FACULDADE SÃO JUDAS TADEU CURSO DE PEDAGOGIA
THAISA BARBOZA DA ROCHA.
DINÂMICA INTERRELACIONAL FAMILIAR ENTRE OS IRMÃOS
Rio de Janeiro 2016.1
FACULDADE SÃO JUDAS TADEU CURSO DE PEDAGOGIA
THAISA BARBOZA DA ROCHA.
DINÂMICA INTERRELACIONAL FAMILIAR ENTRE OS IRMÃOS
Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso à Faculdade São Judas Tadeu como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura Plena em Pedagogia, sob a orientação do professor Artur M. Salles.
Rio de Janeiro 2016.1
TERMO DE APROVAÇÃO
THAISA BARBOZA DA ROCHA. DINÂMICA INTERRELACIONAL FAMILIAR ENTRE OS IRMÃOS
Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso à Faculdade São Judas
Tadeu como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura Plena em
Pedagogia, aprovado pela seguinte banca examinadora:
____________________________________________ Professor Me. Orientador Arthur Monteiro Salles
Faculdade São Judas Tadeu
____________________________________________ Professora Me. Cristiane Bomfim Cruz do Nascimento
Faculdade São Judas Tadeu
____________________________________________ Professora Especialista Denise Faria da Cunha
Faculdade São Judas Tadeu
Rio de Janeiro, 20 de Junho de 2016.
RESUMO Este artigo aborda as relações de competitividade entre os irmãos com o objetivo da investigação bibliográfica. Destacando a luta pela conquista de superioridade, motivado pelo inato humana rivalidade e estabelece uma inter-relação competitiva sendo clara ou oculta, em vários graus promovendo a formação de personalidade do individuo e sua posição na sociedade. Despertando no professor um olhar diferenciado para cada aluno, pois essa rivalidade poderá atingir seu cognitivo e seu afeto entre os colegas de sala de aula. Palavras-chave: Sentimento de superioridade. Competitividade entre irmãos. Rivalidade. Superação. ABSTRACT This article discusses the relative competitiveness of the brothers with the aim of bibliographic research. Highlighting the struggle for superiority, motivated by human innate rivalry and establishes a competitive interrelation being clear or hidden, to varying degrees promoting personality formation of the individual and their position in society. Arousing the teacher a different look for each student because this rivalry could reach their cognitive and their affection among classmates. Keywords: Sense of superiority. Competitiveness between siblings. Rivalry. Overrun.
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INTRODUÇÃO
O projeto foi pensado na intenção de relatar sobre o sentimento de
competitividade entre os irmãos e como esse relacionamento entre eles desperta
uma rivalidade mutua não declarada.
Almejando um esclarecimento mais amplo sobre o problema, foi escolhido
esse tema, que admite não só sob o ponto de vista psicológico, mais também um
olhar pedagógico, principalmente para nos despertar em como o educador pode
identificar através do comportamento do aluno o que essa rivalidade tem atingido,
seja através de suas notas, atitudes e comportamento.
Através de uma aula do Professor Arthur Salles sobre o sentimento
competitividade entre os irmãos e a influência de atitude dos pais, de acordo com
suas idades e seus papeis no meio inter familiar, ao longo da vida familiar dos filhos,
tomamos de base o autor Alfred Adler criador da Psicologia Individual.
Sabe-se que o ser humano desde cedo vivencia sua integração social,
inclusive sob influência do que ele mesmo desconhece, e passa anos construindo
sua personalidade, buscando um modo ideal para ser visto como alguém que “tem
poder”, Segundo Adler (1926).
Desse modo, ele iniciará sua participação no 1° meio social pós-familiar, ou
seja, na escola, já com um modelo de comportamento formatado no lar em seus
primeiros anos de vida. Consequentemente tenderá a interagir com seus colegas de
classe (ou “irmãos;” simbolicamente) e seus professores (figuras parentais), do
mesmo modo como fazia no ambiente de casa. Isso poderá gerar repercussões
emocionais atingindo suas relações interpessoais no âmbito escolar e até mesmo o
seu rendimento escolar.
A luta pela conquista de superioridade, motivado pelo inato “desejo de poder”
humano, lança os irmãos em uma dinâmica de rivalidade e estabelece uma inter-
relação competitiva sendo clara ou velada, em maior ou menor grau, o que
influenciará também na formação de personalidade. Eis um comportamento que o
caracterizará em suas relações sociais doravante, na casa, na escola, nos grupos,
vida afora.
