UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
ESPOLIAÇÃO DE Desmodus rotundus (E. GEOFFROY, 1810)
(CHIROPTERA: PHYLLOSTOMIDAE) EM ANIMAIS NO
ZOOLÓGICO DO PARQUE DE DOIS IRMÃOS, RECIFE
VITÓRIA DE SANTO ANTÃO
SETEMBRO DE 2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
ESPOLIAÇÃO DE Desmodus rotundus (E. GEOFFROY, 1810)
(CHIROPTERA: PHYLLOSTOMIDAE) EM ANIMAIS NO
ZOOLÓGICO DO PARQUE DE DOIS IRMÃOS, RECIFE
TCC apresentado à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso como requisito para incremento da Disciplina Eletiva do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas
Autor: Robson Gomes de FreitasOrientador: Dr. Luiz Augustinho Menezes da Silva Núcleo de Biologia/CAV/UFPE
VITÓRIA DE SANTO ANTÃO
SETEMBRO DE 2013
ROBSON GOMES DE FREITAS
ESPOLIAÇÃO DE Desmodus rotundus (E. GEOFFROY, 1810)
(CHIROPTERA: PHYLLOSTOMIDAE) EM ANIMAIS NO
ZOOLÓGICO DO PARQUE DE DOIS IRMÃOS, RECIFE
Aprovada em ____/____/____
Banca examinadora
Orientador: _____________________________________ Prof. Luiz Augustinho Menezes da Silva Núcleo de Biologia UFPE/CAV
Examinador: ____________________________________ Prof. Kênio Erithon Cavalcante Lima Núcleo de Biologia UFPE/CAV
Examinador: ____________________________________ Tecª. Anna Carla Feitosa Ferreira de Souza Núcleo técnico/CAV- UFPE
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, Reginaldo Gomes de Freitas e Iracema Gomes de Freitas, que mesmo em meio a tantas dificuldades sempre deram apoio para que eu conseguisse chegar a Universidade.
A minha família, Elizângela Maria da Silva minha esposa e Luan Vinícius Silva de Freitas meu filho, pelo apoio incondicional em todos os meus projetos e por estarem sempre comigo nos momentos difíceis.
Ao meu orientador Luiz Augustinho, pela paciência e dedicação nos momentos de orientações que contribuíram significativamente para a minha formação profissional.
A todos os meus companheiros do GEMNE pela contribuição para a realização desse trabalho e pelo companheirismo nas longas noites frias.
Aos meus amigos do zoológico do PEDI: Denison, Daniel e Marina pela contribuição para a realização desse trabalho, ajudando em todos os momentos necessários disponibilizando seu tempo livre em todas as noites de capturas.
A direção do Parque Estadual de Dois Irmãos pela disponibilidade de abraçar e apoiar esse trabalho.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO GERAL..........................................................................................1
OBJETIVOS.............................................................................................................6
REFERÊNCIAS.......................................................................................................7
RESUMO................................................................................................................12
INTRODUÇÃO......................................................................................................13
MATERIAL E MÉTODOS.....................................................................................14
RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................17
REFERÊNCIAS.....................................................................................................28
ESTE TRABALHO ESTÁ SENDO APRESENTADO NA FORMA DE ARTIGO SEGUNDO AS NORMAS DA REVISTA CIÊNCIA ANIMAL BRASILEIRA, ESTANDO ESTAS NORMAS EM ANEXO.
INTRODUÇÃO GERAL
Os morcegos hematófagos estão representados pelas espécies Desmodus
rotundus (E. Geoffroy, 1810), Diphylla ecaudata (Spix, 1823) e Diaemus youngii
(Jentink, 1893) (ALENCAR et al., 1994), são animais gregários que se organizam em
colônias, com média de 10 a 100 morcegos, podendo esse número ser bem elevado em
ambientes com maior oferta de alimento (WILKINSON, 1985), possuindo como
características que os distinguem das outras espécies de morcegos, o apêndice nasal
rudimentar, de estrutura discóide em forma de ferradura ou como protuberância
(UIEDA et al., 2008). Não possuem cauda, e o uropatágio é reduzido enquanto as
pernas, antebraços e polegares são longos, sendo esses últimos espessados e usados
como pés para andar, saltar ou escalar de forma quadrúpede (ALTENBACH, 1979;
GREENHALL et al.,1983).
Os hematófagos podem ser agrupados por todos apresentarem folha nasal em
forma de ferradura e podem ser diferenciados entre si. Diphylla ecaudata, é a menor
espécie, não possui membrana interfemural muito desenvolvida na parte central, sendo
o antebraço e as pernas revestidos por muitos pelos, não havendo vestígios de cauda. O
polegar é mais curto e sem almofadas sendo o corpo mais robusto, porem menor do que
o do D. rotundus. As orelhas são mais arredondadas e mais largas, e os globos oculares
são grandes e salientes, possuindo pés pequenos e os dedos com unhas fracas
(PICCININI et al., 1991). Diaemus youngii é conhecido como o morcego vampiro de
asas brancas, sendo considerada a mais rara das três espécies de hematófagos, ocorrendo
principalmente em áreas de florestas preservadas (KOOPMAN, 1988; REIS et al.,
2011). Possui como característica as pontas das asas brancas e polegares com apenas
uma almofada, possuindo glândulas odoríferas modificadas que ficam visíveis fora da
boca quando o animal é perturbado exalando um odor ofensivo (PINTO et al., 2007).
os morcegos hematófagos, tem ampla distribuição no Novo Mundo, ocorrendo
desde o norte do México, América Central e até o norte da Argentina,são animais
tipicamente latino-americanos (KOOPMAN, 1988)
(MACNAB,1973; GREENHALL et al., 1983; KOOPMAN, 1988) apresentando
um padrão de atividade mais intenso no intervalo entre 19 e 23h sendo encontrados em
todos os meses do ano, inclusive em noites frias (CRESPO et al., 1961; GREENHALL
et al., 1983). Em função de seu habito alimentar e de sua importância econômica devido
à transmissão da raiva, é uma das espécies mais bem conhecidas e estudadas do mundo
(BERNARD, 2005). Apresenta um sentido olfatório bem desenvolvido (MANN, 1960;
GREENHALL et al., 1971 e SCHMIDT,1973) e possui grandes olhos e boa acuidade
visual em relação aos outros morcegos, seu sistema de ecolocalização usa chamadas de
baixa intensidade, para a detecção de objetos grandes (CHASE, 1972). Apresenta
anatomicamente apêndice nasal em formato de ferradura, pelagem brilhante de
coloração acinzentada, longo polegar com três almofadas e lábio inferior sulcado
(VIZOTTO & TADDEI, 1973; GREENHALL et al., 1983; BREDT et al., 1999). Os
incisivos superiores são longos e cortantes, permitindo abrir uma ferida para sua
alimentação (FERNANDEZ et al., 1988; UIEDA et al., 2008). Esses morcegos tem
cerca de 35 cm de envergadura, pesam entre 25 e 40 gramas e, quando comparados às
outras espécies, podem ser considerados de médio porte (GREENHALL et al., 1983).
