Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
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Gestão “Levanta, CACT!” (2011-2012) | Anderson Cordeiro Sabino, Anderson Sirini dos Santos, André Lopes de Souza, Carolina Leardine Zechinatto, Diego Luciano do Nascimento, Diogo Ronchi Negrão, Everton Vinicius Valezio, Frederico Zilioti Amorim, Guilherme Henrique Gabriel, Gustavo Henrique Beraldino Teramatsu, Guilherme Rodrigues Ramos, Jéssica da Silva Rodrigues Cecim, João Paulo Marçola, Luciano Pereira Duarte Silva, Maico Diego Machado, Rolver Bernardes Costa, Stéphanie Rodrigues Panutto, Thais Moreno de Barros, Valderson Salomão da Silva.
André Lopes de Souza, Camila Neubert Fávero, Diogo Ronchi Negrão, Gustavo Henrique Beraldino Teramatsu, Luciano Pereira Duarte Silva, Melissa Maria Veloso Steda, Stéphanie Rodrigues Panutto, Valderson Salomão da Silva, Wagner Wendt Nabarro – com apoio de Carlos Espíndola Ramos Jr., Diego Luciano do Nascimento, Éverton Vinícius Valezio, Felipe Barbosa Gomes, Gilson Alves Duarte, Lucinei da Silva Cordeiro, Maico Diego Machado, Rafael Vázquez Doce, Rolver Bernardes Costa e Thiago Corrêa Zanini
Adriana Queiroz do Nascimento, Alberto Luiz dos Santos, Ana Luisa Pereira Marçal Ribeiro, Ana Paula Mestre, Cassiano Gustavo Messias, Débora Assumpção e Lima, Fabrício Gallo, Fernanda Aparecida Leonardi, Gleyd Bertuzzo, Larissa Chiulli Guida, Luis Henrique Leandro Ribeiro, Marcel Petrocino Esteves, Marcelo da Silva Gigliotti, Maria Isabel Figueiredo Pereira Oliveira Martins, Mariana Traldi, Marina Sória Castellano, Natalia Pivesso Martins, Rafael Straforini, Rafaela Fabiana Ribeiro Delcol, Ricardo Devides Oliveira, Roberta Marquezi Bueno, Rodrigo Cavalcanti do Nascimento, Silvana Cristina da Silva, Vânia da Silva, Vonei Ricardo Cene
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Realizada desde 2005 e organizada por estudantes de graduação do curso de
Geografia da Unicamp, a Semana de Geografia vem se consolidando como um
grande evento científico e cultural no calendário acadêmico das Universidades
estaduais paulistas. Em 2012, chegou à oitava edição com o tema Brasil, sexta economia do mundo: aonde queremos chegar?, com mesas-redondas temáticas que
buscaram desvendar esta questão, além de minicursos e apresentações de trabalhos.
Na abertura da semana, o sociólogo
Ricardo Antunes (IFCH) buscou um
diálogo entre as ciências sociais e a
Geografia ao abordar as novas
concepções de trabalho trazidas à tona a
partir do fim dos anos 1960. Para o
professor, que não poupou exemplos, a
precarização do trabalho é grande
atualmente devido à grande flexibilização
dos capitais — o que explica, de certo
modo, os fluxos migratórios recentes de
brasileiros para a Europa, que vem
passando por uma crise. “O mundo está
hoje em convulsão”, declarou. O Brasil,
por sua vez, repete os padrões de um
consumo e de uma produção
insustentáveis. Contudo, resta ainda
esperança, ao vermos fervilhar
movimentos de resistência em diversos
países — como placas tectônicas, como
comparou Antunes.
A mesa explorou o caso recente da região
da Cracolândia e Nova Luz, no distrito de
Santa Ifigênia, em São Paulo. Simone, da
USP, falou do patrimônio cultural local
que deve ser considerado e preservado.
São pessoas que vivem ali há décadas e
que serão expulsas após a valorização dos
imóveis, como a jornalista Paula Ribas,
que sai às ruas com um megafone
chamando a população à luta.
Herrmann, secretário de meio ambiente
de Campinas, lembrou que as atividades
mineradoras não devem entrar em
conflito com as comunidades tradicionais.
Sevá, provocador, observou o título da
mesa: se estamos falamos de recursos
naturais no ou do Brasil, pois apenas o
fato de estarem localizados no território
nacional não significa que pertençam de
fato aos brasileiros.
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Cacete expôs algumas contradições: em
São Paulo, mais de 90% dos professores
de escolas públicas são formados em
faculdades particulares e muitos atuam
sem ter formação específica. Na
Geografia, apenas 26% são formados na
área. Algumas propostas vêm no sentido
de resolver o problema, como o PIBID,
licenciaturas plenas abrangentes, ensino à
distância e criação de cursos de
licenciatura. Ferracini vê como principal
desafio a transposição didática dos
conteúdos acadêmicos para a realidade da
escola pública.
Angelita considera que o designativo
“imperialista” não é adequado ao Brasil,
por não ser uma economia central, mas
reconhece que há o expansionismo de
empresas eleitas pelo BNDES. Gallo vê o
mesmo com objetos técnicos e sistemas
de engenharia, que são meios de poder
dispostos pelo Estado, também
ressaltando o papel do financiamento do
BNDES em territórios estrangeiros.
Archimedes relembrou histórias do
professor Aziz Ab’Sáber, de quem foi
aluno; Rui Ribeiro de Campos, que
recentemente lançou o livro Breve Histórico do Pensamento Geográfico Brasileiro nos Séculos XIX e XX, percorreu
diversos autores que trataram da
Geografia antes do nascimento de Aziz e
também alguns de seus contemporâneos.
Sotratti tratou de políticas públicas de
turismo e suas relações com o território. A
partir dos anos 1990, segundo ele, o
turismo passou a ser visto como
estratégia de desenvolvimento, com
planos elaborados pelo Governo Federal.
Turra questionou o papel do Brasil no
circuito turístico internacional, relevando
projetos que remetem a iniciativas
estrangeiras e que são postos em prática
no país já descaracterizados.
Souza percebe uma acomodação social no
país atualmente, uma vez que as taxas de
desemprego são decrescentes, bem como
o índice de Gini. De todo modo, ele vê que
o Brasil se insere perifericamente no
mercado internacional, por meio das
exportações de commodities, ao mesmo
tempo, o país é apenas o 14º maior
receptor global de investimentos diretos
estrangeiros, demonstrando que, no
período atual e no mercado internacional,
vem representando o papel de
dependente.
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Sorteio e doação de livros | A Editora Consequência, que participou vendendo livros
durante a Semana de Geografia, doou cinco livros para a Comissão Organizadora.
Quatro deles foram para a biblioteca “Conrado Paschoale” – Política, Cidade, Educação: Itinerários de Walter Benjamim, com organização de Solange Jobim e Souza
e Sonia Kramer (Contraponto/PUC-Rio, 2009), A Prisão e a Ágora, de Marcelo Lopes
de Souza (Bertrand Brasil, 2006), Indústria e Território no Brasil Contemporâneo, de
Rosélia Piquet (Garamond, 2007) e A Cidade Caleidoscópica: Coordenação Social e Convenção Urbana, de Pedro Abramo (Bertrand Brasil, 2007) – e um – Contribuição à História e à Epistemologia da Geografia, organizado por Antonio Carlos Vitte (Bertrand
Brasil, 2007), foi sorteado entre os participantes da Semana – o ganhador foi o
estudante Rafael Rigamonte.
O atual período técnico-
científico e informacional é resultado
de processos de desenvolvimento
técnico e científico, mas acima de tudo
da combinação entre estes dois
elementos sob a égide do mercado.
Foi exatamente essa união que
possibilitou a revolução informacional,
que por sua vez garantiu às grandes
corporações a possibilidade de
atuação planetária, marcando o
surgimento de um mercado global.
Também a partir deste período, os
territórios do Terceiro Mundo,
passaram a ser objeto de cobiça de
grandes corporações. O território
passou a ser objeto de disputa entre
aqueles que almejam sua apropriação
econômica e privada e aqueles que ali
já estabeleciam uma vida de relações,
os chamados agentes não
hegemônicos.
Toda a nossa análise partiu do
conceito de território proposto por
Milton Santos e María Laura Silveira
(2010), em que o espaço é sinônimo
de “território usado” no sentido de
espaço humanizado, habitado. Para
efeitos analíticos utilizaremos os
conceitos de horizontalidade e
verticalidade, as horizontalidades são
os domínios da contiguidade,
daqueles lugares vizinhos reunidos
por uma continuidade territorial,
enquanto que as verticalidades são os
pontos distantes uns dos outros,
ligados por todas as formas e
processos sociais (SANTOS, 2009).
Nosso foco teórico também gira em
torno do “circuito espacial produtivo”
(BARRIOS, 1976; MORAES, 1991) da
energia elétrica e dos “dois circuitos
da economia urbana” (SANTOS,
1979).
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A proposta teórica dos
“circuitos espaciais produtivos” busca
interpretar as várias etapas pelas quais
passa um produto, em nosso caso a
energia elétrica, desde a produção até
o consumo final. Assim, o sistema
elétrico nacional (terminologia oficial
usada pela Agência Nacional de
Energia Elétrica), é formado pela
geração (transformação de uma fonte
primária), pela transmissão (envio da
eletricidade através de linhas de alta
tensão), pela distribuição (entrega da
eletricidade aos consumidores finais
através de linhas de baixa tensão), pela
comercialização (vendas no varejo) e
pelo consumo, que pode ser final ou
produtivo, aquele cria a necessidade
de uma nova produção (Marx, 1973),
pois “tudo que é resultado da
produção é, ao mesmo tempo, uma
pré-condição da produção” (Marx,
apud Santos, 1977, p. 92).
Do ponto de vista da geração
de energia elétrica, abordou-se no
minicurso a instalação de objetos
técnicos geradores de energia elétrica,
em especial hidroelétricos e eólicos,
que nos lugares formam subsistemas
técnicos. Tais subsistemas técnicos
menores compõem um
Macrossistema Sistema Técnico
(SANTOS, 2009), o Sistema Elétrico
Nacional.
Este Macrossistema Técnico é
resultado da cooperação entre agentes
corporativos atuantes na produção,
transmissão e distribuição de energia
elétrica, que objetivam uma constante
acumulação de capital, e do Estado
brasileiro, que através do pretexto do
desenvolvimento e crescimento
econômico, viabiliza a modernização
do território, intensificando a
produção de energia elétrica. Ao
fomentar a modernização do território
o Estado facilita sua apropriação pelas
grandes corporações, que necessitam
para seu sucesso da energia produzida
por este Macrossistema Técnico em
pontos estratégicos do território.
Por outro lado, essa dimensão
sistêmica nos remete à observação das
estruturas intergovernamentais da
federação brasileira criadas a partir da
análise das transferências de recursos
provenientes da Compensação
Financeira por Exploração Mineral
(CEFEM), Compensação Financeira
pela utilização do Recurso Hídrico
(CFURH) e Royalties do Gás e do
Petróleo aos municípios. Essa
dimensão nos demonstra claramente
que, há usos que criam um fluxo
financeiro entre lugares, consolidando
o pacto federativo brasileiro.
Do ponto de vista do consumo
abordaremos o uso alternativo do
território por agentes não
hegemônicos que, através de
“estratégias de sobrevivência”, usam o
território como forma de resistência à
apropriação corporativa. A fim de
mostrar como se articula esse uso
alternativo do território, analisamos o
uso produtivo da energia elétrica pelas
parcelas mais pobres da população
paulistana, tendo como foco teórico o
circuito inferior da economia urbana.
De maneira geral, o aumento da
produção de energia elétrica é
estimulado pelos circuitos superiores
da economia, mas desse estímulo
também resultam formas menos
capitalizadas de trabalho e com baixo
nível tecnológico. Abordamos a
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formação sócio-espacial brasileira
quanto à produção e consumo de
energia e, a partir disso, refletimos
sobre a estruturação e a reprodução
do circuito inferior na cidade de São
Paulo, subsistema criado pela
urbanização do mundo pobre.
Este minicurso teve como
objetivo provocar a reflexão crítica
sobre como se dá a atual construção,
apropriação e consumo energético no
território nacional. Buscamos, em
última instância, compreender os mais
diversos usos que se têm feito do
território brasileiro, entre eles
destacamos o uso corporativo,
resumido aqui na apropriação privada
do território pelos agentes
economicamente hegemônicos, e o
uso alternativo, como principal forma
de resistência à apropriação
corporativa.
O minicurso foi oferecido aos
moldes de aula expositiva e abordou
os seguintes tópicos:
uso do território/ território usado;
histórico e natureza da técnica dos
sistemas elétricos;
o papel dos objetos e dos sistemas
técnicos na atualidade;
discussão sobre apropriação e resistência,
enquanto formas de uso do território;
o Estado enquanto principal agente
promotor da modernização do território;
atuação dos agentes hegemônicos
econômicos e sua apropriação do território;
atuação dos agentes hegemonizados como
forma de resistência.
BARRIOS, Sonia. Dinâmica Social y Espaço. Caracas: Cendes, 1976.
BRAUDEL, F. Civilização material, economia e capitalismo: séculos XV-XVIII. Lisboa: Teorema, 1992.
CALABI, D. e INDOVINA, F. “Sobre o uso capitalista do território”. IN: Revista Orientação n. 9, São Paulo, 1992, p. 57-66.
CATAIA, Márcio. A Alienação do Território – O papel da guerra fiscal no uso, organização e regulação do território brasileiro. In: SOUZA, Maria Adélia de. (Org.). Território Brasileiro: usos e abusos. Campinas: Edições Territorial, 2003.
HARVEY, David. A Justiça Social e a Cidade. São Paulo: Hucitec, 1980.
______________. The limits to capital. Oxford: Brasil Blackwell, 1982.
______________. O novo imperialismo. São Paulo: Loyola, 2004.
HUGHES, Thomas P. Networks of Power: Electrification in Western Society, 1880-
1930. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1983.
HUGHES, Thomas P. La evolución de los grandes sistemas tecnológicos. In: THOMAS, Hermán; BUCH, Afonso (org.). Actos, actores y arctefactos: sociologia de la tecnologia. 1ªed. Bernal: Universidad Nacional de Quilme, 2008.
MARX, Karl. Contribuição para a crítica da economia política. Lisboa: Editorial Estampa, 1973.
MORAES, Antonio C. R. Circuitos espaciales de la producción y los círculos de acumulación en el espacio. In: Yanes, L. Liberalli A (org). In: Aportes para el estudio del espacio socio economico. Buenos Aires, (s/n), 1991.
RAMALHO, Mário Lamas. Território e macrossistema elétrico nacional. As relações entre privatização, planejamento e corporativismo. (Dissertação de Mestrado), Universidade de São Paulo Departamento de Geografia FFLCH/USP. São Paulo, 2006.
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SANTOS, Milton. O Espaço Dividido - Os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro, ed. S. A, 1979.
______________. O Período Técnico-Científico e os Estudos Geográficos. Anais do Seminário Interamericano sobre ensino de estudos sociais. Organização dos Estados Interamericanos. Washington, 1986.
______________. Metamorfoses do Espaço Habitado. São Paulo: Hucitec, 1988.
______________. O Território e o Saber Local: algumas categorias de análise. Cadernos IPPUR. Rio de Janeiro, ano XIII, n. 2, 1999, p. 15-26.
______________. O retorno do território. In: SANTOS, Milton. Da totalidade ao lugar. São Paulo: Edusp, 2008.
______________. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2009.
SANTOS, M; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. 13ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.
SILVEIRA, María Laura. Território Usado: dinâmicas de especialização, dinâmicas de diversidade. Ciência Geográfica. Bauru, volume XV, n. 1, 2011, p. 4-12.
Este minicurso teve o propósito
de promover, nos professores e
estudantes do ensino fundamental e
médio, a conscientização de que o
solo é um componente do ambiente
natural que deve ser adequadamente
conhecido e preservado tendo em
vista sua importância para a
manutenção do ecossistema terrestre
e sobrevivência dos organismos que
dele dependem. O tema abrange em
conjunto conhecimentos sobre a
formação, composição e conservação
dos solos, além de importantes
noções ambientais, dado se tratar de
um importante recurso cujas
utilizações indevidas têm causado a
exaustão de áreas férteis, tornando-os,
desse modo, solos improdutivos. Para
auxiliar neste intento, disponibilizou-
se material com propostas de
atividades com o tema solos em
Geografia. Em um primeiro momento,
no minicurso, foram apresentados os
parâmetros curriculares nacionais nos
quais este tipo de atividade está
apoiada. Posteriormente, foram
exibidas as séries em que tal tema é
adequado, bem como também o grau
de aprofundamento de algumas
atividades conforme o nível acadêmico
no qual o aluno se encontra. Foram
materiais imprescindíveis nesta
proposta os manuais encontrados em
meio digitais em sítios da internet e
trabalhos impressos desenvolvidos
com o objetivo de atender ao ensino
dos solos nas séries fundamentais e
médias, assim, por meio destes, foi
disponibilizado material aos
professores com intuito de auxiliar no
desenvolvimento de atividades em
escola com o tema solos.
Estão entre os objetivos do
minicurso desenvolver e divulgar
material didático sobre solos para o
ensino fundamental e médio, bem
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como auxiliar professores na
compreensão e ensino do tema solos
baseados em parâmetros
pedagógicos. Para tanto, foram
abordados os seguintes itens:
O papel do professor no processo ensino
aprendizagem de geografia;
A abordagem do tema “solo” no ensino
básico;
O ensino de solos através de projetos de
educação ambiental
Material didático sobre a temática “solo”
como recurso para se alcançar o
ensino/aprendizagem.
ASSMANN, Hugo. Metáforas novas para reencantar a educação – epistemologia e didática. Piracicaba: Unimep, 2001.
AZEVEDO, A. C.; DALMOLIN, R. S. D. Solos e ambiente: uma introdução. Santa Maria: Ed. Pallotti, 2004. 100 p.
BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. São Paulo: Ícone, 1990.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. 3. ed. Brasília, 2001a. v.1. 126p.
______. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História/ Geografia. 3. ed. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília, 2001b. v.5. 166p.
______. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio ambiente e Saúde: temas transversais. 3. ed. Brasília, 2001c. v.9. 128p.
______. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Geografia. Brasília, 1998. 156p.
______. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
Ensino Médio. Parte IV: ciências humanas e suas tecnologias. Brasília, 2000.
FALCONI, S. Produção de Material Didático para o ensino de solos. 2004. 115 f. Dissertação (Mestrado) – Pós-graduação em Geografia, UNESP - Rio Claro, Rio Claro, 2004.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 165p.
KIEHL, E.J.; Manual de edafologia: relações solo – planta. São Paulo: Agronômica Ceres, 1979.
LEPSCH, I. F. Formação e Conservação dos Solos. São Paulo: Oficina de Textos, 2002.
LOPES, Alfredo Scheid (trad. e adapt.). Manual de fertilidade do solo: São Paulo: ANDA/POTAFOS, 1989.
PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre (Brasil), Artmed Editora, 2000.
RIO GRANDE DO SUL.; Secretaria da Agricultura. Manual de conservação do solo e água: uso adequado e preservação dos recursos naturais renováveis. 3. ed. atualizada. Porto Alegre, 1985. 287 p.
SALOMÃO, F. X. de. Controle e prevenção dos processos erosivos. Texto não
publicado, 2000.
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São evidentes as associações
entre urbanização e degradação
ambiental, sobretudo quando se
relaciona o crescimento da população
urbana e da malha física à escassez de
recursos, a poluição e a qualidade de
vida. Mas ainda é relativamente
recente a preocupação com os efeitos
nocivos causados pela urbanização
crescente à estrutura ambiental das
cidades. As estratégias de preservação
ambiental implicam na colocação em
prática dos elementos estratégicos e
táticos do planejamento ambiental,
por meio de medidas administrativas,
jurídicas e econômicas pertinentes.
Incluindo o controle e monitoramento
da condição dos ecossistemas e da
vigilância dos usos dos recursos
naturais, com o propósito de garantir
o cumprimento do modelo de
organização ecológica e implementar
as devidas correções.
Para a compreensão das
estratégias e intencionalidades na
preservação de áreas especialmente
protegidas, optamos como estudo de
caso as sete unidades de conservação
de Campinas (SP), caracterizadas a
seguir:
Figura 1 - Localização das Unidades de Conservação no Município de Campinas. Fonte: SMMA.
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1. Área de Relevante Interesse Ecológico Mata de Santa Genebra-ARIE-MSG (Federal);
2. Área de Proteção Ambiental - APA - Piracicaba/Juqueri Mirim (Estadual);
3. Floresta Estadual Serra D’Água (Estadual);
4. Área de Proteção Ambiental do Município de Campinas - APA Campinas (Municipal);
5. Área de Proteção Ambiental do Campo Grande – APA Campo Grande (Municipal);
6. Parque Natural Municipal do Campo Grande – PNM Campo Grande (Municipal), e;
7. Parque Natural Municipal dos Jatobás – PNM Jatobás (Municipal).
A ARIE-MSG, localizada em
Barão Geraldo, foi criada por meio do
Decreto Federal nº 91.885/85, sendo a
Fundação José Pedro de Oliveira, ente
Municipal, responsável por sua
administração, preservação e
conservação. É um fragmento de 251,7
hectares de Floresta Estacional
Semidecidual e Floresta Paludosa do
bioma Mata Atlântica; o respectivo
plano de manejo foi aprovado em
agosto de 2010 através da Portaria nº
64 do Governo Federal.
A APA Piracicaba/Juqueri-Mirim
foi criada por meio do Decreto
Estadual nº 26.882/87 e abrange uma
área de 280.330 hectares, possuindo
inúmeros fragmentos de Floresta
Estacional Semidecidual e relictos de
Vegetação Rupestre nos lajedos
rochosos, além de Campos de Várzea
nas planícies de inundação e fundos
de vale. Sua abrangência perpassa
pelos municípios de Campinas (Bacia
do Rio Jaguari), Nazaré Paulista,
Piracaia, Amparo, Bragança Paulista,
Holambra, Jaguariúna, Joanópolis,
Monte Alegre do Sul, Morungaba,
Pedra Bela, Pedreira, Pinhalzinho,
Serra Negra, Socorro, Santo Antônio
de Posse, Tuiuti e Vargem (Regiões
das bacias hidrográficas do rio
Piracicaba e do rio Juqueri-Mirim). A
APA é gerida pela Secretaria do Meio
Ambiente do Estado de São Paulo e
não possui Plano de Manejo.
A Floresta Estadual Serra D’Água
foi criada por meio do Decreto nº
56.617, de 28 de dezembro de 2010,
sendo administrada pelo Instituto
Florestal vinculado a Secretaria do
Meio Ambiente do Estado de São
Paulo, responsável pela elaboração do
respectivo plano de manejo. Esse
fragmento corresponde a uma área de
51,19 hectares de Floresta Estacional
Semidecidual do bioma Mata
Atlântica. O plano de manejo deverá
ser elaborado num prazo de cinco
anos a partir da data do decreto de
criação da UC.
A APA Campinas, criada em
2001, por meio da Lei Municipal nº
10.850/01, abrange uma área de
22.300 hectares, incluindo os Distritos
de Sousas e Joaquim Egídio, e os
bairros Núcleo Carlos Gomes,
Chácaras Gargantilha e Jd. Monte
Belo; abriga inúmeros fragmentos de
Floresta Estacional Semidecidual e de
Floresta Paludosa, e relictos de
Vegetação Rupestre nos lajedos
rochosos, além de Campos de Várzea
nas planícies de inundação e fundos
de vale. A gestão desta Unidade de
Conservação é realizada pelo Conselho
Gestor da APA (CONGEAPA), sendo
que seu Plano de Manejo encontra-se
em fase inicial de elaboração.
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A área de Proteção Ambiental do
Campo Grande foi criada por meio do
Decreto Municipal 17.357/11, sendo
gerida pela Secretaria Municipal do
Meio Ambiente a qual é o órgão
responsável pela administração e
coordenação das medidas necessárias
para sua implementação, proteção e
controle. A APA abrange uma área de
959,53 hectares localizada
inteiramente dentro dos limites da
macrozona 5. A área contém
fragmentos de floresta estacional
semidecidual (47,56 ha), Cerrado
(28,30 ha), fragmento de transição
entres estes (20,36 ha), mata mista
(13,90 ha) e, em áreas de inundação,
fundos de vale e campos de várzea
(53,73 ha), totalizando uma área
vegetada de 163,85 ha. O plano de
manejo deverá ser elaborado num
prazo de cinco anos a partir da data do
decreto de criação da UC.
O Parque Natural Municipal do
Campo Grande foi criado pelo Decreto
Municipal 17.356/11. Ficou
estabelecido que a Secretaria
Municipal do Meio Ambiente é o
órgão responsável pela administração
e coordenação das medidas
necessárias para sua implementação,
proteção e controle. O Parque protege
uma área de 136,36 hectares
composta de duas fitofisionomias, a
floresta estacional semidecidual e o
campo de várzea. O plano de manejo
deverá ser elaborado num prazo de
cinco anos a partir da data do decreto
de criação da UC.
O Parque Natural Municipal dos
Jatobás foi criado por meio do Decreto
Municipal nº 17.355/11. Esta Unidade
de Conservação protege um
remanescente de Cerrado, com área
total de 107,34 hectares, localizado às
margens do rio Capivari, na região do
Campo Grande em Campinas. O plano
de manejo deverá ser elaborado num
prazo de cinco anos a partir da data do
decreto de criação da UC.
Objetivos
Tendo por estudo de caso as
unidades de conservação de
Campinas, os participantes terão
informações referentes ao meio físico,
os motes para a preservação, o
contexto de ocupação do espaço
urbano onde se insere e as
vulnerabilidades sociais presentes em
cada uma das distintas situações, bem
como apresentar os aspectos legais.
Objetivamos também estabelecer
parâmetros e promover a discussão e
para a compreensão das estratégias e
intencionalidades na preservação
dessas áreas e no caso específico de
unidades de conservação de Campinas
promover a reflexão acerca de sua
implementação, regulação e
manutenção.
Conteúdo programático
O minicurso será realizado na
forma de aula expositiva, tendo por
conteúdo:
O Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC) e a legislação
ambiental municipal
O diagnóstico ambiental de Campinas
As áreas protegidas no município de
Campinas
A discussão sobre os conflitos de
gestão em unidades de conservação
Gestão participativa (Instituto
Florestal, Fundação José Pedro de
Oliveira, Secretaria Municipal do Meio
Ambiente, Conselho Gestor da APA de
Campinas).
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Geografia Humanista é uma
corrente que vem ganhando
importância nas últimas décadas, no
Brasil. Mesmo com o aumento dos
números de trabalhos publicados, esta
perspectiva se mantém, por vezes,
paralela às linhas de pesquisa mais
tradicionais, tendo ainda pouca
visibilidade, ao permanecer restrita a
alguns núcleos e grupos de pesquisa.
Este panorama tem
fragmentado os traços essenciais
daquilo que seria uma abordagem
humanista em Geografia. Por um lado
essa fragmentação tem pluralizado e
enriquecido as temáticas que vêm
sendo trabalhadas nesse esteio
teórico-metodológico. Por outro lado,
torna-se difícil uma consolidação e
uma clareza quanto a sua unicidade
dentro do campo da Geografia,
sobretudo, em como incorporar a
abordagem fenomenológica às
análises empírico-metodológicas.
Porém, muitos trabalhos têm
sido produtivos no sentido de agregar
elementos e tornar mais visível esta
perspectiva. Dentro deste quadro, a
forma de contato entre alunos – de
graduação, principalmente – com a
abordagem humanista ainda se detém
muito restrita às disciplinas referentes
à história das teorias geográficas.
No sentido de tornar claro
como a abordagem humanista e a
Fenomenologia podem contribuir à
pesquisa geográfica, o presente
minicurso procurou, além de trazer os
traços essências desta linha (suas
categorias e conceitos), expor
trabalhos já desenvolvidos, na
tentativa de ampliar o contato entre
esses alunos e o aporte teórico.
O intento do minicurso foi
apresentar trabalhos desenvolvidos
pelo Grupo de Pesquisa Geografia e
Fenomenologia da Unicamp (CNPq) e
discutir como a abordagem
fenomenológica, utilizada neste
campo, vem contribuindo para suprir
“lacunas” às questões relacionadas
tanto à epistemologia quanto à
metodologia e empiria.
As atividades foram divididas
em três etapas complementares. Na
primeira etapa, foram apresentados os
objetivos do minicurso e o grupo
Geografia e Fenomenologia da
Unicamp (CNPq). Contextualizamos
as áreas de pesquisa e os principais
eixos de investigação.
Texto para leitura: HOLZER, Werther. A
Geografia Humanista: uma revisão.
Espaço e Cultura, Rio de Janeiro, n. 3, p. 8-
19, 1996.
À segunda etapa foram expostas
metodologias qualitativas de
inquirição e métodos de trabalho de
campo. A intenção foi apresentar
como os pressupostos teóricos da
Fenomenologia e os preceitos da
Geografia Humanista são aplicados à
pesquisa:
ige.unicamp.br/cact/semana2012
Que é metodologia qualitativa? Preceitos e
objetivos;
Metodologias qualitativas e construção dos
“dados” em Ciências Humanas e Geografia;
Trabalho de campo fenomenológico e
experiência geográfica;
Apresentação discussão de exemplos de
trabalhos do grupo: Espaços de vida,
Cartografias Pessoais, Memória e Experiência
do Lugar.
Texto para leitura: MARANDOLA JR., E.
Fenomenologia geográfica: Caminhos da
pesquisa. In: MARANDOLA JR., E. Habitar
em risco: mobilidade e vulnerabilidade na
experiência metropolitana. 2008c. 278p.
(Tese de Doutorado). Campinas, IG-
Unicamp.
Na terceira etapa, a proposta foi
abordar a relação da Geografia com a
Literatura e como o diálogo entre
esses campos permite aos geógrafos
apreender a experiência geográfica
para além do âmbito científico – arte e
poética. E a existência de diferentes
tipos de cartografia, nesse caso a
cartografia do romance.
Um panorama das abordagens em
Geografia e Literatura
Cartografia do Romance
Texto para leitura: MARANDOLA JR.,
Eduardo; OLIVEIRA, Lívia de
Geograficidade e espacialidade na
literatura. Geografia, Rio Claro, v. 34, n. 3,
p. 487-508, 2009.
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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
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TUAN, Y. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. (trad. Lívia de Oliveira) São Paulo: Difel, 1980.
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No atual momento histórico, as
atividades do comércio não podem ser
vistas isoladas do processo produtivo:
tanto a produção material como o
comércio fazem parte de um único
processo e a cidade desempenha um
papel de articulação relevante para a
acumulação ampliada do capital.
Neste contexto, essa intervenção
pedagógica justifica-se pelo caráter
intrínseco da cidade com as formas de
comércio, sendo que as atividades
comerciais fazem parte da essência do
espaço urbano.
O referido minicurso teve como
objetivo geral compreender a
produção do espaço da cidade
contemporânea e, principalmente, das
formas de comércio amparadas pelas
técnicas, assim como da relevância do
consumo enquanto categoria de
análise geográfica. E de maneira mais
específica buscou-se analisar a
indissociabilidade entre cidade e
comércio; refletir acerca das
imbricações entre a técnica e as
formas de comércio; e, por fim,
identificar o papel do hiperconsumo
como um dos conteúdos que
preenchem as modernas formas de
comércio na cotidianidade da cidade
contemporânea.
Com o intuito de atingir os
objetivos propostos, os procedimentos
ige.unicamp.br/cact/semana2012
metodológicos se deram da seguinte
forma: exposição dialogada com base
na bibliografia proposta no minicurso;
utilização de recursos imagéticos
como fotos, mapas e charges; além de
dados estatísticos acerca da dinâmica
do hiperconsumo no Brasil.
O processo avaliativo dessa
atividade teve como base a
participação efetiva do grupo
envolvido durante o momento das
discussões dos temas contidos no
conteúdo programático desse curso: 1. INTRODUÇÃO
2. CATEGORIAS CONCEITUAIS
Produção do espaço
Cidade contemporânea
Formas de comércio
Sociedade de consumo
Agentes produtores do espaço
3. IDEOLOGIA DO CONSUMO
Fetiche
Alienação
Consumidor 4. CIDADE CONTEMPORÂNEA E AS FORMAS DE COMÉRCIO
Mercados públicos
Feira-livre
Supermercados
Franquias
Shopping center
BAUMAN, Z. Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
BOTELHO, Adriano. O urbano em fragmentos: a produção do espaço e da moradia pelas práticas do setor imobiliário. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2007.
BRAUDEL, F. Os instrumentos da troca. In: ______. Civilização material, economia e capitalismo - nos séculos XV-XVIII. Lisboa: Teorema, 1992-1993. tomo 2, cap. 1, p.11-113.
CARLOS, A. F. A. A (re)produção do espaço urbano. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
JACOBS, J. Primero las ciudades. Depués el desarrolo rural. In:_______. La Economía de Las Ciudades. Barcelona: Ediciones Península, 1975, cap.1, p 9-57.
LEFEBVRE, H. A revolução urbana. Belo horizonte: Ed. UFMG, 1999.
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_______. Cidade, cultura e poder público. In: VASCONCELOS, Pedro de Almeida; SILVA, Silvio Bandeira de Mello (Org.). Novos Estudos de Geografia Urbana Brasileira. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 1999. p.101-108.
_______. O consumo do espaço de consumo. In: OLIVEIRA, Márcio PIÑOM de; COELHO, Maria Célia Nunes; CORRÊA, Aureanice de Mello (Org.) Brasil, a América Latina e o mundo: espacialidades contemporâneas (II). Rio de Janeiro: Lamparina: Faperj, Anpeg, 2008. p. 121-127
SANTOS, M. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico e informacional. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 1994.
_______. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1999.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
A ciência geográfica tem como
base a compreensão da produção do
espaço geográfico, visto como espaço
produzido pelas relações sociais.
Parte-se do pressuposto de que a
realidade pode ser apreendida
cientificamente a partir de diversas
técnicas, a exemplo da observação,
entrevistas e observação participante.
Assim, espera-se discutir essas
técnicas a partir do referencial teórico
e metodológico da geografia.
O objetivo geral do minicurso foi
estimular a discussão das técnicas de
pesquisa para realização do trabalho
de campo em geografia. Entre os
objetivos específicos, estão
compreender as principais categorias
da geografia; discutir a importância
das técnicas de pesquisa para o
trabalho de campo em geografia;
estimular o desenvolvimento de uma
análise crítica do uso de observação,
entrevistas e etnografia na produção
da geografia; e discutir a aplicação
dessas técnicas em realidades dos
trabalhos em andamento.
A perspectiva do desenvolvimen-
to deste minicurso esteve baseada na
Pedagogia Crítico-Social dos
Conteúdos. Entende-se que os alunos
são sujeitos do processo de ensino-
aprendizagem, e, portanto,
construtores de sua história. A
interação teve como base o diálogo,
onde a troca de experiências, a partir,
principalmente, das experiências e das
realidades dos alunos, foi a base da
construção do conhecimento e dos
produtos. As técnicas utilizadas
durante a unidade foram variadas,
atentando sempre para uma prática
educativa progressista que atente para
a formação de sujeitos mais
conscientes de sua realidade e com
capacidade de análise critica e
transformadora do seu meio social.
Conteúdo programático
Primeiro momento: Conceitos da Geografia: espaço, região, território, lugar.
Segundo momento: Técnicas: Observação, Entrevistas e Etnografia;
Terceiro momento: Técnicas sob critica: usos, desusos e abusos;
Quarto momento: Aplicando as técnicas
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembrança
de velhos. 16 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do
Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia . 2.ed São Paulo, SP: Abril Cultural, 1978. 436 p. (Os pensadores).
MOREIRA, Ruy. Pensar e ser em geografia:
ensaios de história, epistemologia e
ontologia do espaço geográfico. 1ª ed. São Paulo, SP: Contexto, 2008. 188p.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Variações
sobre a técnica de gravador no registro da informação viva. São Paulo: USP, Centro de Estudos Rurais e Urbanos, [1983]. 182 p.
WHYTE, William Foote. Sociedade de Esquina
– A estrutura social de uma área urbana pobre e degradada. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
Espaços de Diálogo Geográfico | Na tarde de 26 de setembro, a partir das 14h, foi
prevista a realização das apresentações e discussões em dez eixos temáticos, que
ocuparam quase todo o prédio da Engenharia Básica: 1) “Política, planejamento e
território” (EB06), 2) “Informação e uso do território” (EB13), 3) “Dinâmica urbana e
meio ambiente construído” (EB02), 4) “Reflexões e práticas em Ensino de Geografia”
(MD02), 5) “Geografia, meio ambiente e urbanização” (EB03), 6) “Patrimônio,
turismo e Geografia cultural” (EB11), 7) “Epistemologia e história do pensamento
geográfico” (EB14), 8) “Circuitos produtivos e usos do território” (EB04), 9) “Rede
urbana, metropolização e mobilidade” (EB15) e 10) “Geografia Física e meio
ambiente” (EB16). Os eixos 2 e 8 ocorreram simultaneamente na EB04 e os eixos 3 e
9, na EB02.
Uma novidade na Semana deste ano foi o concurso fotográfico, cujos
objetivos foram divulgar as pesquisas e trabalhos dos participantes da VIII Semana
de Geografia da Unicamp, bem como os trabalhos de campo realizados em
disciplinas dos cursos de Geografia e, ao mesmo tempo, valorizar o olhar geográfico
e a sensibilidade que permeiam os estudos geográficos. Desta forma, o concurso
homenageou, ainda que de forma modesta, a obra do professor Aziz Ab’Sáber,
falecido em março de 2012, que prezava o trabalho de campo — ou excursões — em
suas pesquisas. A estudante Cibele de Oliveira Lima, autora da foto vencedora,
ganhou um exemplar do livro A Obra de Aziz Nacib Ab’Sáber (Beca, 2011).
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
º
Trabalho de campo da disciplina Geomorfologia (Climática e Litorânea), realizado em maio de 2009 na Chapada Diamantina.
No primeiro dia de aula o professor Pierre Monbeig organizou um trabalho de campo. Saímos de São Paulo rumo a Itu, Salto, Campinas e Jundiaí. Até então, meu conhecimento geográfico se resumia a São Luiz do Paraitinga e arredores. Pensando melhor, aquela não foi minha primeira viagem marcante.
Quando eu tinha 5 anos, meu pai nos levou até Ubatuba. Fomos a cavalo pela velha Estrada do Café, que estava abandonada. Eu ia em um lado do jacá (cesto usado para levar alimentos no lombo de animais) e meus irmãos menores, do outro. Passamos pelas fazendas que rodeavam a cidade, entramos na zona de transição, com produção agrícola de subsistência, passamos por terras particulares, mas sem uso. Na trilha, conhecemos a floresta que precede a serra do mar. Pingava muita água das folhas, pois essa é uma região úmida, como todo setor de alto de serra. Ao fazer a excursão na faculdade, senti como se fosse a continuidade de um interesse que tinha brotado naquela viagem a Ubatuba. – Aziz Ab’Sáber em entrevista à Nova Escola, em janeiro
de 2001
ige.unicamp.br/cact/semana2012
º
Trabalho de campo da matéria Geomorfologia (Climática e Litorânea). Lençois - BA. Maio de 2009.
Fizemos as primeiras excursões de campo com nossos professores e, finalmente, a mais longa e difícil excursão para o sudoeste de Goiás, em um grupo de amigos que reuniu Miguel [Costa Júnior], Pasquale Petrone (um dos mais notáveis alunos de Geografia de nossa faculdade) e eu, Aziz Ab’Sáber, para
conhecer o Centro-Oeste e compará-lo com o Brasil tropical atlântico. Fomos, ainda, até os altos do Itatiaia, à região de Itu-Salto e à Serra do Diabo, no Pontal do Paranapanema. Os acontecimentos ocorridos em cada uma dessas excursões merecem um detalhamento maior, em uma série de trabalhos que espero fazer sob o título geral de Os bastidores das pesquisas. –
Prefácio ao livro Miguel Costa: um herói brasileiro (Imprensa Oficial, 2010), de Yuri Abyza Costa
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
º
Trabalho de Campo da disciplina Pedologia realizado em maio de 2010. Andradas - MG
O primeiro trabalho de campo que fiz, sem orientação, foi sobre a geomorfologia da região do Jaraguá e arredores. Partindo de trem da Estação da Luz, em São Paulo, descrevi as colinas até chegar a Taipas e depois subir ao pico do Jaraguá. Descobri que havia outra coisa, além da história, que eu gostava de fazer e que era muito esportiva: viajar em trem de subúrbio, que
naquela época era muito barato. Foi assim que minha carreira científica começou. – Aziz em
entrevista à Ciência Hoje, em julho de 1992
ige.unicamp.br/cact/semana2012
ºBarueri e Carapicuíba fazem parte da Região Metropolitana de São Paulo. Num sábado à tarde,
no lado carapicuibano, o garoto assiste, em posição privilegiada, uma partida de futebol em campinho de terra batida na várzea do Tietê, que divide os dois municípios. Na vertente oposta,
delineia-se o skyline de novos edifícios no Tamboré e Alphaville. Registro feito em trabalho de campo da eletiva Urbanização Brasileira, oferecida pela professora Adriana Bernardes, em 2 de
julho de 2010.
º
Entre Alvorada de Minas e Itapanhoacanga, nos primeiros quiilômetros do Caminho dos Diamantes (Diamantina x Ouro Preto), em Minas Gerais, as "tropas" que ainda não foram substituídas pelos caminhões de minérios, para exportação, dão conta da circulação interna de mercadorias entre os bairros e vilas. A geração de riqueza mantém a população local na subsistência.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
Danton Leonel de Camargo Bini [email protected]
Instituto de Economia Agrícola
Silmara Bernardino da Silva [email protected]
Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Palavras-chave: concentração produtiva; atividade canavieira; Brasil
No início dos anos 1990, quando o governo brasileiro iniciou um
processo de maior abertura econômica, a competição ampliada pelo acesso das
empresas estrangeiras ao mercado nacional tornaram as privatizações, as fusões e
as aquisições os principais instrumentos usados pela economia no intuito de
acompanhar o acelerado processo de modernização globalizadora desta década
(SIQUEIRA & CASTRO JÚNIOR, 2011). Nestes movimentos de reestruturação
econômica, a verticalização de elos de produção também levou a concentração de
muitos setores para as mãos de poucos grupos empresariais. Para ocupar o espaço
gerado com a escassez de dinheiro público, financiamentos também passam a ser
buscados com a emissão de papéis das empresas no mercado financeiro.
No setor sucroalcooleiro, instituições especializadas como a Brasil Álcool
S/A e a Bolsa Brasileira de Álcool (BBA) são algumas das que surgem nessa recente
formatação organizacional para auto-regular os preços agora liberalizados.
Investidores americanos, europeus, japoneses e de muitas outras nacionalidades -
pessoas físicas e jurídicas – anexam capitais na requerente expansão da atividade
canavieira com os aumentos das demandas de açúcar no mercado internacional e de
álcool combustível no mercado interno e externo.
Barreiras às entradas nos negócios do setor são cada vez maiores devido
aos altos volumes de capitais fixos exigidos com a grande intensidade de inovações
mecânicas, físico-químicas e biológicas instaladas e precisadas pelas tecnologias de
informação em todos os elos da cadeia produtiva. São novas densidades técnicas
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
que passam a possibilitar a tão propalada diversificação de produtos derivados
(açúcar líquido, levedura, bagaço e outros) no setor. E para atingir certo grau de
produtividade, as já comentadas verticalizações, fusões e aquisições concentram, dia
após dia, em poucas mãos, a atividade canavieira, demonstrando a competitividade
vigorante principalmente nos últimos dez anos. No caso das empresas de gerência
tipicamente familiar e de capitais regionais, acostumadas com escalas pouco
competitivas e uma linha de produtos limitada à produção do açúcar ou do álcool –
situação alimentada por longos anos de proteção estatal e agravada pelas falhas de
mercado e pela instabilidade macroeconômica – estas têm perdido participação no
setor, em especial pela venda de seus ativos às empresas que flexibilizaram suas
gestões, anexaram inovações ou para novos atores – principalmente de capitais
internacionais - que vislumbram altos retornos com volumosos investimentos em
parques produtivos e abertura de canaviais. Segundo Baccarin, Gebara & Factore
(2009),
... é perfeitamente possível se supor que haja aumento da concentração
econômica, com a junção de diferentes plantas sob a direção de uma
mesma empresa ou grupo econômico. Isso pode resultar em diminuição
dos custos administrativos e em aumento do poder de negociação de
preços dos insumos e dos produtos e, portanto, da rentabilidade e
competitividade da empresa sucroalcooleira” (BACCARIN, GEBARA &
FACTORE, 2009, p. 20).
Além da construção de novas unidades agroindustriais, através da
pujança de investidores estrangeiros - que preferem adquirir ativos já em
funcionamento, sem interrupção dos parâmetros normativos autóctones - dissipa-se
atos de fusões e aquisições. Desta forma, configuram-se sistemas de ações que
reduzem os custos de expansão destes grupos empresariais (através da aquisição de
economias de escala), viabilizando suas ampliações em ciclos temporais mais
curtos: facilidade no lançamento de novos produtos, celeridade na obtenção de
patentes e licenças, remoção de barreiras à entrada, garantia de utilização de bases e
canais de comercialização já instalados e agilidade da expansão geográfica são
elementos que pesam em favor da opção pela fusão ou aquisição de sistemas de
engenharia pré-existentes no ato de instalação de investimentos internacionais no
setor sucroalcooleiro.
Durante os anos 1990 o setor de alimentos foi o mais ativo na execução
de fusões e aquisições no território brasileiro: mais da metade destas transações se
ige.unicamp.br/cact/semana2012
fizeram com o uso do capital estrangeiro (SIQUEIRA & CASTRO JÚNIOR, 2011). No
setor de cana-de-açúcar,
O processo de fusões e aquisições vem se caracterizando pelo aumento da
presença de grandes grupos locais, como o grupo José Pessoa, Cosan e
Carlos Lyra e pela entrada de grandes grupos internacionais no mercado
local, como Louis Dreyfus Commodities (LDC) e Tereos. A concentração
das compras tem ocorrido na região Sudeste, principalmente devido aos
custos mais baixos de produção (SIQUEIRA & CASTRO JÚNIOR, 2011, p.
711).
Ações de incorporações nos anos 1980 pelo grupo Cosan (com a compra
das Usinas Santa Helena, São Francisco e Ipaussu) deram o pontapé inicial neste
desenrolar do movimento de concentração no setor (PIANCETE, 2006). Nos anos
1990, o primeiro registro de grande vulto deste tipo de ação desencadeado com a
reestruturação produtiva aconteceu em 1995, quando a Balli Group, trading de
capitais predominante inglês e iraniano, realizou um joint venture e incorporou parte
das ações da Usina Santa Elisa, localizada em Sertãozinho, na região de Ribeirão
Preto (a mais importante do setor no território nacional) (ROSÁRIO, 2008). Neste
mesmo ano, um Consórcio Paulista adquiriu a Usina Santa Lydia, no município de
Ribeirão Preto. De 1996 a 2000, em torno de 10 novas incorporações de
agroindústrias canavieiras foram realizadas entre fusões e aquisições (SIQUEIRA,
2004). Aprofundando este processo, na primeira década do século XXI, de 2000 a
2010, 55 incorporações de unidades de processamento e verticalizações às suas
montantes (como as compras de terras para auto-fornecimento) ou jusantes (a
posse de usinas por tradings atacadistas de açúcar) foram feitas via fusões,
aquisições, arrendamentos e joint ventures.
Quadro 1: Principais grupos empresariais no setor sucroalcooleiro (2011)
Grupo empresarial Número de
Agroindústrias
Cosan (Raízen) 26
LDC SEV 13
Usaçúcar 12
Farias 11
Eth Bionergia 09
Bunge 09
Tércio Wanderley 08
Tereos (Açúcar Guarani) 07
Carlos Lyra 06
Infinity Bionergia 06
Aralco 05
BP Biofuels 05
Fonte: Anuário da Cana, 2011.
Chega-se a 2011 e 20% das agroindústrias se concentram nas mãos de 12
grupos empresariais (Quadro 1) e suas territorializações passam a se conformar
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
como ramificações do circuito espacial de produção canavieiro, que se
materializando enquanto sistemas de objetos e ações ocupam e hegemonizam áreas
regionais na hinterlândia de suas unidades agroindustriais.
ANUÁRIO DA CANA. Safra 2010/2011. Volumes Centro/Sul e Norte/Nordeste. Ribeirão Preto: PROCANA, 2011.
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ROSÁRIO, F. J. P. Competitividade e transformações estruturais na agroindústria sucroalcooleira no Brasil:
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ige.unicamp.br/cact/semana2012
Drielli Peyerl [email protected] Instituto de Geociências
Universidade Estadual de Campinas
Silvia Fernanda de Mendonça Figueirôa [email protected]
Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: História das Geociências, petróleo, território, nacionalismo
Introdução
O presente artigo faz parte da tese de doutorado em andamento do
Programa de Pós-Graduação em Ensino e História de Ciências da Terra – EHCT
(Unicamp), intitulada, a princípio, como: “O papel da Petrobras na formação de
profissionais da área de Geociências e mapeamento do território brasileiro”.
O período abordado inicia-se com a criação do Conselho Nacional de
Petróleo em 1938, o auge da Campanha nacionalista “O Petróleo é nosso”, e a
criação da Petrobras (1953). Tendo como objetivo demonstrar e descrever parte do
discurso nacionalista do período, utilizando-se de fontes da época, e como a
presença de estrangeiros no Brasil, ligados a área de exploração de petróleo no
território brasileiro ocasionaram conflitos internos e externos.
Muitos dos fatos aqui citados estão conectados com a política interna do
momento. Assim, procuramos demonstrar rapidamente algumas obras da época que
relatam a forma que o Brasil viveu o nacionalismo ligado à busca por petróleo.
Do Conselho Nacional de Petróleo à criação da Petrobras
A primeira iniciativa consistente do Estado brasileiro de regulação do
setor petrolífero foi a criação do Conselho Nacional do Petróleo em 1938.
(CONSELHO..., 2012: 01).
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Porém, antes do período citado, o discurso e aversão a estrangeiros já
consolidavam o nacionalismo no país por meio do território brasileiro e seus
recursos naturais. Mas, não vamos nos deter ao período antes do CNP.
Assim, em 1938, pouco depois do golpe de novembro que levou ao
poder, o novo Governo Vargas, promulgou vários decretos que salientaram o
nacionalismo da Constituição de 1937. (SMITH, 1976: 50).
O Decreto-Lei 366 declarou todos os campos petrolíferos ainda a serem descobertos no território nacional como de propriedade do Governo Federal. O Decreto-Lei 395 declarou o suprimento nacional de petróleo de utilidade pública, nacionalizou a indústria de refinação e criou o Conselho Nacional do Petróleo (CNP), para controlar a indústria. O Decreto-Lei 538 estruturou o CNP, fixou suas prerrogativas e estabeleceu a política a ser seguida. Suas finalidades eram estimular uma indústria nacional de refinação capaz de suprir as necessidades do país e de levar avante a procura sistemática do petróleo, que, se encontrado, seria utilizado também sob controle nacional. O CNP controlaria a pesquisa, mas não era impedido de contatar essa atividade. (SMITH, 1976: 50 - 51).
Complementando a citação acima, e já aprofundando na questão
nacionalista, observamos que esse início foi enfrentado com muitos problemas,
como descreve o General Juarez Távora, militar e político brasileiro, em relação às
dificuldades técnicas enfrentadas no período do CNP:
Do ponto de vista técnico, a exploração do nosso petróleo esbarra, de início, com os seguintes óbices: a) Extensão e complexidade do território a explorar, agravadas pelas
distâncias aos principais centros urbanos do país, deficiência de vias de comunicação, falta de recursos locais agravados, algumas vezes, pela existência de endemias tropicais.
b) Precariedade das cartas geográficas e geológicas, já disponíveis, do País.
c) Desconhecimento quase completo das condições estruturais (tectônica) do subsolo a explorar.
d) Carência generalizada de técnicos e de mão-de-obra. (TÁVORA, 1955: 73-74).
O General Juarez Távora, relata no período de 1955, acontecimentos
relacionados à busca por petróleo. Conhecido ainda, por uma participação ativa no
meio político, foi considerado um dos principais líderes contra a criação da
Petrobras. Por meio dessa oposição, o General Távora também ficou conhecido
como entreguista em relação à exploração de petróleo no Brasil. Ou seja, era a favor
da entrega de recursos naturais para exploração de empresas, instituições
estrangeiras. Se opondo as questões nacionalistas da época.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
Seguindo, com a descoberta do petróleo em Lobato (BA) em 1939, a
preocupação do CNP se reverteu em atitudes rápidas, começando a pensar nos
primeiros cursos de formação de profissionais especializados no Brasil. (CALDAS,
2005). Nesse mesmo ano,
[...] o CNP enviou os primeiros técnicos brasileiros para treinamento nos
Estados Unidos. Anos depois, alguns deles foram responsáveis pela
implantação dos primeiros cursos no país, através de convênios com as
Universidades federais da Bahia e do Brasil (atual UFRJ).
Com o objetivo de gerar uma mão-de-obra especializada, em 1952, dois
anos antes da criação da Petrobras, o Conselho Nacional do Petróleo criou
um setor que tinha como função a coordenação de estágios de
aperfeiçoamento de pessoal no exterior e também de criação e condução
de cursos de especialização em petróleo. (CALDAS, 2005: 10).
Além dessa dificuldade de falta de profissionais na área, outro
problema levantado pelo CNP foi a realidade referente à exploração do petróleo no
Brasil, em específico em 1947.
a) 35% da área do Brasil (mais de 3.000.000 Km²) é geològicamente suscetível de acumular petróleo. Quase nada se sabe, entretanto, a respeito da estrutura do subsolo correspondente a essa área e, menos ainda, do valor potencial das reservas petrolíferas que podem acumular. (TÁVORA, 1955: 73-74).
As dificuldades levantadas nas citações acima demonstram a
precariedade e ao mesmo tempo a necessidade de se achar petróleo no território
brasileiro; os investimentos e a carência estrutural.
O conflito entre dois tipos de nacionalismo tornou-se cada vez mais áspero. Ambos os lados – governo e indústria privada – queriam excluir os estrangeiros da pesquisa do petróleo, mas a indústria dispunha-se a arriscar o seu dinheiro e queria que os outros partilhassem do risco, enquanto o governo procurava proteger os cidadãos para que não fossem vitimados por companhias particulares superentusiastas. O papel de protetor do governo, contudo, era ineficaz, na falta de maior esforço por suplementar a iniciativa privada na pesquisa do petróleo. Na verdade, a atitude hostil dos geólogos governamentais para com a pesquisa pela iniciativa privada provavelmente retardou a exploração. (SMITH, 1976: 44).
Por trás disso tudo, destacamos que a indústria petrolífera brasileira foi
nacionalizada antes de descoberto o petróleo, com a criação do CNP. (SMITH,
1976). Outra observação ainda da época, era que países como a Venezuela, Bolívia já
avançavam na descoberta e produção de petróleo, enquanto o Brasil, o qual
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compreendia metade do território da América do Sul, pouco investia em pesquisas
de petróleo, e quase nada se encontrava.
