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Informativos. Curso Frum. Direito Constitucional. Rodrigo Brando. Maro de 2010

Hoje ns vamos tratar da Maratona de Informativos de Direito Constitucional. O meu objetivo aqui abordar todas as decises relevantes proferidas pelo Supremo Tribunal Federal STF em matria constitucional no segundo semestre de 2009. Esse o rol de decises que eu vou abordar aqui. Qual a sistemtica? Eu vou, exceto em relao as decises mais extensas, pretendo ler a ementa ou os principais trechos da ementa e depois em seguida cometa-la. Tambm adotando um critrio de analisar as decises mais recentes. Vou comear pelos Informativos do final do ano e vou descendo para os informativos do incio do segundo semestre. Antes de comear eu vou me apresentar. Meu nome Rodrigo Brando, sou professor de direito constitucional em ps graduaes da UERJ, FGV, sou Procurador do Municpio do RJ, Doutorando pela UERJ. Vou deixar meu email caso queiram estabelecer qualquer tipo de contato, fiquem a vontade: [email protected].

1) Mandado de Segurana 27931/DF Interpretao do Art. 62, 6, da CF e Limitao do Sobrestamento O Tribunal iniciou julgamento de mandado de segurana impetrado por membros do Congresso Nacional contra deciso do Presidente da Cmara dos Deputados que, em questo de ordem, formalizara, perante o Plenrio dessa Casa Legislativa, seu entendimento no sentido de que o sobrestamento das deliberaes legislativas, previsto no 6 do art. 62 da CF (Se a medida provisria no for apreciada em at quarenta e cinco dias contados de sua publicao, entrar em regime de urgncia, subseqentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, at que se ultime a votao, todas as demais deliberaes legislativas da Casa em que estiver tramitando.), s se aplicaria, supostamente, aos projetos de lei ordinria. O Min. Celso de Mello, relator, denegou a ordem. Entendeu que a interpretao emanada do Presidente da Cmara dos Deputados reflete, com fidelidade, soluo jurdica plenamente compatvel com o alto significado que assume, em nosso sistema institucional, o modelo terico da separao de poderes, haja vista que revela frmula hermenutica capaz de assegurar, por meio da preservao de adequada relao de equilbrio entre instncias governamentais (o Poder Executivo e o Poder Legislativo), a prpria integridade da clusula pertinente diviso do poder. Deu, ainda, interpretao conforme ao 6 do art. 62 da CF, na redao resultante da EC 32/2001, para, sem reduo de texto, restringir-lhe a exegese, em ordem a que, afastada qualquer outra possibilidade interpretativa, seja fixado

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entendimento de que o regime de urgncia previsto em tal dispositivo constitucional que impe o sobrestamento das deliberaes legislativas das Casas do Congresso Nacional refere-se, to-somente, quelas matrias que se mostrem passveis de regramento por medida provisria, excludos, em conseqncia, do bloqueio imposto pelo aludido dispositivo, as propostas de emenda Constituio e os projetos de lei complementar, de decreto legislativo, de resoluo e, at mesmo, tratando-se de projetos de lei ordinria, aqueles que veiculem temas pr-excludos do mbito de incidncia das medidas provisrias (CF, art. 62, 1, I, II e IV). Aps, pediu vista dos autos a Min. Crmen Lcia. MS 27931/DF, rel. Min. Celso de Mello, 16.12.2009. (MS-27931) INFORMATIVO 572 Vamos l: MS 27931/DF, relator Ministro Celso de Mello. Para vocs entenderem o que foi discutido aqui, devem entender o contexto do debate. Esse Mandado de Segurana foi impetrado em face de um ato do Presidente da Cmara dos Deputados e que revelava uma nova tese desenvolvida pelo Michel Temer, atual Presidente da Cmara, ex-procurador de So Paulo, atual poltico e ex-jurista. Resgatando um pouco o seu papel de jurista, criou uma tese na condio de Presidente do Congresso, que era a seguinte: o art. 62, 6, CF/88 tem a seguinte redao: 6 Se a medida provisria no for apreciada em at quarenta e cinco dias contados de sua publicao, entrar em regime de urgncia, subseqentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, at que se ultime a votao, todas as demais deliberaes legislativas da Casa em que estiver tramitando. (Includo pela Emenda Constitucional n 32, de 2001). Esse o sistema do trancamento de pauta. Caso cada Casa, Cmara e Senado, no deliberarem em 45 dias, tranca-se a pauta. Qual o objetivo do trancamento de pauta? Forar a Casa deliberao. Enquanto no deliberar aquela Medida Provisria no delibera mais nada. Essa a sistemtica para fazer valer a obrigatoriedade do prazo. O que acontecia na prtica com o trancamento de pauta? Muitas Medias Provisrias ficavam pendentes e o Congresso Nacional se via sem poder deliberar nada at apreciar Medidas Provisrias. Sempre havia Medidas Provisrias obstaculizando deliberaes do Congresso Nacional, que ficava, portanto, merc do Presidente da Repblica na determinao da sua agenda. Ele no conseguia mais fazer a sua prpria agenda. As vezes havia leis importantes que precisavam ser votadas, muitas inclusive com acordo de liderana pela votao, e os lderes no conseguiam submeter aquelas leis votao porque havia uma srie de Medidas Provisrias ainda pendentes de deliberao. A pauta ficava trancada e o Congresso nada mais podia fazer. Isso foi gerando uma asfixia do Congresso Nacional, a perda da agenda do Congresso pelo Presidente da Repblica, e como reao a essa situao, que no boa para o equilbrio entre os Poderes, o Ministro Michel Temer criou essa tese.

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Que tese essa que foi discutida no mbito do Mandado de Segurana que estamos analisando agora. Disse o Presidente Michel Temer: esse dispositivo que prev o trancamento de pauta, s se aplica s leis ordinrias. No se aplica, portanto, aos processos legislativos especiais. A primeira coisa que disse o Presidente Michel Temer: o trancamento de pauta s se aplica s Leis Ordinrias, ento, projeto de lei ordinria no ser apreciado na pendncia de Medida Provisria. Todavia, outros projetos de lei, por exemplo, decreto legislativo, resoluo, emenda constitucional, dentre outros, como no so leis ordinrias, so normas especiais, poderiam ser apreciadas pelo Congresso Nacional mesmo na pendncia da apreciao de MP. Essa uma primeira tese desenvolvida pelo Michel Temer. A outra tese a seguinte: o trancamento de pauta s se aplica sesso ordinria e no s sesses extraordinrias. Naquele perodo de sesso extraordinria que eventualmente convocado durante o recesso parlamentar, ento, caso for convocada sesso extraordinria durante o recesso parlamentar no se aplicaria o trancamento de pauta. Poderiam ser aprovados, inclusive projetos de Lei Ordinria, alm dos projetos de leis especiais, que j podem em sesses ordinrias, em sesses extraordinrias tambm projetos de lei ordinrias poderiam ser apreciados na pendncia de deliberao de MP. Resumindo a tese do Michel Temer, ela diz duas coisas: primeiro, trancamento de pauto no se aplica a processo legislativo especial, mesmo em sesses ordinrias. E o trancamento de pauta no se aplica s sesses extraordinrias, tanto em relao a projeto de leis especiais quanto a projetos de leis ordinrias. O que diz o dispositivo que eu acabei de ler? Ele fala apenas todas as demais deliberaes legislativas da Casa em que estiver tramitando. Caso ns fizssemos um interpretao literal, o Congresso no poderia deliberar nada. Seja projeto de lei especial, seja projeto de lei ordinria, seja em sesso ordinria, seja em sesso extraordinria. Essa a literalidade do art. 62, 6, CF/88. O que o Michel Temer fez? Uma interpretao restritiva para a proteo da independncia e prerrogativas do Congresso Nacional. Ento, em proteo a independncia e prerrogativas do Congresso Nacional, contra ao que se consagrou na prtica, que foi o completo domnio do Presidente da Repblica em relao a agenda de aprovao de projeto de lei no Congresso Nacional, em reao a essa situao, portanto, preservando a independncia do Legislativo, o Presidente da Casa imps uma interpretao restritiva a esse dispositivo, aplicando apenas o trancamento em pauta na hiptese e Leis Ordinrias e sesses ordinrias. Qual foi a posio do STF sobre o tema? Si vai uma dica com relao a leitura de informativo. Cuidado porque muitas vezes h pedido de vista, portanto, a votao no se concluiu no mbito do Congresso Nacional. muito comum, sai uma deciso, vem aluno meu dizer voc viu o que o STF decidiu? Eu digo, no. Um Ministro no representa o entendimento do STF. Para o STF decidir tem que ter voto de pelo menos 6 Ministros. Nesse

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caso h um voto do relator mas a votao ficou pendendo com o pedido e vista da Ministra Carmen Lcia. H um posicionamento sobre essa questo no STF, do Ministro Celso de Mello, que foi o relator do caso. No h ainda o entendimento do plenrio da Casa. Qual foi o entendimento do Ministro Celso de Mello? A tese adotada pelo Michel Temer constitucional. Ele entendeu que a interpretao feita da Constituio pelo Poder Legislativo uma interpretao possvel. Um detalhe terico: vocs podem ler informativo e no precisam de mim pra isso. O objetivo da aula contextualizar a deciso, dizer muitas vezes o que significa a discusso em um contexto mais amplo e problematizar alguns aspectos doutrinrios que eventualmente o aluno tenha dificuldade de abordar. Um outro aspecto dessa deciso diz respeito aos limites da interpretao. No apenas com relao ao judicirio, o Legislativo quando interpreta a Constituio. O Executivo, ou menos os cidados. Qual o limite mximo da criatividade do intrprete? exatamente o que se coloca nesse caso. O texto fala todas as deliberaes. No fala, como resultou da interpretao, apenas Leis Ordinrias, apenas as sesses ordinrias. Ser que o intrprete pode fazer isso sem violar a norma interpretada? Qual o limite da atividade criativa do intrprete? o texto. O texto delimita, estabelece as balizas dentro das quais o intrprete pode atuar. Estabelece, portanto, os limites da criatividade do intrprete. A questo fundamental a saber aqui se a interpretao dada pelo Ministro Celso de Mello e pelo Deputado Michel Temer, se elas so compatveis com o texto. O Ministro Celso de Mello entendeu que sim, que apenas uma interpretao restritiva, mas no era uma interpretao incompatvel com o texto. Era uma interpretao que se adequava ao texto e, portanto, uma interpretao legtima. Vamos ver se os outros Ministros do STF entendem da mesma forma porque o texto fala em todas as deliberaes. Na verdade o que fez o Michel Temer? Todas as deliberaes em sesses ordinrias que tratem de Lei Ordinria. Isso no est no texto da Constituio, isso foi introduzido pela atividade interpretativa. Repito: o Ministro Celso de Mello entendeu que isso vlido. O argumento contrrio, no sei se vai prevalecer no STF, mas a crtica que se faz a esse entendimento, que a Constituio muito clara todas as deliberaes legislativas, o que a princpio inclui, sejam as sesses ordinrias, sejam as sesses extraordinrias, sejam as Leis Ordinrias ou as Leis Especiais. Vamos ver como o STF se posiciona, pela primeira ou pela segunda tese. 2) ADC N 12 EMENTA: AO DECLARATRIA DE CONSTITUCIONALIDADE, AJUIZADA EM PROL DA RESOLUO N 07, de 18.10.05, DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIA. ATO NORMATIVO QUE "DISCIPLINA O EXERCCIO DE CARGOS, EMPREGOS E FUNES POR PARENTES, CNJUGES E COMPANHEIROS DE MAGISTRADOS E DE SERVIDORES INVESTIDOS EM CARGOS DE DIREO E

