfeitamente um ao outro. Ao lutarmos contra a
natureza, podemos até ganhar algumas batalhas, a última, no entanto, é ganha pela natureza.
Todos os desertos foram feitos pelo homem. “O homem morre com a sua terra.” Havendo
modificação, tudo será diferente. Não devemos tentar dominar a natureza, subjugá-la, mas
sim, entendê-la e respeitar as suas leis. No trato com a ela deve reger a satisfação de
manejá-la adequadamente.
O nosso planeta Terra “...é uma jóia inestimável” (Lutz), planeta precioso, frágil e
vulnerável, diante da patologia mental de sua própria população. Só desta forma podemos
entender o comportamento e agressões de que nosso planeta é vítima. Todos os
ecossistemas são conjuntos de ciclos: da vida, do solo, dos minerais, da água, da energia, e,
através do sol, nossa fonte de energia e base de toda a vida terrestre, nossos ciclos ligam-se
ao cosmo.
As plantas crescem conforme um equilíbrio rítmico entre o sol e a terra, e dependem das
constelações, da lua, interligando, assim, planta, sistema vegetal-solo e clima-cosmo estelar
com a ação do astro-rei, o sol. A harmonia é complexa, havendo uma simetria perfeita com
seus opostos: luz-sombra, calor-frio, noite-dia, chuva-seca. A nossa vida depende dessa
inter-relação harmoniosa. Essa harmonia dos opostos, a sua inter-relação e cooperação, sua
dependência mútua e sua relatividade são controladas pela força criadora, ordenadora e
soberana de Deus. A destruição dessa harmonia, que garante nossa vida, é pecado, porque
cria desordem, decadência, confusão. Na visão bíblica, pecado quer dizer “errar o alvo”. A
tecnologia atual gasta oxigênio com combustão de motores, queimadas, destrói florestas e
plâncton.
Na harmonia natural, homens e animais gastam oxigênio, produzindo gás carbônico; as
plantas e parte dos micróbios gastam o gás carbônico, produzindo oxigênio. A fim de
produzirmos, temos que plantar a terra. Devemos, no entanto, tomar cuidado para que o
dano seja o mínimo possível.
Evite:
a) Grandes derrubadas;
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b) Queimadas;
c) Uso de desfolhante;
d) Aração profunda.
Aconselha-se:
a) A derrubada manual em pequenas áreas (deixando áreas intercalares nativas, a fim de
causar o menor impacto ambiental;
b) Aguardar o desfolhamento natural das árvores;
c) Plantar leguminosas;
d) Encovar as madeiras;
e) Promover destocamento;
f) Preparar o solo, evitando inversão de camadas.
Temos ouvido falar, nos últimos tempos, em ecologia, mas afinal, o que é ecológico?
“Óikos” é do grego “lugar” e “logos” significa “estudo”, de modo que ecologia é a ciência
que estuda a inter-relação dos equilíbrios particulares do diversos lugares com sua vida,
seus solos e seu conjunto. Quer dizer “...estuda os laços que unem os seres vivos ao seu
ambiente, que é o seu meio vital.” (Primavesi)
Equilíbrio dá a convicção de que não existirá falta, tão pouco, excesso, ou seja, estará na
medida certa. Dinâmico, não estático, em constante movimento, modificando-se de acordo
com a programação preestabelecida, até chegar novamente ao início do ciclo. Assim, os
minerais nutritivos passam do solo para a planta, de lá para o animal e o homem e,
finalmente, pelos microorganismos, que decompõem tudo que foi formado pelas plantas e
animais, até chegar ao início da caminhada.
Observemos o ciclo da água: a chuva cai, penetra na terra (se houver poros), alcança o
lençol freático, nasce como vertente, abastece os rios, chega ao mar e daí evapora.,
juntando o vapor oriundo do mar com o que foi evaporado diretamente do solo ou
transpirado pelas plantas, formando nuvens que o vento leva sobre a terra, vindo a chover
novamente. Mas nessa caminhada a água depende de vários fatores, todos equilibrados. A
chuva que cai não pode bater diretamente no solo, encrostando. O solo deve manter os
poros abertos, pelos quais deve infiltrar-se a água. Não pode haver lajes adensadas (pé de
grade), barrando o caminho da água, caso contrário, não abastecerá os rios. Se ocorrer,
produzirá enchentes e, se os rios forem retificados, a água não formará os brejos e
banhados. E se faltarem as matas, as nuvens carregadas de água não descerão com
facilidade e sim quando estiverem muito pesadas. Ocorrerão aguaceiros (tromba d’água e
seca em seguida, longos períodos de estiagem). Não haverá mais fontes que abasteçam os
rios, que oscilam entre cheias pavorosas e vazão reduzida. E em lugar de vegetação
exuberante, teremos caatinga e cerrados.
No ecossistema todos os fatores devem ajustar-se perfeitamente um ao outro, pois fazem
parte de um conjunto que dever ser harmônico. A natureza é sábia, e sendo agredida, “dá
um jeitinho” para voltar ao equilíbrio. O problema atual é que se enxergam somente fatores
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isolados em lugar de conjuntos ecológicos que correspondem à realidade, e assim, se
tomam sintomas por causas. Por isso também não se verifica que a decadência dos solos e,
com isso, das culturas eqüivale à decadência do homem que se nutre de produtos
incompletos e decadentes. Tudo o que vive somente é um elo dos conjuntos ecológicos e
dos ecossistemas. Na natureza, todos os acontecimentos são importantes em razão de
poderem desencadear modificações. Cada acontecimento tem suas conseqüências diretas e
colaterais. Graças às modificações do solo, do ambiente, dos rios e do ar modificou-se o
vigor, a saúde. Assim, no recrutamento militar na Holanda somente 10% dos jovens são
aptos, e os 90% restantes têm sérios problemas de saúde, com diminuição gradativa dos
níveis de inteligência.
No Brasil, “...50% dos jovens têm problemas físicos e mentais” (Primavesi). Segundo
previsão de Smith (do início do século), no ano 2000 a maioria dos seres humanos seriam
débeis mentais ou aleijados.
AGRICULTURA
A prática do cultivo da terra vem de aproximadamente 10 mil anos no Norte da África e
Oeste Asiático; na Europa, há 8 500 anos – atual Grécia -; no Vale do Danúbio e na
Inglaterra, de 6 mil anos atrás. No século XVIII tem início a agricultura moderna – primeira
revolução agrícola. Na Europa ocidental praticam-se a pecuária e a agricultura – rotação de
culturas com plantas forrageiras e leguminosas. Em meados do século XIX é criado o
“quimismo” de Liebig -“lei do mínimo”. A teoria de Liebig, é considerada “reducionista”,
conforme Samuel Dana. Para Dana, Liebig transformava a arte milenar de fertilização em
um problema aritmético. A microbiologia de Pasteno contribuiu decisivamente para a
oposição ao quimismo. A nitrificação é um processo bacteriológico e os nutrientes
utilizados pelas plantas, principalmente o carbono 45% - e o nitrogênio 3% - são
constantemente reciclados pela ação dos microorganismos do solo que, por sua vez,
dependem da matéria orgânica como fonte de nutrientes.
Em 1886, Heiriegel e Wifarth determinaram a existência de bactérias que vivem nos
nódulos, nas raízes das plantas leguminosas, e são capazes de fixar o nitrogênio
atmosférico. Em 1888, Beijerinek isola pela primeira vez essas bactérias (bacilos
redicicola), hoje conhecida como uma das espécies do gênero Rhizobium.
Nasce a Agricultura Industrial produzindo fertilizantes químicos altamente solúveis,
agrotóxicos, máquinas e implementos agrícolas. Esta etapa ficou conhecida como 2ª
Revolução Agrícola, em meados do século XX. Resultado: aumento de produções, em
detrimento de qualidade da resistência das plantas e, assim, a proliferação de pragas e
doenças.
No fim da 2ª Guerra Mundial muitos compostos produzidos com armas químicas foram
transformados em inseticidas, para combater os inimigos da lavoura. Em 1966, cerca de 8
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mil indústrias já operavam na produção de agrotóxicos. A Revolução Verde e seu pacote
tecnológico tinha o objetivo declarado de aumentar a produção.
Sabemos, no entanto, que não é bem assim. Os objetivos não revelados são a venda do
produto, a abertura de mercados e o aumento dos lucros das transnacionais, em detrimento
da qualidade dos produtos agrícolas e da vida da população terceiro-mundista, como
conseqüência do baixo valor nutritivo dos alimentos, resultando no que chamamos de
“fome oculta”, sem falar na contaminação do meio–ambiente (do solo, da água, dos
animais, do homem do campo), na erosão, na perda de fertilidade do solo, na destruição
florestal, com a dilapidação do patrimônio genético e da biodiversidade.
GAIA
Ecosfera compreende: biosfera, hidrosfera, atmosfera e litosfera.
Biosfera é o conjunto de sistemas vivos, e está intimamente ligado à litosfera e hidrosfera,
bem assim, à atmosfera. O todo constitui uma unidade funcional e harmoniosa, equilibrado,
portanto. Tem-se falado ultimamente em “ambiente natural”, que é visto como algo
externo, como se não estivéssemos integrados, como se tudo quanto nos rodeia fosse
estranho e a terra não se constituísse num grande organismo, e nós, órgão desse conjunto.
Imaginemos o nosso planeta cheio de vida, mas segundo a visão moderna reducionista de
alvos estreitos e lineares, a vida fosse constituída de animais, sem plantas portanto. Se não
pode ser assim, como se justifica a destruição das plantas e a intervenção do homem em
algumas delas com o objetivo declarado de melhorá-las e, desta forma, quebrando a
harmonia e causando devastação ao nosso planeta. É como se um de nossos órgãos tentasse
eliminar outro em benefício próprio. Como seria possível, se fazemos parte de um
conjunto? O homem , assim, constitui-se numa célula alterada (cancerosa), tentando
destruir o conjunto. A biosfera é o conjunto de sistemas vivos, plantas e animais. A
hipótese de somente animal não tem sentido, pois este depende da planta, não só para sua
alimentação direta ou indireta - já que a planta faz uma coisa que nenhum animal sabe
fazer: a planta domina a tecnologia da fotossíntese – como também para a manutenção dos
níveis de oxigênio e da temperatura. As plantas captam energia solar, retiram gás carbônico
da atmosfera, combinam com água, produzindo substâncias orgânicas: açúcares, vitaminas,
carboidratos, etc., deixando, de resto, oxigênio. A grande fonte de energia é, sem dúvida, o
Sol. Para captar a luz, a planta fica parada com a superfície de suas folhas voltadas para a
luz solar. Falamos, assim, da alimentação dos animais com os elementos produzidos pelas
plantas e da manutenção dos níveis de oxigênio e da temperatura. Por que devastar? Para
que destruir? Temos agora o inverso: as plantas dependem do animal. Como vimos, a
fórmula da fotossíntese mostra que o alimento principal da planta é o gás carbônico, mas
este é um gás raro na atmosfera. Sabemos que o nitrogênio representa 78%, o oxigênio,
20%, o restante, mais ou menos, 2% - argônio, hélio e outros. O gás carbônico representa
0,033%. São, portanto, os animais que dominam a tecnologia, queimam com oxigênio as
substâncias produzidas pelas plantas e devolvem ao ambiente exatamente aquilo que a
planta retirou. O magnésio está para a fotossíntese assim como o ferro está para a
hemoglobina no sangue dos animais. A planta capta gás carbônico e entrega oxigênio; o
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animal consome oxigênio e devolve gás carbônico. A energia que toca este carrossel é a
radiação do sol, razão pela qual, nós, desse hemisfério de clima tropical, somos
privilegiados pela intensa radiação solar. Em climas tropicais, uma floresta se forma em
18 anos; em climas temperados, são necessários 100 anos As árvores, as florestas, os
banhados, até as algas microscópicas do oceano são órgãos nossos. Vemos na natureza, por
exemplo, a abelha e a flor. A flor fornece néctar que a abelha transforma em mel. Por seu
turno, a abelha fecunda a flor, que vai formar o fruto e a semente, que garantirá a
perpetuação daquela espécie. Já nos perguntamos, por que as plantas produzem frutos
gostosos e chamativos. Ora, as plantas não viajam, mas precisam conquistar espaços: com
seus frutos saborosos pagam para que animais levem a sua semente adiante.
Parte II
MATÉRIA ORGÂNICA
MICRORGANISMOS DO SOLO
Pasteur: “O micróbio não é nada, o ambiente é tudo.” A proliferação dos microorganismos
é limitada pelo pH – riqueza do solo (mineral), espécie de matéria orgânica –, pela
temperatura e pela umidade. Em temperaturas acima de 20 graus, predominam as bactérias.
SABEDORIA
“O solo é como uma mulher frágil. O gigolô, para o qual a mulher é fonte de dinheiro,
explora-a, abusa dela e gosta de vê-la nua. Sentindo-se violentada, a mulher tenta defender-
se. O solo violentado tenta proteger-se, vestindo-se com plantas espinhosas, duras, como
último recurso para afastar o causador de sua ruína...o homem...”
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As doenças aparecem quando as defesas do organismo fracassam. As da planta dependem
diretamente da complexidade da vida do solo. Esquecemos que o solo é um sistema
vivo, de grande complexidade. No solo existem bilhões de bactérias de inúmeras
linhagens, existem algas microscópicas, fungos, protozoários, pequenos insetos, aracnídeos,
moluscos e vermes. Os microorganismos entregam à planta não somente os elementos
NPK, Ca, Mg, etc., mas também, os elementos-traços e substâncias complexas,
indispensáveis à saúde da planta: antibióticos naturais, auxinas (hormônios vegetais),
defensivos naturais. A vida equilibrada do solo propicia a absorção equilibrada dos
nutrientes, macro e micronutrientes, que estão presentes no solo sadio. A vida do solo
estrutura-o de maneira a mantê-lo arejado, com capacidade de retenção de água e regulando
a temperatura. Um solo com vida intensa tem grande resistência à erosão. A função da
praga é acabar com as plantas doentes, cuja causa está no solo. Nossa prioridade é manter
a saúde dos nossos solos. Como podemos observar, a saúde do solo, da planta e do animal
(e também do homem) são uma coisa só. Precisamos, portanto, cuidar do solo, e não,
da planta. Como fazê-lo, ou seja, como adubar o solo? Usando farinha de rocha e
matéria orgânica.
“NEM SÓ DE ADUBO VIVE A TERRA”
Desde a descoberta dos adubos químicos as pessoas perderam, passo a passo, a noção
prática do alimento de que a terra necessita. Passaram a crer que se deve à terra apenas
aquilo que supostamente as plantas retiveram. Mais precisamente, 13 elementos, tidos
como essenciais: NPK, C, Mg, S, Cu, Zn, B, Mn e Fe.
Plantas adubadas com produtos químicos atraem pragas e adoecem com facilidade, atém de
perderem qualidade.
Benefícios proporcionados pela Matéria Orgânica
1. Retenção e troca de nutrientes (CTC): o humos age como se fosse uma super-argila,
muito reativa e renovável. Funciona como uma esponja capaz de reter e liberar todos os
nutrientes. Assim, exerce a liberação de forma tão controlada que, raramente, a planta
está sobre ou subnutrida.
2. Capacidade de resistir às mudanças bruscas do pH: Esta capacidade, também chamada
de poder tampão, é especialmente importante para solos arenosos ou lavados, velhos,
desprovidos de argilas nativas. Nestes solos, a MO é o único elemento capaz de
conferir algum equilíbrio.
3. Reserva de nutrientes: frequentemente nos solos tropicais, a MO do horizonte
superficial constitui a única reserva de nutrientes.
4. Fonte de lenta liberação de todos os nutrientes, macro e micro. Especialmente em clima
chuvoso (1100 ou mais), a lenta liberação é a única garantia de um suprimento
adequado durante todo o ciclo da planta. Não adianta jogar ao pé da planta quilos de
adubos se ela só consegue absorvê-los em quantidades menores
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5. Mobilização de fósforo: Nos solos brasileiros, como de resto, em todos os solos
tropicais, há uma propensão para fixação de fósforo, elemento muito importante para as
plantas. Existe fósforo no solo até em grandes quantidades, mas ele está indisponível às
plantas, por se fixar em argilas tropicais e nas grandes concentrações de alumínio e
ferro livres. A mobilização em fósforo fixado e a sua transformação em fósforo é
decisiva, e explica o grande sucesso das adubações orgânicas.
6. Imobilização de elementos tóxicos (Al e Fe): As moléculas orgânicas de alto peso
molecular são capazes de imobilizar o alumínio e o ferro que estão livres na solução dos
solos muito ácidos. Esta ação eqüivale a uma colagem que elimina a toxidez através da
elevação do pH.
7. Capacidade de Retenção de Água (CRA): Uma queda no teor de MO de 5 para 3%
representa uma queda de 57% para 37, de CRA. Sua característica de esponja também
aumenta a reserva de água no solo e, consequentemente, a disponibilidade de nutrientes
que ficaram imobilizados num solo seco.
8. Estruturação do solo: A MO é a melhor cola para unir e agregar as partículas soltas do
solo (areia, silte e argila), formando grumos esferóides resistentes à desagregação pela
água. Isto melhora tanto a aeração e o enraizamento, quanto a infiltração da água,
resultando numa maior resistência à erosão.
9. Aumento do solo para a fauna e a flora: A MO fornece energia e nutrientes para a
grande cadeia alimentar de pequenos e médios seres do solo. A atividade desses seres é
a garantia de continuidade de todos os processos acima descritos – revolvem
continuamente o solo, criando canais e aumentando a estrutura fofa e arenosa,
facilitando assim a penetração das raízes.
10. Sistema imunológico do solo: As centenas de bichinhos do solo vivem numa interação
tão intensa que criam, através da concorrência, parasitismo antagônico (secreções
antibióticas) e predação, um eficiente equilíbrio dinâmico, evitando que qualquer
espécie possa se multiplicar desenfreadamente e tornar-se praga.
11. Resistência a doenças da parte aérea através da MO: As plantas tornam-se mais
resistentes à proliferação de doenças fúngicas, bacterianas e viróticas, em parte, graças
a uma nutrição mais equilibrada.
12. Estímulo ao crescimento vegetal: O fornecimento de enzimas, vitaminas e proteínas à
raiz tem um papel estimulante sobre as plantas. Mesmo quando fornecido às folhas,
agem de forma estimuladora e tonificante (fermentados).
13. Formação de complexos com micronutrientes: Os micronutrientes são essenciais,
embora a planta necessite deles em minúsculas quantidades. Incorporados à matéria
orgânica, constituem-se numa reserva adequada que não se perde com a lixiviação.
14. Importante: A MATÉRIA ORGÃNICA mantém o solo VIVO e FÉRTIL.
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COMPOSTO ORGÂNICO - SUBSTRATO BIOGEO – 1.0
INTRODUÇÃO
Trata-se de uma prática milenar que visa a uma fertilidade orgânica duradoura, tendo sido
praticada por diversos povos, permitindo a produção sustentada de variados cultivos ao
longo dos séculos, como, por exemplo, o arroz irrigado do Extremo Oriente. Nela,
aproveita-se tudo que é resíduo orgânico na propriedade, para fabricar o humos de
composto.
MOTIVOS PARA COMPOSTAGEM
Permite o melhor aproveitamento de restos orgânicos com relação C/N desbalanceada,
que juntos aproximam-se de uma C/N desejada;
Desinfeta os materiais orgânicos de doenças, pragas e ervas daninhas;
Afugenta os ratos e camundongos, evitando, assim o pior predador: cobra;
Permite acumulação e multiplicação de MO, para uma aplicação por teor;
Reduz, pelo primeiro e penúltimo itens, as perdas de nutrientes.
QUALIDADE DO COMPOSTO
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Fonte lenta de liberação de macro e micronutrientes orgânicos, de hormônio e de
enzimas;
Excelente estruturador do solo, favorecendo um rápido enraizamento, formando
grumosidade;
Aumento da capacidade infiltração de água, reduzindo a erosão;
Grande ativador da vida do solo, responsável por todos os itens de um solo fértil;
Permite aumentar o teor de MO, aumentando também a capacidade de retenção de
água;
Favorece a saúde e a resistência das plantas, que são enfraquecidas por adubos
minerais.
PRINCÍPIOS DE COMPOSTAGEM
A Compostagem é uma seqüência de ações de organismos sobre a MO.
Primeira fase (termófila e mesófila): atuam principalmente fungos, bactérias,
actinomicetas, protozoários e mirápodes. Nela destacam-se o “cozimento”
(fermentação) e a decomposição de celulose e hemicelulose; a lignina continua sendo
decomposta e será modificada lentamente.
Segunda fase (transformação): atuam principalmente compotas, protozoários e
minhocas; termina a decomposição de celulose, continua a de lignina e principia a
síntese de ácidos húmicos.
Terceira fase (amadurecimento): besouros, lactosas, formigas, aranhas. A síntese e
ressíntese de húmus é concluída.
Para uma boa atuação, estes seres precisam de uma alimentação equilibrada de ar e
umidade, em proporções adequadas de calor e de pH.
MATÉRIA-PRIMA
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A princípio todos os restos de culturas ou vegetais e animais podem ser aproveitados.
Devem-se evitar, apenas dejetos humanos e de animais carnívoros. Todo material orgânico
é decompositor. É necessário, portanto, saber avaliar cada qual nas suas características:
1. Compostos de rápida oxidação (rápido aumento da temperatura da pilha): amido,
açúcar, vitaminas e aminoácidos.
2. Compostos de lenta oxidação (são os precursores do húmus): hemicelulose,
celulose e principalmente lignina.
RELAÇÃO C/N
Além do carbono, o principal elemento que caracteriza a matéria-prima é o nitrogênio. Sua
presença em certo grau, é a garantia de que os outros elementos importantes, como enxofre,
fósforo, cálcio, magnésio, potássio e micronutrientes (Fe, Zn, Cu, Mn, Cl) também estão
presentes num grau proporcional. Por isso, ao invés de fazermos uma análise dos teores
de todos esses elementos, só nos interessa, na prática, o teor de nitrogênio, com relação
ao carbono (relação C/N). Materiais ricos em N terão a C/N baixa, pois C é constante.
Materiais pobres em N terão C/N alta.
1. A relação C/N ideal (25 a 30:1): Nesta proporção, os organismos decompositores têm o
alimento balanceado, não tendo que se desfazer de nenhum elemento para criar um
equilíbrio.
2. A relação C/N baixa (-20/1): Nesta proporção, a decomposição eqüivale à podridão de
um cadáver animal. O mau cheiro da podridão nada mais é do que a perda do excesso
de Ne 5 (cheiro amoniacal e sulfúrico).
3. A relação C/N alta (=35/1): Esta proporção constitui um bloqueio à atividade dos
decompositores, pala falta de N.
UMIDADE
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Umidade ideal: 50 a 60%: na prática, o composto deve soltar água, como esponja que foi
espremida antes. Umidade processual: 40 a 45%. Umidade de conservação: 12 a 15%.
Obs.: Para manter a umidade ideal, deve-se cobrir a pilha com folhas de bananeira.
LOCAL APROPRIADO
O local deve ser protegido do vento, do sol e da chuva. Num local coberto e com piso
firme, temos as condições ideais.
Importante:
1. Umedecer a pilha com BioGeo a 10%, mantendo a temperatura de 50º.
2. Enriquecer com farinha de rocha e rocha fosfática (10/2).
A planta é composta de inúmeras células, sendo cada qual uma verdadeira fábrica de
substâncias orgânicas, liberando e transformando energias.
