Capítulo 9
Informação, Cognição e Educação mediadas pela Biblioteca Virtual
A Biblioteca on line de Ciências da Comunicação (BOCC) constitui um paradigma científico de comunicação digital, que nos instiga a colocá-la em perspectiva para uma reflexão acerca do uso das plataformas numéricas aplicado à pesquisa no campo das Ciências da Comunicação e da Informação. Partimos do pressuposto que a utilização dos dispositivos informacionais, como a BOCC, contribui para revigorar a formação de profissionais qualificados, competência crítica, pragmatismo, consciência ético-política, ecológica e organizacional (a partir do compartilhamento da inteligência coletiva conectada). Simultaneamente, o exame da biblioteca portuguesa atualiza o intercâmbio entre as pesquisas brasileiras e européias, sob o signo da globalização, do pós-colonialismo e das interculturalidades.
Um estudo do site da BOCC, Biblioteca on line de Ciências da Comunicação,
construída na Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal é importante porque
abre espaço para o debate sobre o fenômeno sociocomunicacional no contexto da
modernização científica e tecnológica de Portugal, do Brasil (e dos povos lusófonos).
Ao mesmo tempo, coloca em evidência o campo das Ciências da Comunicação,
assegurando o estabelecimento de uma agenda de discussão sobre a produção de
conhecimento e suas ressonâncias nos domínios da vida econômica, social, política,
cultural. E inclui as preocupações com os temas da história, filosofia, linguagem,
tecnologia e meio ambiente; este último, ameaçado pela ação predatória industrial, tem-
se tornado passagem obrigatória no debate público.
Em suma, uma plataforma de Ciências da Comunicação como a BOCC
representa a oportunidade de reflexão sobre o papel social dos cientistas da
comunicação e a sua participação ativa na esfera pública.
Hoje nos aproximamos mais da idéia de “transparência na comunicação”,
particularmente no que concerne à visibilidade do trabalho teórico-metodológico dos
pesquisadores, principalmente devido às auto-estradas da informação que nos autorizam
o acesso à vasta e atualizada produção dos estudos na área.
A projeção das pesquisas no espaço público digital - propiciado pelas redes
sociotécnicas de informação científica - reaquece o ambiente comunicacional, gerando a
operacionalização de uma dinâmica mais vigorosa em sala de aula, no âmbito dos
estudos avançados, nos exercícios de capacitação, e além disso, promove a interação
entre a práxis teórica e o trabalho laboratorial; mas fundamentalmente lança uma ponte
que liga o trabalho dos profissionais do mercado e a experiência acadêmica.
As publicações disponibilizadas nos portais da internet, uma vez que se abre
para um público mais amplo e segmentado, funcionam como lócus privilegiado para se
avaliar as competências cognitivas dos pesquisadores e especialistas da área. Por um
lado, favorece uma apreciação do modus operandi do trabalho acadêmico, e por outro,
nos dá a conhecer as idéias e estratégias que norteiam o desempenho dos profissionais
do mercado em suas rotinas produtivas. Hoje, com a disseminação das redes sociais
abrem-se novas perspectivas para a publicização das idéias e práticas dos profissionais -
também fora do espaço acadêmico – o que favorece um debate mais pluralista.
Assim, a BOCC é importante na medida em que contempla os exercícios do
pensamento, discurso e ação comunicacionais, dos docentes, pesquisadores, gestores,
empresários, especialistas e outros profissionais na área, observando as interações entre
os atores advindos de cenários sociais, epistemológicos e institucionais diferentes.
Buscando enfatizar a importância da digitalização e compartilhamento das obras
científicas, voltamos nossas atenções para a experiência do portal da BOCC - Biblioteca
on line de Ciências da Comunicação. Trata-se de uma plataforma virtual criada em
1999, por professor António Fidalgo, e hoje (2011) atua sob a coordenação de Paulo
Serra, vinculado ao LABCOM, da Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal.
A BOCC se mostra pertinente como objeto de análise, em primeiro lugar porque
atualiza o arquétipo da “árvore do conhecimento”, acolhendo textos, saberes, discursos
atuais e extemporâneos, mas sobretudo propiciadores de novas inteligências e
conectividades. Depois porque reúne linguagens, idiomas e sotaques de países distintos,
que, apesar das suas diferenças geográficas e históricas, possuem afinidades eletivas
comuns, irrigadas pelo ethos da latinidade. E finalmente, porque favorece o intercâmbio
entre as gramáticas da tradição e as sintaxes da (pos)modernidade.
Brasileiros e portugueses encontram assim a oportunidade para a
territorialização de um novo espaço público virtual, em que as competências teóricas,
críticas, analíticas, pragmáticas podem ser compartilhadas. Os produtos virtuais,
disponíveis nas redes digitais de comunicação - não podemos esquecer - são acessados
por usuários-e-leitores-cidadãos de todas as partes do mundo luso-brasileiro, que não
cessam de irrigar e realimentar coletivamente essa grande árvore do conhecimento.
No contexto da globalização da economia, gerenciado pelas megacorporações
transnacionais e pelo modelo norte-americano, em que os fluxos de informação são
codificados hegemonicamente no idioma inglês, a biblioteca virtual portuguesa
demonstra o vigor de um procedimento tecnossocial avançado. É transdisciplinar, pós-
colonialista e multicultural, divulgando artigos científicos em português, espanhol e
outros idiomas latinos; o portal da UBI não apenas é bastante atualizado, como também
mantém um intercâmbio permanente com outras instituições científicas internacionais.