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ASSESSORAMENTO, NO MBITO DOS RGOS DO PODER JUDICIRIO E D OUTRAS PROVIDNCIAS". PROCEDNCIA DO PEDIDO. 1. Os condicionamentos impostos pela Resoluo n 07/05, do CNJ, no atentam contra a liberdade de prover e desprover cargos em comisso e funes de confiana. As restries constantes do ato resolutivo so, no rigor dos termos, as mesmas j impostas pela Constituio de 1988, dedutveis dos republicanos princpios da impessoalidade, da eficincia, da igualdade e da moralidade. 2. Improcedncia das alegaes de desrespeito ao princpio da separao dos Poderes e ao princpio federativo. O CNJ no rgo estranho ao Poder Judicirio (art. 92, CF) e no est a submeter esse Poder autoridade de nenhum dos outros dois. O Poder Judicirio tem uma singular compostura de mbito nacional, perfeitamente compatibilizada com o carter estadualizado de uma parte dele. Ademais, o art. 125 da Lei Magna defere aos Estados a competncia de organizar a sua prpria Justia, mas no menos certo que esse mesmo art. 125, caput, junge essa organizao aos princpios "estabelecidos" por ela, Carta Maior, neles includos os constantes do art. 37, cabea. 3. Ao julgada procedente para: a) emprestar interpretao conforme Constituio para deduzir a funo de chefia do substantivo "direo" nos incisos II, III, IV, V do artigo 2 do ato normativo em foco; b) declarar a constitucionalidade da Resoluo n 07/2005, do Conselho Nacional de Justia. (ADC 12, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 20/08/2008, DJe-237 DIVULG 17-12-2009 PUBLIC 18-12-2009 EMENT VOL-02387-01 PP-00001) A ADC N 12 tratava da Resoluo n 7 do CNJ, Conselho Nacional de Justia. No sei se vocs conhecem essa Resoluo mas uma Resoluo que gerou muita polmica quando foi editada porque foi a Resoluo pela qual o CNJ proibiu o nepotismo no Poder Judicirio. Originalmente a proibio do nepotismo no Poder Judicirio foi implementada por uma Resoluo do CNJ, Resoluo n 7. Em face da Resoluo n7 foi proposta uma Ao declaratria de Constitucionalidade pela AMB Associao dos Magistrados do Brasil. Isso foi interessante porque houve uma racha no Poder Judicirio. Os juzes de primeira instncia sempre foram contra o nepotismo, enquanto que alguns setores da segunda instncia havia um movimento pela possibilidade de contratao de parentes. Havia um racha na AMB, mas como os juzes de primeira instncia, contra o nepotismo, eram maioria, conseguiram que a AMB aprovasse uma deliberao pela propositura da ADC, que acabou sendo proposta. Uma curiosidade: o advogado desse caso foi o professor Luis Roberto Barroso. Ele foi contratado pela AMB para propor essa ADC. Qual era a grande discusso envolvida nesse caso? A proibio do nepotismo foi instituda formalmente por uma Resoluo do CNJ, que um ato infra-legal, com natureza inferior a de lei, um ato materialmente

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administrativo. O grande argumento contra a validade dessa Resoluo do CNJ era exatamente a violao ao princpio da reserva de lei. No sei se vocs conheceram esse parecer, mas foi feito um parecer por trs constitucionalistas importantes, o Lnio Streck, o Clmerson Merlin Clever e Ingo Sarlet. Os trs assinaram o parecer conjunto considerando inconstitucional a Resoluo do CNJ. O argumento deles era o seguinte: h na hiptese uma restrio ao amplo acesso aos cargos pblicos. Art. 37, I, CF/881. Diziam os constitucionalista que se eu por ser parente no posso ter acesso ao cargo, como estabelece a Resoluo n 7 do CNJ, isso significa uma restrio ao meu direito ao amplo acesso Esses constitucionalistas entendem que essas restries s podem ser feitas por lei formal, no por um ato infra-legal. Segundo eles, o princpio da reserva de lei formal exige lei formal para a restrio a direitos fundamentais. Como a restrio a esse direito fundamental especfico foi feito por ato infra-legal, por uma Resoluo, que tem natureza de ato administrativo, seria inconstitucional. Havia outros argumentos, alguns tribunais entendiam que havia uma violao a autonomia administrativa dos Tribunais, mas esses eram argumentos laterais, o principal argumento era esse. O STF no seguiu esse argumento, o STF julgou procedente esse ADC n 12. O STF acolheu a tese do Luis Roberto Barroso. Qual era a tese dele? Era um tese muito bem construda, ele timo advogado. Ele falou o seguinte: eu no posso dizer que a Resoluo do CNJ criou essa interpretao, se no, esses constitucionalistas estariam certos. De fato Resoluo no pode restringir direito fundamental. O que ele fez pra fugir desse argumento? Ele disse que a Resoluo no criou a violao ao nepotismo, essa Resoluo apenas declarou uma vedao que j existia na CF/88. Essa foi a sada para o argumento formal de que seria necessria lei formal para restrio a direitos fundamentais. No foi a Resoluo que criou a vedao ao nepotismo. A Constituio j probe o nepotismo, a Resoluo apenas declarou, esclareceu algo que j ta proibido pela Constituio Federal. Quais dispositivos da CF/88 vedam o nepotismo? Dois princpios constitucionais que se aplicam a Administrao Pblica. Princpio da moralidade administrativa e o princpio da impessoalidade administrativa. Ento, o Luis Roberto Barroso e o STF entenderam que os princpios constitucionais da impessoalidade administrativa e da moralidade que esto no art. 37, caput probe o nepotismo. O ato concreto que proibiu o nepotismo seria uma mera declarao, uma mera realizao desses1

Art. 37. A administrao pblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios obedecer aos princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia e, tambm, ao seguinte: (Redao dada pela Emenda Constitucional n 19, de 1998) I - os cargos, empregos e funes pblicas so acessveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; (Redao dada pela Emenda Constitucional n 19, de 1998)

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princpios constitucionais, por isso a Resoluo do CNJ foi julgada constitucional. O STF editou uma smula vinculante de igual teor, que de n 13. Smula Vinculante 13 A nomeao de cnjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, at o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurdica investido em cargo de direo, chefia ou assessoramento, para o exerccio de cargo em comisso ou de confiana ou, ainda, de funo gratificada na administrao pblica direta e indireta em qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, compreendido o ajuste mediante designaes recprocas, viola a Constituio Federal. Nessa Smula o STF reiterou a proibio do nepotismo. O que mais interessante nessa Smula que ela foi mais ampla do que a Resoluo. Porque ela se aplica no s ao Poder Judicirio, mas tambm aos Poderes Executivo e Legislativo. A Smula n 13 probe o nepotismo nos 3 poderes, e no apenas no mbito do Poder Judicirio. Isso possvel? O Judicirio poderia ter vinculado outros poderes, que so poderes autnomos, que possuem autonomia administrativa? uma questo interessante. A resposta que sim, porque os princpios da impessoalidade, da moralidade administrativa se aplicam a Administrao Pblica lato sensu e no apenas ao Poder Executivo. Evidentemente que se aplicam ao exerccio da atividade administrativa no s no Poder Executivo mas tambm no Poder Legislativo e no Poder Judicirio. Mas a se poderia problematizar ainda uma outra questo: em relao ao Executivo, tudo bem porque o efeito vinculante das decises do STF se aplicam ao Executivo, est no art. 28, pargrafo nico da Lei 9868. O efeito vinculante das decises do STF se aplicam aos rgos judiciais e administrativo. Ento, atingiu o Judicirio e o Executivo, isso est expresso na Lei 9868, agora e o Legislativo? O Legislativo no est l. A princpio das decises com efeito vinculante do STF no atingem o Poder Legislativo. S que foi tambm proibido o nepotismo no Poder Legislativo, isso possvel? Ou ser que isso viola o art. 28, p, Lei 9868? Ser que h uma aplicao abusiva do efeito vinculante das decises do STF ao Legislativo, quando a ordem jurdica brasileira no prev essa possibilidade? No. O art. 28, p da Lei 9868 quando no incluiu o Legislativo no efeito vinculante das decises do STF, o que ele no quis incluir foi a funo legislativa desempenhada pelo Poder Legislativo. O que o Legislador quis dizer foi o seguinte: o efeito vinculante das decises do STF no se aplicam a funo desempenhada pelo Poder Legislativo, pelo Parlamento. O que isso significa na prtica? Isso significa que se o STF declarar uma Lei Inconstitucional, no h uma vedao a que o Legislativo legisle de novo. Ou seja, se o STF declara uma Lei Inconstitucional, o Legislativo no est impedido de reeditar a norma

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anteriormente declarada inconstitucional. pra isso que o efeito vinculante no se aplica ao Poder Legislativo, para que ele possa legislar de novo. Vocs poderiam perguntar se isso no fere a independncia do STF, o Legislativo editar uma norma rigorosamente igual a anteriormente declarada inconstirucional pelo STF? Isso no fere a separao de poderes, as competncias do STF para ser o guardio da CF/88? No. Tem uma frase do Ministro Seplveda Pertence que muito boa, eu acho que ilustra muito bem por que o STF entende que as suas decises no vinculam o Legislativo no exerccio de sua funo Legislativa. Ele diz o seguinte: se o legislador aprova uma norma idntica a anteriormente declarada inconstitucional, isso no um descumprimento da deciso do STF, e sim um convite a que o STF reaprecie a matria. Um convite a que o STF verifique, luz das novas razes trazidas pelo Legislador, se ele mantm ou no a sua jurisprudncia. Isso pode ser muito importante. Uma questo que caiu h uns dois concursos atrs na PGE-RJ: o STF pode rever a orientao que ele tomou sobre a constitucionalidade de uma determinada norma em controle abstrato? Vou explicar melhor o que eles queriam. A gente tem duas situaes possveis nesse caso. Vamos imaginar que numa primeira situao do STF declara uma lei constitucional, foi proposta uma Adin contra a lei e o STF foi l e julgou essa lei constitucional, julgou improcedente a Adin. Pergunta-se: pode ser proposta uma nova Adin em face da mesma Lei e o STF decidir de forma diversa? O STF pode julgar inconstitucional a mesma lei que julgara constitucional numa Adin anterior? Pode. Que casos vocs conseguem vislumbrar que isso pode acontecer? Um caso a chamada inconstitucionalidade progressiva. O que a inconstitucionalidade progressiva ou processo de inconstitucionalizao ou Lei ainda constitucional? uma situao em que a lei nasce constitucional mas uma situao que aos pouquinhos vai se tornando inconstitucional. O exemplo clssico o dispositivo do CPP que autoriza o Ministrio Pblico a propor a chamada ao civil ex dellito. Essa ao proposta pela vtima de um crime em face daquele que foi condenado criminalmente, visando o ressarcimento dos danos cveis. O CPP diz que o MP pode ajuizar essa ao se a vtima for hipossuficiente. Chegou ao STF com que argumento? Esse dispositivo incompatvel com a CF/88 porque a CF/88 deu Defensoria e no ao MP competncia para representar em juzo aqueles que sejam hipossuficientes. Est certo este argumento? Sim. A CF/88 deu essa competncia para a Defensoria e no para o MP. O que o Seplveda Pertence disse nesse caso? Apesar desse argumento ser procedente, essa lei ainda constitucional. Por que essa lei ainda constitucional? Porque nem todos os Estados possuem a sua prpria Defensoria Pblica. Qual seria o efeito prtico do STF reconhecer a incompatibilidade desse dispositivo do CPP com a Constituio? O MP no tem mais essa competncia, s a Defensoria. Onde no tem Defensoria ningum ia propor. Haveria um prejuzo do acesso a justia. Isso um efeito ruim que o STF quer evitar.