Nacionalismo e petróleo estiveram inseparavelmente ligados na década de 1930, enquanto o Brasil se industrializava e buscava recursos energéticos; e, basicamente pela falta de informações a respeito da geologia do petróleo, o nacionalismo em torno do assunto assumiu uma condição mística, já que os brasileiros acreditavam que o subsolo fosse rico em petróleo e que as companhias internacionais em nada se deteriam para obtê-lo. O resultado de todos estes fatores foi o controle estatal do petróleo antes de ele ser descoberto no Brasil, e uma companhia estatal monopolizadora antes de criada uma indústria petrolífera digna do nome. (SMITH, 1976: 17-18).
A frase “O Petróleo é nosso”, símbolo da Campanha do Petróleo, se
tornaria a mais importante discussão na década de 40 por envolver diferentes
agentes. (CALDAS, 2005). Mas quais agentes seriam esses? Estudantes,
profissionais, os meios de comunicação, a população em geral. A Campanha mexeu
com os ideários nacionalistas da época.
Assim, cria-se a Petrobras em 1953, entrando em atividade apenas em
1954, a empresa se estrutura absorvendo as atividades pioneiras do CNP. E essas
atividades estavam muito voltadas para a formação de pessoal especializado em
Geologia.
Considerações finais
O petróleo se tornava a principal matéria econômica mundial, um
território de grandes proporções, rico em minerais, como o Brasil não seria rico em
petróleo? Eis a questão que por muito tempo atormentou a economia e política do
país. A busca insana por um território ainda a ser pesquisado.
Mas tarde, e explorado em outros artigos pelas autoras do trabalho, as
respostas a questões que envolvem a busca por petróleo, viria dos famosos
‘relatórios Link’. Mas Walter Link era estrangeiro, e “somente anos mais tarde os
estudiosos revelariam que as ideias e proposições de Link em relação ao petróleo
brasileiro eram verdadeiras”. (PEYERL, 2010, p. 97).
Fechando, vamos ao ponto que realmente nos trouxe a todo esse
levantamento histórico e geográfico da época aliados ao nacionalismo da época: a
presença de estrangeiros no Brasil, ou profissionais empregados pela CNP e
Petrobras, ou ainda, não só a presença, mas uma necessidade.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
CALDAS, Jorge Navaes. Uma história de sucesso: 50 anos de desenvolvimento de recursos humanos. Rio de Janeiro: PETROBRAS, c2005, 1. ed. 112p.: il.
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PEYERL, Drielli. A trajetória intelectual de Frederico Waldemar Lange (1911-1988) e a História das Geociências. Ponta Grossa, 2010. 116 f. [Dissertação (Mestrado em Gestão do Território) – Universidade Estadual de Ponta Grossa].
SMITH, Peter Seaborn. Petróleo e política no Brasil Moderno. Rio de Janeiro: Artenova, 1978.
TÁVORA, Juarez. O Petróleo para o Brasil. Rio de Janeiro, RJ: J. Olympio, 2 ed. 1955. 319p.
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Tiago Rodrigues Santos1 [email protected]
Universidade Estadual de Campinas
Guiomar Inez Germani2 [email protected]
Universidade Federal da Bahia
Palavras-chave: espaço geográfico, território, representação política
Introdução
Na história da sociedade brasileira perpassa a marcante condição inicial
de Colônia agro-exportadora. Durante os vários períodos históricos da sociedade
brasileira o campo e o rural sempre foi objeto de análise integradora da totalidade
das relações sociais. Numa sociedade marcada histórica e socialmente pela
característica de exportação de matérias-primas, o campo brasileiro se expressa
como possibilidade de se entender a formação da sociedade brasileira. Os impactos
da modernização do campo sobre os camponeses podem ser expressos de diversas
maneiras, sobretudo quando se destaca a militarização da questão agrária no Brasil,
como afirma Martins (1981). Por outro lado, Velho (1972, 1976) destaca a crescente
concentração da estrutura fundiária do País, com a expansão da fronteira agrícola,
possibilitada pelas políticas públicas do Estado para o setor agrícola. Conforme
aponta Grzybowski (1987) “A modernização foi a reforma agrária ao avesso, a
reforma para e pelo capital, aprofundando a concentração e a subordinando o
trabalho na agricultura à necessidade do capital” (GRZYBOWSKI, 1987, p. 78). O
salto produtivo da agricultura brasileira, nas décadas de 1970 e 1980, reativou sob
1 Doutorando em Ciências Sociais na Universidade Estadual de Campinas. É Licenciado em Ciências Sociais, Bacharel em Sociologia e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia. Integra o Projeto Integrado de Pesquisa GeografAR (CNPq/UFBA/POSGEO). 2 Doutora em Geografia pela Universidade de Barcelona. Coordenadora do Projeto Integrado de Pesquisa GeografAR (CNPq/UFBA/POSGEO), professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFBA e Bolsista de Produtividade do CNPq.
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maior força e potencialidade os conflitos no campo brasileiro, potencializando lutas
no plano político e ideológico sobre a questão agrária no país.
Vários autores apontam o aumento de concentração de terras resultante
do processo de modernização da agricultura. Saffioti (1985) apresenta o seguinte
dado: dos mais de 850 milhões de quilômetros quadrado da área territorial do Brasil,
em 1970 tínhamos 294 milhões de hectares com estabelecimentos agropecuários,
número este que salta para um total de 369 milhões de hectares, em 1980, segundo
dados do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) de 1980, um crescimento de 25% em apenas 10 anos3.
Em 1985 é proposto pelo Governo Sarney, como forma de amenizar os
conflitos no campo o Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA). O PNRA expôs
uma grande ferida na sociedade brasileira que é a propriedade e o aceso à terra.
Nesse sentido, este trabalho busca refletir como a discussão da representação
política pode ser tomada como elemento – e conceito – de análise das disputas
territoriais no país. No caso, temos como objeto de análise a disputa territorial no
campo brasileiro nos anos de 1980, quando entraram em cena o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com suas propostas para a reforma agrária,
e a União Democrática Ruralista (UDR), levantando a bandeira de “nenhuma
reforma agrária”.
A representação política e o espaço geográfico
O debate sobre a dimensão da representação política tem destaque nos
enfrentamentos teóricos e metodológicos das ciências sociais, em especial da
Ciência Política contemporânea. Desde “O Príncipe”, de Maquiavel, a Ciência Política
debate a função da representação dos sistemas de governo. Após a Segunda Guerra
Mundial, quando modelos de governos representativos tomaram a hegemonia da
condução da política na contemporaneidade, esse debate tem esquentado as
discussões sobre a dimensão da representação política. Se este é um debate
disciplinar da Ciência Política, quiçá da Sociologia, porque retomá-lo em um debate
geográfico? Em nosso olhar, a dimensão da política, e de suas formas como a
representação política, permite desvendar que o processo de formação e de gestão
do território perpassa pela seguinte questão: como as representações interferem nos
territórios? Qual a importância da discussão sobre representação para uma análise
3 Embora a base de dados do Censo Agropecuário do IBGE sejam os estabelecimentos agropecuários e a base do INCRA sejam as propriedades, podemos compreendê-las como complementares e ambas instituições ratificam da concentração de terras no Brasil nesse período.
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geográfica? Partindo deste pressuposto, compreendemos que as representações vão
ter papel imprescindível na formação e na ação sobre o território nacional. A
representação política, pelo formato de movimentos sociais, podem explicitar as
disputas das classes pela produção do espaço e domínio do território. Em nosso
caso a disputa entre as representações das classes dominantes e dos camponeses
pelas formas de acesso a terra tem um conteúdo que os permite compreender o
processo de disputa pelo território e pela fração do espaço.
MST e UDR: experiências de representações na disputa pelo espaço e pelo território
Diante do quadro de concentração fundiária do crescimento de
mobilizações e confrontos pela posse e uso da terra, abriu-se um vácuo de
representação específica da luta pela terra. Isso apontava a necessidade de
surgimento de uma representação que tivesse em seu objetivo lutar para se
modificar a estrutura fundiária da terra. Assim, em 1984, surge aquele que viria a ser
o movimento de luta pela terra de maior expressão de todo o país: o Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra, o MST. Diversos autores, com os quais concordamos,
apontam que a peculiaridade do MST vai se encontrar nas “fontes” presentes em
suas formações: a experiência do sindicalismo rural no processo de negociação com
o Estado; o trabalho de base, elemento importante na atuação da CPT, e, sobretudo,
as várias experiências de ocupações das Ligas Camponesas. É, todo esse “caldo”,
aliadas às condições estruturais da sociedade brasileira, que possibilita o surgimento
do MST. Isso significa afirmar que a representação nasce sob o signo da luta pelo
acesso a terra, isto é, o objetivo do movimento é a conquista da terra e,
consequentemente, o rompimento do monopólio desta, bem como com um público
específico: os sem terras. O MST conseguiu a proeza de colocar a reforma agrária,
via desapropriação, na ordem do dia, buscando se afastar de uma discussão de
política agrícola que tanto baseou outras entidades, como a CONTAG.
Ao propor ocupações de terras e de órgãos públicos o MST nasce com a
identidade de rompimento com a ordem. Ao tocar em “clausulas pétreas” da
sociedade brasileira como a questão da propriedade privada da terra, o MST discute
o fundamento básico do capitalismo. Criado em 1984, em seu primeiro Encontro em
Cascavel (PR) em janeiro de 1985, realizou seu I Congresso, em Curitiba (PR) como
mais de 1500 trabalhadores de 23 estados da Federação. Desse modo, os sem terras
era a fração do campesinato a ser representada pelo MST.
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A Proposta do I PNRA, lançado em abril de 1985, em pleno Congresso
dos Trabalhadores Rurais, foi mais que expressão dos conflitos de classe que estava
por vir. As classes dominantes, principalmente a burguesia industrial e financeira
que, nas décadas de 1970 e 1980, tinham investido em terras e ganhado subsídios e
privilégios do Estado para terem acesso mais fácil à terra, precisavam de um porta-
voz que tivesse como bandeira de luta “nenhuma reforma agrária”. Essa
representação específica não tardaria a surgir. Era a possibilidade, e necessidade
para as classes dominantes, para o nascimento da União Democrática Ruralista, a
UDR.
Em julho de 1985, apenas três meses depois do lançamento da Proposta
do PNRA, em meio à discussão do PNRA e a crise de representação, surge em Goiás
a UDR. Ela surgia com o vácuo de representação deixado pelas outras entidades,
que não conseguiram levantar a bandeira de que nenhuma reforma agrária devesse
ser feita. A UDR, logo no inicio, deixava claro que o seu objetivo era a demarcação do
principio da propriedade da terra como questão absoluta, isto é, não passível de
discussão sobre sua posse e seu uso. Em apenas dois meses, principalmente a sua
explicita tática de agir com violência, a entidade se expande por Goiás, São Paulo,
Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraná, Espírito Santo.
A “vitória” da UDR viria ainda nos seis primeiros meses de sua atuação:
o Plano Nacional de Reforma Agrária, foi apresentado, como vimos, em um Decreto
que desconfigurava a Proposta apresentada em abril daquele mesmo ano. Entretanto
a própria entidade tinha o desafio de não permitir a execução dos planos regionais,
batalha que estava aos poucos sendo ganha, mas tinha ainda a grande batalha a ser
travada: a questão da terra na Constituinte de 1987. Ai ela usa a experiência do lobby
como arma principal naquele espaço. Dessa forma, o sonho da reforma agrária
massiva e intensa foi enterrado junto com o surgimento de uma “Nova República”.
GRZYBOWSKI, Cândido. Caminhos e descaminhos dos movimentos sociais no campo. Petrópolis; Rio de Janeiro: Vozes, 1987.
HARVEY, David. Espaços de esperança. São Paulo: Loyola, 2004.
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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
André Pasti [email protected]
Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: globalização, Telesur, América Latina, circulação de informação,
território usado
Uma transformação importante na produção e circulação de notícias na
América Latina ocorreu em 2005, quando foi criada a Televisión del Sur — Telesur —
rede multiestatal de iniciativa do governo venezuelano em conjunto com Cuba,
Uruguai e Argentina, e com a participação posterior de Bolívia, Equador e Nicarágua.
Segundo a própria Telesur (apud MENDES, 2008) o canal nasce de uma evidente
necessidade latino-americana: contar com um meio que permita a todos os seus
habitantes difundir seus próprios valores, ideias e conteúdos, livre e de forma
igualitária. Despontaria, assim, como uma alternativa capaz de fazer frente ao
discurso único difundido pelas grandes corporações de mídia. Como aponta
Calderón (2005, p. 49), a Telesur é um projeto político de alguns estados latino-
americanos, especialmente da Venezuela, e um meio de “exportar” suas experiências
e ideias ao mundo. Segundo Nogueira (2009a; 2009b), nesse projeto político consta
também o fortalecimento da cultura comum latino-americana e a viabilização de um
projeto de integração regional.
Para compreender, a partir do território usado, a importância das
informações da Telesur, dois conceitos nos auxiliam: as noções de verticalidade e
horizontalidade. As verticalidades seriam os vetores da racionalidade superior e do
discurso hegemônico (SANTOS, 2006, p. 284-285). Elas criam interdependências
(que tendem a ser hierárquicas), “tanto mais numerosas e atuantes quanto maiores
as necessidades de cooperação entre lugares”. As horizontalidades seriam tanto o
lugar da finalidade imposta de fora, de longe e de cima, quanto o da
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contrafinalidade, localmente gerada. Conforme Santos (2006, p. 285), “o espaço se
compõe de uns e de outros desses recortes, inseparavelmente”. Considerando a
América Latina como uma totalidade, podemos compreender os círculos de
informações noticiosas da Telesur como horizontalidades.
Nesse sentido, e avançando no entendimento, torna-se necessária uma
distinção entre os circuitos informacionais ascendentes e descendentes (SILVA, 2010). Os
circuitos descendentes são aqueles baseados na informação que atinge
verticalmente os lugares, enquanto os circuitos informacionais ascendentes referem-
se aos “dinamismos mais arraigados ao lugar, ao dilema da sobrevivência, da
resistência e da reprodução” (SILVA, 2010, p. 2). Esses círculos ascendentes e
descendentes coexistem no espaço geográfico, que se apresenta como um campo de
conflitos entre forças descendentes (verticalidades) e ascendentes
(horizontalidades). Os círculos de notícias da Telesur podem ser compreendidos
como círculos ascendentes de informações na América Latina, contrapondo-se a
círculos descendentes das grandes agências de notícias e das redes de TV norte-
americanas.
A criação da Telesur não foi bem recebida pelas potências hegemônicas
mundiais. O congresso norte-americano aprovou uma medida para permitir
transmissões de TV e rádio à Venezuela, para enviar o que chamaram de
informações “precisas e objetivas”, contrapondo-se ao que chamaram de
“antiamericanismo” da Telesur (CALDERÓN, 2005, p. 51). Borges (2011) narra,
também, esforços norte-americanos para inviabilizar a Televisión del Sur, revelados
no vazamento de dados sigilosos norte-americanos pelo projeto wikileaks1. Entre esses esforços, estaria o fortalecimento da Voz da América, emissora estatal
americana de alcance internacional, e o convencimento dos governantes da região da
necessidade de apoio aos EUA, “de forma mais proativa”.
Em relação à produção de informações, a Telesur conta com sua matriz
em Caracas, na Venezuela, e correspondentes espalhados por outras cidades latino-
americanas. Como sua rede de correspondentes é limitada, a Telesur é, também,
consumidora de informações das agências transnacionais de notícias, como Reuters
e Agence France-Presse. A análise de sua rede ajuda a compreender, também, o fato
de diversas análises terem apontando um traço muito mais “venezuelano” do que
1 O wikileaks é um projeto que disponibiliza através de um website (wikileaks.org) informações confidenciais de governos e empresas, com o intuito de torná-las públicas. A principal base do projeto são dados confidenciais desde 2006 da diplomacia norte-americana.
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latino-americano no canal. Segundo estudo de Salö e Terenius (2007), a produção
dos programas concentra-se na Venezuela: enquanto a sede venezuelana da Telesur
realizou 168 programas exibidos, a Argentina, 21; a Colômbia e o Uruguai, 12;
México e Cuba, 6; Equador, 2; e Chile, Europa e Brasil apenas 1. Outro estudo, de
Ávila (2008, p. 64), demonstra que o tempo ocupado por cada país latino-americano
no noticiário da Telesur também privilegia demasiadamente a Venezuela: 26%2 das
informações são sobre este país, seguido por Bolívia e México (12%) e Colômbia
(8%), com o Brasil contando com apenas 3%.
Uma das estratégias da ampliação da atuação da Telesur em rede no
mundo e de sua produção de informações é a parceria com a rede de TV Al Jazira, do
Oriente Médio, organizada com semelhante proposta. Conforme Nogueira (2009a, p.
2), ambas estabeleceram entre si uma cooperação técnica e o intercâmbio de
programas e profissionais. Além disso, a Telesur possui mais de 30 parcerias com
emissoras de países latino-americanos. No Brasil, no entanto, a Telesur não
conseguiu a adesão desejada, pois o projeto político do governo Lula levou à criação
de uma rede de televisão estatal brasileira, a TV Brasil (CALDERÓN, 2005, p. 51).
Recentemente, um acordo entre os dois canais levou à incorporação de um noticiário
da TV Brasil — tratando de notícias brasileiras — à programação da Telesur.
Para a compreensão da rede da Telesur é importante, ainda,
investigarmos seu alcance territorial. Para tanto, propomos uma distinção entre o
alcance potencial, dado apenas pela possibilidade técnica, do que chamamos alcance
territorial, correspondente a essa possibilidade técnica realizada no território, isto é,
na circulação de fato existente no território e, nesse caso, no consumo das
informações. Em relação ao alcance potencial da Telesur, partimos da abrangência do
sinal no espaço mundial. O sinal aberto abrange apenas a Venezuela: Caracas,
Barquisimeto, Valencia, Puerto La Cruz, Maracaibo, Maracay e Barcelona (CANO,
2009, p. 136). Em escala mundial, o sinal é distribuído gratuitamente via satélite
para: a América Latina, com o satélite NSS806; a Europa e o noroeste de África, por
meio dos satélites Hotbird 8, Hispasat IC e Astra 1M (TELESUR, 2011). Todavia, sua
penetração nas informações que efetivamente circulam e são consumidas no
território não acompanham essa possibilidade técnica. Assim, para compreender a
circulação de notícias nos territórios latino-americanos e os atuais limites aos
2 Outro levantamento feito por Ávila (2008, p. 63) revela um número ainda maior: 43% do noticiário sobre a própria Venezuela. Todavia, este levantamento poderia estar com a amostra incorreta, em função de grandes eventos políticos que ocorreram na Venezuela durante o período analisado.
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círculos de informações noticiosas ascendentes, propomos o entendimento de que
há círculos dominantes em alcance territorial. Esses círculos seriam aqueles cujas
redes atingem mais lugares e pessoas e cujas informações são mais consumidas.
Considerando as especificidades de cada formação socioespacial latino-americana
no que se refere às comunicações, o entendimento de que as informações da Telesur
não penetram, em muitos casos — como o brasileiro3 — nesses círculos
dominantes de informações, nos aponta limites da informação contra-hegemônica.
Concordamos com Santos (2000, p. 38) quando afirma que no atual
período o modo como a informação é oferecida à humanidade constitui uma
violência central do sistema ideológico hegemônico. Consideramos que resistência à
violência da informação deve se basear na união de diversas ações, entre as quais
destacamos, com Ribeiro (2000, p. 22), a ampliação do acesso social às novas
técnicas, a defesa de usos transformadores dessas novas tecnologias e de novas
normas que garantam o controle social dessas redes informacionais do atual
período. Assim tem caminhado a luta pela democratização das comunicações em
toda a América Latina, e importantes passos foram dados, entre os quais
destacamos: a criação e expansão da rede da Telesur; as novas normas — mais
progressistas — de comunicação na Argentina e no Equador e o resgate desse
debate em outros países; o fortalecimento da pauta da universalização do acesso à
banda larga de internet; e a união de movimentos sociais de diversos países em prol
da democratização da mídia na América Latina.
Os círculos de informações ascendentes que surgem na América Latina
despontam como alternativas às verticalidades na produção de notícias. Todavia,
como afirma Sel (2009, p. 16), a batalha por uma outra comunicação envolve uma
guerra assimétrica, já que os grupos concentrados de capital que detêm o poder
político comandam, também, os meios de comunicação.
3 De forma ilustrativa, as dez primeiras referências à Telesur no acervo do jornal de maior circulação no país, a Folha de S. Paulo, todos de 2005, são críticas às ações do canal.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
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ige.unicamp.br/cact/semana2012
Gabriela de Costa Gomes Silva [email protected]
Instituto de Geociências
Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: produção de informação, urbanização do território, IBOPE
A informação adquire um papel de destaque na atual fase do mundo
capitalista e seus fluxos comandam a dinâmica da sociedade e dos objetos por ela
criados (RAFFESTIN, 1993). O processo de globalização, subsidiado pelo avançado
aparato técnico- informacional e por decisões políticas acerca dos fluxos de capitais,
reorganiza o espaço mundial de acordo com os interesses das grandes corporações
promovendo uma verdadeira “tirania das determinações econômicas” (ISNARD,
1982, p. 239).
O mundo globalizado é, em certa medida, o mundo do conhecimento
unido pela informação, (MATTELART, 1994). A ciência, a tecnologia e a informação
“estão na própria base da produção, da utilização e do funcionamento do espaço”
(SANTOS, 2002 p.238). “Entender a realidade hoje é entendê-la como realidade
informacional” (MOSTAFA, 1994 p. 23).
Neste mundo capitalista globalizado, carregado de significados
racionalizados e onde a informação se tornou variável chave para a reprodução do
capital, surgem um conjunto de novas empresas e profissões que ganharam
destaque no período atual. São aquelas que lidam diretamente com a obtenção e o
“tratamento” da informação, para que esta possa ser convertida posteriormente em
mercadorias para os agentes (políticos e econômicos) que delas precisam dispor.
Dentre essas empresas se destacam as de consultoria, publicidade, marketing e as
de pesquisa de mercado.
Neste universo de empresas destacamos, por sua vez, as agências de
pesquisa de mercado, já que desde o pós-guerra elas têm tido papel importante na
difusão e modelagem do consumo em escala planetária e no Brasil, como é o caso
da brasileira IBOPE. Essas grandes empresas procuram estabelecer suas sedes nas
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grandes metrópoles que se constituem nos nós das redes mundiais, onde as
oportunidades estão sempre presentes dada a densidade de possíveis negócios que
existem na metrópole, não importando a que preço seja essa localização privilegiada
(LENCIONI, 2008). Ponderamos, assim, que o atual aprofundamento da divisão do
trabalho repercute diretamente em novos conteúdos da metropolização.
No Brasil, um país que alcançou relativamente tarde seu processo de
modernização capitalista e urbanização, uma empresa que detenha o conhecimento
estratégico relativo às mais variadas características da sociedade, lidera a dianteira
no direcionamento racional dos recursos que, por sua vez, compreendem os usos do
território.
Está aí a relevância estratégica de uma empresa de pesquisa do porte do
Grupo IBOPE. Seu alvo principal é a sociedade e suas mais íntimas características
nos seus mais variáveis níveis sociais e econômicos, “o IBOPE entende de gente”
<www.ibope.com.br>. Centenas de pesquisas são produzidas e encomendadas por
ano, o que demonstra o caráter essencialmente dinâmico do capital que mobiliza a
informação e transforma constantemente as feições de uma sociedade cada vez mais
imersa na racionalidade do consumo, o que reflete na construção de um território
cada vez mais racionalizado do ponto de vista do capital, e irracional do ponto de
vista das relações humanas.
O objetivo deste trabalho, fazendo um estudo de caso da principal
empresa de pesquisa de mercado do país e de grande relevância mundial, o Grupo
IBOPE, é compreender, seguindo as ideias que norteiam o pensamento geográfico
contemporâneo acerca da informação como variável chave do mundo globalizado,
como essa empresa atua e se articula no território nacional para a busca e a
produção da informação, para que esta, posteriormente, possa ser utilizada pelos
agentes representantes do capital na produção e nos usos do território nacional.
Como este trabalho encontra-se em execução muitas questões surgiram
com o levantamento dos dados iniciais e, pode-se perceber, como primeiros
resultados, que com o trabalho imaterial figurando como nova tendência no mundo
contemporâneo (ANTUNES, 2000), o IBOPE reforça a sua relevância frente às novas
necessidades do capital em constante expansão. Como agente que lida diretamente
com o trabalho imaterial, ou seja, com a produção, a coleta e a distribuição da
informação, empregando grandes contingentes de profissionais ligados ao trabalho
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intelectual, o Grupo IBOPE se insere perfeitamente no mundo globalizado,
adquirindo um papel cada vez mais necessário ao mercado.
No território nacional podemos afirmar que é o Grupo IBOPE quem
assume a dianteira no trabalho intelectual voltado aos negócios, quando surge na
década de 1940 com o objetivo de pesquisar a opinião pública, e algum tempo
depois, com o seu crescimento gradativo, passa a se ligar indiretamente com a
produção do espaço, uma vez que se transforma em ferramenta indispensável aos
agentes do poder público e econômico.
ISNARD, H. O espaço geográfico. Coimbra, Portugal. Livraria Almedina, 1982.
LENCIONI, S. Concentração e
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Melissa Maria Veloso Steda [email protected]
Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: internet, redes telemáticas, território brasileiro
“O acesso em banda larga (...) é pressuposto para o desenvolvimento
econômico e social do país”, afirmava o Governo Federal em 2010, no documento-
base do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) (BRASIL, 2010, p. 16). Há poucas
décadas, essa afirmação não faria nenhum sentido; hoje, o acesso à informação
pode ser considerado uma condição para o desenvolvimento e a universalização da
banda larga um meio para suplantar a seletividade da difusão espacial da inovação
tecnológica.
Diante dessa expressão do período técnico-científico e informacional
(SANTOS, 1994), este trabalho propõe compreender as circunstâncias nas quais o
Governo Federal formulou a proposta do PNBL, a partir de 2009, bem como os
objetivos do programa. Como princípio de método, é fundamental considerar a
relevância do estudo das redes geográficas, dado que um dos principais atributos do
período histórico atual é a constante busca por fluidez — e esta, por sua vez, está
baseada nas redes técnicas (SANTOS, 2009, p. 274).
Partimos da concepção de Santos (1994, 2007) de que a base do
entendimento do espaço geográfico é o uso do território e que, para fazê-lo com
plenitude, é preciso compreender o fenômeno técnico (SANTOS, 2009, p. 37) — ou
a combinação de técnica e política. Tendo em vista que hoje estamos diante de uma
profusão de objetos técnicos com difusão espacial cada vez mais rápida, que
conhecem diferentes arranjos sistêmicos e levam à constante implantação de novas
bases normativas, há uma série de aspectos passíveis de análise do ponto de vista
da Geografia. Considerando ainda que, no período atual, as redes de comunicação e
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circulação asseguram a mobilidade e a fluidez do capital e do trabalho1, e as
tecnologias da informação, por sua vez, são imprescindíveis para a obtenção de uma
crescente padronização técnica dos sistemas produtivos, o estudo das redes
telemáticas é caminho para entender as relações políticas, sociais e econômicas que
compõem as dinâmicas do espaço geográfico.
Atualmente, cerca de 38% dos domicílios brasileiros possuem
computador com acesso à internet, sendo que, destes, há hoje 17,4 milhões de lares
com acesso à banda larga — um crescimento de 87 vezes na última década,
correspondente a quase 58 milhões de usuários. Além disso, entre os Censos de
2000 e 2010, o número de usuários de telefonia móvel no país cresceu 775% (ou
179,7 milhões de pessoas)2, sinalizando uma tendência, nos próximos anos, para o
uso desse tipo de aparelho também para o acesso à internet.
Dessa forma, o PNBL, proposto pelo Governo Federal com a intenção
principal de “massificar, até 2014, a oferta de acessos de banda larga e promover o
crescimento da capacidade da infraestrutura de telecomunicações do país”,
objetivando resultados sociais e econômicos (BRASIL, 2009, p. 9), procura diminuir
os custos do acesso à banda larga, de modo a permitir, inclusive, maior
acessibilidade à população. As ações do Plano, segundo matriz apresentada pelo
Governo Federal (BRASIL, 2010, p. 50), incidem sobre a normatização de
infraestrutura; a regulação de serviços; incentivos fiscais e financeiros ao serviço; a
política produtiva e tecnológica; a rede nacional da Telebrás; e os conteúdos e
aplicações do programa.
O Governo Federal afirma ainda, no documento base do PNBL (BRASIL,
2010, p. 10), que “um programa para massificação da banda larga tem efeitos
virtuosos, equaliza oportunidades, gera empregos e propicia crescimento do PIB”.
Tomando o acesso à internet como condição de cidadania e fundamental para a
1 “O alargamento dos contextos possibilitado pela eficácia das redes torna também possível aquilo que Marx previra quanto ao uso do território: a diminuição da arena da produção e o alargamento de sua área. Os progressos técnicos e científicos permitem produzir muito mais utilizando uma porção menor de espaço, graças aos enormes ganhos de produtividade. Esses mesmos progressos, que incluem as telecomunicações, permitem um intercâmbio ainda mais eficaz sobre áreas mais vastas. É sobre essa base que se edificam, ao mesmo tempo, a divisão social do trabalho, que reparte, e a cooperação, que unifica” (SANTOS, 2009, p. 278). 2 Informações da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), com base em dados preliminares do último Censo, realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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crescente democratização da comunicação no país, um plano de alcance nacional,
como o PNBL, é ainda importante meio de ampliação da conectividade3 dos lugares.
No âmbito de ministérios como os de Comunicações e de Ciência e
Tecnologia, vêm ocorrendo leilões de faixas de radiofrequência e desenvolvimento de
satélites de comunicação para ampliação da oferta do serviço no país. Para tal, são
feitos acordos com grandes empresas do ramo de telecomunicações, brasileiras e
estrangeiras, a fim de conduzir uma modernização nos sistemas técnicos para
oferecimento de banda larga no país, seja ela fixa (por meio de cabos telefônicos e de
fibra óptica) ou móvel (via equipamentos de radiofrequência). Por outro lado, há
organizações que se reúnem em grupos como o Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação, a fim de fiscalizar as ações do governo e propor
alternativas a partir da sociedade civil, o que inclui a análise das políticas de
universalização de serviços de comunicação (incluindo a internet) que vêm sendo
implementadas. Os pequenos provedores de internet, por sua vez, também
reivindicam maior apoio do governo, argumentando que suas propostas para o
PNBL não foram executadas.
Considerando o papel das redes como instrumento técnico e político
fundamental para a organização, a regulação e o uso dos territórios, com objetivos
de viabilizar estratégias de circulação e comunicação no espaço geográfico, elas
também se colocam como uma das bases geográficas da globalização e da
afirmação do atual paradigma produtivo, firmado nas novas tecnologias de
informação e comunicação. Tendo em vista que a difusão das redes telemáticas nos
territórios é guiada, sobretudo, pela implantação de sistemas técnicos imbuídos de
tecnologias da informação, estas são fundamentais na busca por cada vez mais
rapidez e agilidade na transmissão de dados e ordens em escala global.
Castells e Cardoso (2005, p. 17) falam, inclusive, na emergência de um
“novo paradigma tecnológico, baseado nas tecnologias de informação e
comunicação”. Alinhados com Benakouche (2007), ressaltam a necessidade de que
não se desvincule a análise das tecnologias (e da internet, inclusive) dos aspectos
sociais de utilização das redes. A depender das intencionalidades envolvidas na
instalação de infraestruturas de circulação e comunicação, desenvolvem-se usos
hegemônicos ou solidários das redes, o que suscita diversas implicações do ponto
3 Conectividade é como se chama a parcela da acessibilidade específica da internet.
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de vista geográfico. Como, então, realizar de forma justa a integração territorial e a
inclusão digital na “sexta economia do mundo”?
Dentre os elementos fundamentais para uma política de inclusão social
no Brasil, Dantas (2003, p. 41) propõe o desenvolvimento e a adoção de softwares
livres, governo eletrônico e democratização das comunicações, além da
universalização do acesso às telecomunicações e à internet. Por fim, concordamos
com o mesmo autor (2003, p. 40) ao considerar a imensa importância de se lutar
pela constituição de uma “rede pública de informática e telecomunicações que seja
não apenas, e menos, um meio técnico a serviço da sociedade, mas sobretudo um
meio de produção de conteúdos comunitários e cidadãos – um espaço onde a
informação possa circular como presente, e não como valor”.
Santos (1994) observa que “o território é o suporte de redes que
transportam regras e normas utilitárias, parciais, parcializadas, egoístas”. Dessa
forma, é fundamental pensar a implantação de grandes sistemas técnicos, como os
de universalização de internet de banda larga, também do ponto de vista político.
Analisando-se uma tecnologia como essa, pode-se pensar que, ao tomar como
prioridade e propor para o país todo a universalização do acesso, o Governo Federal
procura adaptar o território nacional, em certa medida, para o funcionamento de um
mercado global que necessita de velocidades mais e mais altas para manter um
funcionamento eficaz.
Além disso, ao organizar o aporte de novas tecnologias no território
nacional, o Estado também vem estabelecendo um diálogo contínuo com as grandes
empresas do setor de telecomunicações. Trata-se, na verdade, de um processo de
integração financeira do território (interna e externamente); objetiva-se reduzir o que
Santos e Silveira (2011) denominaram áreas opacas, em termos de densidade
técnica e informacional, o que demanda ainda grande esforço e atuação estatal.
Assim, uma tecnologia como a banda larga é de grande serventia para possibilitar o
funcionamento de um sistema que exige cada vez mais o “tempo real”: há que se ter
uma base técnica que possibilite certo grau (cada vez maior) de comunicação entre
os lugares. Podemos afirmar, então, que a escolha de tornar prioridade determinada
tecnologia pressupõe, acima de tudo, uma discussão política, que pode e deve ser
debatida à luz da Geografia.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
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ige.unicamp.br/cact/semana2012
Wagner Wendt Nabarro [email protected] Instituto de Geociências
Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: informação, finanças, território brasileiro
Tendo em vista que a informação se constitui como variável-chave do
período atual e que as finanças exercem fundamental importância para a economia
globalizada, buscamos compreender como os fluxos de informações financeiras se
distribuem pelo espaço geográfico. Com essa perspectiva, investigamos as relações
estabelecidas pelo fornecimento e uso dessas informações no território brasileiro,
tomando por base a agência Bloomberg, que no presente momento figura como
uma das maiores agências especializadas no fornecimento desse tipo de informação.
A informação, em todas as suas formas, “é o vetor fundamental do
processo social e os territórios são, dessa forma, equipados para facilitar a sua
circulação” (SANTOS, 2006, p. 238). No período atual, passa a ser tratada como um
produto, passível de apropriação e portador de valor de troca (DANTAS, 2003). Silva
(2001, p. 110) apresenta uma diferenciação entre as informações banais e as
informações estratégicas, que são aquelas “destinadas à produção e manipuladas
pelas firmas”, classificação na qual se enquadra a informação financeira, veiculada
com o intuito de ser funcional às operações de mercado. Cabe lembrar que os fluxos
informacionais são, hoje, “os mais voláteis e menos controláveis” (DIAS, 2005, p.
11), sendo assim fundamental entender as consequências da movimentação das
informações estratégicas, tendo em vista a economia nacional.
Para Chesnais (1998, p. 12), a mundialização financeira representa “as
estreitas ligações entre os sistemas monetários e mercados financeiros nacionais”, e
foi justamente com ela que a globalização deu seus primeiros passos, com as praças
financeiras passando a integrar um mercado global (MATTELART, 2000, p. 123).
Podemos falar, hoje, de uma unicidade da técnica e de uma unicidade do tempo
(SANTOS, 2006), das quais tiram proveito os atores hegemônicos para
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movimentarem suas redes e realizarem a mais-valia hegemônica, utilizando sistemas
técnicos que permitem uma ação instantânea em diversos pontos do planeta.
É nesse contexto que surgem as agências de informação financeira, para
atender e permitir a manutenção do mercado global. É importante ressaltar a
complexidade metodológica existente na denominação dessas agências, que
complica a delimitação de um setor de informações financeiras. Isso porque as
atividades de empresas dessa área englobam desde notícias a análises e dados
estatísticos1, e elas atuam em diversos nichos dos serviços financeiros, desde
consultoria a investidores pessoais até divulgação televisiva. Consideramos como
agências as empresas mais generalistas nessa atividade, Reuters, Bloomberg e Dow
Jones.
A globalização financeira, para Warf (1989, p. 262), tem sido vantajosa
para se vender informações financeiras. Dias (2005, p. 62) nos diz que “o valor da
informação financeira reside na extraordinária poupança de tempo que as
tecnologias da comunicação proporcionam”, poupança essa essencial para um
mercado que depende cada vez mais de operações instantâneas. Isso tem
rebatimento na circulação das notícias, que deve ocorrer de forma cada vez mais
rápida, e chegamos ao que Moretzsohn (2005) denomina “fetiche da velocidade”,
em que a velocidade passa a ser ela própria mercadoria, ocultando as informações
que estão por trás dela, nas notícias.
Cabe, dessa forma, investigar as implicações da presença de escritórios
estrangeiros de informação financeira no território brasileiro, o que permitirá
compreender parte das concepções de mundo, de mercado e de Estado que chegam
ao país, e como este as recebe, regulariza e utiliza. Não podemos esquecer, afinal,
que conforme Santos (2001, p. 101),
no território a finança global instala-se como a regra das regras, um conjunto de normas que escorre, imperioso, sobre a totalidade do edifício social, ignorando as estruturas vigentes, para melhor poder contrariá-las, impondo outras estruturas.
A empresa Bloomberg L.P. foi organizada em 1981 por Michael
Bloomberg, que tornou-se prefeito da cidade de Nova York em 2002, cargo que
exerce até o presente momento. A agência cresceu rapidamente desde sua criação
(MACHIN; NIBLOCK, 2010, p. 785), apesar de ter surgido em um mercado que já era
consolidado e dominado, essencialmente, pela agência de notícias Reuters e pela
1 Para uma tipologia das informações financeiras, consultar Pasti (2010, p. 26), que apresenta um quadro de informações de suporte ao mercado de capitais.
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Dow Jones & Company. O crescimento da agência dependeu dos contatos e
informações privilegiadas que seu criador detinha em Wall Street. Outro fator
imprescindível no desenvolvimento da empresa foi o apelo para a “marca
Bloomberg”, que inclui a figura de seu terminal de consulta, utilizado para acessar
todas as suas informações, e uma imagem de “confiança” passada a seus usuários,
o que a permitiu vender mais, ainda que com preços superiores aos dos
concorrentes (CRAIG, 2001, p. 9). Em pouco tempo, se tornou uma forte
competidora das demais agências, e hoje domina o que se pode chamar de
“mercado de informações financeiras”, juntamente com a Reuters. Ambas estão em
um momento de grande rivalidade, sendo apontada a superação pela Bloomberg em
determinados quesitos (FLAMM, 2012).
A Bloomberg iniciou suas atividades fornecendo um sistema para
consulta de cotações de títulos de valor, vindo a consolidar um sistema global de
agenciamento de notícias em 1990 (BLOOMBERG, 2012), atuando hoje em
praticamente todos os serviços financeiros. Tais serviços ficam todos disponíveis em
seu terminal de consulta, que pode ser alugado, mas também em diversos outros
meios de divulgação, desde a internet até suas publicações próprias, contando com
as revistas “Businessweek” e “Markets” e o canal Bloomberg TV. Atualmente,
movimenta uma rede de mais de 15.000 funcionários em 192 localizações
(BLOOMBERG, 2012), fornecendo serviços para investidores, sejam eles empresas
ou indivíduos, além de notícias para jornais e revistas.
Dado o panorama do funcionamento da Bloomberg em escala global,
atentamos para sua atuação recente no território brasileiro. A agência possui nele
três escritórios, localizados nos centros de gestão do território (CORREA, 1996): São
Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Concentra suas atividades em São Paulo, a
metrópole informacional (SILVA, 2001), em um escritório localizado na avenida
Nações Unidas, numa região que vem sendo considerada uma nova centralidade
paulistana. A agência mobiliza vendas de serviços no país e coleta e distribui notícias
e dados, tendo firmado acordo com a BM&F Bovespa, e tendo também oferecido um
canal de televisão em português entre 2004 e 2010, encerrado por mudanças na
estrutura de difusão da empresa (CAMPOS, 2010). Fornece notícias para os
principais jornais brasileiros, tanto generalistas quanto especializados, entre os quais
se destaca o Valor Econômico.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
O interesse na coleta de informações no território brasileiro é
declaradamente crescente, com a ampliação da presença da Bloomberg no Brasil e o
lançamento de um serviço de notícias em português em tempo real em 2010
(CAMPOS, 2010). Segundo o editor-chefe do serviço de notícias da agência, a
expansão “está diretamente relacionada ao aumento do interesse de investidores
estrangeiros de todos os grandes centros financeiros mundiais no Brasil”. Outra
demonstração do interesse pelo país é a ocorrência das “Bloomberg Brazil Economic
Summit” em 2011 (São Paulo) e 2012 (Rio de Janeiro), reuniões para as quais foram
convidados grandes investidores para conferências e “troca de ideias” sobre
oportunidades econômicas no país.
Tendo em vista a atuação descrita, refletimos sobre as implicações de
informações tão verticais incidindo sobre pontos específicos do território brasileiro,
certamente afetando a economia nacional, pois é direcionada justamente para os
investidores ativos no mercado financeiro, sejam eles empresas ou pessoas. São
informações, além disso, com carga ideológica, pois mesmo que se considere
apenas os números, cotações e análises gráficas, já trazem consigo uma lógica de
aceleração, fluidez financeira e, no caso das análises que apresentam, de
favorecimentos e desfavorecimentos (ainda que baseados na racionalidade
científica) de empresas ou mesmo territórios.
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ige.unicamp.br/cact/semana2012
Bruno Pereira do Nascimento [email protected]
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Palavras-chave: gentrificação, cidade- empresa, cultura
Este trabalho faz parte do rol de atividades desenvolvidas no Programa de
Educação Tutorial (PET/Geografia/UFRJ). A pesquisa foi realizada entre os meses de
fevereiro a julho de 2012 e estudou os impactos originados pelo fechamento do
terminal rodoviário Mariano Procópio, no qual se localizava na Praça Mauá, a
população que o utilizava e ao comércio no seu entorno, associando isto ao
processo de gentrificação.
A gentrificação é um processo que significa “enobrecimento” do espaço
urbano, muitas vezes ideologicamente chamado pelos seus órgãos executores de
“revitalização”, com ocorrência predominante nas áreas centrais de grandes cidades,
em espaços que constituem atrativos aos grandes capitais, sobretudo pelas suas
privilegiadas posições geográficas.
Paralelo às revitalizações ainda há a (re)valorização imobiliária, assim
encarecendo a terra urbana. Desta forma, as pessoas de menor poder aquisitivo que
vivem e/ou utilizam estes espaços, acabam sendo expulsas pela pressão dos
capitais.
Esta pesquisa analisou os impactos do projeto “Porto Maravilha” sobre o
já fechado terminal rodoviário Mariano Procópio. Este terminal atendia cerca de
cinco milhões de passageiros diariamente, com aproximadamente mil ônibus, em
deslocamentos entre o Rio de Janeiro e localidades da Região Metropolitana,
principalmente, municípios da baixada fluminense, como Nova Iguaçu, Duque de
Caxias, São João de Meriti, Vilar dos Teles, Mesquita, Nilópolis, Cosmorama e Jardim
Redentor.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Devido a anos de obsolescência econômica, a zona portuária do Rio de
Janeiro passou muito tempo sem renovações urbanísticas. Contudo, devido aos
mega eventos que serão sediados na cidade, houve uma valorização do seu centro e
paralelo a isto uma atração dos capitais imobiliários e encarecimento do solo
urbano. A zona portuária do centro do Rio de Janeiro se encontra implantada nesta
lógica. A cidade está se inserindo em um contexto de “cidade empresa” no qual sua
imagem é primordial para atração de capital, isto acontece porque a cidade vira uma
“mercadoria” e embelezamentos urbanos se fazem necessários, como a distribuição
esculturas, museus e edifícios de elevado padrão, atraindo aqueles que têm
condições de escolher onde viver ou trabalhar.
O fechamento do terminal rodoviário Mariano Procópio, que se localizava
na Praça Mauá, para ser substituído pelo Museu de Arte do Rio (MAR) e a Escola do
Olhar está ligado ao conceito de “cidade empresa”. Desta forma, grande parte da
população de trabalhadores que realizava deslocamentos pendulares cotidianos terá
sua rotina alterada e passarão a frequentar outras áreas que estão fora da área de
interesse do projeto traçado pela prefeitura do Rio de Janeiro.
Este trabalho possui como objetivo principal a produção de uma análise
crítica referente às espacialidades concernentes ao processo de gentrificação da zona
portuária da cidade do Rio de Janeiro, executado pelo Consórcio Porto Maravilha.
O projeto propõe, ainda, associar as espacialidades que estão sendo
modificadas pelas obras que a região estudada está sofrendo com o conceito de
“cidade empresa cultural”.
Dentre as análises contidas no projeto, está sendo estudada uma
redistribuição espacial de pessoas, devido à especulação imobiliária e ao aumento
do valor do solo. Paralelo a isto temos impactos sofridos, principalmente, pelo
comércio local e pela população proveniente da baixada fluminense, cujo teve seus
ônibus deslocados da área de maior interesse do consórcio Porto Maravilha, a Praça
Mauá (onde se localizava o terminal rodoviário Mariano Procópio), em até 500
metros, ficando espalhados em pontos provisórios na Av. Venezuela.
Segundo Arantes (2007) “a cultura surge como uma espécie de isca,
capaz de atrair o investimento privado, subordinando, mesmo, o interesse público e
promovendo a especulação, nomeadamente a imobiliária.” Ou seja, ainda segundo a
autora, há um “culturalismo de mercado”, em que a centralidade da cultura é cada
vez mais comandada pela consolidação da “cidade-empresa-cultural”.
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Com o período da globalização atingindo níveis complexos o consumo
passa a ser crescente e consequentemente a cidade passa a ser observada como
uma mercadoria disponível a tal consumo.
Feitas algumas considerações, a “imagem” passa a ser o principal
motivador do consumo de uma considerada cultura. Neste aspecto o conteúdo
socioeconômico das cidades passa a conviver com grandes alterações. O solo teve
uma utilização mais densa em conjunto com a valorização de certas áreas, que dão
base ao termo “cidade mercadoria-total” feita por Arantes.
O trabalho de planejadores urbanos e dos provedores culturais na
formação da cidade como uma mercadoria responde a pergunta de “quem faz a
cidade?” e “para quem se faz a cidade?”. Os grandes estruturadores e
reorganizadores das cidades passam a ser as grandes empresas que as moldam de
maneira a atrair aqueles que têm o poder da escolha e o capital cultural para as áreas
favorecidas.
Nesse sentido a questão imobiliária recebe novos aspectos no que diz
respeito a valorização. As áreas em que se encontram as grandes obras de
infraestrutura e de revitalizações irão receber pessoas com o poder de “consumo
cultural”. Para isso deve-se estruturar espacialmente de acordo com a necessidade
desse grupo social que irá consumir a “cidade-mercadoria”.
Este trabalho procurou levantar e compreender as desigualdades
territoriais, oriundas de uma política de desenvolvimento urbano caracterizado pela
estratificação e segregação espacial da população vinda da Baixada Fluminense, em
ônibus intermunicipais, da principal área de interesse de refuncionalização na zona
portuária do Rio de Janeiro, através do consórcio Porto Maravilha.
A população mencionada acima, cerca de 5 milhões de pessoas,
diariamente, em dias comerciais, foi realocada em até cerca de 500 metros do antigo
terminal rodoviário Mariano Procópio, ficando em pontos provisórios no decorrer da
Avenida Venezuela. No espaço onde ficava o terminal, na Praça Mauá, serão
construídos o museu Mar e a Escola do Olhar, além de ficar próximo do Museu do
Amanhã (que será erguido no Píer Mauá).
Este caso de deslocamento territorial sofrido por moradores da baixada
fluminense, para sua posterior substituição por outra classe populacional, mais
abastada, está sendo motivado por uma estratégia de (re)valorização do solo urbano
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em áreas de interesse no centro da cidade do Rio de Janeiro. Um caso nítido de
gentrificação.
ARANTES, O. VAINER, C. MARICATO, E. (org.) A Cidade do Pensamento Único
desmanchando consensos. Petrópolis: Vozes, 2007. 2ª ed. 192p.
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Thiago Rodrigues Leite [email protected]
Universidade Federal de São Carlos – Campus Sorocaba
Palavras-chave: Valorização, espaço, urbano, centralidade, cotidiano
A cidade de Sorocaba, situada aproximadamente a cem quilômetros da
metrópole de São Paulo, apresenta atualmente um expressivo processo de
diversificação e intensificação de sua economia. Concomitante à consolidação desta
cidade como importante polo regional do setor terciário, observa-se profundo
incremento dos negócios associados ao setor imobiliário e da construção civil.
A cidade de Sorocaba vem se caracterizando como um “verdadeiro canteiro
de obras” e seus principais eixos de expansão urbana são observados nos setores
norte e leste do Município. Nesta pesquisa, propõe-se a análise e compreensão do
processo de valorização espacial e formação de uma nova centralidade no eixo de
expansão urbana definido pela Avenida São Paulo, na denominada Zona Leste da
cidade de Sorocaba, também conhecida como “Além Ponte”.
Além da valorização imobiliária, expressa pelo processo de verticalização,
pelo aumento da oferta de serviços e a boa acessibilidade (proximidade com a
Rodovia Raposo Tavares à leste e com a Avenida Dom Aguirre, marginal do Rio
Sorocaba, a oeste), a Zona Leste da cidade se destaca ainda pelos atributos de
ordem ambiental. A área de estudo se encontra no vetor sudeste do Município, onde
se configura importante Área de Proteção Permanente (APP), relacionadas às áreas
de proteção aos mananciais.
1 Projeto financiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
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Ou seja, ao mesmo tempo em que o atributo natural a ser preservado
(nascentes, cursos d’água, matas galerias) dificulta a implantação de
empreendimentos associados à expansão urbana, este mesmo atributo valoriza
ainda mais este espaço. Por sua vez, observa-se o desencadeando de um maior
interesse por parte das classes sociais mais elevadas em residir e estar neste setor da
cidade. O setor imobiliário e de construção civil vislumbram possibilidades de
sucesso com seus empreendimentos que, além de serem apresentados como
modernos, também possuem os atributos de valorização associados à “qualidade
ambiental”. Essa problemática vem sendo abordada pelo Plano Diretor de Sorocaba
que reúne dirigentes e estudiosos de várias áreas do conhecimento, no sentido de
rediscutir as diretrizes do crescimento urbano e suas consequências.
Pelo fato da Zona Leste ter se transformado drasticamente num período
relativamente curto de tempo, propõe-se no escopo desta pesquisa a análise das
etapas que desencadearam esse processo de valorização espacial, seus impactos
urbanos, econômicos, ambientais e sociais. Associado ao processo de valorização
imobiliária, propõe-se a análise e compreensão da configuração de uma nova
centralidade urbana que se consolida no eixo definido pela Avenida São Paulo, uma
das principais vias de acesso à cidade (com acesso ao centro histórico pela Rua XV
de novembro, percurso que define um dos trechos do antigo “caminho das tropas”).
Estas considerações têm como base o processo de ocupação que já ocorre com
grande força no setor imobiliário (principalmente condomínios de alto padrão), o
início do processo de verticalização que e a terceira ampliação do shopping Granja
Olga, além das galerias e serviços variados que estão buscando esse eixo de
expansão urbana em Sorocaba. Por sua vez, este setor da cidade apresenta uma
densa e fina rede hídrica com matas galerias que englobam áreas de nascentes da
bacia do Rio Sorocaba. Observa-se que o atributo ambiental tem sido mobilizado
para o marketing dos condomínios fechados que, gradativamente, avançam sobre a
cobertura vegetal que aos poucos vai se restringindo às matas galerias de fundo de
vale.
A delimitação do recorte de estudo foi feita entre duas vias, a Avenida
Nogueira Padilha e a Rodovia José Hermínio de Moraes (Castelinho). O foco do
estudo está baseado no desenvolvimento que vem ocorrendo nas margens da
Avenida São Paulo, a qual entra em conjunção com a Raposo Tavares. Essas vias de
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circulação tem um papel norteador do crescimento da mancha urbana em relação à
organização espacial encontrada na Zona Leste do Município de Sorocaba (Figura 1).
Entre as referências analisadas, o embasamento teórico tem como central as
contribuições de Lefebvre (2008) que norteou as escalas de análise desta pesquisa.
Neste trabalho, a concepção do urbano foi trabalhada em níveis e dimensões, como
o mesmo descreve no capitulo “Análise Espectral” em sua obra “A Revolução
Urbana”.
Assim, analisamos o crescimento urbano e possíveis tendências de
transformação dos níveis. O nível G, correspondendo às influências e interferências
globais nos modos de produção e transformação do espaço; o nível M,
correspondendo ao nível da especulação e ação dos agentes imobiliários, esses por
sua vez fazem a mediação entre os níveis G e o P, sendo este último o nível privado,
das relações sociais mais próximas, que correspondem às alterações do próprio
cotidiano.
Este trabalho, embora esteja em andamento, já possui uma série de
resultados parciais dos quais resultaram em hipóteses interessantes que auxiliam a
compreensão do fenômeno urbano e suas peculiaridades a partir do olhar da
Geografia.
Figura 1: A Zona Leste de Sorocaba e seus principais eixos. Elaboração: Ariane Borges Falleiros Pini, 2012
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Deyse Fabrício [email protected]
Douglas Souza [email protected]
Gabriel Lima [email protected]
Jonathas Paghi [email protected]
Viviane Gomes de Araújo [email protected]
Frederico Zilioti Amorim [email protected]
Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: mídia, globalização,trabalho de campo
O presente artigo aborda o trabalho realizado na Escola Estadual Felipe
Cantúsio, em Campinas, no período de agosto de 2011 a julho de 2012, como parte
das atividades programadas no subprojeto PIBID-Geografia da Unicamp, que está
subdivido em três grandes eixos temáticos, a saber: globalização, modernização da
agricultura e grandes obras. Dentre estes eixos, o presente trabalho focalizará o
primeiro, isto é, a globalização, tendo como objetivo principal refletir sobre as
contradições do espaço produzidas na cidade de Campinas, utilizando como
metodologia intervenções em sala de aula em uma turma do segundo ano do Ensino
Médio, por meio de dinâmicas de discussões, visando à apresentação do programa,
das propostas de atividades, dos anseios e, sobretudo, a abertura para
questionamentos de novas propostas de observação e estudos dos processos de
construção paisagística de Campinas, que desde o século XIX, foi adquirindo a sua
importância nacional e, na atualidade, uma importância mundial.
