FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO
ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR
ELANA BESERRA DE LIMA
FAMÍLIA MULTIESPÉCIE COMO NOVA CONFIGURAÇÃO FAMILIAR
CABEDELO/PB 2018
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ELANA BESERRA DE LIMA
FAMÍLIA MULTIESPÉCIE COMO NOVA CONFIGURAÇÃO FAMILIAR
Monografia apresentada ao Departamento de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Especialista em Direito Civil. Orientador: Prof. Esp. Markus Samuel Leite Norat Área: Direito de Família
CABEDELO/PB 2018
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A reprodução total ou parcial deste documento só será permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos desde que seja referenciado, autor, titulo instituição, e ano de sua
publicação.
L231fLima, Elana Beserra de.
Família multiespécie como nova configuração familiar./ElanaBeserra de Lima. – Cabedelo, 2018.
50f Orientador: ProfºEsp.Markus Samuel Leite Norat. Monografia (Especialização em de Direito Civill, Processo Civil
e Direito do Consumidor) Faculdade de Ensino Superior da Paraiba. 1. Família Multiespécie. 2. Animais de Estimação. 3. Vínculo.I. Título.
BC/Fesp CDU: 347
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ELANA BESERRA DE LIMA
FAMÍLIA MULTIESPÉCIE COMO NOVA CONFIGURAÇÃO FAMILIAR
________________________________________ Professor Esp. Markus Samuel Leite Norat
Orientador
BANCA EXAMINADORA
________________________________________ Gabriela Henriques da Nóbrega Membro da Banca Examinadora
________________________________________
Pablo Juan Nóbrega de Souza Membro da Banca Examinadora
_______________________________________
Susyara Medeiros de Souza Membro da Banca Examinadora
Atribuição de nota: ______________________
Cabedelo, 26 de janeiro de 2018.
CABEDELO/PB 2018
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Dedico a conquista dessa trajetória a minha coragem e determinação, as quais me dão esperança de mudança para uma justiça inovadora e ao meu esposo Roberto Carvalho de Lima, principal pessoa a quem devo este momento.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, força e razão do meu viver, o qual está presente em todos os momentos de minha vida, me abençoando e me dando força suficiente para a superação dos obstáculos. Agradecimento especial ao meu bichinho de estimação Chokito, um poodle que a 7 anos dedica seu amor, carinho, amizade,fidelidade, pureza, trazendo a felicidade ao meu lar, estando sob a minha responsabilidade e do meu esposo e por ser minha principal inspiração para a construção desse trabalho. Ao meu esposo, Roberto Carvalho de Lima, pelo incentivo velado para que eu cursasse direito, embora este fosse meu desejo, desde a minha adolescência, obrigada pelo apoio e compreensão nos momentos de ausência e por me fazer acreditar que conseguiria. Aos meus pais, Ivone Beserra de Lima e Josemar Alves de Lima (In memoriam); que me ensinaram os valores da vida. Aos amigos da faculdade pela amizade e pelos momentos de alegria que tive o prazer de dividir. Ao meu orientador Professor Esp. Markus Samuel Leite Norat, por quem nutro admiração e respeito. Pessoa competente, paciente e dedicada.
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A amorosidade de que falo, o sonho pelo qual brigo e para cuja relação me preparo permanentemente, exige de mim, na minha experiência social, outra qualidade: a coragem de lutar ao lado da coragem de AMAR!
Paulo Freire
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RESUMO
Este trabalho monográfico tem como tema central as novas configurações familiares, o vínculo e a relação entre as famílias multiespécies e seus animais de estimação, a influência do relacionamento afetivo entre humanos e animais, o reconhecimento familiar, o apego, a convivência íntima, a situação jurídica do animal. O interesse de analisar o assunto surgiu do interesse de compreender o papel que os animais de estimação vêm ocupando no contexto familiar e os motivos de tal relação ganhar mais espaço e importância na sociedade contemporânea. Através de uma pesquisa primordialmente bibliográfica, constatou-se que as configurações familiares vêm se modificando com o decorrer dos tempos bem como a relação entre os seres humanos e os animais de estimação. Palavras-chave: Família Multiespécie. Animais de estimação. Vínculo
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................. 11
FUNDAMENTOS TEÓRICOS ........................................................... 13
1. Conceito de Família .................................................................... 13
1.1 Configurações familiares Atuais ................................................. 15
2. Definição de Família Multiespécie .............................................. 19
2.1 Formação da Família Multiespécie ............................................. 20
3. Reconhecimento de Animais Como Membro Familiar ................ 23
3.1 Lares com Pets e Convivência com os Animais de Estimação
Enquanto Vinculo Familiar ........................................................ 25
3.2 A Relação de Afeto entre Humanos e Animais ........................... 27
4. Animais na Legislação: Proteção e Direitos ................................ 29
4.1 Divórcio e a Guarda dos Animais de Estimação ........................ 35
4.2 Personalidade dos Animais ........................................................ 40
4.3 A presença dos Animais como Apoio Social ................................ 44
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 47
REFERÊNCIAS ................................................................................. 49
11
INTRODUÇÃO
No presente trabalho serão expostas configurações familiares atuais e o
relacionamento entre humanos e animais como uma relação de vínculo e afeto
familiar. Antes visto como mera propriedade, bem móvel semovente, nos dias
atuais o animal passa a ser considerado como um indivíduo, com valores em si
mesmo, sujeito de uma vida, de interesses, e desse modo, com direito à
proteção real pelo ordenamento jurídico. A mudança na sociedade e a
evolução dos costumes levaram a uma verdadeira reconfiguração da família,
quer da conjugalidade, quer da parentalidade.
O alargamento conceitual das relações interpessoais acabou deixando
reflexos na conformação da família, que não possui mais um significado
singular.
O que distingue uma família hoje é a presença de um vínculo afetivo,
explicando-se aí essa relação entre homens e animais domésticos.
O objeto do estudo é apontar as características desse tipo de relação
como o reconhecimento de animais de estimação como membro familiar, o
apego, a convivência íntima, a relação de afeto entre eles, a proteção e direitos
dos animais e a situação jurídica na dissolução dessa espécie familiar.
A questão a ser analisada neste trabalho é sobre a proporcionalidade do
afeto entre humanos e animais de estimação considerando a humanização
entre eles e a modernidade nessa relação de vínculo familiar e as
conseqüências dessa convivência íntima.
A escolha do tema se deu a partir do interesse desse novo modelo de
família que inclui, além dos pais e filhos, os animais de estimação.
O objetivo geral é compreender o papel que os animais de estimação
vêm ocupando no contexto familiar e os motivos de tal relação ganhar mais
espaço e importância na sociedade contemporânea.
Com relação ao objetivo específico, a finalidade é entender esse elo
emocional entre humanos e animais e a evolução de simples companhia para
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membros efetivos dentro da família humana dividindo o mesmo espaço em
suas residências.
Defronte a exposição dos fundamentos e legislação arguidos no
trabalho, será apresentado ampla discussão jurídica, tendo em vista a
necessidade de analisar a situação dos animais de estimação no âmbito
familiar, a proteção, os direitos, o bem-estar do animal como condição de vida
digna, saudável sem qualquer tipo de sofrimento e maus-tratos e possíveis
celeumas quando da dissolução conjugal e disputa pela guarda e direito de
visitas desses animais.
A vertente metodológica utilizada é a qualitativa, o método de
procedimento é o monográfico; com abordagem hipotético-dedutivo, por meio
de pesquisa indireta através de livros, sites da internet, jurisprudências entre
outros.
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FUNDAMENTOS TEÓRICOS
1. Conceito de Família
A legislação brasileira não apresenta um conceito definido de família.
Doutrinadores como Maria Helena Diniz elencam basicamente três acepções
para o vocábulo família, sendo eles o sentido amplíssimo, o sentido lato e a
acepção restrita.
A família em seu sentido amplíssimo seria aquela em que o indivíduo é
ligado por laços de consangüinidade ou afinidade.
A acepção latu sensu refere-se à família formada “além dos cônjuges ou
companheiros, e de seus filhos, abrange os parentes da linha reta ou colateral,
bem como os afins ( os parentes do outro cônjuge ou companheiro).
Já o sentido restrito restringe a família à comunidade formada pelos
pais, seja ele matrimônio ou união estável, e sua filiação.
A Constituição Federal alargou o conceito de família, permitindo o
reconhecimento de entidades familiares não casamentárias, com a mesma
proteção jurídica dedicada ao casamento, modificando de forma revolucionária
a compreensão do direito de família, que até então se assentava
necessariamente no matrimônio.
O artigo 226 da Constituição Federal normatizou o que já
representava a realidade de milhares de famílias brasileiras, reconhecendo que
a família é um fato natural, e o casamento uma solenidade, adaptando, por
esta forma, o direito aos anseios e necessidades da sociedade, passando a
receber proteção estatal não somente a família oriunda do casamento, bem
como qualquer outra manifestação afetiva, como a união estável e a família
monoparental, formada esta na comunidade de qualquer dos pais e seus
descendentes, no eloqüente exemplo da mãe solteira.
O pluralismo das entidades familiares, por conseguinte, tende ao
reconhecimento e efetiva proteção, pelo Estado, das múltiplas possibilidades
de arranjos familiares, sendo oportuno ressaltar que o rol da previsão
14
constitucional não é taxativo, estando protegida toda e qualquer entidade
familiar, fundada no afeto. Trata-se da busca da dignidade humana,
sobrepujando valores meramente patrimoniais.
A instituição família é de grande importância na formação do
indivíduo e de sua integração na sociedade. O conceito de família vem sendo
reconsiderado em virtude do surgimento de novas formas de família. Vivemos
em um momento de desenvolvimento social e jurídico onde o conceito de
família está sendo ampliado.
Primitivamente as famílias eram fundadas basicamente nas
relações de parentesco sanguíneo, dando origem às primeiras sociedades
humanas organizadas. A própria expressão “família” surge a partir da
expressão latina famulus, que significa “escravo doméstico” e designava os
escravos ligados de forma legalizada na agricultura das tribos latinas da Itália.
Paulo Lobo em sua obra de Direito Civil”, disserta que:
“Sob o ponto de vista do direito, a família é feita de duas estruturas associadas: os vínculos e os grupos. Há três sortes de vínculos, que podem coexistir ou existir separadamente: vínculos de sangue, vínculos de direito e vínculos de afetividade. A partir dos vínculos de família é que se compõem os diversos grupos que a integram: grupo conjugal, grupo parental (pais e filhos), grupos secundários ( outros parentes e afins)”.
Considera-se hoje que família, para o direito, consiste na
organização social formada a partir de laços sanguíneos, jurídicos ou afetivos.
