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ESTADO DE SANTA CATARINA TRIBUNAL DE JUSTIÇA
1 Apelação n. 0020788-48.2010.8.24.0064
Relator: Desembargador Joel Figueira Júnior
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO
PECUNIÁRIA POR DANOS MORAIS. COBRANÇA
VEXATÓRIA. LIGAÇÕES TELEFÔNICAS EFETUADAS
PARA OS VIZINHOS DO AUTOR. ENVIO DE
CORRESPONDÊNCIA ELETRÔNICA PARA O ENDEREÇO
PROFISSIONAL. PROVA DOCUMENTAL HÁBIL A
COMPROVAR O ABALO MORAL SOFRIDO. ILÍCITO
CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
MINORAÇÃO. OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA
RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE.
CORREÇÃO DE OFÍCIO QUANTO AO TERMO DE
INCIDÊNCIA DOS JUROS DE MORA. DATA DO EVENTO
DANOSO. EXEGESE DO ART. 398 DO CÓDIGO CIVIL E
SÚMULA 54 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
I - Consoante expressa disposição do artigo 42 do Código
de Defesa do Consumidor, é vedado ao credor expor o
devedor a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça
quando da cobrança de seus débitos. Assim, a cobrança de
crédito, através de telefonemas aos vizinhos e amigos do
devedor, bem como o envio de correspondência eletrônica ao
endereço profissional, com cunho manifestamente coercitivo,
configura dano imaterial passível de compensação pecuniária.
II - Considerando a natureza compensatória do montante
pecuniário no âmbito de danos morais, a importância
estabelecida em decisão judicial há de estar em sintonia com
o ilícito praticado, a extensão do dano sofrido pela vítima, a
capacidade financeira do ofendido e do ofensor, bem assim
servir como medida punitiva, pedagógica e inibidora.
Desse modo, há de ser minorado o valor fixado a título de
compensação pelos danos morais sofridos pelo Autor.
III - Em se tratando de responsabilidade civil
extracontratual, cujo ilícito civil é gerador de dano moral,
incidem os juros moratórios a contar do evento danoso,
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consoante disposto no artigo 398 do Código Civil e na Súmula
54 do STJ.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação n. 0020788-
48.2010.8.24.0064, da comarca de São José 1ª Vara Cível em que é Apelante BV
Financeira S/A Crédito Financiamento e Investimento e Apelado ___________ .
A Quarta Câmara de Direito Civil decidiu, por unanimidade de votos,
conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento e, de ofício, determinar a
incidência dos juros moratórios a partir da data do evento danoso. Custas legais.
O julgamento, realizado no dia 29 de setembro de 2016, foi
presidido pelo Excelentíssimo Senhor Desembargador Joel Dias Figueira Júnior, e
dele participaram os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Rodolfo C. R.
S. Tridapalli e Júlio César M. Ferreira de Melo.
Florianópolis, 29 de setembro de 2016.
Joel Dias Figueira Júnior
RELATOR
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RELATÓRIO
____________ ajuizou ação de compensação pecuniária por danos
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morais contra BV Financeira S/A – Crédito, Financiamento e Investimento, pelos
fatos e fundamentos jurídicos descritos na exordial de fls. 2-17, alegando, em
síntese, que celebrou com a Ré contrato de financiamento para aquisição de
veículo e, após atraso no pagamento de débito, com vencimento no dia 3-4-2010,
teve seu nome inscrito nos órgãos de proteção ao crédito.
Aduziu que além de ter seu nome inscrito no rol de maus
pagadores, passou a ser vítima de cobrança vexatória por parte do escritório de
advocacia contratado pela Ré. Diante disso, requereu a condenação da Requerida
à compensação pelos prejuízos imateriais sofridos em razão do suposto abuso no
direito de cobrança, consubstanciado em reiterados telefonemas para seus
vizinhos e amigos, bem como no envio de correio eletrônico para o endereço
profissional de sua esposa.
Às fls. 22-23 foi deferida a antecipação dos efeitos da tutela.
Regularmente citada, a Ré ofereceu resposta em forma de
contestação alegando, preliminarmente, a sua ilegitimidade passiva ad causam e,
no mérito, que não houve ilicitude capaz de ensejar a sua condenação em
compensar pecuniariamente por danos morais pugnando, ao final, pela
improcedência dos pedidos exordiais (fls. 40-57).
Réplica às fls. 67-78.