Matéria-prima:
a) Energia (luz solar).
b) Água.
c) CH²O: O carbono, os microorganismos captam do ar; o hidrogênio, retiram da água, do
solo e do ar. Com estes elementos formam-se os carboidratos (amidos, açúcares,
celulose e outros). Temos ainda N, P, Ca, Mg, S, N, que os microrganismos do solo
retiram do ar. Os demais nutrientes mineras são retirados do solo.
d) Biocatalizador (enzimas) que, para funcionarem e promoverem o bom desempenho do
metabolismo vegetal, precisam de ativadores, como K, ou de micronutrientes, como
Mn, Fe, Zn, Cu, B, Mo, V, Ca, Cl, Ni, Se e outros, além de Mg. O Fe e o Mg são
indispensáveis à formação da clorofila, que capta a energia solar. Co²+ H2O =
Carboidratos (CH²O). Quando a planta dispõe de oxigênio no solo, recebe 673 calorias,
contra 20, sem o oxigênio no solo. Efeitos benéficos de temperaturas elevadas
dependem, pois, de:
1) Proteção de um superaquecimento do solo e do ar;
2) Capa vegetal;
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
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3) Sombreamento;
4) Cobertura morta;
5) Florestas ou açudes.
e) Quantidade suficiente de água, seja por irrigação ou por desenvolvimento radicular,
explorando grande volume de solo; quantidade suficiente de ar no solo, que depende da
estrutura grumosa do solo e de sua proteção.
f) Nutrientes disponíveis suficientes, climas temperados, precisão de insolação para
aumentar a respiração das plantas (com a finalidade de criar energia). Nos climas
tropicais ocorre o inverso: respiração e metabolização são muito ativos, e a fotossíntese
torna-se deficiente. Precisamos restringir a respiração e aumentar a fotossíntese.
Como fazer? Abastecer suficientemente a planta, para evitar o fechamento dos
estômatos, conservando a estrutura grumosa do solo.
g) Gasto econômico dessa água, de que depende a sanidade e a nutrição da planta.
h) Redução da respiração consegue-se através de:
1) Diminuição da temperatura do solo, proteção da insolação;
2) Redução do espaçamento;
3) Culturas intercaladas;
4) Cobertura morta;
5) Semi-sombreamento (aproximadamente 30%);
6) Produção máxima de energia, com o mínimo de glicose (consegue-se com o
arejamento adequado do solo).
Anabolismo rápido (produção rápida de substância orgânicas - os micronutrientes são
essenciais).
PLANTAS INVASORAS
Podem se tornar importantes insumos se devidamente manejadas. O efeito positivo
das invasoras deve ser aproveitado como de inimigos naturais e de predadores dos
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
Prof. Adoniel Amparo 17
insetos e pragas, como alimento para os microorganismos no solo, como cobertura do
solo.
MICROVIDA DO SOLO
Para que tenhamos vida no solo, que o tornará fértil, precisamos adubá-lo: água - ar – sol –
MO. O que é húmus? Ninguém sabe o que é húmus porque húmus não existe. O que
chamamos de húmus seria um consorciado bacteriano, que devemos estimular e multiplicar
no nosso solo. A planta verde é capaz de formar açúcares, amidos. Estas substâncias
servem de alimento aos animais e ao homem. Os microorganismos decompõem as
substâncias orgânicas em seus componentes básicos: água, gás carbônico e minerais, e a
luz volta em forma de calor. Microorganismos: seres microscópicos que existem em
quantidades incrivelmente grandes. Ex.: 1 colher de chá, 200 milhões de micróbios.
Reproduzem-se numa rapidez incrível, podem gerar até 48 vezes, variando de acordo com
as condições e o meio em que vivem, como temperatura de 25 a 30 graus, pH, riqueza de
minerais e matéria orgânica. O solo está cheio de enzimas, como catálases, ureases,
celubiases, etc. , que oxidam e hidrolisam a matéria orgânica em todas as suas formas, a fim
de prepará-la como alimento para esta ou aquela espécie de microser. Falamos, pois, do
potencial enzimático do solo como expressão de sua atividade microorgânica. Quanto
maior for este potencial, tanto mais fácil torna-se a nutrição vegetal, uma vez que os
microrganismos solubilizam muitas substâncias, as quais a planta também pode aproveitar,
antes que o micróbio o faça. Não somente plantas podem aproveitar os produtos
intermediários da decomposição, mas, igualmente, outros microorganismos competem com
elas. Assim os microsseres defendem seu alimento e seu espaço vital por meio de toxinas,
os tão conhecidos antibióticos. Estes antibióticos são tóxicos para determinados
organismos, aqueles que possuem hábitos alimentares parecidos. Para outros, são
inofensivos. Há organismos que podem inativar os antibióticos, tornando-os inofensivos
A agricultura ecológica possibilita:
Alimentar os organismos ativos na decomposição, produzindo antibióticos que
protegem a planta.;
Que substâncias intermediárias produzidas na decomposição da MO possam ser
absorvidas pelas plantas, aumentando o crescimento (após a decomposição);
Aumentar a CTC (o mais importante);
Aumentar o poder tampão (modificação brusca do pH). Tanto o estrume como a
adubação verde não enriquecem o solo com MO, mas aumentam a soma de base e
beneficiam a colheita (relação C/N).
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
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NOSSO PLANETA – A TERRA
“O PLANETA Terra é uma jóia inestimável. Vulnerabilidade, não diante de imaginárias
invasões externas (guerra dos mundos), mas sim, diante da patologia mental de sua própria
população”. Só assim podemos entender o comportamento e a agressão de que ele é vítima.
“Nossa nave está só”. O que caracteriza este planeta e o torna distinto dos demais deste
sistema solar é a maravilhosa sinfonia da evolução orgânica. Temos temperatura propícia à
química da vida, pela distância certa do nosso sol e uma atmosfera muito especial. “VIU
DEUS TUDO QUANTO FIZERA, E EIS QUE ERA MUITO BOM’.
METABOLISMO MOROSO
O metabolismo moroso da planta propicia o ataque de pragas e doenças, porque ocorre:
a) Falta de oxigênio;
b) Falta de enzimas (pela ausência de micronutrientes) ;
c) Falta de nutrientes plásticos S e N;
d) Falta de macronutrientes.
AGRICULTURA ECOLÓGICA
Parte de uma visão sistêmica das coisas (Holísticas).
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
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Agricultura convencional: visão estreita, reducionista.
A fertilidade do solo depende da microvida.
Agricultura ecológica: promove a vida no solo.
Agricultura convencional: destrói sistematicamente a vida do solo.
O alimento da vida do solo é a matéria orgânica, isto é, Agricultura Ecológica.
Na agricultura convencional, Matéria Orgânica vira Adubo Orgânico e o seu valor é aferido
pelo número de nutrientes que contêm NPK. Para a agricultura ecológica esta concentração
é secundária. O que se quer ativar, estimular e promover é a vida do solo. Esta, por sua vez,
fixará até 200 Kg de nitrogênio por ha da atmosfera e liberará fósforo, potássio, cálcio,
magnésio e os microelementos da rocha-mãe.
MATÉRIA ORGÂNICA
Os macro e micronutrientes são oferecidos às plantas de maneira contínua, sem perdas por
lixiviação. O nitrogênio é fixado pelo Azobacter e pelo Rhizobium. O fósforo e demais
elementos são liberados pela microvida do solo, especialmente a micorriza. O que nos
interessa na matéria orgânica não é o seu conteúdo de NPK, e sim, a energia que contém e
promove a microvida do solo. Ex.: Composto Orgânico contém 118% de nitrogênio.
Mesmo aplicando 1 tonelada por ha, teríamos 18 Kg (menos, portanto da metade de
nitrogênio contido em 200 Kg de sulfato de amônio). Mas a microvida promovida por
este mesmo composto poderá fixar 200 Kg por ha de nitrogênio, o equivalente a 1
tonelada de sulfato de amônio. A flora bacteriana libera fósforo e potássio da rocha-
mãe ou farinha de rochas. Não se deve enterrar MO para não provocar fermentação
anaeróbica.
A base de um controle ecológico de pragas e doenças:
a) Melhoramento das condições biofísicas do solo;
b) O controle da vida do solo através de sua diversificação que, aliás, ocorre paralelamente
com o melhoramento biofísico do solo;
c) Aumento da resistência das plantas, que depende de um metabolismo rápido e
completo, resultado de uma nutrição equilibrada.
BIOGEO – O QUE É?
Trata-se de um pé de cuba misto, composto de estéreo (ou outros), água, farinha de
rocha, tortas, leveduras, xisto, cinzas, água do mar, etc.
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É , portanto, um composto biotecnológico que previne pragas, doenças e
desequilíbrios.
Promotor de crescimento e defensivo natural, baseado na Teoria da Trofobiose, graças
aos seus, cerca de, 80 elementos, mais enzimas (rompendo bloqueios e ultrapassando
barreira fisiológicas). Recomenda-se sua aplicação foliar, via solo, como inoculador de
semente. O seu poder tamponador produz o equilíbrio da planta, propiciando
desenvolvimento harmonioso e equilibrado, ensejando alta produção, mesmo em condições
adversas.
Composição de elementos minerais existem no BIOGEO (Prováveis)
Manganês Bário Estrôncio Enxofre Zircônio
Vanádio Sódio Lítio Cobre Berilo
Boro Lantânio Cromo Carbono Ítrio
Chumbo Nitrogênio Oxigênio Níquel Flúor
Magnésio Cobalto Gálio Estanho Argônio
Cloro Escândio Molibdênio Titânio Nióbio
Silício Scânio Alumínio Ferro Fósforo
Potássio Cálcio Germânio Arsênio Selênio
Cério Bromo Praseodímio Neodímio Samário
Térbio Európio Disprósio Hólmio Érbio
Tungstênio Túlio Tântalo Rênio Ouro
Tálio Mercúrio Bismuto Polônio Radônio
Tório Rádio Urânio Rubídio Rutênio
Cádmio Prata Irídio Antimônio Iodo
Hidrogênio Césio Protactínio Itérbio Índio
Gadolínio
50 PERGUNTAS E RESPOSTOS
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
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SOBRE COMPOSTO ORGÂNICO
1. Que é Composto?
É um adubo preparado com restos animais e/ou vegetais. Estes resíduos, em seu estado
natural, não têm praticamente nenhum valor agrícola. No entanto, após passarem pelo
processo de compostagem, tornam-se um excelente adubo orgânico.
Foi dado o nome de “composto” a esse adubo porque nas fazendas onde foi preparado
inicialmente montavam-se pilhas compostas de diferentes camadas de materiais orgânicos,
os quais depois de algum tempo eram revolvidos para homogeneização da massa.
2. O Composto é uma novidade?
Não. Empiricamente ele vem sendo preparado há milênios. Tecnicamente, o composto tem
sido fabricado desde o início do presente século, recebendo contínuos aperfeiçoamentos na
tecnologia de sua fabricação. O composto pode ser fabricado (1) com restos existentes na
fazendas, (2) com resíduos urbanos, como o lixo e o lodo do esgoto e (3) com resíduos
industriais, como os de frigoríficos, indústrias de conservas, de curtumes, da fabricação de
café solúvel (borra de café), de certas indústrias farmacêuticas, etc.
3. Como se prepara o Composto de lixo domiciliar?
O tratamento completo dos resíduos sólidos domiciliares (lixo) compreende as seguintes
fases: recebimento do lixo urbano; segregação ou triagem para eliminação de materiais
inertes, como plásticos, vidros, borrachas, metais não ferrosos, etc.; separação magnética
dos metais ferrosos, moagem (facultativo); digestão ou fermentação em usinas
especializadas; compostagem em pátios; acabamento por moagem e peneiramento.
4. O que vem a ser o composto cru, bioestabilizado e humificado?
prática demonstrou ser necessário classificar o composto de acordo com o seu grau de
fermentação. Assim, classifica-se o composto como:
Composto cru: é aquele que ainda está em início de decomposição; é danoso às
sementes e raízes. Antes de utilizá-lo, deve-se deixá-lo curtir em montes durante no
mínimo 30 dias.
Composto bioestabilizado: é o semi-curado. Não mais causa danos às sementes ou
raízes, porém ainda não é um perfeito condicionador do solo. Seu conteúdo em colóides
ainda é baixo. No solo, irá continuar seu processo de cura, enriquecendo-se em humos.
Composto humificado ou curado: é aquele que sofreu um processo completo de
fermentação. É o mais rico em nutrientes que passaram da forma orgânica para a
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
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mineral, assimilável pelas raízes, e com maior teor de material coloidal, responsável por
sua capacidade melhoradora do solo.
5. Como se pode reconhecer, na prática, um composto curado?
Um conjunto de observações possibilita o reconhecimento: a) a aparência deve ser de
material bem decomposto, em que, com dificuldade, identifica-se a matéria-prima original,
como pedacinhos de papel, de folhas secas, etc. b) a coloração deve ser bem escura,
enquanto o composto cru é cinzento; c) possuir odor de terra mofada, enquanto o cru tem
cheiro acre e penetrante; d) a umidade deve ser baixa, com aspecto de material seco,
tendendo para produzir poeira quando jogado à distância; e) se for possível determinar o
pH por meio de papéis ou líquidos indicadores, seu valor deve estar acima de 7,0
preferivelmente, levemente alcalino; f) um teste criado pelo autor e que dá uma boa
informação é o seguinte: colocar uma pequena porção de composto na palma da mão,
encharcar com água, trabalhando essa amostra com os dedos até tornar-se pastosa; em
seguida, esfregar o composto entre as palmas da mãos, para obter uma massa aderente à
pele. Se o composto for rico em colóides, ficará nas palmas das mãos uma espécie de
“manteiga” preta. Lavando-se a mão em uma bacia, a água tomará uma forte cor negra. Se
o composto não estiver humificado, portanto, pobre em colóides, não se formará a
“manteiga” preta, nem dará coloração negra forte à água da bacia.
6. Matéria orgânica e humos são sinônimos?
expressão matéria orgânica refere-se aos materiais de origem animal ou vegetal, como
os encontrados no lixo, por exemplo, podendo estar no estado cru ou em diferentes estágios
de fermentação, inclusive parcialmente humificada. O termos húmus é reservado para
caracterizar a matéria orgânica que sofreu um processo bioquímico de decomposição e deu
origem a uma fração coloidal de constituição diferente da matéria-prima original, e capaz
de proporcionar ao solo melhoria em suas propriedades físicas, químicas e físico-químicas,
além de conter sais minerais que servirão de nutrientes às plantas.
7. O que vem a ser a relação carbono/nitrogênio de um composto?
relação carbono/nitrogênio, representada pelos símbolos desses elementos químico C/N,
é um índice que indica se a matéria orgânica está na forma crua, bioestabilizada
(semicurada) ou humificada (curada).
Para se obter a relação C/N, divide-se o teor de carbono pelo de nitrogênio, e o teor de
nitrogênio passa a ser representado pela unidade. Assim por exemplo, a palha de milho,
com 54% de carbono e 0,49% de nitrogênio, tem uma relação C/N igual a 110/1 (lê-se
cento e dez para um); o sangue seco tem 48% de C e 12% de N, com relação C/N igual a
4/1; a serragem de madeira e o papel têm relação acima de 500/1. O húmus sempre tem
relação próxima a 10/1. Assim todo material, ao ser humificado, acabará com relação
próxima de10/1. Se a relação da matéria orgânica é acima de 30/1, a compostagem será
mais demorada; se for abaixo de 30/1, o tempo de compostagem será mais rápido; em
ambos os casos, diz-se que o composto está cru. Quando, pela compostagem, a relação for
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abaixando e alcançar o valor entre 18/1 e 20/1, dir-se-á que o composto está humificado ou
curado.
8. Qual é a densidade do composto?
Por Densidade Aparente do composto (Da) entende-se a relação ou divisão do peso pelo
volume ocupado pelo material em seu estado natural, sem compactar. Suponha-se que um
metro cúbico de composto pesou 500 quilogramas. Tem-se Da=P/V=500/1000=0,5 (meio
quilo por litro ou meio grama por centímetro cúbico). As variações das densidades dos
compostos de resíduos urbanos estão entre 0,2 a 0,8 (200 a 800 quilos por metro cúbico),
com uma média de 500 Kg por metro cúbico.
Inversamente, suponha-se que se quer saber qual o volume de uma tonelada de composto,
cuja densidade é 0,4. Tem-se que V=P/Da; substituindo, fica: V=1000/0,4=2500 litros (2,5
metros cúbicos.
As densidades elevadas apresentadas por certos compostos são devido à presença de
contaminantes de alta densidade em relação à matéria orgânica, como terra, vidros, louças,
metais, etc.
9. É importante a granulometria do composto?
Sim. Quanto menor o tamanho de seus grânulos, maior é seu valor agrícola. Um composto
com constituintes grosseiros tem muito material com suas partes internas não
completamente transformadas, sendo proporcionalmente mais pobre em húmus coloidal.
Na terra, a atividade do composto se faz por fenômenos de superfície de exposição;
portanto, quanto mais se mói o composto, mais se aumenta o número de partículas, criando
infinitas áreas de contato com a terra e a água do solo.
experiência tem demonstrado a superioridade do composto moído sobre o grosseiro.
10. Que é compostagem?
palavra é um neologismo de nosso idioma, tradução de “composting”, do inglês.
Compostagem é um processo de transformação de resíduos orgânicos em adubo
humificado. Dois estádios podem ser identificados nessa transformação: o primeiro é
denominado digestão e corresponde à fase inicial de fermentação na qual o material alcança
o chamado estado de bioestabilização, em que a decomposição ainda não se completou,
porém, quando bem concretizada, permite que se use o composto como adubo, sem risco de
causar danos às plantas; o segundo estádio, mais longo, é o da maturação em que a massa
em fermentação atinge a humificação, neste estado o adubo apresenta as melhores
condições como melhorador do solo e como fertilizante.
11. Por que se deve fazer a compostagem dos restos orgânicos, antes de usá-los como
adubo?
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Porque os restos orgânicos, como o lixo cru, o esterco fresco de animal, o lodo do esgoto
não fermentado, quando usado ao natural, são danosos às plantas.. Após a compostagem, a
matéria orgânica apresenta-se na forma estável de humos, capaz de acumular-se no solo e
proporcionar-lhe as tão desejadas melhorias de suas propriedades.
12. Qual a importância de se fazer a compostagem da matéria orgânica, antes de
empregá-la como adubo?
compostagem transforma a matéria orgânica crua em húmus. Quanto maior a
concentração de húmus apresentada por um adubo orgânico, mais eficaz é a sua ação como
melhorador do solo. O maior valor de um composto reside na sua porção humificado.
matéria orgânica crua, que não sofreu o processo de fermentação e humificação tem pouca
eficiência como condicionadora do solo e como fertilizante. O mesmo acontece com a
serapilheira que se encontra nas matas: as folhas mortas que caem e estão na superfície da
manta vegetal é um material cru de pouco valor; no entanto, as folhas que estão em baixo,
junto ao solo, formando uma massa preta que aos poucos vai se integrando à terra, são um
material de alto valor. Qual deles você preferiria usar como adubo? As folhas secas ou as
decompostas? O lixo cru ou o compostado?
13. Qual a vantagem de usar como adubo os restos orgânicos já compostados?
vantagem é que no composto a matéria orgânica já se encontra humificada, portanto,
passará a agir imediatamente como melhoradora do solo e como fertilizantes.
Aplicando material cru, será necessário aguardar que ocorra a estabilização, antes de
plantar, e, enquanto não se realizar a humificação, esse material terá baixo valor como
adubo.
14. Durante a compostagem, ou, quando o adubo é aplicado ao solo, havendo
condições favoráveis, como se multiplicam os microrganismos?
Os micróbios benéficos que provocam a humificação da matéria orgânica e que geralmente
já se encontram em resíduos, como o lixo urbano, multiplicam-se de maneira inacreditável.
Basta saber, por exemplo, que uma bactéria produz duas em 20 minutos, quatro em 40
minutos e 8, em uma hora.
Assim, os micróbios existentes aos milhares em poucos gramas de resíduos serão
multimilhões em poucos dias.
Um punhado de composto tomado entre as mãos pode conter um número de
microrganismos maior que a população do mundo inteiro.
15. Durante a compostagem ocorre alguma ação profilática sobre os micróbios
patogênicos?
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Sim. compostagem provoca um desenvolvimento populacional tão grande que,
preponderando na massa, reduz consideravelmente a proliferação dos patogênicos.
experiência já demonstrou que é possível fazer composto com restos vegetais de tomateiros
infestados e usar esse adubo na cultura seguinte, sem risco de infestação.
16. Como se formam na compostagem os ácidos húmicos, os humatos e demais
componentes do humos?
Esses componentes são formados pelo ataque dos microrganismos especializados, que
transformam os restos orgânicos em material humificado. Como resultado dessa
transformação biológica (feita por micróbios), a lignina e as proteínas dos restos orgânicos
associam-se e formam uma substância complexa denominada ácido húmico. Só os
microrganismos podem produzir húmus. Nenhum processo químico de laboratório ou
industrial conseguiu fabricá-lo. Os ácidos húmicos são coloidais, isto é, partículas
extremamente pequenas que podem se combinar, por exemplo, com o cálcio, o magnésio, o
potássio, dando os chamados humatos de cálcio, de magnésio e de potássio, compostos que
facilmente liberam esses elementos para as plantas.
17. Composto de resíduos domiciliares adquiridos pelo lavrador tem outra aplicação
além de adubo, para ser empregado diretamente na terra?
Sim. O agricultor pode utilizar o composto oriundo do lixo para preparar novas quantidades
de composto. Sabe-se que para fabricar composto na fazenda são necessárias duas
diferentes matérias-primas: esterco animal que é denominado meio de fermentação, e
palhas, capins, cascas e outras sobras de culturas, chamados restos vegetais. Acontece que
os restos vegetais são de difícil fermentação se não forem inoculados com um material mais
rico em nitrogênio e contendo microrganismos, como é o caso dos estercos animais e do
próprio composto de lixo. Assim sendo, em propriedades agrícolas onde há muita sobra de
resíduos palhosos e poucos animais para produzir esterco, recomenda-se usar o composto
adquirido nas usinas de compostagem de lixo. Para se fabricar o composto na fazenda,
fazem-se pilhas com 3 a 4 metros de largura por 1.5 a 1.8 metros de altura, e comprimento
indeterminado. Ao montar a pilha, distribui-se uma camada de 15 centímetros de restos
vegetais pela área acima referida; sobre essa camada de material de difícil fermentação,
distribui-se outra de composto que é de fácil fermentação, na espessura de uns 5
centímetros; esparrama-se em seguida nova camada de restos, e sobre ela, outra de
composto, assim alternando, até atingir a altura recomendada. Se o material estiver muito
seco, convém irrigar ao montar a pilha. Revolvendo o monte algumas vezes, dentro de 60 a
90 dias o composto estará pronto.
18. Os solos do Estado de São Paulo são ricos em matéria orgânica?
Não. Cerca de 60% da área do Estado de São Paulo possui terras com baixos teores de
matéria orgânica. Cerca de 33% da área é de terras com médio conteúdo, e apenas 7%,
apresentam teores altos. Convém lembrar que estes 7% estão situados em locais de altitude
elevada e topografia acidentada, onde a agricultura se torna mais difícil.
19. As terras cultivadas estão perdendo sua fertilidade natural?
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Sim. A produtividade das terras dos países ricos e desenvolvidos está aumentando graças ao
uso crescente dos fertilizantes minerais. A fertilidade natural dessas terras no entanto, como
prova o pesquisador DHAR, está decrescendo devido a vários fatores, entre eles, a perda
constante de matéria orgânica. Em abono dessa afirmação está o fato de o teor de matéria
orgânica do solo ser usado como um índice de sua produtividade.
20. Qual a recomendação para melhorar a produtividade uma terra?
Se o solo apresentar reação ácida, com alto teor de alumínio, é aconselhável proceder-se
primeiramente a uma calagem de 30 a 60 dias, antes de aplicar os adubos orgânico e
mineral, e de plantar.
A calagem dá aos solos melhores condições para uma rápida multiplicação dos
microrganismos contidos no composto, fornece cálcio aos microorganismos, provoca a
reativação das enzimas absorvidas na argila, nos sesquióxidos e no humos.
Não misture calcário com o composto, pois, conforme seu estado de decomposição, pode
perder nitrogênio, por desprendimento de amônia (caracterizado pelo cheiro de amoníaco).
É importante lembrar que a produtividade depende, além da aplicação correta dos adubos
na época certa, no local adequado e nas doses necessárias, de água suficiente para a planta e
das condições físicas do solo.
