Revisão sobre o metabolismo e ação da incretina GLP-1 no tratamento da Diabetes
Mellitus tipo 2
Amanda Silveira Thomaz 1, Caroline Kohl Hillebrand 1, Lilian Corrêa Da Silva 1, Maiara dos
Santos Carneiro 1, Priscila Braga Vieira 1, Tatiana Aparecida da Fontoura Timm 1, Gustavo
Muller Lara 2
1-Acadêmicos do curso de Biomedicina, Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Feevale
2-Professor do Curso de Biomedicina, Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Feevale
Resumo
Incretinas são um grupo de
hormônios que produzem um efeito de
potencialização sobre a liberação de
insulina. Dentre as incretinas, destaca-se o
peptídeo 1 tipo Glucagon (GLP-1), que tem
por função: estimular a secreção de
insulina, suprimir a secreção de glucagon,
desacelerar o esvaziamento gástrico,
aumentar a concentração e manter a função
das células β e levar a uma diminuição da
glicose circulante. Com base nestas
funções, o GLP-1 tornou-se um agente
importante no tratamento da Diabetes
Mellitus tipo 2 (DM 2).
A disfunção da célula β é um
componente necessário ao desenvolvimento
da DM 2. Em pacientes com DM 2, a ação
da GLP-1 está diminuída após a
administração oral de glicose. O defeito da
incretina na DM 2 parece ter duas causas:
redução na secreção da GLP-1 e efeito
insulinotrópico profundamente deteriorado.
Terapias baseadas em GLP-1 são
agora amplamente utilizadas no controle da
DM 2 e têm potencial para serem agentes
antiobesidade eficazes, destacando-se
como uma nova classe de hipoglicemiantes,
análogos ao GLP –1, regulando os níveis de
glicose, estimulando a secreção de insulina,
suprimindo a secreção de glucagon,
retardando o esvaziamento gástrico e
promovendo saciedade.
Palavras-chave: Incretinas, GLP-1,
Diabetes Mellitus tipo II, análogos da GLP-
1 e inibidores da DPP-IV.
Abstract
Incretins are a group of hormones
that produce a potentiating effect on insulin
release. Among the incretins, stands out like
Glucagon like peptide 1 (GLP-1), which is
to: stimulate insulin secretion,
suppress the secretion of glucagon, slow
gastric emptying, to increase the
concentration and maintain the β-cell
function and lead to a decrease of
circulating glucose. Based on these
functions, GLP-1 has become an important
agent in the treatment of type 2 diabetes
mellitus (T2DM).
The β-cell dysfunction is a
component necessary for development of
T2DM. In patients with T2DM, the action
of GLP-1 is lowered after oral
administration of glucose. The incretin
defect in T2DM seems to have two causes:
a reduction in the secretion of GLP-1 and
insulinotropic effect deeply damaged.
Therapies based on GLP-1 are now
widely used to control T2DM and have the
potential to be effective anti-obesity agents,
especially as a new class of hypoglycemic
agents, similar to GLP-1, regulating glucose
levels, stimulating insulin secretion ,
suppressing glucagon secretion, slowing
gastric emptying and promoting satiety.
Keywords: Incretins, GLP-1, Diabetes
Mellitus Type II, analogs of GLP-1 and
DPP-IV.
