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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

PSICOLOGIA B

2009/2010

“EM CONTACTO” Processos de relação entre os indivíduos e os

grupos

Fábio Silva nº5 12ºG

E S C O L A S E C U N D Á R I A D E E R M E S I N D E

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Índice Introdução 3

Atracção e Intimidade 4

Como se pode definir a atracção? 6

Factores que influenciam a atracção 8

Proximidade 9

Familiaridade 11

Atracção física 11

Semelhanças interpessoais 13

Complementaridade 14

Reciprocidade 15

Qualidades positivas 15

O que se entende por intimidade? 16

Amizade 19

Amor 23

Agressão 27

Suicídio 30

Violência doméstica 31

Bullying 31

A origem da agressividade 32

Concepção de Freud 33

Concepção de Lorenz 34

Concepção de Dollard 34

Concepção de Bandura 35

Estereótipos, Preconceitos e Discriminação 38

Estereótipos 39

Estereótipo da beleza 41

Funções dos estereótipos 42

Preconceito 43

Discriminação 44

Conflito 50

Cooperação e relação 51

Conclusão 53

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“Desde que nasce até que morre, o ser humano vive integrado no meio

social, aliás só sobrevive, porque vive em interacção com os outros num mundo

construído, modificado, que dá respostas às suas necessidades. Precisamos dos

outros para o nosso bem-estar físico e psicológico, somos decididamente

dependentes, precisamos que gostem de nós, precisamos da sua aprovação,

precisamos de sermos aceites pelos grupos. A presença dos outros, a sua

influência é uma constante no nosso pensamento e no nosso comportamento.”

Pinto, Alexandra Tolda – “Precisamos mesmo dos outros”

http://psicob.blogspot.com/2008/05/precisamos-mesmo-dos-outros.html

De que forma é que nos relacionamos com os outros e de que forma isso se

reflecte naquilo que somos, e como interiorizará o indivíduo cada experiencia, cada

momento passado em sociedade? Eis a questão que se coloca…

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“A atracção interpessoal, preferência por determinado tipo de pessoas é produto de um enredado romance entre as cognições e os afectos.

À pergunta: “ a aparência física é decisiva no seu relacionamento com o outro”, a maior parte das pessoas, condizente com o politicamente correcto afirma que não, mas o certo é que a beleza exterior desempenha um papel muito importante no comportamento a ter com o outro.

Um dos motivos mais evidentes para isto é o facto de a beleza causar uma melhor impressão inicial e consequentemente um aumento da auto-estima, pois a companhia de uma pessoa fisicamente atraente favorece a posição social do indivíduo (temos que convir que apesar do belo não ser sinal de qualidade é sinal de “pinta”, principalmente quando se fala dos jovens) Da mesma forma, factores como a proximidade geográfica, as similaridades interpessoais, a complementaridade das personalidades, a reciprocidade, entre muitos outros nomeadamente, o respeito, a estima, a admiração explicam o que nos leva a preferir certas pessoas e outras não.

Estudos realizados em residências universitárias mostram que relativamente ao vizinho do andar de cima os companheiros de quarto têm duas vezes mais probabilidade de se tornarem amigos, uma vez que contactam mais frequentemente e a familiaridade conduz a uma maior afeição.

As pessoas gostam de sentir as suas ideias e escolhas valorizadas e validadas. Assim, é comum a preferência por pessoas com as quais temos pontos de afinidade (semelhanças interpessoais) e a tendência para “gostar de quem gosta de nós” (reciprocidade). Todavia não é só a partir da igualdade que se cria a confiança e a preferência, mas também da diferença no sentido em que, as assimetrias das características individuais podem tornar o outro atraente.

É na junção de todos estes factores que o nosso comportamento para com os outros se regula e as preferências se formam, daí o Miguel ser um grande amigo da Maria e não da Joana.”

Silva, Fátima – “Atracção Interpessoal”

http://psicob.blogspot.com/2009/03/atraccao-interpessoal.html

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Como se pode definir a atracção?

A atracção interpessoal diz respeito a uma preferência por determinadas

pessoas. Expressa o desejo de estarmos com elas, de querer partilhar a sua presença,

envolvendo emoções, afectos, sentimentos e afectando as relações interpessoais.

Naturalmente que há diferenças entre a atracção existente entre pais e filhos,

entre amantes apaixonados, entre colegas de trabalho ou de turma, ou entre amigos

inseparáveis.

Os relacionamentos entre os sujeitos visam, sobretudo, o bem-estar pessoal e o

dos outros.

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A atracção interpessoal pode ser explicada sob duas perspectivas:

• Comportamental 1

• Emocional

(concreta) 2

(abstracta)

1

A atracção enquanto comportamento revela-se

através de acções físicas que um sujeito tem para com o

outro que pretende atrair. Ex: estar presente nos

mesmos espaços geográficos em que o sujeito alvo se

encontra (figura 1).

2

A atracção enquanto emoção revela-se pelo

conjunto de sentimentos positivos e/ou negativos que

um sujeito experimenta ao interagir com o outro como,

por exemplo, o sentimento de bem-estar, de conforto,

bem como de mal-estar e de aborrecimento (figura 2).

Os comportamentos variam

conforme as normas sociais e culturais de

cada grupo/sociedade. No entanto, a

atracção, tanto comportamental como

emotiva, depende também da

personalidade e do carácter de cada

indivíduo, visto que cada um avalia as

situações de forma subjectiva, resultando

emoções e comportamentos únicos

inerentes a essas mesmas situações.

Figura 1

Figura 2 Tédio

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Enquanto atitude, a atracção é constituída por três dimensões: cognitiva,

afectiva e comportamental.

Factores que influenciam a atracção

As pessoas não partilham conversas, amizades e amor com qualquer pessoa.

Um dos factores, básico e subjacente a todos os outros, é o motivo de

afiliação, isto é, a necessidade de estarmos próximos dos outros e de obtermos

satisfação e suporte emocional.

Ainda que o processo de atracção esteja relacionado com a história pessoal de

cada um existe, contudo, um conjunto de factores comuns que explicam o que nos

leva a aproximarmo-nos de alguém. Podemos destacar então os principais factores:

Proximidade

Familiaridade

Atracção física

Semelhanças

interpessoais

Complementaridade

Reciprocidade

Qualidades positivas

Atracção

Dimensão cognitiva

O indivíduo A avalia positivamente o indivíduo B

Dimensão afectiva

O indivíduo A experimenta, na interacção com B, um conjunto de emoções e sentimentos positivos

Dimensão comportamental

A desenvolve um conjunto de acções que

objectivamente o aproximam de e/ou

favorecem B

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Proximidade

Quanto maior for a proximidade geográfica entre os sujeitos, maior serão os

laços de amizade, simpatia, intimidade que se estabelecem entre eles.

Contudo há que ter em atenção o facto de poder acontecer o contrário, isto é,

o contacto frequente poderá originar saturação, enfado e subsequentemente

conflitos, inimizades e, portanto, o afastamento do sujeito que nos incomoda.

Figura 3 Já repararam como se fazem amizades na escola? Muitas vezes, tornamo-nos amigos da pessoa sentada ao nosso lado durante a primeira aula, apesar de não a

conhecermos anteriormente e apesar de não sabermos se temos afinidades com ela.

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De seguida temos uma imagem que mostra uma estatística sobre a origem dos

nossos amigos:

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Familiaridade

O convívio frequente com uma pessoa pode aumentar a atracção por ela.

Experiências revelaram que, quanto mais vezes os sujeitos viam um rosto, mais

diziam que gostavam dele e mais consideravam possível gostar da pessoa fotografada.

Outras experiências revelaram que as pessoas preferem as letras do seu nome entre as

do alfabeto.

Atracção física

A atracção interpessoal é medida

mais pela beleza exterior e não tanto pela

interior.

