EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DO TRABALHO DA
__ª VARA DO TRABALHO DE BARUERI - 2ª REGIÃO.
SINDICATO DOS TRABALHADORES EM
HOTÉIS, APART HOTÉIS, FLATS, RESTAURANTES, BARES,
LANCHONETES E SIMILARES DE SÃO PAULO E REGIÃO
(SINTHORESP), entidade sindical de 1º grau, com sede de endereço para
notificação na Rua Taguá, 282, Liberdade, São Paulo/SP, CEP 01508-010,
inscrito no CNPJ nº 62.657.168/0001-21, representado por seu Diretor
Presidente (DOC.02/05) e por instrumento de procuração anexo (DOC.01)
que outorga poderes aos advogados constituídos, vêm, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, nos termos do arts. 1, III e IV; 5º, V,
XXIII; 8º, III, 170, III e 193 da Constituição Federal c/c art. 12, 18, 81 e 84
do Código Defesa do Consumidor, art. 264 e art. 942, ambos do Código
Civil, e Convenções Internacionais n. 29 e 105 da OIT, ajuizar a presente
RECLAMAÇÃO TRABALHISTA POR SUBSTITUIÇÃO
PROCESSUAL
COM PEDIDO LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS DE
EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO
destinada a reparação de danos morais coletivos em face de:
1. Arcos Dourados Comércio de Alimentos Ltda., inscrita no CNPJ nº
42.591.651/0001-43, com sede na Alameda Amazonas, nº 253, Alphaville,
Barueri/SP, CEP 06454-070;
2. Golden Foods Alimentos, representante da empresa Agrarfrost Gmbh &
Company no Brasil1, inscrita no CNPJ nº 11.861.307/0002-84, situada na
Rodovia Jorge Lacerda, nº 600, sala 10, bairro Salseiros, Itajaí/SC, CEP
88317-100;
3. Arla Foods Ingredients (Sales Office Ingredients Brazil), CNPJ
05.861.627/0001-50, sito na Rua Lord Cockrane, nº 616, cj. 1303, Ipiranga,
São Paulo/SP, CEP 04213-001;
4. BRF Brasil Foods S/A, CNPJ 08.747.353/0001-61, situado na Rua
Jorge Tzachel 475, bairro fazenda, Itajaí, Santa Catarina, CEP 88301-600.
5. Cargill, Inc., CNPJ 03.371.734/0001-75, sito na Av. Morumbi, nº 8234,
Brooklin, São Paulo/SP, CEP 04703-002;
6. ARYZTA DO BRASIL ALIMENTOS LTDA - CNPJ:
57.016.578/0001-53, sito à Avenida Brigadeiro Faria Lima, 1336, Andar 3,
conj. 31 e 32, Jardim Paulistano, São Paulo, SP. CEP 01451-000;
7. Grupo JBS Friboi S/A, CNPJ 02.916.265/0001-60, sito na Av.
Marginal Direita do Tietê, nº 500, Vila Jaguara, São Paulo/SP, CEP 05118-
100;
8. Keystone Foods América Latina (Marfrig Group), CNPJ
desconhecido, sito na Rua Chedid Jafet, nº 222, bloco A, 1º andar, Vila
Olímpia, São Paulo/SP, CEP 04551-065;
9. Kraft Foods Brasil, CNPJ desconhecido, sito na Rua Pinheiros, nº 870,
Tremembé, São Paulo/SP, CEP 02326-005;
10. McCain do Brasil Alimentos Ltda. (Mc Cain Foods Limited), CNPJ
68.090.240/0001-68, sito na Rua Olimpíadas, nº 100, Vila Olímpia, São
Paulo/SP, CEP 02220-000;
1 Disponível em: < http://www.goldenfoods.com.br/teste/>. Consulta em: 25-09-2012.
11. Moy Park (uma empresa Marfrig Food), CNPJ desconhecido, sito na
Rua Chedid Jafet, nº 222, bloco A, 5º andar, Vila Olímpia, São Paulo/SP,
CEP 04551-065;
12. PepsiCo Foods do Brasil, CNPJ nº 31.565.104/0001-77, sito na Rua
Verbo Divino, nº 1661, Chácara Santo Antônio, São Paulo/SP, CEP 04719-
002;
13. Refricon Mercantil Ltda., CNPJ nº 64.494.149/0001-57, sito na
Rodovia Régis Bittencourt, km 294, Potuvera, Armazem 02, Itapecerica da
Serra, CEP 06850-000;
14. Coca-cola Indústrias Ltda., CNPJ nº 45.997.418/0001-53, sito na
Praia do Botafogo, nº 374, 12º andar, Rio de Janeiro/RJ, CEP 22250-907;
15. Frango – Macedo Tyson do Brasil Agroindustrial Exportadora
Ltda., CNPJ 83.044.016/0001-23, Rod Br 101, 0 Km57 | Ponto Alto - SC,
CEP: 89245-000 ;
16. Martin-Brower Comércio, Transportes e Serviços Ltda., CNPJ nº
49.319.411/0001-33, sito na Av. das Comunicações, nº 333, Parque
Industrial Anhanguera, Ed. E, sala 1, Osasco/SP, CEP 06278-900;
17. Brasil Gráfica Indústria e Comércio, NIRE nº 35203902211 e CNPJ
61.192.696/0001-90, sito na Alameda Tocantins, nº 490, Alphaville,
Barueri/SP, CEP 06455-020;
18. Lactalis do Brasil. CNPJ nº 14.049.467/0001-30. Rua Hungria, 1400,
1º Andar. Jardim Europa. CEP 01455-000 .
19. Polenghi Industrias Alimenticias Ltda. CNPJ: nº 24.949.232/0001-
59, sito na Rua Dr. Fernandes Coelho, 64, Pinheiros, São Paulo - SP, CEP:
05423-040.
20. Gessy Lever | Unilever Brasil Ltda. CNPJ: 61.068.276/0001-04. Av.
Presidente Juscelino Kubitschek, 1309, 1 Ao 12 Andar Parte 13 14 Andar
Vila Nova Conceição, São Paulo, SP, CEP 04543-011
21. Ambev S.A. CNPJ Nº 07.526.557/0001-00, sito na rua Doutor Renato
Paes De Barros, 1017, 3 Andar Edificio Corp. Park, Itaim Bibi, São Paulo,
SP, CEP 04530-001, pelas irregularidades na cadeia produtiva noticiadas
na mídia cujos documentos anexos constituem o elemento probatório,
consubstanciado nos motivos fáticos e de direito adiante explanados.
A. ESCLARECIMENTO PRÉVIO:
FORNECEDORES
O rol do pólo passivo é apresentado com esteio
nas informações prestadas pela própria empresa Arcos Dourados em
relação divulgada na mídia sobre os “melhores fornecedores sustentáveis”2
para o ano de 2012 (DOC.06) ou mesmo em trabalho acadêmico3
realizados por estudiosos sobre a complexa logística de suprimentos da Mc
Donald’s (DOC.07) e em matérias jornalísticas que ressaltam a conquista
de três fornecedores da Mc Donald’s (JBS, BRF e Unilever Food) que
conquistaram prêmio na área de sustentabilidade (DOC.34)4. As empresas
que compõem o pólo passivo são ou foram, incontroversamente,
fornecedoras da 1ª Ré, possuindo responsabilidade e devendo manter-se na
presente ação porquanto dentro do prazo prescricional.
Antes de ajuizar a presente ação, a entidade
sindical verificou se a empresa divulgou em seu site novamente o resultado
de “melhores fornecedores”. Localizou-se a campanha da empresa “além
da cozinha” (DOC.08) que tinha por finalidade demonstrar ao público em
geral sobre a “origem de alguns dos itens do cardápio dos restaurantes”.
Contudo, a empresa tirou do ar o site por motivos
desconhecidos5.
2
Disponível em: <http://www.marketwire.com/press-release/fornecedores-do-
mcdonalds-tiveram-um-progresso-extraordin%C3%A1rio-vencendo-desafios-em-todo-
nyse-mcd-1631428.htm>. Consulta em: 17.05.2016. 3
Disponível em: <http://www.simpep.feb.unesp.br/anais/anais_13/artigos/21.pdf>.
Consulta em: 30.05.2016. 4
Disponível em: <http://revistaecoturismo.com.br/turismo-sustentabilidade/tres-
fornecedores-do-mcdonalds-no-brasil-conquistam-premio-na-area-de-
sustentabilidade/>. Consulta em: 31.05.2016 5 Disponível em: <www.alemdacozinha.com.br>. Consulta em: 18.05.2016.
Esclarece-se previamente, pois, que a tutela
antecipada de exibição de documentos é requerida para que sejam aferidas
as novas empresas que passaram a compor a cadeia produtiva da empresa
Arcos Dourador, 1ª Ré, e que deverão responder pela reparação de danos,
como será demonstrado em tópico específico.
B. DA COMPETÊNCIA JURISDICIONAL
As violações afetam todos os trabalhadores da Ré
na base territorial do autor. Estabelece a OJ nº 130 da SDI2 do C.TST que:
130. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA. LOCAL DO
DANO. LEI Nº 7.347/1985, ART. 2º. CÓDIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR, ART. 93 (redação alterada na sessão do
Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) – Res. 186/2012,
DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012
I – A competência para a Ação Civil Pública fixa-se pela
extensão do dano.
II – Em caso de dano de abrangência regional, que atinja cidades
sujeitas à jurisdição de mais de uma Vara do Trabalho, a
competência será de qualquer das varas das localidades atingidas,
ainda que vinculadas a Tribunais Regionais do Trabalho
distintos.
III – Em caso de dano de abrangência suprarregional ou nacional,
há competência concorrente para a Ação Civil Pública das varas
do trabalho das sedes dos Tribunais Regionais do Trabalho.
IV – Estará prevento o juízo a que a primeira ação houver sido
distribuída.
A extensão do dano é regional e aplica-se a todos
os trabalhadores da Ré limitados à base territorial incontroversamente
representada pelo SINTHORESP e, controversamente, na capital São Paulo
em que há a tentativa de representação por parte do SINDIFAST. Ao que
se demonstra, por ser padronizado o modo de produção, tem-se que a
conduta empresarial é constatável em todo o território nacional.
Logo, a competência é concorrente deste r. Juízo
com aquelas da capital paulista (São Paulo/SP), bem como de outras Varas
do Trabalho distribuídas pela base territorial do autor em que se tem
notícias das irregularidades.
Contudo, a fim de facilitar a busca por
documentos que deverão instruir os autos desta ação, o autor lastreia o
entendimento da competência de Vossa Excelência com base no art. 100,
IV, “a”, CPC, em razão do lugar onde está a sede da empresa: “Art. 100. É
competente o foro: IV – do lugar: a) onde está a sede, para a ação em que
for ré a pessoa jurídica”.
Requer-se, portanto, a declaração de competência
jurisdicional de Vossa Excelência para dirimir o litígio existente a fim de
salvaguardar os interesses de trabalhadores que foram e ainda são
submetidos a trabalhos degradantes e de escravidão na 1ª Ré, bem como em
toda a sua cadeia de produção.
1. DO OBJETO DA AÇÃO
A presente ação é lastreada em provas
documentais e testemunhais que demonstram a existência de trabalho
degradante e escravo em face dos trabalhadores praticado pela empresa
Arcos Dourados (Mc Donald’s) e também por sua cadeia produtiva.
Desse fato, a entidade sindical em timbre requer:
primeiro, a condenação das empresas fornecedoras do Mc Donald’s
que integram a cadeia produtiva da 1ª Ré pela existência de trabalho
degradante e, em dadas situações, trabalho escravo praticado pela
Arcos Dourados em face de seus trabalhadores;
segundo, a responsabilidade da Arcos Dourados pela existência de
trabalho escravo em algumas das empresas de sua cadeia produtiva.
A imputação de responsabilidade civil solidária
pelo trabalho degradante e escravo na cadeia produtiva decorre da previsão
contida no art. 25, §1º e art. 34, ambos do CDC, bem como no art. 225 da
Constituição Federal, competindo a todas as empresas da cadeia produtiva
zelar por um meio ambiente equilibrado, o que não se verifica in casu.
De igual maneira, os arts. 1, III e IV; 5º, V,
XXIII; 8º, III, 170, III e 193 da Constituição Federal c/c art. 12, 18, 81 e 84
do Código Defesa do Consumidor e Convenções Internacionais n. 29 e 105
da OIT, ensejam a imputação de responsabilidade civil solidária de todos
os integrantes da cadeia produtiva da Arcos Dourados (Mc Donald’s) por
deixarem de zelar por um meio ambiente equilibrado e permitirem a
existência de trabalho degradante e escravo em empresas da cadeia
produtiva e, especialmente, na Arcos Dourados.
