HISTÓRIA DE LUTA DAS MULHERES NO CENÁRIO ESPORTIVO: pesquisa comparada entre Brasil e Estados Unidos
Carla Loyana Dias Teixeira Acadêmica do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física – UEPA
Emerson Duarte Monte Docente do Curso de Licenciatura em Educação Física – UEPA
[email protected] Resumo: O estudo analisa comparativamente os processos históricos de evolução da participação das mulheres no fenômeno esportivo brasileiro e estadunidense. Metodologicamente, pauta-se na pesquisa bibliográfica, tendo como referencial teórico-metodológico o Materialismo Histórico Dialético e como método de análise dos dados, a análise comparativa. Os resultados encontrados revelam que, apesar dos enormes ganhos ao longo dos anos, o envolvimento “delas” ainda se encontra prejudicado em relação aos homens, especialmente no cenário brasileiro. Conclui que em ambos os países, os avanços quantitativos não indicam uma mudança de comportamento no trato com o gênero. Palavras-chave: Gênero. Esporte. Cultura Esportiva. INTRODUÇÃO:
Historicamente consideradas frágeis para a prática de atividades físicas, a inclusão das
mulheres no mundo esportivo deixa rastros de segregação e discriminação, porém de grandes
contribuições. Conforme destacam Brauner e Massutti (2007) “Compreender o processo de
inserção da mulher no esporte é perceber que historicamente, a condição feminina se
caracterizou pela exclusão social e política, condicionada à dependência masculina e perda de
autonomia” (BRAUNER; MASSUTTI, 2007, p. 94).
Mediante diversos pretextos, as mulheres são condicionadas à herança cultural
machista das sociedades, sofrendo as duras consequências disso nos diferentes âmbitos da
vida; e mesmo após décadas de luta, o corpo feminino continua sendo propagado como um
produto a ser consumido, ou como sinônimo de fragilidade e inferioridade. Tais visões
negativas são constantemente reforçadas pela mídia ao expor a mulher como mercadoria,
associada ao lazer e ao prazer masculinos.
Diante disso, o esporte como manifestação cultural, incorpora as ideologias
patriarcais, consequentemente, tornando-se um campo de luta para a mulher na intenção de
combater os princípios excludentes de gênero. E como um importante elemento de
contribuição socioeducativo, permite confrontar a sexualidade, definir expectativas sobre
homens e mulheres e analisar o status da mulher na sociedade, desestabilizando o “espaço de
sociabilidade criado e mantido sob domínio masculino, cuja justificativa para sua
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consolidação, assentada na biologia do corpo e do sexo, deveria atestar a superioridade deles
em relação a elas” (GOELLNER, 2005, p. 144).
O interesse pelo tema surgiu durante experiência de intercâmbio em uma universidade
estadunidense. O grande interesse da comunidade acadêmica da SUNY1 Oswego com o trato
do gênero e sua relação com os esportes, evidenciado por inúmeros debates dentro e fora de
sala de aula, e seminários organizados pela instituição chamou atenção para o estudo do
objeto. Ao participar dessas discussões acerca do histórico de luta das mulheres e das
dificuldades ainda vivenciadas nos Estados Unidos, indagou-se sobre as particularidades do
mesmo processo no Brasil.
Como na realidade brasileira ainda é possível reconhecer os antigos dogmas machistas
enraizados e materializados, por exemplo, na divisão de turmas entre sexo masculino e
feminino para a prática esportiva nas aulas de Educação Física Escolar, por esta razão, atentar
para uma formação inicial que reconheça a importância dessa reflexão e estimule entre os
acadêmicos, o trato com um esporte igualitário, reconstruindo conhecimentos para a
intervenção no processo educativo e elaboração de estratégias diferenciadas, visando a
superação da segregação simbólica e dissimulada.
O tema auxilia na construção de uma cultura esportiva inclusiva, em que se pode
lançar mão de novas possibilidades de interagir e contribuir com a comunidade por meio do
esporte, o qual se responsabiliza pela produção e reprodução de valores. Assim, por meio do
reconhecimento da importância do papel das mulheres na sociedade e no mundo esportivo,
contribuir para a formação de uma sociedade plural e mais democrática.
O expressivo crescimento da participação feminina em contextos esportivos nesses
dois países evidencia a necessidade de discutir as condições em que ocorreu esse processo.
Para isso, pergunta-se: Como se desenvolveu a inserção da mulher no cenário esportivo no
Brasil e nos Estados Unidos?
Para responder à questão anterior, formularam-se as seguintes perguntas norteadoras:
A) Como se desenvolveu a inserção da mulher no fenômeno esportivo estadunidense? B)
Como ocorreu o processo histórico de participação das mulheres no mundo dos esportes no
Brasil? C) Quais os desafios e possibilidades no cenário esportivo para o sexo feminino?
Dessa forma, esse estudo discute as relações de gênero e o esporte, tendo como
objetivo geral investigar a evolução da participação das mulheres no cenário esportivo no
Brasil e nos Estados Unidos, por meio de uma análise comparativa dos processos históricos 1 State University of New York é uma universidade estadunidense localizada no norte do estado de Nova Iorque.
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de conquista feminina nesse espaço considerado tradicionalmente masculino. Como objetivos
específicos: A) Compreender o modo como ocorreu a evolução da participação feminina nos
esportes nos Estados Unidos. B) Investigar as particularidades do processo de inserção da
mulher no cenário esportivo brasileiro. C) Analisar comparativamente a evolução do
envolvimento das mulheres no BR e EUA, buscando compreender seus desafios e
possibilidades no cenário esportivo.
Para alcançar o objetivo principal, esse artigo esta dividido em quatro seções, sendo a
primeira uma exposição do procedimento metodológico utilizado nessa pesquisa, seguido por
duas seções de acúmulo teórico, e finaliza com uma seção para as análises sobre os dados
documentais e estatísticos coletados.
1 METODOLOGIA
Ao resgatar a história das mulheres nos esportes, buscando na sua comparação
evidenciar os processos complexos e contraditórios, o trabalho vale-se do Materialismo
Histórico Dialético como teoria do conhecimento, já que, segundo Triviños (1987, p. 97-98),
este se caracteriza por situar o problema a nível mais amplo dentro de um contexto e
estabelece contradições possíveis de existir entre os fenômenos que o caracterizam.
