2 CICLO DE ESTUDOS EM PORTUGUS LNGUA SEGUNDA/ LNGUA ESTRANGEIRA
Ensino/ Aprendizagem de Falsos Amigos em Lnguas com a mesma origem: Portugus e Espanhol Mnica Filipa Martins Guedes
M 2017
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Mnica Filipa Martins Guedes
Ensino/ Aprendizagem de Falsos Amigos em Lnguas com a
mesma origem: Portugus e Espanhol
Relatrio realizado no mbito do Mestrado em Portugus Lngua Segunda/ Lngua
Estrangeira, orientada pela Professora Doutora Isabel Margarida Duarte
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
setembro de 2017
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Ensino/ Aprendizagem de Falsos Amigos em Lnguas com a
mesma origem: Portugus e Espanhol
Mnica Filipa Martins Guedes
Relatrio realizado no mbito do Mestrado em Portugus Lngua Segunda / Lngua
Estrangeira, orientada pela Professora Doutora Isabel Margarida Ribeiro de Oliveira Duarte
Membros do Jri
Professora Doutora Isabel Margarida Ribeiro de Oliveira Duarte
Faculdade de Letras - Universidade do Porto
Professora Doutora ngela Cristina Ferreira de Carvalho
Faculdade de Letras Universidade do Porto
Professor Doutor Rogelio Ponce de Len Romeo
Faculdade de Letras - Universidade do Porto
Classificao obtida: 17 valores
4
A todos aqueles que realmente o so.
Hlder Ferreira Montero
5
Sumrio
Agradecimentos ..7
Resumo .......................8
Abstract ..9
Resumen ...10
ndice de Ilustraes .11
ndice de Quadros .12
ndice de Tabelas ..13
Lista de Abreviaturas 14
Introduo .15
Captulo 1- Fundamentos Tericos
1. A relao entre as lnguas portuguesa e espanhola .18
2. Lingustica Contrastiva e os seus modelos ....19
2.1. Anlise Contrastiva ..19
2.2. Origem da Anlise de Erros ...22
2.3. Interlngua e Anlise de Erros 22
2.4.O papel da Lngua Materna 26
3. Os Falsos Amigos .30
3.1. Definio do conceito ....30
3.2. Distino de conceitos ...32
3.3. Formao dos Falsos Amigos 33
3.4. Diferentes Tipos de Classificao .35
4. A aprendizagem do lxico em Lngua Portuguesa 37
Captulo 2 - Anlise da Prtica Docente
1. Contexto de estgio pedaggico .40 1.1. A Escuela Oficial de Idiomas de Len .................................................40 1.2. Descrio do ncleo de estgio 41 1.3. Caracterizao da turma ...41
2. Diagnstico Inicial .42 2.1. Caracterizao do inqurito inicial ..42 2.2. Anlise dos resultados obtidos no inqurito inicial ..43
3. Metodologia adotada em aula..57 3.1. Propostas de atividades 58
6
4. Inqurito Final ...75
4.1. Anlise dos resultados obtidos no inqurito final 75
Concluses ...87
Referncias Bibliogrficas 89
Anexo 1 93
Anexo 2 94
Anexo 3 95
Anexo 4 96
Anexo 5 97
Anexo 6 98
Anexo 7 99
Anexo 8 ..100
Anexo 9 ..101
Anexo 10 102
Anexo 11 103
Anexo 12 104
Anexo 13 105
7
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a todos aqueles que fizeram parte deste projeto de forma direta e
indireta.
Em primeiro lugar, Professora Doutora Isabel Margarida Duarte, por todo o tempo que
dispensou e toda a ajuda prestada na criao deste relatrio.
Professora Gabriela Amandi, pela oportunidade e confiana que depositou em mim e
no meu trabalho ao longo de todo o ano letivo, para alm da amizade construda.
Aos meus pais e irm, parte fundamental de todo o meu percurso acadmico e pessoal,
sem eles nada disto seria possvel.
minha famlia mais prxima que de uma forma ou outra esteve presente em todos os
momentos da minha vida.
Mrcia e a Catarina, amigas de toda a vida, pela eterna amizade que se tornou num dos
pilares deste projeto.
A las mejores compaeras de casa, Natlia, Klaudia, Alejandra y Anglica, sin vosotras
mi ao no sera la misma cosa, gracias por todo el apoyo y amistad.
A ti, porque incluso estando del otro lado del mundo me sigues apoyando a cada da.
A todos, o meu muito obrigada!
8
Resumo
Este relatrio tem como principal objetivo averiguar as dificuldades aquando da
aprendizagem do lxico falso amigo nos alunos espanhis, no contexto da aprendizagem
do portugus como lngua estrangeira. Dois idiomas to semelhantes, separados pelo
tempo e pela histria, que partilham 85% do vocabulrio, requerem atenes redobradas,
no momento da aprendizagem.
O meu principal objeto a aprendizagem dos falsos amigos e a reviso dos mtodos mais
eficazes para faz-lo, j que ainda hoje escasso o material disponibilizado pelos manuais
e grande parte das vezes este material no est adequado ao contexto especfico de ensino.
Este estudo parte da anlise contrastiva das lnguas em causa, para apresentar a realidade
do grupo de estgio, passando pela exposio crtica de vrias propostas bem conseguidas
que fomentam uma melhor aprendizagem do tema em questo.
Palavras-chave: Anlise Contrastiva, Interlngua, Falsos Amigos, Portugus Lngua
Estrangeira, Espanhol.
9
Abstract
This report has as main concern to ascertain the difficulties demonstrated whilst learning
the false friend lexicon with Spanish students in the context of learning Portuguese as a
Foreign language. Two languages, remarkably akin, separated by time and history, yet
sharing 85% of the vocabulary, demand more attention when learning.
My main target is the learning of false friends and to revise the most effective methods to
do so, since there is still scarce material available in manuals and, most of the time, this
material is not proper in the teaching context.
This study starts from the contrastive analysis of both languages up to the trainees group
experiment, fleeting through several successful proposals that promote a better learning
of the subject here written.
Keywords: Contrastive Analysis, Interlingua, False Friends, Portuguese as a Foreign
Language, Spanish.
10
Resumen
Este relatrio tiene como objectivo principal averiguar las dificultades en el momento del
aprendizaje del lxico falso amigo en los alumnos espaoles en el contexto de aprendizaje
del portugus como lengua extranjera. Dos idiomas tan semejantes, separados por el
tiempo y la historia que compartillan un 85% del vocabulrio, merecen una doble atencin
en el momento del aprendizaje.
El tema en que me enfocar es el aprendizaje de los falsos amigos y el repasso de los
mtodos ms eficazes para hacerlo, ya que hoy sigue siendo muy poco el material
disponible en los manuales y gran parte de las veces, este material no es adequado al
contexto de enseanza.
Este estdio va desde el anlisis contrastivo de las dos lenguas en questin hasta la
realidad del grupo de prticas, passando por variadas propuestas bien conseguidas que
logran un mejor aprendizaje de este tema.
Palabras Clave: Anlisis Contrastivo, Interlengua, Falsos Amigos, Portugus Lengua
Extranjera, Espaol.
11
ndice de ilustraes
Ilustrao 1: Sistema da interlingua24
12
ndice de Grficos
Grfico 1: Contato com a lngua portuguesa fora da aula ...43
Grfico 2: Competncia mais difcil aquando da aprendizagem ....44
Grfico 3: Palavra mais problemtica propina 45
Grfico 4: Palavras mais problemticas na traduo para o espanhol 50
Grfico 5: Palavras mais problemticas na traduo para o Portugus ..53
Grfico 6: Palavras com melhores resultados nos exerccios de traduo 55
Grfico 7 : Anlise comparativa da palavra propina ..76
Grfico 8: Evoluo das palavras assinatura e sobremesa ..77
Grfico 9: Comparao dos resultados da palavra trampa .78
Grfico 10: Comparao da evoluo da palavra berros 79
Grfico 11 : Comparao da evoluo da palavra refranes 79
Grfico 12: Comparao da evoluo da palavra tostn .80
Grfico 13: Comparao da evoluo da palavra ciruelas .80
Grfico 14: Comparao da evoluo das palavras ancdota e balcn 81
Grfico 15: Comparao da evoluo da palavra vulto .83
Grfico 16: Comparao da evoluo das palavras exquisito, ferias e buzo.83
13
ndice de tabelas
Tabela 1: Falsos amigos usados no exerccio de completar espaos .......45
Tabela 2: Falsos amigos usados no exerccio de traduo para o espanhol .49
Tabela 3: Falsos amigos usados no exerccio de traduo para o portugus ...52
Tabela 4: Falsos amigos do texto La presunta abuelita ...60
Tabela 5: Falsos amigos presentes no exerccio n 1 ..62
Tabela 6: Falsos amigos presentes no exerccio n2 ..64
Tabela 7: Correo do exerccio n2 ..66
Tabela 8: Falsos amigos presentes no exerccio n 3 ..67
Tabela 9: Falsos amigos presentes no exerccio de compreenso oral ...73
14
Lista de abreviaturas
AC- Anlise Contrastiva
LM- Lngua Materna
LE- Lngua Estrangeira
IL- Interlngua
L2- Lngua Segunda
FA- Falsos Amigos
PLE- Portugus Lngua Estrangeira
15
Introduo
Nos ltimos anos, o ensino de portugus lngua estrangeira tem crescido de forma notvel
tanto em Portugal como pelo Mundo. Os alunos so levados a estudar este idioma por
diversas razes desde pessoais a profissionais. Dada a expanso deste ensino pelo mundo,
existe uma necessidade crescente de dar uma formao adequada ao professor. Deve para
alm de ensinar uma lngua, uma cultura, conhecer ao mximo, se possvel, a lngua
materna do aluno e tentar fazer um paralelo entre ambas.
Este relatrio est especificamente direcionado para a relao entre o portugus e o
espanhol, no querendo dizer que parte dele no possa interessar a outras relaes
lingusticas entre outras lnguas.
O ensino de Portugus Lngua Estrangeira (PLE) em contexto espanhol, primeira vista
parece uma tarefa fcil tanto para o professor como para os alunos. Duas lnguas com
origem comum e com grande parte do vocabulrio partilhado levam a que os alunos
achem que podem facilmente entender e compreender tudo o que lhes transmitido,
sem grande esforo de aprendizagem da parte deles.
O meu interesse, neste estudo, verificar at que ponto o lxico comum, no caso dos
Falsos Amigos, pode afetar a aprendizagem e futura comunicao na lngua alvo.