2. ORGANOGRAMA DA IMPUTAÇÃO DE
RESPONSABILIDADE CIVIL
Como visto, são duas as situações em que se
requer a imputação da responsabilidade civil da 1ª Ré e de todas as
empresas que compõem o pólo passivo da presente demanda:
1ª) A responsabilidade “descendente” da Arcos Dourados pela existência
de trabalho degradante e escravo em alguns das empresas que compõem a
sua cadeia de produção, a exemplo dos frigoríficos
Arcos Dourados Comércio de Alimentos
(Mc Donald’s)
Fornecedor Fornecedor Fornecedor
A culpa in eligendo (má escolha do fornecedor) e in vigilando (falta de fiscalização do
cumprimento das obrigações trabalhistas) é descendente em que a responsabilidade é do
tomador final dos produtos (Mc Donald’s) por deixar de zelar pelo meio ambiente
saudável e equilibrado de alguns de seus fornecedores e permitiu a existência de
trabalho degradante e escravo em sua cadeia de produção, a exemplo do que ocorre em
fornecedores frigoríficos.
2ª) A responsabilidade “ascendente” das empresas que compõem a cadeia
produtiva da Arcos Dourados pela existência de trabalho degradante e
escravo nas lojas desta (Mc Donald’s), especialmente porque os
fornecedores se utilizam da 1ª Ré como vitrine para a exposição de seus
produtos e auferem lucro
Arcos Dourados Comércio de Alimentos
(Mc Donald’s)
Fornecedor Fornecedor Fornecedor
Ao contrário do primeiro organograma, a culpa in eligendo (má escolha do vendedor
final de seus produtos) e in vigilando (falta de fiscalização do cumprimento das
obrigações trabalhistas) é ascendente em que a responsabilidade é dos fornecedores que
deixaram de zelar pelo meio ambiente saudável do revendedor de seus produtos (Mc
Donald’s) e permitiram a existência de trabalho degradante e escravo na loja que serve
como vitrine de seus produtos.
Portanto, a condenação de responsabilidade civil
pela existência de trabalho degradante e escravo nos presentes autos é uma
via de duas mãos, e solidária, sendo que no final todas as empresas que
integram o pólo passivo deverão responder pelas violações trabalhistas
existentes culpa in eligendo (má escolha de fornecedores e do vendedor
final dos produtos) e in vigilando (falta de fiscalização do cumprimento das
obrigações trabalhistas), devendo ser condenadas ao pagamento de dano
moral coletivo e social que se requer.
3. DELIMITAÇÃO DE
RESPONSABILIDADE CIVIL DOS
FORNECEDORES
Em relação aos fornecedores que não tiveram
trabalhadores flagrados na condição de trabalho degradante ou escravo, a
responsabilidade civil que lhes recai é exclusivamente pela omissão e
negligência quanto à conduta da empresa Arcos Dourados (Mc Donald’s)
em aviltar direitos.
No que se refere aos fornecedores que, sim,
tiveram trabalhadores flagrados na condição de trabalho degradante ou
escravo, a imputação de responsabilidade é dupla: primeira por sua própria
conduta ilícita direta (que não é pleiteada nesta ação porquanto foge da
categoria de representação do SINTHORESP, mas que permite a
imputação de responsabilidade da Arcos Dourados pela conduta desses
fornecedores) e segunda pela sua omissão e negligência, pleiteada nesta
ação, quanto à conduta da empresa Arcos Dourados (Mc Donald’s) em
aviltar direitos.
Assim sendo, requer-se a condenação de
absolutamente todas as empresas que compõem o pólo passivo pelo
trabalho degradante e escravo existente na Arcos Dourados Comércio de
Alimentos, não sendo pleiteada, por evidência, a reparação de danos das
empresas cujos trabalhadores foram flagrados em condições aviltantes e
que não integram a categoria representada pelo autor, devendo ser tutelado
pelo sindicato específico da categoria ou pelo Ministério Público do
Trabalho.
4. DO FUNCIONAMENTO DA CADEIA
PRODUTIVA E RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA
Por definição6: “Cadeia produtiva é um conjunto
de etapas consecutivas pelas quais passam e vão sendo transformados e
transferidos os diversos insumos” (DOC.09).
6 PROCHNIK, Victor. Cadeias Produtivas e Complexos Industriais. Seção do
capítulo FIRMA, INDÚSTRIA E MERCADOS, do livro
HASENCLEVER, L. & KUPFER, D. ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL,
Como visto, o objetivo da presente ação é a
condenação das empresas ao pagamento de danos morais coletivos em
razão da responsabilidade solidária oriunda da cadeia produtiva, na
presente, encabeçada pela 1ª ré, Arcos Dourados Comércio de Alimentos
Ltda., que é o destinatário final dos produtos fornecidos pelas demais
empresas antes de chegar ao consumidor.
O dano praticado pela 1ª Ré é o aviltamento de
direitos trabalhistas. A 1ª ré é a responsável pela movimentação dos
produtos das demais empresas de todo o ramo produtivo, conforme
reiteradamente divulgado na mídia7 (DOC.10).
Ou seja, os produtores de pães, cultivadores de
alfaces, de carne bovina, frango e do plantio de batatas, são responsáveis
solidários pela redução de direitos das condições de trabalho e violam o
Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, entre outras
violações que serão demonstradas nesta denúncia.
Há a responsabilidade solidária que enseja a
condenação de todos da cadeia produtiva com esteio no art. 5º, V, XXIII,
170, III e 193 da Constituição Federal c/c art. 18 e art. 81, ambos do
Código Defesa do Consumidor.
O art. 18 do CDC c/c art. 264 e art. 942, ambos do
Código Civil, atribuem a responsabilidade solidária de todos aqueles que
violem direito de outrem (trabalhadores da cadeia produtiva) de modo que
todos os fornecedores e comprador final do produto responderão
solidariamente, assim como entendido pelo E.TRT 2ª Região8 (DOC.11)
Ed. Campus, 2002. Disponível em:
<www.ie.ufrj.br/cadeiasprodutivas/.../cadeias_produtivas_e_complexos_industriais.pdf
>. Consulta em: 17.05.2016. 7 Disponível em: <http://miriangasparin.com.br/2010/04/mcdonald%C2%B4s-
movimenta-cadeia-produtiva/>. Consulta em: 19.05.2016 8 EMENTA – RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA EMPRESA BENEFICIÁRIA
DA MÃO DE OBRA SEMELHANTE À DE ESCRAVO Tratando-se de ato ilícito e
de acordo com os artigos 264 e 942 do Código Civil Brasileiro, é possível a
responsabilidade solidária da empresa que, contratando pequena oficina de costura
sem lastro econômico e financeiro, obtém, ou presume-se que obtenha, elevado lucro
com mão de obra executada em condições precárias e semelhantes à de escravo,
ainda que seja apenas a beneficiária dos produtos finais fabricados pela trabalhadora
que condenou a empresa Collins pelo trabalho escravo em pequena oficina
de sua cadeia de produção (cuja fiscalização é mais difícil), o mesmo deve
ser aplicado à grandes empresas que compõem a cadeia produtiva da 1ª Ré,
cuja fiscalização é mais fácil e acessível.
É a Tripla Responsabilidade Corporativa (Ética,
Social e Ambiental) que justifica a presente ação para ver elidido o dano
causado à coletividade, sendo que a 1ª Pesquisa sobre Código de Ética
Corporativo do Brasil9 - desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Ética nos
Negócios com a base de dados da Revista Exame - define ética como
(DOC.12):
O comprometimento voluntário e permanente de uma empresa
em adotar e exercer a Ética nos Negócios contribuindo para o
desenvolvimento econômico, simultaneamente, com a
preservação ambiental e a melhora da qualidade de vida de
seus colaboradores e familiares, da comunidade local e da
sociedade como um todo, e assim, a empresa estará
avançando na direção da sustentabilidade. (g.n.)
Essa melhora da qualidade de vida dos
empregados não se verifica na cadeia produtiva por culpa de algumas
empresas que integram essa produção e, igualmente, da própria empresa
Arcos Dourados.
Para compreender o relacionamento colaborativo
da gestão do sistema e do processo de abastecimento da empresa Arcos
Dourados, utiliza-se o trabalho realizado por Mauro Vivaldini e Fernando
Bernardi de Souza10
(DOC.07) que definem a cadeia produtiva como:
Lambert et al (1996) e Cooper et al. (1997), em estudos sobre a
gestão da cadeia de suprimentos, parcerias e logística já
boliviana. (TRT/SP Nº 00001345-20.2010.5.02.0050 e 0000703-13.2011.5.02.0050,
acórdão nº 20140796333, 15ª Turma, Des. Rel. Jonas Santana de Brito, j. 11.09.2014,
DJe 23.09.2014) (g.n.) 9 Disponível em:
<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:3I_cAUyLthMJ:www.pesquis
acodigodeetica.org.br/2011/pdf/Pesquisa2011.pdf+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>.
Consulta em: 25-09-2012. 10
VIVALDINI, Mauro; SOUZA, Fernando Bernardi de. O relacionamento
colaborativo na cadeia de suprimentos do Mc Donald’s. XIII SIMPEP – Bauru, SP,
Brasil, 6 a 8 de novembro de 2006.
discutiam a importância das organizações estabelecerem
relacionamentos colaborativos na intenção de manter liderança e
crescimento de mercado.
(...)
Nesta linha, a empresa foco (cliente de supridores e operadores
logísticos) que tem o domínio da cadeia, deve estabelecer e
definir as relações, conceitos e cultura comercial que balizará sua
gestão na cadeia. Aliado a este pensamento, Peck (2000) chama
de estratégia coletiva a intenção de melhorar a habilidade de
cada agente em prever e entender-se as ações dos outros
membros da cadeia. Considerando ser este processo um arranjo
inter-organizacional complexo, é importante que a empresa
foco exerça a governança da rede, buscando estimular a
eficiência coletiva (TEIXERA et al, 2002).
(...) Estabelecer a cooperação da cadeia ajuda a ajustar a
demanda e melhorar a rentabilidade... a colaboração é baseada
em objetivos mútuos.
(...)
...a visão do processo colaborativo é ter os supridores,
produtores, distribuidores e clientes alinhados em prol de um
relacionamento cooperativo, para benefícios da cadeia e de cada
agente. Ou seja, adotar uma perspectiva externa, em que a
decisão das empresas deve considerar não somente sua
performance individual, mas de toda a cadeia.
(...)
Os fornecedores tornam-se tão dedicados à manutenção e
melhoria da qualidade do sistema como se fossem
propriedade do Mc Donald’s.
A extensão da cultura do Mc Donald’s à cadeia de suprimentos
pode ser entendida visualizando-se a rotina diária dos
funcionários dos fornecedores; por exemplo, nos centros de
distribuição da Martin-Brower no Brasil (Prestador de Serviços
Logísticos da rede no Brasil), os funcionários vêem mais os
símbolos do Mc Donald’s do que os da própria Martin-
Brower. O símbolo tradicional do Mc Donald’s está
espalhado por toda a companhia, desde os “broches”, caixas
movimentadas no armazém, cartazes de promoções nos
corredores principais, logotipos nos caminhões, até brindes
promocionais distribuídos nos restaurantes em cima das
mesas dos gerentes, e, o mais intrigante, alguns pensamentos
da filosofia de Ray Kroc estão presentes no vídeo
institucional da empresa. Embora, atualmente a Martin-Brower
tenha outros clientes, seu propósito principal, até então, é atender
o sistema Mc Donald’s, como citado por seus executivos.
(...)
Envolvidos no processo de abastecimento dos restaurantes, os
fornecedores trabalham com o foco de não haver ruptura no
fornecimento em momento algum. Ou seja, baseiam-se no fato
de que o cardápio do restaurante deve ser atendido
plenamente e o desejo de um item pelo consumidor não
atendido reflete em perda direta de venda. Este conceito é
forte e trabalhado com muita seriedade por todos os
fornecedores.
(...)
Algumas vezes, quando uma empresa não atinge o alvo de
lucro esperado na operação, discute-se meios para que ela
consiga equilíbrio e se mantenha no sistema. (g.n.)
Da referida lição, extrai-se que o interesse dos
fornecedores e varejista é coletivo de modo que o lucro é visado por todos
da cadeia produtiva e na hipótese de uma das empresas não conseguirem
alcança-la, as demais empresas debaterão para que seja alcançado o
equilíbrio e se mantenha no sistema.
Há solidariedade de interesses, logo de
responsabilidades.
Tanto no lucro e quanto no prejuízo todos
caminham no mesmo sentido. Na responsabilidade pela conduta de uma
das empresas que todas as demais deverão se articular.
