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INDICAÇÕES DAS PRODUÇÕES CIENTÍFICAS RECENTES SOBRE A INSERÇÃO DAS CRIANÇAS
DE SEIS ANOS NO ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS
Eliege Alves Demetrio Canever1
RESUMO: O presente trabalho tem a finalidade de apresentar os procedimentos e análises de um levantamento de produção acadêmica no período compreendido entre 2009 e 2014 acerca da temática de uma pesquisa em nível de mestrado em desenvolvimento: A inserção das crianças de seis anos no ensino fundamental de nove anos: um olhar sobre a organização dos espaços, tempos e materiais e proposição das atividades. O levantamento da produção teve como objetivo compreender como as pesquisas têm sido conduzidas e analisadas por pesquisadores brasileiros e quais aportes teóricos utilizam como referenciais, visando reunir subsídios para as reflexões e delimitação do problema de pesquisa em andamento. As bases de dados definidas para as buscas das produções acadêmicas foram o Banco de teses e dissertações da CAPES e IBICT. O procedimento metodológico utilizado para a busca das produções foi de selecionar combinações de palavras-chaves. Tanto no Banco de teses e dissertações da CAPES como IBICT utilizou-se os termos Ensino Fundamental e Ensino de nove anos em todas as buscas, associado as seguintes palavras-chave: infância, educação infantil e pré-escola. A partir das buscas foram realizadas leituras dos títulos, resumos e quando a pesquisa se referia a temática pesquisada a dissertação ou tese foi acessada e salva na íntegra para posterior leitura. O tema referente a inserção das crianças de seis anos no ensino fundamental de nove anos contempla uma extensa produção científica e ao finalizar a seleção em ambas as bases foram encontradas 31 produções e selecionadas 17 pesquisas específicas para análise. Assim, para esse texto serão apresentadas e analisadas as 17 produções mais diretamente ligadas ao tema de investigação.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino fundamental de nove anos; crianças de 6 anos; infância; levantamento de produção.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem a finalidade de fazer um levantamento de produções acadêmica nos últimos seis anos (2009 a 2014) acerca da temática que ajude a pensar, com mais
profundidade, nos elementos que estarão presentes na minha pesquisa em nível de mestrado: A
inserção das crianças de seis anos no ensino fundamental de nove anos: um olhar sobre a
organização dos tempos, espaços e materiais e a proposição das atividades. O levantamento de
produções acadêmica, visa também, perceber o quanto tem-se produzido sobre o tema que se
coloca em questão, o que está oculto e as fragilidades que estão presentes e, assim, entrar na
discussão e ajudar a analisar os elementos que darão consistência a pesquisa.
O desenvolvimento desse levantamento teve início na disciplina Educação e infância:
Perspectiva de pesquisa ministrada pela Professora Doutora Márcia Buss-Simão, medida pelas
leituras e estudos realizados sobre a Pesquisa em Educação e a trajetória recente da pesquisa em
Educação e Infância no Brasil.
Para tanto se fez necessário trazer para discussão as leituras e textos da Gatti
focando o conceito ou o que se entende por pesquisa no contexto educacional brasileiro. 1 Mestranda em Educação da Universidade do Sul de Santa Catarina. E-mail: [email protected].
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Gatti (2002), define pesquisa como o ato de buscar o conhecimento sobre algo,
servindo para suprir nossas necessidades, esclarecer dúvidas, ampliando o conhecimento,
devendo ir além dos fatos, ir sempre em busca de novas informações,
[...] Num sentido mais estrito, visando à criação de um corpo de conhecimentos sobre certo assunto, o ato de pesquisar deve apresentar certas características específicas. “Não buscamos, com ele, qualquer conhecimento, mas um conhecimento que ultrapasse nosso entendimento imediato na explicação ou na compreensão da realidade que observamos”. (GATTI, 2002, p.10).
A pesquisa nos auxilia na compreensão da realidade, num melhor entendimento do
que nos rodeia e que muitas vezes não entendemos, consiste em um processo metódico de
investigação, recorrendo a procedimentos para encontrar respostas para um problema.
Para Gatti, embora reconhecendo a necessidade de trabalhos que estejam vinculados
a questões que no imediato são carentes de respostas, é preciso ter cautela para não deixar de
lado questões realmente fundamentais,
Isso não quer dizer que não devamos voltar para os problemas concretos que emergem no cotidiano da história vivida da educação por nós- é aí que os problemas tomam corpo, mas a pesquisa não pode estar a serviço de solucionar pequenos impasses do cotidiano, porque ela, por sua natureza e processo de construção, parece não se prestar a isso, vez que o tempo da investigação científica, em geral, não se coaduna com as necessidades de decisões mais rápidas”.(GATTI, 2002, p. 23).
Vieira Pinto discorre suas reflexões acerca da cultura,
Nenhuma concepção da gênese da ciência da metodologia da pesquisa científica será autêntica se não procurar o princípio da ciência no exame do seu desenvolvimento partindo de um terreno imensamente mais vasto, o da cultura em geral. Antes de indagar do que é a ciência, e como se constitui, precisa-se ter entendido o significado da cultura em geral, do qual a criação científica representa um caso particular.(PINTO, 1979, p.121)
Nessa perspectiva Pinto (1979), define a cultura como produto do existir do
homem, resulta de vida concreta no mundo que habita das condições, principalmente sociais, em
que é obrigado a passar a existência.
A pesquisa científica constitui um tema cuja consideração o trabalhador científico
não pode deixar de se dedicar. A reflexão sobre o trabalho que realiza os fundamentos
existenciais, os suportes sociais e materiais e as finalidades culturais que o explicam - levantam
problemas epistemológicos que se referem ao processo de pesquisa científica. Estes não podem
ficar à parte do interesse intelectual pesquisador pois, a natureza do seu trabalho é “constitutiva
da própria realidade individual”.
Charlot (2005), contribui com essa discussão e nos alerta o quanto é importante
fazer o levantamento de produções, evitando a repetição de dissertações e teses, conhecendo os
trabalhos realizados possibilitando o diálogo científico entre ambos. Para que a pesquisa em
educação progrida, ganhe visibilidade no Brasil existe um trabalho a ser feito,
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Que pesquisas já foram realizadas sobre os temas que estão na moda (os objetos sociomidiáticos), a partir de quais questões, com que dados e quais resultados? Quais foram as dissertações de mestrado e as teses de doutorado defendidas nos últimos anos, e que resultados foram estabelecidos? Que pesquisas estão atualmente em andamento, sobre que temas, onde? (CHARLOT, 2005, p.17).