Apesar de consumirem exclusivamente sangue, os morcegos hematófagos
diferem quanto à preferência, D. rotundus é generalista quanto a esse hábito, alimenta-
se de sangue de mamíferos e aves com preferência para o de mamíferos. Diphylla
ecaudata e D. youngi alimentam-se de sangue de aves, e raramente completam sua dieta
com mamíferos, essa ultima condição foi registrada apenas em laboratório (UIEDA,
1993; BRASS, 1994; GREENHALL & SCHUTT, 1996). Segundo Mialhe (2010) os
morcegos hematófagos comumente forrageiam em uma área de 5 a 8 km ao redor do
abrigo diurno, podendo chegar em certas regiões a uma distância de 15 a 20 km em
rotas de voo regularmente usadas.
A saliva possui proteínas anticoagulantes que têm sido objeto de diversos
estudos médicos-farmacológicos, relacionados a tratamentos para desobstrução de
vasos, e prevenção de infartos e derrames (BERNARD, 2005). Sua língua sulcada
permite ao sangue fluir por capilaridade para o interior da boca, apresenta estomago e
rins especializados na absorção e processamento do plasma sanguíneo, e possui sensores
térmicos localizados no apêndice nasal, que permitem detectar áreas mais intensamente
vascularizadas na pele da presa (GREENHALL et al., 1983; BERNARD, 2005).
Por seu ataque ao gado, D. rotundus vêm causando considerável perda
econômica na America Latina (GREENHALL et al., 1983). Têm sido alvo de
autoridades científicas e governamentais devido ao fato de serem vetores de doenças de
animais domésticos e de criação. (MITCHELL & BURNS, 1972). A nocividade do D.
rotundus para a criação de herbívoros, além da espoliação, apresenta-se na transmissão
da raiva, quando infectado pelo vírus rábico (BRASIL, 2009) sendo esta espécie
segundo a normativa do IBAMA nº 141 de 19 de dezembro de 2006, a única espécie de
morcego regulamentada para o controle e o manejo ambiental da fauna sinantrópica
nociva (BRASIL, 2006).
Dentre as zoonoses, a raiva continua sendo um dos grandes problemas relativos
à saúde animal e saúde pública, não só em nosso país, como em grande parte do mundo,
é uma infecção viral exclusiva dos mamíferos, e que afeta o sistema nervoso levando o
indivíduo infectado a morte (SOUZA, 2005). A cadeia epidemiológica da raiva é
didaticamente dividida em quatro ciclos: aéreo, urbano, silvestre e rural (KOTAIT et al.,
1998), sendo o D. rotundus o principal vetor de transmissão da raiva no ciclo rural com
a transmissão da doença aos herbívoros (BATISTA et al., 2007).
Quando se consideram os morcegos hematófagos, o risco de transmissão de
raiva é maior, uma vez que os animais de criação, especialmente o gado, na zona rural
brasileira sofrem séria ameaça em função dos ataques desses morcegos. Nos últimos
anos, em vários Estados, foram diagnosticados casos humanos, caninos e felinos
transmitidos por quirópteros (OPORTO et al., 2009; MIALHE, 2010). Os casos de
ataques a seres humanos ocorrem principalmente na região Amazônica (SCHNEIDER
et al., 1996; 2001; BREDT et al., 1998; ELKHOURY et al., 2001; CARNEIRO et al.,
2005), mas com registros também em outras regiões do país como Paraná e Bahia
(WADA, 2011), inclusive em Pernambuco na área metropolitana do Recife (JORNAL O
ESTADÃO, 2006).
A presença de D. rotundus em áreas urbanas representa um maior risco na
transmissão do vírus rábico, uma vez que, se estes exemplares estiverem albergando o
vírus rábico, funcionarão como vetores do vírus para mamíferos domésticos de pequeno
a grande porte, criados em áreas urbanas, ou diretamente ao homem. Devido ao risco da
transmissão da raiva em consequência do desequilíbrio de sua população, a presença de
D. rotundus deve ser monitorada e medidas de manejo adequadas devem ser tomadas
para diminuir as suas populações e evitar as agressões.
O interesse no manejo do D. rotundus propiciou um melhor conhecimento de sua
biologia e de seu papel no ecossistema, gerando o desenvolvimento de métodos
eficientes e viáveis de controle de suas populações (TADDEI et al., 1991; ALMEIDA et
al., 2002). O controle do D. rotundus tem sido realizado modernamente através de três
principais métodos: captura dos morcegos, tratamento de morcegos com pasta tópica a
base de difenadiona ou de warfarina e tratamento tópico nas espoliações nos animais
agredidos (MITCHELL & BURNS, 1974). O controle está baseado na utilização dessas
substâncias anticoagulantes, especificamente a warfarina, onde os métodos de controle
devem ser seletivos e executados corretamente, de tal forma a atingir unicamente
morcegos hematófagos da espécie D. rotundus, não causando dano ou transtorno algum
a outras espécies, que desempenham papel importante na manutenção do equilíbrio
ecológico na natureza. (ALENCAR et al., 1986; PICCININI et al., 1998).
Os métodos de controle de D. rotundus também englobam medidas de restrição
ao acesso a presa (controle mecânico). Os métodos restritivos buscam evitar agressões
por hematófagos a animais e a humanos. Esses métodos incluem a utilização de
barreiras que protejam os animais dos morcegos hematófagos, como barreira de luz e
barreiras físicas com telas, podendo ser utilizada em pequenas áreas, em relação a um
pequeno número de animais, impedindo o acesso dos morcegos aos animais, esses
métodos não matam, o morcego apenas restringindo seu acesso a fonte de alimento.
Também existem alguns métodos restritivos usados empiricamente pela população,
como alho, garrafa vazia e óleo queimado que carecem de comprovação científica
(BRASIL, 1998; VON ZUBEN et al., 2006).
Para a vigilância epidemiológica da raiva está estabelecido um sistema de
informações, que compreende a notificação obrigatória de casos e informes contínuos
(BRASIL, 2005). Os órgãos oficiais deverão manter um diagnóstico atualizado da
situação epidemiológica, avaliando a distribuição e os fatores condicionantes de
propagação, de maneira a permitir a adoção imediata de medidas de controle/profilaxia
da raiva. Devem ser avaliados os critérios que definam a prioridade de atendimento das
notificações, como número de animais suspeitos de estar acometido pela raiva, número
de animais espoliados por D. rotundus e número médio de espoliações em um único
animal (KOTAIT et al, 1998).
