Estudos em AD
O silêncio como estratégia do discurso.
• Perspectiva positivista do Silêncio;• O texto visa criar uma
esquemática do silêncio relacionando AD (Pêcheux) e Psicanálise
(Freud/Lacan), a partir da visão de Orlandi e sua tipologia dos silêncios;
• “O silêncio é premissa fundamental para que seja dito algo, já que é nele que o múltiplo não-
discretizado é encontrado; que o vir-a-ser sentido está presente.” p. 16-17
• É pelo silêncio que o dito adquire alguns sentidos.
Os esquecimentos de Pêcheux
• “Para o autor, o esquecimento nº 1 seria da ordem do inconsciente, não podendo ser acessível
diretamente ao sujeito. Ele opera fazendo o sujeito pensar que é a origem de seu dizer: que o sentido
das palavras, expressões, etc., que ele pensa escolher livremente, “brotam” de sua vontade de dizer. ” p. 17
• “o nº 2, foi criado por Pêcheux para dar contada possibilidade de reformularmos o que
dizemos, utilizando outras palavras, ou então corrigirmos um enunciado potencialmente
ambíguo.” p.17
• • Esses esquecimentos convergem com a
regra geral da AD: sempre que se diz x, deixa-se de dizer y.
A tipologia do silêncio de Orlandi
Silêncio fundador: é aquele onde todos os sentidos, possíveis e impossíveis, se colocam; é onde o
devir se impõe. Nele não há sentidos discretizados.
Silêncio constitutivo: é um evento que ocorre em detrimento de outros fatores; que se concretizou
de alguma forma e não pode mais ser mudado.
Silêncio local: implica a interdição histórica do sujeito de movimentar-se por determinadas
formações discursivas.
“Pode-se dizer, a partir da tipologia do silêncio que ele, em todas as suas formas, trabalha os limites das
formações discursivas, permitindo a movimentação do sujeito pelos diferentes discursos, afetando assim, a sua subjetividade e todo o seu dizer. É no silêncio que
podemos observar a subjetividade inerente ao discurso, vendo os sentidos que o sujeito produziu
efetivamente, e quais ele decidiu “apagar”. Dessa forma, podemos ter uma concepção de sujeito mais ampla,
que se dá a partir da inserção do dito no não-dito; uma concepção menos restrita à literalidade.” p.18
O silêncio em Psicanálise
• Silere (silenciar) é o silêncio inerente às pulsões. Pode-se dizer que as pulsões agem silenciosamente em nosso
inconsciente, já que elas não são atravessadas pelo simbólico (e, portanto também não o são pela linguagem).
• Taceo (calar-se) é aquilo que poderia ser dito, mas não foi enunciado, e que, em geral, provoca um deslocamento do
sujeito para outro lugar discursivo, que lhe permite significar aqueles sentidos proibidos.
• “ Segundo Tfouni (1998, p.102) O silêncio, assim como o inconsciente, possui uma opacidade
enigmática, que não pode ser controlada nem totalmente discretizada através das palavras. Ao mesmo tempo em que o homem teme o silêncio devido ao enigma que este apresenta, também o
utiliza para calar no outro, sentidos que não interessam.” p.20
Esquecimento de Signorelli
• Através de um esquecimento do nome de um pintor durante uma conversa, Freud faz uma incursão à sua memória para entender o porquê de ter esquecido. A partir daí se desenvolve a noção do núcleo traumático, descoberta por Freud durante essa auto-análise.
• Esse núcleo consiste no “encadeamento de diversos significantes, organizados inconscientemente, chega a um núcleo específico de determinada experiência primária que significa as demais experiências encadeadas a essa posteriormente.” p.21
• O texto investiga três versões para o fenômeno do esquecimento de Freud, e as relaciona com a tipologia dos silêncios de Orlandi:
“ Consciente de sua escolha, ao omitir o fato de ser sua cunhada a acompanhante de viagem (e não um estranho), estaria o silêncio local, regido pela censura, regida pelos costumes e valores morais da época. No sistema sub-consciente, podemos localizar o silêncio
constitutivo, que se materializou pelo estilo literário que utilizou para escrever o artigo, escolhendo palavras que localizassem o
acontecimento em um momento longínquo no tempo. O silêncio fundador, totalmente inconsciente, poderia ser encontrado nas
próprias questões que Freud retoma para explicar seu esquecimento, descobrindo a cada re- elaboração novas pistas para a totalidade
dos fatos que corroboraram para o seu lapso de memória.” p.22
“Isso mostra que devemos interpretar o discurso e o inconsciente humano além
dos dados visíveis e empiricamente controláveis, pois, da mesma forma que
já foi dito acima, o discurso não se restringe ao materialmente simbolizado.” p.22-
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