Em audiência de instrução e julgamento o Magistrado a quo afastou
a preliminar aventada, tomou os depoimentos de três testemunhas arroladas pelo
Autor e, ato contínuo, as partes apresentaram alegações finais remissivas (fls. 106-
109).
Sentenciando (fls. 110-118), o Magistrado a quo julgou procedente
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o pedido para condenar a Ré ao pagamento de compensação pecuniária a título de
danos morais no montante de R$ 36.200,00 (trinta e seis mil e duzentos reais),
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acrescidos de correção monetária pelo INPC, a contar da data do arbitramento, e
juros de mora desde a citação.
Condenou a Ré, ainda, ao pagamento das despesas processuais e
honorários advocatícios, fixados em 15% sobre o valor da condenação, nos termos
do art. 20, § 3º, do CPC/73.
A Ré interpôs recurso de apelação (fls. 122-140), reiterando os
mesmos fatos e fundamentos já articulados em primeira instância, pugnando pela
reforma integral da sentença e, sucessivamente, caso mantida a condenação, a
minoração do quantum compensatório.
Contrarrazões às fls. 146-157.
Presentes os requisitos de admissibilidade do recurso.
É o relatório.
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VOTO
1 Preliminarmente
1.1. Da ilegitimidade passiva
Assevera a Ré, ora Apelante, ser parte ilegítima para figurar no polo
passivo da demanda, porquanto delegou a função de cobranças à assessoria
especializada, motivo pelo qual pugna pela extinção do feito, sem resolução do
mérito.
Todavia, razão não lhe assiste.
Isso porque, da análise do processado, infere-se que a mencionada
assessoria efetuava as cobranças em nome da instituição bancária Apelante. Com
efeito, a Apelante continuou sendo credora dos débitos, motivo pela qual não há
falar em ilegitimidade passiva ad causam.
Em caso semelhante, já decidiu este Sodalício:
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APELAÇÕES CÍVEIS - RESPONSABILIDADE CIVIL - DANOS MORAIS -
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA - INSURGÊNCIA DE AMBAS AS PARTES -
ILEGITIMIDADE PASSIVA - INOCORRÊNCIA - COBRANÇA VEXATÓRIA - LIGAÇÕES PARA TERCEIROS - PROVA TESTEMUNHAL UNIFORME APONTANDO A REALIZAÇÃO DE LIGAÇÕES A PARENTES E VIZINHOS DO AUTOR - DEVER DE INDENIZAR EVIDENTE - QUANTUM INDENIZATÓRIO - MAJORAÇÃO - POSSIBILIDADE - PAPEL PREVENTIVO E DIDÁTICO DA
CONDENAÇÃO - RECURSO DA RÉ DESPROVIDO E APELO DO AUTOR PROVIDO. I - Ainda que a cobrança seja efetuada por meio de terceiro -
assessoria de cobrança -, a credora é parte legítima para figurar no polo
passivo de ação de reparação de danos, já que firmou a obrigação originária
com o consumidor. II - Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente
não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça (CDC, art. 42, caput). III - Em se tratando de
indenização por danos morais, deve o quantum ser fixado com observância dos
critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, sem deixar de levar em
consideração, além do caráter compensatório, a efetiva repreensão do ilícito. IV
- Demonstrada a ocorrência de cobrança abusiva e vexatória - com constantes
ligações a vizinhos e parentes do devedor -, deve o quantum ser arbitrado de
modo a evitar a reiteração da prática ilícita. (TJSC, Apelação Cível n.
2015.051861-3, de Xanxerê, rel. Des. Luiz Antônio Zanini Fornerolli, j.
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6 09-11-2015 – grifou-se).
Superada a proemial, passa-se ao exame do mérito.
2 Mérito
Trata-se de apelação interposta contra sentença, que nos autos da
ação de compensação pecuniária por danos morais, julgou procedente o pedido
exordial.
Compulsando os autos, verifica-se que o escritório contratado pela
Apelante e responsável pela cobrança dos débitos, excedeu manifestamente seu
direito de cobrar os créditos devidos pelo Requerente, pois efetuava continuamente
ligações para os vizinhos do Autor, bem como enviou correspondência eletrônica
para o e-mail profissional da esposa do Requerente (fls. 28-29 e 107-109), com o
escopo de constrangi-lo ao pagamento, comportamento vedado pelo artigo 42,
caput, do Diploma Consumerista, in verbis:
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Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será
exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou
ameaça.