A espoliação de animais em zoológicos por morcegos hematófagos toma uma
proporção mais alarmante quando são constantemente espoliados pelos morcegos, pois
apresentam elevados riscos de contraírem a doença, principalmente quando se encontra
em áreas de risco, próximo a local com registro de raiva. Além disso, as feridas
causadas pelos morcegos podem servir como porta de entrada para outros patógenos e
para a instalação de miiases (ROSENTHAL, 1972; GREENHALL et al., 1983).
Diferentes espécies de aves e mamíferos fazem parte da dieta desse hematófago,
inclusive animais da fauna exótica que se encontram no plantel dos zoológicos onde
haja a incidência de morcegos hematófagos. A partir destes problemas foi proposto o
levantamento e acompanhamento da atividade de morcegos hematófagos, a fim de
minimizar a espoliação a aves e mamíferos do plantel bem como diminuir a população
de D. rotundus na área em estudo e propor medidas de manejo ambiental nos recintos
dos animais do zoológico.
OBJETIVOS
Objetivo geral
Acompanhar a atividade de morcegos hematófagos no Zoológico do Parque
Estadual de Dois Irmãos, Recife.
Objetivo específico
• Levantar as espécies de hematófagos ocorrentes no zoológico;
• Registrar a presença de agressões por morcegos hematófagos nos animais
do plantel;
• Identificar abrigos de morcegos hematófagos;
• Propor medidas de manejo ambiental dos recintos a fim de diminuir os
casos de espoliação.
• Controlar a população de D. rotundus na área em estudo;
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ESPOLIAÇÃO DE Desmodus rotundus (E. GEOFFROY, 1810)
(CHIROPTERA: PHYLLOSTOMIDAE) EM ANIMAIS NO
ZOOLÓGICO DO PARQUE DE DOIS IRMÃOS, RECIFE
RESUMO Entre os hematófagos, Desmodus rotundus, é o que apresenta a mais ampla
distribuição ocorrendo em todas as regiões do Brasil, principalmente em áreas com
grande aumento na criação de gado, ondea sua presença em áreas urbanas representa um
maior risco na transmissão do vírus rábico para mamíferos de pequeno a grande porte
ou diretamente ao homem. A espoliação em animais de zoológicos toma uma proporção
mais alarmante, pois apresentam elevados riscos de contraírem a doença, principalmente
quando se encontram em áreas de risco. A partir destes problemas foi proposto o
levantamento e acompanhamento da atividade de morcegos hematófagos, a fim de
minimizar a espoliação a aves e mamíferos do plantel, bem como diminuir a população
de D. rotundus na área em estudo e propor medidas de manejo ambiental nos recintos
dos animais do zoológico. Foram capturados seis D. rotundus, havendo registro de 27
eventos de espoliações em cinco espécies do plantel: quatro mamíferos (Cervo nobre,
Cervo sambar, Hipopótamo e Camelo) e uma ave (Avestruz). Após as medidas de
controle químico verificou-se redução das espoliações em todos os animais agredidos
não sendo constatada espoliação nos animais do zoológico nos meses após o trabalho,
podendo a eficiência do controle está associada ao controle químico, tamanho reduzido
da(s) colônia(s) existente(s) na área ou em áreas afastadas e medidas de manejo
ecológico nos recintos dos animais agredidos no zoológico.
Palavras-chave: Atividade, controle, Desmodontinae, Epidemiologia, Morcegos.
INTRODUÇÃO
Os morcegos hematófagos estão representados pelas espécies Desmodus
rotundus (E. Geoffroy, 1810), Diphylla ecaudata (Spix, 1823) e Diaemus youngii
(Jentink, 1893) (ALENCAR et al., 1994). Possuem como características que os
distinguem das outras espécies de morcegos, o apêndice nasal rudimentar, de estrutura
discóide em forma de ferradura (UIEDA et al., 2008). As pernas, antebraços e polegares
são longos, sendo esses últimos usados como pés para andar, saltar ou escalar de forma
quadrúpede (ALTENBACH, 1979; GREENHALL et al.,1983).
Apesar de consumirem exclusivamente sangue, os morcegos hematófagos
diferem quanto à preferência, D. rotundus é generalista, alimenta-se de sangue de
mamíferos e aves com preferência para o de mamíferos, D. ecaudata e D. youngi
alimentam-se de sangue de aves, e raramente completam sua dieta com mamíferos, essa
ultima condição foi registrada apenas em laboratório (UIEDA, 1993; BRASS, 1994;
GREENHALL & SCHUTT, 1996).
Dentre os hematófagos, D. rotundus tem ampla distribuição, ocorrendo desde o
norte do México, América Central e até o norte da Argentina (KOOPMAN, 1988). Em
função de seu habito alimentar e de sua importância econômica devido à transmissão da
raiva, é uma das espécies mais bem conhecidas e estudadas do mundo (BERNARD,
2005). Por seu ataque ao gado, vêm causando considerável perda econômica na America
Latina (GREENHALL et al., 1983). Sendo esta espécie segundo a normativa IBAMA nº
141, de 19 de dezembro de 2006, a única dentre morcego regulamentada para o controle
e o manejo ambiental da fauna sinantrópica nociva (IBAMA, 2006).
Desmodus rotundus é o principal vetor de transmissão da raiva no ciclo rural
com a transmissão da doença aos herbívoros (BATISTA et al., 2007). Nos últimos anos,
em vários Estados, também foram diagnosticados casos humanos, caninos e felinos
transmitidos por quirópteros (OPORTO et al., 2009; MIALHE, 2010). Sendo
necessárias medidas constantes de monitoramento e manejo adequado para diminuir as
populações e evitar a transmissão da raiva.
Para a vigilância epidemiológica da raiva, está estabelecido um sistema de
informações, que compreende a notificação obrigatória de casos, e informes contínuos
(BRASIL, 2005). Os órgãos oficiais deverão manter um diagnóstico atualizado da
situação epidemiológica, avaliando a distribuição e os fatores condicionantes de
propagação, de maneira a permitir a adoção imediata de medidas de controle/profilaxia
da raiva (KOTAIT et al., 1998).
