Encanto
Tarde
Mary Jhones
Dedico a todos aqueles que sonham em encontrar um
amor verdadeiro.
AGRADECIMENTO
A Deus, pelo dom da vida.
A Sol, pelo incentivo e paciência.
A Sônia Paradela, primeira leitora desse romance.
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Linda parou o carro à beira da estrada e andou alguns
segundos por uma pequena trilha que levava a cachoeira.
Era ali que gostava de estar consigo mesma quando
precisava pensar e tomar decisões e aquela era, sem
dúvidas, uma grande decisão que precisava tomar em sua
vida. Os acontecimentos dos últimos meses causaram uma
grande reviravolta em sua vida. Aquele era o ponto mais
alto da cidade e de lá era possível ver Recanto do Sol1.
Olhou a cidade de cima e relembrou todo o caminho que
havia percorrido até chegar ali, deixou que as lembranças
lhe transportassem há alguns anos.
Recanto do Sol era uma pequena e pacata cidade de Minas
Gerais que ficava em um vale entre montanhas. Conhecida
pelo seu grande potencial turístico, por fazer parte da rota
da Estrada Real, era famosa por suas cachoeiras, grutas e
seus vales verdejantes que encantavam a todos que por lá
passavam. Era o lugar ideal para descansar, pois a paz
parecia morar ali. As ruas estavam quase sempre cobertas
por turistas que vinham curtir a tão bela natureza. Sua
população era formada, na sua grande maioria, por
fazendeiros e pequenos agricultores que viviam da
subsistência do que plantavam e colhiam. Em uma dessas
pequenas propriedades morava uma família simples e
humilde, mas que tinha em sua base o respeito, o caráter, o
amor ao próximo e a educação. Nessa família, nasceu
Linda. Linda não só no nome, mas também na aparência.
Ela era uma sonhadora e sempre que a situação ficava
difícil e sua mãe ficava triste por não poder proporcionar
1Nota da autora: Nome fictício dado a cidade. A paisagem foi inspirada
tendo como referência a Serra do Cipó localizada em Minas Gerais.
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aos cinco filhos todo o conforto que eles mereciam ela
abraçava a mãe e confortava-a:
– Mamãe, não fique triste. Qualquer dia desses ficarei
muito rica e vou poder dar a vocês tudo o que sempre
quiseram – Linda sorria. A mãe sempre ria e achava que a
filha vivia no mundo da imaginação, normal para a idade e
respondia:
– Ficar rica, como?
– Ainda não sei, mas estou pensando sobre isso.
– Sonha, minha filha, porque afinal de contas sonhar é de
graça e não faz mal a ninguém – Joana olhava para a filha.
Esse era o nome da mãe de Linda, era uma mulher morena,
alta e forte. Trabalhava todos os dias ajudando o marido nas
plantações. Sempre teve uma vida muito sofrida desde a
infância, mas era uma mulher forte e não se deixava abater
por qualquer coisa. Era bondosa e sempre procurava ajudar
a todos. Criou seus filhos dando a eles todo amor que podia,
dentro daquela situação de dificuldades onde às vezes
faltava até o essencial. Deu a eles uma educação refinada,
pautada na obediência, no respeito a todos e a tudo.
Trabalhou incansavelmente durante anos para poder estuda-
los e conseguiu proporcionar a todos um Ensino Médio
Técnico, privilégio dos filhos dos grandes fazendeiros.
Tinha orgulho de todos eles e os considerava como um
grande tesouro. Em troca, recebia deles muito amor e
carinho. Quando Joana falava isso, Linda ria e ficava
imaginando tudo o que daria a sua mãe quando fosse rica.
As dificuldades que passavam, muitas vezes, levavam-na a
fugir da realidade e a sonhar com coisas que talvez nunca
pudesse ter, mas era uma forma que ela tinha de suportar as
dificuldades da vida. Linda era daquelas pessoas amáveis,
era difícil encontrar alguém que não gostasse dela, era
meiga e amiga, sempre conquistava a todos com a sua
simpatia. Linda era de cor clara, estatura média e um corpo
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de dar inveja a qualquer modelo, seus olhos eram
castanhos, cabelos longos e ondulados, seu rosto beirava a
perfeição, tinha uma boca perfeita e um sorriso encantador.
