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Geologia do Brasil IGL - 368

FAIXA BRASLIAAlunas: Barbara Mattar Danielle Marques Fernanda Araujo

Localizao

A Provncia Tocantins, da qual a Faixa Braslia faz parte, um sistema orognico neoproterozico situado entre os crtons Amaznico e So Francisco; Compondo a Provncia Tocantins est a Faixa Braslia que bordeja o Crton do So Francisco e as faixas Paraguaia e Araguaia que bordejam o Crton Amaznico; A Faixa Braslia marcada por dois ramos de distinta: a Faixa Braslia Setentrional , de orientao NE, e a Faixa Braslia Meridional (FBM), de orientao NW.

As faixas formam a Mega flexura dos Pireneus, dando Faixa Braslia uma pronunciada concavidade voltada para leste, em conformao a uma protuberncia no contorno original da margem do paleocontinente So Francisco .

Figura 1: CPRM

Contexto GeotectnicoSupercontinente Gondwana * O Neoproterozico foi marcado mundialmente por uma etapa de rifteamento edisperso de fragmentos continentais, a Tafrognese Toniana (ca. 900-800 Ma.), seguida por uma etapa de convergncia continuada de expressivos terfragmentos continentais previamente dispersos (Brito Neves et al., 1996; Almeida et al., 2000). A etapa de convergncia resultou na aglutinao do supercontinente Gondwana, finalizada em ca. 520 Ma (Unrug, 1997). Estas duas etapas no foram sincrnicas nas vrias faixas orognicas decorrentes, pois mostram superposies no tempo. No Permiano, inaugurou- se uma nova fase tafrogentica global que fragmentou Pangea para formar os atuais oceanos e a Amrica do Sul, frica, Austrlia, Antrtida, o subcontinente indiano e outros fragmentos menores; * O Evento Brasiliano coletivamente referidos, na Amrica do Sul, como ciclo, evento ou orognese Brasiliano. Seus correlativos na frica so referidos como evento Pan Africano (Tompette, 1994). *A Provncia Tocantins ramificada em trs faixas orognicas de evoluo diacrnica: as faixas Paraguaia e Araguaia bordejam o Crton Amaznico e a Faixa Braslia bordeja o Crton do So Francisco. Almeida (1967), notando a vergncia oposta dessas faixas, com transporte tectnico em direo aos respectivos crtons, j se referia Provncia Tocantins como um geossinclinal de polaridade centrfuga, conforme a concepo da poca.

Figura 2: Esboo tectnico do Brasil Central, com destaque para a Provncia Tocantins (simplificado de Almeida et al.,1981)

Figura 3: Cintures moveis do Proterozoico

A Faixa Braslia tectonoestratigrfica Pode ser dividida em: O Domnio Autctone-Parautctone corresponde zona de antepas do Crton do So Francisco, na parte leste da Folha Guap, e faixa de rochas granito-greenstone cisalhadas na parte sul da Folha Alpinpolis. Neste domnio, pelitos e carbonatos plataformais neoproterozicos do Grupo Bambu (Dardenne, 1978b) ocorrem depositados sobre embasamento migmatito-gnaisse-granito-greenstone arqueano. Este substrato contm tambm rochas granitides e quilhas supracrustais paleoproterozicas. O Domnio Externo, subjacente Nappe de Passos, marcado por um conjunto muito imbricado de escamas de empurro de baixo grau metamrfico que recobre o Domnio Autctone/Parautctone. Este domnio, em estilo raso (thin-skinned), tambm representado por seis klippen que se espalham ao sul da Nappe de Passos, na regio de Carmo do Rio Claro (Folha Guap), recobrindo metaconglomerados da Formao Sambur. O conjunto foi designado por Valeriano (1992) como Sistema de Cavalgamento Ilicnea-Piumhi, estendendo-se desde Carmo do Rio Claro para sudeste e contorna o bico da Nappe de Passos em Ilicnea, onde se inflete para norte seguindo em direo a Piumhi. O Domnio Interno, localmente corresponde Nappe de Passos, que avanou para SE, recobrindo os domnios inferiores. constituda por metassedimentos do Grupo Arax em mdio a alto grau metamrfico com intensa deformao dctil, com disposio sinformal delimitada por rampas laterais e/ou oblquas. Na poro mais ao sul das folhas Alpinpolis e Guap afloram rochas metassedimentares muito cisalhadas atribuveis ao Grupo Andrelndia que fazem parte da rampa lateral da Nappe Varginha-Trs Pontas.

