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ENTREVISTA COM LUIS PONTE

Polibio – Hoje nós vamos conversar com o ex-deputado e ex-ministro, Luis Roberto Andrade Ponte. Ele foi

por muitos anos presidente do Sindicato da Construção Civil no RS, foi onde eu o conheci inclusive, no

velho edifício Piratini, no centro da cidade. Ele dirige uma empresa muito poderosa aqui no Estado, que é a

Construtora Pelotense, mas eu o conheço, e vocês devem conhecer também, principalmente como autor

dessa nova lei de Licitações. Nós convidamos o Dr. Ponte para estar aqui porque está em curso um programa

ambiciosíssimo do governo federal de concessões na área de infraestrutura: de rodovias, de portos, de

aeroportos, é um programa bilionário. Nós queremos discutir um pouco isso. A mídia está tendo muita

dificuldade, e eu mesmo como jornalista tenho tido enorme dificuldade de abordar esse assunto. Primeiro

porque ele é muito técnico e segundo porque as coisas não me parecem muito claras. Então, trouxemos o Dr.

Ponte aqui para ver se debulhamos esse assunto um pouco. Nós vamos fazer esse primeiro bloco não

propriamente na área de concessões de infraestrutura, mas gostaria que o Senhor desse um voo de pássaro

sobre esse leilão da Libra. Eu lhe disse que ia falar um pouco sobre isso. Como o Senhor viu isso? Não é o

primeiro e não será o último.

Ponte – Não, agora já anunciaram outra descoberta e o que se dizia que fariam a licitação só daqui a alguns

anos já estão falando que vão licitar ainda no ano que vem. Você sabe que um leilão em que só tem um

concorrente, em tese, é um leilão muito hesitoso, porque na verdade não houve disputa. Se não houve

disputa, você chegou à conclusão que aquele é o preço máximo que as pessoas podem aprovar, ou que o

governo colocou um preço muito alto de venda, para receber, e que ali já é suficiente para a maioria. O mais

aventureiro é que acabou aceitando.

Stormer – Seriam condições pouco atrativas.

Ponte – É. Se isso é verdade, essa leitura e se os que entraram e ganharam são bons parceiros, o governo

teve sucesso, porque vendeu pelo máximo possível. Venda que os outros nem se interessaram de tão alto que

era o preço. Estou falando tudo em teoria. Há também até cogitações de que o governo montou, como não

tinha interessados, ele montou este dispositivo, posto que na verdade o governo fica com 70% do petróleo,

depois de retirados os custos de produção.

Polibio – Ai seria desinteressante, para os que não participaram não acharam interessante.

Ponte – Dependendo do grau, se o petróleo custa 2 e você vende por 100, evidentemente mesmo que

recebendo 10% todo mundo se interessa. O volume é tão grande que sim, mas essa relação a gente nunca

sabe. Essa área do petróleo, todos sabem que é considerado o melhor negócio do mundo. Foi até pouco

tempo o 1°, 2°, 3°, 4°, 5° melhor negócio do mundo. Então, ele aguenta desaforos em termos de variação de

preço do que se refere mesmo essas flutuações internacionais. Você tem o preço do petróleo lá atrás, nos

poços de petróleo, e mesmo agora me lembro que não faz tantos anos assim, nós tínhamos petróleo a 20 e

poucos dólares o barril. Está em US$ 100,00. Interessante que os combustíveis não alteram na mesma

proporção. Eu nunca entendi uma coisa, nós temos uma tributação sobre o combustível que é por substituto

tributário. Quem paga o tributo não é o posto de gasolina, é a distribuidora, a refinaria. Muito bem, ai você

tem no ICMS você tem um preço médio que é estabelecido pelo governo. Ele, teoricamente, faz uma tomada

de preços dos vendedores de combustíveis e diz “olha, o preço médio é R$ 2,70, você faz este semestre

sobre estes R$ 2,70, não importa o valor que você está vendendo, você não tem a nota fiscal, não é sobre a

nota fiscal”. Me lembro que quando o Rigotto assumiu o governo, esse valor de referência para a gasolina

era algo como R$ 2,70, o petróleo era US$ 20. Agora você está com cento e tanto e continua quase em R$

2,70. Provavelmente o preço que o governo colocava na gasolina era realmente alto, você começa a

arrecadar mais, ficticiamente, e depois tem os subsídios que, indiretamente o Brasil está dando para

combater a inflação, coisas que vocês sabem. O petróleo tem muita variação e mesmo assim as margens são

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tão altas que dificilmente uma companhia pode perder dinheiro em petróleo. A não ser em acidentes que têm

acontecido ai, e que tem muita probabilidade do pré-sal dadas as profundidades imensas, por mais

experiência que se tenha. Em tese, você trouxe uma empresa forte, privada, a Shell, trouxe uma empresa

forte também francesa, que dá esse cunho de que foi uma privatização, as duas estatais da China traz para o

jogo a China que é muito importante e a Petrobrás, ficando com 40% - se tiver fôlego para cumprir os seus

40, e se não tiver os outros vão aportar para ela o seu negócio. Eu acho que o país acabou sendo bom, em

tese.

Stormer – Mas a nossa presidente não fala em privatização. Quando fala em privatização, ela dá um pulo

para trás. Ela não considera isso privatização. Considera?