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Será que a competitividade entre irmãos, inerente a qualquer família, contribui
na sua formação de suas personalidades e realmente pode influenciar suas vidas
sociais? Esse projeto explorará e mostrará a inter-relação entre os irmãos à luz da
rivalidade e competitividade/colaboração entre eles com o objetivo de esclarecer sua
influência tanto no comportamento de cada um, na como inter-relação entre eles, e
também analisar como os pais influenciam nessa dinâmica competitividade.
Para a realização do projeto sobre o sentimento de competitividade entre
irmãos, dentro de casa, da escola e do sistema social mais amplo, foi necessária a
leitura e pesquisa de artigos científicos e livros, sobretudo a internet, que é hoje um
aliado para o desenvolvimento da leitura.
Como se trata de um tema pouco conhecido, o primeiro passo foi pesquisar
sobre o autor Alfred Adler e sua teoria, baseando-se também em um caso clínico
acompanhado pelo Professor e Doutor Arthur Salles.
A partir da pesquisa realizada foi possível concluir que o sentimento de
competitividade de fato interfere no relacionamento intrafamiliar, com
desdobramento importantes na vida escolar do aluno, em seu aprendizado e em sua
e vida social vida social mais ampla.Assim o filho que receba mais proteção e maior
investimento parental, por exemplo, tenderá a se tornar mais competitivo dentro da
sociedade e principalmente na escola interferindo no aprendizado e no afeto com os
seus colegas de turma transformando seu comportamento e regredindo em suas
notas.
A luta pela superação do sentimento de inferioridade se torna incansável, no
ambiente social em que o individuo esteja, pois eventuais feridas emocionais
dolorosas, como a rejeição e o desprezo, dentro ou fora do ambiente familiar
constroem desastrosas consequências, tornando-se ao mesmo tempo um obstáculo
e um incentivo para alcançar um lugar superior.
O individuo
Segundo Adler (1924) o individuo tem “imperfeições” em seus padrões
subjetivos, ou seja, feridas dolorosas deixadas ao longo da sua vida, principalmente
em seus primeiros anos. Isso inconscientemente direcionará o foco de uma luta
compensatória contínua que empreenderá de modo incessante na vida diária.
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O ”sentimento de compensação”, portanto, nada mais é do que um fenômeno
relativo ao “sentimento de inferioridade”, visto que no inicio da vida somos
fisicamente pequenos, desprovidos de poder e autonomia, e dominados por pessoas
superiores, tendo possivelmente que aceitar ordens sem nada impor. Será uma
espécie de luta pela sobrevivência iniciada para compensar o que supomos aserem
nossas fraquezas.
Adler afirma que “a compensação é uma reação adaptativa e positiva que nos
permite aproximar do nosso potencial total” (Adler, 1926, p.38), portanto a
incapacidade de fazer uma compensação imediata durante toda a infância é e pode
ser um fundamento de um sentimento de inferioridade.
Para o autor as experiências das crianças envolvem um sentimento de
fraqueza, frustração e insuficiência de repercussão global no universo subjetivo. Daí
decorre a luta para alcançar o poder, o respeito alheio, a visibilidade, ou seja, um
importante estímulo desde a infância para motivar todo nosso desenvolvimento.
Busca da Perfeição
Este autor denomina a “busca da perfeição” essa nova necessidade de suprir
os sentimentos de inferioridade, uma tentativa de obter poder e força para facilitar
uma adaptação melhor no sistema social. E para isso é necessário obter o
reconhecimento coletivo de nossa suficiência.
Decerto por sua frágil constituição física na 1ª infância, época em que foi
acometido por enfermidades seguidas debilitantes - o que lhe permitiu ensaiar seus
1° passos somente aos 4 anos de idade -, além do fato de ser um homem de baixa
estatura - chegou a ser chamado de “o baixinho de Viena“ -, este conjunto de
elementos fez com que Adler tivesse uma preocupação com a dimensão biológica e
com o aspecto físico. Enquanto Freud privilegiava a sexualidade, para Adler a
compensação e o interesse social são o mais importante.