Figura 4: Mapa Geolgico do esboo da parte oriental da Provncia Tocantins (Faixa Braslia).

A Faixa Braslia pode ser dividida em dois ramos de orientao distinta e estilos metamrfico-deformacionais contrastantes: a Faixa Braslia Setentrional , de orientao NE, e a Faixa Braslia Meridional , de orientao NW Faixa Braslia Setentrional- A arquitetura da Faixa Braslia Setentrional (FBS) marcada pela existncia de vrios compartimentos nos quais. variam, substancialmente, os materiais envolvidos, os graus de metamorfismo, alm dos estilos estruturais. Os limites da FBS podem ser assim estabelecidos: a leste, a faixa limita-se com o Arco Magmtico do Oeste de Gois e com o Macio Goiano atravs de uma estrutura de escala regional, denominada Sistema de Falhas Rio Maranho(Fonseca, 1996). E o limite sul da FBS se fez pela denominada Megaflexura dos Pirineus, estrutura reconhecida por Costa & Angeiras (1971). Faixa Braslia Meridional tem estilo tectnico definido pelo empilhamento e extensas nappes de cavalgamento subhorizontais formadas predominantemente por rochas da margem passiva sanfranciscana, empurradas em direo ao Crton do So Francisco por volta de 640 Ma. Compostas pelos grupos Vazante (inferior), Canastra, Ibi, Parano e Arax-Andrelndia (superior).

Figura 5 - Unidades tectnicas da Faixa Braslia (compilado de Dardenne, 2000; Pimentel et al.,2000; Valeriano et al.,2000; Seer, 1999; Silva, 2003). Legenda: 1- terrenos granitogreenstone e gnaissemigmatticos arqueano/paleoproterozicos; 2- Coberturas metassedimentares autctones/parautctones (Grupos S. Joo del Rei, Caranda, Andrelndia, Bambu); 3- terrenos granitogreenstone, gnaisse-migmatticos arqueanos/ paleoproterozicos; 4- greenstone-belts arqueanos/paleoproterozicos; 5- Sucesses de rifte Paleo a mesoproterozico (Grupo Ara); 6- Sistema de Cavalgamento Ilicnea-Piumhi. Sucesses neoproterozicas de margem passiva: 7- Grupo Parano; 8- Grupo Canastra; 9- Grupo Vazante, 10Grupo Ibi; 11- Grupos Arax e Andrelndia e rochas metabsicas toleticas associadas; complexos de melanges ofiolticas; lascas de embasamento alctone, granitos leucocrticos sincolisionais (castanho); 12- nappes granulticas (C.A.I - Complexo Anpolis- Itauu; N.S.G. - Nappe SocorroGuaxup); 13-complexos granito- gnaisse-migmatticos arqueanos/paleoproterozicos; 14- greenstone-belts arqueano/paleoproterozicos; 15- sucesses vulcano sedimentares de rifte mesoproterozicos (Juscelndia, Palmeirpolis, Serra da Mesa); 16- complexos bsico-ultrabsicos acamadados meso/neoproterozicos; 17sucesses vulcano- sedimentares meso a neoproterozicas; 18- ortognaisses e rochas granitides neoproterozicas; 19faixas Paraguaia (PA), Araguaia (AR) e Ribeira (RB); 20coberturas sedimentares fanerozicas

FAIXA BRASLIA MERIDIONAL

Estilo tectnico definido pelo empilhamento de extensas nappes de cavalgamento subhorizontais formadas predominantemente por rochas da margem passiva sanfranciscana, empurradas em direo ao Crton do So Francisco por volta de 640 Ma; Nos estgios mais tardios, a deformao passa para um estilo dominado por dobramentos mais abertos associados a falhas transcorrentes sinistrais de direo NW-SE que acabam por fragmentar a FBM em segmentos deslocados (Luminrias, Passos, Tapira, Arax-Goinia). A zona de antepas da Faixa Braslia marcada por empurres rasos e superfcies subhorizontais de descolamento que afetam os sedimentos anquimetamrficos plataformais neoproterozicos do Grupo Bambu (Dardenne, 2000), Poro alctone da FBM consiste do empilhamento tectnico de vrios terrenos tectono-estratigrficos limitados por importantes superfcies de cavalgamento, a maioria das quais representado majoritariamente por uma unidade litoestratigrfic a metassedimentar, tais como os grupos Vazante (inferior), Canastra, Ibi, Parano e Arax-Andrelndia (superior). Adicionalmente, na rea ao sul de Piumhi (MG), aflora um complexo intensamente imbricado de metassedimentos neoproterozicos e seu embasamento granito-greenstone, alm de outras associaes litolgicas (SCIP).

