Universidade Federal de Minas Gerais
Instituto de Ciências Biológicas
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida
Silvestre
EFEITOS DA TRANSPOSIÇÃO MANUAL NAS COMUNIDADES DE PEIXES
NO RESERVATÓRIO DA UHE PORTO ESTRELA, RIO SANTO ANTÔNIO,
BACIA DO RIO DOCE (MG)
Leonardo Cardoso Resende
Belo Horizonte
2009
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
ii
EFEITOS DA TRANSPOSIÇÃO MANUAL NAS COMUNIDADES DE PEIXES
NO RESERVATÓRIO DA UHE PORTO ESTRELA, RIO SANTO ANTÔNIO,
BACIA DO RIO DOCE (MG)
Belo Horizonte
2009
Dissertação apresentada ao Programa de Pós‐
Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo
da Vida Silvestre da Universidade Federal de
Minas Gerais como requisito para obtenção do
título de mestre.
Orientador: Prof. Dr. Alexandre Lima Godinho
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
iii
“A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória
propriamente dita.”
Mahatma Gandhi
Dedico essa dissertação a meu pai (in
memorian), minha mãe e minha irmã que
sacrificaram parte das suas vidas para
que eu pudesse realizar o meu sonho.
Obrigado!!!
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
iv
Agradecimentos
Ao Prof. Dr. Alexandre Lima Godinho, meu orientador, por ter aceitado
orientar um recém-formado estudante de graduação vindo do interior querendo
trabalhar com tartarugas marinhas em Minas Gerais!
Ao Centro de Transposição de Peixes por toda estrutura de trabalho
fornecida para que eu pudesse trabalhar.
A Bios Soluções Ambientais por ter fornecido os dados que fizeram parte
desse trabalho.
Ao Consórcio Porto Estrela por ter permitido o uso dos dados coletados
pela Bios Soluções Ambientais para o desenvolvimento deste trabalho.
Ao Cyro Faria e Valter Valentim que concederam permissão para que eu
pudesse visitar a UHE Porto Estrela e pudesse acompanhar o trabalho dos
funcionários da Bios.
Ao Ezonilson, que parou seu trabalho rotineiro para que pudesse me
acompanhar durante a minha visita a UHE Porto Estrela e explicar todo o
trabalho desenvolvido por eles na mesma.
Ao Renê, Márcia e Zoraia, que elucidaram eventuais dúvidas referentes
aos dados coletados na UHE Porto Estrela e que permitiram o uso desses
dados.
Ao Silvestre, “Biguá” (Fred), “Véi” (Rogério) e “Pacumã” (Geovani) que
foram muito solícitos e me receberam muito bem, parando um dia de trabalho
para me explicar todo trabalho desenvolvido pela Bios na UHE Porto Estrela.
Aos amigos de laboratório, “Jota”, Ricardo, Thiago, Alaion, Fábio,
Volney, Rocha e Gisele, que me ajudaram de alguma forma, e que, mesmo que
não ajudaram diretamente, tiveram paciência comigo. Valeu! Em especial a
Clarissa e ao Raoni que me ajudaram ativamente nas fases finais da minha
dissertação dando opiniões e me ajudando a resolver problemas. Muito
obrigado!
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
v
Ao Chico Neto, que me ajudou com opiniões e a esclarecer algumas
dúvidas. Obrigado!
Aos amigos do curso de mestrado, pela amizade, companheirismo e
festas ao longo dessa jornada. Há muito tempo não estudo com uma turma
legal assim!
Aos amigos “Conselheiro” (Fabrício) e Maurício Djalles, pelos auxílios no
Corel Draw, discussões estatísticas, conversas informais e momentos de
descontração.
Aos meus familiares, por toda ajuda despendida a mim, especialmente
ao “Bim”, que me ajudou muito nos primeiros meses em Belo Horizonte. Muito
obrigado!
À minha mãe e minha irmã, que seguraram a barra em Ipatinga para que
eu pudesse estudar em Belo Horizonte; que me deram conselhos ao longo
desses dois anos; e que ajudaram muito a concluir meu curso. Amo vocês!
E, finalmente, mas não menos importante, a Suellen, que viveu e
conviveu comigo nesses dois anos de curso; ajudou-me a superar momentos
difíceis em Belo Horizonte; pela amizade e companheirismo; pelas risadas e
gargalhadas preciosas; pelo amor e carinho; pela tolerância e paciência.
Obrigado por ter aparecido em minha vida! Amo você por demais!
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
vi
Sumário
Introdução .................................................................................................................................... 1
Metodologia ................................................................................................................................. 4
Área de estudo ........................................................................................................................ 4
Transposição de peixes ......................................................................................................... 8
Amostragem das populações de peixes a montante ........................................................ 9
Influência da transposição nas populações de montante .............................................. 10
Marcação e recaptura .......................................................................................................... 10
Influência das fases da lua e das vazões na CPUE de jusante .................................... 11
Resultados ................................................................................................................................. 12
Influência da transposição nas populações de montante .............................................. 12
Marcação e recaptura .......................................................................................................... 16
Influência das fases da lua e das vazões na CPUE de jusante .................................... 17
Discussão .................................................................................................................................. 17
Influência da transposição na CPUE e no tamanho de P. maculatus e P. vimboides a montante ................................................................................................................................ 17
Influência da transposição na CPUE e no tamanho de L. conirostris e L. copelandii a montante ................................................................................................................................ 20
Marcação e recaptura .......................................................................................................... 21
Influência das fases da lua e das vazões no número de peixes transpostos ............. 23
Implicações sobre conservação e manejo ........................................................................... 25
Conclusões ................................................................................................................................ 28
Referências bibliográficas ....................................................................................................... 29
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
vii
Resumo
Os barramentos são um dos maiores causadores de impactos em ambientes
lóticos, e alternativas têm sido propostas para amenizá-los ou resolvê-los,
como os Sistemas de Transposição de Peixes. Como uma forma de manter a
conexão jusante-montante e de atendimento à legislação ambiental, tem sido
empregada transposição manual em algumas hidrelétricas. O objetivo desse
trabalho foi avaliar os efeitos da transposição manual nas populações de
peixes a montante da UHE Porto Estrela. O trabalho foi realizado no rio Santo
Antônio, bacia do rio Doce (MG), ao longo de três estações reprodutivas. Os
peixes foram capturados com tarrafa, marcados e transpostos manualmente
para montante. As coletas a montante foram realizadas apenas com redes de
emalhar. Em Pimelodus maculatus, Prochilodus vimboides, Leporinus
conirostris e Leporinus copelandii a transposição manual não influenciou suas
populações a montante. Apesar de haver indícios de recrutamento a montante,
os fatores mais decisivos na CPUE e na estrutura em tamanho dessas
espécies foi a variação na produtividade do reservatório e no aprisionamento
dos peixes neste devido ao fechamento das comportas. A captura de P.
vimboides e L. conirostris a jusante indica que alguns peixes têm conseguido
passar pelas turbinas e/ou vertedouro da UHE Porto Estrela. Somente as
capturas de P. maculatus foram influenciadas pela lua, sendo mais capturado
na lua nova e menos na lua crescente. Pimelodus maculatus foi mais capturado
quando as vazões vertida e defluente foram altas e P. vimboides foi mais
capturado quando as vazões turbinada, vertida e defluente foram altas. O
número de peixes transpostos não foi suficiente para alterar as populações de
montante de P. maculatus, P. vimboides, L. conirostris e L. copelandii.
Palavras-chave: barramentos, manejo, Pimelodus maculatus, Porto Estrela,
transposição.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
viii
Abstract
The construction of dams is one of the greatest causes of impacts in lotics
environments, and alternatives have been proposed to mitigate them or resolve
them, as the Fish Passage Facilities. As a form to keep the connection
downstream-upstream and attending the environmental legislation, manual
transposition of fishes has been used in some power plants. The objective of
this work was to evaluate the effects of the manual transposing on communities
of fishes of the upstream in the hydroelectric power plant of Porto Estrela. The
work was carried through in the Santo Antonio river, basin of the Doce river
(MG), throughout three reproductive stations. The fishes were captured with
“tarrafa”, marked and transposed manually upstream. The upstream samples
were done only with gill nets. The manual transposing of P. maculatus, P.
vimboides, L. conirostris and L. copelandii not influenced these upstream
populations. Eventhough there are indications of recruitment upstream, the
most decisive factors for the CPUE and size structure of these species are the
variation in the productivity of the reservoir and the capture of fish due to the
closing of the floodgates. The capture of P. vimboides and L. conirostris
downstream indicates that some fish have been able to pass for the turbines
and/or spillway of the power plant of Porto Estrela. Only P. maculatus was
influenced by the moon, being more captured in the new moon and less in the
first quarter. Pimelodus maculatus was more captured when the shed and
emanate outflows were high and P. vimboides more captured when the
turbinate, shed and emanate outflows were high. The number of transposed
fishes not sufficient to modify the upstream populations of the P. maculatus, P.
vimboides, L. conirostris and L. copelandii.
Keywords: dams, management, Pimelodus maculatus, Porto Estrela,
transposing.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
1
Introdução
A alteração dos cursos de água é um dos impactos antrópicos mais
antigos e comuns em ambientes lóticos (Petts, 1989). Nesses ambientes, a
construção de barragens para formação de reservatórios, seja com finalidade
de geração de energia ou de abastecimento, é um dos maiores causadores de
impactos. De forma geral, os impactos mais comuns associados às barragens
são: interrupção da conectividade do rio e de movimentos migratórios,
eutrofização, contaminação e assoreamento (para maiores detalhes ver Tundisi
& Straskraba, 1994).