A opção pela presente temática: A inserção das crianças de seis anos no ensino
fundamental de nove anos: um olhar sobre a organização dos tempos, espaços e materiais e a
proposição das atividades tem vínculo forte com o momento atual que vive a educação básica em
nível nacional, especialmente nos municípios em suas redes de ensino. Com a implantação do
ensino de nove anos, pela Lei nº 11.274/2006 houve uma mudança significativa na grade
curricular do ensino fundamental que passou de oito para nove anos e passou a receber as
crianças de 6 anos.
Os documentos oficiais do Ministério da Educação justificam que a ampliação do
Ensino Fundamental, assegurando a entrada da criança de 06 anos, consiste em uma estratégia
para possibilitar um maior tempo de convívio no contexto escolar, permitindo que melhorem a
qualidade e a oportunidade de aprendizagem do aluno, garantindo um processo de alfabetização
adequado. (Fernandes, 2006).
Nessa direção o presente trabalho visa analisar a produção científica: A inserção das
crianças de seis anos no ensino fundamental de nove anos: um olhar sobre a organização dos
tempos, espaços e materiais e a proposição das atividades, com a finalidade de mapear e
sistematizar os movimentos recentes sobre a temática em pesquisa.
2. Indicações das produções científicas recentes
Para uma maior aproximação a realidade da problemática definida nessa pesquisa,
realizamos uma seleção de produções acadêmicas, a partir do tema ‘transição das crianças da
educação infantil para o ensino fundamental de nove anos’, no período compreendido entre
2009 e 2014, com a finalidade de selecionar materiais que tratassem, diretamente das
discussões sobre esse tema.
Esta seleção teve o objetivo de perceber como os estudos têm sido analisados por
pesquisadores brasileiros e quais aportes teóricos utilizam como referenciais, dando-nos
subsídios para nossas reflexões e delimitação de nosso problema de pesquisa. Esse
levantamento de produções acadêmicas visa também, perceber o quanto tem se produzido sobre
o tema e, captar possíveis contribuições que poderão dar consistência à presente investigação.
Definimos como bases de dados para as buscas das produções acadêmicas o banco de teses e
dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); a
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), Instituto Brasileiro de Informação
em Ciência e Tecnologia (IBICT), e, Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Educação (ANPEd).
A seleção final das produções acadêmicas passou por um processo de filtragem,
considerando, num primeiro momento, o recorte temporal, seguido da leitura dos títulos e
resumos, e, quando necessário, realizamos a leitura da introdução das produções para o último
filtro definitivo.
O Quadro 1 ilustra o processo de filtragem de acordo com as combinações dos
descritores definidos para a finalização da seleção no banco da CAPES.
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Quadro 1. Seleção final de produções no banco de dados da CAPES
Descritores Resultados
encontrados
Produções
selecionadas
Ensino de Nove Anos e Infância 29 11
Ensino de Nove Anos e Educação infantil 28 4
Ensino de Nove Anos e Pré-Escola 5 0
Ensino fundamental e Infância 157 0
Ensino fundamental e Educação infantil 261 5
Ensino fundamental e Pré-Escola 103 0
Total 583 20
Fonte: elaborado pela autora a partir da consulta a Base de dados da CAPES
Observamos que ao realizar as primeiras buscas encontramos maior número de
materiais com as palavras-chaves “Ensino fundamental e Educação infantil”, entretanto, foi a
partir as palavras-chaves “Ensino de Nove Anos e Infância” que identificamos um número de
produções que tiveram mais proximidade com nossa investigação.
De acordo com o Quadro 2, temos o processo de filtragem, a partir das combinações
das palavras-chaves utilizadas para a seleção final de produções na BDTD/IBICT.
Quadro 2. Seleção final de produções na base dados da BDTD/IBICT
Descritores Resultados
encontrados
Produções
selecionadas
Ensino de Nove Anos e Infância 21 7
Ensino de Nove Anos e Educação infantil 43 0
Ensino de Nove Anos e Pré Escola 10 2
Ensino fundamental e Infância 197 0
Ensino fundamental e Educação infantil 340 1
Ensino fundamental e Pré-Escola 188 1
Total 797 11
Fonte: elaborado pela autora a partir da consulta a Base de dados da BDTD/IBICT
Como podemos observar, o Quadro 2 também apresenta, nas buscas iniciais, maior
número de produções com as palavras-chaves “Ensino fundamental e Educação infantil”, e, da
mesma forma que nas buscas pela base de dados na CAPES, são as palavras-chaves “Ensino de
Nove Anos e Infância” que delimita as principais produções que se aproxima da presente
pesquisa.
Ao finalizar a seleção de ambas as bases, encontramos o total de 31 produções, que
por se tratar de um número alto de pesquisas, buscamos, a partir das leituras dos mesmos,
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selecionar somente algumas delas para apresentar nesse texto. Assim, selecionamos somente as
pesquisas que estivessem mais diretamente ligadas ao tema de nossa investigação a fim de
contribuir em nossas discussões e análises, como demonstra o Quadro 3.
Quadro 3. Seleção final das produções acadêmicas nos bancos de dados da CAPES e da
BDTD/IBICTI
Relação de Dissertações e Teses selecionadas na CAPES e BDTD/IBICT
Banco
de dados
Autor Título Área/Nível/
Instituição
Ano
01 BDTD/
IBICT
Angélica
Guedes Dantas
Ensino fundamental de nove anos no
Distrito Federal: reflexões sobre a
inserção de criança de seis anos no ensino
público e a atuação docente
Mestrado/Educação/
Universidade de
Brasília/UND
2009
02 BDTD/I
BICT
Sônia Santana
da Costa
Ensino fundamental de nove anos em
Goiânia: o lugar de criança de seis anos,
concepções e fundamentos sobre sua
educação.
Doutorado/Educação
/Universidade
Federal de Goiás
2009
03 BDTD/
IBICT
Celisa Carrara
Bonamigo
A inclusão da criança de seis anos no
ensino fundamental: narrativas de
práticas curriculares não instituídas.