Introdução
Incretinas são um grupo de
hormônios secretados e liberados na
corrente sanguínea após a ingestão de
alimentos e, ao alcançarem o pâncreas,
produzem um efeito de potencialização
sobre a liberação de insulina. Dentre as
incretinas, destaca-se o Peptídeo 1 tipo
Glucagon (GLP-1) cujo sequenciamento foi
realizado em 1980 e, desde então, a sua
propriedade de enterogastrona (fator que
retarda o esvaziamento gástrico e auxilia a
inibição da secreção de ácido gástrico)
também têm sido apreciada, por gerar uma
resposta de insulina glicose dependente,
sendo de fundamental importância no
tratamento da DM2. (1,2,3)
Pacientes com DM2 estão
predispostos a inúmeras complicações
decorrentes do período de exposição à
hiperglicemia, tais como doenças micro e
macro angiopáticas. Esses pacientes,
inicialmente, são aconselhados sobre
mudanças de estilo de vida que englobam
cuidados com a alimentação, redução de
peso e prática de atividade física. Se essas
medidas não foram eficazes no controle da
glicose plasmática é indicado um agente de
redução da glicose-oral, geralmente
metformina. (4)
Entretanto, esse medicamento pode
ser contraindicado para alguns pacientes e
para outros é mal tolerado, logo a DM2 se
tornaria uma doença progressiva, com perda
de capacidade das células beta. Contudo,
surgiu uma nova classe de
hipoglicemiantes, análogos da GLP – 1,
administrados por injeções que imitam a
ação de um GLP -1 endógeno regulando os
níveis de glicose, estimulando a secreção de
insulina, suprimindo a secreção de
glucagon, retardando o esvaziamento
gástrico e promovendo saciedade. (4)
A ação dos análogos de GLP-1 é
dependente de glicose, com pouco ou
nenhum efeito nas condições
hiperglicêmicas, o que reduz a ocorrência
de hipoglicemia. Além disso, existem
evidências de que esse medicamento
auxiliaria na perda de peso. (4)
Observando os benefícios acima
citados, o objetivo é realizar uma
abordagem sobre os análogos da incretina e
sua aplicação no tratamento de DM2 (5).
Histórico das Incretinas
Os dois principais hormônios
incretina são o GIP (polipeptídio inibitório
gástrico) e a GLP-1. (6) Têm sido
reconhecidas muitas funções para o GLP-1,
que atua em diferentes tecidos e sistemas:
nas células beta (efeito incretina, trófico,
antiapoptótico e estimulante), nas células
alfa pancreática (inibindo a secreção de
glucagon), no sistema nervoso central
(diminuindo a ingestão de alimentos e com
outras funções na homeostase), no trato
gastrointestinal e no aparelho
cardiovascular. (7)
Além disso, os efeitos da GLP-1 na
motilidade gastrointestinal parecem ser
cruciais para o seu efeito de reduzir a
glicemia pós-prandial e pode,
potencialmente, representar o mecanismo
dominante. (1)
Em 1932, foi usado pela primeira
vez o termo incretina para uma substância
secretada pela mucosa intestinal que
reduziu de glicose no sangue. (7)
Em 1964 foi testada uma carga de
glicose por via oral que produziu uma
secreção de insulina significativamente
maior do que a produzida pela sobrecarga
intravenosa de glicose. Esta observação foi
publicada simultaneamente por vários
autores que levantaram a hipótese de que
aproximadamente 50% da insulina
secretada após a ingestão oral de glicose é
liberada por fatores gastrointestinais
independentes de glicose. (7)
O GIP foi sequenciado em 1970 e
em 1985 a estrutura do GLP-1 foi
conhecida. (7)
Em 1986, foi documentada pela
primeira vez uma redução dos efeitos da
incretina em pacientes com DM2 e, em
seguida, em 1993 demonstraram que, neste
grupo de pacientes quando mal controlados,
uma única perfusão exógena da GLP-1
aumentou os níveis de insulina de um modo
dependente da glicose e normalizou a
hiperglicemia em jejum. (2)
Efeito das Incretinas no organismo
Os efeitos insulinotrópicos no GIP
estimulam a secreção de insulina
dependente da glicose, não influenciando as
células pancreáticas α a secretar glucagon