O controle do D. rotundus tem sido realizado modernamente através de três
principais métodos: captura dos morcegos, tratamento de morcegos com pasta tópica a
base de warfarina e tratamento tópico nas espoliações nos animais agredidos
(MITCHELL & BURNS, 1974; FLORES CRESPO & RUIZ, 1975). Os métodos de
controle de D. rotundus também englobam medidas de restrição (controle mecânico),
que buscam evitar agressões por hematófagos a animais e a humanos. Incluindo a
utilização de barreiras que protejam os animais dos morcegos hematófagos esses
métodos não matam, o morcego apenas restringindo seu acesso a fonte de alimento
(BRASIL, 1998; VON ZUBEN et al., 2006).
Diferentes espécies de aves e mamíferos fazem parte da dieta desse hematófago,
inclusive animais da fauna exótica que se encontram no plantel dos zoológicos onde
haja a incidência de morcegos hematófagos. A espoliação desses animais por morcegos
hematófagos toma uma proporção mais alarmante quando são constantemente
espoliados, pois apresentam elevados riscos de contraírem a doença, principalmente
quando se encontra em áreas de risco, próximo a local com registro de raiva, devendo
sempre existir nessas áreas uma atividadede constante de acompanhamento dos
morcegos hematófagos com levantamentos de abrigos e agressões, havendo sempre a
realização do controle das populações desses animais seja por métodos químicos ou por
medidas de manejo ambiental a fim de diminuir os casos de espoliação.
Este trabalho teve por finalidade acompanhar a atividade de morcegos
hematófagos D. rotundus no Zoológico, registrando a presença de agressões nos animais
do plantel e propor medidas de controle da população desse morcego na área de estudo.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
O Parque Estadual Dois Irmãos (PEDI), um fragmento de Mata Atlântica
localizado no município de Recife, Estado de Pernambuco (8°7’30”S e 34°52’30”W)
(TEIXEIRA 2004) limita-se ao norte com o campus da Universidade Federal Rural de
Pernambuco, e a leste com as comunidades de Sítio dos Pintos e córrego da fortuna; a
oeste com a BR-101 norte e ao sul com o rio Camaragibe, um afluente do rio Capibaribe
(PROPLAN, 2007 in LEAL, 2007). A reserva do PEDI, considerada uma das maiores
áreas de Mata Atlântica de Pernambuco tendo 387,4 ha de mata atlântica, proporciona
aos visitantes conhecer o ecossistema, suas plantas e seus animais nativos. Inserido no
Parque encontra-se o zoológico do Recife que ocupa 14 há da área.
O zoológico do PEDI, é uma área de conservação aberta à visitação do público,
dividido em setores: administrativo, museu, Centro de Educação Ambiental, quarentena,
divisão de veterinários e biólogos e toda área estrutural propriamente dita do zoológico.
No centro do zoológico está localizado o Açude do Meio sendo o Zoo cercado por áreas
de mata atlântica. Lá vivem cerca de 690 animais entre aves, répteis e mamíferos
distribuídos em 127 espécies, tanto nativas do Brasil quanto exóticas. Vinculado à
Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado de Pernambuco, o Parque
Dois Irmãos representa os zoológicos do Norte e Nordeste e se destaca pelos eventos
pioneiros e atividades inovadoras nas áreas de educação ambiental e reprodução de
animais em cativeiro.
Captura dos morcegos
As coletas foram realizadas mensalmente entre setembro de 2011 a julho de
2012 durante três dias consecutivos, em noite de lua minguante ou nova (ESBÉRARD,
2007) com licença do IBAMA. E se concentraram em pontos onde foi confirmada a
atividade de morcegos hematófagos, e em áreas potenciais próximas a fontes de
alimento (nos recintos de aves e mamíferos) estabelecendo-se os seguintes sítios de
captura:
Sitio 01 Avestruz (S 08°00’46.1s e WO 34°56’42.4s) Área compreendida pelos recintos
do avestruz (Struthio camelus) (Lineu, 1758), pavão (Pavo cristatus) (Lineu, 1758) e
ganso (Anser anser) (Lineu, 1758), circundado por um pequeno lago artificial que
abriga tartarugas da Amazônia, separado a dez metros dos recintos da ema (Rhea
americana) (Lineu, 1758) e do emú (Dromaius novaehollandiae) (Lineu, 1758),
seguindo em direção a praça em frente aos recintos dos pequenos carnívoros e dos
catetos (Tayassu tajacu) (Lineu, 1758).
Sítio 02 Cervídeos (S 08°00’37.6s e WO 34°56’42.9s) composto pelos recintos do
cervo nobre (Cervus elaphus) (Lineu, 1758), veado catingueiro (Mazama gouazoupira)
(G. Fischer, 1814), filhotes de cervo sambar (Cervus unicolor) ( Kerr, 1792) e uma
grande área livre de aproximadamente 50m com algumas árvores separando os
cervídeos dos primatas. O recinto do hipopótamo (Hippopotamus amphibius) (Lineu,
1758) está localizado as margens do Açude do Meio.
Sitio 03 Lhama/Camela (S 08°00’33.6s WO 34°56’45.0s), compreende a área formada
entre os recintos das Lhamas (Lama glama) (Lineu, 1758), e camelos (Camelus
bactrianus) (Lineu, 1758) bem como os recintos dos grandes felinos.
Sitio 04 Quarentena/camela (S 08°00’46.6s e WO 34°56’39.3s) localizado ao lado da quarentena e divisão de veterinários e biólogos do zoológico, ficando o novo recinto do camelo as bordas da mata. Sitio 05 trilhas (S 08°00’32.2s WO 34°56’43.7s) foram armadas redes esporadicamente
em algumas trilhas dentro da mata do PEDI, como a trilha dos macacos e na clareira em
possíveis corredores de vôos que podem ser utilizados pelos morcegos.
Para captura dos morcegos foram utilizadas seis redes de neblina ou “mist-nets,”
medindo 12m de comprimento por 2m de largura e malha de 36 mm. Distribuídas nos
sítios de captura, nos possíveis locais de passagem dos morcegos, nas rotas de forrageio
e nas saídas de seus abrigos dentro e/ou fora dos recintos. Estas eram examinadas em
intervalos de aproximadamente 15 minutos, iniciados às 17h e encerrando-se após as
24h.
B
Após a captura, os animais eram retirados da rede com cuidados especiais o mais
rápido possível, tentando diminuir o estresse do animal. Eram levantadas informações
sobre a espécie, sexo, condição reprodutiva, classe etária, horário de captura, peso e
medida de antebraço dos animas, sendo os não hematófagos posteriormente liberados
próximo ao local de captura após o fechamento das redes.
