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1. CONTEXTUALIZAÇÃO.Desde o primeiro momento que a luz rompeu o caos, a escuridão foi dissipada, os primeiros

raios começaram a rasgar o céu, os trovões a estremecer a terra, o vento a soprar todos os cantos, os pingos de chuva a cair pela primeira vez e as primeiras formas de vida brotarem do seio da mãe Terra, o homem espantado, admirado, extasiado e perplexo diante da natureza que o cerca, e do desconhecido que toma conta de si, sem compreender o significado do dia, da noite, do sol, do vento, da chuva, do calor, dos raios, da fome, da dor, do frio, sem entender a razão de sua existência, da morte, do feio, do belo, do bem, do mal, do certo e do errado, recorre ao mito buscando um contanto com o transcendente.

O homem vê, mas não consegue compreender. Precisa de uma explicação para aquilo que ultrapassa os limites da experiência visível. Necessita que o provisório ganhe dignidade e adquira sabor de eternidade. Busca incansavelmente compreender questões vitais, explicações dos fenômenos naturais e da metafísica de sua própria existência.

Percebe-se então como um ser frágil, limitado, dependente e sujeito a tudo. Seu eu não é absoluto. Abre-se ao inesperado, ao desconhecido. Tece a idéia do absoluto e descobre que existe uma simbiose entre o real e o possível. Seu coração queima e deseja o absoluto. Quer preencher o vazio. Não tem mais dúvidas, tem que buscar esse absoluto. Busca que é inerente e própria à nossa natureza humana.

Definitivamente é seduzido e se abre para o infinito, o eterno, o permanente. Pois segundo Félicien Challaye “O sentimento religioso é a mais complexa inclinação que se pode descobrir no fundo do coração do homem; em torno desta tendência fundamental agrupam-se todas as espécies de aspirações, entusiasmos, curiosidades sobre a vida, sobre o universo, sobre o além”.

O homem foi se desenvolvendo, criando estruturas de relacionamento e organização complexas. Foi se aproximando gradativamente do sagrado e estreitando sua aproximação e aprofundando sua relação com o transcendente. Queria mais. Busca respostas para a sua existência e o aprimoramento na relação consigo mesmo, o outro, a natureza e Deus.

Nessa busca, houve um momento que as luzes da razão moderna ofuscaram o apelo do transcendente e a sedução do sagrado, pois parecia ter explicações para tudo e solução para todas as mazelas do mundo. Só que o mito do progresso e a razão instrumental foram, considerados incapazes de determinar os objetivos supremos da vida humana, criaram um abismo profundo separando ainda mais os ricos dos pobres. Provaram os seus limites diante da magnitude dos mistérios da vida humana e como era de se esperar, entram em crise e abrem novos caminhos e novas perspectivas para novas formas de experiência do sagrado. Segundo Cleto Caliman “O ser humano continua a deixar-se seduzir pelo mistério, não importa se movido pela nostalgia do passado ou pelo futuro que ainda está por vir. A religião está de novo no palco histórico, movida pela força da emoção, do encanto do sagrado, pela busca de uma identidade como que perdida no complexo mundo globalizado, de múltiplas inter-relações sociais, econômicas, políticas e culturais”. Acrescenta ainda “Nesse novo húmus histórico da religiosidade e da religião as pessoas reencontram seu núcleo subjetivo e recriam o espaço de comunicação, fragmentado pelo pluralismo sem contornos da pós-modernidade. Se Kant antevia uma religião nos limites da razão (moderna), hoje pode-se dizer que a nova busca religiosa se delimita não mais pelo sagrado, pelo divino ou pelo mistério “objetivamente captado” como norma para o existir histórico das pessoas e da sociedade, mas pelo “humano”. No fenômeno religioso de nossos dias se projeta uma religião nos limites do humano enquanto captado segundo a medida de cada um, segundo demandas individuais”.

Na abertura de novos caminhos e novas perspectivas para novas formas de experiência do sagrado, a aproximação ao transcendente reveste a vida de um sentido maior e promove o autodesenvolvimento humano.

Neste sentido, o Ensino Religioso está atento e marca a sua participação na educação da religiosidade do educando, ou seja, na atitude dinâmica de abertura efetiva da pessoa ao sentido fundamental, radical, de sua existência, seja qual for o modo como este sentido é percebido.

A religiosidade extrapola as dimensões visíveis de cada pessoa e manifesta-se como capacidade ou habilidade do ser humano captar e entender o sentido transcendente de sua existência, acolhendo-o efetivamente em sua vida e passa progressivamente a agir sob à sua luz e inspiração. Uma reflexão aprofundada sobre o estudo da religiosidade ajuda-nos a entender o ser humano percebendo sua dinâmica na evolução de sua realidade religiosa.

ABRINDO CAMINHOSRELIGIOSIDADE E CONVIVÊNCIA

(3ª E 4ª SÉRIES/ENSINO FUNDAMENTAL)

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Segundo Francisco Catão “Na raiz da religiosidade está a percepção da transcendência que se autopõe como fonte do sentido da própria existência e como outro inatingível na sua outridade, mas irrecusável na sua alteridade”. Então, toda e qualquer ação pedagógica deve considerar o trabalho que será ser desenvolvido a partir da religiosidade do educando, pois é na sua experiência de vida que fatalmente fará também a sua experiência de Deus. Sendo assim, a escola deve se preocupar muito mais com a pessoa humana em sua dignidade fundamental de abertura ao transcendente, do que com sua crença religiosa.

Conscientes desta realidade procuramos elaborar uma proposta de trabalho capaz de construir um conteúdo de forma dinâmica, séria, criativa, dialogal, participativa, profunda, desafiadora e contextualizada, respeitando as crenças individuais e direcionado para a educação da religiosidade.

Acreditamos ainda que o Ensino Religioso na Rede Pitágoras constitui-se elemento essencial na construção de um projeto pedagógico que visa a formação integral de seus educandos, portanto, ele tem que ser referência, destaque, alegria, prioridade, motivação.

2. METODOLOGIAO Ensino Religioso, estando presente em todos as fases do Ensino Fundamental, possui

características muito específicas se comparado às demais disciplinas. Daí a necessidade de abordá-lo em todas as suas especificidades, o que pressupõe a busca de um método, um caminho, um roteiro de trabalho que favoreça a reflexão pessoal e coletiva e a tomada de consciência diante de diferentes problemáticas. Essa conscientização conduzirá, possivelmente, a uma nova visão e, se necessário, a uma mudança de postura diante delas. Tendo isso em vista, buscamos traçar um caminho, conforme descrito a seguir, que será percorrido ao desenvolvermos cada um dos temas propostos neste livro.