em humanos. Já o GLP-1 estimula a
secreção de insulina pós-prandial e em
jejum, dependente da glicose. Estimula
todos os passos da biossíntese da insulina,
entre os quais a transcrição do seu gene,
providenciando assim um aumento das
reservas de insulina na célula, aumentando
a sensibilidade da célula β à glicose através
do aumento da expressão de transportadores
da glicose e glicoquinases, aumentando a
responsividade à glicose em células
previamente resistentes. Inibe também, a
secreção do glucagon pós-prandial e, sendo
glicose-dependente, reduz o potencial
desenvolvimento de hipoglicemias. (8)
Os efeitos tróficos sobre as células β
estimulam o crescimento e a sobrevivência
das mesmas, inibindo a apoptose o que
implica aumento da massa de células β;
melhoram a sobrevida das células após
exposição a agentes pró-apoptóticos como a
estreptozotocina, citocinas, ácidos gordos e
peróxidos. Estudos referem que a
administração de GLP-1 acelera a
diferenciação e maturação de células β
pancreáticas fetais humanas o que sugere
uma possível aplicação dos agonistas do
GLP-1 na prevenção da diabetes, tratando
indivíduos em risco ou no período pré-
doença. Estas alterações são vistas somente
em modelos animais. (8)
Os efeitos extra pancreáticos no GIP
inibem a secreção gástrica ácida no
estômago em doses supra fisiológicas. O
tecido adiposo regula o metabolismo
lipídico, com a incorporação de ácidos
gordos em triglicerídeos (evidência
experimental). No SNC, ossos e
outros tecidos os efeitos são pouco
conhecidos no Homem. (8)
Os efeitos extra pancreáticos no
GLP-1 favorecem a homeostasia da glicose
através dos seus efeitos em outros sistemas.
No Sistema Nervoso Central, efeitos
proliferativos, neogénicos e anti-
apoptóticos nas células neurais; aumento da
sensação de saciedade com consequente
redução do aporte calórico e perda de peso.
No trato gastrointestinal há a diminuição da
velocidade do esvaziamento gástrico dose-
dependente, bem como da absorção de
glicose, que participa na redução
subsequente da concentração da glicose
plasmática pós-prandial: “íleal brake.” No
sistema cardiovascular foram realizados
estudos em doentes com DM2 que se refere
que a infusão de GLP-1 se associa a uma
melhoria da função endotelial e a efeitos
cardioprotetores. Na gordura e no músculo
ocorrem ações complexas e menos
compreendidas. (8)
Ambas as incretinas estimulam a
secreção de insulina, e em modelos de
cultura de células demonstrou-se que
estimulam a produção de células β. Embora
seus efeitos sobre as células ß não estejam
bem definidos, um estudo de seis semanas
em pacientes com DM2, demonstrou que o
tratamento com GLP-1 estava associado ao
aumento expressivo à sensibilidade a
insulina. (9)
GLP-1 e Diabetes Mellitus tipo 2
A DM2 é a forma mais comum das
diabetes diagnosticadas, a sua prevalência
tem aumentado drasticamente afetando
mais de 200 milhões de pessoas em todo
mundo. Estes pacientes apresentam
obesidade centrípeta, que se associa ao
aumento da gordura visceral, intimamente
relacionada à resistência à insulina, tendem
a apresentar hipertensão arterial,
dislipidemia caracterizada por triglicérides
elevados e HDL-colesterol baixo, e
elevação de fatores trombogênicos,
caracterizando a chamada “síndrome
metabólica”. (6)
Um paciente é considerado portador
de diabetes mellitus quando apresenta
glicemia randômica ≥ 200 mg/dl, glicemia
em jejum ≥126 mg/dL, ou glicemia pós
prandial de 2 horas ≥ 200 mg/dl após
sobrecarga de glicose oral (75 g). (10)
Quando a glicemia em jejum
encontra-se entre 100 e 125 mg/dl ou entre
140 e 199 ng/dl após sobrecarga de glicose,
o individuo é rotulado como portador de
tolerância reduzida à glicose. A
hemoglobina glicada, que reflete o controle
glicêmico nos dois últimos meses, deve ser
utilizada fundamentalmente para o
seguimento da terapêutica, (6) mas
atualmente já está sendo usada como
diagnóstico.