O trabalho realizado pelos gestores, autores e operadores desta biblioteca digital
luso-brasileira é pertinente para se avaliar as estratégias do desenvolvimento científico:
no caso do Brasil, é oportuno para debatermos os programas cooperativos de
comunicação, educação e formação profissional face à modernização tecnológica e
informatização social, e no caso de Portugal, para uma discussão dos modos de inserção
da comunicação científica digital nos fóruns acadêmicos e nos mercados globais da
Comunidade Européia, em plena crise socioeconômica; em última instância, tudo isso
contabilizando os paradoxos e complexidades da chamada “era da informação”,
assegura uma grande evolução no campo da comunicação em idioma luso-brasileiro.
2. O design e a aura da Biblioteca virtual: a iconologia do monge eletrônico
Miramos a biblioteca virtual como uma grande incubadora de idéias e um
enérgico programa de ação no que respeita às temáticas da comunicação, processos
midiáticos e mediações sociais; percebemos logo de saída como a digitalização das
obras científicas de autores clássicos e contemporâneos tem favorecido um intercâmbio
dinâmico e profícuo entre as Escolas de Comunicação do Brasil e de Portugal.
Como estratégia metodológica, como primeiro passo da investigação,
apresentamos uma descrição sucinta do portal da BOCC, e desde uma primeira
observação do seu formato, desenho e configuração, já podemos entender a idéia, a
intencionalidade e o resultado desta experiência, empenhada em otimizar o trabalho em
Comunicação, que começa colocando em prática uma teoria do webjornalismo e se
amplia exercitando os saberes que informam, igualmente, as habilitações de
Publicidade, Editoração, Relações Públicas, Radialismo, Cinema, Televisão.
Ao abrirmos a página da BOCC deparamos com a aparição, na tela do
computador, da gravura de um monge, eremita, um hermeneuta lendo um manuscrito
numa biblioteca medieval. Lá num cantinho, no silêncio da clausura, através do livro, o
monge desvela os mistérios do mundo à luz das velas.
Essa iconicidade ancestral funciona como anunciação metonímica de uma
história da comunicação, que instiga à pesquisa empírica, análise e reflexão.
Para além de suas referências filosóficas, religiosas, laicas, seculares, históricas,
o monge representa o arquétipo da serenidade, iluminação e sabedoria; sua figura
silenciosa, discreta e reflexiva atua como um elixir vigoroso em nossa era de
exacerbado narcisismo, hedonismo, aceleração e velocidade.
Pressentimos então as ressonâncias da filosofia de Walter Benjamin e a sua
compreensão do presente atualizando as emanações luminosas do passado: o monge, o
livro, o mosteiro sinalizam aqui os indícios de uma sabedoria antiga, que se atualiza e se
revigora no imaginário eletrônico do ciberespaço, gerando empoderamento coletivo.
A página digital - aberta na telinha de plasma - sensorialmente nos instiga a
avançar, a percorrer a espessura da sua cartografia, a agir como quem se dirige a um
oráculo, formulando questões, tirando dúvidas, satisfazendo curiosidades. Então a
investigação pode fluir, desde que o pesquisador, fazendo bom uso da intuição,
dedução, memória seletiva e inteligência cognitiva, adote um certo critério
organizacional na coleta de dados e não se perca no caminho.
No alto da página de abertura da BOCC estão ordenadas - em linha horizontal -
as vias de acesso para as seções index, autores, títulos, escolas, ano, recursos. Logo
acima lemos o registro do portal no ISSN 1, um indicativo formal de sua inclusão nos
quadros de referência científica institucional, difusor de pesquisas e publicações
internacionais, e o link de acesso imediato ao LABCOM. Um calendário fixado no
hipertexto indica o dia, o mês e o ano da publicação dos novos artigos e à direita, abre-
se o espaço para inscrevermos as palavras-chave e acionarmos a ferramenta de busca.
O index, na página inicial da Biblioteca traz um eficiente instrumento técnico de
investigação, que nos leva a qualquer documento da biblioteca; em seguida, a partir de
um simples comando, os - quase mil - autores podem ser consultados a se apresentarem.
De modo similar, ao clicarmos na seção dos títulos podemos encontrar os
artigos, os quais, datados e classificados em ordem alfabética, nos permitem o acesso ao
conteúdo completo dos quase 2000 textos publicados.
Clicando nos subtítulos, podemos conhecer as escolas, instituições de ensino e
pesquisa a que os autores estão vinculados, e uma leitura dos textos pode ser feita
1 BOCC, ISSN nº1646-3137
também pela indicação do ano da publicação. Através do link recursos o portal nos
fornece informações sobre os assuntos ligados ao trabalho sócio-organizacional,
cultural, político e publicitário da comunicação, quais sejam: cursos superiores;
mestrados, pós-graduações; associações; revistas; media studies; livrarias; biblioteca;
dicionários e enciclopédias; jornais portugueses.