1. BATE-PAPO - Os temas são o veículo da caminhada que nos propomos a fazer. Essa caminhada tem início com o bate-papo, neste momento em que, através de um diálogo, de uma conversa informal, o aluno traz o seu conhecimento sobre o assumo a ser trabalhado. Continuando o percurso, busca-se acrescentar dados novos ao conhecimento já adquirido pelo aluno.

2. DADOS NOVOS - O professor traz um dado novo, acrescentando-o àquele que o aluno apresentou como parte de sua experiência. Passando para uma nova etapa do percurso, propomos uma vivência.

3. VIVÊNCIA - Pode-se apresentar de diferentes formas- dinâmica, jogo, brincadeira, etc.-sempre lançando mão dos sentidos. Assim, o aluno poderá explorar o que sente e se apropriar do conhecimento que lhe pode ser transmitido através das sensações. Para que ele chegue a isso, é necessário que o professor, com muito tato e habilidade, conduza a reflexão. Da reflexão bem trabalhada depende a continuidade significativa - nova experiência – do nosso percurso.

4. PENSAMENTO EM AÇÃO - Esta etapa do percurso deve provocar uma reflexão que conduza à ação. Reforçando: deve exercitar o pensamento e levar a agir. De que ação se trata? Pode tratar-se de uma mudança de atitude diante das questões apresentadas através dos diferentes temas, que estão sempre relacionados ao dia-a-dia do aluno, o que os torna mais próximos e concretos. Pode tratar-se ainda de incentivar o aluno a manter posturas que ele já tenha desenvolvido.

5. DESAFIO - É uma proposta de adesão à mudança. O professor deve estar sempre atento à retomada, na aula seguinte, do desafio proposto anteriormente, não objetivando fazer uma cobrança ostensiva, mas no sentido de incentivar e valorizar as conquistas do aluno.

6. FECHAMENTO - É sempre feito através de uma citação tirada do livro sagrado das chamadas grandes tradições religiosas e também pensamentos, provérbios, poesias, trechos de música. Cabe ao professor refletir com a turma sobre a citação apresentada, trazendo-a para o dia-a-dia do aluno e conferindo-Ihe sentido.

(Manual do Professor da 1ª e 2ª Séries)

3. PROGRAMA PITÁGORAS DE ENSINO RELIGIOSO.

3.1. INTENÇÕES EDUCATIVAS GERAIS DA COLEÇÃO.

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3.1.1. Despertar para os aspectos transcendentes da existência e o compromisso com o social, a partir da descoberta e valorização de si próprio, do outro e da natureza, em um processo que conduza naturalmente à vivencia dos valores humanos, ao respeito às diversas expressões religiosas e a um encontro pessoal com Deus.

3.1.2. Oferecer referenciais éticos que contribuam para a compreensão do sentido da vida e para a construção do ser integral.

3.1.3. Incentivar o diálogo inter-religioso para a construção de uma sociedade mais solidária.

3.2. EIXOS NORTEADORES.

3.2.1. O Programa de Ensino Religioso da Rede Pitágoras, toma como referência cinco Eixos Norteadores:

a. Identidade e Relações.b. Natureza, Cultura e Sociedade.c. Ética e Valores.d. Abertura ao Transcendente.e. Manifestação Religiosa: mitos, ritos, escrituras e teologias.

Estes Eixos estão em todas as séries do Programa e devem ser balizadores, nortes para as aulas de Ensino Religioso. Eles devem ser desenvolvidos não pura e simplesmente como conhecimentos ou informações adicionais, mas como subsídios que possam auxiliar na formação da concepção que os educandos têm sobre o homem, o mundo e a realidade em que vivem e que são chamados a transformá-la.

Os eixos são uma referência e portanto, se constituem em uma fonte de pesquisa que deve apontar para outras leituras, estudos e aprofundamentos. Devem suscitar nos educandos e educadores o desejo de buscar novos caminhos, conhecer outros mundos, almejar outras possibilidades.

3.3. O PROGRAMA PITÁGORAS NA PRIMEIRA FASE DO ENSINO FUNDAMENTAL.

3.3.1. O CONTEÚDO PROGRAMÁTICO.

1. TERCEIRA SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL.

1. Identidade e Relações.

1.1. Eu e os outros.1.2. Somos diferentes uns dos outros.1.3. Sinto, logo existo!1.4. Eu existo com o outro – hábitos e costumes.

2. Natureza, Cultura e Sociedade.

2.1. O mundo em que vivemos.2.2. Consciência ecológica e social.2.3. A teia da vida – interdependência dos seres vivos.2.4. Precisamos uns dos outros – somos sociedade.2.5. O mundo que sonho.

3. Ética e Valores.

3.1. Somos responsáveis uns pelos outros.3.2. Respeito e tolerância.3.3. Somos todos irmãos.3.4. Pessoas que ajudaram a mudar o mundo.

4. Abertura ao Transcendente.

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4.1. Irmãos que se reúnem em comunidade de fé.4.2. Vivendo em comunidade e para a comunidade.4.3. Os diferentes modos de viver a religiosidade.4.4. Somos comunidade celebrando a vida.

5. Manifestação Religiosa: mitos, ritos, escrituras e teologias.

5.1. A cultura religiosa e suas expressões.5.2. Ensinamentos que orientam a vida das pessoas.5.3. Chamados a crer.5.4. As práticas religiosas – celebrações, ritos, festas,

símbolos e costumes.

2. QUARTA SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL.1. Identidade e Relações.

1.1. Ser com os outros.1.2. Meu jeito de ser.1.3. Conhecendo meus talentos.1.4. Gostar de si mesmo é legal!

2. Natureza, Cultura e Sociedade.2.1. Preservar é optar pela vida.2.2. Não estou sozinho no mundo.2.3. Trabalho e tecnologia – ajudando a construir o mundo.2.4. Construindo um mundo melhor.

3. Ética e Valores.3.1. Para começo da conversa.3.2. O porquê da ética.3.3. Consciência crítica.3.4. Por uma sociedade ética.

4. Abertura ao Transcendente.4.1. A pergunta pela vida.4.2. A percepção da transcendência.4.3. A busca do sagrado.4.4. Os livros sagrados.

