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Estruturalismo e Teoria da Burocracia (MOTTA; VASCONCELOS, 2006, Cap. 5)

Análises sobre a burocracia e suas disfunções

Foco nos aspectos estruturais e internos

“Estrutura” – inter-relações entre as partes componentes de um todo

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Estruturalismo e o conceito de sistema

“Sistema” – considera o relacionamento das partes na constituição do todo; estruturalismo implica totalidade e interdependência; o todo é maior do que a simples soma das partes

Escola Clássica – sistema fechado Organizações são partes de um sistema mais

amplo, o sistema social. Cada paradigma (teoria) esclarece alguns

aspectos do objeto “organização”, encobrindo outros

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Estruturalismo fenomenológico Max Weber Os atores sociais interagem construindo em

conjunto os significados compartilhados que constituem a sua realidade. Ao agirem, os indivíduos interpretam e atuam no mundo social, modificando-o e transformando-o. Trata-se da construção social da realidade.

Teoria crítica (est. dialético; Karl Marx) – relações de dominação do sistema social; ex: participação nas decisões = forma de os subordinados acatarem decisões previamente tomadas (caráter ilusório); “gestão de pessoas”

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Existência de funções definidas e competências rigorosamente determinadas por leis e regulamentos

Os membros do sistemas têm direitos e deveres delimitados por regras e regulamentos

Existe uma hierarquia definida por regras explícitas, e as prerrogativas de cada cargo e função são definidas legalmente

O recrutamento é feito por regras previamente estabelecidas, garantindo-se a igualdade na contratação

Remuneração deve ser igual para o exercício da cargos e funções semelhantes

O avanço na carreira deve ser regulado por normas Há uma separação completa entre a função e as

características pessoais do indivíduo que a ocupa

Princípios da Estrutura Burocrática

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Vantagens da burocracia Predomínio da lógica científica sobre a lógica

mágica, mística ou intuitiva Metodologias racionais visando ao aprimoramento

dos processos de produção Profissionalização das relações de trabalho –

garantia de igualdade de todos diante das regras, reduzindo os favoritismos e clientelismos

Formalização das competências técnicas permitindo evitar as perdas

Isomorfismo: a estrutura burocrática impessoal, dado o seu alto grau de formalização, é um modelo mais fácil de ser transposto para outras sociedades

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Burocracia A burocracia tenta evitar a arbitrariedade, o confronto

entre indivíduos e grupos e os abusos de poder. Seu objetivo é o de organizar a atividade humana de modo estável para a consecução de fins organizacionais explícitos. As regras e a rotinização do trabalho estabelecem etapas e procedimentos a serem seguidos. As estruturas burocráticas foram relatadas como mecanismos de defesa contra a ansiedade e a insegurança típicas do ser humano. As regras, ao formalizarem a interação entre os indivíduos, visam reprimir as relações face a face e a espontaneidade, evitando a eclosão de conflitos. A lógica burocrática objetiva o aumento de produtividade e a geração de lucro na sociedade industrial.

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Burocracia – tentativa de formalizar e coordenar o comportamento humano por meio do exercício da autoridade racional-legal para o a consecução de objetivos organizacionais.

Conforme os autores a seguir, existe uma discrepância entre o modelo organizacional oficial (racionalidade e cálculo) e as práticas informais (sentimentos e afetividade). A distância entre esses dois mundos produz efeitos “disfuncionais” do ponto de vista da empresa.

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Merton Transformações na personalidade dos participantes

que levam à rigidez, às dificuldades no atendimento aos clientes e à ineficiência. Pode-se questionar a eficiência da racionalidade instrumental (adequação meios-fins) nas organizações burocráticas.

“Personalidade burocrática” – seguir estritamente as regras fornece segurança e reduz incertezas

Seguir as regras, não importa quais sejam, torna-se um fim, e não um meio. Perdem-se de vista a concretização dos objetivos organizacionais, uma vez que o apego excessivo a rotinas e regras não deixa margem a nenhuma flexibilidade ou questionamento.

Conformidade às normas informais e aos padrões comportamentais do grupo de referência é funcional quando há mobilidade funcional

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Gouldner Regras burocráticas representam os interesses de

parte dos membros do sistema e conflitam com os interesses de outros membros

a) “Falsa” burocracia: regras não representam o interesse de nenhum grupo

b) Burocracia representativa: regras representam interesses de todos os grupos

c) Burocracia autocrática: regras que um grupo impõe aos outros; objetivo é punir condutas “disfuncionais”; muitos conflitos; não existe confiança; resistência

O grau de burocratização é função do nível de resistência no sistema

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Funções “latentes” da regra:a) Permitem o controle a distânciab) Restringem as relações entre as pessoas,

aumentando a impessoalidadec) Restringem a arbitrariedade do superior e

legitimam a sanção, opõem-se ao clientelismod) Tornam possível a apatiae) Geram um espaço de negociação entre o

subordinado e a hierarquia Comportamentos que ajudam os gerentes: não

aplicação proposital das regras, que permite gerar um espaço de negociação; supervisores devem usar de flexibilidade e de certo nível de tolerância com os seus subordinados

Gouldner

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Selznick Em 1949; Tennessee Valley Authority (TVA) Processo de institucionalização de expressões

(“política do popular”, “instituição próxima do povo”) e práticas. Paradoxos da ação social:

a) Contradição entre teoria e prática, discurso e ação.

b) Dilema entre participação e escolha seletiva.c) Contradição entre as dimensões da perenidade e

da fluidez das políticas administrativas.d) De um lado, o apego às regras e aos padrões

burocráticos formais e, do outro, a renovação de políticas administrativas.