Primeiramente, foram pesquisados artigos científicos e livros sobre a inserção
feminina nos esportes nos Estados Unidos e no Brasil, separadamente. Caracterizando assim,
uma pesquisa bibliográfica, ou seja, “desenvolvida com base em material previamente
elaborado [...] permitindo vasta cobertura de uma gama de fenômenos” (GIL, 2010, p. 44-45).
Posteriormente, realizou-se uma busca sobre a temática na Biblioteca Digital
Brasileira de Teses e Dissertações, em que se utilizaram as seguintes palavras-chave:
“gênero”, “esporte”, “EUA” e “Brasil”. Nenhum trabalho foi encontrado, ratificando a
relevância desta pesquisa para estudos comparativos posteriores. Portanto, foi necessário
recorrer às fontes primárias, tais como os divulgados pelos Comitês Olímpico Internacional e
Brasileiro, entidades esportivas estadunidenses - National Collegiate Athletic Association
(NCAA2) e National Federation of State High School Associations (NFHS3) - e o Ministério
do Esporte do Brasil, na busca de auxílio quantitativo para permitir a análise.
A partir de então, desenvolveu-se a comparação da realidade enfrentada em ambos os
países. Segundo Bulgacov (1998), o importante na investigação comparativa é a possibilidade
de constatações sobre as similaridades e diferenças. Desse modo, foi possível refletir sobre os
2 Entidade reguladora de competições esportivas nas universidades. 3 Entidade reguladora de competições esportivas no ensino médio.
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contextos políticos, sociais e econômicos temporais e locais, evidenciando as contradições
inerentes a esses dois processos.
2 INSERÇÃO FEMININA NO CENÁRIO ESPORTIVO DOS EUA
Historicamente restringidas da participação em eventos esportivos, tanto como atletas
quanto como espectadoras, repórteres, árbitras e treinadoras, o fenômeno da inserção das
mulheres nos esportes têm ocorrido de forma irregular, pois os avanços têm sido conquistados
gradativamente, de modalidade em modalidade. A exemplo dos Jogos Olímpicos Modernos,
que inicialmente não ofereciam provas femininas, inseriram o golfe e o tênis (1900), depois o
arco e flecha (1904), patinação artística (1908), e assim sucessivamente (INTERNATIONAL
OLYMPIC COMMITTEE, 2016). Desse modo, o resgate histórico faz-se necessário para uma
melhor compreensão do contexto em que se insere essa discussão.
Nos tempos primitivos, os rituais religiosos e de caça relacionavam-se com os
esportes, e contava com a participação feminina, porém isso não significava uma vida sem
restrições. Já na Grécia Antiga, dá-se espaço aos primeiros Jogos Olímpicos, uma
comemoração religiosa, nos quais de modo algum as mulheres poderiam participar, haja vista
que eram eventos restritos aos cidadãos (aqueles que possuíam a função de guerrear, ou seja,
somente homens ou eram possuidores de terras). Durante um período, em homenagem à
deusa Hera, criou-se os Jogos de Hera, disputado apenas por atletas jovens e solteiras. Desde
a conquista da Grécia pelo Império Romano, práticas esportivas foram proibidas, pois eram
consideradas festas pagãs, e as mulheres assumiram papéis de dançarinas e acrobatas para o
entretenimento de convidados. (MIRAGAYA, 2002; RUBIO; SIMÕES, 1999)
Na Idade Média, conforme Oliveira, Cherem e Tubino (2008), ambos os sexos
praticavam das mesmas atividades esportivas e de jogos populares. Contudo, a partir do
século XVII, as mulheres perderam seus direitos e foram direcionadas a uma vida de
submissão ao marido. Somente entre os séculos XVIII e XIX elas retomam o acesso aos
esportes como espectadoras e, posteriormente, começam a participar em atividades como o
boliche e o arco e flecha.
A descoberta das ruínas do estádio de Olímpia, na Grécia, durante a segunda metade
do século XIX, despertou o interesse do Barão Pierre de Coubertin em reviver os festivais
olímpicos da antiguidade, porém numa escala internacional. Fundou, em 1894, o
International Olympic Committee (IOC), uma autoridade administrativa central para a
organização dos jogos e elaboração de regras para o evento, “formado apenas por homens
brancos e ricos” (SHORT, 2003, s/p, tradução nossa), portanto um órgão antidemocrático.
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Sob a alegação de reproduzir fielmente as ideias gregas e seus valores, não se permitiu
a participação de mulheres nos jogos. Os estudos de Houlihan (2008) afirmam que Coubertin
acreditava que o esporte feminino era desinteressante e: [...] que [as] mulheres possuíam uma quantidade limitada de energia para todas as funções - física, social, intelectual - portanto, a prioridade deveria ser a função física de reprodução e criação da criança. Esse argumento era usado para justificar não só a exclusão de mulheres da educação, mas também da participação em esportes em geral. (HOULIHAN, 2008, p. 47, tradução nossa).
O discurso amplamente utilizado defendia que a prática de esportes seria prejudicial à
saúde das mulheres, particularmente ao seu sistema reprodutor. Outras alegações afirmavam
que elas não possuíam condições psicológicas para competir e que a prática dos esportes
poderia masculinizar a mulher, o que evidencia a ideologia machista amplamente difundida
pelas organizações e mídia esportiva. Assim, percebe-se a manipulação das ciências
biológicas e fisiológicas para reforçar o dogma estabelecido, buscando sempre frustrar as
possíveis oportunidades para o engajamento de mulheres na prática esportiva.
Lacunas na organização e a falta de coesão do IOC permitiram que algumas provas
fossem destinadas às mulheres na segunda edição dos Jogos Olímpicos da era moderna, em
1900, com 22 atletas do sexo feminino competindo em dois esportes (golfe e tênis),
considerados esteticamente belos, nos quais não havia contato físico, preservando a sua
feminilidade.