Mestrado/Educação/
Universidade
Estadual de Campinas
2010
04 BDTD/
IBICT
Maria Renata
Alonso Mota
As crianças de seis anos no ensino
fundamental de nove anos e o
governamento da infância
Doutorado/Educação
/Universidade federal
do Rio Grande do Sul
2010
05 BDTD/
IBICT
Vanessa Ferraz
Almeida Neves
Tensões contemporânea no processo de
passagem de educação infantil para o
ensino fundamental: um estudo de caso.
Doutorado/Educação
/Universidade
Federal de Minas
Gerais/UFMG
2010
06 BDTD/
IBICT
Luciliana de
Oliveira Barros
Saberes docentes, alfabetização, respeito
à infância: a criança de seis anos no
ensino fundamental.
Mestrado/educação/
Universidade Federal
do Rio Grande do
Norte/FRGN
2011
07
CAPES
Renata Cleiton
Piacesi Correa
“Vamos brincar?”: Continuidades e
rupturas nas práticas curriculares da
educação infantil e dos anos iniciais do
ensino fundamental
Mestrado/Educação/Un
iversidade do Vale do
Itajaí
2011
08 CAPES Gabriela
Medeiros
Nogueira
A passagem da educação infantil para o 1º
ano no contexto do ensino fundamental de
nove anos: um estudo sobre alfabetização,
letramento e cultura lúdica.
Mestrado/Educação/Un
iversidade Federal de
Pelotas.
2011
09 CAPES Juliana de
Oliveira
Campos
A criança de seis anos no ensino
fundamental de 9 anos na perspectiva da
qualidade na educação infantil.
Mestrado/Educação/
Universidade de
Brasília
2011
10 CAPES Andreia
Manosso
Ensino fundamental de nove anos:
dimensões políticas e pedagógicas.
Mestrado/Educação/Un
iversidade Estadual de
2012
6
Samways Ponta Grossa
11 CAPES Viviane Chulek A educação infantil e o ensino
fundamental de nove anos nas vozes de
crianças e na organização do trabalho
pedagógico de duas instituições de
Curitiba-PR
Mestrado/Educação/Un
iversidade Federal do
Paraná
2012
12 CAPES
Andreia Soares
Delfin
A inclusão de crianças de 6 anos no ensino
fundamental: um estudo do brincar à luz
das políticas públicas de educação.
Mestrado/educação/Un
iversidade da cidade de
São Paulo
2012
13 CAPES Adriana
Zampieri
Martinati
Faz de conta que eu cresci: o processo de
transição da educação infantil para o
ensino fundamental.
Mestrado
Educação/Pontifícia
Universidade Católica
de Campinas
2012
14 CAPES Shelly Blecher
Rabinovich
A articulação da educação infantil com o
ensino fundamental: a voz das crianças,
dos professores e da família em relação
ao ingresso no 1º ano
Doutorado/Educação/
Universidade de São
Paulo
2012
15 BDTD/
IBICT
Keila Hellen
Barbato
Marcondes
Continuidades e descontinuidades na
transição da educação infantil para o
ensino fundamental no contexto de nove
anos.
Doutorado/Educação
/Universidade
Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho
2012
16 BDTD/
IBICT
Rosalva de
Cassia Rita
Drummond
Educação infantil- ensino fundamental:
possibilidades de produções curriculares
no entre- lugar.
Mestrado/Educação/
Universidade do
estado do Rio de
Janeiro
2014
17 BDTD/
IBICT
Cinthia Votto
Fernandes
A identidade da pré-escola: entre a
transição para o ensino fundamental e a
obrigatoriedade de frequência.
Doutorado/Educação
/Universidade
Federal do Rio Grande
do Sul/UFRGS
2014
Fonte: Base de dados da CAPES e da BDTD/IBICTI
Após a identificação final das produções, com base nas leituras dos trabalhos,
contabilizamos dezessete produções, das quais constatamos maior incidência de publicações no
ano de 2012, seguido de 2011, e nenhuma pesquisa no ano de 2013. É possível perceber também
que a localização do maior número de produções foi no banco da Capes.
A partir da seleção final dos materiais, procuramos identificar também, em que
regiões geográficas havia maior incidência de publicações, como demonstra o Quadro 4.
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Quadro 4. Distribuição geográfica das produções acadêmicas selecionadas
Região Localização/Estado Quantidade de produções
SUL Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná 6
SUDESTE São Paulo, Rio de janeiro 6
CENTRO-OESTE Goiás 4
NORDESTE Rio Grande do Norte 1
NORTE ------- 0
Total 07 17
Fonte: Elaboração da pesquisadora, 2016
O Quadro quatro mostra a distribuição de trabalhos publicados por regiões
geográficas das instituições de Pós-Graduação em que foram produzidas. Com isso, constatamos
que, mais da metade das produções selecionadas concentram-se nas regiões sul e sudeste do
Brasil, sendo seis em cada uma delas. Na região centro-oeste localizamos quatro produções e, na
região nordeste, apenas uma produção, enquanto que na região norte, nenhum trabalho foi
selecionado, que tivesse alguma ligação direta com o presente estudo.
Dos dezessete trabalhos elencados, treze correspondem a dissertações de mestrado
e cinco a teses de doutorado. Sete pesquisas debruçaram-se sobre a transição da educação
infantil para o ensino fundamental de nove anos, abordando as atividades lúdicas, infância,
sentimentos e vivências das crianças nesse processo de transição.
Três pesquisas trataram da implantação do ensino fundamental de nove anos e sua
efetivação, com foco na proposta curricular do primeiro ano do ensino fundamental em
articulação com a educação infantil, com crianças de cinco e seis anos de idade ingressantes
nesse nível de ensino, em diferentes municípios e instituições do Brasil.
Com referência as metodologias utilizadas nas pesquisas, evidenciamos uma
diversidade de instrumentos utilizados: pesquisa etnográfica, micro etnográfico, estudo de caso,
observação participante em instituições de educação infantil e ensino fundamental, observação
de encontro de professores, pesquisa bibliográfica e documental, entrevistas semiestruturadas
ou questionários com professores, coordenadores pedagógicos da educação infantil e ensino
fundamental, com crianças, direção de escolas e famílias (pais ou responsáveis).
