Instituto Superior de Ciências da Saúde do Norte Odontologia Forense e Legislação Profissional
L E S Õ E S P R O V O C A D A S P O R A R M A S
Andreia Seco Diogo Soares Elsa Nunes João Santos Maria Filipe Mariela Oio
Outubro de 2014
Pela própria natureza da prática em serviços médico-legais, inevitavelmente todos os profissionais de saúde lidam frequentemente com vitimas de atos de violência.
Um crime pode envolver: - armas brancas - armas de fogo - agressões físicas
Uma correta avaliação clínica das lesões passa por descrição adequada das lesões.
A lesão provocada por determinada arma tem particulares relevantes e permitem por isso fazer um diagnóstico diferencial capaz de auxiliar entidades judiciais na resolução de um processo jurídico, imputando ou ilibando presumíveis agressores.
I N T R O D U Ç Ã O
L E S Õ E S C O N T U N D E N T E SEntre os agentes mecânicos, os instrumentos contundentes são os maiores
causadores de dano.
Ação é quase sempre produzida: - por um corpo de superfície lesões mais comuns verificam-se externamente
Agem por: -pressão - explosão - deslizamento - percussão, - compressão/descompressão - distensão, torção, fricção - contragolpe - forma de mista.
Superfície pode ser: lisa, áspera, tortuosa ou irregular.
Lesão é causada por agentes sólidos mas também podem acontecer situações, em que a lesão é causada por agentes líquidos ou mesmo gasosos.
A contusão pode ser: - Activa, quando apenas o meio ou instrumento se desloca. -Passiva quando só o corpo humano está em movimento. - Mistas ocorrem quando o corpo humano e o instrumento se movimentam
com certa violência. (França, G.V., et all., 2005)
O resultado da ação desses meios ou instrumentos é conhecido geralmente por contusão.
As lesões produzidas por essa forma de energia mecânica sofrem uma incrível variação.
Rubefação Escoriação
HematomaEquimose
Luxação Entorse
Bossa Sanguínea
Ferida Contusa
R U B E F A Ç Ã ONão chega a ser considerado uma lesão do ponto de vista
anatomopatológico.
Não apresenta modificações significativas ou permanentes do ponto de vista estrutural .
Caracteriza-se por congestão repentina e momentânea de uma região do corpo atingida por um traumatismo.
Típico de uma bofetada na cara, onde ficam marcados os dedos do agressor.
E S C O R I A Ç Ã O
Arrastamento da epiderme e exposição da derme.
Típica quando é afectada apenas a epiderme devido à ação da violência. Quando a Derme é atingida passa a dominar-se Ferida.
Não origina Cicatriz.
Nas Escoriações post mortem não ocorre formação do crosta
O instrumento que causa a escoriação deixa impressões no corpo da vítima.
O seu estudo permite distinguir se existiu ou manobras de não defesa.
Na fece poderão indicar tentativa de suicídio (asfixia).
Nos genitais, coxas e peito são suspeitos de violação.
E Q U I M O S EInfiltração hemorrágica nos tecidos.
Para que ocorra é necessário existir uma estrutura rígida por baixo (Ex. osso) para que ocorra a ruptura de um capilar.
Nos traumatismos crânio-encefálicos mais graves, surgem tardiamente equimoses nas pálpebras.
Por vezes imprimem com fidelidade os objectos que lhes deram origem (fivelas, pneus, sapatos, cordas, etc)
Quando provocadas por objectos cilíndricos, originam-se duas equimoses longas e
paralelas (Víbices).
A cor de uma equimose varia ao longo do tempo:
Cor Evolução
Vermelho-violácea
a violácea
Do início ao 2º dia
Azulada Do 3º ao 6º dia
Esverdeada Do 7º ao 12º dia
Verde-amarelada
a amarelada
Do 13º ao 20º dia
D e s a p a re c i m e n t o
(normalidade)
À partir do 21º dia
Como distinguir uma equimose de livores cadavéricos?
Equimose:
Sangue coagulado com malhas de fibrina
Implica ruptura dos vasos
Livores Cadavéricos:
Sangue não coagulado
Integridade dos capilares
H E M A T O M A
Extravasamento de sangue de um vaso de médio ou grande calibre.
Forma-se no interior dos tecidos ou espaços que tenham capacidade de acumulação sanguínea.
Na pele produz um relevo mais ou menos definido, e de absorção mais lenta que a equimose.
B O S S A S A N G U Í N E A
Apresenta-se sobre um plano ósseo e saliência bem pronunciada na
superfície cutânea.
Muito comum no couro cabeludo.
Vulgarmente conhecido como um “galo”
F E R I D A C O N T U S ALesão aberta cuja acção foi capaz de vencer a resistência
elástica dos planos moles.
São produzidos por pressão, percussão, arrastamento, explosão e tração.
A forma da ferida é sugestiva do tipo de objecto que a causou.