Cumpre salientar que os tais telefonemas sequer foram negados
pela Demandada em sede de contestação, que apenas alega a legitimidade da
referida cobrança, aduzindo que "o modo de cobrança eleito pela assessoria de
cobrança é alheio à BV Financeira, correndo por sua conta e risco, sendo
responsável civilmente por qualquer procedimento que venha a causar dano a
outrem" (fl. 42).
Contudo, verifica-se que os danos interiores sofridos pelo Autor são
evidentes; a prova do ilícito civil é forte, vejamos: o documento de fl. 28, comprova
o envio de notificação extrajudicial ao endereço eletrônico comercial da esposa do
Requerente, enquanto os depoimentos colhidos demonstram que o Autor foi vítima
de cobrança vexatória, conforme o relato de Alice Benta da Silva,
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in verbis:
"[...] que é vizinha da mãe do autor, sendo que em determinada
oportunidade estava saindo de casa, quando recebeu uma ligação telefônica,
sendo que a pessoa se identificou como empregada da ré BV Financeira, e
perguntou a depoente se conhecia o Sr. ____________, tendo a depoente dito
que sim, sendo que então o homem que falava ao telefone lhe pediu para dar um
recado a ____________, de que estava devendo algumas prestações para a
BV e deveria entrar em contato com eles; que a depoente ficou indignada com tal
telefonema, uma vez que não tem nada a ver com as contas do autor [...]" (fl. 111).
Acerca do tema, esclarecedora a lição de Antônio Herman V.
Benjamim, Claudia Lima Marques e Leonardo Roscoe Bessa:
[...] continua lícito enviar cartas e telegramas de cobrança ao consumidor no
seu endereço comercial ou residencial. Ainda é permitido telefonar para ele
nesses dois locais. O que se proíbe é que, a pretexto de efetuar cobrança, se
interfira no exercício de suas atividades profissionais, de descanso e de lazer. O
grau de interferência será avaliado caso a caso. [...] É ilícito, pelas mesmas
razões, telefonar ao chefe, colegas, vizinhos ou familiares do devedor. Também
não se admitem telefonemas em seu horário de descanso noturno. Vedados
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estão, igualmente, telefonemas ou visitas sucessivos. [...] (Manual de direito do
consumidor - 3. ed. rev., atual. e ampl. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2010, p. 271).
Sendo assim, o nexo de causalidade entre o dano (situação
vexatória) e o ato ilícito (abuso na cobrança) foi devidamente comprovado, donde
decorre a obrigação de compensar a vítima pecuniariamente pela situação de
angústia, atentatória a sua honra.
Neste sentido colhe-se julgado da minha lavra:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
COBRANÇA VEXATÓRIA. SUCESSIVAS LIGAÇÕES
TELEFÔNICAS EFETUADAS PARA O LOCAL DE TRABALHO DA AUTORA. PROVA DOCUMENTAL HÁBIL A COMPROVAR O ABALO MORAL SOFRIDO. ILÍCITO CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. OBSERVÂNCIA DO BINÔMIO
RAZOABILIDADE/PROPORCIONALIDADE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. I - Consoante expressa disposição do artigo 42 do Código de Defesa
do Consumidor, é vedado ao credor expor o devedor a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça quando da cobrança de seus débitos. Assim,
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abordada a Autora de forma reiterada no estabelecimento de ensino em que
leciona, através de telefonemas com cunho manifestamente coercitivo, que
acarretaram, inclusive, uma advertência por parte do empregador, configurado está
o dano imaterial passível de compensação pecuniária. II - Considerando a
natureza compensatória do montante pecuniário em sede de danos morais, a
importância estabelecida em decisão judicial há de estar em sintonia com o ilícito
praticado, a extensão do dano sofrido pela vítima com todos os seus consectários,
a capacidade financeira do ofendido e do ofensor, e servir como medida punitiva,
pedagógica e inibidora. (TJSC, Apelação Cível n. 2012.010848-2, de Lages, rel. Des. Joel Figueira Júnior, j. 15-04-2014).
No tocante ao quantum compensatório, para a fixação do referido
montante, entende-se que devem ser sopesados vários fatores tais como a
situação sócio-econômica das partes, o grau de culpa do agente e a
proporcionalidade entre o ato ilícito e o dano suportado, sem perder de vista que a
fls. 9
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compensação pecuniária visa, também, o desencorajamento da prática de novos
atos lesivos pelo ofensor.