A afirmação de que a cadeia produtiva lucra com
o sucesso de seu expositor é aferida quando se constata o interesse da
empresa em buscar por seus fornecedores (DOC.13):
McDonald's sonda preço/qualidade do FairTrade Nacional11
A McDonald's, líder no segmento de serviço rápido de
alimentação, sondou preços e qualidade do café Fair Trade
produzido por oito cooperativas e associações do Sul e da Zona
da Mata mineira durante a exposição anual da Specialty Coffee
Association of America (SCAA), em Atlanta, nos EUA. Este é o
11
Disponível em: <http://www.cafepoint.com.br/cadeia-produtiva/giro-de-
noticias/mcdonalds-sonda-precoqualidade-do-fairtrade-nacional-53596n.aspx>.
Consulta em: 11.10.2012.
segundo ano em que os produtores participam da missão
empresarial promovida pelo SEBRAE-MG ao evento. Em 2008,
os contatos feitos na feira resultaram na venda de 49 containers
de café, o que corresponde a R$ 6 milhões em exportações.
A SCAA é o maior evento de cafés especiais do mundo e reúne
torrefadores, distribuidores, produtores e empresas de diversos
países. "É uma oportunidade para os cafeicultores mineiros
mostrarem a qualidade dos produtos e para grandes compradores
conhecerem as novidades do mercado", explica a analista da
Unidade de Acesso a Mercados e Relações Internacionais do
SEBRAE-MG, Raquel Brasil.
(...) Eles seguem regras de padrão internacional na gestão da
cadeia produtiva e comercial no que se refere ao meio
ambiente, a normas trabalhistas e à legislação. "A certificação
é o primeiro passo para expandirmos a comercialização do nosso
produto", diz André... (g.n.)
É a própria cadeia produtiva confessando que
possui responsabilidade trabalhista em relação às empresas que integram as
relações de comércio.
A solidariedade de responsabilidade e interesses é
facilmente constatada em notícias divulgadas na mídia onde se verifica que
a Arcos Dourados “consome mundialmente mais de um milhão de
toneladas/ano em volume de carne bovina e no Brasil, em 2011, a empresa
comprou 25 mil toneladas, tendo como fornecedores o frigorífico Marfrig e
a BRF”12
(DOC.14).
O lucro é, declaradamente, de toda a cadeia
produtiva que é responsável pela fabricação de sanduíches para a venda à
varejo13
(DOC.15): “O fato de os dois sanduíches serem oferecidos em
outros países demonstra a nossa sinergia e a capacidade da cadeia produtiva
do McDonald’s na região, complementa Gnypek” (g.n.).
Todas as demais empresas que vendem seus
produtos na empresa Arcos Dourado conseguem, igualmente, auferir lucro
12
Disponível em: <http://www.beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/entrevistas/celso-
cruz-diretor-de-supply-chain-do-mcdonalds-fala-sobre-hamburguer-angus-produtos-
premium-e-perspectivas-do-mercado-brasileiro/>. Consulta em: 19.05.2016. 13
Disponível em:
<http://www.yodci.com.br/novidades.kmf?cod=15523163&indice=6>. Consulta em:
19.05.2016.
com os atos praticados pela 1ª Denunciada. Ou seja, a empresa Arcos
Dourados serve de vitrine para os produtos da cadeia produtiva. Logo, a
cadeia deve ser responsabilizada (art. 18, CDC) porque se vale daquela
empresa para majorar o seu faturamento.
Como visto, a condenação deve ser imputada a
toda cadeia produtiva por se tratar de responsabilidade civil em uma via de
duas mãos com o pedido de responsabilidade das 2ª à 15ª demandadas
pelos danos causados pela 1ª ré, bem como que seja deferida a condenação
da empresa Arcos Dourados pelas violações cometidas por seus
fornecedores (integrantes da cadeia produtiva) em razão das práticas de
trabalho degradante e escravo, dentre outras, tal como será demonstrado.
5. ELEMENTOS GERAIS DA
RESPONSABILIDADE CIVIL E DO
TRABALHO DEGRADANTE E ESCRAVO
Como elemento geral, a presente ação está
pautada na já referida Tripla Responsabilidade Corporativa (Ética, Social e
Ambiental) pela qual se extraem os pressupostos gerais da responsabilidade
civil e o aspecto do trabalho degradante e escravo que afeta a cadeia
produtiva da empresa Arcos Dourados (Mc Donald’s).
5.1. ELEMENTOS GERAIS DA
RESPONSABILIDADE CIVIL
Sobre a responsabilidade civil, leciona Pablo
Stolze e Rodolfo Pamplona14
que: “...os elementos básicos ou pressupostos
gerais da responsabilidade civil são apenas três: a conduta humana
(positiva ou negativa), o dano ou prejuízo, e o nexo de causalidade...”.
A análise da presente petição deve ser realizada
de acordo com os requisitos ensejadores da imputação da responsabilidade
14 GAGLIANO, Pablo Stolze et PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, pág. 25.
civil da empresa Arcos Dourados pela conduta das Rés e vice versa por
meio dos elementos:
a) o nexo causal;
b) a conduta ilícita e;
c) o dano.
Cada uma das atribuições de responsabilidades
será individualizada mais adiante no que se refere a:
1º) responsabilidade civil da 1ª Ré pelos atos praticados por sua
cadeia produtiva;
2º) responsabilidade civil da cadeia produtiva com os atos
praticados pela 1ª Ré.
Contudo, em ambas as situações a conduta ilícita
encontra-se idêntica em razão da existência da culpa in vigilando (falta de
fiscalização do cumprimento das obrigações trabalhistas) e in elegendo (má
escolha do fornecedor e, de outro lado, do vendedor final dos produtos).
Da primeira situação apresentada acima, tem-se a
culpa da empresa Arcos Dourados por optar pela compra de produtos de
um fornecedor flagrado em trabalho degradante e escravo. Da segunda
situação, há culpa dos fornecedores pela escolha de colocarem seus
produtos à venda no Mc Donald’s que pratica trabalho degradante.
O nexo causal apresenta-se com pequena variação
entre os casos mencionados e serão devidamente pormenorizadas em
tópicos específicos mais adiante.
Em relação ao dano, trata-se de:
dano moral coletivo pela existência de trabalho degradante e, em
algumas situações, trabalho escravo praticado pela 1ª Ré (Mc
Donald’s) em face de seus trabalhadores que compõem a categoria
representada pelo Autor, e;
dano social em face pela existência de trabalho escravo e degradante
em empresas que compõem a cadeia produtiva da 1ª Ré cujos
trabalhadores não integram a categoria representada pelo autor.
Henri Mazeaud e Leon Mazeaud15
reconhecem a
possibilidade de um prejuízo coletivo, admitindo, por exemplo, que: “o
sindicato profissional pode agir para buscar reparação de um prejuízo que
não lhe foi pessoalmente causado, ou que não é causado somente a si a seus
membros, mas sim à profissão que representa”.
Em relação ao dano moral coletivo pleiteado pelos
atos praticados aos trabalhadores pela 1ª Ré (Mc Donald’s), a legitimidade
do autor é incontroversa a guisa do art. 8º, III, CF, porquanto se pretende a
reparação pelos danos causados aos trabalhadores que compõem a
categoria representada pelo sindicato em timbre.
Em relação ao dano social (causados pelas
empresas da cadeia produtiva cujos trabalhadores não são representados
pelo sindicato em timbre) podem surgir infundadas dúvidas acerca da
legitimidade da entidade sindical que deve ser prontamente afastada
porquanto assentado no art. 225 da Constituição Federal.
Além da legitimidade do autor em realizar o pleito
de reparação por meio da presente ação lastreada no referido art. 225, CF,
há que ser alvitrado que o SINTHORESP é integrante da Comissão de
Erradicação do Trabalho Escravo no Estado de São Paulo (COETRAE).
A entidade em timbre foi convidada para debater
sobre o trabalho escravo, passando a se tornar membro integrante da
Comissão Estadual para Erradicação do Trabalho Escravo de São Paulo
tendo sido publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo16
(DOE) nº
173, de 13.09.14, Seção 1, pág. 4 (DOC.16), bem como divulgado na
mídia17
: “O Sinthoresp, Sindicato dos Trabalhadores em Gastronomia e
Hospedagem de São Paulo e Região é uma entidade participante no
combate à exploração sexual e trabalho infantil, atuando por meio a de uma
15
MAZEAUD, Henri; MAZEAUD, Leon. Traité Théorique et Pratique de la
Responsabilité Civile. Vol. II. Paris: Recueil Sirey, 1947, p. 721 – trad. Livre. 16
Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:-
tX_UGXPFrYJ:ftp://ftp.saude.sp.gov.br/ftpsessp/bibliote/informe_eletronico/2014/iels.
set.14/Iels175/E_RS-SJDC-36_120914.pdf+&cd=5&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>.
Consulta em: 12.05.2015. 17
Disponível em: <http://www.justrabalhista.biz/2014/10/sinthoresp-passa-compor-
como-membro-da.html>. Consulta em: 12.05.2015.
rede (COETRAE*, PETI*, MPT, entre outros.), o que possibilita um
combate mais efetivo por parte da sociedade e do governo”.
O SINTHORESP prossegue integrando a
Comissão atualmente e participa das deliberações tomadas pelo COETRAE
mensalmente (DOC.17). Hodiernamente, discute-se o Projeto de Lei nº
220/2012 que dispõe sobre o tráfico de pessoas com o objeto de
criminalizar essa forma de tratamento dado aos imigrantes.
Ainda no estado de São Paulo, o SINTHORESP
foi grande incentivador e participou dos debates sobre a Lei nº 14.946/2013
que dispõe sobre as empresas que forem flagradas com trabalho escravo
serão impedidas de realizar atividade empresarial, perdendo suas inscrições
no cadastro do ICMS.
Ou seja, o dispositivo constitucional preconiza
que a tutela do meio ambiente do trabalho compete a todos da sociedade,
sendo que no caso do SINTHORESP tal legitimidade se sobreleva em
razão de sua integração ao COETRAE. Como tal, o sindicato requer a
reparação do dano social pelo trabalho escravo e degradante das empresas
que integram a cadeia produtiva da Arcos Dourados, a ser convertida ao
FAT como será visto no tópico mais adiante.
Carlos Alberto Bittar Filho18
, que anteviu a
questão, define o dano moral coletivo:
...a injusta lesão da esfera moral de uma dada comunidade, ou
seja, é a violação antijurídica de um determinado círculo de
valores coletivos. Quando se fala em dano moral coletivo, está-se
fazendo menção ao fato de que o patrimônio valorativo de uma
certa comunidade (maior ou menor), idealmente considerado, foi
agredido de maneira absolutamente injustificável do ponto de
vista jurídico; quer isso dizer, em última instância, que se feriu a
própria cultura, em seu aspecto imaterial...
Tal como se dá na seara de dano moral individual, aqui também
não há que se cogitar de prova da culpa, devendo-se
responsabilizar o agente pelo simples fato da violação
18
BITTAR FILHO, Carlos Alberto. Do Dano Moral Coletivo no Atual Contexto
Jurídico Brasileiro. In Revista de Direito do Consumidor. Vol. 12. São Paulo: RT,
out–dez, de 1994, p. 55.
(damnum in re ipsa). (g.n.)
Apreciando violações aos direitos coletivos, o
Colendo Superior Tribunal de Justiça19
pacificou entendimento de que:
...a vítima do dano moral não é só, necessariamente, uma pessoa.
Nem só o indivíduo identificável pode ser titular de interesses
juridicamente tuteláveis. Nosso ordenamento reconhece a
existência de interesses difusos de valor inestimável
economicamente e que, se lesados, devem naturalmente ser
reparados.
De acordo com Ada Pellegrini Grinover20
:
Em pouco tempo, tornou-se clara a dimensão social desses
interesses. Surgia uma nova categoria política, estranha ao
interesse público e ao privado. Interesse público, entendido como
aquele que se faz valer em relação ao Estado, de que todos os
cidadãos são partícipes (interesses à ordem pública, à segurança
pública, à educação) e que suscita conflitos entre o indivíduo e o
Estado. Interesses privados, de que é titular cada pessoa
individualmente considerada, na dimensão clássica dos direitos
subjetivos, pelo estabelecimento de uma relação jurídica entre
credor e devedor, claramente identificados. Ao contrário, os
interesses sociais são comuns a um conjunto de pessoas, e
somente a estas. Interesses espalhados e informais à tutela de
necessidades coletivas, sinteticamente referíveis à qualidade de
vida. Interesses de massa, que comportam ofensas de massa e
19 “(...) É bem verdade que a doutrina francesa exigia a atuação, em juízo, de uma
pessoa moral (ou jurídica) como condição para a reparação do dano coletivo. Essa
exigência era calcada em princípios que não se justificam mais diante do
reconhecimento legislativo dos interesses transindividuais e, por isso, a lição desses
importantes tratadistas deve ser ajustada, mutatis mutandis, à realidade brasileira
contemporânea. Assim, diante das duas inafastáveis premissas aqui estabelecidas, a
saber, salvaguarda de interesses transinviduais e ressarcibilidade de danos extra-
patrimoniais, a única conclusão possível é que à lesão de um bem difuso, de titularidade
de entidades não personificadas supra individuais, que não pode ser reduzido a um
preço, corresponde a um dano moral difuso. Respeitosamente, ouso discordar das
premissas tomadas pela maioria da Primeira Turma, durante o julgamento do REsp
598.281, porque a vítima do dano moral não é só, necessariamente, uma pessoa. Nem
só o indivíduo identificável pode ser titular de interesses juridicamente tuteláveis. Nosso
ordenamento reconhece a existência de interesses difusos de valor inestimável
economicamente e que, se lesados, devem naturalmente ser reparados. (STJ, REsp
636.021/RJ, 3ª Turma, Min. Relatora Nancy Andrighi, DJe 03.06.2009) 20
GRINOVER, Ada Pellegrini. Significado social, político e jurídico da tutela dos
interesses difusos. in A marcha do processo, Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2000.
que colocam em contraste grupos, categorias, classe de pessoas.