5. Manifestação Religiosa: mitos, ritos, escrituras e teologias.5.1. Os mitos de ontem e hoje.5.2. As primeiras manifestações religiosas.5.3. A experiência de Deus em nossa vida.5.4. Oração: momento de diálogo com Deus.

3.3.2. FUNDAMENTAÇÃO POR UNIDADES.

UNIDADE I – IDENTIDADE E RELAÇÕES

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FUNDAMENTAÇÃO

A questão da identidade pode ser trabalhada como uma marca registrada de cada pessoa. A pessoa deixa de ser um número a mais e torna-se consciente, assumindo-se como alguém diferente dos demais. Ao definir sua identidade, a pessoa descobre que só ela é desse jeito e que, portanto, só ela sabe e pode fazer certas coisas que são fundamentais para a transformação da sociedade. Para chegar a esse ponto, a pessoa precisa conhecer-se, sentir-se dona de si mesma, aceitar suas qualidades, habilidades, valores e defeitos pessoais, compreender-se a si mesma, buscar soluções para seus problemas. Esse trabalho de aperfeiçoamento pessoal dura toda a vida.

O educando busca sua identidade e já apresenta condições de se descobrir como parte integrante nesse processo de descoberta da sua identidade pessoal e usa, como parâmetro, o grupo de iguais onde pode se expressar, se comparar e se perceber.

O trabalho do Ensino Religioso deve criar espaços para ocorrer uma rede de relações, principalmente no grupo, como movimento privilegiado de crescimento pessoal, onde o educando expressa seus sentimentos, partilha sua vida, traça projetos, caminha e cresce como pessoa.

Na identificação com o grupo humano de pertença e o reconhecimento de traços constitutivos de sua própria identidade, o educando irá desenvolvendo a auto-estima, a autovalorização e, conseqüentemente, abrindo caminho para a descoberta, a estima e a valorização do outro. A partir de situações concretas, em que ela se descobre como pessoa, identifica no outro alguém possuidor de características semelhantes às suas, mas ao mesmo tempo diferentes e passa a valorizá-las como possibilidade de complemento para o crescimento pessoal de ambos, pois “O homem é um ser incompleto e inacabado, e são as suas relações com os outros e o mundo que o torna possível. O homem isolado é uma abstração. O homem concreto é aquele entendido no seu contexto, inseparável de suas circunstâncias, onde suas relações se fazem dinâmica e reciprocamente. Isso quer dizer que o mundo, por meio da cultura, do ambiente, do momento histórico e dos valores, enfim, forma – ou deforma – os homens que, por sua vez, constroem – ou destroem – o mundo. Portanto, na unidade em que se constitui o homem deve-se inevitavelmente incluir a inserção na sociedade e na natureza. E isto pode ser comprovado já a partir das necessidades básicas do homem e também dos outros seres vivos. O ar e o alimento, indispensáveis à sobrevivência, são exemplos marcantes dessa apropriação feita pelo homem, tornando a natureza parte de sue corpo “. (João Paulo S. Medina)

EIXOS NORTEADORESTEMAS GERADORES IDENTIDADE E RELAÇÕES

1. EU E OS OUTROS2. SER COM OS OUTROS

Ajudar o educando a descobrir, pela autovalorização e valorização do outro, que os limites e capacidades de cada um, permitem a troca, a relação, os contatos afetivos, corporais, sensoriais, lúdicos, que tornam a vida dinâmica e cheia de possibilidades.

Descoberta da partilha e do respeito pelo outro, para que se estabeleça uma convivência fraterna, solidária e mais justa dentro do grupo.

Reconhecer que cada pessoa humana tem necessidade de se comunicar e compartilhar experiências, expressando-se de várias formas: gestos, palavras e diferentes linguagens.

Possibilitar ao educando encontros significativos com o outro para desenvolver a percepção das semelhanças e diferenças como pessoas, gerando a construção de regras de convivência e a formação de grupos que ser relacionam de modo

INTENÇÃO EDUCATIVA GERAL

Possibilitar ao educando a compreensão de que o ser humano é chamado à felicidade e só consegue atingi-la quando se abre aos outros na dimensão do amor e do relacionamento, propiciando momentos de reflexão e confrontos com sua própria história. Assim, seremos capazes de sair de nós mesmos, seremos solidários e abertos aos outros, assumindo a nossa responsabilidade diante da vida procurando o bem do próximo. Com certeza, estaremos aptos a saber escutar e sentir mais e assim construir a nossa própria identidade.

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fraterno e participativo.

1. SOMOS DIFERENTES UNS DOS OUTROS2. MEU JEITO DE SER

Reconhecer-se como pessoa única e rica de possibilidades e valores, com potencial para interagir com o outro.

Valorizar a capacidade da pessoa humana se comunicar dentro dos diversos grupos sociais aos quais pertence, para um processo de interação.

Confrontar os gostos e opiniões dos educandos com gostos e opiniões com os dos outros, respeitando-os, mantendo ou reformulando os seus.

Conhecer, aceitar, respeitar e valorizar o outro como ele é, através da percepção das semelhanças e diferenças entre as pessoas.

Entender que a realização da pessoa humana como a se dar no encontro com o próprio indivíduo e na capacidade de se aceitar com é.

1. SINTO, LOGO EXISTO!2. CONHECENDO MEUS TALENTOS

Possibilitar que o educando conheça a si mesmo, se encontre, descubra seus desejos, suas tristezas, suas alegrias, seus propósitos, suas dificuldades, suas fraquezas, seus medos, seu poder, suas emoções.

Questionar a lógica do pensamento “penso, logo existo”, avaliando sua influência na maneira como nos comportamos frente aos nossos sentimentos.

Reconhecer os diferentes aspectos da capacidade humana, presentes em cada um de nós necessário ao pleno desenvolvimento da vida e a construção de um mundo mais digno.

1. EU EXISTO COM O OUTRO – HÁBITOS E COSTUMES

2. GOSTAR DE SI MESMO É LEGAL!

Possibilitar ao educando a descoberta do valor de si mesmo, a fim de que possa despertar atitudes de autovalorização e valorização do outro como pessoa humana, para que se perceba sujeito de seu próprio desenvolvimento na relação consigo mesmo e como participante na construção de uma sociedade que primeiro sinta com o coração, para somente depois manifestar o pensamento.

Ajudar o educando a resgatar ou cultivar sua auto-estima, o entusiasmo e o sonho.

