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Informativo Esquematizado: TST n. 79 Período: 8 a 22 de abril de 2014.

Raphael Miziara (Advogado e Prof.) e Roberto W. Braga (Juiz do Trabalho 22ª Região e Prof.)

ÍNDICE – Informativo TST nº. 79 – de 8 a 22 de abril de 2014.

Direito Processual do Trabalho

Incompetência funcional da SDC para ação de ressarcimento por danos materiais c/c obrigação de fazer.

Erro na indicação do nome da parte e ausência de prejuízo à parte contrária face à existência de outros elementos de identificação. Mero erro material.

Direito Individual do Trabalho

Desídia e necessidade de gradação da pena para dispensa por justa causa. É indevido o adicional de insalubridade se a atividade não se encontra no rol

da NR 15 do MTE.

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Incompetência funcional da SDC para ação de ressarcimento.

A SDC não tem competência funcional para o julgamento de ação de

ressarcimento por danos materiais, cumulada com obrigação de fazer, ajuizada

por sindicato, pois o que se pretende é o pagamento de verbas trabalhistas

decorrentes do descumprimento de normas legais e constitucionais, e não o

pronunciamento do Poder Judiciário acerca do estabelecimento de normas para

regulamentar as condições de trabalho da categoria profissional.

Comentários

O que é competência funcional? A competência funcional (ou em razão da função) é fixada em virtude de certas atribuições especiais conferidas aos órgãos judiciais em determinados processos. De acordo com o art. 93 do CPC, aplicado subsidiariamente ao processo do trabalho, a competência funcional dos tribunais é regida pela Constituição, pelas leis processuais e pelos regimentos internos, enquanto a dos juízes de primeiro grau é disciplinada na própria legislação processual trabalhista (especialmente, a CLT) e, subsidiariamente, pelo CPC. (LEITE, 2012, pág. 272). Dinamarco (2009, pág. 446) critica o art. 93 do CPC e diz que

esse inútil dispositivo não esclarece se tem por funcional toda a

competência dos tribunais, ou somente a recursal, ou somente a originária. Mas, nada dispondo o Código sobre uma ou sobre outra, entende-se que o art. 93 pretende afirmar como funcional toda a

competência dos tribunais – seja a originária, seja a recursal.

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Bezerra Leite e Mauro Schiavi não definem o que se entende por competência funcional, apenas se limitam a tratar de hipóteses na qual é

aplicada a competência funcional. Miessa (2013, pág. 102) afirma que a competência funcional é aquela fixada em decorrência da distribuição interna de atribuições (funções) dos órgãos judiciais, no caso, da Justiça do Trabalho. Dinamarco (2009, pág. 445), assim se pronuncia:

Diz-se funcional a competência quando a lei a determinada automaticamente, a partir do simples fato de algum órgão jurisdicional

ter oficiado em determinado processo com atividade que de alguma forma esteja interligada com essa para a qual se procura estabelecer qual o juiz competente. Ou seja: ela é a competência decorrente do prévio exercício da jurisdição por determinado órgão. É automática porque nenhum outro elemento, além desse, precisa ser pesquisado na busca do juiz competente: as regras de competência funcional, residentes na Constituição e na lei, levam em conta a função já exercida

em dado processo, para estabelecer a quem compete algum outro processo interligado funcionalmente a este ou a quem compete outra fase do mesmo processo. Por isso é que ela se chama competência funcional.

Como se classifica a competência funcional? Segundo Schiavi (2014, pág. 299) e Miessa (2014, pág. 102), a competência funcional pode ser:

a) originária, b) recursal, ou c) executória.

A doutrina ainda divida a competência funcional em:

a) vertical (hierárquica ou por graus – entre órgãos que exercem graus de jurisdição diversos); ou,

b) horizontal (entre órgãos que exercem o mesmo grau de jurisdição).

Daniel Amorim Assumpção Neves (2014, pág. 178) classifica a competência funcional assim:

a) Pelas fases do procedimento; b) Relação entre ação principal e ações acessórias e incidentais; c) Pelo grau de jurisdição; – é aqui que se enquadra a competência

da SDC, pois há indicação expressa da lei de supressão do primeira grau jurisdicional, sendo o Tribunal competente em caráter originário.

d) Pelo objeto do juízo.