Já em pacientes DM2 a
fisiopatologia é complexa e envolve a
combinação de múltiplas alterações nos
mecanismos implicados na homeostasia da
glicose. As três alterações fisiológicas
principais são a secreção reduzida de
insulina, resistência periférica à insulina e
produção hepática excessiva de glicose. A
disfunção da célula β é um componente
necessário ao desenvolvimento da doença.
(8)
Após a ingestão oral de glicose em
indivíduos normais, as células β
pancreáticas secretam insulina, além disso,
ocorre a liberação de hormônios chamados
incretinas (GIP-dependent insulinotropic
polypeptide e GLP-1 glucagon-like peptide
1) pelo trato gastrointestinal com o objetivo
de potencializar a secreção de insulina
dependente de glicose e inibe a secreção do
glucagon.
As incretinas pertencem a uma
família do peptídeo glucagon, GLP-1 é
clivado do precursor pró-glucagon intestinal
e secretado das células L do íleo e do cólon,
depois do consumo de nutrientes.
São rapidamente degradadas pela
enzima dipeptidil peptideo protease 4
(DPP-4), uma ubiquitária no organismo que
explica a semi-vida plasmática muito curta
destes hormônios (GIP: 5-7minutos; GLP-
1: 1-2minutos). Assim, grande parte do
GLP-1 já foi inativada pela DPP-4 antes de
entrar na circulação sistêmica, daí a
implicação das vias neurais, indiretas, para
levar a cabo os seus efeitos. (6)
A GLP-1 estimula a secreção de
insulina, suprime a secreção de glucagon,
desacelera o esvaziamento gástrico,
aumenta a concentração e mantém a função
das células β, melhora a sensibilidade a
insulina e leva a uma diminuição da glicose
circulante. (9)
Em pacientes com DM2 a ação da
GLP-1 está diminuída, pois, após a
administração oral de glicose estes
indivíduos tinham o efeito da incretina
deteriorado. O defeito da incretina na DM2
parece ter duas causas: redução na secreção
da GLP-1 e efeito insulinotrópico
profundamente deteriorado do GIP. (3)
Estudos foram realizados para
avaliar a secreção de incretinas em um
período de quatro horas depois do café da
manhã em indivíduos com DM2, em
comparação com os que tinham tolerância
normal a glicose. Foi possível demonstrar
uma diferença significante da resposta do
GLP-1 em indivíduos com DM2.(11)
Portanto, a infusão intravenosa de
GLP-1 reduz a hiperglicemia de forma
dependente de glicose, através da secreção
aumentada de insulina e concomitante
inibição da secreção de glucagon. No
entanto, este duplo efeito sobre células ß e α
é atenuado quando atinge os níveis baixos
de glicose na circulação, o que resulta em
uma diminuição dos níveis de insulina e em
uma recuperação da resposta contra
reguladora de glucagon, diminuindo com
isso o risco de hipoglicemia.
Incretinas na terapia da Diabetes
Mellitus tipo 2
A GLP-1 exerce papel importante na
homeostase da glicose, ela tem a
capacidade de diminuir a glicemia pós-
prandial através de várias vias (12). Esta
incretina estimula a secreção e produção de
insulina por células ß pancreáticas, este
efeito é dependente de glicose, isto é,
ocorre apenas na presença de níveis
elevados de glicose no sangue. (13)
Além de estimular a secreção de
insulina o GLP-1 suprime a liberação de
glucagon, desacelera o esvaziamento
gástrico, melhora a sensibilidade a insulina
e reduz o consumo de alimentos (9),
aumenta a concentração de células ß e
mantém sua função, e amplia a eliminação
da glicose. Sabe-se que pessoas com DM2
tem baixas concentrações de GLP-1, mas a
resposta de insulina preservada sustenta o
potencial terapêutico dos tratamentos com
GLP-1.
Em 2002 um estudo de Zander et. al.
demonstrou melhoras significativas na
função das células ß, na sensibilidade à
insulina e de outros parâmetros medidos em
resposta a infusão contínua de GLP-1.