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Para a realização das intervenções em sala de aula, onde sempre havia
um docente da escola presente, por meio dos diálogos pré-estabelecidos entre a
Escola Estadual Felipe Cantúsio e o grupo PIBID Geografia – Unicamp precisávamos
de algo que realmente atraísse os alunos, ou seja, em primeiro lugar buscávamos
sempre organizar a sala de aula de formas diferentes: às vezes em pequenos grupos
de quatro pessoas, ou também se fazia um grande círculo de discussões, ou ainda, a
sala poderia manter-se na sua forma original, mas com os bolsistas sempre
próximos aos alunos, não para vigiá-los, mas para incitá-los a conversarem e
trocarem ieéias, compartilhando suas impressões sobre Campinas e os resultados
das reflexões realizadas em grupo.
Como resultado desta dinâmica, conseguimos que os alunos nos
ouvissem e que expressassem alguns conceitos geográficos, como o de paisagem,
que foi amplamente trabalhado considerando que o tema geral do subprojeto de
Geografia no PIBID se dedica à compreensão e leituras de mundo a partir das
paisagens e dos sons da cidade.
Para melhor aproximar os conteúdos programáticos com o eixo temático
em tela – globalização - e com a categoria geográfica paisagem propusemos a
realização de um trabalho de campo, aproximando, então, a teoria e a realidade,
possibilitando uma formação baseada na práxis. Consideramos o trabalho de campo
como uma atividade empírica capaz de revelar a contradição de desenvolvimento no
terceiro mundo, onde os alunos puderam se deparar com uma realidade que é
próxima do seu cotidiano, e o nosso papel foi o de possibilitar olhares diferentes
àquelas paisagens que transmitem presente, passado e futuro da cidade.
A escolha pelo estudo das paisagens não foi por acaso, pois somente no
contexto da paisagem foi que pudemos trabalhar os processos históricos da
formação sócio-territorial da cidade de Campinas.
O trabalho de campo
O trabalho de campo abordou vários pontos da cidade de Campinas, a
saber: Aeroporto de Viracopos, Parque Oziel, o Swiss Park, o Cemitério da Saudade e
o estádio da Ponte Preta. No início do campo foi distribuído um roteiro para os
alunos escreverem suas considerações prévias sobre esses pontos da cidade. Além
desses pontos previamente selecionados, durante todo o trajeto no trabalho de
campo abordamos as relações sociais que se instauram no espaço e, por isso,
percebemos também as desigualdades presentes em Campinas. Isso ficou nítido
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quando abordamos o Parque Oziel e o Swiss Park. Também foram trabalhados os
conceitos de centro e periferia, pois o Parque Oziel não fica distante do centro de
Campinas. Por isso, o conceito se encaixa não apenas na distância, mas inclui a
carência em infraestruturas.
No aeroporto abordamos as fases de industrialização de Campinas até
chegarmos à época mais recente, de globalização e a interação que o aeroporto
estabelece entre Campinas e o mundo, exportando e importando produtos com alta
tecnologia agregada. Foram discutidas questões acerca das iniciativas do PAC, para a
ampliação do aeroporto e as consequentes desapropriações no Jardim Campo Belo.
Breve reflexão sobre os trabalhos apresentados e considerações finais
Após a realização do trabalho de campo pedimos para os alunos
elaborarem uma sistematização de duas páginas, abordando os pontos visitados,
bem como a elaboração de um croqui. Lembramos, também, que durante o trabalho
de campo distribuímos aos alunos um roteiro com várias imagens extraídas do
Google Maps sobre os lugares a serem visitados.
Os trabalhos entregues pelos alunos foram muito satisfatórios, embora
possamos perceber alguns erros de ortografia e de acentuação. A princípio, era para
entregar duas páginas e mais um desenho. Os grupos, porém, extrapolaram esse
limite, discorrendo em várias páginas sobre o tema abordado.
Dessa maneira encerramos nossas atividades com os alunos por esse
semestre, ressalvando a importância dos trabalhos de campo na disciplina
geográfica. Para entendermos melhor a complexidade das relações entre a sociedade
e a natureza os trabalhos de campo se mostram muito oportunos, nos colocando,
através de um conhecimento prático, em interação com nosso objeto de estudo. “É
preciso apreender a prática, a técnica, a pesquisa, a ciência e a reflexão do trabalho
de campo. É preciso compreender a dimensão do humano em Geografia (...)”
(SILVA, 1982, p.53).
SILVA, A. C. Natureza do trabalho de campo em Geografia Humana e suas limitações. In: Revista do
Departamento de Geografia. São Paulo: USP, 1982, n. 1, p.49-54.
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Débora Resende Cordeiro [email protected]
Alison Alves [email protected]
Angélica Ribeiro [email protected]
Giovanni Miranda [email protected]
Greisse Castro [email protected]
Universidade Federal de Minas Gerais
Palavras-chave: ensino-aprendizagem, EJA, docentes, Geografia, saberes, alunos
Na UFMG, os projetos voltados para a rescolarização de jovens e adultos,
em seus estados incipientes, foram estruturados por professores da Faculdade de
Educação e da Faculdade de Letras a fim de alfabetizar os funcionários da própria
universidade. De meados da década de 1980, que datou o surgimento dos projetos,
ate o presente, a EJA (Educação de Jovens e Adultos) na UFMG foi alvo de profundas
modificações e interrupções. Entretanto, não foram constatadas mudanças na
estrutura básica dos projetos de educação de jovens e adultos, que pautam pela
priorização da escolarização e rescolariazação de jovens e adultos e a formação
docente de monitores-professores, bolsistas amparados pelo PROEX, PRORH e
CEALE. A educação de jovens e adultos não se limita apenas à aquisição de códigos,
que é a fase inicial da alfabetização, inerente à leitura e à escrita, mas também
possibilita esse cidadão a exercer plenamente a sua cidadania fazendo uso desses
códigos de forma social. Por esse aspecto a escolarização de jovens e adultos na
UFMG apresenta uma proposta diferenciada de alfabetização ímpar, e estranha ao
ensino regular.
A alfabetização de jovens e adultos na UFMG se ramifica em três
projetos: PROEF-1, PROEF-2 e PENJA. O PROEF (Projeto de Ensino Fundamental de
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Jovens e Adultos) se subdivide em 2 segmentos, sendo o que o PROEF-1 trata da
escolarização equivalente às 1ª a 4ª séries e o PROEF-2 da continuidade ao ensino
fundamental abordando os conteúdos referentes às 5 a 8 séries. Por fim, o PEMJA
(Projeto de Ensino Médio de Jovens e Adultos) conclui o ciclo da educação básica
abordando todo o conteúdo do Ensino Médio.
Para esse trabalho pretende-se priorizar o trabalho desenvolvido no
PROEF-2, que é um projeto de extensão e ensino ligado à Pró-Reitoria de Extensão da
UFMG que além de proporcionar a formação mútua entre professores-monitores,
alunos dos cursos de licenciatura da UFMG, e adultos em processo de escolarização,
também oferece condições para pesquisa e produção de conhecimento por parte de
educadores e coordenadores que estudam os processos referentes ao EJA.
No PROEF-2 a proposta para o ensino de Geografia é constantemente
reformulada e fruto de discussões e debates entre os professores-monitores e os
coordenadores de área que se ocupam em relatar e discutir algumas vertentes
teóricas e a prática dentro de sala de aula. A educação geográfica no projeto é
estruturada a base de uma visão que os membros envolvidos têm de geografia e de
ensino-aprendizagem em harmonia com as normas gerais do PROEF o que o
particulariza de outros cursos voltados para a educação de jovens e adultos. A
concepção de Geografia que se pretende passar para os alunos é a de ciência sócio-
espacial preocupada em estudar alterações espaciais que se dão no âmbito do
espaço geográfico e se concretizam na paisagem. Assim, objetiva-se estudar a
produção do espaço geográfico que se da pelas alterações sofridas no meio natural
pelas relações sociais em diferentes contextos históricos, mediadas pelo trabalho e
motivadas pela constate luta pela sobrevivência humana. Desse modo, é relevante
ressaltar as mais variadas relações dos elementos físicos e sociais para entender a
Geografia como ciência sócio-espacial. E para incitar no aluno certo domínio da
linguagem geográfica, ele deve sempre estar em contato com os procedimentos
metodológicos da construção de conhecimentos geográficos, trabalhar sempre com
a noção de escala dos fenômenos e dominar aspectos inerentes à localização e
orientação e às categorias da Geografia. Para tanto, sempre é viável o uso da
cartografia como forma de representação do espaço geográfico, dentre gráficos e
tabelas que os aproximam com o conhecimento geográfico.
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Através dessa abordagem, os membros do projeto acreditam que
possam proporcionar ao aluno um entendimento de que a Geografia pode ser capaz
de guia-lo a compreender e reinterpretar o seu dia a dia fazendo o link entre suas
vivências e o que foi exposto no decorrer do semestre. É interessante também que o
aluno passe a tratar a Geografia não como um saber enciclopédico em que são
catalogados os parâmetros exatos de informações precisas, porem desconexas dos
fenômenos e dos países. Pelo contrário, no PROEF-2 é priorizada toda uma
construção de sentidos entre o aluno com o seu saber prévio e o conteúdo abordado,
a fim de que ele possa entender o seu papel como indivíduo e sujeito social do seu
tempo histórico, e a determinar quais são os agentes e os mecanismos envolvidos
no processo de metamorfose do espaço socialmente habitado.
Com o intuito de colaborar com as práticas docentes, esse trabalho
propõe discutir o processo de ensino-aprendizagem na Educação de Jovens e
Adultos (EJA), nas práticas docentes de Geografia. Serão discutidos os saberes que
os jovens e adultos construíram em suas vivências cotidianas e consequentemente
trazem para a escola. Além disso, buscar-se-á entender as várias facetas desses
saberes da vivência desses sujeitos, que podem acarretar diversos diálogos em sala
de aula, mas que podem também causar alguns conflitos durante as práticas
escolares. Isso porque, as práticas docentes são marcadas, sobretudo pelos
conhecimentos acadêmicos. Mas o aluno apreende do professor não
necessariamente o que o outro quer ensinar, mas aquilo que quer aprender. Assim, o
aprendizado do aluno pode ir de encontro aos conhecimentos disponibilizados pelo
professor. Tal proposta se justifica, pois devido à observações, durante as práticas
escolares de Geografia no PROEF II, feitas pela equipe de educadores que, por vezes,
entra em conflito por encontrar dificuldades em trabalhar esses saberes pré-
escolares nas práticas docentes. Portanto, este trabalho pode corroborar para a
discussão da importância do papel das vivências sociais dos alunos como fonte rica
de saberes que devem ser levados em consideração na escola para uma efetiva
aprendizagem da geografia, mas também devem ser bem analisados e dialogar com
os conhecimentos escolares para evitar conflitos e dúvidas durante o processo
educacional. Desta forma, serão apresentadas as percepções dos sujeitos inseridos
nesse processo, tanto aluno, quanto professor.
O aluno da Educação de Jovens e Adultos é um sujeito portador de
uma amplitude de conhecimentos construídos a partir da sua experiência e das suas
vivências. Tendo isto em mente, o objetivo do trabalho é procurar perceber, discutir
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e desvendar como este conhecimento do aluno se apresenta para os educadores da
EJA e em especial para os da Geografia. Para tanto, tais saberes serão tratados em
duas perspectivas diferentes. Primeiro como um desafio para o docente, uma vez
que muitas vezes os conhecimentos dos alunos manifestam-se como representações
tradicionais arraigadas em relação à escola e a Geografia, o que pode entrar em
conflito com a proposta do docente e com os próprios conteúdos dessa disciplina.
Segundo como possibilidade de diálogo, pois a experiência do alunado apresenta-se
também na forma de um conhecimento do espaço.
O trabalho objetiva também apresentar e relatar situações concretas,
retiradas de nossa prática como educadores de Geografia na EJA, que evidencie uma
das perspectivas anteriormente citadas. O intuito é perceber como as
particularidades da Educação de Jovens e Adultos e dos seus sujeitos efetivam-se na
experiência do docente e no cotidiano da sala de aula.
Por fim, pretende-se retirar o sujeito da Educação de Jovens e Adultos
desta categorização genérica e abstrata. Para tanto, é necessário conhecer e escutar
estes próprios sujeitos. Sendo assim, conta-se com a participação de alguns alunos
PROEF 2 da UFMG, para que estes relatem sua experiência como alunos da EJA,
apresentando os desafios enfrentados, as suas demandas e esperanças e o impacto
do processo de escolarização em suas vidas. Além disso, pretende-se enfatizar a
relação desses alunos com a Geografia, buscando conhecer as expectativas prévias,
as decepções, a aprendizagem e a contextualização em relação a essa disciplina que
os alunos da EJA apresentam.
Tendo em vista a multiplicidade de fatores que influenciam os processos
do ensino-aprendizagem na EJA, faz-se necessário estabelecer um dialógo entre os
sujeitos destas práticas. Dessa forma, no artigo proposto, pretende-se discutir as
repercussões desses processos para os docentes e em especial para o ensino da
Geografia. Esta se baseará nas discussões sobre os possíveis diálogos e/ou conflitos
entre os saberes pré-construídos que os alunos trazem para a sala de aula e a
Geografia escolar.
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ALVES, Ana Paula Aparecida Ferreira; SAHR, Cicilian Luiza Löwen. Geografia Ensinada – Geografia Vivida? Conceitos e Abordagens para o Ensino Fundamental no Paraná. Florianópolis. 2009.
ROSA, Pedro Senna da; LUTHER,
Alessandra. O Ensino de Geografia na Educação de Jovens e Adutos à Luz da Pedagogia Anarquista. 10º ENPEG – Encontro Nacional de Prática de Ensino em Geografia, 2009, Porto Alegre.
BUENO, Thiago da Silva; CALLAI, Helena
Copetti. A Geografia da Vida Cotidiana. 10º ENPEG – Encontro Nacional de Prática de Ensino em Geografia, 2009, Porto Alegre.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia.
Saberes necessários à prática educativa. SãoPaulo: Paz e terra, 1996.
OLIVEIRA, Edna de Castro de.
Identidade(s) da EJA: conquistas, desafios e estratégias de luta.UFES/Fórum Capixaba de EJA.
RESENDE, M. S. A Geografia do aluno
trabalhador. São Paulo, Loyola, 1986.
VESENTINI, J.W. Geografia e ensino:
textos críticos. Campinas, Papirus, 1989.
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Fernando Zanardo [email protected] Instituto de Geociências
Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: Pedagogia Libertária, Anarquismo, Ensino de Geografia
Partindo do conceito de Pedagogia definido por Libâneo (1993, p.52),
compreendemo-la como uma “concepção de direção do processo educativo
subordinada a uma concepção político-social”. Desta forma, pode-se dizer que
haveria tantas pedagogias quanto há diferentes concepções de Homem e de
sociedade, tornando perfeitamente plausível tratarmos de uma Pedagogia Libertária,
embasada no escopo teórico do Anarquismo.
Tomando-se seu significado etimológico, tal vocábulo é derivado
duplamente do grego: a raiz archon, que significa governo ou governante; é
antecedida pelo prefixo an, indicando negação. Sendo assim, o Anarquismo designa-
se pela condição de ausência de um governo ou governante. De maneira a evitar
ainda a sua má interpretação – resultante de processos históricos, sobrecarregando
o termo de definições negativas, sendo geralmente classificado como a negação da
ordem1 – atemo-nos à definição elaborada em 1905 por Piotr Kropotkin que o define
1 Com relação a esta ideia de desordem, Kropotkin dirá: “De que ordem se trata? Trata-se da harmonia com que nós, anarquistas, sonhamos? Da harmonia que se estabelecerá livremente nas relações humanas, quando a Humanidade deixar de estar dividida em duas classes, uma das quais sacrificada em proveito da outra? Da harmonia que surgirá de modo espontâneo da solidariedade dos interesses, quando todos os homens forem uma única e mesma família, quando cada um trabalhará pelo bem-estar de todos, e pelo bem-estar de cada um? Aqueles que censuram a anarquia, dizendo ser ela a negação da ordem, não falam desta harmonia do futuro; falam da ordem tal como é concebida pela sociedade atual” (KROPOTKIN, 2001, p.89). Além disso, a auto-organização sempre foi, e continua sendo, uma matéria muito cara aos anarquistas, extremamente importante. Com relação à discussão sobre o duplo sentido atribuído ao termo Anarquismo – positivo e negativo –, consultar Silvio GALLO, Anarquismo: uma introdução filosófica e política (Rio de Janeiro: Ed. Achiamé, 2006).
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como um princípio ou uma teoria de vida e do comportamento (muito além da
Política ou da Economia),
que concebe uma sociedade sem governo, em que se obtém a harmonia, não pela submissão à lei, nem obediência à autoridade, mas por acordos livres estabelecidos entre os diversos grupos, territoriais e profissionais, livremente constituídos para a produção e consumo, e para a satisfação da infinita variedade de necessidades de um ser civilizado (KROPOTKIN, 1987, p.19).
Certamente o aspecto mais fecundo do Anarquismo encontra-se na sua
multiplicidade de pontos de vista. É baseado nessa incapacidade de se classificar
suas diversas tendências como algo “abstrato e definido, conceitualmente manejável
e concretamente perceptível” (COSTA, s.d.: 140) – ou seja, impossibilitando sua
classificação como uma mera doutrina ou seguindo a lógica de um programa
preestabelecido, o que acabaria por transformá-lo em uma reles matéria morta de
pensação2 – que geralmente considera-se este pensamento-prático em seu caráter
plural.
Calcando-se no princípio de liberdade como resultante de uma construção
social, o Anarquismo atribuiria ao ensino um papel fundamental neste pretenso
processo, uma vez que é através dele que as pessoas entrariam em “contato com
toda a cultura já produzida pela humanidade”. Sendo a liberdade um “fenômeno
social, de cultura, o contato com o produto da civilização é indispensável para sua
conquista” (GALLO, 1995, p.27). Caberia ao Homem, portanto, “adquirir novas
qualidades sem perder, ou melhor, reencontrando as qualidades de seus
antepassados” (CODELLO, 2007, p.204).
A principal premissa da Pedagogia Libertária estaria no fato de que
(...) o mais importante é ensinar às crianças como estudar. Ajudar as pessoas a desenvolver sua capacidade crítica e torna-las aptas a saber o que fazer com o conhecimento e não engoli-lo de qualquer maneira. A capacidade de ensinar o que as pessoas precisam aprender para sobreviver, e oferecer a elas os meios de satisfazerem suas necessidades –
2 Utilizamo-nos do neologismo “pensação” por acreditarmos que ilustraria melhor o caráter combativo do Anarquismo, uma vez que está completamente fora de cogitação o desenvolvimento de uma teoria anarquista sem a sua aplicação prática; da mesma forma que não pode haver uma verdadeira prática que não seja sustentada pela mesma teoria. A “pensação” traduz este caráter dual da teorização - ou pensamento - e da ação.
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é isso o que entendemos como as bases de uma pedagogia não-autoritária (FREIRE & BRITO, 1987, p.41-2).
Tomando como base esta assertiva, observamos o que Francesc Ferrer i
Guàrdia, idealizador da Escuela Moderna de Barcelona, irá desenvolver como prática
pedagógica nessa sua experiência. Contrastando com o que era oferecido à época3 e
mantendo um pulsante desejo de criar uma escola que fosse verdadeiramente livre,
sem as interferências do Estado e da Igreja, utilizou-se, para tal, de um Racionalismo
científico com a finalidade de minar o dogmatismo religioso e nacionalista que
imperava então.
Dentre as principais inovações metodológicas dessa experiência,
encontramos a coeducação entre sexos e entre classes sociais, com a finalidade de
não antecipar “nem ódios, nem adesões nem rebeldias” (FERRER I GUÀRDIA, 2010,
p.16); a não aplicação de exames probatórios, não existindo a necessidade de
prêmios ou castigos por partir de princípios de solidariedade e de igualdade, uma
vez que o ensino não pode ser predeterminado, sendo impossível definir-se a
aptidão ou incapacidade individual; a educação de higiene, principalmente devido às
péssimas condições em que se encontravam os ambientes de trabalho e nas
próprias moradias, “apresentando a sujeira como causa de enfermidade (...), e a
limpeza como agente principal de saúde” (FERRER I GUÀRDIA, 2010, p.19); a troca
de materiais entre escolas, como livros, cartas ou até mesmo a visita de grupos
estudantis a outras escolas; e a necessidade de formar professores racionalistas que
pudessem dar continuidade ao trabalho que vinha sendo realizado pela Escola
Moderna, uma vez que elas não eram laicas, “mas sim antiestatistas, anticapitalistas
e antireligiosas” (SAFÓN, 2003, p.38).
Dentro das inovações citadas, havia o completo apoio de Élisée Reclus.
Apesar de compulsoriamente esquecido pela Academia por não partilhar da visão
ortodoxa da burguesia e de suas conquistas coloniais, ele foi um influente pensador
3 Para se ter uma ideia de como era o ensino na Espanha de então, reproduzimos o seguinte trecho: “No início do século, a Espanha contava com 72% de analfabetos em sua população. Em 1909 (ano do assassinato de Ferrer), 30.000 vilarejos não tinham escola. A Igreja possuía 80% do ensino privado: 294 comunidades religiosas de ensino para a educação de meninos e 910 para a educação de meninas. Só na cidade de Barcelona as escolas confessionais elevavam-se a 489, contra 137 não confessionais, estatais ou privadas, as quais acolhiam apenas 20.000 alunos sobre uma população de 60.000 crianças a escolarizar” (SAFÓN, 2003, p.24-5).
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e ativista, caracterizando-se como um dos precursores da Geografia crítica. No
entanto, irá se opor ao fato de a Escola Moderna se utilizar de livros didáticos
(apesar de serem elaborados pela editora da própria escola), defendendo que “o
ensino oral, sugestivo, dado pelo que sabe aos que compreendem, é o melhor”
(RECLUS, 1903, p.68 – tradução livre).
O senhor entende porque odeio os livros escolares. Não há nada de mais funesto para a saúde intelectual e moral dos alunos. Eles apresentam a ciência como algo feito, terminado, assinalado, aprovado, tornado quase religião, a ponto de transformar-se em superstição. É um alimento morto e que mata (Élisée Reclus apud CODELLO, 2007, p.229).
Chama a atenção à importância de se possuir um método sólido para a
progressão dos estudos particulares, defendendo a atribuição de um caráter de
interdisciplinaridade ao ensino, assim como à Ciência. O verdadeiro método, para
ele, consistiria em “ver, recriar, e não repetir mnemonicamente” (RECLUS, 1903,
p.67 – tradução livre).
Defenderá, sobretudo na ciência geográfica, que o ensino parta do real,
do concreto; para posteriormente alcançar o que é subjetivo, até então inconcebível
às crianças. Também define que antes de se tratar de fenômenos de escala global,
primeiro deve-se trabalhar com o que é local, apresentando uma leitura geográfica
do que circunda a vida das crianças, fugindo do plano puramente teórico, o que
acabaria por demandar um “ato de fé” do estudante, indo a campo para observar os
objetos de estudo diretamente (Reclus, 1903).
Os trabalhos de campo deveriam substituir, portanto, os manuais e
formulários que acabavam afastando os alunos dos livros e da natureza por gerar
desinteresse. “Os programas limitam a inteligência, os questionários ancilosam-na,
os compêndios empobrecem-na e as frases prontas acabam por matá-la
completamente” (RECLUS, 2010, p.33). Ferrer irá se apropriar dessa ideia e a
colocará em prática na sua Escuela Moderna ao propor as excursões.
Com o surgimento dessas escolas no Brasil, tais atividades passam a ser
colocadas em prática, além das proposições em se “abrir espaço aos jogos e à
iniciativa dos próprios alunos” (MORAES, 2009), potencializando a autonomia
estudantil.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
Com relação à educação formal, não sabemos até que ponto uma
pedagogia libertária seria possível atualmente, uma vez que o Anarquismo sempre se
posicionou contra a reforma educacional dentro dos moldes do Estado burguês e
defendeu a ideia (princípio proudhoniano) de que “a emancipação dos trabalhadores
só pode ser obra deles mesmos” (GALLO, 1995, p.31).
Sendo o Estado moderno o proprietário dos instrumentos jurídicos,
compete a ele a “potência pública”, devendo promover, dentre outras funções, a
“coerção social em nome da justiça e a organização e desenvolvimento das
instituições que promovem os valores fundadores do contrato [social]” (GOMES,
2010, p.53), sendo a Escola um de seus elementos-chave. Em outras palavras, o que
pretendemos afirmar é que o papel das instituições tende a ser o de mero reprodutor
da sociedade, mantendo os privilégios. Desta forma, a subversão dentro do
ambiente escolar não seria apenas desejável, mas essencial para uma mudança
social efetiva.
CODELLO, Francesco. “A boa educação”: experiências libertárias e teorias anarquistas na Europa, de Godwin a Neill. vol.1. São Paulo: Imaginário/Ícone, 2007.
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Reynaldo Alves de. Utopia e paixão: a política do cotidiano. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
GALLO, Sílvio Donizetti de Oliveira.
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GOMES, Paulo César da Costa. A
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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
RECLUS, Élisée. La enseñanza de la Geografía. In: BOLETÍN de la Escuela Moderna. año II, núm.6. Barcelona, 31 marzo 1903.
______. O Homem e a Terra: educação.
São Paulo: Imaginário/Expressão & Arte, 2010.
SAFÓN, Ramón. O racionalismo combatente: Francisco Ferrer y Guardia. São Paulo:
Imaginário/IEL/Nu-Sol, 2003.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
Gustavo H. B. Teramatsu [email protected]
Maico Diego Machado
[email protected] Instituto de Geociências
Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: roteiros de campo, ensino de Geografia, ensino de Geociências
O já extinto curso de Ciências da Terra da Universidade Estadual de
Campinas, criado em 1998, era considerado inovador, pois continha um núcleo
comum de disciplinas introdutórias e interdisciplinares que aproximavam a
formação oferecida pelos cursos de Geografia e Geologia. Não é, entretanto, o que
acontece no ensino básico. Um rápido exame aos currículos escolares do Ensino
Médio, por exemplo, comprova que, como indica Toledo (2005), os conteúdos das
chamadas Geociências estão dispersos entre diversas disciplinas como a Física, a
Química, a Biologia e a Geografia, o que "bloqueia os mecanismos de análise de
problemas reais ao não facilitar a relação de conceitos, procedimentos e de atitudes,
trabalhados em diferentes disciplinas do currículo" (COMPIANI, 2007, p. 32).
Os alunos deste nível de ensino, portanto, têm sido formados sem um
verdadeiro entendimento do funcionamento interdependente da natureza e,
consequentemente, não conseguem dimensionar as consequências da degradação
ambiental e o uso dos recursos do planeta. Questiona-se:
1 O presente relato decorre das atividades realizadas ao longo da disciplina Estágio Supervisionado de Geografia II, no Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas. Agradecemos ao Prof. Dr. Maurício Compiani, orientador de estágio, à coordenadora pedagógica Márcia Marinho e ao colega Marlon Marchetti, professor de Geografia e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino e História de Ciência da Terra do IG-Unicamp que nos acompanhou na E. E. Francisco Álvares, em Campinas.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Como pode um cidadão ser crítico, interpretar, fazer julgamentos, atuar na sociedade (que basicamente ocupa o ambiente e usa seus materiais e fenômenos), encontrando-se privado de conhecimentos sobre o funcionamento e a organização, a gênese e a evolução do planeta e de seus ambientes e materiais, sobre as interações físicas, químicas e bioquímicas das interferências humanas na natureza? A resposta é: não pode (TOLEDO, 2005, p. 33)
Em outras palavras, com a formação cidadã e holística esperada na
educação básica, os alunos devem entender a sociedade inserida dentro da complexa
dinâmica do sistema terra, o que passa, num primeiro momento, pela compreensão
mais abstrata de que modo as esferas terrestres se relacionam. A partir daí, para
além de uma visão utilitarista e imediatista da apropriação dos recursos naturais,
como aponta Toledo, podem conseguir estabelecer relações entre os ciclos da
natureza e as atividades humanas para, então, entender ambas criticamente. Desta
forma, a compreensão destes conteúdos certamente tem a contribuir para uma
mudança da práxis no que se refere à própria ocupação do espaço geográfico.
Os diversos papéis didáticos dos trabalhos de campo
Neste sentido, defendemos que os trabalhos de campo são
fundamentais para que os alunos obtenham possibilidades de entendimento dos
processos físicos da Terra e do próprio espaço geográfico de um modo
verdadeiramente interdisciplinar. Scortegagna e Negrão (2005) destacam a função
didática do campo na formação do indivíduo e afirmam que estes permitem que os
alunos se posicionem diante do conhecimento científico, confrontando-o com sua
visão de mundo, para construir um saber mais próximo de sua realidade. De fato,
trata-se de etapa fundamental da metodologia da pesquisa geográfica e não pode ser
ignorada na Geografia escolar; ao contrário, deve ser incentivada. Compiani (2007, p.
36) exalta suas potencialidades afirmando que o trabalho de campo “é um excelente
ambiente de ensino e, se bem trabalhado, capaz de questionar a sala de aula
tradicional, fechada por quatro paredes, com um professor em posição inacessível,
distante”. Aponta também que é em campo que o estudante pode observar
evidências, adquirir informações e interpretá-las criticamente.
A elaboração de um roteiro de campo, desde o princípio, deve levar em
conta o exposto por Compiani e Carneiro (1993) que, ao discutirem os distintos
papéis didáticos do campo no ensino de Geologia no que se refere às excursões e
estudos do meio, propuseram uma classificação das excursões geológicas que pode
ige.unicamp.br/cact/semana2012
bem ser aplicada a outras disciplinas, como a Geografia. Considerando critérios
como os objetivos didáticos, a visão de ensino – formativa ou informativa –, o
método de ensino e a relação docente-aluno, entre outros, concluem que as
excursões podem ser divididas entre as seguintes categorias: ilustrativas, indutivas,
motivadoras, treinadoras ou investigativas, mas também enquadradas em mais de
uma delas. Scortegagna e Negrão (2005) avançam incluindo as saídas de campo
autônomas.
Um roteiro de campo ao longo da Rodovia D. Pedro I (SP-065)
Optamos por elaborar um itinerário de campo na região de Campinas a
ser aplicado no Ensino Médio2 e que mesclasse elementos das excursões indutivas e
motivadoras, buscando solucionar um problema – a identificação dos diversos tipos
rochosos como forma de introduzir o tema do ciclo das rochas – e, ao mesmo
tempo, realizar a observação mais ampla da paisagem e valorizar o conhecimento
tácito sobre a área de estudo, já que se tratou de um trabalho de campo realizado
em Campinas (SP) com estudantes ali nascidos3.
O município de Campinas está localizado na transição entre o Planalto
Atlântico e a Depressão Periférica, duas províncias fisiográficas paulistas (AB'SÁBER,
1956). Sendo assim, são perceptíveis na própria paisagem as diferenças, em termos
de litologia, drenagem, relevo e uso da terra, entre os terrenos do embasamento
cristalino e os terrenos dos depósitos sedimentares e basálticos da Bacia do Paraná.
Um roteiro de campo que traduza a diversidade da base física e a situação geográfica
privilegiada comentada acima, portanto, pode ser enriquecedor também do ponto de
vista pedagógico e geográfico, se tais aspectos estiverem relacionados ao contexto
histórico, político e econômico mais recente da ocupação humana, isto é, vinculado
à noção mais ampla de espaço geográfico. Desta maneira, propusemos um percurso
que avança em relação a Lopes (1988) e à sua atividade Geologia à beira da estrada
do Museu Dinâmico de Ciências de Campinas (MDCC), que, em muitos aspectos,
lembra a nossa. Aqui priorizamos os afloramentos mais acessíveis, o que explica a
2 Em 2010, a população em idade escolar entre 15 e 17 anos nos 19 municípios da Região Metropolitana de Campinas era de 130.241 jovens, segundo dados do Censo do IBGE. 3 O trabalho de campo foi realizado na manhã de 28 de maio de 2012 com estudantes da 1ª série do Ensino Médio da E. E. Francisco Álvares, em Campinas, com um roteiro semi-dirigido. Acompanhamos as aulas da
turma ao longo de um semestre. Por fim, os alunos apresentaram seminários temáticos.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
decisão de realizar o roteiro ao longo da Rodovia D. Pedro I. Hornink e Compiani
(2010), por seu turno, sugerem afloramentos da área e indicam orientações básicas,
como a importância de visitar os locais pretendidos durante a elaboração do roteiro,
a autorização dos responsáveis e dos registros da atividade de campo com
cadernetas e fotografias.
Executamos um roteiro (figura 1) com cinco paradas, que pode ser feito
durante um período, sem ser exaustivo, cujo objetivo é discutir a formação dos três
principais tipos de rochas (sedimentares, ígneas e metamórficas) e dos processos
associados, como intemperismo, erosão e formação de solos:
1. Pedreira do Cochilo (Rod. D. Pedro I, km 115) Pedreira desativada com matacões graníticos do Complexo Morungaba (590-560 Ma) em diferentes estágios de decomposição. Itens para discussão: formação de rochas ígneas intrusivas; intemperismo físico e químico; relevo e drenagem associados.
2. Trevo da Leroy Merlin (Rod. D. Pedro I, km 129) Afloramento de gnaisses do Complexo Amparo (2500-1800 Ma). Itens para discussão: metamorfismo e rochas metamórficas.
3. Afloramento próximo ao Shop. Galleria Contato das gnaisses com rochas sedimentares do Sub-grupo Itararé, Grupo Tubarão (290-251 Ma). Itens para discussão: rochas sedimentares; erosão glacial e idade relativa das rochas.
4. Afloramento próximo ao Campinas Hall Afloramento de diabásio intensamente fraturado. (120 Ma) originado por derramamentos sub-superficiais Presença de latossolos férteis. Itens para discussão: Rochas ígneas extrusivas; formação de solos; alteração da paisagem pela ação antrópica.
5. Unicamp Observação da paisagem (5a). Itens para discussão: Mudança das características do relevo; uso e ocupação da terra; erosão e rebaixamento do relevo; análise comparativa dos estágios de evolução do solo. Instituto de Geociências (5b e 5c). Possibilidade de contato com o ambiente universitário. Observação da vitrine de amostras e laboratórios. Discussão final do trabalho de campo.
Considerações finais
A ação no campo de estágio, a começar pelo tempo reduzido, é sempre
limitada. Neste sentido, aproveitamos esta etapa final obrigatória do curso de
licenciatura para ir além de uma pequena intervenção e elaborar o presente roteiro
de campo que ser melhorado por trabalhos futuros. Esperamos, de qualquer
maneira, ter contribuído para a formação desta pequena turma de alunos, mesmo
que apenas demonstrando que o mundo, de tão grande, não pode ser compreendido
apenas entre as quatro paredes de uma sala de aula, e que o conhecimento
geográfico pode e deve ser construído também fora dela.
Figura 1: Proposta de
roteiro de campo ao longo
da Rodovia D. Pedro I, em
Campinas e Valinhos, com
cinco paradas
ige.unicamp.br/cact/semana2012
AB'SÁBER, A. B. A Terra Paulista. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, Associação de Geógrafos Brasileiros, n. 23, jul. 156, pp. 5-38.
COMPIANI, M. O lugar e as escalas e
suas dimensões horizontal e vertical nos trabalhos práticos: implicações para o ensino de Ciências e Educação Ambiental. Ciência & Educação, v. 13, n. 1, pp. 29-45, 2007.
COMPIANI, M.; CARNEIRO, C.D.R. Os
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HORNINK, G. G., COMPIANI, M. GeoVirt
I: Campo virtual das rochas-tipo de Campinas. Geociências Virtual, 18 jun. 2010. Disponível em:
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educação em Geologia. Dissertação de mestrado. Campinas: Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, 1988.
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TOLEDO, M. C. M. Geociências no Ensino
Médio brasileiro – análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Revista do Instituto de Geociências, Geologia USP, publ. esp., São Paulo, vol. 3, p. 31-44, set. 2005.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Gustavo Vitor Moreira Fialho [email protected]
Universidade Federal de Alfenas
Palavras-chave: ensino, PIBID, docente
Hodiernamente no âmbito acadêmico, especialmente aqui no caso das
licenciaturas, uma discussão tem se tornado frequente no que tange a problemática
teoria/prática.
Os princípios e diretrizes que disciplinam o estágio supervisionado
fundamentam-se na LDB (lei 9394/96), deliberação 12/97 do Conselho Estadual de
Educação, Parecer CNE/CP 09/2001 e Parecer CNE/CP 28/2001. Segundo o Parecer
do Conselho Nacional de Educação (CNE/CP 09/2001), que estabelece as finalidades
do Estágio Supervisionado,
O estágio obrigatório definido por lei deve ser vivenciado durante o curso de formação e com tempo suficiente para abordar as diferentes dimensões da atuação profissional. Deve, de acordo com o projeto pedagógico próprio, se desenvolver a partir do início da segunda metade do curso, reservando-se um período final para a docência compartilhada, sob a supervisão da escola de formação, preferencialmente na condição de assistente de professores experientes.
Deste modo temos que todos os estudantes de licenciatura estão
obrigados a participarem de atividades de estágio de modo a vivenciarem o dia a dia
do ambiente de trabalho ao qual irão atuar após a conclusão do curso. Entretanto,
verifica-se que mesmo com essa obrigatoriedade essas atividades tem demonstrado
serem bastante frágeis na sua consecução.
[...] Uma preparação pedagógica que conduza a uma reconstrução da experiência por parte do professor-aprendiz pode ser altamente mobilizadora para a revisão e construção de novas formas de ensinar. O diálogo entre a experiência e a história, entre uma experiência e outra (ou outras), o confronto das práticas com as contribuições da teoria, com suas leis, princípios e categorias de análise, num movimento de desvelar, pela análise da prática, a teoria em ação, o processo de investigação da prática, de forma intencional, problematizando-a em seus resultados e no próprio processo efetivado, é um desafio e uma possibilidade metodológica na preparação pedagógica dos docentes universitários (PIMENTA et al. 2001).
ige.unicamp.br/cact/semana2012
Destarte, o objetivo deste artigo é explicitar as primeiras experiências
vivenciadas em sala de aula através do PIBID Geografia da Universidade Federal de
Alfenas de forma a problematizar a questão da teoria/prática.
Instituído em Junho de 2011 no curso de Geografia Licenciatura da
UNIFAL-MG, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência, PIBID,
sempre teve como concepção a discussão e problematização da práxis do licenciado
em sala de aula.
É um Programa promovido pela CAPES - Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior no Brasil, que visa incentivar a
formação de professores e promover a melhoria da qualidade da Educação Básica,
baseados na articulação integrada dos sistemas de Ensino Superior Federal com o da
Educação Básica pública, numa relação que beneficie ambas as partes.
Assim, em setembro do mesmo ano iniciou suas atividades na Escola
Estadual Samuel Engel na cidade Alfenas. Sendo a equipe composta por 10 alunos
bolsistas, uma professora da escola como supervisora e um professor da graduação
como coordenador do subprojeto.
Ressalta-se aqui que as atividades só começaram em setembro no âmbito
escolar devido ao fato de os professores da rede estadual do Estado de Minas Gerais
estarem em greve por melhores condições de trabalho.
Inicialmente as atividades desenvolvidas foram de acompanhamento do
docente responsável pela disciplina, sendo que a escola conta com 4 professores, e
seu público é composto por alunos do ensino fundamental II e médio.
A partir desse primeiro contato, foi feita uma divisão de horários entre os
alunos bolsistas para que estivessem na escola pelo menos 2 em cada turno durante
toda a semana, ou seja, sempre algum bolsista estaria desenvolvendo atividades no
âmbito da escola.
Como um dos pilares do PIBID Geografia sempre foi o trabalho em
equipe, as atividades desenvolvidas e as experiências cotidianas sempre eram
discutidas e relatadas durante a realização da reunião semanal, contribuindo para a
formação dos participantes.
Com o caminhar das atividades e o aprofundamento das relações com
os professores, foi propiciado o desenvolvimento de planos de aula para serem
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aplicados em sala de aula, tendo em vista algum tema que o professor estivesse
trabalhando com os alunos.
Trabalhando com alunos do 7º ano (2º semestre de 2011) e alunos do 8º
ano (1º semestre de 2012) ao lado da professora Franciane, consegui compreender
muitas questões que a teoria não era capaz de descrever, situações que só a vivência
da prática possibilitaria.
Foi possível desenvolver atividades que foram uteis aos alunos e
acabaram se transformando em artigos que foram socializados em eventos da
universidade, bem como propiciou um amadurecimento intelectual, mas acima de
tudo humano.
O contexto escolar por excelência é heterogêneo e compreender que
essas diferenças são importantes e devem ser observadas no contexto da sala de
aula faz toda diferença na construção do conhecimento.
Nessa perspectiva umas das primeiras atividades desenvolvidas foi fazer
uma pesquisa socioeconômica por amostragem com os alunos, para compreender e
melhor identificar o público da escola em que estaríamos atuando. Com esses dados
fica mais fácil verificar as metodologias que poderiam ser empregadas.
Os bolsistas desenvolveram um questionário on-line no qual os alunos
da escola puderam responder questões sobre sua percepção sobre a escola e o
ensino de Geografia. O levantamento foi feito a partir de amostragem de
30%, totalizando 281 alunos do ensino médio e fundamental nos turnos matutino e
vespertino.
Outra atividade desenvolvida junto a comunidade escolar diz respeito a
atividades em comemoração ao dia da árvore, onde cada turma da escola deveria
escolher uma árvore frutífera para plantar na escola, sendo que as característica
delas foram trabalhadas com os alunos.
Juntamente com a professora Franciane foi elaborado um projeto que
tentou desenvolver uma prática que tirasse a abstração dos seguintes conceitos:
densidade demográfica, país povoado, país populoso, população absoluta e
população relativa. Esse projeto acabou mostrando-se eficaz no seu objetivo tendo
se tornado um artigo publicado na II Semana de Socialização do PIBID da UNIFAL-
MG com o título de “Conceitos Demográficos: aspectos metodológicos aplicados no
contexto da prática escolar”.
Outro grande projeto desenvolvido pelo PIBID junto a escola,
denominado de “Concurso Cultural”, buscou trazer para a realidade escolar a prática
ige.unicamp.br/cact/semana2012
do trabalho de campo, realidade no contexto acadêmico, ainda é pouco utilizado na
educação básica.
Destaca-se aqui que em muitas ocasiões essas atividades não ocorrem
no contexto escolar, devido à estrutura existente nas escolas. Assim a sua realização
só foi possível devido à estrutura existente no PIBID, que dispõe de recursos
orçamentários e bolsistas que têm uma carga horária semanal para se dedicar à sua
consecução.
O concurso consistiu na discussão sobre os aspectos físico-sociais-
ambientais através de debates relacionados aos temas da Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, onde seriam selecionados 35
alunos para participar das atividades de campo, que foram realizadas no perímetro
urbano de Alfenas, MG, no Complexo Minerador de Itabira, MG, (Cia. Vale) e no
Aquário da Bacia do Rio São Francisco na cidade de Belo Horizonte, MG.
Como primeira atividade realizada do 2º semestre de 2012 os pibidianos
participaram “Uso Didático das Plataformas de Mapeamento do Sistema Google
(Maps, Earth, Mapmaker)” com carga horária de 16 horas, já contando com a
participação dos novos bolsistas, já que o subprojeto de Geografia da UNIFAL foi
ampliado, atendendo agora três escolas e contando com 30 bolsistas.
Como fica demonstrado os alunos bolsistas tiveram a oportunidade de
estarem inseridos e conseguiram interagir muito mais dentro do ambiente escolar se
tornando parte daquele grupo por que houve um sentimento de pertencimento, e
consequentemente a necessidade de transformação foi algo a ser concretizado.
Esse artigo tenta demonstrar que quando é oportunizada algumas
condições a formação docente pode ser mais aprazível e interessante para o aluno
da licenciatura, estimulando a sua continuação na área e a busca por novos modos
operandi.
Entretanto, não se procura aqui de forma alguma ser um contraponto a
prática do estágio curricular, mas sim demonstrar que ele pode ser complementado
com atividades e estruturas de forma a cumprir a sua função integralizadora entre
prática/teoria.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Ou seja, PIBID e estágio curricular são processos de prática profissional
docente com estruturas diferentes, que aliados se mostraram mais eficazes,
ampliando os resultados a que se propunham.
Nesse sentido, fica claro que é de suma importância que os futuros
professores estejam desde o início da graduação na escola, se envolvendo no
cotidiano desta de forma a já compreender a dinâmica que a envolve, para quando
se emancipar da faculdade esteja o mais adequadamente preparado para
desenvolver sua profissão.
PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Lea das Graças Camargos; CAVALLET, Valdo José. Docência no ensino superior: construindo caminhos. In: Revista Educação & Linguagem – Revista da Faculdade de Ciências da Educação e Letras da Universidade Metodista de São
Paulo, São Bernardo do Campo, v.1, n.1., 2001, p.33-49. ISSN 1415-9902.
VESENTINI, José William. Realidades e
perspectivas do ensino de Geografia o Brasil. In: VESENTINI, José William (org). O ensino da Geografia no século XXI. Campinas, SP: Papirus, 2004. P. 219-248.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
Josineide Kaline da Silva [email protected]
Maria José Alexandre da Silva
[email protected] Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Palavras-chave: educação ambiental, extensão, percepção
A sociedade é fortemente influenciada para o consumo e, ao mesmo
tempo, os indivíduos não se informam quanto ao destino final das embalagens de
alguns produtos, que em muitos casos, acabam sendo descartados como lixo e
jogados em lugares impróprios, ocasionando com isso degradação ambiental.
A educação ambiental é um tema bastante difundido em decorrência da
relação estabelecida entre as ações da sociedade e as futuras consequências trazidas
para o meio em que vivemos.
A educação ambiental surgiu como uma forma de encarar o papel do ser humano no mundo. Na medida em que parte de reflexões mais aprofundadas, a educação ambiental é bastante subversiva. Na busca de soluções que alertam ou subvertem a ordem vigente, propões novos modelos de relacionamento mais harmônicos com a natureza, novos valores éticos (PÁDUA, 1999).
Sachs (2000), em seu livro Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável,
foi enfático ao afirmar que a sustentabilidade tem certa unidade e que sua
dinamicidade está na harmonização das dimensões social, política, econômica,
ecológica, ambiental, territorial e cultural. Para esse autor, em última instância, o
desenvolvimento depende da cultura do povo, na medida em que implica a invenção
de um projeto.
Não se pode deter-se unicamente em aspectos sociais e econômicos,
negligenciando as relações e dimensões complexas entre o porvir das sociedades
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
humanas e a evolução da biosfera. Na realidade, esse autor está querendo dizer que
existe uma coevolução de dois sistemas que se regem por escalas espaciais distintas.
Para ele, a sustentabilidade, no tempo das civilizações humanas, vai depender da
capacidade desta de se submeterem aos preceitos da prudência ecológica e de
fazerem um bom uso da natureza. É por isso que ele fala de desenvolvimento
sustentável, dizendo que, a rigor, a adjetivação do termo deveria ser desdobrada em
socialmente includente, ambientalmente sustentável e economicamente sustentado no
tempo (SACHS, 2000, grifo do autor).
Este trabalho visa relatar as atividades de extensão cujo enfoque é a
Educação Ambiental desenvolvidas no Assentamento Aracati- Touros/RN mostrando
os desafios e conquistas enfrentados na comunidade em relação à percepção
ambiental deles quanto aos problemas enfrentados em seu cotidiano.
Do ponto de vista metodológico, o estudo baseia-se no uso da pesquisa
bibliográfica e do trabalho de campo por meio de levantamentos de informações
inerentes aos impactos ambientais existentes no assentamento, que foram
adquiridos por meio de entrevistas semiestruturada, contendo perguntas abertas e
fechadas.
Podemos notar que a comunidade enfrenta vários problemas
socioambientais, relacionados ao destino final do lixo, ao uso de agrotóxicos em
plantações, entre outros. Isto desencadeou a aplicação de atividades que
mostrassem a importância da preservação do meio ambiente, o que foi possibilitado
através da sensibilização ambiental:
Assim conscientização é um processo de reflexão histórica e ação concreta
que implica opções política e articula conhecimentos e valores para a
transformação da relação homem-natureza estabelecidos pela história
complexa das relações sociais. Esse processo é histórico e concreto, e não
imediato. Conscientização não é um resultado imediato da aquisição de
conhecimento sobre os processos ecológicos da natureza, apropriado
pelos indivíduos; é uma reflexão filosófica e política carregada de escolhas
históricas que resultam numa sociedade sustentável, (TOZONI-REIS
p.100, 2004).
Concluímos que sensibilizar a comunidade e inserir a educação
ambiental aos poucos no cotidiano dos indivíduos é de grande importância, pois o
espaço geográfico deve ser compreendido e interpretado em sua totalidade, para que
isso ocorra é necessário que os assentados percebam novas práticas sociais com
relação ao meio ambiente, repensando suas ações podendo valorizar e preservar a
diversidade ambiental existente a nossa volta. A partir de pequenas ações locais.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
FREIRE, P. Extensão ou Comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. (O Mundo, Hoje, v. 24)
ISNARD, H. O espaço geográfico. Coimbra: Livraria Almedina, 1982.
JESUS, T., de. Cidadania, gestão municipal e responsabilidade ambiental. In: SEABRA, GIOVANNI (Org.). Educação ambiental. João Pessoa: Editora universitária da UFPB, 2009. p. 155-169.
MINAYO, M. C. S. Ciência, técnica e arte: o desafio da pesquisa social. In: Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro: Vozes, 1994.p.9-28.
RELPH, E. As bases fenomenológicas da geografia. Geografia, Rio Claro, v.4, n.7, p. 1-25, abr. 1979.
SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Garamond, 2000.
TOZONI-REIS, M., F., C. Educação Ambiental: natureza, razão e história. Campinas, SP: Autores Associados, 2004.
VEIGA, J. E. da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2005. 220 p.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Luciano Guimarães de Souza
[email protected] Faculdade de Formação de Professores
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Palavras-chave: ensino de Geografia, práticas sócio-espaciais
Este trabalho é baseado em nossas experiências em sala de aula, através
do Programa Institucional de Iniciação a Docência (PIBID), financiado pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no Instituto
de Educação Clélia Nanci em São Gonçalo, nas turmas do 7°ano, e de nossas leituras
a partir de um pensamento que nos persegue constantemente, no sentido de ter
uma leitura analítica mais aprofundada sobre o ensino de Geografia em sala de aula.
E num sentido geográfico mais crítico, queremos aqui considerar alguns pontos no
que tange aos aspectos relevantes para nossa análise. Nossos esforços intelectuais
se deram a partir de uma reflexão bastante intrigante que nos fez pensar, o porquê
desse total desinteresse pela Escola e em especial, sobretudo pela Geografia? O
objetivo deste trabalho é trazer para luz do debate algumas considerações sobre o
tema aqui proposto com um olhar considerando o aluno em si e seus aspectos
sociais e intelectuais no sentido que consideramos ser de extrema importância suas
práticas sócio-espaciais. E para tal, apontaremos alguns aspectos no sentido de
mostrar algumas questões do que a princípio esperamos que seja trabalhado no livro
didático e nosso intuito é de colaborar e não de corrigir, mas de propor outras
possibilidades na formulação do livro didático no que diz respeito ao aluno e que se
possam levar em conta suas práticas sócio-espaciais. Com isso colaborar para
que o aluno se reconheça nesse livro, trazendo-o para dentro desse contexto escolar
e finalmente que ele possa a partir disso ter um interesse pela Geografia e pela
escola, queremos ressaltar aqui que o aprimoramento do livro didático escolar é de
suma importância para o aperfeiçoamento do ensino-aprendizado do aluno de
Geografia nas Escolas públicas. O Instituto de Educação Clélia Nanci é uma Escola
Estadual do Rio de Janeiro, que tem por missão educacional formar professores e
professoras que irão trabalhar na formação escolar de crianças do primeiro
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segmento do Ensino Fundamental, contendo desde a 1ª série do ensino fundamental
até o último ano do ensino médio, fica situada no bairro de Brasilândia no Município
de São Gonçalo, região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. Com essa visão
mais geral da escola, queremos a partir disso fazer algumas reflexões que
consideramos de extrema importância e pela complexidade do assunto estaremos
apresentando-as de uma maneira a ser o mais simples possível.
E a partir daí colocaremos algumas considerações sobre o modelo atual
de escola no Estado do Rio de Janeiro. Nossas impressões eram as mais intrigantes
possíveis, mas queremos aqui ressaltar que por mais que pensemos as infinitas
possibilidades, nunca saberemos explicitar com clareza nossos pensamentos. Porém
nos sentimos aqui no dever de revelar, ainda que sejam pensamentos do senso
comum formulados pelo imaginário popular que temos das escolas públicas e que
mesmo que tentemos fugir desses pensamentos não conseguimos estabelecer
sentimentos positivos a priori sobre essa escola. Mas considerando todas essas
possibilidades, deparamo-nos com a realidade nua e crua da atual situação
educacional das escolas públicas do Estado do Rio de Janeiro e nesse contexto de
precariedade das escolas em que alunos estão sendo tratados apenas como
números para se conseguir mais verbas, pois a atual Secretaria de Educação do
Estado do Rio de Janeiro mantém sua postura de tratar à educação nos moldes
meritocráticos e a partir disso pensa a educação pública como um balcão de
negócios, nesse sentido consideramos que isso se reflete na qualidade do ensino-
aprendizagem dos alunos e isso é uma irresponsabilidade do poder público e suas
autoridades constituídas que no mínimo se omitem para não dizer que cometem
crime contra a Educação Pública. Então diante desse contexto, fica aqui uma
pergunta, o que fazer para melhorar essa situação? Infelizmente não sabemos essa
resposta, pois entendemos que não temos aqui condições de propor uma fórmula
para tal, propomos sim que a sociedade civil como um todo possa começar um
movimento e agendar debates para se discutir as reais condições da educação
pública e se está de concordo ou não com esse modelo de Educação excludente no
qual é marcada por um modelo perverso que está vigente na atual conjuntura do
chamado “Mundo Globalizado” Como Milton Santos vai dizer:
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A perversidade sistêmica que está na raiz dessa evolução negativa da humanidade tem relação com a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas. Todas essas mazelas são direta ou indiretamente imputáveis ao presente processo de globalização (SANTOS, 2011, p.13).