Não mais se trata de um feixe de linhas paralelas, mas de um
leque de linhas que convergem para um objetivo comum e
indivisível. Aqui se inserem os interesses dos consumidores,
ao ambiente, dos usuários de serviços públicos, dos
investidores, dos beneficiários da previdência social e de
todos aqueles que integram uma comunidade
compartilhando de suas necessidades e anseios. (g.n.)
Também nesse item, Kazuo Watanabe21
entende
que:
...a necessidade de estar o direito subjetivo sempre referido a um
titular determinado ou ao menos determinável impediu por muito
tempo que os 'interesses' pertinentes, a um tempo, a toda uma
coletividade e a cada um dos membros dessa mesma
coletividade, como, por exemplo, os 'interesses' relacionados ao
meio ambiente, à saúde, à educação, à qualidade de vida, etc.,
pudessem ser havidos por juridicamente protegíveis. Era a
estreiteza da concepção tradicional do direito subjetivo, marcada
profundamente pelo liberalismo individualista, que obstava a
essa tutela jurídica. Como o tempo, a distinção doutrinária entre
'interesses simples' e 'interesses legítimos' permitiu um pequeno
avanço, com a outorga de tutela jurídica a estes últimos. Hoje,
com a concepção mais larga do direito subjetivo, abrangente
também do que outrora se tinha como mero 'interesse' na ótica
individualista então predominante, ampliou-se o espectro da
tutela jurídica e jurisdicional. Agora, é a própria Constituição
Federal que, seguindo a evolução da doutrina e da jurisprudência,
usa dos termos 'interesses' (art. 5º, LXX, b), 'direitos e interesses
coletivos' (art. 129, nº III), como categorias amparadas pelo
Direito.
Como bem alvitrou o C.STJ trazendo o conceito
de Planiol e Ripert: “o dano coletivo pode ser entendido como aquele que
sofre uma coletividade, sem o sofrer seus membros, senão como tais e
indiretamente”.
Logo, o dano é coletivo e independe de
demonstração de lesão individualmente sofrida por um ou por alguns
21
WATANABE, Kazuo et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor
Comentado pelos Autores do Anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2001, p. 740
trabalhadores.
O fato lesivo per si é a demonstração do dano
como será abordado na presente petição (damnum in re ipsa).
Assim sendo, muito embora se entenda que o
dano moral coletivo não exige a comprovação da culpa, para demonstração
dos ilícitos causados pela cadeia produtiva e que ensejam a condenação
solidária das empresas por Vossa Excelência, o Autor evidenciará os
requisitos da responsabilidade civil nos tópicos 6 (que se refere à
responsabilidade da Arcos pelos fornecedores) e 7 (que tange à
responsabilidade da cadeia pela Arcos) desta petição.
5.2. ELEMENTOS GERAIS DO TRABALHO
ESCRAVO E DEGRADANTE
O trabalho escravo contemporâneo é definido pela
doutrina22
como:
O estado ou a condição de um indivíduo que é constrangido à
prestação de trabalho, em condições destinadas à frustração de
direito assegurado pela legislação do trabalho, permanecendo
vinculado, de forma compulsória, ao contrato de trabalho
mediante fraude, violência ou grave ameaça, inclusive mediante
a retenção de documentos pessoais ou contratuais ou em virtude
de dívida contraída junto ao empregador ou pessoa com ele
relacionada.
De acordo com o cientista político e jornalista,
Leonardo Sakamoto, o trabalho escravo é viável por ser rentável para os
produtores (DOC.18). Eis o foco que deve ser combativo na presente
cadeia produtiva apresentada a Vossa Excelência23
:
22
SCHWARZ, Rodrigo Garcia. Trabalho escravo: a abolição necessária. São Paulo:
LTr, 2008, pág. 117/118. 23
Disponível em: <http://www.prsp.mpf.gov.br/prdc/prdc/prdc-informa/informativo-
especial-seminario-trafico-de-seres-humanos/trabalho-escravo-ainda-e-
economicamente-interessante-para-produtores-palestrantes-defendem-multas-pesadas-
para-tentar-erradicar-o-trabalho-escravo-no-pais>. Consulta em: 11.10.2012.
Na palestra de encerramento do seminário ``Tráfico de Seres
Humanos: desafios e perspectivas no enfrentamento´´ o tema
debatido foi o trabalho escravo. Em sua palestra, o jornalista da
ONG Repórter Brasil, Leonardo Sakamoto, explicou porque
ainda é viável economicamente manter pessoas em condições
análogas à escravidão.
(...) A procuradora do Trabalho, Denise Lapolla destacou em sua
exposição as situações de trabalho degradante e de trabalho
escravo. É trabalho degradante, e conseqüentemente escravo,
aquele em que a pessoa é sujeita a situações nocivas a saúde e
a dignidade humana.
(...) Em um paralelo com a apresentação de Sakamoto, o
procurador da República no município de São José do Rio Preto,
Álvaro Stipp, comentou que o interesse em manter a escravidão é
econômico. E para ele esse interesse gera a ``coisificação´´ da
pessoa humana. A dificuldade em se combater o trabalho escravo
é gerado pelo poder econômico e a influência que têm as pessoas
que empregam esse tipo de mão de obra.
Para Stipp, ``o detentor dos meios de produção toma posse
também da força de trabalho, `coisificando´ o ser humano´´... ``É
preciso enfiar a mão no bolso do criminoso´´, disse. (g.n.)
O Senado Federal24
, colocando em discussão a
escravidão moderna, divulga em seu site um quadro comparativo que
afirma ser mais lucrativo o sistema de exploração de trabalhadores
atualmente do que antigamente (DOC.19).
Entre os fatores que acarretam na imperiosa
conclusão estão os custos de recrutamento e a descartabilidade da mão de
obra, o relacionamento entre empregado e empregador, dentre outros:
24
Disponível em: <https://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/trabalho-
escravo/trabalho-escravo-atualmente/escravos-de-hoje-sao-descartaveis.aspx>. Consulta
em: 19.05.2016.
Como será demonstrado, as relações de trabalho
na Arcos Dourados (Mc Donald’s) e em algumas das empresas que
compõem a sua cadeia produtiva enquadram-se perfeitamente na
sistemática apresentada pelo Senado Federal no estudo em análise.
O Ministério do Trabalho e Emprego, por sua vez,
em cartilha elaborada sobre o trabalho escravo atual (DOC.20), ressalta
que: “De primeiro (a escravidão) era quando trabalhava apanhando. Hoje
é quando trabalha humilhado” (g.n.).
Em outro trecho o Ministério do Trabalho e
Emprego ressalta que: “Podemos definir trabalho em condições análogas à
condição de escravo como o exercício do trabalho humano em que há
restrição, em qualquer forma, à liberdade do trabalhador, e/ou quando não
são respeitados os direitos mínimos para o resguardo da dignidade do
trabalhador” (BRITO FILHO apud CAMARGO DE MELO) (g.n.)
Já sobre o trabalho degradante, a Orientação nº 04
da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo
(CONAETE/MPT), que constitui o Marco Jurídico-Institucional sobre o
trabalho escravo (DOC.21), estabelece que: “Condições degradantes de
trabalho são as que configuram desprezo à dignidade da pessoa humana,
pelo descumprimento dos direitos fundamentais do trabalhador, em
especial os referentes a higiene, saúde, segurança, moradia, repouso,
alimentação ou outros relacionados a direitos da personalidade,
decorrentes de situação de sujeição que, por qualquer razão, torne
irrelevante a vontade do trabalhador”.
O cipoal de normas internacionais que definem e
repelem o trabalho degradante e escravo moderno, que sustentam as razões
desta petição inicial, é ditado pela Convenção das Nações Unidas sobre
escravatura de 1926 (art. 1º)25
; a Convenção Suplementar sobre Abolição
da Escravatura, do Tráfego de Escravos e das Instituições e Práticas
Análogas à Escravatura, da ONU, o ano de 1956, conceitua a Servidão por
Dívida26
; o art. 4º e 5º da Declaração Universal dos Direitos Humanos de
194827
; o art. 6º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos de
196928
; art. 2º da Convenção Internacional nº 2929
e art. 1º da Convenção
Internacional nº 10530
, ambas da OIT.
25
Art. 1º: “Escravidão é o estado e a condição de um indivíduo sobre o qual se exercem,
total ou parcialmente, alguns ou todos os atributos do direito de propriedade”. 26
In verbis: “o estado ou a condição resultante do fato de que um devedor se haja
comprometido a fornecer, em garantia de uma dívida, seus serviços pessoais ou os de
alguém sobre o qual tenha autoridade, se o valor desses serviços não for
eqüitativamente avaliado no ato da liquidação de dívida ou se a duração desses serviços
não for limitada nem sua natureza definida.” 27
Art. 4°: “Ninguém será mantido em escravidão ou servidão. A escravidão e o tráfico
de escravos serão proibidos em todas as suas formas”.
Art. 5°: “Ninguém será submetido a tortura, nem a castigo cruel, desumano ou
degradante”. 28
Art. 6º: “Proibição da escravidão ou a servidão. 1. Ninguém pode ser submetido a
escravidão ou a servidão, e tanto estas, como o trafico de escravos, como o tráfico de
mulheres são proibidos em todas as suas formas”
Da legislação brasileira, tem-se a Constituição
Federal nos arts. 1º (dignidade da pessoa humana), art. 5º (função social da
propriedade, proibição de tratamento desumano), art. 7º (patamar mínimo
civilizatório), art. 170 (ordem econômica fundada na valorização do
trabalho humano e função social), art. 193 (ordem social fundada no
primado do trabalho) e art. 225 (meio ambiente do trabalho equilibrado).
Como será demonstrado nos tópicos seguintes,
alguma das empresas que compõem a cadeia produtiva foram flagradas em
trabalho degradante e mesmo escravo. De igual maneira, as condições de
trabalho existentes na empresa Arcos Dourados (Mc Donald’s) são
consideradas trabalho degradante e coadunam-se ao conceito previsto na
Orientação nº 04 da CONAETE/MPT, razão pela qual todas as empresas
deverão responder solidariamente pelo aviltamento das condições trabalho
por deixarem de zelar pelo meio ambiente do trabalho equilibrado do art.
225 da Constituição Federal.
6. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DA
ARCOS DOURADOS PELOS
FORNECEDORES
Neste tópico requer-se a condenação da empresa
Arcos Dourados (Mc Donald’s) pela existência de trabalho escravo e
degradante em algumas das empresas que integram a cadeia produtiva a
qual lidera.
A imputação de responsabilidade (conduta, nexo
causal e dano) da empresa Arcos Dourados pelo trabalho escravo e
29
Art. 2º: “Para os fins da presente convenção, a expressão trabalho forçado ou
obrigatório, designará todo trabalho ou serviço exigido de um indivíduo, sob ameaça de
qualquer qualidade, e para o qual ele não de ofereceu de espontânea vontade”. 30 Art. 1º: ”Todo País-membro da Organização Internacional do Trabalho que ratificar
esta Convenção compromete-se a abolir toda forma de trabalho forçado ou obrigatório e
dele não fazer uso: a) como medida de coerção ou de educação política ou como
punição por ter ou expressar opiniões políticas ou pontos de vista ideologicamente
opostos ao sistema político, social e econômico vigente; b) como método de
mobilização e de utilização da mão-de-obra para fins de desenvolvimento econômico; c)
como meio de disciplinar a mão-de-obra; d) como punição por participação em greves;
e) como medida de discriminação racial, social, nacional ou religiosa”.
degradante de sua cadeia produtiva está prevista no organograma
apresentado inicialmente da seguinte maneira:
Arcos Dourados Comércio de Alimentos
(Mc Donald’s)
Fornecedor Fornecedor Fornecedor
Repise-se que a culpa in eligendo (má escolha da
prestadora de serviços e, de outro lado, do vendedor final dos produtos) e
in vigilando (falta de fiscalização do cumprimento das obrigações
trabalhistas) é descendente em que a responsabilidade é do tomador final
dos produtos (Mc Donald’s) por deixar de zelar pelo meio ambiente
saudável e equilibrado de alguns de seus fornecedores e permitiu a
existência de trabalho degradante e escravo em sua cadeia de produção, a
exemplo do que ocorre em fornecedores frigoríficos.