FUNDAMENTAÇÃO

Estamos inteiramente mergulhados na realidade social e ela se apresenta de maneira muito complexa. Somos parte dela e quase que totalmente consumidos por ela, porém raramente nos damos conta disso ou até a ignoramos, se é que isso é possível. Por inúmeras vezes não procuramos entendê-la, pois tomados de uma consciência ingênua, achamos que a conhecemos o bastante a ponto de afirmar que se o homem vivesse no fundo do mar provavelmente a última coisa que ele descobriria seria a água, assim é a realidade, a achamos tão óbvia em ser percebida que passa a configurar ao contrário, o óbvio é o mais difícil de ser percebido.

Essa miopia social faz com que cometamos vários equívocos, deixamos de observar a realidade social de forma madura, consciente e crítica e lançamos um olhar simplista e desprovido de qualquer observação mais detida e acabamos por achar que vivemos no país mais maravilhoso do mundo.

UNIDADE II – NATUREZA, CULTURA E SOCIEDADE

INTENÇÃO EDUCATIVA GERAL

Sensibilizar o educando para as questões sociais e ecológicas oportunizando a compreensão do contexto social em que vive, para que possa assumir sua responsabilidade na construção da grande teia da vida e na concretização de seus sonhos voltados para a transformação do mundo.

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O Ensino Religioso não pode corroborar com isso, cabe a ele criar espaços qualitativos para que o educando faça uma análise de si mesmo, enquanto membro ativo de uma determinada realidade e que carrega dentro de si o desejo avassalador de mudanças. Deve também ajudar o educando a descortinar a realidade em que vive, situando-se nela, pois “Quanto mais conhecemos a dinâmica da realidade social, melhores condições teremos de compreender e lidar com a nossa realidade pessoal, familiar e grupal. Teremos também mais condições de descobrir e conhecer a realidade de outros jovens, de outras famílias, de outros grupos e classes sociais. Conhecendo melhor a sociedade, teremos mais condições de acolher as diferenças que nelas existem, quando são expressão de um pluralismo justo e saudável. Teremos também mais condições de identificar os preconceitos, as injustiças, os conflitos, as discriminações que impedem a vida digna e satisfatória para todos. Conhecendo melhor a sociedade estaremos também nos capacitando para participar de maneira consciente e ativa da busca e do encaminhamento de soluções que atendam aos anseios, às contradições e aos conflitos presentes na estrutura social. Estaremos percebendo também que a sociedade é muito complexa e, para ser transformada, exige a união de muitas pessoas e grupos em torno de um ideal ou de uma proposta. Por isso é sempre necessário que muitas pessoas estudem, reflitam e atuem juntas. Não é tarefa para ser desempenhada isoladamente “. (ABREU, Elza Helena de. et alli. O Jovem e a Sociedade. Porto Alegre: FTD, In: Desafios do Homem Contemporâneo - 3, s/d, pp. 4 -7).

Outro aspecto de fundamental importância é o cultivo e o respeito à Ecologia através da formação da consciência ecológica que irá sendo construída pelos educandos à medida que começam a perceber que o ambiente é de todos e que, se a natureza for preservada, o benefício será comum.

Considerando que “Observar princípios éticos em benefício da sociedade é possuir uma consciência ecológica, ou melhor, uma consciência ambiental. Esta depende, em primeiro lugar, de se perceber que a preservação da natureza, ou de seu equilíbrio, é indispensável à conservação da vida humana e do bem-estar das sociedades. Em segundo lugar, é importante entender que a preservação da natureza depende mais da manutenção das condições necessárias ao seu equilíbrio natural do que da proteção individual a cada ser vivo, isto é, a natureza deve ser vista como um sistema integrado, não como um conjunto heterogêneo de espécimes. Finalmente é necessário garantir a sobrevivência e a possibilidade de reprodução de espécies que esteja se extinguindo, não só pela sua eventual beleza estética, mas também pelo que cada uma delas representa de potencial para futuras utilizações e descobertas científicas” (Samuel Murgel Branco), torna-se essencial que o educando, a partir de sua curiosidade natural, seja desafiado e estimulado a observar e tecer propostas de ação sobre a Ecologia. Propostas que devem romper com os princípios da ética individualista que orientam a sociedade de consumo e promova uma mudança nos valores de toda sociedade.

Não somos donos da natureza, somos parte dela e co-responsáveis pela manutenção do equilíbrio ecológico. A Ecologia é algo que deve ser vivenciado no nosso dia-a-dia através de mudanças de atitudes e na forma de percebermos a natureza. Portanto, “O ser humano vive melhor quando renuncia ao estar sobre para estar junto com os outros. Quando impõe limites a seus próprios desejos em nome do equilíbrio e harmonia. Só assim o ser humano descobre que não é só um ser de desejos egoístas, mas também um ser de solidariedade e comunhão”. (Jung Mo Sung & Josué Cândido da Silva)

A Ecologia proporciona ao educando motivos de alegria, recreação, bem-estar, espaço, cor, movimento, beleza e acaba respondendo ao interesse de todos. É necessário a contribuição de cada um para garantir a todos o acesso e usufruto da natureza, pois uma vez contemplada, preservada e trabalhada das mais diversas formas, será percebida pelo educando como uma obra e presente da criação de Deus.

Precisamos criar pequenos espaços de convivência solidária que possam, de uma vez por todas, implodir com a lógica perversa do sistema capitalista e criarmos uma nova sociedade que tenha como princípios uma ética que seja pautada na responsabilidade solidária. Não estamos delirando, estamos falando de utopia, pois acreditamos que os nossos problemas sociais são passíveis de mudanças. Sabemos que somos capazes de sonhar. Sonhar com um mundo melhor, mesmo que esteja além de nossa condição humana. Sonho é aquilo que é possível e que a solução dos nossos problemas sociais faz parte de sonhos factíveis. E são estes sonhos que nos abrem horizontes para pensar novas formas de organização social, pois sem eles e sem a utopia a nossa vida seria um desastroso caminhar para a morte.

EIXOS NORTEADORESTEMAS GERADORES NATUREZA, CULTURA E SOCIEDADE

1. O MUNDO EM QUE VIVEMOS2. PRESERVAR É OPTAR PELA VIDA

Sensibilizar o educando para a percepção das questões sociais que nos interpelam a uma tomada de posição diante dos grandes desafios da atualidade.

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Propiciar ao educando uma visão crítica e positiva dos grandes problemas da realidade.

Sentir que somos parte da natureza e não donos dela e que tudo que fizermos a ela, estaremos fazendo a nós mesmos.

Refletir sobre os sinais de vida emergentes da realidade.