Ponte – Ela tem que fugir disso como o diabo da cruz, porque passou o tempo todo dizendo que isso era o

cão e agora ela está vendo que sem isso não vai a canto nenhum. Nem no petróleo, porque ai realmente tem

um cunho de predominância do estado, o petróleo é mais entregue para a União. Na partilha, você sabe que

o petróleo, depois de um custo, vem para a União, uma parte substantiva. Com os 40% indo para a

Petrobrás, acaba isso indo para 70 e tantos por cento. Me lembro que quando entrei nas empresas privadas,

me convidaram para presidir 1% do capital, eu era empregado ou era dono da empresa?

Polibio – Vamos ver o que o Leandro, que está em Nova Iorque, pode dizer sobre esse assunto. Deve ter

repercutido por lá de alguma forma esse leilão.

Leandro – Na verdade, o que as pessoas aqui não entendem, a gente fala com empresários, com pessoal de

mercado financeiro, é por que o governo brasileiro mudou o modelo de partilha, que era um modelo de

concessão para um modelo de partilha já que nós tínhamos uma indústria crescendo, um modelo

funcionando muito bem e desde a descoberta do pré-sal, nós tivemos uma carga colocada em cima das

costas da Petrobrás que está numa situação financeira ruim. É só olhar o mercado para ver que as ações estão

caindo há vários anos, muito longe de outros pares no mercado internacional. A gente não tem o aumento de

produção de petróleo, mesmo com todo o dinheiro investido nos últimos anos. Nós tivemos uma demora no

leilão de novas áreas. Então, a grande pergunta que fica que as pessoas não entendem é: por que mexer num

modelo que estava funcionando? E por que onerar a Petrobrás onde esse risco e todo esse investimento

necessário para extrair o petróleo do pré-sal está ficando mais nas costas da Petrobrás, que já demonstrou

não ter toda a capacidade financeira para dar o ritmo que o Brasil precisa para essa fronteira? Quando já

podíamos estar à frente se não tivesse essa troca de regime, e se não fossem sido criadas essas novas regras,

a Petrosal – na minha opinião, uma estatal totalmente inútil? Quanto tempo nós estamos perdendo e dinheiro

numa visão ideológica equivocada daquela história de que “o petróleo é nosso” e agora fica claro que não é

bem assim.

Ponte – Pois é, veja você, o sistema de partilha, ou que você pagava o royalt, pagava como imposto.

Polibio – Mas era concessão.

Ponte – Concessão que se pagava como imposto e entrega de um valor. O petróleo é todo de quem está

retirando. Um pouco da conotação é isso “o petróleo está ficando com o governo”, isso é uma coisa

estratégica, se houver flutuação o governo tem o benefício se subir ou não. Se ele está estabelecendo as

regras corretas, eu não vejo conflito disso ai. Agora, essa sua análise é mais profunda. Precisaria a Petrobrás,

que não tem mais tanto cacife assim ficar com essa incumbência de uma coisa que detém um a exploração

de muitas dúvidas. Mesmo com a experiência que já tem a própria Petrobrás e o mundo em exploração de

pré-sal, ainda não é tão consolidado. Você teve acidentes a não muito tempo. Esse risco você está querendo

passar como se ele fosse pequeno, então é melhor que eu fique, porque essa partilha só vai incidir sobre a

quantidade de petróleo que se produzir acima do que custou para fazer todos os investimentos. Ou seja, se

não der lucro, você não recebe nada. Eu não tenho uma versão muito boa, acho que ele perdeu muito tempo,

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mas a definição é que tem que ser clara. Eu não sei se essa definição é tão clara. Quase sempre o governo,

nessas outras concessões – nós vamos ter chance de falar – o grande problema é a falta de definição. Se no

petróleo a falta de condição de você estipular o custo de produção, etc., são variáveis de barril e o preço que

vai ter é grande, você tem uma margem enorme. Mas você vai para concessões – quer seja de rodovia, quer

seja de ferrovia, quer seja de portos – você precisa ter o mínimo de confiabilidade no valor que você terá que

investir porque as margens não são muito grandes. O governo limita as margens. Ao o governo não limita as

margens, o governo limita a quantidade que vai receber, mas não limita o preço do petróleo. Na rodovia ele

limita o valor da tarifa, ele limita o valor da tarifa do trem, ele limita o valor da tarifa do porto. Então, tem

um risco adicional e não define com clareza, não planeja, não diz nem, não há nenhum projeto de rodovia.

No petróleo, esses projetos são as próprias companhias que entram porque conhecem bem. São elas que

fazem isso, não existe um projeto de exploração de petróleo, você contrata alguém para fornecer ao licitante.

Agora, ele realmente tarda. Se tivesse feito isso antes, estou com a impressão que ele tinha obtido valores

talvez bem maiores por conta de interesses da nação. E a razão para ir para a partilha é para diminuir esse

ranço de que não é privatização.

Polibio – A mim parece o seguinte: O Estado só parte para a concessão, ou para a partilha – seja como você

quiser chamar a privatização, e em que proporção for – ele só faz isso quando ele chega à conclusão de que

não possui recursos financeiros suficientes para bancar, e principalmente um governo de esquerda como é o

do Brasil. Ele não vai chamar a iniciativa privada para algum empreendimento se ele estiver com dinheiro e

se estiver com competência. Ele só faz isso quando diz “não tenho dinheiro e não tenho competência para

fazer”, ou os dois, ou um dos dois. Claro que quando é um governo capitalista, pró-capitalismo, economia de

mercado, faz isso muito mais à vontade. Quando nós temos um governo de corte mais socialista, como é o

caso da Presidente Dilma, tem mais dificuldades, falamos há pouco da dificuldade que o governo tem de

usara nomenclatura certa da concessão, mais isso ai é uma privatização parcial, vem parceiro privado para

isso ai. No fundo, no fundo, se coloca isso, não é isso?