Ainda assim, o IOC continuou impondo muitos obstáculos para a inclusão das
mulheres nas olimpíadas, e desafiando essa situação, a francesa Alice Melliat, com o apoio
dos Estados Unidos, fundou a Federação Internacional Esportiva Feminina (FSFI), em 1921, e
organizou as Olimpíadas Femininas e, posteriormente, os Jogos Mundiais Femininos. A FSFI
se dissolveu em 1938, quando as provas femininas foram gradativamente sendo incluídas nos
Jogos Olímpicos, depois de longas negociações e manobras políticas. (MIRAGAYA;
COSTA, 2006)
Conforme elas ingressavam no mundo esportivo e com o incremento do movimento
feminista, as ideologias, os papéis sociais e instituições tradicionais de preponderância
masculina eram questionados. Para auxiliar nesse fenômeno nos EUA, as mulheres receberam
suporte de alguns homens, como o inventor do basquete James Naismith, haja vista a
dominância dos mesmos no mundo esportivo tornava seu envolvimento e contribuições
críticos para alcançar igualdade de tratamento entre os gêneros.
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Por ocasião da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), milhões de homens serviram ao
militarismo nos Estados Unidos, desse modo, abrindo lacunas que precisavam ser
preenchidas. Muitas mulheres alistaram-se ao serviço militar, outras assumiram funções na
força de trabalho. Nesse momento também se vivenciou o advento da primeira equipe atlética
profissional feminina. A Liga Feminina Americana de Baseball iniciou em 1943, na tentativa
de substituir a Liga Masculina de Baseball que foi cancelada devido a guerra. Após esse
momento crítico, as organizações esportivas femininas e a pressão por oportunidades para
mulheres em esportes dispararam. (GRAY, 2004)
Durante as décadas de 1950 e 1960, a consciência social norte-americana sofria
mudanças, já que estavam profundamente entrelaçados com as discussões sobre os direitos
civis. O ativismo feminista impulsionou o movimento dos direitos das mulheres,
influenciando e aumentando a consciência dos envolvidos no esporte.
Aprovada em 1972, pelo Congresso dos Estados Unidos, o Title IX estabeleceu: Nenhuma pessoa em território norte-americano deve, com base no gênero sexual, ser excluído da participação em, ser negado os benefícios de, ou ser submetido a discriminação em qualquer programa de educação ou atividade que receba assistência financeira federal. (U.S. DEPARTMENT OF EDUCATION, 2015, s/p).4
Como nos Estados Unidos quase todas as escolas e universidades recebem assistência
financeira do governo, sejam elas em forma de bolsas, prêmios, salários, empréstimos
estudantis, áreas federais cedidas para instituições e outros fundos, encontrou-se um modo de
desencorajar qualquer tipo de discriminação baseado no sexo. Por meio de legislação federal,
a equidade de gênero se tornou um requerimento para todo programa educacional que recebe
incentivo do governo.
O Title IX é mais conhecido por sua influência no cenário esportivo estadunidense, a
ponto de ser erroneamente compreendido como uma lei que se aplica somente aos esportes.
No entanto, esta é apenas uma das dez áreas chaves abrangidas pela lei (acesso à educação
superior, carreira profissional, emprego, matemática e ciência, tecnologia, educação para
grávidas e pais estudantes, assédio sexual, ambiente educacional e testes padronizados). (U.S.
DEPARTMENT OF EDUCATION, 2015)
4 Title IX of the Education Amendments of 1972: "No person in the United States shall on the basis of sex, be excluded from participation in, be denied the benefits of, or be subject to discrimination under any educational program or activity receiving Federal Financial Assistance."
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A intenção original dessa emenda era simplesmente assegurar que as mulheres
tivessem iguais direitos garantidos para sua educação, sendo aplicado para todas as entidades
educacionais. Desde sua criação, o Title IX se tornou alvo de polêmicas, ambíguas
interpretações e acusações de favorecimento ao sexo feminino. A sociedade historicamente
patriarcal sentiu sua estrutura hierárquica ameaçada com a equivalência de direitos e, desse
modo, buscou formas de obstaculizar a implementação dessa emenda.
Alguns autores chegam a citá-la como uma lei de cotas. Gavora (2002) insinua que a
realização das mulheres no campo esportivo não pode ser considerada uma conquista pessoal,
mas somente como benefícios conquistados com o Title IX. Seu principal argumento defende
que “uma lei criada para eliminar a discriminação contra mulheres, incita a discriminação
contra homens” (GAVORA, 2002, p. 4, tradução nossa).
Porém, a lei, contrapondo-se às ideias da autora, evidencia o benefício a ambos os
sexos quando exige que as instituições proporcionem oportunidades de participação para
mulheres e homens que sejam substancialmente proporcionais às suas respectivas taxas de
matrícula de alunos de graduação; e estudantes-atletas de ambos os sexos recebam bolsa de
estudos proporcionais a sua participação; além da igualdade de tratamento. O esforço
concentrou-se na eliminação da discriminação contra as mulheres porque historicamente elas
têm enfrentado maiores restrições e barreiras não só na educação, mas em todas as esferas
sociais.
A NCAA, criada para regular o futebol americano masculino, tornou-se o regulador
dos esportes nas universidades. Contudo, não oferecia nenhuma bolsa e nenhum campeonato
para equipes femininas. Preocupados com o enfraquecimento de sua dominância e controle
sobre os eventos esportivos universitários, logo argumentaram que a emenda cobria somente
os programas educacionais que recebiam diretamente assistência financeira federal (GRAY,
2004), portanto o Title IX se tornaria inaplicável ao mundo esportivo.
Em 1974, formou-se uma coligação de grupos feministas denominada National
Coalition for Women and Girls in Education, e a partir de seu esforço e dedicação
colaboraram com o sucesso do Title IX (BELL, 2008). Regulamentos sobre a implementação
dessa lei somente foram efetivados em 1975 e, com o reforço das agências estadunidenses, a
situação começou a se reverter.
A Division of Girls and Women in Sport (DGWS), decidida a criar programas
esportivos universitários femininos, determinou a Association for Intercollegiate Athletics
8
(AIAW)5 responsável para conduzir tais competições interuniversitárias. Como organizações
criadas e dirigidas por mulheres e para mulheres, defendiam diferentes abordagens para as
competições, que vão além da implacável perseguição ao lucro, o qual era o principal
interesse dos campeonatos esportivos masculinos e da NCAA. A AIAW, por outro lado,
preocupava-se com a real educação dos estudantes-atletas e tentava focar em uma orientação
diferencial.
