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Page 1: Entrevista J. Daniel ao Povo Guimarães

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ANO 35. SEMANÁRtO NÚMERO'I665. DIRECTOR RICARDO FERNANDES

o povo DE GUTMARÃEs . P REÇo 60 cÊNTtMos - 21 SÊTEMBRo 20 12

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.í lOq Ãe 44êr da União de Sindicatos de Braga, Joaquim Daniel, acredita que se

medidas de austeridade continuarem, o emprego continuar a ser "destruído"

nnSe estas med§das eermtEmruar€c$mtimuêr a ffiffiffirterTtar e êffis effi

Mâis de 90 por cento das empre-sas porruguesâs sào micro, pequenase médias empresas que na sua maio-dà tâbalhâm para o mercado inter-no. que está em recessào. Pofranto,quando se retira um bocado de po-der de compra aos uâbâlhâdores, osprimeiros a solierera com isso sào as

micro, pequenas e nédjas empresas,algo que posteriormente recai sobreos úabalhâdores.

Eu acredito numa coisa em todaa suâ veÍente: caclâ euo que é colo-cado no bolso dos rabalhadores oupensionistâs tem efeitos na economiaa Eiplicar, mas cada milhào de eurosoue é colôcâdo no bànco nàô rcm.r.". ".r,r,*. o tf"'íâ8ê..t.-., d,rectamente no BCP, BES e BPI maisde 6!5 mil milhõcs de euos, que nàorem efeito nenhum na nossâ econo-mia, porque as empíesas conlinuma queixarem-se do mesmo mal que é

a diiculdade de ter acesso ao crédito.

O apoio às er?orÉçôes deveriâserrrmdos rlmos atorupüao crescimerto económico?

Mâis importante seria o apoio àproduçào nacional, porque se produ-zirmos mais e imporÉmos menos !e-remos melhores condições paÉ ex-portarmos. Aqueles nilhões cle euosenteüâdos nâ bancâ) se fosse con-cedido crédito às micto, pequenas e

mediâs empresas, teíamos qacta-

O nosso pâis precisa de produirmüto do que importa hoje, poden-do desta forma amentar â produÇâonacional. Se houvesse politicos direc-cionados para a produçào nacional,evitava-se o recurso às importações.E digo mais. As iraportâções têmündo a bairar graças à falta do po-der de compÉ e conüacçào no con-suno pdmdo e nào pelo lado que se-

ria o coneclo: amentâr a produçãonacional, produindo o que habiru-almente importamos. Nós temos ca-pacidade ptrâ o fazer, úras esrá-se a

desüuir e esüangulr a economia.

A CGTP tem medidas concre-tas pâra resolver alguns proble-

O sector em maior cnse e aconstrução civil. Mas o sectormetalúrgico e têxtil estão a passartambém grandes dificuldades.A única excepção é o calçado.

Erttreaista

. Sandra Freitas

A crtlse ttão pttrece dlu"Llescdnsotto pdís.As elttprcsas coutitutannLt encetrat e o tuittteto dedeser t tprcgctdos tt nítel t ncionaljti Lrtittgitt trrtt trilluio. O líderclo Lhtiito de StrldicLttos deBtztga, Joctqttiru Da.ttiel, defet tdeqtte ttrclh.oncts só ottt ttttnnntdctrtça tn patadigttta tledes et ruo lz'ín rc r io dtt s ocudade.Qtotto a Guúnarães, congraíulaal alpostal lto Ílttisilto, lltalslet r tbnl qt te es te sector "rttt t tcttp o rleÍi c a t,t.lo co t t rc pr i t rc i ptt Isutor de desetu,olpúrwtto dasociedade". En L etttl"&'ist t aO Pno,Joaquú t r Daniel falotarttbént dca rwucts rrrcdirLu deatsteridade, dm entprcs quecousegu.etlt escapar à. crise e,aitdn, da próxinru ruobilízafioqtrc aai realízar-se já no próximodia 29 de Setenúrc.

O POVO: Em que medida estãoos uabalhadores que represenÉâfechdos pela crise?

JOAQ{JIM DANIEL: ActualÍnen-te todos os tâballudoÍes estào direc-tmente afectados por esta crise, pe-Ia qual não sào responsáveis, masque sâo os principais preiudicadospor esta crise. Ela acâba por resLrltdno enceramenlo de m conjmto deempresas e os uabalhadores são di-recamente afectados.

De que fom acha que o gover-no esti a gerir esa crise?

O gol'erno nem diria que está agerir. O governo conlinua a ter maóptica de concentaçào de riqueza,preiudicmdo o país, os uabalhado-res e todo o povo. Nào há neÍümamedida que o governo tenàa lomâdoque acabe por beneficiar os rabalha-dores e o povo.

Como vê as ríútims medidâsde austeridade euciadas pelogoverno?