A transformação dos ambientes lóticos em lênticos causa impacto tanto
nos peixes de jusante quanto nos de montante. A magnitude desses impactos
pode aumentar em caso de sucessivos ambientes lênticos em decorrência da
formação de vários barramentos em série (Godinho & Godinho, 1994;
Agostinho et al., 2007). Esses autores ressaltam ainda que os principais
impactos nas populações de peixes de jusante estão relacionados ao
decréscimo na produtividade da água e à regulação na vazão do rio.
Os impactos mais comuns nos peixes de montante são: a redução na
área disponível para migração e destruição das matas ciliares (Godinho &
Godinho, 1994). Além disso, a barragem da usina estabelece uma barreira à
migração reprodutiva e trófica dos peixes (Torloni, 1994).
Alternativas têm sido propostas para amenizar ou resolver os impactos
causados por barragens. Alguns desses impactos afetam a migração dos
peixes, e para amenizá-los tem sido sugerida a construção de sistemas de
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
2
transposição de peixes (STP) como uma estratégia e ferramenta de
conservação e manejo (Pompeu & Martinez, 2005a).
As barragens em operação na América do Sul apresentam sérios
problemas relacionados à migração dos peixes. Por outro lado, algumas
barragens apresentam STPs para permitir a passagem de peixes migradores
para montante. Entretanto, nenhuma das barragens possui mecanismos que
permitam a passagem de peixes para jusante, assim como de ovos, larvas e
jovens (Godinho & Pompeu, 2003; Oldani et al., 2007).
Nesse sentido, antes de construir um STP é necessário conhecer a
biologia e ecologia das espécies-alvo, ambientes de entorno e hidrodinâmica
(Kynard, 1993; Bengeyfield et al., 2001; Fernandez et al., 2007b). Dessa forma,
evita que o mesmo se torne uma fonte adicional de impacto (Agostinho et al.,
2002), e permite que a transposição seja feita por motivos tróficos ou genéticos
(Godinho & Kynard, 2009).
Nos últimos anos, escadas para transposição de peixes são obrigatórios
em barramentos de rios em Minas Gerais. Esse compromisso está firmado na
Lei Estadual n° 12.488, de 09/04/1997 que diz que qualquer barramento em
rios do estado deverá possuir uma escada para transposição de peixes,
ressalvado somente em caso da transposição ser comprovadamente uma
medida ineficaz, segundo o Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM).
Nesse contexto, a transposição manual de peixes tem sido utilizada em
algumas barragens de Minas Gerais como forma de estudar a viabilidade de
um sistema de transposição definitivo (Pompeu & Martinez, 2007). Além disso,
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
3
essa forma de transposição tem caráter emergencial de cumprimento à
legislação e pode amenizar os impactos do empreendimento em todas as fases
da construção (Pompeu & Martinez, 2005a).
A transposição manual apresenta algumas vantagens. Ela permite
capturar peixes a jusante de uma barragem e soltá-los a montante de outra
barragem evitando sucessivas transposições; escolher os locais de soltura dos
indivíduos transpostos; flexibilizar a escolha de locais e horários de captura e
número de peixes a serem transpostos (Pompeu & Martinez, 2003a; 2005b); e
podem ter caráter temporário ou permanente, permitindo ser realizados até
mesmo durante a construção da barragem (Bengeyfield et al., 2001).
Contudo, a transposição manual apresenta desvantagens como:
operação onerosa devido ao uso intenso de mão-de-obra; levanta
desconfianças na sociedade com relação a sua efetividade (Pompeu &
Martinez, 2003a); e requer maiores cuidados em localidades em que há
espécies sensíveis ao manejo, pois pode provocar altas taxas de mortalidade
e/ou ferimentos (Pompeu & Martinez, 2005a), o que justifica a necessidade de
conhecimento prévio dos peixes locais. Além disso, é um sistema que transpõe
um número menor de peixes em relação aos demais STPs (Larinier &
Marmulla, 2004).
O objetivo desse trabalho foi avaliar os efeitos da transposição manual
na abundância e na estrutura em tamanho das populações de Pimelodus
maculatus, Prochilodus vimboides, Leporinus conirostris e Leporinus copelandii
a montante da UHE Porto Estrela. Também foi determinada a influência das
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
4
fases da lua e das vazões da UHE Porto Estrela na CPUE de jusante dessas
espécies, e foi feito um trabalho de marcação e recaptura para conhecer o
padrão de deslocamento dessas espécies e verificar se a UHE Porto Estrela
tem constituído um obstáculo para o retorno dos peixes para jusante.
Metodologia
Área de estudo
A bacia do rio Doce drena parte dos estados de Minas Gerais e Espírito
Santo. Ela limita-se ao sul com a bacia do rio Paraíba do Sul, a oeste com a
bacia do rio São Francisco e uma pequena parte da bacia do rio Grande, ao
norte com as bacias dos rios Jequitinhonha e Mucuri, e a noroeste com a bacia
do rio São Mateus. A área de drenagem é de aproximadamente 83.400 km2,
abrangendo total ou parcialmente áreas de 228 municípios, desde sua
nascente em Minas Gerais, nas Serras do Espinhaço e Mantiqueira, até sua
foz, em Regência, no Espírito Santo (CETEC, 1983; CBH - Rio Doce, 2008).
O rio Doce possui extensão de 853 km e origina-se a partir da
confluência dos rios Piranga e Carmo, no município de Rio Doce (MG). Os
seus principais afluentes são os rios do Carmo, Piracicaba, Santo Antônio,
Corrente Grande, Suaçuí Grande, Pancas e São José, na margem esquerda, e
os rios Chopotó, Casca, Matipó, Caratinga-Cuieté, Manhuaçu e Guandu, na
margem direita (CETEC, 1983; CBH - Rio Doce, 2008).
A UHE Porto Estrela está localizada no rio Santo Antônio, o segundo
maior afluente do rio Doce. A nascente do rio Santo Antônio localiza-se na
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
5
Serra Tromba D’Anta, próximo à sede do município de Conceição do Mato
Dentro (MG). Sua confluência com o rio Doce ocorre próximo à sede do
município de Naque (MG) (Figura 1). Ele possui uma área de drenagem de
cerca de 10.390 km2 e seus principais afluentes são os rios do Peixe, Preto do
Itambé, Guanhães e Tanque (CETEC, 1983). Quanto às características
fisiográficas, o rio Santo Antônio pode ser dividido em duas porções distintas. A
primeira, da foz até o km de rio 47 (baixo curso), possui menor profundidade,
menor declividade e leito recoberto predominantemente por areia. A segunda
apresenta leito quase que totalmente rochoso, com extensas áreas de
corredeiras intercaladas com poções mais profundos. As principais barragens
da bacia, UHE Salto Grande e UHE Porto Estrela, dividem essas duas porções
do rio (Vieira, 2006).
O clima na maior parte da sub-bacia é do tipo Cwa (clima mesotérmico
com inverno seco e verão chuvoso; Koeppen, 1948; Antunes, 1986) e a
temperatura média anual está entre 21°C e 24°C (CETEC, 1983; Antunes,
1986). O período chuvoso ocorre de novembro a março (Vieira, 2006), sendo a
precipitação total na sub-bacia entre 900 e 1.500 mm anuais (CBH – Rio Doce,
2008; Hidrotec, 2008). A vegetação da sub-bacia do rio Santo Antônio é
descrita como Floresta Estacional Semidecidual, uma fitofisionomia
pertencente ao bioma Mata Atlântica (Veloso et al., 1991).
Assim como outras bacias do sudeste brasileiro, a sub-bacia do rio
Santo Antônio apresenta impactos ambientais. Além da supressão da Mata
Atlântica (Conservation International, 2000), outros impactos ameaçam os
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
6
peixes do rio Santo Antônio, como agricultura, monoculturas (principalmente de
eucaliptos), introdução de espécies exóticas, agropecuária, pecuária,
assoreamento e barramentos (Drummond et al., 2005; Hidrotec, 2008). As
soluções para sanar os problemas apresentadas por Drummond et al. (2005)
incluem recuperação de matas ciliares, criação de unidades de conservação,
educação ambiental com as populações de entorno e plano de manejo.
Em relação à construção de barramentos hidrelétricos, a bacia do rio
Doce apresenta potencial de geração de energia elétrica em torno de 4.641
MW (ANEEL, 2002). Este potencial está distribuído em 23 barramentos em
operação/construção e 28 outorgados, das quais 39 são pequenas centrais
hidrelétricas (PCH), com geração de energia abaixo de 30 MW. Somente na
sub-bacia do rio Santo Antônio, existem 13 barramentos hidrelétricos em
operação, em construção ou outorgados, dos quais 10 são PCHs (ANEEL,
2008).
A UHE Porto Estrela é um dos barramentos em operação na sub-bacia
do rio Santo Antônio. Esse barramento opera na calha do rio principal (Figura
2), possui turbinas do tipo Kaplan e potência instalada de 112 MW (ANEEL,
2002). Ela começou a operar em 4 de setembro de 2001 (DOU, 2003), e a
transposição manual começou a ser realizada em dezembro de 2003, como
forma de atender a legislação vigente (Minas Gerais, Lei n° 12.488, de
09/04/1997), já que a usina não apresentava outro tipo de STP. A área do
reservatório formado pela barragem da UHE Porto Estrela é aproximadamente
de 4,3 km2. O reservatório da UHE Porto Estrela estende-se até a casa de
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
7
força da UHE Salto Grande. Seguindo o curso do rio Santo Antônio, a distância
desde o vertedouro da barragem da UHE Porto Estrela até a casa de força da
UHE Salto Grande é de aproximadamente 11 km.