Os estudos de Gray (2004) e Wu (2006) revelam que a NCAA, ao observar o
crescimento da participação feminina e o consequente aumento na circulação financeira em
torno disso, interessou-se ainda mais em controlar as atividades esportivas interuniversitárias
femininas, criando estratégias para enfraquecer a AIAW. Iniciaram dispensando a
regulamentação que impedia a participação de mulheres nos eventos masculinos, em 1973.
Posteriormente, decidiram formar seu próprio Comitê Feminino, o que evidenciava seus
interesses políticos, haja vista que anteriormente ao Title IX, a NCAA nunca havia
demonstrado interesse em assumir a responsabilidade por esportes femininos.
Em 1974, tentaram absorver a AIAW em sua estrutura, por meio de uma proposta de
filiação entre as associações, porém a NCAA não concordaria com uma igual representação
para homens e mulheres em todos os níveis de decisão política, impossibilitando um acordo.
Com seu poder e dinheiro, a NCAA se estabeleceu como um poderoso adversário para a
AIAW. Quando a NCAA decidiu incluir efetivamente mulheres em seus programas,
oferecendo campeonatos e obrigando as universidades a se decidirem entre ambos, a AIAW
começou a sofrer com abandono, pois era impossível competir com os incentivos oferecidos
pelo seu adversário, deixando de existir em 1982.
Ao observar as datas, é possível constatar que enquanto as duas associações lutavam
para ter o controle sobre os esportes femininos, o governo federal se empenhava para reforçar
o Title IX, por meio de regulamentações para sua implementação efetiva, que ocorreu três
anos após a aprovação da emenda. Evidentemente, a NCAA queria evitar problemas legais,
por isso o inicial interesse aparente, mas sem nenhum real compromisso com o esporte
feminino. Posteriormente, o capital produzido em tais competições tornou o incentivo às
mulheres conveniente. E então, a NCAA necessitava estar em conformidade com a legislação
vigente.
5 Inicialmente tratava-se apenas de uma comissão criada para dirigir os jogos interuniversitários femininos, denominada Commission on Intercollegiate Athletics for Women (CIAW). Posteriormente, com a necessidade de um órgão institucionalizado e que fizesse oposição direta à pressão sofrida pelo interesse da NCAA em dominar o cenário esportivo feminino, criou-se a AIAW. (WU, 1999)
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Como se pode observar nas Tabelas 1 e 2, tanto no ensino médio quanto na
universidade, houve um aumento da participação “delas” nos esportes praticados, porém o
crescimento expressivo de 1.011,4% nos esportes colegiais se destaca em relação às taxas de
inserção feminina nos esportes universitários, que cresceu 222,7%. Percebe-se também um
crescimento da participação masculina, mesmo que essa taxa de aumento não acompanhe a
das mulheres. Isso ocorre porque as oportunidades para homens já foram muito prevalentes
durante todo o processo histórico, e ainda assim, verifica-se que a quantidade de
participantes do sexo masculino ainda sobrepõe-se ao do sexo feminino.
Tabela 1 - Participação Esportiva no Ensino Médio nos EUA – 1972-2014
Ano Meninos α(%)/T Meninas α(%)/T TOTAL
1971 - 1972 3.666.917 92,6 294.015 7,4 3.960.932
2013 - 2014 4.527.994 58,1 3.267.664 41,9 7.795.658
∆ (%) 1972-2014 23,5 .. 1.011,4 .. 96,8
Fonte: NFHS (s/d).
Tabela 2 - Participação Esportiva na Universidade nos EUA – 1982-2014
Ano Homens α(%)/T Mulheres α(%)/T TOTAL
1981 - 1982 167.055 72,2 64.390 27,8 231.445
2013 - 2014 271.055 56,6 207.814 43,4 478.869
∆ (%) 1982-2014 62,2 .. 222,7 .. 106,9
Fonte: NCAA (2014).
A partir da década de 1980, alguns esportes de maior contato e/ou considerados mais
exaustivos, foram inclusos nas edições dos Jogos Olímpicos: field hockey (1980), ciclismo
(1984), judô (1992), futebol americano (1996) e triathlon (2000). (INTERNATIONAL
OLYMPIC COMITTEE, 2016). Dessa forma, de acordo com o Gráfico 1, verifica-se também
que o número de participação “delas” vai acompanhando esses acréscimos, impulsionado pelo
IOC ao inserir determinadas modalidades olímpicas para disputas femininas.
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Gráfico 1 - Participação Masculina e Feminina nos Jogos Olímpicos – 1896-2012
Fonte: IOC (s/d).
O Gráfico 2 evidencia a evolução da inserção de atletas estadunidenses nos Jogos
Olímpicos. Em 1972, o número de participantes do sexo feminino se aproximava de 100.
Vinte anos após o Title IX, sua participação já havia superado o dobro. No século XX,
observa-se que os números começam a tender ao equilíbrio. Portanto, o Title IX também
influenciou positivamente o esporte de alto rendimento nos EUA, garantindo incentivos à
ambos sexos.
Gráfico 2 – Participação dos EUA nos Jogos Olímpicos, por Gênero – 1972-2012
Fonte: Smith and Wynn (2013) apud Woods (2016, p. 317).
Desse modo, é possível afirmar que o Title IX provocou mudanças positivas no
cenário esportivo estadunidense, no entanto o estabelecimento de uma lei federal não garantiu
uma mudança de atitude mediante os direitos “delas” que continuam sofrendo com a
discriminação, desrespeito e misoginia no cenário esportivo.
01000200030004000500060007000
1896
1900
1904
1908
1912
1920
1924
1928
1932
1936
1948
1952
1956
1960
1964
1968
1972
1976
1980
1984
1988
1992
1996
2000
2004
2008
2012
Homens
Mulheres
050
100150200250300350400450
1972 1992 2008 2012
Homens
Mulheres
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3 INSERÇÃO FEMININA NO CENÁRIO ESPORTIVO BRASILEIRO
No Brasil, a participação feminina em esportes também enfrentou dificuldades para
ser aceita. O ideal renascentista do “belo sexo”, que não passa de uma mistificação da beleza
feminina como superior foi importante para a criação de crenças que continuam representando
dificuldades para as mulheres e reconhecido nos discursos que sobrepõe os atributos físicos
ao próprio desempenho nas atividades realizadas por “elas”.