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A deciso final do STF de que essa lei ainda constitucional e assim ser at o momento em que houver Defensorias Pblicas em todos os Estados. Quando houver Defensoria em todos os Estados, o STF julgarar inconstitucional a mesma lei que anteriormente ele julgou constitucional. o caso de inconstitucionalidade progressiva ou de processo de inconstitucionalizao. A lei vai ser tornando inconstitucional por uma mudana ftica e no por uma mudana normativa, e no por uma mudana no seu texto. Em que outro caso isso pode acontecer, o STF julgar inconstitucional uma norma que ele julgara constitucional? Aprovao de uma Emenda Constitucional. A lei pode estar de acordo com o contedo original da Constituio, a luz desse contedo original o STF julgue constitucional, no h nenhuma incompatibilidade. Pode ser que foi aprovada uma Emenda Constitucional e mudou o texto da Constituio e esse texto novo da Constituio incompatvel com a lei. Esse mais um caso em que o STF vai julgar inconstitucional uma norma que ele julgara constitucional, a alterao da Constituio por emenda. Um terceiro caso, at mais prosaico, que uma simples mudana de entendimento do STF, como aconteceu agora na questo da infidelidade partidria. O STF sempre entendeu que troca de partido no gerava perda de mandato. Qual a jurisprudncia atual do STF sobre infidelidade partidria? Troca do partido exceto por perseguio ideolgica ou por mudana ideolgica do partido. A troca de partido implica a perda do mandato. O mandato fica com o partido, no fica com o Parlamentar infiel, exceto se o parlamentar tiver trocado de partido porque ele sofria perseguio ou porque houve uma mudana ideolgica no partido. Esse um exemplo de mudana de entendimento que normalmente ocorre com mudana de composio dos Ministros do STF. Nesses trs casos, processo de incosntitucionalizao, aprovao de Emenda Constitucional ou mudana de entendimento, nada impede que o STF julgue inconstitucional uma norma que ele julgara constitucional. Pergunto: a recproca verdadeira? Ele pode julgar constitucional uma norma que ele anteriormente julgara inconstitucional? Isso em controle abstrato, evidentemente, em Adin e ADC ou ADPF. Digamos que o STF numa ADI, ADC ou ADPF julgou uma lei inconstitucional. Pode no futuro ser proposta uma ADI, ADC ou ADPF e o STF julgar constitucional a mesma norma? No estou falando norma igual, parecida, estou falando da mesma. Pode ou no? No. Porque a deciso de inconstitucionalidade do STF no controle abstrato tem que tipos de efeitos? Efeitos gerais. Significam efeitos vinculantes e erga omnes. A deciso do STF em controle abstrato de constitucionalidade vincula todos os destinatrios da norma e vincula todos os rgos judiciais e administrativos responsveis pela aplicao da norma. Esses so os chamados efeitos erga omnes e vinculantes. Deciso do STF atinge todos os destinatrios da norma e todos os rgos judiciais e administrativos responsveis pela aplicao da norma. Esses efeitos, no a mesma coisa, mas equivalem a revogao da norma. Declarao de inconstitucionalidade no se confunde com revogao. So conceitos

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jurdicos diferentes, mas na prtica os efeitos so muito parecidos. Nenhum rgo judicial e administrativo vai poder aplicar aquela lei. O que a similitude de efeitos importa aqui? Se o STF julgasse constitucional uma norma que ele anteriormente julgara inconstitucional, o que isso representaria? Ele atuaria como legislador positivo, ele atuaria legislando. Aquela norma no produzia mais efeitos, ele restituiria essa norma na ordem jurdica, atuando como legislador positivo, que a princpio lhe vedado pelo princpio da separao dos poderes. Seria uma espcie de repristinao tcita da norma. A norma que no produzia efeito voltaria a produzir pela deciso de constitucionalidade do STF, que no admissvel. Sintetizando isso tudo, o que podemos dizer? Em controle abstrato o STF pode declarar inconstitucional uma norma que ele antes declarara constitucional. S que a recproca no verdadeira. Ele no pode julgar inconstitucional e depois constitucional. Ele pode julgar primeiro constitucional e depois inconstitucional, so as hipteses que ns vimos. Mas ele no pode julgar inconstitucional e depois constitucional. Qual a nica hiptese em que o STF pode rever a sua jurisprudncia nesse segundo caso, em que ele julgou a norma inconstitucional? Caso o legislador legisle de novo. Digamos que o STF julgou inconstitucional e fale que acha que errou aqui, ou ento, o tempo passa e ele v que os efeitos daquela declarao de inconstitucionalidade no foram bons. Se o legislador no pudesse legislar de novo, haveria um engessamento da jurisprudncia do STF no sentido que ele viu ser errado. No faz nenhum sentido. Ento, a no aplicao do efeito vinculante a funo legislativa, pelo Legislativo, tem essa funo, de que o Legislador edite uma norma idntica a anteriormente declarada inconstitucional pra que o STF reaprecie a matria, evitando o engessamento da jurisprudncia pelo STF. E no caso da smula do nepotismo? Por que no h problema da aplicao da smula do nepotismo ao legislativo? Porque no funo legislativa. Nomeao de servidor funo administrativa e no tem nenhuma vedao a que decises do STF tenham efeito vinculante em relao ao legislativo no que toca ao exerccio atpico da funo administrativa. O que no pode ter efeito vinculante em relao a funo legislativa. Em relao funo legislativa no tem nenhum problema. por isso que a smula vinculante, ao vedar o nepotismo tambm no legislativo, constitucional, no h irregularidade nenhuma nesse sentido. Um ltimo comentrio em relao a Smula Vinculante n 13 do STF. Quem est excludo dessa smula? Agentes polticos esto excludos da Smula Vinculante n13, ento, no h nenhuma vedao constitucional a que o Presidente da Repblica nomeie o seu irmo para o cargo de Ministro e Estado, ou o Governador do Estado nomeie o seu filho para cargo de Secretrio de Estado. So cargos polticos, so cargos cujo vnculo se baseia na fidcia, na confiana, logo, no se aplica a vedao ao nepotismo. O STF j decidiu que Ministro do Tribunal de Contas e conselheiro do Tribunal de Contas esto sujeitos a vedao do nepotismo. Pra esses fins no so

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considerados agentes polticos. Ento, governador no poder nomear o seu irmo para cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas. 3) Mandado de Segurana 26441 E M E N T A: MANDADO DE SEGURANA - QUESTES PRELIMINARES REJEITADAS PRETENDIDA INCOGNOSCIBILIDADE DA AO MANDAMENTAL, PORQUE DE NATUREZA "INTERNA CORPORIS" O ATO IMPUGNADO POSSIBILIDADE DE CONTROLE JURISDICIONAL DOS ATOS DE CARTER POLTICO, SEMPRE QUE SUSCITADA QUESTO DE NDOLE CONSTITUCIONAL - O MANDADO DE SEGURANA COMO PROCESSO DOCUMENTAL E A NOO DE DIREITO LQUIDO E CERTO - NECESSIDADE DE PROVA PR-CONSTITUDA CONFIGURAO, NA ESPCIE, DA LIQUIDEZ DOS FATOS SUBJACENTES PRETENSO MANDAMENTAL - COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO - DIREITO DE OPOSIO PRERROGATIVA DAS MINORIAS PARLAMENTARES - EXPRESSO DO POSTULADO DEMOCRTICO - DIREITO IMPREGNADO DE ESTATURA CONSTITUCIONAL - INSTAURAO DE INQURITO PARLAMENTAR E COMPOSIO DA RESPECTIVA CPI IMPOSSIBILIDADE DE A MAIORIA PARLAMENTAR FRUSTRAR, NO MBITO DE QUALQUER DAS CASAS DO CONGRESSO NACIONAL, O EXERCCIO, PELAS MINORIAS LEGISLATIVAS, DO DIREITO CONSTITUCIONAL INVESTIGAO PARLAMENTAR (CF, ART. 58, 3) - MANDADO DE SEGURANA CONCEDIDO. O ESTATUTO CONSTITUCIONAL DAS MINORIAS PARLAMENTARES: A PARTICIPAO ATIVA, NO CONGRESSO NACIONAL, DOS GRUPOS MINORITRIOS, A QUEM ASSISTE O DIREITO DE FISCALIZAR O EXERCCIO DO PODER. - Existe, no sistema poltico-jurdico brasileiro, um verdadeiro estatuto constitucional das minorias parlamentares, cujas prerrogativas - notadamente aquelas pertinentes ao direito de investigar - devem ser preservadas pelo Poder Judicirio, a quem incumbe proclamar o alto significado que assume, para o regime democrtico, a essencialidade da proteo jurisdicional a ser dispensada ao direito de oposio, analisado na perspectiva da prtica republicana das instituies parlamentares. - A norma inscrita no art. 58, 3, da Constituio da Repblica destina-se a ensejar a participao ativa das minorias parlamentares no processo de investigao legislativa, sem que, para tanto, mostre-se necessria a concordncia das agremiaes que compem a maioria parlamentar. - O direito de oposio, especialmente aquele reconhecido s minorias legislativas, para que no se transforme numa prerrogativa constitucional inconseqente, h de ser aparelhado com instrumentos de atuao que viabilizem a sua prtica efetiva e concreta no mbito de cada uma das Casas do Congresso Nacional. - A maioria legislativa no pode frustrar o exerccio, pelos grupos minoritrios que atuam no Congresso Nacional, do direito pblico subjetivo que lhes assegurado pelo art. 58, 3, da Constituio e que lhes confere a prerrogativa de ver efetivamente instaurada a investigao parlamentar, por perodo certo, sobre fato

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determinado. Precedentes: MS 24.847/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.. - A ofensa ao direito das minorias parlamentares constitui, em essncia, um desrespeito ao direito do prprio povo, que tambm representado pelos grupos minoritrios que atuam nas Casas do Congresso Nacional. REQUISITOS CONSTITUCIONAIS PERTINENTES CRIAO DE COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO (CF, ART. 58, 3): CLUSULA QUE AMPARA DIREITO DE CONTEDO EMINENTEMENTE CONTRAMAJORITRIO. - A instaurao de inqurito parlamentar, para viabilizar-se no mbito das Casas legislativas, est vinculada, unicamente, satisfao de trs (03) exigncias definidas, de modo taxativo, no texto da Lei Fundamental da Repblica: (1) subscrio do requerimento de constituio da CPI por, no mnimo, 1/3 dos membros da Casa legislativa, (2) indicao de fato determinado a ser objeto da apurao legislativa e (3) temporariedade da comisso parlamentar de inqurito. Precedentes do Supremo Tribunal Federal: MS 24.831/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.. - O requisito constitucional concernente observncia de 1/3 (um tero), no mnimo, para criao de determinada CPI (CF, art. 58, 3), refere-se subscrio do requerimento de instaurao da investigao parlamentar, que traduz exigncia a ser aferida no momento em que protocolado o pedido junto Mesa da Casa legislativa, tanto que, "depois de sua apresentao Mesa", consoante prescreve o prprio Regimento Interno da Cmara dos Deputados (art. 102, 4), no mais se revelar possvel a retirada de qualquer assinatura. - Preenchidos os requisitos constitucionais (CF, art. 58, 3), impe-se a criao da Comisso Parlamentar de Inqurito, que no depende, por isso mesmo, da vontade aquiescente da maioria legislativa. Atendidas tais exigncias (CF, art. 58, 3), cumpre, ao Presidente da Casa legislativa, adotar os procedimentos subseqentes e necessrios efetiva instalao da CPI, no se revestindo de legitimao constitucional o ato que busca submeter, ao Plenrio da Casa legislativa, quer por intermdio de formulao de Questo de Ordem, quer mediante interposio de recurso ou utilizao de qualquer outro meio regimental, a criao de qualquer comisso parlamentar de inqurito. - A prerrogativa institucional de investigar, deferida ao Parlamento (especialmente aos grupos minoritrios que atuam no mbito dos corpos legislativos), no pode ser comprometida pelo bloco majoritrio existente no Congresso Nacional, que no dispe de qualquer parcela de poder para deslocar, para o Plenrio das Casas legislativas, a deciso final sobre a efetiva criao de determinada CPI, sob pena de frustrar e nulificar, de modo inaceitvel e arbitrrio, o exerccio, pelo Legislativo (e pelas minorias que o integram), do poder constitucional de fiscalizar e de investigar o comportamento dos rgos, agentes e instituies do Estado, notadamente daqueles que se estruturam na esfera orgnica do Poder Executivo. - A rejeio de ato de criao de Comisso Parlamentar de Inqurito, pelo Plenrio da Cmara dos Deputados, ainda que por expressiva votao majoritria, proferida em sede de recurso interposto por Lder de partido