Era uma eterna sonhadora. Sonhava com um curso de
Arquitetura que um dia teria condições de fazer, pois
gostava de construções e desenhos. Na infância, sempre
fazia casinhas de barro para brincar. Ela havia projetado e
desenhado como uma grande profissional, um clube que iria
ser seu primeiro projeto: o Clube Recanto do Sol, esse era o
empreendimento que mudaria suas vidas para sempre, pois
a cidade contava com um grande potencial turístico, por ser
muito tranquila e aconchegante, além de ter uma paisagem
maravilhosa, mas faltava dinheiro para realizar tal
empreendimento.
Os anos passaram e um dia, nunca vamos saber se por
cuidado ou descuido do destino, Linda viu Jorginho
fazendo um jogo de loteria. Jorginho era seu irmão mais
velho. Era claro, alto e magro. Um mulherengo assumido,
pois namorava todas as mulheres da cidade, escondido de
sua namorada oficial a quem namorava há quase uma
década. Gostava de carros e sonhava em ter um, mas por
mais que trabalhasse seu dinheiro nunca dava para comprar.
Não perdia a esperança e sempre trabalhava mais. Tinha um
amigo mecânico e com ele aprendeu a dirigir e a consertar
vários defeitos, por isso ele jogava na loteria sempre na
esperança de ficar muito rico. Naquele dia, Linda pediu a
ele para fazer um jogo:
– Jorginho, me deixa fazer um jogo desses aí?
– Você tem dinheiro, Linda? – Jorginho ria.
– Tenho sim – Linda deu ao irmão uma nota de cinco reais.
– Tudo bem, dá para você fazer dois jogos de seis números
– Jorginho estendeu os cartões a Linda. Aquele jogo
mudaria para sempre os seus destinos. O prêmio era
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milionário e Linda teve a sorte de ganhar sozinha. Agora,
aos dezoito anos, era a mais jovem milionária da região e
tinha nas mãos a oportunidade de realizar não só todos os
seus sonhos, mas também daqueles que amava. Seu
primeiro investimento foi feito na propriedade onde viviam.
Junto com Roberto, seu pai, transformou aquela pequena
propriedade em um sítio onde se produzia de tudo um
pouco. Compraram um rebanho de gado e uma porção de
máquinas que facilitariam os trabalhos mais pesados.
Construíram uma casa confortável e aconchegante.
Roberto era daqueles pais “linha dura”. Nunca deixou faltar
a seus filhos alimentação, mas não cuidou de dar amor e
carinho, por isso todos cresceram vendo em Joana o apoio
afetivo que cada um precisava. Roberto era de feições
rústica, magro e tinha uma pele clara castigada pelo sol,
tinha olhos azuis e cabelos claros. Não havia se preocupado
com a educação escolar dos filhos, pois achava que todos
iam acabar sobrevivendo do que a terra podia lhes oferecer.
Jorginho gostava de carro e havia feito um curso técnico de
mecânica, então Linda investiu junto com ele em uma
concessionária, pois não havia nenhuma na cidade e para
comprar um carro os grandes fazendeiros tinham que ir a
Belo Horizonte.
Victor e Carol haviam se mudado para Belo Horizonte anos
antes. Victor era um rapaz de físico forte e o que mais
marcava a sua personalidade era a seriedade: dificilmente
sorria para alguém. Trabalhava em uma loja de
eletroeletrônicos e com a ajuda de Linda, investiu no ramo
abrindo seu próprio negócio.
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Carol, por sua vez, era simpática e risonha, mas em nada se
parecia com Linda, não era bela, mas tinha um imenso
coração. Carol era muito magra o que destacava muito sua
altura, fazendo-a parecer mais alta do que realmente era.
Gostava de se vestir bem o que às vezes lhe causava muita
angústia, pois nem sempre seus pais tinham dinheiro para
comprar as roupas que ela queria. Na infância, vestia as
bonecas de pano que sua mãe lhe fazia com roupas que ela
mesma costurava com restos de tecidos. Quando se mudou
para Belo Horizonte foi trabalhar em uma boutique e
gastava quase todo o seu salário em roupas que estavam na
moda. Andava impecável. Fez um curso de estilista e com a
ajuda de Linda abriu seu próprio ateliê. Passou a andar
ainda mais impecável do que já era, pois roupa agora não
era mais o problema.