Adler desenvolveu conceitos importantes para construção da personalidade
que são:
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Sentimento de inferioridade – é um sentimento de desvalor e incapacidade
inerente à criança, e que pode ou não ser maximizado em função de diferentes
condições;
Self - o “eu” subjetivo e inconsciente é um elemento primordial para a
construção da personalidade, ou seja, o individuo constrói a personalidade com as
suas experiências, dando sentido à sua vida e tornando-se ativo na vida humana;
Estilo de vida – padrão de conduta que torna cada individuo único, a sua
personalidade, para perseguir seu foco de vida;
Luta pela superioridade - com origem no primitivo instinto de sobrevivência
e, consequentemente, impulso de adquirir poder sobre o ambiente. É algo inato
também, e que direciona o foco do individuo na sua luta contra os obstáculos;
Interesse social- é alimentado pela experiência vivencial e a compensação
pela luta contra a fraqueza individual.
Adler (1926) deixa claro que os seres humanos são movidos e motivados por
marcas que tentam suprir, gerando uma luta mutua entre si numa dinâmica
relacional competitiva que tem como pano de fundo o sistema social.
De acordo com o criador de Psicologia Individual o estilo de vida de cada um
se desenvolve em função das relações entre pais e filhos, de acordo com o tamanho
da família, ou seja, a inter-relação entre os irmãos, da quantidade de filhos e de seus
papeis dentro da família.
O Sentimento de competitividade dos irmãos.
O fato e ser o mais novo, o do meio ou mais velho dentre os irmãos, tanto
quanto as mudanças que ocorrem com o nascimento de mais um, carregam uma
grande influência que vai direcionando a construção do estilo de vida daquele ser.
Como foi dito, o sentimento de inferioridade pode ou não ser intensificado em
inúmeras situações. Em outras palavras, pode ser em decorrência:
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De sua pequenez, em relação aos adultos ou aos irmãos mais velhos;
De sua dependência plena e necessidade de buscar segurança;
De sua falta de autonomia, e sua falta de domínio sobre si, sobre o
entorno e sobre os outros;
De sua inexperiência e, consequentemente, da incapacidade de
autodefesa;
De se encontrar na incômoda posição de ter que “obedecer” às ordens,
normas e determinações familiares, ao invés de estabelecê-las;
Das limitações impostas à sua liberdade, ou seja, às coisas que
simplesmente queria realizar seguindo os seus desejos;
Da qualidade, quantidade e intensidade do que recebe dos familiares:
elogios ou reprimendas, reforços ou punições, aceitação ou exclusão,
carinho ou desamor, acolhimento ou abandono, afetividade ou maus
tratos, valorização ou condenação, amparo ou rejeição;
Da repercussão familiar e social de seus atributos, ou seja, de como
suas características pessoais são encaradas naquela cultura. São
recebidas positiva ou negativamente? Em aprovação ou reprovação?
De modo inclusivo ou excludente?
Abaixo citamos exemplos de características individuas e algumas das
eventuais repercussões que possam vir a causar dentro de determinadas
características sociais:
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Físicas: deficiências físicas ou aberrações orgânicas que estigmatizem,
beleza física ou aparência exuberante;
Psíquicas: limitações cognitivas ou inteligência precária,
Elevada inteligência, padrão cultural;
Emocionais: apresentar atitudes geralmente valorizadas como
coragem, destemor ou segurança,
Demonstrar sentimentos que a maioria das sociedades condena como
medo ou fraqueza,
Sociais: ter como origem ou pertencer a um grupo com limitações
socioeconômicas (comunidades), ou a um bairro da periferia, a uma
cidade pequena do interior, ou a um país do 3° mundo;
Ser de uma classe social ou de um bairro, localidade, cidade ou pais
valorizados (1° mundo);
Religiosas: pertencer ou demonstrar inclinação por algum tipo de
religião que conte com o respeito comum,
Pertencer a um grupo religioso que possa despertar reações
preconceituosas: religiões afro-brasileiras, islamismo;
Étnicas: ser de origem étnica que desperte sentimentos ou atitudes
preconceituosas (comumente negros ou índios);
Ser de origem étnica que desperte reações de admiração (comumente
brancos),
Segundo Adler (1924, p.58):
a posição ordinal de uma criança na sua família é de particular importância mas é o significado que a criança atribui a situação é que vai realmente determinar de que modo essa posição ordinal vai influenciar o seu estilo de vida.
Ou seja, os próprios pais quando estabelecem os princípios familiares criam
uma atmosfera para a criança decidir o seu papel na família. Portanto, dependendo
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do ambiente, da integração e da visão de mundo, os filhos desenvolverão atitudes
bem diferentes.