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poltico que compe a maioria congressual, no tem o condo de justificar a frustrao do direito de investigar que a prpria Constituio da Repblica outorga s minorias que atuam nas Casas do Congresso Nacional.(MS 26441, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 25/04/2007, DJe-237 DIVULG 17-12-2009 PUBLIC 18-12-2009 EMENT VOL-02387-03 PP-00294) Esse MS 26441 tratou de duas questes muito importantes sobre controle judicial das Comisses Parlamentares de Inqurito. Um primeira questo se caberia ou no e essa no foi nem a primeira deciso do STF que nesse caso reiterou uma jurisprudncia pretrita do STF, quanto a esse primeiro aspecto que era se caberia ou no o controle judicial dos atos da CPIs. O STF poderia anular eventualmente um ato praticado por uma Comisso Parlamentar de Inqurito? O STF tinha, desde o advento da CF/88 uma jurisprudncia firme no sentido da no aplicao da doutrina das questes polticas. No sei se vocs conhecem essa doutrina. uma doutrina da Suprema Corte Norte Americana, Political Question Doctrine, que sustenta o seguinte: as questes que so de natureza poltica no podem ser apreciadas pelo Poder Judicirio. Por qu? Se no o judicirio iria se imiscuir numa rea que no sua. Uma rea que no pertence ao Direito, pertence a poltica. O STF no aplicou essa doutrina aos atos da CPI s. O STF diz que apesar de reconhecer que o Parlamento um rgo poltico, as CPIs desempenham um funo politicamente importantes, os atos esto sujeitos ao controle judicial, como dizem os americanos, a judicial review, a reviso judicial. Ento, no nenhuma violao a separao dos poderes se o STF invalidar um ato da CPI, alis, h vrias invalidaes na jurisprudncia do STF. Segunda questo resolvida por esse MS uma questo um pouquinho mais tormentosa que dizia respeito ao quorum para instalao das CPIs. Se vocs forem na Constituio 2, vero que o qurum para instalao de CPI de 1/3 dos membros de cada Casa. A CPI pode ser em cada uma das Casas, a CPI pode ser da Cmara em que so necessrios votos de 1/3, na verdade assinatura de 1/3 dos membros da Cmara; se for do Senado, 1/3 dos membros do Senado; se for Comisso mista, 1/3 dos votos de Deputados e Senadores. A questo que foi abordada nesse caso era se da deciso de 1/3 dos membros da Casa que solicitou a instaurao de CPI, se caberia recurso para o Plenrio. Se a maioria dos membros da casa poderia suplantar, poderia reverter, a deciso de 1/3, que evidentemente menos que a maioria, um qurum minoritrio, se a maioria poderia revisar a deciso da minoria. O que aconteceria se a maioria pudesse rever a deciso da minoria, ou seja, no pedido de CPI h subscrio de 1/3 dos membros da Casa, sArt. 58, 3 - As comisses parlamentares de inqurito, que tero poderes de investigao prprios das autoridades judiciais, alm de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, sero criadas pela Cmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um tero de seus membros, para a apurao de fato determinado e por prazo certo, sendo suas concluses, se for o caso, encaminhadas ao Ministrio Pblico, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.2

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que interposto um recurso do ato que determinou a instaurao de CPI e esse recurso deliberado pelo Plenrio e o Plenrio invalida o ato de instaurao de CPI, isso possvel? No. Porque isso significaria no perceber que o direito a instaurao de CPI um direito das minorias parlamentares. Esse direito foi afirmado com todas as letras pelo STF. A CPI um direito das minorias parlamentares, no direito das maiorias. Aquele qurum de 1/3 no foi colocado a toa na Constituio. Por qu? Basta ver a evoluo das coalizes governamentais no Congresso. Desde a CF/88 todo Presidente teve maioria no Congresso, exceto Collor coincidentemente no perodo em que ele sofreu Impeachment. Foras esse perodo todos os Presidentes tiveram maioria no Congresso, ento, o que aconteceria se a maioria pudesse suplantar a deciso da minoria? No haveria CPI sria, pelo menos contra os interesses do governo que so as boas CPIs, elas no ocorreriam porque mobilizariam a sua coalizo para reverter a CPI que foi instalada contra seus interesses. Ento, essa jurisprudncia do STF foi fundamental pra assegurar que as minorias parlamentares fiscalizassem as maiorias. Que as oposies fiscalizassem o governo. uma deciso que vocs tem que conhecer. 4) RE 439723/SP EMENTA: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AO CIVIL. LITISCONSORTE PASSIVO QUE ERA, POCA DA INSTAURAO DO PROCESSO JUDICIAL, JUIZ INTEGRANTE DE TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO. PRETENDIDO RECONHECIMENTO DA COMPETNCIA ORIGINRIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA, POR EFEITO DO QUE DISPE O ART. 105, I, a, DA CONSTITUIO DA REPBLICA, c/c A LEI N 10.628/2002. INADMISSIBILIDADE. DECLARAO DE INCONSTITUCIONALIDADE, PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, EM SEDE DE CONTROLE ABSTRATO, DA LEI N 10.628/2002 (ADI 2.797/DF). COMPETNCIA DE MAGISTRADO DE PRIMEIRO GRAU. RECURSO EXTRAORDINRIO CONHECIDO EM PARTE E, NESSA PARTE, IMPROVIDO. - Compete, ao magistrado de primeira instncia, processar e julgar ao civil de improbidade administrativa, ainda que ajuizada contra autoridade pblica que dispe, nas infraes penais comuns, perante qualquer Tribunal judicirio, mesmo que se trate de Tribunal Superior da Unio ou que se cuide do prprio Supremo Tribunal Federal, de prerrogativa de foro ratione muneris. Doutrina. Precedentes. DECISO: Trata-se de recurso extraordinrio interposto contra acrdo, que, confirmado pelo E. Superior Tribunal de Justia, em sede de embargos de declarao (fls. 1.015/1.021), est assim ementado (fls. 993): PROCESSO CIVIL RECLAMAO INCIDENTE EM AO CIVIL DE IMPROBIDADE INCOMPETNCIA DO STJ. 1. A ao civil tramita no primeiro grau de jurisdio por fora de deciso da Corte Especial. 2. Incidente de reclamao oriundo da ao civil, questionando a competncia por fora da Lei 10.628/02. 3. Questo competencial pendente de recurso no STF. 4. Agravo regimental improvido. (Rcl 1.428-AgR/SP, Rel. Min.

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ELIANA CALMON - grifei) A parte ora recorrente, ao deduzir este apelo extremo, sustenta que o Tribunal a quo teria transgredido os preceitos inscritos no art. 5, incisos XXXV, LIII, LIV e LV e no art. 105, I, a e f, da Constituio da Repblica. Sob tal perspectiva, revela-se absolutamente invivel o presente recurso extraordinrio. que, com relao alegada ofensa norma inscrita no art. 5, XXXV, da Constituio, torna-se evidente que, no caso ora em exame, foi assegurado, parte ora recorrente, o direito de acesso jurisdio estatal, no se podendo inferir, do insucesso processual que experimentou, o reconhecimento de que lhe teria sido denegada a concernente prestao jurisdicional. Com efeito, no se negou, parte recorrente, o direito prestao jurisdicional do Estado. Este, bem ou mal, apreciou, por intermdio de rgos judicirios competentes, o litgio que lhe foi submetido. preciso ter presente que a prestao jurisdicional, ainda que errnea, incompleta ou insatisfatria, no deixa de configurar-se como resposta efetiva do Estado-Juiz invocao, pela parte interessada, da tutela jurisdicional do Poder Pblico, circunstncia que afasta a alegada ofensa a quanto prescreve o art. 5, XXXV, da Carta Poltica, consoante tem enfatizado o magistrio jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal (RTJ 132/455, Rel. Min. CELSO DE MELLO RTJ 141/980, Rel. Min. CARLOS VELLOSO - AI 120.933-AgR/RS, Rel. Min. NRI DA SILVEIRA - AI l25.492-AgR/SP, Rel. Min. CARLOS MADEIRA). A prestao jurisdicional, que se revela contrria ao interesse de quem a postula, no se identifica, no se equipara, nem se confunde, para efeito de acesso via recursal extraordinria, com a ausncia de prestao jurisdicional. Impende assinalar, ainda, a propsito da alegada violao ao art. 5, incisos LIV e LV, da Constituio, que a orientao jurisprudencial desta Suprema Corte tem salientado, considerado o princpio do devido processo legal (neste compreendida a clusula inerente plenitude de defesa), que a suposta ofensa ao texto constitucional, caso existente, apresentar-se-ia por via reflexa, eis que a sua constatao reclamaria - para que se configurasse - a formulao de juzo prvio de legalidade, fundado na vulnerao e infringncia de dispositivos de ordem meramente legal. Da revelar-se inteiramente ajustvel, ao caso ora em exame, o entendimento jurisprudencial desta Corte Suprema, no sentido de que O devido processo legal - CF, art. 5, LV - exerce-se de conformidade com a lei (AI 192.995-AgR/PE, Rel. Min. CARLOS VELLOSO - grifei), razo pela qual a alegao de desrespeito clusula do devido processo legal, por traduzir transgresso indireta, reflexa, dado que a ofensa direta seria a normas processuais (AI 215.885-AgR/SP, Rel. Min. MOREIRA ALVES AI 414.167/RS, Rel. Min. CEZAR PELUSO - RE 257.533-AgR/RS, Rel. Min. CARLOS VELLOSO), no autoriza o acesso via recursal extraordinria: DUE PROCESS OF LAW E PRINCPIO DA LEGALIDADE. - A garantia do devido processo legal exerce-se em conformidade com o que dispe a lei, de tal modo que eventual desvio do ato decisrio configurar, quando muito, situao tipificadora de conflito de mera legalidade, apto a desautorizar a