Para melhor compreensão, apresenta-se primeiro
o nexo causal para somente depois demonstrar-se a conduta e o dano em si.
6.1. DO NEXO CAUSAL (DA 1ª RÉ EM
RELAÇÃO A CADEIA PRODUTIVA)
O liame subjetivo que liga a 1ª Ré aos eventos
danosos praticados por sua cadeia produtiva é o fato da empresa Arcos
Dourados ser, confessadamente, a tomadora final de serviços e produtos,
sendo a responsável pelos seus fornecedores, vinculando-se diretamente a
cada um deles por meio da fiscalização, elaboração e apresentação de
relatórios, sob a denominação, dentre outros, de “melhores fornecedores”
(DOC.07)31
.
31 Disponível em: <http://www.marketwire.com/press-release/fornecedores-do-
mcdonalds-tiveram-um-progresso-extraordin%C3%A1rio-vencendo-desafios-em-todo-
nyse-mcd-1631428.htm >. Consulta em: 19.05.2016.
Nas palavras da 1ª Ré (Mc Donald’s): "‘Um dos
nossos principais valores é levar a sério as responsabilidades que resultam
em ser um líder e usar o nosso tamanho, âmbito e recursos para fazer com
que o mundo se torne um lugar melhor. Em nenhum lugar este
compromisso é mais evidente do que em nossa rede de fornecimento’, disse
Jose Armario, vice-presidente executivo de Rede de Fornecimento,
Desenvolvimento e Franchising Global do McDonald's”32
.
A 1ª Ré é, pois, a tomadora final dos serviços e
produtos de sua cadeia produtiva.
Tal responsabilidade que decorre da confessada
condição de tomadora final é a necessária constatação das formas de
trabalho de todos os empregados em sua cadeia produtiva (art. 225, CF) e
não somente de responsabilidades socioambientais. É a Tripla
Responsabilidade Corporativa que deve ser analisada, especialmente em
seu aspecto social.
Por fiscalizar diretamente seus fornecedores e,
além disso, premiá-los, há o liame subjetivo da 1ª Ré com sua cadeia
produtiva. Antes de conceder o prêmio de melhor fornecedor, caberia à 1ª
Ré o cumprimento social da Tripla Responsabilidade Corporativa.
Trata-se, portanto, da aplicação da Teoria da
Causalidade Direta e Imediata – adotada pelo Código Civil em seu art. 403
– que liga a negligência da Arcos Dourados (Mc Donald’s) ao evento
danoso (flagrante de trabalho escravo e degradante em empresas de sua
cadeia produtiva) que deveria ter sido repelida pela 1ª Ré como
revendedora final dos alimentos produzidos pela cadeia produtiva.
Demonstrado o nexo causal, passa-se à análise da
conduta empresarial do Mc Donald’s, 1ª Ré, na culpa in vigilando e in
eligendo.
32 Disponível em: < http://www.marketwired.com/press-release/fornecedores-do-
mcdonalds-tiveram-um-progresso-extraordin%C3%A1rio-vencendo-desafios-em-todo-
nyse-mcd-1631428.htm>. Consulta em: 19.05.2016.
6.2. DA CONDUTA ILÍCITA (DA 1ª RÉ EM
RELAÇÃO A CADEIA PRODUTIVA)
Requer-se a condenação da 1ª Ré pela existência
de trabalho degradante e escravo em sua cadeia produtiva pela culpa in
eligendo (má escolha do fornecedor) e in vigilando (falta de fiscalização do
cumprimento das obrigações trabalhistas).
Há, nos termos do art. 186 do Código Civil,
negligência por ausência de adequada fiscalização pela violação de direito
de trabalhadores que causam danos à coletividade.
A Arcos Dourados optou por contratar seus
fornecedores, é uma escolha, sendo que a sua conduta ilícita está na
ausência de fiscalização adequada, tendo incorrido portanto, em má
escolha.
A 1ª Ré foi negligente ao deixar de apurar fatos
danosos, como o adiante demonstrado em relação a sua cadeia produtiva
mesmo com ampla divulgação da mídia como será demonstrado no tópico
seguinte.
Incide no caso em apreço, a culpa in vigilando
(falta de fiscalização do cumprimento das obrigações trabalhistas) e in
eligendo (má escolha do fornecedor) oriundas da negligência da 1ª Ré em
zelar pelo meio ambiente de trabalho de seus fornecedores que integram
sua cadeia produtiva, havendo imputação de responsabilidade solidária
contida no art. 264 e art. 942, ambos do Código Civil c/c art. 18 do CDC
pelos danos causados à coletividade.
6.3. DO DANO
Neste tópico, apresenta-se o dano praticado por
algumas empresas da cadeia produtiva para que se estabeleça a
responsabilidade da Arcos Dourados.
As fornecedoras da cadeia produtiva flagradas por
trabalho escravo e que integram a cadeia produtiva da 1ª Ré são: Brasil
Foods (BRF), JBS e Marfrig. Na reportagem anexa (DOC.22)33
há o relato
de que:
Acidentes de trabalho, jornadas exaustivas e inúmeros
desrespeitos à regulamentação do setor são situações frequentes
nos frigoríficos de Brasil Foods (BRF), JBS e Marfrig.
Frigoríficos das três empresas integram a cadeia produtiva de
grandes companhias do ramo alimentício no Brasil e no exterior,
sustentam as exportações de carne brasileira para mais de 150
países e contam com considerável apoio financeiro do governo
federal... Os frigoríficos investigados também são grandes
parceiros comerciais do McDonald’s, maior companhia de
fast-food do planeta e integrante do Pacto. Os hambúrgueres
da franquia no Brasil são produzidos com carne bovina oriunda
dos frigoríficos locais da Marfrig. A BRF fornece 100% do
frango para a franquia brasileira de restaurantes, além de bacon,
presunto e peito de peru em fatias... O McDonald’s informou à
Repórter Brasil que todos os seus fornecedores diretos
precisam assinar um Código de Conduta e passar por uma
auditoria independente... (g.n.)
Além do nexo causal que se verifica também
nesta reportagem, afere-se que o flagrante de trabalho escravo e degradante
mencionado na prova anexa, e na confissão declarada pela 1ª Ré à mídia, a
qual afeta os trabalhadores de empresas da cadeia produtiva.
A 1ª Ré alega possuir um Código de Conduta e
realizar uma auditoria independente, vinculando-se com o trabalho
degradante e escravo nas referidas empresas de sua cadeia produtiva.
Pautado em decisões judiciais e fiscalizações
trabalhistas, a mídia constatou que34
(DOC.23):
Quem trabalha em um frigorífico se depara diariamente com uma
série de riscos que a maior parte das pessoas sequer imagina.
Exposição constante a facas, serras e outros instrumentos
cortantes; realização de movimentos repetitivos que podem gerar
graves lesões e doenças; pressão psicológica para dar conta do
33
Disponível em: < http://pacto.reporterbrasil.org.br/noticias/view/425>. Consulta em:
20.05.2016. 34
Disponível em: <http://www.brasil247.com/pt/247/goias247/79871/ONG-denuncia-
trabalho-degradante-em-frigor%C3%ADficos.htm>. Consulta em: 20.05.2016.
alucinado ritmo de produção; jornadas exaustivas até mesmo aos
sábados; ambiente asfixiante e, obviamente, frio – muito frio.
No Brasil, os danos à saúde gerados no abate e no processamento
de carnes destoam da média dos demais segmentos econômicos.
São elevados os índices de traumatismos, tendinites, queimaduras
e até mesmo de transtornos mentais. (...)
...Em 2012, a ONG Repórter Brasil investigou a fundo as
condições impostas aos funcionários dos três maiores frigoríficos
brasileiros: Brasil Foods (BRF), JBS e Marfrig. O resultado,
apresentado nessa reportagem digital, mostra exemplos típicos da
realidade descrita acima. São dezenas de unidades industriais
condenadas na Justiça, interditadas, multadas ou processadas por
graves problemas na organização do trabalho...
Outra empresa que viola direitos trabalhistas e
que já passou por investigação do Ministério Público do Trabalho35
(DOC.24) e condenada pelo Judiciário é a BRF Foods, integrante da
mesma cadeia produtiva: “BRF Foods é condenada em R$ 65 milhões.
Empresa não pagava o período de troca de uniforme aos empregados...
Problemas – A BRF Foods é o estabelecimento frigorífico que mais gera
adoecimentos no Brasil, segundo levantamento feito pelo MPT. Força
tarefa verificou de janeiro a setembro de 2011, 25,7 mil licenças médicas
na unidade da empresa em Rio Verde, média de 95 atestados ao dia. Desse
total, 42 afastamentos foram causados por distúrbios osteomusculares...
Reincidência – A empresa já havia sido autuada em abril de 2012. Força-
tarefa do MPT constatou que a frigorífica não concedia intervalo de
recuperação térmica aos empregados que trabalhavam em câmaras frias. O
artigo 253 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê pausa de 20
minutos a cada uma hora e quarenta minutos trabalhados...” (g.n.)
Portanto, os danos aos trabalhadores são:
Acidentes de trabalho, jornadas exaustivas e inúmeros desrespeitos à
35
Disponível em:
<http://portal.mpt.gov.br/wps/portal/portal_do_mpt/comunicacao/noticias/conteudo_not
icia/!ut/p/c5/04_SB8K8xLLM9MSSzPy8xBz9CP0os3hH92BPJydDRwN_E3cjA88QU
1N3L7OgsFBfM6B8pFm8AQ7gaEBAt5d-
VHpOfhLQnnCQzbjVOppC5PHY5OeRn5uqX5AbURkckK4IAFiz3fc!/dl3/d3/L2dJQS
EvUUt3QS9ZQnZ3LzZfQUdTSUJCMUEwTzRHMjBJVDU1R0o2UlZKRzI!/?WCM_
GLOBAL_CONTEXT=/wps/wcm/connect/mpt/portal+do+mpt/comunicacao/noticias/b
rf+foods+e+condenada+em+r+65+milhoes>. Consulta em: 25-09-2012.
regulamentação do setor, exposição constante a facas, serras e outros
instrumentos cortantes, realização de movimentos repetitivos que podem
gerar graves lesões e doenças, pressão psicológica para dar conta do
alucinado ritmo de produção, jornadas exaustivas até mesmo aos sábados,
ambiente asfixiante e, obviamente, frio – muito frio que foram constatados
pela mídia no documento anexo.
Como fiscalizadora, tal como declara à mídia,
caberia à 1ª Ré dar efetividade ao art. 225 da Constituição Federal e
fiscalizar o meio ambiente de trabalho de suas fornecedoras que integram a
sua cadeia produtiva. Sua negligência e omissão é o dano que igualmente
afeta os trabalhadores de toda a cadeia de produção.
7. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS
FORNECEDORES (CADEIA PRODUTIVA)
PELOS ATOS PRATICADOS PELA
EMPRESA ARCOS DOURADOS
(TOMADORA FINAL)
Neste tópico requer-se a condenação das empresas
que integram a cadeia produtiva pelos atos praticados pela Arcos Dourados
(Mc Donald’s).
A partir deste momento, passará a ser analisada a
imputação de responsabilidade (conduta, nexo causal e dano) dos
fornecedores da cadeia produtiva pela conduta da empresa Arcos Dourados
por prática de trabalho degradante. No organograma apresentado
inicialmente, tem-se:
Arcos Dourados Comércio de Alimentos
(Mc Donald’s)
Fornecedor Fornecedor Fornecedor
Ao contrário do tópico acima, a culpa in eligendo
(má escolha do vendedor final dos produtos, Mc Donald’s) e in vigilando
(falta de fiscalização do cumprimento das obrigações trabalhistas) é
ascendente em que a responsabilidade é dos fornecedores que deixaram de
zelar pelo meio ambiente saudável do revendedor de seus produtos (Mc
Donald’s) e permitiram a existência de trabalho degradante e escravo na
loja que serve como vitrine de seus produtos.
É neste tópico que surge a responsabilidade civil
das empresas que integram a cadeia produtiva do Mc Donald’s pelos atos
praticados por esta em relação aos seus trabalhadores. É a lógica inversa do
tópico anterior, uma via de duas mãos.