O papel dos pais é primordial - esteja o filho na posição de mais novo, mais
velho, do meio ou dentre vários irmãos - e quando não sabem conduzir cada
situação, não raro criam uma situação de confronto estimulando a competitividade
entre eles.
O primeiro filho - enquanto ainda é único - é o centro de todas as atenções e
merecedor de toda a proteção e carinho, pois os pais de primeira viagem tentam de
todas as formas não errar em nada. Mas com a chegada de um segundo filho tudo
se transforma, colocando em risco o que foi construído para o primeiro, que passa a
se sentir ameaçado ou desprezado. De todas as formas a criança tentará recuperar
aquilo que foi perdido entre ela e seus pais, podendo regredir para todas as etapas
por que já passou, ou então se tornará extremamente exigente, por exemplo. Essa
luta nunca terá fim, seja num futuro imediato ou remoto, e seu objetivo será
recuperar o que foi perdido com a chegada de um irmão, um lugar privilegiado que
ocupava antes e que não reencontrará jamais. Tal como Rei que perdeu a
majestade, e ele tenderá a ser movido por um eterno sentimento de frustração, que
ao longo da vida irá remoê-lo sempre que se deparar com uma situação semelhante.
Assim, não lhe será confortável lidar e ultrapassar experiências de perda,
tanto quando se sinta depreciado, ou desrespeito, ou desvalorizado. Talvez, sem
saber exatamente o motivo, lhe surgirá um gosto amargo semelhante àquele que
sentiu quando lhe foram retiradas as regalias em favor de um inoportuno competidor
que acabara de nascer em forma de irmão.
Este será o seu perfil em casa com os irmãos, na escola, com os coleguinhas,
nos diversos grupos de que venha a participar nas relações de vida adulta, no
trabalho, e mesmo na família que eventualmente constitua, onde poderá se tornar
um defensor da hierarquia, zelando pelo seu poder e autoridade. Poderá também se
tornar fechado, desconfiando, evitando ou recusando o afeto e a aceitação alheia,
uma postura inconsciente de defesa, para não correr o risco de passar novamente
por aquela experiência de lhe serem retirados o que julgava serem seus direitos.
Este novo filho, paralelamente, encontrará um pouco mais de liberdade e
menos superproteção por parte dos pais, mais experientes, e que não pretendem
repetir as vivências e erros cometidos com o primeiro. De início não sentirá tanta
rivalidade em relação ao mais velho, que já estava ali quando ele chegou. Portanto,
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não viverá a experiência de ver sua supremacia absoluta ter que ser dividida com
um rival que chegou para ficar.
O caçula também experimenta o sentimento de inferioridade, seja devido aos
ataques dos mais velhos - quase sempre sutis e velados, longe dos olhos dos pais -,
seja por ser fisicamente pequeno e incapaz de enfrentá-los, seja por não gozar da
mesma independência e autonomia que eles, enfim, seja por uma série de coisas
que os pais ainda não deixam que faça por ser “ainda muito pequeno.” Por isso, vai
correr contra o tempo desejando que logo chegue o dia em que conseguirá alcançar
os irmãos, o que logicamente nunca ocorrerá, pois quando finalmente for para a
escola os outros já estarão em graus mais avanços, e assim sucessivamente.
O filho do meio poderá ser mais livre, ou, quem sabe, livre demais...
Popularmente chamado de “filho sanduíche”, ou seja, entre os “direitos do
primogênito” e as “gracinhas do caçula”, o filho do meio irá supor que a “fatia do bolo
afetivo” que lhe foi dada pela família é menor do que as dos outros. Empregará um
esforço extra na ilusória tarefa de alcançar o mais velho, para enfim obter o
reconhecimento parental de seu verdadeiro valor. Obviamente, jamais conseguirá
alcançar o irmão mais velho, pelo menos durante a infância e a adolescência.
Adler batizou de “Complexo de Caim” – utilizando-se da imagem do fratricídio
bíblico – este sentimento de inveja e competitividade entre os irmãos, inerente a
qualquer família. O que varia é a intensidade dos afetos que os aproximam (amor)
ou os afastam (ódio). Assim, haverá sempre um vínculo afetivo ambivalente
(amor/ódio) em qualquer relação fraternal, variando apenas a intensidade e a
proporção relativa de cada um desses sentimentos. Por conta disso, o filho do meio
também se sentirá preterido em relação ao caçula, cuja “fragilidade” pela sempre
menor idade sequestrará maior percentual de atenção e cuidados dos pais.