A modernidade da vida trouxe também outros modelos familiares,
a família passou a ser mais democrática, o modelo patriarcal fora abandonado,
sendo empregado atualmente um modelo igualitário, influenciado pela ideia da
democracia, do ideal de igualdade e da dignidade da pessoa humana, onde
todos os membros devem ter suas necessidades atendidas e a busca da
felicidade de cada individuo passou a ser essencial no ambiente familiar. “A família de hoje se diferencia em um aspecto fundamental da
família de ontem, ela é fruto de uma era onde o laço social é horizontal,
enquanto, na anterior, era vertical”. Forbes (2009. p.1). A família de hoje
ganhou um novo status. Os grandes debates da atualidade giram em torno das
15
chamadas “novas organizações familiares”, “novas famílias” ou ainda, “novos
arranjos familiares” caracterizados por Ceccarelli (2007):
Formas de ligação afetiva entre sujeitos onde existe, ou não, uma forma de exercício da parentalidade que foge aos padrões tradicionais: famílias monoparentais, homoparentais, adotivas, recompostas, concubinárias, temporárias, de produções independentes, e tantas outras. Temos ainda, as mudanças que afetam diretamente as condições de procriação tais como: barriga de aluguel, embriões congelados, procriação artificial com doador de esperma anônimo e, muito mais brevemente do que se pensa, a clonagem. (p.91 e 92).
A transição da família como unidade econômica para uma compreensão
solidária e afetiva, tendente a promover o desenvolvimento da personalidade
de seus membros, traz consigo a afirmação de uma nova feição, agora fundada
na ética e na solidariedade. Pode-se afirmar que esse novo balizamento
evidencia um espaço privilegiado para que os seres humanos se
complementem e se completem.
Nessa linha de raciocínio, a entidade familiar deve ser entendida,
hoje, como grupo social fundado, essencialmente, em laços de afetividade, pois
outra conclusão não se pode chegar à luz do texto constitucional.
1.1 Configurações familiares atuais
Se no início do século passado o modelo mais prevalente era o de
família extensa, ou seja, caracterizado pela coabitação de vários membros,
Costa, Cia e Bahran (2007) sinalizaram que esse modelo é cada vez menos
visto na atualidade. Tal fato se deve notadamente, ao controle de natalidade e
ao processo de urbanização em todo o planeta. Na realidade contemporânea,
separações e recasamentos foram configurando novas formas de famílias,
assim como outros arranjos, a saber: famílias monoparentais femininas ou
masculinas, binucleares, homoafetivas e multiespécies.
A família e seu papel estão sendo redesenhados à medida que as
pessoas se relacionam com os diversos contextos no qual a família se constitui
e é constituída. Não se trata mais da família tradicional, com pais, mãe e filhos.
16
Existem diversas configurações familiares – apenas um genitor, mães solteiras,
homossexuais com filhos, etc.
Tratar das configurações familiares nos dias de hoje apresenta-se como
um grande desafio, tendo em vista a complexidade do tema. Muito se fala que
a família está acabando, mas o que está acontecendo é uma profunda
mudança no seu perfil. Embora o conceito atual de família seja muito diferente
do que se tinha em tempos passados, ainda continua sendo a família o centro
com que as pessoas se identificam e em que aprendem sobre a vida. Família e
casamento tiveram sua função social transformada especialmente ao longo do
século XX: já não se espera dessas relações somente o cuidar e manter a
prole.
A versão idealizada de núcleo familiar estável e voltada para si fica
ultrapassada. Surgem novas possibilidades de famílias, constituídas por grupos
que habitam o mesmo espaço físico ou que, pelo menos, mantêm certa
proximidade. Esses novos arranjos estão longe de serem instituições fechadas,
apresentando-se sempre em evolução e transformação.
As famílias tradicionais são constituídas de pai, mãe e filhos e já não
podem ser vistas como uma forma familiar em que não existem problemas
como se pensava há pouco tempo. O ideal de casamento hoje propagado pela
mídia está muito distante do real. Quando as expectativas de “casamento ideal”
não são cumpridas, muitas vezes são os filhos que sustentam o casamento,
especialmente no que se refere às mulheres. Segundo pesquisa realizada por
Gláucia Diniz e Vera Coelho: “Os filhos aparecem nesse contexto como
aquelas pessoas que sustentam suas forças, organizam seu objetivo de vida,
orientam seu sentido identitário” (FÉRES-CARNEIRO (org), 2003:93).
As famílias monoparentais podem advir de produções independentes ou
de separações em que há ruptura da relação parental com um dos
progenitores. Atualmente, é grande o número de separações em casais jovens
e também grande o número de famílias monoparentais sustentadas por
mulheres. Hoje, poucas mulheres permanecem casadas por dependência
financeira (DESSEN, M. A. & COSTA JÚNIOR, 2005:117). A mulher que está
insatisfeita e não depende economicamente do marido solicita muito mais a
separação do que o homem. O preconceito com o divórcio, instituído no Brasil
17
em 1977, ficou preso há décadas passadas, e o desafio atual é a busca pela
harmonia, sem modelos certos ou errados. Hoje se escolhe diariamente estar
casado ou não, não se casa mais para sempre. Há uma avaliação diária sobre
a satisfação que a relação está trazendo para cada membro do casal. Mas é
importante lembrar que esse formato de família não é tão recente quanto se
pensa. Em todas as épocas existiram famílias regidas apenas por um membro
da parentalidade, fato que atualmente já não causa estranheza (FÉRES-
CARNEIRO (org.), 2003:19). Também não é incomum vermos famílias sendo
administradas pelo homem que, assim como a mulher, funciona como pai e
mãe, tendo os filhos sob sua única responsabilidade.
As famílias biparentais ou guarda compartilhada privilegia a
continuidade da relação parental após a separação, mantendo pai e mãe
responsáveis pelos cuidados cotidianos dos filhos e permitindo a estes acesso
sem dificuldades a ambos os genitores.
As famílias reconstituídas são as constituídas tanto de mulheres
e homens com filhos de relações anteriores (divorciados ou viúvos), unidos a
parceiros também nessas condições ou solteiros. Por isso, as questões de
parentalidade nessas famílias são tão próprias: a relação parental é anterior à
conjugal. Os filhos dos casamentos anteriores ocupam um lugar central na vida
do novo casal e o relacionamento com eles, por vezes, é o termômetro sensível
das possibilidades futuras do casal. Dentro dessa categoria estão os casais
que vivem juntos, mas separados e que preservam o seu próprio núcleo
familiar.
O novo diploma permite a união estável entre pessoas solteiras,
viúvas, divorciadas, separadas judicialmente ou separadas de fato. Possui
natureza sócio-jurídica, visto que é fato social, ao reunir pessoas com o
objetivo de constituir família, e ato jurídico, espontâneo, porém gerador de
efeitos jurídicos.
As Famílias homoafetivas são formadas por casais do mesmo
sexo. Esses casais têm muito das necessidades e dos conflitos dos casais
heterossexuais, embora se defrontem com uma gama enorme de problemas
gerados pelo preconceito e pelas dificuldades vivenciadas por todos aqueles
que fazem parte de uma minoria social.
18
A família anaparental igualmente revela-se na convivência entre
parentes baseada na afetividade. Anaparental significa sem pais. Assim, a
comunidade formada por duas irmãs idosas que residem sob o mesmo teto
constitui uma família anaparental.
A família unipessoal, como o próprio nome indica, é aquela
formada por apenas uma pessoal, cujo reconhecimento possui por objetivo a
proteção do imóvel residencial do qual é proprietária.
No entender de Lobo Netto (2007a), em seu artigo entidades
familiares constitucionalizadas assim se manifesta: Sem página
Uma família, para que seja considerada como tal, tem de, obrigatoriamente, possuir 3 características, quais sejam, a afetividade, como fundamento e finalidade, com desconsideração do móvel econômico;estabilidade, excluindo-se os relacionamentos casuais, episódicos ou descomprometidos, sem comunhão de vida; e ostensibilidade, o que pressupõe uma unidade familiar que assim se apresente publicamente.
A família unipessoal, como o próprio nome indica, é aquela
formada por apenas uma pessoal, cujo reconhecimento possui por objetivo a
proteção do imóvel residencial do qual é proprietária.
A doutrina acolheu a idéia eudemonista ao conceituar entidade
familiar, entendendo que a felicidade é à base do comportamento humano e
moral, passando a família a ser vista não como um modelo pré-estabelecido,
mas sim como instituição onde predominam a satisfação pessoal e o
comprometimento mútuo.
A família eudemonista possui um conceito moderno voltado para
o afeto recíproco, o bem-estar e o desenvolvimento a favor dos seus pares,
não se levando em conta o vínculo biológico.
A definição de Camila Andrade, no artigo “ o que se entende por
família eudemonista, consiste em:
Eudemonista é considerada a família decorrente da convivência entre pessoas por laços afetivos e solidariedade mútua, como é o caso de amigos que vivem juntos no mesmo lar, rateando despesas, compartilhando alegrias e tristezas, como se irmãos fossem, razão porque os juristas entendem por bem considerá-los como formadores de mais um núcleo familiar. (ANDRADE, 2008)
19
Pelo viés eudemonista, a atual constituição de uma família é feita
baseada na afetividade e não apenas no parentesco civil ou biológico.
2. Definição de Família Multiespécie
Novo modelo de família que inclui, além dos pais e filhos, os animais de
estimação. A família multiespécie, apesar de ainda não garantida no mundo
jurídico, já é parte do mundo factual.
Para definir o que seria uma família multiespécie, diferentes critérios são
levantados por autores interessados no tema. Bowen (apud FARACO, 2003),
por exemplo, fala em um sistema familiar emocional, composto não por laços
de sangue, e sim, de afeto.
Nesse sistema estariam inclusos membros da família estendida,
pessoas sem grau de parentesco e animais de estimação. Faraco (2003), por
sua vez, caracteriza a família multiespécie como aquela em que são
reconhecidos como seus membros os humanos e os animais de estimação em
convivência respeitosa, com os quais são travadas interações significativas. O
termo “convivência respeitosa”, usada por Faraco (2008) para caracterizar a
família multiespécie, tem um sentido vago e, mesmo entre os humanos, seria
difícil estabelecer consenso sobre o que viria a ser isso.
Cerca de 60% dos lares brasileiros têm como moradores pessoas e
animais de companhia, fazendo com que os estudiosos revejam o conceito de
família. É impossível pensar em família, atualmente, sem considerar a
interação humano-animal. Faraco em seu trabalho relata esse fato como um contexto social
entrelaçado, onde o conceito de constituição de uma rede de interações entre
animais e humanos se dá por um sistema social que distingue o grupo familiar
composto por pessoas e seus animais de estimação, também o nomeando
como “família multiespécie”, pelo fato de seus membros se reconhecerem e se
legitimarem.