21. Os microorganismos existentes no composto orgânico têm alguma ação quando
são levados ao solo pelas adubações?
Sim. Os microorganismos que o composto introduz na terra são verdadeiros “operários
gratuitos” que podem “industrializar” adubos a partir de minerais insolúveis existentes no
solo, ou de matéria orgânica crua.
Um hectare de terra com 2% de humos tem o correspondente a 12,5 toneladas de sulfato de
amônio; 2,5 toneladas de superfosfato simples e 1,2 toneladas de enxofre (SWABY).
22. O uso do composto orgânico nas terras de cultura tem alguma contra-indicação ou
sofre alguma intolerância pelas plantas?
Não. Não há nenhuma contra-indicação ou intolerância. O composto é recomendado para
culturas intensivas, como a das hortaliças, dos viveiros de flores ou de mudas, para jardins e
vasos de ornamentação e para culturas extensivas, como as de café, cana, algodão, milho,
os pomares e as pastagens.
23. A matéria orgânica contida nas terras de cultura é uma fonte de nutriente para as
plantas?
Sim. A única forma com que o solo pode armazenar nitrogênio é a orgânica. Cerca de 98
até 100% do nitrogênio encontrado nos solos está na forma orgânica; o nitrogênio, na forma
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nítrica, não é retido pelo solo, sendo lavado pelas águas das chuvas; cerca de 80 a 100 % do
enxofre está na forma orgânica e 60 a 100% do fósforo, também.
O nitrogênio da matéria orgânica é responsável por 97% da produção mundial de alimentos,
sendo que 3% apenas é atribuída a todo nitrogênio levado ao solo pelos fertilizantes
minerais.
24. Composto orgânico é essencialmente um melhorador do solo? O que é um
melhorador ou condicionador do solo?
Melhorador do solo é um material que tem a particularidade de, como o próprio nome está
indicando, melhorar as propriedades físicas, químicas e físico-químicas da terra.
Os melhoradores do solo são de origem orgânica. Consequentemente, nenhum fertilizante
mineral age como condicionador da terra. Todas as tentativas para fabricar
condicionadores sintéticos falharam por serem antieconômicos.
25. O uso do composto dispensa o emprego de Fertilizantes minerais?
Os experimentos têm sempre demonstrado que os melhores resultados são obtidos quando
se associam as adubações orgânicas com as minerais. Sabe-se que o composto “aduba” o
solo e a planta, isto é, melhora as propriedades do solo e fornece nutrientes às raízes. No
entanto, o composto é um adubo de balanceamento definido, ou melhor explicando:
enquanto se pode comprar fórmulas de fertilizantes minerais com maiores ou menores
porcentagens de nitrogênio, fósforo e potássio, o composto tem uma composição fixa,
sendo sempre mais rico em nitrogênio em relação ao fósforo e ao potássio. Para enriquecê-
lo nestes dois últimos nutrientes, aconselha-se acrescentar fosfato de rocha e cinzas
vegetais antes da compostagem, ou superfosfatos e cloreto, ou ainda sulfato de potássio se o
composto já estiver pronto.
26. O que são e como se formam os microagregados do solo?
Os microagregados do solo são os pequenos agrupamentos de partículas responsáveis pela
manutenção da boa estrutura de uma terra. Os microagregados são formados pela
complexação dos três seguintes componentes: partículas de argila, metais polivalentes
(como o cálcio, o magnésio e o ferro) e colóides orgânicos, como os contidos no composto.
É importante que esses microagregados sejam estáveis, não se desfaçam facilmente. A
estabilidade dessa agregação é garantida pelo fato de certos colóides do composto
exercerem suas ações cimentantes, ocupando a parte central do microagregado, de maneira
que, nessa posição, tornam-se inacessíveis aos microrganismos, que poderiam mineralizar
esses agentes cimentantes orgânicos, desfazendo a agregação.
27. Como o composto pode melhorar a estrutura do solo?
“A estrutura de um solo é a chave de sua fertilidade.” (L. D. BAVER) O composto pode
melhorar direta ou indiretamente a estrutura do solo. Diretamente, agindo como agente
cimentante das partículas do solo para formar os tão desejáveis agregados, unidades que
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darão formação às estruturas. Indiretamente, promovendo o aumento populacional dos
microrganismos, os quais, por meio de suas secreções, seus filamentos e suas carcaças,
promovem a agregação das partículas que irão se agrupar, para formar os diversos tipos de
estrutura.
28. Composto como condicionador do solo é importante para melhorar a
estruturação?
A importância da estruturação é fácil de ser confirmada: um solo de mata virgem, com alto
teor de matéria orgânica, ao ser revolvido, apresenta-se rico de granulações (agregados);
uma terra cansada é pobre de agregados (mal estruturada). O emprego sistemático de
composto orgânico melhora a estruturação devido aos materiais aglutinantes coloidais que
possui, como os ácidos uronídicos, que cimentam as partículas, formando agregados
estáveis, responsáveis pela estruturação do solo.
29. O húmus do composto liga-se a algum componente do solo?
No solo, o humos combina-se com o componente argila, formando os chamados complexos
coloidais ou complexos argilo-húmicos. São estes complexos que cimentam as partículas
do solo, provocando sua estruturação, o nitrogênio amoniacal, evitando que sejam lavados e
cedendo-os às raízes das plantas facilmente.
30. Qual a importância do aumento da aeração do solo pela aplicação sistemática do
composto?
As raízes das plantas, com exceção das aquáticas e outras poucas, não conseguem viver na
ausência do ar. Quando se irriga por inundação um arrozal, por exemplo, verifica-se que
dentro de certo tempo a cultura começa a ficar com coloração verde-amarelada, por falta de
ar para as raízes.
A pesquisa já demonstrou que solos cujo ar apresenta concentração de oxigênio inferior a
10%, não permite o desenvolvimento de raízes.
O composto, como estruturador do solo, torna-o mais solto, mais arejado, eleva o conteúdo
de oxigênio disponível às raízes.
31 Qual o efeito do composto na consistência do solo?
O composto torna a terra mais solta (friável), mais porosa (arejada) e mais leve (menos
densa); as terras friáveis são mais fáceis de serem aradas e quando gradeadas, os torrões se
desfazem mais facilmente; as raízes caminham com maior facilidade e encontram mais ar à
sua disposição. Uma terra rica em matéria orgânica é menos dura quando seca e menos
plástica ou pegajosa quando molhada.
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
Prof. Adoniel Amparo 29
32. A compactação das terras de cultura pelo uso de certas máquinas agrícolas e pelo
manejo incorreto tem provocado queda da produtividade. O composto pode
contribuir para o controle da compactação?
Sim. O composto, como outras matérias orgânicas, se usado sistematicamente como adubo
e condicionador do solo, da à terra uma certa elasticidade. Assim, passando sobre tal solo
uma máquina pesada, ele se comprime, mas tem a tendência de retomar a forma primitiva,
resistindo mais à compactação. Quem já caminhou sobre um solo turfoso sentiu como ele
reage de maneira elástica ao ser pressionado.
33. O composto facilita o desenvolvimento das raízes das plantas?
Sim. O composto, como toda a matéria orgânica juntada ao solo, torna-o menos compacto,
facilitando o caminhamento das raízes. Lembrar que as raízes crescem insinuando-se nos
vazios existentes na terra. O composto, quando aplicado em um solo, baixa a sua densidade
imediatamente, pois a densidade da terra é, em média, de 1,2 a 14, enquanto que a do
composto é de 0,4 a 0,6 g/cm³.
Na natureza, o desenvolvimento das raízes devido à presença da matéria orgânica é fácil de
ser constatado, observando que na parte superficial do solo, onde existe mais matéria
orgânica, é também onde se observa maior quantidade de raízes.
34. Nitrogênio na forma orgânica, principalmente encontrado no composto, é
assimilado diretamente pelas plantas?
As raízes das plantas assimilam o nitrogênio na forma amoniacal (NH4) ou nítrica (NO3):
portanto, o nitrogênio necessita ser mineralizado para ser assimilado, o que é uma
vantagem, pois o solo pode armazenar esse nutriente na forma orgânica.
Experiências recentes utilizando material radioativo demonstraram que as raízes também
podem absorver certos materiais orgânicos, como os aminoácidos, sem necessidade de que
os microrganismos os desdobrem previamente.
35. Quais os principais requisitos para se instalar viveiros de flores ou hortas em torno
de uma cidade, de forma a constituir um “cinturão verde”?
Todos os viveiristas e horticultores sabem muito bem da necessidade de abundância de
água e adubo orgânico para tais empreendimentos. O composto preparado pelas Prefeituras
Municipais a partir do lixo proporcionará a indispensável matéria orgânica para instalação
do cinturão verde, além de adubo para seus parques e jardins.
36. Por que no Brasil não se utiliza maior quantidade de adubos orgânicos em nossas
lavouras?
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
Prof. Adoniel Amparo 30
No Brasil não há maior utilização, porque os agricultores ainda não se conscientizaram do
importante papel dos adubos orgânicos. Conseqüentemente, também não se criou a tradição
do uso do composto e outros adubos, como acontece, por exemplo, na China, onde a
estatística mostra que mais de milhão de toneladas em nitrogênio, mais de um quarto de
milhão de toneladas em fósforo e mais de meio milhão de toneladas em potássio são
anualmente incorporadas ás terras, na forma de adubos orgânicos.
37. O composto reduz a insolubilização dos fosfatos dos fetilizantes minerais, em solos
ricos em óxidos de ferro e alumínio?
Sim. O composto reduz a chamada fixação dos fosfatos solúveis que são aplicados como
adubo e que, em solos contendo altos teores de óxidos de ferro e alumínio, tornam-se
insolúveis, não assimiláveis pelas raízes das plantas. Essa é uma das razões pelas quais se
admite que o fósforo das adubações fosfatadas é aproveitado pelas plantas, no primeiro ano,
apenas de 20 a 30% do total aplicado. Misturando o superfosfato de cálcio com o
composto, antes de aplicá-lo em terras ricas em sesquióxidos de ferro e alumínio, estar-se-á
evitando a insolubilização do fósforo.
38. É recomendável usar o composto junto com os adubos minerais?
Sim. A associação “composto com fertilizantes minerais” é vantajosa, pois o adubo
orgânico pode reter certos nutrientes do fertilizante mineral, contra a lavagem pelas águas
da s chuvas que atravessam o perfil do solo. Essa retenção é realizada, nos solos, pela argila
e pela matéria orgânica. Nos solos do Estado de São Paulo ficou demonstrado que a matéria
orgânica é responsável por 50 a 70% dessa retenção. Em solos arenosos, como de certos
cerrados, pobres em argila, a retenção dos nutrientes fica a cargo quase que somente da
matéria orgânica existente, ou, a eles adicionada.
A possibilidade de se combinarem as adubações orgânicas com os minerais é pelo fato de,
segundo experimentos de CHAMINADE, aumentar a absorção de fósforo e potássio pelas
raízes das plantas.
39. O que é o poder quelatante da matéria orgânica do composto?
Poder quelatante ou pinçante é a propriedade que o humos possui de reter certos nutrientes,
seqüestrando-os sem se combinar quimicamente com eles, porém, impedindo que sejam
arrastados pelas águas das chuvas. Contudo, o elemento seqüestrado fica em forma
assimilável pelas raízes.
O pesquisador norte-americano ALLISON é de opinião que um dos papéis mais
importantes realizados pela matéria orgânica no solo é a de formar quelatos com certos
micronutrientes, como o zinco, o cobre e o ferro, garantindo as necessidades alimentares
das culturas. Assim, por exemplo, o ferro do solo está geralmente na forma de óxidos
insolúveis, não assimiláveis pelas plantas. O composto solubiliza o ferro, seu quelato
aprisiona-o na forma catiônica e o cede às raízes.
40. O composto e outros adubos orgânicos têm papel importante como fonte de
nitrogênio, na produção mundial de alimentos?
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
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Segundo DHAR, o aumento da produção agrícola pela adição de fertilizantes minerais
nitrogenados tem-se mostrado maior do que a obtida com o emprego do fósforo ou do
potássio. A produção mundial de fertilizantes nitrogenados, porém, é presentemente cerca
de trinta vezes menor do que a necessária para suprir as culturas de todo o mundo. E, para
que esses húmus não se esgotem, é necessário evitar sua perda por erosão e restituir ao solo
a matéria orgânica dele removida.
41. O composto é classificado como melhorador do solo ou como um adubo?
O composto é, acima de tudo, um condicionador do solo, assim classificado pelo fato de
sua manteria orgânica humificada estar em maior proporção, cerca de 40 a 70%.
No entanto, além do efeito condicionador ou melhorador do solo, o composto é também
classificado como um fertilizante de baixa concentração em nutrientes, razão pela qual são
sempre empregadas doses elevadas, geralmente acima de 10 toneladas, por hectare. A
concentração em nitrogênio, fósforo e potássio (N-P-K) está, em média, entre 3 e 4%. O
adubo contém ainda cálcio, magnésio e enxofre, além dos micronutrientes, tais como:
zinco, boro, cobre, ferro, manganês, molibdênio e cloro.
42. Como deve ser armazenado o composto?
Se o agricultor não vai usar o composto imediatamente, é preferível armazená-lo debaixo
de um rancho ou no próprio campo, cobrindo a pilha com palhas ou galhos com folhas, para
proteger do sol e do excesso de chuva, a qual deixaria o adubo molhado e mais trabalhoso
para ser distribuído na terra.
O composto cru ou semicurado dever ser guardado em montes com alturas máximas de
1.50 a 1.80 metros, enquanto que o composto curado, que não mais se aquece quando
empilhado, pode ser armazenado com alturas maiores.
43. Como se planeja a distribuição do composto no campo?
Para evitar que se aplique mais adubo em uma parte do campo e falte para outra,
recomenda-se fazerem-se muitos montes iguais, dispostos em vários pontos do terreno.
Distribuindo, depois, cada um desses montes pela área que o circunda, tem-se a certeza de
que toda a terra de cultura receberá uma mesma dosagem de adubo.
Ao se iniciar a distribuição, se houver ventos, lembrar que sempre o operário deve
caminhar tendo o vento soprando pelas suas costas ou lateralmente. Não caminhar nunca
contra a direção do vento.
44. Quais as maneiras de se distribuir o composto nas culturas:
O composto pode ser assim distribuído:
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
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I. A lanço, aplicado por toda a superfície da terra, transportando-o em uma carroça ou
carreta e jogando-o com pá, ou, utilizando distribuidora própria para estercos ou
para calcário.
II. No fundo do sulco: nas culturas em linha, abrindo-se o sulco com sulcador ou arado
e, em seguida, jogando o adubo, que é transportado em carroça ou carreta, com pá.
III. Em covas: quando se vai instalar uma cultura permanente, como os cafezais, os
pomares, ou florestamento ou reflorestamentos, a melhor oportunidade para se
empregar um adubo orgânico é no fundo da cova, misturado com a terra.
IV. Em coroa: distribuindo em volta da árvore, formando uma faixa afastada do tronco e
não além da projeção da sua copa, devendo em seguida incorporar levemente à
terra.
45. Onde deve ser localizado o composto em relação à planta ou semente?
O composto quando estiver garantidamente bioestabilizado (semicurado) ou melhor ainda,
humificado (curado), pode ser colocado junto com a semente ou a mudinha, sem risco de
causar dano. Quanto ao composto cru aplicado na terra, só se pode semear ou plantar após
20 a 30 dias da sua aplicação.
Os fertilizantes químicos não devem entrar em contato direto com as sementes ou raízes.
Quando misturados ao composto, este adubo orgânico evita danos.
A melhor localização para os adubos orgânicos ou químicos é logo abaixo, ou, abaixo e um
pouco ao lado das sementes ou raízes.
46. Quando se deve adubar?
Os técnicos dividem a época da adubação em vários períodos: 1º) na ocasião do plantio,
isto é, junto com a semente ou com a muda que está sendo transplantada – é a chamada
adubação fundamental; 2º) quando se inicia o crescimento mais intenso da planta,
distribuindo-se o adubo na superfície do solo, ao longo da linha de cultura ou em torno da
muda, e incorporando-o ou não à terra – é a adubação de cobertura; 3º) e finalmente a
adubação de manutenção da fertilidade que se faz nas plantas adultas, geralmente em
culturas perenes na época das chuvas, ou quando se fazem canais ou outros tratos culturais,
aplicando-o em sulcos abertos ao lado da linha de cultura, ou distribuindo-o pela superfície
e incorporando-o ou não à terra.
47. Quais as doses recomendadas?
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
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As doses variam de acordo com a quantidade de composto disponível, com o tipo de terra,
com a cultura e com a adubação pretendida. De maneira geral, podem ser recomendadas as
seguintes doses:
Para culturas anuais, no fundo do sulco de plantio, as quantidades mínimas são:
Terras fracas, 10 t/ha.
Terras médias, 5 t/ha.
Para culturas perenes:
No plantio: 10 a 20 litros por cova.
Em planta adulta, em coroa: 10 a 20 litros por pé.
Em pastagens, em cobertura: mínimo de 5 a 10 t/ha.
Para hortas e viveiros:
Na cova: de 0,5 a 1 litro.
No canteiro: de 10 a 20 litros por metro quadrado.
Lembrar que, empregando-se o composto curado, pode-se juntá-lo à semente ou muda; o
composto cru não deve entrar em contato direto com a semente ou as raízes; o composto de
segunda, que contém maior quantidade de material inerte, também chamado de
contaminante, é o mais recomendado para a aplicação em fundo de cova, no plantio de
mudas.
48. Há muita diferença entre distribuir o composto na superfície sem incorporar à
terra , e incorporando?
Sim. Os experimentos demonstraram que o esterco pode, dentro de sete dias após ser
distribuído pela superfície do terreno, em condições desfavoráveis de muito calor e vento,
perder até 50% do total de nitrogênio. Considerando que o composto é um adubo
semelhante ao esterco, dele diferenciando por ter sido preparado a partir de outras matérias-
primas para se obter o mesmo húmus, compreende-se a necessidade de incorporá-lo à terra
logo após ser espalhado no campo, pois 25% do nitrogênio pode ser perdido em doze horas.
49. Há algum experimento feito no Brasil com o composto de lixos domiciliares?
Sim. Aqueles realizados pelo Departamento de Solos, Geologia e Fertilizantes, da Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo, demonstraram,
dentre outras coisas, que:
I. O composto cru é inferior ao que sofreu o processo de compostagem;
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II. As doses de 5 toneladas por hectare são insuficientes para aumentar a produção;
III. As doses de 10 toneladas por hectare garantiram um aumento da produção, sendo
esta superada pelas doses de 20 t/ha;
IV. Mais uma vez foi demonstrado que o adubo orgânico é mais eficiente em solos
arenosos e na cultura do feijão, que em solo argiloso ou com planta da família das
gramíneas, como o arroz.
49. O composto aplicado como adubo tem efeito residual favorável na cultura
seguinte?
Sim. O composto aplicado como adubo beneficia a cultura daquele ano e, em menor escala,
as que se fizerem posteriormente.
Os experimentos em vaso realizados pelo Departamento de Solos, Geologia e Fertilizantes
da Escola Superior de Agricultura “Luiz Queiroz”, da Universidade de São Paulo,
demonstraram que em solo arenoso houve um melhor efeito residual do composto que em
solo argiloso; também o feijão aproveitou melhor esse efeito residual que o arroz.
Tais experimentos vêm confirmar a sabedoria popular dos agricultores europeus e asiáticos,
de que os adubos orgânicos devem ser usados a longo prazo, pois seus efeitos são
comutativos, melhorando as propriedades físicas do solo e fertilizando as culturas.
Texto de EDMAR JOSÉ KIEHL, Professor Adjunto da Universidade de São Paulo
Escola Superior de Agricultura “Luiz Queiroz”, Departamento de Solos, Geologia e Fertilizantes
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A AGRICULTURA IMITANDO A NATUREZA
17 de julho é o DIA DE PROTEÇÃO ÀS FLORESTAS, um bom momento para refletir
como estamos tratando esse importante patrimônio do Planeta. A agricultura tradicional e a
agricultura moderna desmatam para plantar. Desse jeito, acabam com a floresta que é o
ecossistema predominante no Brasil. Ela vem sendo derrubada e destruída para se extrair
madeira, plantar cana, criar pastos, cultivar alimentos e construir cidades. Isso, desde o
descobrimento do País até os dias de hoje. Fazendo diferente, a agroflorestação procura
combinar a agricultura com a floresta. Com esse tipo de plantio, o homem imita e respeita a
riqueza da vida criada pela natureza. A agrofloresta é uma floresta trabalhada pelo homem.
É um consórcio de diferentes plantas cultivadas com espécies da vegetação nativa e outras
árvores adaptadas ás condições locais. Dessa maneira, o agricultor pode colher alimentos
essenciais á nossa vida, sem destruir o ecossistema natural.
Atualmente, e mais do que nunca, a necessidade de práticas agrícolas que conservem os
recursos naturais é urgente no campo. Disto depende a recuperação dos solos erodidos e
degradados, os problemas sociais oriundos do abandono das terras, as baixas produções e a
falta de recursos financeiros.
Vemos crescendo o uso de práticas agrícolas como cultivo em nível, rotação de cultura e
adubações verdes, mas é na adoção de sistemas agrossilvopastoris que repousa o grande
potencial para as condições brasileiras.
Agrossilvicultura é um sistema planejado de uso da terra, no qual árvores são cultivadas em
consórcio com culturas agrícolas e/ou animal, ao mesmo tempo ou em rotação. Os vários
estratos de vegetação otimizam o aproveitamento da radiação solar; os vários tipos de
sistemas radiculares em diferentes profundidades determinam um bom uso do solo e as
culturas anuais e as pastagens beneficiam-se com o enriquecimento da camada superficial
do solo, conseqüencia da reciclagem mineral feita pelas culturas arbóreas.
Alguns exemplos de uso da agrossilvicultura:
1. Cultivo em faixa: prática de manejo em que as culturas, geralmente leguminosas, são
cultivadas nas ruas, entre as fileiras plantadas com árvores ou arbustos, e na qual as
espécies lenhosas são podadas periodicamente.
Benefícios:
Recupera e conserva a fertilidade dos solos;
Produz adubo verde;
Produz húmus;
Fixa nitrogênio;
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Protege os cultivos contra o vento e o sol;
Controla ervas daninhas;
Produz forragem;
Produz lenha e mourões.
2. Cultivos intercalados de frutíferas, grãos ou hortaliças.
Benefícios:
Uso intensificado da terra;
Produção de frutas;
Sombra;
Conservação e melhoramento dos solos;
Controle da erosão.
3. Cercas vivas.
Benefícios:
Proteção de terrenos de cultivo, hortas, viveiros e lotes para lenha;
Redução de custo, trabalho e material requeridos para outros tipos;
Cercas;
Produção de lenha ou de fruta;
Embelezamento.
4. Quebra-ventos:
Benefícios:
Diminuição do ressecamento dos solos;
Redução dos danos causados aos cultivos, pelo vento;
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Redução de madeira para lenha ou construções;
Embelezamento.
O BIOGEO E
O CONTROLE DE DOENÇAS NAS PLANTAS
Trata-se de um pé de cuba misto, composto de estéreo (ou outros), água, farinha de rochas,
tortas, leveduras, xisto, cinzas, água do mar, etc.
É, portanto, um composto biotecnológico para prevenção de pragas, doenças e
desequilíbrios, promotor de crescimento e defensivo natural baseado na teoria da
Trofobiosoe, graças aos seus cerca de 80 elementos, mais enzimas (rompendo bloqueios e
ultrapassando barreiras fisiológicas). Recomenda-se sua aplicação foliar, via solo, como
inoculador de sementes. O seu poder transformador produz o equilíbrio da planta,
propiciando desenvolvimento harmonioso e saudável, ensejando alta produção mesmo em
condições adversas.