Colonizado por Portugal, o Brasil recebeu diversos imigrantes europeus e,
consequentemente, sofreu influência dessa cultura. Durante o século XIX, especificamente no
período imperial, o conservadorismo da sociedade condenava as práticas esportivas para as
mulheres, contudo foi paulatinamente revertida desde a independência do país, com a
propagação de ideais eugênicos e higiênicos.
Em 1874, percebe-se um esforço para a inclusão da ginástica feminina nas escolas do
Rio de Janeiro, enfrentando intensa resistência das famílias e das próprias alunas, o que
resultou em suspensão das aulas. Em 1882, Rui Barbosa “deu seu parecer ao projeto
educacional de reforma do ensino primário, [...], entendendo que a ginástica deveria ser
obrigatória para ambos os sexos em todo o país” (KNIJNIK, 2003, p. 59), no entanto, a
inserção “delas” era cogitada apenas porque esse esporte valorizava as formas femininas.
No século XX, gradativamente se tornou possível a ampliação e consolidação do
envolvimento de mulheres com os esportes. Como o país era majoritariamente composto por
negros, segundo Goellner (2009), tentou-se investir em um aprimoramento da raça, já que a
elite branca se considerava superior. Assim, alguns planos foram desenvolvidos para atingir
esse ideal racial e, dentre esses, o incentivo à realização de atividades físicas, no qual os
médicos higienistas reconheciam a importância dessas práticas para a saúde da mulher,
embelezando-as e fornecendo melhores condições orgânicas para enfrentar a maternidade. Ao mesmo tempo em que se recomendavam determinadas atividades físicas como, por exemplo, a ginástica e a natação, houve a preocupação de desaconselhar atividades que poderiam levar entre outros fatores à masculinização da mulher, o que era completamente o oposto dos ideais de beleza e saúde, fatores motivacionais da prática esportiva feminina da época. (GOELLNER, 2004 apud ALMEIDA, 2008, p. 36).
Na década de 1920, a inserção das mulheres “[...] nos esportes e atividades físicas
começa nos clubes [...] através das jovens, normalmente filhas de imigrantes europeus que já
apreciavam o valor do exercício e lhe davam incentivo para sua inserção no esporte”
(OLIVEIRA; CHEREM; TUBINO, 2008, p. 122). Percebe-se que a inicial mudança ocorre
somente para as classes sociais mais favorecidas, primeiramente porque essas mulheres
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brancas seriam responsáveis em regenerar a raça, pelo seu importante papel na reprodução
humana e também porque era essa riqueza que sustentava esses espaços.
A partir de 1930, surgem cada vez mais competições de natação, nas quais se revela
Maria Lenk, que iniciou sua prática desportiva por motivos de saúde, tornando-se um marco
para a inserção das mulheres nesse cenário, principalmente após ter sido a primeira a
representar o Brasil nos Jogos Olímpicos, na edição de 1932. No mesmo período, houve o
primeiro campeonato feminino de bola ao cesto, apresentando as mesmas regras usadas nas
disputas masculinas, com a única diferença no tempo de jogo.
Além disso, os Jogos Femininos do Estado de São Paulo, em 1935, os Jogos da
Primavera no Rio de Janeiro, em 1949, e os Jogos Abertos Femininos, em 1954, permitiram o
acesso a uma variedade de práticas esportivas abertas ao público (OLIVEIRA; CHEREM;
TUBINO, 2008; GOELLNER, 2009). Percebe-se no surgimento de eventos isolados e de
atletas do sexo feminino de forma dispersa, geralmente com interesses diferentes, uma
discreta contribuição para mudar a visão de “sexo frágil”. Dessa forma, o aumento de eventos
esportivos nos grandes centros urbanos revela uma ampliação do envolvimento “delas” com
os esportes, contudo carrega consigo uma gama de reações conflituosas.
Durante o Estado Novo (1937-1945), período caracterizado pela intensa intervenção
do Estado na economia e na cultura, a preocupação com a masculinização da mulher foi
oficializada por meio do Decreto-Lei n. 3.199, de 14 de abril de 1941, em que ficou
estabelecido as bases para a organização dos desportos em todo o país. Na avaliação de
Goellner (2009, p. 279) ele é “[...] considerado o primeiro documento a balizar o ordenamento
esportivo brasileiro”, no entanto “[...] vedava às mulheres a prática de esportes incompatíveis
com a sua natureza” (KNIJNIK, 2003, p. 62). Em 1965, a Deliberação n. 7 do Conselho
Nacional dos Desportos (CND) regulamento o artigo 54 do Decreto-Lei n. 3.199/416 ao
definir as modalidades proibidas, conforme segue: lutas, futebol, futebol de salão, futebol de
praia, polo aquático, polo, rugby, halterofilismo e baseball. (CASTELLANI FILHO, 1994, p.
63).
Desse modo, o fenômeno da inserção das mulheres brasileiras nos esportes ficou
ameaçado, com uma redução de oportunidades. Mesmo com o cenário desfavorável, o qual
durou quase quatro décadas, nem todas as mulheres deixaram de praticar seus esportes,
desafiando as condutas sociais e legais. Porém, “não se encontra registros de grupos ou
6 Art. 54. Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompativeis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país. (BRASIL, 1941)
13
mesmo competições que foram organizadas por mulheres atletas no sentido de reivindicar
direitos ou contrapor-se ao que estava estabelecido como favorável aos homens” (TRALCI
FILHO; ARAÚJO, 2011 apud NASCIMENTO, 2012, p. 34).
Na década de 1970, os governos da Ditadura empresarial-militar, em conjunto com a
mídia, estimularam as práticas esportivas com o interesse de desmobilizar e ludibriar a
população, e inseriu no esporte a lógica do espetáculo, assim como o seu uso como
ferramenta de propaganda política. A partir de então, as imagens de atletas femininas
passaram a ser valorizadas, haja vista que o país precisava ascender como potência esportiva
e, para tanto, as conquistas de ambos os sexos seriam necessárias.
Em 1976, por ocasião da criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) para examinar a situação da mulher em todos os setores (social, político e trabalhista),
foi possível ampliar a discussão sobre a opressão à mulher. Personalidades esportivas, como
Maria Lenk e Iris Carvalho, participaram sugerindo a revogação da Deliberação CND n. 7/65.