Seguindo-se a lógica de apresentação dos
requisitos acima, tem-se o nexo causal, a conduta ilícita e o dano.
7.1. DO NEXO CAUSAL (DA CADEIA
PRODUTIVA EM RELAÇÃO A ARCOS
DOURADOS)
O liame subjetivo que liga as empresas
fornecedoras (cadeia produtiva) aos eventos danosos praticados pela Arcos
Dourados é o ato volitivo de venderem seus produtos à 1ª Ré.
O nexo causal é a opção dessas empresas que
integram o pólo passivo fornecerem seus produtos ao Mc Donald’s sem a
preocupação mínima de zelar pelo ambiente de trabalho, olvidando-se das
reiteradas condenações judiciais impostas contra a Arcos Dourados, as
elevadas autuações do Ministério do Trabalho e Emprego, inúmeras
manifestações sindicais e as incontáveis investigações realizadas pelo
Ministério Público do Trabalho por violação trabalhista amplamente
divulgada na imprensa.
Por amostragem, tem-se as ações judiciais e
administrativas em que se litiga ou investiga as irregularidades cometidas
pela empresa Arcos Dourados, a saber:
Dumping social em que o SINTHORESP e outras entidades sindicais
do Brasil e Centrais Sindicais litigam judicialmente questões
relacionadas à supressão sistemática de direitos trabalhistas dos
empregados acarretando em trabalho precário, com o intuito de obter
vantagem sobre os seus concorrentes de mercado, nos autos do
processo nº 0000194-08.2015.5.10.0022 que tramita perante a 22ª
Vara do Trabalho de Brasília;
Regularização do sistema de cargos e funções na empresa, a fim de
evitar o acúmulo de função e a realização de atividades insalubres
nas lojas da rede Mc Donald’s. A ação foi movida pelo
SINTHORESP e outras entidades sindicais do Brasil e Centrais
Sindicais nos autos do processo nº 0000355-45.2015.5.10.0013 que
tramita perante a 13ª Vara do Trabalho de Brasília;
Ação civil pública ajuizada pelo MPT perante a 17ª Vara do
Trabalho de Curitiba/PR, processo nº 0001957-95.2013.5.09.0651,
Mc Donald ‘s foi condenado por sentença a não mais utilizar
menores de idade em atividades insalubres e/ou perigosas, tais como
chapa quente, fritadora de batatas e limpeza de banheiros das lojas;
Ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho
perante a 01ª Vara do Trabalho de Praia Grande/SP, processo n.º
1000410-98.2015.5.02.0401, o objeto é a fraude no controle de ponto
de jornada de trabalhadores menores de idade;
Ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho
perante a 07ª Vara do Trabalho de Natal/RN, processo n.º 0001415-
65.2015.5.21.0007, cujo objeto é o desvio de função sem o
pagamento devido dos adicionais de insalubridade e de caixa aos
atendentes de restaurante das lojas McDonald´s;
Ação civil pública - 12ª Vara do Trabalho de Goiânia/GO, processo
n.º 0010510-54.2016.5.18.001, cujo objeto é a obrigação da empresa
em fazer cessar o assédio moral dos gerentes das lojas contra os
empregados em razões de condutas humilhantes, constrangedoras e
abusivas do poder de comando e contra o controle abusiva e
proibição das idas e vinda ao banheiro durante a jornada de trabalho
– liminar concedida para que cesse imeditamente as práticas de
assédio moral nas lojas Mc Donald´s;
Extinção da jornada móvel e variável, que se subdividem em:
Em relação à fixação de horários nos contratos de trabalho de
seus empregados, prevista em acordo coletivo celebrado com
o SINTHORESP que foi descumprido pela empresa, litigado
nos autos da Ação de Cumprimento nº
00012369620145020201 que tramita perante a 1ª Vara do
Trabalho de Barueri;
Ação civil pública movida pelo Ministério Público do
Trabalho - MPT perante a 11ª Vara do Trabalho de Recife/PE,
processo n.º 0001040-74.2012.5.06-0011, que resultou
na força-tarefa que será concluída nas próximas semanas e
poderá gerar uma multa de milhões contra o Mc Donald ‘s e
no descumprimento do acordo judicial sobre jornada móvel
variável, supressão do intervalo diário para descanso de 01
hora, supressão do intervalo interjornadas de 11 horas,
cumprimento de horas extras habituais e hora noturna sem
pagamento que foram objeto do acordo judicial, sendo que a
ACP prosseguiu apenas para julgar se é possível ou não ao
McDonald´s contratar empregados por jornadas diárias
inferiores a 08 horas legais com o pagamento proporcional do
salário-mínimo.
Passivo trabalhista da jornada móvel e variável de período
anterior ao acordo celebrado com o SINTHORESP
mencionado nos tópicos acima, litigado nos autos da ação
rescisória nº 00148762720135020000 que tramita perante o
E.TRT 2ª Região
Câmara de Gestão de Conflitos – litigado nos autos da ação de
cumprimento nº 00012369620145020201 que tramita perante a 1ª
Vara do Trabalho de Barueri em que a empresa deixou de indicar
seus representantes, conforme previsto no acordo coletivo firmado
com o SINTHORESP e descumprido;
Proteção ao Meio Ambiente do Trabalho que, igualmente, se
subdividem em subtópicos, conforme Proposta de Negociação em
anexo. Dentre outros que envolve o tema, está o pedido do
SINTHORESP de execução de acordo homologado nos autos da
Ação Civil Pública nº 05289009820065020080;
Em relação à retenção dolosa dos salários oriunda da análise dos
holerites em que a somatória de vencimentos não corresponde ao
valor total real dos vencimentos dos trabalhadores, liminar
concedida pelo juiz para que a empresa especificasse melhor o que
está sendo pago no holerite do trabalhador, litigado nos autos da
Reclamação Trabalhista por substituição processual nº
00029335520145020201 que tramita perante a 1ª Vara do Trabalho
de Barueri;
Pedido de abertura de inquérito civil contra o McDonald´s em
Fortaleza/CE assinada pelo SINTHORESP, Contratuh e Sindicato do
Ceará, a fim de apurar violações aos direitos dos trabalhadores nas
lojas Mc Donald ‘s na cidade de Fortaleza/CE, nos autos do processo
administrativo nº 001896.2015.07.000/4;
“Informação Sobre Infrações” fornecida pelo Ministério do Trabalho
e Emprego (MTE), extraída em 29/05/2015, constam 2.235 autos de
infração lavrados entre 2000 e 2015, e o que é ainda mais grave:
entre os anos de 2013 e 2015 a Ré foi autuada pelos fiscais do
trabalho em 717 oportunidades, estampadas em 126 folhas de
certidão;
“Certidão de Débitos Positiva” também fornecida pelo MTE em
29/05/2015 constam 485 infrações trabalhistas consolidadas entre
2001 e 2014, que serão objeto de execução pela Fazenda Nacional,
sendo que apenas nos anos de 2013 e 2014 foram 91 infrações
consolidadas em dívida ativa;
Em relação ao pagamento das diferenças salariais dos trabalhadores
oriundo das Convenções Coletivas do SINTHORESP e SINDIFAST,
litigado nos autos do processo nº 00679003620095020088 que
tramitou perante a 88ª Vara do Trabalho de São Paulo e atualmente
está no C.TST;
Denúncia promovida pelo SINTHORESP perante o Ministério
Público do Trabalho e autuada sob o nº 2638/2013 em face de
problemas advindos com a inscrição da empresa no Programa de
Alimentação do Trabalhador, demonstrando que o valor nutritivo das
refeições fornecidas aos trabalhadores é inferior aos detentos do
sistema prisional de São Paulo;
Denúncia promovida pelo SINTHORESP perante o Ministério
Público do Trabalho em relação ao trabalho escravo existente na
cadeia produtiva da rede Mc Donald’s, autuado sob o nº
000672.2013.02.000/0;
Denúncia promovida pelo SINTHORESP perante a Coordenadoria
Nacional de Liberdade Sindical do Ministério Público do Trabalho
em Brasília em que há a constatação da ingerência empresarial na
criação do SINDIFAST, agindo em aparente conluio para a
frustração de direitos trabalhistas assegurados em normas
imperativas, autuado sob o nº 39474/2013-63;
Denúncia promovida pelo SINTHORESP perante o Ministério
Público do Trabalho em São Paulo onde há a constatação da
ingerência empresarial na criação do SINDIFAST para suposta
frustração de direitos assegurados em normas imperativas do salário,
autuado sob o nº 1.34.001.001331/2014-27;
Denúncia promovida pelo SINTHORESP perante o Ministério
Público do Trabalho em que há a constatação de assédio sexual
dentro de estabelecimentos da empresa que supostamente adotou
conduta negligência ao permitir que isso ocorresse no interior das
lojas, autuado sob o nº 003430.2012.02.000/0;
Denúncia promovida pelo SINTHORESP perante o Ministério
Público do Trabalho com a notícia de que os trabalhadores eram
submetidos ao acúmulo de funções e violação ao descanso semanal
remunerado, autuado sob o nº 001426.2012.02.000/0;
Denúncia promovida pelo SINTHORESP perante o Ministério
Público Federal e autuada sob o nº 1.34.001.007159/2013-34 em
relação à suposta retenção dolosa dos salários dos empregados
oriundo da análise dos holerites em que a somatória de vencimentos
não corresponde ao valor total dos vencimentos dos trabalhadores;
Em relação à contratação de pessoas com deficiência física na
empresa, litigado nos autos da Reclamação Trabalhista por
substituição processual nº 03136003720085020201 que tramita
perante a 1ª Vara do Trabalho de Barueri;
Reclamação apresentada perante a Organização Internacional do
Trabalho informando a conduta antissindical decorrente do processo
trabalhista no tópico anterior sem numeração recebida até o
momento;
Melhorias e cumprimento da Participação nos Lucros e Resultados
com o respeito às formalidades da Lei nº 10.101/00 - litigado nos
autos da Reclamação Trabalhista por substituição processual nº
00019782420145020201 que tramita perante a 1ª Vara do Trabalho
de Barueri;
Representatividade sindical, litigado nos autos da Ação
Consignatória nº 583.00.2001.001986-6 da 5ª Vara Cível do Fórum
Central de São Paulo;
Audiência pública internacional ocorrida no Senado Federal em
20/08/2015, presidida pelo Senador Paulo Paim, em que o tema foi à
empresa Mc Donald ‘s com a participação de entidades sindicais e
parlamentares do Brasil e de mais 20 países (UGT, SEIU,
SINTHORESP, CONTRATUH, NOVA CENTRAL, CUT,
CONTRACS e Ministério Público do Trabalho) em que foram
realizadas denúncias de supressão dos direitos dos trabalhadores em
vários países;
Audiência pública ocorrida na Assembleia Legislativa em São Paulo
em 16/10/2015, presidida pelo Deputado Carlos Gianazzi, cujo tema
foi o “Trabalho Degradante” nas lojas McDonald´s, com a
participação da UGT, SEIU, SINTHORESP, CONTRATUH, NOVA
CENTRAL, CUT, CONTRACS, Ministério Público do Trabalho,
Ministério Público Estadual e dias fiscais do trabalho de São Paulo –
encaminhamentos finais do deputado foram: 1) ofício ao MPT
pedindo providencias acercas das irregularidades apresentadas na
audiência; pedido de abertura de CPI estadual (é necessário a
assinatura de 28 deputados estaduais para aprovação); constituição
de 02 Comissões uma de Direitos Humanos e outra de Direito do
Trabalho para investigar as denúncias e intimar a empresa para
esclarecimentos. Destaque para as fiscais do trabalho que
denunciaram a empresa afirmando que desde janeiro de 2015 até
hoje foram realizadas 1.100 fiscalizações positivas com
irregularidades trabalhistas;
97 autos de infração lavrados por fiscais do trabalho em 04 cidades
brasileiras entre 2015 e 2016, sendo que 24 autos de infração
referem-se a infrações contra menores de idade e em 11 autos de
infração foram constam que a empresa foi autuada pelas seguintes
infrações contra menores de 18 anos que foram flagrados operando
chapas e fritadeiras, em que os fiscais classificam como atividades
de “... risco de ocupacionais, que causam queimaduras provenientes
do contato de membros superiores com a chapa quente, respingos de
óleo, colocação e retirada de carnes, salga de carne, raspagem, e
limpeza da chapa (A chapa deve estar quente para higienização),
queimaduras provenientes do vapor gerado pelo contato da carne
com a chapa aquecida; e) queimadura e esmagamento proveniente
da prensagem de partes do corpo que eventualmente fiquem no
espaço localizado entre a placa superior e a placa inferior da chapa
no momento em que a primeira desce sobre a segunda; incêndio
provocado pela inflamação do óleo quente localizado na cuba.