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utilizao do recurso extraordinrio. Precedentes. (RTJ 189/336337, Rel. Min. CELSO DE MELLO) Alegao de ofensa ao devido processo legal: C.F., art. 5, LV: se ofensa tivesse havido, seria ela indireta, reflexa, dado que a ofensa direta seria a normas processuais. E a ofensa a preceito constitucional que autoriza a admisso do recurso extraordinrio a ofensa direta, frontal. (AI 427.186-AgR/DF, Rel. Min. CARLOS VELLOSO - grifei) Invivel o processamento do extraordinrio para debater matria infraconstitucional, sob o argumento de violao ao disposto nos incisos LIV e LV do artigo 5 da Constituio. Agravo regimental improvido. (AI 447.774-AgR/CE, Rel. Min. ELLEN GRACIE - grifei) Nem se alegue, neste ponto, que a suposta transgresso ao ordenamento legal - derivada da interpretao que lhe deu o rgo judicirio a quo - teria importado em desrespeito ao princpio constitucional da legalidade. No se pode desconsiderar, quanto a tal postulado, a orientao firmada pelo Supremo Tribunal Federal, cuja jurisprudncia vem proclamando, a propsito desse tema, que o procedimento hermenutico do Tribunal inferior - quando examina o quadro normativo positivado pelo Estado e dele extrai a interpretao dos diversos diplomas legais que o compem, para, em razo da inteligncia e do sentido exegtico que lhes der, obter os elementos necessrios exata composio da lide - no transgride, diretamente, o princpio da legalidade (AI 161.396-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO - AI 192.995-AgR/PE, Rel. Min. CARLOS VELLOSO AI 307.711/PA, Rel. Min. CELSO DE MELLO). por essa razo ausncia de conflito imediato com o texto da Constituio - que a jurisprudncia desta Corte vem enfatizando que A boa ou m interpretao de norma infraconstitucional no enseja o recurso extraordinrio, sob color de ofensa ao princpio da legalidade (CF, art. 5, II) (RTJ 144/962, Rel. Min. CARLOS VELLOSO - grifei): E pacfica a jurisprudncia do S.T.F., no sentido de no admitir, em R.E., alegao de ofensa indireta Constituio Federal, por m interpretao de normas infraconstitucionais, como as trabalhistas e processuais (...). (AI 153.310-AgR/RS, Rel. Min. SYDNEY SANCHES - grifei) A alegao de ofensa ao princpio da legalidade, inscrito no art. 5, II, da Constituio da Repblica, no autoriza, s por si, o acesso via recursal extraordinria, pelo fato de tal alegao tornar indispensvel, para efeito de sua constatao, o exame prvio do ordenamento positivo de carter infraconstitucional, dando ensejo, em tal situao, possibilidade de reconhecimento de hiptese de mera transgresso indireta ao texto da Carta Poltica. Precedentes. (RTJ 189/336-337, Rel. Min. CELSO DE MELLO) No foi por outro motivo que o eminente Ministro MOREIRA ALVES, Relator, ao apreciar o tema pertinente ao postulado da legalidade, em conexo com o emprego do recurso extraordinrio, assim se pronunciou: A alegao de ofensa ao artigo 5, II, da Constituio, por implicar o exame prvio da legislao infraconstitucional, alegao de infringncia indireta ou reflexa Carta Magna, no dando margem, assim, ao cabimento do recurso extraordinrio. (AI 339.607/MG, Rel. Min. MOREIRA ALVES - grifei) Cumpre acentuar, neste ponto, que essa

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orientao acha-se presentemente sumulada por esta Corte, como resulta claro da Smula 636 do Supremo Tribunal Federal, cuja formulao possui o seguinte contedo: No cabe recurso extraordinrio por contrariedade ao princpio constitucional da legalidade, quando a sua verificao pressuponha rever a interpretao dada a normas infraconstitucionais pela deciso recorrida. (grifei) De outro lado, e no que se refere alegao de que (...) o Juzo Federal da 12 Vara Federal da Subseo Judiciria de So Paulo absolutamente incompetente para processar e julgar as aes de improbidade, ajuizadas pelo Ministrio Pblico Federal, que tenham como rus Juzes de Tribunal Regional do Trabalho (...) (fls. 1.048 - grifei), cabe assinalar que o presente recurso extraordinrio examinada a pretenso recursal sob tal perspectiva revela-se processualmente invivel, eis que se insurge contra acrdo que decidiu a causa em estrita conformidade com a orientao jurisprudencial que o Supremo Tribunal Federal firmou na matria em anlise. Com efeito, o Plenrio do Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI 2.797/DF, Rel. Min. SEPLVEDA PERTENCE, declarou a inconstitucionalidade da Lei n 10.628/2002, que acresceu, ao art. 84 do CPP, os respectivos 1 e 2, cujo teor d suporte pretenso recursal ora deduzida nesta sede de apelo extremo. O julgamento plenrio em questo, ao reconhecer a inconstitucionalidade da Lei n 10.628/2002, que foi analisada na perspectiva das atribuies jurisdicionais que a prpria Constituio da Repblica deferiu a esta Suprema Corte (e, tambm, ao STJ), teve em considerao, para esse efeito, a circunstncia de que a competncia originria do Supremo Tribunal Federal precisamente por revestir-se de extrao constitucional ( semelhana do que sucede com a competncia originria do Superior Tribunal de Justia e dos Tribunais Regionais Federais) submete-se, por isso mesmo, a regime de direito estrito (RTJ 43/129 RTJ 44/563 RTJ 50/72 RTJ 53/766 - RTJ 94/471 - RTJ 121/17 RTJ 141/344 RTJ 159/28 RTJ 171/101-102, v.g.), no podendo, desse modo, ser ampliada nem restringida por legislao meramente comum (ordinria ou complementar), sob pena de frontal desrespeito ao texto da Lei Fundamental da Repblica. importante rememorar, neste ponto, que o Supremo Tribunal Federal, h 114 anos, em deciso proferida em 17 de agosto de 1895 (Acrdo n. 5, Rel. Min. JOS HYGINO), j advertia, no final do sculo XIX, no ser lcito ao Congresso Nacional, mediante atividade legislativa comum, ampliar, suprimir ou reduzir a esfera de competncia da Corte Suprema, pelo fato de tal complexo de atribuies jurisdicionais, tal como hoje ocorre com o Superior Tribunal de Justia, derivar, de modo imediato, do prprio texto constitucional, proclamando, ento, naquele julgamento, a impossibilidade de tais modificaes por via meramente legislativa, por no poder qualquer lei ordinria aumentar nem diminuir as atribuies do Tribunal (...) (Jurisprudncia/STF, p. 100/101, item n. 89, 1897, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional grifei). Essa mesma orientao tem o beneplcito de autorizado magistrio doutrinrio (ALEXANDRE

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DE MORAES, Constituio do Brasil Interpretada, p. 2.681/2.683, item n. 17.3, 2 ed., 2003, Atlas - RODOLFO DE CAMARGO MANCUSO, Ao Popular, p. 120/130, 1994, RT HUGO NIGRO MAZZILLI, O Inqurito Civil, p. 83/84, 1999, Saraiva - MARCELO FIGUEIREDO, Probidade Administrativa, p. 91, 3 ed., 1998, Malheiros - WALLACE PAIVA MARTINS JNIOR, Probidade Administrativa, p. 318/321, item n. 71, 2001, Saraiva - MARINO PAZZAGLINI FILHO, Lei de Improbidade Administrativa Comentada, p. 173/175, item n. 3.5, 2002, Atlas - JOS AFONSO DA SILVA, Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 558, item n. 7, 23 ed., 2004, Malheiros - MANOEL GONALVES FERREIRA FILHO, Comentrios Constituio Brasileira de 1988, vol. 2, p. 117, 1992, Saraiva - SRGIO MONTEIRO MEDEIROS, Lei de Improbidade Administrativa, p. 176/177, 1 ed., 2003, Juarez de Oliveira - FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA, Foro Privilegiado para Julgamento de Atos de Improbidade Administrativa, Seu Casusmo e Atecnias Flagrantes, in Jornal Trabalhista, JTb Consulex, p. 11/12, XX/963, v.g.), cujas lies, a propsito da Lei n 10.628/2002 (expressamente invocada como fundamento da postulao recursal ora em exame), ressaltam-lhe a inconstitucionalidade, pelo fato juridicamente relevante - de falecer, ao Congresso Nacional, o poder de, mediante simples lei ordinria, modificar, sob qualquer aspecto, o rol de atribuies jurisdicionais originrias do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justia e dos Tribunais Regionais Federais. Cumpre enfatizar, neste ponto, que o Supremo Tribunal Federal, no referido julgamento plenrio da ADI 2.797/DF, ao declarar a inconstitucionalidade da Lei n 10.628/2002, na parte em que esta introduziu o 2 no art. 84 do CPP, explicitou que, tratandose de ao civil por improbidade administrativa (Lei n 8.429/92), mostra-se irrelevante, para efeito de definio da competncia originria dos Tribunais, que se cuide de ocupante de cargo pblico ou de titular de mandato eletivo ainda no exerccio das respectivas funes, pois, em processos dessa natureza, a ao civil dever ser ajuizada perante magistrado de primeiro grau. Cabe assinalar, por outro lado, que esta Suprema Corte, em tal julgamento, reconheceu a inconstitucionalidade da Lei n 10.628/2002 tambm no ponto em que esse diploma legislativo atribua prerrogativa de foro a ex-ocupantes de cargos pblicos e a ex-titulares de mandatos eletivos, sendo indiferente, para esse efeito, que, contra eles, houvesse sido instaurado ou estivesse em curso, quer processo penal de ndole condenatria, quer processo resultante do ajuizamento de ao civil por improbidade administrativa (Lei n 8.429/92). Ao assim decidir, o Supremo Tribunal Federal, relembrando antiga lio ministrada por JOO BARBALHO (Constituio Federal Brasileira, p. 303/304, edio fac-similar, 1992, Braslia), advertiu que a outorga desse tratamento seletivo a determinados cidados que no mais se acham no desempenho da funo pblica cujo exerccio lhes assegurava a prerrogativa de foro ratione muneris ofende o princpio republicano, que traduz postulado essencial e inerente organizao poltico-constitucional brasileira. Nada pode autorizar

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o desequilbrio entre os cidados da Repblica. Isso significa, na perspectiva da controvrsia suscitada pela Lei n 10.628/2002, que as atribuies constitucionais dos Tribunais devem merecer interpretao que impea a indevida expanso, por efeito de imprpria atividade legislativa comum, de sua competncia originria, para que no se transgrida, com a (inadmissvel) concesso de prerrogativa de foro a ex-ocupantes de cargos pblicos ou a ex-titulares de mandatos eletivos, um valor fundamental prpria configurao da idia republicana, que se orienta pelo vetor axiolgico da igualdade, viabilizando-se, desse modo, em relao a quem no mais detm certas titularidades funcionais no aparelho de Estado, a aplicao ordinria do postulado do juiz natural, cuja importncia tem sido enfatizada, em sucessivas decises, por esta Corte Suprema (RTJ 149/962963 RTJ 160/1056-1058 - RTJ 169/557 RTJ 179/378-379, v.g.). V-se, portanto, como anteriormente assinalado, que o acrdo impugnado nesta sede recursal extraordinria ajusta-se, nesse especfico ponto, orientao jurisprudencial que esta Suprema Corte firmou no exame da matria ora em anlise. Sendo assim, em face das razes expostas, e considerando, sobretudo, o julgamento plenrio da ADI 2.797/DF, conheo, em parte, do presente recurso extraordinrio, para, nessa parte, negar-lhe provimento. Publique-se. Braslia, 24 de novembro de 2009. Ministro CELSO DE MELLO Relator (RE 439723, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, julgado em 24/11/2009, publicado em DJe-236 DIVULG 16/12/2009 PUBLIC 17/12/2009) O caso era o seguinte: era uma ao de improbidade administrativa proposta em face de ex-desembargador do TRT. A discusso era sobre competncia. Qual o tribunal competente pra julgar uma ao de improbidade administrativa contra ex-desembargador do TRT. O que vocs acham? A quem cabe julgar ao de improbidade administrativa contra exdesembargador do TRT? H foro por prerrogativa de funo? Tem que discutir duas coisas aqui. Primeiro, no atual desembargador, ex. Tem que apreciar a questo da existncia ou no de foro por prerrogativa de funo pra ex detentor de cargo pblico. Segunda questo se existe foro por prerrogativa de funo pra aes de improbidade. So dois problemas diferentes. Primeiro problema: existe foro por prerrogativa de funo pra ex detentor de cargo pblico? Como foi a evoluo da jurisprudncia do STF sobre essa matria? O STF tinha uma smula que era a 394 3 que dizia que o foro por prerrogativa de funo se matem aps o fim do mandato3

