Insanidade Central
Autor: André M. (MC Dedé)
(Parte1)
Por entre as curvas do plano piloto
Que foi erguido em meio ao sufoco
Pelos candangos, não vejo seus rostos
Escondidos, rapaz, “fodidos” bem lá atrás
Enclausurados no Centro de Erradicação
De Invasores, a cena é triste, meu irmão
Vieram com a ilusão de "Brasília Dream"
Ter trabalho, ter um teto confortável sim
Saíram das suas casas de pau-a-pique, nordeste
Pegaram “paus de arara”, sumiram pela mata
Em meio ao calor infernal
Rumo ao futuro congresso nacional
Confesso, nada mal, teoria não faz mal
Nem propaganda, viajar uma semana
No caminhão que balança, sem nenhuma segurança
Vale tudo pra sair do "submundo", da seca, da caatinga
Se liga, você não imagina
O sufoco, esforço para tirar dos esboços do Niemeyer
Todos aqueles prédios monumentais
Palácios governamentais
Os caras que se acham os tais
Banais são os operários, que cumprem horários, na cabeça da elite da
época, que faz o contrário
Tratam o pobre como pirralho, burro e analfabeto
Que só saber fazer um simples muro de concreto
Espertos, é o que eles pensam que são muito
Tratando os coitados como bandidos imundos
Mesmo depois de construírem toda a cidade
A sociedade não teve nenhuma piedade
A atividade passou a ser a construção dos barracos
Em lugar fora do mapa lá no meio do cerrado
Bem longe do lazer, prazer, das suas liberdades
Fadados ao sofrimento, moldados com voracidade
(Parte2)
Logo veio a bebida, os bares, as drogas
Com sua função destrutiva, para servir de resposta
Para os problemas existentes, primeira coisa em mente
Deixa o cara demente, totalmente impotente
Sem força, essa opção é uma forca
É o sistema fazendo mais uma vez o cara de trouxa
Sem trouxa, sem nada, perdeu tudo em seu vício
Pena que só o álcool que é vitalício
Acha que está tudo perdido? Não
Em 91 chegou essa mão amiga
São os caras de dentro, moleques maneiros
Não é mais um homem da elite, forasteiro
Que não sabe de nada, nunca esteve na “quebrada”
Você pode apostar que é uma ajuda falha
Na batalha, aqui só quem usa chapéu de palha
Quem não deixa migalhas, contra todos os canalhas
O nome desse grupo é Atitude, atuante
Em prol de mais de setecentos mil habitantes de
Ceilândia, e tem Guará, Brasilândia, Paranoá
Pode “pá”, não dá pra deixar de falar de Planaltina, Taguatinga,
Gama e Santa Maria
São Sebastião, Núcleo bandeirante, Samambaia, Sobradinho e
Cruzeiro
São lugares bem feios
Onde tudo é orgânico e quase nada é feito
Pelo estado, está ligado, isso ai está errado
Vem com a gente nesse papo, vamos mudar o barato
Eu sei que é chato, e tem o preconceito do lado
Isso é fato, mas vamos mudar esse status
De que só quem mora no avião não é macaco
De que quem está lá fora é marginalizado
É macabro, mas é uma "lândia" como outra qualquer
Aqui não é "Disneylândia", mas ser livre a gente quer ser