Os cursos superiores de Comunicação e áreas do domínio conexo estão
catalogados e indexados na BOCC, oferecendo ao usuário um cardápio diversificado de
escolas e ramos do conhecimento; a página indica os endereços eletrônicos de 31
universidades, escolas e institutos de ensino superior portugueses, informando sobre os
11 Mestrados e Pós-Graduações em Comunicação2. O portal apresenta também as
instituições estrangeiras, atuantes na parceria com as escolas portuguesas, que habilitam
os recursos humanos nos níveis de graduação, licenciatura, bacharelato e formação
politécnica. Assim, a BOCC cumpre a função pública de reorganizar e redistribuir as
informações básicas sobre as áreas de concentração e as linhas de pesquisa da Pós-
Graduação em Comunicação, em Portugal.
Inscrevem-se numa seção específica as associações, portuguesas e
internacionais, os fóruns especializados, os centros profissionais, sindicatos, institutos,
federações, facilitando ao pesquisador o acesso à circulação de notícias referentes ao
mundo do trabalho, da jurisprudência, dos serviços sociais, das gestões políticas e
administrativas; este recurso da BOCC a caracteriza como motor ativo de cooperação e
interacionalidade, gerador de inclusividade e ações sociais afirmativas.
Atualizando a rede de informação sobre os fenômenos emergentes no domínio
comunicacional, são disponibilizados os periódicos, jornais, revistas especializadas
cobrindo áreas que se deslocam da filosofia aos estudos científicos e tecnológicos, artes
e culturas urbanas. São indicados gêneros e formatos de cursos de várias partes do
mundo (também aqui a BOCC colabora, suprindo a carência de várias escolas de nível
superior de publicações em língua estrangeira).
Uma seleção acurada lista os media studies (estudos midiáticos), em 26 seções,
que nos remetem aos centros de pesquisa estrangeiros, cujas áreas de concentração – em
2 Universidade Aberta (Mestrado em Comunicação Educacional e Multimedia; e Comunicação e Saúde; Lisboa); Universidade da Beira Interior (Ms. Ciências da Comunicação); Universidade de Coimbra (Pós-Graduação em Direito da Comunicação; Comunicação e Jornalismo); European University (Ms. Com. Empresarial; Barcelona; Lisboa); Instituto Superior Ciências do Trabalho e Empresa (Ms. Comunicação, Cultura e Tecnologias da informação; Pós-Graduação em Estudos Avançados em Ciências da Comunicação e da Cultura, Lisboa); Universidade Fernando Pessoa (Ms. Ciências da Comunicação, Porto); Universidade Lusófona (Ms. Direito das Telecomunicações, Audiovisual e Multimedia, Lisboa); Universidade Nova de Lisboa (Ms. Ciências da Comunicação).
sua grande maioria – fazem intercâmbio com as instituições científicas mundiais,
revigorando a convergência dos estudos de Comunicação, Cultura e Tecnologia
3. A economia organizacional de um portal científico
Em sua organização vertical, o index divide a página em três grandes colunas,
enunciando as seções Temáticas, Agenda em Comunicação e Novidades.
A agenda em comunicação hospeda o site Livros-Labcom-books, dedicado à
disponibilização de livros virtuais editados pelo LABCOM (UBI), em versões integrais
em PDF; aqui se apresentam as obras de alguns dos mais destacados pesquisadores
portugueses, em Ciências da Comunicação3.
Os mirrors da BOCC: a partir dos intercâmbios culturais, interinstitucionais,
universitários, estabelecem-se conexões importantes resultando em experiências como
os mirrors, literalmente espelhos da BOCC, transportados por outras instituições, cuja
virtude consiste num processo de filtragem das informações gerais e reorganização dos
dados particularmente interessantes aos contextos locais e nacionais. O Grupo de
Estudios Avanzados de Comunicación - Universidad Rey Juan Carlos (Espanha), a
Universidade Fernando Pessoa (Portugal) e a Unisinos (Brasil) são parceiros efetivos
nessa experiência acadêmica interativa.
Quanto à seção de novidades, esta se mostra como espaço de mobilidade
permanente, posto que no canto da tela são anunciados os novos textos, os quais chegam
interruptamente ao longo da semana (podemos contabilizar a disponibilização de uma
média de três a cinco, chegando até 10 artigos por semana). Há uma oferta de livros,
que podem ser recomendados e comprados pelo correio, em sua versão impressa, tratam
de temas que abrangem as narrativas fílmicas, videojogos, retórica e mediatização,
teoria da comunicação, cultura digital, estética, tecnologia, epistemologia, ética, espaço
público, identidade, persuasão, política e jornalismo, entre outras.
Neste espaço difundem-se igualmente as notícias de eventos, encontros,
simpósios, congressos de Comunicação, que ocorrem nas várias partes do mundo. Para
inserir notícias na agenda basta enviar e-mail com os dados ao responsável da BOCC.
O núcleo duro da BOCC é constituído pelo hiperlink temáticas, constituído por
42 links, que permitem o acesso aos textos agrupados por temas, e alguns dos quais se
3 António Fidalgo, Paulo Serra, Ivone Nogueira, Luis Nogueira, Manuela Penafria, Índia Mara Martins, Vitor Flores, José Bartolo, Suzana Barbosa, Herlander Elias, Anabela Gradim, Catarina Rodrigues, Adriana Braga, João Carlos Correia, José Manoel Santos, Américo de Sousa.
subdividem em subtemas. São vias de acesso a uma biblioteca que contém livros,
tratados, teses, dissertações e ensaios acadêmicos, o que constitui um acervo de
centenas de textos científicos, uma extensa variedade de trabalhos que têm atendido
grande parte da demanda dos pesquisadores, profissionais e principalmente dos
estudantes de graduação e pós-graduação em Comunicação.