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Tomando-se por base os órgãos que compõe a Justiça do Trabalho, pode-se dizer que existe a competência funcional das Varas do Trabalho, dos TRTs e do TST. A competência funcional originária da SDC do TST é ditada pelo art. 70, I, do RITST. A competência funcional é absoluta ou relativa? A competência funcional é ABSOLUTA, assim entendida aquela criada em razão do interesse público, de modo que as partes não possuem liberdade para sobre ela disporem, sendo, por isso, de natureza cogente ou obrigatória. Diferenças entre competência absoluta e competência relativa

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ABSOLUTA RELATIVA

Espécies

Competência material; competência em razão da pessoa; competência funcional.

Competência territorial; competência em razão

do valor da causa.

Momento de alegação

Qualquer tempo e grau de jurisdição, exceto instância superior que depende do prequestionamento.

Prazo para resposta.

Conhecimento ex officio

Pode ser conhecida ex

officio. Não pode ser conhecida ex officio.

Forma de alegação Qualquer petição e até

mesmo oralmente na audiência.

Exceção de incompetência.

Modificação Não pode ser

modificada.

Pode ser modificada pela: a) prorrogação; b)

conexão; ou c) continência.

Nulidade Gera nulidade absoluta. Gera nulidade relativa.

Ação Rescisória Poderá ser objeto de ação rescisória.

Não pode ser objeto de ação rescisória.

O caso concreto O sindicato autor formulou uma série de pedidos que não veiculava qualquer das hipóteses descritas no citado art. 70 do RITST. Como narrado pelo próprio Sindicato Autor na petição inicial "o objeto da demanda é a preservação da saúde física e mental do trabalhador,

1 MIESSA, Élisson. Processo do Trabalho para concursos. Salvador: JusPodivm, 2013. pág. 83.

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mediante a restauração da norma antevista pelo artigo 145 da CLT e, por conseguinte, o pleno gozo do descanso anual... em suma, coibir lesão a direitos individuais homogêneos".

Como consta do voto vencedor, no caso concreto, o Sindicato não pretende o pronunciamento do Poder Judiciário acerca do estabelecimento de normas gerais para regulamentar condições de trabalho de uma categoria profissional, mas sim o pagamento de verbas decorrentes de normas legais e constitucionais não observadas. Ou seja, objeto delimitado na ação, pelo sindicato, escapa à competência funcional da SDC. Assim, obviamente, não é toda ação coletiva que deverá ser julgada originariamente pela SDC. Nesse caso, por exemplo, tem-se a competência do juízo de primeiro grau. EMENTA DA DECISÃO Vale a pena a leitura da ementa da decisão:

AÇÃO DE RESSARCIMENTO POR DANOS MATERIAIS CUMULADA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER. INCOMPETÊNCIA FUNCIONAL DA SEÇÃO DE DISSÍDIOS COLETIVOS PARA O JULGAMENTO DO FEITO. ART. 70, I, DO REGIMENTO INTERNO DESTA CORTE. A competência funcional, na Justiça do Trabalho, é disciplinada na CLT e nos regimentos internos de cada Tribunal Regional e deste Tribunal Superior. Trata-se de competência absoluta, determinada em razão da hierarquia dos órgãos judiciários e em face das funções exercidas pelo juiz nos processos. A competência desta Seção Especializada vem disciplinada no art. 70, I, do Regimento Interno desta Corte. Da leitura do dispositivo, depreende-se que a competência funcional desta SDC não se estabelece pela qualidade das partes envolvidas na relação jurídica, tampouco pelo simples fato de se tratar de demanda de natureza coletiva (Sindicato como substituto processual). A presente ação não veicula qualquer das hipóteses descritas no citado art. 70 do RITST. O Sindicato Autor, na petição inicial, pleiteia a regularização da concessão de férias, com a condenação da Fundação em obrigação de fazer, além de pagamentos diversos referentes ao instituto. Trata-se, em verdade, de ação de natureza coletiva a ser apreciada pelo Juízo da Vara do Trabalho, autoridade competente para o julgamento das ações coletivas ajuizadas pelos Sindicatos na qualidade de substituto processual, em que pleiteia a condenação de verbas de natureza trabalhista e o respeito à legislação aplicável. Neste caso concreto, o Sindicato não pretende o pronunciamento do Poder Judiciário acerca do estabelecimento de normas gerais para regulamentar condições de trabalho de uma categoria profissional, mas sim o pagamento de verbas decorrentes de normas legais e constitucionais não observadas.