20
O conceito de família multiespécie foi abordado por Santos (2008) da
seguinte forma:
“O animal como membro familiar sugere a existência de uma relação interespécies e de uma família multiespécie composta por humanos e seus animais de estimação. Os mesmos acabam tendo diferentes funções, que vão desde serem vistos como objetos para o dono mostrar para outras pessoas, dando certo status social, cuidadores para algumas pessoas e até integrantes da família, tendo a mesma importância dos demais membros. Nesse sentido, destaca-se que “em estudo conduzido por Berryman e outros pesquisadores se concluiu que os animais de estimação são vistos como tão próximos quanto o próprio filho pelos humanos”. (SANTOS, 2008, p. 23).
Nesses novos núcleos familiares, a afetividade é o liame agregador de
todos os integrantes, sendo a questão da consanguinidade relegada ao
segundo plano, provavelmente fruto também das adequações da vida
moderna, onde algumas famílias hoje são compostas muitas vezes por casais
que já constituíram anteriormente outras famílias, e muitas vezes nesse novo
núcleo familiar agregam filhos de outros casamentos, animais provenientes de
outras relações ou muitas vezes, escolhidos justamente para aproximar ainda
mais os integrantes desse novo núcleo.
2.1 Formação da Família Multiespécie
A convivência diária entre seres humanos e animais de estimação é
algo muito presente na sociedade. De acordo com Berzins (2000), estudos
apontam para essa convivência já na pré-história. Em alguns sítios
arqueológicos desta época foram encontrados o que se acredita serem animais
domésticos, enterrados em posição de destaque ao lado do provável dono.
O relacionamento humano com animais domésticos é muito antigo, e as pessoas precisam dos animais em suas vidas. Até recentemente, a maioria dos especialistas acreditava que os seres humanos e os cães já viviam juntos, mas uma pesquisa mais recente do DNA dos cães provou que seres humanos e cachorros podem estar convivendo há mais de cem mil anos. Os cães não matam seres porque em cem mil anos de evolução eles devolveram sua capacidade de inibir a agressividade contra os seres humanos, e os
21
seres humanos desenvolveram sua capacidade de cuidar da agressividade do cão[...] (GRANDIN;JOHNSON,2006, p.185-186).
Assim como Johnson menciona em sua bibliografia, Berzins (apud
Uyeara, 2000) também aponta o fato de que em muitos sítios arqueológicos de
por volta 12 mil anos antes de Cristo, foram encontrados ossos de animais
domésticos enterrados em posição de destaque ao lado de seu provável dono.
Ainda segundo Berzins, havia já uma distinção social entre cães e outros
animais, imposta pelos homens e, no século XVIII, o cão já era conhecido
como “o mais inteligente de todos os quadrúpedes conhecidos” e adorado
como “o servo mais fidedigno e a companhia mais humilde do homem”
(Berzins, 2000:57).
Embora o relacionamento entre humanos e outros animais tenha tido o
seu início há milhares de anos, apenas recentemente se começaram a estudar
os efeitos e a importância do vínculo estabelecido entre os diferentes
elementos que constituem a família multiespécie.
Segundo starling (apud VACCARI & ALMEIDA 2007, P.112): desde os
primórdios, a humanidade já convivia com animais. Os cães ofereciam
resguardo territorial ao protegerem as cavernas contra invasores, além de
ajudarem nas caçadas. Hoje além de segurança, essa relação pessoal-animal
adiciona outras necessidades psicológicas.
No Brasil esse relacionamento já foi avaliado através de inúmeras
pesquisas estatísticas que indicam o crescimento considerável da existência de
cães e gatos como animais de estimação. Os animais estão cada vez próximos
da família. E isto trouxe novas tarefas, compromissos, responsabilidades e
dedicação.
A convivência tem se tornado cada vez mais comum e crescente,
ultrapassou alguns conceitos e preconceitos e atualmente há uma envolvência
emocional que se passou a considerar essencial para alguns humanos.
Passamos por isso a ter uma realidade onde humanos, cães, gatos e outros
animais de companhia convivem numa sociedade particular interespécie, na
qual são apresentadas novas fronteiras e possibilidades de existência.
22
Esse apego entre humano e animal é bastante complexo, e cada vez
mais forte, graças a sentimentos que ainda não foram totalmente desvendados
pela ciência, e causam curiosidade e interesse por parte da maioria da
população. Ainda é muito difícil entender como acontece esse elo emocional,
mas já não é de hoje que os animais evoluíram de simples companhia para
membros efetivos dentro da família humana, dividindo até o mesmo espaço em
suas residências.
Os animais possuem características particulares, onde é possível
encontrar algumas diferenças e semelhanças com os seres humanos.
Sensibilidade a linguagem corporal, sentir uma emoção de cada vez (exceto
medo e curiosidade que podem ser sentidos ao mesmo tempo), são algumas
características deles. Eles nunca esquecem um grande trauma, e assim como
nos humanos varia-se a personalidade de cada um, nos animais também existe
aqueles que são mais medrosos, e normalmente esses também são os mais
curiosos. Quanto às emoções, nos animais a raiva é a última defesa a qual eles
recorrem quando suas vidas são expostas ao perigo.
Como consequência os animais estão cada vez mais próximos da
família humana, tanto física como emocionalmente. Esse vínculo estreitou-se e
passamos a reconhecer a importância dos animais nas nossas vidas e nas
dinâmicas familiares.
Em gerações mais antigas a convivência entre animais de estimação e
humanos dentro das residências era limitada, pois, para pessoas mais antigas
o lugar dos animais era fora de casa. Hoje em dia, eles já são considerados
membros da família, e possuem acesso irrestrito às dependências da casa
Basta vermos os números que as estatísticas nos indicam,
relativamente à crescente população de animais de companhia, que
apresentam a maioria dos países, incluindo Portugal.
Se analisarmos algumas teorias psicológicas baseadas em estudos
feitos, sobretudo com cães, o vínculo estabelecido com humanos é semelhante
ao estabelecido entre crianças e adultos.
As mudanças na sociedade humana, tornando-se cada vez mais
urbana, concentraram-a em centros populacionais elevados e grandes cidades,
o que levou a uma nova dinâmica e organização familiar.
23
Como consequência os animais estão cada vez mais próximos da
família humana, tanto física como emocionalmente. Esse vínculo estreitou-se e
passamos a reconhecer a importância dos animais nas nossas vidas e nas
dinâmicas familiares.
3. Reconhecimento de Animais como Membro Familiar
Os animais de estimação desempenham diversos papéis para os seres
humanos, tanto para o indivíduo, como para a família, ou até mesmo para a
sociedade, além de representarem uma fonte de apego e afeto, consolidando
um elo emocional às vezes mais forte do que os que acontecem entre muitas
pessoas, diminuindo o sentimento de solidão.
Entre os muitos papéis representados pelos animais estão os mais óbvios e conhecidos como: cão para caça, para guarda, pastores de rebanhos, no trabalho policial, guia de portadores de necessidades especiais e outros papéis, ainda objetos de estudos e discussões. (SERPEL, 1993).
As mudanças na sociedade e nos valores humanos motivaram a falta
de confiança e a diminuição de envolvimento sentimental entre as pessoas, o
que levou o ser humano a buscar nos seus animais de estimação uma relação
sincera de amizade e lealdade.
Outro motivo que estimulou a necessidade de se ter animais de
estimação em casa foi o aumento da expectativa de vida, e por mais pessoas
estarem morando sozinhas, adiando então o plano de ter filhos, vendo nos
animais a substituição da solidão. “Eles podem representar a única ponte de
ligação do homem com um mundo autêntico, sem hipocrisias, corporativismo
ou mediocridade” (ODENDAL, 2000).
A presença do animal no seio familiar é confirmada tanto por Faraco e
Seminotti (2004), quanto por Dotti (2005), os quais apontam para o fato de que
na atualidade o animal cada vez mais vem sendo considerado como um amigo,
um integrante da família e, até mesmo, sendo colocado como substituto de
algum membro.
24
O relacionamento entre humanos e animais de estimação, segundo
Santos (2008), tem sido alvo de estudiosos do comportamento animal. Para
esta autora, o principal ponto se refere ao fato de nós, seres humanos, termos
desenvolvido com um membro de outra espécie, uma forma de relação muito
próxima a que temos com os membros da nossa própria espécie, sinalizando
para o fato de que essa convivência tão aproximada se dá em virtude de que
ambos acabam se beneficiando com a mesma.
Dentre tantas contribuições, destaca-se Bion, o qual sistematizou e
aprofundou o conceito definindo vínculo como sendo “elos de ligação –
emocional e relacional – que unem duas ou mais pessoas, ou duas ou mais
partes dentro de uma mesma pessoa” (apud ZIMERMAN, 2010, p. 23).
A partir da classificação de vínculos e dos estudos realizados por Bion,
Zimmermann (2010) destaca quatro tipos fundamentais que estarão presentes
concomitantemente ou não em toda e qualquer relação: vínculo do amor
(demanda por amor, diferentes formas de amar e de ser amado, diferenciação
e individualização); vínculo do ódio (relacionado à agressividade, pulsão de
vida); vínculo do conhecimento (diretamente ligado à descoberta, aceitação, ou
não, das verdades sobre si ou sobre o outro) e o vínculo do reconhecimento –
a partir da premissa que “o ser humano constitui-se sempre a partir de um
outro” (p. 31).
Os animais de companhia estabelecem fortes vínculos emocionais
recíprocos com os seres humanos. Podemos pensar que nessa relação se
constitui uma ligação de segurança de ambos os envolvidos. Pois, enquanto o
cachorro, de certa maneira, pode suprir alguma necessidade emocional de
seus donos, esses realizam também a função de proteção ao animal. De
acordo com Bowlby (2002), o sujeito que exerce a função de cuidador
representa proteção, conforto e suporte, bases para uma relação saudável.
Podemos pensar sobre isso também em termos da relação ao ser humano com
o animal, pois quanto maior o afeto pelo animal, maior tende a ser o vínculo
entre ele e o dono.
Apesar de a família humana representar para o animal a sua própria
família, há necessidade de mantê-lo em contato com suas próprias espécies,
para que eles não percam sua própria identidade, e possam aprender de que
25
forma devem se alimentar, socializar, acasalar e respeitar seus semelhantes.
Esse hábito é importante também para evitar comportamentos agressivos nos
animais de estimação.