Ponte – Depende do tipo de concessão. Por exemplo, na concessão de rodovias, na verdade – eu, por

exemplo que tenho uma concessão pequena aqui no RS, que vai se estender agora - eu sou contra a

concessão. Não se trata de uma privatização, as estradas são construídas por particulares e uma concessão

em que o objetivo é manter as estradas bem conservadas serão sempre por particulares. Foi-se o tempo em

que o governo tinha máquina rodoviária. Eu sou contra porque esta foi uma forma que se encontrou para

aumentar os impostos para a sociedade. O Estado arrecada o suficiente para fazer todas as estradas e para

manter, sem sombra de dúvida nenhuma. Quando a arrecadação do país era 23% do PIB, se construiu esse

parque enorme de rodovias que nós temos com recursos da União. E gastando, às vezes, inutilmente como

na Transamazônica, ainda ontem saiu um programa sobre a Transamazônica, gastando isso tudo e tinha

dinheiro. Passou-se para 36% do PIB e não sobra dinheiro para construir uma estrada. Então, como a

sociedade, graças a Deus, não aceita mais aumento de carga tributária, o governo começa a encontrar formas

de fazer outro tributo. Um pedágio é um tributo novo que você passou a cobrar dos usuários. Dito isso, neste

momento, por exemplo, em que não há recurso público, não tem como aumentar os impostos e não tem

como demitir – que a origem de tudo é o empreguismo, é a aposentadoria precoce, é a falta de gestão, é

nisso que se gasta os 36% do PIB. O certo é diminuir todas essas despesas... como a Alemanha. A Alemanha

não tem praticamente pedágios, as AutoBans maravilhosas. Agora, nesse momento tem que ter pedágio,

acho que está certo ela fazer, porque é pior não ter estrada. Não se pode dizer o seguinte: “eu sou a favor do

pedágio, porque eu prefiro ter estrada”, é transitoriamente. Eu acho que se o governo mudasse esta visão que

é a loucura do desperdício do recurso arrecadado, esse é o grande mal da nação, falta de gestão que atrapalha

tudo, nada se consegue fazer hoje no Brasil com serenidade. Os organismos que se mesclam na execução.

Quem fiscaliza é fiscal, do fiscal, do fiscal, os fiscais diretos da obra não se animam mais a assinar o papel.

Você não consegue licenciar uma jazida para colocar numa estrada terra que você botava direto, isso você

não consegue fazer em um ano. Numa transição, se a gente conseguisse consertar isso, dizer o seguinte:

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“vamos fazer o pedágio, mas com um programa de decrescentemente o governo vai começando a aportar

uma parte do valor do pedágio”. Desobstrução do desperdício. Ai a pessoa paga o pedágio igual, mas a

União paga um pedaço daquilo. O concessionário recebe o mesmo valor que está programado, mas uma

parte daquilo vai sendo bancada pela União, até chegar ao zero e o parque rodoviário ser bancado pelos

impostos diretos.

Leandro – O pior ainda é o que aconteceu no RS, onde as empresas que estão explorando o pedágio são

públicas. Ou seja, a gente paga o imposto que deveria bancar a manutenção das estradas, mas ai o Estado

vem, afasta a iniciativa privada e ele mesmo cria uma nova estatal para fazer um serviço que deveria ser

feito num primeiro momento. Cobra duas vezes pelo mesmo serviço e ainda entrega um serviço ruim. Tem

até umas decisões judiciais de cobrança de que não havia estrutura nenhuma pela Empresa Gaúcha de

Pedágio, do Tarso.

Ponte – Exatamente, ficou o malefício que é o imposto novo e ficou a despesa maior para executar com toda

a administração. O pedágio, mesmo de empresa privada, introduz um imposto novo, passou a ter ISSQN,

passou a ter pagamento de justiça para poder manter aquilo que é uma despesa enorme, pagamento das

praças de cobrar pedágio. Nada disso precisava haver. Você pegava o imposto do combustível, contratava as

empresas e fazia as estradas. É o particular que está fazendo. Essa é a lógica. Agora, acabou fazendo o que,

o Estado gostou, “eu não vou abrir mão do imposto”, ficou com o imposto, mas botam lá os cabides de

empregos das empresas novas que estão sendo criadas.

Stormer – Temos uma pergunta. É uma questão que não é só na área de concessionárias, mas temos

também a questão dos presídios que iam ser privatizados no governo da Yeda, 6 presídios que iam ser

privatizados. Ai o novo governador entrou, disse “não, vamos cancelar, quem vai fazer presídio aqui é o

governo”. Não temos presídios. As pessoas continuam sendo tratadas como ratos lá no Presídio Central,

porque não houve investimento.

Polibio – É o mesmo caso, quem tem que estar presente é o Estado.

Ponte – Só tem uma diferença que o particular no presídio vai, evidentemente, fazer com menor custo a

gestão. No caso da estrada, é o particular que vai fazer a estrada. Ali, o governo em manter aquilo lá, o

particular faz mais barato. Tudo indica que o que o governo gasta no presídio é muito mais do que se ele

fizer uma concessão.