Consequentemente, por considerar sua posição dentro da família como
desvalorizada e injustiçada, tenderá a introjetar um sentimento de desamor e menos
valia que estará sempre presente no âmbito de suas relações. Compensatoriamente,
certo de que seu núcleo familiar não lhe deu a devida importância, mais cedo e mais
avidamente buscará reconhecimento para suprir seu vazio eterno, amargo e
incômodo.
Vida afora não compactuará com situações de injustiça, pois quando frente a
uma delas certamente se identificará com o injustiçado e sentirá emergir em si um
sentimento de revolta sem que saiba identificar bem. Poderá também se transformar
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num contestador ou num ativista de direitos humanos, ou num representante de
minorias, ou ainda em um advogado ou homem da lei que promova a justiça. Por
fim, na velhice avançada dos pais, será dentre os irmãos o que mais dará apoio e
melhor cuidará dos idosos, numa tentativa inconsciente de conseguir enfim o amor e
o reconhecimento dos pais que outrora lhe foram injustos.
O comportamento do segundo filho, se dominado por este sentimento de
menosprezo, poderá ser focado em metas extremamente altas desprezando as
pequenas conquistas.
Com a chegada de um terceiro filho a visão se transforma. Torna-se o caçula
o diferencial da família, gozando de todos os privilégios e regalias – pois é “tão
fragilzinho” e necessita de uma atenção maior -, crescendo mimado pelos pais,
pelas avós e até mesmo pelos irmãos mais velhos, fato que mais tarde poderá vir a
prejudicá-lo.
Bem como afirma Adler:
Seus pais convergem sobre ele todo seu zelo educativo e ele frequentemente torna-se dependente de outras pessoas para vencer as dificuldades em seus caminhos. (1967, p.143)
O filho mais novo também vivenciara situações peculiares, principalmente se
houver uma maior diferença de idade entre ele e o do meio. Não raro isto ocorre,
pois a maioria dos casais não se programa para ter mais de um ou dois filhos, sendo
comum que uma 3ª gestação ocorra mais tardia e inesperadamente ou, conforme se
diz popularmente, “surgiu por acidente”.
Caso esta distância etária seja um pouco maior poderá fazer com que os
sentimentos dos irmãos mais velhos se confundam e se tornem ambivalentes, ou
seja, por um lado haverá o referido sentimento competitivo, mas por outro lado já
estarão surgindo os 1ºs rudimentos do instinto protetor paterno/materno. Usualmente
referem-se a ele carinhosamente como “o meu irmãozinho (a)”, “maninha (o)” etc.,
não sendo mesmo incomum que o mais velho assuma algumas atitudes paterno-
maternais. Ademais, os pais já com um pouco mais de idade e experiência serão
menos rígidos e mais benevolentes.
Por esses motivos, a caçula receberá um percentual maior de atenção,
carinho, regalias ou até de “mimo”, uma espécie de filho único com vários “papais” e
“mamães”. São prerrogativas que fazem com que se sinta especial, o centro do
universo familiar, acostumando-se à ideia de ser autêntico merecedor de tudo.
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Tardiamente, contudo, ao ingressar nas relações sociais da vida adulta
apresentará dificuldade tanto em abrir mão das suas vantagens como em recolocar-
se numa posição de igual a todos, sem destaque em relação a qualquer um. Sofrerá
com as exigências imparciais do mundo adulto e relutará contra a perda da
“majestade”, posição que até então gozava. Consequentemente amadurecerá mais
tarde, principalmente se comparado ao irmão do meio que, julgando-se desamado
no mundo familiar, desde cedo partiu para “conquistar o mundo mais amplo”.
Decerto encontrará dificuldade em repartir com os outros, em assumir no
casamento uma posição igualitária em relação ao cônjuge, em aceitar os colegas de
trabalho como iguais. O mundo adulto o fará compreender através do sofrimento que
aquela agradável superproteção vivenciada durante a infância acabara por minimizar
a dimensão dos empecilhos inerentes à própria vida, falseando, assim, sua
verdadeira noção de esforço e enfrentamento.