Despertar no educando, o interesse, valorização e respeito para com a natureza, como também o desejo de preservá-la.

Instrumentalizar o educando para que possa compreender os acontecimentos e as relações sociais, de forma reflexiva e crítica.

1. CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA E SOCIAL2. NÃO ESTOU SOZINHO NO MUNDO

Possibilitar ao educando a oportunidade de refletir sobre a complexidade da sociedade moderna, os desafios que a mesma apresenta e a contribuição de uma consciência ecológica e social na superação dos grandes problemas.

Perceber a importância dos direitos e deveres de cada um na escola, na rua, em casa, para uma convivência respeitosa e que promova o crescimento integral de todas as pessoas da sociedade.

Perceber que todas as pessoas são importantes na sociedade e que são convidadas a participarem na construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário.

Colaborar na formação de um cidadão conhecedor das realidades naturais e sociais, comprometido com a transformação destas, em um modo mais solidário.

Perceber as necessidades da realidade social que nos cerca e procurar as possibilidades que temos de ser solidários e justos.

Introduzir o conceito de Ecologia como morada desenvolvendo nos educandos:

a. um conhecimento aplicável a serviço da vivência e convivência humana, através de reflexões, leituras e experiências solidárias sistemáticas, que tem como objetivo recuperar a harmonia com o meio ambiente e devolver o respeito e a ética aos Deveres Humanos;

b. uma capacidade que trazem latente desde a concepção: poder viver com plena autonomia, com o máximo de seu potencial e auto-estima, em função de uma ética essencial e de uma inata necessidade de auto-proteção, auto-abastecimento, auto-realização e harmonização; 

c. a consciência de que, enquanto o ser humano não for capaz de cuidar de cada metro cúbico onde vive, nunca poderá participar, com êxito, da preservação da vida e do meio ambiente. Por isso, considera essencial, para a sobrevivência individual e planetária, dar a todos as bases de uma ética individual para desenvolver uma ética global; 

d. um desejo de participar da crucial campanha pela preservação do planeta e da humanidade, propondo um conhecimento e uma tecnologia que desenvolva uma natural ética individual para o maior número de pessoas, no menor tempo e com o mais baixo custo.

Conscientizarmos que desde dos deuses aos

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1. A TEIA DA VIDA – INTERDEPENDÊNCIA DOS SERES VIVOS

2. TRABALHO E TECNOLOGIA – AJUDANDO A CONSTRUIR O MUNDO

homens, dos mundos aos átomos, do sol ao coração vital do menor organismo - o mundo da forma e da existência é uma imensa cadeia, cujos elos estão todos ligados, ou seja, formamos uma grande teia e somos interdependentes uns dos outros.

Reconhecer que o comprometimento de cada um é essencial para melhorar o mundo.

Capacitar o educando a interpretar a realidade para nela atuar, ora aceitando-a, rejeitando-a ou transformando-a.

Anunciar uma sociedade baseada em novos paradigmas, onde o ser humano seja o centro, a vida não subordine à lógica econômica idolátrica e o trabalho não se reduza à mera sobrevivência, mas que promova a vida, em todas as suas dimensões.

1. PRECISAMOS UNS DOS OUTROS – SOMOS SOCIEDADE

2. CONSTRUINDO UM MUNDO MELHOR3. O MUNDO QUE SONHO

Engajar-se em práticas capazes de atingir as raízes geradoras do atual quadro de injustiça e desigualdade, gerando a transformação da sociedade.

Despertar os educandos para uma cultura da solidariedade.

Reconhecer a necessidade de convivência com o diferente, valorizando o desprendimento, o empenho e o trabalho destes para o seu bem-estar e a construção de um mundo melhor.

Contribuir para a formação do sujeito crítico, autônomo, participativo, consciente e justo, visando a transformação social.

FUNDAMENTAÇÃO

Conhecer hoje alguns pontos essenciais sobre a filosofia moral ou ética, é uma necessidade urgente para uma boa convivência social, uma vez que a formação da consciência ética e religiosa das pessoas é um grande desafio, aumentando consideravelmente a responsabilidade do educador como mediador em torno dos elementos que favoreçam, ao educando, a sua formação ética e religiosa o que vai possibilitar a construção de sua síntese pessoal.

É bom lembrar que essa síntese será feita em meio a realidade em que vive, tornando-a dinâmica, onde outros elementos são incorporados. Cabe ao Ensino Religioso colaborar para que o educando faça uma análise da realidade e que seja adicionada à sua experiência de pessoa humana, uma visão crítica do mundo que o cerca, dando-lhe condições para se posicionar diante das várias interferências que podem engessar sua tomada de decisões. Entendemos também que todas as propostas de mudança que vierem a ocorrer deverão estar pautadas em uma escala de valores. E essas mudanças só ocorrerão se esses “... valores que as crianças vierem a adquirir forem aqueles que os converterão em pessoas conscientes da realidade em que vivem, ou seja, críticas e comprometidas com uma ação transformadora para uma humanidade melhor.” (Antonio Carlos Gomes da Costa)

Em todos os momentos é mister o educando perceber, através de vivências, desafios e experiências, o valor e o contra-valor como realidades intrínsecas à nossa vida. É importante que o educando seja colocado o tempo todo diante de situações concretas, onde possa ser incentivado e convidado a estar emitindo o seu juízo de valor. Agora não é qualquer juízo de valor. É um juízo pautado em uma constante atitude crítica, de reconhecimento dos limites e das possibilidades dos

UNIDADE III – ÉTICA E VALORES

INTENÇÃO EDUCATIVA GERAL

Contextualizar a discussão sobre a ética e valores e dar conta das diversas implicações que os envolvem na relação com os diversos aspectos da vida em sociedade, propiciando ao educando a vivenciá-los e entender a si mesmo como um ser de dimensão ética, chamado a se integrar dialeticamente com a cultura, para que se comprometa com o processo de construção e transformação da sociedade.

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sujeitos, das circunstâncias, de problematização das ações, relações, valores e regras que fazem parte de seu cotidiano.

Vemos, portanto, que as reflexões éticas não se restringem apenas a busca de conhecimento teórico sobre os valores humanos, cuja origem e desenvolvimento levantam questões de caráter sociológico, antropológico, religioso etc. A ética tem preocupações práticas. Ela orienta-se pelo desejo de unir o saber ao fazer. Como filosofia prática, a ética busca aplicar o conhecimento sobre o ser para construir aquilo que deve ser. E, para isso, é indispensável uma boa parcela de conhecimento teórico. Trata-se, assim, de uma interação dialética entre a reflexão interior e a ação exterior. Afinal, "a teoria sem a prática é estéril, e a prática sem teoria é ingênua".