A partir de um simples comando digital ingressamos na história do pensamento
comunicacional, desde os seus antecedentes, nos campos da filosofia, sociologia,
semiologia, ciência política, passando por orientações funcionalistas, estruturalistas,
críticas e fenomenológicas até as convergências epistemológicas mais recentes.
Percorremos assim, as interfaces da comunicação, informação, biodiversidade, mídia,
educação, espaço público, jornalismo, ética, política, arte, rádio, cinema, televisão,
arquitetura, design, semiótica, estudos culturais e cibercultura.
Sendo o maior e mais atualizado acervo da pesquisa em Comunicação no Brasil
e Portugal, a BOCC apresenta um vasto programa institucional e epistemológico,
trazendo os textos essenciais para a pesquisa em graduação e pós-graduação. É um
portal gerador de interatividade, entre pesquisadores e profissionais, uma vez que
disponibiliza os estudos realizados pelos membros das principais instituições científicas
luso-brasileiras. Centenas de estudiosos da Comunicação e domínios conexos do saber
fazem pontes entre as diversas escolas de Comunicação no Brasil e na Europa.
Em verdade, faz-se aqui uma exposição do quadro atual e das tendências
investigativas neste domínio interdisciplinar do conhecimento, e também um resgate de
autores e textos clássicos na área das ciências sociais e humanidades. O portal oferece
uma farta documentação inédita em língua luso-brasileira, realizando a abertura de um
canal de comunicação entre a academia e o mercado de trabalho.
A acepção de publicação tão cara no meio acadêmico (publish or perish) vem-se alterando radicalmente com a internet. As revistas científicas tradicionais são porventura os maiores cemitérios de idéias. Mesmo as publicações em CD-ROM não fazem sentido. Quem quiser verdadeiramente publicar o seu trabalho intelectual, a sua pesquisa científica, tem de fazê-lo online. Quem publica em papel está confinado a um país ou a uma região. O caso de Portugal e do Brasil é sintomático. Os livros portugueses não têm uma boa divulgação no Brasil, e os brasileiros também não chegam a Portugal. Essa dificuldade de difusão entre os dois países desaparece nas publicações online, essas, sim, verdadeiramente abertas “urbi et orbi”. (...) A maior parte dos autores e dos visitantes da Biblioteca são brasileiros. A criação de mirrors da BOCC no Brasil originou um espaço de perfeita publicação da pesquisa dos dois países.
(FIDALGO, 2001, on line)
4. Origem e significado da BOCC
Cumpre destacar que a BOCC nasceu do fruto do trabalho do LABCOM/UBI4 –
Laboratório de Comunicação on line, da evolução das experiências do jornalismo on
line Orbis et Urbis, realizado no laboratório da Escola de Comunicação da UBI. Então,
veio responder às demandas e necessidades de ampliação da área de estudos de
Jornalismo e do campo das ciências da comunicação. Conseqüentemente, o êxito desta
experiência de webjornalismo propiciou o surgimento do grande portal que é a
Biblioteca on line de Ciências da Comunicação, tal qual a conhecemos hoje, abrangendo
as mais variadas arestas da comunicação, cultura, mídia e tecnologia.
Doravante temos a oportunidade de encontrar textos de envergadura, de autores
já consagrados na seara acadêmica internacional, e de conhecer o pensamento
comunicacional português, brasileiro e de outros mares, por meio dos discursos dos
teóricos e estudiosos, cuja produção antes se restringira às fronteiras geográficas,
impressas e institucionais.
Descobrimos aqui a disponibilização de artigos diversos, desde os clássicos de
Aristóteles, obras como Nicomachean Ethics; On Interpretation; Politics; Rethoric, até
preciosidades como os ensaios de Peirce. Como tornar claras as nossas idéias [1878];
assim como a publicação digital de artigos dos cientistas de várias universidades
portuguesas5. E no contexto da produção mundial, além dos portugueses e brasileiros,
encontramos autores de distintas universidades6, cuja diversidade teórica e
metodológica tem enriquecido cada vez mais o acervo do saber comunicacional.
4 Equipe do LABCOM/UBI: Doutores/PhDs António Fidalgo; Anabela Gradim Alves; Eduardo Camilo; Frederico Lopes; Águeda Simó; João Canavilhas; João Carlos Correia; José Ricardo Carvalheiro; J. Paulo Serra; Luís Carlos Nogueira; Manuela Penafria; Paula Elyseu Mesquita; Susana Paula Florindo Salgado; Tito Cardoso e Cunha.
5 Universidade de Algarve; Universidade de Aveiro; Universidade Autônoma de Lisboa; Universidade da Beira Interior; Universidade Católica Portuguesa; Universidade de Coimbra; Universidade de Évora; Universidade Fernando Pessoa; Universidade Lusófona, Universidade de Minho; Universidade Nova de Lisboa; Universidade do Porto; Universidade Técnica de Lisboa, dentre outras.