O controle de doenças com os biofertilizantes é devido à presença de metabólicos – ação
direta sobre o patógeno e o hospedeiro. Mecanismo de ação simultânea dos microrganismos
(antibiose – competição – parasitismo), além de ativar mecanismos de resistência quando
aplicados via foliar dado à capacidade de leveduras e bactérias induzirem a resistência do
hospedeiro às doenças, ocorre também pela presença de compostos orgânicos
(aminoácidos – enzimas – coenzimas – vitaminas – fitormônios).
IMPORTANTE: As aplicações foliares devem ser constantes, a fim de vencerem os
bloqueios existentes. Pragas e doenças são conseqüências de equívocos no manejo do
agrossistema, portanto o manejo do combate às pragas e doenças do vegetais só se tornará
efetivo através da correção das causas que as originaram. Como preservar e recompor o
equilíbrio biológico dos agroecossistemas, evitando assim o agravamento dos problemas
fitossanitários.:
A) Diversificação, rotação e consorciação de atividades.
B) Recomposição florística para a melhoria das condições microclimáticas e a conservação
dos recursos naturais, objetivando o equilíbrio ecológico do agroecossistema.
C) Promoção de uma eficiente reciclagem das biomassas disponíveis na propriedade.
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D) Manejo orgânico das áreas agricultadas, com destaque à incorporação constante de
matéria orgânica ao solo, além das coberturas morta e viva e da prática de adubação.
verde.
E) Utilização de geomoplama mais adequado e suas condições, com ênfase na
produtividade, sem descuidar da prevenção dos eventuais estresses ambientais.
F) Busca de uma nutrição adequada e completa para os vegetais e organismos do solo pelo
aporte de elementos de baixa solubilidade.
Parte III
O “MB-4” E O EQUILÍBRIO MINERAL DO SOLO
O vasto espectro de elementos químicos minerais encontrados no MB-4 leva-o a oferecer
uma variedade grande de nutrientes; a baixa solubilidade e a relação entre eles
proporcionam condições propícias para a vida microbiana do solo.
A maneira ideal de colocar o MB-4 à disposição das plantas é espalhá-lo em área total, em
seguida, fazer a incorporação ao solo. Com essa operação obtém-se a segurança de que o
produto preencheu todas as necessidades.
A quantidade ideal é de difícil estimativa: depende das carências minerais locais. Porém,
deve-se tomar por base a quantidade de 2 t/ha. Não se deve exagerar e, no mesmo ano,
colocar quantidades grandes por hectare, com o intuito de obter resultados rápidos, pois
pode-se incorrer em agressão às microvidas ali existentes. È preferível colocá-lo em doses
menores e continuadas.
A finalidade de espalhar em toda a área e fazer a incorporação é permitir o aumento da
superfície de contato entre o MB-4 e o maior volume de solo possível, de modo a levar o
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produto ao alcance das raízes, favorecendo o contato delas com os nutrientes liberados. É
uma operação realmente trabalhosa, que envolve equipamentos e custos mais elevados, mas
é compensador; reduzirá custos futuros em combate a pragas e doenças, obterá maior
produção e melhor qualidade biológica da cultura, que é o mais importante. É o contrário
do que se faz atualmente, em que se valoriza a produção em detrimento da qualidade
biológica.
Em testes experimentais aplicou-se no sulco, reduzindo a quantidade em 50%, e obtiveram-
se bons resultados.
Procurando-se reduzir custos e facilitar em relação às culturas plantadas, outras maneiras de
aplicação do produto têm sido utilizadas, como: na cova (em contato direto com a
semente); na projeção da copa; em culturas permanentes, como fruteiras, calcula-se a área e
a quantidade equivalente, proporcional a 2 t/ha.
A grande necessidade de certos minerais para a saúde das plantas e dos animais faz com
que essa preocupação estenda-se até o solo, onde está o início da vida vegetal e animal.
Aqui teceremos comentários sobre alguns desses elementos que julgamos oportuno, para
posteriormente aprofundarmo-nos em maiores detalhes.
O Magnésio está contido no MB-4 sob a forma de silicato e, em maior quantidade, de
carbonato. Representa um total que pode variar de 17 a 19% de óxido de magnésio. É um
elemento de grande importância para a vida e Conseqüentemente de grande necessidade
nos solos. Atualmente não se dá o valor devido ao magnésio, talvez por representar em
torno de 2,5% da crosta terrestre e, portanto, muito comum, não desperta grandes interesses
comerciais, sendo relegado a segundo planto. As conseqüências desse desprezo vão se
refletir em prejuízos futuros nas colheitas e na vida animal.
A deficiência de Magnésio no solo foi ampliada pelas altas doses de fertilizantes químicos
solúveis, principalmente os adubos potássio e os nitrogenados amoniacais.
Outros fatores influem no aproveitamento do Magnésio no solo, como clima, umidade,
grande quantidade de íon cálcio.
O Ferro é ofertado ao solo sob a forma de óxido, e está presente no MB-4 na proporção de
6 a 8%. Tem um significado grande para a vida, principalmente a animal. Os solos arenosos
são muito carentes.
Está presente na crosta terrestre, numa concentração em torno de 5%, e a disponibilidade de
ferro no solo pode ser afetada pela compactação, pH elevado, presença de outros metais em
grandes quantidades.
O Silício é fornecido ao solo pelo MB-4 como silicato. Sua presença no produto é a alta
cifra de 39 a 48% em SiO2. É um outro elemento que não teve o reconhecimento devido.
No entanto atualmente inicia-se, muito prudentemente, colocá-lo no merecido lugar. Tem
grande importância no solo, nas plantas e nos animais.
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O Silício nos solos tropicais, com pH entre 4,0 e 4,5, é solubilizado muito rapidamente, e,
juntando-se ao Ferro forma as concreções lateríticos. Este processo é bem observado nas
argilas montmorilhoníticas que, ao perderem Silício, transformam-se em caulinita mais
gibsita. O processo é reversível: com a aplicação do MB-4, a sílica do silicato de magnésio
é liberada e é invertida a aeração. Nos solos argilosos, esse fenômeno é muito observado, e
constata-se com muita evidência o desenvolvimento radicular das plantas, que parecem
adquirirem mais força para penetrar o solo compactado.
O Cálcio é um dos elementos mais ricos na crosta terrestre, atingindo 3,5% do total. No
MB-4 está presente sob a forma de carbonato e silicato de cálcio. Tem seu lugar de
destaque, recebendo a merecida importância que tem para as plantas e para os animais.
Compõe o MB-4 na proporção de 1,5 a 4%.
O Fósforo e o Potássio são dois importantes minerais para o solo, para as plantas e para os
animais. No entanto, é atribuído um valor muito alto a eles. Nas adubações são colocados
sob forma altamente solúvel e em quantidades elevadas. Juntos ao nitrogênio formam o que
a ciência agronômica atual chama de macroelementos primários. Não ficam dúvidas no que
diz respeito à quantidade que entra na constituição e às necessidades da planta, mas a
fórmula e a quantidade quando aplicados deixam a desejar, e consideramos o ato de maior
agressão à natureza neste século. A grande proeza e a coroa de louros ficam para as
multinacionais, que tiraram proveito e, sem medir as conseqüências, arquitetaram
seus planos com a única finalidade de conseguir lucros, custasse o que custasse. Esta
agressão não é somente uma ofensa à Natureza, é responsável pelas doenças e pragas
na agricultura, pelas doenças no animais e principalmente no homem. As mortes de
seres humanos causadas por essa agressão é maior que se juntássemos os mortos de
todas as guerras havidas juntas. Sem contar os milhões de miseráveis que deixou,
depois de sugar o último centavo. É vergonhoso que no final do século XX até mesmo
os países considerados do primeiro mundo, desenvolvidos ainda estejam sendo
iludidos e usem os chamados adubos químicos solúveis, embora em pequena
quantidade.
Quando será que o homem irá se conscientizar de que é e sempre será uma pequena parte
da natureza e, por isso, deve se comportar como tal, observando-a, como bom filho, e
tirando lições para usar em benefício próprio?
Os micronutrientes Sódio, Enxofre, Cobre, Zinco, Manganês, Cobalto, elementos-traço e
muitos outros que ainda não puderam ser detectados fazem parte da composição MB-4.
Sentimos os efeitos pelo comportamento das culturas, o desenvolvimento radicular, o
prolongamento da vida, com todo vigor reprodutivo.
Nota-se que a microvida do solo é intensa e equilibrada. Num experimento em vaso com
solo argiloso, foram feitos três tratamentos: um só com MB-4, que chamaremos de (1); o
segundo com MB-4 e adubo químico (2) e o terceiro só com adubo químico (3). Observou-
se, no primeiro experimento, o feijoeiro com MB-4 em pleno vigor, verde, com vagens
novas, outras já secas e a planta ainda florando. Em um outro vaso, o do terceiro
experimento, o feijoeiro plantado com NPK aparece já morto, atacado por nematóide. As
raízes do feijoeiro com MB-4 (1) são fortes, têm o vigor necessário para penetrar o solo e se
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aprofundar para resistir às intempéries. São longas, ramificadas e parecem querer ocupar
cada espaço no solo. O feijoeiro com NPK (3) não recebeu a adubação ideal. Ela
proporcionou que o nematóide, sentindo-se agredido em seu habitat, se defendesse
atacando a planta. O feijão que recebeu o MB-4 e o adubo químico (2), embora ainda
apresentando nematóide, mostrou um desenvolvimento radicular melhor que o do
experimento (3).
Analisando o fenômeno acima, podemos fazer observações que nos servirão para completar
futuras conclusões. O nematóide atacou as plantas que levaram adubo químico (2) e (3), já
que o solo foi o mesmo. Então, o produto MB-4 deve dispor de algo que não contrariou ou
prejudicou e mesmo ajudou a vida do nematóide. Do modo como vemos não conseguimos
enxergar os outros seres vivos como pragas: porque são ameaçados em suas vidas, têm
mesmo é que se defender.! Nós, os humanos, quando somos ameaçados, procuramos nos
defender e agredimos quem nos ataca. Não procuramos encontrar a causa e o por quê de
estarmos sendo ameaçados.
Tentamos corrigir um dos efeitos quando, se corrigíssemos a causa, seria muito mais fácil.
Bastaria procurar lições na mãe Natureza e teríamos a solução para tudo.
O fenômeno que se apresentou, no pé de feijão com MB-4 (1), de prolongamento da vida,
inclusive proliferando, foi observado também em diversas outras culturas, como soja,
melão, cana, fumo, mamão. É um fenômeno muito importante, sobre o que iremos nos
aprofundar em futuras considerações.
Em solo bem nutrido, a planta é sadia, apresentando um sistema radicular desenvolvido e
não sofrendo ataque dos seres vivos, a que denominamos desdenhosamente de pragas.
O equilíbrio mineral do solo é inteiramente responsável pela saúde da planta, dos animais,
inclusive do homem.
Não existe doença na planta ou no animal, inclusive o homem, que não esteja
relacionada a uma deficiência mineral do solo.
EFEITOS DO MB-4
Todos os benefícios da colage com calcário e mais:
a) Corrige em produtividade (descida rápida);
b) Diminui a saturação de alumínio;
c) Fornece mais de 30 elementos entre macro e micronutrientes (P, K, Ca, Mg, S, Fe);
d) Aumenta o sistema radicular;
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Prof. Adoniel Amparo 42
e) Diminui a transpiração da planta, pela presença da sílica (47%), logo, aumenta a
resistência à seca;
f) Tem muita influência na germinação, aumentando sua velocidade, talvez pela presença
do boro;
g) Pode ser usado também como adubo.
Além disso, a Farinha de Rocha MB-4
Tem propriedades antifúngicas;
Pode ser usada junto com NPK;
Pode ser usada como defensivo natural, diluído ou em pó;
Aplicado com MO, o efeito é miraculoso.
Anexo I
O INVESTIMENTO MACABRO
Quando lemos o título deste artigo achamos um absurdo. Quem seria capaz de fazer tal
investimento?
Mais absurdo ainda é afirmar que todos nós, brasileiros ou não, fazemos, uns mais e outros
menos.
Fazemos esta afirmação, pois quando compramos nossos alimentos, estamos investindo na
nossa saúde. Sempre procuramos adquirir o que é melhor, o mais saudável.
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
Prof. Adoniel Amparo 43
No entanto, não sabemos com certeza se aquilo que adquirimos é realmente o que
pensamos, ou é uma aparência. Será que estou comprando gato por lebre? Ah! Se fosse,
seria muito bom, não seria o investimento a que nos referimos.
Somos contempladores e coadjuvantes do triste espetáculo. A SAÚDE ESTÁ EM CRISE,
dizem as manchetes em jornais, revistas, noticiários de rádio e televisão.
Quem procura saber qual o motivo da saúde ter se agravado tanto assim? Trata-se de
arranjar mais dinheiro para se poder investir mais em curas de doenças. As causas das
doenças ninguém procura. A primeira intenção é a que fica, vamos tratar a doença, mas a
causa persiste.
Quem procura saber se a carne de boi que consumimos está cheia de hormônios, que se
deixam os animais dopados nos pastos, só comendo e engordando; ou como são criadas as
galinhas de granja, onde se consegue a grande façanha de levar o máximo de 45 dias do
nascimento até o dia do abate, em que é necessário usar muitos hormônios e antibióticos;
ou dos alimentos vegetais, nos quais a nova tecnologia fez que aumentasse a produção,
sem se preocupar com a qualidade dos alimentos; ou a água que bebemos oriundas de rios e
açudes que abastecem as cidades, impregnados de agrotóxicos trazidos pelas chuvas.
Poderíamos perguntar: “Quais as doenças que esses alimentos provocam?” E
responderíamos sem pestanejar; “Todas, inclusive o envelhecimento precoce, a impotência
sexual, a infertilidade de homens e mulheres, esse aumento assombroso da
homossexualidade, a perda de nossas defesas imunológicas, etc.”
O caso é sério, é para ficar assombrado mesmo.
E agora, o que vamos comer?
Não nos resta muita coisa. Como alimento animal, temos ainda um cabrito, um carneiro, a
galinha de capoeira, ovos de capoeira e peixe do mar, pois os açudes e lagoas podem estar
contaminados. Como alimento vegetal não nos resta nada. Até a simples saladinha de
verduras está cheia de agrotóxicos, pois as lavouras foram saturadas de adubos químicos,
perderem suas defesas naturais, ficaram biologicamente incompletas, sujeitas a pragas e
doenças e, por isso, vieram os agrotóxicos, cada dia mais fortes, mais mortais e as pragas e
doenças mais resistentes.
No estágio atual, fazendo-se um comparativo, estamos iguais às lavouras. Foi trocada a
maneira de adubar, isto é, foi mudada a alimentação, provocou o desequilíbrio, que, por sua
vez, comprometeu as defesas, e aí estão as doenças nos seres humanos, com os hospitais
cheios, e muitas infecções hospitalares.
Então, o que fazer?
Diante desse quadro caótico, a MIBASA, através de seu departamento técnico, preocupada
com a situação, resolveu lançar a campanha de alerta à população “ALIMENTO
NATURAL É SAÚDE”, pois o Homem é um hóspede na Natureza, e como tal, se for
bom, fica, caso contrário, será eliminado. E assim teremos o suicídio involuntário, pois
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
Prof. Adoniel Amparo 44
estamos nos matando com nossas próprias mãos. Quando fazemos uma feira, supomos que
estamos comprando somente nutrientes para nossos corpos, estamos fazendo um
investimento, mas, adicionado à feira, vêm os agrotóxicos, os hormônios, as deficiências de
vitaminas e sais minerais, etc., que causam as nossas doenças. É portanto um investimento
macabro.
OBSERVAÇÕES: A nossa intenção é alertar a população e, agora, professores de
ciências, para que conscientizem os jovens, para que eles não venham passar pelo que
estamos passando, e tenham uma vida com saúde e paz.
Fazemos isto, também, com a intenção de dividirmos as responsabilidades que tomamos
para nós.
Queremos colocar à disposição dos alunos e professores o nosso departamento técnico com
informações e conhecimentos para, juntos, unirmos nossas experiências e encontrarmos
soluções adequadas, na tentativa de superar a crise para as futuras gerações e minorar o
sofrimento desta.
Arapiraca, junho/1996.
Solon Barrozo Barreto – Diretor Técnico da Mineração Barreto S.A. – MIBASA
Anexo II
A FEIRA... E AS DOENÇAS
Atualmente temos mais dificuldades para fazer uma feira. Além das condições financeiras,
vem uma outra preocupação, mais complexa, e que poderá deixar você sem possibilidades
de fazer outra, para o resto da vida, se é que ainda restará vida. Será que o nosso organismo
suportará mais uma semana de agressões, sem mostrar sinais de que está saturado, de que
há muito tempo vem protelando e se esforçando para lhe dar uma boa aparência, com a
esperança de haver uma mudança na conduta alimentar?
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Prof. Adoniel Amparo 45
Quando a indústria recebe uma matéria-prima imprópria, o produto não terá a qualidade
nem as propriedades que deveria; a resistência e a durabilidade estarão comprometidas;
como o nosso organismo poderá fazer tantos milagres para manter o corpo com saúde, se só
recebe alimentação fora das especificações?
Já faz até demais, esforça-se para manter o equilíbrio, mas encontra-se saturado de tantas
agressões e, num esforço muito grande, alerta, apresentando um pequeno problema para
chamar a atenção, mas a agressão persiste e, às vezes, mais acentuada e mais freqüente. Até
o aço tem o seu limite de fadiga, e depois se rompe.
A ‘Natureza” criou os seres vivos dentro de leis imutáveis e, portanto, teremos de viver
segundo os limites estabelecidos. Aquele que transgredir, será obrigado a retroceder em
obediência a essas leis, ou será eliminado, não tem outra opção.
Podemos exagerar, temos o livre arbítrio, mas fiquemos certos de que por conta daquele ato
impensado as conseqüências virão, com certeza.
Uma simples espinha num rosto bonito é um aviso. Pode ser um desequilíbrio hormonal
provocado por um alimento que esteja saturado em hormônios, com são as carnes de boi
confinado, as galinhas e ovos de granja. Na pessoa que ainda está jovem o alerta pode ser
dado por uma espinha. Se não for feita a correção da alimentação, fique certo que no futuro
outras conseqüências virão, como câncer de mama, doenças do aparelho genital, e seu
organismo estará maltratado e por certo, sofrerá com mais intensidade. Até quando
suportará?
Uma prisão de ventre pode ser um aviso de que seu organismo pode estar recebendo doses
maciças de antibióticos e que sua flora intestinal foi atingida e prejudicou sua digestão.
Caso você não tome cuidado com as carnes que está comendo, virão doenças, as mais
variadas possíveis, pois, no intestino processam-se todas as reações necessárias para dar
você uma saúde perfeita!
Uma simples alergia está ligada aos refrigerantes, aos conservantes, aos corantes, aos
sabores artificiais encontrados nos enlatados, engarrafados e acondicionados.
Algumas pessoas já nascem com alergias e outras adquirem-nas e transmitem aos seus
descendentes, com o costume alimentar moderno, prático, cômodo, porém danoso à saúde.
Os cereais e as sementes de um modo geral já entraram na era moderna: veio a
biotecnologia e modificou o código genético de modo a torná-las altamente produtivas,
adaptadas às condições locais.
A natureza levou milhares de anos para tornar aquela semente apropriada para a região: o
homem, numa simples mudança do código genético, acha que isto é suficiente para
transmitir todas as características da semente-mãe para a filha. No entanto, as sementes
atualmente trazem consigo as qualidades apropriadas a beneficiar as pragas, pois a semente,
para ser plantada, já vem com uma película de veneno, e as que vão servir de alimento, para
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
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serem conservadas até quando serão consumidas, têm de estar protegidas com altas doses
de venenos muito fortes. Os consumidores, iludidos, lavam essas sementes, pensando que
aquele simples ato retirou todas as impurezas. “É o mesmo que tomar um banho pensando
que a sujeira está no corpo, quando as impurezas estão na alma”.
E ainda podemos nos perguntar por que temos tantas doenças? Ou, a pergunta mais justa
não seria “como nosso organismo é perfeito para suportar tantas agressões e assim mesmo
só ter essas essa poucas doenças?”.
Como disse Adoniel Amparo em uma de suas palestras, a AIDS é apenas a ponta do
iceberg, outras doenças virão, mais terríveis e mais danosas, se não tomarmos providências
urgentes.
O nosso sistema imunológico está comprometido!
É necessário que a população tome conhecimento para poder se proteger e saber o que é
certo e o que é errado em sua alimentação, não se deixando influenciar pelos comerciais,
anúncios, embalagens e sabores que atraem nossos sentidos, levando-nos a consumir,
pensando que estamos adquirindo o melhor para nossa saúde.
Atualmente vemos as doenças cardiovasculares atingirem jovens e idosos com uma
freqüência jamais vista. Os médicos, assombrados, já não sabem mais o que fazer para
amenizar tanto sofrimento. Prescrevem receitas, dietas, mas as hipertensões, os enfartes, os
derrames persistem, pois as causas continuam, estamos tentando corrigir os efeitos.
Por que não deixamos de usar adubos químicos e passamos a usar produtos naturais em
nossas lavouras, restituindo ao solo tudo que lhe foi retirado por centenas de anos? Os
adubos químicos agridem e exterminam a microvida, provocando grandes desequilíbrios no
solos, fornecem altas concentrações de determinados elementos e ausência de muitos
outros. Dessa forma prejudica o meio-ambiente, contamina o lençol freático e inibe a
absorção de outros elementos minerais por parte das culturas.
O Magnésio, por exemplo, é um mineral de grande importância para o ser humano. É
responsável por mais de 300 funções, entre elas a elasticidade da pele e das veias, o
fortalecimento dos músculos, ossos e articulações. A deficiência de Magnésio traz doenças
cardiovasculares, artrose, artrite, doenças da coluna, etc. Em 1970, na França, já se
constatava que os alimentos vegetais continham a metade do Magnésio que possuíam há
100 anos atrás.
Outros minerais importantes para o metabolismo estão reduzidos em suas proporções, ou
mesmo ausentes dos alimentos, como o cobre, o zinco e o manganês.
Essas reduções ou mesmo ausência de vários elementos nas culturas provocam
desequilíbrios, sendo responsáveis por pragas e doenças, trazendo prejuízos para os
agricultores, que, já desgastados pelos altos custos dos fertilizantes, são forçados a adquirir
agrotóxicos, para protegerem suas lavouras e conseguirem subsistir a duras penas. Essas
lavouras consumidas vêm aumentar e reforçar o índice de doenças já citado.
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As deficiências minerais nas culturas trazem modificações orgânicas, sendo responsáveis
pela carência de vitaminas, proteínas, etc. nos animais que delas se alimentam.
É esta feira que fazemos tanto sacrifício para conseguir.
Depois que analisamos essas explicações, pensamos duas vezes, antes de darmos de
comer a quem tem fome! Será melhor morrer de fome, ou morrer da doença
provocada pela ingestão do alimento?
Texto extraído do livro “MB-4: Agricultura Sustentável, Trofobiose e Biofertilizantes”. Anexos, pág. 266.
Editado pela Fundação Juquira Candiru – Mineração Barreto AS.
Ecologia Ambiental________Prof. José Lutzemberger
A visão cartesiana que ainda domina grande parte do pensamento científico atual coloca-
nos como observadores externos da Natureza. Daí o conceito de “ambiente natural”. O
ambiente é visto como algo externo a nós, no qual estamos total e umbilicalmente imersos,
é verdade, mas que não faz parte de nosso ser – uma dicotomia bem clara.
Temos hoje a cibernética e a sinergética, mas são raros, muito raros, os que observam a
Natureza, muito mais raros ainda aqueles que lidam com o mundo dentro dos enfoques
destas disciplinas. A doutrina que norteia a tecnologia moderna baseia-se, sempre, em visão
reducionista. Os alvos são estreitos, o raciocínio linear.
Mas o Mundo não é assim. Façamos um “experimento mental” (Gedankenexperiment),
como dizia Einstein: Acaso seria possível um planeta cheio de vida como o nosso, mas no
qual a vida estivesse constituída apenas de animais, sem que existissem plantas? É claro
que não. Por que não?