Figura 6: Quadro resumo dos eventos ocorridos na Faixa Braslia Meridional

FAIXA BRASLIA SETENTRIONAL

Os limites da FBS podem ser assim estabelecidos : a leste, a faixa limita-se com o Arco Magmtico do Oeste de Gois e com o Macio Goiano atravs de uma estrutura de escala regional, denominada Sistema de Falhas Rio Maranho;

O limite sul da FBS se fez pela denominada Megaflexura dos Pirineus , representando um corredor no qual os trends estruturais dominantes da Faixa Braslia (NNW ao sul e NNE ao norte) so bruscamente infletidos para a direo E-W (a Megaflexura dos Pirineus contm um acervo estrutural que registra pelo menos duas fases deformacionais de carter contracional a primeira com vergncia para leste e a segunda, com vergncia para sul);

Mapa geolgico da regio de Tapira (Silva,2003). Legenda: Domnio W, Escama 2: (1) Grupo Arax - Granada-mica xistos com intercalaes de quartzitos; hornblenda granada- mica xistos; rochas metamficas e metaultramficas; quartzito micceo com intercalaes de quartzo xistos e granada-:mica xisto; gnaisses. Escama1 (2) Grupo Canastra - granada-muscovita xisto com pores grafitosas e com freqentes intercalaes de quartzitos micceos. Domnio E, Escama Superior (3) Grupo Arax - granada-mica xisto com intercalaes de granada-quartzo xisto e rochas metaultramficas; Escama Intermediria (4)Quartzitos com intercalaes de quartzo xisto e muscovita xisto; (5)Granada-mica xistos com intercalaes granadagrafita xistos, granada quartzitos e albita-granadamica xisto; mica xistos e quartzo xistos com intercalaes mtricas de quartzitos, localmente com lentes mtricas de mrmores (azul escuro). Escama Inferior (6) quartzitos; (7) quartzo-muscovita xistos/filitos com intercalaes de quartzito e nveis feldspticos; grafita-muscovita xistos/filitos com intercalaes de quartzitos micceos e muscovita-quartzo xistos; quartzo-muscovita xistos/filitos, com lentes e camadas decimtricas a mtricas de quartzitos. Grupo Bambu (8) Filitos e ardsias com lentes mtricas de mrmores. Domnio Norte, (9) Filitos/xistos sericticos (10) Quartzitos puros a micceos. Domnio Sul, (11) Metarenitos com intercalaes de quartzo filito, quartzitos micceos, filitos e metaconglomerados. (12) Quartzo-muscovita xistos, metarenitos bandados

Fig. - Mapa geolgico simplificado da Faixa

Braslia Setentrional (Fonte: DNPM 1987).Unidades litoestratigrficas: 1- Embasamentoarqueano/paleoproteroziico 2- Formao Ticunzal; 3- Granitos estanferos anorognicos; 4-Alcalinas do Peixe;

5- Grupos Arax e Serra daMesa;6- Grupo Canastra; 7- Complexos bsicoultrabsicos(Niquelndia, Cana Brava); 8-Sucesses vulcanossedimentares (Palmeirpolis e Indaianpolis); 9- Grupo Ara; 10- Grupo Parano; 11- Grupo Bambu. Sistemas de Falhamentos: A. Arraias-Campos Belos; B. Cavalcante-Terezina; C. So Jorge Alto Paraso-Cormari;

D: Terezina-Nova Roma;E:Front do Paran; F: Rio Maranho.

