ESTADO DE SÃO PAULO – 97 municípios
Prefácio
De acordo com o IBGE, existem no País
16,2 milhões de pessoas vivendo abaixo da
linha de pobreza, com renda de até R$ 70
mensais. Deste total, 1,1 milhão de pessoas
– cerca de 300 mil famílias – vivem no
Estado de São Paulo.
Os dados disponíveis atualmente não são
suficientes para que saibamos quem são
essas pessoas, onde moram e como vivem.
Responder tais questões é essencial para
que possamos promover o pleno
desenvolvimento social em São Paulo.
Por isso, o Governo do Estado lançou o
São Paulo Solidário, que visa erradicar a
extrema pobreza até 2014 a partir de quatro
eixos que se complementam: a localização
dessas pessoas (Busca Ativa), o
detalhamento de suas condições sociais, de
saúde e de educação (Retrato Social), a
responsabilização efetiva de cada uma
delas na superação de suas fragilidades
socioeconômicas (Agenda da Família
Paulista) e a transferência direta de renda.
Prefácio
O Retrato Social, de que trata esta
publicação, possibilita obter um diagnóstico
social preciso por território e família. Permite
identificar em cada município paulista as
principais ações que os diversos entes
públicos devem empreender dentro dos
passos programados a partir dessa ação
fundamental.
O bem-estar das pessoas é a obra-prima do
Estado, é a razão de sua existência. O
Retrato Social surge da convicção - que
reflete o modo de ser da população de São
Paulo -, de que nenhum paulista será
deixado para trás.
Geraldo Alckmin
Governador do Estado de São Paulo
Apresentação A renda e outros indicadores econômicos
foram durante muitos anos apontadores
determinantes para a identificação da
pobreza.
Hoje, no entanto, não podemos mais entender
a pobreza apenas pela ausência de renda. Se
não tivermos clareza dos outros fatores que
são decisivos na sua configuração, estaremos
apenas tangenciando sua essência sem
combatê-la de frente.
A pobreza se materializa através de múltiplas
privações sociais. Famílias nessas condições
acabam por não acessar os serviços e
oportunidades necessários para alcançar
padrões mínimos de vida, em virtude da
fragilidade e do desalento que essa pobreza
produz.
As privações das famílias são identificadas a
partir do Retrato Social, por meio de visitas
domiciliares, nos locais onde se concentram
os bolsões de pobreza e as famílias mais
vulneráveis.
Rodrigo Garcia
Secretário de Desenvolvimento Social
Metodologia – IPM / PNUD A Busca Ativa realizada nos 97 municípios da 1ª
fase, entre os meses de dezembro de 2011 a janeiro
de 2012, localizou as famílias vulneráveis de cada
município e aplicou um instrumento de coleta de
dados, elaborado com base no Índice de Pobreza
Multidimensional (IPM).
O IPM tem como objetivo fornecer um retrato amplo
sobre as pessoas que vivem com dificuldades, para
além da questão da renda. Ele aponta privações em
educação, saúde e padrão de vida. Lançado pelo
PNUD em conjunto com o centro de pesquisas The
Oxford Poverty and Human Development Initiative
(OPHI), substitui o Índice de Pobreza Humana (IPH).
Quanto maior o IPM, maior é o nível de pobreza
multidimensional. (Texto baseado no site:
www.pnud.org.br).
As três dimensões do IPM se subdividem em dez
indicadores: nutrição e mortalidade infantil (saúde);
anos de escolaridade e crianças matriculadas
(educação); eletricidade, gás de cozinha, sanitários,
água, pavimento e bens domésticos (padrão de
vida). Cada indicador recebe um valor e um peso e o
somatório dos 10 indicadores resulta em 100%.
Segundo o PNUD, em nota técnica de 2011, uma
família é considerada multidimensionalmente pobre
se sofre privações a partir de 33,3%. As famílias com
privação entre 20 e 33,29% estão vulneráveis, ou
seja, potencialmente em pobreza multidimensional.
O Retrato Social do Estado de São Paulo,
diagnosticado pelo São Paulo Solidário, está
revelado neste caderno.
Quadro do IPMDimensão Indicador Há privação se...