A beleza física exerce efeitos positivos

sobre a atracção, apesar de os padrões de

beleza apresentarem uma grande

variabilidade histórica e uma relatividade

cultural bastante acentuada.

Há grande variedade de opiniões

sobre o que constitui beleza em diferentes

culturas, bem como, na mesma cultura, ao

longo das épocas. Normalmente, preferimos

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a pessoa com aparência física mais agradável e os efeitos desta atracção mostram-se

consistentes através das idades, dos sexos e das

categorias socioeconómicas.

Esta realidade – ser e parecer – tem vindo a

estender-se a todos os graus etários e sociais,

quando era predominante na camada social mais

jovem.

● ● ●

“Haverá algum fundamento de verdade no estereótipo de que "o bonito é bom"?

As investigações mostram que pessoas atraentes não são nem mais nem menos capazes, tanto do ponto de vista social, académico ou profissional. São, contudo, mais confiantes socialmente, em resultado das "profecias de auto-realização": todos esperam que tenham mais êxito e isso acaba por dar-lhes mais autoconfiança, o que lhes facilita os contactos sociais e lhes desenvolve as habilidades sociais. Os que se sentem inseguros isolam-se mais e as suas habilidades sociais atrofiam-se.

Assim, os indivíduos tendem a estabelecer relações amorosas ou a casar com aqueles cujo grau de beleza física é relativamente próximo do seu.”

ESCOLA SECUNDÁRIA COM 3º CICLO DO FUNDÃO DEPARTAMENTO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS - Psicologia A - 11º Ano, turma AS: “As relações interpessoais de atracção e de agressão”

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Figura 4 A beleza física tornou-se, actualmente, um factor de grande importância no estabelecimento de relações entre os indivíduos

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Semelhanças interpessoais

O factor das semelhanças interpessoais não se situa no plano individual, mas ao

nível da própria relação. Assim, temos tendência a estabelecer relações de amizade e

de amor com pessoas que partilham os mesmos interesses, atitudes, opiniões,

crenças, traços de personalidade, competências cognitivas e sócio-emocionais como,

por exemplo, os indivíduos representados na figura 5.

Mais do que a semelhança de personalidades, os psicólogos descobriram que o

que atrai as pessoas são as semelhanças de atitudes.

Num estudo com trinta grupos tribais africanos, verificou-se que, quando uma

tribo era percepcionada como tendo atitudes muito diferentes, o contacto social era

evitado, mas, se eram percepcionadas como semelhantes, o contacto íntimo era

possível.

Também são importantes as semelhanças étnicas, religiosas e políticas, bem

como a classe social, instrução e idade.

Figura 5

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Complementaridade

Apesar de se considerar que as semelhanças interindividuais sejam um factor

de reaproximação, as pessoas são ainda atraídas por características que elas não

possuem. São as diferenças do outro que o tornam atraente, na medida em que

ambos se complementam.

● ● ●

“É extremamente curiosa a maneira como as pessoas ficam geralmente atraídas pelos

ditos “opostos”. Nós sentimo-nos atraídos pelas pessoas que gostam das mesmas coisas que nós,

que partilham as mesmas ideias que nós e que têm uma personalidade idêntica à nossa. Isto

verifica-se muito nas relações que estabelecemos, sejam elas com amigos ou com namorados. No

entanto, temos uma certa tendência para nos aproximarmos também daquelas pessoas que

possuem certas características que nós apreciamos, pois assim sentimo-nos mais completos. É

por este motivo que muita gente afirma que “os opostos atraem-se”.”

Silva, Vânia – “Atracção – a química dos opostos”

http://psicob.blogspot.com/2008/04/atraco-qumica-dos-opostos.html

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● ● ●

Porque é que a semelhança é tão importante na atracção entre pessoas?

Certos autores destacam o factor de reforço: sentimos que os nossos pontos de vista são confirmados por outrem; também falam do factor previsibilidade; antecipamos mais facilmente as reacções das pessoas semelhantes a nós, o que é reconfortante.

ESCOLA SECUNDÁRIA COM 3º CICLO DO FUNDÃO DEPARTAMENTO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS - Psicologia A - 11º Ano, turma AS: “As relações interpessoais de atracção e de agressão”

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Reciprocidade

Gostamos mais daquelas

pessoas que simpatizam connosco.

Esse sentimento leva a que

respondamos com mais calor e

afecto, o que desencadeia mais

simpatia. As apreciações positivas

dos outros têm um forte efeito na

atracção que os outros exercem

sobre nós.

Podemos resumir este factor à seguinte afirmação: “Gosto de quem gosta de

mim”. Este é o princípio da reciprocidade.

Qualidades positivas

Gostamos mais das pessoas que apresentam características que consideramos

agradáveis do que com características que consideramos desagradáveis.

Num estudo com estudantes universitários, o traço mais valorizado é a

sinceridade, seguindo-se a honestidade, lealdade, verdade, merecer confiança e ser

fidedigno (todos mais ou menos relacionados com a sinceridade). Outros dois traços

considerados agradáveis foram a simpatia e a competência. Segundo Rubin (1973), os

dois componentes-chave do gostar são a afeição e o respeito.

Além destes factores podem ser brevemente enunciados outros, tais como, o

respeito (valorização das competências de outro), a aceitação (pela compreensão e

disponibilidade demonstrada pela outra pessoa), a estima (a simpatia do outro por

mim aumenta a minha atracção por ele) e a gratidão (pelo bem que o outro individuo

propicia).

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O que se entende por intimidade?

A definição intimidade é complexa uma vez que o seu significado varia de

relacionamento para relacionamento, e dentro de um mesmo relacionamento, ao

longo do tempo. Em alguns

relacionamentos, a intimidade

está ligada ao sexo e os

sentimentos de afecto podem

estar conectados ou serem

confundidos com sentimentos

sexuais. Em outros

relacionamentos, a intimidade

tem mais a ver com momentos

● ● ●

“Uma relação de intimidade pressupõe, antes de tudo, a abertura para os outros, a sinceridade e a confiança. Esta experiência, baseada numa comunicação profunda entre os intervenientes, implica uma vivência e um envolvimento que não acontece com todas as pessoas com quem convivemos. Intensas e duradouras, as relações de intimidade são definidas por psicólogos e sociólogos como uma questão de comunicação emocional com os outros e comigo mesmo. Implica também um vínculo baseado na interacção com o outro que pode ser verbal – é através das conversas que eu partilho e exprimo os meus sentimentos e emoções – ou não verbal – a proximidade física, o tocar ou o acariciar são elementos importantes na manifestação da intimidade. Esta está, por sua vez, condicionada pelo contexto social: o padrão cultural influencia a forma como as relações íntimas se exprimem e se manifestam, de acordo com um lugar e um momento no tempo específicos.

Criar intimidade é gerar um elo, um contacto. Esta relação comigo mesmo e com os outros, ou seja, esta ligação entre o interior e o exterior, propicia proximidade e cumplicidade, constituindo um atalho possível para o indivíduo compreender e conhecer-se a si mesmo e os outros.”

Costa, Ana – “Importância das relações de intimidade na adolescência”

http://psicob.blogspot.com/2009/02/importancia-das-relacoes-de-intimidade.html

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divididos pelos indivíduos do que interacções sexuais. De qualquer forma, a intimidade

está ligada com sentimentos de afecto entre parceiros num relacionamento.

Nem todas as pessoas mantêm relações de intimidade com os outros.

Efectivamente, as pessoas distinguem-se pela possibilidade de se abrirem mais ou

menos aos outros, de estarem mais ou menos disponíveis para partilharem

sentimentos, afectos e emoções. Assim, afirma-se que a intimidade tem uma

dimensão universal, uma relacional e outra pessoal. A dimensão pessoal está ligada à

personalidade das pessoas, à sua história pessoal e ao contexto de vida em que se

encontra.

A intimidade é uma experiência que implica uma forte vivência, um grande

envolvimento e uma comunicação profunda.