Stormer – A pergunta do participante Simon: “Dr. Ponte, faço e refaço meus cálculos do que o Brasil

ganhará de Libra e não chego aos tais 85% do discurso da Dilma no palanque televisivo. Onde será que

estou errando? Obrigado”. A pergunta dele é se realmente vai ter esses 85% que foram apresentados no

discurso ou ela jogou para cima esses valores?

Ponte – Grosso modo, eu não fiz essa conta, mas 40% é da Petrobrás, depois você tem mais 40 e não sei

quantos por cento que é o que se paga de petróleo para o governo, o grupo paga, é a partilha. 40 dos 60,

porque 40 são da Petrobrás. Depois ainda tem os royalts que não são de valor pequeno. Ouvi-a falar de 300

bilhões, no período aquele, são royalts só desta exploração, só de libra. E você tem ainda os impostos que

pagam. Ainda tem o seguinte: o lucro que a empresa ganha, paga 34% para o governo. O lucro de uma

empresa só de Imposto de Renda mais a contribuição social sobre o lucro é uma alíquota de 34%, que vai

sobre o lucro que as empresas tiverem. Somando isso, periga chegar, eu não fiz a conta, mas não está muito

longe não.

Polibio – Vamos conversar sobre esse programa, ambicioso programa de com cessões na área de

infraestrutura. Rodovias que serão privatizadas, que já são e serão mais ainda. Ferrovias, aeroportos, portos,

e vamos começar por uma área que o Dr. Ponte domina completamente que é de rodovias. Inclusive, sua

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empresa trabalha nessa área. A construtora Pelotense trabalha nessa área. Uma coisa que para mim chamou a

atenção, eu li tudo o que eu pude sobre isso, eu não vi nada contemplando os interesses do RS.

Ponte – Não tem, até porque eu acho que o próprio governador a de ter pedido ao governo federal para não

colocar privatização aqui.

Polibio – Aqui é um insulto falar em privatização.

Ponte – Aqui, por exemplo, quando estava se cogitando a construção da ponte do Guaíba, tem uma

concessão rodoviária ali, que faz a Freeway, ela estava disposta a fazer uma ponte mediante uma inserção no

investimento e elastecimento do prazo. A Dilma bateu o martelo contra, “não quero”. Evidentemente que

tudo tem essa política envolvida. Aqui no Estado, eu acho que lamentavelmente vai se pegar o gostinho, vai

faltar dinheiro, o gostinho pelos pedágios públicos, porque ele acha que gasta menos. O Brasil ainda tem

muito essa corrente de pensamento que não enxerga o óbvio de que os empregos, todos os empregos que

você tem no Brasil e no mundo, tirando os públicos, são fruto do lucro de alguém no passado – que é uma

coisa tão elementar de se enxergar – as pessoas não enxergam, acham que o lucro é a causa do

empobrecimento. Quando você julga que o lucro é a causa do empobrecimento, o peso, inclusive dos

processos de regularização é esse “vamos fazer com que seja o menor pedido, de preferência que eles

percam o dinheiro e os investimentos a gente financia”, como se não tivesse que pagar. Esta visão é que é a

causa da grande tragédia que vive imerso a visão do próprio Brasil, porque não enxerga que o

desenvolvimento e, por via de consequência, a erradicação da pobreza e da miséria – que é o objetivo

derradeiro, a condição de vida digna para todo mundo – se dá através da capacidade de empreendimento das

pessoas e da geração de lucro, que vira investimento, que vira emprego, que vira trabalho, que vira

qualidade de vida para as pessoas. Enquanto não se percebe isso, tem esse esforço agora do tribunal de

Contas de limitar o preço da concorrência, criaram as tabelas e quem não entende..., se o empresário está

morrendo lá, todo mundo se esvaindo, ai eles chegam a um ponto de dizer “olha, o contrato em andamento

tem um preço unitário que está acima de um valor de uma tabela teórica que vale para o Brasil inteiro”, ele

chega e manda no contrato diminuir aquele preço unitário, contra a Constituição, na maior clareza. A

Constituição diz assim “o ato jurídico perfeito, a lei não pode modificar”, o ato jurídico perfeito tem que ser

respeitado. O cara manda por uma portaria. Ai você chega e diz “escuta, e os preços que estão mais baixos”,

“não, você baixa aquele precinho que está mais alto”. Ou seja, é uma interferência no sentido de que tem que

diminuir lucro, tem que acabar lucro. Acabar lucro não é um bem.

Polibio – E como fica esse plano de concessões na área rodoviária?

Ponte – No Brasil, você vê que teve uma com sucesso e a outra vazia.

Polibio – Está falando das primeiras licitações dentro do programa.

Ponte – Dentro do programa. Uma vai a Goiás e a outra era para a Bahia. A que não deu certo foi a da

Bahia. Essa de Goiás teve licitante que entrou 40% abaixo do preço que estabeleceu o governo, e a outra

deserta. Isso é o retrato da razão pela qual esse programa pode dar com os murros n’água ou não. Não tem

nenhum ensaio, nenhum estudo, nenhum projeto. Você diz “vamos ligar tal lugar a tal lugar”. Você vai fazer

uma proposta para estabelecer um posto de pedágio, você não sabe quanto vai gastar para fazer a estrada,

porque não tem nenhum projeto de rocha que você tenha que cortar...

Polibio – Mas estes parâmetros não estão dados quando sai o edital de licitação?