Mesmo aqueles animais que só se alimentam de carne, como o leão ou o gavião
caramujeiro, que carne comem? Eles comem carne de animais herbívoros ou de animais
carnívoros que comeram herbívoros. A coisa sempre termina na planta. – Por que termina
na planta? Muito simples: a planta sabe fazer uma coisa que animal nenhum consegue
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Prof. Adoniel Amparo 48
fazer. A planta domina a técnica – a “tecnologia”, como diríamos hoje – da fotossíntese. O
que é a fotossíntese? As plantas captam energia solar, retiram do ar gás carbônico, que elas
combinam com água para fazer substâncias orgânicas. Neste trabalho, elas liberam
oxigênio. A fórmula super-simplifica da fotossíntese é a seguinte:
CO2 + H2O = ENERGIA SOLAR = CH2O = O2
Esta reação é muito interessante. Do lado esquerdo temos duas substâncias minerais
simples, substâncias sem conteúdo energético, isto em nível molecular, que é o nível no
qual transam os seres vivos e mundo mineral que os circunda. (Em termos de física nuclear,
que rege no interior do Sol e das estrelas, ou nos infames reatores e bombas nucleares, a
coisa seria diferente). Da água e do gás carbônico não se pode retirar energia. De vez em
quando, aparecem nos jornais histórias de inventores que teriam concebido motores que
usam água como combustível das reações mais fundamentais da química. Sabe-se que isto é
balela.
Do outro lado da fórmula, temos um carboidrato e oxigênio livres. CH2O é a fórmula
super-simplificada dos açúcares, amidos, celuloses. Os carboidratos têm alto conteúdo
energético. Poderíamos chamá-los de baterias químicas. Quando combinados, isto é,
queimados com oxigênio, liberam calor. A reação da fotossíntese fornece as duas coisas –
carboidratos e oxigênio!
Os animais, para todas as suas atividades, necessitam de energia. A única fonte
inesgotável de energia na Terra é a radiação solar, enquanto durar o sol, mais uns cinco
bilhões de anos. Se a vida dependesse de algo como o petróleo ou do carvão, já se teria
acabado. Mas esta é uma consideração absurda, pois foi a Vida que fez o carvão e o
petróleo. Para captar a luz é preciso ficar parado, apresentar grande superfície de captação
É o que fazem as plantas com suas folhas, sempre orientadas em direção ao Sol. Pela sua
natureza dinâmica, os animais não podem fazer isso. Servem-se das plantas, aproveitam as
substâncias orgânicas por elas produzidas.
Vamos agora inverter nossa pergunta inicial: Poderíamos imaginar um planeta com vida
sem animais, só com plantas? Não seria este um planeta bem mais harmonioso, sem
sofrimento? As plantas poderiam desenvolver-se livremente, sem serem pastadas,
pisoteadas, consumidas, queimadas.
Impossível.
A fórmula da fotossíntese mostra que o alimento principal das plantas é o gás carbônico.
Mas ele é um gás raro na atmosfera. O nitrogênio, N2, constitui o grosso do ar,
aproximadamente 79%. O oxigênio, O2, está próximo dos 20%. O resto é argônio e gases
raros. Apesar de sua concentração ter sido drasticamente aumentada nos últimos duzentos
anos pelas chaminés das indústrias, pelo escapes dos carros, pela destruição do húmus dos
solos e pela devastação florestal, o gás carbônico constitui apenas 0,33%. Por que as
plantas não esgotam rapidamente o gás carbônico?
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
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São os animais que não permitem que as plantas morram de fome. Os animais dominam
outra técnica, muito parecida com a fotossíntese, quase igual, porém invertida – a
respiração. Vejamos a fórmula simplificada:
CH2O = O2 – ENERGIA = CO2 = H2O
Exatamente o contrário da fotossíntese! Enquanto as plantas, armazenando energia,
sintetizam substâncias orgânicas, liberando oxigênio, os animais, com oxigênio, queimam
esta substância e usam a energia liberada no processo. Eles devolvem ao ambiente
exatamente aquilo que a planta retirou.
Para que não protestem alguns, as plantas também respiram, mas o balanço é negativo para
o gás carbônico.
Detalhe curioso, muito significativo: o catalisador da fotossíntese é a clorofila, um
pigmento verde, uma molécula bastante complicada do tipo que os químicos chamam de
quelatos. Quelatos são moléculas grandes, em forma de gaiola, que seqüestram em seu
centro um átomo de metal. No caso da clorofila, é um átomo de magnésio. O catalisador da
respiração é a hemoglobina, também um pigmento, este, vermelho. O átomo central é o
ferro. Como sabe todo aquele que estuda teoria das cores, vermelho e ver são cores
complementares.
Podemos agora desenhar um diagrama muito simples: ¹
A planta capta gás carbônico, entrega oxigênio, o animal consome este oxigênio, devolve o
gás carbônico. O círculo se fecha. A energia que toca esse carrossel é a radiação do Sol.
Ora, planta e animal fazem parte da mesma unidade funcional, são órgãos de um organismo
maior: não somente a planta está aqui para nós, nós também estamos aqui para ela!
As árvores, florestas, pradarias, os banhados e as algas microscópicas dos oceanos são
órgãos nossos, tão nossos quanto nosso pulmão, coração, fígado ou baço. Poderíamos
chamá-los de “nossos órgãos externos”, enquanto estes últimos são nossos órgãos internos.
Mas nós somos órgãos externos deles! O Organismo Maior é um só.
Mas complementaridade e interdependência de fotossíntese e respiração, de sedentariedade
e mobilidade são apenas algumas dentre a infinidade de interações que integram o Grande
processo Vital. Vamos apenas lembrar algumas:
A abelha e a flor. Em alguns casos, a dependência entre flor e animal fecundador é tão
precisa que as duas são exclusivas, evoluem juntas. É o caso das vespinhas das figueiras,
que vivem dentro dos figuinhos. Cada espécie da grande família dos Ficus é fecundada por
outra espécie de microimenóptero, exclusivo dela. Ou o beija-flor, que tem dimensões e
pêlos certos para a respectiva flor de maracujá.
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
Prof. Adoniel Amparo 50
Em alguns solos úmidos, extremamente ácidos e pobres em nutrientes, o mundo vegetal
consegue avançar com pioneiras muito especializadas, certas plantas carnívoras. Não
conseguindo retirar minerais do solo, elas se alimentam de insetos. Quando morrem, com o
húmus daí resultante enriquecem o solo, preparando-o para outras plantas, menos
especializadas. A morte é fundamental no Grande Contexto.
Por que muitas plantas fazem frutos gostosos? A eficiência na fotossíntese proíbe as plantas
de viajarem. Mas elas também têm que conquistar território. O fruto é o preço que elas
pagam ao animal que o come, pelo transporte da semente. As grandes figueiras centenárias
que enfeitam, ainda, campos, campões do litoral e da baixada central gaúcha são bem mais
precisas. Na maioria das árvores, as sementes germinam na escuridão do solo da floresta.
As mudinhas passam anos ou décadas de vida precária, lutando para chegar em cima. Em
geral, só conseguem quando, pela queda de um gigante decrépito, surge um novo espaço. A
figueira faz o contrário. Ela nasce no alto de outras árvores. Passa anos de vida precária
como epífita, alimentando-se do húmus dos galhos e troncos podres. Mas consegue enviar
uma raiz ao chão. Quando lá chega, se fortalece, emite mais raízes, abraça e estrangula a
árvore sobre a qual nasceu; acaba transformando-se num novo gigante. Mas, como chegou
lá em cima? A semente do figuinho só germina depois de passar pelo estômago de um
pássaro. Caída ao chão, não germina, falta o tratamento dos ácidos digestivos que eliminam
a substância inibidora da germinação.
¹ Nota da revisora: Na apostila original consta um diagrama que não foi possível reproduzir.
Teríamos que escrever compêndios de muitos volumes, se quiséssemos mostrar apenas
parte do fascínio da simbiose, como a da saúva, onde cada espécie tem sua espécie de fungo
específico, que cultiva no composto que faz com as folhas que corta.
Até as criaturas que costumamos classificar de pragas ou parasitas têm sua função. A
moderna agronomia não estaria trabalhando com enxurradas de veneno se não tivesse
esquecido que a “praga” só ataca hospedeiro doente, desequilibrado, desajustado. Atacando
somente os indivíduos marginais dentro das populações, os organismos parasitas
constituem-se em mais um crivo da Seleção Natural, que esmera constantemente as
espécies, faz surgir sempre mais diversidade, sempre mais sinergismo, sempre mais ciclos e
espiciclos de reciclagem dos recursos dos quais se serve a Vida.
E os milhões de espécies de bactérias, cada uma com sua função específica?
Sem elas não haveria digestão nem decomposição, não funcionaria a reciclagem dos
nutrientes minerais. Plantas e animais, quando mortos, ficariam como múmias, a obstruir o
espaço dos vivos, sobre o solo esgotado, a fome mataria os sobreviventes. As plantas
também não teriam acesso ao nitrogênio do ar, indispensável para a síntese das proteínas.
Mas, assim como existem bactérias que ajudam as plantas a obter nitrogênio, há as que
devolvem nitrogênio ao ar, mantendo, assim, um equilíbrio de fluxo estável. Outras
bactérias, também no solo, dão à planta acesso ao fósforo e demais nutrientes minerais,
especialmente os micronutrientes, indispensáveis à saúde das plantas. O fósforo é
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indispensável no código genético, aquela genial escrita bioquímica que, em nível
molecular, fixa, registra, perpetua e, pelas mutações, enriquece a Sabedoria da Evolução
Orgânica e que, em cada indivíduo vivo, desde o óvulo fecundado até a morte, comanda o
desenvolvimento e o funcionamento do organismo.
E todos aqueles seres maiores que, no solo ou sobre ele, preparam o trabalho das bactérias,
mastigando, roendo, dilacerando, desmanchando, transportando os restos dos organismos
mortos: fungos, protozoários, colêmbolas, nematóides, platelmintos, insetos – ácaros,
aranhas, escorpiões, centopéias e minhocas, e mesmo criaturas maiores, como moluscos e
até mamíferos, como tatus e toupeiras. Sem eles, as bactérias passariam por muito trabalho,
os ciclos vitais seriam muito lentos.
A Vida jamais poderá ser comprometida nos termos que queria Descartes que, nos seres
vivos, com exceção dos Humanos, via simples máquinas relógios autômatos; robôs, como
diríamos hoje. Mas esta visão ainda está bem viva, por exemplo, nos laboratórios de
toxicologia da indústria química, que submete milhões de criaturas indefesas – macacos,
cachorros, gatos, ratos, porquinhos-da-índia e outros – por ela simplesmente classificados
de “cobaias”, a torturas indescritíveis para, em enfoque ridiculamente bitolado, estabelecer,
entre outras abstrações indecentes, a “dose diária admissível” dos venenos com que fazem
seus grandes negócios. Esta visão, é triste ter que dizê-lo, é comum em muitos cursos e
aulas de biologia, e nas modernas fábricas de carnes e ovos, eufemisticamente chamadas de
“criação confinada” e “aviários”.
A Vida também não poderá ser compreendida apenas dentro da visão da moderna Biologia
Molecular, com suas abordagens ultra-reducionistas e com seu “dogma central”, que
postula ser a incrível diversidade de formas e funções resultado apenas da seleção natural,
de mutações ao acaso.
Só uma visão sistêmica, unitária e sinfônica poderá nos aproximar de uma compreensão do
que é nosso maravilhoso Planeta Vivo.
Nunca existiram tantos biólogos como hoje. As “ciências biológicas” – muito significativo
esse plural – ocupam cada vez mais especialistas. Na indústria, conheci excelentes
entolomólogos que só pesquisavam métodos químicos para e mesmo erradicar insetos. Nas
estações experimentais agrícolas, são comuns aqueles pesquisadores que passam a vida
relacionando estatisticamente a reação de certas plantas a determinados tratamentos
químicos. Há os que só estudam o efeito de determinados poluentes sobre certos
organismos aquáticos. Quando observo o trabalho dos biólogos moleculares, que se
aprofundam sempre mais na dança das macromoléculas do genes nos cromossomos, sem
ligar para o organismo como um todo, me vem a imagem de alguém que, querendo
conhecer e compreender os magníficos sistemas ferroviários europeus, por exemplo, a
Bundesbahn, na Alemanha, se limitasse a estudar, com o microscópio, as letras nas páginas
dos grossos manuais de horários dos trens, e que parasse a vida fazendo nada mais que isso.
Não deixa de ser muito interessante o que esta gente descobre e cataloga e, por isso, esses
trabalhos são muito importantes; mas desvinculados da visão do todo, nenhuma orientação
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
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ética nos proporciona. Aliás, é dogma corrente em círculos científicos modernos que a
ciência nada tem a ver com valores, com ética, com política, com religião...
Sobram biólogos, mas torna-se cada vez mais difícil encontrar naturalistas. Naturalistas
como eram Darwin, Haeckel, Humboldt, Julian Huxley; como alguns de seus mestres:
Allarich Schulz, entre nós, seu irmão Harald; Croizat e Vareschi, na Venezuela; o grande
Ruschi, no Espírito Santo, Sioli, na Amazônia e a hoje mitológica figura de Rambo, quase
totalmente esquecida de seus conterrâneos gaúchos, um dos grandes espíritos que esta terra
contemplou e venerou!
Esta é a diferença entre biólogo convencional, apenas “científico” e o naturalista. A
diferença está na veneração! Para o naturalista, a Natureza não é simples objeto de estudo e
manipulação, é muito mais. Ela é algo divino – não temos medo desta palavra – é sagrada, e
nós humanos somos apenas parte dela. Daí a atitude do naturalista não poder jamais ser de
agressão, dominação, espoliação. O naturalista procura a integração, a harmonia, a
preservação, o esmero, a contemplação estética. Ele está no mesmo nível do artista, do
compositor, maestro, escultor, pintor, escritor, mas ele trabalha dentro da disciplina
científica, em diálogo limpo com a natureza.
Quanto mais o naturalista se maravilha diante das incríveis interações e complementações
em nível de átomo, molécula, célula, organismo, espécie, população, comunidade e
ecossistema, mais ele procura chegar à síntese. Dentro da visão ecológica surgiu, assim, o
conceito de Ecosfera, o que é o conjunto e a interação de todos os ecossistemas, entre si e
com o mundo mineral. O diagrama que segue nos dá uma representação simplificada da
ecosfera: ²
A Biosfera, o conjunto dos sistemas vivos, está íntima e inseparavelmente integrada na
Hidrosfera e na Atmosfera. O todo constitui uma unidade funcional, um organismo à parte,
um sistema dinâmico integrado, equilibrado, auto-regulado.
É ainda enfoque comum que a vida existe neste planeta e nele se mantém até hoje (já são
pelo menos três bilhões e meio de anos, desde seus primeiros suspiros nos oceanos
primordiais) porque a Terra, entre os planetas de nosso Sistema Sola, reúne condições
muito especiais: tamanho e rotação certa, a distância certa de uma estrela de tamanho
certo. Daí o âmbito certo de temperaturas, propícias aos processos bioquímicos. No
Universo, predominam temperaturas extremas, desde quase zero absoluto, - 273ºC, no
espaço intersideral; por volta de 6000ºC, na superfície do sol; dezenas de milhões de graus
em seu centro; centenas de milhões no centro de estrelas maiores; e até bilhões e centenas
de bilhões de graus nas explosões da novas e supernovas. Mas os processos vitais da
química do carbono só funcionam acima do zero grau centígrado e se estropiam antes de
chegar aos 100ºC. somente algumas espécies de águas com temperaturas próximas de 70ºC,
em fontes térmicas; alguns fungos e actinomicetos ainda vivem bem aos 60º nos compostos
dos agricultores e jardineiros orgânicos.
Por muito pouco a Terra escapou ao destino de Vênus ou de Marte, nossos vizinhos mais
próximos. De Júpiter e Saturno e além, nem falar. É sabido que em Vênus a temperatura
média de superfície está por volta dos 400ºC. Não há substância orgânica que resista. Os
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
Prof. Adoniel Amparo 53
oceanos não resistiriam, evaporariam. Já em Mercúrio, mais próximo do Sol que Vênus,
nem a atmosfera resistiu, se foi. Em Marte, as temperaturas de meio-dia de verão estão
próximas dos 40 graus abaixo de zero. O gás carbônico está nas calotas polares, que são de
gelo seco. Oceanos, nem pensar.
De fato, a Terra está em condições muito especiais, não somente quanto à temperatura. Se
fosse uma bola de gás, com Júpiter, ou uma bola sem ar nem água, como a Lua, de nada
adiantariam temperaturas certas. Fundamental para a Vida é também o confronto dos três
estados físicos: sólido, líquido e gasoso. Sem este confronto não haveria reciclagem, como
aquela dos ciclos interligados do carbono e oxigênio, não haveria os grandes e pequenos
ciclos bio-geo-químicos.
² Nota da revisora: Consta um diagrama na apostila original, que não foi possível reproduzir.
Para que não se apague, a Vida exige ainda outras condições imprescindíveis: atmosfera de
composição certa, salinidade certa nos oceanos, âmbito certo de pH (medida de acidez e
alcalinidade). Devem estar presentes também, pelo menos, uns 25 dos mais de cem
elementos da tabela de Mendeleiv.
Quando a Nasa preparava as primeiras naves não tripuladas que descerem em Marte, ela
poderia ter economizado o grande custo dos dispositivos automáticos que recolheram, e
analisar o solo do planeta para verificar se continha alguma forma de microvida, mesmo
muito mais simples que as mais simples de nossas bactérias.
James Lovelock, um dos raros cientistas que hoje conseguem sobrevier como consultor
autônomo, trabalhava então para a Nasa. Ele propôs que bastaria estudar melhor a
atmosfera de Marte ou de qualquer outro planeta, referente à qual houvesse dúvidas quanto
è existência de alguma forma de vida. O importante seria verificar se a atmosfera, em sua
composições, se encontrava próxima ou longe do equilíbrio químico. Bastariam
observações espectroscópicas. Não foi escutado e não foi encontrada vida. Não podia.
O que aconteceria com a atual atmosfera da Terra se a Vida desaparecesse? Sua
composição parece violentar as leis da química. Sem o reabastecimento da fotossíntese, o
oxigênio não duraria mais que uns poucos milhões de anos. Seria consumido na oxidação
das rochas e do nitrogênio. Este acabaria nos oceanos, em forma de nitratos. Os mares não
mais teriam o pH próximo de neutro, propício à Vida, seriam um caldo corrosivo, altamente
ácido. Uma vez que os processos eruptivos estão longe de ter chegado a seu fim, voltaria a
elevar-se a concentração de gás carbônico. A Terra acabaria quase tão quente quanto
Vênus. Os oceanos? Evaporados! O vapor de água na alta atmosfera seria dissociado pela
ação direta dos raios ultravioleta. O hidrogênio se perderia no espaço interplanetário, o
oxigênio liberado oxidaria os restos de nitrogênio. O ácido nítrico exporia mais rocha crua,
o oxigênio todo se fixaria em forma de óxidos. Levaria mais tempo do que a fixação do
oxigênio da primeira fase, mas tempo é o que menos falta à Natureza. Uma atmosfera como
a que temos não pode existir num planeta morto.
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
Prof. Adoniel Amparo 54
Portanto, um bom químico, que olhasse a Terra de longe, suficientemente longe para não
poder discernir florestas, cidades, estradas, somente analisando espectogramas de nossa
atmosfera, se daria logo conta de que aqui acontece algo extremamente interessante. A
atmosfera da Terra está muito longe do equilíbrio químico. Este não é o caso de Vênus, de
Mercúrio, Júpiter, de Saturno e dos demais, que parecem perfeitamente normais,
quimicamente. Tremendamente fascinado ficaria este químico!
Lovelock, em colaboração com Lynn Margulis, preocupado com a não-aceitação de sua
proposta à Nasa e pensando mais profundamente no caso, inverteu o enfoque convencional,
segundo o qual a vida existe na Terra porque a Terra reúne e mantém as condições certas.
Se a Terra oferece condições certas, se a Terra oferece condições adequadas, é porque há
Vida.
Vejamos o caso da temperatura propícia aos processos vitais. Em algum momento, entre
quatro e três e meio bilhões de anos atrás, a Terra já estava consolidada, as lavas
solidificadas, os oceanos formados, a temperatura estava certa. O sol era entre 20 a 30 por
cento menos quente do que hoje, fato estabelecido, porque o Sol é uma estrela bem normal
da “seqüência geral”, cuja evolução é perfeitamente conhecida e calculável pelos
cosmólogos. Se a Terra era uma bola de gelo, é porque ainda tinha muito calor próprio e
porque a atmosfera de então propiciava um forte efeito estufa. Ela estava constituída
principalmente de gás carbônico, metano e amoníaco, com restos de hidrogênio. A quase
totalidade do hidrogênio da primeira atmosfera já se tinha perdido. Esta atmosfera era de
origem eruptiva.
Naquela atmosfera redutora começou, e só nela podia começar, a Vida. Se numa atmosfera
oxidante, como a atual, surgissem as primeiras substâncias orgânicas, elas seriam
rapidamente destruídas pela oxidação. Só numa atmosfera redutora elas podem acumular-
se. Baseando-se nas idéias sobre a origem da Vida de Oparin, Miler, no laboratório de
Urey, em genial experimento, demonstrou como, em balão de vidro contendo água com sais
minerais e uma atmosfera como aquela, fazendo incidir descargas elétricas, após pouco
tempo, apareciam carboidratos, aminoácidos e até ácidos nucléicos. Estas são as peças
básicas da química da Vida. Os oceanos devem ter se transformado num caldo de
substâncias orgânicas, cada vez mais rico e sempre mais complicado. Alguns cientistas
falam do consomê primordial.
A partir do metano e amoníaco da atmosfera, como a energia das descargas elétricas e da
radiação, formava-se sempre mais material orgânico. Com isso diminuía o efeito estufa.
Ótimo, o sol estava lentamente ficando mais quente. Era preciso controlar.
Devem Ter levado menos de um bilhão de anos até que a evolução bioquímica desse
origem à primeira célula de complexidade próxima de uma bactéria. Dali para diante, os
grandes traços da Evolução Orgânica são conhecidos. Os primeiros organismos só podiam
alimentar-se da matéria orgânica existente nos oceanos. A sopa começou a auto consumir-
se. Havia perigo de extinção.
Não demorou: por volta de uns dois e meio bilhões de anos atrás, veio a solução.
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A fotossíntese permitiu à Vida sintetizar sua própria matéria orgânica, captando
diretamente a energia solar. Era uma solução, mas representava um tremendo perigo: a
primeira grande crise de poluição! O oxigênio liberado na fotossíntese, para a quase
totalidade dos seres então existentes, todos anaeróbicos, era veneno mortal. Como seria se
hoje aparecesse e proliferasse nos oceanos um organismo que, em processo parecido à
fotossíntese, liberasse cloro? Seria o fim de todas as formas superiores de vida. A Vida
conseguiu superar aquela crise. As formas de vida anaeróbicas sobrevivem até hoje no lodo
dos banhados, no fundo da lama dos oceanos e nos intestinos dos animais superiores; são as
bactérias metanogênicas, tão úteis nos biodigestores de biogás. A poluição virou vantagem.
A atmosfera inverteu, de redutora para oxidante, tornando possível a maravilha da vida
animal, que levou até cérebro humano e dos delfins.
Mas o Sol continuava ficando mais quente. O efeito estufa do metano e amoníaco já quase
desaparecera, sobrava o gás carbônico. Se até hoje temos temperaturas agradáveis – o
registro fóssil, pela determinação da relação oxigênio 16 para oxigênio 18, mostra que as
médias se mantiveram sempre próximas às atuais – é porque a Vida, mais uma vez, achou
solução.
Surgiram nos oceanos organismos, como cocolitos e outros microrganismos, corais,
moluscos e outros animais maiores que fazem carapaças ou estruturas de carbono de cálcio
e magnésio. Imensas jazidas foram acumuladas. A movimentação tectônica mais tarde
ergueu muitas delas. Nas falésias dramáticas de Dolomitas, no Tirol, e em milhares de
montanhas nos Alpes, Atlas, Andes e demais cordilheiras, estão à vista as estratificações.