A comunicação pode ser verbal ou não verbal.

As comunicações verbais dos pensamentos são fundamentais na interacção

íntima, pois é através da conversa que partilhamos com o outro as nossas emoções,

sentimentos e pensamentos mais íntimos e confidências.

As interacções não verbais relacionam-se com a proximidade física, carícias, o

toque, etc. Por vezes, é através deste tipo de interacções que se manifestam de forma

mais verdadeira os nossos sentimentos e emoções.

Ainda, quando falamos de intimidade, é importante ter em conta o contexto social. Isto porquê? Devido ao facto das relações íntimas se exprimirem e exercitarem consoante o espaço e o tempo. Isto é a dimensão universal.

Podemos identificar cinco dimensões da intimidade:

• Intimidade social – experiência de ter amigos;

• Intimidade sexual – experiência de partilhar o contacto físico, sexual;

• Intimidade emocional – experiência de proximidade de sentimentos;

• Intimidade intelectual – experiência de partilhar ideias e concepções de

mundo e de vida;

• Intimidade lúdica – experiência de partilhar tempos livres e de lazer e

gostos.

As duas expressões de intimidade são a amizade e o amor.

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“Qual o papel e características da intimidade (amizade e amor)?

(…) Existem duas expressões da intimidade que, embora não sejam as únicas, são as mais significativas e as mais estudadas: a amizade e o amor.

A amizade é uma das manifestações de intimidade que envolve relações em que estão presentes, entre outros, elementos como confiança, lealdade, cooperação, carinho, apoio, franqueza... Essas características envolvem reciprocidade. Uma relação de amizade é uma relação pessoal, informal, voluntária, positiva e de longa duração que implica reciprocidade, que envolve atracção pessoal e que facilita os objectivos que os envolvidos querem atingir. (…) Assim como reconhecemos que as relações de amizade correspondem a um importante suporte psicológico, a sua ruptura é um facto de grande perturbação. As amizades variam segundo um conjunto de factores: idade, género, contexto social e características individuais.

Amar não é simplesmente gostar em maior quantidade, mas um estado psicológico qualitativamente diferente. (…) Similarmente, o amor, ao contrário do gostar, inclui elementos de paixão, proximidade, fascinação, exclusividade, desejo sexual e uma preocupação intensa. (…)

Quando se fala de amor, há que distinguir dois tipos de amor: o amor companheiro e o amor apaixonado. O amor companheiro é marcado por uma amizade muito íntima, ternura mútua, cuidado, respeito e atracção (envolve relações com os pais, familiares, amigos íntimos). O amor sexual ou apaixonado envolve atracção sexual, um desejo de amor mútuo e proximidade física, e o medo de que a relação acabe.”

Castro, Cláudia – “Qual o papel e características da intimidade (amizade e amor)?” (adaptado)

http://psicob.blogspot.com/2009/03/qual-o-papel-e-caracteristicas-da.html

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Amizade

Nunca ninguém conseguiu

definir verdadeiramente o que é a

amizade.

Apesar de todos termos

amigos, colegas, companheiros ou

até melhores amigos, nunca

poderíamos atribuir-lhe uma definição, acabando apenas por atribuir determinadas

características que acabam por distinguir a amizade de outros tipos de interacção

social.

No entanto, a amizade envolve alguns elementos fundamentais para a sua

definição. A relação de amizade diferencia-se de outros tipos de interacção por ser

uma relação: pessoal, positiva informal, voluntária e de longa duração, envolvendo

tanto uma reciprocidade como uma atracção pessoal entre os indivíduos.

Apesar deste conjunto de características, e de outras mais subjectivas,

essenciais numa relação de amizade, não existe um padrão único, válido para todos.

Contudo, há qualidades que ocorrem com mais frequência como, por exemplo, a

confiança, a lealdade, o carinho, o apoio, entre outras.

Após a análise destas características, podemos resumir dizendo que a amizade

é um relacionamento humano que envolve conhecimento mútuo, estima e afeição.

Amigos sentem-se bem na companhia uns dos outros e possuem um sentimento de

lealdade entre si, ao ponto de colocarem os interesses dos outros acima dos seus.

Amigos possuem gostos similares ou não, que podem convergir. A amizade resume-se

em lealdade, confiança e amor mútuos.

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Michael Argyle (11 de

Agosto de 1925,

Nottingham - 6 de

Setembro de 2002) foi um

dos mais conhecidos

psicólogos sociais do

século XX. Ele passou a

maior parte da sua carreira

na Universidade de Oxford

e trabalhou em vários

temas.

Ao longo da sua carreira,

mostrou fortes

preferências por métodos

experimentais em

psicologia social, tendo

pouco tempo para

abordagens alternativas,

tais como análise de

discurso.

O psicólogo britânico debruçou-se imenso sobre a psicologia social. Dentro

deste ramo da psicologia abordou várias temáticas,

abordando também a amizade, seleccionando cinco

características que considerou predominantemente

importantes numa relação de amizade:

• Defender o amigo na ausência do mesmo;

• Partilhar com ele os acontecimentos e

ocorrências relevantes;

• Apoiá-lo emocionalmente sempre que precise;

• Confiar no outro e ser verdadeiro;

• Apoiar o outro de forma espontânea e voluntária,

sempre que necessário.

Tal como tudo, as relações de amizade também têm

um fim. Esta ruptura de relações pode causar

perturbações, com mais ou menos importância,

dependendo das idades em que ocorrem e dos tipos de

amizade.

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Falámos agora em tipos de amizade. Mas como se distinguem as diferentes

relações de amizade? Estas variam de acordo com um conjunto de factores, de entre

os quais abordaremos de seguida alguns exemplos.

O primeiro factor a ser referido é a idade. Apesar de as amizades terem um

papel fundamental no desenvolvimento e equilíbrio do indivíduo, estas manifestam-se

de diferentes formas nos diferentes estádios da vida.

Na infância, os amigos

desempenham um papel

fundamental no desenvolvimento

social dos mais novos. Esta

interacção com os outros é

fundamental na construção do

“eu”. Isto, porque, graças à

convivência, a criança pode ver-se

através dos olhos dos outros, quer

em termos físicos quer no que toca à personalidade, permitindo-lhe conhecer vários

modelos de relações que pode estabelecer

mais tarde, na idade adulta.

Na adolescência, os amigos têm um

papel importante no processo de

socialização. É nesta fase da vida que as

amizades têm mais relevância: partilham-se

confidências, apoiam-se mutuamente numa

fase complexa de construção da identidade.

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Entre os adultos, as amizades passam a ter um

passam a ter um papel diferente, já não tendo uma

prevalência tão grande. Os amigos perdem o carácter

central das relações das idades anteriores, havendo um

menor nível de intimidade nas novas interacções.

● ● ●

É na adolescência que as relações íntimas desempenham um papel mais significativo: o desenvolvimento de amizades íntimas envolve vários aspectos como "o incremento da necessidade de intimidade, mudanças na capacidade para desenvolver relações de intimidade e mudanças na forma de expressar a sua individualidade e intimidade perante os outros". Sendo a adolescência o período fundamental de maturação psicológica, é durante esse processo que o adolescente molda a sua personalidade enquanto indivíduo. Todas as alterações ocorridas durante esta fase obrigam o adolescente a reencontrar a sua identidade tanto física como psicológica, bem como a avaliar o seu papel nas relações interpessoais e na sociedade. No entanto, e felizmente para nós, adolescentes, é a partir da adolescência que ficamos com uma maior capacidade em compreender qual o nosso lugar no mundo, o que nos permite, gradualmente, conquistar a nossa autonomia, a nossa intimidade e, por isso, o nosso espaço.