Ressalta-se que o uso prolongado do óleo leva a redução da
temperatura de inflamação acarretando no maior risco de
incêndio.” Inclusive os fiscais do trabalho alegam nos autos de
infração anexos que: “Os acidentes com chapas e fritadeiras são
corriqueiros” sendo que um dos fiscais flagrou um menor “... com 17
anos de idade, trabalhava na fritadeira, fazendo batatas fritas. A
adolescente não laborava na condição de aprendiz. Essa atividade é
proibida aos menores de 18 anos, independentemente da utilização
de equipamento de proteção individual, nos termos do item 12.136 e
12.137 da NR 12.”
30 laudos periciais produzidos em ações individuais trabalhistas
movidas por ex-empregados das lojas McDonald´s, que concluem
que a limpeza de equipamentos como chapas, fornos e fritadeiras
exigem o contato com álcalis cáustico, razão pela qual restaria
configurada a insalubridade por contato químico, motivo pelo qual
os menores de idade não poderiam exercer tais atividades;
Relatório de Fiscalização produzido pela Secretaria Regional do
Trabalho do Estado de São Paulo em 04/05/2016, em que foram
relatadas as seguintes infrações cometidas pela Ré naquele estado
durante a “Operação Combativa ao Trabalho Infantil”: no ano de
2015 foram lavrados 268 autos de infração em que 816 adolescentes
foram flagrados exercendo atividades impróprias para a faixa etária
e; entre 2013 e 2016 foram lavradas 1.797 autuações das quais 1.235
foram lavradas a partir de 01/01/2015 o relatório ressalta que “...a
marca do trabalho no Mc Donald ´s é a alternância de funções
(através do rodízio diário em várias estações de trabalho diferentes)
e a execução das tarefas com rapidez e agilidade. Em outras
palavras, o trabalhador, num mesmo dia, ora labora na fritadeira,
ora atende clientes na frente do caixa, ora efetua a limpeza, etc”... e
que “...grande parte do contingente de empregados não aprendizes é
composto por adolescentes entre 16 e 17 anos...”;
Condenação da empresa Arcos Dourados Comércio de Alimentos
Ltda. em 09.10.2015 pela prática de dano social (dumping
social) proferida pelo juiz da 7ª Vara do Trabalho de Santos,
processo n.º 0000493-90.2015.5.02.0447 nos autos de reclamação
trabalhista individual;
112 sentenças tiradas de 401 reclamações trabalhistas (DOC.25)
ajuizadas contra a empresa entre 2013 e 2014, todas com as mais
diversas condenações da empresa em relação a jornada de trabalho,
que demonstram cabalmente que a empresa ainda continua utilizando
não apenas a jornada móvel e variável, como também não respeita o
intervalo intrajornada, não paga horas extras habituais a partir da 08ª
hora diária e 44ª semanal, não paga DSR corretamente, descontos
indevidos em holerites, salário abaixo do mínimo legal, problemas
de irregularidade de depósitos de FGTS, expedição de guias para
levantamento do seguro-desemprego e etc.
Inquérito Civil instaurado pelo MPF em março de 2016 contra as
empresas do Grupo Mc Donald ‘s sediadas na américa latina, Brasil,
Europa e EUA, por supostas violações a ordem econômica e
tributária no Brasil seguindo um modelo de negócio mundial
promovido pela empresa, nos autos do Procedimento Preparatório nº
1.34.001.005712/2015-66;
Elevada taxa de rotatividade na empresa investigada pelo Ministério
Público do Trabalho 2ª Região nos autos do processo administrativo
nº 002507.2016.02.000/6;
Violação na concessão do plano de saúde investigada pelo Ministério
Público do Trabalho da 2ª Região nos autos do processo
administrativo nº 002438.2016.02.000/3;
O dano praticado pelas empresas da cadeia
produtiva é a negligência e omissão, havendo acidentes de trabalho com
queimaduras em menores, tal como consta nos autos da ação nº 0001957-
95.2013.5.09.0651, mencionada acima.
Na referida ação houve inspeção judicial pelo
magistrado paranaense que constatou a existência de um funcionário
MENOR DE IDADE com queimaduras ocorridas na empresa e que mesmo
assim continuava no exercício desta função:
De bom alvitre destacar que o depoimento do
jovem trabalhador constante no laudo de inspeção deixa claro que o
acidente de queimadura ocorreu mesmo com o uso dos EPI´s, restando
evidente a ineficácia dos equipamentos protetivos fornecidos pela ré, assim
como destaca a condição periculosa e insalubre que os empregados
laboram.
Em outro caso, o laudo pericial faz a constatação
de mais um trabalhador com queimaduras ocasionadas pela utilização da
fritadeira (DOC.32):
Seguem outros 11 autos de infração lavrados pela
Secretaria de Inspeção do Trabalho envolvendo queimaduras de
trabalhadores (DOC.33).
O antecedente fático que, ligado pelo vínculo de
necessariedade ao resultado danoso, é a venda dos produtos para a empresa
Arcos Dourados sem o zelo pelo meio ambiente do trabalho desta (art. 225,
CF).
Enquanto as empresas da cadeia produtiva
prosseguirem vendendo seus produtos para a Arcos Dourados com
negligência ao ambiente de trabalho, as violações trabalhistas prosseguirão
e a exploração será imanente e despida de qualquer função social que
deveriam obedecer.
O embargo das fornecedoras ao Mc Donald’s é
uma conduta necessária para cumprirem a sua função social e exigir que a
1ª Ré faça o mesmo. A preocupação de fiscalização da cadeia produtiva
sobre a Arcos Dourados faz-se necessária a fim de zelar pelo meio
ambiente do trabalho previsto no art. 225 da Constituição Federal.
O liame subjetivo que, então, liga as empresas
fornecedoras aos eventos danosos é propriamente a venda de seus produtos
ao Mc Donald’s, negligenciando as condições de trabalho, devendo
responder solidariamente pelas violações aos direitos trabalhistas por força
do art. 264 e art. 942, ambos do Código Civil, bem como art. 18 do CDC.
7.2. DA CONDUTA ILÍCITA (DAS
EMPRESAS DA CADEIA PRODUTIVA EM
RELAÇÃO A ARCOS DOURADOS)
Requer-se a condenação de todas as empresas Rés
pela existência de trabalho degradante na empresa Arcos Dourados, 1ª Ré,
pela culpa in eligendo (má escolha do vendedor de seus produtos, Mc
Donald’s) e in vigilando (falta de fiscalização do cumprimento das
obrigações trabalhistas).
A conduta ilícita que enseja a imputação da
responsabilidade civil das fornecedoras é a simples venda de produtos para
a 1ª sem preocuparem-se com o meio ambiente de trabalho.
A culpa é, como visto, in eligendo por elegerem o
Mc Donald’s como comprador final de seus produtos e in vigilando por
deixarem de vigiar o meu ambiente do trabalho na 1ª Ré, ferindo a
obrigação contida no art. 225 da Constituição Federal.
7.3. DO DANO
Neste tópico, apresenta-se o dano praticado pela
Arcos Dourados para que se estabeleça a responsabilidade de todos os
fornecedores que integram a cadeia produtiva da empresa Mc Donald’s.
A 1ª Ré avilta as condições de trabalho. As
empresas da cadeia produtiva negligenciam e vendem (negligenciaram ou
venderam em algum momento no passado) produtos à empresa Mc
Donald’s, causando danos aos trabalhadores.
As empresas que integram a cadeia produtiva do
Mc Donald’s devem responder solidariamente pelos vícios na função social
da empresa Arcos Dourados, pelo aviltamento das condições de trabalho
porque escolhem, por vontade própria, vender seus produtos a esta 1ª Ré.
Eis, então, os prejuízos praticados pela empresa
Arcos Dourados que foram e são negligenciados pela cadeia produtiva:
Em recente pesquisa realizada perante o
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)36
verificou-se na certidão
denominado de “Informação Sobre Infrações” (DOC.26) que constam
2.235 autos de infração lavrados contra a Ré entre 2000 e 2015, e o que é
mais grave: entre os anos de 2013 e 2015 a Ré foi autuada pelos fiscais
do trabalho em 717 oportunidades.
Não bastasse isso, na “Certidão de Débitos
Positiva” também fornecida pelo MTE em 29/05/2015 (DOC.27), constam
485 infrações trabalhistas consolidadas entre 2001 e 2014, que serão
objeto de execução pela Fazenda Nacional, sendo que apenas nos anos de
2013 e 2014 foram 91 infrações consolidadas em dívida ativa em face
da Ré.
Os números acima indicados são alarmantes se
comparado com outras empresas. A Petrobrás, por exemplo, reconhecida
empresa do mundo petroquímico e uma das maiores empresas do mundo,
quando realizada idêntica pesquisa como feita com a empresa Arcos
Dourados, retorna com 57 folhas de autuações por auditores fiscais do
trabalho. Com a empresa MRV, com autuações até mesmo por trabalho
escravo, a pesquisa retorna com 61 folhas no site do MTE. Com a
empresa-ré McDonald´s, como já descriminado acima, a pesquisa retorna
com 126 folhas de autuações.
36
Disponível em: < http://consultacpmr.mte.gov.br/ConsultaCPMR/>. Consulta em:
09.06.2015.
Os 99 (noventa e nove) autos de infração anexos
(DOC.28) demonstram o menoscabo da Arcos Dourados com o
cumprimento da legislação trabalhista.
No relatório de fiscalização do Ministério do
Trabalho e Emprego (DOC.29) há a constatação de centenas de violações
aos direitos trabalhistas dos empregados das lojas Mc Donald´s nos anos de
2015 e 2016.
No dia 27 de setembro de 2012, o Jornal Brasil de
Fato (DOC.30) 37 demonstrou e comprovou a existência de condições
degradantes de trabalho em nítido dumping social por parte da empresa
Arcos Dourados Comércio de Alimentos Ltda., demonstrando uma lista de
irregularidades, a saber:
A Lista das Mc Irregularidades
Remunerações abaixo do salário mínimo,
utilização de jornada de trabalho ilegal,
falta de comunicação dos acidentes de trabalho,
fornecimento de alimentação inadequada,
não concessão de intervalo intrajornada,
ausência de condições mínimas de conforto para os
trabalhadores,
prolongamento da jornada de trabalho além do
permitido por lei,
assédio moral e sexual,
trabalhadores não remunerados.
Na referida matéria, o jornal esclarece que
“atraídos pela chance do primeiro emprego, milhares de jovens brasileiros
procuram a rede de restaurantes fast food McDonald´s para trabalhar. Eles
buscam a oportunidade de iniciar a vida profissional e conquistar
independência financeira. No entanto, pela pouca maturidade e falta de
experiência, esses jovens se veem submetidos a condições irregulares de
trabalho e têm usurpados seus direitos básicos”.
37
Disponível em: <http://www.sinthoresp.com.br/pdf-
releases/BDF_4e5_500_2012.pdf>. Consulta em: 01-10-2012.
É a dignidade da pessoa humana que deve ser
mirada, responsabilizando-se todos da cadeia produtiva que auferem lucro
pelas práticas da Arcos Dourados que lidera o ramo de negócio.
A responsabilidade da cadeia decorre do fato de
que a empresa final - que atua no varejo - funciona como expositora dos
produtos de seus fabricantes da cadeia produtiva, sendo estes os que lucram
com a venda de seus produtos expostos ao mercado.
A responsabilidade destes integrantes de uma
cadeia produtiva fere a dignidade da pessoa humana. Não se trata somente
de proibição de jornadas de trabalho exaustivas, mas todo e qualquer
trabalho degradante deve ser extirpado da sociedade cuja negligência dos
fornecedores, tal como se verifica in casu deve ser repelida e condenada.
Como afirmam que cumprem a legislação
trabalhista, faz-se necessário verificar se a empresa para qual vendem seus
produtos supostamente realiza o mesmo cumprimento, devendo, portanto,
responder pelas más condições de trabalho na empresa comercializadora de
seus produtos nos termos do art. 18 do CDC c/c art. 264 e art. 942, ambos
do Código Civil, e Convenções Internacionais n. 29 e 105 da OIT.
8. DA REPARAÇÃO DOS DANOS
Como visto acima, trata-se de dano coletivo e
dano social. A reparação desses danos ocorrerá de duas maneiras, a saber:
1ª) Dano Coletivo - Com o pagamento de indenização a ser
revertida em favor dos trabalhadores da 1ª Ré (Mc Donald’s) que
compõem a categoria representada pelo Autor;
2ª) Dano Social - Com o pagamento de indenização a ser
revertida para o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) pelo
dano social pela existência de trabalho escravo e degradante em
empresas que compõem a cadeia produtiva cujos trabalhadores
não integram a categoria representada pelo autor, mas que em
razão da conduta reprovável socialmente, as empresas deverão
reparar o dano.