O Relatório da CPMI da Mulher, publicado em 1978, apresenta uma série de
depoimentos com 32 mulheres de diversos setores. É simbólico o depoimento de Maria Lenk
acerca da conjuntura que se instaurou no Brasil a partir do Decreto-Lei n. 3.199/41 e sua
posterior regulamentação em 1965:
[…] em dado momento, elaborou-se um decreto-lei, que dizia respeito aos desportos, e que feito por homens deixava bem claro que os homens se preocupavam com a mulher. […] Então, ficou proibido à mulher jogar futebol, futebol de salão, rugby, lutas, uma série de coisas. Acentuo bem o futebol, porque atribuo a essa restrição, a essa proibição, a quase impossibilidade do desenvolvimento do esporte feminino no Brasil. (BRASIL, 1978, p. 329, grifo do autor).
Ainda sobre a realidade gerada pela CPMI da Mulher, em 1979, o presidente da
Confederação Brasileira de Judô inscreveu mulheres, utilizando apenas seus sobrenomes, no
Campeonato Sul-americano, sendo posteriormente convocado para prestar esclarecimentos,
mesmo após sucesso da participação “delas” na competição. Esse fato contribuiu para revogar
a proibição expressa na Deliberação CND n. 7/65, e ocorreu por meio da Deliberação CND n.
10, em 1979. (SOUZA; MOURÃO, 2011; CASTELLANI FILHO, 1994, p. 62)
Os prejuízos gerados pela Deliberação CND n. 7/65 durante o período de sua
validade, podem ser observados na discrepante participação de homens e de mulheres
brasileiras em Jogos Olímpicos, entre 1920 e 1980, conforme os dados expressos no Gráfico
3. Tal realidade contribui para o atraso do Brasil na história dos Jogos Olímpicos.
14
Gráfico 3 - Participação do Brasil nos Jogos Olímpicos, por Gênero – 1920-2012
Fonte: Comitê Olímpico Brasileiro (s/d).
Nota-se também, que a partir da década de 1980, a participação “delas” aumentou
consideravelmente, produto da inserção feminina em esportes antes compreendidos como
inadequados à sua natureza. Somente então, certas “modalidades […] passaram a ter seus
equivalentes femininos (judô e futebol); outras, embora integrassem há décadas o programa
olímpico, passaram a contar com representantes brasileiras em suas disputas (basquete e
handebol)” (NASCIMENTO, 2012, p. 36).
Embora estivesse legalmente permitido o acesso feminino a qualquer esporte,
praticá-los ainda representava uma atitude passível de críticas e julgamentos, pois a sociedade
seguia associando determinadas práticas a homens ou a mulheres, o que abria margem para
questionamentos sobre feminilidade e sexualidade.
Conforme os dados expressos no Gráfico 4, as atletas federadas, em 1970,
representavam apenas 6% do total de praticantes federados. Esse dado é o produto concreto da
coerção sobre as mulheres no mundo esportivo no Brasil. Em 2013, apesar dos avanços, ainda
é tímida a participação das mulheres frente aos homens no mundo dos esportes, perfazendo o
percentual de 30%.
020406080
100120140160180
1920
1924
1928
1932
1936
1948
1952
1956
1960
1964
1968
1972
1976
1980
1984
1988
1992
1996
2000
2004
2008
2012
Homens
Mulheres
15
Gráfico 4 – Praticantes por Gênero Registrados nas Federações (1970) e Praticantes por Gênero por amostragem (2013)
Fontes: Costa (1971, p. 287); Ministério do Esporte (2015).
As discrepâncias entre ambos os sexos, no âmbito esportivo, podem ser evidenciadas
não apenas no número de praticantes, mas no conjunto de determinantes que permeia a
dinâmica do esporte, conforme aborda Goellner (2012): No esporte de rendimento, são bem menores os recursos destinados para patrocínios, incentivos, premiações e salários; em algumas modalidades, a realização de campeonatos é bastante restrita e, por vezes, inexistente; há pouca visibilidade nos diferentes meios midiáticos; a participação de mulheres em órgãos dirigentes e de gestão do esporte é ínfima; a inserção em funções técnicas, como treinadoras e árbitras, ainda é diminuta; federações, confederações, clubes e associações esportivas mantêm registros precários sobre a participação das mulheres em seus dados oficiais. (GOELLNER, 2012, p. 73-74).
O movimento feminista contribuiu para essas conquistas por meio de
questionamentos sobre seus direitos civis, políticos, liberdade de decisão sobre seu corpo e
sexualidade. Discussões que refletiam automaticamente no espaço esportivo.
Concomitantemente, o esforço de pequenos números ou grupos de atletas, impondo seu
espaço no esporte, demonstrando habilidade e desconstruindo dogmas, contribuiu com a
causa feminista. Mesmo como afirma Nascimento (2012), que as possibilidades de inserção
no esporte e o movimento feminista seguiam como paralelos sem se entrecortarem, as suas
reivindicações se complementavam.
Atualmente, o Brasil ainda carece de incentivos e reconhecimentos aos esportes
femininos, como fica explícito no futebol – “paixão nacional” – a discrepância nas
visibilidades atribuídas às seleções masculinas e femininas. Outro exemplo se refere às atletas
da seleção feminina de handebol. Estas, ao compartilharem suas preocupações com o futuro
Homens94%
Mulheres6%
1970
Homens 70%
Mulheres 30%
2013
16
do esporte afirmam que o país conta com meninas de muita qualidade, mas temem que não
consigam conquistar título s por falta de incentivo. Como expresso por uma das atletas
(Babi): "A gente luta pelo mesmo reconhecimento que temos na Europa, mas que ainda é
muito pobre no Brasil.” (MONTES, 2013, s/p).
Portanto, os países estrangeiros valorizam, reconhecem e oferecem mais condições
para as atletas brasileiras que seu próprio país de origem. Sendo assim, evidencia-se a
necessidade de maior mobilização no âmbito esportivo brasileiro para a geração de
oportunidades e condições de desenvolvimento do esporte feminino.
4 ANÁLISE COMPARATIVA DA INSERÇÃO FEMININA NO CENÁRIO
ESPORTIVO DOS EUA E DO BRASIL
Para essa análise, torna-se crucial evidenciar a inegável influência europeia sobre os
EUA e o Brasil, haja vista que ambos foram colonizados por países europeus. Por isso, pode-
se perceber que a exclusão dos direitos femininos à participação na vida social e política foi
transpassada da antiga Europa para o “novo continente”. Observa-se também que os discursos
defendidos para tal eram os mesmos, com destaque para a preocupação com a capacidade
reprodutiva da mulher, sendo a mais encontrada nos estudos históricos.