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Selznick O ideal burocrático é uma ficção. O indivíduo não

deixa a sua personalidade “do lado de fora da organização” ao ir trabalhar todo dia

Organizações devem permitir aos indivíduos a busca de seus interesses específicos, obtendo, a partir disso, seu comprometimento

Organizações são sistemas que visam obter a integração de indivíduos recalcitrantes que lutam para a consecução de seus objetivos e interesses

Cooptação como mecanismo de absorção de novos elementos pela coalizão dominante

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Michel Crozier Atores sociais: ser analítico, que age de modo político

a partir da análise das opções em jogo.

a) Ação coletiva: organização é uma estruturação da ação coletiva para a concretização de objetivos; soluções organizacionais: contingentes, mudam com o tempo, relativas a cada grupo

b) Efeitos inesperados: os atores sociais tomam decisões de acordo com seus interesses pessoais. Conjunto de decisões – incoerências e incertezas – slack organizacional

c) Problemas da ação coletiva: obtenção da cooperação entre diferentes atores sociais é um dos problemas principais da organização. Três formas: coerção; manipulação afetiva ou ideológica; negociação entre os grupos organizacionais

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Michel Crozier

d) Conceito de organização: organização é um sistema de jogos estruturados; atores sociais podem colaborar ou não; obter maior controle de recursos; objetivos e interesses pessoais

e) As ncertezas e o poder: controle dos recursos é distribuído de modo desigual; alguns desses recursos são fundamentais; atores sociais que controlam esses recursos detêm maior poder; Mudança redistribui o controle de recursos, provocando resistências dos que se vêem privados de recursos

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Michel Crozierf) Mudança organizacional e aprendizagem: Mudança: processo de criação coletiva dos membros;

fixam novas maneiras de jogar o jogo social da cooperação e do conflito, negociando interesses e instaurando uma nova ordem social. Não é apenas uma mudança técnica, mas novas formas de controle de recursos

Implementação de uma nova tecnologia implica mudança de hábitos, comportamentos e práticas.

A inovação tecnológica depende da criação de regras que favoreçam a mudança comportamental dos atores a partir de seus interesses.

Sem inovação organizacional não se efetivam a inovação tecnológica e a implementação de ferramentas administrativas

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Homem organizacional: dimensão política do ator social

Tipo de personalidade requerido nas sociedades modernas: flexibilidade, resistência à frustração, capacidade de adiar as recompensas, desejo permanente de realização. Permite a participação simultânea em vários sistemas sociais.

Homem: age racionalmente; objetivos e interesses pessoais; negociação política; sua ação não é determinada pelas regras e estruturas organizacionais; sempre há uma margem de manobra para as estratégias de ação

O homem constrói os sistemas em que vive e é por eles construído.

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Conflitos inevitáveis O conflito entre grupos é um processo social

fundamental. É o grande elemento propulsor do desenvolvimento, embora isso nem sempre ocorra

Contradições e paradoxos como elementos constitutivos da burocracia

Merton: burocracia (tratamento formal e impessoal) X público (deseja atenção individualizada

Blau e Scott – três dilemas

a) Comunicação e coordenação – fluxo de comunicação importante para a solução de problemas; debate permite esclarecer pontos, favorecendo a inovação. O conflito pode dificultar a coordenação quando se trata de tomar decisões rápidas.

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Contradições e paradoxos como elementos constitutivos da burocracia

Blau e Scott – três dilemas

b) Disciplina burocrática e especialização profissional – Profissional: representa os interesses dos clientes; autoridade baseada no conhecimento; decisões concordam com padrões internacionalizados X Burocrata: representa os interesses da organização; autoridade se baseia em um contrato legal; decisões devem concordar com as diretivas dos superiores

c) Planejamento administrativo e iniciativa – avanço tecnológico exige esforço criativo. Destino das organizações depende da iniciativa e criatividade X Persiste a necessidade de planejamento e controle

Dilema maior entre ordem e liberdade

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Incentivos mistos

Administração científica (incentivos monetários) X Relações humanas (recompensas psicossociais)

Estruturalistas: incentivos e recompensas psicossociais e materiais

Ser humano: ser político e racional, que explora as regras para consecução dos interesses particulares, visando aumentar seu poder e os recursos que controla.

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Etzioni e as tipologias da organização burocrática

Tipologia – distribuição de poder e diferentes formas de compromisso dos participantes

a) coercitivas: coerção constitui o principal meio de controle dos participantes; campos de concentração, prisões; organização não precisa obter o envolvimento

b) utilitárias: remuneração é o principal meio de controle dos participantes; envolvimento calculista dos participantes; empresas industriais e comerciais

c) normativas: alto nível de envolvimento dos participantes; envolvimento se baseia na internalização de diretivas aceitas como legítimas; organizações religiosas, hospitais, universidades

d) híbridas: organizações duais; sindicatos

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Críticas

Confundindo relações humanas com ser amável com as pessoas, levando à displicência. Pesquisas: maior produtividade dos empregados ocorre sob a supervisão do tipo relações humanas

Relações humanas – acordo grupal – coloca a mediocridade acima da qualidade

Escola de Relações Humanas acusada de ensinar métodos permissivos de liderança e supervisão. Métodos democráticos são os mais difíceis de serem observados na prática e contrastam com a liderança laissez-faire.