Em nossas reflexões Sobre os alunos e o ensino de geografia em nossas
participações nas aulas do 7º ano do ensino fundamental, podemos visualizar um
desinteresse por completo nas aulas de Geografia por parte dos alunos. Mas na
verdade não colocamos nos alunos a total responsabilidade por não quererem
aprender sobre Localização, Mapas ou o processo de Formação Territorial Brasileiro,
por exemplo, isso só nos mostra o quanto estamos equivocados em não rever a
geografia escolar já denunciados por Lacoste (1988), em seu livro “A Geografia serve
antes de mais nada para fazer a guerra”. Analisando essa questão Ruy Moreira
(2007) faz um retorno a Lacoste e abre o texto como uma citação que explica essa
denúncia:
Toda a gente julga que a geografia não é mais que uma disciplina escolar e universitária cuja função seria fornecer elementos de uma descrição do mundo, dentro de uma certa concepção “desinteressada” da cultura dita geral [...] Pois qual poderia ser a utilidade daquelas frases soltas das lições que era necessário aprender na escola? A função ideológica essencial do palavreado da geografia escolar e universitária foi sobretudo de mascarar, através de processos que não são evidentes, a utilidade prática da análise do espaço, sobretudo para a condução da guerra, assim como para a organização do Estado e a prática do poder. É, sobretudo a partir do momento que surge como “inútil”, que o palavreado da geografia exerce sua função mistificadora mais eficaz, pois a crítica de seus fins “neutros” e “inocentes” parece supérflua. É por isso que é particularmente importante desmascarar uma das estratégias essenciais e demonstrar os subterfúgios que a fazem passar por simples e inútil (LACOSTE apud MOREIRA, 2010, p. 61).
Pegando o “barco” do pensamento de Lacoste (1988), podemos verificar
com clareza que na verdade essa “geografia simplória e enfadonha” infelizmente
continua nos currículos e consequentemente nas salas de aula nas escolas públicas e
é a partir daí que queremos abrir o debate, pois como podemos fazer o aluno se
identificar com a geografia? Sendo a geografia ainda vista como inútil? Para isso
entendemos que na verdade como diz Ruy Moreira “que a geografia, através da
análise do arranjo do espaço, serve para desvendar máscaras sociais. É nossa
opinião que por detrás de todo arranjo espacial estão relações sociais, que nas
condições históricas do presente são relações de classe” (MOREIRA, 2010, p. 62). E
para tal, queremos trazer para essa reflexão uma das partes que consideramos que
não pode ficar de fora. Falamos aqui do livro didático, pois sem fazer uma análise
aos livros didáticos esse trabalho não será completo, ou seja, não adiantará de nada
uma crítica ao modelo educacional e metodológico neoliberal sem trazer propostas
ige.unicamp.br/cact/semana2012
para uma melhor formulação dos livros didáticos de geografia nas escolas públicas.
É preciso compreender de fato as várias maneiras de ensinar a geografia e o livro
didático é uma ferramenta que por mais que não seja a única, é uma das mais
acessíveis aos alunos e é por isso que defendemos aqui neste trabalho uma melhor
formulação do livro didático. E atualmente “que o livro didático é um instrumento de
ação constante E o que buscamos sinalizar aqui (...), pois ainda o transformam em
um mero compêndio de informações, ou seja, utilizam-no como um fim, e não como
um meio, no processo de aprendizagem” (CASTELLAR, 2009, P.137). Mas essa
“melhor” produção do livro didático deve passar na nossa visão por fases de
transformação que em primeiro momento o aluno deve enxergar suas práticas sócio-
espaciais e num segundo momento ele possa expandir para outros níveis de escala
(LACOSTE, 1988). Considerando suas práticas sócio-espaciais e que ele possa se
enxergar como protagonista de sua história.
Conclusão
Em nossas análises e leituras sobre o modelo N.H.E. que ainda insiste
em permanecer nos livros didáticos, avaliamos que deveria ser repensado e
superado no sentido que entendemos que esse modelo não contempla todas as
possibilidades de se ensinar a geografia. Pois consideramos que os livros que
atualmente é utilizado nas Escolas públicas do Estado do Rio de Janeiro, deixa em
nossa ótica muito a desejar em seus aspectos mais relevantes para o ensino-
aprendizagem do aluno de geografia.
CASTELLAR, S. Ensino de Geografia. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
LACOSTE, Y. Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas: Papirus, 1988.
RUY, M. Pensar e ser em geografia: ensaios de história, epistemologia e
ontologia do espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2010.
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal Rio de Janeiro: BestBolso, 2011.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Marcelo de Andrade Lima [email protected]
Isabella de Castilho [email protected]
Kédima Rodrigues de Carvalho Perroti [email protected]
Marcelo Costa [email protected]
Philipe Branquinho [email protected]
Roberto Yusuke Hatada [email protected]
Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: escala, território, cidadãos, educação, grandes obras
Introdução
O presente projeto é referente às atividades do PIBID, (Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) realizadas na Escola E. E. Felipe
Cantúsio, localizada no Parque Industrial em Campinas, e contém análises e
descrições das práticas de ensino, que vão desde a sistematização dos conteúdos
elaborados até aplicação na escola. O tema trabalhado no projeto foi: “A importância
das políticas públicas na execução das grandes obras de engenharia ao longo dos
séculos XX e XXI para a integração do território brasileiro e seus impactos”, em que
se buscou adequá-lo à proposta curricular do Estado de São Paulo. Cabe lembrar que
as atividades foram realizadas com os alunos do 2º ano C do ensino médio do
período noturno.
O projeto foi elaborado a partir de uma periodização do espaço, uma vez
que as grandes obras não são novidade, já que houve grandes projetos de integração
nacional, sobretudo a partir da década de 1930, com os governos de Getúlio Vargas,
Juscelino Kubitschek, o período da ditadura militar, o neoliberalismo dos anos de
1990 e a configuração atual, onde verificamos novamente a ação do Estado por meio
do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento), que vem promovendo obras
ige.unicamp.br/cact/semana2012
como: o pretendido trem de alta velocidade (TAV) entre São Paulo, Campinas e Rio
de Janeiro, a construção de rodovias, a ampliação e concessão de Aeroportos, o
programa habitacional “Minha Casa Minha Vida”, as ferrovias e hidrelétricas etc.
Como lembra Milton Santos (2008) para a discussão dessas obras faz-se necessária
a utilização de dimensões temporais no estudo do espaço (...) Esta é razão por que devemos levar em conta as estruturas espácio-temporais (...) Não se pode atingir esse objetivo sem compreender o comportamento de cada variável significativa através dos períodos históricos que afetam a história do espaço que se está estudando (SANTOS, 2008, p. 50).
Ou seja, “a acumulação do tempo histórico permite-nos compreender a
atual organização espacial” (SANTOS, 2008, p.72). Cabe lembrar que as grandes
obras se justificam em nome de um “desenvolvimento econômico” que vem
acompanhado de conflitos sociais e ambientais, evidenciando cada vez mais que
lógicas exógenas se impõem, alterando os nexos locais.
Desta forma é imprescindível a articulação entre as diversas escalas para
o ensino do conteúdo proposto no projeto, seja na escala global, na dos territórios
nacionais, regional e dos lugares, pois percebemos a importância de trabalharmos
esse importante instrumental teórico com os alunos.
Daí a necessidade de abordar as obras de outros períodos em diversas
escalas até atingir uma escala mais local, abordando os “objetos geográficos”
presentes em Campinas como as rodovias, a possibilidade da construção do TAV, o
programa “Minha Casa Minha Vida”, a urbanização de Campinas, mas
principalmente o Aeroporto Internacional de Viracopos, oferecendo aos alunos um
rico aporte empírico para elaboração de aulas que abordam o conteúdo proposto.
Aproveitamos para abordar com os alunos os vários exemplos de grandes
projetos de engenharia que promovem, e promoveram mudanças no território
brasileiro, usando exemplos, como as obras nas cidades sedes da Copa do Mundo
de 2014 e as obras para as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, e logo, seus
impactos no território.
Objetivos
O objetivo geral foi aprofundar os temas das aulas de Geografia, tendo
como ponto de partida o estudo das grandes obras no território e suas
manifestações e impactos ao longo do século XX no território brasileiro, tendo como
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
o município de Campinas ponto final de nossa reflexão para essa atividade,
relacionando dialeticamente as escalas do local, nacional e global. A ideia foi criar
espaços de reflexão e de questionamentos da realidade do indivíduo a fim de
contribuir para a formação de cidadãos participativos das tomadas de decisões por
parte do Estado, uma vez que a “natureza da educação enquanto um trabalho não-
material cujo o produto não se separa do ato de produção nos permite situar a
especificidade de educação como referida aos conhecimentos, [que nos levem] à
formação da humanidade” (SAVIANI, 2003: 29-30). O mesmo autor também lembra
que “de outro lado e concomitantemente, [se faz necessário] a descoberta das
formas mais adequadas para atingir esse objetivo”. Assim o objetivo específico foi
levar aos educandos um instrumental teórico da geografia útil pra sua compreensão
e formação como agente ativo nos debates, exercendo sua cidadania.
Resultados
Propusemos aos alunos a realização de textos e questões sintetizando o
conteúdo abordado ao longo do semestre, a fim de termos um diagnóstico das
atividades. Preparamos exercícios que sintetizavam o entendimento dos modais de
transporte, das principais obras do século XX, sobretudo no período militar, e a
importância das grandes obras para a inserção do Brasil no dito mundo globalizado.
O uso de imagens (fotos, mapas, imagens de satélite), vídeos1 curtos nas aulas, é
um importante instrumento pedagógico, possibilitando ao educando a compreensão
de fenômenos de forma didática. Cabe lembrar que, “as imagens constituem muito
do que nos educar os olhos e muito do que temos disponível para educarmos a nós
próprios e aos nossos próximos e distantes estudantes acerca do espaço geográfico”
(OLIVEIRA JR., 2009, p. 17). Entretanto é importante ter o cuidado na utilização de
imagens no ensino de Geografia, pois, como lembra Castillo, “o problema consiste
no risco de redução da disciplina aos seus meios, sob a velha alegação de que a
precisão dos instrumentos confere legitimidade científica ao conhecimento
produzido” (CASTILLO, 2008, p. 63). As atividades propostas nas aulas foram
voltadas a identificar, de forma mais próxima e palpável aos alunos, as questões
discutidas em textos e anteriormente nas aulas de geografia regular, ou seja, as
1 Transamazônica ainda espera o progresso após quatro décadas. De: TV Folha. Disponível: em: http://www.youtube.com/watch?v=euA2NbDDkNg&feature=relmfu
ige.unicamp.br/cact/semana2012
principais obras do período da ditadura militar, além de um texto relacionando as
obras no território nacional e a globalização.
Além disso, tentamos estabelecer estratégias didáticas dinâmicas para
abordagem de temas da disciplina geográfica, utilizando técnicas e materiais de
forma diferente à convencional, assim como propor novas ferramentas para o
processo educativo em geografia, criando situações educacionais a partir da
realidade, necessidade e vontade dos educandos para que haja maior integração
entre seu cotidiano e o tema proposto.
Considerações finais
A prática de ensino, a partir das atividades do eixo “As Grandes Obras”
do PIBID se mostrou interessante na medida em que os bolsistas puderam assumir
a sala de aula, propondo debates, reflexões e atividades que muitas vezes o professor
“oficial” não teria tempo para desenvolver com os alunos. Ainda que alguns
problemas tenham surgido, sobretudo em relação ao número reduzido de
intervenções, justificado em função das poucas aulas de geografia disponíveis e às
faltas coletivas dos alunos, o principal objetivo, que era expor os conhecimentos
geográficos de maneira alternativa, foi alcançado. Entendemos que as atividades do
PIBID também poderiam ser realizadas fora do horário regular das aulas de
geografia, possibilitando certa liberdade na elaboração de conteúdos diferentes dos
que são trabalhados na proposta curricular do Estado de São Paulo, dando certo
dinamismo a proposta do projeto, já que é esse o momento de realizar experiências
educacionais.
Portanto, a experiência prática foi muito proveitosa para saber o que nos
espera em uma sala de aula e como ela se encontra nos dias de hoje, sobretudo
propondo atividades diferenciadas das abordagens tradicionais. Como estão os
alunos e também os professores, e logo, como funciona essa relação Professor-
Aluno, por meio de um olhar bem próximo e crítico, possibilitando adquirir algumas
experiências e reflexões feitas neste trabalho, que irão corroborar para nossa futura
atuação como professores de Geografia.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
CASTILLO, Ricardo. A imagem de satélite: do técnico ao político na construção do conhecimento geográfico. In: PRO-POSIÇÕES. Revista quadri-mestral da Faculdade de Educação - Unicamp. V. 20, n. 3 (60) - set./dez. 2009.
OLIVEIRA JR, Wenceslao Machado de.
Grafar o espaço, educar os olhos. Rumo a geografias menores. In: PRO-POSIÇÕES. Revista quadri-
mestral da Faculdade de Educação - Unicamp. V. 20, n. 3 (60) - set./dez. 2009.
SANTOS, Milton. Espaço e Método. São
Paulo: Edusp, 2008. 5ª ed. SAVIANI, D. A natureza e especificidade
de Educação. In Pedagogia Histórico - Critica:, p. 11-22 Campinas: Autores Associados, 2003.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
1
Rafael Cesar Rigamonte
[email protected] Gabriela Fernandes Jordão
[email protected] Pedro Alexandre Prudente de Oliveira
[email protected] Stéphanie Rodrigues Panutto
[email protected] Talita de Cássia Dalmolin
[email protected] Instituto de Geociências
Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: PIBID, educação, Campinas, trabalho de campo, agricultura
Introdução
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID ao
qual está vinculado a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) tem como principal objetivo a “concessão de bolsas de iniciação à docência
para alunos de cursos de licenciatura e para coordenadores e professores
supervisores responsáveis institucionalmente pelo PIBID e demais despesas a ele
vinculadas” 2.
Um dos principais objetivos deste programa é a valorização de futuros
docentes da educação básica durante o seu processo de formação e a melhoria da
qualidade da educação pública brasileira, e a viabilização de tal proposta ocorre a
partir de projetos educacionais elaborados por seus proponentes - às instituições de
educação superior públicas, filantrópicas e confessionais.
1 Trabalho realizado por todos os autores citados, de forma conjunta e colaborativa ao longo do primeiro semestre de 2012. 2 Dados extraídos da CAPES, disponível em: <www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid>; acesso em julho de 2012.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
É neste contexto geral, que o PIBID da Unicamp se insere no programa
com inúmeros projetos e subprojetos destinados a determinadas áreas do
conhecimento3.
Nesse sentido, dando ênfase ao subprojeto em geografia apresentado
pelos professores e coordenadores Dr. Vicente Eudes Lemos e Dr. Márcio Cataia, a
problemática por eles levantadas evidencia os problemas atuais provindos da
globalização, ao mesmo tempo, em que salienta a importância da compreensão do
espaço geográfico sob uma perspectiva de método (ALVES, 2012).
Todavia, a partir desta concepção inicial e da subdivisão dos bolsistas
(aproximadamente 20 alunos) em três grandes eixos temáticos, tivemos: 1) A
integração do Brasil no mundo da Globalização: Desafios e Perspectivas; 2) As grandes
obras de engenharia no território brasileiro e os seus impactos: Econômicos, Sociais e
Ambientais; 3) A agricultura e a remodelagem do território brasileiro: A modernização da
fronteira agrícola. Além dos eixos temáticos, há um tema transversal referente ao uso
de imagens e sons, sugerido pelo coordenador pedagógico da escola escolhida:
Escola Estadual Felipe Cantúsio, localizada no bairro Parque Industrial, na cidade de
Campinas.
O eixo de trabalho que este grupo desenvolveu está relacionado à
temática de agricultura, e sua proposta inicial era a análise da expansão da fronteira
agrícola brasileira, principalmente, a dos grãos (soja e milho), que vem ganhando
força a partir da década de 80 com a difusão do agronegócio.
Porém, a fim de aproximar os conteúdos referentes aos processos de
configuração do território brasileiro e o cotidiano do aluno, partimos da concepção
de que, neste primeiro momento, o nosso trabalho seria voltado para a categoria de
lugar, portanto, a escala de análise fixada foi a do município Campinas.
Para a efetivação de tal proposta, a ideia norteadora das atividades
desenvolvidas intitulou-se “Os diferentes olhares na cidade de Campinas”; que
objetivava propiciar aos alunos uma melhor compreensão sobre quem eles são e do
lugar em que vivem. Portanto, o foco do semestre foi à realização da aula de campo -
destinada somente aos alunos do segundo ano do ensino médio.
3 EDITAL-2011 (início em julho de 2011) - projeto “Ampliando horizontes: formação de professores em parceria” - composto por 6 subprojetos que englobam as seguintes licenciaturas (algumas delas em continuidade ao primeiro edital): 1. Licenciatura em Pedagogia, Letras e Dança; 2. Licenciatura em Filosofia, Pedagogia, Ciências Sociais e História; 3. Licenciatura em Geografia; 4. Licenciatura em Letras; 5. Licenciatura Integrada Química-Física e Licenciatura em Ciências Biológicas; e 6. Licenciatura em Química. Contemplamos, até o momento, a participação de 101 bolsistas de iniciação à docência nesse projeto.
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Objetivos e Público Alvo
Objetivos gerais: Este projeto tem como ideia fundamental vincular o
ensino entre a geografia acadêmica e geografia escolar a fim de que através da
experiência obtida pela vivência escolar e de suas demandas seja factível aprimorar
dialeticamente a formação dos alunos/bolsistas do curso de licenciatura em
geografia da Unicamp e dos alunos da rede pública selecionada para o subprojeto.
Objetivos Específicos: Aprimorar a formação dos alunos de licenciatura
em geografia através da prática; Compreender como é construído o processo
avaliativo e de aprendizagem na prática escolar; Desenvolver material didático de
apoio aos alunos da escola; Realizar oficinas extraclasses e atividades educativas;
Buscar a melhoria do IDEB da escola; Fortalecer o conceito de cidadania entre os
alunos a partir da compreensão de que é possível um uso mais justo e menos
desigual do espaço geográfico (ALVES et al., 2012).
Público Alvo: alunos do segundo ano do ensino médio, mais
especificamente a turma A, totalizando 30 alunos.
Metodologia
Ao longo do primeiro semestre de 2012 os bolsistas ministraram aulas
que objetivaram a preparação dos alunos para uma plena compreensão dos tópicos
de geografia que seriam abordados no eixo temático escolhido, no caso agricultura, e
também de aprofundar a compreensão do “olhar geográfico” dos alunos no contexto
do trabalho de campo. Foram totalizadas 5 aulas que problematizaram assuntos
como: os objetivos gerais do PIBID na escola, aspectos sócio-econômicos do
município de Campinas, noções do trabalho de campo, conceitos Cartográficos e a
relação da agricultura e processos migratórios no município homônimo.
Após as aulas foi realizado o trabalho de campo propriamente dito.
Isso ocorreu no dia 6 de Junho de 2012, com saída da escola às 8 horas, no período
da manhã durando até às da manhã durando até 12:00. Os pontos visitados, em
ordem cronológica foram: o Aeroporto Internacional de Campinas/Viracopos, o
limite entre os bairros Parque Oziel e Swiss Park, o Cemitério da Saudade e o Estádio
Brinco de Ouro da Princesa, pertencente ao Guarani Futebol Clube.
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Cada um desses pontos incluiu uma fala dos bolsistas para os
aspectos geográficos e respostas às eventuais dúvidas. Os alunos também foram
incentivados a tirar fotos e fazer vídeos, proposta do eixo transversal da escola. O
trabalho de Campo também incluía a entrega de um relatório, onde os alunos seriam
avaliados em razão da sua compreensão do trabalho de campo.
Resultados
Os resultados obtidos até o presente momento foi por meio da
preparação para a atividade de campo e o próprio campo e a compreensão do lugar
de vivência, da cidade e de suas paisagens, por parte dos alunos, na tentativa de dar
sentido à sua identidade, aproximando o estudo dos processos de formação do
espaço geográfico ao cotidiano do aluno, relacionando e compreendendo o fazer e
ser no espaço.
Para apresentar os resultados do projeto realizaremos em setembro/2012
uma exposição no Museu de Imagem e Som (MIS) de Campinas, na qual será
apresentado o material audiovisual feito pelos alunos da Escola Estadual Felipe
Cantúsio durante o trabalho de campo.
Considerações Finais
É perceptível que o trabalho de campo em nosso projeto tornou-se uma
ferramenta pedagógica fundamental para um estudo e aprendizagem significativos
das ideias apresentadas em sala de aula, ilustrando, motivando, e, portanto
despertando no aluno o interesse de estudar e compreender determinado fato,
treinando seu olhar a fim de que este reconheça e desvende toda a estruturação que
cada lugar possui.
O seguinte trecho consegue concluir nossa pesquisa e sintetizar o papel do
trabalho de campo mostrando os objetivos desta atividade:
Nessa análise, as reflexões para uma aprendizagem significativa encontram nas atividades de campo um papel pedagógico fundamental, pois o campo é o contexto de aprendizagem onde “... O conflito entre o real (o mundo), o exterior e o interior, as ideias, as representações, ocorre em toda a sua intensidade” (Paschoale apud Compiani 1991). [...] Em nossa opinião, a afirmação destaca que as atividades de campo facilitam
uma aprendizagem construtivista (COMPIANI e CARNEIRO, 1993, p. 91).
ige.unicamp.br/cact/semana2012
ALVES, V. E. L.; CATAIA, M. A.; DINIZ, V. L. Iniciação à docência em Geografia: o PIBID abrindo novos caminhos para o processo de formação de professores. Maio de 2012. Disponível em: <www.prg. unicamp.br/pibid/index.php?option
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COMPIANI & M., CARNEIRO, C.D.R Os papéis didáticos das excursões geológicas. Enseñanza de las Ciências de la Tierra, 1(2):90-98, 1993.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Shaylla do Carmo Netto Vieira [email protected]
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Palavras-chave: educação, ditadura militar, geopolítica, território, fronteira
A presente pesquisa busca discutir a influência do pensamento
geopolítico no ensino de Geografia durante o período da ditadura militar no Brasil
(1964 - 1985). Sabe-se que a escola de geopolítica militar brasileira foi muito forte
durante este período, auxiliando na elaboração de políticas públicas internas e
externas e influenciando a forma como os brasileiros imaginavam seu próprio
território (BURNS, 1995).
A incorporação de elementos da geopolítica clássica alemã no
pensamento e na prática de militares latino-americanos durante as décadas de 1960
e 1970 é um tema que vem sendo intensamente estudado nos últimos anos
(KACOWCIZS, 2000). No entanto, pouco se discute sobre a influência do
pensamento geopolítico no ensino de geografia, considerando suas principais
abordagens teóricas e sua transposição didática para o universo escolar (i.e
KUNZLER e WIZNIEWSHY, 2007).
No intuito de contribuir com este debate, o objetivo específico da
presente pesquisa é analisar as abordagens utilizadas durante a ditadura militar para
se trabalhar nas escolas com dois conceitos-chave da geopolítica clássica: Fronteira e
Território. Consideradas como “epiderme do estado nação” as fronteiras, enquanto
“frentes de batalha” (RAFFESTIN, 1993), foram geralmente representadas como
espaços de conflito, ameaça e expansão nas teorias geopolíticas clássicas. Já os
territórios eram frequentemente entendidos no âmbito exclusivo do estado-nação,
enquanto “espaços vitais” que poderiam estar em expansão ou retração (SOUZA,
2001).
Atualmente as fronteiras são definidas também como espaços de
interação e troca (RIBEIRO, 2002) e os territórios têm sido considerados em escalas
temporais e espaciais variadas, quebrando com a ideia de exclusividade nacional na
delimitação espacial do poder (SOUZA, 2001). No entanto, essas concepções ainda
não eram vigentes no período da ditadura militar e pode-se supor que uma das
fontes de saber (TARDIF et al., 1991) importantes sobre as fronteiras e territórios
eram as ideias inspiradas na geopolítica clássica.
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Mas até que ponto as concepção do pensamento geopolítico clássico
pode ter influenciados formas de se ensinar e aprender os conceitos de fronteira e
território durante a ditadura? No intuito de responder a essa indagação os
procedimentos da pesquisa seguem em duas direções distintas que podem produzir
resultados complementares.
Por um lado, serão analisados livros didáticos da época estudada,
considerando como os autores selecionavam imagens e definições teóricas
específicas para trabalhar com os conceitos em questão. Por outro, serão
entrevistados dez professores que atuaram no ensino de geografia no período da
ditadura, estabelecendo um diálogo sobre as teorias da época e os desafios
encontrados em sala de aula na prática docente. Através deste duplo procedimento,
pretende-se discutir até que ponto as concepções geopolíticas clássicas
desenvolvidas pelos militares influenciavam o cotidiano escolar das aulas de
geografia durante a ditadura.
Com relação aos livros didáticos, foram escolhidos os livros do autor
Aroldo de Azevedo, que era o maior autor de livros didáticos de geografia no período
analisado. Para se estudar o papel dos livros e da própria geografia durante a
ditadura, também serão levantados alguns documentos históricos oficiais. Estes
documentos complementares são relativos tanto a conteúdos programáticos e
planos oficiais, quanto a projetos de lei e decretos sobre a adoção de livros didáticos
e outros materiais nas escolas.
Já as entrevistas serão realizadas com professores aposentados ou em
atividade no ensino médio e fundamental que trabalharam diretamente com o
ensino de geografia durante a ditadura militar. Um questionário aberto está sendo
construído no intuito de discutir com os professores não apenas as suas práticas
docentes no ensino de fronteiras e territórios, mas também o próprio contexto de
ensino-aprendizagem em um governo ditatorial.
Os resultados esperados desta pesquisa serão fruto da convergência
entre uma análise atenta dos textos e imagens presentes em documentos oficiais e
livros didáticos, com as narrativas dos professores, que darão vida aos materiais
coletados através de suas experiências cotidianas. Por um lado, espera-se encontrar
certa presença das ideias da geopolítica clássica nos livros e programas de geografia
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durante a ditadura. Por outro, um importante resultado a ser atingido pelo trabalho
seria a catalogação de experiências de “contra-usos” e práticas docentes alternativas
desenvolvidas pelos professores através dos materiais didáticos fornecidos pelo
Estado.
BURNS, E. B. Frontier and Ideology. Pacific Historical Review, Vol. 64, No. 1 Feb, pp. 1-18. Brazil: 1995
KACOWICZ, A. M. Geopolitics and
territorial issues: Relevance for South America. Geopolitics, 5:1,81 — 100. 2000a.
RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do
Poder. São Paulo: Ática,1993 KUNZLER E WIZNIEWSHY. Terra Livre.
Presidente Prudente Ano 23, v. 1, n. 28 p. 15-26 Jan-Jun/2007
RIBEIRO, L. P. Zonas de Fronteira
Internacionais na Atualidade: Uma
Discussão. In: Atlas da Fronteira Continental do Brasil. Coleção de Textos. UFRJ. 29p. 2002.
TARDIF, M.; LESSARD, C; LAHAYE, L.
Os professores face ao saber: esboço de uma problemática do saber docente. Teoria e Prática, n. 4, p. 215-234, 1991.
SOUZA, Marcelo L. O Território: sobre
espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In. Castro, Iná Elias de (org.) et alli. Geografia: Conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
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Camila Pontin Novaes [email protected]
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Campus Experimental de Ourinhos
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Palavras-chave: urbanização, enchentes, problemas ambientais
A ocupação e expansão urbana no Brasil, do ponto de vista do
planejamento, se deram de maneira inadequada, desordenada e acompanhada de
uma falta de estrutura que garantisse uma qualidade ambiental e social, além de um
processo de industrialização recente e acelerado que contribui para os danos
ambientais em áreas urbanas (UGEDA JR., 2009).
Esse modelo, muito comum entre os países em desenvolvimento, traz
como consequências alguns problemas ambientais nessas áreas urbanas. Tais como
a ocupação de áreas irregulares e de risco geomorfológico como a ocupação de
fundos de vale e encostas, o que também gera exclusão social devido à falta de
acesso a infraestruturas adequadas. A falta de saneamento básico, a alta produção
de resíduos sólidos, vetorização de doenças, chuva ácida, ilhas de calor, problema de
drenagem e enchentes, também são consequências deste modelo (BRAGA, 2003).
As enchentes constituem um dos problemas ambientais mais comuns no
território brasileiro. Segundo o IBGE (2005), entre 2000 e 2002, 2.263 municípios
brasileiros (41% do total) declararam ter sofrido algum tipo de alteração ambiental
que afetou as condições de vida da população, sendo que 19% decorrentes das
inundações. E ainda, de acordo com o IBGE citado por Mattes (2005, p. 62), nos
anos de 1998 e 1999, 1235 municípios brasileiros sofreram inundações, resultando
em 48.809 hectares de áreas afetadas, com maior incidência nas regiões Sudeste e
Sul.
Em Piracicaba, São Paulo, o processo de urbanização não ocorreu de
forma muito diferente do restante do País. Por volta de 1720, as margens do Rio
Piracicaba começaram a ser ocupadas na então chamada Rua da Praia, atual Rua do
Porto. Mostrando-se presente, desde o início, a ação e exploração antrópica dos
recursos hídricos e de seu entorno, com a pesca, abastecimento de monçoneiros e
da cultura de cana-de-açúcar. A partir de 1940, o êxodo rural influenciou o
crescimento urbano. Nos anos 1950 começaram a surgir bairros que se formaram
desordenadamente deslocando os habitantes mais pobres para loteamentos
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distantes do centro para escapar da valorização imobiliária (BARRETO et al, 2006). O
contraste pobreza/riqueza se fez evidente através destes bairros mais distantes que
não possuíam infraestrutura, como falta de esgoto, de água encanada e ruas de
difícil acesso. A Rua do Porto, assim como outras áreas, sofreu com a falta de
atenção do poder público no que diz respeito à infraestrutura, tal como saneamento
básico, segurança e habitação (ELIAS NETO, 2000).
As enchentes na Rua do Porto sempre ocorreram, desde 1896 se tem
relatos de grandes enchentes (ELIAS NETO, 2000, p. 78). Até hoje a cidade sofre
com as enchentes e os moradores, os trabalhadores e os donos dos
estabelecimentos comerciais da Rua do Porto sentem os prejuízos.
O Rio Piracicaba entrecorta a cidade, tendo suas margens caracterizadas
pelo intenso processo de ocupação, o que leva a impermeabilização do solo e
insipiente cobertura vegetal. Margeando o rio destaca-se a Rua do Porto, que contém
atividades comerciais e residenciais.
Tendo isto em vista, o presente estudo trabalha com o conceito de risco,
que é entendido por Lopes e Reis (2011, p. 15) como a probabilidade de
consequências prejudiciais, ou perdas esperadas (mortes, pessoas afetadas, danos
às propriedades, meios de subsistência, atividade econômica interrompida ou danos
ambientais) resultado das interações entre o perigo natural ou por indução humana
e condições de vulnerabilidade.
Dessa forma esse trabalho teve como objetivo abordar como se deu a
ocupação e expansão urbana no município de Piracicaba/SP, levantar as possíveis
causas e a dimensão das consequências das periódicas enchentes da Rua do Porto,
além de determinar o grau de risco em que se encontra essa área.
Como possíveis causas foram levantadas as naturais e antrópicas, que
podem agir de maneira isolada ou integrada. Entre as causas naturais temos: a) o
fenômeno natural periódico das cheias dos rios com tempo de recorrência e; b) o
aspecto climático, que colabora com a alta pluviosidade e vazão do rio, inclusive nas
cidades a montante.
Dentre as causas relacionadas à ação do homem temos: a) a ocupação
das áreas ribeirinhas que provocam alterações no solo, compactando-o, diminuindo
sua porosidade e, consequentemente, sua capacidade de absorção de água; b) a
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ocupação destas áreas também leva a retirada de vegetação. Essa vegetação nas
áreas ribeirinhas, consideradas áreas de preservação permanente devido à função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a
biodiversidade, o fluxo gênico da fauna e da flora, proteger o solo e assegurar o bem-
estar das populações humanas, acabam sendo suprimidas levando ao desequilíbrio
ecológico; c) o processo de urbanização, que contribui com a impermeabilização de
superfícies reduzindo assim o tempo de concentração da água e aumentando o
volume escoado superficialmente; d) a expansão da urbanização, que leva uma parte
da população a ocupar áreas irregulares que geralmente apresentam risco
geomorfológico; e) um sistema de drenagem inadequado ou insuficiente que pode
sobrecarregar córregos receptores levando ao transbordamento; f) ausência de um
sistema de alertas eficiente e integrado e falta de medidas preventivas.
As principais consequências registradas foram casos de doenças como a
leptospirose; o comprometimento do sistema de tratamento de água e esgoto;
interdição das vias de transporte e desabamento de pontes; prejuízos materiais nas
residências e estabelecimentos comerciais com perdas de equipamentos e danos à
estrutura física, além de danos afetivos como perda de fotos e documentos;
desvalorização imobiliária na área; acentuação de problemas sociais como violência
e exclusão; durante os períodos de alerta e de eventos de enchentes as pessoas têm
de se deslocar para casa de parentes ou em lugar cedido para abrigo pela Prefeitura
Municipal.
Frente a esse quadro, alguns procedimentos podem ser tomados,
adotando a Bacia Hidrográfica como unidade de gestão. São elas as medidas
estruturais e medidas não-estruturais. Sendo as estruturais de caráter corretivo,
relacionadas a modificações físicas, como alteração do sistema fluvial e obras de
engenharia. As medidas não-estruturais possuem caráter educativo e de
planejamento, atuando de forma preventiva, apresentando resultados a médio e
longo prazo, geralmente de baixo custo, de fácil aplicação permitindo uma correta
percepção do risco. Essas medidas adotadas conjuntamente às medidas estruturais
podem minimizar os custos e os impactos catastróficos das enchentes (TUCCI,
1997).
Dessa forma, a determinação do grau de risco é importante para o
planejamento e o ordenamento do território norteado para a identificação das áreas
suscetíveis de serem caracterizadas e avaliadas como de risco. Para a determinação
do grau de risco a enchentes na Rua do Porto foi utilizada a metodologia de Oliveira
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e Robaina (2004), que leva em consideração a suscetibilidade natural (relevo,
hidrologia), o padrão urbano da área (características construtivas de padrão médio,
alto ou baixo) e o registro de acidentes (eventos). Estas informações foram obtidas
através de observação a campo, mapa geomorfológico e de rede de drenagem, e
coleta de dados em três jornais locais, “Jornal de Piracicaba”, “Tribuna” e “Gazeta de
Piracicaba”. Onde os estabelecimentos comerciais apresentaram o grau de Risco II –
Alto, se encontrando em área suscetível naturalmente por estarem em área sujeita a
inundação, padrão urbano médio e registro de acidentes; e os imóveis residenciais
apresentaram um Risco I – Iminente, se encontrando em área com suscetibilidade
natural de área sujeita a inundação, padrão urbano da área baixo e registro de
eventos.
Essa informação pode ser utilizada na distribuição espacial dos
aglomerados populacionais, otimizando o uso e diminuindo os impactos sobre as
mesmas. As áreas mais suscetíveis aos processos naturais possuem,
consequentemente, uma capacidade menor para uma série de usos. O mapeamento
de risco também auxilia na definição de planos de ação e prioridades de ajuda que
devem ser associadas à política de defesa civil, que sejam realizáveis e eficazes.
BARRETTO, A. G. O. P.; SPAROVEK, G.; GIANNOTTI, M. Atlas rural de Piracicaba. Piracicaba: IPEF, 2006.
BRAGA, R. Recursos hídricos e
planejamento urbano e regional. Rio Claro: Laboratório de Planejamento Municipal-IGCE-UNESP. 2003, pp. 113-127 - ISBN 85-89154-04-01.
ELIAS NETO, C. Almanaque 2000:
Memorial de Piracicaba – Século XX. IHGP; Jornal de Piracicaba; UNIMEP. Piracicaba, 2000.
LOPES, E. S. S.; REIS, J. B. C. Desastres Naturais: conceitos e classificações. In: PURINI, Sérgio Roberto de Moura. Programa educacional Jc na escola: promovendo a leitura: JC na Escola - Ciência; organizado por Sérgio Roberto Purini e outros. Bauru; JC; São Paulo: FEBAB, 2011.
MATTES, D. A sustentabilidade do sistema de drenagem urbana. IN: DOWBOR, L.;
TAGNIN, R. A. Administrando a água
como se fosse importante: gestão ambiental e sustentabilidade. Editora: Senac, São Paulo, 2005.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
OLIVEIRA, E. L. A.; ROBAINA, L. E. S.
Mapeamento das áreas de risco geomorfológico da bacia hidrográfica do Arroio Cadena, Santa Maria/RS. Revista Ciência e Natura, UFSM. V Simpósio Nacional de Geomorfologia: I Encontro Sul Americano
Geomorfologia. Ago/2004, até pag 478.
TUCCI, C. E. M. Plano Diretor de
Drenagem Urbana: Princípios e Concepção. Revista Brasileira de Recursos Hídricos. v2, n.2, jul/dez, 1997, 5-12.
Gustavo Henrique Peres
Manuel Baldomero Rolando Berríos Godoy [email protected]
Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento Instituto de Geociências e Ciências Exatas
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Palavras-chave: planejamento ambiental, gestão de resíduos, lixo domiciliar, restos orgânicos
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A geração de resíduos é um problema que afeta o mundo todo, todas as
classes sociais, raças, idades e gêneros. Resíduos são gerados sem parar, todos os
dias da semana, durante o ano inteiro; e como afirma Berríos (1994), “o lixo se gera
constantemente, sendo impossível deter em emergências”. Reforçando ainda mais a
ideia da “perenidade” desse tipo de produção, podemos lembrar também, ainda de
acordo com Berríos (1986), que “o despejo de detritos sólidos por parte do homem é
inerente à sua existência como tal e às atividades que realiza”. Com isso, temos esse
problema constante e incessantemente batendo às nossas portas: o que fazer com o
lixo ou para onde levá-lo? Assim, é preciso deter essa produção desenfreada de
resíduos, seja diminuindo o consumo de bens pela população e/ou realizando uma
eficaz gestão deles, possibilitando uma correta destinação final, reciclando e
reutilizando aquilo que é possível.
De acordo com Ribeiro e Morelli (apud ABRELPE, 2009):
em 2007 foram gerados cerca de 174,4 milhões de toneladas de resíduos sólidos. Destes, 61,5 milhões de toneladas são urbanos (RSU), 400 mil toneladas são provenientes de serviços de saúde (RSS), 86 Mton são industriais (RSI) e 26,5 Mton são de construção e demolição (RCD) (RIBEIRO e MORELLI apud ABRELPE, 2009, p. 12).
Todo esse lixo urbano produzido precisa ser destinado a algum lugar
e/ou processado por alguma técnica para que se tenha o menor impacto ambiental
possível, ou conseguir, principalmente, sua eliminação, assim como afirma Pereira
Neto (2007, p. 14): “É necessário repensar o nosso modelo de desenvolvimento
econômico e criar mecanismos que disciplinem a geração de bens de consumo de
longa vida útil, reaproveitando, ou reciclando, seus resíduos para minimizar e
controlar o desperdício e os impactos ambientais associados”.
Nessa mesma linha de raciocínio, sobre o repensar do modelo de
economia e desenvolvimento que vigora hoje em dia, ao analisarmos os parâmetros
de geração e descarte de lixo atual, percebemos que não existe qualquer tipo de
preocupação com sua destinação nos países em vias de desenvolvimento, ou seja,
sabemos que devemos colocar o lixo para fora, porém, a partir daí, já não nos é mais
a responsabilidade de cuidar ou saber o que é feito com ele. Uma minoria de
indivíduos se pergunta ou já se perguntou para onde vai o descarte de tudo o que se
produz diariamente, onde é colocado e qual o volume que isso ocupa, que tipo de
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impacto causa ao meio em que vivemos ou ainda quais as utilidades possíveis para
esse material quando reaproveitado (BERRÍOS, 2002).
Não menos importante do que o descuido do indivíduo na segregação e
destinação correta do seu próprio lixo, as autoridades municipais também têm a
responsabilidade de encarar o problema de fato e se organizar de acordo com as leis
vigentes na elaboração de um Plano de Gerenciamento de Resíduos gerados no
município. As políticas públicas municipais voltadas ao assunto são falhas e cheias
de lacunas, quando existentes. E como lembra bem D´Almeida (2000):
O acelerado processo de urbanização, aliado ao consumo crescente de produtos menos duráveis, e/ou descartáveis, provocou sensível aumento do volume e diversificação do lixo gerado e sua concentração espacial. Desse modo, o encargo de gerenciar o lixo tornou-se uma tarefa que demanda ações diferenciadas e articuladas, as quais devem ser incluídas entre as prioridades de todas as municipalidades (D´ALMEIDA, 2000, p. 8).
Como é inegável, o lixo das atividades humanas precisa ser reduzido,
assim como os ritmos de produção e consumo. Além disso, é preciso haver um
melhor planejamento sobre as necessidades e gerenciamento sobre o manejo
(BERRÍOS, 1994).
De acordo com a bibliografia especializada consultada, a fração orgânica
que compõe o lixo residencial nas cidades brasileiras é predominantemente maior
quanto ao peso e, às vezes, volume sobre os outros tipos de resíduos encontrados,
ou seja, a maior parte do peso do resíduo domiciliar constitui-se de matéria
orgânica. Essa alta porcentagem de elementos orgânicos varia de acordo com
diferentes autores, citando alguns: 62,8% para Berríos (1987), de 55 a 67% para
Pereira Neto (2007), 51% para o CEMPRE (2012).
Se compararmos os índices de reciclagem da parcela inorgânica do lixo
brasileiro com a correta destinação dada à parte orgânica e seu tipo de reciclagem –
cerca de 4%, segundo o CEMPRE (2012) –, a variação é discrepante. A coleta seletiva
no Brasil tem crescido com taxas relevantes.
Como já preconizavam Ribeiro e Morelli (2009, p. 44),
No ordenamento do Brasil há a lacuna de Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Projetos desta Política Nacional tramitaram por muitos anos no Congresso Nacional sem chegar à aprovação do que pode vir a ser um importantíssimo marco regulatório. Carece estabelecer diretrizes
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de gestão em todo o País, com a descentralização político-administrativa das ações e estabelecendo parâmetros da responsabilidade compartilhada entre a sociedade, a iniciativa privada e o Poder Público (RIBEIRO e MORELLI, 2009, p. 44)
A PNRS, Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei Nº 12.305, de 2 de
Agosto de 2010, dispõe sobre os objetivos, instrumentos e diretrizes relacionados à
gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo também os
resíduos perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos
instrumentos econômicos aplicáveis nesse assunto (DOU, 2010). Desse modo, o
conceito chave que vigora com a promulgação da PNRS é a gestão integrada dos
resíduos. Com a instituição da lei, o ciclo de vida dos produtos será de
responsabilidade dos fabricantes, consumidores e do gestor municipal, a chamada
responsabilidade compartilhada.
Sobre os objetivos do presente trabalho, temos como o objetivo geral
desta pesquisa conhecer a atual destinação final da parcela orgânica dos resíduos
domiciliares da cidade de Rio Claro, em São Paulo. Com isso, surgem alguns
objetivos específicos, os quais podemos citar a identificação das potencialidades do
resíduo orgânico gerado na cidade de Rio Claro, a identificação de possíveis
negligências nas gestão dos resíduos sólidos urbanos dessa cidade, o estudo das
práticas e técnicas de destinação final da parcela orgânica do lixo gerado na cidade, a
análise da destinação dada à parcela orgânica comparada com o crescente incentivo
dado à reciclagem, a verificação sobre a adequação da gestão local com a PNRS,
aprovada em Agosto de 2010, entre outros.
À medida que crescem as cidades e o poder aquisitivo dos indivíduos,
também há um consequente crescimento da produção de resíduos por parte da
sociedade. Os resíduos sólidos domiciliares ou domésticos apresentam-se em
quantidades inferiores aos Resíduos Sólidos Industriais (RSI) quanto à produção em
milhões de toneladas (Mton), porém, são esses resíduos, também chamados de
residenciais, que ficam mais visíveis diariamente, tanto dentro das cidades pelo
manejo inadequado, tanto na periferia urbana, pela gestão errada, e que também
oferecem, assim como os resíduos industriais e até mesmo os agrícolas, diversos
tipos de efeitos nocivos à população quando tratados e/ou destinados de forma
incorreta ou negligente. Desse modo, a pesquisa busca auxiliar os estudos sobre a
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Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) para um eficiente Planejamento Urbano
e Ambiental. Com isso, o projeto tem como finalidade analisar na cidade de Rio
Claro, como se realiza a destinação dos resíduos sólidos orgânicos domiciliares e se
essas práticas apresentam efetiva melhora no tocante à boa gestão de resíduos, da
mesma forma que a reciclagem consegue tal efeito.
BERRÍOS, Manuel B. R. O lixo domiciliar de Rio Claro e a organização do espaço. Dissertação (Mestrado em Geografia). IGCE/Universidade Estadual Paulista. Rio Claro, 1986.
BERRÍOS, Manuel B. R. O lixo domiciliar e
seu destino na cidade de Rio Claro-SP. Trabalho apresentado no I Encontro de Geógrafos da América Latina, em Águas de São Pedro-SP, entre 05 e 10 de Abril de 1987. Publicado no volume comunicações Cidade I e na Revista Geografia Teorética 16-17 (31-34).
BERRÍOS, Manuel B. R. Papel da
sociedade moderna na produção de resíduos. Paper, em co-autoria, apresentado durante o V Congresso Brasileiro, organizado pela Seção Nacional da AGB e pelo DG/UFPR, evento efetuado em Curitiba, PR, entre os dias 17 e 22 de julho de 1994.
BRASIL. Lei Nº. 12.305, de 02 de Agosto
de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei Nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 03 de Agosto de 2010. Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa/legislacao>. Acesso em 10 ago. 2012.
COMPROMISSO EMPRESARIAL PARA
RECICLAGEM – CEMPRE. Fichas técnicas: Composto Urbano. São Paulo, 2012. Disponível em: <http://www.cempre.org.br>. Acesso em 9 ago. 2012.
D’ALMEIDA, M.L.O.; VILHENA, A. Lixo
Municipal: Manual de Gerenciamento Integrado. 2ª edição. São Paulo: IPT/CEMPRE. 2000.
PEREIRA NETO, João Tinôco.
Gerenciamento do lixo urbano: aspectos técnicos e operacionais. Viçosa, MG: Ed. UFV, 2007.
RIBEIRO, D. V., MORELLI, M. R. Resíduos
Sólidos: problema ou oportunidade? Rio de Janeiro: Interciencia, 2009.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
Letícia Cassanelli Braga [email protected]
Universidade Estadual de Campinas
O modo pelo qual se dá a ocupação do solo é um dos principais
elementos que interferem nas dinâmicas ambientais. Uma das manifestações dessas
dinâmicas ambientais que mais é sentida cotidianamente pelo homem é a dinâmica
climática, que nas cidades se reflete através do clima urbano. Esse texto tem por
objetivo fazer um estudo sobre o modo como o clima urbano vem sendo abordado
pela ciência nacional e está inserido em um projeto que visa estudar a
vulnerabilidade e as mudanças climáticas na cidade de Limeira, desenvolvido pelo
Laboratório de Geografia dos Riscos e Resiliência (LAGGER), do Centro de Ciências
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Humanas e Sociais Aplicadas (CHS) da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O dinamismo urbano é responsável por modelar, estruturar e
funcionalizar as cidades de modo a essas atenderem as exigências econômicas do
momento. A cidade aparece, no sistema urbano, como sendo a representação mais
precisa de como a ação antrópica é capaz de alterar e afetar o ambiente e seus
modos de organização espacial. A evolução da técnica possibilitou ao homem
desenvolver mecanismos que facilitaram a alteração e a remodelagem do meio à sua
volta com maior rapidez e intensidade, gerando ambientes artificiais destinados a
suprir suas necessidades e exigências locais.
Essa relação entre o homem e o meio afeta diretamente a atmosfera e a
superfície terrestre. Assim, o clima é considerado um dos mais importantes
componentes ambientais. As diferentes formas com que se dá a ocupação urbana no
território e como há essa relação entre o ambiente natural e o ambiente artificial
interferem diretamente nas dinâmicas atmosféricas locais.
Considerando-se que os sistemas climáticos têm como uma das
características principais a imprevisibilidade e a capacidade de se reorganizar a partir
da introdução de novos fluxos de matéria e energia é possível abordar as dinâmicas
climáticas como sendo parte de um sistema.
Essa interação entre diferentes componentes, superfície (ambiente
alterado pela ação antrópica) <=> atmosfera, permite compreender o clima a partir
da Teria Geral dos Sistemas (TGS). Essa teoria sistêmica defende que os estudos de
ambas as partes têm que se dar de modo conjunto. “Um sistema pode ser definido
como o conjunto dos elementos e das relações entre si e entre os seus atributos”
(CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 1). O modo como vem se dando o aumento
populacional, principalmente no meio urbano, não deixa dúvidas quanto ao papel
ativo da sociedade dentro do sistema (MONTEIRO, 2001). A descrição e o estudo do
clima urbano “trata-se de uma tarefa bastante difícil, pois ousa tentar para o estudo
do clima da cidade uma conduta de investigação que seja nela não um antagonismo
entre o homem e a natureza, mas uma co-participação” (MONTEIRO, 2003, p. 15).
Assim, pensar no urbano como sendo o reflexo direto da ação do homem
sobre o meio e que este se relaciona e interage diretamente com a atmosfera nos
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permite compreender o que seriam os climas urbanos, concebidos por Monteiro
(1999, p. 28), como “[...] climas locais muito alterados por ação antrópica”.
Segundo Landsberg (2006), as diferentes maneiras com que o homem
ocupa o solo fazem com haja reflexos distintos nas características locais do clima.
Os primeiros estudos meteorológicos registravam diferenças existentes entre as
características atmosféricas observadas no campo e na cidade. Ao se discutir as
alterações climáticas ocasionadas pelo processo de urbanização, o referido autor
indica três eixos principais que influenciam o clima das cidades: a alteração da
superfície a fim de estruturar e funcionalizar os espaços urbanos, interferindo nas
dinâmicas da circulação do ar local; aumento da temperatura nas cidades
relacionado com os fluxos de veículos e de pessoas; e a alteração na composição
atmosférica, consequência da introdução de núcleos poluentes típicos da atividade
urbana.
Para Monteiro (2003, p.19) o clima urbano é compreendido como sendo
“um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização”.
O clima urbano trata então, da interrelação entre o natural (atmosfera) e o artificial
social (urbano) e da divisão e integração entre microclimas e climas regionais. O
Sistema Clima Urbano (S.C.U.)
visa compreender a organização climática peculiar da cidade e, como tal, é centrado essencialmente na atmosfera que, assim, é encarada como operador. Toda ação ecológica natural e as associações aos fenômenos da urbanização constituem o conjunto complexo sobre o qual o operador age (MONTEIRO, 2003, p. 21).
Para se compreender os fundamentos do clima urbano é necessário
analisar os seguintes mecanismos de percepção: o conforto térmico, a qualidade do
ar e os impactos meteóricos (hidrometeóricos). É preciso que o geógrafo adentre os
perímetros urbanos e sinta a cidade como sendo um “fato geográfico” (MONTEIRO,
1990, p. 10) e não como uma anormalidade no ambiente natural. A verificação das
estruturas da cidade se dá através da observação do local de estudo, para isso é
necessário que o pesquisador explore o lugar de estudo e então levante as
informações relevantes para a compreensão do clima local. O uso de imagens de
satélites e de mapas do uso solo permite reconhecer a constituição dos materiais
das superfícies e o estudo das áreas de maior adensamento de edificações. É
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necessário, também, que haja coleta de dados de temperatura, umidade, direção dos
ventos, condições do ar em vários períodos do dia e sazonalmente através de postos
de coletas que devem ser estabelecidos após alguns campos de reconhecimento da
área de estudo e do uso de termohigrômetros.
Considerando-se que a maior parte da população brasileira reside em
áreas urbanas (segundo o Censo de 2010, 84% da população) e que o país, devido à
sua grande extensão territorial e suas características geográficas, apresenta grande
variabilidade climática, o estudo de clima urbano se apresenta como de suma
importância para compreensão das dinâmicas climáticas das distintas regiões e suas
relações com o uso e ocupação do território nacional. Seus principais objetivos são o
de investigar a influência geoecológica do espaço urbano nas variações diárias e
sazonais do campo térmico da cidade, de modo a caracterizar o campo térmico
urbano.
Apesar da constante necessidade de esclarecimentos sobre as dinâmicas
atmosféricas, a investigação do clima urbano é algo que apresenta grande carência
no quadro de produção cientifica nacional. Monteiro, em um artigo publicado na
Revista Geosul de 1990, descreve como são escassas as produções científicas
nacionais sobre o assunto. Segundo o autor, Magda Lombardo, em 1986, foi um dos
primeiros autores, depois de Monteiro, a contribuir e dar continuidade aos estudos
de clima urbano na metrópole paulista. “Escassez tanto mais lamentável porquanto
mais e mais se agravam os problemas de qualidade ambiental urbana neste país”
(MONTEIRO, 1990, p. 9).
Os estudos de climas urbanos permitem compreender como vêm se
dando as dinâmicas atmosféricas em escala local, o que permite que sejam
desenvolvidas ações governamentais e estudos de ambientais voltados para atender
e resolver alguns dos problemas que afetam a população.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia.
São Paulo,: Edgard Blucher Ltda, 2º Ed., 1980.188p.
LANDSBERG, H. E. O clima das cidades. In: Revista do Departamento de Geografia. V. 18, 2006. p. 95-111.
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MONTEIRO, C. A. F. Derivações
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Maibi Cossalter Tasqueti [email protected]
Instituto de Geociências e Ciências Exatas Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
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Palavras-chave: enchentes, impactos sócio- econômico- ambientais, plano de ação anti-enchente, urbanização, escoamento superficial
O município de Ribeirão Preto, cidade do interior do estado de São Paulo,
localizado a noroeste da capital paulista, possui um histórico antigo e com dados
significativos relacionados às enchentes, inundações e alagamentos, desde o início
do século XX. A cidade é banhada por diversos córregos e ribeirões, com extensão
total em torno de 65 quilômetros. O córrego Ribeirão Preto, o mais extenso e um dos
mais importantes deles, encontra-se na área urbana da bacia hidrográfica do ribeirão
Preto. Sua nascente está localizada na área urbana do município de Cravinhos e
deságua nas águas do Rio Pardo.
A área conhecida e popularmente denominada por "baixada” da cidade é
formada pelo encontro dos córregos Ribeirão Preto e Retiro Saudoso, nas
proximidades com as avenidas Jerônimo Gonçalves e Francisco Junqueira, onde hoje
se encontram os edifícios decadentes da área central, o comércio e o local prestador
de serviços mais antigos e tradicionais da cidade, como o mercado municipal, o
Centro Popular de Compras, união de alguns antigos camelódromos e pequenas
empresas, e a estação rodoviária, além de alguns prédios e estabelecimentos antigos
que foram ou não desativados e desfuncionalizados e poucas residências, já que
esse local é predominantemente comercial.
O processo acelerado e desenfreado da urbanização produziu uma
ocupação irregular do solo urbano no qual surgiram inúmeras consequências
sociais, econômicas e ambientais. O município de Ribeirão Preto apresenta um
histórico significativo de inundações desde o início do século XX, como um dos
impactos oriundos da ocupação irregular em áreas de risco. Em decorrência dessa
situação, a prefeitura vem aplicando soluções de caráter paliativo e corretivo para
tentar controlar os efeitos oriundos das enchentes. É o passado que deixa resquícios
no presente e o presente interferindo no futuro.