Em Braúnas (MG), está localizada a UHE Salto Grande. Esse
barramento hidrelétrico está situado a aproximadamente 29 km a montante da
UHE Porto Estrela, seguindo o curso do rio Santo Antônio. A UHE Salto
Grande começou a funcionar em 1956 e possui dois reservatórios, um no rio
Guanhães com 5,8 km2 e outro no rio Santo Antônio com 1,3 km2. A UHE Salto
Grande possui uma capacidade de geração de energia elétrica de 102 MW. A
jusante dos dois reservatórios que compõem a UHE Salto Grande existem dois
trechos de vazão reduzida (TVR), um maior com aproximadamente 18 km e
outro menor com cerca de 0,65 km (Figura 3). O TVR maior compreende o
trecho desde o vertedouro da UHE Salto Grande localizado no rio Santo
Antônio até o início do reservatório da UHE Porto Estrela. Esse TVR é
completamente pedregoso e possui muitos bancos de areia. O TVR menor
compreende o trecho desde o sopé da UHE Salto Grande localizado no rio
Guanhães até o TVR no rio Santo Antônio. Esse TVR também é pedregoso.
A bacia do rio Doce apresenta notável fauna de peixes que fundamentou
medidas conservacionistas (Drummond et al., 2005). Para essa bacia, são
citadas 64 espécies nativas somente na porção mineira. Dentre as áreas
selecionadas como prioritárias à conservação dos peixes, a sub-bacia do rio
Santo Antônio figura entre as mais importantes por apresentar elevada riqueza
de peixes e diversas espécies endêmicas e algumas ameaçadas de extinção,
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
8
como o andirá Henochilus wheatlandii (Vieira & Alves, 2001; Castro et al.,
2004; Vieira, 2006). Além das espécies nativas citadas por Drummond et al.
(2005), a sub-bacia do rio Santo Antônio apresenta 14 espécies exóticas
(Vieira, 2006).
Transposição de peixes
A transposição manual de peixes para montante da barragem da UHE
Porto Estrela foi realizada nos meses de outubro a fevereiro/março em três
estações reprodutivas: 2003-2004, 2005-2006 e 2006-2007. A transposição foi
feita durante 15 dias consecutivos a cada mês. Dois pescadores foram
empregados para manejar duas tarrafas de malha 7 cm entre nós opostos com
2,20 m de altura e 7 kg de chumbo. As tarrafas foram escolhidas por se
adaptarem mais ao ambiente de jusante. As capturas foram realizadas de 6 h
às 11 h e de 16 h às 19 h, dentro da área de segurança a jusante da barragem
da UHE Porto Estrela, que tem aproximadamente 500 m de comprimento, do
seu vertedouro ao cordão de segurança. Todos os peixes nativos capturados
mais o P. maculatus (que é exótico; Vieira, 2006) foram transpostos. Os peixes
capturados foram colocados em caixas de isopor com água. Depois eles foram
medidos e pesados. Após esses procedimentos, os peixes foram colocados em
um tanque de 250 L com oxigenação e levados para montante num veículo
automotor. Os peixes foram soltos em um ponto do reservatório próximo à
barragem da UHE Porto Estrela, cerca de 400 m do vertedouro e tomada
d’água das turbinas (Figura 4).
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
9
Amostragem das populações de peixes a montante
Amostragens das populações de peixes de montante foram realizadas
trimestralmente de janeiro de 2004 a setembro de 2007 em três pontos: no
reservatório distante cerca de 1 km da barragem da UHE Porto Estrela; no
reservatório da UHE Porto Estrela, próximo a antiga confluência do córrego
Pitangas; e no trecho de 1 km do rio Santo Antônio imediatamente a jusante da
casa de força da UHE Salto Grande. Entretanto, para facilitar a análise e
interpretação, os dados coletados nos três pontos a montante da UHE Porto
Estrela foram agrupados e considerados apenas como “montante”. Apesar de
ter havido amostragens de peixes a montante da barragem da UHE Porto
Estrela em 2004-2005, os dados não foram considerados nas análises, pois
nessa estação reprodutiva não houve transposição de peixes.
Em cada ponto de amostragem, os peixes foram capturados com um
conjunto de redes de emalhar com malhas 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10 e 12 cm entre nós
opostos com comprimento de 10 m e altura entre 1,5 - 1,9 m. As redes foram
armadas às 17 h de um dia e retiradas às 7 h do dia seguinte, permanecendo
na água por mínimo 12 h e no máximo 14 h. As redes foram utilizadas por se
adaptarem ao ambiente de reservatório. Todos os peixes capturados foram
identificados, medidos e pesados.
Foi determinada a captura por unidade de esforço (CPUE) a montante
por estações reprodutivas, segundo a equação:
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
10
CPUE = ∑=
12
3m(Nm / Em), onde;
m = tamanho da malha;
Nm = número de peixes capturados pelas redes de malha m;
Em = esforço de pesca (em 100 m2) da malha m.
Influência da transposição nas populações de montante
A influência da transposição nas populações de peixes de montante foi
analisada para P. maculatus, P. vimboides, L. conirostris e L. copelandii (Figura
5). Essa influência foi avaliada por estação reprodutiva comparando-se a
quantidade de peixes transpostas com a sua CPUE a montante. Comparou-se
também a estrutura em tamanho (média, mínimo e máximo do comprimento
padrão) dos peixes transpostos e capturados a montante para avaliação dessa
influência. Para verificar se havia diferença entre o comprimento padrão (CP)
dos peixes transpostos e o CP dos peixes capturados a montante nas três
estações reprodutivas foi feito o teste de Mann-Whitney.
Marcação e recaptura
As espécies escolhidas para a marcação foram P. maculatus, P.
vimboides, L. conirostris e L. copelandii. A metodologia de captura empregada
nesse trabalho foi a mesma das capturas realizadas a jusante. Contudo, antes
dos peixes serem transpostos e liberados a montante, cada um recebeu
posteriormente à nadadeira dorsal, uma marca de numeração arábica de
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
11
quatro dígitos, com auxílio de uma agulha de sutura e linha de nylon. O intuito
do trabalho de marcação e recaptura foi conhecer o padrão de deslocamento
dessas espécies e verificar se a barragem da UHE Porto Estrela tem
constituído um obstáculo para o retorno dos peixes para jusante. A única
exceção mantida ao longo de todas as estações reprodutivas foi a não
marcação de peixes de tamanho reduzido (< 15 cm) ou debilitados. As
recapturas dos peixes ocorreram pelos pescadores locais, nas coletas
trimestrais a montante, bem como nas coletas a jusante, caso algum peixe
conseguisse descer pelas turbinas e/ou vertedouro.
Influência das fases da lua e das vazões na CPUE de jusante
Para cada uma das quatro espécies transpostas, foi determinada a
CPUE (= número de peixes capturados/número de arremessos de tarrafa) para
cada dia de captura a jusante da barragem da UHE Porto Estrela. A CPUE foi,
então, comparada entre as fases da lua com auxílio do teste de Kruskall-Wallis.
As fases da lua foram determinadas conforme Társia (2008). A CPUE diária foi
correlacionada (correlação de Spearman) com as vazões turbinada (Qt), vertida
(Qv) e defluente (Qd) da barragem da UHE Porto Estrela, fornecidas pelo
Consórcio Porto Estrela.
Optou-se pelo uso de testes não paramétricos porque a CPUE e as
vazões não apresentaram normalidade, mesmo depois de transformadas. A
normalidade foi testada com o teste de Kolmogorov-Smirnov para variáveis
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
12
com mais de 51 amostras ou Shapiro-Wilk para variáveis com menos de 50
amostras.
Resultados
A jusante da barragem da UHE Porto Estrela foram capturados 4.576
peixes (Tabela 1). As espécies mais capturadas foram P. maculatus (1.510
indivíduos), P. vimboides (1.210), Prochilodus costatus (875) e Salminus
brasiliensis (632). Essas quatro espécies representaram 92,4% de todos os
peixes capturados a jusante. Com exceção de P. vimboides, as outras três
espécies são exóticas.
A montante foram capturados 3.496 peixes (ver Tabela 1). Desse total
de capturas, treze espécies foram registradas apenas a montante. As mais
capturadas foram Astyanax fasciatus (1.049 indivíduos), Astyanax bimaculatus
(861) e Oligosarcus argenteus (670). Essas três espécies representaram 72,1%
de todos os peixes capturados a montante.
Influência da transposição nas populações de montante
Pimelodus maculatus
O número de P. maculatus transpostos foi relativamente elevado, sendo
2006-2007 a estação reprodutiva com maior número de peixes transpostos,
1.125 peixes. Em 2003-2004, o número de P. maculatus transposto foi
aproximadamente o mesmo. Em 2006-2007, esse número foi cerca de 5 vezes
maior do que nas estações reprodutivas anteriores. A CPUE a montante
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
13
aumentou bruscamente de 2003-2004 para 2005-2006 e diminuiu em 2006-
2007 (Figura 6).
A média do comprimento padrão dos P. maculatus transpostos não foi
maior do que aqueles capturados a montante. A média do CP dos peixes
capturados a montante permaneceu semelhante em todas as estações
reprodutivas, embora tenham sido capturados mais peixes menores e maiores
nas duas últimas estações reprodutivas. O tamanho mínimo e máximo do CP
dos P. maculatus capturados a montante foram, respectivamente, 11,5 cm e
33,0 cm. Para os peixes transpostos, a média foi semelhante na primeira e
última estação reprodutiva, sendo maior em 2005-2006 (Figura 10). O tamanho
mínimo e máximo do CP dos P. maculatus transpostos foram, respectivamente,
18,5 cm e 34,5 cm. Desconsiderando o tempo amostral, estatisticamente, não
houve diferença no CP entre os peixes transpostos e os capturados a
montante. Somente em 2005-2006, o CP dos peixes transpostos foi maior que
dos capturados a montante (Z = 5,43; p < 0,01).