Os animais “membros da família” fazem parte não apenas do cenário,
mas interagem com as pessoas nos diversos ambientes da casa e interferem
no planejamento da rotina, muitas vezes definindo os horários dos tutores, de
acordo com sua necessidade de alimentação, passeio, medicação ou mesmo
de companhia, alguns até mesmo dormem no quarto e dividem a cama com
seus familiares.
3.1 Lares com Pets e Convivência com os Animais de Estimação
Enquanto Vinculo Familiar
Desde a antiguidade, os seres humanos encontram-se envolvidos em
sua caminhada diária com diversas espécies animais. Quanto aos animais de
estimação, indiscutivelmente são parte da maioria dos lares brasileiros.
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para
Animais de Estimação (Abinpet), em 2012, no Brasil, havia cerca de 106,2
milhões de animais de estimação. Diante desse número expressivo, o país tem
a quarta maior população mundial (POPULAÇÃO, 2014).
A convivência com animais de estimação pode auxiliar o homem a
buscar a sua própria identidade, conhecer suas próprias aspirações e a definir
seus princípios. Hoje encontramos protótipos de formações familiares que
mesclam a relação entre humanos e animais.
Santos (2008) reflete a cerca da convivência entre os humanos e outros
seres vivos:
Você pode não estar ciente disso, mas nesse exato momento inúmeras espécies convivem com você numa relação muito íntima. Estima-se que haja por volta de 100 trilhões de microorganismos em nosso corpo, presente no estômago, no intestino, nas axilas, na boca etc. A convivência com outros seres – harmoniosa ou não – faz parte da vida humana. (p. 21).
26
Os arranjos sociais são facilitadores dos laços entre as pessoas e seus
animais. Segundo Santos (2008), “a demografia está caindo, as famílias são
menores e estão sendo modificadas, com mais pessoas morando sozinhas.” (p.
25). As pessoas que moram sozinhas ou não têm filhos, demonstram ser mais
apegadas aos seus animais de estimação; no entanto, isto não significa que
estas tenham dificuldades de contato com outras pessoas.
O hábito de ter animais de estimação é muito mais característica do
Ocidente, provavelmente pelo fato de ao animal estar suposto ao acolhimento
e/ou suprimento de algumas necessidades emocionais, enquanto nas outras
sociedades estas necessidades são preenchidas de outra forma.
Santos (2008) acrescenta:
[...] estudos transculturais indicam que a posse de animais de estimação está mais relacionada a tradições e crenças a respeito dos animais – como a idéia de que são inferiores, pouco dignos do cuidado humano – do que com a extensão da família ou com a dimensão coletiva ou individualista da sociedade. Porém, em uma tradição cultural particular, a existência de menos contatos sociais pode acentuar o apego aos animais. (p. 25).
Os animais simbolizam uma fonte de lealdade e companheirismo
incondicional, dando resposta à necessidade humana de interagir socialmente,
assumindo os mais variados papéis, mesmo sem conseguir suprir, por
completo, a ausência do outro ser humano nas relações.
O animal de estimação é representado nessa relação interespécie como
um provedor de conforto, fator de proteção contra uma situação existencial de
risco, identificada como estar só, mas sua presença, não esgota a necessidade
de conviver com as pessoas no cotidiano. A presença do animal de estimação
funciona como um atenuador dos problemas familiares na medida em que é
capaz de atrair o foco da atenção para si.
Os animais podem ser considerados como uma fonte de amor (Faraco,
2003) e nessa relação homem-animal ocorre também uma busca por carinho
(Leal, 2007 conforme citado por Barbosa, 2013). Segundo Polster e Polster
(2001), o contato faz parte da natureza e sem ele não há vida. Nesse sentido, o
contato com o outro então é al-go nutritivo para o homem.
27
Segundo Perls et al. (1997) no contato o homem se relaciona consigo,
com o outro e com o mundo, formando um ser de relação. O contato pode
também ser uma forma de o ser humano se ajustar de forma criativa no meio.
Dessa forma, ao ter contato com seus animais de estimação, os humanos
relatam que nessa relação surgem sentimentos que eles nomeiam como amor
e carinho.Também apareceram sentimentos de alegria, compaixão, sentimento
de não estar só, de alívio por ter a companhia do animal, sensação de
relaxamento.
Esta convivência parece ir além do lazer e da companhia. Nesse
sentido, destaca-se que, recentemente, diversos pesquisadores de todo o
mundo relataram que a interação do homem com o animal de estimação
promove mudanças positivas no comportamento das pessoas, estimula o
desenvolvimento de habilidades e o exercício da responsabilidade em
diferentes culturas e contextos. Consequentemente tende a melhorar a saúde
física, psicológica e emocional do homem.
A nova dinâmica familiar, os novos hábitos dos indivíduos que, muitas
vezes, vivem isolados em seus lares, as jornadas de trabalho que impõem o
afastamento dos pais de suas crianças por muitas horas, menor número de
filhos, mais recursos financeiros e outras situações poderiam ser apontadas
como justificativas (ou caminhos para elas) para o crescente vínculo entre os
animais domésticos e as pessoas, uma vez que o animal de companhia
ganhou seu espaço, tornou-se descrito no orçamento familiar e passou a ser
assistido na vida e na morte. Todavia, o que importa neste momento é lidar
com o fato de que a construção de fortes laços afetivos com algumas espécies,
como é o caso dos cães e gatos, veio a transformá-los para alguns em
verdadeiros entes familiares e, da mesma forma que o Direito trata dos
conflitos familiares quando o assunto são bens, filhos, cuidados,
responsabilidades, moradia, há também que tratar quando a demanda referir-
se aos animais, considerando, por exemplo, como a família que se rompe os
considera, ou seja, como entes daquele contexto.
3.2 A Relação de Afeto entre Humanos e Animais
28
O processo de domesticação teve início desde a pré-historia, quando a
proximidade entre homens e animais era relatada nas pinturas de cavernas.
Esse processo fez com que os animais não só se aproximassem dos homens
como também se tornassem mais dependentes deles, o que trouxe
consequências positivas e negativas para os dois.
Com o passar dos anos os animais domesticados se tornaram muito
mais próximos dos humanos, assim deixaram de servir apenas para ajudar em
trabalhos, e passaram a fazer parte do cotidiano dos homens, tanto que hoje
em dia muitas pessoas dão grande importância à presença de animais dentro
de casa, considerando-os necessários para um lar feliz.
Evidências importantes mostram que as pessoas geralmente vêem sua
relação com seus animais de estimação como parecidas com as relações que
têm com seus filhos; os “donos” de animais de estimação muitas vezes os
tratam como crianças, pois brincam com seus animais falando em tom
maternal, e alguns costumam se referir a eles chamando-os de “meu bebê”,
cuidam e os acariciam como se eles fossem bebê humano. “Em estudo
conduzido por Berryman e outros pesquisadores, conclui-se que os animais de
estimação são vistos como tão próximos quanto “o próprio filho” pelos
humanos.” (Santos, 2008, p. 23).
Estudos apontam que esta relação emocional com os cães pode ser
substituta às relações com outras pessoas, como por exemplo, cônjuge ou até
mesmo com os pais.
O cachorro parece suprir, em muitos casos, uma necessidade emocional. Pode ser uma fonte de segurança e, quando as pessoas se sentem ansiosas, o cão pode ter um efeito calmante. Assim, a natureza do laço entre humanos e cães contém um forte elemento de segurança, por isso o animal pode substituir a companhia de outro humano. (Santos, 2008, p. 23 e 24).
Acredita-se que o humano pode produzir um apego especial com os
cães:
Pesquisadores construíram um questionário contendo frases que indicavam níveis de apego com um cachorro de estimação, como, por exemplo, carregar a fotografia dele, deixa-lo dormir em sua cama, frequentemente falar e interagir com ele e defini-lo como um membro da família. Os dados indicaram altos níveis de apego entre donos e seus cães. Quase a metade definia seu cachorro como um membro da família, 67% carregava uma fotografia dele em sua carteira, 73% deixavam que eles dormissem em sua cama e 40% comemoravam o
29
aniversário do cachorro. As mulheres apresentaram apego ainda mais forte com seus animais do que os homens. (Santos, 2008, p. 24).
Nos dias de hoje no Brasil existem aproximadamente 28,8 milhões de
cães convivendo com os humanos, e na maioria das vezes, convivem na
condição de parceiros sociais. Segundo Faraco (2008) isto pode indicar
escolhas individuais e mudanças de prioridades sociais. Cita Maturana (2002)
ao dizer que “define como fator determinante de um sistema social, isto é, uma
vez que a conduta dos membros de uma sociedade particular mude, as
características sociais serão modificadas.” (Faraco, 2008, p. 41).
Faraco (2008) acrescenta:
Em estudos comparando a importância dos animais de estimação com os demais membros humanos da família, registrou-se que em 44% dos casos é o animal o familiar mais acariciado e que 81% dos respondentes acreditam que em situações de tensão ou ansiedade na família, os animais somatizam e manifestam distúrbios gástricos ou convulsionam (CAIN, 1993). (p. 41).
Os animais de estimação preenchem a falta de laços afetivos e aplacam
a solidão de um mundo muito mais individualista, numa transferência social
mútua onde cada um preenche a lacuna de seu próprio meio, convivendo
quase como “semelhantes”.
4. Animais na legislação: Proteção e Direitos
A nova dinâmica familiar, os novos hábitos dos indivíduos que, muitas
vezes, vivem isolados em seus lares, as jornadas de trabalho que impõem o
afastamento dos pais de suas crianças por muitas horas, menor número de
filhos, mais recursos financeiros e outras situações poderiam ser apontadas
como justificativas (ou caminhos para elas) para o crescente vínculo entre os
animais domésticos e as pessoas, uma vez que o animal de companhia
ganhou seu espaço, tornou-se descrito no orçamento familiar e passou a ser
assistido na vida e na morte.
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Todavia, o que importa neste momento é lidar com o fato de que a
construção de fortes laços afetivos com algumas espécies, como é o caso dos
cães, veio a transformá-los para alguns em verdadeiros entes familiares e, da
mesma forma que o Direito trata dos conflitos familiares quando o assunto são
bens, filhos, cuidados, responsabilidades, moradia, há também que tratar
quando a demanda referir-se aos animais, considerando, por exemplo, como a
família que se rompe os considera, ou seja, como entes daquele contexto.
No Código Civil, o Livro III trata do Direito das Coisas, tal a sua
importância para a sociedade. Vale destacar a diferença entre coisas e bens.