Júlia era muito diferente de Linda e Carol, pois era morena
como a mãe. Os irmãos apelidaram-na de baixinha, pois
não havia crescido muito. Era a mais gorda das três e isso a
incomodava muito. Havia conhecido um rapaz que
trabalhava em uma fazenda vizinha às terras onde moravam
e contra a vontade do pai, que achava que ela estava muito
nova para se casar, havia se casado com Thomaz. Ele não
era bonito, mas Júlia havia se encantado com ele desde a
primeira vez que o tinha visto. Ele era um moreno baixinho
sem muita presença, mas gostava de vestir-se bem, tinha
um defeito: adorava jogar e beber. Na verdade, Júlia sempre
havia sonhado em se casar e ter uma família, então quando
se apaixonou por Thomaz, pensou que ele fosse a pessoa
certa. Sua mãe, várias vezes, disse a ela para não tomar tal
atitude, mas Júlia sempre dizia que o amava e que era com
ele que queria se casar e assim o fez. Júlia não sabia bem o
que queria, havia decidido a ser dona de casa, mas como a
cidade era desprovida de grandes supermercados, Linda
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resolveu investir no ramo e colocou Júlia para administrá-
lo. Sabia que assim daria mais sentindo a vida da irmã.
Mesmo depois de todas as mudanças realizadas no sítio,
Joana não queria mais morar lá. Queria sair daquele lugar
onde havia passado toda a sua juventude trabalhando. Ela
sempre havia sonhado com uma casa linda, grande e com
um jardim exuberante na cidade. Linda já tinha em mente
como seria a casa, mas a grande questão era convencer seu
pai a se mudar. Ele não compartilhava da mesma ideia de
Joana:
– Não vou sair daqui. Se vocês quiserem ir morar na cidade,
tudo bem, não me importo – ele declarava toda vez que
Linda tocava no assunto. Então, depois de muito
discutirem, Joana tomou a decisão de ir para a cidade, no
que foi apoiada pelos filhos. Roberto acabou ficando
sozinho no sítio, porque Linda tratou logo de realizar o
sonho da sua mãe e se mudaram. Joana antes de sair
providenciou uma boa equipe de empregados para que nada
faltasse ao marido.
A casa era linda e enorme, tinha dois pavimentos, na parte
de baixo havia quartos, salas e cozinhas e no piso superior
havia quartos, uma biblioteca e um escritório que Linda
equipou com todos os materiais de desenho. O quarto de
Linda era nesse piso e tinha uma varanda que dava de frente
para o jardim. O jardim era maravilhoso e parecia ter saído
de algum filme hollywoodiano. Quem via tudo aquilo,
pensava que tinha sido feito por um profissional, mas tudo
havia sido desenhado pelas mãos de Linda, desde a casa até
os últimos detalhes. Sua mãe estava feliz, todos estavam
felizes, mas Linda ainda não tinha cuidado do seu sonho: o
Clube Recanto do Sol, já era hora de torná-lo realidade e as
obras começaram.
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Os dias passaram serenes e Linda acompanhava tudo de
perto cuidando de todos os detalhes. Era um
empreendimento arriscado que muitos pensavam que não
daria certo e seu irmão Jorginho sempre dizia:
– Linda, não estou querendo te desanimar, mas você acha
que isso vai dar certo? É muito dinheiro e esse lugar sempre
foi muito parado é muito arriscado confiar só nos turistas –
Jorginho tocou no assunto à mesa do café da manhã. Linda
ficava irritada quando ele falava isso: “Por que eles não
acreditavam no seu sonho?” Quando ela realizou os deles
não questionou se daria certo ou não, simplesmente confiou
e investiu, mas ela não se deixava abalar:
– Jorginho, é o meu sonho e não vou desistir. Eu investi nos
sonhos de todos vocês, dupliquei o dinheiro que ganhei
nesses investimentos. Agora eu vou investir no meu sonho
e exatamente por ser muito arriscado que eu criei todo esse
alicerce e se não der certo sempre podemos sonhar de novo,
mas só vou ter certeza disso se arriscar. Como todo
empreendimento pode dar errado, mas pode dar muito certo
também e eu prefiro acreditar que vai dar muito certo.