(…)

É na adolescência que as relações íntimas desempenham um papel mais significativo: o desenvolvimento de amizades íntimas envolve vários aspectos como "o incremento da necessidade de intimidade, mudanças na capacidade para desenvolver relações de intimidade e mudanças na forma de expressar a sua individualidade e intimidade perante os outros". Sendo a adolescência o período fundamental de maturação psicológica, é durante esse processo que o adolescente molda a sua personalidade enquanto indivíduo. Todas as alterações ocorridas durante esta fase obrigam o adolescente a reencontrar a sua identidade tanto física como psicológica, bem como a avaliar o seu papel nas relações interpessoais e na sociedade. No entanto, e felizmente para nós, adolescentes, é a partir da adolescência que ficamos com uma maior capacidade em compreender qual o nosso lugar no mundo, o que nos permite, gradualmente, conquistar a nossa autonomia, a nossa intimidade e, por isso, o nosso espaço.

Costa, Ana – “Importância das relações de intimidade na adolescência”

http://psicob.blogspot.com/2009/02/importancia-das-relacoes-de-intimidade.html

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Se a idade é um factor a ser abordado, o género é outro factor igualmente

importante a ser referido.

Considera-se que homens e mulheres encaram a amizade com diferentes

pontos de vista. Acredita-se que entre os indivíduos do sexo feminino domina mais a

intimidade e as confidências que entre os membros do sexo masculino.

Além de variarem consoante o género humano, as relações de amizade e os

valores que as regem variam de cultura para cultura, consoante a época, por outras

palavras, variam consoante o contexto social. Por exemplo, os valores defendidos nos

inícios do século XX são diferentes dos que são considerados actualmente.

Por fim, o último dos factores que contribui para a diferenciação nas relações

de amizade é as características individuais de cada pessoa. A importância da amizade,

a facilidade em fazer amigos e a intensidade das relações variam de acordo com a

personalidade de cada um.

Amor

A palavra amor adapta-se a vários

significados na nossa língua, tais como afeição,

compaixão, misericórdia, atracção, paixão, desejo e

até conquista.

O conceito mais generalizado de amor

envolve, de um modo geral, a formação de um

vínculo emocional com alguém, ou com algum

objecto, capaz de receber este comportamento

amoroso e alimentar as estimulações sensoriais

e psicológicas necessárias à sua manutenção e

motivação.

Existem ainda várias conotações

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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envolvidas com os vários tipos de amor. O amor que temos pelos nossos pais é, sem

dúvida, diferente daquele que temos com o(a) nosso(a) namorado(a).

Podemos então abordar duas distinções importantes de amor: o amor

apaixonado e o amor companheiro.

O primeiro corresponde a um estado de

envolvimento muito intenso com outra pessoa, em

que intervém uma excitação fisiológica, um desejo

sexual. A este tipo associam-se termos como

proximidade, fascinação, desejo sexual e fantasia

sobre o outro.

O segundo descreve um forte afecto que

sentimos por um conjunto de pessoas com quem

temos relações fortes (pais ou amigos íntimos, por

exemplo).

Robert Sternberg, psicólogo norte-americano, formulou uma teoria segundo a

qual o amor englobaria três componentes distintas: a intimidade, a paixão e o

compromisso. No que toca à intimidade, de carácter mais emocional, estamos perante

uma relação de confiança mútua que inclui a protecção e a necessidade de estarmos

perto do outro. É através da intimidade que duas pessoas compartilham as suas

experiências pessoais e o que mais íntimo há de si. A paixão, que se baseia

essencialmente na atracção sexual, envolve um sentimento irreprimível de estar com

o outro. Por sua vez, o compromisso é a expectativa de que o relacionamento dure

para sempre, numa intenção de comprometimento mútuo.

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Robert J. Sternberg (8 de

Dezembro de 1949) é um

psicólogo e psicometrista

estadunidense, deão de

Artes e Ciências da Tufts

University.

Sternberg propôs uma

teoria dos três tipos de

inteligência e uma teoria

triangular do amor. Ele é o

criador (com Todd Lubart),

da teoria do investimento

da criatividade, que afirma

que as pessoas criativas

compram barato e vendem

caro no mundo das ideias,

e uma teoria de propulsão

das contribuições criativas,

que afirma que a

criatividade é uma forma

da liderança.

Figura 6 Triangulo do amor de Sternberg

● ● ●

Numa tentativa de simplificar a definição de Amor, os psicólogos sociais recorreram à definição de seis diferentes formas de amar. São elas seis: o amor romântico (envolve paixão, unidade e atracção sexual mais usual na adolescência), o amor possessivo (determinado pelo ciúme, provocando emoções extremas), o cooperativo (que nasce geralmente de uma amizade anterior, sendo alimentado por hábitos e interesses comuns), o amor pragmático (característico de pessoas ensinadas a reprimir os seus sentimentos o mais possível, sendo estas relações desprovidas de qualquer manifestação de carinho), o lúdico (que se baseia na conquista e na procura de emoções passageiras) e o amor altruísta (praticado por pessoas dispostas a anular-se perante o outro, tendendo a "isolar-se num mundo onde, na sua imaginação, só cabem os dois ainda que o outro pense e actue exactamente ao contrário").

Há quem defenda que o amor é uma história construída ao longo da vida que, com o tempo, transpõe a mera atracção física, passando para uma preocupação com o bem-estar do outro para o seu próprio bem-estar.

Apesar de todos estes dados, imprescindíveis para o conhecimento do amor, qualquer definição que nos seja apresentada nunca nos satisfaz completamente. Sentimos que existe sempre mais alguma coisa e é esse mesmo mistério que torna a definição do amor subjectiva e, por isso, controversa e não consensual. Até porque, se tal fosse possível, a magia envolta em torno desse elemento fundamental da vida de um indivíduo poderia desaparecer, perdendo assim parte de todo o seu significado…

Costa, Ana – “O que é o amor?”

http://psicob.blogspot.com/2009/02/o-que-e-o-amor.html

● ● ●

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

26

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

27

Talvez não haja um tema tão importante para o desenvolvimento das relações

sociais, e melhoria da qualidade de vida do colectivo do que discutir à agressividade

em vários níveis psicológicos. Infelizmente, por aspectos culturais e até mesmo

religiosos, compara-se a agressividade apenas com violência ou destruição. Estas

duas últimas são aspectos totalmente patológicos da conduta humana, causando risco

iminente para a própria sobrevivência da

espécie. A agressividade é um

fenómeno comum do quotidiano, e

cabe-nos entender a mesma,

procurando tanto os seus aspectos

positivos como os negativos.

Existem duas formas básicas de

agressividade, a dinâmica, que nos

permite desenvolver e criar, e a estática

(também chamada de destrutiva), que

tem por objectivo provocar danos no ambiente ou em alguém. A primeira é aquela

emoção que nos movimenta para a vida, que nos dá forças para as lutas e batalhas que

a vida quotidiana impõe. Já na segunda presencia-se aquela emoção que nos

movimenta para ferir os outros e a nós mesmos. Aquela emoção que se transforma em

actos agressivos a fim de destruir

aquele que se considera “culpado”.

É um instrumento da mente.

Quem tem a agressividade excessiva

é porque não lhe coloca nenhum

limite. Reprimir a agressividade tem,

por sua vez, resultados tão

devastadores quanto soltá-la sem

rédeas. A agressividade tem que ser

usada, se represada ela agirá na

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

28

pessoa que a reprime, ou seja, no próprio indivíduo. Quem não agride aos outros no

momento certo acaba agredindo a si mesmo.

Agora vamos debruçar-nos de forma mais específica sobre a agressividade

estática, ou destrutiva. Aqui podemos dividi-la em três grupos: agressão quanto à

intenção do sujeito, quanto ao alvo e quanto à forma de expressão.

O primeiro grupo subdivide-se em

dois tipos de agressão – a hostil e a

instrumental.

A primeira é um tipo de agressão

emocional e impulsiva. Visa causar danos

no outro, independentemente de qualquer

vantagem que possa obter. A figura 7 é um

exemplo de agressão hostil, já que Zidane

agrediu impulsivamente com cabeça o

italiano Materazzi devido a insultos que

este lhe fizera. Como consequência foi

expulso do jogo.