6 Universidad de Huelva; Brown University; Universidad de Santiago de Compostela; Université Panthéon-Assas-Paris II; Universidad Católica de Murcia; Universidade Complutense de Madrid; Worcester State College; Universidad del Pais Vasco; Universidad Jaume I; Simon Fraser University; Faculdade de Selvíria; Universidad Carlos III; Universidade de Vigo; Alexandru Ioan Cuza - University of Iasi; Aristotle University of Thessaloniki; Universidad del Pais Vasco.
Os quase mil autores dos textos7 são - na maioria - brasileiros; a maior parte
deles está vinculada às instituições de ensino superior, públicas e privadas. Encontramos
teses de doutorado, dissertações de mestrado e monografias de graduação, assinadas por
pesquisadores advindos das diversas unidades administrativas, distintos núcleos de
pesquisa instalados nas instituições dos diferentes Estados Federativos do Brasil.
Uma consulta à Plataforma Lattes, hospedada no site do CNPQ, pode atestar a
qualidade dos currículos dos autores brasileiros na BOCC, em sua maioria engajados na
pesquisa científica em Comunicação. O livre acesso às obras e ao pensamento de
intelectuais brasileiros, dispersos na extensão continental deste imenso país é um luxo
para os pesquisadores, que não conheciam os trabalhos dos seus próprios conterrâneos.
Muitas destes prestam-se à utilização em sala de aula, nos estudos orientados, na coleta
de dados para as pesquisas pessoais, na educação à distância, o que já é um avanço num
contexto em que as bibliotecas são escassas, sucateadas e desatualizadas.
A explosão dos cursos superiores de comunicação em Portugal não teve, nem podia ter um aumento correspondente na produção científica. Considerei que faria todo o sentido disponibilizar on line para todos, docentes e alunos, a produção científica que já havia, e que essa seria a melhor forma de ajudar os novos cursos a ganhar consistência científica.
(FIDALGO, 2001, on line)
5. A relevância da biblioteca digital
É preciso não perder de vista as condições de criação da BOCC, num nicho
laboratorial voltado para o estudo e a prática do webjornalismo; a evolução do seu
desempenho vai ocorrer então a partir desta perspectiva, tornando-se um portal de
investigação científica que extrapola o âmbito restrito do jornalismo e ilumina o
domínio mais complexo das Ciências da Comunicação. Podermos fazer uma sondagem
qualitativa de sua performance seguindo as dicas fornecidas pela teoria do
webjornalismo, formulada por Marcio Palácios:
Ao estudar as características do jornalismo desenvolvido para a Web, Bardoel e Deuze (2000) assinalam a existência de quatro elementos distintivos: Interatividade, Customização de Conteúdo, Hipertextualidade e Multimidialidade (Palácios, 1999); com a mesma preocupação, estabelece cinco características: Multimidialidade/Convergência, Interatividade, Hipertextualidade, Personalização e Memória. Cabe ainda
7 Dados recolhidos até 25.05.2011
acrescentar a Instantaneidade do Acesso, possibilitando a Atualização Contínua do material informativo como mais uma característica do Webjornalismo.
(PALÁCIOS, 2003).
6. Estratégia de ação, competência editorial e atualização permanente
A internet, como meio de comunicação, caracteriza-se pelo seu poder
globalizante e pela velocidade com que a informação pode ser divulgada, atualizada e
acessada. Seu advento tem possibilitado novas formas de obtenção de dados, aumento
na comunicação interpessoal, visão de outras realidades culturais, melhoria da
comunicação escrita, intercâmbio do trabalho cooperativo, bem como o
desenvolvimento de outras tecnologias provenientes da informática e das
telecomunicações, fatores estes observados na intencionalidade de criação dos portais
corporativos analisados.
O número de pessoas conectadas em rede tem aumentado a cada dia, o que pode
ser confirmado através de levantamentos sobre o número de usuários de internet
existentes no Brasil. Isto porque os recursos disponibilizados por essa tecnologia são
formas diferenciadas de serviços de informação prestados a toda sociedade, sendo
importante destacar que os portais analisados atendem à proposta da rede.
Entendemos que a BOCC é uma biblioteca virtual de comunicação, que reúne
uma ampla de diversidade de autores e escolas. E para uma avaliação de sua circulação
no espaço público digital caberia sondarmos quanto à existência de um dispositivo que
permitisse se detectar a freqüência de acessos; quais os artigos mais procurados.
Em meio a uma profusão de textos desta ordem, conviria apreciarmos os níveis
de organização do acervo digital da BOCC; talvez seja preciso entendermos as regras
para a submissão dos papers, o aceite e a disponibilização dos textos.
Este valioso material pode alavancar o exercício de uma rigorosa hermenêutica
dos textos de Ciências da Comunicação, em língua portuguesa, favorecendo bastante as
escolas de comunicação em Portugal e no Brasil.
Percorrendo o portal podemos fazer um balanço e refletir sobre as tendências
temáticas dominantes no Brasil e nos países europeus; igualmente, podemos tentar
decifrar as orientações filosófico-científicas, epistemológicas dos textos.