Em outras palavras, a compensação pecuniária por abalo moral, em
qualquer hipótese, não pode corresponder ao empobrecimento do indigitado
causador do ilícito civil ou ao enriquecimento da vítima, mas deverá pautar-se pelos
princípios da plausabilidade e da proporcionalidade verificadas no caso concreto,
tendo-se presentes o nexo de causalidade, o grau de culpa dos envolvidos, suas
respectivas situações econômicas e os efeitos diretos e reflexos do próprio ilícito,
de maneira a penalizar financeiramente o violador da norma e, em contrapartida,
minimizar o sofrimento da vítima.
Nesse sentido, ensina Rui Stoco:
Segundo nosso entendimento a indenização da dor moral, sem descurar
desses critérios e circunstâncias que o caso concreto exigir, há de buscar, como
regra, duplo objetivo: caráter compensatório e função punitiva da sanção
(prevenção e repressão), ou seja: a) condenar o agente causador do dano ao
pagamento de certa importância em dinheiro, de modo a puni-lo e desestimulálo
da prática futura de atos semelhantes; b) compensar a vítima com uma
importância mais ou menos aleatória, em valor fixo e pago de uma só vez, pela
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9 perda que se mostrar irreparável, ou pela dor e humilhação impostas. Evidentemente, não haverá de ser tão alta e despropositada que atue como
fonte de enriquecimento injustificado da vítima ou causa de ruína do ofensor, nem
poderá ser inexpressiva a ponto de não atingir o objetivo colimado, de retribuição
do mal causado pela ofensa, com o mal da pena, de modo a desestimular o autor
da ofensa e impedir que ele volte a lesar outras pessoas. Deve-se sempre levar
em consideração a máxima "indenizar sem enriquecer. (Tratado de
responsabilidade civil. 7. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2007. p. 1.733-1.734).
E, também, colhe-se da obra de Regina Beatriz Tavares da Silva:
O critério na fixação do quantum indenizatório deve obedecer à
proporcionalidade entre o mal e aquilo que pode aplacá-lo, levando-se em conta
o efeito, que será a prevenção ou o desestímulo. Em suma, a reparação do dano
moral deve ter em vista possibilitar ao lesado uma satisfação compensatória e, de
outro lado, exercer função de desestímulo a novas práticas lesivas, de modo a
"inibir comportamentos antissociais do lesante, ou de qualquer outro membro da
sociedade", traduzindo-se em "montante que represente advertência ao lesante e
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à sociedade de que não se aceita o comportamento assumido, ou o evento lesivo"
(Carlos Alberto Bittar, Reparação Civil por danos morais, cit., p. 247 e 233; cf.,
também, Yussef Said Cahali, Dano moral, cit., p. 30; Rui Stoco, Tratado de
responsabilidade civil, 8. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 1.402).
apud (Código civil comentado. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 828).
Ainda, com relação aos critérios utilizados para a quantificação do
dano moral, o eminente Ministro Paulo de Tarso Vieira Sanseverino, em artigo
publicado na Revista Justiça e Cidadania, assim destaca:
Com isso, o melhor critério para quantificação da indenização por prejuízos
extrapatrimoniais em geral, no atual estágio do Direito brasileiro, é o arbitramento
equitativo pelo juiz. (...) Esse arbitramento equitativo deve ser pautado pelo postulado da
razoabilidade, transformando-se em um montante econômico a agressão a um
bem jurídico sem essa dimensão. O próprio julgador da demanda indenizatória, na mesma sentença em que
aprecia a ocorrência do ato ilícito, deve proceder ao arbitramento da indenização. Ressalte-se apenas que a autorização legal para o arbitramento equitativo
não representa a outorga pelo legislador de um poder arbitrário ao juiz, pois a
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indenização, além de ser fixada com razoabilidade, deve ser devidamente
fundamentada com a indicação dos critérios utilizados. A doutrina e a jurisprudência têm encontrado dificuldades para estabelecer
quais são esses critérios razoavelmente objetivos a serem utilizados pelo juiz
nessa operação de arbitramento da indenização por dano extrapatrimonial. No arbitramento da indenização por danos extrapatrimoniais, as principais
circunstâncias valoradas pelas decisões judiciais, nessa operação de concreção
individualizadora, têm sido a gravidade do fato em si, a intensidade do sofrimento
da vítima, a culpabilidade do agente responsável, a eventual culpa concorrente
da vítima, a condição econômica, social e política das partes envolvidas. (...) Outro critério bastante utilizado na prática judicial é a valorização do bem ou
interesse jurídico lesado pelo evento danoso (vida, integridade física, liberdade,
honra), consistindo em fixar as indenizações por danos extrapatrimoniais em
conformidade com os precedentes que apreciaram casos semelhantes. (...) A vantagem desse método é a preservação da igualdade e da coerência nos
julgamentos pelo juiz ou tribunal, assegurando isonomia, porque demandas
semelhantes recebem decisões similares, e coerência, pois a sentenças variam
na medida em que os casos se diferenciam.