Já a agressão instrumental visa um objectivo, tendo por fim conseguir algo

independentemente do dano que possa

causar. É planeada e não impulsiva. A

figura 8 serve de exemplo, o assaltante

tem como objectivo conseguir dinheiro e,

durante a sua acção para o conseguir,

pode ocorrer uma agressão, mas o

objectivo sobrepõe-se ao dano.

Figu

ra 7

Figura 8

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

29

Figura 9

O segundo grupo – agressão quanto ao alvo – pode também ser dividido, desta

vez em três tipos: agressão directa, agressão não deslocada e auto-agressão.

Na directa o comportamento agressivo dirige-se à pessoa ou ao objecto que

justifica essa agressão (figura 9).

Ao contrário diste tipo há outro,

em que o sujeito dirige a agressão a um

alvo que não é responsável pela origem

da mesma. A isto dá-se o nome de

agressão não deslocada. Para a

exemplificar este tipo, coloca-se a

seguinte questão: “Quem, num estado

de raiva, nunca deu um murro numa

mesa ou numa porta?”

A auto-agressão ocorre quando o sujeito

desloca a agressão para si próprio. A máxima deste

tipo de agressão é, sem dúvida, o suicido.

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

30

● ● ●

O mundo assiste atónito ao número de suicídios que por todo o lado vão acontecendo: é o guarda-redes Enkel, é uma jovem que se atira do 5.º andar, são 24 trabalhadores da France Telecom, são uma série de agentes de segurança em Portugal, são ainda 6 presos das nossas cadeias, neste ano, enfim, um número que leva a dizer que em todo o mundo 1% das mortes, são por suicídio.

Procuram-se as mais variadas explicações: “as chefias do trabalho não percebem que as pessoas não são parafusos”, diz um psiquiatra; “a pressão psicológica no emprego – nomeadamente a obtenção de resultados profissionais”, diz outro; “a instrumentalização absoluta do indivíduo para se alcançarem propósitos financeiros”, é outra causa apontada. Todos os suicidas são considerados pessoas psicologicamente doentes pelas mais diversas razões.

(…)

Antigamente o fenómeno atingia sobretudo os idosos, vítimas de solidão, ou os jovens, imaturos emocionalmente. Hoje está muito mais generalizado e têm outras causas diferentes. A sua verdadeira razão prende-se, penso eu, com a mudança cultural que se verifica na nossa sociedade de hoje. A cultura da vida deixou de estar na moda, e pensa-se que a pessoa tem o direito de acabar com a sua vida, ou com a dos outros por motivos que para si considere razoáveis; basta olhar as quatro jovens assinadas pelos namorados, numa só semana...

(...)

Só havendo uma mudança cultural nas relações de trabalho, na atitude de uns para com os outros e para consigo próprio, uma cultura que valorize a vida, se pode remediar cabalmente esta situação.

Dias, Agostinho Gonçalves – “Suicídio e eutanásia” http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=207&id=17558&idSeccao=2203&Action=noticia

● ● ●

Suicídio é o acto intencional de alguém se matar a si mesmo. A sua causa mais

comum é um transtorno mental que pode incluir depressão, transtorno bipolar,

esquizofrenia, alcoolismo e abuso de drogas.

Mais de um milhão de pessoas cometem suicídio a cada ano, tornando-se esta a

décima causa de morte no mundo. Trata-se de uma das principais causas de morte

entre adolescentes e adultos com menos de 35 anos de idade. Entretanto, há uma

estimativa que 10 a 20 milhões de tentativas de suicídios não-fatais a cada ano em

todo o mundo.

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

31

Por fim, quanto à forma de expressão, distinguem-se a agressão aberta, a

dissimulada e a inibida.

Considera-se agressão aberta quando esta se manifesta de forma de uma

forma explícita, seja violência física ou psicológica, através de espancamentos,

humilhações, etc. Podemos, claro, citar a violência doméstica ou o bullying como

exemplos.

Violência doméstica é a

violência, explícita ou velada,

literalmente praticada dentro de

casa ou no âmbito familiar,

entre indivíduos unidos por

parentesco civil (marido e

mulher, sogra, padrasto) ou

parentesco natural (pai, mãe,

filhos, irmãos etc.). Inclui diversas práticas, físicas e psicológicas, como a violência e o

abuso sexual contra as crianças, maus-tratos contra idosos, e violência contra a mulher

e contra o homem geralmente nos processos de separação litigiosa além da violência

sexual contra o parceiro.

Bullying é um termo inglês utilizado para descrever actos de violência física ou

psicológica, intencionais e repetidos,

praticados por um indivíduo (bully) ou

grupo de indivíduos com o objectivo de

intimidar ou agredir outro indivíduo

(ou grupo de indivíduos) incapaz(es) de

se defender.

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

32

Origem da agressividade

Biológica

Freud

Lorenz

Dollard

Processo de socialização Bandura

Contrariamente, a agressão dissimulada recorre a meios não abertos, como o

sarcasmo e o cinismo, para agredir. Visa provocar o outro indirectamente, ferindo-o na

auto-estima e gerando ansiedade.

Finalmente, na agressão inibida, o sujeito não manifesta agressão para com o

outro mas dirige-a contra si próprio. Sentimentos como o rancor são formas de

agressão inibida.

A origem da agressividade

A agressividade é um comportamento inato ou é produto da aprendizagem?

Orientadas segundo dois eixos temos diferentes teorias acerca das causas da

agressividade. Se, por um lado, há a concepção de que a agressividade é um

mecanismo inato da acção do homem (componente biológica) por outro, considera-se

que a mesma é resultado da aprendizagem social. Sigmund Freud, Lorenz e Dollard são

apologistas de que a agressividade tem algo de inato. Por sua vez, Bandura valida os

factores relacionados com o contexto social.

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

33

Concepção de Freud

Segundo Freud, a nossa vida psíquica e o nosso

desenvolvimento seriam orientados por pulsões. Assim,

distingue dois tipos de pulsão: as pulsões da vida, Eros, e

as pulsões da morte, Thánatos. As primeiras visam a

manutenção do indivíduo e as pulsões sexuais. Seriam as

pulsões da morte, que são autodestrutivas, que

explicariam os comportamentos agressivos.

Para Freud a agressividade tem origem biológica,

ou seja, todos somos agressivos porque a agressividade

é inata e constitui uma disposição instintiva e inata

primitiva e autónoma do ser humano.

Sigmund Freud, neuropsiquiatra austríaco,

fundador da Psicanálise, estudou Medicina e especializou-se em

Neurologia.

Interessou-se inicialmente pela histeria e, tendo

como método a hipnose, estudou pessoas que

apresentavam esse quadro. Mais tarde, com

interesses pelo inconsciente e pulsões,

entre outros, foi influenciado por Charcot e

Leibniz, abandonando a hipnose em favor da associação livre e da

interpretação dos sonhos.

Freud inovou em dois campos. Desenvolveu uma

teoria da mente e da conduta humana, e uma técnica terapêutica para

ajudar pessoas afectadas psiquicamente.

Provavelmente a contribuição mais

significativa que Freud fez ao pensamento moderno é a de tentar dar ao conceito de inconsciente um status

científico.

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

34

Concepção de Lorenz

Segundo Lorenz a agressão é inata, pois está

programada geneticamente, tal como nos outros

animais, sendo desencadeada por certos estímulos que a

revelam como uma questão de sobrevivência.

Diferentemente dos outros animais, o ser humano

não possuía mecanismos reguladores eficazes no

controlo da agressividade.

Concepção de Dollard

John Dollard, em conjunto

com Neil Miller, propôs a

hipótese frustração-agressão:

Existiria uma ligação inata

entre um estímulo – a frustração – e o comportamento

de agressão. Esta funcionaria como meio de afastar tudo

o que impedisse o sujeito de atingir os seus objectivos.