Em algumas delas, de um só golpe de vista, podemos observar milhões de anos de paciente
trabalho de deposição. Um dos espetáculos mais fantásticos deste processo é o Grande
Cañon. Foram assim retiradas da Atmosfera gigantescas quantidades de gás carbônico. Mas
não bastou a fixação deste gás em forma de carbonatos. Outros organismos tiveram que
ajudar no trabalho. Surgiram as primeiras grandes florestas, ainda de plantas do nível
evolutivo de musgos e samambaias, de licopódios, cicadáceas, palmeiras e muitas formas
hoje extintas; isto, no Período Carbonífero, uns trezentos milhões de anos atrás. Foram
depositadas gigantescas jazidas de carvão mineral e lignito. Em banhados mais recentes,
cresceram as turfeiras do norte da Europa, Canadá e Sibéria. Na Escócia, é fácil observar
como ainda hoje crescem.
Quanto ao petróleo e ao gás natural. feitos por bactérias, parece haver ainda discordância
quanto à época em que se formaram. Possivelmente isso aconteceu ao longo de todo o
processo evolutivo. Parte dele pode ser remanescente do caldo primordial.
Diminuindo sempre a concentração do gás carbônico na Atmosfera e, com isto, o efeito
estufa, foi possível manter constante e em nível apropriado o âmbito de temperaturas,
apesar do aumento contínuo do calor do sol. Não fosse este paciente e coordenado trabalho
de bilhões de criaturas através de bilhões de anos, a Terra já seria outra Vênus. Assim como
os organismos dos mamíferos e aves têm um mecanismo homeostático (equilíbrio auto-
regulado), que mantém a temperatura do corpo independentemente da temperatura externa,
a Ecosfera tem sua homeostase térmica própria.
Processos Orgânicos Sustentáveis – Uma Visão Holística
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Só quem alcança esta perspectiva compreende o atrevimento da Sociedade Industrial
Moderna, ao considerar o petróleo e gás natural, o carvão, lignito e turfa simples
“combustíveis fósseis”.
Longe desta visão imediatista suicida, como a veneração do verdadeiro naturalista,
Margulis e Lovelock, diante do incomensuravelmente grandioso do quadro, concluíram que
o conceito de Ecosfera precisava ser ampliado.
O novo conceito proposto, que começa a ser aceito pelos grandes ecólogos e que já
conquistou a vanguarda do movimento ecologista, é o conceito de GAIA.
O QUE É O CONCEITO GAIA?
A Ecosfera não é simples sistema homeostático, automático, químico-mecânico. O Planeta
Terra é um ser vivo, um ente vivo com identidade própria, o único de sua espécie que
conhecemos. Se outras guias existem no Universo, em nossa ou em outras galáxias, serão
todas diferentes. Um ser vivo tão destacado merece nome próprio. O nome Gaia foi
proposto por William Golding, escritor, e lançado por Lovelock e Margulis.É o nome que
antigos gregos, em sua cosmovisão bem mais holística que a nossa, davam à deusa Terra.
Tornou-se comum a imagem da Terra como uma nave espacial. É uma figura boa diante da
visão convencional, na qual a Terra é apenas substrato ou palco para a Vida, para nós
Humanos, não passa de recursos. Haja vista nossa atitude diante da Amazônia. Mas a
imagem da nave espacial engana. Uma nave tem passageiros. Em Gaia não há passageiros,
tudo é e todos somos Gaia. Usando outra imagem, não teria sentido dizer que meu coração
ou meu cérebro são passageiros meus.
Até a parte mineral, os continentes, as rochas – do ar e da água já não precisamos falar –
são parte integrante de Gaia, como o caracol ou a concha o são do molusco. Parece que a
deriva dos continentes, causa do vulcanismo e do crescimento de novas montanhas,
enquanto as velhas se desgastam, é conseqüência da sedimentação no fundo dos oceanos.
Os radiolários e as diatomáceas, como suas belíssimas carapaças de sílica, junto com
aqueles outros organismos que depositam cálcio, incluindo certas algas marinhas, fazem
deposições de quilômetros de espessura no fundo dos mares. Com isto se altera o efeito de
espessura no fundo dos mares. Com isto se altera o efeito isolante para o calor do magma e
alteram-se as condições de pressão, surgem aqueles fluxos que movimentam as placas
continentais. Esta é a reciclagem que acaba devolvendo aos continentes os nutrientes
perdidos aos oceanos, dando-lhes rochas novas. Um ciclo que leva uns duzentos milhões de
anos.
No organismo de Gaia nós, humanos, individualmente, somos apenas células de um de seus
tecidos. Um tecido que hoje se apresenta canceroso, mas que, oxalá, ainda tenha cura. Já
somos os olhos de Gaia. Com os olhos dos astronautas e pelas imagens de satélite, Gaia,
pela primeira vez, viu-se a si mesma em toda sua singela beleza – brancos véus lentamente
espiralados, ora tapando, ora revelando o azul profundo dos oceanos, o amarelo dos
desertos, as diferentes tonalidades de verde, ora confundindo-se com os pólos.
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O Planeta Terra é um ser vivo, em ente vivo com identidade própria, o único de sua espécie
que conhecemos.
Poucos, pouquíssimos, dão-se conta do monumental, não somente em termos de História
Humana, mas em termos de História da Vida, que representa aquela primeira foto de Gaia,
ou aquela outra de Meia Gaia subindo solitária no firmamento negro como piche, da Lua!
Este é um fato totalmente novo! Um momento decisivo na vida de Gaia. Uma situação
faustiana. O Homem, conhecendo demais, talvez cedo demais, cego de orgulho e com gula
incontrolável, desencadeou um processo de demolição que supera todas as crises anteriores.
Vemos no início, ao apontar hoje, a baixa concentração de gás carbônico na atmosfera – a
Sociedade Industrial já está interferindo significativamente, contrariando as tendências de
Gaia, em um de seus importantes sistemas de controle. A concentração antes do
alastramento da industrialização estava próxima de 0,025%. Já conseguimos aumentá-la
uns 30%, em menos de 200 anos, uma fração de segundos na escara de tempo da vida de
Gaia. Talvez a razão por que ainda não estamos sentindo conseqüências muito graves seja
só porque, também cegamente, estamos concomitantemente interferindo em outros
mecanismos e controle que têm efeito contrário. Estamos aumentando a concentração dos
aerosóis e das poeiras no ar que, refletindo radiação solar, devolvem energia ao espaço.
Aliás, nesta questão do controle térmico pela diminuição da concentração do gás carbônico,
Gaia já está chegando a um limite. Já não pode baixar muito mais esta concentração. Por
duas razões muito simples: se baixar muito mais, as plantas acabarão morrendo à míngua.
Para elas, o CO2 é o nutriente principal. Só não mencionado nos manuais de adubação dos
agrônomos porque está gratuito no ar e ainda não dá para fazer negócio com ele. A outra
razão é que, em termos de diminuição de efeito estufa, já não dá para ganhar quase nada,
com a concentração baixa como está. Talvez seja esta a causa da crise climática do
Pleistoceno. Neste ultimo período geológico, durante os últimos três milhões de anos,
menos de um dia na vida de Gaia, tivemos quatro grandes eras glaciais. Quando um sistema
homeostático bem equilibrado começa a se desequilibrar, antes de entrar em colapso ou
reequilibrar-se, é comum aparecerem vibrações irregulares, com exageros para ambos os
lados. Algo deste tipo pode ter acontecido no Pleistoceno.
Entretanto, após o fim da última grande glaciação, parece que Gaia já tinha encontrado
nova solução. De lá para cá, num período muito curto, uns 15 000 anos apenas, minutos na
cronologia de Gaia, alastraram-se florestas tropicais úmidas, no que hoje chamamos de
Amazônia, Congo, Índia, Sri Lanka, Bangladesh, Indochina, Indonésia, Oceania, Austrália.
As florestas tropicais úmidas têm uma fantástica evapotranspiração. Da água da chuva que
sobre elas cai, em menos de dois dias até 75% é devolvida à Atmosfera, formando novas
nuvens, que voltam a produzir chuva mais adiante. Como mostrou Slati, as chuvas que
caem nas fraldas orientais dos Andes estão constituídas de água que, em seu caminho desde
as primeiras nuvens dos ventos alísios na costa atlântica, caiu e voltou às nuvens entre
cinco e sete vezes. As florestas tropicais úmidas estão sobre o Equador, sua influência
climática se exerce sobre ambos os hemisférios, fato este hoje lindamente ilustrado, como
num filme, nas imagens móveis de satélite nos institutos meteorológicos. Ora, estas grandes
florestas, para o clima global, são gigantescos aparelhos de ar condicionado. Convém
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lembrar que as comunidades florísticas e os ecossistemas das atuais florestas tropicais
úmidas são muito antigos, evoluíram nos últimos duzentos milhões de anos; o que é novo é
sua presente extensão.
Mais uma vez, o homem moderno está contrariando os desígnios de Gaia. Em toda parte
estão sendo demolidas as florestas tropicais úmidas, num ritmo que alcança cem mil
quilômetros quadrados ao ano. No caso da Amazônia, se for devastado e Estado do Pará,
coisa que parece certa até logo após o ano 2000, poderá, quem sabe, ser desencadeado um
processo de colapso da grande floresta, pois ela faz seu próprio clima. Onde a floresta
desaparece e é substituída por solos nus ou capoeira rala, no lugar de evapotranspiração, o
solo torrado produz ventos ascensionais quentes. As nuvens se dissolvem, deixa de cair
chuva mais adiante. Mas a Hiléia só pode sobreviver com chuvas copiosas.
Sobrarão recursos para Gaia? Ou vamos incapacitá-la? Desde 1975, o clima anda meio
caótico no Mundo inteiro. Será mau augúrio?
Por enquanto, a intenção expressa da Sociedade de Consumo é continuar demolindo. A
ordem é “desenvolvimento” a qualquer custo, quer dizer, tudo o que Gaia fez será
substituído por algo feito pelo Homem, em enfoque imediatista, sem levar em conta os
Sistemas de Controle de Gaia.
Vejamos um raciocínio muito usado por aqueles que querem enriquecer na devastação da
Amazônia. Atribuem aos defensores da floresta a afirmação – metafórica – “a Amazônia é
o pulmão do Mundo”. Interpretam-na como sinônimo de fábrica de oxigênio. Desde quando
pulmão produz oxigênio? Pulmão consome oxigênio. Citam então, corretamente, ecólogos
que mostram que a grande floresta consome exatamente a mesma quantidade de oxigênio
que produz. Portanto, segundo eles, não há problema, não vamos morrer asfixiados se a
Hiléia ficar reduzida a alguns pontinhos no mapa, que serão então chamados de “reservas
ecológicas” ou “bancos genéticos”.
Mas, se a Amazônia ou qualquer outro ecossistema em equilíbrio produzisse muito mais ou
muito menos oxigênio do que consome, Gaia já teria morrido. Gaia, por uma razão muito
importante, desde que inverteu a Atmosfera de reduzinte para oxidante, soube manter
sempre a concentração de oxigênio por volta dos 20%. Concentrações mais baixas
tornariam difícil a vida animal. Uma vez que tudo está ligado com tudo, todas as formas de
vida sofreriam. Por outro lado, concentrações superiores seriam ainda mais perigosas.
Facilmente levariam a um holocausto. Já em 25% até folhas verdes, mesmo molhadas,
queimariam como papel. Qualquer raio acabaria com toda a Amazônia. É por isso que no
avião, quando baixam as máscaras de oxigênio, fica terminantemente proibido fumar.
Concentração muito alta de oxigênio poderia, talvez, até levar a um incêndio da própria
Atmosfera. Quando os físicos de Los Alamos dispararam a primeira bomba nuclear,
sabendo que as temperaturas alcançariam milhões de graus, tinham um medo louco
justamente disto. Assim mesmo, bons aprendizes de feiticeiros que eram, não se
contiveram. Felizmente nada aconteceu. O equilíbrio aproximado entre produção e
consumo de oxigênio, sozinho, não seria suficiente. Sempre há os ecossistemas em fase
inicial de sucessão ecológica que podem produzir muito mais oxigênio que o que
consomem. Os grandes incêndios, por outro lado, nada produzem, só consomem.
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Inevitáveis seriam flutuações que poderiam tornar-se perigosas. Mas Gaia, com timoneiros
precisamente ajustados, controla os grandes e os pequenos ciclos bio-geo-químicos.
Recentemente estamos descobrindo estes sistemas. No caso do ciclo de oxigênio está
envolvido o metano, hoje gás raro na Atmosfera e que é produzido por aqueles organismos
que conseguiram sobreviver à inversão da Atmosfera, retirando-se para os lodos
anaeróbicos e para os intestinos dos animais. O Homem já se encarrega de dar um jeito
nisso também. São poucos os banhados no Planeta que não estão ameaçados de
“saneamento”.
Muito poderia ser dito sobre os demais gases menores, como ozônio de nitrogênio, de
enxofre, do amoníaco, do monóxido de carbono e dos compostos de metila, cada um com
sua função definida. Alguns destes ciclos, todos acionados por seres vivos, especialmente
microrganismos no mar, ou por determinadas algas marinhas nas plataformas continentais,
têm a ver com outro importante equilíbrio vital – a manutenção da salinidade dos mares em
aproximadamente 3%. A origem dos sais no Oceano é a meteorização das rochas. Os
óxidos insolúveis acabam formando solo ou, quando são levados pela erosão, vão formar
sedimento no fundo do mar, mas os sais solúveis – quando não retidos nos processos vitais
– são todos levados ao mar, onde ficam em solução, especialmente o cloreto de sódio. Mas
a evaporação na superfície dos mares, que faz as nuvens, só leva aos continentes água
destilada. Como se explica, então, o que o Oceano já não está tão morto como o Mar Morto
no Jordão? Esta é outra linda história que começa a ser desvendada
Será mesmo acaso tudo isso, como quer a Ciência Moderna que não aceita afins, alvos,
intenção no Comportamento do Universo, que postula apenas acaso no surgimento da
Sinfonia da Evolução Orgânica, este processo caprichoso que deu origem a milhões de
espécies - nós entre elas – de animais, plantas, fungos, protozoários, bactérias e vírus, em
interação multifacetada unitária, uma integração sinergística que nossas melhores cabeças
cibernéticas com suas baterias de computadores jamais poderiam ter concebido e cuja
beleza a Ecologia apenas vislumbra?
Por isso, não pode ser verdade aquela idéia fundamental, atribuída a Darwin, de que na
Seleção Natural vence sempre o mais forte, sucumbindo os mais fracos – idéia que muito
agrada àqueles que têm ambição de poder, de controle, de dominação. Quanto mais nos
aprofundamos na Ecologia, mais nos damos conta que sobrevive o mais ajustado, o que
mais harmoniza, que mais ressonância tem com a Sinfonia, entre eles criaturas tão
delicadas, tão frágeis e vulneráveis como a orquídea e o beija-flor, a sarracênia e a perereca.
A integração é mesmo anterior ao nascimento do Sistema Solar, que já nasceu um bilhão de
anos antes do nascimento de Gaia. Não tivesse o Sol – com sua corte de planetas, luas,
asteróides e cometas – ao condensar-se de nuvens de gases intersiderais, captado também
certa porção de cinza da explosão de alguma supernova que ocorreu centenas de milhões ou
alguns bilhões de anos antes – o Universo tem idade para isto – não teríamos aqui todos os
elementos que formam montanhas, mares e ar e dos quais a Vida não pode prescindir, os
planetas seriam simples bolas de gás, principalmente hidrogênio e hélio.
Será mesmo acaso tudo isto? Que divino acaso!
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Mas o que vamos fazer primeiro: desvendar esta Maravilha, ou vamos continuar como um
câncer no organismo de Gaia, devastando, fazendo ameaça mortal como foi a crise da
poluição do oxigênio, que quase extinguiu as formas de vida então existentes? Gaia, em vez
de sucumbir, soube tirar proveito. Transformou-se de um inimigo feroz em poderoso
aliado, fator de mais vida, de vida mais complexa, mais perfeita, mais diversificada, mais
harmônica – uma estonteante transcendência?
Neste momento, nosso comportamento canceroso representa um perigo mortal para Gaia.
Mas isto não é inevitável. Se soubermos usar sabiamente o potencial intelectual que ela nos
propiciou, assim como a fabulosa tecnologia que daí surgiu, poderemos até mesmo assumir
o controle consciente de Gaia. Sistema nervoso autônomo Gaia já tem, seríamos a massa
cinzenta do Cérebro de Gaia. A moderna eletrônica, com seus computadores sempre mais
perspicazes, comunicação global instantânea por satélite, já começa a estruturar algo que
quase poderia tornar-se um metassistema nervoso planetário. Mas o conteúdo deste fluxo
nervoso terá que mudar. Se conseguirmos esquecer nossas querelas, acabar com a
prostituição da Ciência para a demolição da Vida e para os delírios da corrida
armamentistia e da “guerra nas estrelas”, se conseguirmos colocar nosso gênio em
ressonância com Gaia, só o futuro poderá dizer das alturas alcançáveis.
Entretanto, a continuar a cacofonia atual, o desastre será total. Para nós! Talvez nem tanto
para Gaia. Gaia tem muitos recursos, tem muito tempo. Com novas formas de vida,
encontrará saída. Sobram-lhe ainda uns cinco bilhões de anos até que o Sol, em sua
penúltima fase evolutiva, ao tornar-se “gigante vermelho”, venha expandir-se até aqui,
antes de apagar-se lentamente. Gaia será recirculada nos gases incandescentes do Sol, assim
como cada um de nós seremos recirculados no solo.
E as conseqüências éticas, filosóficas e religiosas de tudo isto?
Pena que as igrejas não atinam. O índio atinava!
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Anexo IV COLHEITAS E PRAGAS,
A RESPOSTA ESTARÁ NOS VENENOS?
A hipótese de trabalho, ou paradigma, para a prática da agricultura convencional, chamada
moderna, olha os fatores que influenciam a produção, tais como solo, lavração e preparo do
solo, adubação, pragas e controle de pragas, concorrência das ervas invasoras ou a seleção
genética das variedades cultivadas, etc., de maneira meramente analítica ou reducionista.
Cada fator é encarado independentemente dos demais, como se ele se encontrasse sozinho
numa caixa ou gaveta fechada. Entre as gavetas não há praticamente ligações. O raciocínio
é linear, dentro de cada gaveta, com poucas ou nenhuma ramificação lateral. Quando
aparecem dificuldades, só se tratam sintomas.
Dentro desta visão, na primeira gaveta, o solo é visto quase como se fosse um mero
substrato mecânico, que apenas permite à planta ancorar-se para que o vento não a possa
levar, e que serve também como veículo para nutrientes minerais solúveis ou que
facilmente entram em solução.
É claro que este tipo de política é muito boa para aqueles que querem vender ao agricultor
as formas caras de fosfatos solúveis, tais como o superfosfato simples ou triplo, ou mesmo
os fosfatos complexos, quando, numa agricultura sadia, com solo vivos, seriam suficientes
os fosfatos naturais, em forma de rocha moída simplesmente.
Na Segunda gaveta encontra-se a praga, todas aquelas criaturas que podem causar estrago a
nossos cultivos. Elas são vistas como se fossem inimigos arbitrários, aparecem como por
milagre e têm condições de causar estragos muito graves ou destruir completamente uma
lavoura, sempre que nela conseguem se instalar.
Supõe-se que basta que esteja presente numa plantação de batatas ou tomates uma certa
espécie de pulgão, ela vai então proliferar e continuar seu trabalho nefasto até acabar com
nossa colheita. O mesmo aconteceria com os fungos, nematóides, ácaros ou qualquer outro
parasita. Nesta visão, as pragas são organismos fundamentalmente ruins. Sempre que
possível devem ser “erradicados”. Se não conseguimos exterminá-los, temos que mantê-los
afastados de nossos cultivos. As aduanas de muitos países costumam confiscar e destruir
frutas ou qualquer material vegetal ou animal encontrados na bagagem dos viajantes
internacionais, pois poderiam estar introduzindo alguma nova praga.
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Uma vez estabelecida a praga, supõe-se que a melhor maneira de combatê-la é com
venenos. Foi desenvolvido, assim, todo um arsenal de biocidas fulminantes e persistentes,
os agrotóxicos : inseticidas, acaricidas, nemaricidas, fungicidas, bactericidas, até
rodenticidas e molusquicidas e outros pesticidas.
A palavra pesticida expressa bem esta visão Trata-se de matar “pestes”. Mais recentemente,
diante da crescente conscientização ecológica, a indústria química, que fatura somas
fabulosas com a produção e venda de venenos, passou a não mais gostar do termo pesticida
e a promover o eufemismo “defensivo”. Já era comum também iludir o pobre agricultor
com a palavra “remédio”. Por isso, no Brasil, os agrônomos conscientes propuseram um
termo mais de acordo com a realidade – agrotóxicos. Este termo está hoje ancorado por lei.
Os venenos são pulverizados sobre os plantios de maneira uniforme, de preferência de
avião. Até os novos aviôezinhos ultraleves já são às vezes usados para este fim. Para
facilitar o trabalho do agricultor, o fabricante de venenos prepara os chamados calendários
de aplicação, entre nós também chamados de “pacotes tecnológicos”. O agricultor só
precisa seguir à risca as instruções, aplicar preventivamente o veneno no momento certo,
sem ter que constatar se há ou não incidência de praga. Assim ele estará acabando com
todos os bichos indesejáveis. Em alguns cultivos, por exemplo maçãs, ele fará até 30 ou
mais aplicações por temporada. A coisa não é muito diferente na parreira, no pêssego, no
moranguinho, em hortaliças. Mesmo depois da colheita ainda se aplicam venenos. No caso
da macieira, a maçã, quando entre no frigorífico, é imersa num banho de fungicida. Depois
passa por um secador e recebe uma borrifada de cera para que o veneno fique sobre a fruta.
O publicitário que faz o lindo cartaz para induzir as pessoas a comerem estas maçãs, opera
um gaveta à parte. Ele nem ouviu falar em toxicologia, para quê? O cartaz mostra uma
linda criança comendo a maçã, casca e tudo...
O inço ou erva invasora é visto numa terceira gaveta. Os inços são considerados plantas que
não deveriam existir. Eles competem com nossos cultivos, por água, fertilizante, espaço, e
eles poderiam abrigar pragas. Enquanto não conseguirmos colocá-los na lista das plantas
em vias de extinção, teremos que combatê-los. Mais uma vez, existem instrumentos
maravilhosos, prontos para matá-los – “os mata-matos” ou herbicidas, potentes fitocidas,
eficientes e fáceis de usar. Alguns deles matam tudo o que é verde, outros, dependendo do
modo de aplicação, são mais seletivos, eles matam algumas espécies e permitem que outras,
nossas plantas cultivadas, se recuperem de um choque inicial. Alguns são aplicados no solo
nu para evitar que germinem as sementes das ervas nativas, outros matam as plantas por
contato, ou matando apenas as partes da planta que tocam, ou penetrando na seiva e
matando toda a planta. Os “desfolhantes” usados para destruir milhões de hectares de selva
no Vietnam e que também foram usados em algumas fazendas na Amazônia, são deste
último tipo.
O alvo é manter nu o solo entre as fileiras e debaixo das plantas cultivadas. Houve uma
época em que um campo de trigo, na Europa, era muito lindo de ver – uma orgia de flores.
Nunca esquecerei o púrpura da papoulas. Mais tarde os trigais se tornaram monótonos.
Tudo do que floresce era eliminado com veneno, até as flores silvestres nas margens das
lavouras e beiras de estradas. O vôo irrequieto da borboleta tornou-se espetáculo deveras
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raro. Os ambientalistas tiveram que comprar terras para dar às ervas naturais – entre elas
todas as ervas medicinais – uma chance de sobrevivência. Felizmente, hoje, 1997, verifica-
se uma inversão. Conforme constatei em minhas últimas viagens pela Europa, a crescente
conscientização ecológica faz com que, na Alemanha, já quase não mais se aplique
herbicidas na margens das lavouras. As papoulas estão voltando.