Ponte – Nada, nada. Tiram a taxa interna de retorno, dão o preço máximo que você tem na cobrança de

pedágio e as condições que você vai exigir de manutenção, dá uma estimativa de tráfego que não é bem

estudada, como a falta de planejamento de tudo que é do Brasil. A própria obra, que você vai fazer aditivo

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para poder fazer obra é porque não tem projeto. É um remendo de projeto, não tem estudo, não tem

detalhamento. “Vamos licitar ai, coloca o risco aqui, que nem fizeram com a Tansamazônica”, depois, não

dá aquilo e você tem que subir.

Polibio – Em que é está isso agora na área rodoviária? Ocorreram duas licitações, uma em Goiás que deu

certo, outra na Bahia que não deu.

Ponte – O nível de informação é pequeníssimo. Se chegar a ser tão favorável, por engano dele, que lá não

foi, parece que erraram na que deu certo, eles erraram a avaliação do tráfego. Os empresários que entraram

tinham uma avaliação mais confiável, ai dá para entrar até 40%. Na Bahia a estrada não era tão difícil de

orçar ou de estimar, quanto a outra. Dessas ai, parece que estão consertando. De uma quantia de 6% foi

aumentando para 7,5% para a estrada, parece, mas o começo começa a pagar por fora um subsídio, que se

não fica uma taxa muito grande de pedágio e as pessoas protestam. Tem a revolta social, que vira guerra

fiscal e tributária, tudo mais, guerra jurídica. Então, eles dão um subsídio. Se eles avaliaram isso com muita

folga, pode ser que tenha licitante. Agora, está errado, você tinha que ter projeto antes. A estimativa de

tráfego que você pode calcular hoje, as condições que você tem são tantas, ai você tem pessoas que podem

entrar e não só pessoas que acreditam, que algumas são até aventureiras.

Polibio – Nessa área de rodovias o que temos pela frente agora em curto e médio prazo?

Ponte – Nós temos duas estradas que talvez saiam este ano. Lá no Mato Grosso, aqui no Sul nada. Eles

acham, teve manifestação da ministra da Casa Civil, que duas delas eles ainda estão retocando, em virtude

do fracasso na Bahia. Tem mais duas lá e depois perde o interesse. O ideal é que se fizesse essas estradas

com recursos do governo. Em vez de jogar no lixo o dinheiro arrecadado, que se fizesse concorrência nas

estradas.

Leandro – Acho que a grande questão é a seguinte: esse governo tem uma visão contrária ao lucro, o lucro é

uma coisa negativa, só que ao mesmo tempo o país não tem poupança interna, o governo não tem

capacidade de investimento, a nossa poupança interna vai totalmente para cobrir o déficit público. Se a gente

pegar 60%, 70% das reservas das reservas do país estão investidas em títulos públicos. Ou seja, o estado

funciona como um buraco negro de recursos e há muito tempo se provou que a economia baseada nas

decisões governamentais, nas decisões centralizadas, ela não funciona ou é muito menos eficiente. A

solução seria ter uma flexibilidade maior nesses leilões, com regras muito bem definidas, onde quem vai

decidira a tacha de atratividade é o mercado. É muito difícil o governo chegar e dizer “não, 6% é um retorno

adequado para este projeto”. Em alguns casos os projetos são muito incipientes, não sabem exatamente quais

são os riscos. O mercado é muito bom para isso, para definir qual é a tacha de atratividade para um projeto.

Se a gente continuar nessa linha de o governo querer definir exatamente qual é a tacha adequada num

projeto incipiente, e qual é o risco, eu acho que nós vamos ter muitas dificuldades em chamar a iniciativa

privada para fazer investimento. Vejam vocês o próprio setor elétrico. A Dilma, numa canetada, modificou

totalmente o setor, diminuiu muito as margens, e é um setor que precisa de muito investimento. Agora,

como a gente vai convencer um investidor a vir para o Brasil, produzir toda uma infraestrutura, tanto de

geração de energia, quanto de transmissão, quando não se tem claramente as regras do jogo – o que

aconteceu no setor elétrico demonstra que as regras podem mudar a qualquer momento – e ao mesmo tempo

há uma limitação no lucro. Ou seja, se tiver lucrando demais, se as coisas derem certo, o governo vai punir

porque é um setor que está lucrando muito. Não tem como isso funcionar. Na minha opinião, enquanto não

mudar essa mentalidade, será muito difícil atrair capital e realmente resolver todos esses gargalos que a

gente conhece: estrada, aeroporto, porto, enfim. É uma situação difícil.

Polibio – Essa mentalidade para mudar não será muito fácil, mas não dá para ficar quieto enquanto a

mentalidade não muda. Vamos conversar um pouco sobre outra área de infraestrutura que me parece estar

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andando melhor, que é a de aeroportos e de portos. Acho até que portos mais do que aeroportos. Antes disso,

vamos a uma pergunta.

Stormer – Nessa linha que o Polibio acabou de mencionar, o participante Carlos coloca a seguinte pergunta:

“Segundo declarações do Ministro Mantega, hoje as empresas não estão investindo por insegurança jurídica,

segundo suas palavras. Ora, mas não foi seu próprio governo que criou a insegurança jurídica, quem seria o

maluco de investir quando as regras do jogo mudam no meio da partida?” Seria esse o problema que o

Senhor percebe, que as regras estão mudando no meio da partida e isso tem afastado potenciais investidores

nos diferentes sistemas de licitações? Sejam aeroportos, sejam portos, sejam rodovias. O Senhor acha que

esse é o problema, a mudança das regras ou a insegurança sobre essas regras?