O Ensino Religioso deve abrir espaço ao educado para a vivência dos valores e a compreensão de si mesmo como sujeito ético. É importante que todos os trabalhos realizados em torno da consciência ética sejam realizados de forma operativa, pois “A conseqüência de qualquer valoração é, sem dúvida, dar regras para à ação prática. Assim, se o ar é um valor para o ser vivo, é preciso evitar que a poluição atmosférica prejudique a qualidade desse bem indispensável. Se a credibilidade é um valor, não posso estar o tempo todo mentindo, caso contrário as relações humanas ficariam prejudicadas. Portanto, diante daquilo que é, a experiência dos valores orienta para o que deve ser”. (Maria Lúcia de Arruda Aranha & Maria Helena Pires Martins)

O processo de construção da autonomia moral do educando é lento, demorado, porém dinâmico. Todas as experiências vividas por ele, serão incorporadas no seu código de conduta e na abordagem que vier a fazer sobre os valores, a moral e a ética. Durante este tempo, o educando vai vivenciando esses princípios como uma atitude prática diante da vida cotidiana, de modo a pautar por eles seu comportamento. Isso traz uma conseqüência inevitável: freqüentemente o exercício pleno da cidadania (ética) entra em colisão frontal com a moral vigente... Até porque a moral vigente, sob pressão dos interesses econômicos e de mercado, está sujeita a freqüentes e graves degenerações. O educando passa a contestar os valores vigentes e, por uma forte tendência individualista, passa a relativizar tudo, principalmente os valores que deram até então, consistência à sua vida pessoal. No decorrer deste processo, o educador deve oportunizar ao educando experiências para que possa reconstruir seus valores e opções. Deste modo, o educando, gradativamente, vai refazendo sua síntese ética, revendo seus valores e se conhecendo como um ser capaz de atribuir sentido e significado à sua existência.

EIXOS NORTEADORESTEMAS GERADORES ÉTICA E VALORES

1. SOMOS RESPONSÁVEIS UNS PELOS OUTROS2. PARA COMEÇO DA CONVERSA

Propiciar aos educandos elementos que facilitem o aprofundamento do conhecimento do eu e do outro, em vista de uma socialização mais sensível aos valores básicos da convivência humana.

Contextualizar a discussão sobre a ética e dar conta das diversas implicações que a envolvem na relação com os diversos aspectos da vida em sociedade.

1. RESPEITO E TOLERÂNCIA2. O PORQUÊ DA ÉTICA

Adquirir valores sociais e sentimentos para a formação do interesse, respeito e defesa da vida.

Resgatar a noção da consciência ética como uma dimensão fontal, originária, ontológica e impossível de ser totalmente desvirtuada.

Contribuir na formação de cidadãos éticos, críticos e conscientes de seu papel em nossa sociedade.

Discutir os pressupostos da ética, relação entre ética, moral e sociedade e as diversas posturas morais que encontramos nessa mesma sociedade.

Trabalhar com os educandos a diferença entre moral e ética, explorando os conceitos de liberdade, responsabilidade, determinismo e consciência moral.

Buscar a opinião de pessoas diferentes sobre a relação entre moral e ética para que depois possam construir um conceito mais amplo.

Indagar sobre o nosso cotidiano questionando os papéis sociais que nos são impostos, despertando assim, os elementos essenciais para definirmos o que é ética.

Concluir mostrando a importância da ética como dimensão que faz parte da vida de todo ser humano – isso equivale dizer que existe um espaço onde predomina o bem-comum, diferente do âmbito da vida privada, cujos interesses são

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particulares.

1. SOMOS TODOS IRMÃOS2. CONSCIÊNCIA CRÍTICA

Assumir a posição de agente-sujeito da história, lutando pela defesa da vida e da dignidade de todo ser humano.

Favorecer ao educando condições para a construção de sua consciência crítica em relação a si mesmo e ao mundo.

1. PESSOAS QUE AJUDARAM A MUDAR O MUNDO

2. POR UMA SOCIEDADE ÉTICA

Convidar a todos os educandos a pensar. Pensar como contribuir para a construção de uma sociedade ética. Mais que isso, um convite a nos engajarmos de corpo e alma na tarefa de construir um outro futuro, um tempo de inclusões, respeito, de solidariedade.

Compreender os motivos que levam as pessoas a ajudarem a mudar o mundo e descobrir o seu lugar nesta transformação.

Propiciar aos educandos um processo de descoberta e vivência dos valores.

FUNDAMENTAÇÃO

“O sagrado faz parte do patrimônio cultural e religioso da Humanidade. Em todos os espaços e em todos os tempos encontramos vestígios da sua tão sólida como irrecusável presença: monumentos e santuários, inscrições tumulares e livros sagrados, (...), a documentar a sua função insubstituível no seio das mais

diversas culturas e civilizações”. (M.C. Freitas)

A busca pela transcendência se deu desde o primeiro momento que o homem pisou no palco da vida. Tal acontecimento só foi possível porque o homem é o único ser que tem consciência de sua finitude, é um “ser-para-a-morte”. Vive insatisfeito com uma lacuna a ser preenchida. Almeja mais, quer tocar o infinito, anseia deparar-se com o desconhecido mas que lhe traz esperança, conforto, possibilidades. Procura a perfeição e sabe que só pode encontrá-la no Absoluto.

Chora, grita, enterra seus mortos, festeja, sente saudades daquilo que ainda não viveu e se prepara para a morte. Isso lhe gera uma crise existencial, aplacada pela possibilidade de acreditar em uma vida além da morte que jamais se extinguirá e da existência de um ser absoluto capaz de reconfortar e cicatrizar todas as feridas que foram feitas nesta vida. Esse é o jeito que ele encontra para transcender sua materialidade e lançar-se em busca daquele que pressente ser seu criador, a razão de toda forma de vida, mistério que não pode explicar, diante do qual sente a necessidade de curvar-se. Anseio que marca toda pessoa, que diante de sua finitude, busca o que lhe preenche de sentido e dê consistência ao seu existir. “A raiz da religiosidade é a abertura do homem para o infinito. O homem é um ser insaciável, não havendo realidade concreta fora de Deus que satisfaça seus anseios de infinitude e eternidade. Mas, esta vastidão interior do homem pode ser preenchida tanto por fantasmas tenebrosos, como por sonhos de felicidade. Esse mundo do mistério é tão grandioso e maravilhoso que se prestou, muitas vezes, a sérias deformações. Mas é graças a ele que a humanidade tem conseguido viver e dar sentido a seus sofrimentos e lutas”. (Lino Rampazzo)