Este relatrio apresenta-se dividido em duas grandes partes. Uma primeira terica, que
posso subdividir em dois grupos: o primeiro onde se centra a investigao da Anlise
contrastiva, Anlise de Erros e Interlngua teorias que explicam a relao entre as lnguas
e o porqu das falhas existentes nos alunos; o segundo onde explicado com algum
pormenor, o tema central do estudo: os FA com todas as suas caractersticas e os
diferentes pontos de vista de vrios investigadores sobre eles.
A segunda grande parte que compe este relatrio a parte prtica, onde descrevo de
forma exaustiva toda a minha experincia durante o perodo de estgio. Nesta parte
podemos analisar os resultados iniciais que obtive sobre os FA, os mtodos e propostas
didticas que usei para combater os erros e, por isso, tambm uma ltima avaliao para
verificar a evoluo do grupo.
Acima de tudo, este relatrio surge com uma simples funo: ajudar os alunos desde o
16
incio da aprendizagem a desproblematizar este tema to pouco falado, criar mtodos
adequados que facilitem a aprendizagem e, fundamentalmente fazer com que os FA
deixem de ser um bicho de sete cabeas que impedem os alunos de comunicar tanto em
aulas como com nativos, por medo de fazerem m figura e de dizerem alguma coisa sem
sentido.
Elenque-se agora os principais motivais que me levaram escolha do tema, Ensino/
Aprendizagem de Falsos Amigos em Lnguas com a mesma origem: Portugus e
Espanhol, foi uma escolha apenas minha, tendo em conta a minha experincia como aluna
de lngua espanhola e professora de Portugus a alunos espanhis.
A minha ligao com as duas lnguas j existe h alguns anos, e desde os primeiros
estudos em lngua espanhola que senti uma enorme curiosidade pelo tema dos Falsos
Amigos e pela conexo entre as duas lnguas. Durante a licenciatura, fiz um perodo de
estudos ao abrigo do Programa Erasmus, em Salamanca, onde tomei contacto pela
primeira vez com as dificuldades que os alunos espanhis tm no momento de aprender
os FA, pois a bibliografia sobre o tema bastante reduzida e ainda hoje no existem
manuais dedicados ao tema, e os manuais existentes quase no fazem referncia a um dos
aspetos mais problemticos na aprendizagem de lnguas cognatas. Para alm disso, o
professor de Portugus Lngua Estrangeira obrigado a criar e inventar exerccios e
mtodos, adequados s necessidades dos alunos, pois deve ser prioritrio pr de parte as
infindveis listas bilingues de palavras, j que os alunos no lhe prestam a devida
importncia pois um mtodo velho e completamente desinteressante, alm de ser pouco
eficaz.
Aps terminar a minha licenciatura, tive a oportunidade de trabalhar numa Escola de
lnguas em Espanha como Auxiliar de Conversao. Foi nesse momento em que tive pela
primeira vez a oportunidade de ajudar os alunos num dos temas que eu achava mais
importante e que era muitas vezes desprestigiado.
O mestrado cujo relatrio agora apresento conseguiu superar as minhas expectativas e fez
uma juno perfeita entre os meus idiomas de eleio. O estgio pedaggico em Espanha,
foi uma das peas chaves para a realizao deste relatrio e para, por fim, poder analisar
a fundo um tema que merece mais ateno do que aquela que lhe prestada. Como
17
professora de PLE e como investigadora deste tema, posso confirmar o que j vrios
autores referiram: que h falta de bibliografia fundamentada sobre este assunto. Sendo o
portugus e o espanhol to falados no mundo atual, no encontro justificao possvel
para tal desinteresse acontecer. O meu papel neste relatrio combater esse desinteresse
e essencialmente ajudar alunos e professores e, alm disso, pretendo passar uma
mensagem sobre a minha experincia e mencionar algumas tentativas e mtodos que
funcionaram durante o meu processo de estgio.
18
Captulo 1 Fundamentos Tericos
1. A relao entre as Lnguas Portuguesa e Espanhola
Portugal e Espanha, at certa altura partilharam uma histria e um percurso comum, desse
modo, partilharam tambm lnguas que esto na base do Portugus Europeu e do
Espanhol Peninsular. Devemos ter em conta que, tendo tido uma origem comum, mas
tendo sofrido caminhos e evolues diferentes, as duas lnguas aproximam-se e afastam-
se ao mesmo tempo, dando assim origem a zonas de lngua comum e outras com
diferenas acentuadas.
natural, devido histria e origem comum que haja uma grande semelhana entre as
lnguas e os dialetos peninsulares na atualidade. As lnguas peninsulares atuais, exceo
do vasco, possuem grandes semelhanas, o que facilita a compreenso entre os falantes
de um modo geral. Takeuchi (1980 apud Grelo, 2012, p.2) afirma que as lnguas
portuguesas e espanhola possuem um nmero baixo de palavras diferentes e uma grande
variedade de vocbulos comuns.
Grande parte das palavras destas duas lnguas procedem do latim, lngua que foi falada
durante vrios sculos em partes da Europa como Portugal, Espanha, Frana, Itlia e
Romnia. Esta expanso da lngua latina foi uma lgica consequncia da grandeza do
Imprio Romano, como todos sabemos.
19
2. Lingustica Contrastiva e os seus modelos
A lingustica contrastiva inclui, geralmente, pelo menos trs modelos de anlise: a anlise
contrastiva (AC), anlise de erros (AE) e interlngua (IL).
Guillemas (2004 apud Gonalves 2013, p.52) entende que o ensino e a aprendizagem de
lnguas estrangeiras se desenvolvem segundo estes trs modelos, pois possvel retirar,
deles, diferentes solues e mtodos didticos para os problemas do ensino: - a
lingustica contrastiva um continuum que transita por trs etapas complementares e cada
uma delas oferece informao suficiente para poder super-la e aceder (etapa) seguinte,
de tal modo que no se pode explicar uma sem a outra. (Guillemas 2004 apud Gonalves
2013, p.52).
2.1 Anlise Contrastiva
O modelo de investigao da AC de uma lngua estrangeira foi apresentado pela primeira
vez nos trabalhos de Charles Fres (1945) e Robert Lado (1957). Estes autores propem
nas suas obras uma comparao sistemtica de duas lnguas, a lngua materna do aluno e
a lngua estrageira que este aprende. A divergncia entre os dois sistemas lingusticos, a
LM e a LE, um dos fatores que provoca e explica o erro e a interlngua.
Um contraste deste tipo pode e deve delimitar as diferenas e semelhanas entre os dois
idiomas. Deste modo, ser possvel definir as reas de estudo que causam mais problemas
ao aluno e assim tentar ultrapass-los durante o processo de aprendizagem.
Fres (1945 apud Gargallo 1993, p.33), sobre este assunto, afirma que Los materiales
ms eficientes son aquellos basados en una descripcin cientfica de la lengua que vamos
a estudiar, cuidadosamente comparada con una descripcin de la lengua del estudiante.
Lado (1957 apud Gargallo 1993, p.34) segue a mesma linha de pensamento que Fres,
fazendo com que toda a investigao tenha como fim identificar as reas de maior
dificuldade de aprendizagem de uma LE.
El plan de este libro descansa en la afirmacin de que podemos predecir
y describir las estruturas que causarn dificultad en el aprendizaje, y
aquellas que no entraarn dificultad, mediante la comparacin
20
sistemtica de la lengua y cultura que va a ser aprendida con la cultura
y la lengua nativa del estudiante.
Podemos retirar das afirmaes dos autores que os alunos tendem a transferir
vocabulrio e estruturas da sua LM no momento em que aprendem uma LE, tanto
durante a produo bem como na compreenso dessa lngua.
Podemos resumir as caractersticas destes modelos nos seguintes pontos:
-comparacin sistemtica y exhaustiva de dos sistemas lingusticos;
- determinacin de diferencias y similitudes;
-estudio sincrnico y binrio;
- comparacin en niveles horizontales;
- aplicacin de los resultados a la didctica;
- estdio interasado en el processo;
- su objectivo es la construcin de una gramtica contrastiva: una
descripcin de dos lenguas basadas en las diferencias y semejanzas de
ambas. (Gargallo 1993, p.34-35)
Um dos conceitos bsicos em que baseia a AC o da interferncia. Diz-se que
existe interferncia quando o aluno utiliza na LE, traos morfolgicos, sintticos,
fonticos ou lexicais caractersticos da sua LM.
Numa fase inicial da AE, alguns linguistas acreditam que a hiptese da
interferncia capaz de explicar quase todos os erros na LE. No entanto, Lado
(1957, p.72) adverte que la lista de problemas resultantes de la comparacin
entre la L1 la L2 [...] debe considerarse una lista de problemas hipotticos, en
tanto no se confirme su existncia en el habla de los alunos.
O ensino de uma L2, segundo os estudos contrastivos, deve ser composto por
uma gradual apresentao da lngua que se vai aprender, criando assim nos
alunos uma conscincia das semelhanas e diferenas das estruturas em relao
s da sua LM.
21
O professor dever aplicar os conhecimentos de lingustica contrastiva tendo em
conta a situao em que est inserido e constantemente, analisar as dificuldades
dos alunos ao aprenderem novas estruturas:
Los resultados de un Anlisis Contrastivo pueden ser de gran utilidad
para el profesor de lenguas extranjeras, ya que el conocimiento de las
diferencias y similitudes entre la lengua del estudiante y la lengua
extranjera, le har saber cules son los problemas reales y podr
oferecer una mejor manera de ensenarlos. (Lado 1957, p.2)
Politzer (1978 apud Gargallo 1993, p.60) cria uma experincia para verificar o
que se deve aprender primeiro: -se as estruturas que so diferentes ou aquelas
que coincidem estruturalmente. Realizou uma investigao com estudantes
iniciantes de francs e espanhol, e o resultado que observou foi que as estruturas
contrastivas em que h diferenas deviam ser as primeiras a ser ensinadas. O
ensino deste tipo de estruturas implica uma insero simultnea das estruturas
do sistema da LE com as correspondentes da LM, -ainda que existam autores
como Hadlinch (1968 apud Gargallo 1993, p.60) e Richards (1974 apud
Gargallo 1993, p.60) que acreditam que este mtodo mais do que prevenir erros,
provoca-os.
Todos podemos afirmar que ao longo dos tempos o mtodo de traduo mental
foi um dos mais utilizados pelos professores de lnguas estrangeiras. Este mtodo
foi apoiado por uns e detestado por muitos outros. Di Pietro (1970 apud Gargallo
1993, p.60) refere que a traduo inevitvel nas partes do sistema em que as
estruturas da L2 correspondem s da LM, pois o aluno no deixa de pensar na
LM enquanto aprende uma nova lngua.