No entanto, como os EUA continuou recebendo influência direta da França, um dos
países onde os ventos do feminismo sopravam mais intensamente (NASCIMENTO, 2012),
identifica-se uma aproximação acentuada com a causa e, assim, o despertar para as questões
de direitos das mulheres ocorreu mais cedo, por volta da primeira metade do século XX,
exemplificado com o apoio dado à francesa Alice Melliot para a criação de um órgão
esportivo internacional feminino, em 1921.
No Brasil, essa influência ganhou força posteriormente e com a enraizada cultura
patriarcal e as duras repressões sofridas durante a Ditadura empresarial-militar, dificultou-se
ainda mais sua difusão. Então, o movimento feminista brasileiro ocorreu de modo distinto,
disperso – podendo ser dividido em três fases – e foi mais discreto do que nos EUA, onde se
percebe uma luta pela equidade do gênero marcada pelo “enfrentamento”. (NASCIMENTO,
2012)
Desse modo, é possível verificar que, no Brasil, as atletas não se articularam
efetivamente em nenhum momento com o feminismo para a criação de grupos que lutassem
diretamente pelos seus direitos no âmbito esportivo, e sua inserção foi caracterizada por
conquistas individuais de mulheres que reivindicaram para si o direito de praticar esportes.
17
Caracteriza-se, portanto, como um processo desordenado, sem a sistematização de uma ação
coletiva, o que resultou em um atraso em relação às estadunidenses.
Os estadunidenses, por sua vez, contribuíram com a temática em nível mundial,
aumentando a consciência dos envolvidos. Apoiaram movimentos de resistência à misoginia
culturalmente proposta e se articularam em entidades esportivas para a criação de eventos e
competições, promovendo o esporte feminino, tentando garantir esses direitos às mulheres.
Para exemplificar, há registros de organizações, já citadas anteriormente, como a National
Coalition for Women and Girls in Education (NCWGE), formada por grupos feministas, a
Division of Girls and Women in Sport (DGWS) e a Association for Intercollegiate Athletics
(AIAW).
No país norte-americano, o esporte feminino nasceu da Educação Física organizada e
de atividades recreativas e esportivas não competitivas, tanto que se observa nos estudos
sobre as instituições reguladoras dos esportes femininos, um compromisso com a orientação
pessoal das atletas, sem interesse lucrativo. Porém, para concretizar sua inserção no mundo
esportivo, foi necessário focar em competições, sendo assim as entidades femininas sentiram
a necessidade de se adequar ao sistema capitalista e competitivo, para terem possibilidades de
provar sua capacidade e condições de atuar nesse cenário. (GRAY, 2008; WU, 2006)
Esse movimento ocorre de modo diferente no Brasil. Um dos fatores foi a relação da
Educação Física com a formação militar, o que reduzia os espaços para a intervenção das
mulheres. Portanto, a aproximação “delas” com os esportes se deu, inicialmente, através de
clubes, revelando inclusive uma segregação no próprio gênero feminino, já que eram espaços
restritos, onde somente mulheres brancas e ricas conseguiam ter acesso às limitadas opções de
esportes.
Uma característica inerente a ambos os países é o registro histórico sob a ótica dos
homens, pois conforme aponta Goellner (2007), constantemente se confunde a história
“deles” com a história das espécies, cunhando na memória da humanidade os acontecimentos
a partir do masculino. Uma simples prova disso está na dificuldade em encontrar dados
quantitativos de praticantes de esportes por gênero, especialmente no Brasil, pois quase não
há registros, exceto nos estudos que tratam dessa participação nos Jogos Olímpicos. E, ainda
assim, a maioria dos dados encontrados se refere aos homens, muitas vezes sendo necessária a
realização de cálculos aproximativos sobre as participações femininas.
Dentre as diferenças desse processo histórico, pode-se citar também que, enquanto na
Segunda Guerra Mundial as mulheres estadunidenses participaram efetivamente da vida
social, substituindo os homens enviados ao combate, refletindo também no âmbito esportivo a
18
sociedade brasileira vivia a ditadura varguista, em que seguia na direção contrária, com os
direitos de participação em alguns esportes tolhidos legalmente.
A escolha dos dados quantitativos para esse estudo se concentra, em especial, na
década de 1970, principalmente porque nesse período aconteceram situações que marcaram e
definiram a evolução da participação das mulheres no fenômeno esportivo, tanto
estadunidense quanto brasileiro: a criação da lei federal Title IX, em 1972 e a revogação da
Deliberação CND n. 7/65, em 1979. (U. S. DEPARTMENT OF EDUCATION, 2015;
CASTELLANI FILHO, 1994).
Observa-se que, nos Estados Unidos, em 1971–1972, apenas 7,4% dos praticantes de
esportes no ensino médio eram mulheres; em 1981–1982, 27,8% dos praticantes de esportes
nas universidades eram do sexo feminino. O Title IX foi criado para corrigir esses
desequilíbrios, sendo resultado de um esforço coletivo dos grupos de mulheres que
participaram ativamente da luta por equidade de direitos.
No Brasil, os números dos praticantes registrados em federações, em 1970, perfez o
total de 6% do sexo feminino. Nesse período, ainda vigorava a Deliberação CND n. 7/65,
derrubado mais tarde por diversos interesses que vão além do real compromisso com o
esporte feminino e se encontra profundamente relacionado com intenções políticas. Portanto,
enquanto “lá” se criava uma mobilização legal para superar essa discriminação, “aqui” ainda
era preciso derrubar um dispositivo legal que corroborava com essa segregação.
Em 2013–2014, no país norte-americano, a porcentagem de praticantes de esportes
do sexo feminino no ensino médio cresceu para 41,9% e nas universidades, para 43,4%. Esses
números são indícios de que o Title IX causou um impacto positivo na geração de
oportunidades para as mulheres nos esportes, o que permitiu um aumento nessas práticas,
principalmente no ensino médio.