Uma vez que, como vimos na gaveta um, a função do solo seria apenas ancorar as plantas e
veicular nutrientes solúveis, não importa, realmente, se ele está habitado por seres vivos –
por minhocas, artrópodes e outros animaizinhos, especialmente colêmbolas e protozoários
ou por fungos, algas, bactérias. Portanto, não precisaríamos nos preocupar com os efeitos
que os adubos solúveis e as enxurradas de venenos passam via a ter sobre todo este
complexo de vida. Já que todos estes seres parecem mais incomodação que vantagem
aparente, por que não matá-los todos de uma vez?
Também nunca esquecerei, quando ainda estava no negócio da agroquímica – sim, sou
tecnocrata dissidente – uma vez veio dar em minha mesa um folheto técnico, de nosso
departamento de pesquisa, que recomenda, imaginem, heptacloro para eliminar minhocas!
De tal maneira foram doutrinados alguns agricultores que já me aconteceu receber
consultas sobre como eliminar “ecologicamente”, sem venenos, minhocas em parreiras ou
pomares... Lembro-me ainda de ter lido documentos técnicos de autoridades agrícolas
alemãs, que insistiam em que o húmus era totalmente desnecessário na agricultura tropical,
que bastavam os fertilizantes sintéticos. De fato, o ideal da agricultura moderna parecer ser
a hidroponia, isto é, cultivar as plantas em substratos inertes, banhadas em solução de
nutrientes solúveis. Muitas lavouras modernas com seus solos mortos vêm a ser quase isto.
Por isso, quando entregamos a um laboratório de análises agronômicas uma amostra de
composto ou biofertilizante, eles nos fornecem uma simples análise NPK, isto é, uma
análise meramente elementar que só procura determinar os elementos N, nitrogênio, P,
fósforo e K, potássio, raras vezes algo mais. Eles não procuram nem ver a extremamente
complexa e ainda quase desconhecida bioquímica destes fertilizantes vivos que alimentam
a vida do solo.
Olhemos a próxima gaveta. Trata-se da gaveta que contém os fatores genéticos. Os
geneticistas que fazem a seleção das novas variedades norteiam-se pelo critério da
eficiência máxima, isto é produção máxima por hectare. O que realmente conta é aquele
quilo a mais na colheita. É claro que também levam em conta a estética. A maçã ou batata
deve ter aspecto atrativo na estante do supermercado.
Ainda há a questão da seleção de variedades resistentes às pragas – aparentemente uma
ligação desta gaveta com a gaveta número dois. Mas a resistência do ataque de parasitas é
vista como apenas geneticamente inerente à variedade. Não se preocupa em ver a relação
entre suscetibilidade da planta e o ambiente em que ela terá que viver, a não ser o ambiente
de nossas lavouras modernas - solo morto, muita química.
É por isso que as gigantescas corporações do negócio dos agrotóxicos já compraram quase
todas as companhias de produção de sementes. Elas querem monopolizar os bancos
genéticos para controlar a seleção de maneira a poder promover somente variedades que
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dão respostas máximas a seus insumos químicos. O ideal delas é um novo pacote: semente
patenteada recoberta. Esta escapa completamente do controle do agricultor, que quem, no
passado, por seleção consciente ou empiricamente inconsciente, criou a fantástica
diversidade biológica dos cultivos nas tradicionais culturas camponesas. Querem obrigar o
agricultor a não mais produzir semente própria, para comprar, sempre de novo, semente
peletizada, demente que vem recoberta de adubo químico, de fungicida, de inseticida,
eventualmente outros cidas e, esta é a parte mais importante, um herbicida total para o qual
a respectiva variedade da semente é resistente. Não mais resistência a pragas, resistência
aos agrotóxicos...!
O paradigma contém mais algumas gavetas. Mas tratam-se de gavetas que o especialista em
assuntos agronômicos prefere não olhar. Vejamos a gaveta ecologia. Somente à medida que
os ambientalistas fazerem muito barulho por causa dos passarinhos e peixes mortos eles
aceitarão levar em conta efeito letal mais seletivo para seus venenos, para só matar
parasitas sem, aparentemente, pisar a fauna silvestre. Sob pressão, a indústria falará de
“combate integrado”. Isto significa usar o veneno somente em caso de emergência, nunca
preventivamente, como no caso do “calendário de aplicação” e aplicar somente no
momento certo do ciclo vital do parasita para minimizar a quantidade e o número de
aplicações de venenos. Mas é claro que esta tática não é do interesse deles, diminui as
vendas, de modo que na prática, não passa de propaganda ou truque para abrir mais
mercado. Alguns anos atrás os traficantes de veneno conseguiram convencer uma secretaria
estadual de agricultura de que deveriam aplicar certos inseticidas sobre todas as lavouras de
algodão, por avião ou helicóptero, após a colheita, sobre o restolho, para “erradicar” o
bicudo. Foram necessárias algumas ações judiciais para evitar esta loucura. Mas a
secretaria, pelo que me consta, já tinha comprado os venenos. Não houve a perda de
negócios para a indústria.
Podemos mencionar mais uma gaveta, a justiça social. Mas esta parece não interessar. Para
que existem sociólogos e politicólogos? Não se deve invadir seara alheia. O que interessa
hoje é o agribusiness, pouco importa àqueles que o promovem o número crescente de
agricultores obrigados a abandonar a terra.
Esta é, em essência, se bem que apresentada de maneira bastante simplificada, para melhor
compreensão, a visão reducionista dentro da qual é encarada a fitossanidade na agricultura,
dita moderna.
Fato interessante na aplicação deste paradigma já que, à medida que o aplicamos,
transformamos os campos agrícolas de maneira a tornar realidade o que diz o paradigma.
Na maioria de nossos campos agrícolas o solo não passa de substrato mecânico sem vida e
as pragas se comportam como se fossem inimigos arbitrários.
Mas uma minoria crescente de agricultores e técnicos em agricultura começam a ver as
coisas desde uma perspectiva diferente. Eles raciocinam não em termos reducionistas, mas
holísticos. Para eles tudo está ligado com tudo. Não conseguem ver inimigo arbitrário no
parasita. Tampouco querem exterminá-lo. A simples idéia de que possa haver criaturas que
merecem ser exterminadas os repugna. Como qualquer iniciante em biologia e ecologia
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sabe, um processo tão vetusto como é a Evolução Orgânica, mais de três e meio bilhões de
anos, não pode produzir espécies erradas, que nem deveriam existir.
Se os parasitas fossem como postula a indústria em seus lindos folhetos e cartazes,
graficamente perfeitos, e em seus agressivos anúncios de TV, já não haveria vida neste
planeta. Não há espécie vegetal ou animal que não tenha seus parasitas e eles existem há
milhões de anos. Todos teriam tido tempo amplamente suficiente para exterminar seus
hospedeiros e teriam se acabado também. O grande processo vital da Evolução Orgânica
teria entrado em colapso. Se isto não aconteceu é porque o parasita não tem condições de
prosperar sobre hospedeiro são. Ele só prospera sobre o que está de alguma forma em
situação marginal. Em um ecossistema aberto, toda população, de seja qual for a
espécie, , sempre tem seus indivíduos doentes, fracos, feridos desequilibrados. É em
cima destes indivíduos que o parasita prospera, sem jamais exterminar toda a
população da espécie hospedeira. Ele é um dos crivos do mecanismo de seleção
natural, que tende a melhorar constantemente as espécies.
Os camponeses tradicionais, com sua sabedoria ancestral, sabiam que a praga não ataca a
não ser as plantas que não estão bem equilibradas. Por isso, eles procuravam obter cultivos
sãos através de manejo adequado do solo, o que incluía descanso da terra, compostagem de
resíduos vegetais e animais, adubação verde, adubação foliar, cobertura morta, rotação de
cultivos, plantas companheiras e muitas outras práticas. Os agricultores biológicos
modernos, com os conhecimentos científicos de hoje, obtêm resultados muito melhores. Só
raras vezes eles combatem diretamente as pragas. Então, eles têm à sua disposição uma
série de defensivos naturais, não tóxicos, tais como cinza, talcos de rochas, extratos herbais,
caldos biológicos como soro de elite, chorume de biogás e outros inimigos naturais.
Um perito convencional confrontado com uma laranjeira ou um pessegueiro atacados de
cochonilha ou pulgão, ou por doença fúngica, olha a árvore e procura determinar qual a
espécie do parasita. Então escolhe o veneno que considera mais adequado e mais barato
para livrar a árvores de seus atacantes. Em geral o raciocínio termina aí. Talvez ele se
preocupe ainda com o tipo de traje e proteção que os aplicadores devem usar, porque tem
havido muitas intoxicações e mortes.
Já o perito de visão ecológica olha também para baixo. Ele examina o solo. Pergunta ao
agricultor qual a adubação que fez, quais os herbicidas que usou, se usou agrotóxicos no
ano anterior. Com uma pá de corte ele levanta uma fatia de solo. A estrutura ou falta de
estrutura deste solo, os organismos que nele constata ou deixa de constatar, tudo isto lhe diz
muito sobre o por quê do ataque de praga.
Uma vez, observando ataque de pulgão em cítricas com agrônomos convencionais, estes,
irritados, perguntaram-me, - mas por que você vive perguntando sobre o programa de
adubação, nós estamos falando de pulgão” Logo descobri que o agricultor havia aplicado
grandes quantidades de esterco de galinha fresco. Aí estava a causa do ataque de pulgão
Mais adiante veremos por que.
Na visão convencional da fitossanidade, um dos fatores mais indicados como propiciador
do ataque de pragas é a monocultura. O argumento é simples: quando confrontado com
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imensas e maciças extensões de seu hospedeiro, o parasita, quer se trate de animal, fungo,
bactéria ou vírus, e mesmo planta, como no caso da erva-de-passarinho, orombache ou
cúscuta, faz uma verdadeira festa, o que não seria possível se os indivíduos da planta
hospedeira estivessem dispersos, intercalados com muitas outras espécies, como é o caso
na floresta nativa.
Mas na Natureza também ocorrem monoculturas, se bem que apenas em condições
ambientais extremas. Num lago que recebe excesso de nutrientes – esgotos ou adubos
lixiviados das lavouras – ocorre uma situação chamada eutrofização: uma só espécie de
alga predomina sobre as demais formas de vida vegetal e seus predadores não mais
conseguem mantê-la controlada. Enquanto ela dura, temos aí uma monocultura sã. As
chamadas marés vermelhas são fenômenos desta natureza. No Ártico, em ecossistemas de
duna ou praias, em desertos, banhados, ocorrem muitas vezes monoculturas de uma só
espécie vegetal. Em banhados de água salgada, por exemplo, podem observar-se
monoculturas desta ou daquela espécie, elas se sucedem, mas quase não se misturam.
Nunca observei proliferação séria de parasitas nestas monoculturas naturais. Quando algum
parasita aparece, a incidência é limitada a alguns indivíduos marginais da população
hospedeira.
Mas aqui no Rio Grande do Sul temos enormes monoculturas de eucalipto, algumas delas
milhares de hectares de uma só peça. Praticamente não se conhecem pragas nestes plantios.
O único parasita que conheço no eucalipto em nosso Estado é a erva-de-passarinho. Ela
ataca variedades que gostam de solo bem drenado quando estas se encontram plantadas em
solo de nível freático alto. Este é o caso dos grandes eucaliptos do Parque da Redenção, em
Porto Alegre. Em árvores sadias, mesmo quando algum pássaro traz a semente da erva, ela
germina mas não consegue vingar. O problema com a formiga cortadeira limita-se às
primeiras semanas, enquanto as mudas recém-transplantadas ainda estão fracas.
Também temos monoculturas igualmente grandes e extensas de acácia negra. Nestas, a
praga mais temida é o serrador, um lindo escaravelho com grandes antenas. A fêmea, à
maneira de um castor, corta troncos e galhos de até uma polegada de diâmetro e faz a
postura na parte destacada, morta, do galho. Pude observar que o ataque é seletivo. Partes
de um plantio são atacadas, outras não. Parece haver correlação entre ataque e condição de
solo. Em áreas de solo muito úmido ou em solos extremamente pobres e esgotados o
serrador ataca, em solos ricos, argilosos, bem drenados, não vi ataque. Esta e outras
observações contradizem frontalmente o paradigma convencional.
Portanto, a história deve ser mais complicada. Se é verdade que a grande monocultura é
ecológica e socialmente indesejável, é também verdade que podemos obter monoculturas
sãs, sem veneno. Parece que está envolvido um fator de palatabilidade. Às vezes o parasita
gosta do hospedeiro, consegue proliferar, outras vezes, não. A imagem do parasita como
inimigo arbitrários não se aplica.
Em mais de cinqüenta anos de diálogo intensivo com a Natureza, fiz muitas
observações deste tipo. Enquanto escrevo estas linhas, de minha janela, estou
observando uma colônia de grandes lagartas cabeludas em um ficus. Elas passam o
dia dormindo na base do tronco. À tardinha, em caravana, sobem para pastar. Mas
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elas só comem as folhas dos galhos internos, de folhas fracas por falta de sol, os galhos
que a árvore acabaria perdendo mesmo sem este ataque. Interessante é a preferência
por certo tipo de folhagem num mesma árvore. Todos os anos é assim.
Há um outro postulado da fito-farmacologia convencional que não pode estar sempre certo.
Quando combatemos parasitas com veneno, digamos que estamos combatendo cochonilhas
em laranjeiras com parathion, é comum aparecer logo depois ataque violento de ácaros.
Torna-se então necessário recorrer a um acaricida. A explicação proposta é de que o
parathion, como inseticida de amplo espectro, teria eliminado os inimigos naturais dos
ácaros, que teriam então chance de proliferar livremente. É o velho postulado do inimigo
arbitrário. Se não mantivermos sob controle as populações dos organismos parasitas, seja
com veneno ou por predação natural, eles vão atacar. Até a filosofia do combate biológico
muitas vezes é a mesma da guerra química.
Mas a proliferação de ácaros também pode ser desencadeada pelos carbonatos modernos
que são fungicidas e que certamente não matam seus inimigos naturais. Além disso, os
fungicidas modernos, muitas vezes, parece que promovem exatamente os fungos que
deveriam eliminar. Em nossa região vitícola, quando foram abandonados os
tradicionais e baratos tratamentos à base de cobre, cal e enxofre em favor dos
carbonatos caros, os viticultores logo se viram numa situação em que, quanto mais
pulverizavam, mais tinham que pulveriza, em alguns casos até 30 vezes por
temporada. É como se o fungicida tornasse a parreira mais palatável para o fungo.
Certamente vão surgir complicações bem piores com a entrada dos ainda mais caros e
mais perigosos fungicidas sistêmicos.
Entre os agricultores orgânicos é conhecimento geral que o ataque de pragas tem a
ver com o estado metabólico da planta. A suscetibilidade ao ataque do parasita,
portanto, está primordialmente ligada à nutrição da planta. Outros fatores, tais como
concorrência dos inços, interações positivas ou negativas de plantas companheiras
(alelopatia), condições climáticas, etc. também influem. As condições para a saúde da
planta devem ser otimizadas para que o ataque da praga seja minimizado. Um manejo
adequado do solo permite obter um cultivo livre de parasitas mesmo que ele esteja rodeado
de lavouras atacadas.
Para fins de demonstração é fácil preparar duas plantas em maceta ou canteiro, de tal modo
que uma, em solo equilibrado, se mantenha livre da praga, enquanto que a outra, na terra
desequilibrada, seja atacada. Quando a praga ocorre, digamos pulgão em tomate, pode-se
fazer tocas as folhas das duas plantas. O pulgão não vai da planta atacada para a outra. Mas
se queremos ver ataque na planta que até então estava sã, basta dar-lhe uma boa dose de
adubo nitrogenado solúvel, especialmente se for adubo amoniacal.
Quais serão os processos metabólicos envolvidos?
É comum supor-se que a planta sã produz suas próprias defesas contra a praga, que ela
absorveria da microvida do solo ou produziria ela mesma substâncias antagônicas aos
parasitas, seus próprios pesticidas, por assim dizer, ou que ela teria meios mecânicos de
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defesa, cutículas mais duras ou pelos mais densos. Tudo isto deve influir. Mas, parece que
mais importante e de importância capital é um fator bem mais simples.
Francis Chaboussou, um pesquisador francês no INRA (Institut National de la
Recherche Agronomique), em seu livro propõe a “Teoria da Trofobiose”. Em sua
expressão mais sucinta esta teoria diz que o parasita morre de fome na planta sã! Um
aparente paradoxo.
Parece que os parasitas carecem do mecanismo enzimático que lhes permitiria decompor
proteínas em seus aminoácidos constituintes. Este é um passo indispensável quando um
organismos se alimenta das proteínas de outro. As proteínas estranhas não podem ser
diretamente aproveitadas, porque cada organismo tem suas proteínas específicas. Com os
aminoácidos obtidos na proteólise novas proteínas são sintetizadas. É como demolir uma
casa, para, com os tijolos, telhas, cabos, canos, fazer nova casa, porém diferente. Os
parasitas seriam parasitas por causa desta deficiência. Eles precisam encontrar abundância
de aminoácidos e demais nutrientes na seiva – açúcares, sais minerais e nucleotídios. Estes
últimos são as peças-base, as letras, por assim dizer, do código genético.
De acordo com Chaboussou, os parasitas, quer se trate de insetos, ácaros, nematóides,
protozoários, fungos, bactérias ou mesmo vírus, só podem proliferar em plantas com
desequilíbrio metabólico que leve a níveis exagerados de nutrientes na seiva. Numa
planta sã estes níveis são baixos. Proteossíntese e proteólise estão equilibradas. Logo
que aparecem aminoácidos e os demais nutrientes, eles são absorvidos pela proteossíntese
ou, quando a planta está em repouso, como é o caso da hibernação ou estivação, a planta
cessa de produzir aminoácidos e nucleotídios, também para levantar nutrientes minerais.
Numa planta assim, o fungo ou pulgão não tem vez, ele morre de fome ou seus sentidos lhe
dizem que não adianta instalar-se nesta planta.
Mas, como acontecem os níveis exagerados de nutrientes? Ou por inibição da
proteossíntese os nutrientes ficam sobrando, ou porque é exagerada a oferta. Também pode
haver excesso quando a proteólise predomina sobre a proteossíntese. Este é o caso das
folhas velhas.
Para que ocorra congestão de aminoácidos, a inibição da proteossíntese pode ser mínima. A
planta pode ainda estar crescendo vigorosamente e ter aspecto mais sadio. Vejamos uma
metáfora.. imaginemos uma autopista com um fluxo de carros a 120 Km/h. Aparece um
estrangulamento de três para duas vias. Dali para diante o fluxo retorna a 120 Km/h, mas
dali para trás surge um grande congestionamento.
Chaboussou mostra que muitos dos modernos agrotóxicos inibem a proteossíntese. A
maioria deles é até certo ponto sistêmica, quer dizer, penetra na seiva da planta. Eles terão,
portanto, algum efeito, positivo ou negativo. Como se trata de biocidas, é provável que
predominem os efeitos negativos. Esta deve ser a razão porque, à medida que aumenta
o uso dos agrotóxicos, aumenta a incidência e o número de pragas. Não se trataria só
da eliminação dos predadores dos parasitas, mas de aumento de suscetibilidade das
plantas cultivadas. Muitos dos casos em que pensamos que houve aparecimento de
resistência das pragas aos agrotóxicos são na realidade casos de aumento de suscetibilidade
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da planta, especialmente no caso de doenças fúngicas. É por isso que Chaboussou deu à
primeira edição de seu livro o título “As plantas que adoecem dos pesticidas”.
A taxa de proteossíntese depende, fundamentalmente, de uma nutrição equilibrada. Mas, da
maneira como alimentamos nossos cultivos nas lavouras modernas, torna-se quase
impossível encontrar plantas equilibradas. Aplicamos fertilizantes solúveis, em forma de
sais concentrados, de acordo com fórmulas empíricas, baseadas em análises que muitas
vezes não têm sentido. A aplicação é feita toda de uma vez, em geral no sulco, junto com a
semente, raramente dividida em duas ou mais aplicações, sendo as posteriores de cobertura
ou de aplicação foliar. Assim é impossível evitar que a planta absorva demais num
momento e passe fome mais adiante, quando a chuva lixiviou ou a química do solo fixou os
elementos que estavam solúveis. Este é quase sempre o caso do fósforo. A planta também
receberá demais de um elemento enquanto sofrerá deficiência de outro. Nem precisamos
aqui entrar na problemática dos antagonismos entre os diferentes nutrientes que entram em
jogo quando eles estão maciçamente disponíveis.
Mais sério é o problema dos micronutrientes. A proteossíntese parece ser muito
sensível a deficiências em micronutrientes. Quando degradamos a estrutura do solo
pela excessiva agressão mecânica, causamos erosão e perda de húmus, destruímos a
vida do solo pela agressão química e eliminamos o alimento da microvida do solo, não
mais aportando matéria orgânica porque eliminamos a rotação de cultivos,
compostagem, adubação verde. O que podemos esperar? Num solo morto a planta
sempre encontra dificuldades para levantar micronutrientes.
Aqui convém mencionar um dos fatores mais importantes para a saúde das plantas.
Um fator que a fitossanidade na agronomia moderna praticamente não leva em conta:
a micorriza.
A maioria das plantas vive em simbiose com outros organismos no solo. A ponta da raiz
capilar, a última extensão da raiz, já quase microscópica em diâmetro, exuda uma
substância gelatinosa, chamada mucigel, com a qual se recobre como se fosse uma luva.
Nesta capa constituída de alimentos energéticos, açúcares e amidos, instalam-se bactérias
especiais, muitas vezes específicas das respectivas plantas. Além disto, esta capa e o
próprio tecido da raiz são atravessados por filamentos, as hifas do micélio de certos fungos,
também quase sempre específicos. Estes filamentos se estendem até vários metros além da
ponta da raiz e podem unir-se com o micélio que serve à planta vizinha da mesma espécie.
Esta simbiose tripátite – planta, bactéria e fungo, a que damos o nome micorriza,
consegue retirar nutrientes minerais até da estrutura cristalina da rocha, isto é de
cacos de pedra e grãos de areia ou de concreções minerais. Mas a micorriza só
funciona em solo vivo, rico em húmus. Não mais precisamos entrar em detalhe sobre
como os métodos da agricultura moderna destrõem a micorriza – em proveito da indústria
química...
Outra simbiose importante é o rizóbio. As leguminosas albergam em nódulos especiais
que produzem em suas raízes determinadas bactérias que fixam para elas nitrogênio do ar,
fazendo gratuitamente, em temperatura de ambiente e em pressão atmosférica o que a
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indústria química, no processo Haber-Bosch só consegue fazer em altas temperaturas e
tremendas pressões e com enorme custo de energia.
No verão de 1982, depois de mais de dez anos de ausência, visitei os vinhedos do
Palatinado na Alemanha. Grandes manchas de parreiral estavam amarelas como enxofre.
Tratava-se de uma deficiência chamada clorose, uma espécie de anemia da planta devido à
dificuldade em absorver ferro. Mas não falta ferro no solo. A dificuldade provém dos
modernos métodos agrícolas. Os vinhedos estavam altamente mecanizados, os solos
compactados pelo peso das máquinas. Doses elevadas de adubos solúveis e as enxurradas
de venenos acabaram com a vida do solo. A indústria química, causadora deste problemas,
veio logo oferecer uma nova “solução”, aplicação foliar de um quelato de ferro. Assim, em
de penitenciar-se de seus erros, ela consegue fazer ainda mais negócios.
Quanto ao aumento na produção de aminoácidos na planta, basta olhar as pesadas
aplicações de adubos nitrogenados solúveis, especialmente os derivados de amoníaco –
sulfato de amônio, uréia, nitrato de amônio e outros. O efeito é o mesmo quando o
amoníaco é de origem orgânica. A aplicação de esterco fresco de galinha é causa quase
imediata de ataque de pragas. O alto conteúdo de nitrogênio está em forma de ácido úrico
que logo libera amoníaco no solo.