Educação
Anos de estudo Nenhum membro do domicílio completou 5 anos de estudos
Matrícula das Crianças
Pelo menos uma criança em idade escolar não estiver frequentando a escola ou nenhuma criança em idade escolar frequenta a escola
SaúdeMortalidade Morreu pelo menos uma criança na família
Nutrição Pelo menos um adulto ou criança desnutrido
Padrão
de vida
Eletricidade O domicílio não é servido por eletricidade formal
SanitáriosA estrutura sanitária não é adequada, não possui estrutura sanitária ou esta é compartilhada com outros domicílios
ÁguaO domicílio não tem acesso a água potável ou a fonte de água potável está a mais de 30 minutos a pé de casa
Piso Não possui revestimento
Combustível para cozinhar
Ausência de fogão a gás - usa fogão a lenha, fogareiro a querosene ou não possui fogão
Bens domésticosO domicílio não tem mais de um: rádio, TV, telefone, bicicleta ou moto e carro ou trator
Sistemática da Busca Ativa
A Busca Ativa teve como objetivo a realização da
varredura completa de todos os municípios com
10 mil habitantes ou menos. Nos demais, a busca
esteve concentrada nos bolsões de pobreza.
Para auxiliar na localização dos bolsões de
pobreza foram utilizadas duas fontes:
1. Cadastro Único do Governo Federal: foi
levantado o número de famílias que já receberam
ou estão recebendo Bolsa Família para cada
logradouro, a partir do Cadastro Único.
2. Índice Paulista de Vulnerabilidade Social:
estudo da Fundação Seade, realizado em 2004,
com base nas informações sobre os setores
censitários do Estado de São Paulo. Permitiu a
classificação dos setores em seis níveis de
vulnerabilidade. Os setores 5 e 6 foram
assinalados nos mapas, como pontos de maior
probabilidade de concentração de pobreza.
Embora defasado em função do uso dos dados
de 2010, foi um indicador importante de
orientação para as atividades de campo.
Sistemática da Busca Ativa Para orientar o deslocamento no campo e permitir
geomapeamento posterior dos dados, foram
elaborados dois tipos de mapas, com base na
malha digital de setores censitários de 2010 do
IBGE:
1. Mapas mostrando os limites e posicionamento
dos setores censitários urbanos e rurais em cada
município com as imagens de satélite do Google,
incluindo tabela do número de domicílios
permanentes ocupados em cada setor. Mesmo
considerando eventuais falhas de cobertura e o
aparecimento de novas residências nos setores, é
possível estimar graus de cobertura das visitas.
2. Para os setores rurais, foi feito um minucioso
trabalho de localização de aglomerados de
residências para permitir a otimização da logística
de deslocamento no campo.
Para finalizar, foi construído um banco de dados
com todos os endereços levantados pelo IBGE
durante o Censo 2010 (reunidos no Cadastro
Nacional de Endereços para Fins Estatísticos)
para ajudar no controle a posteriori dos domicílios
visitados. Como cada endereço possui o setor
censitário ao qual ele pertence, é possível corrigir
eventuais erros de atribuição de setor.
Coleta de Dados A coleta de dados foi realizada por visitadores
sociais indicados pelos municípios e capacitados
para a Busca Ativa. Foram feitas visitas
domiciliares e um integrante da família convidado
para a entrevista e preenchimento de um
questionário similar ao adotado pelo PNUD para o
IPM.
Por se tratar de um levantamento baseado nas
respostas dadas pelos informantes de cada
família e se restringir aos dados previstos no
questionário, o Retrato Social aponta somente
para alguns dos fatores e dimensões que podem
estar associados ao problema da pobreza no
município. São dados indicativos que poderão ser
melhor investigados pelas prefeituras municipais,
caso julguem necessário.
A identificação de cada família que, até então,
estava “invisível”, é o principal objetivo da Busca
Ativa. Conhecer suas privações será essencial
para o aprimoramento da distribuição dos
programas sociais e na promoção de uma melhor
condição de vida para as famílias multi-
dimensionalmente pobres.
Estado de São Paulo
Segundo o Censo 2010 (IBGE), a população
estimada do Estado é de 41.262.199 habitantes,
Total de Visitas Formulários justificados (ausência, vago ou recusa)
Formulários Preenchidos
Formulários inconsistentes
Formulários validados*
200.169 40.732 159.437 16.763 142.674
* Os percentuais apresentados neste relatório estão calculados pelo total dos formulários validados, exceto no cruzamento de privação vs. zona urbana e rural (página 21).
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sendo 1.298.038 residentes dos 97 municípios
participantes da 1ª fase da Busca Ativa.
O total de domicílios particulares permanentes desses
municípios é 383.796 e o total de visitas realizadas pela
Busca Ativa foi de 200.169 domicílios (52,2%).
De acordo com os dados validados (142.674
formulários), os resultados destes 97 municípios
referem-se às condições socioeconômicas de 484.184
cidadãos paulistas.