O recente crescimento de estudos
relacionados à função das incretinas e seus
efeitos em pacientes com DM2, levou ao
desenvolvimento de modalidades
terapêutivas que tem como objetivo a
ampliação e estimulação da ação do GLP-1,
as substâncias que mimetizam as incretinas
(análogos), são as que têm o
desenvolvimento mais extenso.
Os análogos do GLP-1 aparecem
como uma opção para pacientes que
apresentam controle glicêmico inadequado
com a terapia oral dupla ou com
metformina. Estes agentes podem ser
preferidos para pacientes nos quais a
redução substancial de HbA1c e /ou peso é
desejável ou quando a hipoglicemia é uma
preocupação (12).
Análogos da GLP-1
É uma nova classe de drogas,
administrado por injeção, que imitam a
ação do GLP-1. A ação destes
medicamentos é dependente da glicose, ou
seja, quanto maior o nível de glicose no
plasma, maiores serão seus efeitos sobre a
secreção de insulina, com o maior efeito nas
condições hiperglicêmicas, e pouco ou
nenhum efeito quando a concentração da
glicose sanguínea é inferior a 65mg / dL
(1). Também foi relatada a perda de peso
com o uso desses análogos.
Existem hoje pelo menos seis
análogos de GLP-1: exenatide (Byetta, Lilly
/ Amylin) e liraglutide (Victoza, Novo
Nordisk), que atingiram o mercado,
enquanto albiglutide (GlaxoSmithKline) e
taspoglutide (Ipsen e Roche) foram objetos
dos estudos publicados. Outros, incluindo
lixisenatide (sanofi-aventis) e LY2189265
(Lilly) estão em estudo (4). Seu uso é
indicado quando os tratamentos de primeira
e segunda linha não deram resultados.
O exenatide e liraglutide possuem
uma meia vida extendida por não serem
degradados pela DPP-IV quando
comparados com a GLP-1 endógena. O
exenatide, aprovado em 2005, atualmente é
usado como um adjuvante injetado duas
vezes ao dia antes almoço e jantar.
Liraglutide foi aprovada em 2009 na
Europa e em 2010 nos EUA e Japão, com
aplicação de uma vez ao dia. (8)
Incretinas na indução da pancreatite
A replicação ductal pancreática esta
aumentada em pacientes com obesidade e /
ou DM2 (14), proporcionando uma possível
ligação entre o aumento do risco de
pancreatite nesses em indivíduos. (15)
Estudos com camundongos feitos
por Koehler et. al. utilizando exendina-4
(10 nmol / kg duas vezes por dia, durante 7
dias) e induzindo pancreatite com ceruleina,
e um estudo inverso com mesma dose em
até 6 dias mostrou aumento da massa do
pâncreas exócrino induzindo genes
associados a proliferação celular, mas não
teve nenhum efeito sobre a pancreatite
induzida quimicamente.
Em conclusão, se a terapia como
GLP-1 induz baixo grau pancreatite,
sobreposto, que está presente como um
resultado da obesidade e / ou diabetes do
tipo 2, então não haveria motivo de
preocupação de que a exposição prolongada
a esta classe de fármacos pode levar ao
aumento risco de adenocarcinoma do
pâncreas.(15)
Exenatide (Byetta, Lilly / Amylin)
Exenatide é um derivado do péptidio
exendina-4 que ocorre naturalmente, foi
isolado a partir das secreções salivares do
lagarto Heloderma suspectum (monstro
Gila. O péptido exendina-4 (exenatida) é
homóloga à GLP-1 e se liga avidamente no
receptor de GLP-1, sendo também
resistente às ações da DPP-IV, (16) e sua
eliminação é renal. É geralmente
administrada duas vezes por dia como
injeções e fornece substituição diária
adequada de GLP-1. Está aprovada para o
tratamento de DM tipo 2 em doentes que
receberam tratamento concomitante com
metformina ou sulfonilureias, embora as
doses de sulfonilureias podem precisar de
redução para evitar a hipoglicemia. Ensaios
clínicos demonstraram uma redução nas
concentrações de glicose em jejum e pós-
prandial, uma redução de 1-2% em
concentrações de HbA1c, e uma perda
moderada de peso de 2-5 kg.28-30. (17) Os
efeitos colaterais da exenatida incluem
náuseas e vômitos menos comumente, ou
diarréia, particularmente no início do
tratamento.