STF Smula n 394 - 03/04/1964 - DJ de 8/5/1964, p. 1239; DJ de 11/5/1964, p. 1255; DJ de 12/5/1964, p. 1279. Crime Durante o Exerccio Funcional Competncia Especial por Prerrogativa de Funo - Cessao do Exerccio Cometido o crime durante o exerccio funcional, prevalece a competncia especial por prerrogativa de funo, ainda que o inqurito ou a ao penal sejam iniciados aps a cessao daquele exerccio. (Cancelada "ex nunc" pelos Inq 687 QO-RTJ 179/912, AP 315 QO-RTJ 180/11, AP 319 QO-DJ de 31/10/2001, Inq 656 QO-DJ de 31/10/2001, Inq 881 QO-RTJ 179/440 e AP 313 QO-RTJ 171/745)

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parlamentar. Ento, sob a gide dessa smula, pouco importava se o ato praticado tinha ou no relao com as funes, bastava que ele tivesse sido durante o exerccio funcional. Ento, havia o foro por prerrogativa de funo. S que essa smula foi cancelada no Inqurito 687 sem que tenha havido mudana na Constituio. A CF/88 nunca teve um dispositivo expresso sobre caso de foro por prerrogativa de funo sobre ex detentor de cargo pblico. Ela apenas estabelece foro por prerrogativa de funo mas no diz nada sobre ex. A CF/88 sempre foi silente sobre o assunto, continuou sendo silente e o STF, sem alterao da Constituio, mudou o seu entendimento, mudou a sua alterao. O STF passou a entender, aps o cancelamento da Smula 394, que no h de foro de funo pra ex detentor de cargo pblico, pouco importa se o ato tenha sido praticado ou no no exerccio da funo pblica. O STF passou a entender que no mais havia foro por prerrogativa de funo. S que no apagar das luzes do governo do Fernando Henrique, foi aprovada a Lei 10.6284, em final de 2002. Essa lei introduziu dois pargrafos no art. 84 do CPP, que diziam exatamente sobre os problemas tratados aqui nessa ao. O primeiro pargrafo estabelecia foro por prerrogativa de funo em aes de improbidade administrativa. Enquanto que o segundo pargrafo estabelecia o foro por prerrogativa de funo pra ex-detentor de cargo pblico. Ambos foram declarados inconstitucionais pelo STF. Tanto a instituio do foro por prerrogativa de funo na ao de improbidade, quanto a instituio de foro por prerrogativa de funo pra ex-

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"Art. 84. A competncia pela prerrogativa de funo do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justia, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justia dos Estados e do Distrito Federal, relativamente s pessoas que devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade. 1o A competncia especial por prerrogativa de funo, relativa a atos administrativos do agente, prevalece ainda que o inqurito ou a ao judicial sejam iniciados aps a cessao do exerccio da funo pblica. (Vide ADIN n 2.797-2) 2o A ao de improbidade, de que trata a Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992, ser proposta perante o tribunal competente para processar e julgar criminalmente o funcionrio ou autoridade na hiptese de prerrogativa de foro em razo do exerccio de funo pblica, observado o disposto no 1o." (Vide ADIN n 2.797-2)

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detentor de cargo pblico. Isso se deu na Adin 27975 que julgou inconstitucionais ambas as normas, por motivos diversos. O foro por prerrogativa de funo na ao de improbidade, o STF entendeu que seria inconstitucional porque lei no pode acrescer o rol de competncias do STF, alis, uma questo interessante. S a CF/88 pode dispor sobre a competncia do STF. Lei no pode estabelecer uma nova competncia para o STF. A competncia do STF matria sujeita a reserva de Constituio, s a Constituio pode estabelecer novas hipteses de competncia do STF.5

EMENTA: I. ADIn: legitimidade ativa: "entidade de classe de mbito nacional" (art. 103, IX, CF): Associao Nacional dos Membros do Ministrio Pblico CONAMP 1. Ao julgar, a ADIn 3153-AgR, 12.08.04, Pertence, Inf STF 356, o plenrio do Supremo Tribunal abandonou o entendimento que exclua as entidades de classe de segundo grau - as chamadas "associaes de associaes" - do rol dos legitimados ao direta. 2. De qualquer sorte, no novo estatuto da CONAMP agora Associao Nacional dos Membros do Ministrio Pblico - a qualidade de "associados efetivos" ficou adstrita s pessoas fsicas integrantes da categoria, - o que basta a satisfazer a jurisprudncia restritiva-, ainda que o estatuto reserve s associaes afiliadas papel relevante na gesto da entidade nacional. II. ADIn: pertinncia temtica. Presena da relao de pertinncia temtica entre a finalidade institucional das duas entidades requerentes e os dispositivos legais impugnados: as normas legais questionadas se refletem na distribuio vertical de competncia funcional entre os rgos do Poder Judicirio - e, em conseqncia, entre os do Ministrio Pblico . III. Foro especial por prerrogativa de funo: extenso, no tempo, ao momento posterior cessao da investidura na funo dele determinante. Smula 394/STF (cancelamento pelo Supremo Tribunal Federal). Lei 10.628/2002, que acrescentou os 1 e 2 ao artigo 84 do C. Processo Penal: pretenso inadmissvel de interpretao autntica da Constituio por lei ordinria e usurpao da competncia do Supremo Tribunal para interpretar a Constituio: inconstitucionalidade declarada. 1. O novo 1 do art. 84 CPrPen constitui evidente reao legislativa ao cancelamento da Smula 394 por deciso tomada pelo Supremo Tribunal no Inq 687-QO, 25.8.97, rel. o em. Ministro Sydney Sanches (RTJ 179/912), cujos fundamentos a lei nova contraria inequivocamente. 2. Tanto a Smula 394, como a deciso do Supremo Tribunal, que a cancelou, derivaram de interpretao direta e exclusiva da Constituio Federal. 3. No pode a lei ordinria pretender impor, como seu objeto imediato, uma interpretao da Constituio: a questo de inconstitucionalidade formal, nsita a toda norma de gradao inferior que se proponha a ditar interpretao da norma de hierarquia superior. 4. Quando, ao vcio de inconstitucionalidade formal, a lei interpretativa da Constituio acresa o de opor-se ao entendimento da jurisprudncia constitucional do Supremo Tribunal - guarda da Constituio -, s razes dogmticas acentuadas se impem ao Tribunal razes de alta poltica institucional para repelir a usurpao pelo legislador de sua misso de intrprete final da Lei Fundamental: admitir pudesse a lei ordinria inverter a leitura pelo Supremo Tribunal da Constituio seria dizer que a interpretao constitucional da Corte estaria sujeita ao referendo do legislador, ou seja, que a Constituio - como entendida pelo rgo que ela prpria erigiu em guarda da sua supremacia -, s constituiria o correto entendimento da Lei Suprema na medida da inteligncia que lhe desse outro rgo constitudo, o legislador ordinrio, ao contrrio, submetido aos seus ditames. 5. Inconstitucionalidade do 1 do art. 84 C.Pr.Penal, acrescido pela lei questionada e, por arrastamento, da regra final do 2 do mesmo artigo, que manda estender a regra ao de improbidade administrativa. IV. Ao de improbidade administrativa: extenso da competncia especial por prerrogativa de funo estabelecida para o processo penal

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J no caso de ex-detentor de cargo pblico, o STF entendeu que haveria necessidade de ter norma expressa para o reconhecimento do foro por prerrogativa de funo de ex-detentor de cargo pblico. O foro por prerrogativa de funo exceo e no a regra. A regra o julgamento com o juiz natural. Como exceo o foro por prerrogativa de funo, precisariam de norma expressa na Constituio, que no existe. No poderia ser instituda tambm por Lei Ordinria. Qual a situao hoje? No h foro por prerrogativa de funo nem pra ao de improbidade administrativa, nem pra ex-detentor de cargo pblico. Por isso que o STF nesse caso determinou que a ao fosse julgada pelo juiz natural. Por que i) era ao de improbidade; ii) era ex-detentor de cargo pblico.condenatrio contra o mesmo dignitrio ( 2 do art. 84 do C Pr Penal introduzido pela L. 10.628/2002): declarao, por lei, de competncia originria no prevista na Constituio: inconstitucionalidade. 1. No plano federal, as hipteses de competncia cvel ou criminal dos tribunais da Unio so as previstas na Constituio da Repblica ou dela implicitamente decorrentes, salvo quando esta mesma remeta lei a sua fixao. 2. Essa exclusividade constitucional da fonte das competncias dos tribunais federais resulta, de logo, de ser a Justia da Unio especial em relao s dos Estados, detentores de toda a jurisdio residual. 3. Acresce que a competncia originria dos Tribunais , por definio, derrogao da competncia ordinria dos juzos de primeiro grau, do que decorre que, demarcada a ltima pela Constituio, s a prpria Constituio a pode excetuar. 4. Como mera explicitao de competncias originrias implcitas na Lei Fundamental, disposio legal em causa seriam oponveis as razes j aventadas contra a pretenso de imposio por lei ordinria de uma dada interpretao constitucional. 5. De outro lado, pretende a lei questionada equiparar a ao de improbidade administrativa, de natureza civil (CF, art. 37, 4), ao penal contra os mais altos dignitrios da Repblica, para o fim de estabelecer competncia originria do Supremo Tribunal, em relao qual a jurisprudncia do Tribunal sempre estabeleceu ntida distino entre as duas espcies. 6. Quanto aos Tribunais locais, a Constituio Federal -salvo as hipteses dos seus arts. 29, X e 96, III -, reservou explicitamente s Constituies dos Estados-membros a definio da competncia dos seus tribunais, o que afasta a possibilidade de ser ela alterada por lei federal ordinria. V. Ao de improbidade administrativa e competncia constitucional para o julgamento dos crimes de responsabilidade. 1. O eventual acolhimento da tese de que a competncia constitucional para julgar os crimes de responsabilidade haveria de estender-se ao processo e julgamento da ao de improbidade, agitada na Rcl 2138, ora pendente de julgamento no Supremo Tribunal, no prejudica nem prejudicada pela inconstitucionalidade do novo 2 do art. 84 do C.Pr.Penal. 2. A competncia originria dos tribunais para julgar crimes de responsabilidade bem mais restrita que a de julgar autoridades por crimes comuns: afora o caso dos chefes do Poder Executivo - cujo impeachment da competncia dos rgos polticos - a cogitada competncia dos tribunais no alcanaria, sequer por integrao analgica, os membros do Congresso Nacional e das outras casas legislativas, aos quais, segundo a Constituio, no se pode atribuir a prtica de crimes de responsabilidade. 3. Por outro lado, ao contrrio do que sucede com os crimes comuns, a regra que cessa a imputabilidade por crimes de responsabilidade com o termo da investidura do dignitrio acusado. (ADI 2797, Relator(a): Min. SEPLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 15/09/2005, DJ 19-12-2006 PP-00037 EMENT VOL-02261-02 PP-00250)