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Ressalte-se que não se cogita, nesta hipótese, de remessa dos autos ao juízo competente, porquanto deve ser observada, na hipótese, a aplicação analógica da OJ 130, III, da SDI-2/TST (quando o dano for de abrangência suprarregional ou nacional, a competência será de qualquer

das Varas do Trabalho das sedes dos Tribunais Regionais do Trabalho). Processo extinto, sem resolução de mérito, nos termos do art. 267, IV, do CPC.

Assim, afastando-se o caso concreto de qualquer das hipóteses descritas no art. 70, I, do RITST, e não sendo possível a remessa dos autos ao juízo competente, em razão da aplicação analógica do item II da Orientação Jurisprudencial nº 130 da SBDI-II, a SDC, por unanimidade, extinguiu o processo, sem resolução de mérito, nos termos do art. 113 c/c 267, IV, do CPC.

Súmulas Não há súmula aplicável diretamente ao caso comentado

OJ’s

OJ n. 130, item II, da SBDI-2 do TST. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA. LOCAL DO DANO. LEI nº 7.347/1985, ART. 2º. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, ART. 93. (...) II – Em caso de dano de abrangência regional, que atinja cidades sujeitas à jurisdição de mais de uma Vara do Trabalho, a competência será de qualquer das varas das localidades atingidas, ainda que vinculadas a Tribunais Regionais do Trabalho distintos. (...)

Referências

legislativas

Art. 93 do CPC. Regem a competência dos tribunais as normas da Constituição

da República e de organização judiciária. A competência funcional dos juízes de primeiro grau é disciplinada neste Código.

Art. 70, I, do RITST. À Seção Especializada em Dissídios Coletivos compete:

I – originariamente:

a) julgar os dissídios coletivos de natureza econômica e jurídica, de sua

competência, ou rever suas próprias sentenças normativas, nos casos previstos em lei; b) homologar as conciliações firmadas nos dissídios coletivos; c) julgar as ações anulatórias de acordos e convenções coletivas;

d) julgar as ações rescisórias propostas contra suas sentenças normativas; e) julgar os agravos regimentais contra despachos ou decisões não definitivas,

proferidos pelo Presidente do Tribunal, ou por qualquer dos Ministros integrantes da Seção Especializada em Dissídios Coletivos; f) julgar os conflitos de competência entre Tribunais Regionais do Trabalho em

processos de dissídio coletivo; g) processar e julgar as medidas cautelares incidentais nos processos de

dissídio coletivo; e h) processar e julgar as ações em matéria de greve, quando o conflito exceder

a jurisdição de Tribunal Regional do Trabalho.

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Referências

DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. Vol. I. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito Processual do Trabalho. 10. ed. São

Paulo: LTr, 2013. MIESSA, Élisson. Processo do Trabalho para concursos. Salvador: JusPodivm,

2013. SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 7. ed. São Paulo:

LTr, 2014. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil.

Volume Único. 6. ed. São Paulo: Método, 2014.

Processo TST-RTOrd-553-37.2014.5.00.0000, SDC, rel. Min. Mauricio Godinho Delgado,

8.4.2014.

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Erro na indicação do nome da parte e ausência de prejuízo à parte contrária face

à existência de outros elementos de identificação. Mero erro material.

Não há falar em ilegitimidade recursal na hipótese em que o erro na indicação do nome da parte recorrente não causou prejuízo à parte adversa (art. 794, CLT),

nem impediu a análise do recurso de revista, eis que o feito pode ser identificado por outros elementos constantes dos autos, corretamente nominados.