Por contrapartida, o uso da traduo pode ser prejudicial se comear a tornar-se
um hbito, nos nveis mais avanados. Hoje em dia, h um sentimento de
rejeio da traduo por grande parte dos linguistas e professores ainda que
alguns proponham uma reabilitao deste mtodo (Hurtado 1987 apud Gargallo
1993, p.61).
22
2.2 Origem da Anlise de Erros
O modelo da anlise de erros (AE) surge como uma ligao entre a AE e a
Interlngua. Corder (1967) foi o responsvel pelas primeiras formulaes
tericas sobre este tema. Apoiado nas teorias de Chomsky (1965 apud
Gargallo,1993), questiona as bases da AC e a teoria da aquisio da lngua de
Skinner (1957), o que o leva a uma nova reformulao das teorias da
aprendizagem bem como do tratamento dos erros, que passariam a ser mais
tolerados por parte dos professores de LE.
Segundo Corder (1967 apud Vita 2005, p.20,) a AE est dividida em duas
categorias: erros de interferncia ou interlingusticos e erros intralingusticos. Os
de interferncia, no eram considerados os mais importantes e eram vistos de
maneira diferente daquela que apresentava a AC. Estes erros so provocados
pela influncia da LM, pois o aluno coloca a hiptese de regras da LE serem
iguais s da sua LM. J os intralingusticos ocorrem quando o aluno supe regras
para a LE simplificando as da sua LM, sendo este tipo de erro pouco fcil de
prever.
2.3 Interlngua e Anlise do Erro
O conceito de IL foi analisado ao longo dos anos por vrios autores e professores
de lnguas estrangeiras. A aquisio de uma LE como o portugus, por parte de alunos
espanhis um processo demorado, marcado por comportamentos lingusticos
especficos dos alunos. Os desenvolvimentos tanto orais como escritos na lngua alvo
permitem ao professor verificar a evoluo progressiva de cada competncia. Essa
evoluo constitui assim uma IL, pois os alunos tm tendncia em apoiar-se em e
recorrer frequentemente sua LM e, em espacial no caso de lnguas como o portugus
e o espanhol, que partilham a mesma origem. Este fenmeno apresenta alguma
23
complexidade o que poder levar o professor a pensar numa forma de o contornar e
assim facilitar o ensino de uma nova lngua.
O conceito de IL foi introduzido pela primeira vez em 1972, por Selinker.
Segundo Torras (1994), este conceito foi utilizado para definir um sistema lingustico
aproximado, uma gramtica mental que o aprendiz de uma lngua vai construindo
durante o processo de aquisio da mesma. Este sistema ou IL no pode ser considerado
pelo professor como uma verso errada da lngua, mas sim como um sistema em si.
Implica que o aluno nem fale a sua L1 nem a L2, ainda que o modo como fala contenha
uma juno de ambas.
Corder (1981) foi tambm um dos investigadores que estudou este fenmeno, ao
qual atribuiu uma definio um pouco diferente:
The study of interlanguage is, then, the study of the language systems
of language learners, or simply the study of language learners
language. Other names for learners language have been proposed.
James coined the term interlingua and Namser offered approximative
systems. I myself have written about the learners transitional
competence. Each of these terms draws attention to the different aspect
of the phenomenon. The terms interlanguage and interlingua suggest
that the learners language will shaw systematic features both of the
target language and the other languages he may know, most obviously
of his mother tongue. (Corder 1981, p. 66-67)
Inicialmente os autores apresentam um pequeno esquema de como seria a IL no
incio do processo de apredizagem, que adaptei realidade das lnguas em
estudo.
24
Ilustrao 1: Sistema da interlngua
Ambos os autores concordam que a lngua criada pelo aluno estruturamente
interna e nela existe uma evoluo, um desenvolvimento que se faz sentir ao
longo da aquisio. Uma IL est em constante mudana, pois vai-se dando uma
evoluo ao longo do processo de aprendizagem e cada vez mais so inseridos
na IL elementos da LE. No entanto Selinker tambm acredita que pode gerar-se
um processo de fossilizao da IL, caso o input da lngua alvo seja apenas
durante o horrio de aulas. Se o aluno no recebe outro tipo de input dificilmente
a IL evoluir de uma maneira positiva.
Baralo (2004, p.378 apud Fernandes 2013, p.23), vai ao encontro da mesma ideia
de Selinker: - refere que fossilizao un mecanismo por el que un hablante
tiende a conservar en su IL ciertos tems, reglas y subsistemas lingsticos de su
lengua maternal en relacin a su lengua objeto dada..
Deste modo a IL e a fossilizao caracterizam todo o processo de aquisio de
uma LE. Selinker(1972 apud Liceras 1991, p.84) enumera cinco princpios que
fazem parte da IL dos alunos de LE: la transferencia lingstica, la transferencia
de instruccin, las estrategias de aprendizaje de la lengua segunda, las estrategias
de comunicacin en la lengua segunda y la hipergeneralizacin del material
lingstico de la LE
Nestes principais processos, pode-se observar uma certa instabilidade e algumas
inadequaes que marcam a passagem da L1 a uma L2- Lngua alvo, e que vrios
autores viam como um erro.
Lngua Materna Espanhol
Lngua Alvo Portugus
Interlngua
25
Como podemos, ento, definir o erro?
Erros e falhas so acontecimentos recorrentes durante uma conversa ou qualquer
outro tipo de comunicao tanto de falantes nativos como de no nativos. A
definio dos erros a que nos referimos, neste estudo em concreto, diz respeito
apenas a hispano-falantes aprendente do portugus como LE. Como foi
anteriormente dito, o erro faz parte do processo de aprendizagem de um novo
idioma e, para o professor, este fenmeno sinal da evoluo do aluno, pois o
objetivo principal deste a comunicao, expressar a sua opinio e necessidades.
Trata-se assim de uma aprendizagem realizada passo a passo onde o erro
considerado normal.
O conceito de erro tal como o estamos a encarar foi formulado por Corder
(1967). Existem ainda outros conceitos que muitas vezes so usados como
sinnimos, que merecem a pena ser esclarecidos aqui. Segundo Norrish (1983,
p.7 apud Gargallo 1993, p.78), um erro um desvio sistemtico, uma falta
um desvio inconsciente e eventual e um lapso um desvio devido a fatores
extralingusticos, como a falta de concentrao, memria curta, etc.
Corder (1967) refere a aprendizagem da L2 e analisa as oraes produzidas nesta
L2 ou numa LE. Estas oraes podem ser de dois tipos: oraes errneas e
idiossincrticas. Corder, citado por Liceras (1992, p.68), defende que:
Las nicas oraciones a las que con justicia podra llamarse errneas
seran aquellas que son el resultado de algn fallo de actuacin.(...) Lo
que destaca de ellas es que normalmente son corregidas o corregibles
por el hablante mismo(...) por el contrario, las que denomino oraciones
idiosincrsicas no entraan un fracaso de realizacin y no pueden ser
corregidas por el alumno precisamente porque reflejan las nicas reglas
que l conoce, las de su dialecto transicional.
Este dialeto transitrio apresenta as seguintes caractersticas, segundo Gargallo
(1993): um sistema lingustico com uma gramtica prpria; pouco estvel e
est em mudana contnua; as oraes, mesmo quando no obedecem a regras
da lngua, no so consideradas desvios nem erradas, so sim idiossincrticas;
26
pode ser um sistema individual ou de um grupo com a mesma formao.
Deste modo Corder define as bases para um modelo da anlise de erros, onde o
erro a todo o momento considerado um ponto fundamental no processo de
aprendizagem de uma L2: - el estudiante est usando un sistema finito de
lengua en cada punto del processo, aunque no es () el de la segunda lengua
() los errores del estudiante son evidencia de este sistema y son en s mismos
sistemticos. Corder (1967, p.166).
Por norma, os erros so fruto da IL, ou seja, so transferncias da lngua inicial
na lngua alvo. Durante as aulas de LE, os primeiros erros so principalmente de
pronncia, coerncia e ortografia. Podemos considerar os professores tambm
fontes de erros, pois por vezes uma m organizao e gesto da aula pode
influenciar a aprendizagem dos alunos. Fatores como as tcnicas de ensino,
temas em demasia ou desadequados ao nvel de proficincia dos alunos, m
gesto do tempo, falta de tempo na sala de aula para esclarecer dvidas, etc.
podem contribuir para os erros. Cabe ao professor facilitar e articular mtodos
que favoream a aprendizagem correta e progressiva dos alunos.
Neste estudo, prestarei ateno apenas s interferncias semnticas, as que
implicam a no correspondncia no lxico, no sentido, entre a LM e a LE, neste
caso nos falsos amigos.
2.4. O papel da lngua materna
Na aprendizagem de uma lngua estrangeira ningum parte do zero. Todos trazemos uma
carga lingustica e cultural da nossa lngua materna que funciona como apoio, como guia
consciente e inconsciente na aquisio de uma nova lngua. Deve ento o professor de LE
conhecer e usar em aula a LM do seu grupo de alunos?
Em primeiro lugar, teramos de ter um grupo homogneo e com uma LM comum, o que
facilitaria o trabalho do professor, caso contrrio era quase impossvel o professor ter
bons conhecimentos em vrias lnguas.
27
Como aluno de idiomas e como docente de PLE, acho que faz sentido o professor ter
conhecimento da LM dos alunos. Estes conhecimentos justificam-se mais quando
falamos de lnguas prximas, pois deve existir um saber mais profundo por parte do
professor para distinguir quais so os aspetos lingusticos que variam e a que pontos deve
dar mais ateno pois podem causar interferncias lingusticas, devido origem comum
dos idiomas. Se assumirmos que a LM um elemento sempre presente, h que repensar
em alguns aspetos. Qual o perfil do grupo? Quais as metodologias usadas? At que
ponto importante o contexto de ensino? O que pensam os professores de LE? O que
acontece na realidade dentro de uma sala de aula? O nosso trabalho no poder,
obviamente, responder a todas estas perguntas, mas elas subjazem s nossas
preocupaes.
Podemos ver, na evoluo histrica do ensino de LE, que, desde sempre, a LM esteve
presente durante o ensino: quase todos aprendemos um idioma estrangeiro com listas
infindveis de vocabulrio na sua verso bilingue para que ningum tivesse dvidas do
seu significado. Ainda que seja um aspeto que sempre existiu, o uso da LM passou a ser
mal visto, considerado uma m pratica docente, a partir de meados do sculo XX. Os
manuais da poca, principalmente de ingls para estrangeiros passaram a adotar uma
poltica monolingue defendida pelos tericos e autores da poca.
Para Cook este fenmeno de rejeio do uso da L1 em aula, deu-se em todas as propostas
metodolgicas, na formao de professores e nos manuais criados, de modo que the first
language has became an invisible and scorned element in the classroom (Cook, 2001,
p.153).