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importante vocs entenderem a evoluo da jurisprudncia do STF. No adianta cair de pra-quedas nessa deciso sem saber o que o STF entendia antes. 5) Rcl 8025/SP, rel. Min. Eros Grau DECISO: Trata-se de reclamao, com pedido de medida cautelar --- ajuizada com fundamento no artigo 102, I, l, da Constituio do Brasil e nos artigos 156 e seguintes do RISTF --contra ato do Tribunal Regional Federal da 3 Regio que considerou vencedor o Desembargador Paulo Otvio Baptista Pereira em eleio para o cargo de Presidente. 2. A reclamante alega ser de nulidade irremedivel a eleio do Desembargador Paulo Octvio Baptista Pereira como Presidente do Tribunal Regional Federal da 3 Regio, eis que, nos quatro anos anteriores (doc. n 3 em anexo), veio ele ocupando cargos de direo da mencionada Corte. Assim, na conformidade do caput do artigo 102 da LOMAN, s poderia ele candidatar-se a cargo de direo depois do esgotamento de todos os nomes de integrantes do Tribunal, da ordem de antiguidade (fl. 05). 3. Sustenta ter sido desrespeitada a autoridade da deciso proferida por esta Corte nos autos da ADI n. 3.566, Relator o Ministro CEZAR PELUSO, DJ de 14.6.2007, na qual foi declarado que: a) somente a LOMAN pode sediar normas definidoras do universo de magistrados elegveis, para os rgos diretivos dos Tribunais; b) a norma da LOMAN, balizadora desse universo, dizer, seu artigo 102, circunscreve-o ao nmero de magistrados mais antigos, em nmero correspondente ao dos cargos de direo, DESDE QUE NO INCIDAM NA VEDAO EXPRESSA DO ARTIGO 102, caput, DA LOMAN (isto , no ter j exercido por quatro anos cargo de direo), ou desde que no tenham manifestado, em tempo, propsito de no concorrer; c) quaisquer decises, jurisdicionais, polticas ou administrativas, que ampliem esse universo (por exemplo, nele incluindo quem legalmente inelegvel, como fez o Tribunal Regional Federal em causa), so inconstitucionais. [fl. 7] 4. Menciona, ainda, a Rcl n. 5.158-7, Relator o Ministro CEZAR PELUSO, na qual teria sido concedida, em caso semelhante, a medida cautelar. 5. Requer a concesso de medida cautelar [...] com o fito de NO SER o Desembargador Federal Paulo Octvio Baptista Pereira empossado Presidente do Tribunal Regional Federal da 3 Regio ou, se no entretempo empossado, ter suspenso seu exerccio, dando-se posse, em seu lugar, Desembargadora, ora Reclamante, at o final desta Reclamao [fl. 18]. 6. o relatrio. Decido. 7. A reclamao tem por escopo a preservao da competncia deste Supremo Tribunal e a garantia da autoridade de suas decises [artigo 102, I, l, da Constituio do Brasil]. 8. A reclamante alega ter sido descumprida deciso proferida nos autos da ADI n. 3.566, com a seguinte ementa: EMENTA: MAGISTRATURA. Tribunal. Membros dos rgos diretivos. Presidente, Vice-Presidente e CorregedorGeral. Eleio. Universo dos magistrados elegveis. Previso regimental de elegibilidade de todos os integrantes do rgo

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Especial. Inadmissibilidade. Temtica institucional. Matria de competncia legislativa reservada Lei Orgnica da Magistratura e ao Estatuto da Magistratura. Ofensa ao art. 93, caput, da Constituio Federal. Inteligncia do art. 96, inc. I, letra a, da Constituio Federal. Recepo e vigncia do art. 102 da Lei Complementar federal n 35, de 14 de maro de 1979 - LOMAN. Ao direta de inconstitucionalidade julgada, por unanimidade, prejudicada quanto ao 1, e, improcedente quanto ao caput, ambos do art. 4 da Lei n 7.727/89. Ao julgada procedente, contra o voto do Relator sorteado, quanto aos arts. 3, caput, e 11, inc. I, letra a, do Regimento Interno do Tribunal Regional Federal da 3 Regio. So inconstitucionais as normas de Regimento Interno de tribunal que disponham sobre o universo dos magistrados elegveis para seus rgos de direo. [ADI n. 3566, Relator: Min. JOAQUIM BARBOSA, Relator p/ Acrdo: Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, DJ de 15.6.2007] 9. Em situao anloga destes autos esta Corte, em Sesso Plenria, concedeu medida cautelar: EMENTA: MAGISTRATURA. Tribunal. Membros dos rgos diretivos. Presidente, Vice-Presidente e Corregedor-Geral. Eleio. Universo dos magistrados elegveis. Previso regimental de elegibilidade de todos os membros da Corte. Inconstitucionalidade reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal na ADI n 3.566. Jurisprudncia assente a respeito da incidncia do art. 102 da Lei Orgnica da Magistratura Nacional. Elegibilidade restrita aos juzes mais antigos em nmero correspondente aos trs cargos de direo. Pleito realizado em desacordo com tais decises. Eleio de magistrado no elegvel para o cargo de Corregedor-Geral de tribunal. Inadmissibilidade. Afronta patente autoridade da deciso do Supremo. Liminar concedida em reclamao. Aparenta ofender a autoridade da deciso proferida pelo Supremo Tribunal Federal na ADI n 3.566, a eleio de membro no elegvel de tribunal para o cargo de Corregedor-Geral da Justia. [Rcl-MC n. 5158, Rel. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, DJ de 24.8.2007] 10. primeira vista, em tese, a eleio realizada tendo em vista a eleio do corpo diretivo do Tribunal Regional da 3 Regio pode ter descumprido a deciso desta Corte na ADI n 3.566, em possvel afronta ao art. 102 da LOMAN, o que, no entanto, ser plenamente aferido aps a vinda das informaes --- que determinei viessem aos autos com urgncia ---, completada a instruo do feito. Ante o exposto e considerando a iminncia da posse [fl. 26], defiro o pedido de medida liminar para o fim de suspender a posse da Diretoria do TRF 3 Regio eleita no ltimo pleito, mantendo-se o seu atual corpo diretivo, todo ele, no exerccio de seu ofcio e funes at o julgamento final desta reclamao. Aps o recebimento das informaes encaminhem-se os autos Procuradoria-Geral da Repblica. Comunique-se, com urgncia. Publique-se. Braslia, 23 de abril de 2009. Ministro Eros Grau - Relator 1 (Rcl 8025, Relator(a): Min. EROS GRAU, julgado em 23/04/2009, publicado em DJe-078 DIVULG 28/04/2009 PUBLIC 29/04/2009)

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Esse era um caso interessante porque havia uma lide sobre eleio de Presidente do TRF da 3 Regio e se discutiu a quem cabia a representao judicial no TRF. O Presidente, cuja eleio estava sendo questionada contratou um advogado particular pra que ele representasse do o TRF e o STF entendeu que a atuao daquele advogado particular era ilegtima, tendo em vista a competncia constitucional da Advocacia Geral da Unio em representar a Unio includo os Tribunais. O STF reconheceu que a representao judicial dos TRFs atribuio da AGU, portanto, invalidou a contratao de advogado particular pra representao do TRF. Uma outra questo importante foi que o STF reconheceu, isso j tinha sido reconhecido numa Adin anterior, a ADI 3566, o STF entendeu que somente a LOMAN (Lei Orgnica da Magistratura) poderia estabelecer critrios para eleio de membros pra cargos eletivos em tribunais. Ou seja, o tribunal no pode estabelecer um ato interno que restrinja o universo de candidatos elegveis segundo a LOMAN. A matria est tratada no art. 102 da LOMAN6. Na verdade a controvrsia especfica aqui que este art. 102 da LOMAN impede que seja candidato a Presidncia do Tribunal, juiz ou desembargador que j tenha desempenhado cargo eletivo, cargo de direo no tribunal e exatamente o caso. O Presidente eleito ex-vice-presidente do tribunal, ento, segundo o art. 102 da LOMAN seria inelegvel e no obstante isso, foi eleito. O STF reafirmou que o art. 102 da LOMAN prevalece sobre o regulamento interno do tribunal e invalidou a eleio porque estava em descompasso com o art. 102 da LOMAN. 6) Rcl 9428/DF, Rel. Min. Cesar Peluso O Tribunal, por maioria, no conheceu de reclamao julgandoa extinta sem julgamento de mrito proposta por empresa jornalstica contra deciso de Turma Cvel do TJDFT, que, nos autos de agravo de instrumento, se declarara absolutamente incompetente para apreciar o recurso, reconhecendo conexo com deciso que decretara a quebra de sigilo telefnico proferida por juiz federal no Estado do Maranho, mantendo, porm, com base no poder geral de cautela, deciso liminar do relator original da causa, qual seja, ao inibitria de publicao de dados sigilosos sobre o autor e contidos em pendente investigao policial. Alegava a reclamante, em suma, desrespeito autoridade da6

Art. 102 - Os Tribunais, pela maioria dos seus membros efetivos, por votao secreta, elegero dentre seus Juzes mais antigos, em nmero correspondente ao dos cargos de direo, os titulares destes, com mandato por dois anos, proibida a reeleio. Quem tiver exercido quaisquer cargos de direo por quatro anos, ou o de Presidente, no figurar mais entre os elegveis, at que se esgotem todos os nomes, na ordem de antigidade. obrigatria a aceitao do cargo, salvo recusa manifestada e aceita antes da eleio. Pargrafo nico - O disposto neste artigo no se aplica ao Juiz eleito, para completar perodo de mandato inferior a um ano.