Sílvio de Salvo Venosa esclarece que “sob o nome de coisa, pode ser
chamado tudo quanto existe na natureza, exceto a pessoa, mas como bem só
é considerada aquela coisa que existe proporcionando ao homem uma
utilidade, porém com o requisito essencial de ficar suscetível de apropriação.”
Os animais têm natureza jurídica de bem móvel por serem suscetíveis
de movimento próprio, classificados, portanto, como semoventes. Nos dizeres
do artigo 82, do Código Civil, são “móveis os bens suscetíveis de movimento
próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da
destinação econômico social”. Na linguagem da Lei Civil brasileira as crias dos
animais pertencem ao seu proprietário, podendo ser vendidos ou doados,
conforme estabelece o artigo 1.232 do Código Civil. Dessa forma, por ser um
bem, estão sujeitos à partilha na ocasião da dissolução da sociedade conjugal.
Os animais possuem também lugar nas Leis Federais, como o
Decreto 24.645, de 10 de junho de 1934 (Brasil, 1934), que estabelece
medidas de proteção aos animais e a Lei nº 9605 de 12 de fevereiro de 1998
(Brasil, 1998), que trata sobre os crimes ambientais, entre eles os maus tratos
aos animais.
De acordo com a Constituição Federal Brasileira em seu artigo
5º, inciso LXX, “b”, a fauna é considerada como um patrimônio público e em
seu artigo 225, inciso VII, reconhece que os animais são dotados de
sensibilidade, proibindo expressamente as práticas que coloquem em risco sua
função ecológica, provoquem a sua extinção ou os submetam à crueldade.
Passa-se a reconhecer a esses seres vulneráveis o direito fundamental à vida,
a integridade física e à liberdade.
31
Temos ainda a Lei Federal 9.605/98 – que em seu artigo 32
dispõe que: Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais
silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção,
de três meses a um ano, e multa. O § 1º Incorre nas mesmas penas quem
realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins
didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. No § 2º A pena
é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.
Também dispõe o artigo 319, CP, “É crime retardar ou deixar de
praticar indevidamente ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa
da lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”.
Todos os animais são tutelados pelo Estado, eles serão
assistidos em juízo pelos representantes do Ministério Público, seus substitutos
legais e pelos membros das Sociedades Protetoras dos Animais.
Recentemente, foi aprovado o projeto de Lei - PL 2833/11, que
está na fase de apreciação pelo Senado Federal – que de acordo com o texto,
a pena para os casos de matar cão ou gato terá pena de detenção de 1 a 3
anos. A exceção será para a eutanásia, se o animal estiver em processo de
morte agônico e irreversível, contanto que seja realizada de forma controlada e
assistida.
A partir daí, nota-se que a igualdade também deve haver no
tratamento com os animais, pois, conforme a Declaração Universal dos Direitos
dos Animais, “todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos
direitos à existência”.
Respeitar e proteger os animais é um dever assegurado por leis
municipais, estaduais, federais e internacionais e devem ser representados a
nível governamental, da mesma forma dos direito do homem.
De acordo com a Declaração Universal dos Direitos dos Animais,
pode-se analisar 10 mandamentos cruciais descritos abaixo:
“1. Todos os animais têm o mesmo direito à vida. 2. Todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem.3. Nenhum animal deve ser maltratado. 4. Todos os animais selvagens têm o direito de viver livres o seu habitat. 5. O animal que o homem escolher para companheiro não deve ser nunca abandonado. 6. Nenhum animal deve ser usado em experiência que lhe causem dor. 7. Todo ato que põe em risco a vida de um animal é um crime contra a vida. 8. A
32
poluição e a destruição do meio ambiente são considerados crimes contra os animais. 9. Os direitos dos animais devem ser defendidos por lei.10. O homem deve ser educado desde a infância para observar, respeitar e compreender os animais.”
Todos os animais têm o direito de viver de acordo com suas
próprias naturezas, livres do sofrimento, do abuso e da exploração humana.
Nos dizeres de Helita Barreiro Custódio, todas as categorias e
espécies existentes no Brasil são protegidas constitucionalmente, não sendo
adotado qualquer tipo de discriminação no texto da lei. Prevista unicamente a
expressão “os animais”. Assim, todos os animais, sem exceção, são protegidos
constitucionalmente contra quaisquer práticas de crueldade, desumanas e
danosas, e, àquele que contraria tal disposição, está sujeito às sanções
administrativas, civis ou penais.
Todos os animais possuem o direito a uma existência digna.
Nesse sentido, acredita-se pertinente a reflexão de Nussbaum (2008):
O que poderíamos sustentar como existência digna seria, ao menos, garantir:oportunidade de nutrição adequada; atividades físicas compatíveis com a espécie; estar livre da dor e da crueldade; não ser obrigado a agir de forma contrária às características de sua espécie; estar livre do medo;poder interagir com membros de sua própria espécie e de outras espécies;ter a chance de aproveitar o sol e o ar com tranqüilidade.
Vale trazer à colação alguns julgados:
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. DIREITO DOS ANIMAIS. INTERDIÇÃO DE CANIL MUNICIPAL DE TORRES. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. REQUISITOS CONFIGURADOS. PRELIMINAR DE LITISPENDÊNCIA AFASTADA. 1. A configuração da litispendência está relacionada a existência concomitante das mesmas partes, causa de pedir e pedido com demanda anteriormente ajuizada. Inteligência do art. 301 , § 2º , do CPC . Não é o caso dos autos. Preliminar desacolhida. 2. Incumbe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, sem colocar em risco a sua função ecológica, a extinção de espécies ou submeter os animais a crueldade, conforme prevê o art. 225 , § 1º , inc. VII , da CF . 3. O art. 1º da Lei Municipal nº 4.003 /06 estabelece que o controle e proteção das populações animais são de responsabilidade conjunta da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Secretaria Municipal da Saúde. 4. No caso, restou comprovado aos
33
autos o estado de precariedade do Canil Municipal de Torres, de modo que deve ser mantida a decisão que interditou parcialmente o local, a fim de evitar maiores prejuízos aos animais que venham a ser colocados àquela situação. 5. Hipótese em que restou comprovado nos autos a verossimilhança do direito alegado e a urgência da tutela pretendida. Preenchidos os requisitos caracterizadores da antecipação de tutela, a teor do que disciplina o art. 273 do CPC . NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO. (Agravo de Instrumento Nº 70058136094, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sergio Luiz Grassi Beck, Julgado em 12/03/2014) AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - FUGA DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO DE PET SHOP - DANO MORAIS. - Considerando o carinho dos autores pelo animal de estimação, a fuga deste de um pet shop, por período de tempo razoável, é fato capaz de gerar dano moral, não se tratando de um mero aborrecimento. (TJ-MG - AC: 10525140034949001 MG, Relator: Pedro Bernardes, Data de Julgamento: 24/05/0015, Câmaras Cíveis / 9ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 19/06/2015) Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DIREITOS DOS ANIMAIS E RELEVANTE PREJUÍZO COMERCIAL A EVENTO CULTURAL TRADICIONAL. RESTRIÇÕES A PUBLICAÇÕES E DANOS MORAIS. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL. 1. A decisão recorrida impôs restrições a publicações em sítio eletrônico de entidade de proteção aos animais, que denunciava a crueldade da utilização de animais em rodeios, condenando-a ao pagamento de danos morais e proibindo-a de contactar patrocinadores de um evento específico, tradicional e culturalmente importante. 2. Constitui questão constitucional da maior importância definir os limites da liberdade de expressão em contraposição a outros direitos de igual hierarquia jurídica, como os da inviolabilidade da honra e da imagem, bem como fixar parâmetros para identificar hipóteses em que a publicação deve ser proibida e/ou o declarante condenado ao pagamento de danos morais, ou ainda a outras consequências jurídicas. 3. Repercussão geral reconhecida. Ementa: DIREITO CIVIL. CONDOMÍNIO RESIDENCIAL. ANIMAIS DOMÉSTICOS. CONVENÇÃO. PROIBIÇÃO. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. TOLERÂNCIA. I – A vedação constante da convenção de condomínio de criação de animais nas unidades autônomas não pode prevalecer ante às peculiaridades do caso concreto, pois se trata de animais pequenos, que não representam incômodo ou perturbação do sossego e nem constituem em ameaça à saúde e a segurança dos demais condôminos. II – Negou-se provimento ao recurso. CONDOMÍNIO – Ação cominatória, compelindo condôminos a, com base em norma de regimento interno vedando a presença de animais, providenciar a remoção de cães das unidades de sua propriedade. Cães das raças “yorkshire” e “poodle”, de portes pequenos e dóceis, cuja presença nunca poderia acarretar incômodos ou prejuízos aos
34
demais condôminos. Regras, no caso, ademais, estabelecida em prol dos próprios animais, a qual, de todo modo, haveria de ser interpretada de acordo com a finalidade preconizada na lei do condomínio (artigos 10, III e 19, da Lei nº 4.591/64), sob pena de constituir abuso e ser considerada ineficaz. Improcedência mantida. Apelação do condomínio improvida. Provimento da apelação do co-réu, para elevar a verba honorária e cancelar comunicação à ordem dos advogados do brasil.” (TJSP – AC 137.372-4/6 – Santo André – 2ª CDPriv. – Rel. Des. J. Roberto Bedran – J. 26.08.2003)