Comentários

Interposto o recurso verifica-se que o nome que consta da folha de rosto e nas razões recursais é diverso/outro ao da parte – quid iuris? 1ª corrente: deve ser reconhecida a ilegitimidade recursal. Argumenta-se que a interposição de recurso tem como pressuposto a existência de sucumbência, de prejuízo da parte com a decisão proferida (art. 499, caput, do CPC). Assim, ao recorrer, a parte vencida busca obter a reforma

de uma decisão que lhe foi desfavorável. Portanto, se o recorrente (que consta com o nome errado no recurso) não figura no polo passivo da demanda, é, portanto, parte ilegítima da relação processual, não há qualquer decisão que lhe tenha sido desfavorável, passível de recurso. 2ª corrente: Depende da existência ou não de prejuízo. Se, mesmo diante

de erro na indicação do nome da parte, se puder constatar a ausência de prejuízo à parte contrária, de modo que a haja outros elementos de identificação, não existe razão para que se decrete a ilegitimidade recursal. Na hipótese concreta, não obstante tenha constado na folha de rosto e nas razões do apelo o nome da empresa JBS S/A, as circunstâncias e os elementos dos autos (número do processo, nome do reclamante, comprovante de depósito recursal e guia GRU Judicial) permitiam apreender que o correto nome da recorrente era S/A Fábrica de Produtos

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Alimentícios Vigor. Com efeito, constou equivocadamente o nome da empresa "JBS S/A", sendo que todas as demais circunstâncias e documentos colacionados com o recurso e nos autos apontam no sentido de que o nome a ser estampado era "S/A FÁBRICA DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS VIGOR". Assim, não obstante figurar apenas na qualificação da peça recursal "JBS S/A", todos os demais elementos encontram-se corretamente nominados — números dos autos, o protocolo pelo escritório digital, as guias recursais, inclusive as procurações juntadas ao processo, não podendo prevalecer que o mero equívoco de digitação impeça o verdadeiro recorrente de exercer seu direito, ao qual possui interesse manifesto. Vislumbrou-se, no caso, a ocorrência, tão somente, de erro material, inidôneo ao reconhecimento da ilegitimidade recursal. Essa decisão aplica o princípio da instrumentalidade das formas (ver comentários ao informativo n. 74 do TST) Votos vencidos: O julgamento se deu por maioria de votos, sendo que restaram vencidos os Ministros Lelio Bentes Corrêa, Aloysio Corrêa da Veiga e Antonio José de Barros Levenhagen, que denegavam seguimento ao recurso de revista por ilegitimidade recursal da JBS S/A. Com a devida vênia, os votos vencidos adotaram um posicionamento mais conservador, que desprestigia a instrumentalidade processual, dando primazia aos meios em detrimento dos fins.

Súmulas Não há súmulas relacionada diretamente ao caso julgado.

OJs Não há OJ relacionada diretamente ao caso julgado.

Referências legislativas

Art. 499, CPC - O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público.

Referências -

Processo TST-E-RR-652000-90.2009.5.09.0662, SBDI-I, rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, 10.4.2014.

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DIREITO INDIVIDUAL DO TRABALHO

Desídia e necessidade de gradação da pena para dispensa por justa causa.

Para a caracterização da desídia de que trata o art. 482, “e”, da CLT, faz-se

necessária a habitualidade das faltas cometidas pelo empregado, bem como a

aplicação de penalidades gradativas, até culminar na dispensa por justa causa.

Comentários

Desídia: conceito e caracterização. Para Alice Monteiro de Barros (2007, pág. 864), a justa causa consiste na prática de ato doloso ou culposamente grave por uma das partes e pode ser o motivo determinante da resolução do contrato. Acerca da desídia como ato faltoso, a mesma autora ensina (fls. 876/877):

A desídia implica violação ao dever de diligência. Embora alguns

autores admitam possa ser intencional, dolosa, entendemos que ela pressupõe culpa e caracteriza-se pelo desleixo, pela má vontade, pela incúria, pela falta de zelo ou de interesse no exercício de suas funções. A desídia manifesta-se pela deficiência qualitativa do trabalho e pela redução de rendimento. [...] Independentemente do seu enquadramento,

certo é que para que se configure a justa causa, é necessário que tenha havido a aplicação de medidas disciplinares visando a recuperar o trabalhador para o caminho da exação funcional. Se o

empregador não o puniu, é porque não considerou seu comportamento reprovável. [...] Frise-se, entretanto, que em se tratando se desídia grave, ela dispensa a aplicação de medidas disciplinares anteriores e poderá se configurar pela prática de um só

fato. (gn) No mesmo sentido, leciona o caro Ministro Maurício Godinho Delgado (2014, pág. 1194/1195):