Vrias so as definies para o conceito de LM. Passarei a citar a definio do
Diccionrio de Trminos clave de ELE, que me parece ser a mais completa, pois trata-se
de uma definio proposta por grande parte dos estudiosos e que vai ao encontro do estudo
em questo:
Por lengua materna o L1 se entiende la primera lengua que aprende un
ser humano en su infancia y que normalmente deviene su instrumento
natural de pensamiento y comunicacin. Con el mismo sentido tambin
se emplea lengua nativa y, con menor frecuencia, lengua natal. Tal
28
como se desprende de su apelativo, suele ser la lengua de la madre,
aunque tambin puede ser la de cualquier otra persona: padre, abuelos,
niera, etc. Quienes comparten una lengua materna son considerados
hablantes nativos de la lengua en cuestin, p. ej., hispanohablantes
nativos. El trmino lengua materna se suele emplear en contraposicin
a lengua extranjera(LE) o a lengua segunda (L2). [...]
Nesta entrada do dicionrio, faz-se ainda referncia a alguns aspetos que caracterizam
este conceito, como por exemplo ser, a LM, a lngua familiar, ou seja, aquela que
transmitida de gerao em gerao; ser a primeira lngua que se aprende e pela qual se
conhece o mundo; ser lngua em que se pensa, a que se conhece melhor e na qual se
comunica com espontaneidade.
Durante este estudo, assumirei sempre o uso de Lngua Materna (LM) e terei em conta os
aspetos numerados na citao acima para considerar a LM do grupo de alunos.
Esta definio confronta-se com a L2 ou LE, tambm do Diccionrio de
Trminos clave de ELE:
a la lengua que constituye el objeto de aprendizaje, sea en un
contexto formal de aprendizaje o en uno natural. El trmino engloba los
conceptos de lengua extranjera (LE) y de lengua segunda (L2), si bien
en ocasiones estos trminos se emplean como sinnimos.
Krashen (1984) analisa os momentos em que a LM substitui a LE na sala de aula.
Segundo o autor existe um uso de protesto e um uso positivo.
Para o uso de protesto apresenta os seguintes aspetos:
1. Quando a interao em LE percebida como um exerccio puramente
formal, como a exercitao de certas estruturas gramaticais e lexicais.
Contrastivamente, a LM percebida como veculo de tudo o que
comunicao verdadeira ou mensagem importante. Para o professor,
explicaes de gramtica, disciplina, organizao das aulas, digresses,
apartes; para os alunos, pedidos de esclarecimentos, queixas, pedidos,
comunicao em voz baixa.
javascript:abrir('lenguameta',650,470,'yes')
29
2. A interao tratada como uma representao. Quando os atores se
tornam eles prprios, a linguagem autntica semelhante torna-se a
LM.
3. A interao concebida pelos alunos como um exerccio de
autoridade por parte do professor, que se exprime pelo domnio da LE.
Para a contrabalanar, os alunos utilizam a LM.
4. A interao vista como obrigao de adotar um comportamento
estrangeiro, e os alunos, procurando distanciar-se dele, usam a sua
prpria lngua, sobretudo em parte com os colegas. Este
comportamento toma ento a forma de bavardage em LM
(murmrios, apartes), recusa de responder em LE ou mutismo e
ausncia de participao. (Frias, 1992, p.124)
A autora citada refer tambm algumas caractersticas para o uso positivo da LM,
as utilisations positives:
5. Quando a interao percebida como uma negociao de sentido
entre os membros do grupo, as deficincias lexicais so compensadas
por transferncias ou emprstimos diretos LM; os interlocutores
mudam de uma lngua para a outra medida das suas necessidades
(code switching); o emprego da LM aqui uma entre as vrias
estratgias de comunicao. usada pelos alunos, mas tambm pelo
professor, quando no quer interromper o ritmo do discurso com longas
explicaes ou parfrases em LE.
6.A interao sentida como interpretao e compreenso mtua. A
mensagem torna-se to importante que a LM vem substituir
temporariamente a LE sentida como um obstculo.
7.A interao compreendida como a construo de um discurso em
colaborao. Torna-se ento objeto de observao e reflexo pelos
participantes e a LM usada como metalinguagem. (Frias, 1992, p. 124,
125)
30
Segundo Kramsch deveria existir ento uma reformulao do uso da LM em
aula. A LM no deve ser nunca usada como meio de ensino, sendo considerada
um parasita. No entanto, deve estar presente em aula, para ajudar e sensibilizar
o aluno em alguns processos, podendo ser aceite nestas trs vertentes:
1. Funo comunicativa: estratgias de comunicao e produo
(transferts, code switching).
2. Funo regulativa: assegura o bom desenrolar da interao
(disciplina, organizao da aula, estabelecimento de um quadro
situacional para a realizao de exerccios). Esta funo ser ocupada o
mais cedo possvel pela LE, face a uma aprendizagem sistemtica de
formas lingusticas e comportamentos necessrios.
3. Funo metalingustica: torna os alunos conscientes do carcter
interactivo da lngua falada e escrita e da maneira como construir o
discurso estrangeiro, em comparao com o materno. Tem por fim
desenvolver a autonomia. (Frias, 1992, p. 125)
Como podemos ver, a utilizao da LM em aula foi quase anulada e cada vez
mais substituda por elementos audiovisuais que fazem o seu trabalho.
Podemos concluir que o uso da LM em aula de LE cada vez um mtodo mais
depreciado pelos investigadores, embora alguns defendam o seu uso
principalmente em nveis iniciais e em casos de emergncia devendo sempre
existir um progressivo incremento da LE, para que, deste modo, o aluno entenda
a hierarquia das lnguas a utilizar.
3. Os Falsos Amigos
3.1. Definio do conceito
A expresso falsos amigos surge em 1928, em Frana pelos autores Maxime Koessler
e Jules Derocquigny no livro Les Faux- Amis. Os autores definem o termo falsos amigos
como sendo o lxico de duas lnguas, de uma mesma famlia lingustica, que podem ter
31
forma semelhante, mas diferem nos significados, de modo parcial ou total. Segundo o
Diccionario de Trminos Clave de ELE, o termo falso amigo:
se emplea para referirse a aquellas palabras que, a pesar de
pertenecer a dos lenguas distintas, presentan cierta semejanza en la
forma mientras que su significado es considerablemente diferente. Se
dan en lenguas emparentadas en mayor o menor rasgo.
O professor Alberto Gmez Bautista (2011) tambm faz referncia a esta
expresso num dos seus artigos desenvolvido no mbito do congresso de
professores de espanhol, lngua estrangeira em Portugal. A definio por ele
atribuda semelhante dos criadores da expresso. Para ele, o termo falsos
amigos faz referncia a palavras que apresentam em dois idiomas afinidades
morfolgicas, mas cujos significados no coincidem em uma ou vrias acees.
Vrios autores so unnimes na definio da expresso falsos amigos, como o
caso de Montero (1994) que, pensando nas lnguas portuguesas e espanhol, os
define como aquellos trminos portugueses y espaoles que, por sus
semejanzas ortogrficas y/o fnicas pareciesen a primera vista fciles de
entender y/o traducir y que, sin embargo, escondan peligrosas trampas para el
ingenuo estudiante o simple usurio ocasional ().
Casteleiro e Reis (2007) definem este termo como sendo um termo apenas
lingustico, fundamentando que:
() o falso amigo aquele signo que, geralmente pelo efeito de
uma partilha de uma mesma etimologia, tem uma estrutura externa
muito semelhante ou equivalente de um outro signo numa segunda
lngua, cujo sentido completamente diferente. Essa comunidade de
formas e aparncias leva o falante bilingue a estabelecer uma
correspondncia de significados ou, aproveitando a mesma
terminologia, a acreditar numa relao de semntica falsa. (Casteleiro e
Reis, 2007, p.3 apud Domingos de Almeida, 2013)
Gmez Bautista (2011) e Maillot (1997), nas suas definies, fizeram referncia
32
necessidade de analisar este tipo de palavras inseridas nos seus contextos: la
polissemia viene a complicar el problema, al enfrentar dos trminos que son
falsos amigos en una acepcin y no en otra (Maillot, 1997, p. 57 apud Silva,
2016). Teremos, portanto, de ter em conta os contextos, para podermos decidir,
face a eles, se estamos perante um par que um falso amigo num contexto, mas
no em outro.
3.2. Distino de conceitos
Falsos amigos, falsos cognatos e heterossemnticos, mas afinal sero estas trs expresses
sinnimas?
O termo falsos cognatos surge-nos diversas vezes em vrios artigos sobre este tema e
usado vrias vezes como sinnimo de falsos amigos, no entanto no h referncia
origem deste termo.
Supe-se que este tema venha do mbito da lingustica e signifique o vocabulrio que
tem origem comum com outros Vita (2005, p.31). Quando aplicado a lnguas
estrangeiras, designa palavras de lnguas diferentes que procedem de uma mesma raiz.
Esta definio vem ao encontro das definies apresentadas pelos autores anteriores, j
que todos defendem a ideia de uma mesma raiz, a mesma famlia, a mesma etimologia.
Segundo Vita (2005, p.31) os falsos cognatos podem ser definidos da seguinte maneira:
() falsos cognatos, envolvendo lnguas diferentes, so as
palavras que, por sua semelhana formal levariam a supor que so
vocbulos de uma mesma etimologia e que, consequentemente,
possuem mesmos valores, quando na realidade no possuem parentesco
e divergem total ou parcialmente em significao. ()
Esta definio remete-nos para a mesma ideia que defende Montero (1994), quando
defende que os falsos amigos podem induzir o leitor mais ingnuo e desatento em erros,
traduzindo assim as palavras de maneira errnea.
33
Tal como o termo falsos cognatos, tambm no h muitas referncias sobre o surgimento
do conceito de heterossemnticos. Alguns autores como Vita (2005) e Gonalves (2013),
acreditam que a origem est na Gramtica para uso dos brasileiros de Antenor Nascentes,
de 1934.
Nascentes define o conceito de heterossemnticos como palavras semelhantes com
significados diferentes (Nascentes, 1934 apud Vita, 2005, p.32), mas em nenhum
momento o autor refere a origem comum dos vocbulos.
J em 1967 Becker, no seu livro Manual de espaol volta a fazer referncia a este
conceito, definindo-o como vocablos de semejanza grfica, prosdica y, sobre todo,
semntica- cuya identidade de sentido no se realiza. (Becker, 1967 apud Vita, 2005,
p.52). Segundo Vita (2005), este livro teve um grande impacto nos estudantes brasileiros
que aprendiam espanhol. Este conceito apresentado como de uso exclusivo no Brasil.