Enchentes são eventos naturais que ocorrem com determinada
periodicidade nos cursos d´água, sendo causadas por chuvas intensas e rápidas ou
de duração considerável, sendo influenciadas pela ação antrópica. São problemas
geoambientais derivados de fenômenos ou perigos naturais de caráter
hidrometeorológico ou hidrológico, ou seja, aqueles de natureza atmosférica,
hidrológica ou oceanográfica. As cheias, termo técnico utilizado pelos especialistas,
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são situações de transbordamento de água do seu leito natural, atingindo o leito
menor, seja ele qual for, lagos, rios, arroios, córregos, mares e oceanos, sendo
sempre relacionadas com a quantidade e intensidade de precipitação atmosférica.
Nas inundações ocorre uma situação de transbordamento da água para o leito maior
ou planície de inundação, sendo resultado de uma chuva que não foi suficientemente
absorvida pelo solo e outras formas de escoamento. Além disso, também podem ser
provocadas de forma induzida pelo homem através de, por exemplo, rompimento ou
abertura de comportas de represas.
A frequência e a magnitude das inundações ocorrem em função da
distribuição e da intensidade da precipitação; da taxa de infiltração da água no solo;
do grau de saturação do solo e das características morfológicas e morfométricas da
bacia de drenagem. Desse modo, as enchentes aumentam em magnitude e em
frequência, por influência da ocupação do solo, impermeabilizando o mesmo e
diminuindo sua capacidade de infiltração. Já que os efeitos da urbanização dentro de
uma bacia hidrográfica estão no aumento da vazão máxima, na antecipação no pico
da vazão e no aumento do volume do escoamento superficial. O aumento das áreas
urbanizadas e, consequentemente, impermeabilizadas, ocorreu, em geral, a partir
das zonas mais baixas, próximas às várzeas dos rios, em direção às colinas e
morros.
Dessa forma, a parcela da água que infiltrava, passa a escoar pelos
condutos, aumentando o escoamento superficial. O volume que escoava lentamente
pela superfície do solo e ficava retido nas plantas, com a urbanização, passa a escoar
no canal, exigindo maior capacidade de escoamento do leito menor. Deve-se
ressaltar também que a intensificação do processo de urbanização provoca
alterações no ciclo da água devido ao aumento da demanda de água provocado pelo
crescimento populacional, aumento da carga poluidora descarregada nos corpos
d’água, modificações de bacias naturais podendo provocar aumentos nos picos de
enchentes devido à impermeabilização do solo que reduz a infiltração das águas das
chuvas, rebaixamento nos aquíferos provocado pelo uso crescente de águas
subterrâneas, alterações no micro-clima das cidades. Além disso, o crescimento das
cidades produz alguns fatores associados ao uso do solo como a erosão do mesmo,
modificando as condições naturais do escoamento, gerando assoreamento nos
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cursos d’água.
De outubro a março, principalmente durante os meses de verão, estação
mais problemática para a cidade, as chuvas tornam-se mais frequentes e mais
intensas, ocasionando um aumento significativo dos índices pluviométricos,
causando danos à sociedade e ao meio urbano. Desse modo, há também um
aumento da frequência das inundações no município de Ribeirão Preto,
representando 60% das mesmas, mais especificamente na região “baixada”. Há um
destaque para o ano de 2002, pois esse apresentou a maior altura pluviométrica nos
últimos 40 anos e os impactos causados pela enchente foram visivelmente maiores.
As consequências dessa falta de planejamento, regulamentação e
controle de ocupação do solo nas áreas de riscos são sentidas em praticamente
todas as cidades de médio e grande porte do país, como é o caso do município de
Ribeirão Preto que, de acordo com fontes 2011 do IBGE, possui 612.339 habitantes
em sua população total. Depois que o espaço está ocupado, as soluções disponíveis
são extremamente caras, tais como canalizações, retificações, diques com
bombeamentos, reversões e barragens, entre outras.
As construções de obras hidráulicas nos cursos d’água provocam
alterações no regime do córrego tanto para jusante, por exemplo, a realização de
canalizações, como para montante, por exemplo, a construção de barragens.
Controlar as inundações significa intervir nos diversos processos e elementos
envolvidos, objetivando minimizar seus efeitos. As medidas de controle de
inundações são divididas em estruturais e não estruturais. As primeiras são as que
se caracterizam pela construção de obras hidráulicas de grande porte, destinadas a
reter, confinar ou escoar com maior rapidez e menores cotas o volume de enchente.
Normalmente, apresentam grande área de influência e envolvem frequentemente a
aplicação maciça de capitais. São as medidas mais divulgadas, solicitadas e
empregadas, constituindo-se de obras de retificação, ampliação da calha,
canalização, diques de proteção e reservatórios regularizadores de vazão. Possuem
caráter corretivo, visto que solucionam os problemas já existentes, não eliminando a
total possibilidade de inundação, apenas diminuindo a frequência. Já as segundas,
são as ações que abrangem toda a bacia, ou de natureza institucional, administrativa
ou financeira, adotadas individualmente ou em conjunto, espontaneamente ou por
força da legislação, destinadas a atenuar os deflúvios ou adaptar os ocupantes das
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áreas parcialmente inundáveis para conviverem com a ocorrência periódica do
fenômeno. Por seu caráter preventivo, dispensam a alocação de enormes somas de
recursos exigidos para a execução das obras chamadas estruturais.
Dentre as medidas não estruturais é de suma importância o controle do
crescimento das áreas urbanas através do disciplinamento do uso e ocupação do
solo para que no futuro não se intensifiquem os inconvenientes provocados por
inundações, que aumentam os riscos de insegurança das populações e atividades
localizadas nas várzeas, pois controlar e regularizar a ocupação do solo é agir de
maneira preventiva.
Medidas a fim de corrigir o problema e mitigar os impactos causados
pelas enchentes e inundações são utilizadas e aplicadas em detrimento das medidas
que previnem a causa provocadora de tal situação. O solo já foi ocupado e utilizado
irregularmente por parte da população e a prefeitura, através de processos lentos e
graduais, tenta reverter essa situação depois que ela já foi instalada.
Em conjunto com essas modificações corretivas físicas, a prefeitura
investe também em programas e projetos de conscientização coletiva ambiental,
como por exemplo, a criação de um grupo de estudos anti-enchentes no qual
objetivava o Plano Geral de Macrodrenagem em 2009; do Programa Integrado de
Educação, sendo esse oriundo da Secretaria Municipal da Educação em parceria com
a Secretaria do Meio Ambiente, o mesmo envolve um grupo de discussão sobre as
causas das enchentes.
Desse modo, as enchentes e inundações na “baixada” da cidade, geram
inúmeros impactos que estão envolvidos nos âmbitos econômicos, sociais e
ambientais e que são (inter) relacionados. Podem-se citar alguns prejuízos tangíveis
como danos materiais, devido aos alagamentos em residências, em
empreendimentos comerciais, indústrias e no sistema viário implantado na várzea;
desabrigados que perdem total ou parcialmente suas residências; proliferação de
doenças; a geração de custos das emergências para o poder público; carros e ônibus
inundados, pontes danificadas que também estão associadas à queda de árvores;
falta de transporte público; congestionamento do tráfego de veículos e sua circulação
desordenada; corte na energia elétrica, entre outros. Deve-se destacar os danos não
materiais como o desaparecimento de pessoas; mortes e pessoas atingidas
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indiretamente. Além disso, a região da baixada sofre também com a desvalorização
imobiliária e os imóveis desocupados são utilizados para o tráfico, consumo de
drogas e prostituição.
Os comerciantes e prestadores de serviços atingidos pelas constantes
inundações têm que adaptar seus estabelecimentos para não sofrerem com perdas
de mercadorias, deterioração dos espaços e com os estragos físicos nos
estabelecimentos. Além das comportas construídas para impedir ou pelo menos
tentar barrar a passagem da água, os comerciantes adaptaram suas empresas em
um nível superior ao da calçada, atingindo até dois metros de altura. Uma medida
eficiente tomada pelos comerciantes do mercado municipal foi a instalação de
bombas de sucção para retirar a água que ultrapassa as comportas. Mesmo com tais
adaptações, alguns proprietários resolveram vender suas lojas e afins, devido
tamanho prejuízo.
Há um projeto, estabelecido por um plano de ação contra enchentes, que
entrou em vigor no ano de 2008 durante o governo da prefeita Dárcy Vera,
representante do partido Democratas (DEM), quando foi eleita, no qual objetiva
minimizar e mitigar ao máximo os impactos sócio –econômicos –ambientais e seus
consequentes efeitos, com a ideia de diminuir a frequência das ocorrências de
enchentes no município.
CANHOLI, P. Drenagem urbana e controle de enchentes. Oficina de textos, 2005.302p.
CHRISTOFOLETTI, A. Análise de sistemas em geografia. São Paulo: HUCITEC, 1979. 106p.
DAEE. Plano Estadual de Recursos Hídricos: Primeiro Plano do Estado de São Paulo. São Paulo.
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Jorge Luiz Fernandes de Oliveira [email protected]
Marina Aires
[email protected] Universidade Federal Fluminense
Palavras- chave: Bacia Aérea III, aeroporto Santos Dumont, modelos numéricos
O presente trabalho tem por objetivo analisar a influência do aeroporto
Santos Dumont na qualidade do ar da Bacia Aérea III, tendo em vista que essa bacia
engloba parte da cidade do Rio de Janeiro. A aviação civil, a nível mundial está em
constante expansão e consome de 2 a 3% dos combustíveis fósseis. Dessa forma, as
aeronaves são fontes emissoras de poluentes, que comprometem a qualidade do ar.
Para o presente artigo foram utilizados modelos numéricos para analisar o
comportamento da atmosfera e as trajetórias dos poluentes emitidos no referido
aeroporto.
No inverno, estação na qual ocorre o fenômeno da inversão térmica,
verifica-se um número expressivo de internações causadas por problemas
respiratórios. Esse é um dos problemas de difícil solução nos grandes centros
urbanos, onde veículos leves (motocicletas e automóveis) e pesados (ônibus e
caminhões) são os principais emissores de poluentes. Além do setor transporte as
indústrias emitem substâncias nocivas precursoras de oxidantes fotoquímicos, que
prejudicam a saúde dos seres vivos, deterioram bens materiais e comprometem a
qualidade do ar.
A área de estudo do presente artigo faz parte da RMRJ que fora dividida
em 4 Bacias Aéreas pela antiga Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
(FEEMA) na década de 1980 e retificada por Oliveira (2004) e Farias (2012). “Uma
bacia aérea, embora o nome sugira um volume da atmosfera, é uma área cujo relevo,
delimitado por uma cota altimétrica mínima, dificulta a dispersão de poluentes
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gerados pelas atividades sócio-econômicas” (OLIVEIRA, 2004). Nessa bacia existem
2 aeroportos e 2 refinarias de petróleo. O aeroporto Santos Dumont está localizado
na Bacia Aérea III.
Além do setor transporte rodoviário, o transporte aéreo tem um papel
importante na qualidade do ar. Hoje, milhares de aviões transportam milhões de
passageiros por todo o mundo. A dimensão da frota mundial tem aumentado
consideravelmente durante as últimas décadas, contribuindo com grande carga
poluidora para a atmosfera.
Dados e metodologia
Utilizou-se as reanálises (KALNAY et al., 1996) baixadas do National Center of
Environmental Prediction (NCEP) e do National Center for Atmospheric Research
(NCAR), do mês de junho de 2007. O modelo Brazilian Regional Atmospheric
Modeling System (BRAMS) foi alimentado com as reanálises para simular o
comportamento da atmosfera com o tempo máximo de integração de 48 horas, com
3 grades centradas na bacia III, tendo a fina resolução de 2,5 x 2,5 km. O campo de
escoamento gerado pelo BRAMS foi utilizado para calcular as trajetórias avante
(forward), com o modelo de trajetória cinemática 3D (TC3D) (FREITAS, 1999), dos
poluentes emitidos na área de estudo no dia 15 de junho de 2007, nos horários de 9
e 18 horas local.
Resultados
Trajetórias dos poluentes no dia 15 de junho de 2007
Na Figura 1 verifica-se que a trajetória dos poluentes emitidos no aeroporto
Santos Dumont segue em direção ao Oceano Atlântico Sul, com altitude de 500 m,
desvia em direção ao estado de São Paulo com altitude em torno de 2600 m, retorna
ao estado do Rio de Janeiro com altitude aproximada de 2400 m.
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Figura 1: Trajetória dos poluentes emitidos no aeroporto às 9 horas
Na Figura 2 verifica-se que a trajetória dos poluentes emitidos no aeroporto
Santos Dumont segue em direção ao Oceano Atlântico Sul, com altitude de 500 m.
Figura 2: Trajetória dos poluentes emitidos no aeroporto às 18 horas
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Conclusão
Os poluentes emitidos no aeroporto Santos Dumont no dia 15 de junho de
2007 às 9 horas seguiram em direção ao oceano Atlântico Sul, passaram pelo estado
de São Paulo e retornaram à Bacia Aérea III. Os poluentes emitidos no horário das
18 horas seguiram em direção ao Atlântico Sul não retornando ao continente no
período de integração. Verifica-se que os poluentes emitidos no aeroporto Santos
Dumont influenciam na qualidade do ar não só da RMRJ como também do estado de
São Paulo.
FARIAS, H.S. de. Espaços de risco à saúde humana na Região Metropolitana do Rio de Janeiro: um estudo das trajetórias de poluentes atmosféricos do Arco Metropolitano, CSA e Comperj. Niterói, 2012,149p. Tese (Doutorado em Geografia – PósGEO - UFF) Universidade Federal Fluminense.
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OLIVEIRA, Jorge Luiz Fernandes de.
Poluição atmosférica e o transporte rodoviário: perspectivas de uso do gás natural na frota de ônibus urbanos da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1997. 172p. Dissertação (Mestrado em Planejamento Energético – COPPE) - Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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Henrique Albiero Pazetti
[email protected] Instituto de Geociências e Ciências Exatas
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Palavras-chave: Geografia, lugar, cururu
Introdução
Este trabalho é fruto de algumas indagações e reflexões que vem sendo
feitas no programa de pós-graduação (mestrado) na Universidade Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP), campus de Rio Claro. Ele tem como anseio principal
analisar a relação do homem com o espaço (principalmente na escala local) e o
modo como é expresso através da música, neste caso específico o foco será a
música caipira e o cururu.
O viés fenomenológico presente na Geografia Humanista norteará este
trabalho. A Geografia Humanista surge como uma crítica à ciência positivista que
sendo “dogmática, abstrata e estreita em sua abordagem [...]” (ENTRIKIN, 1980, p.
21) deixa de lado aspectos importantes na relação do homem com o espaço
geográfico. Diferenciando-se do espaço matemático, a Geografia Humanista
compreende este (o espaço) como carregado de sentimentos e emoções, símbolos e
imaginações, muito presentes na música, foco primordial neste trabalho.
O trabalho acompanha o movimento crescente na Geografia que tem
trabalhado com novos temas nos últimos tempos, diversos assuntos que antes não
eram considerados no campo desta ciência vêm sendo estudados. A música é um
destes temas, porém, temos poucos trabalhos que procuram aliar música e
Geografia, principalmente aqui no Brasil.
Esta renovação temática é muito importante, pois, possibilita rever e
aprofundar conceitos importantes da Geografia através de outros ângulos. Procurar
compreender o espaço geográfico através da música nos abre novas possibilidades
de análise da relação do homem com o meio, permitindo que avancemos no corpo
teórico e prático de nossa disciplina.
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A origem da música caipira e do cururu
Sua origem é a mistura de dois elementos principais, o índio e o europeu.
Desde sua chegada ao Brasil o colonizador encontrou na música uma forma de
“cativar” os índios no processo de catequização através de seus instrumentos e
tradições musicais, dentre eles a viola (fundamental na realização deste estilo
musical). Por sua vez os indígenas tinham sua música marcada pelas danças com
forte ênfase rítmica, com o bater das mãos e dos pés. Deste encontro surgiram o
cateretê e o cururu, sementes da música caipira (ABREU, 2001).
A música caipira apresenta uma grande amplitude de ritmos e tradições.
O foco deste trabalho é o cururu que surge como uma adaptação a uma dança
indígena, utilizada com fins religiosos pelos europeus. Com o passar do tempo sua
forma foi se alterando, tornando-se uma espécie de repente paulista, onde dois
canturiões (os cantadores) duelam através de versos improvisados em uma mesma
rima (chamada de carreira), sobre os mais variados temas, sagrados ou profanos.
Existem duas versões principais para determinar a origem do termo
cururu, para alguns pesquisadores o termo surgiu da dificuldade que os índios
tinham em pronunciar a palavra cruz, assim ela foi se transformando até chegar ao
termo cururu (OLIVEIRA apud VILELA PINTO, 1999, NEPOMUCENO, 1999;
ANASTACIO, 2010). A outra versão afirma que o termo cururu se origina da palavra
Kuru´ru (um tipo de sapo na linguagem tupi), pois os índios dançavam pulando,
como sapos (OLIVEIRA, 2004).
O cururu se enraíza e se espalha pelo interior do estado de São Paulo
principalmente através dos Bandeirantes e posteriormente pelos Tropeiros, que
levaram consigo não somente cargas e produtos, mas também a cultura caipira,
difundindo-a sertão adentro.
Geografia, lugar e música: diálogos possíveis
Na música caipira, bem como nas trovas de cururu podemos perceber a
íntima relação do homem com o lugar: a saudade da terra natal e da casinha de
criação, da paisagem local, os cheiros, as cores e o cotidiano que tanto alimentam a
mente do cantor. Isto nos aponta para uma direção importante neste trabalho: a
música e sua ligação com o lugar que com suas características específicas, oferece
condições para a formação de estilos musicais diferentes: são como as cores e
pincéis fornecidos ao pintor para que faça sua obra.
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O lugar é um conceito muito importante para a Geografia, e recebe uma
atenção especial na Geografia Humanista (vertente que tem na fenomenologia uma
de suas bases filosóficas e alicerce na apreensão da relação do homem com o
mundo) que analisa o espaço pela dimensão da experiência humana e “significa
muito mais que o sentido geográfico de localização. Não se refere a objetos e
atributos das localizações, mas a tipo de experiência e envolvimento com o mundo, à
necessidade de raízes e de segurança” (RELPH, 1979, p.17). A pessoa se faz no
lugar, alterando-o e sendo alterada ao mesmo tempo, uma experiência cotidiana
expressa nas manifestações culturais, como a música.
Sendo a música um atributo humano, permeada por sentimentos, fruto da
vivência do homem com o lugar, entendemos que este viés geográfico (o humanista)
é quem melhor atende nossas necessidades para o presente trabalho, pois, focando
o espaço pelo olhar humano é possível abarcar coração e mente, razão e emoção,
música e ciência, quesitos fundamentais nesta jornada.
Conclusão
Como já foi mencionado acreditamos ser de suma importância uma
renovação temática na Geografia que possibilite analisar a relação do homem com o
meio em que habita por outros ângulos que possam engrandecer e fortalecer o corpo
teórico e prático em nossa disciplina.
Outra relevância enxergada neste trabalho é a revalorização das tradições
e culturas locais que são fundamentais para o sentido de pertencimento a um lugar e
a um habitar1. Isto é essencial para o ser humano se sentir seguro, acolhido no
espaço em que vive (na verdade tornando espaço em lugar (TUAN, 1983)), ainda
mais nos tempos atuais em que somos bombardeados pelos diversos meios de
comunicação com “culturas” que nem sempre nos são pertencentes e que pouco ou
quase nada nos acrescentam.
Este cenário pode deixar o homem desnorteado, sem chão, sem uma
referência sobre si mesmo e sobre o lugar em que vive, é neste contexto que o
trabalho pretende fazer um resgate das raízes da cultura caipira e do cururu,
1 O habitar na Geografia Humanista está embasado no conceito de dwelling do filósofo Martin
Heidegger e “[...] implica mais do que morar, cultivar ou organizar o espaço. Significa viver de um modo pelo qual se está adaptado aos ritmos da natureza, ver a vida da pessoa como apoiada na história humana e direcionada para um futuro, construir um lar que é símbolo de um diálogo diário com o meio ambiente ecológico e social da pessoa” (BUTTIMER, 1982, p.166).
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propondo uma revalorização das identidades locais, consequentemente, uma
revalorização do homem e de sua manifestação através da música.
ABREU, Martha Campos. Histórias da Música Popular Brasileira, uma análise da produção sobre período Colonial, 2001. Disponível em: http://www.historia.uff.br/nupehc/files/martha.pdf. Acessado em: 10/03/2011.
ANASTÁCIO, Ricardo. História, Método e
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BUTTIMER, Anne. Apreendendo o dinamismo do mundo vivido. In: CHRISTOFOLETTI, Antonio. Perspectivas da geografia. Rio Claro, SP: Difel, 1985
ENTRIKIN, J. Nicholas. O Humanismo
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OLIVEIRA, Allan de Paulo. O Tronco da
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RELPH, E. C. As Bases Fenomenológicas
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TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a
perspectiva da experiência. (trad. Lívia de Oliveira) São Paulo: Difel, 1983.
VILELA PINTO, Ivan. Do Velho se Faz o
Ovo. Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes. Campinas, 1999.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
Mariana Ferreira Cisotto [email protected]
Ângela Cruz Guirao
[email protected] Instituto de Geociências
Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: floresta urbana, preservação ambiental, Campinas
Introdução
A maioria das florestas urbanas do município de Campinas foi
transformada em bosques naturais urbanizados, dotados de infraestrutura para lazer
e abertos à visitação pública. As áreas de vegetação remanescente existente dentro
dos parques e bosques municipais somam 38 ha, sendo que o aproveitamento
desses fragmentos como bosques públicos minimiza a ação de alguns fatores de
perturbação, tais como incêndios, extração seletiva, mas por outro lado, sofrem com
o acentuado isolamento devido à urbanização do entorno e medidas de manejo
inadequadas (SANTIN, 1999).
Muitos desses bosques e fragmentos de vegetação nativa de Campinas
foram tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de
Campinas (CONDEPACC), sendo considerados, portanto, patrimônios naturais.
O patrimônio natural, segundo Zanirato e Ribeiro (2006), pode ser
definido como uma área natural que apresenta características particulares com
registro de eventos do passado e a ocorrência de espécies endêmicas, o que justifica
a sua manutenção, uma vez que permite o reconhecimento da história natural e,
também, possibilita analisar as consequências que o estilo de vida hegemônico pode
causar na dinâmica natural do planeta. A beleza cênica ou sua importância para o
desenvolvimento de processos naturais são os atributos que fazem a área merecer
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sua elevação à condição de patrimônio natural.
Nesse sentido, o patrimônio natural não representa apenas um
fragmento de uma vegetação nativa intocada ou ecossistemas com pouca
interferência humana, pois, pertencendo à memória social, ele incorpora paisagens,
que são objeto de uma ação cultural pela qual a vida humana se produz e se
reproduz, possuindo assim um duplo caráter: de memória natural e cultural
(RODRIGUES, 1998). Assim, este estudo tem como objetivo relacionar a resolução
de tombamento do Bosque dos Jequitibás (Campinas- SP) com sua preservação.
Proteção ambiental
Em 1915, a Prefeitura de Campinas adquiriu do cidadão Francisco Bueno
de Miranda o parque denominado Bosque dos Jequitibás, de tradicional memória na
cidade, tornando-se o principal espaço de lazer de Campinas até os dias atuais. Ele
possui uma diversificada infraestrutura: área de alimentação, com diversas
lanchonetes; área de recreação, com brinquedos infantis; fontes e um trenzinho; o
Teatro Carlos Maia; o Museu de História Natural, o Aquário e o Zoológico Municipal.
O Bosque dos Jequitibás teve sua proteção garantida por meio dos
seguintes instrumentos legais: o Tombamento do Zoológico pelo Conselho de
Defesa do Patrimônio Histórico, Arquitetônico, Artístico e Turístico do Estado de São
Paulo (CONDEPHAAT) em 1970; o Tombamento do Bosque dos Jequitibás pelo
Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (CONDEPACC),
em 19 de outubro de 1993, por meio da Resolução n° 13/93 e; Reconhecimento do
zoológico pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) em 1995.
O tombamento é uma das iniciativas possíveis de serem tomadas para a
preservação dos bens culturais e ambientais, na medida em que impede legalmente
a sua destruição e descaracterização. A Resolução de Tombamento pelo
CONDEPACC estabelece uma área envoltória de 300 metros, onde as edificações
posteriores à referida resolução devem obedecer a um zoneamento de preservação
específico quanto ao gabarito de altura. As alturas máximas das edificações variam
de 5 a 30 metros, a partir do nível da rua até a cumeeira do telhado, conforme zona
de proteção detalhada na resolução. Também são determinadas regulamentações
para a garantia da área permeável, conforme a área do lote, variando de 2 a 10% de
permeabilidade para os lotes com área total ou inferior a 300 m². Já os lotes com
área superior a 300 m², a área permeável é estabelecida em função de uma fórmula
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específica.
Para o Bosque dos Jequitibás como patrimônio tombado do Estado de
São Paulo as restrições e possibilidades são especificadas, submetendo a área a um
regime jurídico, que atrela os usos da terra às regras de preservação, interferindo na
ação dos agentes públicos e privados na produção do espaço geográfico. O
instrumento de tombamento também valoriza determinadas áreas, ao reconhecê-las
como patrimônio do Estado, fomentando novas perspectivas de exploração
econômica (SCIFONI, 2006).
Ocupação do entorno x preservação ambiental
Em 1981, houve uma grande alteração da dinâmica de ocupação da
região do entorno do Bosque dos Jequitibás durante a administração do prefeito
Francisco Amaral, quando foi instituída a Lei Municipal nº 5138 de 24/09/81, que
proibiu a construção de prédios com mais de dois pavimentos em um raio de 100
metros do Bosque, o que alterou consideravelmente a dinâmica de ocupação da
terra, alterando a dinâmica imobiliária do bairro e aumentando o valor dos lotes e
promovendo uma dispersão da população para regiões mais afastadas.
Além disso, essa proibição foi uma tentativa de minimizar a influência
direta das construções no entorno do Bosque, que alteram a características de
sombreamento, nível do lençol freático e radiação solar no remanescente. Segundo
especialistas, as fundações dos prédios que circundam o Bosque, em forma de
cinturão, alteram o curso d´água no subsolo, e as construções fizeram com que
fosse reduzido o número de horas de luz solar que a mata precisa. Além disso, o
referido paredão faz com que a haja a formação de uma corrente de ventos que pode
eliminar água das plantas e até derrubar árvores (HEURI et al., 1993).
O entorno do Bosque dos Jequitibás é uma área de urbanização
consolidada e muito verticalizada, onde há o predomínio de usos múltiplos, de
comércio, serviços e residências. A região teve rápido adensamento urbano a partir
da década de 1960, tendo aumentado o número de imóveis em 11 vezes entre 1971 e
1980 quando comparado ao período de 1961 a 1970 (EMPLASA, 2005). A região
sofreu drástica alteração, passando de majoritariamente não urbano (0,89% em
1962) para, na prática, integralmente urbano (99,30% em 2005) (FUTADA, 2007).
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A moderna preocupação com a qualidade de vida e ambiental, fez da região
do Bosque dos Jequitibás, uma das mais valorizadas nas últimas décadas, com
terrenos à custos elevadíssimo e promovendo uma intensa verticalização.
O que se observa, portanto, é que a legislação de tombamento como
patrimônio ambiental urbano, quando analisada para inibir o adensamento urbano
devido a grande valorização do entorno dessa área, não foi suficiente, devido à falta
de fiscalização e regulação.
Considerações Finais
A necessidade de uma distribuição mais igualitária de áreas verdes na cidade é
destacada por vários urbanistas, pois a localização destas, na maioria das vezes, está
associada à especulação imobiliária. Assim, os espaços destinados ao lazer, parques
e praças públicas, quando bem equipados, tornam as áreas em seu entorno mais
valorizadas e, consequentemente, procuradas pela garantia de uma vida mais
saudável devido aos diversos benefícios que esses espaços lhes oferecem.
As medidas de proteção e as propostas da preservação ambiental em área
urbana, como o tombamento de áreas verde, sem a adoção de políticas urbanas
pautadas por compromissos e ações de cunho social por parte da administração
pública, tornam-se meros instrumentos de recuperação do valor imobiliário de áreas
degradadas dos centros urbanos.
EMPLASA, Região Metropolitana de Campinas – Padrões urbanísticos da região metropolitana de Campinas, dezembro de 2005. CD-ROM
FUTADA, S. M. Fragmentos
remanescentes da bacia do ribeirão das Anhumas (Campinas-SP): evolução e contexto. Dissertação de mestrado. Universidade Estadual de Campinas, 2007.
HEURI, D.; VARJABEDIAN, R.; SCIFONI,
S.; ESMERIZ, C.M.R.P.; GERALDI, S.M.; RODRIGUES, A.A.V. Revisão da regulamentação da área envoltória do Bosque dos Jequitibás, 1993 in Processo de
Tombamento Bosque dos Jequitibás (CONDEPACC, Resolução n°13 de 02/09/1993).
RODRIGUES, A. M. Produção e Consumo
do e no Espaço: a problemática ambiental urbana. São Paulo: Hucitec, 1998.
SANTIN, D. A. A vegetação remanescente
do município de Campinas (SP): mapeamento, caracterização fisionômica e florística, visando à conservação. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, 1999.
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SCIFONI, S. A construção do patrimônio natural. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 2006.
ZANIRATO, S. H.; RIBEIRO, W. C.
Patrimônio cultural: a percepção da
natureza como um bem não renovável. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 26, n. 51, 2006.
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Sergio Elias Caperuci [email protected]
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”
Palavras-chave: comunidade caiçara, turismo, associações de moradores
Esta pesquisa foi realizada na comunidade caiçara da Praia do Sono
localizada na Região sul do estado do Rio de Janeiro, no perímetro pertencente ao
município de Paraty. Uma vila de pescadores e agricultores de aproximadamente 300
moradores, que vivem nessa região a aproximadamente 400 anos, tendo o acesso
apenas pelo mar, ou por trilha pela mata atlântica.
Durante o vasto período que vai do século XVIII ao início do século XX,
verificou-se no Brasil a formação de várias comunidades litorâneas cujos membros
viviam, sobretudo ou parcialmente, da atividade pesqueira. Essas comunidades, “os
caiçaras”, estavam dispersas por todo o litoral sudeste e seus modos de vida e
culturas específicas puderam imergir, diferenciando profundamente seus membros
dos grupos que viviam na órbita de outras atividades e outros nichos ecológicos.
(SILVA, 1993).
Na realidade dessa comunidade ainda tem-se o fato de estar inserida no
interior de duas áreas de proteção ambiental sobrepostas, sendo essas a “APA- Área
de Proteção Ambiental do Cairuçú” e a “REJ- Reserva Ecológica do Juatinga”. Fato
que influencia diretamente o cotidiano dessas, e a dinâmica de organização do
espaço.
Atualmente essa área esta passando por um processo de intensa
valorização pela atividade turística, que observa grande potencial em virtude de suas
potencialidades paisagísticas. Esse processo porem tem efeitos profundos na vida
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cotidiana e na configuração espacial de pequenos núcleos de povoamentos em meio
à densa vegetação.
Sobre turismo, Cruz (2003) aponta que segundo a OMT (Organização
Mundial do Turismo) turismo é uma modalidade de deslocamento espacial, que
envolve a utilização de algum meio de transporte e ao menos uma pernoite no
destino; esse deslocamento pode ser motivado pelas mais diversas razões, como
lazer, negócios, congressos, saúde e outros motivos, desde que não correspondam a
formas de remuneração direta.
Conflitos em lugares apropriados pelo turismo são resultantes das
diferenças de territorialidades que caracterizam o uso de seus territórios, que quer
dizer, entre a territorialidade nômade dos turistas e a territorialidade sedentária dos
residentes locais. As lógicas que movem a apropriação dos aspectos por um e por
outro ator social. Nesses casos, turistas e residentes têm naturezas muito diferentes
e, por isso, muitas vezes conflitantes. Se por um lado, a apropriação dos lugares
pelos turistas se da a partir de relações por mais fugazes com os lugares que visitam,
por outro os residentes desses lugares tem relações mais duradouras com seu
quinhão de território. (KNAFOU, 1996 apud CRUZ, 2003).
Sabendo-se dessa problemática ao redor da formação de uma estrutura
voltada a atender as necessidades trazidas com os visitantes foi realizada uma
analise de como os moradores dessa comunidade estão lidando com essa nova
demanda e de certa maneira se “defendendo” dos efeitos negativos trazidos com o
turismo.
Observou-se nesse estudo de caso que os moradores se organizam na
forma de uma Associação de Moradores, que se trata de um espaço onde os
integrantes da comunidade, que residem e retiram seu sustento da natureza e do
turismo podem expor e debater suas ideias, suas aspirações e reivindicações, na
intenção de pressionar a prefeitura de Paraty, e de certa forma organizar a atividade
turística para que essa possa se desenvolver da maneira menos nociva possível para
a cultura e o ambiente.
O alto fluxo de visitantes nos meses de alta temporada e a baixo numero
nos meses de inverno no Brasil caracterizam o turismo nessa região como sazonal,
ocorrendo que em determinada época do ano os moradores se preparam para
receber turistas e captar da melhor forma possível seus recursos, e nos meses de
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baixa temporada buscam seu sustento de outras atividades principalmente a pesca,
muitos ainda saem da comunidade e buscam trabalho nas cidades mais próximas.
Com esse fato é possível perceber o quanto o turismo reconfigura o
território dessa comunidade, e o quanto de certa forma já se desenvolveu certa
dependência dessa atividade, que segundo os próprios moradores pode ser
interpretada de muitas formas, tanto positivas quanto negativas, dependendo quais
variáveis que estão sendo levadas em consideração.
Pode-se tirar algumas conclusões desse estudo sendo que, mesmo em
uma escala reduzida, a associação de moradores desenvolve um importante papel
na questão da conscientização e do engajamento político da comunidade, também já
foram obtidas algumas melhorias significativas no cotidiano dessa comunidade em
virtude de manifestações organizadas pela associação na intenção de se pressionar o
poder público para o processo de especulação imobiliária que acontece nessa região.
Porém, levando em consideração o potencial turístico, e a realidade de
inúmeras comunidades caiçara que residem nessa região, as melhorias na vida e na
acessibilidade ao espaço, a educação, e cultura podem ser muito mais relevantes se
os moradores se conscientizarem de sua condição e se motivarem por um
comportamento comum, que pode trazer mudanças e melhorias profundas em sua
realidade.
CRUZ, Rita de Cássia. Introdução à geografia do turismo. São Paulo, Editora Roca, 2003.
CRUZ, R. A. Turismo e o mito do
desenvolvimento. Espaço e Geogra-fia, vol.3, jan-jun. 2000.
SILVA, L. G. S. da. Caiçaras e jangadeiros:
cultura marítima e modernização no Brasil. CEMAR: Centro de Culturas Marítimas, USP. São Paulo, 1993.
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Thiago Rodrigues Gonçalves [email protected]
Instituto de Geociências e Ciências Exatas Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”
Palavras-chaves: geograficidade, geosofia, lugar
Quanto da vida humana a Geografia é capaz de compreender fora do
lugar? Até que ponto a análise fria de dados “duros” pode alcançar da vida cotidiana?
E mais: é do escopo da Geografia o dia-a-dia, o corriqueiro, o cotidiano? Cabe ao
geógrafo atentar para o que não está aparentemente determinado pelas
macroestruturas que comandam o mundo?
Tais questionamentos nos levam a enxergar geografias, para além de
uma única geografia. Nos faz atentar para o mundo das infinitas experiências
humanas, que conseguem criar a cada novo momento de encontro um novo mundo
construído pelo conhecimento geográfico que todos e cada um possuímos. A
“geosofia” (WRIGHT, 1947; MARANDOLA JR., 2010) que, então, vai tratar desse
mundo tornado lugar, obriga o trabalho do geógrafo a se expandir infinitamente e
apreciar com olhar neófito, até mesmo, o hábito que faz com que as pessoas
prefiram este ponto de ônibus àquele. Porque a cada nova escolha, a cada nova crise
criada pelo meio, a cada nova resposta a essa crise, temos novas geografias.
A partir daí, tudo é geográfico. Isto porque, de fato, tudo é geográfico. E a
relação das pessoas com seus lugares passa a conter todas as possibilidades de uma
existência no mundo, atenta e consciente. Um contínuo suceder de novas
experiências que significam a vida humana e o planeta, uma relação íntima,
umbilical, com o telúrico – uma “geograficidade” (DARDEL, 2011) da existência.
E a “geograficidade”, como nos ensinou Eric Dardel, toma a todos e a
tudo de surpresa, porque existir enquanto “ser-no-mundo” só é possível num mundo
em que aquilo que me rodeia ganhou sentido profundo de valoração e
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pertencimento. É bom ter em mente alguns poucos exemplos daquilo a que nos
referimos aqui. O ser armênio é o sentimento de armênio que emana do Monte
Ararat – que se vê todas as manhãs da janela com sofrimento, uma vez que já não
pode mais ser alcançado, já que jaz além da fronteira turca –; um negro quilombola é
aquilo que sabe e extrai da terra onde seus antepassados pisaram, marcando com
suor e sangue um território de luta contra a escravidão; um homem de negócios, alto
executivo, tem nos aeroportos que frequenta o porto seguro de sua existência
frenética. Um sentido de proximidade com o planeta percorre todas essas relações
humanas, tão distintas, com distintos atores, símbolos e lugares.
Quanta geografia existe nos meandros dessas jornadas existenciais que a
Geografia escolhe não ver…
De mesmo modo que ocorre com quilombolas, armênios e altos
executivos, essa relação íntima também pode ser vislumbrada na Arte
(MARANDOLA JR., GRATÃO, 2010). Em alguns casos mais obviamente, noutros
demandando maior atenção, mas sem dúvida que o sentido de “geograficidade” está
presente em todas as formas de expressão artística que a imaginação e o intelecto
humanos foram capazes de criar. Dança, pintura, escultura, teatro – música. Uma
infinidade de explosões criativas, resultado do encontro nem sempre pacífico entre
Homem e Mundo – carregando em si as experiências daqueles que as utilizam como
válvula de escape.
Sem dúvida trata-se de uma perspectiva que torna a aproximar a
Geografia de suas ciências irmãs – a Antropologia, a Sociologia, a História. Mas sob
um viés muito mais ontológico que epistêmico. Resgatando dessas ciências o
conhecimento construído ao longo de séculos de separação e distanciamento, a fim
de poder mergulhar profundamente nos sentidos do mundo.
Porque, como olhar para um ensaio de uma escola de samba, por
exemplo, e querer encontrar positivamente aspectos distintos, concernentes a cada
um desses campos de saber? “Isto” é geográfico, enquanto “aquilo” é antropológico
– e o que é uma coisa não pode, positivamente, ser outra, são divisões estanques e
permanentes. Não é o que propõem outros paradigmas dentro da ciência geográfica.
Trata-se de somar antes de subtrair e classificar.
O samba “é a tristeza que balança”, disseram Vinícius de Moraes e
Baden Powell, que também avisaram que “pra fazer um samba com beleza é preciso
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um bocado de tristeza”. Cantam o “Samba da Benção” e pedem licença aos bambas
que souberam fazer desse aviso matéria-prima de músicas que estão no coração de
muitas pessoas. Ambos não podiam estar mais corretos quando dizem isso, porque,
de fato, há no “samba bonito” um fundo de lamento, que o povo expressa
alegremente e dança em festas as mais variadas.
Pedindo licença aos poetas-compositores, gostaríamos de incluir que
além desse sentimento profundo (quase ancestral) de tristeza que o samba carrega,
ele também é continente de expressões por vezes as mais singelas da
“geograficidade” de que falávamos anteriormente. Em suas letras certamente (desde
os sambas-enredo e sambas-exaltação, passando pelos partido-altos de domingos
em família, chegando até a bossa-nova e seus acordes comedidos), mas também na
sua concretização enquanto “fenômeno geográfico”.
Porque o samba tem lugar, acontece em um lugar. Lugar que é assim em
função das relações que são estabelecidas entre as pessoas e o espaço por causa do
samba. Rodas de samba, terreiros de samba, casas de samba, ruas de samba,
escolas de samba, fundos de quintais, mesas de botecos, enfim, lugares que ganham
concretude, sentido e relevância para a existência de muita gente bamba porque ali
se reúnem, se encontram (consigo mesmos) para fazer o samba.
A tripla esquina das ruas São Vicente, Cardeal Leme e Dr. Lourenço
Granado, no bairro do Bixiga (que não existe oficialmente, mas extraoficialmente,
certamente), em São Paulo é um desses lugares-samba. Num prédio acanhado para
caber tanta história (geografia, antropologia, etc.) está a sede do Grêmio Recreativo
Cultural Social Escola de Samba Vai-Vai, o Vai-Vai. Durante uma época do ano,
quando está dada a largada para o próximo desfile de Carnaval, esse lugar com
endereço fixo e paredes também fixas extravasa-se à base de suor, surdos e gentes, e
toma de assalto as ruas adjacentes, transformando o bairro e os cotidianos.
Essa transformação não acontece espontaneamente (é dizer: não é
constitutiva do espaço, uma propriedade intrínseca do lugar), nem é o resultado de
fatores facilmente explicáveis. São os milhares de participantes dos ensaios da
Escola que fazem daquelas ruas comuns (algo que, depois do exposto até aqui, é
difícil acreditar que exista) lugar. São suas experiências, descombinadas, caóticas,
descontínuas – no entanto, conscientes – do mundo à sua volta que resignificam
ruas e as tronam outra coisa; confere-lhes novas geografias, num átimo.
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Do mesmo modo súbito como a transformação se dá, ela desaparece.
Mas apenas para dar lugar a outras formas relacionais com aquele espaço de São
Paulo. Espaço pequeno, mesmo diminuto, diante da dimensão da metrópole (ainda
menor se a escala é todo o globo).
Quanto da vida humana a Geografia é capaz de compreender fora do
lugar? O lugar entendido como essa dimensão geográfica da existência humana,
dimensão de amores e ódios, sentimentos, ações, cotidianos (TUAN, 1975; 1983;
RELPH, 1979; HOLZER, 1999). Responder a tal questionamento é não abrir mão de
compreender a vida humana em seus inúmeros aspectos, é buscar desvendar o que
jaz inconspícuo nesse mundo “tal como ele é”, olhá-lo de relance e vislumbrar as
possibilidades de geografias que o permeiam.
DARDEL, Eric. O Homem e a Terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva, 2011. 108p.
HOLZER, Werther. “O lugar na Geografia
Humanista”. Território, Rio de Janeiro, ano IV, n.7, p. 67-78, jul./dez. 1999.
MARANDOLA JR., Eduardo. “Humanismo
e arte para uma geografia do conhecimento”. Geosul, Florianópolis, v. 25, n. 49, p. 7-26, jan./jun. 2010.
MARANDOLA JR. Eduardo; GRATÃO,
Lúcia H. B. "Geograficidade, Poética e Imaginação" In: MARANDOLA JR., E.; GRATÃO, L. H. B. (orgs.). Geografia e Literatura: ensaios sobre geograficidade, poética e imaginação. Londrina: EDUEL,
2010, p. 7-15. RELPH, Edward. “As bases
fenomenológicas da Geografia”. Geografia (Rio Claro), Rio Claro, v. 4, n. 7, p. 1-25, 1979.
TUAN, Yi-Fu. Place: an experiential
perspective. Geographical Review, v. 65, n. 2, 1975, p. 151-165.
_______. Espaço e lugar: a perspectiva da
experiência. São Paulo: Difel, 1983, 249p.
WRIGHT, John K. Terrae incognitae: the
place of the imagination in Geography. Annals of the Association of American Geographers, v. 37, n. 1, p.01-15, 1947.
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David E. Madeira Davim [email protected]
Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Palavras-chave: método, fenomenologia, espaço geográfico
O contexto científico atual tem vivenciado um desafio paradigmático,
uma provação desconfiada e crítica, dirigida por um pensamento e por uma ética
pós-moderna que vem se consolidando nos últimos 30 anos. Não se trata de uma
crise funcional, pois a ciência, principalmente no que se refere à produtividade das
ciências aplicadas, segue em ritmo acelerado, o que indica sua segura continuidade.
Trata-se, porém, de uma crise de autoridade que se faz crescente devido à suspeita
de falência deste modelo racionalista que universalizou suas explicações sobre a
realidade, recusando-se, assim, a interpretar os aspectos subjetivos e singulares do
mundo que se apresenta (GOMES, 2003). A Geografia, frequentemente acusada de
não apresentar resultados satisfatórios pelo uso do racionalismo em suas
metodologias de leitura sobre o mundo, também vem sofrendo os questionamentos
desta tendência pós-moderna como mais um apelo de adequação (GOMES, 2003).
Uma de suas categorias mais usuais, o espaço, vem sofrendo os reflexos destes
questionamentos. O espaço acabou se tornando a primeira substância para a
sustentação de demais conceitos chaves como paisagem, território e região, todos
revigorados pelo marxismo e pelo estruturalismo recente (CORREA, 1995). Tanto o
estruturalismo, o marxismo, e sobretudo o positivismo ainda presentes em grande
parte do corpo metodológico das ciências sociais, vêm respondendo mal às
provocações pós-modernas. Não havendo a possibilidade de estes métodos
encontrarem alternativas próprias à valorização sobre o subjetivo, ao abandono do
racionalismo, do normativismo, da objetividade sobre o real, da universalização
imposta pelos seus modelos (Estruturalismo e Marxismo), acabaram por se tornar
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um autoritarismo dogmático dentro do conhecimento. Estes resultados vão de
encontro com o próprio papel da ciência, que de fato coloca o pensamento em uma
impossibilidade de autossuperação, resultando na tão polêmica condição de crise e
em uma falta de interlocução com as demandas pós-modernas (GOMES, 2003).
Esta proposta de trabalho leva em conta as atuais críticas e exigências do
contexto científico pós-moderno, e dá continuidade ao desenvolvimento geográfico e
ao seu repensar, baseando-se em pressupostos fenomenológicos. Esta proposta
objetiva discutir e repensar o conceito de espaço sob a regência do método
humanista, especialmente o representado pela fenomenologia e pela hermenêutica.
Pautada em um logocentrismo, a Geografia estruturou sua base
científica, sendo o espaço um dos principais conceitos que marcam essa trajetória.
Para a escola tradicional, a paisagem seria a matriz de elaboração do conceito de
espaço, e nesta visão, a noção de espaço estaria associada às condições materiais
para o trabalho. Para o positivismo, a ideia de espaço tornou-se um elemento
absoluto, independente de qualquer objeto, livre de sua associação com o tempo,
como se fosse um campo transcendental estabelecido por um conjunto de pontos
que existem por si. Posteriormente, os neo-positivistas aproveitariam desta
interpretação para disseminar uma alusão cartográfica ao conceito, uma ideia de
espaço enquanto área mensurável, distância, ou matriz da materialidade (SPOSITO,
2004). No período crítico, influenciado pelo marxismo científico, o espaço foi
apresentado enquanto o próprio evento social e não simplesmente como o palco
onde o mesmo acontecia. Dentre as interpretações seminais deste entendimento, o
espaço seria visto enquanto o próprio contexto das relações e dos conflitos sociais.
Já o estruturalismo, em interlocução com o marxismo, fragmentou o evento de
conflito em elementos que se organizam, formando o espaço enquanto uma espécie
de sistema de coisas e dinâmicas. Este sistema seria representado por elementos
essenciais constituintes: a forma, a função, a estrutura e o processo (SPOSITO,
2004).
De certo modo, tanto a proposta marxista quanto sua interlocução com o
estruturalismo ofereceram uma aproximação parcial dos modelos teóricos de espaço
com a realidade, uma aproximação correta, mas não verdadeiramente ontológica. Os
modelos interpretativos sobre o espaço geográfico absorveram os elementos de uma
condição pronta e prévia dos eventos, um constructo acumulativo de ideias e
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modelos que foram organizados no sentido de estabelecer um universalismo de
entendimento sobre a realidade. A partir do momento em que o discurso crítico
sobre o espaço se torna um modelo a ser revalidado pelas experiências geográficas,
seu distanciamento da realidade se agrava (GOMES, 2003).
A perspectiva humanista ressurge no contexto epistemológico
contemporâneo como um colaborador em potencial para a superação desta
condição apriorística, racional e universalista que ainda orienta o pensamento
geográfico atual (GOMES, 2003). Nos argumentos de Holzer, a Geografia
Humanista, apoiada filosoficamente pela fenomenologia, busca compreender a
realidade, em um primeiro momento, por meio da experiência humana direta com os
fatos (HOLZER, 2003). Em um segundo momento, pelo pensamento e, por fim, nas
relações da própria Geografia com outros campos do conhecimento, dentre os
principais, a Filosofia. O propósito científico desta escola humanista se fez reflexo da
proposta filosófica de autores germinais como Husserl e Heidegger, e se preocupa
em promover um retorno a uma ciência primeira, entender os espaços por meio das
sensações, impressões, relações e na exploração do imaginário construído pelos
sujeitos em relação ao seu meio de vivência, o lugar, a substância possível de ser
conhecida pelo sujeito de forma plena (HOLZER, 2003). A Geografia Humanista não
se basta apenas no sensível, mas também nas impressões, idealizações e nos
pensamentos construídos pelos sujeitos, em detrimento desta realidade, noção
associada ao principio de imanência real de Husserl e pela ontologia de pensamento
proposta por Heidegger. A influência destes autores proporciona o surgimento de
novas metodologias de análise sobre a realidade e, consequentemente, sobre o
espaço geográfico e seus fragmentos.
Pautando-se em Heidegger, a primeira postura adequada para a
Geografia em atender as demandas pós-modernas e buscar a verdadeira
compreensão do espaço é, primeiramente, se desvencilhar dos pressupostos
exclusivamente racionais e universalistas da ciência. Posteriormente, seguindo a
proposta de Heidegger devemos questionar a realidade. Este questionamento toma
um caráter diferenciado na proposta de Tuan (apud Holzer, 2003, p. 116) que
direciona esta fase investigativa não para a realidade em si, como uma experiência
vivida pelo próprio pesquisador, mas para a relação de outros sujeitos do
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conhecimento com o real, entes que de fato possuem uma relação mais direta com a
fração espacial em questão, o lugar.
Outro exemplo metodológico desta busca verdadeira sobre o
entendimento dos espaços está presente na arqueologia fenomenológica criada por
Husserl, mas desenvolvida em contextos contemporâneos por Marandola Jr. Este
método de investigação dialoga com a proposta de Tuan, que buscam conhecer as
percepções e os significados revelados pelos sujeitos em suas experiências com os
lugares. Em contrapartida, o que é acrescentado neste encontro metodológico com
Tuan é a valorização que Marandola Jr. dá à interpretação do pesquisador mediante
suas próprias experiências com a realidade. A motivação central de arqueologia
fenomenológica é alcançar a imagem do espaço e seu entendimento por meio da
reconstituição do imaginário coletivo sobre o mesmo. Com este objetivo o
pesquisador parte do reconhecimento sobre a fluidez contemporânea. A fluidez dos
fenômenos, fruto da demanda do contexto pós-moderno, marca todos os aspectos
de nossa atual realidade e, dentre seus elementos, o pesquisador chama a atenção
para a relação entre sujeito e objeto. Na prática, esta relação fluida se dá por meio da
preocupação intuitiva com o objeto (o espaço, o lugar) e uma ação investigativa não
planejada, pois não há agendamento de atividades, leituras prévias e específicas
sobre o ambiente ou o estabelecimento de um arranjo de entrevistas. As caminhadas
pelos lugares se apresentam como a forma pela qual o pesquisador pode
experimentar a interação com o espaço e com seus sujeitos do dia a dia. Porém, esta
caminhada não é uma observação solitária. Acompanhada do “conversante”, o
trajeto não se torna apenas um alcance aos espaços, mas uma busca no
entendimento do simbólico dos sujeitos que com eles interagem por diferentes
perspectivas. Na proposta fenomenológica esse seria um método coerente. Desta
forma a análise pessoal do informante e o registro do pesquisador mediante a
observação estariam conectados, e a verdade, ou a essência sobre a realidade, seria
plenamente possível (MARANDOLA JR., 2008).
Tanto a topofilia, de Tuan, quanto à arqueologia fenomenológica de
Marandola Jr. se fundamentam no princípio defendido por Husserl em buscar as
infinidades de perspectivas sobre o fenômeno. Em uma preocupação geográfica,
validar este princípio seria considerar as inúmeras perspectivas de análise sobre os
espaços, uma espécie de descrição densa (GEERTZ, 1989). Esta descrição deve,
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considerar e agregar ao seu discurso investigativo, a impressão de outras instâncias
do conhecimento, mesmo que estas impressões sejam aparentemente ilógicas,
baseadas em sentimentos, valores e interpretações simples. Com a concretização
deste princípio, a Escola Humanista conduz a investigação perguntando antes as
questões ontológicas aos informantes, depois as deparam com observações e
experiências puras e desprendidas de teoria do pesquisador, no intuito de alcançar a
primeira ciência. Em seguida, constroem interpretações que dialogam com a base
teórica da Geografia Humanística, de outras áreas do conhecimento, principalmente
a filosofia, proposta por Heidegger, criando, por fim, afirmações densas e singulares
sobre a realidade pesquisada. Sobre esta ótica o conceito de espaço ganha o âmbito
da diversidade, da peculiaridade mediante não só a uma combinação de elementos
materiais e dinâmicos, mas, sobretudo, de acordo com o sentido projetado por seu
vivente.
CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço: um conceito chave da geografia. In: CASTRO, Iná Elias de (Org.); GOMES, Paulo César da Costa (Org.), CORRÊA, Roberto Lobato(Org.). Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, p.15-47.
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das
Culturas. Rio de Janeiro: Ed LTC, 1989.
GOMES, Paulo Cesar da Costa. Geografia e modernidade. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.
HEIDEGGER, Martin. Ensaios e Conferencias. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
HOLZER, Werther. O conceito de lugar na Geografia Cultural-Humanista: uma contribuição para a Geografia Contemporânea. Geographia, Ano V, n.10, p.113-123, 20 HUSSERL, Edmund. A ideia da Fenomenologia. Lisboa: Edições 70, 1990.
MARANDOLA JR., Eduardo. Mapeando “londrinas”: imaginário e experiência urbana. Geografia, v. 33, n.1, p. 103-126, 2008.
SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora da UNESP, 2004.
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Bernard Teixeira Coutinho [email protected]
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Palavras-chave: homem-natureza, além-do-homem, (re)naturização
É sabido que a dicotomia homem-natureza é herança direta da Filosofia.
Das dicotomias existentes na ciência geográfica, desde a sua institucionalização, a
que separa homem e natureza é, sem dúvida, uma das mais incômodas. O homem,
(des)naturizado, torna-se fraco diante das contínuas transformações do mundo. O
caos, a angústia, o medo, a morte passaram a ser temidas pelo homem que, cada
vez mais, recusa a experiência de suas sensações espaciais. A contínua mudança, o
repentino despertar do “novo”, a corrida para o lugar desconhecido são coisas que
ocorrem, mas o homem não entende as suas significações. A natureza é o distante e
requer determinado deslocamento para que se conceba o seu reconhecimento. O
homem torna-se maldito, pois agride a imaculada forma da natureza. Mas que
natureza é essa que se tornou tão distante do homem? E que homem é esse que se
tornou tão nefasto?