Prochilodus vimboides
O número de P. vimboides transpostos foi relativamente elevado,
alcançando 624 peixes transpostos em 2003-2004. Contudo, esse número
diminuiu ao longo das estações reprodutivas, com uma redução acentuada em
2006-2007. A CPUE a montante sofreu um ligeiro aumento de 2003-2004 para
2005-2006, diminuindo bruscamente em 2006-2007 (Figura 7).
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
14
A média do CP dos P. vimboides transpostos não foi maior do que
aqueles capturados a montante. A média do CP dos peixes capturados a
montante permaneceu semelhante em 2003-2004 e 2006-2007, sendo menor
em 2005-2006. O tamanho mínimo e máximo do CP dos P. vimboides
capturados a montante foram, respectivamente, 13,0 cm e 49,0 cm. Não houve
diferença significativa entre a média do CP dos peixes transpostos em 2003-
2004 e 2005-2006 (Figura 10). O tamanho mínimo e máximo do CP dos P.
vimboides transpostos foram, respectivamente, 16,0 cm e 45,5 cm.
Desconsiderando o tempo amostral, estatisticamente, não houve diferença no
CP entre os peixes transpostos e os capturados a montante. Somente em
2005-2006, o CP dos peixes transpostos foi maior que dos capturados a
montante (Z = 3,20; p < 0,01).
Leporinus conirostris
O número de L. conirostris transpostos entre 2003-2004 e 2006-2007 foi
reduzido, não ultrapassando 80 peixes (maior número de peixes transpostos).
Esse número diminuiu em 2005-2006 e 2006-2007. A CPUE a montante
oscilou ao longo das estações reprodutivas, com uma queda acentuada em
2005-2006 (Figura 8).
A média do CP dos L. conirostris transpostos foi maior que aqueles
capturados a montante. A média do CP dos peixes capturados a montante foi
maior em 2005-2006 e menor em 2006-2007. O tamanho mínimo e máximo do
CP dos L. conirostris capturados a montante foram, respectivamente, 11,0 cm e
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
15
27,5 cm. Para os peixes transpostos, a média do CP foi muito semelhante em
2005-2006 e 2006-2007 (Figura 10). O tamanho mínimo e máximo do CP dos
L. conirostris transpostos foram, respectivamente, 27,7 cm e 44,5 cm. Em todas
as estações reprodutivas os peixes transpostos apresentaram CP maior que os
peixes capturados a montante (2003-2004: Z = 4,50; p < 0,01; 2005-2006: Z =
2,87; p < 0,01; 2006-2007: Z = 3,67; p < 0,01).
Leporinus copelandii
O número de L. copelandii transpostos foi reduzido. Em 2006-2007, foi
obtido o maior registro de transposição, 13 peixes. A CPUE a montante
aumentou gradualmente ao longo das estações reprodutivas, sendo o maior
valor registrado em 2006-2007. (Figura 9).
A média do CP dos L. copelandii transpostos foi maior que aqueles
capturados a montante. As maiores médias do CP dos peixes capturados a
montante foi em 2003-2004 e 2005-2006. O tamanho mínimo e máximo do CP
dos L. copelandii capturados a montante foram, respectivamente, 4,8 cm e 27,0
cm. Para os peixes transpostos, a média do CP diminuiu gradualmente ao
longo das estações reprodutivas (Figura 10). O tamanho mínimo e máximo do
CP dos L. copelandii transpostos foram, respectivamente, 20,7 cm e 40,6 cm.
Em todas as estações reprodutivas os peixes transpostos apresentaram CP
maior que os peixes capturados a montante (2003-2004: Z = 2,15; p = 0,03;
2005-2006: Z = 2,72; p < 0,01; 2006-2007: Z = 3,33; p < 0,01).
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
16
Marcação e recaptura
O total de peixes marcados foi de 2.268, sendo 1.212 P. maculatus, 977
P. vimboides, 56 L. conirostris e 23 L. copelandii (Tabela 2). O maior número
de P. maculatus marcados foi em 2006-2007, de P. vimboides em 2005-2006 e
de L. conirostris e L. copelandii em 2003-2004.
O total de peixes recapturados foi de 16, sendo quatro P. maculatus em
2005-2006, seis P. vimboides em 2003-2004 e cinco em 2005-2006, e um L.
conirostris em 2003-2004. Não foi recapturado nenhum L. copelandii (ver
Tabela 2). O percentual de recaptura para cada espécie foi de 0,3% para P.
maculatus, 1,1% para P. vimboides e 1,8% para L. conirostris. Dos 11 P.
vimboides recapturados, dois passaram pela barragem da UHE Porto Estrela e
foram recapturados a jusante e nove recapturados a montante (mesmo local
que foram soltos). Todos os P. maculatus foram recapturados a montante e o
único L. conirostris foi recapturado a jusante.
Quanto ao tempo transcorrido desde a marcação até a recaptura, o
maior foi 477 dias para um P. vimboides marcado a jusante, liberado a
montante e recapturado a montante, e o menor foram oito dias para um P.
maculatus marcado a jusante, liberado a montante e recapturado a montante.
Para os dois P. vimboides recapturados a jusante o tempo transcorrido da
marcação até a recaptura foi de 54 e 45 dias, respectivamente, enquanto que
para o L. conirostris foi de 63 dias.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
17
Influência das fases da lua e das vazões na CPUE de jusante
As fases da lua influenciaram significativamente a CPUE de P.
maculatus capturados a jusante (H = 11,03; p = 0,01). As maiores medianas
dessa CPUE ocorreram na lua nova e minguante. Por outro lado, as fases da
lua não influenciaram significativamente as CPUEs de nenhuma das outras
espécies (P. vimboides: H = 2,01; p = 0,57; L. conirostris: H = 2,36; p = 0,50; e
L. copelandii: H = 1,90; p = 0,60; Figura 11).
Os valores de vazão turbinada (Qt), vazão vertida (Qv) e vazão defluente
(Qd) variaram de 56 a 257 m3/s, 0 a 681 m3/s e 56 a 938 m3/s,
respectivamente. A CPUE de jusante de P. maculatus apresentou correlação
positiva com Qv e Qd e a CPUE de jusante de P. vimboides correlacionou-se
positivamente com Qt, Qv e Qd (Tabela 2). As CPUEs de jusante de L.
conirostris e L. copelandii não se correlacionaram com nenhuma das vazões.
Discussão
Influência da transposição na CPUE e no tamanho de P. maculatus e P.
vimboides a montante
A transposição manual de peixes na UHE Porto Estrela parece não ter
alterado a CPUE de P. maculatus de montante. De 2003-2004 a 2005-2006,
poucos peixes foram transpostos. Entretanto, as CPUEs referentes a tais
estações reprodutivas foram altas. Esse aumento na CPUE de montante não
foi devido à transposição de P. maculatus, mas, mais provavelmente, pela
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
18
elevada produtividade provocada pela formação do reservatório da UHE Porto
Estrela tal como registrado em outros reservatórios (Agostinho et al., 1999;
Agostinho et al., 2007). Em 2006-2007, o número de P. maculatus transpostos
aumentou, podendo indicar que essa espécie começou a aumentar muito a
jusante da barragem da UHE Porto Estrela. Isto pode ser reflexo da baixa
eficiência da transposição manual em transpor muitos peixes, como sugerem
Santos et al. (2008). Esses autores argumentam ainda que uma elevada
abundância de peixes a jusante de barramentos é comum, principalmente de P.
maculatus, e que pode levá-los à morte, uma vez que, eles entram nas
turbinas. Importante ressaltar que a CPUE da última estação reprodutiva
diminuiu em relação às demais, o que pode ser em função da redução da
produtividade do reservatório (Agostinho et al., 1999; Agostinho et al., 2007).
A redução do tamanho mínimo do CP dos P. maculatus capturados a
montante na última estação reprodutiva indica uma possível ocorrência de
recrutamento no reservatório, pois foram capturados indivíduos imaturos. Isso
significa que essa espécie está conseguindo se reproduzir mesmo sob a
influência da barragem da UHE Porto Estrela e com a presença do ambiente
lêntico. Como P. maculatus foi a espécie mais transposta, existem mais
indivíduos a montante desovando, o que, necessariamente, implica em maior
recrutamento futuro (Myers & Barrowman, 1996). A alteração de ambiente
lótico para lêntico favorece o rápido estabelecimento das espécies exóticas
não-migradoras (Petts, 1989). Como P. maculatus é uma espécie exótica
(Vieira, 2006; Froese & Pauly, 2008) e sua característica migradora tem sido
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
19
questionada nos últimos anos por Agostinho et al. (2007b), o fato de ela
conseguir se perpetuar poderá causar problemas futuros às demais populações
de peixes da sub-bacia do rio Santo Antônio, como redução da riqueza e
diversidade, com redução das espécies nativas e aumento da dominância de
poucas espécies, sobretudo das exóticas, como tem sido relatado por diversos
autores em outras bacias hidrográficas do país (e.g. Godinho et al., 1991;
Oldani & Baigún, 2002; Fernandez et al., 2004; Vono et al., 2004; Bizzoto,
2006; Agostinho et al., 2007a; Agostinho et al., 2007b; Fernandez et al., 2007a;
Oldani et al., 2007; Pompeu & Martinez, 2007; Silva, 2008).