Para melhor compreensão da distinção dos danos
pleiteados nesta ação, usa-se a tabela apresentada pela doutrina38
(DOC30):
O que se pleiteia, portanto, são o danos morais
coletivos (em favor dos trabalhadores representados pelo autor) e dano
social (em favor da sociedade por conduta socialmente reprovável das Rés,
especialmente em relação àqueles trabalhadores que não compõem a
categoria do autor).
Para a reparação do dano coletivo, nos termos do
art. 292, V, NCPC, requer-se que seja deferida a condenação de todas as
Rés pela prática danosa pela empresa Arcos Dourados, solidariamente a
esta (art. 18, CDC), ora sugerida no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais) a ser revertido em favor de cada trabalhador da empresa Arcos
Dourados, de pelo menos R$5.000,00 por empresa para cada trabalhador
do Mc Donald’s .
Ou seja, neste caso o dano coletivo se refere aos
trabalhadores da empresa Mc Donald’s, assistidos pelas entidades sindicais
autoras, sendo que todas as empresas rés, Arcos Dourados e todas que
38
NUNES PEREIRA, Ricardo Diego. Os novos danos: danos morais coletivos, danos
sociais e danos por perda de uma chance. Disponível em: < http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11307 >. Consulta em:
20.05.2016.
integram a cadeia produtiva que, igualmente, deverão ser condenadas ao
pagamento por sua culpa in eligendo (má escolha do vendedor final dos
produtos) e in vigilando (falta de fiscalização do cumprimento das
obrigações trabalhistas).
Para a reparação do dano social, requer-se que
Vossa Excelência se digne em condenar a 1ª pelas práticas danosas
ocorridas por algumas empresas da cadeia produtiva, ora sugerida no
importe de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) a ser revertido em favor
do Fundo Estadual de Defesa dos Interesses Difusos – FID – que tem por
finalidade a reconstituição dos bens lesados, preenchendo a exigência do
art. 13 da Lei nº 7347/85, a fim de viabilizar os mecanismos de prevenção e
o enfrentamento do trabalho escravo no Estado de São Paulo combatido
brilhantemente pela Comissão Estadual para a Erradicação do Trabalho
Escravo do Estado de São Paulo – COETRAE/SP (criado pelo Decreto
Legislativo nº 57.368/11), ou subsidiariamente ao FAT – Fundo de Amparo
ao Trabalhador.
Neste caso, ao contrário do dano moral coletivo
(referente aos trabalhadores da Arcos Dourados que integram a categoria
representada pelo autor), a empresa Mc Donald’s deverá ser condenada,
solidariamente com as empresas da cadeia produtiva (art. 18, CDC), pela
existência de trabalho escravo e degradante em sua cadeia produtiva em
razão de sua negligência e omissão, incorrendo na culpa in eligendo (má
escolha de fornecedores) e in vigilando (falta de fiscalização do
cumprimento das obrigações trabalhistas). Como a indenização decorre de
violações trabalhistas de empregados, por exemplo, de frigoríficos, que não
são representados pelo SINTHORESP, o valor deverá ser revertido ao
FAT, conforme requerido acima.
Assim, aguarda-se que Vossa Excelência, nos
termos do art. 8º, III, CF c/c arts. 81 e 82, IV do CDC, condene toda a
cadeia produtiva pelo trabalho degradante.
9. DO PEDIDO LIMINAR
Como visto, as empresas da cadeia produtiva que
compõem o pólo passivo desta demanda foram apresentadas com base na
relação de melhores fornecedores apresentada pela 1ª Ré à imprensa,
tratando-se de período pretérito e desconhecendo-se os atuais fornecedores.
As violações pleiteadas nesta ação são pretéritas e
atuais, razão pela qual se faz necessária a concessão da liminar para que a
1ª Ré exiba especificamente a relação completa e contratos de
fornecedores que integram a sua cadeia produtiva, especialmente no
que se refere às empresas39
(DOC.31):
a) operadoras da complexa malha logística (preparo, fornecimento,
transporte e abastecimento de alimentos)
b) fornecedoras de carnes bovinas
c) fornecedoras de carnes suínas
d) fornecedoras de carnes de aves
e) fornecedoras de peixe
f) fornecedoras de batatas
g) fornecedoras de pães
h) fornecedoras de guardanapos
i) fornecedoras de embalagens
j) fornecedoras de doces
k) fornecedoras de sal e açúcar
l) fornecedoras de óleo
m) fornecedoras de equipamentos
n) fornecedoras de vestuário
o) fornecedoras de produtos de limpeza
p) fornecedoras de software
q) outras fornecedoras que integram a cadeia produtiva
O fumus boni juris que lastreia o pedido do autor
é a existência de uma cadeia produtiva na empresa Arcos Dourados, 1ª Ré,
sendo que a fabricação e venda dos produtos a varejo é realizada por
diversas empresas que compõem a complexa malha logística da produção,
havendo notícia da existência de trabalho degradante e escravo em algumas
das empresas da cadeia produtiva que enseja a imputação de
responsabilidade civil solidária de todas as empresas que a compõem.
39
Conforme processo produtivo informado pela mídia que visitou a Food Town, ou
Cidade dos Alimentos da rede Mc Donald’s. Disponível
em:<http://www.terra.com.br/culinaria/infograficos/dentro-do-macdonalds/>. Consulta
em: 23.05.2016.
O periculum in mora decorre da possibilidade de
esquivo da 1ª Ré que, depois de notificada para contestar a presente lide,
oculte contratos de fornecedores para salvaguardar a sua cadeia produtiva,
sendo certo que a partir da distribuição desta ação judicial, será possível
que a empresa tenha o conhecimento de seu conteúdo, razão pela qual se
requer a concessão da liminar inaudita altera pars.
A fim de possibilitar a formação do Juízo de
Convencimento de Vossa Excelência, e nos termos do art. 399, III, NCPC,
a fim de que a 1ª Ré exiba os contratos e relação de seus fornecedores que
integram a cadeia produtiva dos últimos 10 (dez) anos a fim de que
integrem a lide na qualidade de Rés para responderem pelas condições de
trabalho existentes na relação de produção, bem como a fixação de
astreinte a guisa do art. 536 e parágrafos do NCPC, aplicado
subsidiariamente nos termos do art. 769, CLT, no importe sugerido de R$
10.000,00 (dez mil reais) por dia de atraso.
10. PEDIDOS
Ante tudo o quanto consignado, requer-se que
Vossa Excelência se digne em julgar TOTALMENTE PROCEDENTE a
ação para:
a) deferir a liminar requeria, nos termos do art. 300, NCPC c/c art. 536 e
parágrafos do NCPC, a fim de que sejam exibidos dos documentos
elencados na causa de pedir que têm por finalidade aferir todas as empresas
que integram a cadeia produtiva da Arcos Dourados, 1ª Ré, dos últimos 10
(dez) anos, com a efetiva cominação de astreintes no importe de R$
10.000,00 (dez mil reais) por dia sem prejuízo da determinação e expedição
de Mandado de Busca e Apreensão ------------------------------------ a apurar;
b) nos termos do art. 8º, III da Constituição Federal, requer-se que Vossa
Excelência se digne em JULGAR PROCEDENTE A AÇÃO para condenar
as demandadas ante a existência de culpa in eligendo (má escolha de
fornecedores e, de outro lado, do vendedor final dos produtos) e in
vigilando (falta de fiscalização do cumprimento das obrigações
trabalhistas), tendo em vista a existência de trabalho degradante e escravo
na 1ª Ré e em algumas das empresas que integram a cadeia produtiva que
tem como produtora final a empresa Arcos Dourados Comércio de
Alimentos Ltda., lastreado no art. 5º, V, XXIII, 170, III e 193 da
Constituição Federal c/c art. 18, 81 e 82 do Código Defesa do Consumidor,
bem como amparado no art. 186, 187 e 927, do Código Civil, para que haja
a condenação:
b.1) pelo dano coletivo, nos termos do art. 292,
V, NCPC, de todas as Rés pela prática danosa pela empresa Arcos
Dourados, que deverá responder solidariamente (art. 18, CDC), a ser
revertida em favor de cada trabalhador substituído. O dano deve ser pago
por todas as empresas rés que integram a cadeia produtiva por sua culpa in
eligendo (má escolha do vendedor final dos produtos) e in vigilando (falta
de fiscalização do cumprimento das obrigações trabalhistas), bem como
solidariamente pelo Mc Donald’s em relação aos contratos de trabalho
existente na 1ª Ré (tomador final dos serviços e produtos) a ser fixada por
Vossa Excelência que ora é sugerida (art. 536 e parágrafos do NCPC c/c
art. 769) de pelo menos R$5.000,00 por empresa para cada trabalhador do
Mc Donald’s .......................................................... R$ 5.000,00 por
trabalhador da Mc Donald’s;
b.2) pelo dano social, da 1ª Ré e solidariamente
dos fornecedores (art. 18, CDC), pelas práticas danosas ocorridas por
algumas empresas da cadeia produtiva a ser revertida em favor do Fundo
de Amparo ao Trabalhador. Neste caso, a empresa Mc Donald’s deverá ser
condenada e pagará pela existência de trabalho escravo e degradante em
sua cadeia produtiva em razão de sua negligência e omissão, incorrendo na
culpa in eligendo (má escolha de fornecedores) e in vigilando (falta de
fiscalização do cumprimento das obrigações trabalhistas). Como a
indenização decorre de violações trabalhistas de empregados, por exemplo,
de frigoríficos, que não são representados pelo SINTHORESP, o valor
deverá ser revertido em favor do Fundo Estadual de Defesa dos Interesses
Difusos – FID – que tem por finalidade a reconstituição dos bens lesados,
preenchendo a exigência do art. 13 da Lei nº 7347/85, a fim de viabilizar os
mecanismos de prevenção e o enfrentamento do trabalho escravo no Estado
de São Paulo combatido brilhantemente pela Comissão Estadual para a
Erradicação do Trabalho Escravo do Estado de São Paulo – COETRAE/SP
(criado pelo Decreto Legislativo nº 57.368/11), ou subsidiariamente ao
FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador, conforme requerido na causa de
pedir no importe sugerido (art. 536 e parágrafos do NCPC) no importe de
............................................................................................... R$ 500.000,00.
c) em razão da atuação da 2ª autora ser nacional e de acordo com a OJ nº
130 da SDI2 do C.TST, tendo em vista que o dano praticado é em todo o
Brasil, requer-se que Vossa Excelência se digne a estender os efeitos da r.
sentença a ser proferida para todo o país .................................. declaratório.
d) nos termos do art. 129 da Constituição Federal e Lei Complementar nº
75/93, requer-se que Vossa Excelência se digne em deferir a notificação do
Ministério Público do Trabalho para atuar na lide como autora ou mesmo
custos legis porquanto se trata de direito coletivo e difuso que lhe é de
atribuição legal e constitucional, competindo-lhe, igualmente, a tutela e, em
querendo, dar abrangência à outras categorias que não pertençam àquelas
representadas pelos autores (art. 8º, III, CF) por meio de aditamento à
petição inicial.
e) nos termos do Decreto Legislativo SP nº 57.368/11, requer-se que Vossa
Excelência se digne em determinar a notificação da Comissão Estadual
para a Erradicação do Trabalho Escravo do Estado de São Paulo
(COETRAE), com endereço sito no Pátio do Colégio, nº 148/184, Centro,
CEP 01016-040, São Paulo/SP, que tem por finalidade propor
mecanismos para a prevenção e o enfrentamento do trabalho escravo no
Estado de São Paulo para que, em querendo, participe da lide na qualidade
de litisconsorte assistencial do autor.
Requer-se que Vossa Excelência se digne em
deferir a NOTIFICAÇÃO da ré para tomar conhecimento da presente ação
e, em querendo, apresente sua contestação, incidindo os efeitos da revelia
caso quede silente de acordo com a Súmula nº 74 do C.TST.
Protesta-se, ainda, pela produção de todas as
provas em direito admitidos, especialmente depoimento pessoal nos termos
da Súmula nº 74 do C.TST e outras provas complementares que se façam
necessárias.
Os patronos no autor declaram, nos termos do art.
830, CLT, que as cópias anexas conferem com as originais.
Nos termos da Súmula nº 427 do C.TST, requer-
se que todas as publicações sejam feitas exclusivamente em nome do
advogado ANTONIO CARLOS NOBRE LACERDA, OAB/SP 114.565,
com escritório na Rua Taguá, nº 282, Liberdade, CEP 01508-010, São
Paulo/SP, que assiste o autor nos autos deste processo em epígrafe.
Dá-se à causa o valor de R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais) para fins de alçada.
Nesses termos,
pede deferimento.
São Paulo, 30 de maio de 2016.
ANTONIO CARLOS NOBRE LACERDA
OAB/SP 114.565
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