Esse fascínio pelo sagrado que se revela no transcendente, se encontra no princípio de toda experiência religiosa. No limiar desta experiência, o Ensino Religioso deve oportunizar ao educando, a possibilidade de vivência, experimentação e partilha do significado de tudo o que o rodeia e

UNIDADE IV – ABERTURA AO TRANSCENDENTE

INTENÇÃO EDUCATIVA GERAL

Reconhecer a dimensão religiosa como parte constitutiva de cada ser humano e suas diferentes formas e caminhos de manifestação, permitindo que o educando perceba que o sentido que cada um dá à sua existência é por ele mesmo construído onde a descoberta, o reconhecimento e o acolhimento de que vale a pena viver, o gosto de viver, está na base do discurso religioso sobre Deus: a partir desse sentido imanente é que se chega ao transcendente.

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principalmente de sua vida. O ponto de partida é a pergunta pelo significado de sua vida. “A vida adquire um significado transcendente, quando encontramos a fonte do sentido de nossa existência. Abrir-se à dimensão transcendente da vida é abrir-se ao inédito, ao desconhecido, ao surpreendente, ao inteiramente novo. É saber-se incompleto, é saber-se frágil, é saber ser precário. Mas ao mesmo tempo, é saber-se também capaz de acolher, de elaborar e de comunicar aos outros e percepção da vida em sua precariedade e em sua grandeza infinita.” (Antonio Carlos Gomes da Costa) É importante que o educando procure as respostas de dentro para fora, nesse sentido, precisamos ficar atentos para não apresentarmos respostas prontas.

O sagrado, segundo J. Simões é aquilo que transcende a razão humana e resiste a qualquer redução racional, constituindo o numinoso ou o inteiramente outro. É ele que descobre, faz aparecer, indica para o transcendente. É uma das experiências humanas que mais facilmente nos desperta para a transcendência.

A religiosidade do educando tem que constantemente ser instigada. Ela se revela como uma experiência de descoberta, acolhimento, desejo e fidelidade ao sentido que nos orienta e inspira à existência. A transcendência é um objeto de desejo e não de necessidade, pois “O que é certo é que homens e mulheres de hoje, como os de todo tempo, continuam a experimentar o drama de sentir-se limitados e frágeis e, no entanto, feitos para a união com o Sem-limites. E, no fundo mais profundo de si próprios, se percebem habitados pelo desejo ardente e incontrolável de entrar em comunhão com esta incompreensível realidade que se chama sagrado – a qual, devido ao fato de ser incompreensível, não é sentida como menos real – de tocar e ser tocados pela Beleza Infinita; de tremer de amos sendo possuídos pela santidade divina, pelo Mistério Invisível que atrai e seduz e cuja vida chama a participar e se integrar. Este mistério de Alteridade que lhes propõe a profunda comunhão na gratuidade. O amor passa, então, a governar suas vidas e a transformá-las segundo a inexorabilidade e a radicalidade de Sua vontade”. (Maria Clara L. Bingemer)

Ao educador é lançado mais um desafio, fazer com que as aulas de Ensino Religioso se tornem em um instrumento, um itinerário que sejam fecundos, uma proposta sedutora de uma maneira saudável de viver a dimensão pessoal e comunitária da religiosidade. Possibilite ao educando a tomada de consciência de sua importância como pessoa, seu papel no mundo e a pertinência da busca de um sentido religioso para sua existência. Nesta perspectiva, que também lhe ofereça os subsídios para formação da consciência crítica das manifestações religiosas e a autocrítica da sua relação com o Absoluto. Este percurso pretende tornar o educando sujeito de sua formação religiosa, em oposição a uma atitude passiva e alienada frente às tradições religiosas.

EIXOS NORTEADORESTEMAS GERADORES ABERTURA AO TRANSCENDENTE

1. IRMÃOS QUE SE REÚNEM EM COMUNIDADE DE FÉ

2. A PERGUNTA PELA VIDA

Perceber que o sentido que cada um dá à sua existência é por ele mesmo construído onde a descoberta, o reconhecimento e o acolhimento de que vale a pena viver, o gosto de viver, está na base do discurso religioso sobre Deus: a partir desse sentimento imanente que se chega ao transcendente.

Conferir sentido à vida nas dimensões da dignidade da pessoa humana e do compromisso com o outro.

Sensibilizar os educandos de que a busca incansável pelo sentido da vida passa pela busca e pela abertura ao transcendente.

1. VIVENDO EM COMUNIDADE E PARA A COMUNIDADE

2. A PERCEPÇÃO DA TRANSCENDÊNCIA

Perceber a importância das questões existenciais que brotam do íntimo do ser humano e que fazem buscar um sentido maior para a vida.

Apreciar a comunidade como lugar de festa, alegria e perdão.

Sensibilizar o educando para a descoberta de si mesmo como ser que vive em um grupo, a fim de despertar o desejo de atuar em uma comunidade.

Promover a compreensão da dimensão religiosa da existência humana, sensibilizando os educandos para sua importância, por ser a dimensão fundamental que abre a pessoa ao sentido global e transcendente da vida.

1. OS DIFERENTES MODOS DE VIVER A RELIGIOSIDADE

2. A BUSCA DO SAGRADO

Concluir que a religiosidade é algo que transcende a religião.

Ser consciente de que a busca do sagrado é inerente à natureza humana.

Reconhecer que o sagrado se constitui uma forma

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de fascínio aberta ao transcendente.

1. SOMOS COMUNIDADE CELEBRANDO A VIDA2. OS LIVROS SAGRADOS

Celebrar os sinais da presença de Deus. Descobrir a importância do silêncio para aquietar-

se, para ouvir melhor, para participar das atividades, para falar com o transcendente.

Reconhecer a importância dos livros sagrados para os diferentes povos e costumes como portadores dos ensinamentos que orientam a ida de seus seguidores.

FUNDAMENTAÇÃO

A universalidade do fenômeno religioso se faz presente através de suas várias expressões – a cultura religiosa, os ensinamentos das diversas tradições religiosas, a fé e as práticas religiosas - como os ritos, os símbolos, as festas e os costumes.