Para P. vimboides, a transposição manual não influenciou a sua CPUE
nem sua estrutura em tamanho a montante, com exceção de 2005-2006. A
elevada CPUE de P. vimboides em 2005-2006 pode está associada à
transposição manual, visto que, as capturas nessa estação reprodutiva foram a
segunda maior em número de peixes transpostos e esses foram maiores que
aqueles capturados a montante. Logo, seria resultado da reprodução dos
peixes transpostos. Além disso, o número de P. vimboides transpostos diminuiu
ao longo do tempo (Figura 7). Agostinho et al. (1999) relatam que alterações na
composição e abundância de espécies é um efeito muito comum em
barramentos. Algumas espécies podem se proliferar, como é o caso de P.
maculatus, e outras pode reduzir, chegando, até mesmo, ao desaparecimento,
como parece está acontecendo com P. vimboides neste trecho do rio Santo
Antônio.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
20
Entretanto, outras hipóteses podem ser levantadas para explicar as
elevadas CPUEs de P. maculatus e P. vimboides a montante. As altas CPUEs
nas estações reprodutivas em que foram transpostos poucos peixes podem ser
resultado do aprisionamento de cardumes a montante durante o fechamento
das comportas, como sugere Agostinho et al. (2007), ou então, em função da
descida de peixes, incluindo jovens, dos dois TVRs a montante da UHE Porto
Estrela. Os dois TVRs podem ter aprisionado ovos e larvas nas cheias
anteriores, e lá se desenvolvido. Nessa estação reprodutiva em específico, as
cheias podem ter facilitado a descida dos juvenis para o reservatório da UHE
Porto Estrela. Essa última hipótese não se aplica a P. maculatus, pois não
existem relatos da ocorrência dessa espécie a montante da UHE Salto Grande
(Fábio Vieira, com. pes.).
Influência da transposição na CPUE e no tamanho de L. conirostris e L.
copelandii a montante
A transposição manual de L. conirostris e L. copelandii não influenciou a
CPUE a montante. Somente em 2003-2004, pode-se supor que a transposição
de L. conirostris pode ter contribuído com sua elevada CPUE a montante.
Apesar da variação da CPUE de L. copelandii a montante ser semelhante à
variação do número de peixes transpostos, é provável, assim como em P.
maculatus e P. vimboides, que essa CPUE seja reflexo do aprisionamento de
peixes no reservatório, fazendo com que haja uma manutenção dessa
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
21
população, como sugere Agostinho et al. (1999), ou os peixes são provenientes
dos TVRs a montante do reservatório de Porto Estrela. Daí a necessidade da
transposição com fins genéticos, para que não haja uma deterioração gênica
das populações de montante (Agostinho et al., 2002; Godinho & Kynard, 2009).
Em relação à estrutura em tamanho, todos os L. conirostris e L.
copelandii transpostos apresentaram CP maior que os peixes capturados a
montante. A não captura a montante de peixes dos mesmos tamanhos
transpostos sugere que L. conirostris e L. copelandii possam ficar curto período
de tempo nesse local. Ou eles estão passando pelas turbinas e/ou vertedouro,
como observaram Pompeu & Martinez (2003b) na UHE Santa Clara, ou estão
procurando trechos não-represados a montante do reservatório para desovar,
como sugerem Agostinho et al. (2007), e por isso não estão sendo capturados.
Marcação e recaptura
O método de marcação e recaptura é importante em estudos de ecologia
de populações (Greenwood, 1997). Tal método pode ser usado para se
conhecer a estrutura etária e o crescimento de uma população, a distribuição
dessa população no ambiente, o padrão de migrações de seus indivíduos e o
tamanho do estoque pesqueiro de uma região (Nomura, 1975). O
conhecimento das migrações realizadas pelos peixes é fundamental para saber
quais são os locais de desova, de desenvolvimento inicial, alimentação e
refúgio (Godinho & Pompeu, 2003). Além disso, é possível saber se os peixes
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
22
estão conseguindo transpor algum obstáculo durante as migrações, como por
exemplo, um empreendimento hidrelétrico.
As recapturas de dois P. vimboides e um L. conirostris a jusante da
barragem da UHE Porto Estrela mostra que as turbinas e/ou vertedouro têm
sido utilizados pelos peixes para retornar a jusante. Entretanto, esses caminhos
podem trazer danos irreversíveis aos peixes que as utilizam, que vão desde
lesões até morte (Pompeu & Martinez, 2003b).
Contudo, as recapturas estiveram muito aquém do número de peixes
marcados. Foi marcado um total de 2.268 peixes e apenas 16 peixes foram
recapturados. O principal fator relacionado ao baixo número de recapturas foi o
pequeno esforço de pesca empregado. O conjunto de redes utilizado nas
capturas a montante e os arremessos de tarrafa realizados a jusante foram
insuficientes para proporcionar uma taxa de recaptura adequada. Além disso, a
outra forma de obtenção das recapturas foi através dos pescadores
profissionais e amadores que existem na região. Entretanto, esse método é
falho, pois os pescadores não costumam devolver as marcas encontradas. Isso
foi relatado por Godoy (1975) em um estudo de marcação e recaptura com L.
friderici no rio Mogi Guaçu, Cachoeira de Emas. Ele comentou que foram
marcados 3.673 peixes e apenas 6,45% (237 peixes) foram recapturados, e
que esse número deveria ter sido maior se alguns pescadores tivessem
devolvido as marcas.
As baixas freqüências de recaptura também foram em função da baixa
durabilidade da marca utilizada em tal procedimento. Tal fato foi testado e
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
23
confirmado por Silva (2008) em um trabalho de marcação e recaptura no rio
Grande onde foram marcados ao todo 40.651 peixes com uma pistola do tipo
“Fix Pin” e ela verificou que 22,3% dos peixes haviam perdido a marca. Embora
o método de marcação usado no presente estudo seja diferente, a durabilidade
da marca é muito variável, podendo se perder rapidamente ou permanecer por
mais de 1 ano, como no P. vimboides que foi recapturado após 477 dias da
marcação ter ocorrida.
Influência das fases da lua e das vazões no número de peixes transpostos
Os ciclos lunares apresentam intervalos de aproximadamente um mês, e
esses incluem: fases da lua, o tempo de ascensão lunar, sua relação com o
ciclo solar e sua movimentação no céu (Leatherland et al., 1992). A
sincronização dos comportamentos dos peixes com tais ciclos lunares pode
estimular o crescimento, a alimentação, a migração e o comportamento
(Bayley, 1973; Welcomme, 1985; Petrere Jr., 1989; Rossiter, 1991; Luecke &
Wurtsbaugh, 1993; Gaudreau & Boisclair, 2000; Rahman et al., 2004;
Takemura et al., 2004; Bizzotto, 2006; Bizzotto et al., 2009).
Entretanto, assim como relatam Naylor (2001) e Takemura et al. (2004),
as avaliações dos ciclos lunares sobre os diversos comportamentos dos peixes
ainda são baseadas em suposições ou são circunstanciais. Segundo Takemura
et al. (2004), a iluminação refletida pela lua favoreceria a maturação gonadal, o
encontro de parceiros sexuais e, conseqüentemente, o sucesso da desova.
Contudo, cada espécie possui estratégias reprodutivas diferentes à percepção
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
24
dos ciclos lunares. Naylor (2001) acredita que outros fatores como fotoperíodo
e temperatura são mais importantes que as fases da lua no desenvolvimento
de processos reprodutivos em algumas espécies.
Várias são as provas que indicam a influência das fases da lua sobre o
comportamento de peixes. Os peixes têm a capacidade de detectar as fases da
lua através de órgãos fotossensoriais (retina e glândula pineal; Rahman et al.,
2004), e isso resulta em modificações fisiológicas ou comportamentais, como
picos de concentração de estradiol e testosterona na lua cheia (Takemura et
al., 2004), aumento do número de peixes em migrações ascendentes na lua
cheia (Bayley, 1973; Welcomme, 1985; Bizzoto et al., 2009), migrações das
lagoas laterais para os rios principais na lua cheia (Petrere Jr., 1989),
sincronismos das desovas com a lua cheia para facilitar o cuidado parental dos
filhotes contra predadores noturnos (Rossiter, 1991) e grande número de
migrações de algumas espécies em luas que refletem baixa luminosidade
como forma de diminuir a vulnerabilidade aos predadores (Luecke &
Wurtsbaugh, 1993; Gaudreau & Boisclair, 2000).
Exceto a CPUE de P. maculatus, as fases da lua não causaram efeitos
visíveis nas CPUES de jusante das demais espécies. O maior número de
indivíduos capturados na lua nova, quando as noites são mais escuras, sugere
que P. maculatus prefira migrar nessas condições, em função da menor
vulnerabilidade aos predadores durante as migrações ascendentes, conforme
relatam Gaudreau & Boisclair (2000) para peixes de um lago oligotrófico.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
25
As características de migrações de peixes são bastante complexas,
possuindo algumas semelhanças e várias diferenças de espécie para espécie,
e de bacia para bacia (Petrere Jr., 1985). A migração de peixes a montante, via
de regra, é estimulada por fatores abióticos como temperatura, velocidade da
água, vazão e nível do rio, em complemento aos estímulos endógenos (Bond,
1979; Godoy, 1985; Petrere Jr., 1985; Vazzoler, 1996).
As vazões turbinada, vertida e defluente da UHE Porto Estrela foram
importantes para o número de indivíduos transpostos de P. vimboides, uma vez
que o número de indivíduos transpostos aumentou conforme o aumento das
vazões. Em P. maculatus, o aumento da vazão vertida e defluente
influenciaram o número de indivíduos transpostos. O número de L. conirostris e
L. copelandii transpostos foi indiferente aos níveis das diferentes vazões. Isto
sugere que essas vazões estão exercendo estímulos à movimentação dessas
espécies para montante (Clay, 1995; Larinier, 2002a, b), mas com
comportamentos específicos a cada espécie, conforme relatado por Petrere Jr.
(1985).
Implicações sobre conservação e manejo
Toda e qualquer ação proposta para a conservação de populações de
peixes e estoques pesqueiros deve ser baseada em conhecimento científico
robusto. Embora não se tenha feito nenhum trabalho junto aos pescadores
nesse estudo, considero-os importantes peças deste quebra-cabeça, visto que,
conhecem muito bem o seu meio de sobrevivência. Além disso, qualquer
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
26
medida tomada os afetará (Agostinho et al., 2002). Com base nessa sabedoria
empírica, é possível elaborar uma metodologia consistente para propor um
planejamento global de ação baseado em objetivos mais focados na resolução
dos problemas.