Perfil FamiliarAlguns grupos populacionais podem apresentar maior vulnerabilidade. Dentre eles estão idosos, crianças,
adolescentes, mulheres grávidas, mulheres com mais de 40 anos e deficientes.
O gráfico abaixo mostra o percentual do total de formulários validados dos domicílios (N=142.674) nos
quais haja pelo menos uma pessoa nas condições abaixo:
Deficientes
Mulheres com mais de 40 anos
Mulheres grávidas
Adolescentes
Crianças
Idosos
4.5%
37.3%
2.9%
24.6%
48.0%
27.8%
DesempregoDos formulários validados dos domicílios (N=142.674), 38,9% possui ao menos uma pessoa
desempregada na família.
38.9%
61.1%
Ao menos uma pessoa desempregada no domicílioNão há desempregados no domicílio
Programas Sociais
O gráfico a seguir apresenta a porcentagem de famílias dos formulários validados que recebem um ou
mais dos programas de transferência de renda e o Vivaleite. No Estado de São Paulo, 23,5% recebem o
Bolsa Família e 10,6% o Viva Leite.
Bolsa Família BPC Renda Cidadã Ação Jovem Vivaleite
23.5%
6.1% 5.7%3.7%
10.6%
Valor do IPM O IPM identifica diversas privações relacionadas às
dimensões da Educação, Saúde e Padrão de Vida.
Cada dimensão possui um peso igual e tem a
pontuação máxima equivalente a 1/3 do total.
Contam com 2 indicadores em Educação, 2
indicadores em Saúde e 6 indicadores em Padrão
de Vida e recebem um valor correspondente a essa
divisão.
O valor do IPM é o resultado de duas medidas: a
proporção entre o número de pessoas
pertencentes às famílias multidimensionalmente
pobres (com 33,3% ou mais de privação) e a
população total visitada com a intensidade (ou
amplitude) da pobreza, medida por esses
indicadores.
Essa medida varia de 0 a 1. O valor do IPM do
Brasil é de 0,039.
Esse cálculo pode sofrer variação, de acordo com
a quantidade de famílias que apresentam o grau de
privação considerado para ele e o número de
residentes das famílias visitadas.
Considerando-se essas referências, o número de
domicílios visitados e o de questionários validados,
no Estado de São Paulo, o IPM calculado é de
0,010.
Percentuais de Privação
Dos formulários validados dos domicílios (N=142.674), a distribuição da privação no Estado se apresenta
como segue:
- 83.888 domicílios sem nenhuma privação (58,8% do total de domicílios);
- 58.786 domicílios com algum nível de privação (41,2% do total de domicílios).
Quantidade de domicílios por Nível de Privação
De 1 a 19,99% 20 a 33,29% 33,3% ou mais
44.583 9.127 5.076
- De 1 a 19,99%: famílias que apresentam alguma privação
- De 20 a 33,29%: famílias vulneráveis
- 33,3% ou mais: famílias multidimensionalmente pobres
Dimensões da PobrezaDos formulários validados dos domicílios (N=142.674), os resultados da Busca Ativa indicam que ao
menos uma privação é verificada em:
Educação Saúde Padrão de vida
23.3%
7.3%
20.8%
Educação
Nenhum membro completou 5 anos de es-tudo
Pelo menos uma criança em idade escolar não frequenta a escola
21.4%
2.1%
Privação em Anos de Estudo: um aspecto geracional
A privação na dimensão Educação ocorre quando
nenhum membro da família completou 5 anos de
estudo (anos de estudo) ou existe pelo menos uma
criança em idade escolar que não frequenta a
escola (matrícula).
A maior ocorrência da privação anos de estudo nos
domicílios visitados (21,4%) do que matrícula (2,5%)
está associada, entre outros possíveis fatores, ao
aspecto geracional.
Com o teste estatístico Qui-quadrado, que compara
as frequências obtidas com as frequências
esperadas, encontra-se um associação significante
entre Idosos e Anos de Estudo. De acordo com o
teste, o número esperado de domicílios com idosos
e com privação em anos de estudo era de 8.540
domicílios, enquanto o encontrado no Estado de
São Paulo foi de 16.513 domicílios, quase o dobro.
Como comparação, nota-se que o número esperado
de domicílios com crianças e com a mesma
privação (anos de estudo) era de 14.749 e o
encontrado foi de 6.950, menos da metade.
Neste sentido, o risco relativo de nenhum membro
da família ter completado 5 anos de estudo
acontecer em domicílios com idosos é 6,29 vezes
maior do que em domicílios com crianças.