A seguir, as pesquisas serão apresentadas individualmente, iniciando pelo ano de
publicação mais antigo para uma melhor compreensão e leitura.
Dantas (2009), em sua pesquisa investigou a ampliação do ensino fundamental de
nove anos no Distrito Federal, tendo como foco a atuação docente com a inserção das crianças de
seis anos nesse nível de ensino. A pesquisa teve como objetivo de traçar alegações para a
ressignificação do ensino fundamental de nove anos e para a formação continuada dos
professores. A metodologia utilizada pela autora foi a pesquisa qualitativa, com estudo micro
etnográfico em classes de primeiro ano de duas escolas da rede pública. A coleta de dados foi
feita através da imersão no cotidiano escolar, observações em sala de aula e extraclasse, registro
em vídeos das sequências interativas e entrevistas semiestruturadas com as professoras. Dantas
(2009) verificou em seu estudo que muito pouco ainda se sabe e são muitas as dúvidas e
preocupações sobre a implantação do ensino fundamental de nove anos. Salienta a necessidade
da formação continuada dos professores: “não apenas vislumbrando a mudança estrutural, mas
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que represente um primeiro passo para repensar toda sua estrutura, mas objetivando uma
escola de qualidade” (DANTAS 2009, p.118).
A pesquisa de Costa (2009), também foi do tipo etnográfico fundamentado no
método materialista histórico-dialético e com abordagem sócio histórica. A autora objetivou
investigar o lugar da criança de seis anos no Ensino Fundamental de nove anos em uma classe de
primeiro ano em uma escola da rede municipal de Goiânia, durante todas as tardes dos meses de
agosto a dezembro de 2007 e de forma esporádica em 2008. Os procedimentos utilizados pela
autora foram observações registradas no diário de campo, entrevistas, conversas informais,
filmagens e análise de documentos. Ressalta que, por meio da pesquisa realizada, percebeu que a
transição das crianças da Educação Infantil para o ensino fundamental não está pautada em uma
proposta pensada e articulada para atendê-las em suas especificidades e peculiaridades.
Verificou também que não houve modificações significativas na estrutura física da escola para
atender as crianças de seis anos. Salienta ainda, que essas crianças têm buscado encontrar seu
lugar, para tanto é necessário que sejam protegidas em seus direitos e é preciso lutar para que a
infância seja reconhecida e valorizada. Costa (2009) defende que esse papel é de
responsabilidade do Estado em suas múltiplas instâncias, da escola e da sociedade embora tenha
sido defendido por vários pesquisadores e alguns professores da escola pesquisada, que as
crianças de seis anos devem estar vinculadas à Educação infantil e que não devem ter sua
alfabetização antecipada. Sendo que alguns teóricos e professores da escola pesquisada afirmam
que a criança deve permanecer no Ensino Fundamental e alfabetizada em seu primeiro ano
escolar. A autora, assim, evidencia a importância de garantir condições de trabalho e de
formação adequadas para os professores para estarem preparados para o atendimento às
crianças dessa faixa etária. A autora propõe que a escola e a rede municipal de ensino, estabeleça
um debate crítico e democrático com o objetivo de analisar, avaliar e garantir um espaço
educativo que vá ao encontro dos desejos e necessidades dessas crianças e que possa propiciar-
lhe aprendizagem significativa, lúdica, que favoreça o seu desenvolvimento.
A pesquisa realizada por Bonamigo (2010), a partir das considerações da Lei 11.274,
que institui o Ensino Fundamental de nove anos, delineou sua questão de pesquisa, investigando
o currículo que estava sendo produzido por meio das diferentes narrativas de políticas, de
professores e sua própria como coordenadora do grupo de professora, para as crianças de seis
anos que frequentam o ensino fundamental, a partir do viés da cultura. A pesquisa foi realizada
com quinze professoras responsáveis pelo primeiro ano do ensino fundamental no município de
Várzea Paulista, no ano de 2008, utilizou-se da narrativa como princípio metodológico. Por meio
dos depoimentos das professoras, todos gravados em áudio e transcritos para a análise das falas,
a autora conclui que apesar do discurso da garantia do direito à infância permear as propostas
no âmbito teórico, a organização do trabalho e as atividades propostas mostram a infância
negada.
Para Bonamigo (2010, p. 155):
Talvez as mudanças provocadas pela inclusão das crianças de seis anos no Ensino Fundamental, possam significar uma retomada do que já se sabe sobre a criança e a infância, assumindo suas características singulares e também sobre o real significado da escola. Talvez seja uma oportunidade para que os praticantes do Currículo nas escolas entendam que a construção do conhecimento para as crianças se dá a partir do brincar, o que torna a escola, também, um lugar alegre que possibilite que a infância seja vivida em sua plenitude por todos que estão nela.
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Mota (2010), buscou discutir como o ensino de nove anos está inserido em práticas
de governamento de infância e como essas práticas possibilitam outro lugar escolar para as
crianças de seis anos de idade. Utilizou-se de alguns documentos que tratam da política do
ensino fundamental de nove anos elaborados pelo ministério da educação e secretaria da
educação do Rio Grande do Sul e também matérias jornalísticas que estavam sendo publicadas
sobre o assunto no período mais intenso da implementação do ensino fundamental de nove anos
entre os 2005 e 2008. Mota (2010), em sua pesquisa mostra que um novo sujeito escolar de seis
anos está sendo pensado e produzido a partir da implementação política de ensino fundamental
de nove anos. As crianças de seis anos passam a ter maior visibilidade no ensino fundamental e
tal visibilidade passa pela definição de um novo lugar para elas. Um lugar que não será o mesmo
da educação infantil, mas que também precisa ter uma lógica diferente da primeira série do
antigo ensino fundamental de oito anos. Ao fazer uso da governamentalidade como grade de
análise a autora pode compreender que a política de ensino fundamental de nove anos pode
estar contribuindo para um esmaecimento de fronteiras entre a educação infantil e o ensino
fundamental. Por um lado, há todo um discurso de afirmação da infância e da brincadeira nos
anos iniciais do ensino fundamental circulando nos documentos que trata dessa política
educacional, há outros discursos que vão em outras direções voltados para uma escolarização
precoce das crianças de seis anos. Conclui que a política de ensino fundamental, assim como
outras políticas educacionais, pode ser compreendida como ações do Estado em prol de um
melhor governamento da população.