Ementa: RECURSO INOMINADO. RESPONSABILIDADE CIVIL. ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. DESAPARECIMENTO/FUGA DE GATO DA CLÍNICA VETERINÁRIA. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS EVIDENCIADA. DEVER DE GUARDA NÃO OBSERVADO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM INDENIZATÓRIO REDUZIDO. - Depreende-se do conjunto probatório colacionado aos autos, que a parte autora encaminhou o seu gato para realizar tratamento de saúde no estabelecimento da ré. Ocorre que o animal de estimação desapareceu/fugiu, não sendo mais encontrado, o que conduz à hipótese de falha na prestação dos serviços, diante da ausência de zelo na guarda. De acordo com o artigo 14 do CDC , os prestadores de serviços respondem de forma objetiva pelos danos causados ao consumidor por defeitos relativos à prestação dos serviços. Configurado está o dever de indenizar. - Contudo, impõe-se o provimento parcial do recurso, com a redução do quantum arbitrado na origem (R$ 14.430,00 - fl. 43) para R$ 8.000,00 (oito mil reais), a fim de atender aos postulados da proporcionalidade e da razoabilidade e, em especial, considerando a capacidade econômica da ré, haja vista tratar-se de uma microempresa (fls. 53-59). A gravidade da conduta ilícita, a intensidade e a duração das consequências, a condição econômica da ofensora de suportar a indenização e o dúplice caráter da medida (pedagógico, para evitar a reiteração da conduta inadequada; e compensatório, mas sem ocasionar enriquecimento indevido) devem ser sopesados na quantificação dos danos imateriais,... o que, então, justifica a minoração da indenização. SENTENÇA REFORMADA EM PARTE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (Recurso Cível Nº 71005647607, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Lusmary Fatima Turelly da Silva, Julgado em 22/10/2015). Ementa: RECURSO INOMINADO. REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS. MORTE DE ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO POR ATAQUE DE CÃO DA RAÇA PIT BULL. RESPONSABILIDADE DA RÉ NÃO ILIDIDA. VEROSSIMILHANÇA NAS ALEGAÇÕES DA PARTE AUTORA. NEGLIGÊNCIA DA RÉ, QUE NÃO TOMOU TODOS OS CUIDADOS DEVIDOS COM A GUARDA DO ANIMAL. DANO MORAL CARACTERIZADO TANTO PELA PERDA DOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO, QUANTO PELA ANGÚSTIA SUPORTADA NO MOMENTO EM QUE OCORREU A AGRESSÃO, PRESENCIADA PELOS DEMANDANTES. QUANTUM INDENIZATÓRIO QUE MERECE REDUÇÃO A FIM DE SE ADEQUAR AOS PARÂMETROS ADOTADOS PELAS TURMAS EM CASOS ANÁLOGOS (R$ 2.500,00). RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (Recurso Cível Nº 71004227658, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Roberto José Ludwig, Julgado em 30/04/2013)
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EMENTA: LOTEAMENTO. RESTRIÇÃO. CRIAÇÃO DE ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. Realizada inspeção pela vigilância sanitária conclui-se que todos os animais estavam saudáveis e encontravam-se em recinto limpo, livre de insetos ou maus odores que pudessem causar transtorno à população. Ao contrário do que alega a autora, a ré está exercendo o seu mais legítimo direito de propriedade. Cabia à autora a comprovação de efetivo prejuízo à coletividade, ônus do qual não se desincumbiu (art. 333, I do CPC). Sentença mantida. Recurso não provido. EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVENTÁRIO. DESPESAS DOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO DEIXADOS PELA FALECIDA. ALVARÁ AUTORIZADO. Enquanto não for providenciado destino adequado para os animais deixados pela falecida (vinte e nove gatos e sete cachorros) as despesas de manutenção correm por conta do Espólio, até o limite de suas forças. Portanto, adequada a decisão que autorizou a expedição de alvará para que o Espólio pudesse quitar despesas dos animais NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO. (Agravo de Instrumento Nº 70059926881, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alzir Felippe Schmitz, Julgado em 30/10/2014). (TJ-RS - AI: 70059926881 RS, Relator: Alzir Felippe Schmitz, Data de Julgamento: 30/10/2014, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 04/11/2014)
4.1 Divórcio na Família Multiespécie e a Guarda de Animais de
Estimação
O Direito Civil Brasileiro dispõe sobre as normas de formação e
dissolução do casamento. A partir do casamento estabelece-se entre as partes
a sociedade conjugal e o vínculo matrimonial. Rompido o afeto e inexistindo
interesse na continuidade do matrimônio, a lei brasileira possibilita o
desfazimento dessa união por meio do divórcio.
Após o vínculo se finalizar pelo divórcio (no casamento), pela
dissolução (na união estável) ou simplesmente pelo afastamento (em qualquer
outro relacionamento), pode surgir questões patrimoniais.
Grande celeuma tem envolvido o ordenamento jurídico brasileiro
no momento do divórcio, quando há na dissolução conjugal disputa pelos
animais de estimação.
Em face da inexistência de lei a regulamentar a guarda dos
animais de estimação em caso de divórcio, a tarefa não é das mais fáceis,
especialmente quando não há consenso entre as partes. Diante disso o
36
magistrado deve buscar a melhor solução para cada caso concreto,
socorrendo-se à analogia, aos costumes e aos princípios gerais do direito para
a melhor solução da demanda.
Segundo as normas do Código Civil e o pensamento de
Gonçalves (2012, p.292), em regra, a guarda dos filhos trata-se de direito
natural dos genitores. No caso dos animais de estimação, a guarda é direito
natural dos tutores.
Nos casos de divórcio, onde os tutores não consigam chegar a um
consenso sobre a guarda dos animais de estimação, o Poder Judiciário, ao
analisar os casos, deve fazer prevalecer o melhor interesse dos animais,
ponderando cuidadosamente todos os aspectos fáticos. Para tanto, tem como
fundamento as regras do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Código
Civil, cabendo sua utilização por analogia.
Os animais de estimação ganharam importante espaço afetivo na
vida de seus donos, algo absolutamente comum em nossa sociedade. Assim,
inviável a partilha de sorte a deixar um dos consortes privado do convívio com
o animal pelo qual nutre sentimentos e estima.
Por outro lado, em respeito às normas de proteção aos animais
acima citadas, tais bichos de estima não podem simplesmente serem tratados
como bens e, eventualmente, submetidos a maus tratos por algum consorte
que não tenha vocação para cuidar do animal. Assim, deve o juiz ter o cuidado
de estabelecer a guarda e convívio com aquele que reunir melhores condições
de criar o animal.
O Projeto de Lei nº 1.058/2011 a borda a matéria relativa à guarda
do animal de estimação e, apresenta em seu teor subsídios passíveis de
auxiliar o juiz na fundamentação das suas decisões, quando o animal estiver
sendo disputado em uma dissolução conjugal litigiosa, ou em um litígio em que
não há consenso quanto a guarda compartilhada.
Percebe-se a existência de vácuo legislativo com relação à guarda
e suas aplicabilidades e tal projeto foi apresentado a Comissão de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, e posteriormente foi aprovado seu
substitutivo, porém atualmente aguarda o parecer da Comissão de Constituição
37
e Justiça e de Cidadania para seguir o curso e quiçá ser sancionado (BRASIL,
2016c).
Quando da apresentação do projeto, a Comissão de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável justificou sua necessidade, pois, os
Juízes estavam desprovidos de fundamentação legal para decisão quanto ao
animal de estimação em casos de dissoluções conjugais litigiosas (BRASIL,
2016c)
[...] os animais não podem mais ser tratados como objetos em caso de separação conjugal, na medida em que são tutelados pelo Estado. Devem ser estipulados critérios objetivos em que se deve fundamentar o Juiz ao decidir sobre a guarda, tais como cônjuge que costumava levá-lo ao veterinário ou para passear, enfim aquele que efetivamente assista o pet em todas as suas necessidades básicas [...]
A melhor solução repousa na preservação dos interesses dos
animais de estimação. A simples demonstração da propriedade do animal não
é suficiente para a concessão de sua guarda, pois, muitas vezes, a relação
afetiva estabelecida entre o não proprietário e o animal é mais forte e saudável.
Os envolvidos, portanto, devem demonstrar quem possui melhores condições
para a criação do animal. Condições estas que vão desde os fatores
psicológicos, sentimentais, financeiros, tempo disponível, entre outros.
Face ao exposto, percebe-se que o elo afetivo deixou de ser a principal
garantia para que as partes provassem ter capacidade de guarda do animal de
estimação quando está em litígio
Posicionamento da jurisprudência de tribunais quanto à proteção da
família multiespécie e do bem-estar dos animais de estimação em caso de
litígios:.
UNIÃO ESTÁVEL. RECONHECIMENTO. PARTILHA DOS BENS. CONTRIBUIÇÃO. DESNECESSIDADE. MANTÉM-SE A PARTILHA IGUALITÁRIA DO IMÓVEL PORQUE OS ELEMENTOS COLIGIDOS AOS AUTOS COMPROVAM, À SACIEDADE, QUE O BEM FOI EDIFICADO COM A PARTICIPAÇÃO DE AMBOS OS CONVIVENTES, NA MEDIDA DE SUAS POSSIBILIDADES E EM TERRENO DE PROPRIEDADE DOS PAIS DA MULHER. ALUGUEL PELO USO DO IMÓVEL COMUM. DESCABIMENTO. NÃO SE PODE EXIGIR O PAGAMENTO DE LOCATIVOS ENQUANTO NÃO
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PERFECTIBILIZADA A PARTILHA DOS BENS. É QUE INEXISTE TÍTULO JURÍDICO QUE AUTORIZE A COBRANÇA DE ALUGUEL CONTRA O COMPANHEIRO QUE PERMANECE RESIDINDO NO IMÓVEL COMUM, POSTO QUE OS BENS FICAM EM MANCOMUNHÃO. INDENIZAÇÃO POR DANOS CAUSADOS A BEM PERTENCENTE AO VARÃO. DESCABE A INDENIZAÇÃO QUANDO NÃO CONSTATADO O DESCUIDO DA MULHER NA PRESERVAÇÃO DO BEM. ADEMAIS, TRATANDO-SE DE MÓVEL USADO E DESMONTADO, PROVAVELMENTE APRESENTARIA ALGUMA AVARIA DECORRENTE DO PRÓPRIO USO. ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. MANTÉM-SE O CACHORRO COM A MULHER QUANDO NÃO COMPROVADA A PROPRIEDADE EXCLUSIVA DO VARÃO E DEMONSTRADO QUE OS CUIDADOS COM O ANIMAL FICAVAM A CARGO DA CONVIVENTE. APELO DESPROVIDO.” (TJRS – APELAÇÃO CÍVEL – 7A. CÂMARA CÍVEL – N.70007825235 – COMARCA DE CAXIAS DO SUL – FONTE: WWW.TJ.RS.GOV.BR) AGRAVO REGIMENTAL. INSURGÊNCIA CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. INCONFORMISMO CONTRA DECISÃO QUE DETERMINOU A ENTREGA DO CÃO DE ESTIMAÇÃO DO CASAL À MULHER, NO PRAZO DE 48 HORAS, SOB PENA DE MULTA. EM RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO ANTERIOR FOI AUTORIZADA A GUARDA DO ANIMAL PELA AGRAVADA, NO ENTANTO, ENTRE JUNHO DE 2012 E FEVEREIRO DE 2013, A AGRAVADA NÃO DEU MOSTRAS DE POSSUIR INTERESSE EM FICAR COM O ANIMAL, EVIDENCIADO PELA AUSÊNCIA DE DILIGÊNCIA. AUTORIZADA A MANUTENÇÃO DA SITUAÇÃO FÁTICA. RECURSO PROVIDO. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE POSSE COMPARTILHADA DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. NA AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO, INEXISTE DISCUSSÃO QUE RECAIA SOBRE DIREITO DE FAMÍLIA. A LIDE TRATA DE MATÉRIA CÍVEL DE CUNHO DECLARATÓRIO, COMPETINDO AO JUÍZO SUSCITANTE O PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DO FEITO. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA JULGADO IMPROCEDENTE, EM DECISÃO MONOCRÁTICA. (CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 70074572579, DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: EDUARDO JOÃO LIMA COSTA, JULGADO EM 18/09/2017). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. ACORDO JUDICIAL ENTABULADO NOS AUTOS DA AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. EXTINÇÃO DO FEITO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO.CERCEAMENTO DE DEFESA. É dever do magistrado indeferir a produção de prova quando evidentemente desnecessária, mormente quando observada a ausência das condições da ação, desafiando a extinção do
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feito, sem julgamento de mérito.NULIDADE DA SENTENÇA POR AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. Fundamentação sucinta não é sinônimo de ausência de fundamentação. Havendo o juízo lançado os alicerces de seu convencimento, não há falar em nulidade da sentença.MÉRITO. Se o acordo havido entre as partes previa que a companheira (separanda) levasse a cadela consigo, caso assim o desejasse, não há interesse processual a albergar a pretensão de restituição do animal ao separando. NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.