Diante de um trabalho do porte da BOCC, com formato enciclopédico e espírito
de Ilustração, pensamos sobre a pertinência em se eleger alguns critérios para uma
avaliação dos seus conteúdos, e com esse intuito nos perguntaríamos sobre os critérios
para avaliar os conteúdos das bibliotecas virtuais. Em todo o caso, no plano da pesquisa
e do trabalho profissional, novas exigências se colocam: é preciso encontrar linhas de
ordenação em meio ao aparente caos do ciberespaço. Neste sentido, o pesquisador
Márcio Palácios (UFBa) nos traz valiosas sugestões:
... com o crescimento da massa de informação disponível aos cidadãos, torna-se ainda mais crucial o papel desempenhado por profissionais que exercem funções de “filtragem e ordenamento” desse material, seja a nível jornalístico, acadêmico, lúdico, etc. Uma biblioteca digital, como a BOCC Biblioteca on line de Ciências da Comunicação (http://www.bocc.ubi.pt), ou o site do Prossiga (http://www.prossiga.br) constituem exemplos de “filtragem e ordenamento de informação” de caráter acadêmico. (PALÁCIOS, 2003).
7. A nova ambiência social e a linguagem informacional
A BOCC atua efetivamente na formação das competências teóricas fazendo a
conexão das várias áreas e subáreas do conhecimento (contidas nas temáticas do portal).
Como numa enciclopédia antiga, os assuntos estão agrupados em temáticas que podem
ser acessadas a partir de um clique no “rato”. 8 Caberia - a título de exercício
metodológico - explorarmos as formas como se organizam as temáticas, como são
escolhidos os assuntos, o que rege a ordenação dos discursos competentes no campo da
comunicação digital; quais as articulações do ethos comunicacional com a mídia, a
escola, o mercado, a sociedade.
Diante do êxito da BOCC, o desafio maior que se coloca para nós – enquanto
comunicólogos, leitores, usuários - é ampliar esta “agora midiática”, fazê-la iluminar os
espaços globalizados em que proliferam os “sem-micro”, os desplugados, os
desconectados, os sem infraestrutura informacional. Evidentemente, tudo isso passa
pelo crivo da crítica da Economia, do Direito, da Ética, da Política e da Sociedade.
Nessa direção, emergem algumas questões solicitando respostas: este espaço
público virtual, que favorece a expansão e revigora o campo da comunicação, poderia
8 É pertinente destacarmos os modos de resistência – da parte dos usuários e pesquisadores portugueses – frente à “nova” onda anglofônica gerada pela globalização cultural e tecnológica. Assim, palavras corriqueiras no Brasil, no cotidiano da comunicação telemática, como o “mouse”, que traduz uma “inocente” assimilação do vocabulário norte-americano, em Portugal, traduz-se simplesmente como “rato”, ganhando formatações idiomáticas locais. O mesmo equivale para “site/sítio”, ”celular/telemovel”, “micro/computador de secretária”, “fones de ouvido/auscultadores”, “tela/écran”. Vide sítio: http://meucantinho.org/miscelaneas/vocabulario/sinonimos.htm Acesso em: 27.05.2011
disseminar novos procedimentos éticos e voltados para a formação da cidadania? Na
sociedade em rede, através dos meios digitais, podemos aprender mais sobre educação
estética, produção da subjetividade e exercício da sociabilidade? A revolução digital
tem chances de promover mudanças na dimensão socioeconômica e sociopolítica?
Alguns pensadores como Castells (1999) Rodrigues (1994), Boaventura dos
Santos (2006), Milton Santos (2001), entre outros, têm despendido esforços analíticos,
interpretativos, críticos e compreensivos para repensar a nova ambiência
comunicacional e seus encadeamentos com os domínios da economia, sociedade,
cultura, política. Repassando o repertório de artigos da BOCC, notamos que estes
vínculos se fazem por toda a parte: sendo interdisciplinar, o campo das ciências da
informação e da comunicação é permanentemente atravessado por discussões que
advêm dos fenômenos emergentes nas várias esferas da vida cotidiana.
8. Gramáticas e sintaxes da comunicação luso-brasileira
Da tradição à contemporaneidade, a BOCC faz um registro dinâmico da história
e atualidade das temáticas contemporâneas e por aí, fornece um farto material para
avaliação e monitoramento da produção acadêmica luso-brasileira. No contexto da
filosofia e da pedagogia que reconhece a positividade da comunicação digital, o portal
consiste numa estratégia pós-colonialista.
Reciprocamente - apresenta aos brasileiros os textos portugueses, que falam o
idioma sob o signo de Camões, Fernando Pessoa e José Saramago, e de modo similar,
apresenta aos lusitanos os textos brasileiros, que falam o idioma sob o signo de
Machado de Assis, Mário de Andrade e Jorge Amado. Convém reconhecer que – na era
tecnológica - as condições de recepção dos textos se perfazem a partir de mediações
socioculturais bem distintas, mas tal simbiose resulta sempre num olhar mais
penetrante, mais agudo sobre as tramas da comunicabilidade e da sociabilidade.
No grande mapa da Biblioteca Virtual se desenham domínios e interfaces
epistemológicas que nos levam a pensar. Certamente este mapa possui suas
especificidades e diferenciações das políticas científicas nas cartografias realizadas, por
exemplo, pelas instituições de fomento à pesquisa no Brasil, como Capes e CNPq, e as
instituições científicas portuguesas.