Exenatide parece exercer um efeito
benéfico sobre células ß, que pode ter
implicações para a progressão da doença,
embora a longo prazo é necessária uma
maior pesquisa de resultados.(12) Devido
sua eliminação via renal o uso da exenatide
não é recomendado em doentes com
insuficiência renal grave [clearance de
creatinina (ClCr) <30 ml / min] ou doença
renal terminal.
Liraglutide (Victoza, Novo Nordisk)
É um derivado de longa duração de
ação feito por ligação covalente de GLP-1 a
um ácido graxo, este composto liga-se a
albumina do soro, o que aumenta a duração
da ação do GLP-1 por limitar o
metabolismo por DPP-4 atrasando /
prolongando absorção a partir do local da
injeção, e reduzindo a depuração renal.(16)
Ele fornece grandes melhorias no
controle glicêmico, induz perda de peso,
melhora os fatores de risco relacionados
com a obesidade e reduz o pré-diabetes.
Também está associada com
reduções na HbA1c e pressão sanguínea.
Em estudos, animais demonstraram um
aumento na ocorrência de câncer medular
da tiróide com doses elevadas de
liraglutide, mas a relevância clínica deste
trabalho não é clara. (17)
A meia-vida deste composto,
anteriormente designada NN2211 e agora
chamado liraglutide, é de aproximadamente
12 horas, em voluntários saudáveis,
portanto, uma única injecção diária pode
entregar quantidades biologicamente ativas
de GLP-1 para um período de 24 horas. Em
pacientes com DM2, uma única injeção
subcutânia de liraglutide na hora de dormir
reduziu os níveis de gliose durante a noite,
reduziu as excursões de glicose durante um
almoço padronizado, e aumentou a secreção
de insulina estimulada pela refeição. No
entanto, como com exendina-4 ou o GLP-1
natural, náuseas e vómitos são efeitos
secundários limitantes da dose.
Taspoglutide (Ipsen e Roche)
Taspoglutide tem homologia de
93% com o GLP-1 natural e é totalmente
resistente a degradação pela DPP-4. As
ações biológicas tem se demonstrado serem
semelhantes aos do GLP-1, e depois de uma
dose única de 30 mg, é verificado um efeito
hipoglicemiante por até 2 semanas. (18)
Taspoglutide mostrou-se capaz de
proteger as células ß, reduzindo a apoptose
em um modelo de roedor com diabetes do
tipo 2 (Zucker Diabetic Fatty ).(18) Nos
pacientes com DM2 taspoglutide
demonstrou ter restaurado a secreção de
insulina.A Roche licenciou a droga em
2006 a partir de Ipsen SA.
Em um estudo duplo-cego feito
Nauck et. al., placebo-controle, em
pacientes com DM2 inadequadamente
controlados com metformina em
monoterapia, a administração de
taspoglutide nas doses de 5/10/20 mg
semanal ou quinzenal 10/20mg, melhorou
significativamente o controle da glicose em
jejum e pós-prandial e quando combinado
com metformina contou com substancial
perda de peso. A magnitude da melhoria no
controle glicêmico observado com
taspoglutide após 8 semanas (-1,1% de
diminuição em HbA1c a partir de uma linha
de base de 7,9%)foi comparado
favoravelmente com o observado com
outros análogos do GLP-1, tais como
exenatida e liraglutide.