– Mas Linda, quantas cachoeiras têm nessa cidade? Você
acha que alguém vai ficar trancado dentro de um clube com
essa natureza toda para ser explorada?
– Querido, as pessoas vão para a cachoeira à noite? E
quando elas não quiserem ir? Vão ficar trancadas no quarto
do hotel? As pessoas gostam de shows, bares badalados,
lugar para se divertirem e é isso, Jorginho, que eu estou
querendo oferecer a eles com o clube. Eu estou criando
alternativas para segurar os turistas aqui nessa cidade.
Desde que fiquei rica não tenho feito outra coisa. Tinha
hotel, concessionária, um grande supermercado? Não. Você
se lembra? Nós tínhamos que deslocar até a cidade vizinha
para fazermos muitas coisas e sabe por quê? Porque todo
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mundo pensava assim como você: é arriscado, então não
vou investir. Eu me arrisquei e o que temos? Sucesso. O
hotel já não está mais comportando os hóspedes. Você, no
último mês, vendeu e alugou uma infinidade de carros.
Papai, Victor, Carol e a Júlia estão ganhando muito
dinheiro. Eu não tive medo de arriscar e não vou ter nunca.
Li em algum lugar que dinheiro é energia e como tal tem
que circular e eu concordo plenamente com isso – Linda
calou-se depois desse sermão.
– Tudo bem, Linda, não está mais aqui quem falou.
– E tem mais, Jorginho, se o clube der certo em mais ou
menos uns dois anos eu serei uma bilionária, mas se por
obra do destino ele der errado eu continuarei sendo uma
milionária e sabe por quê? Porque eu criei alicerce para isso
– Linda finalizou.
– Sabe quem você está parecendo falando desse jeito?
Aquele professor de empreendedorismo que tinha naquele
curso de Tecnólogo em Administração que você nos
obrigou a fazer em Belo Horizonte, você lembra?
– Lembro sim – Linda riu. – Ele era ótimo e tudo o que
aprendi agradeço a ele.
– Lógico, ele só dava aula olhando para você, como se
fosse a única pessoa que estivesse na sala – Jorginho ria e
Linda deu uma gargalhada. Sua mãe era a única que sempre
lhe apoiava:
– Minha filha, se é isso que você quer vai em frente e se
não der certo saiba que você tentou, pois sempre é melhor
tentar do que não tentar – Joana olhava para a filha. Era por
isso que Linda amava muito sua mãe, ela sempre apoiava
seus sonhos por mais loucos que podiam parecer.
Enfim o grande dia chegou, o tão sonhado projeto estava
pronto e tinha ficado maravilhoso. A cidade toda estava
curiosa para saber como era o clube, não se falava em outra
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coisa. Em todos os lugares só havia um comentário: a festa
de inauguração do Clube Recanto do Sol. Naquela manhã,
Linda acordou, levantou, abriu a janela do seu quarto que
dava para o jardim e como fazia todos os dias olhou para o
céu:
– Bom dia, Deus! Bom dia, vida! Como é bom viver! – Ela
estava feliz. Essa era uma das características mais
marcantes de Linda: amava a vida e muito mais a Deus por
tê-la premiado com tantas coisas boas e agradecia a Ele
todos os dias por ter nascido. Tomou um banho e desceu a
escada sorrindo. À mesa, sua mãe e seu irmão tomavam
café:
– Bom dia, minha filha, feliz? – Foi Joana quem a saudou.
– Muito e eu te amo demais. Não vejo a hora de chegar a
noite – Linda abraçou sua mãe. Sempre era muito
carinhosa.
– Também amo muito você, querida e fico feliz por esse
grande dia ter chegado. Sabe o que eu estava falando com o
seu irmão?
– O que? – Linda serviu um pouco de leite.
– A concessionária é um sucesso. O negócio deu certo e vai
bem, logo ele já pode pensar em se casar, porque já faz
muito tempo que ele e a Paula estão namorando e separar
eles não vão mesmo.