Identificação dos abrigos
A localização dos abrigos foi feita a partir de caminhadas diurnas uma vez por
semana na área do estudo, vistoriando os possíveis locais que pudessem servir de abrigo
tais como manilhas, bueiros, caixas de água, cambeamentos, recintos, ocos de arvores,
residências abandonadas entre outras. Os abrigos foram confirmados pela visualização
direta dos espécimes em seu interior e/ou por vestígios deixados pelos mesmos, tais
como marcas nas entradas dos abrigos, sons emitidos pelos animais e odor característico
das colônias. Nos abrigos os animais eram capturados com o auxílio de puçás ou de
redes armadas na saída dos mesmos.
Montagem da coleção de referência
Espécimes destinados à coleção científica foram preparados e medidos seguindo
as orientações de Vizotto e Taddei (1973), para posteriormente serem depositados na
Coleção de mamíferos Deoclécio Guerra da UFPE. Os quirópteros foram identificados
seguindo os critérios de: Laval (1973), Vizotto e Taddei (1973), Marques-Aguiar
(1994), Simmons e Voss, (1998), Taddei et al,. (1998), Gregorin e Taddei (2002) e
Gardner (2007) entre outros.
Registro dos casos de espoliação
O levantamento das agressões era realizado semanalmente vistoriando os
animais do plantel e registrando o número de espoliações, datas e localização anatômica
das agressões. Também foram tomadas informações pertinentes a agressões anteriores
que estavam em livro de registro documentado na divisão de veterinários e biólogos na
quarentena.
Controle de Desmodus rotundus
Os D. rotundus capturados no zoo receberam o tratamento químico com pasta
vampiricida a base de Warfarina a 2% aplicada no dorso e posteriormente soltos,
seguindo as recomendações de Piccinini et al.,(1985) e BRASIL, (2009). Além de
controle químico foi efetuado o controle mecânico que visa o manejo ecológico dos
recintos evitando assim a sua aproximação das fontes de alimento (PICCININI, 1986).
RESULTADOS E DISCUSSÃODos 285 morcegos capturados seis eram hematófagos de uma única espécie (D.
rotundus) havendo registro de outra espécie de hematófago D. ecaudata na área
(DAHER, 2004). Além dos hematófagos, foram capturadas 19 outras espécies (Tabela
01) de diferentes hábitos alimentares, provenientes de capturas em abrigos ou em áreas
livres, pode-se ainda incluir na lista Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) e Artibeus
obscurus (Schinz, 1821) registradas por (CRUZ et al., 1998; DAHER, 2004),
totalizando 23 espécies. Conforme (Tabela: 01)
Vale ressaltar o primeiro registro de Promops nasutus (Spix, 1823) para a Mata
Atlântica em Pernambuco. Recentemente essa espécie foi registrada pela primeira vez
para o Estado por Silva et al (2012) em área de Caatinga no Sertão de Pernambuco. Na
região Nordeste Reis et al (2007) e Mendes et al (2009) citam que P. nasutus já havia
sido registrado na Bahia e Pacheco et al (2010) diz que a espécie é considerada rara em
todos os Estados da União, evidenciando a importância dos estudos mais intensivos
com quirópteros principalmente nas regiões norte e nordeste.
(Tabela: 01) Relação das espécies capturadas no zoológico de dois irmãos e respectivo
padrão alimentar e número de capturas
Família Espécie Padrão
alimentar
Número de capturas
Livre AbrigoEmballonuridae Rhynchonycteris naso Insetívoro 1
Saccopteryx leptura Insetívoro 1Noctilionidae Noctilio leporinus Piscívoro 2Phyllostomidae Artibeus fimbriatus Frugívoro 16
Artibeus lituratus Frugívoro 20Artibeus cinereus Frugívoro 25Artibeus planirostris Frugívoro 102Carollia perspicillata Frugívoro 77 2Chiroderma villosum Frugívoro 5Desmodus rotundus Hematófago 6
Glossophaga soricina Nectarívoro 7Lophostoma brasiliensis Insetívoro 1Lophostoma silvicola Insetívoro 1
Micronycteris megalotisInsetívoro 1
Phyllostomus discolor Onívoro 9
Platyrhrinus lineatus FrugívoroSturnira lilium Frugívoro 3
Vespertilionidae Myotis lavali Insetívoro 1Myotis sp Insetívoro 4
Molossidae Promops nasutus Insetívoro 1TOTAL 20 6 282 3
Abrigos
Na área do zoológico (n=4) e no seu entorno (n=5) foram registrados nove
abrigos usados por morcegos de seis espécies entre insetívoros e frugívoros:
Saccopteryx leptura (Schreber, 1774) (n=1), Rhynchonycteris naso (Wied-
Neuwied,1820) (n=1), Artibeus lituratus (Olfers,1818) (n =2 ), Carollia perspicillata
(Linnaeus,1758) (n =2 ), Glossophaga soricina (Pallas, 1766) (n =2 ) e um pequeno
Phyllostominae (n =1 ) não capturado.
De acordo com Pacheco et al., (2010) os abrigos preferenciais de morcegos
sinantrópicos são coberturas com laje ou forro, espaços diversos e coberturas sem laje
ou forro, seguido de folhagens, edificações desabitadas e juntas de dilatação sendo essas
situações encontradas facilmente nas dependências do zoológico do PEDI e nos recintos
dos animais. A aproximação dos morcegos a áreas antrópicas pode ser uma adaptação
dos mesmos às construções humanas, em substituição às cavernas, ocos de árvores e
outros tipos de abrigos naturais (KUNZ, 1982) que podem está diminuído nas áreas
naturais. Segundo Cortes et al (1994) a localização de abrigos possibilita estratégias
para monitoramento dos morcegos, uma vez que medidas adequadas podem ser
tomadas para evitar o contato entre os morcegos e os animais do plantel, quando esses
abrigos estiverem próximos aos recintos.
Tabela: 02 Registros de abrigos nas dependências do Parque Estadual dois Irmão
Espécie de abrigos Tipo de abrigo LocalizaçãoSaccopteryx leptura Parede coberta de laje a 4
metros de alturaPróximo à quarentena
Rhynchonycteris naso Cobertura da área de alimentação dos filhotes de
Recinto de o cervo sambar (filhotes) Recinto dos
cervo sambar, coberto por telhas de amianto.
Pelicanos
Phyllostominae Caixa da bomba de água, construída de alvenaria com 1,5 mtros de altura por 50 cm de comprimento, teto de laje, e um portão.