Becker, em comparao com Nascente, tambm no faz referncia, nos seus estudos, a
uma origem comum.
Analisados e descritos brevemente os 3 conceitos que sero de extrema importncia no
estudo realizado, na continuao do relatrio, farei apenas uso do conceito Falsos Amigos
(FA) dada a sua maior relevncia e talvez uma maior concordncia entre os diversos
autores sobre a sua definio, sem questionar a facilidade de uso do conceito j que do
entendimento do pblico em geral.
3.3. Formao dos Falsos Amigos
Vaz da Silva & Vilar (2003, p.79) so das poucas autoras que abordam resumidamente o
tema do processo de formao de FA, sendo a minha nica referncia sobre este tema.
No seu estudo, propem-se a responder seguinte pergunta: Quando que se produz o
falso amigo?.
Segundo as autoras o processo de formao de um falso amigo no est concludo at
que o elemento semntico entre em jogo e que, portanto, o processo significante >
significado pode levar-nos a concluses precipitadas (Vaz da Silva & Vilar, 2003, p.79-
34
80).
Este processo de formao de FA parte da interlngua criada pelo aluno, pois socorre-se
da sua primeira lngua para tentar aproximar-se o mais possvel da lngua alvo e, desse
modo, dar uma resposta correta a uma dificuldade sentida.
O autor faz referncia a que o aspeto externo da palavra no deve ser o nico a ser tido
em conta, j que o aspeto semntico o fundamental, tal como a evoluo da palavra.
Para alm disso, o autor alerta os estudantes para a ateno redobrada que devem ter:
deixem ver a prudncia que a aprendizagem do portugus exige ao falante de Espanhol
e como as tentativas de conseguir uma traduo fcil so frustradas. (Vaz da Silva &
Vilar, 2003, p.80). Tal como j referi anteriormente em outros pontos, o ensino do
portugus a hispano-falantes apesar de ser mais fcil, pelo menos no incio, a nvel de
compreenso, exige um esforo extra e ateno redobrada. A professora Daz Ferrero
tambm comenta este tpico. Remete-nos para est falsa amizade entre as duas lnguas:
La semejanza de las lenguas romnicas, especialmente del espaol y el portugus,
facilita y agiliza el apendizaje, pero al mismo tiempo se convierte en una trampa y en una
fuente de errores para la traduccin. (Daz Ferrero apud Vaz da Silva & Vilar, 2003,
p.84)
Um dos principais aspetos referidos pelas autoras para o aparecimento dos FA a
existncia de duas lnguas na cabea do aluno a trabalhar em simultneo durante a
aprendizagem, considerando-os assim bilingues:
Como se sabe, o uso ou conhecimento de dois idiomas por parte de um
mesmo falante no deve ser total para se considerar bilinguismo em
toda a regra, pois mesmo que exista apenas compreenso escrita ou
falada de uma segunda Lngua, assim como produo s escrita ou s
falada, o fenmeno do bilinguismo considera-se realizado. Quer isto
dizer que os estudantes espanhis de Portugus, mesmo na sua fase de
iniciao, j comeam a exercer bilinguismo e, portanto, os processos
de interferncias lingusticas podem comear a aparecer em qualquer
momento. (Vaz da Silva & Vilar 2003, p. 81)
35
O processo de formao de FA, segundo as autoras, deve ser um dos aspetos a
ter em ateno durante a traduo, pois tanto na aprendizagem como na traduo,
constante a formao deste tipo de erros.
3.4. Diferentes tipos de classificao
Brown (2011) classifica os falsos amigos em cinco tipos. Os FA de tipo 1 tm em
comum vrias acees e a classe da palavra. No entanto, deste conjunto partilhado de
acees, uma das lnguas selecionou por frequncia de uso uma delas que no coincide
com a selecionada pela outra lngua. Exemplo de FA: luego/logo, a forma em espanhol
significa depois, enquanto que em portugus significa imediatamente. Ambas so
advrbios e derivam do latim locus. (Brown, 2011, p.25)
Os FA intitulados de tipo 2 partilham a mesma classe de palavras e uma srie de
acees. Porm numa e noutra lngua tornou-se mais frequente uma aceo no
partilhada. Em alguns casos essa aceo pode estar na outra lngua, e noutros no. Como
exemplo temos a palavra jornal, que em portugus significa dirio e em espanhol
pagamento por um dia de trabalho, aquilo a que, em portugus, chamaria numa
variedade um pouco antiquada e popular, jorna. Trata-se de substantivos, e a aceo
portuguesa excluda pelo dicionrio espanhol. (Brown, 2011, p.26)
No grupo dos FA de tipo 3 tambm existe a mesma classe de palavra e vrias acees
comuns. Contudo, numa ou noutra lngua tornou-se mais frequente o uso de uma aceo
no partilhada. Em alguns casos essa aceo pode estar na outra lnguas, e em outros no.
Estas ocorrncias diferenciam-se das de tipo 2 pois pode existir mudana na classe de
palavra. En cuanto/ enquanto so exemplos de FA do tipo 3. A primeira uma locuo
adverbial e a segunda um advrbio. (Brown, 2011, p.26)
So denominados FA do tipo 4 aquelas palavras que no partilham acees, mas tm
forma e classe de palavra comum. Como exemplo a palavra talher que em espanhol se
confunde com taller, que significa espao de trabalho. (Brown, 2011, p.27)
Os FA do tipo 5 so aqueles que no partilham nem significados nem classe de palavra,
mas tm uma forma comum. Solo uma palavra comum, nas duas lnguas, contudo em
36
portugus trata-se de um substantivo que significa uma poro de superfcie e em
espanhol de um adjetivo com o significado portugus de sozinho. (Brown, 2011, p.28)
Carita (1999) apresenta uma classificao dividida em quatros grupos, idnticas de
Brown, onde destaco apenas o primeiro grupo que integra os FA no sentido mais completo
da expresso, ou seja, este grupo constitudo por vocbulos que tendo, em ambas as
lnguas, a mesma grafia, apresentam, em cada uma das lnguas, sentidos absolutamente
diferentes, como por exemplo aceitar que em portugus significa receber com agrado,
admitir, estar conforme com e, em espanhol, refere-se a untar, banhar em azeite.
J o professor Hlder Montero atribui uma classificao bastante diferente, presente em
vrios artigos e tambm no Diccionrio de Falsos Amigos da sua autoria. O autor dividiu
os FA em dois grandes grupos. O primeiro o dos: 1) Falsos Amigos Grficos: palabras
que coincidiendo en una y outra lengua en la ortografia, no coinciden o pueden no
coincidir, sin embargo, en la pronunciacin() (Montero, 1994, p.191).
Temos como exemplo a palavra polvo que em portugus se refere a molusco
cefalpode com oito tentculos, ora j a mesma palavra, em espanhol, significa p,
poeira. 2) Falsos Amigos Fonticos: Trminos que, no coincidiendo en la ortografia,
coinciden o pueden llegar a coincidir en la pronunciacin debido a un deficiente
conocimiento de la fontica de una u outra lengua() (Montero, 1994, p.191)
Por exemplo a palavra coelho que em portugus faz referncia a um mamfero roedor
e em espanhol pescoo, parte delgada que une a cabea ao corpo.
Para alm destes dois grandes grupos, o autor acrescenta-lhe um terceiro, denominado de
Falsos Amigos Aparentes: aquellas palabras que, sin escribirse igual y sin possibilidades
de llegar a pronunciarse igual, recuerdan, por su forma significados y sentidos distintos
de los que posee en realidade. (Montero, 1994, p.192)
A palavra cadeira que em portugus um objeto para se sentar, parece-nos, primeira
vista, semelhante a palavra espanhola cadera que significa anca, quadris.
Uma outra classificao ligeiramente diferente surge-nos pela mo de Daz Ferrero (apud
Vaz da Silva, 2003, p.84-85) pode descrever-se em:
37
1. Diferente sentido e forma idntica ou semelhante:
1.1. Homogrfos: borracha, tela, vaso, garrafa, apagar, ()
1.2. Homofnos: talher, balco, ninho, ()
2. Diferente gnero gramatical: o nariz, a arte, a rvore, ()
3. Diferente pronncia: academia, embolia, sintoma, ()
4. Diferente registo lingustico: dano, perdo, excelentssimo, ()
5. Diferente grafia: livro, cascavel, aprovar, (). (Vaz da Silva, 2003,
p.84-85)
Esta classificao est basada nos aspetos internos e externos das palavras.
Para facilitar a compreenso do que ou no um FA, recorro a uma afirmao
de Vaz da Silva, 2003, que esclarece muito bem a complexidade de ensinar as
duas lnguas peninsulares e que, enfim, resume os aspetos que irei abordar mais
frente.
Sobre a considerao daquilo que ou no um verdadeiro falso amigo
recaem diversos fatores. Para alm dos que j temos comentado
anteriormente um dos mais conflituosos o uso que o signo lingustico
recebe por parte dos falantes. evidente que a utilizao social que se
faz das palavras determinante na sua semntica, atendendo a que, por
vezes, o prprio uso que acaba por desviar o termo para um
determinado significado. Por isso, nem sempre suficiente, no estudo
dos falsos amigos, contar apenas com o significado, pois fora das
disparidades ou afinidades semnticas que as lexias de duas Lnguas
possam apresentar, o desuso de uma dessas formas torna inexistente o
par lingustico que constitui o falso amigo. (Vaz da Silva & Vilar 2003,
p. 86)
4. A aprendizagem do lxico em lngua portuguesa
A compreenso de uma dada LE sempre favorecida quando existem semelhanas com
38
a LM.
Idiomas como o portugus (LE) e o espanhol (LM) so muitos parecidos, pois 85 % do
vocabulrio destas duas lnguas comum. Takeuchi (1980 apud Natel, 2002) afima que
estes dois idiomas possuem um pequeno nmero de palavras diferentes. Deste modo, os
alunos espanhis podem pensar que as palavras e os seus significados possuem o mesmo
sentido em ambas as lnguas.
El portugus suele considerarse lengua fcil. Cualquier
hispanohablante, por el hecho de serlo, cree que al menos puede
entender y hacerse entender al estabelecer un dilogo con una persona
de lengua portuguesa. Este hecho, apoyado adems por la facilidade
com que se puede entender un texto escrito en portugus com muy
pocas nociones que se tengan de este idioma, provoca un rechazo o un
desprecio, si no por la lengua, si por su estdio profundo y sistemtico.