Neves (2010), em sua pesquisa teve como tema a passagem da educação infantil
para ensino fundamental. Realizou uma pesquisa de abordagem etnográfica, a partir da
observação do cotidiano de uma turma no final da educação infantil e de uma turma no início do
ensino fundamental para a qual algumas crianças da turma de educação infantil foram
encaminhadas. Por meio da coleta de dados com observação participante, anotação em diário de
campo, gravações em áudio e vídeo, entrevista com as crianças e professoras e observações de
reuniões pedagógicas, a autora constatou que a passagem da educação infantil para o ensino
fundamental demandou um grande esforço de adaptação por parte das crianças pesquisadas,
uma vez que vivenciaram práticas educativas nas duas instituições muito distantes uma da
outra. Segundo Neves (2010), na educação infantil, a pesquisa evidenciou que o espaço e o
tempo são privilegiados com as brincadeiras e as rodas de conversa. Na escola de ensino
fundamental, por outro lado, há uma redução em relação aos usos do tempo e do espaço
institucional, bem como uma redução na variedade e quantidade dos artefatos culturais
disponíveis na sala de aula. A autora verificou também que as práticas educativas na educação
infantil e ensino fundamental têm como centralidade a brincadeira e o letramento, ambos
situados diferencialmente nos dois segmentos. Para Neves (2010) a falta de diálogo presente na
organização do sistema educacional brasileiro em relação aos dois primeiros níveis da educação
básica refletiu-se no processo de desencontros vivenciados pelas crianças pesquisadas na
passagem da educação infantil para o ensino fundamental. Sendo assim, a pesquisa evidenciou a
necessidade de uma maior integração entre o brincar e o letramento nas práticas pedagógicas da
educação infantil e do ensino fundamental de nove anos.
A pesquisa de Barros (2011) objetivou investigar saberes docentes requeridos do
professor para o desenvolvimento de uma prática pedagógica que perspective a apropriação da
língua escrita, pela criança de seis anos - recém ingressa no ensino fundamental, sem
desrespeitar sua condição de ser criança. O trabalho foi realizado no âmbito da abordagem
qualitativa de pesquisa de um estudo de caso em duas instituições públicas na cidade de Natal,
Escola Municipal Emílio Ramos e Centro Municipal de Educação Infantil Marise Paiva entre os
10
anos de 2007 a 2009, sendo sujeitos da pesquisa quatro professoras entre 37 e 47 anos com
experiência docente no ensino fundamental e educação infantil. Ressaltando que das professoras
da Escola Municipal Emílio Ramos, uma desempenhava seu trabalho como vice-diretora e outra
como coordenadora pedagógica. Das professoras do Centro de Educação Infantil Marise Paiva,
uma atuava diretamente em sala com as crianças e a outra na coordenação pedagógica. A autora,
por meio de quinze visitas feitas as instituições, coletou os dados da pesquisa, utilizando-se da
análise documental, questionários e entrevista semiestruturada, além da observação de alguns
aspectos definidos da estruturação e funcionamento das instituições. Barros (2011) em sua
pesquisa percebeu a grande preocupação que as escolas investigadas têm com o
desenvolvimento e a aprendizagem, principalmente quanto a alfabetização das crianças.
Ressalta ainda que, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas no cotidiano da atividade
docente e na realidade da escola pública, as professoras aparentam satisfação em fazerem parte
destas escolas, bem como do trabalho que realizam com essas crianças, respeitando suas
peculiaridades. A autora afirma, com base no que as professoras revelaram, que os saberes
docentes começam a se delinear a partir da formação inicial e se consolidam no decorrer do
exercício da profissão, por meio da formação continuada. Com base na pesquisa realizada a
autora avalia que a alfabetização é um processo bem peculiar para o docente e as crianças, que a
língua escrita por si só já é um objeto de estudo bem complexo. Enfatiza o quanto é importante
ouvir as crianças, dar-lhe voz, respeitando suas expectativas em relação à escola. Reafirma o
quanto é importante intensificar o diálogo entre ensino fundamental e educação infantil,
independentemente de sua estruturação política-administrativa, características de um trabalho
pedagógico voltado às necessidades das crianças que atendem.
Correa (2011), em seu estudo, teve como objetivo identificar por meio de análise de
atividades compreendidas como brincadeiras, as continuidades e rupturas nas práticas
curriculares do último ano da educação infantil e do primeiro ano do ensino fundamental. A
coleta dos dados foi realizada a partir dos registros das atividades realizadas pelas crianças de
cinco anos que faziam parte do último ano da Educação Infantil, e das crianças de seis anos que
frequentavam o primeiro ano do ensino Fundamental de nove anos, no período de fevereiro a
dezembro de 2009. A concepção do brincar foi o elemento utilizado para identificar no material
analisado os pontos comuns e divergentes. A autora em sua pesquisa evidenciou que o brincar é
muito mais respeitado na educação infantil enquanto no ensino fundamental ele é realizado de
forma direcionada pelo professor e com muita ênfase nos conteúdos curriculares obrigatórios.
Correa (2011) ressalta a que a pesquisa possibilitou a reflexão sobre os processos que
aproximam e distanciam os currículos da educação infantil e do ensino fundamental, colocando
em pauta propostas curriculares que buscam integrar a infância, assegurando às crianças o
direito de brincar e aprender. Segundo a autora, na analise das atividades ficou evidenciado que
a organização curricular proposta pela escola quase não disponibiliza tempo e espaço para as
brincadeiras, sendo necessário repensar e buscar estratégias que valorizem essa questão.
Nogueira (2011) buscou em seu estudo investigar a passagem das crianças da
educação infantil para o primeiro ano do ensino fundamental de nove anos com o objetivo de
identificar situações de alfabetização, práticas e eventos de letramento, cultura lúdica e cultura
de pares, vividos por um grupo de crianças e suas professoras no cotidiano da última etapa da
educação infantil em 2009 e o primeiro ano do Ensino Fundamental de nove anos em 2010. A
autora, ao concluir a análise dos dados da pesquisa por meio do diário de campo, fotografias e
filmagens de situações cotidianas em sala e outros materiais, percebeu que são muitas as
concepções de alfabetização, letramento, cultura lúdica e infância que perpassam o cotidiano da
educação infantil e do primeiro ano do ensino fundamental, evidenciando a falta de uma política
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local mais organizada que efetive as políticas mais amplas, fazendo da escola um espaço
acolhedor dos interesses e das motivações das crianças. Nogueira (2011) ressalta que a
ampliação do ensino fundamental de nove anos não contribuiu de forma significativa pois falta
articulação entre a educação infantil e ensino fundamental. Enquanto a educação infantil revela
uma proposta sensível às manifestações e anseios das crianças, compromissada com formação
de leitores e autores competentes envolvendo situações reais de leitura e escrita por meio dos
aspectos da cultura lúdica, no primeiro ano do ensino fundamental prevalece a alfabetização
mecânica, com atividades não atraentes aos olhos das crianças.