A desídia é a desatenção reiterada, o desinteresse contínuo, o desleixo contumaz com as obrigações contratuais. Para autorizar a resolução culposa do contrato, exige, assim, regra geral, a evidenciação de um comportamento repetido e habitual do trabalhador, uma vez

que as manifestações de negligência tendem a não ser tão graves, caso isoladamente consideradas. Neste quadro, a conduta desidiosa deve merecer exercício pedagógico do poder disciplinar pelo empregador, com gradação de penalidades, em busca da adequada ressocialização do obreiro. Mostrando-se ineficaz essa tentativa de

recuperação, a última falta implicará na resolução culposa do contrato de trabalho. É claro que pode existir conduta desidiosa que se concentre em um único ato, excepcionalmente grave. Embora não se trate da regra geral, se isso ocorrer, não há que se falar em gradação de

penalidades.

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Para a dispensa por justa causa com fulcro no art. 482, e, da CLT, é sempre necessária a gradação de penalidades? Não. Das lições doutrinárias acima, podemos extrair, em resumo, que a desídia:

- regra geral: a evidenciação de um comportamento repetido e habitual do trabalhador, uma vez que as manifestações de negligência tendem a não ser tão graves, caso isoladamente consideradas. Nesse caso, a aplicação gradativa de penalidades é indispensável à higidez da dispensa por justa causa. - excepcionalmente: pode existir conduta desidiosa que se concentre em um único ato, excepcionalmente grave. Aqui, em razão da gravidade da desídia, não há que se falar em gradação de penalidades, podendo ocorrer de imediato a dispensa por justa causa.

Assim, tal qual constou do voto prevalente da relatoria:

O princípio da proporcionalidade e da gradação da pena deve ser observado em caso de dispensa por justa causa, pois que as punições revestem caráter pedagógico, visando o ajuste do empregado às lícitas normas de sua empresa. O afastamento do empregado por meio de justa

causa deve ser tido como solução cabível apenas em último caso e após esgotadas as demais punições aplicadas em escala crescente, a fim de transmitir ao obreiro a noção do desajuste de seu comportamento,

observado o sentido didático da penalidade, sob pena de se caracterizar

excessivo rigor no exercício de um direito.

O caso concreto In casu, comprovou-se que a dispensa do reclamante não decorreu de um

único ato desidioso suficientemente grave para justificar a justa causa, mas de uma série de atos costumeiros e prolongados ao longo de mais de oito anos do contrato de trabalho. Assim, a situação não se encaixava dentre as excepcionais acima explicadas, razão pela qual deveria o empregador ter aplicado penalidades anteriores e gradativas. A decisão da 3ª Turma ficou assim ementada:

RECURSO DE REVISTA. JUSTA CAUSA. CONDUTA PROLONGADA

NO TEMPO. AUSÊNCIA DE REPRIMENDA ANTERIOR. DESÍDIA NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES. NÃO CONFIGURAÇÃO. Por força do

princípio da continuidade da relação de emprego, é ônus do empregador demonstrar, de forma inequívoca, a presença dos motivos e dos requisitos ensejadores da justa causa. Percebendo-se que a dispensa não decorreu de um único ato desidioso grave, mas de

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uma série de atos costumeiros e prolongados ao longo do contrato de trabalho, é desproporcional e descabida a aplicação da justa causa sem qualquer penalidade anterior. Recurso de revista conhecido e provido.