Para que a transposição tenha sucesso permitindo a reprodução das
espécies transpostas e garantindo a conservação das populações e estoques
pesqueiros, algumas etapas são necessárias. De acordo com Agostinho et al.
(2002), essas etapas são: (i) encontro de locais apropriados à desova; (ii)
desova; (iii) ovos e larvas devem ser carreados pelo rio até atingir ambientes
apropriados ao desenvolvimento inicial; (iv) os adultos transpostos devem
retornar a jusante juntamente com parte da coorte gerada. Por isso a
necessidade de sistemas que também transponham peixes de montante para
jusante (Godinho & Pompeu, 2003; Agostinho & Gomes, 2006; Oldani et al.,
2007). Além disso, para o bom emprego da transposição e para que ela tenha
sucesso, é preciso definir com clareza quais são os objetivos a serem
alcançados. Isso incidirá diretamente sobre os resultados e, principalmente,
fomentará toda ação tomada durante os trabalhos (Agostinho et al., 2007).
Os resultados obtidos nesse trabalho e relatos de Fábio Vieira (com.
pes.) permitem afirmar que há recrutamento na área de estudo, embora não
estejam sendo decisivos na manutenção das populações das espécies
estudadas. Entretanto, não se sabe a origem desses jovens. Hipóteses foram
levantadas para tentar explicá-las: (i) estão vindo a montante da barragem da
UHE Salto Grande (seta verde) no rio Santo Antônio; (ii) são provenientes do
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
27
trecho de vazão reduzida entre a UHE Salto Grande e a UHE Porto Estrela
(seta amarela); ou (iii) ambos (Figura 12). Os locais a montante da barragem
da UHE Porto Estrela ainda permitem recrutamento em P. maculatus, P.
vimboides, L. conirostris e L. copelandii, o que é uma prova de que a
transposição manual que tem sido feita na UHE Porto Estrela, apesar de não
transpor uma quantidade significativa de peixes como em outros STPs, tem
garantido a conexão entre jusante e montante. Entretanto, a transposição
manual não está sendo decisiva na manutenção das populações destas
espécies no rio Santo Antônio, visto que, os jovens, provavelmente, são
resultantes de outros processos, conforme já foram comentados. Ainda assim,
defende-se essa transposição, devido ao seu caráter de reduzir o processo de
deterioração gênica dessas espécies, sobretudo das nativas, já que ela tem
garantido a conexão jusante-montante (Godinho & Kynard, 2009). Então, a
transposição não é suficiente para evitar a extinção, mas para criar um fluxo
gênico entre as populações.
Ademais, a transposição manual além de cumprir seu papel como
alternativa de cumprimento à legislação mineira (Minas Gerais, Lei n° 12.488,
de 09/04/1997), não tem funcionado como uma fonte de impacto, como relata
Agostinho et al. (2002). Pelo contrário, há recrutamento, embora pouco, a
montante da barragem da UHE Porto Estrela. Além disso, migrações não
reprodutivas também são importantes, pois possibilitam a conservação de
estoques pesqueiros e conseqüente diminuição da pressão de predação e
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
28
pesca pelos moradores do entorno da UHE Porto Estrela (Godinho & Kynard,
2009).
Estudo sobre coletas de ovos e larvas começou a ser desenvolvido na
piracema de 2008-2009 (inf. pessoal), mas ainda está em fase preliminar.
Contudo, existe a necessidade de uma durabilidade maior de tal estudo para
afirmar a(s) origem(ns) certa(s) desses ovos e larvas.
Além disso, mais estudos são necessários para entender outros
processos biológicos. É preciso saber onde essas espécies estão se
reproduzindo; se os adultos que estão sendo transpostos conseguem retornar
para jusante; se a coorte gerada também retorna para jusante ou não; se não
retornam a jusante, o que fazem à montante; se existem locais adequados e
bem conservados que permitem que essas espécies permaneçam à montante;
é necessário avaliar qual a taxa de mortalidade dos ovos e larvas que são
carreados pelo rio; quem são os principais predadores; se a usina é um
obstáculo à migração passiva desses ovos e larvas; qual a taxa de mortalidade
de adultos e coorte gerada ao atravessar a usina; e qual a qualidade gênica
das populações. São todas questões pertinentes que ainda não têm respostas
ou que precisam ser mais aprofundadas.
Conclusões
O número de peixes transpostos não foi suficiente para alterar as
populações de montante de P. maculatus, P. vimboides, L. conirostris e L.
copelandii a montante, visto que, as variações na CPUE e a estrutura em
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
29
tamanho dos peixes capturados foram, provavelmente, devido às oscilações na
produtividade do reservatório e aprisionamento dos peixes neste no
fechamento das comportas.
Embora haja indícios de recrutamento a montante nas espécies
estudadas, ele não é resultado da transposição manual, e sim, à possível
descida de jovens dos TVRs ou aprisionamento de peixes no reservatório
devido ao fechamento das comportas. O trabalho de marcação e recaptura
revelou que alguns peixes estão conseguindo retornar a jusante, ou pelas
turbinas ou pelo vertedouro. Isso significa que a UHE Porto Estrela tem
permitido o retorno de parte dos peixes que foram transpostos.
As vazões da UHE Porto Estrela têm estimulado a captura de P.
maculatus e P. vimboides. Pimelodus maculatus foi mais capturado nas noites
mais escuras, ou seja, lua nova.
Referências bibliográficas
AGOSTINHO, A. A. & GOMES, L. C. 2006. O manejo da pesca em reservatórios da bacia do alto rio Paraná: avaliação e perspectivas. In: NOGUEIRA, M. G.; R. HENRY & A. JORCIN (Ed.). Ecologia de reservatórios: impactos potenciais, ações de manejo e sistemas em cascata. São Carlos: RiMa, 2ª ed, p. 23-56.
AGOSTINHO, A. A.; MIRANDA, L. E.; BINI, L. M.; GOMES, L. C.; THOMAZ, S. M. & SUZUKI, H. I. 1999. Patterns of colonization in Neotropical reservoirs, and prognoses on aging. In: TUNDISI, J. G. & M. STRASKRABA (Ed.). Theoretical reservoir ecology and its applications. São Carlos: International Institute of Ecology; Leiden, The Netherlands; Backhuys Publishers; Rio de Janeiro; Brazilian Academy of Sciences, 1 ed., p. 227-265.
AGOSTINHO, A. A.; GOMES, L. C.; FERNANDEZ, D. R. & SUZUKI, H. I. 2002. Efficiency of fish ladders for neotropical ichthyofauna. River Research and Applications, 18(3): 299-306.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
30
AGOSTINHO, A. A.; MARQUES, E. E.; AGOSTINHO, C. S.; ALMEIDA, D. A.; OLIVEIRA, R. J. & MELO, J. R. B. 2007. Fish ladder of Lajeado Dam: migrations on one-way routes? Neotropical Ichthyology, 5(2): 121-130.
AGOSTINHO, C. S.; AGOSTINHO, A. A.; PELICICE, F. M.; ALMEIDA, D. A. & MARQUES, E. E. 2007a. Selectivity of fish ladders: a bottleneck in neotropical fish movement. Neotropical Ichthyology, 5(2): 205-213.
AGOSTINHO, C. S.; PEREIRA, C. R.; OLIVEIRA, R. J.; FREITAS, I. S. & MARQUES, E. E. 2007b. Movements through a fish ladder: temporal patterns and motivations to move upstreams. Neotropical Ichthyology, 5(2): 161-167.
ANEEL. 2002. Atlas de energia elétrica do Brasil. Brasília: ANEEL, 153 p. ANEEL. 2008. Banco de Informações de Geração.
<http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/ResumoEstadual/CapacidadeEstado.asp?cmbEstados=MG:MINAS%20GERAIS>. Acesso em 18 novembro 2008.
ANTUNES, F. Z. 1986. Caracterização climática do estado de Minas Gerais. Informe Agropecuário, 12(138): 9-13.
BAYLEY, P. B. 1973. Studies on the migratory characin, Prochilodus platensis Holmberg 1889, (Pisces, Characoidei) in the river Pilcomayo, South America. Journal of Fish Biology, 5(1): 25-40.
BENGEYFIELD, W.; HAY, D.; JOYCE, S. & GREENBANK, J. 2001. Evaluation of restoring historic passage for anadromous fish at BC Hydro Facilities. British Columbia, Burnaby: Power Supply Environment BC Hydro, 194 p.
BIZZOTTO, P. M. 2006. Trânsito de peixes na escada da UHE-Igarapava, rio Grande, Alto Paraná. (Mestrado). Departamento de Zoologia de Vertebrados, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte. 52 p.
BIZZOTTO, P. M.; GODINHO, A. L.; VONO, V.; KYNARD, B. & GODINHO, H. P. 2009. Influence of seasonal, diel, lunar, and other environmental factors on upstream fish passage in the Igarapava Fish Ladder, Brazil. Ecology of Freshwater Fish, 18: 461-472.
BOND, C. E. 1996. Biology of Fishes. Florida, Orlando: Saunders College Publishing, 2ª ed., 750 p.
CASTRO, R. M. C.; VARI, R. P.; VIEIRA, F. & OLIVEIRA, C. 2004. Phylogenetic analysis and redescription of the Genus Henochilus (Characiformes: Characidae). Copeia, 2004(3): 496-506.
CBH - RIO DOCE. 2008. A bacia do rio Doce. <www.riodoce.cbh.gov.br>. Acesso em 14 novembro 2008.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
31
CETEC. 1983. Diagnóstico ambiental do estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais, 1ª ed, 158 p. (Série de Publicações Técnicas, 10.)