L U X A Ç Ã O
Dificilmente são considerados como sendo a causa da morte, no entanto têm utilidade para explica-la.
Caracteriza-se pela deslocação de dois ossos cujas superfícies articulares deixam de ter contacto.
Podem ser Completas (quando as superfícies de contacto se afastam totalmente) ou Incompletas (quando a perda de
contacto é parcial).
As mais frequentes são nos ombros, joelhos, cotovelos, e tornozelo.
Lesões articulares provocadas por movimentos exagerados dos ossos que compõem uma articulação, incidindo apenas
nos ligamentos.
Perturbação da função, tumefação, rubor local, movimentos articulares anormais, equimose ou hematoma na lesão
afectada.
E N T O R S E
Lesão cortante – toda a lesão que apresente corte da pele da pele e separação dos tecidos
Diagnóstico diferencial médico-legal: Bordos Direcção Pele circundante Profundidade dos tecidos lesados
E"ologia de uma lesão de arma branca
Avaliação da lesão visa descrição:
• Pormenorizada • Minociosa • Precisa • Fatual • Objec<vo da lesão • Isenta de juízos sobre as circustâncias que concorreram ao fato
L E S Õ E S C O R T A N T E S
Acidental*
Homicida*
Suicida*
Descrição das lesões:
• Forma, extensão e direcção em que foi produzida • Número de lesões • Determinção do tipo de instrumento • Localização anatómica preisa • Circunstâncias em que as mesmas terão sido produzidas • A violência com que demostram ter sido produzidas • Aorigem da sua produção
Características das lesões cortantes:
• Regularidade e nitidez das suas margens e bordas • Hemorragia • Predomínio do cumprimento sobre a profundidade • Afastamento dos bordos das feridas
I N S T R U M E N T O S C O R T A N T E S
Instrumento cortante – é classificado como um instrumento que age por pressão e por deslizamento sobre uma linha
Classificação dos instrumentos consoante as carateristicas que imprimem nas lesões:
• Instrumentos cortantes • Instrumentos perfurantes • Instrumentos contundentes • Instrumentos perfuro-cortantes • Instrumentos perfuro-contundentes • Instrumentos corto-contundentes
Possuem gume mais ou menos afiado, e agem por mecanismo de deslizamento sobre os tecidos
C L A S S I F I C A Ç Ã O D A S L E S Õ E S
Esfaqueamento Lesões Múltiplas
Feridas Incisas Feridas Incisas com marcas de hesitação
Feridas Defensivas
Feridas perfuro-contundentes Feridas corto-‐contundente
Diagnóstico diferencial médico-legal em ferimentos por arma branca
LESÕES PERFURASNTES
Lesões perfurantes – são caracterizadas essencialmente por bordos irregulares, um predomínio de profundidade e possui um carácter penetrante, causando perfuração e rutura dos tecidos por uma arma de fogo
Orifício de entrada – é um orifício, onde o projéctil atinge o corpo, provocando o seu rompimento, tem a forma tubular onde se deposiam detritos
Zona de tatuagem – é resultado da impregnação de partículas de pólvora incombusta que alcançam o corpo
Zona de fuligem – é produzida pelo de pósito de fuligem da pólvora ao redor do orifício de entrada
Zona queimada – tem como responsável a acção superaquecida dos gases que antingem e queimam a pele
Características relevantes das lesões de armas de fogo:
• O projéctil é o mais típico agente perfurocontundente • É composto de chumbo e revestido ou não por outros metais • As munições podem ter carga simples ou única (revólver) ou múltiplas (arma de
chumbo)
Para o estudo das lesões de armas de fogo são considerados alguns critérios:
• Distância de disparo ao alvo • Características dos orifícios provocados pelas armas • Trajectória da munição
A R M A S D E F O G O
E F E I T O S P R O V O C A D O S N O A L V O H U M A N O
Efeitos primários Ação directa
Ação indirecta Cavidade permanente Cavidade temporária Efeitos secundários
F A C T O R E S D E T E R M I N A N T E S N O P O D E R L E S I V O D E U M A A R M A D E F O G O
•Distância a que se faz o disparo •Energia cinética do projétil •Forma do projétil •Localização do orifício de entrada •Trajetória do projétil •Cavidade temporária •Desaceleração
Temos de considerar 3 parâmetros:
Orifício de entrada Orifício de entrada propriamente dito Forma de contorno
Lesões a grande distância- forma oval ou de fenda linear.
Lesões a pequena distancia- aspeto rasgado,em estrela.
M O R F O L O G I A D A S L E S Õ E S P O R U M A A R M A D E F O G O
TATUAGEM
Formação resultante de disparo que se desenha a volta do orifício de entrada
Fornecem importantes indicações de diagnostico medico – legais
2 componentes : • halo de contusão • tatuagem propiamente dita
Halo de CONTUSÃO
E limitado Coloração escura É elemento característico de orifício de entrada Pode existir também no orifício de saída Forma circular Mecanismo de formação do halo contusão da pele pelo bala erosão que a distinção da pele origina antes de provocar perfuração arranhão de projétil sobre a pele
TATUAGEM
Queimadura zona apergaminhada, escura ou amarela e concêntrica ao orifício de entrada onde se encontram pelos queimados.