Próximo aos felinosCaixa da Bomba
Artibeus lituratus Casa abandonada Próximo ao açude da prataCasa Abandonada
Caixas de água da compesa, construídas de alvenaria e laje com uma abertura superior que serve de entrada para os morcegos*
Dentro da mata
Carollia perspicillata Cambeamento desativado Próximo aos felinos,
* descrição anterior Próximo ao açude da prata
Casa abandonada Dentro da mata
Glossophaga soricina * descrição anterior Dentro da mata
Abrigos localizados nas dependências do Zoológico
Recinto do Cervo Sambar - foi localizado um abrigo, ocupado por uma colônia
de R.naso, com seis animais usando a cobertura do local de alimentação dos cervídeos,
Bradbury & Vehremcamp (1976) e Nogueira & Pol (1998) afirmam que as colônias
dessa espécie podem variar de 3 a 80 indivíduos, e segundo Plumpton & Jones (1992)
e Kunz et al (1996), que os abrigo de R. naso, são relativamente fáceis de localizar pois
esses quirópteros são encontrados em áreas adjacentes ou sobre cursos d’água utilizando
construções humanas como pontes e construções de alvenaria se abrigando em refúgios
bem iluminados , não apresentando aversão à luz, possibilitando a ocupação de habitats
muito pouco explorados por outros morcegos. Situação essa encontrada no zoológico,
tendo o abrigo aproximadamente três metros de altura, o teto todo forrado por telhas de
amianto fixadas em hastes de metal transversal fixando-se nestas, os animais da colônia
com a região anterior do corpo paralela as telhas. Ficando o abrigo adjacente ao açude
do meio. Os morcegos aparentemente não se incomodavam com o barulho causado
pelos animais do recinto, tratadores e visitantes do parque, saindo do abrigo para
forrageio por volta das 17:00 horas, horário esse que inicia o forrageio (DALQUEST,
1957). Esta espécie apresenta fidelidade aos seus abrigos, permanecendo neles durante
longos períodos ate em caso de estresse (LEWIS, 1995).
Recinto dos pelicanos - foi localizado um abrigo com uma colônia de S.
leptura, com seis animais. O abrigo fica localizado na parte posterior do recinto perto da
porta de entrada a uma distância do solo de aproximadamente quatro metros de altura,
fixando-se os animais da colônia na parte da laje em um pequeno recanto da parede.
Polanco et al., (1992) afirmam que esses morcegos preferem utilizar abrigos naturais
como cavernas, troncos e ocos de árvores, blocos de pedra, porém são comumente
encontrados em construções humanas, incluindo ruínas. Os morcegos habitavam um
local silencioso e protegido da luz solar, ficando agitados com a proximidade de alguns
funcionários do zoológico, saindo do abrigo apenas ao entardecer para forrageio de
pequenos insetos, tal comportamento também foi descrito por Nogueira et al (2002).
Recinto do leão- foi localizado um abrigo de C. perspicillata com 11 animais
em um cambeamento desativado construído de alvenaria, com teto de laje coberto com
uma lona preta. Esses morcegos geralmente habitam áreas de florestas utilizando como
abrigo cavernas, minas, fendas de rochas, ocos de árvores, tubulações, além de
edificações urbanas. Esses animais podem formar pequenos grupos de indivíduos até
colônias que podem chegar a milhares de espécimes (NOWAK, 1994; MIKICH et al.,
2003; GONSALVES & GREGORIN, 2004). Pacheco et al (2010) afirmam que a
riqueza desses morcegos em construções humanas é influenciada principalmente pela
disponibilidade de abrigos e por fatores como dimensões, amplitude, tipo de material do
qual é constituído, além de fatores abióticos como luminosidade, umidade e
temperatura, já que a maioria procura características semelhantes às encontradas nos
refúgios naturais. O abrigo encontrado no cambeamemnto é bastante escuro e
silencioso, apresentando as características citadas no trabalho de Pacheco et al (2010).
Os morcegos ficavam agitados com a presença humana saindo em direção à mata;
porém, logo retornando ao abrigo, Lima (2008) afirma que essa permanência nos
abrigos se dá possivelmente pelo fato dessa espécie estar bastante adaptada a
perturbações antrópicas.
Caixa da Bomba - de aproximadamente um metro de altura por um de
comprimento localizado perto dos recintos dos grandes felinos, foram observados três
morcegos (pequenos Phyllostominae) não sendo possível a identificação da espécie. Foi
observado que os morcegos, não se incomodavam com o barulho da bomba de água que
fica ligada a maior parte do dia. Após a tentativa de captura, os animais abandonaram o
abrigo, e não foram mais visualizados no mesmo.
Abrigos localizados nas áreas adjacentes
Casa abandonada - localizada na trilha do Açude da Prata, é formada por um
piso térreo e um primeiro andar com escadarias e pisos de madeira. Nesse abrigo foram
visualizados sete animais sendo dois A. lituratus e cinco C. perspicillata nos forros do
telhado e embaixo da escadaria, ambientes protegidos da luz solar e bastante
silenciosos, estando os morcegos sempre presentes em outras visitas ao abrigo. esses
morcegos apresentam características ecológicas das espécies que vivem em áreas
modificadas pelo homem conforme os trabalho de Lima, (2008) e Bredit et al (1996)
que dizem que morcegos procuram abrigos em construções humanas devido as
semelhanças com os abrigos naturais como temperatura, umidade, amplitude e proteção
da luz. Favorecendo esses ambientes urbanos, sem planejamento adequado, o
estabelecimento desses morcegos fitófagos (HARMANI et al., 1996; FENTON, 1997).
Caixas de coleta de água da Compesa – localizadas na trilha do Açude da Prata
possuem aproximadamente dois metros quadrados com uma pequena abertura na parte
superior por onde os morcegos entravam. Foram identificadas três espécies utilizando as
caixas como abrigo: C. perspicillata, G. soricina e A. lituratus. Em seus trabalhos Uieda
et al (2007) e Trajano (1984) descrevem que as espécies frugívoras exploram uma
grande variedade de abrigo tanto em áreas naturais como em áreas antropizadas, onde
espécies fitófagas utilizam cavernas com C. perspicillata e A. lituratus sendo as mais
presentes nesses ambientes, utilizando também 15 espécies de plantas como poleiro
diurno .
As colônias localizadas nas caixas de água em meio à Mata Atlântica mesmo
dispondo de uma área natural repleta de abrigos naturais deram preferência a abrigos
artificiais pelo fato de apresentarem características semelhantes a cavernas ficando os
animais bem agitados com a presença humana. Em visitas posteriores foi constatado que
os morcegos continuam utilizando as caixas como abrigo. Pacheco et al (2007) diz que
quando respeitadas as áreas de preservação permanente, estas podem apresentar papel
de extrema importância para as populações de morcegos, ofertando abrigos e recursos
alimentares diminuindo a interação desses animais com o homem.
Durante a busca por abrigos não foram identificados abrigos de hematófagos
tanto nas áreas internas do zoo quanto nas áreas de mata percorridas, segundo Taddei et
al (1991), Côrtes et al (1994) e Uieda et al (2008) esses animais utilizam basicamente
abrigos diurnos internos, que fornecem um ambiente mais seguro, estável e prolongado.