Um trabalho interessante seria observar como estas instituições dialogam,
pesquisando, por exemplo, como os novos formatos digitais (como a BOCC) vêem a
Capes e o CNPq, e por outro lado, como a Capes e o CNPq vêem os dispositivos
informacionais (como a BOCC).
Injunções diversas como os critérios adotados para a avaliação dos textos
submetidos, a análise dos currículos dos autores, as referências e fontes adotadas nos
protocolos institucionais, tudo isso pode ser problematizado de maneira eficaz para o
conhecimento científico da comunicação no Brasil e em Portugal.
A BOCC pode ser considerada como um modelo para a elaboração dos projetos
políticos pedagógicos, programas de ensino e pesquisa avançados, uma vez que reúne
pesquisadores da Graduação e Pós Graduação de vários países, de reconhecido prestígio
dentro e fora da academia. Portanto, consideramos a BOCC um paradigma de
Comunicação Científica Digital.
Em linhas gerais, a partir de uma varredura nos textos disponibilizados,
reconhecemos que a BOCC demonstra uma assimilação coerente das tendências
mundiais em termos de pesquisa: trata das interfaces entre comunicação e cotidiano,
artes e culturas midiáticas e cibercultura, contemplando suas relações com os espaços
sociais, culturais e políticos, o webjornalismo, e as conexões da informação,
comunicação e cultura digital.
Penso que é feliz a expressão “Galáxia Internet”, de Manuel Castells, para designar a nova realidade comunicacional. É feliz porque retoma o conceito de Marshall McLuhan de “Galaxia Gutenberg”. O que está verdadeiramente em jogo não é o que a internet traz ou não traz, mas fundamentalmente as novas formas de percepção e de comunicação que o novo meio está a provocar. Tal como a imprensa veio revolucionar na era moderna modos de ver, de estar, de conviver e de viver social e politicamente, também a internet está a alterar decisivamente a nossa maneira de percepcionar, de estar, de comunicar e de viver.
(FIDALGO, 2004).No que concerne especificamente ao trabalho de interpretação das culturas na
era da comunicação e cultura digital, o exame dessa Biblioteca Digital portuguesa tem
alimentado há mais de uma década os conteúdos dos programas dos cursos de
Comunicação e Ciências da Informação (entre outros) no Brasil. Assim, destacaríamos
os artigos voltamos particularmente para a subárea disponibilizados na BOCC. 9
9 Cf. Abre-te Sésamo! A password como representação do sujeito (COIMBRA; BENDIHA, 2005); Acción comunicativa en el Ciberespacio (SORO, 2006); O Blog como ferramenta do eu para todos (MAUAD, 2010); A Construção do Persona Digital (TAVARES, 2010); A Convergência das Mídias (GOMES, 2011); Activismo e novas Tecnologias de Informação e Comunicação (VIDAL, 2005); A Exposição do Jovem na Internet (ARRUDA, 2011); A interação entre cibersistemas e sistemas sociais (STOCKINGER, 2002); A Internet no Contexto Escolar (JUSTIÇA, 2003); Ambivalências de um tempo sem tempo (MOURA, 2002); A metrópole e o triunfo distópico (AMARAL, 2005); A morte no espaço
A lista pode parecer extensa, entretanto, julgamos relevante a indicação,
primeiramente porque recolhe um repertório significativo de estudos que, sendo mais
elaborados ou mais esquemáticos, revelam o itinerário das primeiras pesquisas na área,
nos anos 90, quando a experiência do ciberespaço ainda era muito recente.
Depois porque apresenta uma linha evolutiva da pesquisa no campo, ao longo de
mais de uma década, compilando textos investigativos de diversas procedências
metodológicas e epistemológicas, e por isso mesmo constitui uma amostra bastante
fecunda; depois porque contempla os trabalhos dos pesquisadores veteranos marcados
por um estilo de escritura com fortes traços filosóficos, iluministas e os textos de
autores da geração mais recente, cujo estilo expressa o hibridismo de uma inteligência
virtual (NEGRINI, 2010); Anunciação: O tempo dos novos anjos (DUDUS, 2003); Novos Circuitos Culturais na Internet (PASSOS, 2009); A perna coxa da tecnologia (PENA, 2003); A vertigem. Da ausência como lugar do corpo (MOURA, 2002); A visão cyberpunk de mundo através das lentes escuras de Matrix (AMARAL, 2003); Ciberantropologia (SILVA, A. M., 2004); Ciberativismo (SCHIECK, 2009); Cibercultura e Redes Sociais, Twitter como interacção (MELLO; RIBEIRO, 2010); Cibercultura e Cidadania (GARCIA, J. L. L., 2006); Ciberespaços Públicos (RODRIGUES, R, 2010); Cibermigrantes brasileiros a navegar na rede social Orkut (CORRÊA, 2009); Cibermedi@ (SOARES, T. M., 2006); Comunicação como forma social (MONTARDO, 2005); Cognição e interacionalidade através do YouTube (SERRANO, 2009); Comunicação na cibercultura: nova abordagem do pensamento de Georg Simmel (MONTARDO, 2005); Comunidades virtuais (RECUERO, 2003); Cyberpunk e Pós-modernismo (AMARAL, 2003); Debates no Fórum