Genericamente o sentimento de inferioridade se traduz por um sentimento
desagradável – ou mesmo neuroticamente opressivo – do qual a criança deseja se
livrar. Em decorrência poderá surgir um esforço de superação com um investimento
pessoal maciço para alcançar a meta que supõe suficientemente compensatória.
Quanto mais intenso o sentimento de inferioridade, maior e mais arrojada a meta a
ser alcançada. Contudo, a dimensão dessa meta pode ser amedrontadora, fazendo
surgir o efeito inverso, ou seja, a criança fica estagnada ou mesmo retrocede para
um nível de amadurecimento inferior pelo qual já tenha passado e transposto.
Nesse caso, o que se vê é uma criança que se mantém em sua posição de
vítima, ou então que se torna medrosa, evitando quaisquer tipos de situações em
que tenha que pôr à prova as suas capacidades, ou ainda excessivamente
dependente, incapaz de tomar decisões e atitudes sozinha, com um comportamento
de esquiva frente ao menor obstáculo.
Segundo Adler:
Não se torna menos ambicioso, mas adota a espécie de ambição que foca uma pessoa a desviar-se das situações satisfazendo-se em atividades estranhas aos problemas necessários da vida, com o fim de evitar o mais possível o perigo de ver postas em prova suas aptidões. (1967, p.140)
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Eis, portanto, a condição que Adler define como neurose:
Todas as aspirações autênticas do neurótico e todas as suas tendências caem sob a ditadura de sua política de prestígio (3, pg 50), ... sua excessivamente ardorosa aspiração a dominar os outros é que o enferma (3, p 58)
As principais ferramentas utilizadas são: a incapacidade, o fracasso e a
doença. São três das condições que mais atingem seus pais, responsáveis ou
professores, e geram mais dividendos emocionais. Ao incorporar qualquer dos três
modelos a criança implicitamente clama por auxílio, ajuda e proteção. Nada mais é
do que uma estratégia articulada pelo inconsciente, fora da percepção da
consciência, para manter os adultos “preocupados” e “com pena da criança,
coitadinha”. Com isso, três objetivos são alcançados:
1. Mantém o monopólio do afeto e das atenções dos adultos, afinal de contas
“trata-se de uma criança que precisa de todo o carinho e atenção”;
2. Elimina a concorrência fraterna (irmãos ou coleguinhas de sala),
teoricamente mais crescida e independente;
3. Consegue se isentar das suas incômodas obrigações, tarefas e
responsabilidades, afinal de contas “que adulto malvado irá obrigá-la a ir à escola,
fazer os trabalhos de casa ou arrumar os brinquedos espalhados...?”
Conscientemente a criança poderá mesmo desejar não estar doente, mas o
inconsciente entende que os lucros são maiores que as perdas.
Conforme explica Adler:
Em geral a enfermidade e o conceito de enfermidade significam para a criança mais do que acredita ordinariamente. Quem se disponha a estudar a alma infantil descobrirá que a enfermidade é para ela um acontecimento de máxima importância, e que, em quase todos os casos, o enfermar não lhe parece uma piora de vida, mas um alívio, e que inclusive chega a valorizar a enfermidade como um meio para conquistar ternura e poder, assim como certas vantagens na casa e na escola (3, p 359 e 350)
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Para exemplificar a questão será transcrito abaixo um caso estudado pelo
Professor Arthur Salles em sua clínica psicológica utilizando a interpretação dos
sonhos e dos desenhos da paciente.
Caso clínico: A Tosse de Marina Marina, feminina, 10 anos, 4ª serie do 1º segmento do 1º grau. Os sonhos principais são os que se seguem:
1º - “Papai está na aula de inglês comigo” (o pai é de fato professor de inglês);
2º- “Sonhei que mamãe morreu”;
3º- “um garoto (a sonhante informa que na realidade ele gosta dela) corria
atrás de mim. Daí aparece a minha colega de turma Joana (Marina diz que na vida
real ela gosta dele, mas ele prefere a mim; por isso ela me esnoba, é besta, acha ele
um mico)”.
Trata- se de aluna inteligente, mas calada, cujas notas variam entre “B” e
“C”. Ultimamente piorou em matemática. Chama a atenção da professora o contraste
entre a sua inteligência e o seu rendimento.
A mãe se preocupa com o fato da filha ter “tosse impertinente”, e não só com
o rendimento escolar sofrível. Por causa da tosse levou-a a pediatras diferentes, ao
otorrinolaringologista e fez radiografia dos pulmões que resultou dentro dos padrões
de normalidade. Tem sido medicada, mas corre sempre para a cama da mãe. Agora
a mãe o proibiu.