Ponte – Eu acho que é a mais a insegurança sobre a aplicação da regra, porque especificamente modificar os

contratos eu não tenho visto. Ele modifica por ações, como o que eu disse, o camarada chega e diz assim

“esse preço está alto, você tem que baixar”. O Tribunal de Contas da União que tem um preço nacional, de

uma tabela calculada, porque está em cima de uma cadeira, nunca fez uma rodovia, se acha e faz isso em

nome do bem. Faz isso para diminuir o lucro, que ai já não é em nome do bem, dizendo que é em nome do

bem. A ação do Tribunal economizou 60 milhões nessas obras. A empresa que deixou de ter 60 milhões,

saiu do seu patrimônio uma parte daquilo, empobreceu, empobreceu, empobreceu. É a insegurança, porque

você não sabe se vai conseguir uma licença de meio ambiente. Um camarada meu entrou numa concessão de

rodovia, ai tinha que fazer mais 200 Kms para poder contornar uma área de índio. Quando ele achava que

estava tudo resolvido, tinha a licença e tal, “não, não, não, agora você tem que fazer uma ponte porque nos

feriados deles, eles se locomovem de uma tribo para outra, então tem que fazer uma ponte de 90km para

poder permitir que os índios vão por cima da ponte, porque tem uma ferrovia embaixo”. Ai para tudo, você

vai tirar uma licença e não sabe quando sai, você fica com as máquinas paradas. Essa insegurança total, essa

licença do Ibama e tal, é tudo muito complicado. E o fiscal – uns pobres coitados – fiscais diretos do órgão

que era antigamente o que havia, não assinam mais nada, são fiscalizados a toda hora, precisam se defender,

contratam advogados eles próprios. Tem uns que dizem assim “querem que assine isso, manda a PGM vir

assinar, eu só assino com a PGM assinando”. Ai tranca tudo essa insegurança total, e a insegurança de quem

faz a obra, que são os fiscais do órgão que contratam. Mas não é mais o órgão que contrata, o empecilho é

desse mundo de organismos. E todos querendo bem, quem vai falar contra o meio ambiente? Você não pode

derrubar uma árvore para fazer uma avenida, árvore que vai morrer daqui 50 anos, se é que não vai cair em

cima de um carro e matar uma pessoa. Qual é o problema de tirar uma árvore para fazer uma avenida? E a

sociedade meio que fica favorável “ah, tirar uma árvore, que barbaridade”. Mas uma árvore é finita, não é

para preservação do futuro da sociedade urbana. O que está muito complicado no Brasil é esse

funcionamento. Isso está levando as empresas a terem dificuldade financeira, a não quererem mais entrar.

Você falou em lei de licitação, eles debitavam muito desse retardamento para começar a obra, você não faz o

projeto e faz uma licitação sem projeto ou com projeto capenga. Isso não pode, a lei obriga a ter projeto, até

para você saber o custo. O governo tem que saber quanto vai custar. Tem que ter um projeto com orçamento.

Eles não fazem isso direito, na licitação quando é preço unitário os concorrentes entram, mas sabendo que

depois tem aditivo. Ele está achando que a lei de licitações, que não é a nova, a nova é a RDC que é uma

excrescência. Estou convencido hoje que não foi feita para o mal, mas qualquer cara que queira usar para o

mal, dá a obra para quem quiser. Não precisa nem mais ter projeto. Contrata o projeto e a execução da obra

com quem quer. Essa insegurança de não se saber se o tribunal vai mandar parar, isso ai realmente está

matando. Nessa área de rodovias e ferrovias tem insegurança, porque você não tem o que vai fazer. Que

projeto você vai fazer? Que tempo você vai conseguir a liberação do meio ambiente? Você vai colocar o

investimento de que jeito? Esse é o grande entrave da vida nacional.

Polibio – Tem muito discurso então.

Stormer – O próprio porto do Eike foi, durante algum tempo, bloqueado pela questão ambientalista.

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Ponte – Eu não conheço os detalhes, mas certamente foi.

Polibio – Em relação a aeroportos, é um universo menor, nós tivemos já privatizações de Guarulhos, agora

vai ser o do Rio de Janeiro e Confis em Belo Horizonte. Os dois últimos serão os próximos. Pelo que se

escuta no noticiário, os que foram privatizados já deram bons resultados. As obras estão em pleno

andamento.

Ponte - Dá a impressão de mais ordem.

Polibio – Está se ouvindo poucos problemas, inclusive.

Ponte – Em aeroporto você teve o fenômeno que é o crescimento de aeroporto, no mundo particularmente,

no Brasil todo. Muito particularmente no Brasil, porque passou a ser barato viajar de avião, houve o

aumento da competitividade, houve ascensão das classes mais baixas. Foi um movimento que eu nem sei

como se conseguiu. Aeroporto demora para fazer. Ficou essa confusão de a deficiência do aeroporto é vício

da relação com a própria Aeronáutica, a segurança do voo não está privatizada. Está lá, e acho que é bom

que fique lá com os militares que é para evitar greve e essas coisas todas que botam em risco. Enquanto

tivermos essa cultura de greve, da reivindicação, do corporativismo – que é a doença que está nos matando,

cada um olha o seu umbigo – quando o cara deveria olhar ao interesse da coletividade, antes de qualquer

outro, se todos fizessem isso estávamos todos no céu. Se todos fazem isso, o seu interesse está atendido

através do interesse da coletividade. Agora, se eu olho o meu e você olha o seu, olha para aquele não

importa, desde que dê o meu. O somatório disso é a ingovernabilidade, é a pobreza e é a miséria.