Esse fato pode estar associado à presença dos abrigos em áreas internas da mata em que
não foi possível ter acesso, ou em áreas rurais vizinhas ao PEDI, pois Reis et al (2007)
diz que a presença de D. rotundus è frequentemente associada a áreas rurais com
animais de criação.
Em seus trabalhos Pianka, (1994) e Stotz et al, (1996), mostram que os
morcegos das áreas abertas como o zoológico do PEDI, utilizam construções feitas
pelos homens denotando pouca seletividade e baixa sensitividade dos morcegos aos
distúrbios ambientais.
Atividade alimentar de hematófagos
No zoológico foram registrados 27 eventos de espoliações em cinco espécies do
plantel, quatro mamíferos (cervo nobre; cervos sambar; camelo e hipopótamo) e uma
ave (avestruz). Esberard et al., (1994) cita em seu trabalho, que no zoológico da
fundação Rio zoo, há notável preferência do D. rotundus pelas mesmas espécies de
animais encontradas no zoológico de dois irmãos no Recife, divergindo apenas no
ataque das aves onde além do avestruz, foram agredidos a Ema o Pavão e o ganso, e da
anta encontrados nos dois zoológicos sendo a da fundação Rio-zoo constantemente
espoliada. Entre os animais agredidos no zoológico do Recife destacaram-se os filhotes
de cervo Sambar, o cervo nobre adulto e a camela com o maior número de espoliações.
Entre os problemas causado por D. rotundus em sua atividade alimentar, além da
constante espoliação e sangria nos animais levando a quadro de anemia, o mesmo pode
trazer grandes prejuízos por causa da transmissão da raiva aos herbívoros
(GREENHALL et al,. 1983), incluindo ai o plantel do zoológico que é composto de
animais selvagens; nativos e exóticos, Uieda (2008) diz que as espoliações presentes em
vários mamíferos inclusive na fauna de zoológico pode ser pela variação no uso de
diferentes presas por D. rotundus que vai de aves a mamíferos de grande e pequeno
porte e Altringham (1996) afirma que esses morcegos preferem sangue de mamíferos
de grande porte como os animais do plantel do zoológico de dois irmãos.
Cervo - Sambar: dos animais agredidos no zoológico, os filhotes de cervo sambar
eram os que apresentavam maior número de agressões em intervalos de tempo muito
curto, de aproximadamente três dias. No início do registro, a fêmea era a que sofria o
maior número de espoliações (cinco), localizadas na região posterior perto da vulva, o
macho apresentou (duas) espoliações nos testículos.
Cervo-Nobre: apresentou no período da pesquisa quatro espoliações nas seguintes
regiões: uma na região medial da face interna do membro posterior esquerdo, uma no
membro posterior esquerdo e duas no dorso perto da axila
Camelo: apresentou cinco eventos de espoliação na axila do lado esquerdo perto da
região torácica durante os três meses iniciais do estudo, cessando as agressões quando o
animal foi separado para um recinto perto da quarentena.
Lhama: os dois animais do recinto sofreram quatro espoliações na região dos testículos,
durante o primeiro mês do estudo, quando compartilhavam o recinto com os camelos,
porém as agressões pararam quando o camelo foi separado e levado para o recinto da
quarentena.
Hipopótamo: apresentou três eventos de espoliação nos primeiros meses do estudo,
perto da orelha, no dorso e no tórax.
Avestruz: foram visualizadas quatro espoliações nas seguintes regiões: Porção superior
da cocha (1), região posterior do corpo próximo à cloaca (2). É a única ave agredida do
zoológico mesmo o recinto apresentando algumas barreiras como um cercado telado
alto rodeado com arvores não sendo encontradas nos recintos adjacentes de outras aves,
havendo uma possível preferência por esse animal. Em uma das noites o animal
encontrava-se deitado no chão e ao levantar-se um morcego alçou voo, o mesmo estava
sangrando o animal na porção superior da cocha (1). Essa interação pode está
diretamente relacionada ao fato do avestruz apresentar alguma característica
comportamental que facilite o contato do D. rotundus tornando o avestruz uma presa
fácil para os morcegos hematófagos do zoológico de dois irmãos.
Quando D. rotundus se alimentam em mamíferos de grande porte espoliam todas
as regiões corporais, preferindo os membros anteriores, posteriores, cernelha, cotovelo,
pernas, vulva e anus (PICCININI et al., 1985b; SOUZA et al., 2007). Arruda et al
(2010) também constataram a preferência dessas partes anatônicas em estudos feitos
com búfalos, constatando pontos de espoliações semelhantes aos encontrados no
cervídeo do zoológico, denotando seletividade de D.rotundus a essas áreas anatômicas,
independente se o animal e selvagem ou de criação, podendo esta ser uma estratégia de
sangria mais eficiente para o hematófago.
Controle de Hematófagos
Controle Químico
No camelo foram realizadas algumas aplicações tópicas nos ferimentos causados
pela espoliação constante, usando-se o método seletivo indireto, de acordo com as
normas do ministério da agricultura, pecuária e abastecimento (BRASIL, 2005).
(tabela: 03) Número de D. rotundus capturados no Zoológico
Sexo Mês/ ano horário Sítio de captura Localização da rede de captura
Feminino Setembro/2011 19:45 Sítio dos cervídeos Próximo aos primatas
Novembro/2011 17:00 Sítio dos cervídeos Recinto cervo nobre
MasculinoDezembro/2011
21:00 Sítio dos cervídeos Próximo aos primatas
20:30 Sítio dos cervídeos Recinto do cervo nobre
20:40 Sítio dos cervídeos Recinto do cervo nobre
Janeiro/2012 24:30 Camelo/ quarentena Recinto da camêla
No mês de agosto de 2011, foi encontrado um D. rotundus morto no recinto das
lhamas onde ficava o camelo, o morcego foi encaminhado para análise rábica, sendo
negativo. Em uma pré-vistoria no zoológico antes do inicio do controle, foram
capturados cinco D. rotundus que tiveram a pasta vampiricida aplicada no dorso e logo
em seguida foram soltos, não sendo estes registrados no banco de dados que
provavelmente contribuíram para a grande redução da presença desses morcegos na área
do zoológico estando o morcego encontrado morto associado diretamente com o
controle químico sofrido na pré-vistoria tendo em vista que esse morcego foi encontrado
duas semanas após a aplicação da pasta vampiricida.