As medidâs de ausreridade vào nomesmo sentido de retirar poder decompm: os úâbâlhâdores, os pensio-nistas e o povo porruguês, que aua-vés do seu consmo podem dinâmi-zar a econonria.

mas nâciônais_iSim.Tenos .lez rnedidas confftas

que propotuos. LImâ dâs que já rcf*ié a reütâlizâÇào do tecirlo produtivo.Para isso e necessário o aurento dossâiários, esscEciâlmenie do saiáriominimo naclonai, lruâ rnais um eu-ro por dia. para 5 1 5 euros. Isso acabapor ter reflexo nos ouros salários.

A alteraçào ao có.Lgo do rabâLhado qu. foi implementada recen-temente (1 .le Asosto), é lma ie-gislaçào que acaba por aumentã odesemprego directamenre. Quandose põe os rabalhatlorcs a oabalha-rem mais ho$s, nào recebeúdo mâispor isso, cstamos a bâi{ú os saládosdirectamenre

Não há nerihurn sector que esteiaâ escapar de âlg1]mâ foma a es-a crise?

Esta oise é mr bocado úânsver-sal a todos os sectores. Há tm ou ou-Eo que lnomeütaneaorente está ern

menor difrculdâdes. O caiçado temem Guimràes ura empresa históri-ca que está em enornes dificuldades,

o Cmpeào Porruguês, mas é um ca-so aparte do sector do calçado. Nestemomento, este sector tem produção,está estávcl e tera tido basEnte pro-cua. Os ouEos sectores estão a ser

bastmte afecmdos, como ê o caso dosector metalúrgico e têxtil.

São estes os sectores que defendeserem o§ mais preocupdtes emGuimrães?

O pior é â consuuçào civii, Maso sector metalúrgico e têril estão apassa por grmdes dificuldâdes.

Pela sua experiência, o calçadoé o que foge à regra. Quais sáoos motivos que aponta pffa es-te sucesso?

O têsil ten nais Íàcüdade em des-loca a produçào paa ouuos paises. Ocalçado já exige rma qualiâcação di-ferente e, realmenae, o câlçâdo pom-guês tem lmâs càacteristicas e quali-dade que torrm-se dificil iguaiu. Asouuas empresas podem concore! útermos de preÇos, mas em temos de

qualidade é dificil de igualr.

A resposta a esa crise pode-ria pmst por rma mudmça degoverno?

Eu acho que a questào nâo está

no p*rido A ou B, mas nas poüticasque são implementadas. Ao longodestâs Eês décadas, com mais ex-pÍessão nestes íiltimos dois mos, têmsido acen*adas estas politicas de Di-reita que acabm por ler como otrjeeivo a concenEaçâo de riqueza emmeiâ-dúzia de grandes grupos ecenómicos e 6amceiros. Quem for pa-ra o governo e não mudu o pradig-ma de desenvolvimento dâ sociedade,

âs leceitas vào acabar por ser masdo mesmo. O que e preciso derotarsão estas poüticas que aplicam, pa-É passe â ter poüticas que desenvol-vm o país a mêdio e longo pruo.

Quem está ,mis capacitâdo pãaque isso aconteça?

Nós temos na nossa praça mconjmro de meúdas que moseamque todos eles tin}lm capacidadepua mudar eta siuação. Só depen-de das opções que tomm. Os par-tidos mais à esquerdâ são os quemais afrmam ma politica diferen-te do que lem sido desenvoivido. OPS tem sido na oposição rm pafti-

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À,,1 âl loq lmte (?a"" qs)Era o número de desempregados de Guimarães inscÍitos noInstituto de Emprego e Formaçào Profrssional no final do mêspassado. No disiritõ de Braga esse valor atlnge os 6;.444, sendoqueanÍvelnac,ig:Lathá67i.4ztpe.9sqas,s,9l4-!J4!Sihgrqgi§tadasneste serviço tIô Estâdo.

m o desemprego vairpresas a encerrar"

do que defende rma politica diferente,mas não sei por que motivo, semPreque cai no poder, acaba por desgraça-damente aplicr as mesmas medidas.

No c*o de Guiwáes, a aposhno uismo é ma boa apose pmcombater a crise?

É ma boa aposta. O pas tem b+as condiçôes na área do uismo e que

devem ser aproveitadas, mas o tuismonmca pode encrado como principalsector de desenvolvimento da socieda-

de. A indúsria em qualquer socieda-

de ê a alavmca de m pais. E depois ha

vários tipoç de indúsma. Nos em Por-rugd não temos ma indúsria de ba-se. Por *emplq nós há ms mos tínha-mos â sidetugla nacional que prcduiãaço e, sendo do Esado, não üvia mópiica do luco e vendia o aço mais bâ_

rato. lloje isso não ociste e sena tmafomâ de apoiu a nossa economia.

Guilíldãs está a esquecer-se daindúsEia?

Em temos da indusria esú a pas-

sd-se o que se p6sa a nível nacicnal, o atmgulmento fimceiro d*mpresas. Os b&cos não concedemempréstimos, as empreas têm gm-des difculdades de acesso ao oé-dito e acâbm por fict 6nmceie-mente esrmguladas, por não telemfindo de mmeio pua compffemmatéria-prima.