Esta teoria foi bastante criticada, porque nem

todas as pessoas reagem à frustração através de

comportamentos agressivos, bem como pode acontecer

a ocorrência de agressões sem ter havido frustração.

Konrad Lorenz, etólogo austríaco, cresceu num

meio familiar que lhe desenvolveu o gosto por

animais.

Forma-se em Medicina e em Filosofia, tendo-se

especializado em Zoologia. Em 1937 publica o artigo O

companheiro no mundo dos pássaros, onde

começa a desenvolver o conceito de imprinting

ou "cunhagem".

Interrompe a sua actividade em 1941

quando foi mobilizado para o exército alemão.

Em 1948 reinicia a sua actividade como

professor e investigador na Universidade de

Viena. Em 1973 recebe o Prémio Nobel da

Fisiologia e da Medicina, conjuntamente com

Niko Tinbergen e Karl von Frisch.

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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Concepção de Bandura

A agressão resulta de uma aprendizagem social,

isto é, da observação de comportamentos agressivos,

essencialmente dos nossos pares. O comportamento

agressivo é aprendido por observação e imitação de

modelos (pais, professores, sociedade).

Bandura desenvolveu observações experimentais

em crianças dos 3 aos 6 anos que incidiam sobre a

imitação.

Na experiência um grupo de crianças observava um filme

em que adultos a gritavam e agrediam de várias formas

um boneco insuflável, enquanto outro grupo (grupo de

controlo) não era submetido à visualização de qualquer

filme.

Bandura verificou que as crianças que tinham assistido

ao filme apresentavam o dobro das respostas agressivas

comparativamente ao grupo de controlo, e que

inventavam novas formas de agressão que não tinham

sido observadas.

Albert Bandura, psicólogo canadiano,

doutorou-se na Universidade de Iowa

onde se começou a interessar pelos

processos de aprendizagem.

As suas investigações incidiram sobre o

processo de aquisição de comportamentos

tendo desenvolvido a teoria da aprendizagem

social.

As várias experiências que realiza levam-no a

concluir que a aprendizagem se

processa por observação e imitação. Estudou

também o efeito dos meios de comunicação

social na aquisição de comportamentos.

Figura 10 Experiência de Bandura

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

36

Após a leitura de cada uma das concepções não conseguimos ainda afirmar se a

agressividade é resultado de processos biológicos inatos ou se é aprendida durante a

socialização do indivíduo.

Apesar de o organismo envolver certos processos fisiológicos aquando um

momento de agressividade (glândulas supra-renais, sistema nervoso simpático,

hipotálamo, entre outras áreas do corpo), a verdade é que a manifestação destes

comportamentos está directamente relacionada com o contexto social. E isto porquê?

As nossas aprendizagens, a unicidade da nossa história pessoal recheada de

experiências que vão moldando a nossa personalidade ao longo da vida, os valores

transmitidos pela cultura em que estamos inseridos, a interacção com os outros; todos

estes factores têm um papel determinante no estímulo ou na inibição da

agressividade. Se o indivíduo passa por experiências traumáticas relacionadas com a

agressão pode, no futuro, ter uma maior predisposição para ter comportamentos

agressivos. Alguém a quem, por exemplo, foi ensinado que a agressão é uma forma de

obter respeito e de resolver os problemas, vai interiorizar estes valores como correctos

e tendo assim a sua agressividade estimulada; o mesmo não aconteceria se

aprendesse que a agressão é um comportamento inadequado e incorrecto em

sociedade.

Podemos então sintetizar que a agressão advém da influência do contexto

social do indivíduo, em conjunto com mecanismos biológicos que este dispõe para a

agressividade.

Vamos então, resumidamente, salientar alguns factores que induzem à

agressão:

• Mecanismos biológicos – existem hormonas e outras substâncias que,

circulando no sangue, afectam o sistema nervoso activando e inibindo a

expressão de agressividade. No entanto, não se pode afirmar que a

agressividade seja transmitida por hereditariedade.

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

37

• Álcool – vários estudos

apontam para uma relação entre a

embriaguez e a violência. Por razoes de

ordem biológica, social e psicológica, o

álcool desencadeia respostas mais

agressivas às provocações. Olhem a esta

cena num bar representada na figura 11.

• Temperatura – de acordo

com algumas estatísticas, dá-se um

aumento da violência doméstica e de crimes mais violentos no Verão,

em comparação com o Inverno, e nos dias de mais calor. Em testes, as

pessoas reagem mais violentamente às provocações quando expostas a

temperaturas mais elevadas.

• Cultura – as culturas mais individualistas eram mais agressivas que as

colectivistas. Numa sociedade onde a violência é valorizada (figura 12),

os indivíduos tendem a ser mais agressivos. As notícias, a banalidade

com que se exibem armas, a falta de realismo ao retratar o sofrimento

das vítimas, filmes e séries violentas são factores que influenciam

comportamentos agressivos.

Figura 11

Figura 12 Às crianças soldado são incutidos valores que "justificam" o uso da violência

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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PRECONCEITOS

Componente cognitiva

ESTEREÓTIPO

Componente emocional

PRECONCEITO

Componente comportamental

DISCRIMINAÇÃO

Estereótipos

Os estereótipos são um conjunto de crenças que dão uma imagem

simplificada das características dos grupos, que se generalizam a todos membros. São

crenças a propósito de características, atributos e comportamentos dos membros de

determinados grupos, são ainda formas rígidas e esquemáticas de pensar que resultam

de processos de simplificação.

Há, portanto, uma categorização, uma

classificação positiva ou negativa em relação ao outro,

que surge das interacções sociais.

Frases como “os alentejanos são preguiçosos” ou

“o lugar da mulher é na cozinha”

(figura 13) são exemplos de

estereótipos.

Figura 13

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

40

Como já foi referido, na base dos estereótipos está um processo de

categorização, isto é, colocamos os indivíduos que nos rodeiam em “compartimentos”,

o que nos permite, de uma forma rápida, orientarmo-nos na vida social. Depois de

interiorizado, o estereótipo é aplicado de forma quase automática.

São visões rígidas e simplistas dos objectos em que incidem, referindo apenas

os seus aspectos parcelares e caricaturas, isolados dos contextos complexos de que

fazem parte. Também se definem como esquemas unificadores dos seres de uma

classe ou categoria que, apresentando os aspectos mais salientes, ignoram as

diferenças.

Designamos de categoria estereotipada quando os elementos de um mesmo

grupo partilham a convicção de que um ou mais traços particulares caracterizam as

pessoas dessa categoria.

Os estereótipos ajudam na integração social dos indivíduos porque os

identificam com determinados hábitos sociais e facilitam a acção de acordo com os

padrões de conduta vigentes numa sociedade. Então,

quando nos comportamos de acordo com os

estereótipos, obtemos a aceitação social, pois agimos de

acordo com o que está estabelecido e é aceite pelo

mundo onde estamos inseridos.

Figura 14 O que é mais normal acontecer na sociedade ocidental é os rapazes praticarem desporto e as raparigas brincarem com bonecas. Isto é só um exemplo de um esterótipo geralmente interiorizado na nossa cultura.

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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Estereótipo da beleza

Influenciadas pelos media

A mulher actual deixou-se

aprisionar dentro da sua própria mente ao grande mal do século: a ditadura da beleza.

A mulher conquistou o seu espaço em várias áreas, mas permanece ”presa” à ideia de

perseguir um padrão doentio e surreal de beleza, um ideal que desrespeita o biótipo -

características genéticas - de grande parte das pessoas.

e preocupadas em corresponder aos inatingíveis

padrões de beleza que são

apresentados, milhares de mulheres

mutilam a sua auto-estima e, muitas

vezes, os seus corpos, em busca da

aprovação social e do desejo de se

tornarem iguais às modelos que

brilham nas passarelas, na televisão e

nas capas das revistas.