da Comunidade Virtual Orkut Sobre o Cânone do Filme Star Trek 2009 (BITTAR, 2010); Devir (in)Orgânico (FIDALGO; MOURA, 2004); Diários públicos, mundos privados: (OLIVEIRA, 2002); Do modelo industrial ao biotecnológico (BENTES, 2001); Do moderno ao contemporâneo (SCHIECK, 2008); Enredar: "A arte de organizar encontros" (FERREIRA, 2006); Ensayo de una metodología de estudio de las comunidades virtuales (SORO, 2006); Entre o Real e o Virtual (GROTH; FERRABOLI, 2011); Estrutura da Narrativa do Jogo Fallout 2 (HULSHOF, 2004); Estudos/contributos para uma síntese crítica (BASTOS; SILVA, 2005); Flânerie na Rede (SATURNINO, 2009); “Eu fiz a cirurgia do estômago”: análise da construção da bioidentidade através do Orkut (ALMEIDA, 2009); Identidade e interacção social em comunicação mediada por computador (JÚLIO, 2005); Ilusão e Realidade (2010); Implicações da técnica no pensamento comunicacional (MONTARDO, 2005); Informação multimédia (NUNES, 2005); Informação e sociabilidade nas comunidades virtuais: um estudo sobre o Orkut (PINHO, 2010); Internet e Identidade: um estudo sobre o website Orkut (MOCELLIM, 2008); Internet, jornalismo e weblogs (MATTOSO, 2003); Jornalismo Empreendedor (RIBEIRO, 2003); Juventude e jogos electrônicos (MOITA, 2004); Mais que um inventário imagético do Youtube (SILVA FILHO, 2009); Matrix, Iluminismo e afins (MOREIRA, 2006); “Mentiras sinceras me interessam”. A construção de representações, identidades e vínculos (LACERDA, 2001); Mesa temática de Cibercultura – Apresentação (SERRA, 2005); Minority Report - rastreando as origens do cyberpunk (AMARAL, 2003); Mundos Reais, Mundos Virtuais. Os jovens nas salas de chat (SILVA, A. M., 2004); Nós partilhamos um só corpo (GRADIM, 2006); O Controlo do Virtual (MIRANDA, 1997); O interdiscurso construtivo como característica fundamental dos webrings (RECUERO, 2005); O medium e sua performance (ESPERANÇA, 1999); On-line e off-line (SERRA, 2006); Orlan do outro lado do espelho (DUARTE, 2001); Paixão, Ciúme e Traição: A “liquidez” das relações humanas no ciberespaço (AAVV, 2010); O virtual ultrapassa os monitores: a realidade e a atualidade na promoção do filme "Batman: O Cavaleiro das Trevas" (NOBRE, 2009); Polidez e identidade: a virtude do simulacro (OLIVEIRA, 2005); Processos de ensino-aprendizagem na Era Digital (SILVA, A. M. 2006); Redes sociais na Internet (RECUERO, 2004); Retratos da colaboração e da segmentação na Wikimedia (CRUZ, 2011); The Egocasting Phenomenon and the Identity Issue (CUNHA, 2008); Time to die: el carpe diem del ciudadano corporativo (RIVERA, 2002); Uma apropriação de Tela Total (AMARAL, 2003); Youtube. Uma Nova Fonte de Discursos (PELLEGRINI; REIS; MONÇÃO; OLIVEIRA, 2010); Virtual: concepções, implicações e potencialidades (ALCÂNTARA, 2009); Transformações culturais na sociedade da informação (ARRUDA, 2011). Cf. http://www.bocc.ubi.pt/_listas/tematica.php?codtema=21
cognitiva, que conserva o rigor metodológico, mas simultaneamente absorve e adéqua à
sua linguagem os jargões inseridos pela semiurgia informacional é evidente.
Cumpre assinalar a importância desses artigos científicos disponibilizados na
Biblioteca Virtual (BOCC), de professores, pesquisadores, jovens e veteranos, do Brasil
e Portugal, que vêm suprir uma carência marcante no que respeita à atualização
bibliográfica em diversos programas de curso, em várias partes do mundo lusófono.
Um estudo da comunicação e da cultura digital pela via das bibliotecas virtuais
nos coloca no epicentro de três experiências fundamentais na existência dos seres
humanos: a cognição, a informação e a educação, que possuem distinções e
particularidades. Todavia, na era tecnológica tendem a se rearticular no contexto das
atividades escolares dos jovens estudantes, assumindo novas configurações, o que
implica em novos desafios para os professores e pesquisadores.
Porque a cognição é atravessada por mil interfaces eletrônicas que moldam os
ambientes e influenciam marcantemente os modos de percepção e de conhecimento.
Porque a informação extrapolou o domínio dos impressos, emanando de várias
fontes e direções, irradiando-se como vírus no cotidiano midiatizado, o que confere
sentido à existência dos atores sociais em rede.
Porque a educação, entendida como uma paideia, uma experiência de formação
do espírito tem sido realizada pelos jovens, mais do lado de fora do que dentro dos
ambientes institucionais. A geração web 2.0 assimila as formas do ethos, do habitus e
da aprendizagem nas relações mediadas pelos meios telemáticos. Os educadores em
todos os níveis de ensino – do básico ao superior – precisam se atualizar e compreender
o “novo mundo” irrigado pelas inteligências coletivas conectadas, sob pena de incorrer
naquilo que o pensador Henri-Pierre Jeudy nomeou “a eutanásia dos sábios”.