Nossa reflexão tomará como ponto de partida as questões colocadas
acima para, em linhas gerais, anunciar a dicotomia sociedade-natureza e propor um
diálogo com a filosofia de Nietzsche que, por sua vez, sempre a denunciou. Este
trabalho tem como desiderato principal, portanto, desenvolver uma breve análise
sobre a dicotomia sociedade-natureza resgatando a filosofia de F. Nietzsche, a partir
de sua obra Assim falou Zaratustra.
No prólogo III de Assim falou Zaratustra, Nietzsche trata de um termo
filosófico antigo, que remonta o século II d.C. Trata-se do além-do-homem. Em
Nietzsche, além-do-homem ganhou caráter anticristão e uma ampla dimensão,
quando relacionada às esferas políticas, culturais e artísticas (ARALDI, 2002). A
releitura deste termo pelo filósofo alemão é resultado de seu propósito em convocar
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o homem, ao reintroduzi-lo na natureza. Não de forma arbitrária ou, apenas, fruto de
um discurso filosófico vazio, mas atentando para o seu sentido, que também é o
sentido da terra. Tomemos conhecimento de sua máxima: “o super-homem é o
sentido da terra. Fazei a vossa vontade dizer: ‘Que o super-homem seja o sentido da
terra!’” (NIETZSCHE, 2006, p.36).
O homem assume um lugar importante na etapa de desenvolvimento
da natureza ou, ainda, do além-do-homem. Ele é um dos estágios por onde a
natureza se transforma e ganha sentido. Deste modo, é dever do homem superar-se,
atingir a etapa seguinte do estágio, e não retroceder. O homem possui a capacidade
de pôr em questionamento o sentido de sua presença enquanto tal. Ele se põe em
transformação constante, porque necessária, e caminha entre a condição de animal e
a condição de além-do-homem. É isto que o torna grandioso. Este movimento
constante do vir-a-ser, do devir, é importante para superar a desnaturização
provocada pela cultura judaico-cristã. O devir, portanto, deverá ser a meta do
homem, o seu “processo do desejo” (DELEUZE; GUATTARI, 1997, p. 64).
Mas o ato do não retrocesso não pressupõe a negação do que se foi.
Isto é, o homem enquanto tal não pode negar a sua completude enquanto animal,
assim como o além-do-homem não pode negar o seu passado enquanto homem. A
superação é sempre vista atrelada à criação do novo que está intimamente
relacionado com o movimento. Diante disso, torna-se claro que a busca pelo sentido
da terra advém da preocupação metafísica do filósofo alemão.
Aliás, é a partir de sua metafísica que o homem passa a ser conhecido
como um ego volo, isto é, como um homem que se dispõe e se põe na natureza a
partir de sua vontade, o que o cartesianismo teimou em destruir. Daí Kahlmeyer-
Mertens (2008, p. 10) dizer que “com isso, poderíamos caracterizar provisoriamente
o super-homem como o que está ordinalmente depois ou, mais além, do homem em
sua compreensão tradicional (animal racionale)”.
O sentido da terra, deste modo, se dá a partir da (re)naturização do
homem interpelando o além-do-homem, que agora se concebe enquanto “sistema
orgânico superior” (ARALDI, 2002). Nesse sentido, o corpo, excluído pelo
cristianismo, é (re)afirmado, (res)espacializado, rumando ao encontro com a alma.
Somente pela terra o homem toma conhecimento disto, mas negando os postulados
sustentados pelo cristianismo. Ruy Moreira (2010) assevera que...
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O nascimento do cristianismo materializa essa exclusão do corpo. Até o seu advento, é o corpo que mantém o elo do homem com a natureza. São as necessidades do corpo que lembram ao homem sua condição natural e é o uso do corpo em sua relação com a natureza que dá conta de resolver essas necessidades (p. 135).
Mas afinal, o que é a natureza na visão de Nietzsche? Em primeiro
lugar, natureza não deve ser pensada apenas sob os seguintes eixos: a partir do
binômio orgânico-inorgânico e como fonte de recursos ao homem (GOBBO, 2010).
Falamos da superação e da criação acima e pretendemos discorrer sobre a
concepção de natureza para o filósofo partindo da ideia de criação. É na natureza em
que o homem é capaz de curar-se da espiritualidade (a)espacial imposta pela cultura
judaico-cristã e, ademais, é através dela em que o homem cria e (re)cria valores.
A criação da própria natureza, e aí levando em consideração a
homogeneidade de forças entre o orgânico e o inorgânico, é regida pela teoria das
forças, “manifestando um querer-vir-a-ser-mais-forte, irradiando uma vontade de
potência” (MARTON, 2009, p. 139 apud GOBBO, 2010, p. 69). Isto é, o homem se
torna forte, pois busca a “grande saúde”. A respeito da doutrina da vontade de
potência, o filósofo retoma as formulações de Schopenhauer sobre vontade e propõe
duas formulações: a poética, encontrada no livro Assim falou Zaratustra; e a
conceitual, encontrada em Além do Bem e do Mal (além, é claro, de desdobramentos
em textos póstumos). A vontade de potência é a vida, algo que se nutre no interior a
partir de um desejo. A vida se autossupera.
A vontade de potência é aquilo que fornece ao devir o seu transcurso,
suas possibilidades, assim também o é para as ações. É o caminho que se abre ao
homem que deseja dar impulso aos seus propósitos. E aqui se instala uma forte
crítica à moralidade imposta aos homens. A vontade de potência como vida é o
desejo em poder-ser, ter o poder, o controle de decidir, de abolir valores
dominadores. É este o sentido da natureza.
Quanto ao devir, é interessante perceber a maneira como Nietzsche a
utiliza para denunciar o homem universal, homogeneizado, aquele que desconhece a
diferença. O devir é produtor da diferença, da assimetria, das forças múltiplas que
competem o juízo do poder. Em outras palavras, é a negação da mimese, isto é, da
aceitação do que já está posto, cristalizado. A coisa universal inexiste, a
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imutabilidade instalada pela imitação é um desvio e um perigo, nos termos de
Platão.
O conceito aristotélico de mimese, entendido como o prazer do homem
ou como sua essência, acontece quando o homem conjuga uma forma a partir de
sua percepção. Esta forma é o momento retirado do movimento contínuo do real
que passa por um processo de cristalização. Quando isto ocorre, há uma
equiparação de formas e a anulação da desigualdade entre forças. É importante notar
que a imitação aprisiona a criação. O devir permite a diferença e o diverso no interior
desta, reconhecendo a mudança de formas e também a sua repetição. Isto é
importante ser dito.
Nem sempre as ações que se desenvolvem num dado recorte espaço-
temporal introduzem uma novidade, pois a repetição também existe e não deve ser
desprezada. A repetição é algo que já se deu por conhecido, mas que desperta novos
sentidos, resistências, forças, direções. E é aqui que está inserida a vida em
Nietzsche.
O devir deve sempre transparecer o diferente, portanto, derrubar os
valores absolutos. A partir daí, o homem torna-se, na medida em que conhece o
novo, o diferente. O homem reconhecendo esta possibilidade (re)encontra a
natureza em seu caminho de busca e não o vê como algo externo a ele, como
existente somente quando o homem dele necessita.
Dessa maneira, as formas ganham novos significados e validade de
existência pelo homem. Gobbo (2010) diz que “o sentido da naturalização do
homem em Nietzsche é o de dessacralizá-lo, é torna-lo acaso; é abrir caminho para a
chegada do super-homem, pois a condição para a transmutação de todos os valores,
de criação de novos valores está aberta; o campo para a criatividade estará fértil” (p.
82).
Os valores devem ser pensados num mundo onde a cultura esteja
inserida na natureza. E mais, numa natureza em que o homem é imprescindível,
fundamental à sua constituição e reconhecimento. A natureza não é algo exterior,
dado, mas construído pela vontade de potência humana.
O capitalismo incorporou uma nova concepção de natureza. A produção
capitalista, alimentada pela força de trabalho do homem se vê dependente de uma
natureza, cujo papel é fornecer recursos naturais para o seu pleno desenvolvimento.
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Esta nova concepção fora incorporada pelas ciências modernas, inclusive pela
recém-formulada ciência geográfica. Nascia, neste momento, uma natureza apartada
do homem e distante do mesmo.
ARALDI, C. L. Nietzsche e a criação do além-do-homem. Dissertativo (UFPel), Pelotas, v. 15-16, p. 161-182, 2002.
DELEUZE, G; GUATTARI, F. Mil Platôs:
capitalismo e esquizofrenia. Trad. Suely Rolnik. Vol. 4. Rio de Janeiro: Editora 34, 1997.
GOBBO, B. A. A natureza no Pantanal e a
filosofia de Friedrich Nietzsche, 120 p. 2010. (Mestrado em Geografia Humana) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Grande Dourados, 2010.
KAHLMEYER-MERTENS, R. S. Sobre a
sentença de Nietzsche: “O super-homem é o sentido da terra”. UNIPLI (Niterói), v. 7, p. 35-40, 2008.
MOREIRA, R. O mal-estar espacial no fim
do século XX. In: MOREIRA, R. Pensar e ser em geografia. São Paulo: Contexto, 2010, p. 133-159.
NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra.
Tradução de Mário da Silva. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2006.
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Rodrigo Fernandes Silva [email protected]
Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: técnica, acumulação, China, objetos e meio técnico
De certa forma, podemos sabemos que a técnica está em tudo1. Ela está
no ambiente, nos processos, nos objetos, em sua função composição e na sua razão
de ser no mundo.
A técnica é a reação enérgica contra a natureza, que leva a criar entre esta
e o homem uma nova natureza posta sobre aquela, ou seja, uma sobrenatureza. Esse
é o modo que a técnica atua na reforma da natureza. Por esse motivo, o esforço para
poupar esforço é esforço diz Ortega e Gasset (1963).
Na Grécia aristotélica, em um sistema de conhecimento hierárquico e
natural dos objetos, a techné é traduzida literalmente como a arte (Granger, 1994; p.
23). Por outro lado, em seu primeiro nível de sensação, ou seja, a sensação, somada
à memória, constitui a experiência (empiria). Visto que esse campo, não se associa
nem com o simbólico da linguagem nem com o do discurso ou do raciocínio.
Aqui, a ciência (episteme) se distingue da techné mais que da arte, por
poder se exprimir numa linguagem e comunicada por signos (Granger, 1994; p. 23).
Para Granger (1994), no mundo, somente no final do séc. XVII que a ciência e a
técnica se unificaram em laços indissociáveis.
Quando chega o inverno, o homem sente frio. Querendo viver, o homem
sente a necessidade de evitar o frio e proporcionar-se calor (Ortega e Gasset, 1963).
O relâmpago da tempestade acende fogo um ponto do bosque, o homem então se
aproxima desse fogo benéfico. Podendo caminhar o homem se aproxima do fogo.
Não encontrando fonte de calor, o homem tem que deslocar-se, caminhar, ou seja,
1HEIDEGGER, Martin. A questão da técnica – Cadernos de tradução, n. 2, DF/USP. São Paulo, 1997.
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percorrer distâncias ou somente fugir. Em outros extremos, completa Ortega e
Gasset (1963), quando o homem sente frio e não encontra calor, caminha e se
refugia em alguma caverna que encontra na paisagem.
Outra necessidade humana é se alimentar. Assim, o homem reconhece
estas como suas necessidades materiais ou objetivas e, porque ele reconhece, a
sente como subjetividade e como necessidade. Como esse esforço é muito grande e
a natureza não lhe proporciona todos os meios de vivência, o homem não se
resigna, ele faz fogo, faz edifício, faz agricultura ou caçada. Notemos que, o fazer
fogo é bem diverso de se esquentar, assim como, cultivar é bem distinto de
alimentar-se, ou um automóvel não é como correr. Estes procedimentos nos
permite, dentro de seus limites, criar o que não existe na natureza, mas
necessitamos.
Estes são procedimentos usados na criação de objetos, cujo simples
funcionamento nos fornece o que necessitamos como instrumentos ou aparelhos de
trabalho. De acordo com Karel Kosik (1995, p. 105), a concepção da razão e da
realidade desta razão, aproxima a técnica da razão. Para ele, a técnica é a mais
perfeita expressão da razão e a razão, sobretudo, do comportamento e da ação
humana.
Aqui, a diferenciação entre as técnicas empíricas e as técnicas científicas,
nos parece importante. As técnicas empíricas são fundadas nas experiências e nas
práticas, não explicadas pela teoria e não penetradas de saberes científicos.
Geralmente, são transmitidas pela oralidade e relacionadas às atividades agrícolas,
metalúrgicas, tratamento dos minérios, o autoforno. De modo geral, o saber técnico
se desenvolveu com autonomia própria na história das técnicas, aplicando os
processos progressivos de associação dos saberes técnicos na ciência. Assim, são as
engenhosidade e invenções de alguns indivíduos, como a relojoaria, maquinaria a
vapor e a radioeletricidade, que conecta a ciência à técnica (Granger, 1994; p. 25).
Uma acumulação primitiva da técnica?
No antigo regime, a agricultura era a grande “indústria” dos homens.
Trata-se de um largo momento de acumulação de conhecimentos técnicos e
ambientes materiais construídos, onde a chave do problema encontra-se nas fontes
de energia e da metalurgia. Dessa forma, aceleração e concentração, são processos
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com quais passa a técnica, com os quais podemos reconhecer um fio condutor que
segue em paralelamente com a história: a substituição técnica do motor humano,
por outros motores (BRAUDEL, 1995, p. 393).
A lenha como fonte cotidiana de energia, até o século XVIII, foi o mais
importante material usado como fonte de calor. Trata-se de uma civilização de
madeira e de carão de madeira. No século XIX a civilização se converte ao carvão de
pedra. Na Inglaterra isso somente ocorreu a partir de 1600 (BRAUDEL, 1995, p. 335).
Antes desse período, a madeira constituía tudo desde os transportes terrestres
quanto os marítimos, as máquinas (teares, fiandeiras, prensas, bombas, arados, nos
relógio) e nas ferramentas. Somente no século XVII, o ferro foi utilizado em
pequenas partes. Esse uso intensivo é o fator, para Braudel (1995, p. 329), da
exaustão as florestas europeias.
Como o motor humano nos revela que nossos músculos são motores
medíocres, lentamente, os motores braçais do velho mundo dão lugar à força
animal. No novo mundo, cavalos nas minas de Prata em Kutna Hora, na atual
República Checa, em 1490 (BRAUDEL, 1995, p. 308), as lhamas na América andina,
os bois, cabras, cavalos, cães, galinhas europeus, além das mulas e dos burros
usados nas Américas do Sul e do Norte. Nos cálculos de Forest de Beldor, de 1739,
necessitamos de sete homens para realizar o trabalho de um cavalo (BRAUDEL,
1995, 306).
Podemos também, somar a força animal à força variável das ferramentas
que o homem colocou a seu serviço: martelo, machado, serra, enxadão. E ainda,
pelos motores elementares, que anima com sua própria força: trépano, cabrestante,
roldana, grua, guindaste, alavanca, pedal, manivela e o torno.
Na China, que lentamente se engendra o motor hidráulico e cedo se
inicia o uso do carvão de pedra (conhecido como coque). Como sabemos, esses são
os elementos essenciais para o desenvolvimento da metalurgia elementar no oriente
(BRAUDEL, 1995, 341). Talvez esse seja um dos motivos de as primeiras cidades
serem criadas, ao longo dos rios.
Elas são as preconcentrações (BRAUDEL, 1995, 345) do progresso que
servem ao equilíbrio entre o trabalho onipotente do homem e a utilização das
diversas formas de energia. No mundo antigo e na China, a maquinaria acabou
sendo bloqueada pelo trabalho barato dos homens. Esse é um dos indícios do fato
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de não ocorrer a revolução industrial no país oriental antes. No Brasil mesmo, os
“escravos negros substituem ocasionalmente os escravos, puxando a braço carroças
bem carregadas” (BRAUDEL, 1995, 309). Dessa forma, verificamos que, não há
progresso sem certa valorização do homem.
No ocidente, o ofício do “engenheiro” emerge lentamente. No séc. XV e
XVI ocupam-se da área militar serviços de arquiteto, técnico hidráulico, escultor
pintor. Nesse período, a ciência procurava se pouco com a solução e aplicação
prática. As técnicas surgem dos entraves, dos conflitos. Na frança do séc. XVI, as
modificações das plantas e prensas, geraram greve da categoria dos tipográficos. Em
1618, no reinado de Felipe II, Jean Tardim, médico em Tournon, na França, realizava
o primeiro estudo de gasômetro natural na fonte. Em 1635, Schwenter expõe o
primeiro telégrafo elétrico, onde dois indivíduos se comunicam por meio de uma
agulha magnética. Em 1711, Newcomen inventa sua máquina a vapor. Nesse sentido
que a alta velocidade das inovações, trouxe à Inglaterra, em 1742, a ideia de que o
progresso técnico é sinônimo de desemprego (BRAUDEL, 1995, p. 395).
De fato, do território chinês flui a maior parte dos conhecimentos
técnicos para as outras partes da terra (BRAUDEL, 1995, p. 334). Nesse bojo surge o
“moderno”, como o produto do processo de radiação que ocorreu no Ocidente,
desde o final do séc. XVIII, com rebatimento na sociedade e na cultura. Nesse
sentido, a modernização se aplica à economia e política e o modernismo, à arte,
cultura e sensibilidade (VAZ, 1991).
Do ponto de vista geográfico, no mundo ocidental dos séculos XVII e
XVIII, as regiões se formaram como locais de uso de novas técnicas. Nesse
momento a condição política focava a circulação dos capitais e mercadorias. O
grande impulso do comércio e do mercantilismo assegurou a acumulação de
capitais bancários, sobretudo na Inglaterra, e posteriormente nas encruzilhadas:
França, Alemanha Ocidental, nos Países Baixos, na Suíça, na Áustria e na Boêmia
(BRAUDEL, 1995, p. 353).
Arquitetonicamente, o estabelecimento e a criação de uma unidade
concreta de fabricação, a fábrica, sob a forma de um conjunto de construções
unitárias, de emprego unitário, define um ritmo cotidiano marcado pelo fluxo e
refluxo dos operários. Nesse conjunto, “o menor estabelecimento viável, em um
ramo específico determinado, é aquele cujo tamanho corresponde ao da unidade
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técnica elementar de lucro regular. A dimensão desta unidade é variável, segundo a
evolução da técnica” (GEORGE, 1973, p. 65).
Para Pierre George, a concentração é um fenômeno especificamente
geográfico quando se opera no campo dos estabelecimentos. Para ele, é mais
financeira do que geográfica quando se dá no campo das empresas, mas mesmo
assim, tem rebatimento sobre o âmbito geográfico (GEORGE, 1973, p. 65). Sua
tendência financeira, já se tornou grande fornecedora de lucros, pelo funcionamento
do sistema capitalista.
Seus efeitos são captados pelo desenvolvimento industrial, pela maior
quantidade e pela produção variada de objetos elaborados ou com matérias brutas
provenientes do subsolo ou da agricultura (GEORGE, 1969, p. 12). No quadro do
sistema econômico e financeiro que presidiu à revolução industrial.
Por fim, o meio técnico não é somente um ambiente de vivência
humana, mas também um período de uso territorial da humanidade. É a imposição
em ambientes circunscritos, de determinadas sistemas técnicos técnicas, sobre o
meio natural. Ele é a emergência do espaço mecanizado, precondição do meio
técnico-científico e pilar sólido do meio técnico científico e informacional (SANTOS,
2009).
BRAUDEL, Fernand. Civilização matéria, economia e capitalismo: Séculos XV – XVIII. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
GEORGE, Pierre. Geografia industrial do
mundo. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1969. Coleção Saber Atual.
GEORGE, Pierre. Geografia econômica.
Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1973.
KOSIK, Karel. A dialética do concreto. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1969.
ORTEGA Y GASSET, José. Meditação da
técnica. Rio de Janeiro, 1963. SANTOS, Milton. A natureza do espaço:
técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2009.
VAZ, Lilian Fessler. Moradia em Tempos
Modernos. In: PIQUET, Rosélia; RIBEIRO, Ana Clara Torres (org.) Brasil, território da desigualdade: caminhos da modernização. Rio de Janeiro: Fundação Universitária José Bonifácio, 1991.
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André Lopes de Souza [email protected]
Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: território usado, circuitos da economia urbana, circuito espacial produtivo
Introdução
O presente trabalho tem por objetivo o estudo da economia urbana de
dois pequenos municípios localizados no sul do estado de Minas Gerais, Monte Sião
e Jacutinga, em suas relações com a rede urbana. O enfoque será dado na análise da
produção de artigos de malha pesada1, visto que cerca de 80% da população se
envolve direta ou indiretamente em atividades relativas a este setor (BRUNO &
MALDONADO, 2005, p.41).
Tabela 1. População e Taxa de Urbanização dos municípios estudados
Fonte: IBGE (2010)
A agressiva especialização produtiva tem raízes históricas e promove um
uso específico do território por agentes de diversas capacidades, que caracteriza uma
produção do espaço urbano essencialmente voltada para atender as demandas da
produção de malhas. Entender o espaço geográfico como território usado permite
destacar a atuação dos múltiplos agentes, sejam eles em metrópoles ou cidades
locais.
1Malha é um tipo de tecido, assim como tecido plano e tecido não tecido (TNT). São formas diferentes de entrelaçar os fios na formação de tecidos, que serão usados para a confecção de artigos do vestuário. Por malhas pesadas, também chamadas de malhas retilíneas, entendemos as malhas feitas em lã ou acrílico (matérias-primas) na confecção de roupas de frio, como jaquetas, sobretudos, cachecóis, entre outros.
População Taxa de Urbanização
Jacutinga 22.772 83,8
Monte Sião 21.203 76,7
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As interações espaciais desencadeadas pela atividade remontam vínculos
históricos com a rede urbana paulista. Nesse sentido, em primeiro lugar
estabeleceremos uma periodização com base nas atividades dominantes na região.
Após isso, abordaremos a atualidade, tendo como foco a análise do circuito espacial
produtivo e dos circuitos da economia urbana como forma de entender a última
modernização do território brasileiro.
As cidades locais e as modernizações do território
Santos (2005, p. 91) declara que estudar as cidades locais é tão
importante quanto a análise das metrópoles para o entendimento da modernização
do território nos países subdesenvolvidos. Este autor observa a proliferação de
cidades locais com o avanço da modernização; espaços que antes se dedicavam
apenas à produção passam também a consumir. A produção agrícola de exportação
e subsistência comandava esses municípios, que após a última modernização
passam a consumir produtos globais.
Para entendermos essas sucessivas modernizações no local,
recorreremos a periodização proposta por Santos (2009 [1996], p. 235), segundo a
qual a história das relações homem natureza, a grosso modo, se dividia em três
grandes períodos: o natural, o técnico e o técnico-científico informacional.
O primeiro se caracterizou pelo fato de que a natureza era a base
material de ocupação do espaço. O homem pouco transformava o local onde
morava. As técnicas, embora existissem, não tinham existência autônoma. Na
região, esse período representou a ocupação inicial dos colonizadores e seus
descendentes. O Brasil era ocupado predominantemente em seu litoral e nas áreas
interiores responsáveis pela mineração. As ligações internas eram precárias. Em
Jacutinga e Monte Sião, em decorrência da proximidade com Ouro Fino (área de
exploração mineral), a ocupação se deu no século XVIII. As fazendas de subsistência
predominavam, com pouquíssimos intercâmbios entre elas.
A transição para o meio técnico se deu em meados do século XIX, com a
introdução da cultura de café na região. Esse período tem como base a expansão do
espaço mecanizado, “Os tempos sociais tendem a se superpor e contrapor aos
tempos naturais” (op. cit. p. 237). As distâncias medidas em tempo mudam,
ampliando a conexão entre as áreas e fazendo com que os interesses locais fossem
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perdendo importância com relação aos externos.
A região se localiza em área contígua à de maior expressão econômica no
período cafeeiro e, com isso, se beneficiou de estradas de ferro. Com elas, surgem as
primeiras fábricas associadas ao beneficiamento do café e os aglomerados urbanos.
Desde então, vê-se sua profunda vinculação a Campinas, centro regional que
articulava grande parte das estradas de ferro paulistas e sul-mineiras (BORIN, 2002).
Com a modernização promovida pelos carros, novos sistemas de
engenharias são implantados: as estradas. Estas mudam a vida de relações entre as
cidades, entretanto, mantém basicamente os mesmos traçados das ferrovias,
reforçando os nexos relacionais com Campinas.
Após a Crise de 1929 o café entra em baixa, mas é somente depois da
Segunda Guerra Mundial que o enfraquecimento da cultura faz com que deixe de ser
a principal atividade da região.
O mundo passa a viver um novo período, chamado de técnico-científico
informacional, que se caracteriza pela junção de ciência e técnica na base do sistema
produtivo e da estruturação do espaço, sistema esse comandado pela informação. A
lógica global, implícita nos objetos técnicos que são cada vez mais movimentados
pela informação, permeia o território como um todo.
Esta nova configuração, baseada na importância da circulação (e, por
conseguinte, dos sistemas técnicos que a autorizam), permite a emergência de
especializações produtivas, assunto de nossa análise posterior.
A produção de malhas pesadas
A especialização produtiva das malhas do sul de Minas Gerais tem como
base esse contexto, em que os sistemas técnicos permitem maiores interações
espaciais. A infraestrutura herdada dos períodos anteriores é paulatinamente
reformada (para melhor se articular com o novo sistema técnico) e refuncionalizada.
Correa (1999) argumenta que as cidades pequenas têm duas
possibilidades diante da globalização, da qual “o meio técnico-científico
informacional é a cara geográfica” (SANTOS, 2009, p. 239): a especialização
produtiva ou a estagnação.
A derrocada do café foi um evento que repercutiu em muitas cidades
brasileiras. Assim, cada uma delas, para não se estagnar, teve de se refuncionalizar. A
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opção feita por Monte Sião e Jacutinga foi expandir uma atividade artesanal das
donas de casa descendentes de italianos, a produção de roupas para o frio. Antes
produzidas para consumo próprio, neste momento passam a ser vendidas nas
praças das cidades.
Borin (2002) indica que a década de 1970 foi o começo da produção
industrial, incentivada por empresas de máquinas têxteis japonesas. Os fios
comprados em Amparo e o interior de São Paulo representando o maior consumidor
reafirma o papel das infraestruturas de transporte no atual circuito espacial
produtivo e mantém as cidades mineiras vinculadas à dinâmica paulista.
Com a consolidação e radicalização do meio técnico-científico
informacional, novas variáveis foram se incorporando, como a publicidade, a venda
pela internet, a realização de feiras nacionais, a formação de mão de obra, a
administração científica das fábricas, entre outras. Porém, essas variáveis não são
usadas com a mesma intensidade pelas empresas. Daí a importância da Teoria dos
Dois Circuitos da Economia Urbana na análise da modernização seletiva do território
nos países subdesenvolvidos e, por efeito, do território usado.
Segundo esta teoria, o sistema urbano se subdividiria em dois
subsistemas: o circuito superior, resultado direto da modernização, e o inferior,
resultado indireto. Ambos são formas de produzir, distribuir e comercializar
produtos que atendem diferentes parcelas da população. Devido à baixa escala de
produção de malhas pesadas e sua sazonalidade as empresas do circuito superior
não estão presentes nas cidades analisadas.
Entretanto, observamos a existência de um circuito superior marginal,
que através das vantagens concedidas pelas Associações Comerciais e prefeituras
locais, puderam emergir. Encontramos dois níveis distintos de capital, tecnologia e
organização das malharias2, que, mesmo assim não configuram a existência do
circuito superior propriamente dito. Os elos com esse circuito são estabelecidos pela
venda dos produtos em grandes magazines, muitas vezes encomendando peças às
malharias.
A assimilação distinta das variáveis do período pelas empresas implica
em diferentes circuitos espaciais produtivos. As maiores malharias conseguem
2 O termo malharia pode ser usado tanto para o local de fabricação do tecido de malha quanto ao de sua comercialização.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
exportar parte de sua produção, enquanto que as menores dependem do turismo de
compras e da subcontratação das maiores empresas da cidade (principalmente para
as tarefas de costura) para garantir sua reprodução.
BORIN, P. Divisão interurbana no trabalho e uso do território nos municípios de Águas de Lindóia (SP), Lindóia (SP), Serra Negra (SP), Socorro (SP) e Monte Sião (MG). São Paulo. Departamento de Geografia FFLCH/USP (Dissertação de Mestrado). 2002.
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Livia Cangiano Antipon [email protected]
Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: circuito espacial produtivo, alimentação escolar, agricultura familiar, uso do território, município de Campinas
O desenvolvimento da pesquisa pode ser entendido em duas fases, que
nos faz pensar os processos de uso do território no município de Campinas. A
primeira delas constituiu em um conhecimento do que já foi produzido sobre o
tema, através da leitura da bibliografia proposta no projeto e outras fontes
encontradas durante o estudo e de uma série de entrevistas realizadas ao longo da
pesquisa no Departamento de Alimentação Escolar no CEASA de Campinas. Esta
primeira fase possibilitou maior proximidade com o tema que será agora objeto do
aprofundamento de nossa análise e foi fundamental para compreender os processos
do circuito espacial produtivo, mais especificamente na fase da distribuição e
produção, da alimentação escolar no município.
E a segunda fase constituiu na análise dos resultados encontrados sobre
a distribuição da alimentação escolar, o que nos permitiu realizar um mapeamento
dos dados obtidos, e iniciar uma discussão sobre a dificuldade da produção
alimentar em propriedades agrícolas familiares de grandes metrópoles.
A pesquisa foi orientada pela teoria dos circuitos espaciais, onde um
circuito espacial produtivo se estrutura a partir de uma atividade produtiva até o seu
consumo final, nos servindo como ferramenta de análise para uma série de fases
correspondentes aos processos de transformação que passam esses produtos. O
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estudo das fases (produção, distribuição, circulação e consumo final), comporta-se
como um instrumento para compreender a divisão espacial do trabalho em
múltiplas escalas. O exame da distribuição e produção dos hortifrutigranjeiros da
alimentação escolar no município de Campinas proporcionou um conhecimento de
um dos novos usos do território no município, chamando-nos atenção para o papel
do CEASA na distribuição da alimentação escolar, possibilitando-nos o mapeamento
dessa fase, e a impossibilidade do cumprimento da Lei nº 11.947/2009 para a
agricultura familiar em grandes metrópoles, o que nos levou a uma análise dessa
problemática na fase da produção. Na fase da distribuição, o Ceasa encontra-se em
uma posição intermediária entre as empresas distribuidoras e as escolas, atendendo
um papel no circuito, como órgão normativo das empresas e fiscalizador nas
escolas. Divididas por regiões, quatro empresas distribuidoras atendem 431
unidades escolares, através de um sistema just in time, que obedece, no circuito
espacial produtivo dos hortifrutigranjeiros da alimentação escolar, às condições
técnicas-sociais do município estudado.
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Luciano Pereira Duarte Silva [email protected]
Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: território usado, trem de alta velocidade, modernização do território,
políticas territoriais
Introdução
O projeto de implantação do Trem de Alta Velocidade (TAV) surge no
discurso político do governo federal em um momento muito emblemático da recente
história do país, no momento em que se assiste a crise do setor aéreo do ano de
2007. O projeto retorna às discussões como solucionador dos aparentes problemas
que o sistema de transporte aéreo vinha sofrendo, pois ele resolveria o principal
“gargalo” existente, o trecho São Paulo – Rio de Janeiro.
Nos anos seguintes, outros acontecimentos se incorporam no discurso
que busca justificar a instalação do TAV. Estes são: a nomeação do Brasil como sede
da Copa FIFA de futebol, que ocorrerá em 2014; e também a realização dos Jogos
Olímpicos de 2016 na cidade do Rio de Janeiro. Após esses acontecimentos, estudos
de viabilidade são produzidos por consultorias estrangeiras, que contabilizavam o
custo total da obra em cerca de R$ 34 bi, sendo assim, o projeto mais caro do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.
Atualmente, os prazos necessários para atender os eventos esportivos já
foram perdidos e o “caos aéreo” é contornado com a privatização e ampliação dos
aeroportos de Viracopos e Guarulhos. Entretanto, o projeto permanece como uma
das principais estratégias de intervenção na estrutura do território, ou seja, uma das
principais políticas territoriais (COSTA, 1988) que o governo federal vem
desenvolvendo.
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Objetivos
A pesquisa que aqui apresentamos se estrutura a partir do objetivo
norteador de identificar os principais agentes envolvidos, suas relações e
intencionalidades com o projeto de implantação do Trem de Alta Velocidade (TAV),
ou seja, buscamos compreender como vem se dando os nexos políticos que buscam
viabilizar, ou não, a implantação desse sistema técnico de transporte.
Ainda nesse sentido, buscamos compreender, a partir do território, as
relações de poder que envolvem as decisões políticas entre os agentes envolvidos.
Isso se torna possível a partir do entendimento de que o território é o espaço onde o
homem projeta o trabalho, ou seja, onde ele realiza seu programa (RAFFESTIN,
1993). Portanto, o território é capaz de revelar as relações de poder, e mais, as
dissimetrias existentes entre os agentes.
Por fim, buscamos elaborar uma pequena reflexão sobre as principais
alterações que o território sofreria com a implantação desse sistema técnico. Não a
partir de uma visão simplista de “impacto”, mas entendendo que ao se geografizar
uma nova materialidade num determinado lugar se cria uma relação dialética, onde
o objeto deve-se readequar para que entre em sistema com os demais, preexistentes,
ao mesmo tempo em que o lugar, ao receber tal materialidade, se rearranja, cria
novas dinâmicas, ganha novos conteúdos e funcionalidades.
Pressupostos teóricos
Para desenvolvermos tal pesquisa à luz da teoria geográfica elencamos
um sistema de categorias e conceitos que sejam operacionais e coerentes ao
objetivo proposto. Esse método de análise geográfico parte do pressuposto de que o
espaço geográfico, enquanto categoria de maior importância e objeto de estudo
dessa disciplina, se apresenta como híbrido de materialidades e ações, objetos e
normas (SANTOS, 2009).
Outra categoria que mobilizamos é a de território. Mas, sendo ele
entendido não como um elemento natural, mas histórico, construído e praticado a
partir do conflito e da cooperação dos agentes, de acordo com seus diversos
programas que, ora se convergem, ora se divergem. E para que essa categoria seja
entendida como profundamente social é preciso revelar seus usos, e não somente
sua forma pura, ou seja, o território usado (SANTOS, 2005).
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Resultados
Uma das principais características que definiriam um “grande projeto” de
engenharia, além da quantidade de capital investido, seria, segundo Carlos Vainer
(2011), a forte presença de grandes empresas e capitais externos ao espaço social
onde se daria o processo de implantação desse novo objeto técnico. No caso do
Projeto TAV, que pretenderia ligar as cidades de Campinas, São Paulo e Rio de
Janeiro, essa característica é marcante.
Apesar de esse projeto participar de um programa do governo federal, ser
responsabilidade de uma agência reguladora estatal (ANTT1) e, se efetivado, ter
como principal sócio uma empresa estatal (EPL2); podemos observar que algumas
empresas multinacionais, que detêm a tecnologia do material rodante de alta
velocidade, como a como Alstom (França) e Siemens (Alemanha), agindo fortemente
junto ao Estado na tomada decisões que envolvem esse projeto. Isso se dá desde a
elaboração de estudos de viabilidade, como no caso da empresa alemã; quanto na
força política e econômica que se apresenta, dado sua infraestrutura para a
fabricação dessa tecnologia e forte relação com diversos níveis de governo, como no
caso da empresa francesa.
Outro movimento que se observa, é o do forte investimento que outras
empresas detentoras dessa tecnologia vêm fazendo, recentemente, em suas fábricas
e na participação de outros projetos de infraestrutura. Isso é visto no caso das
empresas CAF (Espanha) e Bombardier (Canadá), que nos últimos dois anos
inauguram suas fábricas no município de Hortolândia (SP), firmaram contratos com
o governo federal para instalação de seus produtos e, da mesma forma que as outras
duas empresas citadas, ampliam seus investimentos no Brasil e em outros países de
alto crescimento econômico, como China, Índia e Rússia.
Com isso, podemos observar uma forte relação, conflituosa e de
cooperação, entre os interesses das empresas e do governo federal. Onde, por um
lado, se observa o movimento de novos investimentos direcionados aos países que
têm forte crescimento econômico e se apresentam como novos mercados a serem
ganhos, feito por grandes empresas que, recentemente, não têm estabelecido
1 Agência Nacional de Transportes Terrestres. 2 A Empresa de Planejamento e Logística foi criada pelo governo federal para planejar e desenvolver estudos que tangem essa temática. E, no caso do TAV, responsável pelo processo de absorção de tecnologia, garantir o financiamento da obra e desenvolver pesquisas sobre essa tecnologia.
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projetos tão rentáveis nos países centrais, em comparação àqueles que se firmam
com esses países. E, por outro lado, vemos o governo desses países, em especial o
Brasil, estabelecendo políticas voltadas à tecnificação de seu território, a fim de se
tornarem mais competitivos frente aos países centrais da economia global.
A lógica corporativista de uso do território que emerge desse
imbricamento, entre o projeto de modernização do território e busca de novos
mercados, se revela na situação geográfica (SILVEIRA, 1999) onde se pretende
instalar tal sistema técnico. Pois, é nessa região do território brasileiro, onde se
encontram, de forma concentrada, os escritórios de grandes empresas, o maior
número de pessoas e as redes de mobilidade que possuem maior demanda. E tais
elementos, visto na perspectiva desse uso egoísta do território, são de extremo
interesse para as empresas que poderão ter altas taxas de lucro a partir de um
investimento como esse, e para o governo que busca tornar a economia do país
comparada à dos antigos centros da economia-mundo.
Podemos concluir, portanto, que da mesma forma que a implantação de
uma nova materialidade no território cria uma nova divisão territorial do trabalho
(CATAIA, 2001), o TAV, se efetivado, também redefiniria essa divisão. Entretanto, ela
não seria transformada, ou seja, a desigualdade existente entre as regiões do
território brasileiro não seriam amenizadas, pelo contrario, seria perpetuadas e
aprofundadas. Além disso, o TAV se mostraria profundamente seletivo espácio-
socialmente, sendo isso revelado pelo preço previsto das passagens, quanto pelo
posicionamento e serviços que cada estação receberia. Vemos que isso aconteceria
devido à política territorial que não abarca o território em sua totalidade, mas de
forma seletiva, fragmentada e setorial, que visa usar o território meramente como
recurso necessário a efetivação de seu programa.
CATAIA, Márcio. As desigualdades e a tecnificação do território brasileiro. In. CARLOS, Ana Fani (org.) Ensaios de geografia contemporânea: Milton Santos: Obra revisada. São Paulo: Hucitec, 2001.
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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2009.
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SILVEIRA, Maria Laura. Uma situação
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IV, nº6, jan/jun, 1999. VAINER, Carlos Bernardo. O que é o
“grande projeto”? Características, econômicas, territoriais, políticas e sociais. In: Seminário Grandes Obras e Migração. São Paulo: Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), 2011.
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Mait Bertollo [email protected]
Universidade de São Paulo
Palavras chave: circuito espacial produtivo, vacinas, complexo industrial da saúde
Introdução
O objeto central da presente pesquisa são os fixos de saúde produtores
de vacinas no território brasileiro: a indústria de base química e biotecnologia
produtoras e dispersoras dos vários e distintos tipos de vacinas, atentando-se para o
evento da vacinação da gripe Influenza A H1N1, observando a grande capacidade que
esse circuito espacial produtivo tem de atender a uma demanda social importante.
Esses fixos e seus fluxos configuram circuitos espaciais produtivos (SANTOS &
SILVEIRA, 2001) conjuntamente com os círculos de cooperação (idem) constituídos
por instituições públicas e privadas, que realizam o papel de coligação entre os
agentes envolvidos na produção das vacinas. Destacam-se vários institutos públicos
de pesquisa e produção de vacinas, e consideramos como recorte o Instituto
Butantan, em São Paulo-SP, que possui grande intercâmbio de informações
especializadas, assim como exerce certo papel regulador. Destacamos que o
instituto vem se tornando um grande produtor de vacinas no Estado de São Paulo, o
que amplia o seu papel - faz parte do circuito espacial produtivo e compõe os
círculos de cooperação no espaço. No caso do combate da Influenza A H1N1, a
empresa Sanofis-Aventis transferiu tecnologia para a produção da vacina permitindo
ao Instituto Butantan produzir grandes volumes para suprir parte da demanda
nacional quando, em 2009, ocorreu a primeira vacinação em massa. Para a
realização desse acordo, foi necessária a participação do Estado (Ministério da
Saúde, Secretaria Estadual da Saúde, ANVISA), organizações multilaterais
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(Organização Mundial da Saúde - OMS, Organização Panamericana de Saúde -
OPAS), setor privado e recentemente a Organização Não Governamental
internacional GAVI Alliance, que negocia com esse instituto e com o Bio-
Manguinhos (unidade produtora de imunobiológicos da Fiocruz no Rio de Janeiro-
RJ), para investir em produção de vacinas. Ressalta-se também as restrições
orçamentárias do Programa Nacional de Imunização (PNI) e do Programa Nacional
de Autossuficiência em Imunobiológicos (PASNI), que acabam por estruturar e abrir
um mercado consolidado em relação às vacinas com crescente participação do
capital corporativo. Há, portanto, uma complexa relação entre diferentes agentes
envolvidos na ação de vacinação em todo o território nacional.
Objetivos
A abordagem do objeto é operacionalizada por meio do conceito de
circuito espacial produtivo, capaz de captar o movimento do modo de produção no
território e explicitar a sua dinâmica, revelando as especializações formadas por
processos antigos e modernos (CASTILLO & FREDERICO, 2010). Pretende-se uma
análise geográfica, e, portanto, o conceito citado é utilizado em detrimento da
concepção de cadeia produtiva, já que abarca a questão espacial e as implicações
sócio-espaciais da adaptação de lugares, regiões, territórios aos ditames da
competitividade (idem). A expansão desses circuitos é definida pela circulação de
bens, produtos e informações no território (ibidem). Assim, para o estudo sobre o
Complexo Industrial da Saúde (GADELHA, 2006), é fundamental que se compreenda
quais agentes estão envolvidos nesse processo e como são capazes de coligar
unidades produtivas dispersas no território em torno de um mesmo objetivo que, no
caso das vacinas, envolve enorme produção de conhecimento e tecnologia. Também
é importante para a pesquisa analisar o funcionamento da dispersão das vacinas
pelo território, condicionados pela logística específica da “Rede de Frios” (ou Cadeia
de Frios), que consiste em distribuir com armazenagem que preserve as condições
de temperatura para que não percam sua validade.
Resultados
A abordagem da pandemia da Influenza A H1N1 na pesquisa traz
elementos para entender este componente do período de globalização, ligado à
previsão e antecipação (no caso, 3 a 4 anos) dessa pandemia em função dos
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controles informacionais relativos à saúde, controles normativos globais, criação de
fundos em organismos do direito internacional para fomentar ações específicas, etc.
A vacina em questão pode ser entendida como um “produto mundial” (MORAES,
1985), presente em vários continentes e com campanhas simultâneas de vacinação
em vários países do globo, no mesmo período. Dessa forma, podemos entender que
esse é um produto do período técnico-científico-informacional (SANTOS, 1996), pois
as organizações multilaterais como a OPAS e OMS aliadas às indústrias
farmacêuticas, institutos de pesquisa, ONGs e Estados preveem a pandemia em
2005 para ocorrer entre 2008 e 2009. Nesse período o vírus sintético da H1N1
começa a ser fabricado. O alcance planetário do circuito espacial produtivo da vacina
é possibilitado pelos círculos de cooperação, imprescindíveis para integrar diferentes
lugares, com parcerias entre institutos de pesquisa, universidades etc. A base dessas
parcerias é a revolução da biotecnologia e as múltiplas campanhas de vacinação pelo
planeta, principalmente nos países subdesenvolvidos. Logo, cresce o interesse das
indústrias farmacêuticas por potencializar a produção e venda desses produtos.
Desde o desenvolvimento bem sucedido da vacina contra a hepatite B por
engenharia genética, com tecnologia dominada pelo oligopólio farmacêutico, e com
a crescente preocupação com as novas doenças transmissíveis (sobretudo a Aids), a
lógica empresarial passou a ser dominante na área, acarretando crescente restrição à
difusão de novas tecnologias, aliado à competição entre as grandes empresas que
estabelecem bases e acordos em todas as regiões do planeta. Essas ações resultam
em crescente oligopolização do mercado de vacinas, com a produção de novas
vacinas em grande escala e baixo preço, bem como o uso dos direitos de
propriedade intelectual e das patentes, que constituem instrumentos de proteção da
produção intelectual e científica e, ao mesmo tempo, um dos principais obstáculos à
incorporação de novas tecnologias por parte dos laboratórios de países em
desenvolvimento (GADELHA, 1996). As tabelas a seguir indicam os produtores
oficiais estatais e sua produção e as chamadas “Big Pharma”: as maiores indústrias
farmacêuticas do planeta no que diz respeito à quantidade de produtos e volume de
vendas. Igualmente considera as parcerias para incrementar seu portfólio e vendas.
Ressaltamos que a GlaxoSmithKline é a indústria que produz em maior quantidade
as vacinas contra os principais tipos de gripe, inclusive Influenza A H1N1 (BUSS et
al., 2005).
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Considerações finais
Desde a concepção e da ordem para a produção da vacina até o produto
final, (abarcando a distribuição para as centrais de estocagem e sua dispersão
através da logística da cadeia de frios para os postos de saúde), é possível refletir
sobre a espacialização desse circuito e, segundo MORAES, 1985, “discutir os
circuitos espaciais da produção é discutir a espacialização da produção –
distribuição, troca, consumo como movimento circular constante. Captar seus
elementos determinantes é dar conta da essência de seu movimento”. Dessa forma,
há uma lógica internacional em território nacional, principalmente por atender uma
ordem hegemônica, proveniente de outros países e instituições (como a OMS, por
exemplo). Portando, a regulação híbrida (ANTAS Jr, 2004) dessa produção e seu uso,
se dá pelos agentes como o Estado, corporações farmacêuticas, ONGs e Instituições
Globais Multilaterais, que são investidas, no período atual, de produzir técnicas e
normas, e são capazes de produzir ações no território “sobretudo atualmente,
quando as ações se tornaram sobremaneira complexas e estão divididas em uma
grande quantidade de etapas realizadas por objetos técnicos e definidas igualmente
por um detalhado ordenamento de normas, sejam elas jurídicas, técnicas ou
morais.” (Idem). Baseamos as análises empregando o pressuposto da relação
correspondente entre saúde e território, primeiramente porque a saúde é um
elemento primordial para a sociedade (SILVEIRA, 2009), e também é uma atividade
econômica e social de peso, por isso, central para entender os objetos e ações que
constituem o território. É importante salientar o papel do Sistema Único de Saúde,
que pode ser analisado como “um sistema unificado de ordem material e normativa
[...] que tem se realizado e se reproduzido distintamente segundo os usos efetivos do
território e do conjunto de materialidades e normas presentes nos lugares e regiões”
(ALMEIDA, 2005), e que contribui de forma importante na dispersão e no uso dessas
vacinas (através das Unidades Básicas de Saúde, que efetuam a vacinação, por
exemplo). Cabe ressaltar que o Estado cumpre um papel indispensável nessa
dinâmica, pois “tem a capacidade de financiar a criação de novos sistemas de
engenharia e novos sistemas de movimento” (CASTILLO, 2008) agindo como um
indutor e consumidor destas corporações farmacêuticas. Ainda sobre a função do
Estado, que realiza a distribuição de vacinas e as campanhas de vacinação no
território brasileiro, é um agente que está presente em todos os pontos do território,
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diferentemente de outros, como corporações, por exemplo. São estas “porções do
território não rentavelmente utilizáveis, diferentemente daquelas porções mais
densamente equipadas de infraestruturas” (SANTOS, 1985). Dessa maneira, o
Estado passa a exercer um monopólio espacial (idem) nessas porções.
ALMEIDA, Eliza Pinto de. Uso do território brasileiro e os serviços de saúde no período técnico-científico-informacional. São Paulo. 2005. Tese de Doutorado, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras – FFLCH/USP.
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Sueli Almeida dos Santos
Instituto de Geociências
Universidade Estadual de Campinas
Bolsista de Iniciação Científica – FAPESP
Palavras-chave: empresa de consultoria Deloitte, informação, território brasileiro
Este trabalho pretende contribuir para o entendimento do papel da
informação, sobretudo aquela estratégica, na organização e reorganização do
território brasileiro a partir de um estudo das empresas globais de consultoria,
tomando como exemplo a consultoria Deloitte Touche Tohmatsu.
Para compreendermos o estatuto da informação no período atual, é
necessário um melhor entendimento sobre o mercado da consultoria. A ascensão
dos serviços consultivos ocorre, principalmente, com a implementação de novos
paradigmas produtivos e a complexização da produção na escala mundo a partir dos
anos 1970; nesse momento as empresas de consultoria se afirmam como peça chave
no atual modelo de acumulação capitalista. Hoje, as firmas de consultorias, segundo
Silva (2001, p. 113),
São atores centrais na trama global de produção e distribuição das informações produtivas. No Brasil é somente com o advento da industrialização nacional que haverá uma demanda efetiva por mercadorias organizacionais, isto é, uma demanda por aportes à racionalização dos negócios. E, hoje, o novo contexto político, que parece buscar no “modelo da globalização” novas formas de regulação da economia e do território, requalifica os conteúdos do sistema produtivo nacional, dinamizando ainda mais os circuitos produtivos de informações.
Nesse sentido, buscamos entender a conformação da empresa Deloitte
no país a partir da evolução da topologia da sua rede de escritórios presente no
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Brasil desde a primeira metade do século XX e a sua evolução no território nacional,
especialmente a partir da década de 1970.
Essa empresa que tem a sua a gênese no final do século XIX, sofreu a
última fusão no ano de 1989. As firmas-membro da DTTL estão presentes em 150
países e prestam serviços profissionais nas áreas de auditoria, consultoria,
assessoria financeira, gestão de riscos e consultoria tributária. Entre 2002 e 2011, o
total do faturamento da rede global Deloitte saltou de aproximadamente 12 para 29
bilhões de dólares. É interessante observar, segundo Donadone (2001), que o
processo de fusão e aquisição de empresas que ocorre no Brasil a partir dos anos
noventa abre espaço para as ações das grandes consultorias, no entanto, as maiores
empresas desse ramo já haviam passado por esse processo antes da década de
noventa como uma estratégia de fortalecimento da sua rede a nível mundial.
A história da Deloitte no Brasil está relacionada ao início do processo de
ocupação do interior do país e o projeto de instalação de ferrovias no final do século
XIX e começo do século XX, voltado principalmente para o escoamento da produção
cafeeira, importante atividade econômica do país naquele período. Em 1911, a
Deloitte se instalou no Rio de Janeiro para auditar as companhias ferroviárias
britânicas que se estabeleceram no país.
Depois do Rio de Janeiro, a Deloitte foi estabelecendo seus escritórios em
importantes centros econômicos brasileiros à medida que o país integrava o seu
território e se fortalecia nas relações econômicas globais. Hoje, a empresa possui 11
escritórios no território nacional, presentes nas cidades de São Paulo, Belo
Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Fortaleza, Joinville, Porto Alegre, Rio de
Janeiro, Recife e Salvador, com 4.500 profissionais de consultoria e auditoria atuando
no país. Este seleto grupo de cidades apresenta, pois, alta densidade informacional.
Conforme Harvey (2005, p. 57),
As vantagens produtivas relativas rendem excesso de lucros e, se essas vantagens se perpetuam na forma permanente “diferença tecnológica”, resulta (...) que as regiões ricas em conteúdo tecnológico sempre têm capacidade de obter maiores lucros numa determinada linha de produção, em comparação com regiões pobres em conteúdo tecnológico.
É importante observar na relação de cidades apresentadas anteriormente,
a ausência de escritório da empresa Deloitte na região Norte e, ao mesmo tempo, a
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presença de escritórios em cidades da região Sul e Sudeste que não são capitais;
particularmente em Santa Catarina é interessante notar que o único escritório que a
empresa possui no estado não está presente na capital, provavelmente em função da
importância industrial apresentada pela região de Joinville.
É notável também a primazia do estado de São Paulo, sendo o único que
possui escritório na capital e numa outra cidade do estado (Campinas), além disso, é
na cidade de São Paulo que está localizado o principal escritório da empresa Deloitte
no Brasil, no qual está presente a presidência da firma-membro no país, as
lideranças das práticas de negócios – consultoria, auditoria, assessoria financeira,
gestão de riscos e consultoria tributária. Nesse sentido, observa-se que a
importância da metrópole paulista é marcada pela presença de centros de decisão de
grandes empresas. Para Santos & Silveira (2001, p. 210),
São Paulo, metrópole brasileira, já não tem o seu papel metropolitano definido por ser uma capital industrial, mas por ser uma capital relacional, o centro que promove a coleta das informações, as armazena, classifica, manipula e utiliza a serviço dos atores hegemônicos da economia, da sociedade, da cultura e da política. Por enquanto, é São Paulo que absorve e concentra esse papel no poder decisório.
Podemos considerar que há uma seletividade estratégica da rede de
escritórios da firma-membro Deloitte no Brasil, que pode ser observada nos
resultados da sua receita nos últimos anos, nos quais a empresa apresentou um
crescimento significativo em seu faturamento no país, passando de 500 milhões de
reais em 2007 para 850 milhões de reais em 2011.
A partir da análise sobre a conformação e as ações das grandes
consultorias, como a Deloitte, podemos verificar a importância crescente da
informação como variável-chave no período contemporâneo, tendo em vista a
expansão das informações produzidas e difundidas por essas empresas em pontos
estratégicos do território brasileiro, em especial, nas regiões mais densamente
urbanizadas. A nível mundial, tais empresas apresentam importantes fluxos
informacionais através das suas redes planetárias de escritórios. Daí a necessidade
de reflexão sobre ação corporativa dessas empresas, no planejamento territorial,
para atender os imperativos da produção.
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Amaral Morais Raimundo
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Palavras chave: gentrificação, território, identidade, remoção populacional
O presente trabalho é parte integrante do Programa de Educação Tutorial
(PET/Geografia/UFRJ). O mesmo foi realizado pelo eixo Produção do Espaço Urbano
cuja proposta, através da Geografia Urbana, é analisar as alterações sócio-espaciais
na metrópole do Rio de Janeiro.
A cidade do Rio de Janeiro vem passando por várias transformações
urbanísticas devido aos Mega Eventos: Rio 2016. Aproveitando-se dessas
modificações urbanas na metrópole carioca, pretendemos abordar as alterações
decorrentes da transcarioca – que ligará a Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional
Tom Jobim – mais detalhadamente, analisando os impactos das transformações do
BRT (Bus Rapid Transit) transcarioca e do Mergulhão Clara Nunes em Madureira-
Campinhos que está localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro.