Dados de 2013 mostram que, em território brasileiro, a porcentagem de praticantes
do sexo feminino é de 30%, evidenciando uma tímida evolução. Dessa forma, constata-se
que, mesmo quando a participação feminina é amplamente permitida, a dinâmica das relações
de gênero e noções de masculinidade e feminilidade podem resultar em segregação,
ressaltando a importância da criação de políticas nacionais no âmbito esportivo para qualificar
esse processo.
Problemas similares nos dois países se referem também à marginalização do esporte
feminino na mídia, apresentado em outro estilo, reforçando os estereótipos de gênero. A
exploração da imagem feminina e o assédio no desporto são manifestações das percepções de
dominância, força física e poder dos homens que são tradicionalmente retratados no esporte
19
masculino. A mídia poderia contribuir positivamente na formação da percepção da sociedade
sobre as mulheres, porém continua reafirmando os valores distorcidos e segregacionistas.
Os Jogos Olímpicos, como maior referência em competições esportivas, são
constantemente analisados para verificar os avanços desse processo, pois ajudam a refletir as
realidades dos países em questão. Pela análise do Gráfico 5, observa-se que, no decorrer de
1972 a 2012, a participação feminina brasileira saltou de 6% para 47%. Por sua vez, as atletas
estadunidenses saíram de 21% para 51% na participação feminina nesses eventos. Percebe-se
então que este não pode ser o único parâmetro de avaliação, pois mesmo com os grandes
avanços no esporte de alto rendimento no Brasil, a participação de mulheres brasileiras na
prática de esportes não competitivos teve um crescimento mais modesto, como já evidenciado
anteriormente.
Gráfico 5 – Participação feminina nos Jogos Olímpicos, EUA e Brasil – 1972-2012
Fontes: Woods (2016, p.317); COB (s/d).
Mesmo com os acontecimentos da década de 1970 proporcionando avanços para a
inserção das mulheres no âmbito dos esportes, não é possível afirmar que houve mudanças de
comportamento. No Brasil, a revogação da Deliberação CND n. 7/65, possibilitou o seu
envolvimento com todas as práticas esportivas, porém só podiam fazer aquilo sobre o qual
havia uma aprovação social e os esportes, principalmente os de maior contato físico,
continuavam não condizendo com as condutas que deveriam ser seguidas por “elas”, dessa
maneira, ainda permaneceram socialmente condenadas.
1972 1992 2008 2012EUA 21% 33% 48% 51%BRASIL 6% 26% 48% 47%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Percentual
20
Do mesmo modo que a criação do Title IX, nos EUA, que não significou a ruptura
completa com os pensamentos machistas, podendo ser evidenciado no desespero de entidades
esportivas masculinas em atacar e tentar burlar a lei, valendo-se de estratégias duvidosas para
desestabilizar as organizações esportistas femininas, com a preocupação de perder seu
domínio. Além disso, mesmo sendo um esforço para equivaler os direitos femininos e
masculinos, alguns ainda encaram essa emenda como prejudicial aos homens,
desconsiderando os séculos de segregação aos quais as mulheres foram submetidas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa procurou realizar uma análise comparativa sobre os processos
históricos de inserção das mulheres no fenômeno esportivo. Durante seu desenvolvimento,
esbarrou-se em dificuldades para encontrar dados quantitativos sobre a participação em
esportes no Brasil, decorrente da restrita produção e ausência de registros.
Os resultados encontrados revelam que, apesar dos enormes ganhos ao longo dos
anos, muito trabalho ainda precisa ser realizado, pois embora as taxas de participação em
esportes tenham crescido tanto para homens quanto para mulheres, o envolvimento “delas”
ainda se encontra prejudicado em relação aos colegas do sexo oposto, principalmente no
cenário brasileiro.
Quanto ao objetivo central desse estudo, nota-se um maior avanço nesse processo
nos Estados Unidos, decorrente de uma profunda relação com as discussões dos direitos civis
e organização dos grupos feministas para a defesa dos ideais igualitários. Ainda um pouco
atrasado, o Brasil conta com personalidades femininas persistentes que, sem nenhuma ajuda
de políticas nacionais combatem esse quadro e conseguem estabelecer mudanças graduais.
A culpa do atraso histórico desse processo no Brasil pode ser atribuído também à
criminalização de determinadas práticas esportivas por mulheres, durante quase quatro
décadas. Em contrapartida, a influência do governo federal norte-americano ao criminalizar
práticas discriminatórias baseado no gênero criou mais oportunidades para o desenvolvimento
esportivo feminino.
Como o desporto é tradicionalmente um domínio masculino, as restrições sociais são
um grande impedimento para o seu acesso, sendo algumas destas, semelhantes nos dois
países, tais como a percepção de inferioridade em relação as capacidades físicas das mulheres,
inclusive, em alguns casos, havendo uma internalização dessas percepções negativas pela
própria população feminina.
21
Desse modo, não é suficiente apenas a criação de leis forçando a aceitação feminina
sem o auxílio de políticas públicas para conscientizar a sociedade. A promoção e
popularização do esporte feminino requer estratégias que superem a sua representação
inadequada, confrontando paradigmas, redefinindo expectativas sobre homens e mulheres e
transformando a visão altamente sexualizada, na qual a beleza física se sobrepõe às
habilidades atléticas.
Diante desse cenário ainda constante de reproduções negativas sobre o corpo
feminino, percebe-se a importância desse estudo para contribuir com a transformação dos
valores construídos e reproduzidos pelo esporte que, como sendo um espaço de embate,
coloca as situações de gênero em questão, já que a participação “delas” desafia a gama de
estereótipos, questionando também os papéis das mulheres na sociedade em geral.
Como sugestão para futuras pesquisas, deve-se aprofundar a investigação
comparativa sobre o envolvimento das mulheres em outras áreas do cenário esportivo, tais
como árbitras, treinadoras e repórteres, para ampliar a análise da inserção feminina em todos
os âmbitos esportivos.
Abstract: The study comparatively analyzes the historical processes of women’s participation on sportive phenomenon in Brazil and United States. Methodologically, it is based on bibliographical research, and for theoretical and methodological reference, historical dialectical materialism is used; concerning the method to analyze data, it was used the comparative analysis. The research results revealed that, despite the huge gains over the years, women’s involvement is still impaired compared to men, especially in the Brazilian scene. It concludes that, in both countries, the quantitative advances do not indicate a behavior change in dealing with gender. Keywords: Gender. Sport. Spots Culture.
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