A menina repete ter medo de doença (não especifica) e diz-se nervosa, as
vezes “passa mal”, sobretudo depois de imaginar uma “coisa ruim”, em geral não
consegue afastar do pensamento (de feição obsessiva), cujo conteúdo se refere a
morte da mãe. Nesta situação a “mãe se aflige com a aflição da filha”, diz o pai
também preocupado.
Trata-se de “filha do meio”, com uma irmã maior e outra mais nova. A mãe
reconhece que a caçula é a “queridinha” da mãe e do pai, e informa que a mais
velha conversa muito com o pai em inglês, fato que ele gosta muito.
Quando menorzinha, a cliente batia muito na caçula, apesar da vigilância, o
que lhe custava “umas boas palmadas”. Então se agarrava com a avó, de visão e
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iniciativa precárias, e com o avô, ambos idosos, vivendo todos sob o mesmo teto.
Houve tempo em a cliente fazia pirraça, dizendo contrariada que os “pais
mandavam”, e em outras vezes, que queria ser sua própria mãe e estar no lugar
desta. (...)
Procurando saber a razão de a caçula ser a “preferida” dos pais, a mãe
explica que “não é bem assim, ela teve bronquite, sofria muito, tossia muito e
espirrava também, daí nós (a mãe e o pai) cuidávamos dela, com medo botamos
para dormir conosco”... “com medo de que tivesse uma doença”.
A cliente compreendeu a nossa interpretação: as “vantagens” de tossir! Com
isso conseguiu o queria, ou seja, ir também para a cama dos pais. “tinha medo de
que?”, perguntamos, mas não soube responder precisamente. Por fim concordamos
em que uma das piores formas do medo se refere a não se sentir estimada, querida.
Porém, o medo ligava-se, também, à morte da mãe, ou melhor, a ideia dela, filha,
ficar consequentemente em desvantagem, sem segurança – mesmo que isto fosse
desejado.
Quanto ao sonho de estar na aula de inglês com o pai, compreendeu que
seria desfrutar de regalias, ter o “poder” da irmã mais velha, de estar no lugar dela e,
ao mesmo tempo no da mãe. Verifique-se que o diálogo em inglês é uma prática
admirada pelo pai, tratando-se, portanto, de um sonho de “compensação”. A mãe
“morrer” é uma solução amoral, compensadora, porém conscientemente conflitiva.
Mesmo sem considerar as imposições éticas, particularmente oriundas da educação,
matar a mãe é “solução de Electra” descrita por Jung, representando a aquisição do
poder.
No desenho abaixo Marina colocou, da esquerda para a direita: a irmã mais
velha, o pai, a caçula, a mãe, ela, a avó e o avô. Respondeu também que as cores
que mais gostava eram, na ordem: vermelho, azul e laranja.
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Progressivamente foi sendo esclarecida sobre como dispôs os elementos do
desenho. O pai está ao lado da outra “preferida”, a irmã mais velha com quem tanto
conversava. A caçula está “protegida” entre os pais, tal como também dormia entre
eles. A paciente se retrata como a de maior estatura, ou seja, para ultrapassar as
“concorrentes” e compensar o seu sentimento de inferioridade diante delas (é a
maior, mas é quem está mais abaixo no desenho). Todos estão de mãos dadas,
menos Marina e a mãe, o que separa o grupo em duas famílias: 1- os pais e as
irmãs, núcleo ao qual imagina não pertencer (mãos separadas), e 2- Marina e os
avós. Como se sente excluída do 1º, a paciente constrói um novo núcleo, buscando
apoio nos avós, uma espécie de sub família (pois estão um pouco abaixo da 1ª),
mas é melhor do que estar totalmente sozinha. A forma como as cores são
distribuídas também reflete a visão de Marina sobre quem tem mais e quem tem
menos valor: a caçula parece ser a mais privilegiada, pois veste vermelho, seguida
da mais velha (saia vermelha); depois vem os pais, de azul, e também a avó, de
quem busca apoio direto; por fim, se colore de laranja, a cor que menos gosta, ou
seja, a de menor valor.