Leandro – A minha visão é um pouco mais radical. No caso dos aeroportos, por exemplo, a Infraero sempre

precisa ficar numa posição de faixa majoritária e isso dificulta bastante qualquer interesse também. Se tem

uma empresa estatal que está dando as cartas, mais ou menos como a Petrosal nos campos de exploração do

pré-sal que mesmo não tendo participação de investimento, pode vetar qualquer decisão, isso afasta o

empreendedor e fica difícil ter algo realmente eficiente. Sempre vamos ter uma entidade controlando. Isso

lembra muito o estilo chinês de investimento onde praticamente todas as empresas vão ter um sócio que está

ligado ao governo. Não vejo isso funcionando bem. Vamos ter uma melhora, mas pega mesmo os aeroportos

que já estão funcionando através de novos regimes, está muito longe do que a gente precisa de investimento,

de funcionamento, enfim. Quando a gente vem aqui para os EUA e frequenta um aeroporto verdadeiro, um

aeroporto que faz jus a este nome, a Etiópia e o Brasil parecem estar voltando no tempo. Não acho que a

atual rodada vai modificar a situação e novamente esbarramos naquela situação que aconteceu agora em

Confins. De última hora, nas últimas duas semanas, há 3 semanas o governo está fazendo algumas

modificações, porque percebeu que com a proposta anterior não haveria nenhum interessado. Fica uma coisa

meio ridícula até.

Polibio – Parece que é um processo de “vai tentando”. Vai por aproximação.

Ponte - Não tem estudo de nada, a imprevisibilidade.

Stormer - A questão principal é uma falta de estudo do plano de negócio, uma falta de preparo técnico. Isso

a gente está percebendo em todos os cenários.

Ponte – Japonês só faz a obra quando ele tem o projeto pronto. Tem que estudar, vou investir tanto, custa

isso. Sabem o preço direitinho. Ai você abre uma licitação para construir, você pode usar um teto, acho que

é cabível um teto, porque as empresas podem se reunir se você não tiver teto. Limitando um teto, desde que

seja um objeto definido com clareza e a competição se dá dali para baixo. Como nessa própria concorrência

da estrada, o cara entrou 40% abaixo. Não pode ser o teto abaixo, nessa busca de acabar e extinguir o lucro

que é o que está em pé nesses processos decisórios.

Page 9: Entrevista com luis ponte

Polibio – Até porque nesse caso de trancar o lucro, não tem nem candidato.

Ponte – É engraçado como a visão do povo, dos formadores de opinião, são: você, quando chega e diz o

seguinte “ o preço está alto porque as empresas se juntaram”, se respeitar a lei da licitação não há hipótese.

Pode se juntar tudo que é empresário, nenhum problema. É bom que se reúnam para evitar o preço

insuficiente. A lei proíbe, é o preço inexequível para evitar isso de o cara parar a obra, começa a se resolver

pelo fiscal. E o preço alto não existe porque tem um teto. Se você pegar a Polícia Federal, falar que eu

conversei com o meu colega “depois você entra nisso, está muito baixo, deixa, pega outra obra, tem muita

gente, vai entrar com um preço suicida para quê?” se você fizer essa troca de ideias é um crime. Todavia,

olhem só que coisa engraçada: se o povo está comprando arroz barato, que o preço está muito baixo, os

produtores de arroz corretamente se reúnem à luz do sol, calculam o preço que custa. Veem que se continuar

isso, vai ser um descalado, vão ao governo e dizem ao governo “você trate de pegar dinheiro de impostos

para impedir que o povo compre muito barato, porque senão vai faltar plantador lá na frente”. Ai, o governo

estabelece o preço mínimo, isso ai está tudo bem e o mundo todo faz isso. Agora, se é em obra, se custar

zero é que é bom, deixa as empresas se acabarem.

Polibio – Esse programa ai, pelo que eu estou vendo, falta um ano para esse governo sair ou continuar, vai

ser difícil que ele realmente tenha algum tipo de andamento. Gostaria de falar um pouco sobre portos. De

todas essas áreas ai, acho que o Wilen Manteli da Associação de Portos e Terminais deve ter conseguido

algum resultado melhor, porque vem trabalhando há mais tempo, inclusive. Antes de irmos para este

assunto, tem uma questão colocada.

Stormer – Tem uma muito interessante colocada pelo participante Rogério: “Dr. Luis Ponte, o que esperar

para os próximos 10 anos em infraestrutura no Brasil?”. Essa é a preocupação dele, especialmente ferrovias,

essas coisas nesse sentido.