Com efeito, tal como consta da decisão, os princípios da proporcionalidade e da gradação da pena devem ser observados, pois as punições revestem-se de caráter pedagógico, visando o ajuste do empregado às normas da empresa. Nesse contexto, se o empregador não observa a necessária gradação da pena, apressando-se em romper o contrato de trabalho por justa causa, frustra o sentido didático da penalidade, dando azo à desqualificação da resolução contratual em razão do excessivo rigor no exercício do poder diretivo da empresa. Ementa da decisão A decisão da SBDI-1, que confirmou a decisão da 3ª Turma, ficou assim ementada:

[...] JUSTA CAUSA - PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E GRADAÇÃO DA PENA – INOBSERVÂNCIA - APLICAÇÃO DE PENA PER SALTUM - RESOLUÇÃO CONTRATUAL DESQUALIFICADA. A desídia, por certo, caracteriza-se pela reiteração de atos negligentes. Assim, se o empregador não observa a necessária gradação da pena na hipótese, apressando-se em romper o contrato de trabalho por justa causa, frustra o caráter pedagógico do instituto disciplinar, dando azo à desqualificação da resolução contratual em razão do excessivo rigor no exercício do poder diretivo da empresa. (gn)

Súmulas Não há súmulas aplicáveis diretamente à decisão em comento.

OJ’s Não há OJ’s aplicáveis diretamente à decisão em comento.

Referências legislativas

Art. 482, CLT – Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador: [...] e) desídia no desempenho das respectivas funções;

Referências

BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho, LTR, 3ª edição, 2007.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 13. ed. São Paulo: LTr, 2014.

Processo TST-E-ED-RR-21100-72.2009.5.14.0004, SBDI-I, rel. Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 10.4.2014.

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DIREITO INDIVIDUAL DO TRABALHO

É indevido o adicional de insalubridade se a atividade não se encontra no rol da

NR 15 do MTE.

Para que o empregado tenha direito ao adicional de insalubridade é necessária a

classificação da atividade insalubre na relação oficial elaborada pelo Ministério

do Trabalho e Emprego, não sendo suficiente a constatação por meio de laudo

pericial.

Comentários

Adicional de insalubridade – breves apontamentos Conceito Atividade insalubre é aquela que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos (art. 189, CLT). Caracterização A caracterização da insalubridade se faz mediante a previsão em quadro aprovado pelo TEM (NR-15) e pela perícia realizada no local de trabalho (por médico ou engenheiro do trabalho). Esse quadro aprovado pelo Ministério do Trabalho adotará normas sobre os critérios de caracterização da insalubridade, os limites de tolerância aos agentes agressivos, meios de proteção e o tempo máximo de exposição do empregado a esses agentes (art. 190, CLT). Eliminação ou a neutralização da insalubridade ocorrerá (perda do adicional):

I - com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância; II - com a utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que diminuam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância. (art. 191, CLT)

Adicional 40% (quarenta por cento) – grau máximo 20% (vinte por cento) – grau médio 10% (dez por cento) – grau mínimo. (art. 192, CLT)

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Situação concreta O trabalho desempenhando em locais destinados ao atendimento socioeducativo do menor infrator (Fundação Casa), em condições insalubres, enseja o pagamento do adicional de insalubridade? Não! O não enquadramento da atividade no rol previsto no anexo 14 da NR 15 do MTE, nos termos da OJ nº 4, I, da SBDI-I, não enseja o pagamento de adicional de insalubridade. O Anexo 14 da NR-15 da Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho prevê o pagamento do adicional de insalubridade para o pessoal que trabalha em contato permanente com pacientes ou com material infecto-contagiante, em estabelecimentos destinados aos cuidados da saúde humana, tais como hospitais, enfermarias, etc. O TST entendeu que a atividade desenvolvida no atendimento de menores infratores em locais para tanto destinados não se enquadra no rol taxativo do MTE (Anexo 14 da Norma Regulamentadora 15), nem se equipara à desenvolvida nos hospitais e outros estabelecimentos de saúde, em que há reconhecidamente o contato com agentes biológicos. Mesmo que seja constatada a insalubridade por laudo pericial o adicional é indevido, pois é necessária a classificação da atividade insalubre na relação oficial elaborada pelo Ministério do Trabalho, o que não ocorre no caso concreto. Assim, em que pese a existência de laudo pericial atestando a insalubridade das atividades desenvolvidas pelos Autores, é indevido o pagamento do respectivo adicional, ante a ausência de amparo normativo. A temática parece estar se pacificando no TST, confira-se, dentre muitos outros julgados:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA - ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. Extrai-se da decisão recorrida que as atividades do reclamante consistiam na higiene dos adolescentes