Incrustação de grãos de pólvora não queimados Podem penetrar superficialmente ou profunda a sua distribuição constitui um bom indicador da direção do disparo
Deposito de negro fumo pode desaparecer com simples lavagem com agua, maior extensão que os resultantes componentes.
LESÕES ATÍPICAS
• Lesões de entrada de forma irregular • Podem ter rasgos nas margens • Geralmente ocorrem quando uma bala perde a rotação dada pela
arma • Resultam frequentemente da passagem do projétil por um alvo
intermediário
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO ORIFÍCIO DE ENTRADA EM LESÕES ATÍPICAS
Contusão simples balas que não perfuram a pele por falta de força ou medalhas
Erosões ou sulcos balas tangenciais
Lesões em fundo de saco penetração pouco profunda
TRAJECTO
• Único ou múltiplo • Rectilíneo ou com desvio • Diâmetro não constante • Interior do trajeto preenche se de sangue
ORIFICIO DE SADA
• E inconstante • Normalmente tem forma irregular pode ser maior que o orifício de
entrada, ausência de halo e bordos revestidos • Apresenta de sangramento
LESÕES ATÍPICAS
TIPOS DE LESÕES PERFURANTES
Tiro em contacto Tiro a curta distância Tiro a média distância
Tiro à distância
• Ferida de contacto é aquela em que o cano da arma é mantido contra o corpo no momento da descarga.
• Todos os materiais emergentes da boca da arma são transferidos para a ferida
• Características: - Orifício de entrada com escurecimento e pó (fuligem) na borda da ferida; - forma irregular; - não tem zona de tatuagem; - tem diâmetro superior ao do projéctil; - há impressão do cano da arma.
TIRO EM CONTACTO
TIRO A CURTA DISTÂNCIA
Ferida provocada a uma distância em que os grãos de pólvora que emergem da boca da arma não se conseguem dispersar e acabam por
marcar a pele provocando uma tatuagem, que é condição sine qua non destas feridas.
TIRO A MÉDIA DISTÂNCIA
Ferida provocada por uma arma que está longe do corpo, mas ainda perto o suficiente
para que os grãos de pó expelidos com a bala possam
produzir uma espécie de "tatuagem" na pele (DiMaio,
V.J.M. 1999, p.71). Nota: neste caso pode haver tatuagem ou não, e está terá um aspecto puntiforme, tipo salpico, entre o castanho e o laranja, à volta do orifício de
entrada.
• A tatuagem é um fenómeno ante-mortem. Se o indivíduo já estava morto aquando do disparo as marcas vão ter uma coloração cinza-amarelada e não castanho-alaranjada.
• Nestas feridas podem também haver zonas de fuligem e zonas queimadas.
TIRO À DISTÂNCIA
• Ferida em que as únicas marcas no alvo são as produzidas pela acção mecânica da bala ao perfurar a pele (DiMaio, V.J.M. 1999)
• Orifício de entrada é arredondado, bem definido, de diâmetro inferior ao do projéctil e com halo escurecido e equimótico
CONCLUSÃO
• A observação directa das lesões nas vítimas permite a apreciação de um certo número de características do ferimento, (...) cujo conjunto é essencial para a objectividade da presunção médico-legal da intenção de matar. (Pinto da Costa, 2004)
• É de extrema importância que o profissional de saúde tenha competências específicas na procura de detalhes. (...) Os elementos da sua observação são fundamentais para a investigação judiciária ou policial e para uma possível decisão final em tribunal. (Pinto da Costa, 2004)
• É necessária uma rápida colaboração entre sistemas de saúde e sistemas de justiça para que sejam corrigidas as deficiências já reconhecidas (...) e também para que sejam criadas regras de procedimento para situações bem definidas.
• Um correcto registo clínico que contemple uma descrição pormenorizada de todas as lesões encontradas revela-se uma mais-valia para a segurança jurídica e contribui para um ganho da vítima e da sociedade.
• A uniformização das avaliações dos registos permite uma maior comunicação entre os serviços de saúde e de justiça, aumentando a qualidade e o rigor da informação recolhida. • A comunicação entre a Medicina Legal, os Serviços de Saúde e
o Direito permite responder de forma adequada e célere a expectativas legais e problemas de saúde pública.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
• Aguiar, A. (1958). Medicina legal: Traumatologia Forense. Lisboa. Universidade Editora
• Borges, J., & Ribeiro, T. Agentes Cortantes e perfuro-cortantes.
• http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/20050/2/Tesemestradoluciavales2009.pdf
Muito Obrigado!
Andreia Seco Diogo Soares
Elsa Nunes João Santos Maria Filipe Mariela Oio