Em um comunicado à imprensa em
junho de 2010 a Roche anunciou que a
incidência de reações de hipersensibilidade,
relatado como relacionado com
taspoglutide, foi maior do que o esperado,
embora continue a ser pouco frequente
(incidência <1%). Os sintomas mais
freqüentemente relatados foram reações
cutâneas e sintomas gastrointestinais,
enquanto os sintomas cardiovasculares e
respiratórios foram menos freqüentes.
(http://www.roche.com/investors/ir_update/
inv-update-2010-06-18b.htm).
Albiglutide (Syncria, GlaxoSmithKline)
Albiglutide é um análogo do GLP-1
humano resistente a degradação da DPP-4
acoplado a albumina humana no soro (19).
A resistência à clivagem pela DPP-4 é
obtida por uma única substituição (ala para
Gly) no local de clivagem da molécula
GLP-1. Semi-vida plasmática é de cerca de
5 dias, permitindo sua administração uma
vez por semana. Sua estrutura dupla ( em
tandem) foi desenvolvida para aumentar a
potência em comparação com apenas uma
molécula GLP-1(19) ligada à albumina,
assim, a cópia ligada a albumina funciona
principalmente como um ligante.
Albiglutide tem mostrado redução
significativa na HbA1c e na glicemia de
jejum e pressão arterial. Os efeitos adversos
parecem ser bem conhecidos e semelhantes
aos outros análogos de GLP-1, também
dependente da dose.
Um estudo de Rosenstock et al
duplo-cego randomizado, teve como
objetivo avaliar a eficácia, segurança e
tolerabilidade de doses incrementais de
albiglutide, administrado por via
subcutânea, com três doses (4, 15 ou 30 mg
por semana, 15, 30 ou 50 mg duas vezes
por semana, 50 ou 100 mg mensal) em 356
pacientes com DM2, inadequadamente
controlada com dieta e exercício ou
monoterapia com metformina, em todos os
grupos durante todo o tratamento com
albiglutide foram observadas melhora nos
valores de HbA1c ( de -0,79 para -0,87%) e
perda de peso (-1,1 para -1,7 kg). A
incidência de eventos adversos
gastrintestinais (náuseas, vômitos e
flatulência), em indivíduos que receberam
albiglutide 30 mg semanal foi menor do que
o observado para as doses mais altas
quinzenais e mensais de albiglutide.(20)
Considerações Finais
Em pacientes com DM 2, há
disfunção das células β, com consequente
deterioração do efeito insulinotrópico.
Terapias baseadas em efeitos análogos ao
GLP-1 são agora amplamente utilizadas na
DM 2, regulando os níveis de glicose,
estimulando a secreção de insulina,
suprimindo a secreção de glucagon,
retardando o esvaziamento gástrico e
promovendo saciedade.
Um entendimento maior da função
das incretinas no mecanismo do DM 2
levou ao desenvolvimento de novas
modalidades terapêuticas a esta doença, que
é a forma mais comum de diabetes
diagnosticada e teve sua prevalência
aumentada drasticamente nos últimos anos.
A progressão da doença em
pacientes com diabetes tipo 2,
inevitavelmente, exige intensificação do
tratamento para lidar com o declínio da
função β-célula. Embora haja divergencias
nas diretrizes sobre quando a considerar a
introdução de terapias de incretinas, ha
dados clínicos que comprovam a eficácia na
glicemia e benefícios extra-glicêmicos dos
análogos de GLP-1.
Os análogos do GLP-1 têm
vantagens, combinando o controle da
glicose no sangue eficaz na perda de peso,
redução da pressão arterial e melhorias nas
funções das células β. As suas ações como a
regulação da insulina e glucagon são
importantes para o tratamento de pessoas
com diabetes do tipo 2. Por conseguinte,
existe um risco reduzido de hipoglicemia,
especialmente quando há combinação com
um agente oral como a metformina.
Os análogos de GLP-1 tem se
mostrado uma boa opção de terapia com
poucos efeitos adversos conhecidos e
podem ser uma alternativa à insulina
imediata na combinação de agentes orais
em pacientes com falha nestes tratamentos.
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