que chegavam à unidade (corte de unha, cabelo, barba, banho, escovação de dentes), revista nos ambientes, recolhendo as roupas sujas (camisetas, bermudas, cuecas e conjunto de moletons, lençóis e

toalhas), recolhimento de lixo (restos de comida, bitucas de cigarro, papel higiênico usado e outros), revista pessoal dos banheiros (ralos,

vasos sanitários, pias, mictórios), e separação e recolhimento de adolescentes feridos em confrontos e brigas. Destacou, ainda, a Corte

regional, que não havia contato permanente com adolescentes doentes. Do cotejo das atribuições do reclamante com o disposto no Anexo 14 da

NR nº 15 da Portaria nº 3.214/78 do MTE, percebe-se que as atividades descritas não se enquadram em nenhuma das hipóteses que ensejam a

percepção do adicional de insalubridade, seja pela própria atividade ou pela exposição que, segundo a Norma Regulamentar, deve ser

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permanente. Na forma como posto, a decisão recorrida está em consonância com a Orientação Jurisprudencial nº 4, I, da SBDI-1 do TST. (TST-AIRR-112200-75.2007.5.15.0061, Rel. Min. Vieira de Mello Filho, 1ª Turma, DEJT de 09/12/11).

RECURSO DE REVISTA - ADICIONAL DE INSALUBRIDADE - LOCAL DESTINADO AO ATENDIMENTO SÓCIO EDUCATIVO DO MENOR INFRATOR - EQUIPARAÇÃO A HOSPITAIS, AMBULATÓRIOS, ETC - IMPOSSIBILIDADE. É inviável acolher pleito de adicional de

insalubridade em situações nas quais as atividades desenvolvidas pelo Obreiro foram exercidas em locais destinados ao atendimento de adolescentes em cumprimento de medida sócio educativa. Isso porque não há como equiparar internos com pacientes de hospital, ambulatório,

etc, de modo que não é suficiente o reconhecimento pelo perito do direito ao adicional de insalubridade; ao revés, é necessário o prévio enquadramento da atividade desenvolvida no quadro elaborado pelo Ministério do Trabalho (OJ 04, I/SDI-1/TST). (TST-RR-118000-25.2007.5.15.0113, Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado, 6ª Turma, DEJT de 09/03/12) RECURSO DE REVISTA - ADICIONAL DE INSALUBRIDADE -

CENTRO DE ATENDIMENTO SÓCIO-EDUCATIVO AO ADOLESCENTE - CONTATO COM INTERNOS PORTADORES DE

DOENÇAS INFECTO-CONTAGIOSAS. Do quadro fático delineado pelo Regional, constata-se que as atividades desempenhadas pela Autora, apesar da existência de laudo pericial atestando a insalubridade, não estão enquadradas em qualquer das descritas no Anexo 14, da NR 15,

da Portaria nº 3.214/78 do MTE, razão pela qual é indevido o pagamento do respectivo adicional. Incidência da Orientação Jurisprudencial 4, I, do TST. (TST-RR- 17200-11.2007.5.02.0061, Rel. Min. Márcio Eurico Amaro, 8ª Turma, DEJT de 15/06/12).

Assim, é indevido o adicional de insalubridade aos empregados que trabalham em contato com internos em locais destinados ao atendimento socioeducativo do menor infrator, no caso, Fundação Casa.

Súmulas Não há súmulas aplicáveis diretamente à decisão em comento.

OJ’s

OJ nº 4, item I, da SBDI-I. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. LIXO URBANO. I - Não basta a constatação da insalubridade por meio de laudo pericial para que o empregado tenha direito ao respectivo adicional, sendo necessária a classificação da atividade insalubre na relação oficial elaborada pelo Ministério do Trabalho. [...]

Referências legislativas

Arts. 189 a 192, da CLT – já transcritos acima.

Referências -

Processo TST-E-RR-114800-83.2008.5.15.0142, SBDI-I, rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, 10.4.2014.