Cada tradição religiosa desenvolveu uma forma de agradecer fatos ou acontecimentos que ocorreram na vida da comunidade, momentos de homenagem ao transcendente ou de súplica para pedir a proteção de Deus.

As manifestações religiosas das diferentes culturas são expressões simbólicas que nos permitem descobrir a cosmogonia e a visão do mundo dos povos antigos e de todas tradições religiosas. Neste contexto, o mito ganha vida e situa o homem no mundo. Ele está ligado à magia, ao desejo, ao querer que as coisas aconteçam de um determinado modo. É a partir disso que se desenvolvem os rituais como meios de propiciar os acontecimentos desejados. O ritual é o mito tornado ação.

O mito pertence a um tempo e a um espaço de natureza distinta, a uma dimensão imaterial, não é uma aceitação racional, não pode ser provado e nem questionado. Pelo contrário, essa dimensão na que o mito transcorre, é atual, sutil e verdadeira. O homem a recupera e atualiza por intermédio do rito, que é a vida e ação dos deuses da mitologia. No ritual, se invocam estes seres arquetípicos, os quais se fazem presentes, encarnados de alguma maneira naqueles que participam dele de modo consciente. Os deuses, espíritos ou arcanjos esperam que os evoquem ritualmente, para fazer-se presente no interior de quem desse modo os chamam. Os ritos são simbólicos veículos despertadores de dimensões sutis e com seu auxílio, os homens alcançam estados superiores de consciência, pois eles são capazes de transportar a mítica idade de ouro e de produzir a recordação do Uno, do mais anterior e primário. Nas mitologias, revivemos os ritos e os deuses convivem com os homens.

Uma das formas mais significativas de atualizar os mitos, as escrituras e as escatologias são através dos ritos que se concretizam nas celebrações. Toda e qualquer celebração busca valorizar determinados acontecimentos considerados dignos de serem celebrados. Celebrar é a tentativa de eternizar um ensinamento, uma memória. É dar significado a tradição religiosa e a tudo aquilo que ela representa.

As celebrações se revestem de um espírito festivo onde predominam a alegria, o louvor e a dimensão simbólica dos gestos celebrados. Através dos símbolos o homem sai de seu isolamento, se comunica, se relaciona e transcende a si próprio. Permite revelar realidades. É o agente transmissor de intuições, pensamentos, experiências, sentimentos, desejos. Permite a penetração parcial no grande mistério da outridade, a natureza, Deus.

O universo celebrativo das grandes tradições religiosas se manifesta no reconhecimento das relações imanentes e transcendentes, buscando uma interação com o conhecido e também com o desconhecido. Celebrar é uma ação humana que nos projeta para o diálogo, comunhão e reciprocidade. É uma atitude de abertura buscando estar com os pés profundamente arraigados à

INTENÇÃO EDUCATIVA GERAL

Possibilitar ao educando celebrar os sinais da presença do transcendente na sua vida e na vida da comunidade a partir das várias manifestações religiosas presentes em sua tradição religiosa.

UNIDADE V – MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS

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terra, com mãos, braços, coração e mente direcionados para o infinito. A celebração é uma síntese de toda a vida, reflete o eterno desejo do ser humano de preencher o sentido da vida.

A celebração é um momento de confraternização e festa de um grupo que busca a vida em sua plenitude, apesar de todas as diversidades, somos chamados a lutar contra todas as tribulações impostas pelo mundo. Transformar as dificuldades em um obstáculo a mais na construção do sonho de Deus é o papel de toda tradição religiosa.

O nosso grande desafio é despertar nas crianças e jovens esta paixão que move o universo transcendente. Vivemos no mundo que é cada dia mais complexo e plural, cujos valores mais evidenciados estão em direção contrária aos valores humanos e religiosos. A celebração tem de assumir o desafio de despertar nas crianças e jovens o desejo de construir um mundo novo onde a religiosidade seja a linha motriz dessa utopia.

EIXOS NORTEADORESTEMAS GERADORES MANIFESTAÇÃO RELIGIOSA: MITOS,

RITOS, ESCRITURAS E TEOLOGIAS

1. A CULTURA RELIGIOSA E SUAS EXPRESSÕES2. OS MITOS DE ONTEM E HOJE

Mostrar que o mito constitui uma das fontes de explicação e organização humana, sendo resultado da necessidade da passagem do caos à ordem e que tal forma de compreensão de mundo influencia até hoje.

Possibilitar aos educandos o reconhecimento da diferentes expressões religiosas como parte constitutiva do ser humano e as suas diferentes formas de manifestação e de acesso ao sagrado.

Concluir que as tradições religiosas nascem da busca do homem por um ser superior a ele, que o ampare em suas necessidades e responda às suas questões existenciais.

Reconhecer a importância da diversidade de culturas religiosas.

1. ENSINAMENTOS QUE ORIENTAM A VIDA DAS PESSOAS

AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS

Reconhecer a importância do fenômeno religioso e suas manifestações na vida dos indivíduos e das sociedades.

Ajudar os educandos a perceber a grandeza, a beleza e o mistério das primeiras manifestações religiosas.

1. CHAMADOS A CRER2. A EXPERIÊNCIA DE DEUS EM NOSSA VIDA

Sensibilizar o educando para a importância da experiência religiosa como realidade pessoal e como processo de institucionalização.

Valorizar a experiência religiosa de cada educando indiferente de sua tradição religiosa e da fé que professa.

Entender que a raiz da fé, da religiosidade está na abertura do homem para o infinito, o eterno, o permanente.

Possibilitar aos educandos a experiência de Deus e a descoberta de sua presença na ambivalência das diferentes expressões religiosas.

1. AS PRÁTICAS RELIGIOSAS – CELEBRAÇÕES, RITOS, FESTAS, SÍMBOLOS E COSTUMES

2. ORAÇÃO - MOMENTO DE DIÁLOGO COM DEUS

Propiciar condições para que o educando possa celebrar os momentos marcantes de sua tradição religiosa.

Oportunizar aos educandos momentos de oração, reflexão e síntese pessoal, afim de que possam concluir que os caminhos de aproximação do sagrado passam pela presença constante do sagrado, pelas experiências existenciais e pelo comprometimento social.

Perceber que o homem, inspirado pela religiosidade, sente necessidade de realizar rituais em homenagem às divindades, e para isso cria espaços considerados sagrados.

Despertar para a dimensão celebrativa da vida e da fé.

Sentir na oração uma forma de relacionar-se com Deus. Um momento privilegiado de contato com o transcendente.

Apreciar a oração como instrumento de transformação individual e social.

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