A pressão exercida pela sociedade actual, que estabelece estereótipos de beleza

colocando uma ênfase particular na magreza da mulher, contribui para o

aparecimento de condutas radicais de controlo de peso, conduzindo muitas vezes a

perturbações graves do comportamento alimentar.

● ● ●

Há pessoas que pensam que o nosso curso é fácil, mas não o é. Tem disciplinas práticas e teóricas e muitas delas são iguais às dos outros cursos (simplicidade). Muitos dos professores desta escola pensam mal do curso de desporto (tonalidade afectiva), também pensam que somos todos bons a desporto, por isso viemos para este curso (uniformidade). Ao longo dos anos o curso de desporto sempre foi e é unido (durabilidade e constância). Alguns professores pensam que não somos muito inteligentes em comparação com os dos outros cursos (pregnância: qualidade ou virtude do que se impõe ao espírito, do que produz forte impressão).

“Características dos estereótipos”

http://fartoucedapsicologia.blogs.sapo.pt/1379.html

● ● ●

Page 42: "Em Contacto" - Relações Interpessoais

“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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Funções dos estereótipos

Os estereótipos têm duas funções: função sociocognitiva e função

socioafectiva.

O categorizar a realidade social permite-nos encarar eficazmente o mundo

social que nos rodeia, definindo o que está bem ou mal, o que é justo ou injusto, o que

está certo ou errado, isto é, o que dominamos por função sociocognitiva.

Por outro lado, a função socioafectiva relaciona-se com o sentimento de

identidade social. Isto significa que, parte do que somos tem a ver com o facto de

fazermos parte de determinados grupos sociais, o que nos leva a distinguirmo-nos dos

outros que pertencem a grupos diferentes. Reforçam a identidade do nosso grupo.

Segundo Maisonneuve, os estereótipos apresentam as seguintes

características:

• Simplicidade – as imagens transmitidas pelo estereótipo são pobres;

• Uniformidade – o estereótipo é uniforme num dado grupo:

• Tonalidade afectiva – nunca é neutro. Ou é favorável ou desfavorável;

• Durabilidade e constância – tem tendência a perpetuar-se no tempo,

no interior do grupo que o partilha;

• Pragnância – o grau de adesão ao estereótipo varia com cada indivíduo,

podendo ir desde uma adesão superficial até a uma adesão profunda.

Page 43: "Em Contacto" - Relações Interpessoais

“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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Figura 15 Indivíduos com piercings e tatuagens são, ainda hoje, alvo de preconceito e, muitas vezes,

discriminação.

Preconceito

O preconceito é também

uma atitude e tem como base o

estereótipo. Através da informação

do estereótipo faz uma avaliação,

um pré-juízo, geralmente negativo,

em relação aos outros indivíduos e

aos grupos que os constituem. “Os

jovens são violentos” é um exemplo de preconceito.

Têm uma função principalmente socioafectiva, isto porque expressam um

desejo de união e de protecção de um grupo social. Assumem, em geral, posições

radicais contra um ou vários grupos

Aprendem-se durante o processo de socialização, nos grupos a que cada um

pertence, desde a família aos meios de comunicação.

No início deste capítulo foi colocado um

esquema. Esse esquema representava as três

componentes do preconceito: cognitiva, afectiva e

comportamental.

A primeira corresponde a um estereótipo

geralmente negativo que se formula face a um grupo

social.

A segunda refere-se aos sentimentos que se

experimentam relativamente ao alvo do preconceito.

A terceira, e última, engloba a orientação dos comportamentos face à pessoa

ou grupo, podendo conduzir à discriminação.

Page 44: "Em Contacto" - Relações Interpessoais

“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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Discriminação

A discriminação designa o comportamento

dirigido aos indivíduos visados pelo preconceito,

variando entre o afastamento à violência e agressão

(facto do qual falaremos mais à frente). São actos

intencionais que assentam em distinções injustas e

injuriosas relativamente a um grupo.

O tipo de discriminação está relacionado com o

preconceito que lhe está subjacente. Um preconceito

racial leva à discriminação daqueles que não são da

mesma raça que certo indivíduo, enquanto que um

preconceito homofóbico relativamente aos

homossexuais conduzirá a um tipo de discriminação

próprio contra este grupo. Dentro da própria

discriminação é possível fazer-se uma divisão nas áreas

em que ela se torna mais intensa. Daqui surgem nomes

como discriminação social, racial, religiosa, sexual, por

idade ou nacionalidade.

Gordon W. Allport foi um Psicólogo norte-

americano que se formou em Psicologia na

Universidade de Harvard.

Aos 22 anos, ainda estudante, entrevistou

Freud o que o influenciou nas suas concepções sobre a

personalidade. Acaba por se demarcar do

fundador da Psicanálise ao considerar que o

fundamental seria identificar e descrever

os traços individuais da personalidade antes de

explorar o inconsciente. A partir do

conhecimento dos traços de personalidade

de uma pessoa seria possível prever o

comportamento em variadas situações.

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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Os comportamentos discriminatórios manifestam-se com maior intensidade em

períodos de crise económica e social.

Como já foi anteriormente referido, estes comportamentos variam já que a

violência física não é o cenário que se presencia. Gordon Allport, estudando as

atitudes, estereótipos e preconceitos, descreveu cinco etapas aquando o estudo do

processo de exterminação do judeus durante a 2ª Guerra Mundial:

1. Verbalização negativa – as pessoas falam dos seus preconceitos,

expressando as suas opiniões negativas;

2. Evitamento de relações – as pessoas evitam o convívio com os

elementos dos grupos hostilizados;

3. Medidas discriminatórias – as pessoas desses grupos são excluídos de

determinados empregos, frequentar certas escolas, etc. (fig.16);

4. Agressão física – as pessoas discriminadas são alvo de agressões

(fig.17)

5. Extermínio – liquidação dos indivíduos discriminados; massacres,

genocídio étnico (fig.18 e 19).

Apesar de nem todos os preconceitos seguirem este percurso, Allport considera

que, atingindo-se um determinado nível, é muito provável passar-se para o seguinte.

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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Figura 19

Figura 18

Figura 17

Figura 16

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

47

Como todos nós sabemos em toda a

sociedade são vários os cidadãos alvos de

descriminação. Apesar dos esforços

realizados, no sentido de combater estas

situações, a verdade é que são sempre

muito frequentes.

Quem nunca ouviu falar daquela

vizinha do lado que por ter uma cor de pele

diferente da sociedade em que vivemos

não consegue emprego, ou por outro lado

aquele a quem por infelicidade sua, tem

uma pequena deficiência motora facto

que é usado para chacota, descriminação ou puro preconceito?

No entanto, é comum ouvirmos falar em discriminação positiva, apesar da

conotação negativa que a primeira palavra contém. Então em que se distingue a

positiva da negativa?

Chama-se discriminação positiva às medidas que visam apoiar aqueles que

sofrem de discriminação económica, física, social. Apoios especiais às classes

desfavorecidas, ajudas na saúde e na educação são exemplos destas medidas.

A discriminação afecta severamente, na maioria dos casos, a auto-estima dos

discriminados. Kurt Lewin, depois de um estudo feito nos EUA, considerava que as

pessoas discriminadas interiorizavam o estatuto de vítimas, autodesvalorizavam-se

pela causa das suas diferenças. Após vários estudos recentes, a teoria de Lewin tem

sido confirmada.

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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Racista, eu?

Actualmente, são cada vez mais frequentes as cenas de racismo a que assistimos. Ouvimos tantas pessoas argumentarem, “eu não sou racista!”. Mas será que essas pessoas sabem verdadeiramente o que é ser racista? O racismo consiste em pensar que existem pessoas inferiores a outras, só pelo simples facto de pertencerem a uma cultura ou país diferente. Dizemos que uma pessoa é de outra raça, porque tem uma cor de pele diferente, por se vestir de maneira diferente, mas esquecemo-nos muitas vezes que essas pessoas têm os mesmos direitos que nós e não são inferiores por serem diferentes. São, apenas, diferentes!