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deciso proferida pelo Supremo na ADPF 130/DF (DJE de 6.11.2009), que declarara a revogao integral ou no recepo, pela ordem jurdica vigente, da Lei 5.250/67 - Lei de Imprensa. Pleiteava fosse cassado o acrdo impugnado, fazendo cessar as restries informativas (censura) que teriam sido a ela impostas. Entendeu-se no haver identidade entre a questo jurdica discutida nos autos da reclamao e a decidida na ADPF 130/DF. Rcl 9428/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 10.12.2009. (Rcl-9428) Esse foi um caso de muita repercusso na mdia, o caso do Fernando Sarney, filho do Jos Sarney, Presidente do Senado em que foi reconhecido o sigilo de justia de um processo em curso na Justia Federal de So Paulo e o Estado de So Paulo foi impedido de publicar notcias sobre o processo que foi objeto de sigilo de justia e proteo a intimidade do Fernando Sarney, essa foi a deciso judicial. O que fez o Estado de SP? Depois que o STF julgou a ADPF 130 que vamos analisar daqui a pouco, foi o caso em que o STF reconheceu a no recepo da Lei de Imprensa, o Estado de SP props uma Reclamao no STF sob o argumento de que a deciso que determinou o sigilo de justia violaria a deciso da ADPF 130 que reconheceu a no-recepo da Lei de Imprensa, eram decises incompatveis. Qual o pressuposto da reclamao? Quando cabe a reclamao? Quando h desrespeito a deciso do STF. O que disse o reclamante? A deciso que determinou o sigilo de justia desrespeitou a deciso na ADPF 130 que reconheceu a no recepo da lei de Imprensa. Qual foi o problema aqui? A gente vai analisar essa deciso daqui a pouco, talvez fique mais claro. Alis, um problema do processo de deciso do STF. Um dos problemas mais graves hoje que existe no STF. O STF hoje s colhe voto quanto ao dispositivo, no quanto a fundamentao. Digamos que tenha a maioria dos Ministros pela inconstitucionalidade de uma lei. Digamos que sejam questionados todos os artigos. A lei tem 10 artigos. Tem maioria para declarar inconstitucional os artigos 1 a 5 e constitucional os art. 6 a 10. Independentemente de cada Ministro declarar inconstitucional por um motivo, no h contabilizao quanto aos motivos do voto. Apenas se julga constitucional ou inconstitucional aquele dispositivo. Qual o problema que ocorre no STF hoje em virtude disso? Hoje o STF adota uma tese da eficcia transcendente dos motivos determinantes. Isso significa que o efeito vinculante apenas ao dispositivo mas tambm aos fundamentos. Quando se fala em efeito transcendente dos motivos determinantes, se quer dizer apenas isso, se a deciso do STF vinculante no apenas no que toca ao seu dispositivo, mas tambm aos seus motivos determinantes, so os fundamentos mais importantes daquela deciso, como diz o Min. Gilmar, a tese jurdica central que se extrai daquela deciso. A tese

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jurdica central j possui efeito vinculante. O problema que muitas vezes difcil saber qual essa tese jurdica central porque o STF no colhe votos em relao aos fundamentos. Isso aconteceu no caso da ADPF 130, como a gente vai ver. O que aconteceu na ADPF 130? O acrdo era na verdade do voto do relator, que era a viso minoritria do Carlos Britto sobre a funo da liberdade de imprensa. A gente vai analisar esse acrdo daqui a pouco, mas s pra ficar claro, era um acrdo que o Ministro Carlos Britto dizia que era a liberdade de imprensa e a liberdade de expresso eram liberdades superiores, qualquer restrio a princpio seria inconstitucional. Era uma viso super protetiva da liberdade de imprensa que colocava a liberdade de imprensa acima do direito a intimidade. Ento, o que pensou o Estado de SP? Se aquele acrdo reflete a orientao do STF, como devem refletir as ementas do acrdos, e l ta dito que a liberdade de imprensa prefere a intimidade, nesse caso, a deciso que protegeu a intimidade contra a liberdade de imprensa, viola a ADPF 130. O STF ficou numa situao complicada. Teve que dizer, sem dizer expressamente, que o que constava no acrdo no foi o decidido pela maioria e sim o entendimento isolado do relator. O que um absurdo. Se entendimento isolado do relator, no pode ser a ementa do voto que deveria representar o tribunal e no o relator. O que o STF fez? L a gente no decidiu que a liberdade de imprensa ganha sempre da intimidade, como sugeriu o relator. Na verdade, o que a gente decidiu l que em havendo conflito entre liberdade de expresso ou de imprensa e intimidade, esse conflito deve ser resolvido por ponderaes especficas a cada caso concreto, e isso o juiz competente para julgar o caso que vai fazer. No sou eu que vou fazer, STF. O STF no conheceu a Reclamao sob o argumento de que conflitos concretos entre liberdade de imprensa e intimidade devem ser resolvidos no caso concreto pelo juiz competente. uma ponderao entre princpios constitucionais, que deve ser exercida pelo juiz competente, no pelo STF. Em outras palavras: O STF na ADPF 130 no estabeleceu uma prioridade necessria e apriorstica da liberdade de imprensa em detrimento do direito a intimidade. O STF no falou na ADPF 130 que a liberdade de imprensa sempre ganha da intimidade, como o voto do relator sugeriu. Ento, a reclamao foi desprovida. 7) ADI 3978/SC EMENTA: AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPUGNAO DO DISPOSTO NOS ARTIGOS 19, 20 E 21 DA LEI N. 14.083 DO ESTADO DE SANTA CATARINA. REGRAS GERAIS CONCERNENTES AOS CONCURSOS PBLICOS PARA INGRESSO E REMOO NA ATIVIDADE NOTARIAL E DE REGISTRO. VIOLAO

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DO DISPOSTO NO ARTIGO 37, INCISO II, E NO ARTIGO 236, 3, DA CONSTITUIO DO BRASIL. 1. Os preceitos da Lei n. 14.083 de Santa Catarina violam o disposto no artigo 236 da Constituio de 1988, que estabelece que o ingresso nas atividades notarial e de registro ser efetuado por meio de concurso pblico de provas e ttulos. 2. O artigo 21 da Lei n. 14.083 permitiria que os substitutos das serventias extrajudiciais nomeados at 21 de novembro de 1994 fossem elevados condio de titular, sem aprovao em concurso. 3. Esta Corte tem entendido que atos normativos concernentes ao provimento de cargos mediante a elevao de substitutos titularidade dos cartrios, sem a devida aprovao em concurso pblico afrontam a Constituio do Brasil. Precedentes --- artigo 37, inciso II, e artigo 236, 3, da Constituio do Brasil. 4. Os artigos 20 e 21 da Lei n. 14.083 violam o texto da Constituio de 1.988. Ato normativo estadual no pode subverter o procedimento de acesso aos cargos notariais, que, nos termos do disposto na Constituio do Brasil, dar-se- por meio de concurso pblico. 5. A inconstitucionalidade dos artigos 20 e 21 impe a procedncia do pedido no tocante ao artigo 19. 6. O provimento de cargos pblicos mediante concursos visa a materializar princpios constitucionais aos quais est sujeita a Administrao, qual o da legalidade, da moralidade, da impessoalidade. 7. Pedido julgado procedente para declarar inconstitucionais os artigos 19, 20 e 21 da Lei n. 14.083 do Estado de Santa Catarina. (ADI 3978, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 21/10/2009, DJe-232 DIVULG 10-12-2009 PUBLIC 11-122009 EMENT VOL-02386-01 PP-00074 RIP v. 12, n. 59, 2010, p. 259-265) Nessa ADI se questionou a Lei 14083 de Santa Catarina que estabelecia que os substitutos de serventias extrajudiciais, nomeados at 21/11/94, fossem elevados a condio de titular, sem aprovao de concurso. Repito: Lei 14.083 que permitia que substitutos de serventias extrajudiciais, nomeados at 21/11/94, fossem elevados a condio de titular sem aprovao de concurso. O STF entendeu que essa norma violaria o art. 236, 3, CF/88 que diz que O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso pblico de provas e ttulos, no se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoo, por mais de seis meses. Ento, o art. 236, 3 estabelece a obrigatoriedade de concurso pra atividade notarial, portanto, lei estadual que autoriza que substituto seja provido na condio de titular, sem concurso pblico, viola o art. 236, 3. Esse um caso relativamente simples. Simples em tese. Na prtica a nomeao de substitutos pra cargos de notrios os jornais revelam que complicado. 8) RE 411156/SP

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EMENTA: AO CIVIL PBLICA. CONTROLE INCIDENTAL DE CONSTITUCIONALIDADE. QUESTO PREJUDICIAL. POSSIBILIDADE. - O Supremo Tribunal Federal tem reconhecido a legitimidade da utilizao da ao civil pblica como instrumento idneo de fiscalizao incidental de constitucionalidade, pela via difusa, de quaisquer leis ou atos do Poder Pblico, mesmo quando contestados em face da Constituio da Repblica, desde que, nesse processo coletivo, a controvrsia constitucional, longe de identificar-se como objeto nico da demanda, qualifique-se como simples questo prejudicial, indispensvel resoluo do litgio principal. Precedentes. Doutrina. VINCULAO DOS SUBSDIOS DOS AGENTES POLTICOS LOCAIS REMUNERAO DOS SERVIDORES PBLICOS MUNICIPAIS. INADMISSIBILIDADE. EXPRESSA VEDAO CONSTITUCIONAL (CF, ART. 37, XIII). Revela-se inconstitucional a vinculao dos subsdios devidos aos agentes polticos locais (Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores) remunerao estabelecida em favor dos servidores pblicos municipais. Precedentes. DECISO: Trata-se de recursos extraordinrios interpostos pela Cmara Municipal de Mato (e outros) e por Adauto Aparecido Scardoelli (e outros) contra acrdo, que, confirmado, em sede de embargos de declarao (fls. 658/664), pelo E. Tribunal de Justia do Estado de So Paulo, est assim ementado (fls. 621): Ao civil pblica Invalidao de decreto-legislativo que vinculou o salrio de vereadores e prefeitos aos dos servidores municipais Inconstitucionalidade Possibilidade de aumento para a prpria legislatura Burla ao princpio da anterioridade. ...................................................... Ministrio Pblico Legitimidade ativa conferida pelo artigo 129 da Constituio Federal. (grifei) As partes ora recorrentes, ao deduzirem os presentes recursos extraordinrios, sustentaram que o Tribunal a quo teria transgredido preceitos inscritos na Constituio da Repblica. O Ministrio Pblico Federal, em parecer da lavra do ilustre Subprocurador-Geral da Repblica, Dr. WAGNER DE CASTRO MATHIAS NETTO, opinou pelo improvimento dos apelos extremos em questo (fls. 839/840). Entendo assistir plena razo douta Procuradoria Geral da Repblica, considerado o pedido que o Ministrio Pblico local, em primeira instncia, formulou na ao civil pblica por ele ajuizada na comarca de Mato/SP e que possui o seguinte contedo (fls. 19): c) seja julgada integralmente procedente a ao, com a declarao de nulidade, desde a publicao, do Decreto Legislativo 09/96, de 03.09.96 e da Resoluo n 05, de 03.09.96, do Municpio de Mato, em razo do reconhecimento, incidenter tantum, da inconstitucionalidade destes atos. Conseqentemente: c1) seja fixada a remunerao do Prefeito, do Vice- -Prefeito e dos vereadores (inclusive suplentes que vierem eventualmente a assumir o cargo) na forma, respectivamente, do decreto legislativo e resoluo camarria anteriores (Decreto Legislativo 11/92, de 18.08.92 e Resoluo 02/92, de 18.08.92), especificando-se, em moeda corrente, os valores que devero ser observados para efeito do pagamento das remuneraes; c2) sejam condenados os requeridos, individualmente, ao

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ressarcimento dos cofres pblicos do Municpio de Mato, de todas as diferenas recebidas a maior (inclusive ajudas de custo) em funo da inconstitucionalidade reconhecida e do critrio adotado, conforme apurado em regular liquidao de sentena, sem prejuzo do cmputo dos juros e da correo monetria; (grifei) Presente esse contexto, cabe examinar, preliminarmente, se se revela legtima a instaurao, na espcie, de controle incidental de constitucionalidade de atos emanados do Poder Pblico, contestados em face da Constituio da Repblica, mediante ajuizamento, pelo Ministrio Pblico local, de ao civil pblica, em cujo mbito suscitou-se, como condio indispensvel resoluo do litgio, questo prejudicial pertinente validade jurdico-constitucional do Decreto Legislativo n 09, de 03/09/96, e da Resoluo n 05, de 03/09/96, ambos do Municpio de Mato/SP. O exame deste processo revela que a ao civil pblica, no caso, foi utilizada de modo inteiramente adequado aos seus propsitos, sem que incidisse na restrio ditada pela jurisprudncia desta Suprema Corte, no sentido de que no cabe, em referida ao coletiva, a formulao nica de pedido de declarao de inconstitucionalidade de ato eman