Cuando ste, finalmente, se emprende, las dificultades parecen
insalvables y es fcil caer en el desnimo, especialmente a la hora de
usar oralmente la lengua (hablarla y enterderla). () La similitude entre
las lenguas espaola y portuguesa es, sin duda, una ventaja para el
aprendizaje rpido. Sin embargo, es tambin un arma de doble filo, pues
el hispanohablante encontrar multitude de formas similares a su lengua
que poseen un uso y un significado completamente diferente. Deber,
por lo tanto, prestar ms atencin que cualquier outro estudiante a las
particularidades del portugus y, en consecuencia, debe evitar guiarse
slo por las estruturas y el lxico del castellano sin cercionarse con
anterioridad sobre su uso en portugus. (Carrasco Gonzlez, 2001, p. 3)
Quando se trata de lnguas cognatas, a proximidade um dos fatores que favorece a
aprendizagem, pois a fase inicial um processo mais simples e fcil, o que se verifica no
progresso rpido por parte dos alunos nessa mesma fase. Para Almeida Filho (1995 apud
Natel, 2002, p.825), hasta las personas poco ansiosas son capaces de arriesgarse,
pudiendo avanzar y adquirir proficincia ms rapidamente en una lengua prxima de que
lo haran con lenguas tipologicamente ms distantes ().
39
Como j vimos antes, a semelhana entre os idiomas uma das fontes da formao de
erros, visto que os alunos usam a LM de forma auxiliadora na aquisio da LE. Neste
caso, o uso dos FA em contextos inadequados revela um conhecimento incorreto da
lngua objeto de estudo, pelo que devemos trabalh-los em conjunto, para assim evitar
usos imprprios. Grande parte das vezes, o uso incorreto de um FA no afeta a
comunicao de modo negativo, mas causa reaes cmicas por parte dos nativos e dos
professores.
O processo de aprendizagem dos FA implica tanto para os falantes de portugus como de
espanhol, a atribuio de um significado diferente ou parcialmente diferente a um mesmo
significante, ou a um, em alguns casos, parecido. Torna-se um processo mais demorado,
j que existe uma forte interferncia das formas e significados da LM.
A partir de este momento, no meu estudo, passarei a fazer uma anlise explicativa dos
mtodos de trabalho utilizados, da seleo de vocabulrio problemtico, aos resultados
positivos, passando por todas as fases da aprendizagem dos cognatos, incluindo dicas e
mtodos que cativem a aprendizagem dos alunos. Sero apenas analisados os sistemas de
lngua peninsulares do Espanhol e do Portugus.
40
Captulo 2. Anlise da Prtica Docente
1. Contexto de estgio pedaggico
1.1. A Escuela Oficial de Idiomas de Len
As Escuelas Oficiales de Idiomas (EEOOII), em Espanha, fazem parte de uma vasta rede
de centros oficiais de nvel no universitrio, dedicados ao ensino especializado de
idiomas modernos. Oferecem populao adulta a possibilidade de aprender e
aperfeioar, ao longo da vida, uma grande variedade de lnguas estrangeiras em regimes
especiais.
A primeira EEOOII foi fundada em Madrid a 1911 e a era possvel aprender Ingls,
Francs e Alemo. Atualmente, mais de cem anos depois, os alunos tm acesso a um
leque de 23 idiomas divididos por nveis de competncias, desde os mais bsicos, desde
o nvel A2 ao nvel C2 do Quadro Comum de Referncia para as Lnguas, do Conselho
Europeu.
A Escuela Oficial de Idiomas de Len, em Len, Espanha, instituio onde realizei o meu
estgio pedaggico, um centro pblico, que se fundou no ano letivo de 1986/87 como
Escuela Oficial de Idiomas dependente do Ministrio de Educao e Cincia e a partir do
ano 2000/01, da Junta de Castela e Len.
Atualmente so lecionados os seguintes idiomas: Ingls, Francs, Alemo, Italiano,
Portugus e Espanhol para estrangeiros em sete nveis agrupados em A2, B1, B2 e C1 do
Conselho da Europa. A oferta educativa estende-se tambm a outras modalidades mais
flexveis e adaptadas s necessidades da populao como cursos intensivos, cursos
especficos, ingls distncia, clubes de conversao, cursos de formao para
professores, entre outras.
No ano de 2016/17, estavam matriculados oficialmente 3.255 alunos, sendo que 64% so
mulheres. Esta instituio fundamentalmente para adultos e adolescentes. Desse mesmo
modo, s possvel fazer a inscrio depois de atingir os 14 anos de idade. A idade mdia
dos alunos entre os 20 e os 50.
41
1.2. Descrio do ncleo de estgio
Tendo feito estgio ao abrigo do Programa Erasmus +, realizei-o sozinha, isto , sem
outro colega estagirio.
No obstante, a presena de um leitor portugus na escola fez com que houvesse partilha
de conhecimentos, opinies e sugestes de propostas de atividades a desenvolver com o
grupo de alunos e, por vezes, atividades coletivas desenvolvidas de modo a promover a
lngua portuguesa em toda a comunidade escolar.
1.3. Caracterizao da turma
O grupo com que trabalhei chamava-se Avanado 2, correspondendo a um nvel de
B2.2, sendo o nvel final de portugus na escola onde estive inserida.
Era um grupo composto por 12 alunos, 3 do sexo masculino e 9 do sexo feminino, com
idades compreendidas entre os 25 e os 50 anos. Todos os alunos so de nacionalidade
espanhola, exceo de uma aluna com origem na Costa Rica, tendo todos como lngua
materna o Espanhol.
um grupo muito homogneo, pois quase todos os alunos tm estudos superiores em
diversas reas. Uma grande maioria fez Erasmus em Portugal ou no Brasil o que fomenta
o interesse em aprender Portugus.
Tratava-se de um grupo participativo e ativo que mostra interesse em aprender o idioma
e a cultura do pas vizinho. No existiram graves problemas no momento de aprender o
idioma, a nica questo prioritria que destacaria, como um problema, a pronncia
correta do portugus j que o sotaque espanhol ainda est muito presente aquando
momento da comunicao em aula. Outro fator que considero problemtico a falta de
comparncia s aulas, j que, sendo um grupo de pessoas que trabalham, nem sempre era
possvel que os alunos assistissem a grande parte das aulas.
Destaco a convivncia entre os alunos e particularmente comigo, pois todos sempre foram
muito educados e respeitosos tanto comigo como com o trabalho que eu desenvolvia em
aula. Havia uma grande compreenso e apoio por parte deles ao trabalho de um professor
estgio. Posso afirmar que so um grupo extremamente simptico e fcil de se relacionar.
42
2. Diagnstico Inicial
2.1Caracterizao do inqurito inicial
Para a primeira aula que lecionei, optei por preparar um inqurito orientador para este
relatrio. Trata-se de um inqurito escrito individual que cada um dos 12 alunos,
respondeu em aula na minha presena e da professora orientadora do estgio. Em nenhum
momento os alunos deveriam colocar questes s professoras, nem aos colegas, pois o
objetivo final era fazer um diagnstico daquilo que os alunos sabiam acerca do tema e
tambm potenciais falhas de aprendizagem nos nveis anteriores.
O inqurito era composto por exerccios e sete perguntas orientadoras (ver Anexo de 1 a
6), nas quais pretendia conhecer a experincia e o contacto dos alunos com a lngua
portuguesa e tambm com o tema dos FA. Em seguida, foi apresentado um conjunto de
frases em que os alunos deveriam preencher o espao em branco com a palavra correta
inserida num quadro de palavras, onde existiam tambm muitos FA que podiam levar o
aluno a cometer vrios erros.
Nos dois exerccios seguintes, o objetivo era a traduo correta das frases. Inicialmente
proponho a traduo do portugus para o espanhol de 8 frases; j no exerccio seguinte, a
traduo inversa, ou seja, do espanhol para o portugus. Cada uma destas frases
apresenta um FA cujo significado, muitas das vezes, no parece ser to evidente.
No exerccio final, os alunos devem fazer corresponder duas colunas de palavras, uma
delas em portugus e outra em espanhol.
Os FA escolhidos neste inqurito no estavam divididos por categorias nem campo
semnticos; foram escolhidas palavras mais frequentes no uso tanto no portugus como
no espanhol, que surgem diversas vezes nas aulas, pois todas esto relacionadas com
temas estudados nos nveis anteriores de ensino. Na totalidade, em todo o inqurito, foram
inseridas 53 palavras Falsas Amigas.
O mesmo inqurito voltaria a ser usado no final do ano letivo para verificar se existiu ou
no evoluo por parte dos alunos. A seguir, passarei a analisar os resultados obtidos do
dado inqurito.
43
2.2.Anlise dos resultados obtidos no inqurito inicial
Neste ponto do meu estudo, passarei a analisar grande parte das respostas dos alunos e a
focar-me nos aspetos em que tm maior dificuldade, afim de criar uma metodologia
apropriada para super-las nas aulas que iria lecionar.
Na primeira pergunta orientadora, fazia-se referncia ao contacto que os alunos
estabeleciam com o portugus fora de aula.
Grfico 1: Contato com a lngua portuguesa fora da aula
Podemos observar que, apesar da proximidade geogrfica e do fcil acesso a informao,
ainda existem 3 alunos que no estabelecem nenhum contacto fora da sala de aula com a
LE.
Na segunda pergunta, queria saber qual a competncia mais difcil aquando da
aprendizagem do portugus como LE.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
Contacto com a lngua portuguesa fora da aula
nenhum contato
familia e amigos
viagens
filmes, msica, livros
44
Grfico 2: Competncia mais difcil aquando da aprendizagem
A expresso oral e a pronncia foi uma das competncias mencionadas como uma das
mais difceis. Quando se trata de lnguas prximas em que grande parte do vocabulrio
igual, tem de existir um esforo extra do aluno para se aproximar o mais possvel da
pronuncia de um nativo. Deste modo, percebo o motivo de os alunos acharem esta
competncia mais difcil. Em relao competncia de gramtica que tambm quatro dos
alunos mencionaram, no posso ressaltar nenhum ponto em especfico. Sabemos que a
lngua portuguesa tem uma gramtica complexa, sobretudo na morfologia verbal, mas
comparada com a LM dos alunos bastante similar. Ttalvez a falta de conhecimentos
nessa rea na LM possa influenciar a aprendizagem da LE.
As restantes perguntas abordavam todas a experincia dos alunos com a lngua portuguesa
e em concreto com os FA. Atravs das respostas dadas por eles, posso ressaltar os
seguintes pontos:
-Nenhum aluno passou por uma situao complicada ou embaraosa devido a
erros de comunicao com um nativo que tivesse sido influenciada por um FA;
-Grande parte dos alunos prefere aprender FA de uma maneira mais divertida,
com jogos, anedotas, ou seja, uma maneira mais acessvel para que possam relembrar
facilmente a aprendizagem;
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
competncias
Competncia mais difcil na hora da aprendizagem
expresso oral e proncia gramtica e verbos compreenso oral expresso escrita
45
-Uma das formas de melhor memorizar um FA tambm com listas de
vocabulrio nas duas lnguas, pois, apesar de ser um mtodo arcaico, os alunos ainda o
utilizam aquando do estudo;
- A maioria dos alunos, quando ouve ou l um FA no sabe automaticamente a
que este se refere na LE;
- Nenhum dos alunos tem um mtodo caseiro que utilize aquando de estuda os
FA.