MANDADO DE SEGURANÇA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. RESTITUIÇÃO DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. No conflito de competência nº 70036122240, o Órgão Especial desta Corte considerou competentes as Câmara Criminais para apreciar recursos oriundos das decisões proferidas pelos Juízes de Direitos no âmbito dos processos referentes à Lei Maria da Penha, ainda que o objeto das medidas seja nitidamente derivado do direito de família, como no caso dos autos. O animal de estimação não se encontra com o impetrante desde o dia 08 de abril de 2013, e, não comprovado que a cadela lhe tenha sido doada, mantém-se a decisão proferida em primeiro grau. SEGURANÇA DENEGADA. (Petição Nº 70055275572, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jayme Weingartner Neto, Julgado em 13/03/2014)(TJ-RS - PET: 70055275572 RS, Relator: Jayme Weingartner Neto, Data de Julgamento: 13/03/2014, Terceira Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 11/04/2014)
DIREITO CIVIL - RECONHECIMENTO/DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL - PARTILHA DE BENS DE SEMOVENTE - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL QUE DETERMINA A POSSE DO CÃO DE ESTIMAÇÃO PARA A EX- CONVIVENTE MULHER–RECURSO QUE VERSA EXCLUSIVAMENTE SOBRE A POSSE DO ANIMAL – RÉU APELANTE QUE SUSTENTA SER O REAL PROPRIETÁRIO – CONJUNTO PROBATÓRIO QUE EVIDENCIA QUE OS CUIDADOS COM O CÃO FICAVAM A CARGO DA RECORRIDA DIREITO DO APELANTE/VARÃO EM TER O ANIMAL EM SUA COMPANHIA – ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO CUJO DESTINO, CASO DISSOLVIDA SOCIEDADE CONJUGAL É TEMA QUE DESAFIA O OPERADOR DO DIREITO – SEMOVENTE QUE, POR SUA NATUREZA E FINALIDADE, NÃO PODE SER TRATADO COMO SIMPLES BEM, A SER HERMÉTICA E IRREFLETIDAMENTE PARTILHADO, ROMPENDO-SE ABRUPTAMENTE O CONVÍVIO ATÉ ENTÃO MANTIDO COM UM DOS INTEGRANTES DA FAMÍLIA –CACHORRINHO “DULLY” QUE FORA PRESENTEADO PELO RECORRENTE À RECORRIDA, EM MOMENTO DE ESPECIAL DISSABOR ENFRENTADO PELOS CONVIVENTES, A SABER, ABORTO NATURAL SOFRIDO POR ESTA – VÍNCULOS EMOCIONAIS E AFETIVOS CONSTRUÍDOS EM TORNO DO ANIMAL, QUE DEVEM SER, NA MEDIDA DO POSSÍVEL, MANTIDOS – SOLUÇÃO QUE NÃO TEM O CONDÃO DE CONFERIR DIREITOS SUBJETIVOS AO ANIMAL, EXPRESSANDO-SE, POR OUTRO LADO, COMO MAIS UMA DAS VARIADAS E MULTIFÁRIAS MANIFESTAÇÕES DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, EM FAVOR DO
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RECORRENTE –PARCIAL ACOLHIMENTO DA IRRESIGNAÇÃO PARA, A DESPEITO DA AUSÊNCIA DE PREVISÃO NORMATIVA REGENTE SOBRE O THEMA, MAS SOPESANDO TODOS OS VETORES ACIMA EVIDENCIADOS, AOS QUAIS SE SOMA O PRINCÍPIO QUE VEDA O NON LIQUET, PERMITIR AO RECORRENTE, CASO QUEIRA, TER CONSIGO A COMPANHIA DO CÃO DULLY, EXERCENDO A SUA POSSE PROVISÓRIA, FACULTANDO-LHE BUSCAR O CÃO EM FINS DE SEMANA ALTERNADOS, DAS 10:00 HS DE SÁBADO ÀS 17:00HS DO DOMINGO.SENTENÇA QUE SE MANTÉM
EMENTA: DIREITO CIVIL- RECONHECIMENTO/DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL - PARTILHA DE BENS DE SEMOVENTE -SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL QUE DETERMINA A POSSE DO CÃO DE ESTIMAÇÃO PARA A EX-CONVIVENTE MULHER
EMENTA: RECURSO QUE VERSA EXCLUSIVAMENTE SOBRE A POSSE DO ANIMAL – RÉU APELANTE QUE SUSTENTA SER REAL PROPRIETÁRIO–CONJUNTO PROBATÓRIO QUE EVIDENCIA QUE OS CUIDADOS COM O CÃO FICAVAM A CARGO DA RECORRIDA
EMENTA: GUARDA E VISITAS DE ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. SEPARAÇÃO JUDICIAL. O animal em disputa pelas partes não pode ser considerado como coisa, objeto de partilha, e ser relegado a uma decisão que divide entre as partes o patrimônio comum. Como senciente, afastado da convivência que estabeleceu, deve merecer igual e adequada consideração e nessa linha entendo deve ser reconhecido o direito da agravante, desde logo, de ter o animal em sua companhia com a atribuição da guarda alternada. O acolhimento da sua pretensão atende aos interesses essencialmente da agravante, mas tutela, também, de forma reflexa, os interesses dignos de consideração do próprio animal. Na separação ou divórcio deve ser regulamentada a guarda e visita dos animais em litígio. Recurso provido para conceder à agravante a guarda alternada até que ocorra decisão sobre a sua guarda
4.2 Personalidade dos animais
No Código Civil brasileiro não há nenhuma menção sobre a natureza
jurídica dos animais. Na qualidade de semoventes, eles têm condição de bens
móveis e podem figurar como objeto de negócios jurídicos. No ordenamento
jurídico brasileiro, uma mudança de perspectiva nesse âmbito pressupõe a
realização de reforma legislativa específica, até lá, os animais continuam como
espécies de bens móveis, apesar de ser clara a necessidade de uma
redesignação da natureza jurídica desses. Outro obstáculo nessa classificação
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é o reconhecimento de que a capacidade de sofrer do animal. Não existe nada
no rol de coisas, que as pessoas tenham obrigação legal de assegurar
existência digna, evitando sofrimento desnecessário, o que acrescenta a
importância de considerar os animais merecedores de tutela. Outra concepção
que vale a pena ser observada, avalia não apenas o valor comercial e
econômico do animal, mas também o valor afetivo. Uma mudança de paradigma traria maior conscientização da condição
de ser vivo senciente do animal. Outra solução seria assegurar efetiva tutela
dos animais sem mudar sua natureza jurídica, o significado de “coisa” precisa
ser revisto.
.Atualmente, a discussão acerca da natureza jurídica dos animais
justifica-se na medida em que se observa a tendência legislativa de
descaracterizá-los como coisas sem, entretanto, atribuir-lhes personalidade
jurídica.
Segundo Edna Cardoso Dias, um dos argumentos mais comuns para a
defesa dos animais como sujeitos de direito é o de que, assim como as
pessoas jurídicas ou morais possuem direitos de personalidade reconhecidos
desde o momento em que registram seus atos constitutivos em órgão
competente, e, consequentemente, podem comparecer em Juízo para pleitear
seus direitos, da mesma forma, os animais tornam-se sujeitos de direitos
subjetivos por força das leis que os protegem, embora não tenham capacidade
de comparecer em Juízo para pleiteá-los.
A Constituição Federal incumbiu o Poder Público e a coletividade
de proteger os animais e o Ministério Público, expressamente, recebeu a
competência legal para representá-los em Juízo, quando as leis que os
protegem forem violadas.
Os animais, embora não sejam pessoas humanas ou jurídicas,
são indivíduos que possuem direitos, tanto conferidos pela lei ou também
inatos, acima de qualquer condição legislativa. Se os direitos de uma pessoa
humana forem equiparados com os direitos do animal como indivíduo ou
espécie, verifica-se que ambos têm direito à defesa de seus direitos essenciais,
tais como o direito à vida, ao livre desenvolvimento de sua espécie, da
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integridade de seu organismo e de seu corpo, bem como o direito ao não
sofrimento.
Neste sentido, dispõe o artigo 225 da Constituição Federal de
1988:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Da interpretação do artigo 225, da Constituição federal, pode-se
afirmar que a proteção do meio ambiente é ao mesmo tempo direito e dever
fundamental do cidadão. Direito fundamental de viver em um meio ambiente
sadio e equilibrado e dever fundamental de utilizar todos os meio legítimos para
a manutenção deste ambiente por todas as gerações. Trata-se de um direito
com interação entre o homem e a natureza, a fim de se ter um relacionamento
harmonioso e equilibrado.
A faculdade assegurada pelo ordenamento jurídico a alguém de
exigir do outro uma conduta que está, por lei ou ato jurídico, obrigado a
cumprir, e tendo em vista a previsão constitucional de proibição da prática de
atos de crueldade contra animais, estes titularizam uma situação jurídica e
figuram, consequentemente, como sujeitos de direito.
A CF/88, ao elevar a proibição das práticas que submetem
animais não humanos à crueldade à categoria jurídica de norma constitucional,
veio reforçar a teoria apoiada pelos defensores dos direitos dos animais de que
os animais não humanos seriam sujeitos de direitos, ou seja, titulares de uma
situação jurídica.
Nesse sentido, Edna Cardozo Dias e Laerte Levai defendem que
os animais não humanos já são reconhecidamente sujeitos de direito perante o
ordenamento jurídico brasileiro, justamente e na medida em que a Constituição
Federal e a lei de proteção Ambiental conferem diversos direitos subjetivos aos
animais e impõe, expressamente, a vedação à crueldade (art. 225, §1º, VII,
CF/88).