Campos (2011), em seu estudo, buscou investigar, por meio do olhar das crianças
de seis anos, como a qualidade, na perspectiva da educação infantil, está sendo construída no
primeiro ano do ensino fundamental de nove anos. A pesquisa qualitativa foi realizada em uma
escola de ensino fundamental da rede pública do Distrito Federal com 25 crianças que
frequentavam o primeiro ano do ensino fundamental de nove anos, nos dois meses finais do
semestre do ano letivo de 2011. Os procedimentos utilizados pela autora por meio das
observações participativas, diálogos temáticos e a produção de uma carta coletiva foram
norteados pelos indicadores de qualidade: cuidados, brincar, espaços educativos, relações e
propostas de atividades diversificadas. A autora relata que na carta coletiva realizada pelas
crianças, deixam evidente que possuem um olhar positivo da escola, mas que na educação
infantil existem aspectos importantes para elas, assim como a brincadeira e que não são
considerados no ensino fundamental. Campos (2011) aponta para a necessidade de novas
reflexões acerca do termo adaptação, por ser entendida como ambientar-se ao lugar ou situação,
sendo que durante a convivência com as crianças de seis anos, mostraram-se insatisfeitas com
muitas situações vivenciadas por elas. Campos (2011, p.77), conclui que: “[...] o termo adaptação
não é o mais adequado para estas crianças, já que elas, ativamente contribuem para a produção e
mudança cultural”. Mas para isso, elas precisam ser ouvidas de modo a entender a compreensão
que elas possuem da realidade.
Samways (2012) buscou entender a política educacional de ampliação do ensino
fundamental relacionando-a com as práticas pedagógicas desenvolvidas com crianças de seis
anos do primeiro ano do ensino fundamental de nove anos. Samways (2012) indica que a
pesquisa realizada com as crianças e professoras do primeiro ano do ensino fundamental,
pedagogos e diretores das escolas selecionadas, por meio da observação participante com
registro em diário de bordo e questionários e as orientações emanadas dos órgãos oficiais como
o MEC e o SEED/PR, possibilitaram identificar concepções de infância, criança e escolarização
que permeiam os discursos e as práticas das professoras. A autora afirma que as práticas
pedagógicas em determinados campos educacionais não estão em consonância com as
singularidades da faixa etária do primeiro ano do ensino fundamental. Conclui que as dúvidas,
desconfortos, inseguranças que permeavam a ampliação do ensino fundamental de nove anos
ainda se fazem presentes no cotidiano, principalmente, das professoras dos primeiros anos do
ensino fundamental.
Chulek (2012) desenvolveu uma pesquisa qualitativa, de abordagem documental
com abordagem etnográfica, na perspectiva de descrever os pontos de vista, apropriações,
percepções e práticas de crianças que frequentavam a última etapa da educação infantil e o
primeiro ano do Ensino Fundamental em duas instituições da Rede Pública Municipal da
cidade de Curitiba-PR. O tempo, o espaço, a alfabetização e o letramento, o currículo e a
construção do sujeito aluno, foram as categorias articuladoras para a análise dos dados
coletados por meio de observações participantes e de entrevistas coletivas com as crianças.
Segundo a autora essas categorias foram decisivas para perceber que a educação infantil e o
12
ensino fundamental distanciam-se por seus objetivos e normas que fazem parte da cultura
dessas instituições e, aproximam-se por seus sujeitos, que, mesmo em segmentos diferentes
continuam crianças e buscam meios para brincar, interagir, criar e recriar, fazer coisas que são
especificidades da infância. Ressalta ainda que, o ingresso das crianças de seis anos no ensino
fundamental de nove anos não trouxe ressignificações dos espaços levando em consideração a
infância, assim como indicaram os documentos que orientam a ampliação do ensino
fundamental. Chuleck (2012, p. 154) aponta para:
[...] a necessidade de que Educação Infantil e Ensino Fundamental possam ser organizados pautados na perspectiva de continuidade e não de ruptura. Falo de uma continuidade que mesmo assegurando os objetivos distintos das duas etapas de ensino possam articular-se considerando as crianças como sujeitos em seu próprio processo de escolarização, que essas instituições possam ser por excelência o lugar das crianças e o lugar onde elas possam viver a infância plenamente.
A autora conclui sua pesquisa reafirmando o quanto é importante às crianças serem
ouvidas e suas falas legitimadas, para que a escola possa se construir para e com elas.
A pesquisa de Delfin (2012) buscou desenvolver estudos sobre o brincar livre e
espontâneo, geradores de prazer e que corroboram para a aprendizagem das crianças do
primeiro ano do ensino fundamental de nove anos. A autora realizou uma pesquisa de natureza
qualitativa, tendo como procedimento metodológico a pesquisa de campo por alguns dias no
primeiro ano do ensino fundamental, aplicação de questionários semiestruturado com
professores para a coleta de informações sobre o brincar da criança de seis anos que estão
incluídas no ensino fundamental de nove anos, pesquisa exploratória bibliográfica em livros,
artigos científicos e cartilhas sobre a orientação do ensino fundamental de nove anos, além disso
as leis, pareceres e resoluções. Delfin (2012) em seu estudo constatou que os documentos
orientadores do MEC e a pesquisa de campo apontam que o brincar contribui para o
desenvolvimento e a expressão das crianças nos aspectos físicos, emocionais, afetivos,
cognitivos, linguísticos e sociais, como um ser total e indivisível. Observou em sua pesquisa que
os professores entendem que o lúdico é importante, porém falta experiência e método para
estimular, acompanhar e participar das brincadeiras infantis. Preocupam-se com a alfabetização
pela pressão dos pais, em cumprir um currículo fechado sem levar em consideração à
especificidade de cada faixa etária, contribuindo para que o ensino se torne somente teórico e
não prazeroso para as crianças. Para a autora é preciso evitar a cisão entre o brincar e o
aprender. Brincando a criança aprende, relaxa, cria, constrói, imagina, pensa, o que a prepara
para realizar melhor os trabalhos em sala. A autora conclui que a criança precisa viver sua
infância, sem que a exigência da alfabetização distorça e restrinja seu tempo e espaço de brincar.