Controle mecânico – Arquitetura e manejo dos animais
Dos seis animais do plantel que foram espoliados pelo D. rotundus, seus
recintos apresentavam problemas que facilitavam o acesso direto do morcego aos
animais em questão. Medidas de manejo ecológico dos recintos com a implementação
de barreiras mecânicas podem resolver o problema (JARDIM, 2011).
Cervo Nobre: Nesse recinto existem alguns danos estruturais no cambeamento, o teto
apresenta uma enorme abertura que facilita a entrada do morcego hematófago, ficando
inviável a contenção do animal nessa área durante o período noturno para evitar as
espoliações. Sendo de estrema necessidade o fechamento dessa abertura com um
telhado ou cobrir todo o recinto do animal com uma tela metálica de malha fina que
evite a entrado do morcego.
Cervo Sambar: No recinto dos filhotes de cervo sambar, seu recinto é bem amplo,
apresentava alguns problemas estruturais no cambeamento, como falta de porta
impedindo que os animais fiquem reclusos nessa área no período noturno, facilitando o
acesso do morcego hematófago aos dois animais, sendo esse problema resolvido com
portas elevatórias postas no cambeamento para a reclusão dos animais.
Avestruz: O recinto do avestruz é um cercado todo envolto de tela metálica. Para a
diminuição da espoliação no avestruz, foram instalados refletores que são ligados
diariamente no período noturno, pois se constatou que essa é muito eficiente conta o
morcego hematófago que é fotofóbico (GOMES & UIEDA, 2004.; LIMA et al ., 2005.;
GOMES et al., 2006; FERRAZ et al., 2007), ficando evidente a ausência de ataque
depois do manejo.
Camelo: Com relação às condições estruturais do recinto do camelo, este era localizado
em frente ao recinto do leão, e as margens do açude do meio albergando em suas
dependências duas lhamas. O recinto é muito amplo e não apresentava cobertura e
cambeamento para a reclusão dos animais no período noturno, sendo o camelo
transferido para outro recinto menor em uma área separada ao lado da quarentena,
construído com madeira e uma cobertura para maior proteção do animal onde foi
adotada a mesma medida de projeção de refletores usada no avestruz, constatando-se
uma redução dos ataques ao animal no novo recinto.
Hipopotamo: O hipopótamo, por se tratar de um animal de grande porte, apresenta um
recinto amplo com uma cobertura para proteção do animal do sol, e um pequeno lago
artificial já que o animal passa maior parte do tempo na água, facilitando o contato
direto do animal com o morcego hematófago se fazendo necessária uma iluminação de
refletores no período noturno para evitar a espoliação pelo morcego hematófago.
Verificou-se uma diminuição das espoliações em todos os animais agredido
após algumas medidas de controle químico dos hematófagos e algumas medidas de
manejo dos recintos. Oliveira et al (2009) citam que a redução nos eventos espoliativos
por D. rotundus, só poderá ser reduzido por meio do monitoramento da população
associado a uma atividade contínua de vigilância epidemiológica e controle químico
(SCHNEIDER et al., 1996, KOTAIT, 1998 ). Não havendo após todas as medidas de
controle químico e mecânico, registro de espoliação nos animais do zoológico,
evidenciando a eficiência do monitoramento do D. rotundus na região.
Problemas associados a morcegos não-hematófagos
Foram analisadas as interações dos morcegos não hematófagos com outros
animais do zoológico, estes podiam entrar em contato com os espécimes do plantel ao
fazer uso dos recintos como abrigo ou adentrar nos mesmos na busca por alimento,
principalmente os frugívoros que frequentemente entravam em recintos na busca de
frutas fornecidas como alimento aos animais do zoo. Visualizando por diversas vezes
alguns espécimes oportunistas que rotineiramente entravam no período noturno nos
recintos de alguns animais que se alimentam dessas frutas, para consumirem o alimento.
Este evento era sempre observado no recinto dos coandús e na área de nutrição onde as
frutas são estocadas, localizada próximo à quarentena.
O recinto dos coandús apresenta algumas avariações estruturais de fácil
resolução, sendo esse recinto composto por uma grade frontal e uma grade no teto que
chega aproximadamente a metade do recinto, estas grades são muito abertas facilitando
a entradas de alguns morcegos frugívoros em busca de alimento. Para que o
comportamento dos morcegos em relação a esse recinto seja amenizado, se faz
necessário botar uma tela metálica de malha fina dificultando à entrada dos morcegos
nesse recinto, diminuindo consequentemente a interação dos coandus com os morcegos
evitando alguns problemas de saúde animal como a transmissão da raiva e outras
zoonoses tanto para os coandús como para os morcegos. A área de nutrição do
zoológico possui entradas de ar ao redor de toda a cumeeira que facilitava a entrada de
alguns morcegos atrás de alimento, porem algumas medidas foram tomadas sendo
colocadas telas de malha fina em todas as entradas de ar, impedindo a entrada dos
morcegos no ambiente e conseqüentemente a diminuição dos danos causados às frutas
utilizadas na alimentação dos animais do zoológico.
Em seu trabalho Jardim (2011) diz que todos os morcegos, independente do seu
hábito alimentar, podem morder se forem indevidamente manipulados ou perturbados, e
que a presença de morcegos em edificações, pode ocasionar alguns problemas
associados a sua presença no local. As ações recomendadas para auxiliar na solução de
problemas causados por morcegos envolvem um monitoramento constante e adequação
das edificações para evitar os problemas decorrentes da instalação de colônias.
Recomenda-se vedar todas as juntas de dilatação de prédios, espaços existentes entre
telhas e parede, cumeeiras, pontos de luz, chaminés, bem como qualquer abertura no
telhado que possa permitir a instalação dessas colônias e consequentemente minimizar
os problemas associados aos morcegos.
CONCLUSÃO
O controle químico e o manejo ecológico cessaram as espoliações nos animais.
A rápida eficiência do controle e o baixo número de capturas podem ser devido ao
tamanho reduzido da(s) colônia(s) existente(s) na área de estudo, ou em áreas proximas
ao PEDI que possuam criações de animais.
A interação com morcegos não hematófagos está diretamente ligada com
problemas estruturais encontrados nos recintos e no local de estocagem de frutas.
O manejo adequando dos recintos e dos animais do plantel podem evitar as
agressões pelos hematófagos sem necessariamente haver a necessidade de controle
químico.
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Exemplos de referências
Trabalho em Periódicos:
PRADO, O.P.P.; ZEOULA, L.M.; MOURA, L.P.P. FRANCO, S. L.; PRADO, I. N. do;
JACOBI, G. Efeito da adição de própolis e monensina sódica na digestibilidade e
características ruminais em bubalinos alimentados com dietas a base de
forragem. Revista Brasileira de Zootecnia, v.39, n.9, p.2055-2065, 2010.
Livros:
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