É, mtão, m probleM Écioral?Sim. É m problema mcional e oão

tão local. E os ptrques temológicos e a

Univmidâde do Minho aqü sâo mü-to impomres e müto posiovos Pa-m a indúsria envolvente. Conseguemconciüu o conhecimmto ali adquiridocom wâ ligêção com as empresas.

Se o pmdiglM cof,tinury o mes-

mo, como prevê o fururo a nívellocal e nâcionàl?

FIá m ano, quando o Primeiro_-minisúo e o minisúo das FinanÇas

disseram que âs medidas de âusreri_

dade oam suficientes, nós (CGTP)defendemos que aquelas medrdasim úazer mâis medidas de auste-ridade, porque im afimdar a eccnomia e tiru o poder de comPra. Já

na alua dizíamos que as receitas

iâm bâixâr. Agora assisüros a no-vas medidas e o rrinisto volta a dr-zer que talvez seian suicientes. Mas

nós lemos a flme convicção que es-

tas medidâs vão levâr â Itâis e mais

medidas de austeridade- E, assim, o

res é rma foma de conseguir es-sa mudmça?

Na minha opiniào, a luta dos ga-

balhadores ê a úrica solução Púâ ul-üapasstr todos estes problemas. Nósprecismos de obrigú os governan_tes a mudar a poliaca de desenvolü-mento da nossa sociedade. O povo

não tem tido â capacidâde de ele-ger govefnantes que possam efecúva-mente mudu de modelo económico-Por isso, só há ouEa solução: â popu-Iação movimentar-se e contesttr es-

tas medjdas que prejudicm o país, o

fuMo dos nossos ãlhos e toda a so-ciedâde Emsversalmente.

O concelho de Guimarães e umconceiho que mobiliza bastante.'lalvez o concelho do distritoque mais se mobiliza Pata

estâs questões sociais.

vel, e as medidas acabam por oão ser

tão gravosas como erm inicialmen-te intenÇão do governo. Mas estamos

convencidos de que estas pressões

precism de amenttr para estas

prelensôes mudrem râdicâlmente.

Foi esB vorBde de mudt poü_ucas, que consideB que náo es-tâo cotrecG, quê o moveu púao sindicalismo?

Foi essa vontade, mâs começounma empresa onde eu Eabalhava.Começou há cerca de 18 mos. Hálm momento na oossa üda que nãose suporta algua iniustiça e sabe-seque tem que se fMer aigura coisa e

sozinho é mais diícil fuêlo. Unidose múlo mais fácii alterr as injustiçâsdeoEo dôs locais de úabalho-

Os wilÊuenses mobilizm-se?O concelho de Guimarães é rm

concelho que mobilüa b6lmte. Tàl-ve o concelho do disüito que mais se

mobilia pua estas questões sociâis.

.,. .:

Com a publicãção da entrevistado líderda Uniãode sindicatosde Brãge, o Povo âbre a primeirapágina de um dossiê esPêcialsobre q tema mais imPortante domomento nã região e no país: odesemprego. Durante a5 próximassemanas vamos dar a conheceras histórias de quem procura oprimeiro êmprego, dosiovenslicenciados que não encontrãmlugar apesar das qualificaçõese dos desempregados de longadureção. vãmos também ouvirespecialistas, empresários e

responsáveis públicos do sector,para fazer um retrato tão alargadoquento possÍvel do desemprego naregião e no concelho.

mprego continua a sú desmído.Oficiâlmente há 800 e tal mil raba-lhadores desempregados, ms o em_

prego real já ulÉapâssa tm milhão.

Criou-se lm ciclo wicioso, a P+tir do Éomento que se aceia-m re primeiras medidm deauteridade?

É u ciclo viooso porque conti-nu-se a insisú no mesmo modelo de

desenvolvimento. Conorua_se a pri-vilegru e fonalecer o sistema 6rm_ceío, prejudicando o sector produlvo.Se esra. medida. cor$uarm não lemos outo cminho, senão o desem-ptego continur a amenw e as em_

presas continuarem a encenu.

Acha que a luE dos úâbalhado-

PâmqrJmdoGtiffiadâaprcxiromifsação?

À próxima mmifesução foi con-vocada pm o próximo dia 29 de Se-

tembro (de @ãúã a lma semeâ),com pofio de enconro em Lisboa.Têmos a preteNão de uluapasst a

mobiliação que tivemos a 11 de Feveeiro, com cinco mil p*soas.

fá houve algtJ@ @ifesaçáoem que conseguissem resuladosconcretos?

Todâs elas têm dâdo. Em relâçãoa ses ultimas medidas já esmos a

ver algms resultados de todas estâ§

expressões que têm sido exerciddem relação ao govemo. As Propostasque inicialrrente aparecem acabmpor ser a)temda. de forma considerá-

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