– Eu também acho e se você quiser, maninho, podemos
marcar a festa de noivado – Linda riu e virou-se para ele.
– Você também só pensa em festa! Eu vou decidir isso,
depois eu penso se vai ter festa – falando isso, Jorginho se
levantou: – Já estou atrasado. Tchau para vocês.
– Tchau e vê se não atrasa para a festa.
– Ok, beijinhos – Jorginho saiu.
– Não sei mais o que fazer. Antes ele dizia que não tinha
condições de sustentar uma família e agora que tem não
fala em se casar – Joana disse desolada.
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– Calma, mamãe, isso leva tempo, ele tem que pensar onde
vai morar, quando quer se casar... Mesmo porque esses dois
só não moram juntos, mas estão mais que casados.
– Eu nunca vou entender vocês! – Joana balançava a
cabeça.
– Eu se fosse a senhora nem tentava entender – Linda
beijou sua mãe e saiu rindo. Foi para o jardim.
– Filhos! – Joana resmungou. – Nunca sabemos o que fazer
com eles!
Jorginho já namorava Paula há vários anos e sempre
arrumava como desculpa para não se casar o fato de não ter
como sustentar uma família, mas a verdade é que ele não
sabia se realmente queria se casar, pois gostava da vida
mundana e da farra com os amigos, porém, ao mesmo
tempo se via preso a Paula pelo tempo em que estavam
namorando. Certamente ele iria tentar adiar o mais que
pudesse.
Linda passeava pelo jardim quando encontrou Clara que
chegava. Clara era sua prima, filha do irmão de Joana e
eram muito amigas, pois cresceram juntas, uma vez que seu
tio também viva em uma pequena propriedade próxima a de
seu pai. Com o tempo, seu tio construiu uma casa na cidade
e se mudou, mas ainda assim ambas viviam uma na casa da
outra. Clara era uma pessoa muito simpática e tinha uma
expressão suave, os cabelos loiros realçavam muito a cor
clara de sua pele. Era magra e tinha uma estatura média.
Linda gostava muito dela e ao vê-la ficou feliz:
– Olá Clarinha, bom dia! – Linda se aproximou sorrindo.
– Bom dia! Está feliz? – Clara abraçou-a.
– Muito e você está feliz com o seu novo emprego de
recepcionista do clube?
– Nem sei como agradecer! – Clara sorriu.
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– Não precisa, pois você sabe o quanto eu gosto de você! –
Linda beijou a amiga. – Só não entendo porque você não
quis ficar na administração com o seu pai.
– Lógico que não, você acha que eu ia trocar as pessoas
pelos papeis? É na recepção que as coisas acontecem e lá
posso ver o movimento o dia todo.
– Só você mesmo, Clara – Linda riu. As duas ficaram um
tempo caladas passeando pelo jardim e quando chegaram à
beira da piscina, Linda olhou para o céu e suspirou: – Sabe
Clarinha, eu tenho tudo, no entanto sinto dentro de mim um
vazio – sua voz era triste.
– Por quê? – Clara parou de andar.
– Não sei, é como se faltasse alguma coisa – Linda olhava
para a água da piscina que fazia ondas com a brisa leve que
soprava.
– Acho que você está precisando mesmo é de arrumar um
namorado – Clara resolveu brincar, pois Linda não podia
estar falando sério: “Como alguém que tinha tudo, como
Linda tinha, podia sentir falta de alguma coisa?”
– Eu estou falando sério, Clarinha! Só não sei o motivo
desse vazio – Linda ficou pensativa.
– E o Pedro? – Clara resolveu mudar de assunto, pois sentiu
que Linda estava ficando triste e aquele não era um dia para
tristezas.
Na adolescência, Linda havia se apaixonado por um colega
de escola, Pedro, ele era filho de um dos fazendeiros da
região. Ela o amou desde o primeiro dia que o viu no
colégio, mas sabia que jamais ficariam juntos por causa de
suas condições sociais: pertenciam a mundos diferentes.
Era costume da região que as pessoas se casassem com
outras da mesma classe social e ela sufocou esse amor.
Pedro era um rapaz alto, forte e tinha a pele bronzeada
pelos raios de sol, pois vivia a cavalgar pela fazenda do seu