23.3% 21.4%
2.1%
16.0% 13.7%
2.5%
Com Idosos Sem Idosos
Comparando as privações na dimensão educação e nos fatores que a compõe (anos de estudo e
matrículas), nota-se que ao retirar os domicílios com idosos há uma melhora significativa nos percentuais
de privação em educação e em anos de estudo.
Privação em Anos de Estudo
Saúde
Pelo menos uma criança morreu na família
Pelo menos uma criança ou adulto desnutrido
6.6%
0.9%
Padrão de VidaDos indicadores de padrão de vida, os que mais se destacam, são: ausência de estrutura sanitária
adequada (10,8%) e falta de acesso à água potável (9,1%).
Não tem mais de um bem (rádio, televisão, outros)
Piso não possui revestimento
Ausência de fogão a gás
Não tem eletricidade formal
Não tem acesso à água potável
A estrutura sanitária não é adequada
3.1%
3.6%
1.3%
1.9%
9.1%
10.8%
Bens DomiciliaresCom relação à privação de bens domiciliares, foram analisadas 6 categorias (rádio, televisão, telefone,
geladeira, bicicleta ou moto e carro ou trator). O gráfico em destaque apresenta a privação encontrada em
cada um desses bens para o total de domicílios pesquisados.
Rádio
Telev
isão
Telef
one
Gelade
ira
Bicicle
ta o
u M
oto
Carro
ou
Trat
or
24.2%
6.3%
36.2%
5.8%
54.3%
64.3%
Principais privações do Estado de SP
Nenhum membro completou 5 anos de estudo
A estrutura sanitária não é adequada
Não tem acesso à água potável
21.4%
10.8%9.1%
Privação vs. Zona Rural e UrbanaNota-se que o percentual de privação, em todos os níveis, é mais significativo na zona rural do Estado de
São Paulo, comparativamente à zona urbana*.
* Percentual calculado pelo total de domicílios na zona urbana (100%) e na zona rural (100%).
Sem privação Até 19,99 de privação de 20 a 33,29 de privação
33,3 ou mais de privação
63.2%
28.9%
4.7% 3.1%
45.7%
37.9%
11.1%5.2%
Urbano Rural
Metas para a Agenda da Família
A associação de políticas de combate à pobreza e
de promoção da cidadania que envolva o
atendimento de vulnerabilidades específicas é
essencial para a superação da pobreza e ao
desenvolvimento das capacidades das famílias
que vivem em situação de privação.
Isso depende da articulação intersetorial entre
programas desenvolvidos pelo Poder Público, nos
níveis federal, estadual e municipal, além de
incluir iniciativas da sociedade civil.
Em relação ao nível estadual, a Secretaria de
Desenvolvimento Social se compromete a pactuar
ações, baseada no enfrentamento dos problemas
sociais identificados nos Retratos Sociais dos
municípios, em parceria com:
- Secretaria da Educação, na promoção do
programa de Educação de Jovens e Adultos;
- Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho,
nos programas de Frentes de Trabalho e
Qualificação Profissional;
Metas para a Agenda da Família
- Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos,
nos programas Se Liga na Rede, Fossa Séptica e
Água Limpa;
- Secretaria de Habitação, nos Programas de
Construção / São Paulo de Cara Nova.
O objetivo dessas ações é aprimorar o acesso ao
conhecimento, ao trabalho e à renda, à melhoria
das condições habitacionais, e à promoção e
fortalecimento da cidadania, pilares dos
Programas Complementares.
Além disso, a Secretaria de Desenvolvimento
Social garantirá todo o suporte necessário para o
trabalho de complementação de renda às famílias
que vivem em condição de extrema pobreza, já
identificadas na Busca Ativa.
Bibliografia consultada
ALKIRE, S.; SANTOS, M.E. Acute multidimensional poverty: a new index for developing countries. Human
Development Reports. New York: United Nations Development Programme, 2010. Disponível em: <
http://hdr.undp.org/en/reports/global/hdr2010/papers/HDRP_2010_11.pdf>. Acesso em 05 dez. 2011.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD). Relatório de
Desenvolvimento Humano 2011. New York: PNUD, 2011. Disponível em: <
http://hdr.undp.org/en/reports/global/hdr2011/download/pt/>. Acesso em 05 dez. 2011.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD). Nota Técnica 4. In:
Relatório de Desenvolvimento Humano 2011. New York: PNUD, 2011, p. 179-180. Disponível em: <
http://hdr.undp.org/en/reports/global/hdr2011/download/pt/>. Acesso em 05 dez. 2011.
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