Cidades: 1. Paran; 2. Arraias; 3. Campos Belos; 4. Nova Roma; 5. Cavalcante; 6. Alto Paraso; 7.So Joo da Aliana; 8. Pe. Bernardo; 9.Niquelndia; 10. Colinas; 11. Minau; 12.Palmeirpolis

Fig. 7

Fig. 8 Fonte Tectonic Evolution of South America

Fig. 9

A margem continental Sanfranciscana e a Faixa Braslia

O estilo estrutural da Faixa Braslia de uma zona colisional de mais de 1000 km de extenso; fortemente controlado pelo formato da margem continental do paleocontinente So Francisco; Da mesma maneira que a ndia, no caso himalaiano, o CSF representa o bloco continental indentante e pertence placa em subduco; Na etapa orogentica, esta feio paleogeogrfica foi responsvel por um efeito de indentao (Strieder, 1993) contra os terrenos cavalgantes da Faixa Braslia e pela compartimentao da faixa em duas pores, setentrional e meridional; Os dois compartimentos encontram-se na Megaflexura dos Pirineus, uma zona de lineamentos estruturais de direo E-W classificada por Fonseca & Dardenne (1996) como uma sintaxe em forma de cspide de convexidade voltada para oeste; O regime de convergncia E-W dos terrenos alctones, contra a margem continental indentante, organizou-se em dois sistemas transpressivos: dominantemente dextrgiros a norte da Mega-Inflexo dos Pirineus (Fonseca, 1996) e ao sul dela sinistrgiros.

Figura 10 : Alkmin et al. (1993) interpretaram os contornos do paleocontinente So Francisco-Congo (1) mais largos que os do Crton So Francisco (2), apresentando uma protuberncia hoje recoberta pelas nappes da Faixa Braslia. Os terrenos acrescionrios colidindo de oeste adquiriram os regimes de deformao transpressivos observados na Faixa Braslia Setentrional e Meridional, com movimentao respectivamente destrgira e sinistrgira

Evoluo geotectnica da Faixa Braslia

O registro geocronolgico mostra que os ncleos continentais antigos, envolvidos na histria da Faixa Braslia (Crton do So Francisco, embasamento do Grupo Ara, Macio Goiano), tm uma histria muito mais antiga, que remonta formao da crosta continental no Arqueano (2,8-2,6 Ga), retrabalhada durante o Evento Transamaznico (2,2-2,0 Ga).O intervalo de 1,3-1,1 Ga foi marcante na literatura brasileira pela polmica em torno da proposio original de Almeida (1967), da Orognse Uruauana, que teria precedido a Orognese Brasiliana. Paradoxalmente, dataes recentes do magmatismo bimodal da Seqncia Juscelndia, que recobre os complexos de Niquelndia e Cana Brava, fizeram crescer a corrente de opinio a favor da existncia de um novo episdio de rifteamento nesse perodo. No intervalo 900-950 Ma iniciou-se um episdio tafrogentico de escala mundial, que levou fragmentao do supercontinente Rodnia e disperso de mltiplos paleocontinentes, incluindo o So Francisco-Congo. Inicia-se assim o desenvolvimento de bacias sedimentares de margem passiva ao redor deste paleocontinente. Na sua margem ocidental, onde se desenvolveu a Faixa Braslia, depositaram-se os Grupos Canastra, Ibi, Parano, Vazante, Bambu, Arax e Andrelndia. No embasamento interior do CSF se desenvolveram enxames de diques mficos (Brito Neves et al., 1996) que precederam a sedimentao do Grupo Bambu.

FAIXA BRASLIA

MESOPROTEROZICOFigura 11: Provncia do Tocantins

1280- 1300 MA Rift continental at oceanizao, magmatismo bimodal, sedimentao qumica e detrtica, seqncias vulcanossedimentares de Juscelndia, Indaianpolis, Palmeirpolis; srie acamadada superior: complexos Barro Alto, Niquelndia, Canabrava.

Figura 12: Sistema de abertura do Atlntico

Figura 14: Faixa Braslia

Figura 13: Esque de Formao dos grupos Arax e Ibi

Figura 15: Sistema de movimentao da placas

Orognese Brasiliana ( 1,31,1Ga).

Evento Transamaznico (2,2-2,0 Ga).

Evento Transamaznico (2,2-2,0 Ga).

COMPATVEL COM MARGEM PASSIVA

Ao redor desse protocontinente desenvolveram-se as Faixas Araua/Ribeira, ao sul, e as Faixas Paraguaia e Araguaia, a oeste, na borda do Craton Amaznico.