CLAY, C. H. 1995. Design of fishways and other fish facilities. Boca Raton: Lewis Publishers, 2 ed., 248 p.
CONSERVATION INTERNATIONAL. 2000. Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica e Campos Sulinos. Brasília: MMA/SBF, 40 p.
DOU. 2003. Processo de Compensação Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos para Geração Hidrelétrica. Brasília: Diário Oficial União, seção 1, v. 140, n. 42. p. 73. (Relatório sobre processo)
DRUMMOND, G. M.; MARTINS, C. S.; MACHADO, A. B. M.; SEBAIO, F. A. & ANTONINI, Y. 2005. Biodiversidade em Minas Gerais: um atlas para sua conservação. Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas, 2ª ed, 222 p.
FERNANDEZ, D. R.; AGOSTINHO, A. A. & BINI, L. M. 2004. Selection of an experimental fish ladder located at the dam of the Itaipu Binacional, Paraná river, Brazil. Brazilian Archives of Biology and Technology, 47(4): 579-586.
FERNANDEZ, D. R.; AGOSTINHO, A. A.; BINI, L. M. & GOMES, L. C. 2007a. Environmental factors related to entry into and ascent of fish in the experimental ladder located close to Itaipu Dam. Neotropical Ichthyology, 5(2): 153-160.
FERNANDEZ, D. R.; AGOSTINHO, A. A.; BINI, L. M. & PELICICE, F. M. 2007b. Diel variation in the ascent of fishes up an experimental fish ladder at Itaipu reservoir: fish size, reproductive stage and taxonomic group influences. Neotropical Ichthyology, 5(2): 215-222.
FROESE, R. & PAULY, D. 2008. FishBase. <www.fishbase.org>. Acessado em 20 dezembro 2008.
GAUDREAU, N. & BOISCLAIR, D. 2000. Influence of moon phase on acoustic estimates of the abundance of fish performing daily horizontal migration in a small oligotrophic lake. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, 57(3): 581-590.
GODINHO, H. P. & GODINHO, A. L. 1994. Ecology and conservation of fish in southeastern Brazilian river basins submitted to hydroelectric impoundments. Acta Limnologica Brasiliensia, 5(1): 187-197.
GODINHO, A. L. & KYNARD, B. 2009. Migratory fishes of Brazil: life history and fish passage needs. River Research and Applications, 25: 702-712.
GODINHO, A. L. & POMPEU, P. S. 2003. A importância de ribeirões para os peixes de piracema. In: GODINHO, H. P. & A. L. GODINHO (Ed.). Águas, peixes e
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
32
pescadores do São Francisco das Gerais. Belo Horizonte: PUC Minas, p. 361-372.
GODINHO, H. P.; GODINHO, A. L.; FORMAGIO, P. S. & TORQUATO, V. C. 1991. Fish ladder efficiency in a southeastern Brazilian river. Ciência e Cultura, 43(1): 63-67.
GODOY, M. P. 1975. Peixes do Brasil. Subordem Characoidei. Bacia do rio Mogi Guassu. Piracicaba: Franciscana, 399-628 p.
GODOY, M. P. 1985. Aquicultura - atividade multidisciplinar. Escadas e outras facilidades para passagens de peixes. Estações de piscicultura. Florianópolis: Eletrosul, 77 p.
GREENWOOD, J. J. D. 1997. Basic techniques. In: SUTHERLAND, W. J. (Ed.). Ecological census techniques: a handbook. Cambridge, United Kingdom: Cambridge University Press, 1ª ed., p. 336.
HIDROTEC. 2008. Atlas Digital das Águas de Minas: uma ferramenta para o planejamento e gestão dos recursos hídricos no Estado de Minas Gerais. <http://www.hidrotec.ufv.br/index.php?pag=atlas_digital/atlas_digital.html>. Acesso em 14 novembro 2008.
KOEPPEN, W. 1948. Climatologia: con un estudio de los climas de la tierra. México: Fondo de Cultura Economica, 1ª ed, 478 p.
KYNARD, B. E. 1993. Anadromous fish behaviour important for fish passage. Canadian Technical Report of Fisheries and Aquatic Sciences, 1905: 95-105.
LARINIER, M. 2002a. Fishways: general considerations. In: LARINIER, M.; F. TRAVADE & J. P. PORCHER (Ed.). Fishways: biological basis, design criteria and monitoring. França: Bulletin Français de la Pêche et de la Pisciculture, 364 supplement, chapter 2, p. 21-27.
LARINIER, M. 2002b. Location of fishways. In: LARINIER, M.; F. TRAVADE & J. P. PORCHER (Ed.). Fishways: biological basis, design criteria and monitoring. França: Bulletin Français de la Pêche et de la Pisciculture, 364 supplement, Chapter 4, p. 39-53.
LARINIER, M. & MARMULLA, G. 2004. Fish passes: types, principles and geographical distribution - an overview. Second International Symposium on the Management of Large Rivers Fisheries. Thailand, Bangkok: FAO Regional Office for Asia and the Pacific. p. 183-206.
LEATHERLAND, J. F.; FARBRIDGE, K. J. & BOUJARD, T. 1992. Lunar and semi-lunar rhythms in fishes. In: ALI, M. A. (Ed.). Rhythms in Fishes. New York: Plenum Press, p. 83-108.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
33
LUECKE, C. & WURTSBAUGH, W. A. 1993. Effects of moonlight and daylight on hydroacoustic estimates of pelagic fish abundance. Transactions of the American Fisheries Society, 122(1): 112-120.
MINAS GERAIS. 1997. Lei nº 12.488, de 10 de abril de 1997. Torna obrigatória a construção de escadas para peixes de piracema em barragem edificada no estado. Minas Gerais, Órgão Oficial dos Poderes do Estado, Belo Horizonte: Diário do Executivo, p. 1. (Lei Estadual)
MYERS, R. A. & BARROWMAN, N. J. 1996. Is fish recruitment related to spawner abundance? Fishery Bulletin, 94(4): 707-724.
NAYLOR, E. 2001. Marine animal behaviour in relation to lunar phase. Earth, Moon and Planets, 85-86(0): 291-302.
NOMURA, H. 1975. Marcação e migração da piava, Leporinus copelandii Steindachner, 1875 (Osteichthyes, Anostomidae) do rio Mogi Guaçu, São Paulo. Revista Ceres, 22(123): 332-340.
OLDANI, N. O. & BAIGÚN, C. R. M. 2002. Performance of a fishway system in a major South American dam on the Paraná River (Argentina-Paraguay). River Research and Applications, 18(2): 171-183.
OLDANI, N. O.; BAIGÚN, C. R. M.; NESTLER, J. M. & GOODWIN, R. A. 2007. Is fish passage technology saving fish resources in the lower La Plata River basin? Neotropical Ichthyology, 5(2): 89-102.
PETRERE JR, M. 1985. Migraciones de peces de agua dulce en America Latina: algunos comentarios. COPESCAL Documento Ocasional, Roma, (1): 17.
PETRERE JR, M. 1989. River fisheries in Brazil: a review. Regulated Rivers: Research and Management, 4(1): 1-16.
PETTS, G. E. 1989. Perspectives for ecological management of regulated rivers. In: GORE, J. A. & G. E. PETTS (Ed.). Alternatives in regulated river management. Boca Raton, Florida: CRC Press, chapter 1, p. 3-24.
POMPEU, P. S. & MARTINEZ, C. B. 2003a. A transposição de peixes através de elevadores com caminhões tanque. CPH Notícias/SHP News, 5(18): 22-23.
POMPEU, P. D. S. & MARTINEZ, C. B. 2003b. Novos desafios a serem enfrentados por biólogos e engenheiros para a conservação da ictiofauna brasileira. Seminário de Divulgação do Centro de Pesquisas Hidráulicas e Recursos Hídricos. UFMG, Belo Horizonte: Centro de Pesquisas Hidráulicas e Recursos Hídricos. p. 4.
POMPEU, P. S. & MARTINEZ, C. B. 2005a. A transposição manual de peixes em barramentos de usinas hidrelétricas. XI Encuentro Latinoamericano en Pequeños Aprovechamientos Hidrelétricos. Chile, Valparaiso. p. 5.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
34
POMPEU, P. S. & MARTINEZ, C. B. 2005b. Estabelecimento da regra operativa de um mecanismo de transposição de peixes do tipo elevador com caminhão-tanque. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, 10(4): 31-42.
POMPEU, P. S. & MARTINEZ, C. B. 2007. Efficiency and selectivity of a trap and truck fish passage system in Brazil. Neotropical Ichthyology, 5(2): 169-176.
RAHMAN, M. S.; KIM, B.-H.; TAKEMURA, A.; PARK, C.-B. & LEE, Y.-D. 2004. Influence of light-dark and lunar cycles on the ocular melatonin rhythms in the seagrass rabbitfish, a lunar-synchronized spawner. Journal of Pineal Research, 37(2): 122-128.
ROSSITER, A. 1991. Lunar spawning synchroneity in a freshwater fish. Naturwissenschaften, 78(4): 182-184.
SANTOS, H. A.; POMPEU, P. S.; VICENTINI, G. S. & MARTINEZ, C. B. 2008. Swimming performance of the freshwater neotropical fish: Pimelodus maculatus Lacépède, 1803. Brazilian Journal of Biology, 68(2): 433-439.
SILVA, F. O. 2008. Transposição de peixes pelo elevador de Funil, rio Grande, MG. (Mestrado). Instituto de Ciências Biológicas, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 54 p.
TAKEMURA, A.; RAHMAN, M. S.; NAKAMURA, S.; PARK, Y. J. & TAKANO, K. 2004. Lunar cycles and reproductive activity in reef fishes with particular attention to rabbitfishes. Fish and Fisheries, 5(4): 317-328.