43
Citam-se alguns julgados para demonstrar o tema no
ordenamento jurídico brasileiro:
Ementa: DECISÃO: ACORDAM OS DESEMBARGADORES INTEGRANTES DA DÉCIMA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ, POR UNANIMIDADE DE VOTOS, EM NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - RESPONSABILIDADE CIVIL - DANOS MATERIAIS E MORAIS - AQUISIÇÃO DE ANIMAL CANINO DA RAÇA PASTOR ALEMÃO, MEDIANTE CONTRATO PARTICULAR DE COMPRA E VENDA - FILHOTE QUE VEM A APRESENTAR SINTOMAS DE CINOMOSE, VINDO A ÓBITO POSTERIORMENTE - CONTAMINAÇÃO DE OUTROS ANIMAIS -INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - RECURSO QUE VERSA SOBRE QUESTÕES JÁ DECIDIDAS NO PROCESSO A RESPEITO DA QUAIS OPEROU-SE A PRECLUSÃO - SENTENÇA MANTIDA.RECURSO DESPROVIDO. 1 - O reconhecimento da personalidade jurídica do canil; a incidência do Código de Defesa do Consumidor e a inversão do ônus da prova, tratam-se de questões já decididas no processo, sem recurso de qualquer das partes, estando, portanto, acobertadas pelo manto da preclusão. 2 - Extraindo-se dos elementos do processo, que o animal adoeceu horas após ter sido recebido pelo autor, vindo a óbito posteriormente, e não demonstrando os requeridos, ônus que lhes competia, por força da inversão do onus probandi, que o filhote foi comercializado em perfeitas condições de saúde, resulta evidente o dever de reparar os danos daí advindos, inclusive, pela contaminação de outros cinco animais criados pelo requerente, sendo absolutamente plausível, notadamente à míngua de prova em contrário, o contágio e, de consequência, os danos morais advindos da perda de três deles, com os quais o demandante já havia estabelecido vínculo de afeto. (TJPR - 10ª C.Cível - AC - 1266465-8 - Região Metropolitana de Maringá - Foro Central de Maringá - Rel.: Luiz Lopes - Unânime - - J. 30.04.2015) Ementa: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. PROVAS SUFICIENTES À SOLUÇÃO DO LITÍGIO. CERCEAMENTO DE DEFESA INEXISTENTE. DANO MORAL. ANIMAL DOMÉSTICO. DISSENSO NO SEIO CONDOMINIAL. ASSEMBLEIA. LESÃO A DIREITOS DA PERSONALIDADE. INEXISTÊNCIA. SENTENÇA MANTIDA. I. O indeferimento de prova testemunhal que objetiva demonstrar fatos irrelevantes para o julgamento da causa não traduz cerceamento de defesa e, por conseguinte, não compromete a validade constitucional da sentença. II. Se o juízo monocrático declara o encerramento da instrução e anuncia o julgamento da lide, a parte que não se rebela processualmente por meio do recurso cabível encontra descerrado o manto da preclusão quando suscita suposto cerceamento de defesa em sede de apelação. Inteligência do art. 473 da Lei Processual Civil. III. O dano moral só se emoldura juridicamente quando o ato ilícito, contratual ou extracontratual, invade e golpeia algum predicado da personalidade do ofendido, na linha do que dispõem os artigos 11 e 12 do Código Civil. IV. Os contratempos, as tribulações e os dissabores inerentes ao convívio social, aos relacionamentos pessoais e ao intercâmbio jurídico não são suficientes para caracterizar dano moral. Por mais intensos que sejam não vulneram
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diretamente os direitos da personalidade, a não ser em situações excepcionais devidamente justificadas. V. Salvo em situações excepcionais, disputas e atribulações no seio condominial geradas por dissenso sobre a permanência de animal doméstico no edifício não caracterizam lesão aos atributos da personalidade do condômino que se sente desrespeitado e, por conseguinte, não autorizam o reconhecimento de dano moral. VI. Recurso conhecido e desprovido.
5. Presença dos Animais como Apoio Social
Pesquisadores descobriram que pessoas que possuem
animais de estimação gozam de uma saúde mais saudável comparada com
pessoas que não tem animais de estimação, devido a dedicação e bons
momentos reservados para com estes, sejam cachorros, gatos, tartarugas,
aves, cavalos e outros animais de estimação.
Compreende-se por bons momentos aquele tempo dedicado ao animal
de estimação, através de caminhadas ou corridas por parques e ou ruas da
cidade. Estes gestos contribuem de forma muito positiva no humor e
principalmente na saúde de seu dono, pois ao se desligar dos problemas do
cotidiano e conectar-se ao animal de estimação ocorre o alívio de todo o
estresse acumulado durante o dia, tornando a vida mais leve e feliz.
Ao caminhar com o seu animal de estimação automaticamente o dono
terá menos chance de problemas cardíacos, evitando doenças causadas em
pessoas sedentárias, passando a se relacionar com outras pessoas que
também valorizam este tipo de lazer, e devido os cães se acostumarem com o
passeio diário e praticamente exigirem de seu dono a “voltinha” de costume,
torna-se um hábito saudável.
O contato direto com o bichinho de estimação faz com que o corpo libere
o hormônio do relaxamento, fazendo com que o hormônio do estresse seja
reduzido e é claro este relacionamento traz muitos benefícios aos animais, pois
há uma cumplicidade.
Pesquisas demonstram que essa relação entre homem e animal de
estimação resulta em uma significativa melhora psicológica e emocional nas
pessoas.
45
Estudos comprovam que os bebês que convivem com animais de
estimação tendem a possuir o sistema imunológico mais resistente a alergias,
asma, resfriados e infecções de ouvido, sendo esta convivência recomendada
antes de o bebê completar os seis meses de vida, assim como também, tem
demonstrado que a interação do homem com animais de estimação pode ter
efeitos positivos na saúde e comportamento humano.
A convivência entre eles estimula o bom humor, a diversão, combate a
depressão, alivia a tensão e traz benefícios para a saúde física e psicológiga, o
que resulta num agradável relaxamento ao corpo e à mente, contribuindo para
uma melhor qualidade de vida. No “diálogo” com o bichinho de estimação, a
autenticidade de sentimentos também é exercida sem o perigo de magoar ou
ser mal interpretado.
Bichos de estimação também favorecem a aproximação entre as
pessoas e promovem mais interação da família, despertando um lado mais
sensível e carinhoso. As crianças ficam mais felizes e saudáveis,
desenvolvendo a compaixão e a empatia. Para os idosos, eles se tornam uma
boa fonte de distração, já que preenchem o tempo tendo a quem cuidar e
“conversar”.
Importante ressaltar, que novas pesquisas apontam que quando donos
de cães brincam com seus cachorros, eles experimentam o mesmo tipo de
reação hormonal que acontece com os pais ao brincarem com seus filhos. Este
hormônio é a ocitocina, que também pode ser chamado de hormônio do “amor
incondicional”. É essa explosão hormonal que as pessoas sentem quando se
apaixonam e é o mesmo que faz o coração derreter quando se vê gatinhos,
cachorros e bebês (FARACO, 2014b).
Os animais contribuem ainda no relacionamento entre crianças autistas
com outras crianças não autistas, pois ao verem as crianças brincarem com os
animais, as autistas tendem a brincar, criando um elo sentimental e
desenvolvendo a integralização com outras crianças e animais.
Segundo Paulo de Tarso Lima, coordenador da medicina integrativa do
“Hospital Israelita Albert Einstein”, em São Paulo: “permite às pessoas
internadas receber a visita de seu “pet”, devido a presença fazer com que o
paciente se esqueça de suas preocupações e foque no presente”. Restando
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comprovado o benefício da recuperação mais rápida dos pacientes que
possuem animais de estimação.
Os animais podem servir também como catalisadores sociais, como diz
Santos (2008), pois aumentariam a ocorrência de interações sociais podendo
elevar ou reforçar as relações entre as pessoas. “Em algumas pesquisas se
conclui que o animal age como um facilitador de contato inicial, “quebrando o
gelo”, removendo inibições em conversas casuais e provendo um tópico neutro
e seguro de conversação.” (p. 25).Os donos de cães conversam e interagem
mais com as outras pessoas ao passear com seu cão, contribuindo assim para
elevar o seu bem estar.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta obra contemplou a questão da família multiespécie como nova
configuração familiar com embasamento teórico partindo da relação
multiespécie, ou seja, da relação entre seres de diferentes espécies e mais
especificamente, o convívio das pessoas com seus animais de estimação
enquanto vínculo familiar.
Ao finalizar esse trabalho fica mais clara a compreensão dessa nova
entidade familiar que legitima a relação interespécies como uma relação
familiar baseada nos laços de afeto e no bem-estar que o animal
comprovadamente traz aos humanos e vice-versa.
As novas configurações familiares são descritas como uma forma de
ligação afetiva entre os sujeitos em que não necessariamente deve existir
vínculo sanguíneo, pois os vínculos são de laços emocionais, e pode existir ou
não uma forma de exercício da parentalidade, que, no entanto, não é a mesma
dos padrões tradicionais; estas já existiam há muito tempo, porém só se
tornaram possíveis de serem vividas desde o modelo atual de afetividade,
quando os membros destas novas famílias passaram a se relacionar a partir
dos laços de intimidade.
A base de uma verdadeira família é o amor. O amor e a lealdade que os
animais têm com os seus humanos fizeram com que essa aproximação tornar-
se relevante no mundo jurídico atual.
As condições específicas de vida nos centros urbanos verticalizados,
torna-se possível compreender a elevação do status dos animais de estimação,
que passaram de propriedade humana a membros das famílias.
Baseando-se nisto o presente trabalho abordou, o conceito de família,as
novas configurações familiares e a formação desse novo modelo de família, o
reconhecimento dos animais de estimação como membros da família, a
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construção de vínculos familiares entre humanos e os seus animais de
estimação.
Foi possível entender que de fato as configurações familiares de hoje
não são as mesmas de antigamente, apesar de esta última ter deixado
resquícios para a família de hoje. Assim como as crianças conquistaram seu
espaço junto à família no decorrer da Idade Média; nos dias de hoje os animais
de estimação também vêm adquirindo seu espaço; espaço este que não é
conquistado, mas sim dado a eles pelos seres humanos. Então, estes novos
protótipos de formação familiar que mesclam a relação e o convívio entre
humanos e animais tem se tornado cada vez mais presente em nossa
sociedade.
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REFERÊNCIAS
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