A teoria de Chaboussou também explica por que numa mesma planta às vezes apenas
algumas folhas, em geral as mais velhas, são atacadas, outras não. Numa planta de
abóbora ou pepino é comum ver-se forte ataque de míldio nas folhas velhas, enquanto
que o resto da planta está limpo. Estas são as folhas que estão sendo drenadas de seus
nutrientes para serem levados às folhas novas, nelas a proteólise predomina sobre a
proteossíntese.
Naturalmente a coisa é mais complexa: não estão em jogo apenas os aminoácido, mas como
já vimos acima, também os açúcares, que são os repositórios de energia da célula, sem a
qual a proteossíntese não pode funcionar. O mesmo se aplica aos nutrientes minerais. A
proteossíntese funciona quando todos os ingredientes necessários estiverem presentes.
Quando houver estrangulamento de qualquer um deles, ela se inibe. Isto causa
congestionamento dos demais na seiva, a seiva se torna mais nutritiva para o parasita. Por
isso, a praga só vinga em planta desequilibrada.
A teoria de Chaboussou tem a grande vantagem de ser facilmente verificável ou
refutável a campo e em laboratório. Por que ela continua ignorada?
Para mim, além do diálogo direto com a natureza, a maior prova de que ela deve ter muito
de verdade é como a indústria química se recusa solenemente a tomar conhecimento dela.
Há mais de dez anos alertei os departamentos de pesquisas de duas grandes transnacionais
dos agrotóxicos, só diziam que não tiveram tempo de ler o livro de Chaboussou... Para eles
nada seria mais fácil do que refutá-lo, se for possível. Em correspondência recente, de um
ano para cá, com o IVA que é o lobby dos agrotóxicos e adubos químicos na Alemanha,
não consigo que me respondam perguntas concretas quanto à posição deles diante dos
ensinamentos de Chaboussou.
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Se a Teoria da Trofobiose é correta, e tudo parece indicar que é, então nos
encontramos diante de uma importante revolução na agronomia, uma revolução que
me parece tão importante quanto foi a revolução desencadeada por Liebig no século
passado. Devemos fazer o possível para que esta não seja deturpada como foi aquela!
Felizmente temos hoje uma constelação diferente.
Texto do Professor JOSÉ ª LUTZEMBERG
Dezembro, 1983. Revisado e ampliado em julho de l997.
Anexo V OU O BRASIL ACABA COM A SAÚVA OU...?
Talvez seja difícil determinar quem foi o autor da frase: “Ou o Brasil acaba com a Saúva
ou a Saúva acaba com o Brasil”. Mas não é nada difícil dar-se conta de que se trata de
uma afirmação equivocada.
As formigas cortadeiras existem há milhões de anos e são raras as espécies vegetais que
elas não saibam atacar. A Saúva tanto corta folhas em árvores gigantescas, deixa chover os
pedaços, recolhe no chão, como corta arbustos, ervas e gramas. Já vi Saúva cortando
aguapé no banhado. Quando ela ataca, sabe ser tremendamente eficiente, sabe desfolhar um
pomar inteiro em uma noite. Ela tem também, uma fantástica capacidade de reprodução.
Em cada revoada nupcial são fecundadas centenas ou milhares de jovens rainhas, cada uma
capaz de fundar novo povo. Para simplificar o trabalho, cada uma delas já leva, em sua
cavidade bucal, material do bolor específico da espécie, para logo começar com a cultura.
Além disso, uma colônia de formigas cortadeiras, uma vez estabelecida, a não ser que seja
exterminada pelo Homem, tem longevidade indefinida, pode enfraquecer, mas se recupera,
não precisa morrer. Como numa sociedade humana, morrem os indivíduos, mas não morre
o povo. O que é mais, em nossas atuais paisagens, especialmente nas paisagens agrícolas e
suburbanas, a Saúva já não tem inimigos naturais. O Tamanduá marcha para a extinção e os
Tatus não vão muito atrás.
Com tanto potencial demolidor, como se explica que a Saúva já não acabou com o Brasil?
Por que será que num capão isolado, onde ninguém a combate e onde ela não tem inimigos
naturais, a formiga não acaba demolindo o capão? Por que ela se limita a cortar
seletivamente esta ou aquela árvore, arbusto ou erva, em determinados momentos,
deixando-os em paz o resto do tempo?
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Meu pequeno jardim, em pleno centro urbano de Porto Alegre, é uma selva pequena demais
para que se possa falar de equilíbrio ecológico em termos de ecossistema. Há mais de 30
anos observo a mesma colônia de Saúva. Ela flutua em tamanho e força, já sobreviveu até a
inundações. Está sempre presente. Entretanto, ela só me incomoda raras vezes, em
condições especiais. Ela gosta de cortar mudas novas recém-transplantadas, ainda fracas e
em luta por estabelecer-se ou ela corta brotação nova em plantas já estabelecidas. Isto
acontece todos os anos em uma cicada que, aliás, está em situação precária, com falta de
sol. Aprendi a proteger as plantas ameaçadas nestes momentos especiais. Por isso, não
tenho a mínima intenção de acabar com a colônia. Gosto muito de observá-la. Como forma
de vida fascinante, ciberneticamente sofisticada, me dá mais prazer do que incômodo.
Nas hortas orgânicas que assessoro, as formigas cortadeiras só constituem problema nos
primeiros dois anos, enquanto ainda não conseguimos levar a microvida do solo à
plenitude. A partir deste ponto, quando elas nos visitam, só fazem trabalho útil: eliminam
plantas doentes e fracas. Atrevo-me a postular uma nova lei ecológica referente à Saúva.
Nova, porque não tenho informação de já ter sido postulada por outro, mas é uma lei que
vale desde que existem formigas cortadeiras: o incômodo com a Saúva é inversamente
proporcional ao nível de húmus no solo e à saúde das plantas.
Esta lei é bem evidente em pastos. Em pastos muito degradados, com solo compactado,
esgotado e sem microvida; onde o capim já começa a dar lugar às ervas pioneiras, os
formigueiros são fortes e numerosos, fazem grandes estragos. Se o pasto é forte e viçoso, o
solo humoso e bem estruturado, a Saúva acaba desaparecendo. Observando pastagens que
têm manejo racional, com pasto são e produtivo, quando estes são contíguos a pastos mal
manejados e degradados, pode-se ver uma coisa incrível: a formiga respeita a cerca.
A atitude normal diante das cortadeiras, tanto da parte da maioria dos agricultores, como
dos agrônomos, jardineiros e engenheiros florestais, é a de reagir a toda constatação de
presença da formiga com o imediato combate a ela. A visão que prevalece é a do inimigo
arbitrário, diabólico, a ser erradicado, se possível, ou pelo menos combatido com todos os
meios à disposição. Mas aqueles poucos que têm o hábito da observação atenta e intensiva
da Natureza logo se dão conta de que as formigas cortadeiras não são nada arbitrárias,
discriminam muito entre as plantas que tocam e o momento em que as tocam. Vejamos
mais alguns exemplos:
Quando elas fazem suas lindas estradas – excelentes obras de engenharia, com túneis e
elevados, mas sem as agressivas e absurdas terraplanagens características de nossos
engenheiros humanos – é comum verificar-se que no fim de uma estrada está sendo cortada
uma planta que junto ao início ou ao longo da estrada também tem, sem que seja molestada.
Será que a formiga gosta de trabalhar debalde? Recentemente, num grande bosque de
eucalipto, segui uma destas estradas, por uns setenta metros, até encontrar o arbusto que
estava sendo cortado, uma tibouchina, da qual havia centenas de exemplares no bosque,
muito bem junto ao início ou ao longo da estrada. O que distinguia a vítima das demais era
o fato de a agressão da formiga não ser o primeiro desastre para ela. No dia anterior uma
motoniveladora, ao arrumar a estrada de manejo do bosque, com sua lâmina cortara a
metade do sistema radicular do arbusto. A planta tinha ainda aparência sã, mas é claro, seu
metabolismo tinha que estar alterado.
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Em outro tipo de bosque comercial, nos plantios de acácia negra para produção de tanino,
já fiz observação igualmente significativa. Nestes bosques, como nos de eucalipto, a
formiga só é problema por ocasião dos plantios, nas mudas recém-transplantadas, ainda
fracas. Nas plantações de acácia, quando se trata de replantio, após queima da galharia do
plantio anterior, verifica-se muita germinação de semente de acácia. Acontece, então, que
entre as linhas de mudas novas, transplantada, encontram-se muitas mudinhas do mesmo
tamanho, porém fracas. Os operários sempre notam, os agrônomos e engenheiros florestais
transplantadas, não toca as fracas.³
________________________________________________________________________________________
³ Nota da revisora: Este período encontra-se incompleto e com o sentido comprometido. Por não ter acesso
aos originais não foi possível reconstituí-lo.
Em uma de nossas hortas, estávamos em plena colheita de repolho, um repolho são que
nunca tivera praga. No canteiro havia repolho intacto, de pé, e havia, no chão, as folhas
externas que se tira das cabeças colhidas. De fora da horta, de uns cinqüenta metros de
distância, vinha um carreiro de Saúva. Estavam trabalhando todo o canteiro. Não tocaram
nenhum dos repolhos intactos, mas levaram todas as folhas caídas, já meio murchas. Não
foi necessário combater a formiga. Após cortar a última folha murcha voltou à macega de
onde veio.
Também já observei, quando o colono derruba capoeira para fazer coivara, como a Saúva,
às pressas, corta a folhagem de arbustos derrubados, já semimurchos, arbustos que antes da
derrubada ela não tocava.
Muitas vezes, comendo laranja ou bergamota em pomar de cítricas, observei, pouco mais
tarde, como as cascas caídas eram totalmente desmontadas e levadas pela cortadeira.
Impressiona a rapidez com que encontra essas cascas, impressiona, mais ainda, por que não
sobe às árvores e corta a casca das frutas no pé? Instrumento para isso não lhe falta. Assim
como ela parece preferir plantas enfraquecidas, parece que ela também gosta de tecido
vegetal que está morrendo.
Será por isso que, em experimento de laboratório, a Saúva se comporta de acordo com o
clichê do inimigo arbitrário? Aquelas colônias de Saúvas mantidas em cativeiro, detrás de
paredes de vidro, isoladas do mundo exterior, só recebem material vegetal que está
murchando. Claro que cortam tudo!
Está claro que a Saúva não é inimiga arbitrária e não tem, nem pode ter, condições de
acabar com o Brasil. Em seu próprio interesse de sobrevivência, não pode. Seria suicídio
para ela. Por isso, a natureza de tal maneira a programou que só pode cortar plantas
enfraquecidas, doentes, desequilibradas, decrépitas. Assim sendo, ela tem futuro. Toda
população, de seja qual for a espécie, animal ou vegetal, por melhor que se encontre
enquadrada no ecossistema, sempre produz indivíduos marginais. Eliminando estes, ela
contribui para a melhora da espécie, tem função importante no grande processo da evolução
orgânica. Ela jamais descambará para uma orgia total, , mas sempre sobreviverá, a menos
que a burrice humana lhe ponha término. Se ela tanto nos incomoda em nossas lavouras e
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cultivos, é porque, com os métodos de produção que usamos, sabemos fazer tantas
plantas desequilibradas.
Mas, são raros, muito raros, os pesquisadores agrícolas modernos que, com a atitude
do naturalista, gostam de observar a natureza fora da estação experimental, além dos
seus canteirinhos de análise estatística, que dificilmente consideram mais do que dois
fatores variáveis por vez, ou fora das quatro paredes dos laboratórios e dos tubos de ensaio,
dos recipientes de reprodução meristemática ou das estufas de ambiente controlado. Alguns
entre eles até consideram que a observação direta da natureza não é cientifica. Uma
vez, na Alemanha participando de discussão entre a indústria agroquímica e agrobiologista,
a indústria argumentava que não eram científicas as observações por nós apresentadas.
Retruquei que há uma ciência considerada das mais exatas, a Astronomia. Nesta só se
observa, mede-se, compara-se, raciocina-se. Não podemos mexer com o Sol, a Lua, as
estrelas, não podemos trazê-los para as estações experimentais ou prendê-los em
laboratórios.
Se quisermos resolver os problemas das pragas, parasitas e enfermidades em nossos
cultivos e criações, sem envenenar o Planeta e destruir nossos solos, teremos que
partir para enfoques completamente novos.
Texto do Prof. JOSÉ ª LUTZEMBERG, Dezembro, 1988.
FORMIGAS
Plantas atraentes: Leucena, Mandioca, Cana-de-açúcar, Gergelim, Feijão-de-porco.
Produtos repelentes: Casca de ovo moída, Carvão vegetal moído, Farinha de ossos,
Sal, Cinza, Vinagre (aplicar nos formigueiros).
Plantas repelentes: Hortelã, Batata-doce, Salsa, Cenoura, Mamona, Capim fedegoso,
Timbó, Pessegueiro bravo (amassar, fazer suco e aplicar).
Diminuição da Infestação: a) Aumento da biodiversidade (vegetal e animal);
b) Manejo do solo: as formigas, para se instalarem, preferem
áreas limpas;
c) Físico: Através de escavação, uso de água ou fogo.
d) Consórcios com plantas repelentes.
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Controle químico caseiro: a) 2 Kg de cal virgem para 10 litros de água quente, aplicar
sobre os principais olheiros das formigas.
b) Misturar 500 gramas de Bórax a 500 gramas de açúcar e
jogar sobre os canteiros e olheiros.
Controle biológico: Usar BioGeo a 10%sobre as formigas (com melaço).
FORMIGAS CORTADEIRAS
Controle: a) Físico: Através de escavação, uso de água ou fogo.
b) Biológico: Através de plantas tóxicas (gergelim, feijão-de-porco).
c) Solução de água com sal ou vinagre.
Como vimos é bastante fácil o controle de uma colônia de formigas cortadeiras.
Mas uma infestação de formigas torna-se mais complicado se for necessário conhecermos
melhor as formigas.
Em formigueiros encontramos: A rainha (a fêmea fértil) e as fêmeas (não férteis).
Eventualmente encontramos machos e fêmeas com asas, que são férteis e tentarão se
reproduzir quando saírem da colônia. Normalmente encontramos três tipos de operárias nos
formigueiros das cortadeiras.
a) As soldadas (cabeçudas) que defendem o formigueiro
b) As cortadeiras ou carregadeiras, que são as mais numerosas nos canteiro
c) As jardineiras, que são as menores, cuja função é cultivas alimentos (fungos).
COMBATE À SAÚVA
1. Plantar Gergelim. 2. Plantar feijão-de-porco. 3. Triturar mandioca. 4. Espalhar
farinha de ossos. 5. Espalhar carvão moído. 6. Injetar BioGeo. 7. Fazer iscas
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inoculadas com BioGeo. 8. Espalhar BioGeo nas formigas. 9. Correção do solo com
MB-4. 10. Uso de matéria orgânica.
FORMICIDAS
1. Casca de laranja, inoculada com BioGeo, peletizada com farinha de mandioca ou trigo.
2. 6 Kg de casca de laranja, 200 g de sulfato de cobre, farinha de mandioca.
3. 2 Kg de casca de laranja, l litro de gasolina, bater e esperar dois dias. Jogar fora a
solução. Misturar com farinha de mandioca e BioGeo.
COMO PREPARAR E APLICAR_____________
BIOFERTILIZANTE
1. Para couve-flor, brócolis e repolho
Ingrediente:
30 Kg de esterco de gado
70 litros de água
5 litros de melaço
2 Kg de Bórax
200 g de molibdato de sódio
Modo de preparar: Misturar os ingredientes, menos o bórax e o molibdênio. Deixar
fermentar por 5 dias. Misturar separadamente o boro e o molibdênio, dividir em 4 partes e
misturar ao fermentado uma parte a cada três dias.
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2. FERTILIZANTE DE URINA DE VACA
Ingredientes:
100 litros de água
1 litro de urina de vaca em lactação
Nutrientes presentes: K, Ca, S, Na, N, P, entre outros.
Modo de preparar e usar: Coletar a urina, colocar em recipiente de plástico fechado durante
3 dias. Pulverizar sobre a planta a cada 15 dias, para aumentar a resistência do tomate,
quiabo, jiló e demais olerícolas. No caso de alface, aplicar no solo duas vezes durante o
ciclo da planta.
3. FERMENTADO FURLANETTO
Ingredientes:
20 Kg de vísceras
10 Kg de farelo de arroz
10 Kg de farelo de trigo
7 Kg de farinha de ossos
2 Kg de fubá de milho
2 kg de farinha de trigo
5 Kg de rapadura
Obs.: Tanque de 400 litros. Fermentar por 30 dias.
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CALDAS
4. CALDA SULFOCÁLCICA
Ingredientes:
12,5 Kg de cal virgem
25 Kg de enxofre em pó
100 litros de água
Modo de preparar e usar: Dissolva o enxofre com um pouco de água quente, até formar
uma pasta, dentro de um tambor de 200 litros. Coloque fogo sob o tambor e complete com
80 litros de água. Após o início da fervura, adicione cal virgem aos poucos, mexendo
constantemente com uma pá de madeira. Deixe ferver por 60 minutos, adicionando os 20
litros de água fria aos poucos. Quando levantar a fervura, mantenha o volume em 100 litros.
Quando a calda estiver com a cor pardo-avermelhada estará pronta. Deixe esfriar e coe em
um pano ou peneira fina. A armazenagem pode ser feita por um período máximo de 30
dias, em recipiente de vidro ou bombona plástica desde que sejam muito bem vedadas. É
recomendável a adição de espalhante adesivo à calda na proporção de 20 litros para 100
litros de calda. A calda diluída deve ser usada no mesmo dia. A diluição deve ser feita a
10%.
5. CALDA BORDALEZA (PASTA)
Ingredientes:
1 Kg de sulfato de cobre
2 Kg de cal virgem
10 litros de água
6. CALDA BIOGEO
Ingredientes:
2 Kg de MB-4
1 Kg de cal
0,5 Kg de fosfato de Araxá
0,5 Kg de cobre
100 g de sal
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5 litros de água
Modo de preparar: Ferver durante 1 hora.
7. ADERENTE
Ingredientes:
1 Kg de cebola
600 g de cinza
300 g de filler
100 g de enxofre
Modo de preparar: Cozinhar durante meia hora. Diluir 100 gramas para cada 100 litros de
água.
8. FOSFOGEO
Ingredientes:
10 litros de vinhoto
50 g de hiperfosfato gafsa
25 ml de leite
Modo de preparar: Deixar fermentar por 7 dias.
9. METACILICATO
Ingredientes:
5 litros de palha de arroz cozida
2 litros de cinza da cana
2 litros de vinhaça
2 litros de rúmen de boi
0,1% de sulfato de amônio
50 litros de água
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10. INÓCULO I
Ingredientes:
1 copo de esterco
4 colheres de MB-4
0,5 copo de leite
0,5 copo de melaço
Modo de preparar: Colocar em banho-maria, mais ou menos 38ºC.
11. INÓCULO II
Ingredientes:
1 litro de água
1 litro de esterco de bezerro novo
0j,5 litro de soro de leite
1 copo de suco de frutas
0,5 copo de melaço
um quarto de copo de sulfato de amônia
1 colher de hiperfosfato fagsa
1 colher de cinza
1 colher de MB-4
Modo de preparar: Colocar num balde, cobrir com plástico preto e deixar ao sol durante 72
horas. Conservar num freezer. Aplicar na proporção de 1 para 200 litros.
12. SORO DE LEITE (Para tomateiro)
Ingredientes:
1 litro de soro de leite, ou leite desnatado
1 litro de água
Função e modo de usar: para controle de doenças e pragas em folhas e frutos do tomateiro.
Pulverizar uma vez por semana.
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13. CARUNCHOS E GORGULHOS EM GALPÕES
Ingredientes:
10 g de enxofre puro
1 litro de álcool
Modo de usar: Colocar a mistura em uma vasilha, levar ao galpão bem fechado, atear fogo
à mistura. Deixar o galpão bem fechado por 3 dias. Esta quantidade é suficiente para
uma tonelada de grãos.
14. INSETICIDA DE CEBOLA E ALHO
Ingredientes:
3 cebolas
5 dentes de alho
10 litros de água
Função e modo de preparar e usar: Controlar pulgões em feijão, beterraba, cebola, alho.
No tomateiro funciona como fungicida. Moer a cebola e o alho e misturar em 5 litros de
água. Espremer para retirar o suco, coar e misturar ao restante da água. Pulverizar uma
vez por semana.
15. ISCA FERMENTADA
Função: Atrair vespinhas e besouros
Ingrediente: 1 Kg de frutas
Modo de preparar e usar: Picar as frutas como se fosse uma salada, colocar numa bacia e
deixar ao sol durante uma semana para fermentar. Pegar um balde de cor clara, colocando
água até a metade. Sobre o balde colocar duas ripas finas e colocar o balde dentro da bacia
com as frutas fermentadas. O objetivo é atrair os insetos que irão cair na água.
16. ISCA PARA MOSCA DAS FRUTAS
Ingredientes:
600 g de sulfato de cobre
600 g de enxofre ventilado
600 g de melaço
10 litros de água
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Modo de preparar e usar: Desmanchar em água morna o sulfato de cobre, separadamente
colocar o enxofre num saquinho de pano, mergulhar na água para desmanchar. Quando
estiverem desmanchados, misturá-los à água e ao melaço. Pulverizar em plantas alternadas,
preferencialmente na bordadura. Mergulhar estopa na solução e pendurar em árvores.
17. ARMADILHA PARA MOSCA DAS FRUTAS
Função: Para controlar mosca da goiaba e da laranja
Ingredientes:
80 g de Breu moído
50 g de óleo de rícino
Modo de preparar e usar: Misturam-se todos os ingredientes, leva-se ao fogo durante 5
minutos para derreter o breu, não deixa ferver. Passa a cola resultante em tiras de lona
amarela. Pendurar as tiras na bordadura. Serve para 8 dias.
18. NSETICIDA DE SAMAMBAIA
Função: Controlar pulgão e lagarta
Ingredientes:
500 g de folhas frescas de samambaia
2 litros de água
Modo de preparar e usar: Ferver as folhas durante 30 minutos. Deixar descansar por 24
horas. Pulverizar a 10%.
19. INSETICIDA DE URTIGA
Função: Controlar pulgão e lagarta
Ingredientes:
500 g de urtiga
1 litro de água
Modo de preparar e usar: Esmagar bem e deixar descansar durante dois dias. Pulverizar as
plantas a cada 15 dias, diluído a 10%. Obs.: Pode-se adicionar ao biofertilizante.
20. MACERADO DE URTIGA
Função: Controle de Míldio
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Ingredientes:
100 g de urtiga picada
10 litros de água
Modo de preparar e usar: Secar à sombra por sete dias, então moê-la. Colocar a água e
deixar descansar durante 8 dias, mexendo 2 vezes por dia. Pulverizar a 10%.
21. INSETICIDA DE CRAVO DE DEFUNTO
Função: Controle de insetos e nematóides.
Ingredientes:
100 g de ramos e folhas de cravo-de-defunto
100 ml de acetona
2 litros de álcool
Modo de preparar e usar: Picar os ramos e as folhas e juntar à acetona. Deixar repousar por
24 horas e juntar ao álcool. Pulverizar a 10%. Obs.: Plantar cravo-de-defunto na
bordadura.
22. INSETICIDA NEEM
Função: Inseticida, repelente, inibidora de crescimento, fungicida, nematicida. Pode
controlar até 200 tipos de insetos e pragas.
Ingredientes:
50 g de sementes descarnadas
1 litro de água
Modo de preparar e usar: Ralar e imergir em 1 litro de água. Pulverizar a 10%.
23. ISCA DE MOLEQUE
Função: Combater o moleque-de-bananeira
Ingredientes:
Rizoma
Água destilada / Álcool
Modo de preparar e usar: Inocula-se o rizoma com água salgada e álcool, e aplica-se.