TÁRSIA, R. 2008. Efemérides astronômica. <http://www.fisica.ufmg.br/~astrof/docs/efemerides>. Acesso em agosto 2008.
TORLONI, C. E. 1994. The management of fish resources in the reservoirs of the São Paulo Electricity Company – CESP. Acta Limnologica Brasiliensia, 5(1): 177-186.
TUNDISI, J. G. & STRASKRABA, M. 1994. Ecological basis for the application of ecotechnologies to watershed/reservoir and management. Acta Limnologica Brasiliensia, 5(1): 49.
VAZZOLER, A. E. A. M. 1996. Biologia da reprodução de peixes teleósteos: teoria e prática. Maringá: EDUEM, 169 p.
VELOSO, H. P.; RANGEL FILHO, A. L. R. & LIMA, J. C. A. 1991. Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro: IBGE, Departamento de Recursos Naturais e Estudos Ambientais, 124 p.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
35
VIEIRA, F. 2006. A ictiofauna do rio Santo Antônio, bacia do rio Doce, MG: proposta de conservação. (Doutorado). Instituto de Ciências Biológicas - Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 101 p.
VIEIRA, F. & ALVES, C. B. M. 2001. Threatened fishes of the world: Henochilus wheatlandii Garman, 1890 (Characidae). Environmental Biology of Fishes, 62(4): 414.
VONO, V.; BIZZOTTO, P. M.; GODINHO, H. P.; GODINHO, A. L. & KYNARD, B. E. 2004. Fish passage at the Igarapava fish ladder, river Grande, Brazil. VI International Congress on the Biology of Fish. Amazonas, Manaus: American Fisheries Society. p. 1-5.
WELCOMME, R. L. 1985. River fisheries. FAO Fisheries Technical Paper, (262): 330.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
36
Tabela 1. Lista em ordem alfabética dos peixes capturados no rio Santo
Antônio a jusante e a montante da barragem da UHE Porto Estrela. N jusante =
número de peixes capturados a jusante; N montante = número de peixes
capturados a montante; j = capturada a jusante; m = capturada a montante; t =
espécie transposta; e = espécie exótica.
Taxa N jusante N montante Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758) m 0 861 Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819) m 0 1049 Astyanax sp. j, m 3 34 Astyanax taeniatus (Jenyns, 1842) m 0 40 Brycon sp. m 0 2 Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758) m 0 3 Cichlasoma facetum (Jenyns, 1842) m 0 1 Clarias gariepinnus j, e 5 0 Delturus carinotus (LaMonte, 1933) j, m, t 17 54 Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) m 0 106 Glanidium sp. m 0 5 Gymnotus carapo Linnaeus (1758) m 0 42 Henochilus wheatlandii Garman (1890) m 0 11 Hoplias intermedius Ribeiro (1908) j, m 19 57 Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) j, m, t 8 11 Hoplosternum littoralle (Hancock, 1828) j, m, e 1 3 Hypostomus sp. j, m, t 37 29 Leporinus conirostris Steindachner (1875) j, m, t 96 73 Leporinus copelandii Steindachner (1875) j, m, t 32 35 Leporinus mormyrops Steindachner (1875) j, m, t 2 25 Leporinus sp. j 27 0 Lophiosilurus alexandri (Steindachner, 1876) j, m, e 53 7 Loricariichthys castaneus (Castelnau, 1855) m 0 6 Oligosarcus argenteus Guenter (1864) j, m 4 670 Oreochromis sp. j, m, e 2 4 Pachyurus adspersus (Steindachner, 1878) j, m 1 60 Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887) m, e 0 23 Pimelodus maculatus Lacepède (1917) j, m, t, e 1510 71 Pogonopoma wertheimeri (Steindachner, 1867) j, m, t, e 4 43 Prochilodus costatus (Cuvier & Valenciennes, 1849) j, m, e 875 4 Prochilodus vimboides Kner (1859) j, m, t 1210 17 Pseudoplatystoma sp. j, m, e 19 4 Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) j, m, t 3 25 Salminus brasiliensis (Cuvier, 1816) j, m, e 632 2 Tilapia sp. j, m, e 3 7 Trachelyopterus striatulus (Steindachner, 1876) j, m 13 112
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
37
Tabela 2. Número de P. maculatus, P. vimboides, L. conirostris e L. copelandii
marcados (M) e recapturados (R) em cada estação reprodutiva. A porcentagem
de recapturas está entre parênteses.
Espécie 2003-2004 2005-2006 2006-2007 Total
M R M R M R M R (%)
P. maculatus 68 0 187 4 957 0 1212 4 (0,3)
P. vimboides 409 6 479 5 89 0 977 11 (1,1)
L. conirostris 35 1 15 0 6 0 56 1 (1,8)
L. copelandii 9 0 7 0 7 0 23 0 (0)
Total 521 9 688 11 1059 0 2268 16 (0,7)
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
38
Tabela 3. Correlação de Spearman entre CPUE de jusante e vazões turbinada
(Qt), vertida (Qv) e defluente (Qd) para P. maculatus, P. vimboides, L.
conirostris e L. copelandii.
*p < 0,05
Espécie Vazão
Qt Qv Qd
Pimelodus maculatus 0,05 0,27* 0,22* Prochilodus vimboides 0,24* 0,23* 0,26* Leporinus conirostris -0,04 0,13 0,0007 Leporinus copelandii 0,41 -0,09 0,22
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
39
Figura 1. Mapa da bacia do rio Doce e em destaque a sub-bacia do rio Santo
Antônio. Os rios destacados na sub-bacia do rio Santo Antônio são seus
principais afluentes.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
40
Figura 2. Sub-bacia do rio Santo Antônio e localização da UHE Porto Estrela.
Fonte: Consórcio Aproveitamento Hidrelétrico de Porto Estrela. Relatório de
consolidação de projeto básico. Volume II – Desenhos.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
41
Figura 3. Vista aérea de um trecho do rio Santo Antônio, a montante do
reservatório da UHE Porto Estrela. O rio Santo Antônio possui um TVR a
jusante de uma das barragens da UHE Salto Grande (1) e existe outro TVR a
jusante da outra barragem da UHE Salto Grande localizada no rio Guanhães
(2).
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
42
Figura 4. Foto aérea da barragem da UHE Porto Estrela, rio Santo Antônio. O
ponto vermelho indica o local de soltura dos peixes capturados a jusante.
Fonte: Consórcio Porto Estrela.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
43
Figura 5. Espécies utilizadas nas análises em função de suas abundâncias na
transposição e nas capturas a montante. De cima para baixo: Pimelodus
maculatus, Prochilodus vimboides, Leporinus conirostris e Leporinus
copelandii.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
44
2003-2004 2006-20070
1
2
CP
UE
n
A
2003-20042005-2006
2006-2007
Estações reprodutivas
0
1
2
N (x
1000
)
B
Figura 6. CPUE a montante (A) e número de peixes (N) transpostos (B) de P.
maculatus por estações reprodutivas.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
45
2003-2004 2006-20070,0
0,2
0,4
0,6
CP
UE
n
A
2003-20042005-2006
2006-2007
Estações reprodutivas
0
3
6
9
12
N (x
100)
B
Figura 7. CPUE a montante (A) e número de peixes (N) transpostos (B) de P.
vimboides por estações reprodutivas.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
46
2003-2004 2006-20070
1
2
CP
UE
n
A
2003-20042005-2006
2006-2007
Estações reprodutivas
0
2
4
6
8
N (x
10)
B
Figura 8. CPUE a montante (A) e número de peixes (N) transpostos (B) de L.
conirostris por estações reprodutivas.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
47
2003-2004 2006-20070,0
0,2
0,4
0,6
0,8
CP
UE
n
A
2003-20042005-2006
2006-2007
Estações reprodutivas
0,0
0,5
1,0
1,5
N (x
10)
B
Figura 9. CPUE a montante (A) e número de peixes (N) transpostos (B) de L.
copelandii por estações reprodutivas.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
48
2003 2004 2005 2006 2006 200710
20
30
40C
ompr
imen
to p
adrã
o m
édio
(cm
)P. maculatus
**
2003 2004 2005 2006 2006 200710
20
30
40
50
Com
prim
ento
pad
rão
méd
io (c
m)
L. conirostris
*
*
*
*
*
*
2003-2004 2005-2006 2006-2007Estações reprodutivas
10
20
30
40
50
Com
prim
ento
pad
rão
méd
io (c
m)
P. vimboides
* *
2003-2004 2005-2006 2006-2007Estações reprodutivas
10
20
30
40
50
Com
prim
ento
pad
rão
méd
io (c
m)
L. copelandii
*
*
*
*
*
*
Figura 10. Média, mínimo e máximo do comprimento padrão de P. maculatus, P. vimboides, L. conirostris e L. copelandii transpostos (barras claras) e capturados a montante (barras escuras) por estação reprodutiva. Os asteriscos representam diferenças significativas entre os pares de CP dos peixes transpostos e dos peixes capturados a montante.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
49
Minguante Crescente0,0
0,2
0,4
0,6C
PU
EP.maculatusp = 0,01
Minguante Crescente0,0
0,2
0,4
0,6
CP
UE
L.conirostrisp = 0,50
MinguanteNova
CrescenteCheia
Fases da lua
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
CP
UE
P.vimboidesp = 0,57
MinguanteNova
CrescenteCheia
Fases da lua
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
CP
UE
L.copelandiip = 0,60
Figura 11. Captura por unidade de esforço (CPUE) de P. maculatus, P.
vimboides, L. conirostris e L. copelandii a jusante da barragem da UHE Porto
Estrela por fase da lua (barra = mediana; traço vertical = intervalo interquartil).