O recorte espacial referido acima foi escolhido devido às manifestações
populares, contrárias à instalação do BRT (Bus Rapid Transit) transcarioca em
Madureira-RJ. Segundo os moradores a reestruturação irá implicar em remoções
populacionais locais e, os mesmos, reclamam de indenizações e realocações
indevidas por parte da prefeitura do Rio de Janeiro. Entende-se, que os moradores
estão insatisfeitos com as remoções arbitrarias e com a intransigência das
negociações entre as partes (prefeitura- moradores), assim como, o baixo preço das
indenizações e/ou as características do lugar de realocação.
A Transcarioca será o primeiro corredor de alta capacidade no sentido
transversal da cidade, com extensão de 39 km. A estimativa é que cerca de 500 mil
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pessoas sejam beneficiadas diariamente pelo sistema, que atenderá também os
bairros de Curicica, Taquara, Tanque, Praça Seca, Campinho- Madureira, Vaz Lobo,
Vicente de Carvalho, Vila da Penha, Penha, Olaria e Ramos. Ao longo do traçado
serão 9 estações duplas e 35 estações simples; quatro terminais (Alvorada, Penha,
Ilha do Governador e Galeão); três mergulhões; 10 viadutos (incluindo as
duplicações) e nove pontes (sendo duas estaiadas). O fim das obras está marcado
para 2013. Resumidamente a transcarioca seria um sistema de ônibus de alta
capacidade que provê um serviço veloz, confortável e eficiente quando nos referimos
a deslocamento populacional no espaço, sendo corredores exclusivos, com
preferência para circulação de transporte coletivo.
Já o novo Mergulhão Clara Nunes faz parte da primeira fase da
construção da Transcarioca, logo, ele vai eliminar o cruzamento que existia entre a
Rua Cândido Benicio, Estrada Intendente Magalhães, Rua Domingos Lopes e Rua
Ernani Cardoso, todas em Madureira. A Coordenadoria de Engenharia e Tráfego do
Rio (CET-Rio) estimam que cerca de 20 mil veículos circulem por dia em cada
sentido do mergulhão. O mergulhão tem 400 metros de extensão, quase 40 metros
de largura em sua parte maior, onde irá receber uma estação de embarque e
desembarque do BRT Transcarioca. Em cada sentido haverá duas faixas para o
ônibus ligeirão (BRT) e duas outras para o trânsito em geral. Concomitantemente os
mergulhões seriam intervenções urbanísticas feita com o objetivo de melhorar a
paisagem urbana e o escoamento do tráfego de veículos automotores, ou seja, uma
espécie de túnel que passa por baixo das ruas, liberando espaço para obras e tráfego
de pessoas por cima delas.
A seguinte pesquisa exibe como objetivo geral, uma análise da atuação
do Governo Federal em relação às políticas habitacionais no que se referem a
assentamento populacional, assim como, as alterações espaciais no decorrer do
processo de gentrificação – enobrecimento do espaço urbano em detrimento da
valorização do lugar – na cidade do Rio de Janeiro visando a Copa do mundo de 2014
e as Olimpíadas de 2016.
Na elaboração da pesquisa tomou-se o cuidado de refletir acerca dos
conceitos e categorias da Geografia Urbana que ressaltassem o objetivo desejado
tanto na parte teórica como na parte técnica e empírica. No que remete ao debate
teórico, especificamos questões como gentrificação e revitalização; território
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Identidade e remoção populacional. Visando a descrição fenomênica, buscou-se
representar a abrangência espacial do traçado da Transcarioca, mas optou-se como
recorte a análise do bairro de Madureira-Campinhos, localizado na Zona Norte da
Cidade do Rio de Janeiro.
Em relação parte teórica foram priorizados conceitos como gentrificação,
território e remoção populacional e, através destes, pretendemos adentrar nos
impactos das obras da Transcarioca à comunidade Largo do Campinhos, situada em
Madureira-RJ.
Nas ideias de Smith a formação de locais gentrificados passaria por três
fases que levariam a uma “gentrificação clássica” 1. A primeira fase foi impulsionada
por precursores, isto é, pessoas de classe média que arriscam investir em um local
desvalorizado pelo mercado imobiliário, por causa do diferencial do preço do aluguel
e benfeitorias, ou, da infraestrutura ali existente. Em sua maioria, essa classe social é
composta por indivíduos com grande intelecto, mas, nem sempre com grande poder
aquisitivo.
A segunda fase é caracterizada, de acordo com Gustavo Zolini, pela
participação do mercado imobiliário em acordo com os planos de incentivos
públicos, ou seja, financiamentos e facilidades que mudam o caráter dos gentries,
antes denominados precursores. Smith afirma que a segunda fase torna a forma de
um plano de investimento em áreas degradadas, impulsionados pela promessa,
depois confirmada, de lucro certo para os investidores privados.
Já a terceira e última fase, pode caracterizar-se por uma gentrificação de
consumo, onde somente uma nova classe média adaptada a certos tipos de lazeres,
emprego e consumo poderão usufruir do espaço determinado e suas especialidades.
Na terceira fase, a gentrificação se caracteriza por moldar todo o entorno e fendas
dos bairros entre as residências gentrificadas (SMITH, 2006).
A mais recente conceituação a partir de uma história vivida por uma
comunidade que produz no território a identidade do grupo social ali residente, o
qual Haesbaert conceitua como território cultural(ista), visto como produto da
apropriação resultante do imaginário e /ou identidade social sobre o espaço, é que
pretendemos caminhar, o que não nos impede de penetrar outras vertentes. A
1 Esta gentrificação clássica, para Neil Smith, pode ser caracterizada ao se analisar a evolução da cidade de Nova York, após o período de expansão suburbana, que resultou no declínio e desvalorização dos centros urbanos.
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relação identidade-território não se dá instantaneamente. Ela toma forma com o
decorrer do tempo tendo como principal artefato o sentido de pertencimento do
indivíduo ou grupo á seu espaço de vivência (SOUZA e PEDON, 2007).
A remoção involuntária da população ocorre por diversos motivos e,
apresenta um desafio tanto para planejadores quanto para os estudiosos de
migrações. O assunto reassentamento tem ganhado visibilidade com o atual
processo de gentrificação que está passando Madureira.
Por fim, compreendemos que as obras referidas a cima estão imbricadas
à alterações espaciais no bairro de Madureira e, podem apresentar tanto impactos
positivos quanto negativos à realidade de vida da população local. Contudo, para que
essas obras ocorreram é necessário que haja remoções populacionais em
Campinhos e, é nessa perspectiva que se encontra o nosso grande desafio.
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Isabela Alves Gomes
[email protected] Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Palavras-chave: Avenida Central, Pereira Passos, Reforma Haussmann, mobilidade urbana
A discussão em torno da construção da Avenida Central envolve diversas
problemáticas, entre elas a modernização tardia da cidade do Rio de Janeiro e a
conquista da sua capitalidade, bem como a expulsão da população pobre da área
central.
Quando Pereira Passos assumiu a prefeitura da cidade, não imaginava a
transformação que seria capaz de realizar. O Rio de Janeiro do início do século XX
não transparecia sua importância política como capital. Suas ruas eram estreitas e
sujas, quiosques tomavam conta das esquinas, doenças assolavam a cidade, cortiços
e malocas serviam de moradia coletiva e a população vivia em meio a mais completa
desordem. A cidade se desenvolvia apertada entre os morros do Castelo, Santo
Antônio, São Bento e Conceição.
Foi assim, com o Rio entregue a sua própria sorte, que Pereira Passos
assumiu a prefeitura, e a partir de sua parceria com o atual presidente Rodrigues
Alves, pôs em prática um plano de melhorias que iria transformar a paisagem
carioca. O objetivo principal da dupla era poder transformar a imagem que a cidade
passava de um lugar retrógrado, com características ainda coloniais, tomado por
doenças e infestações, em uma cidade limpa e atualizada de acordo com o seu
tempo.
Porém, mudar o espaço urbano carioca, sem mudar os costumes da
população, de nada serviria para transformar a imagem negativa que a cidade
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transparecia. Para isso, foram instaurados quatro princípios fundamentais, aos quais
a população deveria se submeter, sendo eles: a expulsão dos menos favorecidos da
área central da cidade, a negação de elementos da cultura popular, a valorização do
mundo moderno na tentativa de se assemelhar a grande Paris, a proibição de
hábitos e costumes ligados à sociedade tradicional.
Com a missão de reestruturar, urbanizar e embelezar a cidade, Pereira
Passos teve a importante ajuda do sanitarista Oswaldo Cruz, que com muita
competência, fez com que o Rio de Janeiro deixasse de ser conhecido como “Capital
da Morte” e passasse a ser chamado de Cidade Maravilhosa. A primeira providência
a ser tomada pelo novo prefeito foi a de reorganizar a antiga Comissão da Carta
Cadastral, com o objetivo de fornecer o apoio logístico necessário para a realização
de suas obras.
Foi o ministro da Viação e Obras Públicas, Lauro Müller, que percebeu a
necessidade de construção de um Porto, que serviria para o escoamento e fluxo de
mercadorias, além de representar a importância brasileira como maior produtor de
café do mundo. Rodrigues Alves, com a ajuda de Lauro Müller, designa então
Francisco Bicalho, para modernizar o Porto do Rio de Janeiro. Para o presidente, essa
era uma obra de caráter fundamental para o andamento das transformações que a
cidade vinha passando.
Todavia, o projeto de melhoramentos que estava sendo implantado na
cidade não podia se limitar apenas ao porto. Eram necessárias algumas obras
complementares, no objetivo de ajudar no escoamento dos produtos oriundos do
mesmo. Assim, seria decretada a abertura da Avenida do Cais, da Avenida do
Mangue, e da Avenida Central, sendo esta última, o tema a ser abordado nessa
pesquisa. Foi então em 1903, que Lauro Müller, aprovou as instruções para o
funcionamento da Comissão Construtora da Avenida Central, nomeando o então
presidente do Clube de Engenharia, André Gustavo Paulo de Frontin, para a direção
desta comissão.
A construção da Avenida provocou grande assombro popular. Diziam que
levaria anos para ser concluída, que custaria milhões só em desapropriações, que
não haveria recursos suficientes. Mas com a ajuda de Pereira Passos a cidade já
estava empenhada em se remodelar. O objetivo era molda-la como os grandes
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Bulevares de Paris. Em 8 de março de 1904, festejou-se solenemente a demolição
dos primeiros prédios, iniciada pelas duas extremidades da Avenida.
A nova avenida que era considerada um complemento às obras do porto,
por outro lado, representava um símbolo do progresso, deixando para trás a velha e
retrógrada cidade abandonada.
Foi debaixo de grande chuva que em 15 de novembro de 1905 inaugurou-
se a Avenida Central, que nos moldes dos boulevares de Paris, se tornou o grande
marco da urbanização carioca daquela época. Porém, todo progresso tem sua
consequência, e não foi diferente com a construção da Avenida. Com a cidade em
expansão, começava a ficar cada vez mais difícil se manter no centro, próximo a
todas as melhorias que vinham sendo realizadas, ao acesso fácil a produtos e
serviços, e a um lugar privilegiado que pudesse ser beneficiado de alguma forma
pelo plano de melhorias.
O objetivo dessa pesquisa - que se encontra em andamento - é analisar e
demonstrar o deslocamento da população no início do processo de reurbanização da
cidade na primeira década do século XX, mais especificamente na área tomada pela
Avenida Central, tal como verificar as mudanças ocorridas naquele espaço com a
inauguração da grande avenida.
Sendo assim, a pesquisa segue dando foco ao processo de
desalojamento da população pobre do centro carioca. População essa que não era
vista com bons olhos pela prefeitura, ocupada por Pereira Passos, uma vez que
“empobrecia” a imagem da cidade.
O trabalho esta sendo realizado através de pesquisas em fontes
primárias, principalmente documentos encontrados em instituições públicas como o
Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, o Instituto Pereira Passos e o Arquivo da
Cidade do Rio de Janeiro, além de entrevistas com profissionais da área de estudo.
Assim, foram levantados dados importantes de base para a pesquisa tais como
informações sobre as casas desapropriadas e o valor pago a cada uma delas, mapas
referentes ao recorte espacial em questão, cartas de moradores das casas
desapropriadas, entre outros documentos levantados. Porém, até então, ainda não
foi possível chegar a uma conclusão final sobre o destino que tiveram os antigos
moradores deslocados.
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O referente autor do trabalho participou ativamente da composição,
elaboração e desenvolvimento da pesquisa. Considerando os dados levantados, a
temática trabalhada é de suma importância para o entendimento da ação
governamental na vida das pessoas, mostrando como uma obra pública pode afetar
de forma direta e/ou indireta a vida das mesmas, até os dias de hoje.
ABREU, Maurício de Almeida. Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro; IPLANRIO, 1997. 3ª ed.
FERREZ, Marc. O álbum da Avenida
Central. Um documento fotográfico da construção da Avenida Rio
Branco, Rio de Janeiro, 1903-1906. Rio de Janeiro: Ex Libris, 1982.
BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos:
um Haussmann tropical. Rio de Janeiro: SMCTT, 1990.
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Jefferson Pedrosa da Silva Teixeira [email protected]
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Palavras-chave: Mobilidade, acessibilidade, espaço urbano, exclusão urbana
O transporte público é um serviço essencial para a dinâmica da cidade,
porém quando se mostra de forma desarmônica prejudica a sua articulação, além do
que o mesmo torna-se cada vez mais um modelador do espaço urbano. Não se
pretende neste trabalho apenas usar a Geografia dos transportes de modo técnico e
reduzido, e sim de maneira que ao estudar a situação dos transportes e da
mobilidade em Tamoios – RJ, segundo distrito de Cabo Frio, possa-se identificar
também as interações espaciais de sua população e sua estrutura urbana. Neste
sentido, o objetivo desde trabalho é analisar a interferência da empresa Autoviação
Salineira na mobilidade de Tamoios que apresenta um fenômeno diferenciado, onde
o transporte público é monopolizado por essa empresa local que controla todas as
linhas municipais e parte das intermunicipais. Esse fato causaria uma segregação
urbana da população de Tamoios através da distribuição irregular das linhas de
ônibus da empresa de transporte, privando essa população de serviços básicos.
Expansão urbana do município de Cabo Frio
Antes de analisar a mobilidade, deve-se revisar a formação territorial do
município e o ordenamento da sua rede urbana. O município de Cabo Frio ocupa
uma área de 403 Km2 localizando-se atualmente no sudeste do estado do Rio de
Janeiro, inserido na mesorregião das Baixadas Litorâneas e na microrregião da Costa
do Sol (CIDE, 2000).
Desde a década de 1970 que o município apresenta um adensamento
populacional expressivo, intensificado por fluxos causados pela nova ligação entre a
capital e o interior do estado, a ponte Rio–Niterói, refletindo no aumento de sua
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população, que duplicou em apenas 20 anos. E conta atualmente com cerca de 200
mil habitantes (IBGE, 2010).
Como aponta MARAFON (2005) o turismo de veraneio e o fenômeno da
“segunda residência” movimentam os setores de prestação de serviços
principalmente relacionados aos negócios do turismo, como hotéis, pousadas,
comércio, além de entre outros como o setor de transportes e da construção civil.
Cabo Frio recebe anualmente cerca de uma população de cerca de dois milhões de
turistas flutuantes somando os períodos de alta e baixa temporada, tendo como
origem regional principalmente os da capital do estado, de Niterói e de Petrópolis,
de origem interestadual e internacional (SECTUR, 2010).
Discutindo o conceito de mobilidade
A mobilidade urbana, conceito amplamente discutido, possui variadas
definições. Uma delas, dada pelo SEMOB é a de que “a mobilidade urbana é definida
como a facilidade de deslocamento das pessoas e bens na cidade, tendo em vista a
complexidade das atividades econômicas e sociais nele desenvolvidas (SEMOB,
2005)”. Porém, pensar em mobilidade apenas pelo lado técnico empobrece a
discussão.
Sendo assim, deve-se repensar o conceito de mobilidade urbana,
acrescentado o fato de a mobilidade contribuir para a construção e modificação do
espaço urbano. Segundo Gomide (2004) a desigualdade urbana pode ser observada
de diferentes formas, inclusive através dos transportes e da mobilidade. Nesse
sentido, como diz Silveira (2011) deve-se atribuir aos transportes parte importante
da “organização da produção e da reprodução do espaço” e que não somente a
quantidade e a qualidade das vias, dos meios e dos fluxos e de suas “organizações
sobre o espaço”.
Portanto, após discutir brevemente o conceito de mobilidade urbana,
deve-se partir para a discussão do recorte espacial escolhido, no caso, Tamoios. Por
conta da sua mobilidade prejudicada por diversos fatores que serão tratados,
Tamoios apresenta-se com uma estrutura urbana singular, o que também será
tratado a frente.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
Mobilidade urbana em Tamoios
A mobilidade de Tamoios é prejudicada primeiramente pelo monopólio
empresarial da Autoviação Salineira que controla todas as linhas de ônibus
municipais e a maior parte das linhas intermunicipais. A referida empresa fornece
apenas três linhas que fazem o percurso de pouco mais de 30 km ligando o primeiro
e o segundo distritos, que são Cabo Frio x Santo Antônio Via São Jacinto (Linha
municipal), Cabo Frio x Santo Antônio via Marinas e Cabo Frio x Santo Antônio Via
Maria Joaquina e Gargoa (intermunicipais).
Posteriormente, foram examinados os horários das linhas em questão
que variam seus horários de saída de 10 minutos até 2 horas. Grandes intervalos
prejudicam a mobilidade urbana, pois limita o acesso da população a partes da
cidade, tendo esses que se programar muito para que tenham como ir e voltar de
seus destinos. Mover-se pelo espaço sem ter limitações de horário é importante,
pois horários limitados prejudicam o mercado de trabalho e o mercado consumidor,
que restringe o tempo que trabalhadores e consumidores podem permanecer no
centro da cidade, onde se concentram as principais atividades econômicas.
Resultados dos questionários
Buscou-se através da aplicação de questionários caracterizar a
mobilidade urbana de Tamoios, reunindo informações e opiniões com os usuários
do transporte público rodoviário. Os questionários foram aplicados no mês de julho
de 2012, em Tamoios, precisamente nos bairros de Unamar e Aquarius,
entrevistando 22 moradores de ambos os sexos e de idades que variavam entre 15 e
64 anos.
Procurou-se descobrir entre outras coisas os destinos mais procurados, a
modo que pudesse medir a intensidade dos fluxos saídos de Tamoios. Assim,
observou-se que o primeiro distrito de Cabo Frio é tão procurado quanto o município
de Rio das Ostras, sendo o último muitas vezes citado como destino secundário. O
fato de Rio das Ostras ser tão procurado dar-se primeiramente por conta da maior
proximidade física que Tamoios tem com Rio das Ostras – cerca de 10 km – do que
com Cabo Frio – cerca de 30 km. Além disso, Rio das Ostras exerce uma centralidade
na região devido ao seu grande desenvolvimento atual devido à extração de petróleo
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na Bacia de Campos, concentrando empregos e serviços como bancos, médicos,
escolas, comércio, entre outros.
Também se descobriu que a utilização de outras modalidades de
transporte é comum em Tamoios, principalmente o uso pessoal de transporte –
carros, motos e bicicletas – e o uso do transporte informal, as chamadas “lotadas”.
Quando questionados sobre o comprometimento da renda com as tarifas dos
ônibus, 50% dos entrevistados disseram ter sua renda comprometida, 25% disseram
não comprometer sua renda e 25% responderam ter parcialmente comprometida.
A precariedade do serviço pode ser evidenciada quando os usuários são
questionados sobre os horários, conforto, oferta de destinos e tarifa. As avaliações
dos serviços prestados Salineira são negativas. Os usuários queixam-se
principalmente da falta de destinos, da demora dos ônibus, de encontrarem-se
geralmente cheios e que constantemente os motoristas não respeitam os direitos
dos idosos e estudantes.
Conclui-se assim que os usuários têm dificuldades de se locomover no
espaço urbano pelos motivos já apresentados. As ações da Auto Viação Salineira ou
a falta delas, observadas pelos usuários, interfere negativamente para a mobilidade
do segundo distrito de Cabo Frio. Os usuários não conseguem chegar aos destinos
que buscam utilizando o transporte público local, que a principio deveria ser o
primeiro a oferecer o serviço, enfrentando dificuldades em se locomover dentro de
seu próprio território, muitas vezes ficando privados a serviços e eventos no primeiro
distrito.
Conclusão
Conclui-se assim que o transporte em si não é o causador segregação,
sendo que esse engloba outros importantes fatores, porém quando não funciona
adequadamente, afasta e isola a população contribuindo para o processo. Portanto,
assim como diz Silveira (2011), pensar a mobilidade urbana como facilidade de se
movimentar pelo espaço está correto, mas deve-se pensar principalmente como a
mobilidade contribui para a modernização da sociedade e amplia suas relações
sociais através das inter-relações espaciais. Com mobilidade urbana desenvolvida há
mais interação social com o espaço, contribuindo com a produção e reprodução do
espaço. A mobilidade urbana ultrapassa o sentido de ir e vir de pessoas e produtos, e
torna-se um fator de estruturação e reestruturação do espaço e do território,
ige.unicamp.br/cact/semana2012
aproximando ou distanciando lugares, desenvolvendo ou colocando lugares no
esquecimento.
CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática, 2004.
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Auro Aparecido Mendes
Lucas Baldoni [email protected]
Instituto de Geociências e Ciências Exatas Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Palavras-chave: Geografia da Inovação, condomínios empresariais, Geografia dos
serviços
O presente trabalho consiste em analisar a importância da troca de
conhecimento e inovação no Condomínio Empresarial Praça Capital instalado na
Região Metropolitana de Campinas (SP). O condomínio empresarial Praça Capital é
o novo espaço produtivo resultado das reorganizações que possibilitam a
reprodução do capital. Esse novo espaço produtivo, dotado de infraestrutura e
logística sofisticada é capaz de possibilitar o desenvolvimento das empresas ali
instaladas além de promover o avanço da inovação tecnológica da região devido
suas relações com laboratórios, universidades e centros de pesquisa.
As lógicas da localização dos serviços de inovação têm aspectos
semelhantes às atividades econômicas em geral, que se distingue devido ao caráter
imaterial dos serviços de alto valor agregado através do papel estratégico da
informação, pela natureza dos serviços prestados e pelo fato de existirem serviços
cuja lógica de funcionamento está para além do econômico, mas também cientifico.
Desse modo, a redefinição das estruturas e o redirecionamento espacial
das organizações trazem novos conceitos aos processos produtivos e modificam os
espaços tornando-os novos espaços produtivos. Após o período fordista, houve a
expansão de indústrias multinacionais em busca de espaços que ofereciam
possibilidades para expansão. Já no início da década de 1990, começaram a surgir no
Brasil empreendimentos como uma alternativa de aproximação das empresas ao
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maior mercado consumidor do país. Esses espaços traziam projetos de condomínios
que contemplavam empresas de segmentos voltados ao atendimento direto ao
mercado. Tais empreendimentos são empresas que na década de 1990 pareciam
inviáveis, mas que recentemente são necessárias, pois obedecem ao
desenvolvimento econômico através da evolução tecnológica, construção civil,
tecnologia da informação, ou seja, através da terceirização.
As empresas mudaram seus modelos organizacionais para adaptarem-
se às condições das novas exigências espaciais. Através da materialização dos
fenômenos no espaço podemos observar que o Condomínio Empresarial faz parte
da lógica da criação das condições gerais para as relações capitalistas de produção
de serviços, dentre eles, os que possibilitam a troca de conhecimento em suas
instalações e também o vínculo com institutos de pesquisa que contribuem para o
avanço científico e tecnológico. Neste sentido, com a construção destes
condomínios, as empresas instaladas em localizações logisticamente estratégicas,
encontram nestes espaços todos os serviços e infraestruturas necessárias para o
funcionamento viável e rentável das empresas instaladas.
A localização do Condomínio Empresarial permite não só a agilidade da
produção de serviços que contribuem para o avanço científico e tecnológico, mas,
ainda, o compartilhamento do conhecimento, do aprendizado, das trocas de
experiências e dos serviços disponíveis. Portanto, o espaço que, no passado,
encontrava-se desarticulado, no momento atual encontra-se cada vez mais dotado
de capacitações técnicas, logísticas e de serviços que possibilitam a integração entre
empresas dos mais variados ramos ou setores da atividade econômica além de
manter relações com universidades e centros de pesquisas.
A interação e a cooperação via fluxo de informações e de conhecimentos entre produtores, usuários, assistência técnica, indústrias correlatas, serviços, instituições de pesquisa; são imprescindíveis para a inovação tecnológica e para a descoberta de novos produtos e processos (MENDES e BALDONI, 2010. p. 2).
A Região Metropolitana de Campinas é um “espaço ideal” para o
desenvolvimento de atividades empresariais, pois possui fatores intensivos em
tecnologia e conhecimento.
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O objetivo geral desta pesquisa foi avaliar no Condomínio Empresarial
“Praça Capital” a importância da produção de conhecimento e inovação tecnológica
gerada na Região Metropolitana de Campinas, e também, as relações e trocas de
conhecimento que as empresas instaladas no Condomínio em estudo mantêm entre
si e com as suas sedes ou suas matrizes. Já os objetivos específicos envolveram a
análise das relações que as empresas instaladas no Condomínio possuem com as
universidades e centros de pesquisa, e, as vantagens existentes no Condomínio
quanto à produção de conhecimento e inovação. O estudo identificou como é feita a
qualificação da mão de obra empregada; avaliou os serviços de inovação tecnológica
disponível e também, o grau de importância do Condomínio para geração de
conhecimento na Região Metropolitana de Campinas, SP, por fim, constatou se a
troca de conhecimento entre as empresas instaladas no Condomínio a partir de suas
relações e sinergias com as matrizes.
Na presente pesquisa o método empregado foi o “materialismo
histórico geográfico” proposto por David Harvey (1996). O materialismo histórico
geográfico possibilita à análise das contradições existentes no real através da visão
temporal somada as transformações que ocorrem no espaço:
Mesmo a expressão “materialismo histórico”, observo, apaga a importância da geografia e se venho me empenhando nos últimos anos para implantar a ideia de “materialismo histórico geográfico” é que a mudança dessa terminologia nos prepara para olhar com mais flexibilidade e, espero mais coerência a significação em termos de classes de processos como a globalização e o desenvolvimento geográfico desigual (Harvey, 1996. p.82).
Os procedimentos metodológicos desta pesquisa visaram resgatar o
histórico do desenvolvimento econômico, principalmente dos novos espaços
produtivos em Campinas, como também, um levantamento bibliográfico sobre os
condomínios empresariais, centros de pesquisa e universidades existentes.
No trabalho de campo foi realizado o levantamento de dados que
possibilitaram a análise dos tipos de serviços de inovação e produção de
conhecimentos oferecidos às empresas e pelas empresas instaladas no referido
Condomínio. A investigação científica constituiu, também, na elaboração de
questionários e aplicação desses questionários aos empresários que permitem o
fluxo de informações dentro e fora do condomínio possibilitando a inovação e
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produção de conhecimento. Enfim, a interpretação dos resultados promoveu a
comparação entre os resultados obtidos experimentalmente com aqueles esperados
segundo normas vigentes da demanda do grande capital.
Enfim, as empresas procuram espaços específicos para a reprodução
do capital. Espaços dotados de infraestrutura que possibilitem seu desenvolvimento
com menor custo e maior benefício. Tais espaços são os novos espaços produtivos
do século XXI, e esse espaço se apresenta sob a forma de Condomínio Empresarial,
pois ele evidencia a importância da troca de conhecimento e inovação através de
uma localização estratégica para o desenvolvimento de relações que visam o avanço
cientifico e tecnológico regional.
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Mariana Falcone Guerra [email protected]
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo
Palavras-chave: sustentabilidade, desenvolvimento urbano sustentável, loteamentos fechados
Introdução e objetivo
Neste começo de século, as perspectivas para enfrentamento dos
problemas urbanos gerados por um modelo irracional de ocupação do espaço são
bastante desanimadoras. Num contexto de incertezas quanto ao futuro das cidades,
o paradigma do desenvolvimento urbano sustentável ganhou força ao procurar
estabelecer parâmetros para um crescimento urbano equilibrado.
Termos como “adensamento urbano”, “otimização dos transportes
públicos”, “controle de resíduos sólidos”, entre outros, passaram a fazer parte da
agenda política das grandes cidades, e do vocabulário de atores ligados à produção
do espaço urbano como gestores públicos, promotores imobiliários e agências
multilaterais de desenvolvimento.
Esse trabalho tem como objetivo compreender o conceito de
desenvolvimento urbano sustentável, bem como a apropriação ideológica desse
conceito pelo mercado imobiliário.
O conceito de sustentabilidade
Publicado em 1987, o Relatório Brundtland inaugurou o debate público
internacional em torno da noção da sustentabilidade, definida por ele como aquele
que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das
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gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. Apesar de bem intencionado,
o texto é vago e sujeito a inúmeras interpretações.
Fundamentalmente, a noção de sustentabilidade estaria relacionada à
duração quantitativa e qualitativa da base material das sociedades. Tratar-se-ia de
projetar para o futuro, o modelo urbano ideal e desejável para as cidades,
discriminando as práticas predatórias relacionadas ao modelo de “progresso a
qualquer custo”, e suas consequências para a base material das cidades, como
poluição, congestionamento, violência urbana etc.
Designaremos por sustentabilidade, pois a categoria pela qual, a partir da última década do século XX, as sociedades têm problematizado as condições materiais da reprodução social discutindo os princípios éticos e políticos que regulam o acesso e a distribuição dos recursos ambientais – ou, num sentido mais amplo, os princípios que legitimam a reprodutibilidade das práticas espaciais (ACSELRAD, 2009, p. 19).
Segundo Acselrad (2009), duas racionalidades são observadas no debate
sobre a sustentabilidade. A primeira, de caráter prático, foca a longevidade do
sistema capitalista vigente com base na racionalidade econômica e eficiência global.
A segunda enxerga além da simples lógica utilitária, vislumbrando na experiência
prática da sustentabilidade uma possibilidade de transformação social, ao incorporar
valores como ética, equidade e democracia na formulação de um novo modelo de
desenvolvimento.
Por volta do início da década de 1990, várias cidades (notadamente
europeias) se articularam para pôr em prática os princípios do desenvolvimento
sustentável. Em 1992 aconteceu no Rio de Janeiro a ECO92, cujo resultado prático foi
a elaboração da Agenda 21, documento que norteia políticas e ações voltadas ao
desenvolvimento sustentável. A partir de então, o debate sobre sustentabilidade
urbana ganha força, dando origem a diversas rearticulações políticas através das
quais atores ligados à produção do espaço urbano procuraram dar legitimidade às
suas ações, enfatizando a compatibilidade destas com os princípios da Agenda 21.
Segundo este documento, os principais preceitos do desenvolvimento
urbano sustentável seriam:
Densidades urbanas mais elevadas e forma urbana compacta
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O maior adensamento maximizaria o uso da infraestrutura instalada,
diminuindo o custo de sua implantação e a necessidade de expansão da cidade para
áreas periféricas e ambientalmente frágeis.
Usos urbanos diversificados
A monofuncionalidade implica em maiores deslocamentos, que
normalmente são feitos através de transporte individual e queima de combustível
fóssil, além de desencorajar o pedestrianismo.
Adoção do sistema de transporte coletivo, em detrimento do
transporte individual
Esse aspecto está relacionado ao adensamento. Densidades baixas estão
associadas a transportes de baixa capacidade. Por sua vez, densidades mais altas
viabilizam a implantação de transportes coletivos de massa, notadamente trem e
metrô, que além de contribuírem para melhorar a circulação urbana, consomem
eletricidade como insumo energético, ao invés da queima de combustível fóssil.
Nobre (2004) afirma que a associação desses três fatores (cidade densa e
compacta/usos diversificados/transporte coletivo) resultaria no modelo urbano
sustentável. Com o acirramento do debate sobre sustentabilidade urbana na década
de 90, o discurso “ecológico” foi rapidamente incorporado pelos empreendedores
imobiliários que passaram a adotar algumas inovações como coleta seletiva e
tratamento de esgoto nos novos empreendimentos numa tentativa de suprir a
demanda dos consumidores por “condomínios verdes”.
A Construtora Takaoka, a mesma responsável pelos outros loteamentos
fechados de Alphaville, para fazer frente a essa nova demanda criou em 2002 o
Residencial Gênesis. Na ocasião do lançamento, a construtora dizia tratar-se de um
novo padrão de urbanização de loteamentos, no qual “procurou incorporar o
conceito de desenvolvimento sustentável de forma completa, buscando o equilíbrio
social, econômico e ambiental”.1 Segundo a construtora, no Gênesis foram
respeitadas as condições naturais do terreno, realizando um padrão de urbanização
assentado harmonicamente sob o suporte físico, e conservando boa parte dos
1 Texto retirado do site da construtora na ocasião do lançamento do Empreendimento Gênesis.
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atributos naturais: “o resultado é um empreendimento totalmente adaptado à
região”.2
Apesar de ser constantemente citado como um grande paradigma para
os “condomínios verdes” e ter ganhado vários prêmios como o “Top Ecologia
2002/2006”, não houve uma grande evolução quanto à implantação do condomínio.
O Gênesis foi erguido sobre a mesma paisagem desgastada por cortes, aterros,
muros de arrimo e terrenos com ravinamento, presente na construção dos
residenciais mais antigos de Alphaville. A “área verde preservada” equivale a áreas de
APPs protegidas por lei (o empreendimento foi erguido em um sítio íngreme, com a
presença de nascentes e lagos). O paisagismo não incorporou espécies da mata
original, não houve a preocupação com a utilização de materiais e técnicas não
convencionais como pisos drenantes, biovaletas etc. A implantação foi orientada
para possibilitar a máxima oferta de terrenos a serem comercializados.
Considerações finais
É bastante questionável atribuir o termo “sustentável” a
empreendimentos como o Alphaville e Gênesis. Em primeiro lugar, ao promover um
processo de alisamento territorial com a substituição de uma realidade pré-existente
(pequenos sítios onde era praticada a agricultura de subsistência por posseiros), por
um espaço novo destinado a uma minoria abastada, a construtora contribuiu para
aumentar o quadro de fragmentação social e segregação urbana.
Em segundo lugar, o desenho urbano desses loteamentos é constituído
de zonas monofuncionais rigidamente separadas em locais de moradia, trabalho,
lazer e consumo. A ligação entre esses elementos é feita através de longas avenidas,
que não possuem sequer calçadas adequadas, desencorajando o pedestrianismo.
Além disso, o transporte público em Alphaville é insipiente. Via de regra, os
deslocamentos são feitos através de automóvel, sendo que o trânsito é uma das
principais reclamações daqueles que ali moram e trabalham. O fato de localizar-se
distante da capital também contribui para aumentar grandes deslocamentos através
de automóveis, o que contraria o princípio da cidade compacta.
As “modernizações ecológicas” presentes nos condomínios como coleta
seletiva e tratamento de esgoto beneficiam apenas uma minoria abastada. Além
2 Idem.
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disso, a implantação de grandes empreendimentos em áreas ambientalmente frágeis
acentua a degradação dos recursos ambientais.
Finalmente, do ponto de vista social, a instalação desses loteamentos
fechados nas franjas metropolitanas de São Paulo, contribui para o recrudescimento
das tensões sociais provocadas pela presença dos muros e equipamentos de
segurança que separa esses dois mundos, o da “cidade rica”, habitada
exclusivamente por membros da mesma classe social e o da “cidade pobre”,
habitada pelos diferentes, os “de fora”.
ACSELRAD (org.). A duração das cidades:
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ige.unicamp.br/cact/semana2012
Nathan Ferreira da Silva [email protected]
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Palavras-chave: habitação; condomínios-clube; Minha Casa Minha Vida
O presente trabalho, inserido na pesquisa “Entre a política e o mercado:
desigualdades, exclusão social e produção da moradia popular na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro”, desenvolvida pelo Observatório das Metrópoles,
propõe analisar o papel novas formas de produção da moradia na construção do
espaço urbano da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Neste contexto,
destacam-se os condomínios-clubes – conceito que vem dominando os novos
lançamentos imobiliários - são grandes empreendimentos imobiliários residenciais
que contam com ampla infraestrutura urbana como ruas, centros comerciais, praças,
que tem chegado à Baixada Fluminense. Seguindo este conceito, foi idealizado um
empreendimento imobiliário em Nova Iguaçu, o Cidade Paradiso, objeto de estudo
desse trabalho, é primeiro bairro planejado da região, concebido buscando explorar
as novas tendências do mercado imobiliário na década de 2000, que se diversificou
em direção às camadas de renda média-baixa, impulso que foi reforçado e
consolidado com o lançamento do programa que é o fio condutor da pesquisa
maior, o Minha casa Minha Vida.
A respeito da origem dos bairros planejados, é importante ressaltar os
preceitos do New Urbanism, surgido no final dos anos 80 nos Estados Unidos, o qual
“procura reintegrar os componentes da vida moderna – habitação, local de trabalho,
fazer compras e recreação – em bairros de uso misto, compactos, adaptados aos
pedestres, unidos por sistema de tráfego” (SOUZA, 2001, p. 143). Nesse sentido
surgem os bairros planejados, integrando habitação, lazer, serviços, área de trabalho
e áreas verdes, em um único espaço.
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Nesta perspectiva, o que percebemos hoje, no âmbito dos bairros
planejados, é que os mesmos não correspondem ao conceito de lugar e sim, às
formas homogêneas e standartizadas. A exemplo disto, observamos o caso do Cidade
Paradiso, onde há meio do controle de usos e funções dos espaços ditados pelo
planejador, inclusive criando manuais de convivência, ensinando/normatizando
como viver em condomínio e utilizar os seus espaços. Em 1961, Jane Jacobs já
advertia que a separação funcional que ocorre nesse tipo de projeto, onde não há
uma diversidade de/ nas edificações, camadas sociais, usos e funções, confronta a
dinâmica urbana que se dá através da heterogeneidade, e que é a própria riqueza da
grande cidade. Reflexões acerca do bairro planejado Cidade Paradiso fundamentam o
presente trabalho, cuja analise empírica será descrita no decorrer do trabalho. De
acordo com o site oficial do empreendimento, este é propagado como uma
minicidade em uma área de 4,6 milhões de metros quadrados no bairro de Cabuçu
na Baixada Fluminense. O potencial construtivo da área é 32 mil casas constituídas
de dois e três dormitórios com possibilidades de ampliação em alguns casos. Além
disso, este megacondomínio contará com equipamentos urbanos – comércio e
serviços - tais como: escola, creche, rodoviária, posto de gasolina, centro comercial,
estádio, museu e polo industrial. O projeto, iniciado em 2004, será desenvolvido em
fases ao longo de dez anos em parceria com a Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu.
Neste contexto enquanto estratégia de marketing – onde a moradia é compreendida
enquanto mercadoria - tais equipamentos são apresentados enquanto benefícios que
um “condomínio-clube”, oferece como exclusividade. Entre as fases de construção
deste bairro planejado, recentemente foi concluído o Jardim Paradiso, condomínio
de 242mil m², que conta com 1817 unidades habitacionais. Segundo informações
dos corretores e confirmadas por moradores, cerca de 40 famílias habitam o local.
A metodologia utilizada nesta pesquisa foi visitação in loco, e pesquisa na
rede social Orkut, através da comunidade “Morar no Cidade Paradiso”, onde foram
analisados aspectos tais como: transportes, relações com o entorno e especulação
imobiliária.Dada as dimensões do projeto, o Cidade Paradiso necessitou de uma
área com grande estoque de terras, instalando-se em uma área de expansão da
cidade, onde a provisão de serviços e equipamentos urbanos básicos para a
instauração de um empreendimento deste porte ainda é bastante tênue. Nesta
conjuntura, a área de edificação deste bairro planejado não se mostra adequada
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principalmente no que diz respeito aos aspectos de acessibilidade articulada à
mobilidade urbana; além de permeabilidade e relações diretas com o entorno do
empreendimento.
No que tange a acessibilidade e mobilidade urbana, é possível perceber
diante da precariedade de manutenção e mobilidade de/em seus principais acessos
(Rua Severino Pereira da Silva e a Estrada do Mato Grosso) e da circulação de
somente duas linhas de ônibus, a Nova Iguaçu x Paradiso e a Cabuçu x Queimados.
Desta forma, constatamos que estes são fatores prejudiciais às famílias que ali vivem
(e viverão) e dependem de transporte público, uma vez que esses empreendimentos
são concebidos para que os deslocamentos sejam feitos através de automóvel.
Entretanto, o discurso da empresa privada incorporadora do projeto afirma que os
moradores contarão com diversas opções de transporte e excelentes acessos: várias
linhas frequentes de ônibus, Avenida Brasil, Presidente Dutra, Estações de trem de
Queimados e Nova Iguaçu e Estação de metrô da Pavuna, conforme a propaganda
recentemente divulgada (pesquisa de campo, 2011). Isto mostra uma disparidade
entre o que é publicizado e o que é vivenciado no que diz respeito ao cotidiano de
quem habita o local.
Nos condomínios fechados, tal como a Cidade Paradiso, a questão da
segurança ocupa um lugar privilegiado. Para quem vende, é um atributo a parte no
marketing do empreendimento. Em relação aos compradores, os condomínios
surgem como uma forma de resolver as inquietações no que concerne à segurança,
uma vez que o papel do poder público pode estar se mostrando ineficiente. Na
propaganda do Jardim Paradiso, há um destaque para o fato das guaritas serem
vigiadas vinte e quatro horas por dia. Os altos muros além de darem uma ilusão de
segurança, marcam na paisagem a diferença entre o condomínio e seu entorno. Por
meio deles, é feita seleção de público, através da renda, não havendo a necessidade
de se conviver com grandes distinções sociais. No entorno, podemos encontrar a
comunidade de Nova Vida, com ruas de terra e lotes delimitados por baixas cercas,
ao invés dos muros. Embora o Paradiso e Nova Vida estejam fisicamente próximos,
nos atributos sociais apresentam grandes distinções, tal como dois mundos
paralelos compartilhando o mesmo espaço. Ainda assim, o empreendimento é
responsável por mudanças no seu entorno.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
A comunidade próxima tem crescido nos últimos anos, principalmente
por trabalhadores da construção do empreendimento, que procuram viver próximo
ao local gerador de renda. Nota-se ainda, um grande número de placas de vendas de
loteamentos, muitos dos quais irregulares, com diversas facilidades de aquisição,
como a não comprovação de renda. Podemos constar então, que nas duas
localidades ocorre o mesmo fenômeno: pessoas que vão à busca de uma perspectiva
de melhora vindoura. Quanto aos serviços básicos, o empreendimento ainda não
conta com os equipamentos que foram publicizados: na área destinada ao mercado,
por exemplo, apenas foram colocados os tapumes da obra. O mesmo pode-se dizer
da escola pública municipal, localizada na entrada do Jardim Paradiso. De acordo
com relato de moradores, a padaria também não foi inaugurada. Como solução, o
padeiro do bairro próximo leva o cesto de pães em sua bicicleta todas às manhãs,
com o intuito de atender a demanda. Caso seja necessário ir ao mercado ou lotérica,
pode-se deslocar tanto a Cabuçu quanto Queimados.
Diante do exposto nesse trabalho, verificamos que o modelo de bairro
planejado do Cidade Paradiso não tem se mostrado adequado, principalmente
devido à falta de infraestrutura por parte do poder público para receber um
empreendimento deste porte. Internamente, o próprio modelo do bairro, com a
separação funcional interna, precisa ser repensado de forma que não se crie
paisagens monótonas. Além disso, o discurso de vendas é fundamentado em
promessas de que um dia, ao longo da implantação de todas as fases do
empreendimento, haverá mais oferta de comércio e serviços e a provisão de
infraestrutura será “consequência” da instalação do empreendimento Assim, para
um projeto desenvolvido ao longo de 10 anos, se faz necessário repensar alguns
aspectos já observados na fase inicial.
CARDOSO, Adauto; ARAGÃO, Thêmis; ARAÚJO, Flávia. Habitação de Interesse Social: Política ou Mercado? Reflexos sobre a Construção do Espaço Metropolitano. Anais do XIV Encontro Nacional da ANPUR. Rio de Janeiro, 2011, 21p. Disponível em:
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______- Plano Geral de Intervenções –
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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Rafael da Silva Barbosa [email protected]
Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: desenvolvimento econômico, economia urbana, infraestrutura, mobilidade Espacial
Introdução
Nos últimos dez anos o Estado do Espírito Santo (ES) vem passando por
fortes transformações econômicas obtendo como marco maior as crescentes taxas
do PIB que em 2004 ultrapassou a média de crescimento dos outros estados
brasileiros. Além disso, desde 2007 o estado apresenta a 4º maior renda per capita
do país ultrapassando Santa Catarina e ficando atrás apenas do Distrito Federal, São
Paulo e Rio de Janeiro. Por conseguinte, em tempos recentes são lançados tanto
pelo setor privado como público programas de investimentos que engendram um
enorme potencial de mudança estrutural para região. Segundo estudo do Instituto
Jones dos Santos Neves (2010) os investimentos previstos em projetos no período
de 2009 a 2014 são da ordem de R$ 62,2 bilhões, sem contar os investimentos
previstos pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC 2) do Governo Federal, que
estão estimados em R$ 53,5 bilhões para o intervalo de anos de 2007 a 2014. Vale
ressaltar que o PIB, a preços de mercado do Estado, em 2007, foi da ordem de R$ 60
bilhões. Significa dizer que em oito anos estima-se que os investimentos em
potencial serão de 91% do PIB estadual.
Além dos investimentos, em 2000 o Estado passou a ter saldo líquido
populacional positivo de 17 mil pessoas (GOMES, 2008), atraindo mais pessoas do
que expulsando, além da recente configuração demográfica bastante concentrada,
ige.unicamp.br/cact/semana2012
onde aproximadamente 50% da população aglomeram-se na Região Metropolitana
da Grande Vitória (RMGV) que perfaz 5% do território capixaba.
Assim, numa disposição de alta concentração populacional amplificam-
se as possibilidades de distorções sociais, onde essa sobreposição de pessoas em
pequenos espaços requererá maior atenção às demandas básicas como água,
transporte, energia, habitação, saúde, entre outros. Diante da problemática o artigo
visa analisar os principais avanços e limites do trânsito e mobilidade urbana na
Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV).
Resultados e Discussão
Talvez o aspecto que mais defina a RMGV como tal, seja a mobilidade
urbana que se tem nos cinco – Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana – dos sete
municípios que a compõe. Oferece de fato – via Companhia de Transportes Urbanos
da Grande Vitória (CETURB-GV) com o sistema de transportes público TRANSCOL –
mobilidade com tarifa social onde, com apenas o pagamento de uma passagem, o
usuário consegue percorrer todo o sistema deslocando-se do extremo norte da Serra
e cruzando todo o centro de Vitória até chegar ao extremo sul de Viana. Contudo, a
grande questão que norteia tanto o trânsito urbano como a mobilidade, passa pelo
grande inchaço urbano e as formas de utilização do modal de viagens. Posto que a
opção prioritária escolhida para os deslocamentos no território brasileiro foram as
rodovias, a solução, ou passa por uma discussão da mudança estrutural com
diversificação do modal com utilização de ferrovias (metrô) e aquaviários; ou uma
melhor utilização da estrutura rodoviária com aumento da participação dos
transportes coletivos e outras formas de locomoção como bicicletas. De tal modo,
que o problema central do trânsito reside na superutilização da malha rodoviária,
enquanto a mobilidade refere-se aos limites do acesso a serviços que garantam o
deslocamento.
Em presença da problemática, duas questões se colocam para o caso
capixaba: como ampliar o acesso a seu sistema? E ainda, como garantir sua
eficiência frente ao crescente inchaço urbano?
Sobre as formas de ampliação do acesso ao transporte, qual seja o
TRANSCOL. O que as manifestações concretas revelam sobre a problemática
passam em linhas gerais por uma apropriação maior da riqueza gerada no âmbito do
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
processo produtivo na região pelas populações menos favorecidas. Devido haver
forte correlação entre mobilidade e renda da população, o que implica nos altos
índices de deslocamento do modo a pé.
Soma-se a isto, o fato da superutilização de veículos automotores
ocuparem cerca de 80% do espaço viário urbano. Assim comprometendo a eficiência
do sistema TRANSCOL como é indicado na evolução das viagens, no qual o número
de viagens pelo meio de transporte privado cresceu 5,6 vezes em 22 anos, contra 1,7
de aumento no modo transporte coletivo, sinalizando uma expressiva utilização das
formas de transporte individual privado em detrimento do transporte coletivo
público.
Gráfico 1 - Estimativa da Evolução das Viagens na RMGV - 1985 a 2020
Fonte: Revista COMDEVIT 2010. Elaboração própria.
Caso essa tendência se mantenha o agravamento será inevitável na
estrutura da evolução das viagens na RMGV. Visto que a participação do transporte
coletivo cairá dos 32% em 2011 para 23,8% em 2020. Enquanto, para o mesmo
período o transporte privado elevará em 13,2 p.p., alcançando 45,8% de participação
das viagens no último ano, como mostra o gráfico 1. Numa amplitude maior, nos 35
anos da série, o número de deslocamentos do modo individual privado crescerá 3
vezes mais do que o coletivo público. Em termos absolutos serão 1.482.906 viagens
a mais do privado em relação ao público.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
1985 1998 2007 2011 2015 2020
%
Transporte Não Motorizado
Transporte Motorizado Privado
Transporte Motorizado Coletivo
ige.unicamp.br/cact/semana2012
Conclusão
Neste cenário, o meio de transporte coletivo, principal meio motorizado
de locomoção das famílias de baixa renda vem diminuindo ao longo dos anos o que
pode agravar ainda mais a situação do trânsito urbano capixaba e diminuir a oferta
do serviço de transporte público tornando-se mais um fator limitativo ao acesso a
população que necessita desse serviço.
GOMES, Érika Cunha Ferreira.
Desconcentração Produtiva Regional no Brasil: o estado do espírito santo (1990 a 2005). Dissertação de Mestrado. Instituto de Economia, Unicamp, 2008.
Instituto Jones dos Santos Neves.
Investimentos previstos para o Espírito Santo 2009-2014: investimentos previstos para as
microrregiões do sul do Espírito Santo, Vitória, n.1, p. 1-44, 2010.
Plano Diretor de Transportes Urbanos
da Região Metropolitana da Grande Vitória - PDTU-GV. Pesquisa domiciliar de origem e destino da Região Metropolitana da Grande Vitória - Atualização 2007. Vitória: COMDEVIT, 2008.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Sara Rebello Tavares [email protected]
Universidade Federal do ABC
Palavras-chave: formação espacial, vias de circulação, infraestrutura.
Introdução
As cidades sofrem hoje com os problemas de fluxos que extrapolam os
limites físico-administrativos gerados pelas aglomerações urbanas; essa colaboração
entre as aglomerações resulta na construção de infraestruturas que vão ordenar ou
não a expansão urbana. Essas infraestruturas no caso de cidades pequenas e médias
são na maioria das vezes regionais, podendo ser vantajoso proporcionando maior
acessibilidade a outros locais, ou prejudicial para o município, gerando
descontinuidade da malha urbana.
A cidade de Jacareí tem início às margens do rio Paraíba do Sul, no século
XVII, localizada entre São Paulo e Rio de Janeiro, no Vale do Paraíba, sua área total é
de 460 km², e urbana é de 192 km². Através do embasamento teórico, as
informações obtidas da formação do espaço urbano a partir de uma visão voltada
para as vias regionais de circulação pretendem mostrar a influências das vias na
formação espacial.
Objetivo
Identificar as transformações decorrentes no espaço urbano, resultado das vias de
transportes e infraestruturas de que o município foi alvo, consequência da sua
localização.
Resultados parciais
Para Villaça (2005, p. 21), o deslocamento do ser humano, “enquanto
portador de mercadoria força de trabalho ou enquanto consumidor (mais do que
pelo deslocamento das mercadorias em geral ou do capital constante)”, promove a
estruturação do espaço intra-urbano.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
O conceito de estrutura urbana remete a ideia de um determinado
arranjo espacial das atividades intra-urbanas. Em um dado momento histórico, os
diversos elementos que compõem o espaço intra-urbano apresentam uma
determinada estrutura. Esta é constantemente influenciada pelo processo de
estruturação, que a (re)cria.
A reestruturação intra-urbana significa alteração na estrutura urbana
anterior. Um espaço que se reestrutura é um espaço que muda o seu conteúdo, ou
as relações que conferem funcionalidade àquele espaço. Em resumo, um espaço se
reestrutura quando muda a sua função. Uma área residencial, invadida por
comércios de pequeno e médio porte, gestando um subcentro, é um espaço que se
reestrutura, um vazio urbano que passa por parcelamento do solo propiciando um
uso daquela área, é um espaço que se reestrutura.
É importante citar, que as vias regionais de circulação por si mesmas,
não estruturam o espaço, o poder de estruturar o espaço está contido na capacidade
de deslocamento das pessoas, mas as vias regionais tem o poder de reestruturação,
pois representam um meio importante de mobilização da própria população, e
também da mercadoria, do capital, etc.
“O objeto desta obra (...) é o processo de (re) estruturação do espaço intra-urbano. Portanto, quando se diz, por exemplo, que uma via provoca o crescimento ou desenvolvimento urbano nesta ou naquela direção, estamos nos referindo ao arranjo espacial do crescimento (...) é claro que uma via, por si, não provoca nem crescimento nem desenvolvimento urbano” (VILLAÇA, 2001, p. 80).
Para entender melhor as formação espacial e a reestruturação do
município de Jacareí, destacando as mudanças na organização e redirecionamento
no arranjo espacial por conta das vias regionais, caracterizamos a cidade em três
períodos diferentes de acordo com as vias de circulação, vias essas que permitiam a
mobilidade da população, e o escoamento de mercadorias, importantes por
promoverem mudanças significativas no arranjo espacial.
O surgimento da cidade se deu às margens do Rio Paraíba do Sul,
assim como muitas cidades do Vale do Paraíba. No século XVII iniciou-se o processo
de colonização das terras férteis ao longo do rio, e no ano de 1693 surgiram os
primeiros povoados na região.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Neste primeiro momento apontamos o rio como um importante fator de
circulação na época, mesmo que elementar. No primeiro momento o rio não foi um
objeto construído para fins de circulação, mas isso não significa que o deixou de ser,
o rio foi muito usado como via fluvial de transporte de sacas de café para o porto e
de mercadorias para a região. A presença dos índios tupis-guaranis como canoeiros
nos mostra certa locomoção primitiva. O transporte usado era a canoa ou a catraia
(barco artesanal pequeno), bastante rudimentar, mas suficiente para a transposição
do rio de um lado ao outro, ou para outras bandas da margem para caça e pesca;
uma circulação incipiente necessária à sobrevivência dos índios.
Com a intensificação da exploração do ouro em Minas Gerais, a vila de
Jacareí se tornou um caminho para as minas, e foi por muito tempo pouso colonial
para tropeiros e centro de suprimentos alimentícios para os mineradores.