O primeiro exerccio, j descrito no ponto acima, apresentou resultados bastante
dispersos. Os FA que integravam este exerccio eram os seguintes:
Portugus
Traduo para Espanhol
Traduo Errnea e
Correspondente em
portugus
Copo Vaso Copo (floco)
Presunto Jamn Presunto (suposto)
Assinatura Firma Asignatura (disciplina)
Sobremesa Postre Sobremesa (pano para
pr sobre a mesa)
Polvo Pulpo Polvo (p, poeira)
Bolsa Beca Bolsa (saco plstico)
Propina Matricula Propina (gratificao por
algum servio)
Vaso Florero Vaso (copo)
Secretria Escritorio Secretaria (pessoa que
trabalha em escritrios)
Manco Cojo Manco (pessoa que
perdeu brao ou mo)
46
Rabanadas Torrijas Rebanadas (fatias de po)
Ordenado Sueldo Ordenado (arrumado)
Tabela 1: Falsos amigos usados no exerccio de completar espaos
Apenas dois dos doze alunos foram capazes de completar corretamente o exerccio na
totalidade. Destaco em seguida o caso mais problemtico:
Grfico 3: Palavra mais problemtica propina
Em portugus, segundo o Priberam, dicionrio online, propina significa:
(latim propina, -ae, alterao de popina, ae, taberna, tasca, estalagem)
substantivo feminino
1. Gorjeta, gratificao.
2. Quantia que se paga ao Estado para fazer uma matrcula, um
exame, obter a equivalncia de diplomas e outros actos.
3. Quantia paga para frequentar um estabelecimento de ensino
superior.
4. [Pouco usado] Jia que em algumas associaes paga aquele que delas quer fazer parte.
5. [Brasil,Informal] Dinheiro ou bem que se oferece a algum em
0
2
4
6
8
10
12
Palavra mais problemtica "propina"
Certo Errado
47
troca de favor ou negcio lucrativo, geralmente ilcito (ex.: denunci
ado esquema da propina). = SUBORNO
J segundo a RAE, Real Academia Espaola, dicionrio online, a palavra
propina apresenta as seguintes acees:
Del b. lat. propina.
1. f. Agasajo que sobre el precio convenido y como muestra desatisfaccin se da por algn servicio.
2. f. Gratificacin pequea con que se recompensa un servicio eventual.
3. f. Colacin o agasajo que se reparta entre los concurrentes a una
junta, y que despus se redujo a dinero.
Podemos observar que ambas as lnguas apresentam a mesma origem derivada
do latim e tambm a primeira aceo para a palavra, embora, na lngua
portuguesa, esta aceo esteja cada vez mais em desuso.
Destaco tambm as palavras que foram completadas com sucesso. Todos os
alunos as realizaram de forma correta. Vejamos as diferentes acees das
palavras presunto, polvo e manco.
Segundo o Priberam, presunto significa:
presunto
(latim *presunctum, alterao de *persunctum, derivado de sunctum,
alterao de suctus, -a, -um, particpio passado de sugo, -ere)
substantivo masculino
1. Perna ou espdua posterior do porco, depois de salgada e curada.
2. [Brasil] Carne de porco, geralmente de presunto cozido, preparada
para ser comida fria. = FIAMBRE
3. [Informal] Corpo de pessoa morta, geralmente assassinada. =
CADVER
4. [Agricultura] Variedade de pra de Lamego.
5. [Portugal, Informal] Coxa ou perna.
6. [Portugal, Informal] P grande.
Segundo a RAE:
presunto, ta
Del lat. praesumptus, part. pas. de praesumre.
1. adj. supuesto.
2. f. desus. Presuncin, orgullo.
http://dle.rae.es/?id=YmdRwDm#RQhQYKD
48
A prxima palavra cujo significado no levantou dvidas por parte dos alunos
foi polvo.
Para o Priberam polvo :
polvo ||
(latim polypus, -i)
substantivo masculino
[Zoologia] Molusco cefalpode com oito tentculos guarnecidos
de ventosas (octpodes), que vive nas covas dos rochedos, perto da
costa, e que se alimenta de crustceos, de moluscos, etc.
[Culinria] Prato confecionado com esse molusco (ex.: polvo
assado).
Para a RAE:
Polvo
Del lat. vulg. *pulvus, y este del lat. pulvis.
1. m. Parte ms menuda y deshecha de la tierra muy seca, que
concualquier movimiento se levanta en el aire.
2. m. Residuo que queda de cosas slidas, molindolas hasta
reducirlas apartes muy menudas.
3. m. Porcin de cualquier cosa menuda o reducida a polvo, que
se puedetomar de una vez con las yemas de los dedos pulgar e
ndice.
4. m. Conjunto de partculas slidas que flotan en el aire y se
posan sobrelos objetos.
5. m. coloq. coito. ECHAR un polvo.
6. m. jerg. En el lenguaje de la droga, herona.
7. m. pl. Producto cosmtico de diferentes colores que se utiliza
para el maquillaje.
Como podemos ver, estas duas palavras, apesar da sua igual grafia e pronncia
no possuem nem a mesma origem nem nenhuma aceo comum.
De acordo com o Priberam, manco faz referncia a:
manco
(latim mancus, -a, -um, maneta, privado de mo ou de brao)
adjectivo e substantivo masculino
1. Que ou quem tem um membro, geralmente um dos membros
http://dle.rae.es/?id=9i4WdJv
49
inferiores, a menos ou o tem estropiado ou defeituoso. = ALEIJADO
2. Que ou quem tem um andar irregular. = CAMBADO, COXO
adjectivo
3. [Por extenso] Diz-se do mvel a que falta uma perna.
4. [Figurado] Imperfeito, defeituoso (por falta de parte necessria).
substantivo masculino
5. [Marinha] Pea curva entalhada nos gios.
De acordo com a RAE:
manco, ca
Del lat. mancus.
1. adj. Que ha perdido un brazo o una mano, o el uso de cualquiera de estos miembros. U. t. c. s.
2. adj. Dicho de una cosa: Defectuosa, falta de alguna parte necesaria. Obra manca. Verso manco.
3. adj. Mar. desus. Dicho de un bajel: Que no tiene remos.
4. m. coloq. Chile. caballo ( mamfero).
J a palavra manco tem a mesma grafia e pronncia e tambm a mesma origem. Apesar
de as palavras das duas lnguas terem acees diferentes, existe um consenso em que o
seu significado pode ser similar, pois em ambas as lnguas se refere a uma perda de uma
parte do corpo.
O exerccio de tradues foi um dos mais problemticos, pois a dificuldade era maior e,
mesmo com os FA includos em contexto de uso, existiram vrias situaes de erro. Os
FA apresentados em portugus para traduo foram os seguintes:
Portugus
Traduo para Espanhol
Traduo Errnea e
Correspondente em
portugus
Salsa Perejil Salsa (molho)
sorte Al azar Mala sorte (azar)
Armadilha Trampa
Escritrio Mesa de trabajo Escritrio (mesa,
http://dle.rae.es/?id=6OPHOdx#JxiLKQn
50
secretria)
Agries Berros
Escova Cepillo Escoba (vassoura)
Talheres Cubiertos Taller (oficina de
reparaes)
Nota Billete Nota (anotao)
Tabela 2: Falsos amigos usados no exerccio de traduo para o espanhol
Destaco as duas palavras mais problemticas: trampa e berros.
Grfico 4: Palavras mais problemticas na traduo para o espanhol
Trampa segundo o Priberam refere-se a:
trampa
(espanhol trampa)
substantivo feminino
1. [Informal] Excremento; sujidade.
0
2
4
6
8
10
12
14
"Trampa" "Berros"
Palavras mais problemticas na traduo para o espanhol
Certo Errado
51
2. [Informal,Figurado] Coisa sem importncia, sem valor, sem
qualidade. = BAGATELA, PORCARIA
3. [Antigo] Ao ou dito que pretende enganar ou prejudicar algum.
= ARDIL, ENGANO, ENREDO, MENTIRA, TRAMA, TRAPAA
4. [Antigo] Armadilha para pssaros. = ALAPO
J segundo a RAE:
trampa
De la onomat. tramp, gemela de trap.
1. f. Artificio de caza que atrapa a un animal y lo retiene.
2. f. Puerta en el suelo, para poner en comunicacin cualquier
parte de unedificio con otra inferior.
3. f. Tablero horizontal, movible por medio de goznes, que suelen
tenerlos mostradores de las tiendas, para entrar y salir con
facilidad.
4. f. Tira de tela con que se tapa la abertura de los calzones o
pantalones por delante.
5. f. Dispositivo que sirve para retener una sustancia separndola de
otras.
6. f. Contravencin disimulada a una ley, convenio o regla, o maner
a deeludirla, con miras al provecho propio.
7. f. Infraccin maliciosa de las reglas de un juego o de una
competicin.
8. f. Ardid para burlar o perjudicar a alguien.
9. f. coloq. Deuda que se tarda en pagar.
A palavra portuguesa tem origem na palavra espanhola, mas apenas contm uma aceo
comum, apresentada em ltimo lugar e referida como sendo uma aceo antiga.
A segunda palavra mais problemtica, que nenhum dos alunos foi capaz de identificar,
foi berros, que o Priberam define como:
berro ||
substantivo masculino
1. Grito ou voz do boi e de outros animais.
2. Grito.
3. Rugido.
4. [Entomologia] Insecto que vive entre o plo dos bovdeos.
52
J a definio na lngua espanhola a seguinte:
berro
Del celta *brro-.
1. m. Planta de la familia de las crucferas, que crece en lugares aguanosos, con varios tallos de unos 30 cm de largo, hojas
compuestas dehojuelas lanceoladas, y flores pequeas y blancas.
Toda la planta tiene ungusto picante y las hojas se comen en ensala
da.
No existe nenhuma ligao entre as palavras, apenas a sua grafia igual. Sendo
estas duas palavras to diferentes em termos de acees, os alunos devem ter em
ateno os seus significados distintos nas duas lnguas, pois, como ainda vamos
observar grande parte dos falsos amigos possuem algumas acees comuns.