Ponte – Olha, nós estamos num grau de deficiência tão grande, porque não é possível que não se acabe

minimizando um pouco esses obstáculos que nós temos ai. A própria Presidente da República, que tem um

time, como costuma dizer o Polibio, de corte esquerdista, ela começou nessas privatizações rodoviárias. Era

6%, 5,5%, ai viu que não dava pulou para 7%, ai pulou para não sei quanto, teve o subsídio do governo. Vai

fazendo por tentativas sucessivas. Isso é hoje um freio ao crescimento, além do que esta área é uma área que

tem grande potencialidade para ampliar o crescimento da economia e para emprego, é uma área altamente

empregadora. Eu acredito que alguma coisa vai acontecer. Se você tiver um problema econômico, porque

nós estamos só na área de infraestrutura, a economia como um todo, as análises macro não aparecem e não

vão aparecer num curto prazo por conta de uma reserva grande que se criou de moeda estrangeira. Mas hoje

não está saudável. A nação está precisando 60 bilhões de dólares por ano para fazer equilíbrio da moeda de

troca. Então, é uma coisa muito séria você chegar e não ter o desenho, porque você não caminhou para

ganhar produtividade na sua capacidade de produção e está caminhando para o lado do aumento de salário e

ainda continua indo. Porque, por razões várias, teve o emprego pleno e no emprego quase pleno você tem

questões salariais. Todo mundo quer ganhar bem. O funcionário público, cada um faz sua reivindicação.

Agora, a reivindicação dos professores, esse pessoas do Rio de Janeiro, falando em R$ 16.000,00, um

engenheiro aqui ganha R$ 3000,00 quando entra. Perdeu-se os parâmetros de um equilíbrio da coisa. Eu

acho que isso não vai ficar muito tempo.

Polibio – Não que não mereça, não é isso que estamos dizendo.

Ponte – Não, pelo amor de Deus, quem não merece? Não tem é como pagar. Se você pagar mais para um,

tem que pagar o mínimo que o outro precisa.

Leandro – Enquanto a lógica de mercado não se impor, a Dilma colocou que a tacha tinha que ser 4,5,

depois 5, 5,5.

Page 10: Entrevista com luis ponte

Polibio – Ela está por tentativa e acerto.

Leandro – mas o mercado não funciona assim. O equilíbrio de mercado geraria, automaticamente, o

equilíbrio. Eu acho que a gente tem que brigar pela diminuição do tamanho do Estado, que vem junto com a

diminuição da carga tributária, em deixar o mercado o mais livre possível e as regras mais claras e

consistentes, onde há uma garantia de que elas são respeitadas para atrair capital. Especialmente capital

externo que há um ranço também no Brasil em relação ao capital externo, se não fosse por ele nós não

chegaríamos onde chegamos nos últimos anos. É uma coisa relativamente simples, mas totalmente contrária

a essa visão esquerdista que domina a política nacional hoje. Enquanto isso não acontecer, nós vamos ficar

nessa de a Dilma vir a público e dizer que vai dar um choque de capitalismo no país – que ela falou isso no

ano passado – só que é um capitalismo meio chinês, um misto de chinês com cubano e isso não funciona.

Stormer – Eu acredito que nos próximos 10 anos o Brasil precise melhorar a infraestrutura dele. Ele não

pode continuar no ritmo que está e da forma que está. A questão toda é que, citando um pouco o que o

Ronald Regan costumava dizer, “não espere que a solução venha do governo que o governo é o problema”.

Então, o nosso governo é o problema. Ele não é uma solução.

Ponte – Isso nos EUA.

Stormer – Se ele disse nos EUA, imagine aqui.

Polibio – Mas a questão de portos, Dr. Ponte, como o Senhor avalia isso ai?

Ponte – Portos é uma guerra de muitos anos. Ainda falava com o Manteli hoje, porque ele acompanhou

muito uma lei que se fez em 93/94 que estava no Congresso, não lembro mais o ano, que a gente participou

muito.

Polibio – Agora tem um processo novo nisso.

Ponte – Houve um avanço nisso, mas também um retrocesso. Houve um retrocesso agora. Naquela lei, a

gente conseguiu dizer que os portos privados que estão lá dentro, a área do porto oficial, a área portuária

oficial, você podia pegar trabalhadores fora da tal de Ogbu que é o organismo que fornece mão de obra que

era uma das grandes deformações. Eles impunham um número mínimo de trabalhadores e dava um

encarecimento fantástico. Esta modificação de agora voltou para trás, esse é o retrocesso que houve. Houve

ganhos porque agora você tem uma pulverização. Antigamente, o porto privado não podia prestar carga

particular, só para público. Agora pode colocar carga particular, público, seu próprio, como quiser, esse foi

um avanço que teve. Mas ainda tem esse ranço e, sobretudo, são as regras. Agora eles passaram para

Brasília, por exemplo o Porto de Rio Grande que tinha uma autonomia para estabelecer sua tarifa portuária

de cobrança, agora vai tudo para Brasília. A competição que é dada para o Porto de Rio Grande, estava

lutando para ter “eu modifico as tarifas”, agora é tudo decidido em Brasília. Não sei se isso vai melhorar.

Mas houve essa tendência de expandir o número de portos. A presidente quer aumentar o número de

operadores para estabelecer concorrência, e isso é bom.

Leandro – Eu acho que fica muito claro que a situação não é positiva no momento. É uma das funções da

internet, de programas como esse ou da influência de cada um reclamar da situação, exigir uma mudança e

até perceber o quanto nós estamos atrasados em relação a outros países do mundo, mesmo em relação aos

emergentes. Acho que esse é um tema importante para as pessoas prestarem atenção para ajudar a entender a

corrida eleitoral – já que vai ser um ponto muito importante de decisão do ano que vem – acho que cabe a

todos entender, se envolver no problema e exigir mudança. Esse é um dos nossos trabalhos aqui.


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