Ressalta ainda que as políticas públicas de educação devem investir na formação continuada e
instituir a disciplina do lúdico no primeiro ano do ensino fundamental de nove anos ao lado de
Códigos e Lógica, Ciências Naturais e ouras disciplinas.
Martinati (2012), em sua pesquisa, buscou analisar a passagem das crianças da
educação infantil para o ensino fundamental de nove anos, entendendo o ponto de vista das
crianças sobre o seu cotidiano escolar, por meio de análise documental, observação participante,
questionários com os pais, entrevista semiestruturadas com as professoras, entrevista com os
alunos e produção de desenhos. A pesquisa de natureza qualitativa foi realizada com um grupo
de quinze crianças de cinco e seis anos de idade de uma instituição municipal de Educação
13
Infantil, no último semestre de 2011, dando continuidade a pesquisa no primeiro semestre no
ano de 2012 com dez dessas crianças, que passaram a frequentar o primeiro ano do ensino
fundamental de nove anos, com idade entre seis e sete anos. A pesquisadora constatou que a
ampliação do ensino de nove anos ocorreu sem as adaptações necessárias e o respaldo
adequado, ausências de referências recíprocas sobre a passagem da educação infantil para o
ensino fundamental de nove anos. Salienta que, o foco pedagógico no ensino fundamental é a
alfabetização e as atividades lúdicas são marginalizadas. Alerta que as análises dos micros
episódios mostraram que há um empobrecimento na capacidade do brincar das crianças, em
nenhum momento interagiram entre si, desenvolvendo narrativas imaginárias, que antes era
evidenciada na educação infantil. Martinati (2012) conclui que há grande necessidade de ações
articuladoras entre as esferas federais, estaduais e municipais, além, da comunidade escolar e
local e investimento na formação inicial e continuada de docentes, além de oferta de recursos
materiais que possam contemplar as especificidades das crianças de seis anos ingressantes no
ensino fundamental de nove anos.
Rabinovich (2012) realizou uma pesquisa de natureza qualitativa de cunho
etnográfico, tendo o ambiente da instituição de educação infantil como fonte direta de coleta de
dados. Num primeiro momento a pesquisa se deu em uma instituição municipal de educação
infantil, no período de agosto a dezembro de 2008, com observação participante em duas turmas
com entrevistas semiestruturadas com as crianças das duas turmas, com as professoras, alguns
pais, coordenação e direção da escola. A pesquisa continua em uma escola estadual de ensino
fundamental no período de fevereiro a julho de 2009, utilizando dos mesmos procedimentos da
instituição de educação infantil. A autora teve como objetivo conhecer as expectativas das
crianças, dos pais e dos professores em relação ao processo de implantação do ensino
fundamental de nove anos, verificando como as instituições educacionais estavam se
organizando para receber as crianças de seis anos. Em sua pesquisa a autora percebeu a grande
carência de estudos que auxiliassem professores e gestores da rede municipal e estadual a
lidarem com a nova configuração do ensino fundamental. Constatou que a necessária integração
entre a educação infantil e o ensino fundamental não estava acontecendo com a implantação,
mas que, da forma como estava acontecendo, poderia levar a uma maior dificuldade na
compreensão da natureza e da especificidade de cada grupo etário, acirrando as dificuldades de
diálogos entre os profissionais desses dois segmentos da educação básica. Rabinovich (2012),
afirma que o maior desafio da escola é ouvir a voz das crianças, transformar o conteúdo daquilo
que expressam em ações efetivas que possam nortear a prática pedagógica para no primeiro ano
do ensino fundamental. Há grandes transformações a serem feitas e repensadas: os espaços
físicos adequados a crianças de seis anos, com brinquedos e materiais que possibilitem que o
processo de aprendizagem seja mais significativo, a reformulação das propostas pedagógicas, a
melhor preparação do corpo docente, famílias presentes no cotidiano escola, transformações
que respeitem a infância no ensino fundamental.
Na sua pesquisa Marcondes (2012), buscou compreender quais as continuidades e
descontinuidades presentes na organização e nas práticas pedagógicas das professoras, na
organização dos tempos, espaços e nas concepções sobre crianças e infância no momento de
transição da educação infantil para o ensino fundamental de nove anos e como estas são
vivenciadas e percebidas pelas crianças. A autora optou por uma pesquisa longitudinal,
acompanhando um grupo de treze crianças que durante o ano de 2009 frequentavam as últimas
etapas da Educação Infantil e no ano de 2010 estavam nos primeiros e segundos anos do Ensino
Fundamental de nove anos e entrevista com responsáveis e professores. Marcondes (2012), ao
analisar os espaços em sua pesquisa, evidenciou que o ambiente físico na educação infantil era
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mais adaptado, quanto aos imobiliários, espaços livres com brinquedos dentro e fora da sala,
para atender as crianças, diferentemente do que foi observado na escola de ensino fundamental,
fazendo com que as crianças fossem obrigadas a se adaptar a um tempo maior em sala. Ressalta
ainda que os reflexos da política educacional e a formação acadêmica das professoras e suas
concepções sobre o que é ser criança, sobre a função da educação infantil e ensino fundamental
de nove anos e a compreensão do processo de alfabetização em cada uma das etapas da
educação básica, influenciavam muito na forma de utilizar os ambientes das instituições
pesquisadas.
Quanto ao brincar a autora conclui que na educação infantil ganha grande
importância e que há tempo e espaço reservados diariamente para a realização dessas
atividades, sendo que no ensino fundamental o brincar era tido como um contraponto de
trabalho. Marcondes (2012) deixa claro a urgência de ambos os segmentos, educação infantil e
ensino fundamental, pensarem em estratégias que garantam a continuidade no processo de
transição entre estes ambientes, propondo uma nova forma de conceber as crianças, que a
inserção no ensino fundamental não elimina as peculiaridades da infância.