J no exerccio de traduo inversa, do espanhol para o portugus, os resultados
encontrados no foram muito diferentes. Apresento, de seguida, a lista de FA:
Espanhol
Traduo para o
Portugus
Traduo Errnea e
Correspondente em
espanhol
Salsa Molho Salsa (perejil)
Refranes Provrbios Refro (estribillo)
Tostn Levar uma seca (col.) Tosto (moneda
portuguesa antigua)
Chimenea Lareira Chamin (chimenea)
Ancdota Histria Anedota (chiste)
Ciruelas Ameixas Ceroulas (calzas)
Balcn Varanda Balco (barra de bar)
Baln Bola Balo (globo)
53
Tabela 3: Falsos amigos usados no exerccio de traduo para o portugus
As palavras que mais estranheza causaram aquando da traduo para o portugus foram
refranes, tostn e ciruelas.
Grfico 5: Palavras mais problemticas na traduo para o Portugus
Observemos ento os significados destas palavras e as suas origens.
Segundo a RAE:
refrn
Del fr. refrain.
1. m. Dicho agudo y sentencioso de uso comn.
J em lngua portuguesa, segundo o Priberam:
refro
(espanhol refrn)
substantivo masculino
1. Verso ou versos que se repetem no fim de cada estrofe. = ESTRIBILHO
0
2
4
6
8
10
12
14
"Refranes" "Tostn" "Ciruelas"
Palavras mais problemticas na traduo para o Portugus
Certo Errado
54
2. Palavra ou expresso que se repete. = ESTRIBILHO
3. Frase, geralmente curta, que encerra uma moral ou um ensinamento
. = ADGIO
4. [Msica] Parte de certas peas musicais que se repete. = CORO,
ESTRIBILHO
Apesar de a palavra portuguesa ter origem na espanhola, as suas acees no coincidem
em nenhum momento, mas as grafias semelhantes podem levar o aluno ao erro.
Em relao palavra tostn, a sua realidade no difere da palavra anterior, ou seja, tm
parecenas na grafia, apesar de terem origens diferentes, mas, como podemos ver abaixo,
as acees so muito divergentes.
Para a RAE:
tostn
De tostar.
1. m. torrado.
2. m. Rebanada de pan tostado empapado en aceite nuevo, que se
unta con ajo y se adereza con sal o azcar y zumo de naranja.
3. m. Trozo pequeo de pan frito, generalmente en forma de cubo,
que seaade a las sopas, purs, etc. U. m. en pl.
4. m. Cosa demasiado tostada.
5. m. Cochinillo asado.
6. m. Dardo hecho con una vara tostada por la punta para endurecer
7. m. coloq. Tabarra, lata.
8. m. coloq. Persona habladora y sin sustancia.
Para o Priberam:
tosto
(francs teston)
substantivo masculino
1. Antiga moeda portuguesa no valor de 100 ris ou de 10 centavos.
2. Moeda de ouro no valor de 1200 ris cunhada no tempo de D.
Manuel I.
3. [Botnica] Planta herbcea tambm conhecida por erva-tosto.
4. [Informal] Dinheiro.
A ltima palavra que ressalto deste exerccio ciruela, segundo a RAE:
ciruela
Del lat. cerela [pruna]; literalmente '[ciruelas] de color de cera'.
http://dle.rae.es/?id=a7FT6Hr
55
1. f. Fruto del ciruelo. Es una drupa, muy variable en forma, color y
tamao segn la variedad del rbol que la produce. El epicarpio
suelesepararse fcilmente del mesocarpio, que es ms o menos
dulce y jugoso ya veces est adherido al endocarpio.
Segundo o Priberam:
ceroulas
(rabe sarawil, calas)
substantivo feminino plural
Pea de roupa interior masculina que cobre as pernas separadamente,
da cintura at aos ps, e que se veste por baixo das calas, para
proteger do frio (ex.: estava descalo e s de ceroulas). = CEROILA,
CEROULA
Tal como a palavra anterior, ciruela apresenta uma grafia e pronncia semelhantes em
ambas as lnguas, no entanto no existe nenhuma origem comum entre as palavras.
Nas duas partes do exerccio de traduo, apenas houve uma palavra (escritrio) onde a
taxa de correo foi de 100%, no entanto a palavra sorte, molho e lareira foram
as trs onde a taxa de erros foi menor.
0
2
4
6
8
10
12
14
sorte Escritrio Molho Lareira
Palavras com melhores resultados nos exerccios de traduo
Certo Errado
56
Grfico 6: Palavras com melhores resultados nos exerccios de traduo
A palavra escritrio igual em grafia e pronncia nas duas lnguas, muitas vezes um
erro frequente de principiantes no portugus, pois a sua semelhana evidente, a origem
parece ser comum, e contm apenas uma aceo comum, aceo essa que induz o erro.
Em portugus o Priberam define-nos como:
escritrio
substantivo masculino
1. Sala ou gabinete onde se escreve, se faz o expediente, se tratam negcios.
2. Gabinete de trabalho; secretria.
3. Mvel que era uma espcie de secretria ou escrivaninha.
J em espanhol, segundo a RAE:
escritorio
Del lat. scriptorium.
1. m. Mueble cerrado, con divisiones en su parte interior para guardarpapeles y, a veces, con un tablero sobre el cual se escribe.
2. m. Mesa de despacho.
3. m. Mueble de madera, comnmente con embutidos de marfil,
concha uotros adornos de taracea, y con gavetas o cajones pequeos
para guardarjoyas.
O ltimo exerccio, fazer correspondncia entre uma coluna de palavras em espanhol e
uma em portugus, teve um resultado bastante surpreendente. Tratava-se de um exerccio
de maior dificuldade, embora o mtodo de correspondncia seja simples, e os alunos no
mostraram grandes dificuldades, encontrando assim um nmero generoso de respostas
corretas em todos os alunos. Destaco aqui apenas uma palavra, pois foi a nica cuja
correspondncia nenhum aluno fez corretamente: trata-se da palavra vulto que pode ser
confundida com a palavra em espanhol bulto. Veremos, em seguida, as diferenas de
significados de ambas as palavras
Em portugus, segundo o Priberam:
57
vulto
(latim vultus, -us)
substantivo masculino
1. Rosto, semblante, face.
2. Corpo, figura.
3. Pessoa que no se conhece ou de que no se podem distinguir as
feies.
Em espanhol, segundo a RAE:
bulto
Del lat. vultus 'rostro'.
1. m. Volumen o tamao de una cosa.
2. m. Cuerpo indistinguible por la distancia, por falta de luz o por este
recubierto.
Apesar da origem comum e de algumas acees comuns, no caso concreto deste exerccio
era possvel que os alunos cassem em erro e fizessem corresponder a palavra portuguesa
Vulto a bulto, mas contendo outras opes mais corretas e mais familiares por
questes de uso, esta traduo deve ser considerada incorreta.
Neste exerccio existiram vrias respostas dadas corretamente por todos os alunos, entre
elas so os FA, na sua forma em espanhol, encargos, contestacin, embarazo,
grasa, embutidos e gracia.
A mdia de erros cometidos neste inqurito inicial foi de aproximadamente 14 palavras.
Relembro que faziam parte da testagem 53 palavras FA, sendo que houve uma
percentagem de 26,4% de erro no grupo de alunos do nvel B.2.2..
3. Metodologia adotada em aula
Sendo o tema dos falsos amigos, ainda pouco aprofundado nos cursos de PLE, dada
tambm a falta de material nos manuais adotados pelos professores, foi de grande
necessidade criar e encontrar novas formas de tornar est aprendizagem mais simplificada
e ao mesmo tempo eficaz. Os FA que fizeram parte das diversas propostas de atividades
realizadas em aula, no esto divididos nem por campos semnticos, nem por categorias,
58
pois depois de realizado o inqurito inicial e de verificar as dificuldades dos alunos, era
necessrio focar-me naquelas palavras que causam mais problemas de comunicao.
Tratando-se tambm de um grupo de nvel B.2.2, onde os conhecimentos sobre este tema
ficaram um pouco aqum do resultado esperado, relembro que existiu em mdia uma
percentagem de 26% de erros.
De seguida, descreverei em pormenor cada exerccio feito em aula. Cada um apresentar,
no final da explicao, uma tabela detalhada das palavras abordadas e com os seus
distintos significados nas duas lnguas.
Optei por realizar vrias atividades onde punha prova as variadas competncias dos
alunos, desde exerccios de completar espaos, a expresses orais e inclusive um
exerccio de compreenso oral de um programa humorstico, onde o nvel de dificuldade
era mais elevado.
3.1. Propostas de atividades
A primeira atividade que realizamos em aula, foi uma traduo de um texto 'La Presunta
Abuelita' dos autores Guillermo Alvez de Oliveyra e Mara Eulalia Alzueta Bartaburu
(HISPANIA EDITORA a detentora dos direitos do texto) adaptado por mim ao espanhol
peninsular, j que se tratava de uma variedade latina do espanhol.
Cada aluno deveria em primeiro lugar ler o texto com ateno, selecionando e
sublinhando ao mesmo tempo os 36 FA nele presente. Este texto uma espcie de conto
infantil, onde a maioria das palavras era de dificuldade reduzida e de uso dirio. Em
seguida, cada aluno deveria traduzir o texto individualmente, sem recorrer a nenhum
dicionrio e sem questionar o professor em algum momento. O texto foi entregue para a
correo a posteriori. Aps a correo, foi devolvido aos alunos para verem quais os
principais erros a nvel de traduo em geral e tambm quais as palavras em que ainda
apresentavam dificuldades.
De seguida, o texto que foi proposto aos alunos:
59
N LA PRESUNTA ABUELITA
Haba una vez una nia que fue a pasear al bosque. De repente se acord de que no le
haba comprado ningn regalo a su abuelita. Pas por un parque y arranc unos lindos
pimpollos rojos. Cuando lleg al bosque vio una carpa entre los rboles y alrededor unos
cachorros de len comiendo carne.
El corazn le empez a latir muy fuerte. En cuanto pas, los leones se pararon y
empezaron a caminar atrs de ella. Busc algn sitio para refugiarse y no lo encontr. Eso
le pareci espantoso. A lo lejos vio un bulto que se mova y pens que haba alguien que
la podra ayudar. Cuando se acerc vio un oso de espalda. Se qued en silencio un rato
hasta que el oso desapareci y luego, como la noche llegaba, se decidi a prender fuego
para cocinar un pastel de berro que sac del bolso. Empez a preparar el estofado y lav
tambin unas ciruelas.
De repente apareci un hombre calvo con la chaqueta llena de polvo que le dijo si poda
compartir la cena con l. La nia, aunque muy asustada, le pregunt su nombre. l le
respondi que su apellido era Gutirrez, pero que era ms conocido por el apellido Pepe.
El seor le