A abertura de “caminhos”- estradas de terra na região foram de suma
importância na constituição das cidades. Ao longo do tempo, os caminhos já não
supriam a demanda de circulação de mercadorias e pessoas, as péssimas condições
dos caminhos eram fortes barreiras para o transporte e a locomoção.
Um dos fatos mais importantes na história do desenvolvimento do Brasil
foi a ligação Rio – São Paulo, dia 8 de julho de 1877, quando os trilhos da Estrada de
Ferro São Paulo (inaugurada em 1867) se uniram com a D. Pedro II.
Muitos barões de café se transferiram para Jacareí afim de novas terras
para o plantio de café; terra boa assegurada pela umidade dos aclives das serras do
Mar e da Mantiqueira. As casas de moradas transferiram-se das fazendas para as
cidades – principio do crescimento urbano exponencial. A ferrovia teve um
importante papel em toda a região pelo simples fato de favorecer a comunicação
entre Rio de Janeiro e São Paulo, duas das principais cidades brasileiras que viviam o
primeiro surto industrial do país.
Quando as rodovias alcançaram Jacareí, a cidade se desenvolveu
aceleradamente; foram instaladas importantes fábricas têxteis próximas ao eixo da
rodovia SP-66 (Estrada Velha Rio-São Paulo); e em 1951 a inauguração da rodovia
Presidente Dutra propiciou a instalação de várias indústrias ao longo dessa via,
valorização de terras na região central e o surgimento de vários bairros mais
distantes do centro. O parque industrial diversificou-se e consequentemente houve
um aumento das atividades econômicas e atração de mão-de-obra.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
As vias regionais mais importantes apresentam dupla função de
circulação, a circulação regional e a intra-urbana, embora essas vias não tenham sido
construídas para oferecer transporte intra-urbano, no entanto elas acabam atraindo
maior expansão da malha urbana ao longo das suas margens.
Considerações finais
As trilhas e caminhos foram sendo substituídas gradativamente por
ferrovias para melhor circulação de bens, mercadorias e população e, por
conseguinte, as ferrovias substituídas pelas rodovias, facilitando mais ainda a
circulação por causa da acessibilidade à rodovia. Existe, portanto uma periodicidade
dos sistemas de transportes na cidade de Jacareí, de acordo com o momento
histórico e divisão territorial do trabalho. Tais sistemas não são do mesmo nível, em
cada tempo, há o sistema hegemônico e o sistema que foi hegemônico, mas hoje é
subalterno, entretanto os hegemônicos são condições externas de funcionamento
anterior dos subalternos, e a cidade convive com ambos os sistemas. A formação
territorial de uma cidade ocorre por inúmeros fatores, um deles a acessibilidade,
portanto vemos a importância das vias de circulação na estruturação e
reestruturação dos centros urbanos.
CARLOS, Ana Fani. A (re)produção do
espaço urbano. São Paulo: Editora da USP, 1994. p. 83-179.
LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São
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Jacareí – atualizado: 2007. MOREIRA, Maria L. Aspectos Históricos.
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Brasileira. São Paulo: Edusp, 2005. SANTOS, Milton. A natureza do espaço.
São Paulo: Nobel, 1985. VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no
Brasil. São Paulo, Studio Nobel, 2001.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
André de Oliveira Souza
Emerson Martins Arruda [email protected]
Universidade Federal de São Carlos
Palavras-chave: geomorfologia, índices morfométricos, bacias hidrográficas
Introdução
O uso de parâmetros morfométricos para auxiliar na compreensão da
dinâmica do relevo tem sido utilizado frequentemente nos estudos geomorfológicos
que envolvem a análise de bacias hidrográficas.
O trabalho aqui apresenta parte das pesquisas desenvolvidas pelo grupo
de estudos do Quaternário da Universidade Federal de São Carlos, campus
Sorocaba, no âmbito de uma iniciação científica, cuja temática é a análise das
anomalias de drenagens da Bacia do Ribeirão dos Rodrigues, localizada nas cartas
topográficas dos municípios de Pilar do Sul e Salto de Pirapora, região de Sorocaba.
Neste trabalho tem-se por objetivo apresentar os resultados da análise da
rede de drenagem através de índices morfométricas e dos mapas de lineamentos e
da densidade de drenagem.
Como afirmam Etchebehere et alli (2006), os índices morfométricos são
importantes indicadores de mudanças nos cursos d’água, pois os mesmos reagem
de modo imediato a qualquer alteração e deformação que se apresente na paisagem.
A alta bacia do Ribeirão dos Rodrigues está localizada na Serra dos
Lopes, no município de Pilar do Sul. Tal feição é composta por granitos pertencentes
ao sistema orogênico do Planalto Atlântico, vinculados, portanto, às rochas do Pré-
Cambriano. Encontram-se ainda litologias referentes ao Grupo São Roque
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
localizadas a SSE da bacia do Ribeirão dos Rodrigues, área que compreende a
transição entre a Bacia Sedimentar do Paraná e o Planalto Orogenético.
Na média e baixa bacia são encontradas rochas do Permo-Carbonífero
pertencente ao Subgrupo Itararé, sendo os arenitos a litologia mais comum na área.
Este contato geotectônico é marcado pela zona de cisalhamento de
Taxaquara que separa o setor com rochas cristalinas das litologias sedimentares.
Entretanto, observa-se que na área a Depressão Periférica adentra de forma erosiva
no compartimento cristalino, a possível superfície fóssil em exumação (AB’SÁBER,
1969).
Com relação à abordagem teórica, o estudo se desenvolveu sobre a
perspectiva da Teoria Geral dos Sistemas, amplamente divulgada por christofoletti
(1980) no âmbito da Geomorfologia.
Nesse trabalho foram realizados os cálculos da área da bacia,
comprimento do curso principal, simetria do rio principal e elaboração dos mapas de
lineamentos e da densidade de drenagem. Sendo assim foram utilizadas cartas
topográficas, produtos da imagem SRTM (Shutter Radar Topography Mission)
disponibilizada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), além
do software ArcGIS 10.
Neste âmbito a extração dos lineamentos da área estudada se fez
mediante a análise do recorte regional da imagem SRTM, previamente selecionado,
que abrangia a bacia hidrográfica estudada. Foi elaborada uma imagem sombreada
com diferentes azimutes a fim de evidenciar diferentes lineamentos. Foram extraídos
lineamentos dos rios e de formas de relevo. Posteriormente elaborou-se um
diagrama de roseta.
A análise da simetria da drenagem do curso principal foi realizada
através da metodologia proposta por Cox (1994), onde é utilizada a fórmula
matemática T=Da/Dd, segundo o autor quanto mais próximo de T=1 maior é o grau
de asssimetria da drenagem, ainda segundo ele para uma perfeita simetria deve-se o
Da=0 e o T=0. Para a utilização de tal metodologia, optou-se em calcular os valores
dentro de um intervalo de espaço de 1,5 centímetros que corresponde a 0,75
quilômetros em relação a escala 1:50.000 da carta topográfica dos municípios de
Salto de Pirapora e Pilar do Sul.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
Os índices referentes à área da bacia, comprimento do curso principal e
densidade de drenagem foram mensurados através do próprio software ArcGIS 10.
No que se refere à densidade de drenagem, o mapa foi elaborado através
do mesmo recorte regional utilizado para o mapa de lineamentos, no entanto as
drenagens foram criadas pelo próprio software e posteriormente, através da
ferramenta “Density”, elaborou-se um mapa regional que foi recortado com a
delimitação da bacia estudada.
Resultados e conclusões
O uso de índices morfométricos aplicados à rede de drenagem na análise
do relevo na bacia do Ribeirão dos Rodrigues forneceram importantes considerações
acerca das características geomorfológicas da área estudada, uma vez que foi
possível correlacionar diferentes informações sobre aspectos estruturais e formas de
relevo. A partir dos dados obtidos foi possível obter resultados mais precisos sobre
determinada característica, como por exemplo, a dissecação de vales e aquelas
relacionadas à neotectônica. De modo geral, a aplicação de tais índices contribuiu
significativamente para um estudo preliminar da área em contexto.
A análise dos parâmetros morfométricos apontou que o Ribeirão dos
Rodrigues tem aproximadamente 27 km de extensão e drena uma área de 33 km².
Os resultados obtidos através da análise da simetria da bacia mostraram
que o curso principal é relativamente assimétrico, uma vez que resultou em valores
que tiveram uma média de 0,51 (T=0,51). Contudo, as médias na alta bacia
evidenciaram uma assimetria acentuada, refletindo os fortes controles impostos à
drenagem e declividade das encostas, uma vez que a área apresenta uma intrusão de
rocha metabásica em área próxima, uma vez que o encaixamento preferencial do rio
se dá a leste da bacia, portanto é bastante plausível afirmar que houve algum
soerguimento na margem oeste da bacia.
O mapa de lineamentos possibilitou constatar que a área de estudos
encontra-se perturbada por zonas de juntas de falhas, que certamente estão
relacionadas à zona de cisalhamento de Taxaquara e Moreira. O vale assimétrico do
Ribeirão dos Rodrigues coincide com um lineamento de direção norte-sul, que
provavelmente também é responsável pelo controle e direcionamento da rede de
drenagem.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Em uma quadrícula escolhida para compreender a escala regional, foram
mapeados cerca de 220 lineamentos. O lineamento dos rios na mesma direção que
os principais lineamentos estruturais mostram que a rede de drenagem desta bacia
tem um grande condicionamento lito-estrutural.
O mapa da densidade de drenagem mostrou que as maiores
concentrações estão localizadas nas proximidades das áreas onde se encontra a
falha de Taxaquara e também no vale do curso principal que marca outro importante
lineamento.
De acordo com Hiruma et alli. (1999), a análise morfométrica em
conjunta com a análise estrutural torna possível a identificação do controle tectônico
e suas influências na espacialização da rede de drenagem e na compartimentação do
relevo de determinada área.
Deste modo, conclui-se que os produtos das análises morfométricas e
dos lineamentos, forneceram resultados importantes sobre a dinâmica da bacia
estudada, uma vez que foi possível obter importantes evidências de que a drenagem
da bacia do Ribeirão dos Rodrigues tem um forte controle estrutural que é
responsável pela sua espacialização a partir dos falhamentos encontrados
decorrentes da tectônica subatual.
Possivelmente, tal ajuste tectônico se processou após a deposição do
Subgrupo Itararé, uma vez que parte dos depósitos destas litologias foi encontrada
inclinadas, mostrando assim uma evolução tectônica mesozóica, período que se
relaciona intrusão do Maciço de Ipanema, importante estrutura regional.
AB’SÁBER, A. N. Regiões de
circundenudação pós-cretáceas no Planalto brasileiro. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, 1:1-21, 1949.
AB’SABER, A. N. A Depressão Periférica:
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CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. Ed
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COX, R.T. Analysis of drainage basin
symmetry as a rapid technique to identify areas of possible Quaternary tilt-block tectonics: an example from the Mississippi Embayment. Geol. Soc. Am. Bull., v. 106, p. 571-581, 1994.
ETCHEBEHERE, M.L.C; GUEDES, I. C.;
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ige.unicamp.br/cact/semana2012
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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Cassiano Gustavo Messias [email protected] Universidade Estadual de Campinas
Margarete Marin Lordelo Volpato [email protected]
Tatiana Grossi Chquiloff Vieira [email protected]
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG Helena Maria Ramos Alves
[email protected] Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EMBRAPA Café
Palavras-chave: mapeamento de áreas cafeeiras, imagens RapidEye, classificação automática
Introdução
Os produtos de sensoriamento remoto têm sido hoje muito utilizados
para o planejamento, visto que possibilitam uma análise territorial precisa, barata e
rápida. Para Luchiari (2005), uma das principais aplicações de dados procedentes de
aeronaves e sistemas orbitais é a caracterização do uso do solo.
A análise de uso do solo possibilita, além da visualização da distribuição
espacial das formas de ocupação antrópica no espaço, a quantificação das mesmas,
sendo de grande importância para estudos de diferentes áreas do conhecimento.
Para Moreira et. al. (2008), o conhecimento da distribuição espacial de culturas
auxilia na previsão de safras e no planejamento agrícola.
A classificação de uso do solo pode ser feita por interpretação visual ou por
classificação automática. Segundo Crósta (1992), a classificação automática é feita
associando de cada pixel da imagem a uma classe, sendo supervisionada, quando há
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o fornecimento de amostras por parte do usuário ou não-supervisionada, quando
software decide por si só quais as classes a qual classe pertence o pixel.
Este trabalho tem como objetivo comparar diferentes métodos para o
mapeamento de áreas cafeeiras, tendo como área de estudo o município de Carmo
de Minas, MG. O município abordado está localizado na mesorregião Sul/Sudoeste
de Minas Gerais e se destaca na produção de café, considerado um dos melhores
grãos do mundo.
Metodologia
Os satélites RapidEye foram lançados no ano de 29 de agosto de 2008,
sendo eles cinco micro-satélites multiespectrais. O controle ocorreu em uma
parceria entre empresa alemã RapidEye AG e a canadense de astronáutica
MacDonald Dettwiler and Associates, Ltd (Embrapa, 2012).
Primeiramente foi feito o processamento digital das imagens, tendo sido
trabalhados o contraste, correção atmosférica, correção geométrica e recorte do
município de Carmo de Minas, MG, na imagem RapidEye, do ano de 2009 e
resolução espacial de 5 metros. Utilizou-se para isto o software Envi 4.8.
Posteriormente, a imagem processada foi importada para o software Ilwis
3.0. Nele, testaram-se diferentes algoritmos para classificação supervisionada, a fim
de verificar qual apresenta os melhores resultados para o mapeamento de áreas
cafeeiras no município de Carmo de Minas, MG.
Como base para a avaliação dos algoritmos classificadores, utilizou-se a
classificação visual realizada no município por Zanella (2011), utilizando imagens
SPOT (2,5m) do ano de 2008.
Resultados
Após testarem os classificadores disponíveis no software Ilwis 3.0,
verificou-se que os melhores resultados foram obtidos pelo algoritmo Distância
Mínima. Este calcula a distância média de cada pixel desconhecido em relação aos
valores das amostras.
A figura 1 apresenta resultados da análise de uso do solo pela
classificação manual, utilizando imagem SPOT (Zanella, 2011) e pelo classificador
distância mínima. Para quantificar as classes de uso, a tabela 1 apresenta as áreas
que estas ocupam no município, pelos dois diferentes métodos.
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O estudo de Zanella (2011) utilizando imagem SPOT aponta que as áreas
de café representam 14,90% e as áreas de vegetação natural 26,50%. Por sua vez,
corpos d'água ocupam uma área de 0,23% e os outros usos, como área urbana,
pastagem, culturas perenes etc., 58,37%.
Na classificação supervisionada, utilizando imagem RapidEye e o
classificador distância mínima, verificou-se um percentual para cultura de café de
20,5% e para vegetação natural de 21,53%. Os corpos d'água representam 0,32% e
outros usos, 57,65% da área estudada.
Apesar da baixa diferença percentual, observou-se que houve confusão do
classificador ao diferenciar as classes observadas, o que foi causado pela
similaridade espectral entre elas.
Figura 1: Uso do solo no município de Carmo de Minas-MG, utilizando o método manual e o classificador Distância Mínima
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Tabela 1: Distribuição das classes de uso do solo a partir de imagens SPOT e RapidEye
Classe Classificação manual (SPOT) Distância mínima (RapidEye)
Area (ha) Area (%) Area (ha) Area (%)
Café 4802,99 14,90 6610,10 20,50
Vegetação natural 8545,26 26,50 6942,22 21,53
Corpos d'água 73,21 0,23 103,18 0,32
Outros usos 18822,96 58,37 18588,81 57,65
Total 32244,42 100 32244,42 100
Considerações finais
É possível se obter excelente análise visual das imagens SPOT e
RapidEye, bem como se pode de maneira de fácil selecionar amostras de
treinamento para a classificação supervisionada. Isto é possível devido à alta
resolução espacial que apresentam.
Contudo, verificou-se que a classificação supervisionada apresenta
confusões entre as classes café e mata, que apresentam semelhança espectral. A
classificação supervisionada pode ser utilizada, desde que sejam realizadas trabalhos
de campo para a conferência do mapeamento e corrijam-se manualmente os erros
de classificação.
EMBRAPA. Sistemas orbitais de monitoramento e gestão territorial. Disponível em: <http://www.sat. cnpm.embrapa.br/conteudo/rapide
ye.htm>. Acesso em: 8 fev. 2012. CRÓSTA, A.P. Processamento digital de
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LUCHIARI, Ailton. Algumas considerações
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ZANELLA, L. Caracterização ambiental,
análise da fragmentação da Mata Atlântica e modelos de simulação da paisagem em Carmo de Minas-MG. 2011. Dissertação (Mestrado em Ecologia Aplicada) - Universidade Federal de Lavras
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Daniela Aparecida Lanza [email protected]
Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: Paleosuperfície, perfis de alteração, Minas Gerais, Goiás
Introdução
O trabalho apresenta uma caracterização das superfícies de aplainamento
no extremo norte de Minas Gerais e leste de Goiás, além de contribuir para a
compreensão da relação destas superfícies geomórficas mais elevadas com os perfis
de alteração, com o intuito de definir marcos estratigráficos de escala regional.
Foram identificadas e mapeadas as paleosuperfícies geomórficas mais elevadas,
relacionando estas com os perfis de alteração e, eventualmente, depósitos
associados, procurando sistematizar os conhecimentos já produzidos e realizando
outros mais específicos na área pesquisada. Para tanto, descrições detalhadas e
coleta de amostras para análise química dos perfis representativos das diferentes
áreas foram feitas. Isso permitiu a identificação de antigos processos de alteração e a
verificação de descontinuidades litológicas possibilitando a confirmação ou exclusão
da hipótese de que se pode efetivamente, através de estudos das paleosuperfícies,
indicar momentos muito específicos do quadro evolutivo geomorfológico, climático,
pedológico e biótico, especialmente do Cretáceo Superior e Terciário Inferior a Médio
da região objeto da análise. Apesar da importância do tema, ainda é raro no Brasil, a
sistematização dos conhecimentos gerados sobre superfícies geomórficas mais
elevadas e seus materiais associados na área de estudo, sendo esta a maior
justificativa do desenvolvimento do trabalho.
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Objetivos
Especificamente os objetivos foram: mapeamento de maneira
sistemática das superfícies de topo; Associação das superfícies de topo com a
ocorrência de perfis lateríticos na área de pesquisa; Caracterização dos perfis e das
paleosuperfícies, descrevendo-os de maneira sistemática, classificando-os e gerando
um banco de dados georreferenciado e fotográfico; Caracterização química dos perfis
de alteração.
Resultados
Os dados observados e descritos que para o trabalho foram de grande
relevância se referem: à diferença dos perfis lateríticos, os diferentes patamares do
relevo, os aspectos químicos e físicos e a localização desses dados na área de
estudo.
Foram analisados quatro pontos, todos no estado de Goiás, um
localizado no município de Chapada Gaúcha, um no município de Arinos, outro em
Cabeceiras, e um localizado no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, no
município de Alto Paraíso de Goiás. Ao longo de todo o trajeto do estado de Minas
Gerais foram observados os diferentes patamares do relevo.
Após mapeamento dos pontos observados em campo, nota-se que a maioria deles
estão ao sul da área estudada, na unidade Planalto Divisor São Francisco-Tocantins,
que se configura enquanto estrutura sedimentar concordante.
Ao norte da área estudada localiza-se a unidade Planalto Central Goiano,
com cotas em torno de 1500 metros ou mais, configurando uma superfície capeada
por uma cobertura detrítico-laterita, datada, pelo Projeto RADAMBRASIL (1982),
como do Terciário Inferior. Essa cobertura reveste os grandes interflúvios que se
apresentavam levemente dissecados em formas tabulares, com vegetação de
cerrado. Segundo Faria (1995) os metamorfitos do Grupo Paranoá ocupam grande
parte desta área.
As formações lateríticas endurecidas observadas, desenvolvidas a partir
de rochas sedimentares e metamorfitos, caracterizam-se pela predominância de
sesquióxidos de ferro (goethita e hematita), de hidróxidos de alumínio (gibbsita
constitui a forma mais comum) em proporções variáveis com caulinita e produtos
residuais ou clásticos, onde o quartzo é o mais importante.
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Sustentam solos espessos e superfícies aplainadas. Mesmo nessas superfícies
aplainadas estáveis, de reduzida morfogênese, observou-se a autoevolução do solo,
que induz processos internos que promovem dissoluções e perdas de volumes, com
reflexos na superfície, como abatimentos e geração de pequenas bacias.
Foram mapeadas as seguintes Superfícies Regionais de Aplainamento
(GOIÁS, 2005):
Superfície Regional de Aplainamento I – SRAI
Esta unidade desenvolve-se acima das cotas de 1250 até 1600 m com
agrupamentos de morros (inselbergs) sobre ela, que atingem até 1600 m de altura,
representada pela Chapada dos Veadeiros. Esta superfície corresponde à Superfície
de Aplainamento Pré-Gondwanica (pré-Cretáceo) de King (1956), e é anterior as
formações Mesozóicas, já que não corta as litologias do Cretáceo;
Superfície Regional de Aplainamento II – SRAII
Latrubesse (GOIÁS, 2005) subdivide essa SRA em duas subunidades. Na
área de estudo, compreende a subunidade SRAIIA, que abarca o Grupo Paranoá, que
se comporta como residual erosivo e, estende-se entre as cotas 900 - 1250m.
Abarcando, portanto, as Superfícies Post-Gondwana e Sul-Americana de KING
(1956);
Superfície Regional de Aplainamento IV – SRAIV
Engloba três grandes superfícies posicionadas nas cotas mais baixas
com drenagens para o norte, leste e sul do estado de Goiás, que foram denominadas
IVA; IVB; IVC1 e IVC2, respectivamente. Estas SRAs situam-se entre as cotas de 250-
900 m. Na área de estudo ocorre apenas a SRAIVA. Trata-se de uma área aplainada
situada principalmente entre as cotas 400-500 m e ocorre no Vão do Paranã
(NASCIMENTO, 1992), onde exibe extensa cobertura detrito-laterítica, na forma de
crostas ferruginosas e sedimentos friáveis na forma de um manto de lavagem da
superfície de etchplanação formado por silteargilas e silte-argilo-arenosos
frequentemente incluindo pequenos fragmentos de lateritas desmanteladas.
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Conclusão
Apesar da dimensão da área de estudo foi possível identificar e nomear
as superfícies de aplainamento encontradas em campo, contextualizando a ampla
bibliografia existente.
Com as informações levantadas em campo e em laboratório, pode-se
afirmar que o uso de cotas altimétricas, bem como a análise da associação entre
superfície e material associado, são bons referenciais para determinar
paleosuperfícies, em conformidade aos trabalhos de King (1956) e Latrubesse
(GOIÁS, 2005).
FARIA, A. de. Estratigrafia e sistemas deposicionais do Grupo Paranoá nas áreas de Cristalina, Distrito Federal e São João d’Aliança – Alto Paraíso de Goiás, 1995. Tese (Doutorado em Geologia) – Instituo de Geociência, Universidade de Brasília, Brasília, 1995.
GOIÁS (Estado). Mapa Geomorfológico
do Estado de Goiás: Relatório Final. Coord. Dr. Edgardo M. Latrubesse. Goiânia: Secretaria de Indústria e Comércio. Superintendência de Geologia e Mineração, 2005.
RADAMBRASIL. Levantamento de Recursos Naturais Folha SD.23 Brasília: geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia. Secretaria Geral, 1982, v. 29, 660 p.
KING, L. A geomorfologia do Brasil
oriental. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro: IBGE. v. 2, n. 18, p. 147-265, 1956.
NASCIMENTO, M. A. S. do.
Geomorfologia do Estado de Goiás. Boletim Goiano de Geografia. 12(1), p. 1-22, 1992.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Laura Milani da Silva Dias [email protected]
IAC – Instituto Agronômico de Campinas
Palavras-chave: mapeamento digital de solos, mineração de dados, variáveis morfométricas
Introdução
O mapeamento de solos realizado de maneira convencional, através da
análise de perfis em campo e coleta de amostras para caracterização físico-química
em laboratório é exaustivo, demanda recursos financeiros e tempo. Por esse motivo,
novas alternativas de mapeamento pedológico têm surgido, dentre elas, o
mapeamento digital que faz uso de técnicas de mineração de dados.
A mineração de dados é a principal etapa do processo de descoberta de
conhecimento em banco de dados e tem como objetivo encontrar padrões em dados
armazenados nesses bancos. Neste projeto, o banco de dados é composto por
variáveis morfométricas primárias e secundárias extraídas do modelo digital de
elevação da bacia.
Em se tratando do mapeamento digital que faz associações solo-relevo
para inferir a ocorrência de classes de solo através de modelos numéricos os índices
de acurácia tem sido satisfatórios.
A proposta de mapeamento convencional e digital da bacia do córrego
Águas da Lúcia no município de Botucatu-SP, pretende verificar o uso dessa técnica
em escalas de detalhe, com pixels de 7x7m, onde características que descrevam os
padrões das vertentes como declividade, curvatura e densidade de drenagem
representam informações importantes para inferência de classes de solo.
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Objetivos
Elaborar um primeiro mapa pedológico da bacia através de técnicas
tradicionais (análise de campo e laboratorial) e posteriormente elaborar um segundo
mapa pedológico da bacia com o apoio de técnicas de geoprocessamento,
mineração de dados e associações solo-relevo. Validar os dois mapas pedológicos
através de novos pontos de coleta em campo e análises em laboratório. A
organização destes resultados em uma matriz de erros permitirá obtenção de índices
de acurácia dos mapas tradicional e digital.
Resultados
Foi elaborado um modelo digital de elevação (MDE) para a bacia
hidrográfica no software ArcGIS 10, com uso da base topográfica unificada para a
área. Deste MDE foram extraídas as seguintes variáveis morfométricas: altitude,
declividade, orientação das vertentes, curvatura vertical e horizontal, distância de
drenagem, área de contribuição e índice topográfico de umidade. Estas variáveis
georreferenciadas foram organizadas em uma base de dados textual e analisadas no
software cLHC (Hipercubo Latino), que estabeleceu coordenadas geográficas de 75
pontos aleatorizados para caracterização e amostragem de solos in situ na bacia.
Duas campanhas já foram realizadas sendo analisados 50
pontos até o momento. Em cada um dos 50 ponto já caracterizados, foi aberta uma
mini-trincheira de 0,7 x 0,7 x 0,7 m e coletadas duas amostras não-deformadas com
anel volumétrico a 0,1 e 0,6 m, totalizando quatro anéis por trincheira. Em cada
ponto, o solo foi caracterizado morfologicamente, classificado e coletado cerca de 2
kg de solo de 0-20 cm e de 60-80 cm, correspondentes a horizontes pedogenéticos,
para caracterização granulométrica e química em laboratório. Do total de 75 pontos
locados com uso do programa cLHC, a metodologia de campo descrita acima será
aplicada a 60 pontos. Baseado no mapa pedológico preliminar da Bacia, elaborado
ao longo do trabalho, serão selecionados 15 pontos remanescentes onde serão
abertas trincheiras de 2 x 1,5 x 2 m para caracterização completa dos perfis
representativos de solo e coleta de amostras por horizonte pedogenético para
caracterização em laboratório. Com estes dados será elaborado o mapa pedológico
tradicional da bacia hidrográfica.
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O mapa pedológico digital será elaborado após associação da mesma
matriz de dados geomorfométricos unidos à classificação dos solos identificados em
campo nos 75 locais.
A classificação é uma tarefa da mineração de dados, para sua aplicação
será usada a técnica da árvore de decisão. Ela é uma técnica de aprendizagem de
máquina que classifica e prediz amostras desconhecidas por meio de aprendizado
de máquina, ou seja, com base em registros conhecidos desenvolve-se um conjunto
de treinamento, do qual então uma árvore é montada e, a partir desta árvore, pode-
se classificar a amostra desconhecida sem necessariamente testar todos os valores
dos seus atributos obtendo-se as regras de ocorrência de solos para elaboração do
mapa pedológico digital.
A aplicação das regras de mapeamento para cada classe de solo permitirá
obtenção de planos de informação (PI) por classe de solo. A superposição desses PIs
em ambiente SIG formará o mapa pedológico digital da bacia.
Uma nova aleatorização com a base de dados geomorfométricos no
cLHC permitiu um novo sorteio de 25 pontos de caracterização dos solos em campo,
usados para validação dos mapas pedológicos. O solo nesses pontos será
caracterizado em mini-trincheiras, coletado e analisado em laboratório para
classificação, em campanha de uma semana.
A organização destes resultados em uma matriz de erros, onde
serão comparados os solos dos pontos analisados para o mapeamento pedológico e
os pontos de validação permitirá o conhecimento dos índices de acurácia dos mapas
tradicional e digital.
Considerações finais
Este é um subprojeto, inserido no programa “Novos paradigmas do
conhecimento de solos frágeis para a produção agrícola sustentável no Brasil”
desenvolvido pela Embrapa Solos e pelo Instituto Agronômico de Campinas.
A partir da sua realização, é esperado um mapeamento pedológico
detalhado da bacia do córrego Águas da Lúcia, bem como a produção de uma base
de dados confiável para fins de pesquisa em solos e de manejo sustentado em bacias
hidrográficas com solos frágeis. Ao avaliar a acurácia dos mapeamentos pedológicos
convencionais e digital será possível conhecer a aplicabilidade da metodologia que
utiliza técnicas digitais em escalas de detalhe.
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AMO, Sandra. Minicurso Técnicas de Mineração de Dados. Universidade Federal de Uberlândia. Faculdade de Computação.
COELHO,F.F. Comparação de métodos
de mapeamento digital de solos através de variáveis geomorfo-métricas e sistemas de informações geográficas. Dissertação. Mestrado em Sensoriamento Remoto. Univer-sidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2010.
CRIVELENTI, R.C. Mineração de dados para inferência da relação solo-paisagem em mapeamento digitais de solos. Dissertação. Mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical. Campinas. Instituto Agronômico.
SILVA,C.C. Mapeamento digital de classes
de solo: aplicação de metodologia na folha Botucatu (SF-22-Z-B-IV-3) e validação de campo. Dissertação. Mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical. Campinas. Instituto Agronômico.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Luiz Donizetti Ruiz Junior [email protected]
Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: Unidades de Conservação, Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, proteção ambiental
A necessidade da criação de áreas naturais protegidas, primeiramente
surgiu na Europa durante a Idade Média, com o objetivo de proteção de recursos da
fauna silvestre e seus habitats para o exercício de caça e pesca pela realeza e
aristocracia rural, sempre fundamentada na utilização da natureza por uma seleta
parcela da população (MILANO, 2001). Mas foi nos Estados Unidos em 1872 que
houve a criação do primeiro Parque Nacional do mundo, o Yellowstone, motivado
pela beleza cênica do local e que muitos outros locais semelhantes tinham
desaparecidos. (MULLER, 1973 apud MERCADANTE, 2001).
Como afirma Diegues (1996) essas áreas foram inicialmente criadas com
a concepção naturalista de forma a preservar os resquícios de vida selvagem e áreas
intocadas da ação antrópica urbana e industrial, ou em casos de belezas cênicas,
como forma de disponibilizar tais áreas para visitação e usufruto da aristocracia.
Desde então foram desenvolvidas diferentes conceitos para a criação e
gestão das áreas naturais protegidas, sem que houvesse uma padronização dos
critérios utilizados, assim foram realizadas algumas convenções mundiais para o
desenvolvimento de conceitos básicos para a criação de parques nacionais. A
primeira convenção se realizou em 1933 em Londres e posteriormente várias outras
se realizaram; em 1948 na França foi criada a União Internacional para a
Conservação da Natureza, hoje União Mundial para a Natureza; e em 1962 em
Seattle, Estados Unidos a 1º Conferência Mundial sobre Parques Nacionais, desde
então foram discutidos e aprofundados conceitos e critérios para atividades
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desenvolvidas em áreas protegidas e estabelecidas recomendações sobre políticas
conservacionistas em todo o mundo.
Mas foi a partir dos anos 80 do século XX que houve uma crescente
preocupação com a conservação da biodiversidade do planeta, frente à emergência
de duas situações: a da comunidade científica que começa a identificar um novo
processo de extinção de espécies com taxas muito elevadas, particularmente nos
trópicos, e a ciência faz a descoberta de novos usos e aplicações para a diversidade
biológica, como matéria prima para modernas biotecnologias em atividades
econômicas (GUERRA e COELHO, 2009, p. 25).
A existência de objetivos diversos de conservação determinou a
necessidade de criação de categorias distintas de unidades de conservação. Dessa
maneira desenvolvendo uma planificação de um Sistema Nacional de Unidades de
Conservação. (MERCADANTE apud BENJAMIN, 2001). Desta forma o presente
trabalho faz uma explanação sobre a criação deste sistema e seus principais
objetivos quanto à preservação e conservação da natureza.
Contudo foram quase 20 anos para que se concretizasse tal realização,
como nos mostra a figura abaixo extraída de Freitas (2009), onde em 1982 iniciaram-
se as primeiras etapas para a elaboração de um plano de Sistema de Unidades de
Conservação, sendo apenas em 1992, apresentado um projeto de Lei para o atual
SNUC e aprovado oito depois, no ano de 2000, na forma que o conhecemos hoje.
Figura 1: Institucionalização da conservação da biodiversidade no Brasil
Fonte: Freitas (2009)
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O SNUC está baseado no artigo 225 da Constituição Federal, que garante
que “todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”. Derani (apud
Benjamin, 2001) afirma que o SNUC é “uma racionalização do espaço a partir de
conhecimentos revelados pela ciência, é um empreendimento da razão a partir de
conhecimentos obtidos da Biologia, Geografia, Antropologia”; diz ainda que o SNUC
é “uma norma geral sobre a qual devem- se orientar as normas individualizadas de
criação de unidades de conservação”.
Dessa forma o SNUC caracteriza-se como uma proposta de um sistema
nacional capaz de garantir a proteção de parcelas representativas dos biomas
brasileiros, a partir de determinadas práticas de gestão territorial. (JUNIOR,
COUTINHO, e FREITAS apud GUERRA e COELHO, 2009, p.53)
Como tece Becker (2001) apud Guerra & Coelho (2009), a biodiversidade
é também um conceito humano, pois tem uma localização geográfica e formas de
apropriação com feições específicas, o que lhe confere uma dimensão material,
concreta e, portanto, insere-na necessariamente no contexto das relações sociais, de
forma que a recuperação, a conservação e o manejo da biodiversidade se
materializam no espaço das sociedades humanas.
De acordo com o SNUC, Unidades de Conservação são definidas como:
Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (Art. 2, § 1 da Lei Federal n.º 9.985 de 2000)
A Lei Federal n.º 9.985 de 2000 define dois grupos principais de Unidades
de Conservação com características específicas, a saber:
O primeiro é denominado de Unidades de Proteção Integral, tendo como
objetivo principal a preservação da natureza admitindo apenas o uso de forma
indireta (artigo 7º § 1º da Lei 9.985/2000), que são aqueles que não envolvem
consumo, coleta, uso, dano ou destruição da natureza, são as Estações Ecológicas,
Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre
(artigo 8º § 1º da Lei 9.985/2000).
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O segundo grupo é o das Unidades de Uso Sustentável, sendo áreas que
buscam compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela
de seus recursos naturais (artigo 7º § 2º da Lei 9.985/2000), são pertencentes a esse
grupo a Área de Proteção Ambiental (APA), Área de Relevante Interesse Ecológico
(ARIE), Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de
Desenvolvimento Sustentável e a Reserva Particular do Patrimônio Natural. (artigo
14º § 1º da Lei 9.985/2000).
Estas diferentes categorizações de unidades de conservação, por diversas
vezes se sobrepõem sobre um mesmo território criando áreas de conflitos quando à
sua gestão e manejo por parte dos órgãos ambientais competentes e dos gestores de
tais áreas de proteção. Comumente unidades de conservação já nascem em meio de
conflitos territoriais, pois, inicialmente foram estabelecidas em áreas de intensa
ocupação humana e próximas a regiões de expansão urbana, bem como em terras
ocupadas por populações tradicionais. (Diegues, 1996; Guerra & Coelho, 2009)
Bespalec (2011) nos lembra que significativas unidades de conservação
principalmente as de proteção integral foram implementadas em áreas onde
residiam até então populações tradicionais, não permitindo a presença humana em
seu interior, o que culminou em vários conflitos socioambientais, pois, ignoravam os
conhecimentos destas populações e sua importância na conservação dos recursos
naturais.
Contudo diversos autores apontam que o SNUC trouxe avanços para o
campo das políticas ambientais no Brasil, voltadas para as unidades de conservação,
pois normatizou conceitos, norteando a criação, gestão e manejo de tais áreas, bem
como trouxe a obrigatoriedade do plano de manejo para todas as áreas naturais
protegidas e conceitos importantes como o mosaico de unidades de conservação e
as zonas de amortecimento, dando um passo para a melhor organização e suporte
para Estados e Municípios sobre as áreas que estão respectivamente sobre seus
controles.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
BENJAMIN, A. H. (org.) Direito Ambiental das áreas protegidas. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001.
BESPALEC, P. da S. A Territorialidade
Caiçara e os Conflitos na Vila de Picinguaba (Parque Estadual Serra do Mar – SP). Dissertação de mestrado apresentada no Insituto de Geociências, da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011.
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DIEGUES, A. C. O Mito Moderno da Natureza Intocada. São Paulo: Hucitec, 1996.
FREITAS, I. F. Unidades de Conservação
no Brasil: O Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas e a Viabilização da Zona de Amortecimento. Dissertação de Mestrado apresentada na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.
GUERRA, Antônio J. T. e COELHO, M. C.
N. (org.) Unidades de Conservação Ambiental: abordagens e características geográficas. Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2009.
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Pedro Henrique Vespúcio Balloni [email protected]
Universidade Federal de Alfenas
Palavras-chave: depósitos tecnogênicos, Barão Geraldo, meio ambiente
Introdução
Atualmente é crescente a discussão em torno da problemática ambiental
e os grandes centros urbanos são o palco principal da estreita relação entre a
qualidade de vida e a degradação dos recursos naturais. Assim, a atividade humana
passa a ser qualitativamente distinta da atividade biológica na modelagem da
biosfera, desencadeando processos tecnogênicos, cujas intensidades superam os
processos naturais.
A partir do início da década de 1960, o Brasil enfrentou um acelerado
processo de urbanização, que promoveu a criação de um novo padrão sócio-espacial
nas áreas urbanas. Nos anos 80, começaram a se intensificar as migrações, que
agravaram os problemas advindos das desigualdades sociais e da pobreza.
Barão Geraldo, o maior distrito de Campinas, se insere neste contexto
desde 1963, com a vinda da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp – e a
instalação da estrada da Rhodia, que favoreceram o crescimento urbano da área,
tornando a compactação do solo rápida e expressiva em pouco tempo.
Neste período, obteve-se um crescimento acelerado, com um PIB
acentuado. Em consequência dessa expansão, não só econômica como
populacional, tiveram várias instalações, fazendo com que ocorressem também os
impactos no ambiente provenientes dessa sobreposição exagerada, até certo modo,
das relações do homem no meio ambiente.
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
Para Peloggia (1998), a atividade humana passa a ser qualitativamente
diferenciada da atividade biológica na modelagem da Biosfera, desencadeando
processos tecnogênicos cujas intensidades superam em muito os processos
naturais. Assim, a ação humana sobre a natureza tem consequência em três níveis:
na modificação do relevo, na alteração da dinâmica geomorfológica e na criação de
depósitos correlativos comparáveis aos Quaternários devido a um conjunto de ações
denominados tecnogênese.
Os depósitos tecnogênicos podem ser considerados como depósitos
altamente influenciados pelo homem e são, de acordo com Casseti (2005),
classificados nas seguintes categorias: materiais úrbicos (do inglês urbic) reativos a
detritos urbanos, matérias terrosos que contêm artefatos manufaturados pelo
homem moderno, freqüentemente fragmentos, como tijolo, vidro, concreto, asfalto,
prego, plástico, metais diversos, dentre outros; materiais gárbicos (do inglês
garbage) que são materiais detríticos como galhos de árvores, resto de vegetal, lixo
urbano, lixo orgânico de origem humana, e que, apesar de conter artefatos em
quantidades muito menores que a dos materiais úrbicos são ricos em matéria
orgânica e podem gerar metano em condições anaeróbicas; materiais espólicos (do
inglês spoli), que correspondem a materiais terrosos escavados e redepositados por
operações de terraplanagem em minas a céu aberto, rodovias ou outras obras civis.
Incluem-se os depósitos de assoreamento causados por erosão acelerada; e
materiais dragados, oriundos de dragagem de cursos d’água e, em geral,
depositados em diques, topograficamente alçados em relação à planície aluvial. O
termo “relevos tecnogênicos” abrange um conjunto associado de modelados cujo
agente geomórfico é o homem (PELOGGIA, 2005).
Nesse sentido, o estudo dos processos geológicos modificados pela ação
antrópica sobre a natureza tem consequências que podem ser relacionadas a três
níveis de abordagem: (1) quanto a formas, processos, formações e depósitos
superficiais do ambiente geológico; (2) agem na modificação do relevo e nas
alterações fisiográficas da paisagem, como na retificação de canais fluviais, na
terraplanagem e na abertura de cavas de extração de rochas; (3) em alterações na
fisiologia da paisagem, e, na criação dos depósitos superficiais correlacionados.
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Objetivos
Os Objetivos propostos nesse trabalho foram os de estudar as alterações
antrópicas (tecnogênicas) produzidas nas dinâmicas dos processos naturais no
Distrito de Barão Geraldo, Campinas – SP, a partir da caracterização e estudos dos
depósitos tecnogênicos, que testemunham a ação humana / tecnológica no
ambiente, assim como caracterizar os depósitos tecnogênicos, as alterações na bacia
do Ribeirão Anhumas e sub-bacia do Ribeirão das Pedras, que testemunham a ação
humana / tecnológica na localidade.
Resultados e Discussões
Localizado a noroeste do estado de São Paulo (22º43'31" S e 47º38'57"
W), Barão Geraldo, em termos geológicos, está situado no limite entre o Escudo
Cristalino e a Depressão Periférica e o embasamento na região é formado por
granitos-gnáissicos porfiríticos e gnaisses bandados. A Bacia do Paraná está
representada pelas rochas sedimentares do subgrupo Itararé (Diamictitos, Ritmitos e
Arenitos), que estão intrudidos por diabásios e gabros da formação da Serra Geral
(CPRM, 2006; De HORNINK et al., 2010)
No distrito, em termos de área de abrangência, não são significativas as
planícies aluviais e vertentes recobertas por formações superficiais holocênicas, pois
os processos que formaram os depósitos continentais holocênicos não são mais
atuantes.
Há, por sua vez, planícies e vertentes tecnogênicas, nas quais o registro
sedimentar holocênico e/ou pleistocênico são encontrados apenas como relíquia,
que caracteriza ser a fisiologia das paisagens dominada atualmente pelos processos
tecnogênicos.
Os resultados deste trabalho apontam para o reconhecimento do ser
humano enquanto agente capaz de alterar as características dos ambientes em
períodos de tempo bastante curtos, muito menores quando comparados ao longo
período de tempo demandado pelos processos geológicos naturais (não antrópicos).
Outro aspecto caracterizado foi a degradação da área de estudo pelo
desmatamento, ocupações antrópicas próximas aos mananciais, contaminação das
águas, formação dos depósitos tecnogênicos, aceleramento de processos erosivos e
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
a formação dos depósitos de assoreamento fluvial, em função das atividades
humanas.
Conclusão
Diante dessa perspectiva, surge a importância de aprender a preservar o
ambiente em que vivemos e que envolvem as relações entre o homem e a natureza.
AB’SÁBER, A. N. Formas de Relevo: texto básico. São Paulo: EDART, 1975. 80p.
BRIGUENTI, E. C. O uso de
geoindicadores na avaliação da qualidade ambiental da bacia do ribeirão Anhumas, Campinas/SP. Dissertação apresentada ao Instituto de Geociências como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em geografia, Abril 2005.
CASSETI, V. Geomorfologia. [S.I] 2005.
Disponível em <http://www .funape.org.br/geomorfologia/cap1/index.php#titulo1.4.1>. Acessado em maio de 2010.
CPRM, Serviço Geológico do Brasil. Mapa
Geológico do Estado de São Paulo. 2006.
PELOGGIA, A. O Homem e o Ambiente
Geológico: geologia, sociedade e ocupação urbana no Município de São Paulo. Revista do Departamento de Geografia, 16, 2005, p. 24-31.
Plano Local de Gestão Urbana, SP, 1996.
Plano Diretor de Campinas – 2006, acessado em Julho de 2010.
SANTOS, M. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. Hucitec. São Paulo, 1996.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
Pedro Michelutti Cheliz [email protected]
Núcleo de Estudos Ambientais e Litorâneos Instituto de Geociências
Universidade Estadual de Campinas
Palavras-chave: modernização, redes urbanas, impactos ambientais
Muito vem se discutindo sobre a crescente intensificação da inserção de
países do terceiro mundo nos circuitos produtivos da economia global. Dentre os
inúmeros aspectos passíveis de discussão está que a permeabilização das barreiras
nacionais quando transposta as escalas locais e regionais se sobrepõe a heranças
espaciais profundamente discrepantes.
Neste cenário amplo de desenvolvimento desigual o Brasil – comumente
retratado como uma das novas potências vindas do terceiro mundo - oferece
exemplos férteis. Seu território consolidou-se através de pulsos de ocupação
associados a ciclos econômicos efêmeros. Do exaurimento do Ciclo das Minas ao
esgotamento dos múltiplos complexos agroexportadores os exemplos repetem-se.
Cessados impulsos primordiais permanecem em seus rastros multidões de homens
isolados dos centros onde para onde a dinâmica econômica integrada migrou
(Kayser, 1969).
Tal quadro vem se modificando nas últimas décadas com a difusão de
incrementos técnicos em amplas extensões do território acompanhados de maior
difusão dos fluxos econômicos transnacionais. Insere-se amplas extensões do
território na chamada Região Concentrada (Santos e Torres, 1979), descrita como
área em que acréscimos densificados ao território dos produtos da moderna ciência
e tecnologia e sua inserção na economia mundializada teria flexibilizado as relações
entre os vários núcleos urbanos. Impactos múltiplos acompanham tal rápida e por
vezes brusca inserção: coloca-se a possibilidade de compreender tal processo
Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012
justamente através de análise dos impactos ambientais que acompanharam o
processo modernizador1 das vastas extensões antes marginais.
Buscou-se tal intento por meio da reconstituição da trajetória de
modificação humana da natureza na chamada microrregião de Araraquara,
representativa de vastas regiões rurais resultantes do complexo cafeeiro.
Inicialmente foi realizado mapeamento de uso do solo e compartimentação do
relevo (AB’SÁBER, 1969) para os anos de 1970 e 2010 através de uma associação
entre análise de material cartográfico, imagens de satélite e trabalhos de campo. Em
seguida buscou-se através de revisão bibliográfica e análise de dados demográficos e
econômicos (arquivos municipais da área e IBGE) segmentar a área de estudo em
relativamente similares formações sócio-espaciais (Santos, 1996) – na escala de
trabalho usada correspondentes a municípios – para constituírem norteadores na
análise comparativa entre usos de solo e impactos entre 1970 e 2010.
A área de estudo sintetiza os excepcionais quadros naturais que
possibilitaram a interiorização e difusão da rede urbana paulista pelos campos dos
quais emprestou seu nome (MONBEIG, 1984), sobretudo os atributos pedológicos e
geomorfológicos (ver figuras 1 e 2). Com a chegada da ferrovia no termino do século
XIX se somaram a dispersa estrutura agropastoril pré-existente (SOUZA, 2003)
novas unidades de uso. As imediações dos menos íngremes Patamares
Transicionais (observar figuras 1 e 2) logo foram escolhidos como unidades das
plantações e colônias rurais de povoamento pioneiras, sobretudo pelos férteis
latossolos popularmente chamados de terra roxa. Amplos interflúvios aplainados e
vertentes suavizadas das Terras Altas foram tomados para serem instaladas as áreas
urbanas nucleares (observar figuras 3).
Novos ramais ferroviários se desmembram e adéquam-se aos Patamares
Transicionais e aos terraços e planícies fluviais das Terras Baixas (ver figura 4), com
instalação pontual de novas áreas nucleares polarizando expansão de colônias e
plantações que substituem ecossistemas de cerrado. Multidões de migrantes se
espalham e fixam por rotas diversas, em sintonia com a contínua expansão do
complexo cafeeiro para o oeste.
1 Modernização aqui é entendida como a adequação do território as exigências de um novo período técnico, como definido por Santos (1996)
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Com o fim dos mecanismos que davam impulso a principal atividade econômica
inicial da área de estudo (crise de 1929), o conjunto de núcleos de povoação da área
reagem de maneira diferenciada a tal mudança. Muitos se endurecem em
isolamento pautado em grande medida por circuitos econômicos auto-centrados
apoiados em traços do modelo rural herdado. Outros optam por busca de
alternativas ao café que pudessem mitigar perda de integração com circuitos
econômicos mais amplos trazidos pelas ferrovias, sobretudo com a intensificação da
industrialização de origem local.
Figuras 1, 2, 3 e 4: Nas duas primeiras figuras vê-se mapa de compartimentos de relevo e perfil topográfico da área de estudo. Nas duas últimas registra-se área urbana nuclear de Araraquara adequada as suaves vertentes das Terras Altas e área urbana nuclear de um dos povoados de suporte formados a partir da expansão ferroviária (Trabiju) instalada em altos terraços fluviais das Terras Baixas. Fonte: respectivamente Michelutti (2011) e autores desconhecidos, princípio do século XX
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Tais padrões se sustentam até meados dos anos 70 do século XX, como
visto por análise do material cartográfico e de fotografias aéreas e coleta de
depoimentos. Tais dados mostram para 1970 um predomínio de plantações
diversificadas e ecossistemas naturais como unidades de uso predominantes, com
áreas urbanas relativamente enxutas e ampla quantidade de colônias rurais como
unidade residencial preferencial (IBGE, 1973).
No contexto da desconcentração industrial (CANO, 1981) e difusão do
aparato técnico caráter da região muda rapidamente, sobretudo a partir do final dos
anos 70 (CANO, 1981). Intensifica-se a fricção das distâncias e compressão do
espaço-temporal (HARVEY, 2006) em detrimento das temporalidades regionais
(REDFIELD, 1954; CANDIDO, 1954). Se antes acesso a grandes centros se dava
apenas por estradas de terra ou ferrovias agora modernas rodovias passam a cortar a
área e ligam região a áreas metropolitanas centrais do estado. O complexo
agroindustrial preexistente é extraordinariamente intensificado com os recursos do
programa do PRÓ-ÁLCOOL, absorvendo muitos dos antigos domínios rurais.
Os contínuos acréscimos de tecnologia ao território fazem com que haja
crescentemente menor dependência dos atributos naturais oferecidas pelos
compartimentos de relevo, com ocupação massiva de áreas antes evitadas e novos
usos sendo praticados nos anteriormente já efetivados. Novos bairros operários se
espalham e logo tomam os lugares de alguns dos conjuntos dos mais férteis solos
antes reservados cuidadosamente a prática rural. Agrossistemas ligados ao
complexo sucroalcooleiro se disseminam mesmo pelos mais íngremes ou inférteis
segmentos dos terrenos locais, com registro de mudanças na atividade de erosão e
sedimentação (formação de voçorocas e assoreamentos de rios). Enchentes passam
a serem registradas em pontos específicos das áreas urbanas adensadas. Surge uma
nova dinâmica de impactos ambientais.
Implicações múltiplas se sucedem de forma desigual nos municípios da
área de estudo (observar tabela 1 e figura 5). Aqueles que após o colapso cafeeiro
optaram por industrialização de base local (chamados de Capitais Regionais, ver
figura 6) têm como mudança de uso de solo mais significativa a expansão de suas
machas urbanas superior a 300% e concentram a maior parte das industrias recém-
transferidas e novos bairros operários. Consolida-se como dotada atributos
acumulados capazes de atrair e replicar vetores diversificados da modernização
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(ARROYO, 2006) e mesmo como polarizadora da mobilidade interurbana face perda
crescente de centralidade por parte dos demais municípios da área.
Os que seguiram numa vida rural pós-cafeeira (chamadas de Constelação
de Reminiscências, ver figura 7) apresentam como principal modificação em seu
quadro de uso a destruição do antigo conjunto de colônias rurais, e a tomada da
maior parte de seus ecossistemas naturais e plantações diversificadas por plantações
de cana-de-açúcar que chegam a ocupar impressionantes 80% das áreas totais deste
conjunto de municípios. Em média dobram suas áreas urbanas, entretanto não
aumentaram seu contingente populacional ao mesmo tempo em que registram uma
inversão da proporção entre populações urbanas e rurais. Se veem alijados de sua
antiga função de povoados de suporte rural sem conseguirem incorporar papel que
lhes dê alguma centralidade, convertendo-se em cidades dormitórios cada vez mais
distante das tradições e modos de vida de estreita ligação com dinâmica local que a
pautaram por extensão temporal ampla.
Nota-se que a modernização da área não só aprofundou a desigualdade
regional como mesclou a ela uma diferenciada divisão dos impactos ambientais
ilustrando bem os efeitos perversos do uso de medidas de planejamento amplas
sem as contrapartes voltadas para escalas locais e regionais. Enquanto um conjunto
de formações sócio-espaciais (Capitais Regionais) integrou a sua estrutura
diversidade de incrementos do mundo urbano-industrial outro grupo (Constelações
de Reminiscências) concentrou refuncionalizações e novos usos associados a
impactos ambientais mais intensos.
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Figuras 5, 6 e 7: mapa ilustrando distribuição das formações sócio-espaciais na área de estudo, área central verticalizada desmembrada a partir de área nuclear de Araraquara e área nuclear pouco modificada (Rincão) na transição entre Patamares Transicionais e Terras Baixas do Mogi Guaçu. Observar na figura 7 a onipresença da unidade geoambiental dos canaviais cercando o núcleo urbano local. Fonte: Michelutti (2012) a partir de IBGE (2010), Silvio Pórfíro (2000) e desconhecido (fim do século XX, ano exato desconhecido).
A área sintetiza assim as variedades de opções tomadas pelo conjunto
espacial legado pelas bases das redes urbanas derivadas do complexo cafeeiro. O
quadro torna-se diverso ao se considerar que algumas das opções tomadas na área –
sobretudo a tomada massiva de antigos espaços rurais pelo agronegócio – tem
crescentemente sendo apontado como paradigmas brasileiros para uma dita
dinamização de vastas extensões vistas como estagnadas em outros países de
terceiro mundo. Esboça-se no horizonte uma difusão e aprofundamento dos
conflitos de um modelo de modernização complexo e multifacetada.
ige.unicamp.br/cact/semana2012
AB’SÁBER, A. N. Um conceito de
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aonde queremos chegar?
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6 economia do mundo:aBrasil,
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