fls. 11
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Outra vantagem desse critério é permitir a valorização do interesse jurídico
lesado (v.g. direito de personalidade atacado), ensejando que a reparação do
dano extrapatrimonial guarde uma razoável relação de conformidade com o bem
jurídico efetivamente ofendido. (in O arbitramento da indenização por dano moral
e a jurisprudência do STJ. Revista JC. Edição n. 188. p. 15-16).
Mais a frente, destaca o ilustre Professor e Ministro que o
arbitramento da compensação pecuniária, em respeito aos critérios acima
elencados, deve se dar em duas etapas:
Na primeira fase, arbitra-se o valor básico da indenização, considerandose
o interesse jurídico atingido, em conformidade com os precedentes
jurisprudenciais acerca da matéria (técnica do grupo de casos). Assegura-se, com
isso, uma razoável igualdade de tratamento para casos semelhantes, assim como
que situações distintas sejam tratadas desigualmente na medida em que se
diferenciam. Na segunda fase, procede-se à fixação definitiva da indenização, ajustando-
se o seu montante às peculiaridades do caso com base nas suas circunstâncias.
Partindo-se da indenização básica, esse valor deve ser elevado
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ou reduzido de acordo com as circunstâncias particulares do caso (gravidade do
fato em si, culpabilidade do agente, culpa concorrente da vítima, condição
econômica das partes) até se alcançar o montante definitivo. Com a utilização desse método bifásico, procede-se a um arbitramento
efetivamente equitativo, respeitando-se as circunstâncias e as peculiaridades de
cada caso concreto. Chega-se, desse modo, a um ponto de equilíbrio em que as vantagens dos
dois critérios estarão presentes. Alcança-se, de um lado, uma razoável
correspondência entre o valor da indenização e o interesse jurídico lesado,
enquanto, de outro lado, obtém-se um montante correspondente às circunstâncias
do caso. Finalmente, a decisão judicial apresenta a devida fundamentação acerca
da forma como arbitrou o valor da indenização pelos danos extrapatrimoniais. (in
O arbitramento da indenização por dano moral e a jurisprudência do STJ. Revista
JC. Edição n. 188. p. 17).
Portanto, inexiste fórmula alquímica ou jurídica capaz de definir o
quantum devido a título de danos não patrimoniais, à medida que não são tarifáveis
ou mensuráveis; busca-se apenas por meio da condenação em pecúnia a
minimização da dor, da mácula e do sofrimento.
Por essas razões, entende-se que a condenação imposta na
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sentença deve ser minorada para R$ 10.000,00, pois condizente com o
estabelecido para casos similares em decisões desta Câmara e, em especial,
considerando-se que o Autor era devedor da Ré, e, em razão da inadimplência,
teve o seu nome lançado no rol de maus pagadores, sendo a sua participação, por
conseguinte, decisiva na definição da extensão do dano sofrido e, por este motivo,
em sua quantificação (CC art. 945).
Em arremate, considerando que o Magistrado a quo determinou que
sobre o valor compensatório incida juros de mora a partir da citação, faz-se
necessário proceder a alteração, de ofício, do termo inicial do consectário legal.
Nesse sentido, o valor compensatório fixado deverá ser acrescido
de juros de mora desde o evento danoso (art. 398 do Código Civil e Súmula 54 do
STJ), qual seja, a data do envio da correspondência eletrônica ao endereço de e-
mail da esposa do Requerente (26-4-2010), conforme documento de fls.
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12 28-29, bem como correção monetária a partir do arbitramento.
Ante o exposto, dá-se parcial provimento ao recurso da Ré para
minorar o quantum compensatório para R$ 10.000,00, acrescidos de correção
monetária e juros moratórios conforme acima consignado.
É o voto.