Drummond (2014), em sua pesquisa analisou as propostas curriculares que eram
produzidas na Educação Infantil e Ensino Fundamental e que sentidos se hegemonizavam na
produção dessas propostas. A pesquisadora optou por investigar seu próprio campo de trabalho
a escola de educação básica onde lecionava há vinte anos e no momento da pesquisa atuando
como coordenadora pedagógica, observando os encontros dos professores da educação infantil e
ensino fundamental. Drummond (20014) buscou como recurso o registro em caderno de campo,
entrevista coletiva como estratégia metodológica, abordando também o lugar da pesquisadora,
suas dificuldades, medos e incertezas como condição na construção da pesquisa. Conforme a
autora, a brincadeira e a necessidade do lúdico sinalizam um lugar que parece não ser bem-
vindo ao processo de construção dos conhecimentos no ensino fundamental, mesmo a
preocupação com infância estando presente em muitos discursos de professores. A autora
conclui que a compreensão do currículo como prática discursiva permitiu entender que os
sujeitos envolvidos são meros receptores, que os movimentos realizados pela escola, ainda que
de formas contraditórias, sinalizam que o currículo não é fixo, engessado, mas em disputa, e que
essa disputa não se dá somente entre professores e suas diferentes concepções de educação, mas
também entre as crianças, espaço e tempo, pais e escola na perspectiva de considerar a infância.
Fernandes (2014) buscou investigar quais os significados presentes nas narrativas
dos atores nos processos educativos sobre a pré-escola, incluindo a concepção de transição do
Ensino Fundamental, bem como estes definem a identidade da pré-escola, diante do novo
ordenamento legal da obrigatoriedade da frequência. A investigação foi realizada num município
do interior do Rio Grande do Sul e contou com a participação de 17 adultos, dentre profissionais
da educação e representantes das famílias e 2 grupos de crianças, um grupo que frequentava o
primeiro ano do Ensino Fundamental e outro grupo que frequentava a pré-escola. Os dados
foram coletados por meio de entrevistas, fotografias de espaços e documentos administrativos. A
autora percebeu em sua pesquisa que na pré-escola as atividades são mecânicas e sem
significados para as crianças, o que ocorre é uma legitimação da pré escolarização que dão
ênfase a aprendizagem de leitura e escrita, como também matemática e conhecimentos escolares
presentes no currículo do ensino fundamental, apostando no sucesso escolar das crianças nas
etapas seguintes. É preciso que as interações e brincadeiras sejam os eixos norteadores da pré-
escola. Porém, a autora evidenciou no discurso de algumas famílias que, apesar de
reconhecerem a pré-escola como preparatória, ressaltaram a possibilidade de uma pré-escola de
encontros, de possibilidades de existências de outras identidades.
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A partir do levantamento de produções realizadas podemos verificar que boa parte
dos estudos realizados indicam uma necessidade de investimentos na formação continuada dos
professores da educação infantil, bem como, dos professores dos anos iniciais do ensino
fundamental. Outros trabalhos apontam que no processo de transição, das crianças da educação
infantil para o primeiro ano do ensino fundamental, tem ocorrido constantes rupturas, o que
acaba prejudicando o próprio processo educacional.
Conforme o levantamento realizado acerca da temática sobre o ingresso de crianças
de seis anos no ensino fundamental, verificamos um número bastante expressivo de pesquisas.
Entretanto, mesmo considerando a expressão do material selecionado, observamos que dentre
as pesquisas já realizadas ainda não foi realizado o cruzamento de três dimensões que
pretendemos aprofundar em nossa pesquisa. Ou seja, foi possível observar, a partir da seleção
realizada, que a articulação do que os documentos indicam sobre o tema, com o que as próprias
crianças indicam e, com a associação do conceito de inserção que é utilizado na educação
infantil, ainda pode ser um contributo importante para aprofundamento da temática.
A partir desses três pontos, é que nos debruçaremos em nossa pesquisa,
considerando que essa triangulação no processo de ingresso das crianças de seis anos, será
fundamental para aprofundar o conceito de inserção, questão que merece nossa atenção nessa
pesquisa.
Vale destacar que a seleção de material nos ajuda a compreender a inserção da
crianças de seis anos no ensino fundamental e da transição da educação infantil para o ensino
fundamental, embora não se compreenda profundamente essa transição, mesmo assim,
contribui para a nossa compreensão do problema de pesquisa, bem como de ampliar as
discussões em torno da temática.
Considerações finais
A presente sistematização desse levantamento de produções contribuiu
significativamente para repensar o meu projeto de pesquisa: A inserção das crianças de seis
anos no ensino fundamental de nove anos: um olhar sobre a organização dos tempos, espaços e
materiais e a proposição das atividades.
Nessa direção, além da apreensão que este estudo possibilitou acerca dos
referenciais selecionados e categorias presentes nas produções, contribuiu para aprofundar
sobre as questões que influenciaram e continuam influenciando a forma como o Brasil vem
implementando políticas educacionais no contexto da educação básica, na organização das
escolas e sua função social. Em relação as políticas que envolve diretamente a infância percebe-
se que pouco se tem preocupado com o desenvolvimento da própria infância, pois as leis são
estabelecidas, como a que ampliou o ensino de oito para nove anos, sem que houvesse uma
grande transformação nas escolas que passaram a receber crianças antes da educação infantil
agora dos anos iniciais do ensino fundamental, para ter escolarização especificamente.
Existem muitos documentos políticos que regulamentam essa alteração, mas o que
de fato mudou? O currículo? O número de aluno no ensino fundamental? A idade obrigatória
para estar nos anos iniciais do ensino fundamental? Quantos questionamentos se podem fazer,
vários com certeza, mas o que nos preocupa de fato, é o como a infância desses sujeitos está
sendo levada como prioridade e com adequações realmente necessárias.
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Contudo, nossa preocupação está na forma como está sendo definida e
implementada as políticas educacionais, principalmente, as que se referem a infância e os seus
reflexos na formação escolar dos sujeitos sociais.
Esse levantamento de produções permitiu pensar de modo mais profundo, sobre
a temática, oportunizou a experiência de investigação e aproximação do sistema e processos do
qual o conhecimento cientifico faz parte.
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