Começou então a entender que a sua tosse – cuja causa física não foi
encontrada pelos médicos – na verdade era psicogênica, ou seja, um artifício
utilizado pelo seu inconsciente para sequestrar a atenção, cuidados e carinho de
todos. Afinal, no passado quando a caçula esteve doente “com tosse”, logo se tornou
o foco da atenção de todos, conseguindo, inclusive, ficar dormindo na cama dos pais
e entre eles. Aos poucos foi se conscientizando de que incorporara a tosse como
meio para se tornar a preferida, ao invés de preterida.
Com o passar das seções foi melhorando a tosse, inclusive por que
compreendeu que em breve irá crescer que terá e será as mesmas coisas que a
mãe e a irmã, isto é, não exatamente as mesmas da mãe, porém, os equivalentes, a
conquistar. Na verdade acham-na, em casa, a mais procurada pelos coleguinhas.
Quanto à morte da mãe existe a fantasia de libertação versus a culpa. Por
outro lado, não cabe sentir-se culpada, pois “a mãe terá de fato que morrer” (no
sentido simbólico), ou seja, deverá morrer o seu passado afetivo, sua infância, sua
dependência. Só assim nascerá a mulher independente, adulta e autoconfiante.
Ao fim do tratamento a menor deixou totalmente de tossir. O mesmo
verificamos oito meses após, quando os pais também informaram que “antes a
paciente era seca, renitente” em relação à mãe, mas “agora é mais carinhosa, ficou
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compenetrada nos estudos, é mais vaidosa, escolhe as próprias roupas, pinta as
unhas”. A professora atual informa que é boa aluna quanto ao rendimento e ao
comportamento.
Dezessete meses após pediu à mãe que a trouxesse ao terapeuta sem lhe
dizer os motivos. Queria “conversar” um pouco. Já passara pela menarca, e eram
problemas de envolvimento sentimental, que discutimos. Tivemos ocasião de
observar sua forma “adulta” de conversar, e ela mesma compreendeu aquele início
de nova fase em sua vida, que enfrentava com coragem e discrição.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após estudar e pesquisar sobre o tema escolhido foi possível observa que a
competitividade entre irmãos, presente em qualquer família contribui na formação de
sua personalidade e realmente pode influenciar em suas vidas sociais.
Despertando um olhar diferenciado para uma família de dez irmãos que vivem
uma rivalidade e uma competitividade oculta entre si, mas que isso foi gerado
enquanto a mãe ainda era viva, mas que deixou feridas dolorosas e que motivam um
desejo de vencer e conquistar um poder acima de todos. O psiquismo humano
considera todos válidos quando está em jogo a conquista da superioridade.
A luta pela superioridade e pelo poder, que é motivada pelo desejo humano,
começa na infância e vai até a idade adulta. A dinâmica da rivalidade estabelece
uma relação competitiva, sendo clara ou oculta, em alto ou baixo grau, e atinge a
formação da personalidade. Significa dizer que aquele sentimento de
competitividade presente no relacionamento familiar entre os irmãos, certamente
poderá se refletir na vida social imediata (escola) e futura (sociedade).
Assim, na escola poderá tentar ser o centro de atenções, exercerem seu
poder através da tirania, ou da subserviência, ou da fragilização, ou da sedução, ou
da zombaria, ou da supremacia nos esportes, ou com notas mais altas. Com isso o
professor também evita um julgamento equivocado por partes dos pais, pois é
necessário também eles melhor compreendam as inúmeras origens das atitudes de
cada filho, pais e escola sempre juntos em uma parceria para ajudar cada aluno em
suas situações, suas relações, sua formação e seu aprendizado.
Por isso, é possível concluir que os pais desinformados podem criar diversas
situações e expectativas sobre os filhos de modo a trazer reflexos ao longo de suas
vidas. Não existe receita ou escola para pais perfeitos, pois cada um deles é pai
diferente e uma mãe diferente de cada criança diferente, de acordo com o contexto
diferente de momento diferente.
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REFERÊNCIAS ADLER, ALFRED. (1924). Pratica y Teoria de la Psicologia del Individuo. Bueno
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________. (1926). Fundamentals of Individual Psychology, in Journal of Individual
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REIS, MAGALHÂES, GONÇALVES. Alfred Adler e a psicologia individual, cap. 3 In:
Teorias da Personalidade. São Paulo: Pedagógica e universitária, 1984.
SALLES, ARTHUR- A: Psicologia e Educação – Distúrbios do Comportamento da
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1983.