Também podemos utilizar a palavra racismo, para descrever um comportamento abusivo, para com pessoas de uma raça que consideramos inferior. Hoje em dia, ouvimos inúmeras vezes dizer que todas as raças e culturas são iguais mas que não se devem misturar para conseguirem manter a sua originalidade. Podemos confundir racismo com preconceito, no entanto, existem diferenças pertinentes entre estes dois conceitos: o preconceito pode ser o simples desprezo por alguém, sem ter obrigatoriamente de influenciar de forma negativa a vida dessa pessoa; por outro lado, o racismo diz respeito a toda uma sociedade.

É importante também mencionar alguns dos problemas que o racismo pode causar a nível psicológico. Certamente, todos nós ficamos um pouco perturbados quando somos alvo de chacota por qualquer motivo, por isso, imaginemos qual será a sensação de sermos alvo de atitudes racistas. Isso pode levar à rejeição das origens da pessoa, dos seus costumes, da sua cultura para assim ser aceite entre as ditas maiorias.

Por isso, cabe a cada um de nós ter um pouco mais de consciência e pensar na sensação horrível que se deve ter numa situação destas! E como diz o ditado popular: “não façamos aos outros aquilo que não queremos que nos façam a nós”!

Silva, Vânia – “Racista, eu?”

http://psicob.blogspot.com/2008/06/racista-eu.html

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Kurt Lewin, psicólogo alemão, trabalhou nas

universidades de Cornell, Stanford e Iowa, fundou o

Centro de Pesquisa de Dinâmica de Grupo do

Instituto de Tecnologia de Massachusetts, (MIT), em

1945.

A teoria do campo psicológico, formulada

por Lewin, afirma que as variações individuais do

comportamento humano com relação à norma são

condicionadas pela tensão entre as

percepções que o indivíduo tem de si

mesmo e pelo ambiente psicológico em que se insere, o espaço vital,

onde abriu novos caminhos para o estudo

dos grupos humanos. Dedicou-se às áreas de

processos sociais, motivação e

personalidade, aplicou os princípios da psicologia da

Gestalt.

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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Conflito, o que é?

Podemos definir conflito como uma tensão que envolve pessoas ou grupos

quando existem tendências ou interesses incompatíveis. Ao conflito associam-se a

comportamentos e sentimentos negativos e prejudiciais para as pessoas, grupos ou

organizações envolvidos.

A situação de conflito pode assumir um carácter intrapessoal (interno),

interpessoal (entre pessoas) ou intergrupal (entre grupos).

Assim, só existe conflito se existir uma relação próxima entre as partes de

modo a justificar esse mesmo conflito, como se mostram frequentes entre pais e

filhos, patrões e trabalhadores.

No entanto, o conflito

social é entendido de forma

mais positiva, sendo um

núcleo de mudança e das

dinâmicas sociais, tratando-se

o conflito de uma

manifestação das interacções

sociais. O agravamento tal

como o atenuamento do

conflito vai depender das

relações internas de cada

grupo, pode aumentar ou diminuir se se desenvolverem atitudes de provocação ou de

conciliação. O conflito passa a ser encarado como “estado de relacionamento”

inerente à vida em sociedade. Estimulam o surgimento de ideias e estratégias.

O conflito entre grupos reforça a concepção de um “nós” em relação a “eles”.

Isto, porque este sentimento entrelaça-se com a necessidade que os indivíduos

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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Resolução de

conflitos

Inacção•Os grupos não agem,esperando que o tempo resolva o conflito

Mediação•Recurso a alguém exterior ao conflito que clarifique a situação e estabeleça a comunicação entre ambas as partes

Dominação•Imposição unilateral da solução por parte de um grupo a outro

Submissão•Cedência de um grupo às exigências de outro

Negociação•As partes intervenientes procuram construir um acordo no sentido de interromper ao desenvolvimento da hostilidade

sentem em superiorizar o seu grupo em relação aos restantes, resultado do

desenvolvimento dos preconceitos e da discriminação.

Cooperação e relação

Não basta o simples contacto entre grupos hostis para se ultrapassarem os

preconceitos e o conflito. O contacto que envolva a cooperação tem muito mais

probabilidade de sucesso na superação de conflitos.

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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É importante que por

cooperação entendamos uma

acção conjunta e concentrada

que envolve a colaboração dos

envolvidos para se atingir um

objectivo comum. Existem

ainda outras formas de

superação de conflitos que

passo a fazer uma breve

referência. A submissão, que

acontece quando um grupo

sede às exigências do outro; a

mediação, que pressupõe a existência de um mediador (elemento neutro) que vai

promover a comunicação entre as partes; a dominação verifica-se quando um dos

grupos impõe unilateralmente a solução ao outro; a negociação, visando impedir a

confrontação directa, a negociação implica cedências e exigências mútuas, os grupos

constroem um acordo e por último a inacção, em que os dois ou um dos grupos

resolve não agir e esperar que o tempo resolva o conflito.

Porém, nos dias de hoje são dominantes as soluções que assentam sobre a

cooperação, a mediação e a negociação. Deste modo, a forma como se aborda um

conflito pode decidir, em grande parte das situações, a segregação ou a integração.

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Conclusão

Cada um de nós aprende a conhecer-se e a conhecer os outros no seio de

relações. Estas relações são não apenas aquelas que estabelecemos com as coisas e

com os lugares, mas sobretudo as relações que temos com os outros.

Viver em sociedade significa não viver só, o que implica, por isso mesmo,

conviver e interagir com o nosso semelhante, ou seja, viver em sociedade gere as

relações interpessoais.

Vivemos no interior de diversos grupos sociais onde conservamos relações com

os outros. As relações que temos com os outros caracterizam-se por sentimentos

diferentes e mesmo contraditórios: sentimo-nos atraídos por algumas pessoas,

estabelecemos relações de intimidade com outras ou temos experiência de relações

marcadas pela agressividade.

As relações entre os indivíduos podem ser ainda influenciadas por estereótipos,

que conduzem a preconceitos e, por vezes, à discriminação dos outros.

Estes conflitos existentes na sociedade marcam a vivência do sujeito e a sua

capacidade de superar as diferenças marcará a sua história pessoal, as suas

experiências.

Apesar dos aspectos positivos e negativos que podem surgir, não se pode negar

que é no meio da sociedade e das relações que estabelecemos com os seus membros

que nos tornamos humanos, em bons e maus aspectos, já que o Homem não é um ser

perfeito e a cada atracção, a cada conflito, vai evoluindo, esforçando-se para se

superar a si próprio, evoluir.

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“EM CONTACTO” PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVÍDUOS E OS GRUPOS

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Bibliografia:

• Ser Humano, Psicologia B - 12º ano – Porto Editora

• http://psicob.blogspot.com/

• http://www.slideshare.net/sergiomorais7/relaes-interpessoais-entre-grupos-e-

indivduos-presentation

• http://www.slideshare.net/marrocano/relaes-interpessoais-de-atraco

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Agressividade

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Intimidade

• http://en.wikipedia.org/wiki/Michael_Argyle_(psychologist)

• http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Sternberg

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Kurt_Lewin

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Sigmund_Freud

• Biografias de Lorenz, Allport e Bandura retiradas dos CD-ROM do livro Ser

Humano, Porto Editora

• http://jovenscontraaditaduradabeleza.blogspot.com/

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Suicidio

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Violência_doméstica

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Bullying

• http://fartoucedapsicologia.blogs.sapo.pt/

• http://blogs.abril.com.br/painelautoajuda/2009/04/agressividade.html

• http://taniaqueiroz.blogspot.com/2009/10/lidando-com-questao-da-

frustracao-e-da.html